OLHARES AO ORIENTE: A origem da classe guerreira no Japão
XVII INIC / XIII EPG - UNIVAP 2013
Pedro Ewald1, Profª MSc. Maria José Acedo Del Olmo ²
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UNIVAP/Faculdade de Educação e Artes, R. Tertuliano Delfim Jr., 181, Aquarius, São José dos Campos
UNIVAP/Faculdade de Educação e Artes, R. Tertuliano Delfim Jr., 181, Aquarius, São José dos Campos –
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Resumo: Durante sete séculos, o Japão foi governado pela classe guerreira, e o estabelecimento do
Kamakura Bakufu, primeiro governo guerreiro do Japão, representa o ponto máximo do início deste
processo. Desde o século X, esta classe de guerreiros montados cada vez mais profissionalizada serviu em
diversas áreas como administradores e representantes de funcionários ligados aos órgãos do governo
provincial. O objetivo deste artigo é levantar a origem destes guerreiros que carregaram os elementos que
mudariam por completo a sociedade e iniciaram um governo próprio, bem próximo do feudalismo europeu.
Palavras-chave: História; Feudalismo; Japão; Xogunato; Guerra Gempei
Área do Conhecimento: Ciências Humanas
Introdução
O primeiro governo centralizado no Japão
surge na planície de Nara durante o Período
Yamato (250-710). Até então, o Japão era um
conjunto de pequenas comunidades aldeãs
desarticuladas. Nesta época, o conhecimento
técnico das nações vizinhas é adotado pelo
governo central, que controlava apenas o lado
leste do arquipélago. o que permitiu o aumento da
produção e da demografia da região.
O período Yamato pode é dividido em dois
períodos menores: Kofun (350-538), e Asuka (538710). Foi durante o período Asuka que, segundo
Dolan e Worden (1994), pela primeira vez o
Imperador consegue governar sem contestação,
dos líderes regionais, além do surgimento de uma
importante família, os Fujiwara, que, como nobres,
souberam como poucos se aproveitarem da
proximidade com os imperadores e criaram laços
importantes com o poder. Segundo Delmer Brown
(1993), a segunda parte do período Yamato,
aproximadamente o século quinto, foi um tempo
de desenvolvimento espetacular, em grande parte
pela adoção de tecnologias estrangeiras. Isso foi
quando foram construídos sistemas de irrigação
bastante complexos e os reis passaram a dar mais
atenção a assuntos militares do que a rituais para
kami, deus. A dinastia Yamato utilizou uma rede
crescente de clãs (uji) e grupos de trabalho (be)
para aumentar a sua riqueza e poder, o controle
foi estendido para a maior parte das ilhas
japonesas e partes da península coreana, e os
reis Yamato obtiveram nomeações para seu
reconhecimento na Corte Chinesa do Sul, Sung.
Com sede na região de Asuka – por isso o
nome do período – o Imperador emite um conjunto
de doutrinas no ano de 646, denominadas como
Reforma Taika. É o marco utilizado pelos
historiadores que definem o final do período
Asuka. Com ele, o imperador aboliu o sistema de
propriedades particulares, enfraquecendo o poder
da aristocracia e auxiliando na centralização do
país. Importante lembrarmos que a propriedade da
terra representava nesta época, não só no Japão,
o bem mais importante e valioso, pois era a base
de toda a sociedade. Em suma, a Reforma Taika
também foi importada da China.
Nos quatro séculos que se seguem,
considerada a Idade Antiga japonesa pela divisão
de Charles Keally (2009) – Períodos Nara e Heian
– muitas mudanças ocorreram na organização
política e social. Uma das mudanças que podemos
destacar é o aparecimento da classe guerreira
como importante agente político.
Portanto, para este e outros trabalhos futuros, é
importante estudarmos qual a origem desta classe
guerreira, como foi a sua ascensão ao poder e
como eles levaram o gênese da mudança para o
arquipélago japonês, em que o Estado
centralizado sob o poder de um Imperador
fragmenta-se sujeito ao poder desta nova classe,
tornando a família real como figurativa e sem
poder.
Metodologia
Esta pesquisa foi realizada unicamente por
bibliografias, que puderam ser encontradas na
biblioteca da Universidade do Vale do Paraíba
(UNIVAP), na biblioteca da Faculdade Santa
Marcelina (FASM) e também trabalhos e artigos,
além de sites específicos, encontrados na internet.
