OLHARES AO ORIENTE: A origem da classe guerreira no Japão XVII INIC / XIII EPG - UNIVAP 2013 Pedro Ewald1, Profª MSc. Maria José Acedo Del Olmo ² 1 2 UNIVAP/Faculdade de Educação e Artes, R. Tertuliano Delfim Jr., 181, Aquarius, São José dos Campos UNIVAP/Faculdade de Educação e Artes, R. Tertuliano Delfim Jr., 181, Aquarius, São José dos Campos – [email protected] Resumo: Durante sete séculos, o Japão foi governado pela classe guerreira, e o estabelecimento do Kamakura Bakufu, primeiro governo guerreiro do Japão, representa o ponto máximo do início deste processo. Desde o século X, esta classe de guerreiros montados cada vez mais profissionalizada serviu em diversas áreas como administradores e representantes de funcionários ligados aos órgãos do governo provincial. O objetivo deste artigo é levantar a origem destes guerreiros que carregaram os elementos que mudariam por completo a sociedade e iniciaram um governo próprio, bem próximo do feudalismo europeu. Palavras-chave: História; Feudalismo; Japão; Xogunato; Guerra Gempei Área do Conhecimento: Ciências Humanas Introdução O primeiro governo centralizado no Japão surge na planície de Nara durante o Período Yamato (250-710). Até então, o Japão era um conjunto de pequenas comunidades aldeãs desarticuladas. Nesta época, o conhecimento técnico das nações vizinhas é adotado pelo governo central, que controlava apenas o lado leste do arquipélago. o que permitiu o aumento da produção e da demografia da região. O período Yamato pode é dividido em dois períodos menores: Kofun (350-538), e Asuka (538710). Foi durante o período Asuka que, segundo Dolan e Worden (1994), pela primeira vez o Imperador consegue governar sem contestação, dos líderes regionais, além do surgimento de uma importante família, os Fujiwara, que, como nobres, souberam como poucos se aproveitarem da proximidade com os imperadores e criaram laços importantes com o poder. Segundo Delmer Brown (1993), a segunda parte do período Yamato, aproximadamente o século quinto, foi um tempo de desenvolvimento espetacular, em grande parte pela adoção de tecnologias estrangeiras. Isso foi quando foram construídos sistemas de irrigação bastante complexos e os reis passaram a dar mais atenção a assuntos militares do que a rituais para kami, deus. A dinastia Yamato utilizou uma rede crescente de clãs (uji) e grupos de trabalho (be) para aumentar a sua riqueza e poder, o controle foi estendido para a maior parte das ilhas japonesas e partes da península coreana, e os reis Yamato obtiveram nomeações para seu reconhecimento na Corte Chinesa do Sul, Sung. Com sede na região de Asuka – por isso o nome do período – o Imperador emite um conjunto de doutrinas no ano de 646, denominadas como Reforma Taika. É o marco utilizado pelos historiadores que definem o final do período Asuka. Com ele, o imperador aboliu o sistema de propriedades particulares, enfraquecendo o poder da aristocracia e auxiliando na centralização do país. Importante lembrarmos que a propriedade da terra representava nesta época, não só no Japão, o bem mais importante e valioso, pois era a base de toda a sociedade. Em suma, a Reforma Taika também foi importada da China. Nos quatro séculos que se seguem, considerada a Idade Antiga japonesa pela divisão de Charles Keally (2009) – Períodos Nara e Heian – muitas mudanças ocorreram na organização política e social. Uma das mudanças que podemos destacar é o aparecimento da classe guerreira como importante agente político. Portanto, para este e outros trabalhos futuros, é importante estudarmos qual a origem desta classe guerreira, como foi a sua ascensão ao poder e como eles levaram o gênese da mudança para o arquipélago japonês, em que o Estado centralizado sob o poder de um Imperador fragmenta-se sujeito ao poder desta nova classe, tornando a família real como figurativa e sem poder. Metodologia Esta pesquisa foi realizada unicamente por bibliografias, que puderam ser encontradas na biblioteca da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), na biblioteca da Faculdade Santa Marcelina (FASM) e também trabalhos e artigos, além de sites específicos, encontrados na internet. XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 1 Resultados Antes de discutirmos diretamente a ascensão dos guerreiros ao poder, precisamos explorar suas origens. O termo japonês utilizado para significar o líder do clã guerreiro é tsuwamono, mas antes de seu aparecimento, existiam outras formas de guerreiros no Japão. Inicialmente, existia uma convocação camponesa para os exércitos, mas esta convocação era muito custosa para esta classe, já que cada um deveria comprar e manter seus equipamentos, como espadas, armadura e roupas. Estes bandos de guerreiros a pé foram quase totalmente abandonados em 780, principalmente depois dos revezes contra as agressões chinesas e coreanas. Em seu lugar, surgiram pequenas companhias formadas por uma elite montada de arqueiros, melhor treinados e mais habilidosos, o kondei. Estes guerreiros, apesar do menor número, eram mais efetivos que a horda de camponeses, e passaram a ser empregados para a segurança do governo. Os membros do kondei eram membros de famílias locais muito poderosas. O Kondei foi sendo abandonado até o ano de 928, substituída por uma classe semelhante, mas que respondiam melhor a outras funções, o senshi. O desbaratamento de um exército e sua substituição por pequenos grupos de proteção ao governo resultou num abandono da responsabilidade da segurança por parte do governo centralizado. Os principais lordes das províncias então começam a se armar, procurando combater os bandidos e, também, enfrentar seus vizinhos na tentativa de aumentar suas terras. A questão é que, pela lei da época, as autoridades civis não eram permitidas a se armarem, mas, por causa do grande alvoroço causado pelo abandono do monopólio do Estado para proteção, o Imperador permitiu que os homens se armassem para protegerem a si mesmos e a seus patrimônios por meio da distribuição de títulos para aumentar o poder dos Lordes. Inicialmente, tais títulos eram de caráter temporário, mas tornaram-se hereditários. De acordo com Jeffrey Mass (1990), o país foi dividido em terras públicas e privadas (kokugaryo e shoen, respectivamente), sendo que as terras públicas eram administradas pelo Imperador, enquanto as melhores terras provadas ficavam com a alta nobreza e clérigos. Mas, o desejo da nobreza em usufruir de uma vida cada vez mais extravagante na capital os transformou em proprietários ausentes, que dependiam do serviço de outra classe para a administração e proteção de suas terras. No século X, o governo central sob a disnastia Yamato autoriza a contratação de serviços de guerreiros profissionais, chamados tsuamono. Estes eram mais do que seguranças particulares, eram funcionários administrativos disponíveis para funções militares. As terras do regime começam a se tornar latifúndios, shoen, poderosos e estratificados. Os lordes aumentavam seus protetorados, tornando suas terras em shoen com uma relação complexa, e às vezes conflitiva, com a corte. São justamente estes lordes, e suas ações, que exploraremos até a ascensão ao poder. Estes shoen (grande extensão de terra privada controlada por uma família, comumente traduzida como latifúndio), até o século X, eram controladas por nobres da corte e por templos religiosos. Mas, a partir do século X, com influência bastante para proteger suas posses das influências das autoridades provinciais, líderes locais assumem o poder. Antes contratados, agora eram administradores e tinham posse da terra com cargos importantes. Seguindo a lógica de Takeuchi Rizo (1999), agora como um elemento necessário da sociedade para a administração das terras, dois clãs de nobres guerreiros proclamam a si mesmos como tsuwamono. A legitimação do título de ambos é atribuído às antigas linhagens, que os conectam à família imperial de gerações anteriores. Estes clãs são os Taira e os Minamoto. Muitos deles seguiram carreiras convencionais na corte, alçando altos cargos dentro dos cargos da capital, enquanto outros seguiram carreiras militares em suas províncias. O