ESTRATÉGIA DE ACELERAÇÃO DA
PREVENÇÃO DA INFECÇÃO PELO HIV
I. Introdução
Desde que, em 1986, foi registado o primeiro caso de SIDA em Moçambique,
o número de casos tem vindo a crescer rapidamente. Até finais de 1992, tinha
sido registado um total cumulativo de 662 casos de SIDA, passando de um
total de 10.963 casos em 1998 para cerca de 1.35 e 1.60 milhões em 2002 e
2007, respectivamente. As estimativas de prevalência do HIV, baseadas nos
resultados das Rondas de Vigilância Epidemiológica (RVE) dos anos de 2001
(14%), 2002 (15%), 2004 e 2007 (16%) indicam que a epidemia do SIDA
continua a agravar-se no país, ainda que na última RVE se tenham registado
sinais de estabilização nas zonas centro e norte. No entanto na zona sul,
continuamos a assistir índices de incidência extremamente altos.
Os dados supracitados indicam que em Moçambique a epidemia do SIDA se
sobrepõe aos esforços envidados para a sua contenção e que ela está a corroer
seriamente os ganhos em todos os sectores de actividade económica e social,
incluindo de serviços. A epidemia obriga assim a desviar os recursos destinados
ao desenvolvimento para minimizar as múltiplas crises que ela própria origina.
Assiste-se a uma contínua fragilização das estruturas familiares, devida à
pressão criada pelos cuidados e apoio que têm de ser proporcionados a um
número crescente de pessoas debilitadas e/ou aos órfãos devido ao SIDA. Se
as actuais taxas de infecção pelo HIV assim continuarem, as perspectivas de
crescimento económico e de desenvolvimento humano reduzir-se-ão de forma
drástica.
A Estratégia de Aceleração da Prevenção da Infecção pelo HIV surge
assim como a resposta nacional à necessidade de, com a maior urgência, se
controlar a situação explosiva do SIDA no nosso País.
A presente Estratégia estabelece mecanismos para reduzir, de forma
progressiva mas sustentada, a incidência (ou seja, o número de novas infecções)
do HIV. A finalidade da Estratégia é identificar as intervenções mais críticas
que possam contribuir para a redução significativa da incidência do HIV no
País. Este exercício de identificação implica: 1) uma compreensão mais
profunda dos factores epidemiológicos e sociológicos que impulsionam a
epidemia e 2) um conhecimento das causas que explicam por que razão as
acções de prevenção até agora utilizadas não surtiram o efeito desejado.
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Em Moçambique, o vírus do SIDA é transmitido sobretudo (em mais de 90%
dos casos) através de relações sexuais. Na epidemia do SIDA há a distinguir 2
tipos de factores impulsionadores: 1) o factor chave é a existência de
relações sexuais concomitantes com múltiplos parceiros e sem/com
baixo recurso à protecção pelo preservativo 2) os factores contribuintes
sociais e estruturais (tais como a grande mobilidade populacional, as desigualdades
de género e as desigualdades económicas) e comportamentais (tais como a
violência de género e sexual, consumo de álcool e droga, o estigma e a falta de
comunicação sobre sexualidade, sexo e SIDA no seio da família). Por isso, a
redução da incidência do HIV implica necessariamente uma MUDANÇA DE
COMPORTAMENTO.
II. Estratégia de Aceleração da Prevenção da Infecção pelo HIV
A Estratégia de Aceleração da Prevenção da Infecção pelo HIV tem 2 vectores:
• Identificação de áreas prioritárias de acção.
• Capacitação técnica e institucional para uma resposta mais
efectiva.
Áreas Prioritárias de Acção
As Áreas prioritárias de Acção são:
• Aconselhamento e Testagem em Saúde;
• Preservativos;
• Grupos de Alto Risco;
• Detecção Precoce e Tratamento das Infecções de Transmissão Sexual;
• Circuncisão Masculina;
• Prevenção da Transmissão Vertical (Transmissão da Infecção da Mãe para o
Bebé);
• Acesso ao Tratamento;
• Biossegurança.
Para uma resposta mais efectiva à epidemia do SIDA há que capacitar os
quadros e as instituições para se melhorar:
• A coordenação da Resposta à Epidemia;
• A comunicação visando a Mudança de Comportamento;
• A Monitoria e Avaliação das Acções de Prevenção.