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Resultados
Antes de discutirmos diretamente a ascensão
dos guerreiros ao poder, precisamos explorar suas
origens. O termo japonês utilizado para significar o
líder do clã guerreiro é tsuwamono, mas antes de
seu aparecimento, existiam outras formas de
guerreiros no Japão. Inicialmente, existia uma
convocação camponesa para os exércitos, mas
esta convocação era muito custosa para esta
classe, já que cada um deveria comprar e manter
seus equipamentos, como espadas, armadura e
roupas. Estes bandos de guerreiros a pé foram
quase totalmente abandonados em 780,
principalmente depois dos revezes contra as
agressões chinesas e coreanas. Em seu lugar,
surgiram pequenas companhias formadas por uma
elite montada de arqueiros, melhor treinados e
mais habilidosos, o kondei. Estes guerreiros,
apesar do menor número, eram mais efetivos que
a horda de camponeses, e passaram a ser
empregados para a segurança do governo. Os
membros do kondei eram membros de famílias
locais muito poderosas.
O Kondei foi sendo abandonado até o ano de
928, substituída por uma classe semelhante, mas
que respondiam melhor a outras funções, o
senshi. O desbaratamento de um exército e sua
substituição por pequenos grupos de proteção ao
governo
resultou
num
abandono
da
responsabilidade da segurança por parte do
governo centralizado. Os principais lordes das
províncias então começam a se armar, procurando
combater os bandidos e, também, enfrentar seus
vizinhos na tentativa de aumentar suas terras. A
questão é que, pela lei da época, as autoridades
civis não eram permitidas a se armarem, mas, por
causa do grande alvoroço causado pelo abandono
do monopólio do Estado para proteção, o
Imperador permitiu que os homens se armassem
para protegerem a si mesmos e a seus
patrimônios por meio da distribuição de títulos
para aumentar o poder dos Lordes. Inicialmente,
tais títulos eram de caráter temporário, mas
tornaram-se hereditários.
De acordo com Jeffrey Mass (1990), o país foi
dividido em terras públicas e privadas (kokugaryo
e shoen, respectivamente), sendo que as terras
públicas eram administradas pelo Imperador,
enquanto as melhores terras provadas ficavam
com a alta nobreza e clérigos. Mas, o desejo da
nobreza em usufruir de uma vida cada vez mais
extravagante na capital os transformou em
proprietários ausentes, que dependiam do serviço
de outra classe para a administração e proteção
de suas terras.
No século X, o governo central sob a disnastia
Yamato autoriza a contratação de serviços de
guerreiros profissionais, chamados tsuamono.
Estes eram mais do que seguranças particulares,
eram funcionários administrativos disponíveis para
funções militares. As terras do regime começam a
se tornar latifúndios, shoen, poderosos e
estratificados. Os lordes aumentavam seus
protetorados, tornando suas terras em shoen com
uma relação complexa, e às vezes conflitiva, com
a corte. São justamente estes lordes, e suas
ações, que exploraremos até a ascensão ao
poder.
Estes shoen (grande extensão de terra privada
controlada por uma família, comumente traduzida
como latifúndio), até o século X, eram controladas
por nobres da corte e por templos religiosos. Mas,
a partir do século X, com influência bastante para
proteger suas posses das influências das
autoridades provinciais, líderes locais assumem o
poder.
Antes
contratados,
agora
eram
administradores e tinham posse da terra com
cargos importantes.
Seguindo a lógica de Takeuchi Rizo (1999),
agora como um elemento necessário da
sociedade para a administração das terras, dois
clãs de nobres guerreiros proclamam a si mesmos
como tsuwamono. A legitimação do título de
ambos é atribuído às antigas linhagens, que os
conectam à família imperial de gerações
anteriores. Estes clãs são os Taira e os Minamoto.
Muitos deles seguiram carreiras convencionais na
corte, alçando altos cargos dentro dos cargos da
capital, enquanto outros seguiram carreiras
militares em suas províncias.
O período que queremos alcançar, e explicar, o
bakufu Kamakura, foi fundado por um membro da
família Minamoto. Esta família sempre manteve
suas conexões com a capital, servindo, inclusive,
como guardas da grande e nobre família Fujiwara.
Por outro lado, os Taira nunca foram tão próximos
do
Imperador
como
os
Minamoto.
