JULIANE SELEME BREHMER ESTUDO DE EXTRATOS DE PLANTAS MEDICINAIS NO DESENVOLVIMENTO DO TUMOR ASCÍTICO DE EHRLICH ITAJAÍ - 2005 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS ESTUDO DE EXTRATOS DE PLANTAS MEDICINAIS NO DESENVOLVIMENTO DO TUMOR ASCÍTICO DE EHRLICH Dissertação submetida à Universidade do Vale do Itajaí como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas. JULIANE SELEME BREHMER Itajaí, Agosto de 2005. ii “Deus não escolhe os preparados, prepara os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só depende da nossa vontade e perseverança” Albert Einsten iii Agradecimentos A Ana Angélica, orientadora e grande amiga, que acreditou em mim muito mais que eu mesma. A Darci Sato, pela paciência e ensinamentos e pelo prazer que tem pela pesquisa. Ao Cechinel, pela orientação com as plantas. A toda equipe do laboratório, especialmente, Gabriela, Bruno, Miroval, Anna Paula, Sheila, Michele Cris e Rafael que tratavam os animais e ajudavam na leitura com as lâminas, meu eterno agradescimento. A funcionárias do laboratório, Sônia, Tatiana e Andrea. Ao Pink e Cérebro, Mickey mouse, Topo gigio, Ligeirinho e a todos os ratos de laboratório. Um dia vou criar um como bixinho de estimação, para purgar os dias em que fui apenas seu algoz. As amigas de turma Karina Silva, Roberta Lamim, Vania Noldin e especialmente Karina Machado e Sheila Santos pelo apoio e amizade em todas as horas. A Tânia e todos os professores pela oportunidade e ensinamentos. A Rosélia que sempre atendeu os meus pedidos nas horas mais inoportunas. A Maria da Salete Sachweh e Argos Gumbowsky, por acredidarem na minha capacidade e trabalho. A UnC pela bolsa de mestrado. A Saraí Hess pela amizade, trabalho e ombro amigo. Aos alunos de farmácia da UnC de Canoinhas. Pela paciência nos momentos de ausência, minha amizade e gratidão. Aos meus funcionários pela compreensão e colaboração. Aos tios Rita e Carlos, pelos jantares, bate-papo e apoio nos momentos de solidão. A minha sogra pela ajuda com os filhos e marido. Ao meu irmão, Geisa, Gabriel e Maria, pela minha ausência nestes quase três anos. Aos meus pais. Quiçá um dia eu possa ser para os meus filhos, a metade dos “pais” que vocês são para mim. iv Aos meus filhos, que eles saibam que eu sinto falta deles com eles sentem de mim e que o amor e o sorriso deles fizeram o meu caminhar. Ao meu marido Adilson, que fez do meu sonho o nosso sonho, que cuidou das nossas farmácias, dos funcionários, filhos e que ainda achou tempo para cuidar de mim...... meu orgulho, gratidão e amor. v ESTUDO DE EXTRATOS DE PLANTAS MEDICINAIS NO DESENVOLVIMENTO DO TUMOR ASCÍTICO DE EHRLICH Juliane Seleme Brehmer ‘Esta Dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Título de Mestre em Ciências Farmacêuticas, Área de Concentração em Produtos Naturais e Análogos Sintéticos Bioativos, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Mestrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade do Vale do Itajaí.’ _______________________________ Professor Valdir Cechinel Filho, Dr Orientador ____________________________________ Professora Tânia Mari Bélle Bresolin, Dra Coordenadora do Programa de Mestrado em Ciências Farmacêuticas Banca Examinadora: Professor Valdir Cechinel Filho, Dr Presidente Professora Ana Angélica Steil, Dra Co-orientadora Professra Ednéia Casagranda Bueno , Dra Professora Denise Fecchio, Dra vi Resumo da Dissertação apresentada à UNIVALI como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas ESTUDO DE EXTRATOS DE PLANTAS MEDICINAIS NO DESENVOLVIMENTO DO TUMOR ASCÍTICO DE EHRLICH Juliane Seleme Brehmer Agosto/2005 Orientador: Valdir Cechinel Filho, Dr. Co-orientadora: Ana Angélica Steil Palavras-chaves: Plantas medicinais, atividade antitumoral, hematopoese Número de páginas: 71p. Neste trabalho, foi analisada a ação de sete plantas medicinais: Allamanda schottii, Aleurites moluccana, Bauhinia microstachya, Bromelia antiacantha, Calophyllum brasiliense, Ipomoea pes-caprea e Rubus rosaefolius no desenvolvimento do tumor ascítico de Ehrlich (TAE) e no número de células da medula óssea dos animais portadores do tumor. Camundongos Swiss foram inoculados com 5.106 células/mL do TAE e tratados com plantas duas vezes ao dia, por gavagem. O tratamento foi iniciado no momento da inoculação do tumor. No oitavo dia, os animais foram sacrificados e avaliados os seguintes parâmetros: ganho de peso, volume ascítico, número de células por mL e por animal e o número total de células da medula óssea. Os extratos brutos das folhas de Aleurites moluccana, das raízes de Rubus rosaefolius, das flores e raízes de Allamanda schottii não tiveram ação no desenvolvimento do TAE e também não modificaram a hematopoese dos animais. O extrato bruto das folhas de Allamanda schottii aumentou o crescimento do tumor mas não alterou a hematopoese. O extrato bruto de Ipomoea pes-caprae aumentou o crescimento do tumor e aumentou a hematopoese. A fração hexano de Calophyllum brasiliense não tem ação importante no crescimento do tumor, mas aumentou a hematopoese. O extrato bruto dos frutos de Bromelia antiacantha diminuiu o desenvolvimento do tumor, mas não teve efeito sobre a hematopoese. O extrato bruto das folhas de Bauhinia microstachya diminuiu o crescimento do tumor e aumentou a hematopoese, porém, a fração acetato de etila aumentou a hematopoese sem interferir no desenvolvimento do TAE. Os resultados obtidos com estas plantas, nas doses testadas, indicam que o extrato bruto de Bauhinia microstachya se mostrou o mais interessante para os estudos que visam avaliar os mecanismos de ação sobre o crescimento tumoral. Na seqüência foi avaliada a influência do tratamento dos camundongos portadores e não-portadores do tumor com este extrato, na ativação de células peritoneais após inoculação de carragenina. O tratamento dos camundongos com o extrato não alterou a redução de MTT, mas reduziu a produção de óxido nítrico por células peritoneais provenientes de camundongos não-portadores do tumor. vii Abstract of a dissertation presented to Univali in partial fulfillment of the require ments of the Máster’s Degree in Pharmaceutical Science STUDY OF MEDICINAL PLANTS EXTRACTS IN THE DEVELOPMENT OF ERLICH ASCITIC TUMOR Juliane Seleme Brehmer August/2005 Advisor: Valdir Cechinel Filho, Dr. Co-advisor: Ana Angélica Steil, Dra Key-words: Medicinal plants, activity tumor, hematopoietic. Number of Pages: 71p. In this work, the action of seven wild plants with medicinal uses was analyzed: Allamanda schottii, Aleurites moluccana, Bauhinia microstachya, Bromelia antiacantha, Calophyllum brasiliense, Ipomoea pes-caprea and Rubus rosaefolius in terms of the development of the Ehrlich ascitic tumor (EAT) and the bone marrow cell cunt of tumor-bearing animals. Swiss mice were inoculated with 5.106 cell/mL of EAT and treated with the plants twice a day, by per os. The treatment began at the moment of inoculation of the tumor. On the eighth day, the animals were sacrificed and appraised the following parameters appraised: weight gain, ascitic volume, number of cells per mL and per animal and the total number of the bone marrow cells. The crude extracts of the leaves of Aleurites moluccana, of the roots of Rubus rosaefolius, and of the flowers and roots of Allamanda schottii showed no action in the development of EAT and did not modify the hematopoietic of the animals. The crude extract of the leaves roots of Allamanda schottii increased the growth of the tumor it didn' t alter the hematopoietic. The rude extract of Ipomoea pes-caprae increased the growth of the tumor and also increased the hematopoietic. The hexane fraction of Calophyllum brasiliense did not alter the development of the tumor, but increased the hematopoietic. The crude extract of the fruits of Bromelia antiacantha reduced the development of the tumor, but it had no effect on the hematopoietic. The crude extract of the leaves of Bauhinia microstachya reduced the growth of the tumor and increased the hematopoietic, however, the ethyl acetate fraction increased the hematopoietic without interfering in the development of EAT. The results obtained with these plants, in the tested doses, indicate that the crude extract of Bauhinia microstachya proved to be the most interesting, in relation to studies which seek to evaluate the action mechanisms of the tumor growth. Next, the sequence the influence of the treatment of the mice bearers and not-bearers of the tumor bearing and non-bearing mice was evaluated, with this extract in the activation of peritoneal cells following carragenan inoculation. The treatment of the mice with the extract did not alter the reduction of MTT, but it reduced the production of nitric oxide for peritoneal cells coming from non tumor-bearing mice. viii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................1 2 OBJETIVOS............................................................................................................3 2.1 OBJETIVO GERAL ..............................................................................................3 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................3 3 EMBASAMENTO TEÓRICO....................................................................................4 3.1 NEOPLASIAS........................................................................................................4 3.2 SISTEMA IMUNOLÓGICO E CÂNCER ................................................................5 3.3 TUMOR DE EHRLICH...........................................................................................8 3.4 Compostos farmacológicos oriundos de produtos naturais ...................................9 3.5 Plantas de interesse para este estudo ................................................................10 3.5.1 Aleurites moluccana .........................................................................................10 3.5.2 Rubus rosaefolius.............................................................................................11 3.5.3 Allamanda schotti ...........................................................................................12 3.5.4 Ipomoea pes-caprae..........................................................................................14 3.5.5 Bromelia antiacantha........................................................................................ 