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1. Aconselhamento e Testagem em Saúde (ATS)
1.1. Constatações
a) O aconselhamento e testagem (AT) é uma componente fundamental para a
prevenção do HIV/SIDA visto que é uma porta de entrada para cuidados,
tratamento e suporte psicossocial, bem como para a mudança de
comportamento;
b) Há falta de recursos humanos qualificados para a provisão de serviços no
sector da saúde em geral, seja em quantidade suficiente e qualidade
desejável, associada à ausência de conselheiros não médicos integrados no
SNS;
c) Os princípios básicos que orientam o Aconselhamento e Testagem
(Consentimento Informado, Aconselhamento e Confidencialidade) não são
compreendidos pela população nem pela maioria dos profissionais de saúde,
afectando a qualidade da oferta deste serviço bem como a procura do
mesmo pelos cidadãos;
d) Há fraca adesão ao teste de HIV, motivada pela superstição, obscurantismo,
vergonha e receio face ao resultado e por alguma desinformação;
e) Nalgumas comunidades existe o sentimento de que a testagem deve ser
obrigatória tendo em conta o carácter de emergência e de epidemia
generalizada em que o país se encontra.
1.2. Estratégia
a) A promoção da qualidade e da expansão dos serviços de Aconselhamento e
Testagem no contexto clínico, nas Unidades de Aconselhamento e
Testagem em Saúde (UATS) e na comunidade deve assumir-se como
prioritária, integrando o aconselhamento e testagem nas actividades de
rotina dos profissionais de saúde, expandindo o aconselhamento e testagem
comunitária e potenciando uma comunicação virada à mobilização social
para a adesão ao teste, procura de serviços subsequentes e adesão ao
tratamento;
b) Desenvolver uma estratégia de inclusão de conselheiros não médicos no
quadro do Serviço Nacional de Saúde;
c) Incluir, na actual Estratégia Nacional de Comunicação para o HIV/SIDA,
campanhas de comunicação de massas com vista a promoção dos serviços
de Aconselhamento e Testagem e para o conhecimento do estado
serológico;
d) Implantar um Sistema Nacional de Controlo de Qualidade da Testagem,
integrado no controlo de qualidade das actividades de laboratório do
Serviço Nacional de Saúde;
e) Adequar os grupos de activistas e portadores de mensagens em relação aos
grupos alvo ou seja, formar grupos de activistas comunitários compostos
por homens e mulheres adultos, por mulheres grávidas e anciãos de modo a
tornar mais credível a informação.
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2. Preservativos
2.1. Constatações
a) Fraco e/ou não uso do preservativo, ligado a questões de discordância entre
cônjuges, barreiras culturais e religiosas e a posição dominante do homem
perante a mulher;
b) Fragilidade dos sistemas de gestão e de distribuição do preservativo
masculino, sobretudo nas zonas rurais;
c) A venda de preservativo diminui o acesso ao mesmo;
d) Fraca divulgação e acesso ao preservativo feminino;
e) Mensagens inadequadas à realidade dos valores socioculturais, incluindo a
não segmentação da comunicação por grupos etários.
2.2. Estratégia
a) Elaborar e divulgar um documento orientador para a comunicação e
educação sobre o preservativo, devendo assegurar a adequação das
mensagens às realidades socioculturais, assim como garantir o respeito à
segmentação consoante os grupos alvo;
b) Dar prioridade aos corredores de desenvolvimento, como uma das zonas
privilegiados para a divulgação massiva e permanente do preservativo,
cobrindo grupos de pessoas de alta mobilidade;
c) Melhorar a capacidade logística e de gestão da distribuição de preservativos
a todos os níveis, sobretudo nas zonas rurais, através de uma melhor
coordenação entre os intervenientes (sectores público e privado e sociedade
civil), incluindo distribuição gratuita do preservativo masculino e feminino;
d) Criar capacidade técnica e logística para responder à crescente procura de
preservativos femininos por algumas organizações femininas e pelas
mulheres, como usuárias privilegiadas deste instrumento de prevenção;
e) Estabelecer parcerias multissectoriais, para melhorar a condição da mulher,
reduzir as relações sexuais por coacção ou violência, e apoiar a integridade
familiar entre os trabalhadores emigrantes e com mobilidade;
f) Produzir materiais de comunicação apropriados ao contexto moçambicano,
tanto para o preservativo masculino, como para o feminino, incluindo
material a ser utilizado pelos líderes comunitários e conselheiros dos ritos de
iniciação;
3. Grupos de Alto Risco (GAR)
3.1.Constatações
a) Falta de uma plataforma estratégica de âmbito nacional, destinada aos
Grupos de Alto Risco;
b) Existência de intervenções pontuais, sem visão continuada e
institucionalizada, com fraco envolvimento das instituições governamentais;
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c) A falta de definição clara até ao momento, dos GAR, levou a que a maior
parte das intervenções específicas fosse concentrada em trabalhadoras de
sexo e seus clientes, ficando de lado outros grupos importantes de alto risco;
d) Barreiras no acesso à informação e aos serviços de saúde;
e) Dificuldade de encaminhamento para aconselhamento, testagem e
assistência sanitária e social.