período que queremos alcançar, e explicar, o bakufu Kamakura, foi fundado por um membro da família Minamoto. Esta família sempre manteve suas conexões com a capital, servindo, inclusive, como guardas da grande e nobre família Fujiwara. Por outro lado, os Taira nunca foram tão próximos do Imperador como os Minamoto. Conseqüentemente, eles eram excluídos dos cargos mais altos dentro da corte, e assim deixaram a capital e rumaram para suas províncias. Um dos herdeiros da família Taira, Kiyomori, galgou uma carreira espetacular como guerreiro e político, se aproveitando das rivalidades entre os Imperadores, imperadores sênior e a família Fujiwara. Segundo Jeffrey Mass (1990), o governo imperial do Japão não previu uma aristocracia militar como autoridade da administração do campo. No entanto, como os membros da corte, sentindo-se confortáveis de sua superioridade, afrouxaram o controle sobre as províncias, pois a hierarquia de um centro que domina a periferia estava tão arraigada naquela cultura que os membros da corte não se importaram em quão fracos eram, frente ao poder crescente dos XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 2 guerreiros. Mas a capital Quioto tinha seus métodos para proteger seus interesses, como a promoção de vários homens como governadores de carreira, que eram revezados entre as províncias, impedindo que criassem laços. Assim, Taira e Minamoto foram reconhecidos como a solução dos problemas para as províncias possuídas pelos proprietários na corte. Eles foram figuras brilhantes, segundo Mass, entre os aristocratas, que eram os proprietários, e os grandes guerreiros, que eram seus seguidores. Juntamente com os Fujiwara, eles dominavam as sedes das províncias. Agora que os atores e suas origens foram mostradas, podemos finalmente discutir os acontecimentos que levaram os guerreiros, que estavam subordinados à nobreza e ao imperador, a serem hegemônicos no Japão: as Rebeliões Hogen e Heiji, e a Guerra Gempei. Para entendermos as intrigas destes momentos, precisamos notar o incomum sistema de administração, que foi eficaz, que existia no Japão. Não havia somente a figura do Imperador absoluto, mas outras duas figuras que com ele dividiam – nem sempre igualmente – o poder: o Imperador Sênior, normalmente o pai do Imperador de fato ou o antigo Imperador agora aposentado; e a tradicional família Fujiwara, que havia se ligado à família real por meio de laços matrimoniais vários séculos antes, e tinha suas influências por ser a família regente. Apesar do Imperador de facto reinar sobre as terras, a responsabilidade do governo era dividida entre estes atores. A Rebelião Hogen se deu pela disputa de poder dentro deste sistema fez com que o Imperador Sênior Shirakawa forçasse seu neto Toba a abdicar do poder em favor de Sutoku, suposto bisneto. Assim, com a morte de Shirakawa em 1129, Toba assumiu como Imperador Sênior, enquanto Sutoku seria o novo Imperador. No poder, Toba começou a desfazer muitas das ações de seu avô, substituindo os conselheiros mais próximos, menos Taira Tadamori, e chamou novamente Tandazane, Fujiwara que havia sido banido por Shirakawa. Toba também força Sutoku a abdicar em 1141 em favor de seu irmãos mais novo Konoe. Mas, com a morte deste, Sutoku põe suas esperanças no próprio filho para virar o novo Imperador. Mas Toba seleciona outro de seus próprios filhos, GoShirakawa, continuando no poder. Sutoku ainda estava determinado que seu filho devesse herdar o trono, tornando-se ele próprio Imperador Sênior. De acordo com Rizo, as discussões fraternais entre GO-Shirakawa e Sutoku, provavelmente em séculos anteriores, teriam sido resolvidas por intrigas, manipulação política e uso do exílio, mas a pronta disponibilidade de forças militares foi uma tentação muito grande para ambos os lados. Dentro das famílias guerreiras, Sutoku foi apoiado por Minamoto Tomeyoshi e Taira Tadamasa (irmão mais novo de Tadamori). Porém, os filhos de Taira Tadamori, Kiyomori, e o filho de Tomeyoshi, Yoshitomo, apoiaram as causas de Go-Shirakawa. A luta foi breve. Ao anoitecer , as forças de GoShirakawa lançaram um ataque furioso sobre o Palácio Shirakawa, onde os homens de Sutoku estavam guarnecidos. Com o castelo em chamas, os homens de Sutoku fugiram e, dentro de poucas horas, a guerra havia acabado. Sutoku conseguiu escapar, mas foi capturado e enviado para exílio em Sanuki, Shikoku, onde morreu. Apesar do precedente de três séculos sem execuções, dezessete homens foram condenados por ordem imperial. Apesar do apelo de Yoshitomo pela vida do pai Tameyoshi, ele foi condenado a executá-lo, assim como Kiyomori foi obrigado a executar seu tio Tadamasa. Embora o apoio dos clãs guerreiros tenha sido fundamental para o desfecho da Rebelião Hogen, suas recompensas foram escassas. Segundo Rizo, o Imperador Go-Shirakawa não foi mais generoso com seus guerreiros do que os imperadores anteriores, dando a Kiyomori o governo de uma província sem importância, Harima, e a Yoshitomo a nomeação humilde como chefe interino da Guarda Montada, um posto de distinção mínima e, provavelmente, sem poder ou qualquer remuneração. A Rebelião Hogen resolveu fortes conflitos entre os imperadores e a família regente, colocando o imperador reinante finalmente no controle da corte. Mas, a questão aberta da supremacia militar entre Go-Shirakawa e os dois líderes guerreiros abriu espaço para uma nova contestação. Go-Shirakawa havia chegado ao poder em 1155, mas logo abdicou do trono em favor de seu filho Nijo em 1158, tornando-se o Imperador Sênior. Nijo, de apenas 15 anos, tinha a reputação de ser sagaz, e logo se aproximou de importantes membros da corte e de alguns guerreiros para sua comitiva. Na corte, o controle era exercido por Shinzei, um nobre, desde o fim da Rebelião Hogen, mas este se considerava ameaçado, principalmente pelo rápido crescimento de Fujiwara no Nobuyori. Shinzei tentou levar Nobuyori em descrédito com o Imperador difamando-o e impede a nomeação do rival à um cargo chave na corte. Alegando doença, Nobuyori se retira da corte e isola-se para “praticar artes militares”. Perto de um dia correspondente a um dia de janeiro de 1160, Taira no Kiyomori, importante XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 3 guerreiro de Go-Shirakawa, partiu em uma viagem para o cumprimento de um voto. Apenas cinco dias após sua partida, eclodiu mais uma rebelião, formada pela aliança entre Nobuyori e Minamoto Yoshitomo, além de outros guerreiros descontentes pela falta de reconhecimento por parte do Imperador Sênior, que buscavam reforçar o poder do Imperador Nijo sobre a corte. No novo dia do décimo mês de 1160, um grupo de homens montados forçou o Imperador Sênior Go-Shirakawa a abandonar o Palácio Sanjo e ir para o Grande Palácio Imperial, onde ele e o Imperador Nijo foram detidos sob prisão domiciliar. Fogo foi ateado no palácio de Sanjo e na residência de Shinzei, que tentou fugir para Nara, mas foi capturado e executado. A vingança de Nobuyori parecia completa. Kiyomori, cuja ausência da capital criou a oportunidade para o golpe, retornou fingindo submissão ao novo regime, formando uma base em sua residência em Rokuhara. Já o Imperador Nijo, cansado da forma arrogante de Nobuyori, fugiu do palácio disfarçado de mulher, acolhendose em Rokuhara com Taira. Este foi legitimado por Nijo como sendo o exército imperial. GoShirakawa também escapou da custódia, fugindo para o Templo Ninnaji. No dia seguinte, as forças Taira lideradas por Shigemori atacou o palácio, expulsando Yoshitomo e Nobuyori, que avançaram para Rokuhara. Porém, Kiyomori estava à espera para combatê-lo e, depois de algumas horas de intenso combate, o conflito acabou. Ao contrário da Rebelião Hogen, a Rebelião Heiji não foi determinada pelos comandos dos imperadores ou pela corte, mas pelos líderes dos clãs guerreiros que agiram sob suas ambições pessoais. O evento revelou aos guerreiros a impotência da corte e os primeiros indícios do real poder político dos guerreiros, principalmente para os Taira. Já a liderança Minamoto parecia definhar com Yoshitomo morto, assim como seus filhos mais velhos, e seus filhos mais