15 3.5.6 Calophyllum brasiliense.....................................................................................16 3.5.7 Bauhinia microstachya......................................................................................17 4 MATERIAIS E MÉTODOS .....................................................................................20 4.1 Animais.................................................................................................................20 4.2 Manutenção do tumor..........................................................................................20 4.3 Determinação do número de células viáveis .......................................................20 4.4 Avaliação do crescimento do tumor ascítico .......................................................20 4.5 Determinação do número de células da medula óssea.....................................221 4.6 Indução da resposta inflamatória com carragenina na cavidade peritoneal ......221 4.7 Determinação da atividade metabólica celular ....................................................22 4.8 Determinação da produção de NO por células peritoneais .................................22 4.9 Extratos das plantas ............................................................................................23 4.8 Análise estatística ........................................................................................................... 23 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................25 5.1 Aleurithes moluccana.......................... ...............................................................25 5.2 Rubus rosaefolius.................................................................................................27 ix 5.3 Allamanda schottii................................................................................................29 5.4 Ipomoea pes-caprae.............................................................................................34 5.5 Bromelia antiacantha...........................................................................................36 5.6 Calophyllum brasiliense.......................................................................................38 5.7 Bauhinia microstachya ........................................................................................40 5.8 Efeito do tratamento com o extrato bruto de Bauhinia microstachya na ativação de células peritoneais ..........................................................................................45 CONCLUSÕES .........................................................................................................50 REFERÊNCIAS.........................................................................................................51 x LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 - Aleurites moluccana 11 FIGURA 02 - Rubus rosaefolius 12 FIGURA 03 - Allamanda schottii 13 FIGURA 04 - Ipomoea pes-caprae 14 FIGURA 05 - Bromelia antiacantha 15 FIGURA 06 - Calophyllum brasiliense 17 FIGURA 07 - Bauhinia microstachya 19 FIGURA 08 – Efeito do tratamento com o extrato bruto das folhas de 26 Aleurites moluccana FIGURA 09- Efeito do tratamento com o extrato bruto das raízes de 28 Rubus rosaefolius FIGURA 10 - Efeito do tratamento com o extrato bruto das flores de 31 Allamanda schotti FIGURA 11 - Efeito do tratamento com o extrato bruto das raízes de 32 Allamanda schottii FIGURA 12 - Efeito do tratamento com o extrato bruto das folhas de 33 Allamanda schottii FIGURA 13 - Efeito do tratamento com o extrato bruto de Ipomoea pes- 35 caprae FIGURA 14 - Efeito do tratamento com o extrato bruto dos frutos de 37 Bromelia antiacantha FIGURA 15 - Efeito do tratamento com a fração hexânica das folhas de 39 Calophyllum brasiliense FIGURA 16 - Efeito do tratamento com o extrato bruto das folhas de 43 Bauhinia microstachya FIGURA 17 - Efeito do tratamento com a fração acetato de etila das 44 folhas de Bauhinia microstachya FIGURA 18- Efeito do tratamento com o extrato bruto das folhas de 48 xi Bauhinia microstachya na redução de MTT FIGURA 19 - Efeito do tratamento com o extrato bruto das folhas de Bauhinia microstachya na produção de NO 49 1 INTRODUÇÃO O câncer ou neoplasia é uma doença de natureza crônica que mata pela invasão destrutiva de órgãos normais por extensão direta e/ou disseminação para pontos distantes (metástases) (KUMAR; COTRAN, 2000; BRASILEIRO FILHO, 2004). De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer atinge 9 milhões de pessoas, matando 5 milhões a cada ano, sendo a segunda causa de morte por doença. A OMS alerta para o fato de que, se não forem tomadas medidas de prevenção, a incidência de câncer aumentará em 100% nos próximos 20 anos (BRASIL, 2003). A importância das neoplasias localiza-se em seus efeitos sobre as pessoas. Todos os tumores, até mesmo os não invasivos, podem causar morbidade e mortalidade. Além disso, cada novo crescimento tumoral requer cuidadosa avaliação devido ao receio de que seja canceroso (KUMAR; COTRAN, 2000). O principal objetivo do tratamento das neoplasias é obter a completa erradicação das células tumorais. Tal resultado pode, muitas vezes, ser obtido através de procedimentos como cirurgia, radioterapia e quimioterapia, utilizados de forma isolada, ou em associação (KUMAR; COTRAN, 2000; BRASILEIRO FILHO, 2004). A cirurgia é o meio simples e seguro para remover tumores sólidos mas não na maioria dos pacientes que apresentam a doença metastática. A radioterapia pode ser curativa para tumores localizados, preservando a estrutura e funcionamento do órgão ou tecido, mas tem suas limitações no tratamento de tumores volumosos. Já a quimioterapia, um tratamento que envolve o uso de fármacos citotóxicos deveria erradicar o câncer sem prejudicar os tecidos normais, mas a maioria destas drogas causa significativos efeitos colaterais. Esses fármacos são mais efetivos contra tumores de proliferação rápida do que contra alguns dos tumores de crescimento lento e são mais tóxicos para células de crescimento rápido do que para os tecidos normais do hospedeiro. Entretanto, tais agentes antiproliferativos podem ter importantes efeitos tóxicos colaterais em tecidos normais que se dividem rapidamente, como a medula óssea, mucosa gastrintestinal e pele (KO; WANG; FERRONE, 2003; BUBENÍK; VONKA, 2003). 2 O emprego das terapêuticas convencionais, além dos efeitos colaterais e do custo elevado, muitas vezes não permite a total erradicação das neoplasias. Assim, outras alternativas têm sido propostas, como a terapia biológica, que leva em consideração os mecanismos naturais de defesa do hospedeiro e que constitui um resultado de uma melhor compreensão dos mecanismos básicos de defesa antitumoral (JANEWAY; WALPORT; SHLOMCHIK, 2002). A necessidade de agentes antiinvasivos e/ou tumoricidas mais eficientes e menos onerosos tem levado à busca de novos compostos com ação farmacológica tanto no controle do crescimento das células tumorais como na modulação das moléculas de adesão que permitem as metástases. Neste sentido, nos últimos anos tem crescido também o interesse por produtos de origem vegetal na busca de terapias mais eficazes. Nos Estados Unidos, entre 1983 e 1994, 60% dos medicamentos anticancerígenos aprovados eram de origem vegetal (NEWMANN; GRAGG; SNADER, 2003;). O conhecimento que temos sobre o câncer nos mostra que tumores são capazes de escapar do sistema imunológico. Pesquisar plantas que possam agir como imunoestimuladoras e que possam aumentar a fraca resposta imune do hospedeiro a estes tumores pode ser a chave para a cura desta doença. 3 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a atividade, frente ao crescimento do tumor ascítico de Ehrlich (TAE), de sete plantas em estudo no Núcleo de Investigações Químico-Farmacêuticas (NIQFAR) da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), e investigar alguns mecanismos imunológicos importantes no combate ao tumor, frente ao tratamento dos animais com uma planta selecionada. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Avaliar se as seguintes plantas: Aleurites moluccana, Rubus rosaefolius, Allamanda Calophyllum schottii, Ipomoea brasiliense, pes-caprae, Bauhinia Bromelia microstachya; antiacantha, modificam o desenvolvimento do tumor ascítico de Ehrlich (TAE) em camundongo; - Determinar se o extrato destas plantas altera o número de células totais da medula óssea dos animais portadores do TAE; - Escolher uma planta que apresente boa atividade antitumoral e investigar se o tratamento dos camundongos com esta planta modifica a atividade metabólica e a produção de óxido nítrico por células peritoniais de animais portadores e não portadores do tumor, frente a um estímulo inflamatório. 4 3 EMBASAMENTO TEÓRICO 3.1 NEOPLASIAS Neoplasia é uma massa tumoral anormal de tecido cujo crescimento excede e está descoordenado daquele dos tecidos normais, persistindo da mesma forma excessiva após cessar os estímulos que despertam esta alteração. O termo tumor atualmente é aplicado quase que exclusivamente para massas neoplásicas. Segundo a sua origem, tumor significa tumefação produzida não somente por células neoplásicas e sim por edema ou hemorragia num tecido (KUMAR; COTRAN, 2000; BRASILEIRO FILHO, 2004). Os tumores podem ser classificados em invasivos (malignos) e não invasivos (benignos). Os tumores não invasivos apresentam atipia celular discreta, ou seja, reproduzem o tecido que lhe deu origem. Geralmente não são letais e têm crescimento lento. Estes tumores são formados por células que crescem unidas, não se infiltrando em tecidos vizinhos, e formando geralmente, uma massa esférica. Esse mecanismo lento permite a formação de vasos sanguíneos assegurando boa nutrição e evitando degenerações e necrose. Por outro lado, os tumores invasivos ou câncer, apresentam alta atipia celular, com propriedades morfológicas e bioquímicas muito distintas do tecido que lhe deu origem. São tumores que crescem rapidamente devido à velocidade da multiplicação de suas células. Podem ocorrer degenerações, ulcerações, necroses e hemorragias porque os vasos sanguíneos não crescem no mesmo ritmo das células tumorais (COUSSENS; WERB, 2002; BRASILEIRO FILHO, 2004). As neoplasias são originadas de apenas uma ou de algumas células normais que sofreram transformação. O processo de crescimento anormal dos tumores é o reflexo de complexas anormalidades fisiologicas resultantes da expressão de genes virais mutados e/ou de expressão desregulada de genes normais (KUMAR; COTRAN, 2000; BRASILEIRO FILHO, 2004). O câncer ou neoplasia maligna é uma doença de natureza crônica que possui repercussão de ordem econômica e social de grande monta. Dentre os custos diretos, estão os gastos com prevenção, o diagnóstico e o tratamento. Para o 5 seu diagnóstico e tratamento são exigidos equipe multiprofissional altamente especializada, de formação e manutenção onerosa, e o emprego de tecnologia sofisticada e dispendiosa. Exige-se também internação hospitalar e acompanhamento ambulatorial freqüente. Nos custos indiretos estão computadas as perdas de produção, o tempo potencial do trabalho perdido, da mortalidade, morbidade e incapacidade provocada por esta doença (BRASIL, 2003). A incidência dos diferentes tipos de tumores em todo o mundo podem estar relacionadas a influências ambientais como práticas individuais, hábitos alimentares e crescimento da urbanização, tendo como conseqüência o estresse e a poluição. Outro fator que pode influenciar na ocorrência de mortes por câncer é a idade, pois ocorre maior incidência entre 55 e 75 anos. Este fato pode ser explicado pelo acúmulo de mutações somáticas nesta faixa etária e que estão associadas ao surgimento de neoplasias malignas. Entretanto, não é estranha a ocorrência de câncer em jovens, sendo que nestes o câncer mais comum é a leucemia (MONTENEGRO; FRANCO, 1999). Acredita-se que as causas do câncer seriam uma mistura destes componentes ambientais e alterações genéticas. Os incríveis avanços na biologia molecular e genética esclarecem os elementos moleculares básicos do câncer. A compreensão sobre esses eventos será de suma importância no controle do câncer e que devem levar a terapias melhores, e possivelmente a prevenção da doença ( MOTULSKY, 2000; ADAM; ODHAV; BLOOLA, 2003; PAWELEC, 2004). 