3.2. Estratégia
a) Melhorar a coordenação entre as instituições de tutela dos GAR para
desenho e harmonização de instrumentos (políticas, estratégias) que
facilitem as intervenções sobre estes grupos. As Mulheres, Crianças e
Adolescentes, Membros das Forças de Defesa e Segurança, Profissionais de
Saúde, Professores, Reclusos, Atletas de Alta Competição, Mineiros,
Marinheiros e Trabalhadoras de Sexo, são os que devem merecer prioridade
do Governo para intervenções imediatas;
b) Assegurar a participação de membros das instituições de tutela dos grupos
identificados como de alto risco no grupo de trabalho GAR;
c) Assegurar o desenvolvimento de programas e estratégias para a promoção
da saúde, incluindo a prevenção de ITS/HIV, para os GAR;
d) Em coordenação com os Países vizinhos, estabelecer mecanismos
coordenados de controlo, acompanhamento e protecção dos grupos
vulneráveis a nível regional;
e) Elaborar instrumentos de monitoria e avaliação padronizados para cada
grupo de alto risco, de modo a ter um sistema uniforme e compreendido
por todos os utilizadores a nível nacional e que permita a tomada de acções
futuras com base em evidências, assim como a comparação de resultados
entre diferentes áreas geográficas.
4. Detecção Precoce e Tratamento das Infecções de Transmissão Sexual
(ITS)
4.1. Constatações
a) Demora na procura de tratamento pelos doentes com ITS, por
desconhecimento e/ou menosprezo dos sinais, sintomas e consequências
destas infecções, associados à falta de respeito e de sigilo por parte de alguns
profissionais de saúde aliado ao facto de os praticantes da medicina
tradicional disseminarem crenças culturais de associação das ITS a questões
de ordem espiritual;
b) Muitas mulheres têm problemas de abordar os parceiros, receando
represálias e agressões como resultado da sua fraca capacidade de
negociação;
c) Deficiente ligação entre os diferentes serviços nas unidades sanitárias, com
consequentes deficiências no registo, notificação, monitoria e avaliação das
actividades desta componente.
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4.2. Estratégia
a) Sensibilizar as comunidades sobre a importância da detecção precoce e
tratamento das ITS incluindo os contactos, integrando as actividades de
comunicação para as ITS nas estratégias de comunicação para o HIV;
b) Expandir e sistematizar as actividades conjuntas com os praticantes de
medicina tradicional e parteiras tradicionais e, desenvolver um sistema de
monitoria para estas actividades;
c) Melhorar a coordenação, a todos os níveis, entre o MISAU, MEC e MJD
para aumentar a detecção precoce e tratamento das ITS nos jovens e
adolescentes;
d) Dar prioridade aos grupos de alto risco no benefício destes serviços;
e) Melhorar os registos, notificação, monitoria e avaliação das ITS, incluindo
os contactos.
5. Circuncisão Masculina
5.1. Constatações
a) A evidência de estudos epidemiológicos efectuados revelou uma redução da
transmissão do HIV da mulher para o homem nos casos em que este é
circuncidado;
b) A prática da circuncisão masculina é variável de uma província para outra e
até de um distrito para o outro. Há ainda aspectos que fragilizam a sua
prática: a falta de colaboração entre os profissionais de saúde e os
responsáveis deste acto nas comunidades; a maneira como a circuncisão é
feita nos ritos de iniciação - o uso de material não esterilizado bem como os
conselhos transmitidos durante os ritos de iniciação; o elevado custo
cobrado pelas unidades sanitárias e; a falta de formação dos responsáveis
deste acto nas comunidades em matéria de prevenção ao HIV.