Conseqüentemente, eles eram excluídos dos
cargos mais altos dentro da corte, e assim
deixaram a capital e rumaram para suas
províncias. Um dos herdeiros da família Taira,
Kiyomori, galgou uma carreira espetacular como
guerreiro e político, se aproveitando das
rivalidades entre os Imperadores, imperadores
sênior e a família Fujiwara.
Segundo Jeffrey Mass (1990), o governo
imperial do Japão não previu uma aristocracia
militar como autoridade da administração do
campo. No entanto, como os membros da corte,
sentindo-se confortáveis de sua superioridade,
afrouxaram o controle sobre as províncias, pois a
hierarquia de um centro que domina a periferia
estava tão arraigada naquela cultura que os
membros da corte não se importaram em quão
fracos eram, frente ao poder crescente dos
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guerreiros. Mas a capital Quioto tinha seus
métodos para proteger seus interesses, como a
promoção de vários homens como governadores
de carreira, que eram revezados entre as
províncias, impedindo que criassem laços. Assim,
Taira e Minamoto foram reconhecidos como a
solução dos problemas para as províncias
possuídas pelos proprietários na corte. Eles foram
figuras brilhantes, segundo Mass, entre os
aristocratas, que eram os proprietários, e os
grandes guerreiros, que eram seus seguidores.
Juntamente com os Fujiwara, eles dominavam as
sedes das províncias.
Agora que os atores e suas origens foram
mostradas, podemos finalmente discutir os
acontecimentos que levaram os guerreiros, que
estavam subordinados à nobreza e ao imperador,
a serem hegemônicos no Japão: as Rebeliões
Hogen e Heiji, e a Guerra Gempei.
Para entendermos as intrigas destes
momentos, precisamos notar o incomum sistema
de administração, que foi eficaz, que existia no
Japão. Não havia somente a figura do Imperador
absoluto, mas outras duas figuras que com ele
dividiam – nem sempre igualmente – o poder: o
Imperador Sênior, normalmente o pai do
Imperador de fato ou o antigo Imperador agora
aposentado; e a tradicional família Fujiwara, que
havia se ligado à família real por meio de laços
matrimoniais vários séculos antes, e tinha suas
influências por ser a família regente. Apesar do
Imperador de facto reinar sobre as terras, a
responsabilidade do governo era dividida entre
estes atores.
A Rebelião Hogen se deu pela disputa de
poder dentro deste sistema fez com que o
Imperador Sênior Shirakawa forçasse seu neto
Toba a abdicar do poder em favor de Sutoku,
suposto bisneto. Assim, com a morte de
Shirakawa em 1129, Toba assumiu como
Imperador Sênior, enquanto Sutoku seria o novo
Imperador. No poder, Toba começou a desfazer
muitas das ações de seu avô, substituindo os
conselheiros mais próximos, menos Taira
Tadamori, e chamou novamente Tandazane,
Fujiwara que havia sido banido por Shirakawa.
Toba também força Sutoku a abdicar em 1141
em favor de seu irmãos mais novo Konoe. Mas,
com a morte deste, Sutoku põe suas esperanças
no próprio filho para virar o novo Imperador. Mas
Toba seleciona outro de seus próprios filhos, GoShirakawa, continuando no poder. Sutoku ainda
estava determinado que seu filho devesse herdar
o trono, tornando-se ele próprio Imperador Sênior.
De acordo com Rizo, as discussões fraternais
entre GO-Shirakawa e Sutoku, provavelmente em
séculos anteriores, teriam sido resolvidas por
intrigas, manipulação política e uso do exílio, mas
a pronta disponibilidade de forças militares foi uma
tentação muito grande para ambos os lados.
Dentro das famílias guerreiras, Sutoku foi
apoiado por Minamoto Tomeyoshi e Taira
Tadamasa (irmão mais novo de Tadamori). Porém,
os filhos de Taira Tadamori, Kiyomori, e o filho de
Tomeyoshi, Yoshitomo, apoiaram as causas de
Go-Shirakawa.