3.2 SISTEMA IMUNOLÓGICO E CÂNCER O sistema imune é constituído por células e moléculas responsáveis pela manutenção da homeostase, ou seja, a imunidade a substâncias estranhas como bactérias, fungos, vírus e parasitas, bem como a eliminação de células neoplásicas (ABBAS; LICHTMAN; POBER, 2003; BUBENÍK; VONKA, 2003). O sistema imunológico é dividido em sistema inato (natural ou inespecífico) e adaptativo (adquirido ou específico). As características da imunidade inata são de uma limitada capacidade para distinguir um micróbio do outro, e sua natureza regularmente esteriotípica, segundo a qual o sistema imune funciona quase do mesmo modo contra a maioria dos agentes infecciosos. Os principais componentes 6 desta imunidade são o sistema complemento, as células fagocíticas (neutrófilo e macrófago) e as células NK (“Natural Killer”). O sistema imune específico, composto pelos linfócitos T e B, produzem uma resposta imune caracterizada pela especificidade, diversidade, memória imunológica, autolimitação e discriminação entre o próprio e o não próprio. Esta imunidade pode ser classificada em humoral e celular. A imunidade humoral é mediada pelos anticorpos produzidos pelos linfócitos B, comandados por citocinas liberadas pelos linfócitos TH2. Já a imunidade celular é comandada pelos linfócitos TH1 e, dentre as células efetoras, destacam-se os linfócitos T citolíticos, os macrófagos e as células NK. O sistema imune age através destas duas imunidades na defesa do organismo, inclusive para eliminar células tumorais. A resposta imune mediada por células é mais eficaz contra os tumores, principalmente os tumores sólidos, do que a resposta humoral. No entanto, a imunidade humoral também coopera com a resposta celular, sendo o efeito final dependente da ação conjunta das imunidades celular e humoral (BALLOW; NELSON, 1997; ABBAS; LICHTMAN; POBER, 2003; ROITT; BROSTOFF; MALE, 2003; ADAM; ODHAV; BLOOLA, 2003). Embora ambas as unidades atuem no controle e combate ao tumor, há um elevado índice de morte de indivíduos por câncer, mostrando que a resposta imune contra o tumor é, muitas vezes, ineficiente. Sabe-se também que o sistema imune é efetivo para remover células tumorais precocemente em seu desenvolvimento quando estas células possuem antígenos tumorais reconhecidos por linfócitos. Entretanto, quando as células tumorais apresentam poucos antígenos tumorais específicos, o sistema imune se torna ineficaz. Além disso, algumas células tumorais possuem mecanismos que contribuem para a evasão da resposta imunológica. Tais mecanismos incluem a não expressão ou subexpressão de moléculas de MHC (complexo de histocompatibilidade principal) de classe I e/ou de moléculas coestimulatórias, inverção da proporção de linfócitos CD4/CD8 infiltrados na massa tumoral e a produção de fatores imunossupressores como algumas citocinas (JANEWAY; WALPORT; SHLOMCHIK, 2002; ADAM; ODHAV; BLOOLA, 2003; PAWELEC, 2004). Os macrófagos são células importantes na imunidade humoral e celular como células apresentadoras de antígenos, para iniciar a resposta imune, e como células efetoras para mediar lise tumoral. Macrófagos residentes não são citolíticos para células tumorais in vitro, mas eles tornam-se citolíticos se ativados com fatores 7 de ativação de macrófagos (MAF). As células T secretam o MAF após a estimulação antígeno-específico, assim a participação do macrófago como célula efetora é dependente da ativação da célula T. Tal afirmação é suportada por estudos que mostram que macrófagos isolados de tumores imunogênicos sofrendo regressão exibem atividade tumoricida, enquanto macrófagos isolados de tumores que sofrem progressão e não são imunogênicos geralmente não apresentam atividade citotóxica. As linfocinas de células T com atividade MAF incluem IFN-γ (interferon-γ), TNF (tumor necrose factor) e GM-CSF (granulocyte-macrophage colony-stímulating factor) (GREENBERG, 1994; SANTOS-BERGAMI; MARIO; BARBUTO., 2004). Alguns autores acreditam que os macrófagos são as células mais eficazes na destruição de células tumorais. Dados in vitro e in vivo mostram que macrófagos ativados lisam células cancerosas por meio da produção de TNF-α e óxido nítrico (NO), pela liberação de radicais livres de oxigênio ou por citotoxidade celular dependente de anticorpos (ADCC). Vários fatores aumentam o poder tumoricida dos macrófagos, com o IFN-γ, componentes do Bacillus Calmett-Guerin (BCG) e do C. parvum, polímeros artificiais, endotoxinas de bactérias Gram-negativas ou produtos de alguns protozoários (T. cruzi, T. gondii) (COUSSENS; WERB, 2002). Os macrófagos também representam um importante componente do infiltrado linforeticular do tumor. Eles são chamados de macrófagos associados ao tumor e apresentam um complexo relacionamento com as células tumorais. De um lado, os dois tipos celulares produzindo fatores de crescimentos recíprocos, os macrófagos induzindo a vascularização e as células tumorais liberando fatores capazes de induzir a migração quimiotática dos monócitos. Por outro lado, macrófagos associados ao tumor podem ser ativados para eliminar as células tumorais e inibir o crescimento do tumor. O resultado da interação depende do número de monócitos recrutados in situ e seu estado de ativação, bem como das propriedades intrínsecas das células tumorais (MONTOVANI et al., 1992; SANTOSBERGAMI; MARIO; BARBUTO., 2004), Os mecanismos efetores, tanto os da imunidade celular quanto os da imunidade humoral, têm demonstrado matar células tumorais in vitro. O desafio para os imunologistas estudiosos de tumores é determinar qual desses mecanismos pode contribuir de forma mais importante para as respostas imunes protetoras contra os diferentes tipos de tumores, aumentando a eficiência desses mecanismos de modo 8 tumor-específicos, pois sabe-se que tumores malignos são capazes de evadir ou superar os mecanismos de defesa do hospedeiro (ABBAS; LICHTMAN; POBER, 2003; BUBENÍK; VONKA, 2003; SANTOS-BERGAMI; MARIO; BARBUTO., 2004). Os avanços do conhecimento sobre o sistema imune e dos antígenos das células tumorais estimularam muitas estratégias de combate a esta doença, destacando a imunoterapia que se destina a aumentar a fraca resposta imune do hospedeiro aos tumores. O potencial para tratar pacientes com câncer pelas abordagens imunológicas tem sido muito promissor para imunologistas e oncobiólogos. A principal razão para o interesse na abordagem imunológica é que as respostas imunes aos tumores poderão ser específicas para os antígenos tumorais e não deverão lesar as células normais (JANEWAY; WALPORT; SHLOMCHIK, 2002; ABBAS; LICHTMAN; POBER, 2003; ROITT; BROSTOFF; MALE, 2003). 3.3 TUMOR DE EHRLICH O tumor de Ehrlich foi descrito inicialmente por Ehrlich e Apolant em 1905 como um adenocarcinoma mamário de camundongos. Este tumor experimental é mantido até hoje por transplantes sucessivos no tecido subcutâneo ou no peritônio de camundongos, desenvolvendo-se na forma sólida e ascítica, respectivamente (SIGIURA, 1965). Na forma sólida o tumor de Ehlich apresenta extensas áreas de necrose. Estas são oriundas da morte das células neoplásicas, a qual é bastante intensa já na primeira semana pós-inoculação. Células anaplásicas com intensa atipia são comumente vistas por microscopia. O tumor nesta forma possui poucas células inflamatórias, estroma escasso e alto índice mitótico e de invasibilidade, constituindo um excelente instrumento para o entendimento do comportamento dos tumores malignos (GUERRA, 1983). O exame macroscópio da forma ascítica, depois de aproximadamente sete dias de implante na cavidade peritoneal revela a presença de grande quantidade de fluído discretamente viscoso e de aspecto leitoso. Após o décimo dia de inoculação intraperitoneal do tumor, cerca de 90% das células peritoneais são células tumorais (GUERRA, 1983; FECCHIO et al., 1990; SANTOS-BERGAMI, 2004). 9 3.4 COMPOSTOS BIOATIVOS ORIUNDOS DE PRODUTOS NATURAIS As plantas, desde os primórdios dos tempos, são fundamentais tanto na alimentação quanto na cura de enfermidades. A utilização delas é uma prática generalizada na crença popular e nas várias formações culturais que as usam como recurso terapêutico. Tal valorização ocasionou um crescimento na procura de informações comprovadas cientificamente sobre a segurança e eficácia terapêutica destas plantas (COSTA, 1994; ROBBERS et al., 1997; SIMÕES et al., 1999 apud CECHINEL-FILHO; BRESOLIN, 2003). Aproximadamente 1/3 de todos os fármacos aprovados pela Food and Drugs Administration (FDA) utilizados na medicina convencional tem sua origem de plantas (SANDESAI, 2002). Estudos revelam que atualmente cerca de 120 substâncias puras, isoladas de plantas, em geral através de indicações da medicina popular e estudos fitoquímicos bio-direcionados, são usadas com finalidades terapêuticas ( CECHINEL FILHO;YUNES 2001; PINTO et al., 2002; NIERO et al., 2002). Neste contexto, a pesquisa de novas substâncias oriundas de plantas medicinais vêm ganhando grande dimensão, incentivando cada vez mais a pesquisa por medicamentos que possam contribuir no tratamento das enfermidades que acometem a população, como no tratamento de doenças do sistema sanguíneo (SIMÕES et al., 2003; DAS DORES et al., 2003). Como resultado desta busca incessante de novos fármacos, incluindo para o combate ao câncer, pode-se mencionar um dos medicamentos originário de plantas mais promissores, o diterpeno taxol, isolado da Taxus brevifolia, atualmente desenvolvido pelo Instituto Nacional do Câncer e pela Companhia Bristol-Myer Squibb (CORRÊA, 1995; SIMÕES et al., 2003). Ainda que exista uma ampla variedade de compostos ativos de origem natural que possam ser relacionados futuramente como medicamentos, os desafios estão centrados principalmente em métodos farmacológicos apropriados e ensaios biológicos que possam predizer uma certa eficácia clínica à substância em estudo (HOSTETTMAN, 1997). A escolha das plantas a serem avaliadas em um estudo deve ser feita de forma cuidadosa, observando o uso e forma de administração na medicina popular, bem como os possíveis efeitos tóxicos observados. Aliado a isto, faz-se necessário 10 o conhecimento e experiência da população e da cultura local ou informações sobre composição química, relacionando ao gênero ou família e dos possíveis compostos com atividade química e farmacológica definidas presentes na planta em estudo (CECHINEL-FILHO; YUNES, 1998). 