5.2. Estratégia
a) Ainda que se reconheça a prova científica sobre o efeito da circuncisão na
redução da transmissão do HIV da mulher para o homem, há necessidade
de aprofundamento do contributo que esta área poderá prestar à resposta
no país, como um elemento adicional aos esforços para a prevenção do HIV
e das ITS;
b) Realizar campanhas educativas sobre o tema, envolvendo as autoridades
comunitárias, uma vez que se reconhece a sua relação directa com os
hábitos e costumes locais;
c) Criar mecanismos para garantir as questões de biossegurança para a
circuncisão;
d) Formar os líderes comunitários e responsáveis pelos ritos de iniciação em
matéria de prevenção ao HIV.
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6. Prevenção da Transmissão Vertical (PTV)
6.1. Constatações
a) Houve uma rápida expansão do PTV mas as crianças continuam a ser as
menos beneficiadas por fraca sensibilidade dos familiares e acompanhantes;
b) Fraco acesso ao TARV para a mulher grávida, agravado pela fraca adesão;
c) Fraca capacidade de monitoria dos serviços prestados.
6.2. Estratégia
a) Desenhar e implementar intervenções comunitárias para melhorar a
percepção sobre a importância da PTV para a saúde da mãe e da criança e
sobre o impacto da sobrevivência da mãe no bem-estar familiar,
principalmente na educação das crianças:
• Estimular a participação dos pais, maridos e sogras nas consultas de
Saúde Materno-Infantil (SMI).
• Assegurar a ligação sistemática do Serviço Nacional de Saúde com
acções tendentes ao empoderamento da Mulher, como os grupos de mães,
de modo a reduzir a Feminização do HIV e melhorar a PTV.
b) Melhorar a coordenação entre os diversos sectores da unidade sanitária para
aumentar o acesso ao TARV para a mulher grávida e o seguimento regular
da criança exposta.
c) Revitalizar os processos de supervisão formativa regular, incluindo a
actualização dos instrumentos para supervisão, definição das actividades e
normas orientadoras para supervisão.
7. Acesso ao Tratamento e Prolongamento de Vidas
7.1. Constatações
a) Muitos doentes de SIDA não procuram as unidades sanitárias ou procuramnas num estado avançado de doença, morrendo pouco depois do
internamento, devido ao fraco acesso ao aconselhamento e testagem, apesar
de se ter expandido o TARV para todos os distritos e haver disponibilidade
de medicamentos de forma gratuita;
b) O tratamento anti-retroviral pode reduzir a infecciosidade e, por
conseguinte, a transmissão do HIV, através da redução da quantidade total
de vírus nos fluidos do sangue e nas secreções genitais;
c) A disponibilização acrescida da terapia anti-retroviral pode contribuir para a
prevenção através da motivação das pessoas a realizarem voluntariamente o
aconselhamento e testagem, o que pode resultar num maior aconselhamento
preventivo, redução de comportamentos de alto risco e uma menor
transmissão;
d) Necessidade de apoio alimentar aos doentes em tratamento e sem fontes de
rendimento;
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e) Existência de doentes que não tomam regularmente a medicação, que faltam
às consultas de controlo ou que abandonam o tratamento. As crianças são
as mais afectadas por dependerem das mães e/ou substitutas;
f) Fraca capacidade de identificar e trazer de volta à unidade sanitária os
doentes que abandonam o tratamento.
7.2. Estratégia
a) A curto prazo, não expandir o TARV para novos locais, mas concluir a
integração do atendimento aos utentes HIV/SIDA no SNS com qualidade,
através do fortalecimento da capacidade de formação, supervisão, monitoria
e avaliação das Direcções Provinciais de Saúde, em coordenação com os
parceiros de implementação;
b) Reforçar a formação dos técnicos de saúde em ética e deontologia
profissional, para garantir a confidencialidade;
c) Fortalecer a capacidade das organizações da sociedade civil para realizarem
actividades nas comunidades, de modo a assegurar um elevado nível de
adesão ao tratamento e, por conseguinte, reduzir as possibilidades de
abandono ao tratamento;
d) Melhorar o aproveitamento dos recursos existentes para potenciar a
componente de nutrição, quer através de promoção de projectos de geração
de renda, como de promoção e educação nutricional;
e) Aprovar o projecto-lei de protecção às PVHS contra a discriminação,
passando a considerar a discriminação como um crime público.