novos exilados e sob custódia de famílias Taira. Segundo Mass, a clemência de Kiyomori em lidar com os filhos mais novos de seu inimigo em 1160 pareceu imprudente, mas, em nenhuma maneira, ele poderia ter previsto os eventos futuros, que acabarão eclodindo na Guerra Gempei. A Guerra Gempei é conhecida por ter sido uma guerra civil envolvendo combates entre os maiores clãs, que colocaram seus interesses locais acima dos interesses centrais. Porém, segundo Takeuchi Rizo, a complexidade do conflito é muito maior do que uma luta entre os Taira e os Minamoto. Isso fica claro pela presença de guerreiros Taira e Minamoto em ambos os lados do conflito. Ele é melhor descrito como uma luta contra os usurpadores Taira e o controle da corte sobre os direitos da terra. A guerra começa com levantes de guerreiros no quarto mês de 1180, que, em muitos casos, derrubam as autoridades Taira em muitas partes do país. O principal desafio vinha de dois primos, Yoritomo e Yoshinaka Minamoto, netos de Tameyoshi, que havia sido executado na Rebelião Hogen. Yoritomo, que havia sido exilado na península de Izu, entrou em acordo com os guerreiros locais e, no décimo mês, levantou uma força que atacou e matou o representante Taira local. Yoritomo alegou ser, então, o novo governador da região. Província por província. Yoritomo avançava com promessas de segurança e confirmação da posse da terra aos senhores que o seguissem. Estes guerreiros foram menos atraídos pela mística linhagem de Minamoto, mas como seus interesses seriam melhores atendidos após o conflito. Yoritomo estabelece seu quartel-general e administrativo na cidade de Kamakura (que futuramente dará o nome ao período sob seu comando). No décimo mês, o clã Taira enviou um exército de cerca de setenta mil homens para combater o senhor de Kamakura, mas encontraram uma força de duzentos mil homens montados – número exagerado dos “Contos de Heike”, segundo Rizo (1999). Com a grande vantagem numérica de Yoritomo, Taira se retirou sem lutar, refugiando-se na capital. Este ato incentivou os rebeldes do leste a se voltarem contra seus administradores. Mas o enfrentamento que revelaria a fraqueza dos Taira não viria de Yoritomo, mas sim de seu primo Yoshinaka. Ele emergiu de seu refúgio nas montanhas e obteve uma série de importantes vitórias contra os seguidores dos Taira, além de uma vitória esmagadora contra uma força imperial liderada por Koremori Taira em 1183, em Kurikata. Observando suas derrotas, Taira Munemori foge com seu sobrinho, o Imperador Antoku, da capital para Kyoshu, refúgio tradicional das forças Taira. Apenas três dias depois, a capital é tomada por Yoshinaka e seus homens. O sempre atento Go-Shirakawa legitima agora as forças Minamoto como “exército real” e, apesar de Antoku ainda estar vivo, instala seu neto de três anos de idade, Go-Toba, no trono. Segundo Rizo, a ocupação da capital por parte de Yoshinaka dividiu o Império em quatro “satrapias”: Kyoshu, controlada por Munemori Taira; A capital e regiões adjacentes, sob comando de Yoshinaka; As províncias do leste, que seguiam o comando da linhagem principal do clã Minamoto, Yoritomo; e o norte, dominado por Oshu Fugiwara. XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de PósGraduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 4 Yoritomo, observando o sucesso do primo, teme ser relegado a uma posição secundária e acena acordos para retomar sua posição: ele devolve as terras confiscadas pelos Taira aos templos, tem uma política de clemência com os guerreiros capturados e, talvez mais significativamente, uma acordo secreto com GoShirakawa, que, no décimo mês de 1183, reconhece sua autoridade na região. Yoshinaka havia deixado a capital na busca das forças Taira, mas sofreu uma grave derrota. Quando retornou à capital, deu-se com um levante contra suas forças, comandada por um guerreiro Taira, a serviço de Go-Shirakawa. Com as relações já estremecidas com o Imperador Sênior, principalmente após o favoritismo deste por Yoritomo, Yoshinaka o destitui do cargo, incendiando seu palácio e o confinando