3.5 PLANTAS DE INTERESSE PARA ESTE ESTUDO 3.5.1 Aleurites moluccana Planta da família Euphorbiaceae, nativa da Ásia e Polinésia, que aclimatouse bem no sul do Brasil, de São Paulo ao Rio Grande do Sul. O cultivo no estado de Santa Catarina se dispersa entre os municípios de Florianópolis e Itajaí, florescendo de novembro a abril. Conhecida como nogueira, nogueira de Iguape, nóz da índia, nogueira-de-bancul, nogueira da índia, na medicina popular é utilizada para diversas patologias como: febre, inflamações, hepatite, dores de cabeça, asma, conjuntivite, úlceras, diarréia, hepatite, antirreumática, antitumoral entre outras (DUKE, 1991; HOPEt et al., 1993 apud MEYRE-SILVA, 2003). Estudos científicos têm confirmado sua atividade antinoceptiva (MEYRE-SILVA et al., 1999), anticolesterolêmica (PEDROSA et al., 2002) e atividade contra vírus HIV (APERS et al., 1999). Plantas do gênero Aleurites, quanto aos seus componentes químicos, possuem, principalmente esteróis, taninos, hidrocarbonetos e flavonóides. Investigações químicas com as cascas de Aleurites moluccana levaram ao isolamento do composto pruceanol, um diterpeno da série rara de cleistantol, o qual ainda não existe relatos de efeitos farmacológicos (MEYRE-SILVA, 2003). Das folhas desta planta já foram isolados triterpenos α e β-amirinona. Outros compostos, presentes nas folhas desta planta, o swertisina β e α-amirina e a mistura de esteróides, estigmasterol, β-sitosterol e campesterol, que também são encontrados em todas as partes da planta, contribuem para a atividade antinociceptiva (MEYRE-SILVA et al, 1999). O composto β-sitosterol tem sido associado à atividade antitumoral (PARK et al., 2003; JU et al., 2004). O ácido acetil aleuritólico, um triterpeno, o qual possui atividade analgésica e antibacteriana, foi encontrado nas cascas e raízes. Relatos da literatura indicam que 11 triterpenos podem agir como antitumorais (DIRSCH, et al.,1997; PLOHMANN, et al., 1997; CORSINO et al., 2000). Figura 01 - Aleurites moluccana http://www.ctahr.hawaii.edu/forestry/Data/photos/aleurites_moluccana_flwr2.jpg&img refurl 3.5.2 Rubus rosaefolius Da família Rosaceae, as rosáceas do gênero Rubus conhecidas como amoras do mato, compreendem três espécies. A Rubus rosaefolius Smith é um arbusto escandente de panículas de flores brancas e frutos vermelhos, ocos por dentro. Os ramos têm pêlos glandulares, são oculeados, têm folhas compostas de 2 a 6 pares de folículos oval-lanceolados, duplamente denteados (PENNA, 1946). Os frutos são comestíveis e antidiarreicos (YOON; WROLSTAD, 1984). Estudos 12 farmacológicos com plantas deste gênero revelaram ação analgésica, hipoglicemica (NOVAES et al. 2002; KANEGUSUKU et al., 2002). Estudos feitos pelos pesquisadores do NIQFAR revelaram que triterpernos como o Niga-ichigosede, isolado da espécie imperialis demonstrou potente efeito analgésico (NIERO et al., 1998; KANEGUSUKU et al., 2002). Na espécie rosaefolius foram feitos estudos botânicos, fitoquímicos e comprovação da atividade antimicrobiana (MAURO et al., 2002). Figura 02 - Rubus rosaefolius http://. www.botany.hawaii.edu/.../ rub_ros_klove.jpg 3.5.3 Allamanda schottii Planta da família Apocynaceae, com 200 gêneros e 2000 espécies, de distribuição tropical e subtropical em todo o mundo. O gênero Allamanda é constituído por 3 espécies. A espécie A. cathartica é utilizada pela medicina popular como purgativo, catártico, vermífugo, em afecções do baço, em tumores hepáticos, 13 entre outros. Trabalhos farmacológicos com um composto isolado da planta, denominado allamandina, mostrou atividade in vivo contra leucemia P-388 em ratos e in vitro contra células derivadas de carcinoma humano nasofaringeal (KUPCHAN apud MALHEIROS, 1995). A espécie A.schottii é utilizada em jardinagens como planta de ornamentação e embora não seja utilizada como medicamento, os estudos em andamento, realizados por um grupo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), indicam que esta planta possui compostos parecidos com os compostos das plantas do mesmo gênero (NAVARRO, 2004). Figura 03 - Allamanda schottii http://www.kartuz.com/f/r/alla-schottii.jpg 14 3.5.4 Ipomoea pes-caprae Planta da família Convolvulaceae, é encontrada no Brasil na costa litorânea. Conhecida popularmente como salsa-da-praia, pé-de-cabra, batateira-da-praia, a Ipomoea é utilizada em na medicina popular para processos dolorosos e inflamações além de problemas digestivos.Trabalhos científicos comprovam sua ação antiinflamatória e antinoceptiva, hipoglicemica (KROGH et al., 1999; DE SOUZA et al., 2000). A atividade antiespasmódica foi atribuída a dois compostos, o βdamascenone e E-phytol, mostrando ser estes compostos antagonistas da contração muscular, podendo estes serem usados também em dermatites causadas por toxinas que estimulem a contração vascular (PONGPRAYOON et al,1992 ). Outros compostos isolados desta espécie, como o ácido betulínico, e amirin, acetatos, isoquercitrinas etc, demonstraram pronunciada atividade antinociceptiva, o que justifica, em partes, o uso popular em tratamentos de processos dolorosos (DE SOUZA et al, 2000). Seguindo esta linha, compostos como O hidroxi-4,4,7-trimetil1(4H)-naphthalenone(1), (-)-mellein(2), eugenol(3) e 4-vinil-guaiacol, demonstraram importante inibição da síntese de prostaglandinas in vitro (POGPRAYOON, 1991), mostrando que extrato da Ipomoea age também na inibição do processo inflamatório. Figura 04 - Ipomoe pes-caprae http://www.barbadine.com/images/Ipopescaprae1.jpg 15 3.5.5 Bromelia antiacantha Da família Bromeliaceae, com 60 gêneros e mais de 1400 espécies. O gênero Bromelia, compreende 50 espécies originárias da América Central, América do Sul e Antilhas. A Bromelia antiacantha conhecida também como gravatá, banana do mato, caraguatá. Planta nativa da mata atlântica do sul do Brasil, encontrada na submata das araucáreas, esta bromélia não toma a forma de “tanque” para acumular água, pois necessita de ambientes úmidos e é encontrada no solo (CORREIA, 1984). Algumas plantas desta família são utilizadas como medicinais: Bromelia alta e Bromelia pinguin como antifúngica (CAMACHO-HERNANDEZ et al., 2002), Bromelia scarlatina, Bromelia serra e Bromelia sylvicola como antimalárica (GADELHA, 1994). A Bromelia antiacantha é utilizada pela medicina popular para o tratamento de tosses, bronquites, aftas e inflamações em geral. Figura 05 - Bromelia antiacantha http://www.caire.bio.br/images/Bantiacantha4.jpg 16 3.5.6 Calophyllum brasiliense Pertence à família Clusiaceae/Guttiferae, que é composta de aproximadamente 180 a 200 espécies. A Calophyllum é uma árvore de metros de altura. Encontra-se distribuída entre o México, América Central, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e Brasil. No Brasil, podemos encontrá-la desde a região amazônica até o norte de Santa Catarina. Possui folhas glabras e coriáceas, perenifólia, característica exclusiva das florestas pluviais localizadas sobre os solos úmidos e brejosos, vindo a florescer nos meses de setembro a novembro (LORENZI, 1998). A espécie Calophyllum brasiliense é conhecida popularmente como guarandi ou guanandi, bari ou jacareúba (SANTOS; DE SOUZA, 2000; REYES-CHILPA et al., 1997). Esta planta é utilizada pela medicina popular para tratamento de dores, inflamações e úlceras, entre outras. Algumas espécies do gênero Calophylum são freqüentemente empregadas na medicina popular para o tratamento de diversas patologias (SANTORI, 1999). Estudos científicos comprovaram a ação analgésica, antiinflamatória, antimicrobiana, antiulcerosa (DA SILVA et al., 2001; PRETTO et al., 2004; EMENDORFER et al., 2005) antifúngica (MOREL et al., 2000; HAY et al., 2003; OGER et al., 2003). Plantas do gênero Calophyllum são conhecidas por apresentarem inúmeros princípios ativos de interesse medicinal. Tem sido realizada extensiva pesquisa química, resultando no isolamento de diversas classes de compostos incluindo xantonas, cumarinas, flavonóides, chalconas, benzofuranos, triterpenos, entre outros (DA SILVA et al., 2001; HAY et al.,2003; OGER et al., 2003; ISAIAS et al., 2004). Da Silva e colaboradores (2001) analisaram a composição química da folhas do C. brasiliense e verificaram um possível efeito analgésico de algumas frações e compostos isolados, comparando com fármacos de referência. Da fração acetato de etila obtiveram cinco sólidos puros, identificados como quercetina, ácido gálico, ácido protocatético, hiperin ou hiperoside (quercetin-3-O-galactoside), e amentoflavona, os quais foram identificados por comparação direta com amostras autênticas e dados espectrais. Os resultados farmacológicos indicam que as frações hexano e acetato de etila exibiam efeito antinociceptivo similar aos fármacos de 17 referência, enquanto a fração diclorometano não mostrou atividade farmacológica nos testes aplicados. Recentemente, diversos compostos (cumarinas flavonóides e xantonas) de outra da espécie Calophyllum panciflorum também demonstraram atividade preventiva anticâncer (ITO et al., 2002). Figura 06 - Calophyllum brasiliense http://www.msu.edu/~vriesend/Calophyllum%20brasiliense.htm 3.5.7 Bauhinia microstachya A Bauhinia microstachya é uma planta pertencente a família das Leguminosas, conhecida popularmente como cipó-escada, escada de jabuti ou escada de macaco. Está amplamente distribuída na região sul do Brasil e ainda no Uruguai, Argentina e Paraguai (MEYRE-SILVA, 2003). Esta planta apresenta caule muito extenso, até 20 metros, casca fina, escura, folhas alternadas, pecioladas com nervuras e gavinhas na base da inflorescência; folhas bilobadas, lobo ovadoobtusos; flores ferrugine, fruto vagem séssil, curto, até 6 centímetros de 18 comprimento . As folhas e cascas são usadas na medicina popular contra diversas patologias incluindo infecções, inflamações, diabetes, afecções do trato urinário e respiratório e processos dolorosos (CORRÊA, 1984). Estudos científicos com espécies do gênero Bauhinia vem comprovando sua atividade antimalárica (KITTAKOOP et al., 2000) antibacteriana, analgésica (SAVI et al., 1997; MEYRESILVA et al., 2001; DA SILVA et al., 2002), antioxidante (MENEZES et al., 2004) e antitumoral (RAJKAPOOR et al., 2003; GUPTA et al., 2004). Os estudos de Meyre-Silva (2000) levaram ao isolamento dos compostos fenólicos, galato de metila, Kaempferol, 3-O-ramnosil, quercitrina, miricitrina e epicatequina-3-O-galato; estes todos, da fração acetato de etila do extrato bruto das folhas da Bauhinia microstachya. O composto galato de metila tem sido isolado de várias plantas como derivado do ácido gálico e apresenta atividade antibacteriana e antiviral (SANTOS, 1995 apud MEYRE –SILVA, 2003). Dados da literatura tem demonstrado atividade antiinflamatória e antioxidante da parte aglicona(Kaempferol). O Kaempferol também exibiu atividade antibacteriana, antiviral, alelopática, antioxidante e hipoglicemiante (BASILE et al., 2000; LOIZZO et al., 2004; GABRIELSKA; SOCYNSKA-KORDALA; PRZESTALSKI, 2005). O composto 3-O-ramnosil, um flavonóide somente encontrado em plantas superiores, foi também encontrado no gênero Bauhinia (MEYRE-SILVA, 2003). Dados da literatura revelaram atividade antioxidante deste composto (HOPIA, HEINONEN, 1999). 