A luta foi breve. Ao anoitecer , as forças de GoShirakawa lançaram um ataque furioso sobre o
Palácio Shirakawa, onde os homens de Sutoku
estavam guarnecidos. Com o castelo em chamas,
os homens de Sutoku fugiram e, dentro de poucas
horas, a guerra havia acabado. Sutoku conseguiu
escapar, mas foi capturado e enviado para exílio
em Sanuki, Shikoku, onde morreu. Apesar do
precedente de três séculos sem execuções,
dezessete homens foram condenados por ordem
imperial. Apesar do apelo de Yoshitomo pela vida
do pai Tameyoshi, ele foi condenado a executá-lo,
assim como Kiyomori foi obrigado a executar seu
tio Tadamasa.
Embora o apoio dos clãs guerreiros tenha sido
fundamental para o desfecho da Rebelião Hogen,
suas recompensas foram escassas. Segundo
Rizo, o Imperador Go-Shirakawa não foi mais
generoso com seus guerreiros do que os
imperadores anteriores, dando a Kiyomori o
governo de uma província sem importância,
Harima, e a Yoshitomo a nomeação humilde como
chefe interino da Guarda Montada, um posto de
distinção mínima e, provavelmente, sem poder ou
qualquer remuneração.
A Rebelião Hogen resolveu fortes conflitos
entre os imperadores e a família regente,
colocando o imperador reinante finalmente no
controle da corte. Mas, a questão aberta da
supremacia militar entre Go-Shirakawa e os dois
líderes guerreiros abriu espaço para uma nova
contestação.
Go-Shirakawa havia chegado ao poder em
1155, mas logo abdicou do trono em favor de seu
filho Nijo em 1158, tornando-se o Imperador
Sênior. Nijo, de apenas 15 anos, tinha a reputação
de ser sagaz, e logo se aproximou de importantes
membros da corte e de alguns guerreiros para sua
comitiva. Na corte, o controle era exercido por
Shinzei, um nobre, desde o fim da Rebelião
Hogen, mas este se considerava ameaçado,
principalmente pelo rápido crescimento de
Fujiwara no Nobuyori. Shinzei tentou levar
Nobuyori em descrédito com o Imperador
difamando-o e impede a nomeação do rival à um
cargo chave na corte. Alegando doença, Nobuyori
se retira da corte e isola-se para “praticar artes
militares”.
Perto de um dia correspondente a um dia de
janeiro de 1160, Taira no Kiyomori, importante
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guerreiro de Go-Shirakawa, partiu em uma viagem
para o cumprimento de um voto. Apenas cinco
dias após sua partida, eclodiu mais uma rebelião,
formada pela aliança entre Nobuyori e Minamoto
Yoshitomo,
além
de
outros
guerreiros
descontentes pela falta de reconhecimento por
parte do Imperador Sênior, que buscavam reforçar
o poder do Imperador Nijo sobre a corte.
No novo dia do décimo mês de 1160, um grupo
de homens montados forçou o Imperador Sênior
Go-Shirakawa a abandonar o Palácio Sanjo e ir
para o Grande Palácio Imperial, onde ele e o
Imperador Nijo foram detidos sob prisão domiciliar.
Fogo foi ateado no palácio de Sanjo e na
residência de Shinzei, que tentou fugir para Nara,
mas foi capturado e executado. A vingança de
Nobuyori parecia completa.
Kiyomori, cuja ausência da capital criou a
oportunidade para o golpe, retornou fingindo
submissão ao novo regime, formando uma base
em sua residência em Rokuhara. Já o Imperador
Nijo, cansado da forma arrogante de Nobuyori,
fugiu do palácio disfarçado de mulher, acolhendose em Rokuhara com Taira. Este foi legitimado por
Nijo como sendo o exército imperial. GoShirakawa também escapou da custódia, fugindo
para o Templo Ninnaji.
No dia seguinte, as forças Taira lideradas por
Shigemori atacou
o palácio,
expulsando
Yoshitomo e Nobuyori, que avançaram para
Rokuhara. Porém, Kiyomori estava à espera para
combatê-lo e, depois de algumas horas de intenso
combate, o conflito acabou. Ao contrário da
Rebelião Hogen, a Rebelião Heiji não foi
determinada pelos comandos dos imperadores ou
pela corte, mas pelos líderes dos clãs guerreiros
que agiram sob suas ambições pessoais. O
evento revelou aos guerreiros a impotência da
corte e os primeiros indícios do real poder político
dos guerreiros, principalmente para os Taira. Já a
liderança Minamoto parecia definhar com
Yoshitomo morto, assim como seus filhos mais
velhos, e seus filhos mais novos exilados e sob
custódia de famílias Taira. Segundo Mass, a
clemência de Kiyomori em lidar com os filhos mais
novos de seu inimigo em 1160 pareceu
imprudente, mas, em nenhuma maneira, ele
poderia ter previsto os eventos futuros, que
acabarão eclodindo na Guerra Gempei.
