Conferência Política Industrial em contexto de crise internacional: avaliando estratégias Cenário internacional - crise, barreiras e política industrial Lia Valls Pereira IBRE/FGV FCE/UERJ Realização CEBRI. São Paulo, 13 de dezembro de 2012 Motivação • Os programas de política industrial e de comércio exterior, desde 2003 destacam o tema da inovação como central para a competitividade da indústria brasileira. • A partir de 2008 ganha força o tema do adensamento das cadeias produtivas. • Câmbio e doença holandesa. • A crise de 2008: política industrial passa a privilegiar instrumentos protecionistas . É uma resposta à crise? • 2011: “Plano Brasil Maior”: inovação; adensamento e conteúdo local. São compatíveis ? Apresentação geral • • • • • • Protecionismo: uma visão da economia política A crise de 2008 e o protecionismo O Brasil no contexto global. Por que política industrial? Estudo de caso: petróleo e gás Estudo de caso: equipamentos médicos e hospitalares. Protecionismo : causas (1) Proteção temporária como forma de atenuar a queda do emprego/renda generalizada em momentos de crise. i. 1930: mostrou que o jogo não cooperativo piora a crise. ii. As regras multilaterais aplicadas à exceções setoriais (salvaguardas) e crises da balança de pagamentos (artigo XVIII). Utilização de mecanismo de defesa comercial. Custo político/econômico de elevar tarifas. iii. Procura por outros mecanismos de caráter geral? As respostas tendem a ser setoriais (financiamento, isenções tributárias) Protecionismo : causas (2) Proteção como parte integrante das políticas de desenvolvimento agrícola e industrial. i. Escolhas de economia política: diretrizes (modelo de substituição de importações) ou fatores domésticos de barganhas políticas/econômicas (proteção agrícola e de setores intensivos em trabalho sindicalizados) e setores estratégicos (segurança nacional). ii. No caso da América Latina, as duas causas não foram excludentes. Modelo de substituição de importações (restrições cambiais ao crescimento econômico). Protecionismo : causas (3) Proteção como correção das falhas de mercado. i. Indústria nascente. ii. Politica estratégica de comércio exterior. iii. Proteção para maximizar geração de valor adicionado, emprego. iv. O tema do “second best”. A RACIONALIDADE DO PROTECIONISMO ENVOLVE QUESTÕES P0LÍTICAS E DE ESTRATÉGIAS DE POLÍTICAS ECONÔMICAS Cronologia do protecionismo no mundo 1. Crise de 1930: proteção generalizada. 2. Novo protecionismo da década de 80: desequilíbrios macroeconômicos e “resistência” às mudanças nas vantagens comparativas (Japão e “novos países industrializados”). Os novos instrumentos de proteção (caráter setorial). 3. O esgotamento das políticas de proteção como estímulo ao desenvolvimento 3. Rodada Uruguai (disciplina PD e PEDS ?) 4. O debate sobre os benefícios da liberalização e a Rodada Doha. Aumentou o protecionismo como resposta à crise de 2008? 8 RELATÓRIOS SOBRE O G-20 (OMC, OECD, UNCTAD): 09/2009 a 10/2012 • Em todos os relatórios é expressa a preocupação com a baixa taxa de retirada das medidas protecionistas adotadas • É ressaltada a elevada frequência de medidas de caráter setorial voltadas para setores que já eram considerados sensíveis em alguns países mesmo antes da crise. Dessa forma, a crise, ao se eleger medidas de proteção como alívio temporário/permanente, estaria postergando os ajustes estruturais necessários face a mudanças nos padrões de vantagens comparativas; • Uma clara indicação de preocupação com o aumento do protecionismo não se dá imediatamente após a eclosão da crise, mas a partir de meados de 2011, onde as incertezas quanto aos rumos da recuperação econômica passam a dominar o cenário internacional; • Além do tema dos setores sensíveis, passam para o rol das motivações protecionistas os desalinhamentos cambiais; e, • Os três últimos relatórios destacam o aumento de medidas não tarifárias associadas às diretrizes de políticas industriais. Relatório G-20 The more recent wave of trade restrictions seems no longer to be aimed