19 Figura 07 - Bauhinia microstachya http://www.mobot.mobot.org/W3T/Search/projs/P982).html 20 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 ANIMAIS Foram usados camundongos Swiss fêmeas, com peso entre 25 e 30 gramas, criados no biotério central da Universidade do Vale do Itajaí. A utilização de animais neste estudo foi aprovada pela comissão de ética o em pesquisa CEP/UNIVALI sob o n 438/2003. 4.2 MANUTENÇÃO DO TUMOR (TAE) O líquido ascítico foi aspirado da cavidade peritonial de um animal com um 6 tumor ascítico com seringa de 1 ml e um volume de 0,2 mL contendo 5x10 células, foi inoculado na cavidade peritonial de 2 animais sadios (BERGAMI-SANTOS; MARIANO; BARBUTO, 2004). 4.3 DETERMINAÇÃO DO NÚMERO DE CÉLULAS VIÁVEIS O número total de células foi determinado através da contagem em câmara de Neubauer, usando-se microscópio óptico. Para verificação da viabilidade celular as células foram diluídas em corante vital azul de Tripan 0.4% imediatamente antes da contagem, tendo em média 90% de células viáveis (CHIPA ; KAWAKAMI; TOHYAMA, 1998). 4.4 AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO DO TUMOR ASCÍTICO Os animais foram separados em grupos de 10 a 12 camundongos. Todos os 6 animais receberam 5x10 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu o veículo de diluição do extrato (água , álcool puro 1,4% ou DMSO 1% em 21 água) e o grupo tratado recebeu o extrato da planta também diluída no mesmo veículo, por gavagem (volume de 5 µL/g de peso), 2 x ao dia por 7 dias. O primeiro tratamento foi administrado imediatamente antes da inoculação do tumor. Para determinação do crescimento do tumor ascítico, foi avaliado o peso dos animais no 1o e 8o dias do experimento. Após a morte dos animais, a cavidade peritoneal foi lavada com 5 mL salina, sendo determinado o volume recolhido e o número de células contidas neste volume. Para contagem do número total de células, a uma alíquota de 100 µl da suspensão celular diluída com salina foi adicionado 10 µL de solução de cristal violeta ,(0,5% do corante em ácido acético a 30%) para fixação e coloração das células. O número das células por mL e por animal foram determinadas através de contagem em câmara de Neubauer ao microscópio óptico (objetiva de 40x) (BERGAMI-SANTOS; MARIANO ; BARBUTO, 2004). 4.5 DETERMINAÇÃO DO NÚMERO DE CÉLULAS DA MEDULA ÓSSEA O fêmur do animal foi extraído e cortado nas suas extremidades distais. Para a retirada das células, o canal interno do fêmur foi lavado com 3mL de salina. O líquido celular obtido foi corado com cristal violeta (0,5% em 30% de ácido acético) e inserido na câmara de Neubauer para a contagem das células foi realizada com o auxílio de microscópio óptico (objetiva de 40x) (SODERBERG; FLICK; BARNETT, 1996). 4.6 INDUÇÃO DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA COM CARRAGENINA NA CAVIDADE PERITONEAL Camundongos com tumor, receberam 0.2 mg de carragenina, em um volume de 0.2 mL de salina estéril, pela via intraperitonial. Após 6 horas os animais foram sacrificados e procedido o lavado da cavidade peritoneal com 5mL de salina . 22 4.7 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE METABÓLICA CELULAR Foi realizado o teste de MTT (3-(4,5-dimethiazol-2-yl)-2,5-dipheniltetrazolium bromide) para determinar o nível de respiração celular (viabilidade e/ou ativação 5 celular). Para isto, 4x10 células peritoneais obtidas pela lavagem peritoneal, foram ressuspendidas em meio de cultura RPMI, foram colocadas em placas de 96 poços para cultura celular, foi adicionado 10µL de MTT 9-brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2yl)-2,5 difeniltetrazolio) contendo 5mg/mL em PBS, em cada poço da placa, seguido de uma incubação por mais de três horas em estufa a 37°C. Após este período, um volume de 100µL de uma solução de SDS (dodecilsulfato de sódio) a 10% em HCI (ácido clorídrico) 0.001N foi adicionado a cada poço para dissolverem os cristais que foram formados devido a redução do MTT pelas células que permanecerem vivas. Após 18 horas a DO (densidade ótica) foi determinada em 540nm (MOSMANN, 1983). 4.8 DETERMINAÇÃO DA PRODUÇÃO DE NO POR CÉLULAS PERITONEAIS A produção de NO (óxido nítrico) por células peritoneais, induzidas por carregina, em animais portadores e não portadores do tumor, em cultura foi determinada através da concentração de nitrito acumulado nas culturas por 48 horas, determinada pelo método de Griess. As células peritoneais foram obtidas lavando-se a cavidade peritoneal, o lavado peritoneal foi centrifugado e o precipitado celular foi ressuspendido em meio RPMI suplementando com soro bovino fetal (10%) e antibióticos(penicilina e estreptomicina). As células foram distribuídas em alíquotas de 200µl contendo 4x105 células em placas de 96 poços. A produção de nitrito foi determinada 48 horas após a incubação em estufa 37oC com 5% de CO2, adicionando-se reativo de Griess e procedendo-se a leitura da D. O. a 540nm (STEIL et al., 1995) 23 4.9 EXTRATOS DAS PLANTAS Os extratos testados foram preparados por pesquisadores do NIQFAR / UNIVALI, em concentração entre 100 e 400mg/Kg. Foram utilizados extratos brutos metanólicos das flores, folhas, e raízes da planta Allamanda schottii, cedidos pela professora Dra. Ângela Malheiros. O extrato metanólico das raízes da planta Rubus rosaefolius e o extrato metanólico dos frutos da planta Bromelia antiacantha foram cedidos pelo professor Dr. Rinaldo Niero. O extrato bruto metanólico das folhas da planta Aleurites mollucana; extrato bruto metanólico e fração acetato de etila das folhas da planta Bauhinia microstachya; extrato hexanico das folhas da planta Calophyllum brasiliense; extrato bruto de toda a planta Ipomoea pes-caprae foram cedidos pelo professor Dr. Valdir Cechinel Filho. 4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA As análises foram realizadas com o auxilio do programa de computador Instat. Para comparação de dois grupos de amostras com distribuição normal foi utilizado o teste t de Student bicaudal e para comparações de amostras sem distribuição normal foi utilizado o teste de Mann-Whitney (U). O nível de significância adotado para a rejeição da hipótese de nulidade foi de erro de até 5% (p<0,05) em todas as análises. 24 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES Com o objetivo de estudar a ação de algumas plantas no crescimento do tumor ascítico de Ehrlich (TAE), em camundongos, foram selecionadas algumas plantas em estudo pelos pesquisadores do NIQFAR, com relatos populares e/ou estudos farmacológicos indicando ação em resposta inflamatória, analgésica ou antitumoral. Para o tratamento dos animais, foi escolhida a via oral. A grande maioria dos estudos deste tipo, relatados na literatura, utilizam a via intraperitoneal para administração dos extratos, mesmo quando o tumor cresce intraperitonealmente (HAZRA et al., 2002; RAJESHKUMAR, et al., 2002; MATSUKAKI et al., 2003; GUPTA et al., 2004). Entretanto, como o tumor é de localização intraperitoneal, optou-se pela administração do extrato via oral. Isto porque a inoculação do extrato diretamente sobre o tumor certamente interfere no crescimento tumoral, devido a inflamação inespecífica no local induzida pelo extrato, independente da existência de componentes antitumorais. Além disso, a população usa as plantas medicinais na forma de chás e infusões e a administração do extrato por gavagem mimetiza este uso, não interferindo diretamente no crescimento do tumor. Sabendo-se que quase a totalidade dos tratamentos para tumores causam aplasia de medula óssea (diminuição da produção de células por este órgão), também foi avaliado se o tratamento dos camundongos portadores do TAE com os extratos das plantas altera a produção de células pela medula óssea. O tumor experimental utilizado neste estudo, o TAE, possui crescimento muito rápido. Assim as mudanças no estabelecimento e desenvolvimento do tumor são observadas somente quando o tratamento é muito eficiente. Por este motivo, somado ao fato do estudo ser realizado com extratos brutos, foram utilizadas doses elevadas dos extratos, de 100 a 400 mg/Kg. Na seqüência encontram-se os resultados obtidos com as plantas estudadas. 25 5.1 Aleurites moluccana No presente estudo, foi utilizado o extrato bruto das folhas de Aleurites moluccana na concentração de 100mg/kg. Analisando-se os resultados obtidos nos parâmetros usados para avaliar o crescimento do TAE, ganho de peso e volume ascítico, número de células por mL e por animal, mostrados na figura 8 A a D, observa-se que os valores do grupo tratado são semelhantes aos valores do grupo controle. Da mesma forma o extrato não alterou significativamente a hematopoes dos animais (figura 8E). A A. mollucana possui a mistura de esteróides, estigasterol, β-sitosterol e campesterol, e o ácido acetil aleuróico, compostos associados com atividade antitumoral (DIRSCH et al., 1997; PLOHMANN et al., 1997; MEYRE-SILVA et al., 1999; CORSINO et al., 2000; PARK et al., 2003; JU et al., 2004).Contudo, o extrato de Aleurites moluccana, neste estudo, não alterou o desenvolvimento do TAE. Isto pode ter acontecido devido a baixa concentração destes componentes nas folhas ou a baixa dose utilizada neste estudo. A utilização de doses mais altas não foi possível devido a não disponibilidade do material. 26 B 5.0 5 2.5 mL 10 ∆ gramas A 0 Controle Tratado Controle Tratado 100 Células x 107 / animal 10 Células x 107 /mL Controle D C 5 0 0.0 Tratado Controle 50 0 Tratado E Células x 104 / animal 200 100 0 Controle Tratado FIGURA 08 - Efeito do tratamento com o extrato bruto de Aleurites moluccana no ganho de peso (A) e volume ascítico (B), número de células por ml (C) e por animal (D) na cavidade peritoneal e no número total de leucócitos na medula óssea (E) de camundongos portadores do TAE. Os animais receberam 5x106células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu 1% de DMSO em água (5µl/g de peso);o grupo tratado recebeu 100mg/kg do extrato diluído em 1% de DMSO em água, por gavagem, duas vezes ao dia por sete dias. Os dados representam a média ±EPM de 10 animais do grupo controle e 9 animais do grupo tratado. 27 5.2 Rubus rosaefolius A dose utilizada do extrato de Rubus rosaefolius neste estudo foi de 200mg/Kg e a ação no crescimento do TAE foi avaliada pelos mesmos parâmetros já descritos e cujos resultados são apresentados na figura 9. Analisando os resultados obtidos verifica-se que o tratamento dos camundongos com o extrato desta planta não alterou de modo significativo o peso, o volume ascítico e o número de células por mL e pos animal presentes na cavidade peritoneal destes animais figura 9 A a D, que são os melhores parâmetros para se avaliar o crescimento de um tumor que cresce na forma ascítica. Similarmente, o número total de leucócitos da medula óssea observado indica que esta planta também não exerce ação importante na hematopoese, figura 9E. Os estudos químicos e o isolamento de compostos desta planta encontramse em andamento, pelo grupo de pesquisadores do NIQFAR. O estudo da espécie rosaefolius se faz pertinente, visto que os triterpenos encontrados nesta espácie vegetal são, dentre os metabólicos secundários, uma importante classe de agentes terapêuticos e que poderiam ter atividade antitumoral (KANEGUSUKU et al., 2002). 