A Guerra Gempei é conhecida por ter sido uma
guerra civil envolvendo combates entre os maiores
clãs, que colocaram seus interesses locais acima
dos interesses centrais. Porém, segundo Takeuchi
Rizo, a complexidade do conflito é muito maior do
que uma luta entre os Taira e os Minamoto. Isso
fica claro pela presença de guerreiros Taira e
Minamoto em ambos os lados do conflito. Ele é
melhor descrito como uma luta contra os
usurpadores Taira e o controle da corte sobre os
direitos da terra.
A guerra começa com levantes de guerreiros
no quarto mês de 1180, que, em muitos casos,
derrubam as autoridades Taira em muitas partes
do país. O principal desafio vinha de dois primos,
Yoritomo e Yoshinaka Minamoto, netos de
Tameyoshi, que havia sido executado na Rebelião
Hogen. Yoritomo, que havia sido exilado na
península de Izu, entrou em acordo com os
guerreiros locais e, no décimo mês, levantou uma
força que atacou e matou o representante Taira
local. Yoritomo alegou ser, então, o novo
governador da região. Província por província.
Yoritomo avançava com promessas de segurança
e confirmação da posse da terra aos senhores que
o seguissem. Estes guerreiros foram menos
atraídos pela mística linhagem de Minamoto, mas
como seus interesses seriam melhores atendidos
após o conflito.
Yoritomo estabelece seu quartel-general e
administrativo na cidade de Kamakura (que
futuramente dará o nome ao período sob seu
comando). No décimo mês, o clã Taira enviou um
exército de cerca de setenta mil homens para
combater o senhor de Kamakura, mas
encontraram uma força de duzentos mil homens
montados – número exagerado dos “Contos de
Heike”, segundo Rizo (1999). Com a grande
vantagem numérica de Yoritomo, Taira se retirou
sem lutar, refugiando-se na capital. Este ato
incentivou os rebeldes do leste a se voltarem
contra seus administradores.
Mas o enfrentamento que revelaria a fraqueza
dos Taira não viria de Yoritomo, mas sim de seu
primo Yoshinaka. Ele emergiu de seu refúgio nas
montanhas e obteve uma série de importantes
vitórias contra os seguidores dos Taira, além de
uma vitória esmagadora contra uma força imperial
liderada por Koremori Taira em 1183, em Kurikata.
Observando suas derrotas, Taira Munemori
foge com seu sobrinho, o Imperador Antoku, da
capital para Kyoshu, refúgio tradicional das forças
Taira. Apenas três dias depois, a capital é tomada
por Yoshinaka e seus homens. O sempre atento
Go-Shirakawa legitima agora as forças Minamoto
como “exército real” e, apesar de Antoku ainda
estar vivo, instala seu neto de três anos de idade,
Go-Toba, no trono.
Segundo Rizo, a ocupação da capital por parte
de Yoshinaka dividiu o Império em quatro
“satrapias”: Kyoshu, controlada por Munemori
Taira; A capital e regiões adjacentes, sob
comando de Yoshinaka; As províncias do leste,
que seguiam o comando da linhagem principal do
clã Minamoto, Yoritomo; e o norte, dominado por
Oshu Fugiwara.
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Yoritomo, observando o sucesso do primo,
teme ser relegado a uma posição secundária e
acena acordos para retomar sua posição: ele
devolve as terras confiscadas pelos Taira aos
templos, tem uma política de clemência com os
guerreiros
capturados
e,
talvez
mais
significativamente, uma acordo secreto com GoShirakawa, que, no décimo mês de 1183,
reconhece sua autoridade na região.
Yoshinaka havia deixado a capital na busca
das forças Taira, mas sofreu uma grave derrota.
Quando retornou à capital, deu-se com um levante
contra suas forças, comandada por um guerreiro
Taira, a serviço de Go-Shirakawa. Com as
relações já estremecidas com o Imperador Sênior,
principalmente após o favoritismo deste por
Yoritomo, Yoshinaka o destitui do cargo,
incendiando seu palácio e o confinando em outro
palácio, ainda na cidade.