8. Biossegurança
8.1. Constatações
a) Falta de segurança do sangue e hemoderivados transfundidos nas unidades
sanitárias devido a fraca disponibilidade de equipamento de protecção
individual, de infra-estruturas e de equipamento para testagem, colheita e
conservação do sangue e seus derivados;
b) Falta de sistemas centralizados de esterilização nos hospitais provinciais,
gerais e distritais;
c) Deficiente implementação das normas de Profilaxia Pós Exposição e fraca
notificação e seguimento dos casos de acidentes de Exposição ao HIV;
d) Fraca capacidade dos Técnicos de Laboratório em aconselhar dadores de
sangue detectados como positivos para o HIV.
8.2. Estratégia
a) Fornecer regularmente equipamento de protecção individual às unidades
sanitárias e aumentar a capacidade e qualidade das infra-estruturas e de
equipamento para testagem, colheita e conservação do sangue e seus
derivados em todas as unidades sanitárias com serviços de transfusão de
sangue;
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b) Garantir sistemas centralizados de esterilização nos hospitais provinciais,
gerais e distritais;
c) Melhorar a notificação e seguimento da Profilaxia Pós Exposição;
d) Capacitar os Técnicos de Laboratório em aconselhamento pós-teste.
9. Coordenação da Resposta
9.1. Constatações
a) Fraca coordenação, com tendência para a projectização da abordagem do HIV
e SIDA aos vários níveis, ao invés de integrar o SIDA nos planos de cada
um dos sectores de tutela;
b) Fraquezas dos sectores público e privado na mobilização de uma resposta
multissectorial dinâmica e efectiva;
c) A liderança e acção da Sociedade Civil é ainda reduzida ao nível central e
principalmente ao nível provincial e distrital;
d) Capacidade limitada de recursos humanos, a todos os níveis, resultando na
falta de pessoal em quantidade e qualidade desejáveis para planificar,
implementar e monitorar a maior parte das acções previstas no PEN II;
e) Deficiente gestão e partilha de informação a todos os níveis.
9.2. Estratégia
a) Continuar a promover o comando das acções, ao nível da liderança política
e da técnica, com base numa abordagem de consenso a nível do Conselho
Directivo do CNCS, redefinindo as funções dos núcleos provinciais;
b) Reforçar o princípio dos três Uns (Um único Plano Estratégico, Um único
sistema de Monitoria e Avaliação e Uma única entidade coordenadora),
tornando-se necessária a promoção de uma visão formal e comunitária mais
integrada e harmonizada;
c) Assegurar e readaptar a capacitação técnica e institucional a todos os níveis,
para uma resposta mais efectiva, envolvendo as seguintes áreas: (1)
Coordenação da Resposta; (2) Comunicação para a Mudança de
Comportamento; (3) Monitoria e Avaliação;
d) Assumir como prioritárias, as seguintes áreas de acção: (1) Aconselhamento
e Testagem em Saúde; (2) Disponibilização e Uso do Preservativo (3)
Grupos de Alto Risco; (4) Detecção Precoce e Tratamento das Infecções de
Transmissão Sexual (ITS’s); (5) Circuncisão Masculina; (6) Prevenção da
Transmissão Vertical ou seja da mãe para o bebé (PTV); (7) Acesso ao
Tratamento e Prolongamento de Vidas; (8) Biossegurança;
e) Eliminar grupos paralelos e não consensuais de coordenação e proceder à
sua integração e alinhamento, em fóruns já formalizados, para se
providenciar informação programática e financeira dos seus investimentos
na área do SIDA e potenciar o sistema integrado de monitoria e avaliação da
resposta nacional;
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f) Vincular todos os actores acreditados no país e que estejam envolvidos na
luta contra o SIDA ao uso dos mesmos instrumentos de documentação e
informação às autoridades nacionais sobre as suas acções e respeitarem o
ciclo programático do Governo;
g) A liderança e acção da sociedade civil na coordenação da resposta desde o
nível central ao comunitário devem ser sustentáveis.
10. Comunicação para Mudança de Comportamento
10.1. Constatações
a) Estudos feitos sobre comportamentos, atitudes e práticas têm revelado um
alargamento da cadeia de informação sobre os modos de transmissão e
manifestações do SIDA, sem que tal conhecimento se reverta numa real
mudança de atitudes e práticas comportamentais para evitar a infecção;
b) A comunicação não está direccionada para os padrões de comportamento
que estão a alimentar a epidemia;
c) A comunicação não consta entre as prioridades das instituições, o que faz
com que não haja investimento suficiente no recrutamento e na capacitação
de recursos humanos nesta área;
d) Fraco envolvimento das comunidades nas intervenções de comunicação;
e) As intervenções não levam em consideração as dinâmicas de género no
contexto da prevenção do HIV.