28 B 5.0 5 2.5 mL 10 ∆ gramas A 0 Controle 0.0 Tratado Tratado D C 10 100 Células x 107 /animal Células x 107 /mL Controle 5 0 Controle 50 0 Tratado Controle Tratado E Células x 104 /mL 200 100 0 Controle Tratado FIGURA 09- Efeito do tratamento com o extrato metanólico das raízes de Rubus rosaefolius o ganho de peso (A) e volume ascítico (B), número de células por ml (C) e por animal (D) na cavidade peritoneal e no número total de leucócitos na medula óssea (E) de camundongos portadores do TAE. Os animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 200 mg/kg do extrato diluído em água, por gavagem, duas vezes ao dia por sete dias. Os dados representam a média +/- EPM de 11 animais do grupo controle e 11 animais do grupo tratado. 29 5.3 Allamanda schottii Como descrito na introdução deste trabalho, foi encontrado na Allamanda cathartica, um princípio ativo chamado amantadina, com atividade em leucemia P388 em camundongos e in vitro em células de um tumor nasofaringeal humano (KUPCHAN apud MALHEIROS, 1995). Para avaliar a ação antitumoral no nosso modelo experimental do TAE proposta neste estudo, foram utilizados três extratos brutos, preparados a partir das folhas, das raízes e das flores desta planta. Os três extratos foram utilizados na dose de 200mg/Kg. Iniciamos os nossos trabalhos testando o extrato bruto das folhas. De modo semelhante as plantas descritas anteriormente, os parâmetros analisados foram o de ganho de peso, o volume ascítico e o número de células por mL do lavado peritoneal e o número de células total por animal. Os resultados obtidos apresentados nas figuras 10A a D, mostram que o tratamento dos camundongos com o extrato das folhas desta planta aumentou significativamente o número de células totais na cavidade peritoneal, (figura 10D). O número total de células por animal é resultado da multiplicação do volume ascítico do animal pelo número de células por mL deste volume. Apesar de não haver diferenças estatisticamente significativas no número de células por mL (figura 10C) e no volume ascítico (figura 10B), observa-se que os valores do grupo tratado tendem a ser mais altos do que os valores do grupo controle nestes dois eventos. A união destes dois dados no número de células por animal resulta na diferença estatisticamente significativa, observada indicando que o extrato das folhas desta planta pode acelerar ainda mais o crescimento do tumor. Os resultados obtidos no número de leucócitos da medula óssea, mostram que o extrato das folhas não teve efeito importante, visto que o número de células da medula óssea não foram estatisticamente diferentes dos valores apresentados pelo grupo controle (figura 10E). O tratamento dos camundongos portadores do TAE com o extrato das raízes, foi realizado por apenas 5 dias pois o mesmo precipitou. Os animais foram sacrificados no oitavo dia como nos demais experimentos sendo analisados os mesmos parâmetros. Como pode ser observado nas figuras 11A a D, os valores do grupo tratado foram semelhantes aos do grupo controle em todos os parâmetros utilizados para 30 avaliar o crescimento do tumor. Do mesmo modo, os resultados apresentados na figura 11E mostram que o extrato bruto das raízes da Allamanda shottii não altera o número total de leucócitos da medula óssea dos animais portadores do TAE . De forma semelhante, o extrato das folhes de Allamanda shottii não altera de forma significativa o crescimento do TAE (figura 12A a D), nem o número de leucócitos da medula óssea (figura 12E). Tomados em conjunto, os resultados obtidos com esta planta não apontam qualquer ação positiva no controle do crescimento do tumor ascítico de Ehrlich. Com estes resultados verificou-se a importância de estudos mais criteriosos com as plantas medicinais. Isto porque, como observado na espécie Allamanda aqui estudada, temos um aumento no crescimento de um tumor experimental, ao contrário de outra Allamanda do mesmo gênero que diminui o crescimento de outros tumores experimentais (KUPCHAN apud MALHEIROS, 1995). 31 B A 7.5 ∆ gramas 10 mL 5.0 0 Controle 0.0 Tratado C Tratado 100 Células x 107 / animal Células x 107 / mL Controle D 10 5 0 2.5 Controle Tratado * 50 0 Controle Tratado E Células x 104 / mL 200 100 0 Controle Tratado FIGURA 10 - Efeito do tratamento com o extrato bruto das folhas de Allamanda schotti no ganho de peso (A) e volume ascítico (B), número de células por ml (C) e por animal na cavidade peritoneal (D) e no número total de leucócitos na medula óssea (E) de camundongos portadores do TAE. Os animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu1,4% de álcool puro em água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 200 mg/kg do extrato em 1,4% de álcool puro diluído em água, por gavagem, duas vezes ao dia por sete dias. Os dados representam a média +/EPM de 12 animais do grupo controle e 10 animais do grupo tratado. *p<0,05 comparado ao grupo controle. 32 B A 5 2.5 ∆ mL 5.0 gramas 10 0 Controle 0.0 Tratado C Tratado Controle Tratado D 10 100 Células x 107 / animal Células x 107 /mL Controle 5 0 Controle 50 0 Tratado E Células x 104 / animal 200 100 0 Controle Tratado FIGURA 11 - Efeito do tratamento com o extrato bruto das raízes de Allamanda schottii no ganho de peso (A) e volume ascítico (B), número de células por ml (C) e por animal na cavidade peritoneal (D) e no número total de leucócitos na medula óssea (E) de camundongos portadores do TAE. Os animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu 1,4% de álcool puro em água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 200 mg/kg do extrato diluído em1,4% de álcool puro em água,por gavagem, duas vezes ao dia por sete dias.Os dados representam a média +/- EPM de 12 animais do grupo controle e 11 animais do grupo tratado. 33 B A 5.0 mL 5 2.5 ∆ gramas 10 0 Controle Tratado C 0.0 Tratado Controle Tratado D 100 Células x 107 /animal 10 Células x 107 /mL Controle 5 0 Controle 50 0 Tratado E Células x 104 /mL 100 50 0 Controle Tratado FIGURA 12 - Efeito do tratamento com o extrato bruto das flores de Allamanda schottii no ganho de peso (A) e volume escítico (B), número de células por ml (C) e por animal na cavidade peritoneal (D) e no número total de leucócitos na medula óssea (E) de camundongos portadores do TAE. Os animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 200 mg/kg do extrato diluído em água, por gavagem, duas vezes ao dia por sete dias.Os dados representam a média +/- EPM de 11 animais do grupo controle e 12 animais do grupo tratado. 34 5.4 Ipomoea pes-caprae O tratamento dos camundongos portadores do TAE com o extrato bruto da planta Ipomoea pes-caprae não alterou o ganho de peso dos camundongos (figura 13A). Em relação ao volume ascítico destes animais, verifica-se uma tendência ao aumento deste volume nos animais tratados com o extrato da planta em relação ao grupo controle (figura 13B). A mesma tendência ao aumento é verificada também no número de células por mL nos animais tratados com a planta (figura 13C). Quando estes dados são unidos verifica-se um aumento significativo de células nos animais tratados em relação ao controle (figura 13D). Também foi avaliado se o tratamento dos animais com o extrato da planta Ipomoea pes-caprae alterava o número de células da medula óssea dos animais. O gráfico apresentado, figura 13E, mostra um aumento muito significatico no número total destas células no grupo tratado em relação ao grupo controle. Em nossos estudos foi observado que o extrato bruto da Ipomoea pescaprae na concentração de 200mg/Kg estimula a proliferação de leucócitos na medula óssea, porém também estimula o crescimento do tumor. Trabalhos científicos envolvendo a extração, o isolamento e a identificação de constituintes químicos presentes na planta Ipomoea pes-caprae mostram a riqueza de compostos farmacologicamente ativos isolados dos seus diferentes extratos (KROGH et al, 1999;PONGPRAYOON et al,1992; DE SOUZA et al, 2000). Os compostos O hidroxi-4,4,7-trimetil-1(4H)-naphthalenone(1), (-)-mellein(2), eugenol(3) e 4-vinil-guaiacol, desta planta inibem a síntese de prostaglantinas. FECCHIO et al. (1990) demonstraram que o TAE induz significante liberação de prostaglandinas E2 (PGE2) um dia após o implante intraperitoneal das células tumorais. Este aumento de PGE2 se mantém até o décimo dia de evolução do tumor. Os autores sugerem que a PGE2, exerce uma retroalimentação negativa sobre a ativação de macrófagos. Como a Ipomoea pes-caprae possui compostos que inibem a produção de prostaglandinas era de se esperar que o tratamento dos camundongos com o extrato desta planta reduzisse o crescimento do TAE, porém isto não ocorreu. 35 B 10 10 5 5 0 mL ∆ gramas A Controle 0 Tratado C Tratado D 10 100 Células x107 /animal Células x107 /mL Controle 5 0 Controle * 50 Tratado 0 Controle Tratado E Células x107 /animal 500 ** 250 0 Controle Tratado FIGURA 13 - Efeito do tratamento com o extrato bruto de Ipomoea pes-caprae no ganho de peso (A) e circunferência abdominal (B), número de células por ml (C) e por animal(D) na cavidade peritoneal e volume ascítico (E), no número total de leucócitos na medula óssea (F) de camundongos portadores do TAE. Os animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu 1% de DMSO em água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 100 mg/kg do extrato em 1% de DMSO diluído em água, por gavagem, duas vezes ao dia por sete dias. A contagem dos leucócitos corados com Tukey foi realizada em câmara de Neubauer ao microscópio óptico. Os dados representam a média±EPM de 10 animais do grupo controle e 8 animais do grupo tratado. *p<0,05 comparado ao grupo controle **p<0,01 comparado ao grupo controle. 