As forças de Yoshinaka deram completo
domínio sobre a capital, mas também o deixaram
isolado e exposto para defender-se. GoShirakawa, então, ordena que Yoritomo atacasse
e punisse seu primo selvagem, ordem que,
segundo Rizo, o senhor de Kamakura estava
muito disposto a cumprir. As forças de Yoshinaka,
em menor número, foram derrotadas facilmente
por Yoritomo, e Yoshinaka tirou a própria vida.
Finalmente Yoritomo pode voltar suas atenções
para os líderes do clã Taira, destacando seu meioirmão Yoshitsune para combatê-los.
Com um ataque ousado, Yoshitsune flanqueou
o acampamento inimigo e pegou as forças Taira
de surpresa, com grande perda de vidas.
Yoshitsune ainda persegue o restante de suas
forças pelo Mar Interior do Japão, aniquilando o
restante de suas forças. O Imperador Antoku
morre afogado durante a batalha, a pouco mais de
um mês de seu sexto aniversário. Mas o sucesso
de Yoshitsune sobre os Taira causou a
desconfiança de Yoritomo, que temeu novamente
ficar em segundo plano, principalmente após o
problemático Go-Shirakawa conferir a Yoshitsune
títulos da corte e o raro acesso a seus aposentos.
Após uma tentativa frustrada de Yoritomo
assassinar Yoshitsune em Quito, este fugiu e
tentou se refugiar nas terras do norte, mas, os
Fujiwara, temendo a ira de Yoritomo, atacaram e
mataram Yoshitsune no quarto mês de 1189. No
entanto, a traição no norte pouco adiantou para
garantir a segurança da família, e Yoritomo não
descansou até eliminar a última potência militar
que poderia desafiar sua hegemonia.
O Bakufu de Yoritomo não substituiu, em sua
maior parte, a administração da antiga corte, mas
manteve o controle sobre elas, construindo até a
sua morte em 1199 as instituições e precedentes
que regulariam as funções militar e
administração da terra pela classe guerreira.
a
Discussão
As agitações políticas que antecedem o início
do feudalismo japonês, com a ascensão da classe
guerreira ao poder mostram que foi um profundo
processo de mudanças.
A Rebelião Hogen já dava sinais da ascensão
desta nova classe e a sua relevante importância
nas novas decisões, mas eles foram pouco
reconhecidos após seu desfecho. Já em Heiji, o
papel da classe guerreira foi fundamental para o
seu final, que instaurou a soberania do clã Taira
na capital e, apesar de ter falhado em seu regime,
a ocupação Taira demonstrou a vulnerabilidade de
Quioto frente, o que contribuiu diretamente para a
eclosão da Guerra Gempei em 1180, em que a
classe guerreira finalmente suplantou a autoridade
da corte, estabelecendo-se no poder.
Considerações Finais
A questão central das intrigas era pelo controle
da terra, que era a base de toda a sociedade. A
nobreza, proprietária por direito das terras, porém,
não queria desligar-se da vida na corte,
contratando guerreiros para tomar posse da terra.
Tais guerreiros não eram simples combatentes,
mas administradores financeiros, executores da
justiça, cobradores de impostos e protetores das
terras. Em suma, eles cumpriam o papel
intermediário entre a alta nobreza e os
trabalhadores da terra.
Começando com o golpe Hogen na capital em
1156, as iniciativas tomadas pelos guerreiros,
cada vez mais oprimindo a autoridade civil,
culminaram com as grandes batalhas da Guerra
Gempei. A sociedade foi fundamentalmente
alterada com a entrada dos guerreiros das
províncias, que criou uma nova estrutura política
independente da corte imperial.
A corte tornou-se servente as vontades de
Yoritomo, e seus fundamentos econômicos
voltaram para servir as relações dos guerreiros e
sua posse das terras.
A Guerra Gempei não foi simplesmente um
conflito entre famílias rivais, mas o fim de um
processo de agitação política, econômica e social
que resultou numa profunda mudança. Yoritomo
Minamoto, cumprindo sua palavra, estabeleceu a
garantiu a autoridade dos guerreiros sobre a terra
que eles ocupavam, fragmentando o arquipélago
japonês e iniciando a descentralização política,
para uma sociedade que pode ser chamada
livremente de feudal.
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Referências
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