at combatting the temporary effects of the global crisis, but rather at trying to stimulate recovery through national industrial planning, which is an altogether longer-term affair. In addition to trade restrictions, many of these plans envisage the granting of tax concessions and the use of government subsidies, as well as domestic preferences in government procurement and local content requirements (WT/TPR/OV/W/6 28 June 2012). Como medir o protecionismo? (1) Indicador de frequência das medidas: percentual (%) das medidas de proteção do G-20 por grandes grupos. Fonte: WTO/OECD/UNCTAD (2012) * O número de medidas em cada um dos períodos, seguindo a ordem descrita no gráfico foi de: 80; 95; 56; 54; 122; 108; 124; e; 71. Como medir o protecionismo? (2) Indicador de cobertura das medidas de proteção do G-20 por grandes grupos (%) . A cobertura do índice não chega a 1,5% em nenhum período. Como medir o protecionismo? (3) Os estudos mostram que não houve um aumento generalizado do protecionismo. • Kee, Neagu e Nicita (2010), aumento das tarifas e direitos antidumping menos de 2% da crise no comércio mundial. • Datt e outros (2011) a resposta à crise englobou medidas de liberalização comercial, todas de caráter setorial associadas à especialização vertical ao longo das cadeias produtivas. • A continuação da crise e dos desequilíbrios macro pós 2010. Câmbio flexível ajuda, mas... Brasil e a liberalização dos anos 90 A tarifa média nominal de importação caiu de 44% (1989) para 13% (1994) e 13,5% (2003). Fonte: Pereira (2006) O debate sobre o efeitos da liberalização se acirram no final dos anos 90 (1) O debate sobre o efeitos da liberalização no final dos anos 90 (1) Aumento nos coeficientes de importação Sectors Total Manufacturing I ndustry 1990 1994 1999 2003 3 8 12 11 26 15 15 12 18 16 9 8 8 8 13 4 8 14 7 2 4 4 2 3 2 4 4 1 1 51 34 25 20 28 25 13 12 11 8 16 8 9 14 9 5 4 6 2 4 3 3 7 2 2 61 32 31 29 26 16 15 13 12 11 11 10 10 9 8 5 4 4 3 3 3 2 2 2 2 Electronical Equipment 10 Parts, Components and other vehicles 7 Electrical Equipment 6 Pharmaceutical and perfumery products6 Miscellaneous I ndustries 10 Machinery and tractors 8 Other Chemical Products 4 Non-ferrous metallurgy 4 Rubber and Products 3 Footwear and Leather articles 3 Chemical Elements 9 Plastic products 1 Textile 2 Automobile, trucks and buses 0 Petroleum Refining 2 Other metallurgical products 1 Processing of Vegetable Products 2 Cellulose, paper and products 2 Non-metallic minerals 1 Other Food Products 2 Steel I ndustry 1 Vegetable Oils 1 Dairy Products 2 Wood and Furniture 0 Clothing and acessories 0 O debate sobre o efeitos da liberalização (final anos 90) • A desvalorização cambial de 1999 não era suficiente para assegurar a competitividade. • Consenso sobre a importância da inovação tecnológica. • Políticas horizontaisXverticais • Ambiente institucional • 2003: PITCE • 2008: PDP A crise de 2008 acentua temas que já estavam no debate • Part% do Brasil n o comércio mundial aumentou de 0,9% para 1,4% (2000 e 2011), mas manufaturas abaixo de 1%. • Após 2008 a forte valorização cambial e os preços das commodities. • Cálculo da FIESP: CI da indústria d transformação passou de 14,4% para 23,1% entre 2006 e 2011 . • Diferente da década de 90, a balança comercial superavitária Resposta do Brasil na crise de2008: breve cronologia - Do terceiro trimestre de 2008 (início do aparecimento dos efeitos negativos da crise financeira) até maio de 2010: preocupação do governo brasileiro com a deterioração das contas externas=> adoção de medidas somente sobre o fluxo de capitais (que continuaram ao longo de 2010 e 2011) e redução dos custos de financiamento as exportações. - Maio de 2010: lançamento do Pacote de Competitividade - apoio à competitividade da produção brasileira para fazer frente à valorização do real. - Agosto de 2011: lançamento do Plano Brasil Maior - medidas de estímulo aos investimentos e à produção. - Abril de 2012: lançamento de novas medidas do Plano Brasil Maior Brasil Plano Maior (orientação) • Promover a inovação e o desenvolvimento tecnológico • Criar e fortalecer competências críticas da economia nacional • Aumentar o adensamento produtivo e tecnológico das cadeias de valor (P0LÍTICAS DE CONTEÚDO LOCAL) • Ampliar os mercados interno e externo das empresas brasileiras • Garantir crescimento socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável • Ampliar os níveis de produtividade e competitividade da indústria brasileira Os Blocos do Plano • Bloco 1: Sistemas da Mecânica, Eletroeletrônica e Saúde • Bloco 2: Sistemas produtivos intensivos em escala • Bloco 3: Sistemas produtivos intensivos em trabalho • Bloco 4: Sistemas produtivos do agronegócio • Bloco 5: Comércio, logística e serviços Premissa • Aspectos teóricos X evidência empírica: “cada caso é um caso”. • O novo contexto: cadeias produtivas e o ritmo da inovação tecnológica. • A “nova política protecionista” deve garantir Investimento + transferência de tecnologia. O objetivo não é apenas assegurar produção local (nesse caso voltamos para o modelo de restrição externa) Proteção como indutora do investimento/invovação/fortalecimento industrial. • Barreiras no comércio. • Compras governamentais. • Conteúdo local. • Subsídios a P&D. • Qual o objetivo? Redução de déficit comercial ? Indústria inovadora/eficiente? Quais são os novos instrumentos da política industrial? • Debate no final da década de 90. • Políticas de competição • Normas e padrões • P&D, parcerias • Marcos regulatórios • ZPEs? Indicadores do protecionismo: tarifas • Uso das tarifas: Brasil casos de redução superam o de redução (relatórios OMC). • Medida de 5 de setembro: 100 produtos • A tarifa média subirá de 13,6% para 23,4%. O maior aumento é de um produto: óleos minerais brancos (óleos de petróleo ou minerais betuminosos) que teve a alíquota elevada de 4% para 25%. Trinta por cento dos cem produtos da lista pertencem ao setor de plásticos e suas obras. Grande parte desses produtos é composta por matérias primas utilizadas nesse setor, o que torna difícil imaginar que o efeito sobre o preço do produto final será zero. Outro setor que chama atenção é o de produtos siderúrgicos que estão nos capítulos 72 e 73. Aqui, novamente, são comuns as queixas de usuários quanto ao preço dos produtos nacionais. Também entraram na lista seis produtos classificados como bens de capital, além de componentes para a indústria automobilística (pneus, motor de arranque). as importações totais aumentaram em 3,1% no período citado, o grupo dos cem produtos teve queda de 1,8%. Chama a atenção, porém, o elevado déficit dos 100 produtos que foi de US$ 1,5 bilhões no acumulado do ano até julho (2012) O mundo está mais protecionista? • Qual a importância dessa questão para a estratégia do Brasil? • Volta para o tema do protecionismo como defesa de renda X instrumento de política industrial. • Contexto OMC Considerações para debate • Como o país quer se inserir na dinâmica do comércio internacional? • Vantagens comparativas : qual padrão de especialização? • Cadeias produtivas, acordos e conteúdo local. • Mundo em transição que vantagens explorar (China fabril; PD serviços e fronteira tecnológica). • Brasil (agrícola/mineral/petróleo) Considerações para debate • Não é possível repetir as décadas passadas, quando o ritmo da inovação tecnológica era mais lento e as cadeias produtivas podiam ser abastecidas com fornecedores locais com “custos administráveis”. • É preciso considerar os benefícios de integrar as cadeias produtivas globais (o que exige menores tarifas de importações para bens intermediários, investimentos em logística) e/ou estimular as cadeias produtivas regionais. Políticas de conteúdo local, se não forem bem administradas e limitadas, podem alijar o país dessa integração produtiva. O resultado seria uma estrutura produtiva com custo elevado o que contradiz o objetivo de melhorar a competitividade brasileira no mercado mundial. • Mudar o foco da defesa da indústria para a promoção industrial • Por que dos setores escolhidos ?