36 5 Bromelia antiacantha Neste estudo, o extrato metanólico dos frutos da Bromelia antiacantha foi utilizado na dose de 400mg/Kg . Os resultados obtidos, apresentados na figura 14A, mostram que o tratamento dos animais com este extrato não alterou significativamente o ganho de peso. Os resultados, apresentados na figura 14B e C, mostram que o volume ascítico e o número de células por mL do lavado peritoneal mostraram não ser estatisticamente diferentes do grupo controle, contudo, pode ser observado uma tendência a redução dos valores, tanto do líquido como das células. quando os animais foram tratados com o extrato de Bromelia antiacantha. Quando calcula-se o número de células por animal verifica-se que o tratamento levou a uma diminuição significativa no número destas células (figura 14D). Estes resultados indicam que o extrato bruto dos frutos da planta Bromelia antiacantha tem ação no desenvolvimento do TAE, pois diminuiu o seu crescimento. Quanto às células da medula óssea, o tratamento com o extrato da planta não alterou de modo significativo o número total de células deste órgão linfóide primário, como pode ser observado na figura 14E. Como já descrito na introdução, a B. antiacantha vem sendo utilizada na região de Santa Catarina para o tratamento de tosses, bronquites, aftas e inflamações em geral, sendo este o primeiro trabalho científico com esta planta. O estudo fitoquímico desta espécie está sendo realizado pelo grupo de pesquisadores do NIQFAR, porém encontra-se em fase inicial. Novos estudos devem ser realizados com frações deste extrato, afim de melhor avaliar os agentes farmacológicos contidos neste gênero botânico. 37 B 5.0 5 2.5 mL 10 ∆ gramas A 0 Controle 0.0 Tratado Tratado D C 100 Células x 107 /animal 10 Células x 107 /mL Controle 5 0 Controle 0 Tratado Controle Tratado 100 Células x 104 /mL E * 50 0 Controle Tratado FIGURA 14 - Efeito do tratamento com o extrato metanólico dos frutos de Bromelia antiacantha no ganho de peso (A) e volume escítico (B), número de células por ml (C) e por animal na cavidade peritoneal (D) e no número total de leucócitos na medula óssea (E) de camundongos portadores do TAE. Grupos de animais de camundongos portadores do TAE. Os animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 400 mg/kg do extrato diluído em água, por gavagem, duas vezes ao dia por sete dias. Os dados representam a média±EPM de 11 animais do controle e 12 animais do tratado. * p< 0,05 comparada ao grupo controle. 38 5.6 Calophyllum brasiliense O extrato hexânico desta planta não foi completamente solúvel em água, por este motivo, neste estudo os camundongos portadores do TAE receberam dois tratamentos diários de 300mg/kg com a fração do extrato que dissolveu em água, que representa aproximadamente, 75% do extrato total. O ganho de peso dos animais durante os sete dias de tratamento e o volume ascítico na cavidade peritoneal não foram alterados com o tratamento com o extrato desta planta (figuras 15A e B). O número de células por mL do lavado peritoneal mostrou uma diminuição estatisticamente significativa quando comparada ao controle mas, quando avaliou-se o número de células por animal, não houve nenhum alteração no número destas células( figuras 15C e D). Esta discrepância deve-se a grande heterogeneidade dos resultados, principalmente no volume ascítico apresentado pelos animais. Em relação ao número de células totais da medula óssea, o tratamento com o extrato da planta induziu elevação do número destas células, uma vez que este número foi significativamente mais alto no grupo tratado, quando comparado ao grupo controle, como pode ser observado na figura 15E. Estes resultados indicam que o extrato hexânico das folhas de Calophyllum brasiense tem ação no desenvolvimento do TAE, porém esta ação não é muito importante, mas estimula de modo importante a produção de células pela medula óssea, mostrando ser um estimulador da hematopoese. Como escrito acima, somente aproximadamente 75% deste extrato foi dissolvido, podendo os princípios ativos estarem concentrados neste percentual ou estarem diminuídos, caso não sejam hidrossolúveis. São, portanto, necessários mais estudos com esta planta, com o mesmo extrato ou com outros extratos, para que sejam conhecidos o real potencial antitumoral e e estimulador de hematopoese desta planta. 39 B A 7.5 5.0 5 0 mL ∆ gramas 10 Controle 2.5 0.0 Tratado C Controle Tratado D 10 100 0 Controle Células x 107 /animal Células x 107 /mL * 0 Tratado Controle Tratado E Células x 104 /mL 200 * 100 0 Controle Tratado FIGURA 15 - Efeito do tratamento com o extrato bruto das folhas de Calophyllum brasiliense no ganho de peso (A) e volume ascítico (B), número de células por mL (C) e por animal na cavidade peritoneal (D) e no número total de leucócitos na medula óssea (E) de camundongos portadores do TAE. Os animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 300 mg/kg do extrato diluído em água, por gavagem, duas vezes ao dia por sete dias. Os dados representam a média +/- EPM de 10 animais do grupo controle e 11 animais do grupo tratado. *p< 0,05 comparado ao grupo controle . 40 5.7 Bauhinia microstachya Iniciamos os estudos com a planta B. microstachya utilizando o extrato bruto das folhas. Camundongos portadores do TAE foram tratados com 200mg/Kg deste extrato. Os resultados obtidos mostram que o tratamento com o extrato levou a uma tendência a diminuição do ganho de peso, volume ascítico e células por mL do lavado peritoneal (figura 16A a C). Os valores de número total de células por cavidade peritoneal foram significativamente inferiores nos tratados com o extrato do que nos animais do grupo controle (figura 16D) indicando que o extrato bruto da planta Bauhinia microstachya possui ação sobre o TAE, levando a uma diminuição significativa do crecimento deste tumor. Os resultados obtidos, apresentados na figura 16E, mostram que o tratamento dos camundongos com o extrato bruto desta planta aumentou significativamente o número total de células da medula óssea, indicando ser, o extrato desta planta, um estimulador da hematopoese dos camundongos portadores do TAE. Estudos realizados com extratos da planta Bauhinia racemosa mostraram atividade antioxidante e antitumoral neste mesmo tumor experimental, o TAE (GUPTA et al, 2004). Doses utilizadas de 50, 100, 200 e mg/Kg por via intraperitoneal, 1 x ao dia, reduziram o ganho de peso e de volume ascítico e o número de células tumorais, sem alterar os parâmetros hematólógicos do sangue periférico. O extrato também restaurou a peroxidação lipídica hepática, inibiu a formação de radicais livres por enzimas antioxidantes como superoxidase dismutase (SOD) e catalase (CAT) no tumor dos camundongos portadores, mantendo os radicais livres a níveis próximos do normal. Estudos de toxicidade indicaram que nas doses de 50, 100 e 200 mg/Kg por 14 dias de tratamento com a Bauhinia racemosa não mostraram nenhum efeito adverso. Doses de 400mg/Kg aumentaram a concentração de uréia e a atividade da transaminase indicando uma disfunção no metabolismo hepático e renal. Em nossos estudos não foram testadas doses acima de 200mg/Kg, por esta razão não sabemos se doses mais altas possam ter efeitos tóxicos. Dados da literatura mostram que compostos como β-sitosterol, um potente antitumoral, e daucosterol, ácido gálico entre outros, foram extraídos da Bauhinia 41 championii (BAI et al., 2005). Estes compostos existem na Bauhinia microstachya, porém em quantidades pequenas. Estes compostos são absorvidos pelas frações diclorometano e/ou hexano, as quais não foram testadas neste estudo. O extrato bruto de B. microstachya mostrou ação antitumoral e ação estimuladora da hematopoese. Sabe-se que atividade mieloprotetora de compostos naturais e sintéticos contribuem para inibição do crescimento do TAE. A avaliação de células da medula é impoetante também para a compreensão de como os compostos alteram a produção de células sanguíneas e como estas mudanças afetam o sistema imune do hospedeiro. No animal, portadores do TAE, o número de células da medula óssea decai no terceiro dia da inoculação do tumor (QUEIROZ et al., 2004) Como a B. microstachya foi a planta que melhor inibiu o crescimento do TAE, e além disso, aumentou o número de células da medula óssea, a etapa seguinte foi avaliar a ação da fração acetato de etila do extrato desta planta no crescimento do TAE e no número total de células da medula óssea . A fração acetato de etila foi a escolhida para dar continuidade aos trabalhos, pois são extraídos por este solvente flavonóides, xantonas, taninos, ácidos triterpênicos, saponinas e compostos fenólicos. Como já citado, a literatura relata alguns flavonóides e triterpenos como agentes antitumorais. Esta fração também apresentou maior rendimento, o que facilitaria o trabalho visto que para cada experimento são gastos 1g de extrato. Os camundongos portadores do TAE foram tratados com a fração acetato de etila das folhas da planta Bauhinia microstachya na concentração de 100mg/kg. A dose inicial foi menor do que a dose utilizada para o extrato bruto pois as frações contém os compostos mais concentrados, pois retira do extrato bruto somente uma classe de compostos específicos. Os resultados obtidos nos parâmetros que avaliam o crescimento do TAE , peso, volume ascítico, células por mL e células por animal, não mostraram diferenças estatísticas significativas entre os valores do grupo tratado quando comparadas ao grupo controle (figura 17A a D). Quanto ao número de células na medula óssea, os resultados obtidos, apresentados na figura 17E, mostram que o tratamento dos camundongos com o extrato bruto desta planta aumentou significativamente o número total de células indicando que nesta fração encontra-se os compostos com ação estimuladora da hematopoese 42 Como citado anteriormente, a investigação química com as folhas de B. microstachya levaram ao isolamento de vários compostos, apresentando melhor perfil fitoquímico e melhor atividade analgésica em testes preliminares de pesquisadores desta instituição de ensino (comunicação pessoal). A fração acetato de etila absorve compostos de alta polaridade e como esta fração não apresentou efeito sobre o TAE, somente sobre a medula óssea, o composto ou os compostos que estão agindo como antitumorais não devem ter esta polaridade, pois não foram carreados por este solvente químico. Também é posssível que a ação antitumoral seja devido a efeito sinérgico de vários compostos, alguns dos quais não estão presentes na fração acetato de etila, como o composto β sitosterol , indicado como antitumoral, que é carreado pela fração diclorometano e/ ou hexano. 43 B A 7.5 ∆ gramas 10 mL 5.0 5 0 Controle 2.5 0.0 Tratado C Controle Tratado D 100 Células x 107 /mL Células x 107 /animal 10 0 * 0 Controle Tratado E Controle Tratado Células x 104 /mL 100 * 50 0 Controle Tratado FIGURA 16 - Efeito do tratamento com o extrato bruto de Bauhinia microstachya no ganho de peso (A) e volume ascítico (B), número de células por mL (C) e por animall na cavidade peritoneal (D) e no número total de leucócitos na medula óssea (E) de camundongos portadores do TAE. Os animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 200 mg/kg do extrato diluído em água,por gavagem, duas vezes ao dia por sete dias. Os dados representam a média±EPM de 10 animais do grupo controle e 12 animais do grupo tratado. * p< 0,05 comparado com o grupo controle. 