em outro palácio, ainda na cidade. As forças de Yoshinaka deram completo domínio sobre a capital, mas também o deixaram isolado e exposto para defender-se. GoShirakawa, então, ordena que Yoritomo atacasse e punisse seu primo selvagem, ordem que, segundo Rizo, o senhor de Kamakura estava muito disposto a cumprir. As forças de Yoshinaka, em menor número, foram derrotadas facilmente por Yoritomo, e Yoshinaka tirou a própria vida. Finalmente Yoritomo pode voltar suas atenções para os líderes do clã Taira, destacando seu meioirmão Yoshitsune para combatê-los. Com um ataque ousado, Yoshitsune flanqueou o acampamento inimigo e pegou as forças Taira de surpresa, com grande perda de vidas. Yoshitsune ainda persegue o restante de suas forças pelo Mar Interior do Japão, aniquilando o restante de suas forças. O Imperador Antoku morre afogado durante a batalha, a pouco mais de um mês de seu sexto aniversário. Mas o sucesso de Yoshitsune sobre os Taira causou a desconfiança de Yoritomo, que temeu novamente ficar em segundo plano, principalmente após o problemático Go-Shirakawa conferir a Yoshitsune títulos da corte e o raro acesso a seus aposentos. Após uma tentativa frustrada de Yoritomo assassinar Yoshitsune em Quito, este fugiu e tentou se refugiar nas terras do norte, mas, os Fujiwara, temendo a ira de Yoritomo, atacaram e mataram Yoshitsune no quarto mês de 1189. No entanto, a traição no norte pouco adiantou para garantir a segurança da família, e Yoritomo não descansou até eliminar a última potência militar que poderia desafiar sua hegemonia. O Bakufu de Yoritomo não substituiu, em sua maior parte, a administração da antiga corte, mas manteve o controle sobre elas, construindo até a sua morte em 1199 as instituições e precedentes que regulariam as funções militar e administração da terra pela classe guerreira. a Discussão As agitações políticas que antecedem o início do feudalismo japonês, com a ascensão da classe guerreira ao poder mostram que foi um profundo processo de mudanças. A Rebelião Hogen já dava sinais da ascensão desta nova classe e a sua relevante importância nas novas decisões, mas eles foram pouco reconhecidos após seu desfecho. Já em Heiji, o papel da classe guerreira foi fundamental para o seu final, que instaurou a soberania do clã Taira na capital e, apesar de ter falhado em seu regime, a ocupação Taira demonstrou a vulnerabilidade de Quioto frente, o que contribuiu diretamente para a eclosão da Guerra Gempei em 1180, em que a classe guerreira finalmente suplantou a autoridade da corte, estabelecendo-se no poder. Considerações Finais A questão central das intrigas era pelo controle da terra, que era a base de toda a sociedade. A nobreza, proprietária por direito das terras, porém, não queria desligar-se da vida na corte, contratando guerreiros para tomar posse da terra. Tais guerreiros não eram simples combatentes, mas administradores financeiros, executores da justiça, cobradores de impostos e protetores das terras. Em suma, eles cumpriam o papel intermediário entre a alta nobreza e os trabalhadores da terra. Começando com o golpe Hogen na capital em 1156, as iniciativas tomadas pelos guerreiros, cada vez mais oprimindo a autoridade civil, culminaram com as grandes batalhas da Guerra Gempei. A sociedade foi fundamentalmente alterada com a entrada dos guerreiros das províncias, que criou uma nova estrutura política independente da corte imperial. A corte tornou-se servente as vontades de Yoritomo, e seus fundamentos econômicos voltaram para servir as relações dos guerreiros e sua posse das terras. A Guerra Gempei não foi simplesmente um conflito entre famílias rivais, mas o fim de um processo de agitação política, econômica e social que resultou numa profunda mudança. Yoritomo Minamoto, cumprindo sua palavra, estabeleceu a garantiu a autoridade dos guerreiros sobre a terra que eles ocupavam, fragmentando o arquipélago japonês e iniciando a descentralização política, para uma sociedade que pode ser chamada livremente de feudal. 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