44 B A 5.0 2 mL ∆ gramas 3 1 0 Controle 0.0 Tratado C Controle Tratado Controle Tratado D 10 75 Células x 107 /animal Células x 107 /mL 2.5 5 0 Controle Tratado 50 25 0 E Células x 104 /mL 300 200 ** 100 0 Controle Tratado FIGURA 17 - Efeito do tratamento com o extrato da fração acetato de etila de Bauhinia microstachya no ganho de peso (A) e no volume ascítico (B), número de células por ml (C) e por animal na cavidade peritoneal (D) e no número total de leucócitos na medula óssea (E) de camundongos portadores do TAE. Os animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 100 mg/kg do extrato diluído em água, por gavagem, duas vezes ao dia por sete dias. Os dados representam a média±EPM de 10 animais do grupo controle e 10 animais do grupo tratado. * *p<0,01comparado ao grupo controle. 45 5.8 EFEITO DO TRATAMENTO COM O EXTRATO BRUTO DE Bauhinia microstachya NA ATIVAÇÃO DE CÉLULAS PERITONEAIS Com o intuito de avaliar como o extrato bruto da planta Bauhinia microstachya age reduzindo o crescimento do TAE, foi determinado a ativação de células peritoneais por duas técnicas: produção de óxido nítrico e o consumo de oxigênio (determinado pela redução de MTT). Nestes experimentos os camundongos receberam as células tumorais no dia 0 e o tratamento com o extrato na dose de 200mg/Kg duas vezes ao dia. No quarto dia os animais receberam 0,2mg de carragenina, i.p. Este modelo de indução de inflamação por carragenina vem sendo largamente empregado no estudo do processo inflamatório (FECCHIO et al., 1989). Após 6 horas, as células peritoneias foram coletadas sendo determinado a redução de MTT ou cultivadas por 48 e determinada a produção de NO. Com relação a redução de MTT, os resultados obtidos das células mostram que o tratamento dos camundongos com o extrato bruto da Bauhinia microstachya, não alterou de forma significativa a ativação das células inflamatórias (figura 18). Cabe ressaltar que a respiração das células provenientes dos animais portadores do TAE foi aproximadamente 5 vezes mais alta do que a respiração das células obtidas de animais portadores do tumor porque as células tumorais estão em alta atividade pois estão se dividindo rapidamente. Com relação a produção de NO, a determinação da produção deste mediador não mostrou diferenças significativas entre o grupo controle e o grupo tratado com o extrato da planta (figura 19B). Porém, a produção de NO pelas células provenientes de camundongos não portadores do TAE, foi reduzida com o tratamento dos animais com o extrato da planta (figura 19A). O NO produzido por macrófagos ativados tem papel importante no controle do crescimento de tumores. Macrófagos ativados iniciam os programas de morte celular através da liberação de mediadores (JACKSON; EVANS, 2000; BRAUMIK; KHAR, 1998). Um destes mediadores é o óxido nítrico (KRONCKE; FEHSEL; KOLB-BACHOFEN, 1998; BREDT, 1999; BRAUMIK; KHAR, 1998). Este gás causa toxicidade no alvo celular por causa de sua alta reatividade inibindo a respiração mitocondrial e a síntese de DNA, entre outros (KRONCKE; FEHSEL; KOLBBACHOFEN, 1998; BREDT, 1999; BRUNE; VON-KNETHEN; SANDAU,1999). Foi postulado que os macrófagos se infiltram no tecido tumoral e produzem 46 óxido nítrico (NO), e este por difusão, é capaz de causar apoptose nas células tumorais, direcionando a perda de viabilidade do tumor. (CHATTOPADHYAY et al., 2002). Dois dos mais conhecidos exemplos de genes reguladores de apoptose são Bcl2 (B-cell lymphoma 2 ) e P53 (Proteína 53 quilodáltons). A Bcl2 estimula a resposta antioxidativa nas células e previne a apoptose, diretamente, bloqueando complexos de caspases e indiretamente impedindo a liberação para o citoplasma de componentes da mitocôndria capazes de ativar caspase 3. O excesso de Bcl2 embora não seja suficiente para causar tumor, favorece a ação de outros agentes oncogênicos. O excesso de Bcl2 também ativa a liberação de P53 para um equilíbrio da expressão das proteínas pró e anti apoptóticas (CHATTOPADHYAY et al., 2002). Sabemos da literatura que a radioterapia não mata por necrose e sim danifica o DNA, ativando a P53 levando a apoptose. Células com baixa quantidade de P53 e alta quantidade de Bcl2 são imunes a radioterapia (NARDNE;BELLI;,TERRIBILE, 2002; BUCCI et al., 2005). No caso das células do tumor de Ehrlich, sabe-se que estas apresentam sensibilidade ao óxido nítrico, pois este promove uma troca no balanço entre proteínas pró e anti apoptóticas, direcionando as células do tumor a morte eminente (CHATTOPADHYAY et al., 2002). Em relação a B. microstachya, dados da literatura mostram que a planta apresenta efeitos antioxidantes (MENEZES; SCHWARZ; SANTOS, 2004) e em nossos estudos o seu extrato inibiu a produção de óxido nítrico (NO) liberado por macrófagos obtidos do peritôneo de animais não portadores do TAE. Portanto, a diminuição do crescimento do TAE por este extrato não deve ter sido por este caminho NO-dependente. Por outro lado, dados da literatura nos mostram que plantas que contém princípios ativos antioxidantes mostram citotoxicidade em células tumorais e atividade antitumoral em animais experimentais (RUBY et al,. 1995; KOSTOVA, 2005). Estudos in vitro mostram que a produção excessiva de radicais livres resulta em stress oxidativo, que leva a danificação de macromoléculas, como lipídios. O aumento da peroxidação lipídica poderia causar degeneração de tecidos. O peróxido lipídico poderia ser transferido pela circulação e provocar danos pela propagação do processo de peroxidação lipídica. O produto final da peroxidação lipídica, tem sido 47 encontrado em níveis mais altos nos tecidos carcinomatosos do que em órgãos sadios. A Glutationa, um potente inibidor do processo neoplásico, desempenha um papel importante como antioxidante endógeno, que é encontrado particularmente em altas concentrações no fígado e é conhecido pela sua função chave no processo de proteção celular. O extrato de Bauhinia racemosa reduziu os elevados níveis de peroxidação lipídica e aumentou o nível de glutationa nas camundongos portadores do TAE (GUPTA et al, 2004). O mecanismo de antioxidação SOD (dismutase) e CAT (catalase) está presente em todas as células, tendo como função, a defesa contra reações danosas do peróxido de hidrogênio e superóxidos. (Sun et al, appud GUPTA et al, 2004), relataram um decréscimo na atividade do SOD nos camundongos portadores do TAE, que pode ser devido a perda de atividade do MnSOD nas células do TAE e a perda de mitocôndria, direcionada a um decréscimo da atividade total de SOD no fígado. A inibição das atividades de SOD e CAT pelo crescimento do tumor também foi relatada. A administração de Bauhinia racemosa em diferentes doses aumenta os níveis de SOD e CAT de forma dose-dependente, que pode indicar a propriedade antioxidante deste extrato (GUPTA et al, 2004). Seguindo outro raciocínio, plantas do gênero Bauhinia são classificadas como diuréticas (SIMÕES et al., 2003). Se o TAE cresce por aumento do volume da ascite e que nesta ascite é que estão os nutrientes necessários para o seu crescimento, pode-se especular que a diminuição deste volume e conseqüente diminuição de nutrientes por uma melhor diurese do animal também levasse a uma diminuição ou retardo do crescimento tumoral. Não que este seja o único motivo pelo qual o tumor não cresceu e sim mais um fator na melhora fisiológica do animal e um “ganho de tempo” para o sistema imunológico agir. Todos os dados considerados no estudo não elucidam um ou os prováveis mecanismos pelo qual o extrato bruto de Bauhinia microstachya propaga a diminuição do crescimento do Tumor ascítico de Ehrlich. Novos estudos devem ser feitos a fim de elucidar seus mecanismos tumoricidas no TAE. 48 A SEM TUMOR 0.4 DO540nm 0.3 0.2 0.1 0.0 B Controle Tratado COM TUMOR DO54 0n m 2 1 0 Controle Tratado FIGURA 18- Efeito do tratamento com o extrato bruto da planta Bauhinia microstachya na redução de MTT por células peritoneais de camundongos não portadores (A) e portadores (B) do TAE. Os animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 200 mg/kg do extrato diluído em água, por gavagem, duas vezes ao dia por três dias. No quarto dia, os animais receberam 0,2 mg de carragenina i.p. e 6 horas após as células peritoneais foram coletadas, plaqueadas (4x105 células/ poço) foi adicionado o MTT e mantido a 37 C.Após 3 horas, foi adicionado SDS, sendo a leitura da densidade ótica realizada 18 horas após em 540 nm. Dados representam média±EPM de 6 animais ensaiados em quaduplicata. 49 A SEM TUMOR µM 200 100 *** 0 B Controle Tratado COM TUMOR µM 50 25 0 Controle Tratado FIGURA 19 - Efeito do tratamento com o extrato bruto da planta Bauhinia microstachya na produção de NO por células peritoneais de camundongos não portadores (A) e portadores (B) do TAE. Os de animais receberam 5x106 células tumorais na cavidade peritoneal. O grupo controle recebeu água (5µl/g de peso); o grupo tratado recebeu 200 mg/kg do extrato diluído em água, por gavagem, duas vezes ao dia por três dias. No quarto dia, os animais receberam 0,2 mg de carragenina i.p. e 6 horas após as células peritoneais foram coletadas, plaqueadas (4 x 105 células/ poço) a 37 C por 48 horas. O nitrito foi determinado pelo método de Griess. Dados representam média±EPM de 6 animais ensaiados em quaduplicata.***p<0,001 comparado com o grupo controle. 50 CONCLUSÕES Os resultados obtidos neste estudo permitiram concluir que: 1. O extrato bruto das folhas de Aleurites moluccana, na dose de 100mg/kg, não apresenta atividade sobre o tumor ascítico de Ehrlich nem modifica o número total de leucócitos da medula óssea; 2. O extrato bruto das raízes de Rubus rosaefolius, na dose de 200mg/kg, não modifica o crescimento do TAE nem modifica o número total de leucócitos da medula óssea; 3. Os extratos brutos das flores e raízes de 200mg/kg, Allamanda schotii, na dose de não apresentam atividade sobre o TAE enquanto que o extrato das folhas na mesma dose aumenta o crescimento do tumor. Contudo, nenhum dos tratamentos com esta planta modifica o número total de leucócitos da medula óssea; 4. O extrato bruto de Ipomoea pes-caprae, na dose de 200mg/kg, induz aumento do crescimento do tumor e estimula a hematopoese; 5. O extrato bruto dos frutos de Bromelia antiacantha, na dose de 400mg/kg, reduz o crescimento do TAE, mas não altera o número total de células da medula óssea; 6. A fração hexâno das folhas de Calophyllum brasiliense, na dose de 300mg/kg, não tem ação importante no crescimento do TAE mas estimula a hematopoese; 7. O extrato bruto de Bauhinia microstachya, na dose de 200mg/kg, reduz o crescimento tumoral e estimula a hematopoese; 8. A fração acetato de etila de Bauhinia microstachya, na dose de 100mg/Kg, não altera o crescimento do TAE mas estimula a hematopoese; 9. O extrato bruto de Bauhinia microstachya reduz a produção de óxido nítrico por células peritoneais ativadas com carragenina, em animais não portadores sem alterar de forma importante o consumo de oxigênio por estas células. 10. Dentre as plantas testadas, a Bauhinia microstachya mostro-se a mais promissora no controle do crescimento do TAE. 51 REFERÊNCIAS ABBAS, A.K.; LICHTMAN, A.H.; POBER. J.S. Imunologia cellular e molecular. 4. ed Rio de Janeiro, RJ: Revinter, 2003. p.554. ADAM, J. K.; ODHAV, B.; BLOOLA, K. D. Immune responses in câncer. 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