10.2. Estratégia
a) Capacitar os professores, líderes comunitários, religiosos, tradicionais,
decisores das famílias (sogras, tias, madrinhas, etc) para serem os principais
mensageiros e exemplos nas comunidades, sobre a importância capital da
redução de parceiros sexuais como uma das medidas mais efectivas de
prevenção do HIV e SIDA;
b) Considerar os resultados dos estudos já existentes nas abordagens de
comunicação para a prevenção, dando prioridade aos comportamentos e
condições que estão a impulsionar a epidemia do HIV em Moçambique,
nomeadamente, a questão de parceiros sexuais múltiplos e simultâneos, o
sexo transaccional e o intergeracional e os Grupos de Alto Risco;
c) Desenhar e implementar acções que ajudem a ultrapassar os obstáculos de
género para uma comunicação mais orientada para a mudança de
comportamento;
d) Introduzir no currículo escolar do ensino primário e secundário
“Habilidades para a Vida”. A educação das crianças sobre a sexualidade
deve começar na família e na escola;
e) Estimular o diálogo permanente entre pais e filhos e outros membros da
família, fazendo do lar um espaço privilegiado para os jovens tirarem
dúvidas sobre sexo, HIV/SIDA e outros assuntos de interesse;
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f) A educação de pares deve ser fortalecida sobretudo para os grupos mais
sensíveis, tais como idosos, casados, etc;
g) Usar o contacto regular dos doentes em tratamento com a unidade sanitária,
para desenvolver acções de prevenção com positivos, nomeadamente, a
promoção da mudança de comportamento no seio dos seropositivos e a
educação de pares;
h) Continuar a estimular a participação activa de seropositivos em actividades
de comunicação para a mudança de comportamento;
i) Encorajar as organizações a implementarem iniciativas que tenham grande
participação da comunidade. Quanto mais localizada e participativa for a
intervenção, maior é a probabilidade de se atingir o impacto desejado;
j) Estimular um investimento equilibrado e participativo de comunicação,
fortemente enraizado na realidade cultural moçambicana e apoiado pelos
meios de comunicação de massas, em coordenação com intervenções
comunitárias localizadas;
k) Realizar debates públicos envolvendo as comunidades e os praticantes de
medicina tradicional, dos ritos de iniciação, líderes comunitários e
tradicionais para a identificação de melhores práticas de purificação das
viúvas;
l) Investir na capacitação de recursos humanos em comunicação para a
mudança social e em metodologias participativas;
m) O CNCS deverá continuar o seu apoio efectivo na Operacionalização da
Estratégia de Comunicação nas Províncias, coordenando as actividades de
monitoria e promovendo o cumprimento dos Planos Provinciais de
Comunicação, como parte integrante dos planos operacionais anuais;
n) Promover uma monitoria contínua das intervenções de comunicação e uma
avaliação do impacto dessas iniciativas para produzir evidências de sucessos
e estimular investimentos para a expansão das boas práticas.
11. Monitoria e Avaliação (M & A)
11.1. Constatações
a) Lacunas no processo de harmonização de definições, metodologias de
cálculo e de interpretação de dados, incluindo os instrumentos de recolha e
análise contínua da informação;
b) Os implementadores estão apenas preocupados em produzir informação
para os seus financiadores e não para visualizar a resposta provincial e
nacional;
c) As evidências das atitudes comportamentais e do impacto das acções
preventivas existentes baseiam-se em estudos não representativos a nível
nacional e provincial;
d) Alguns indicadores-chave, para a Monitoria e Avaliação da prevenção, ainda
não estão integrados nos actuais sistemas (exemplos de grupos de alto risco,
prevenção em PVHS).
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11.2. Estratégia
a) Desenvolver e usar indicadores-chave sobre a prevenção no Sistema
Nacional de Monitoria e Avaliação;
b) Fortalecer a capacidade técnica na análise de dados e produção de
informação estratégica sobre a prevenção;
c) Elaborar um plano operacional de Monitoria e Avaliação multissectorial
orçamentado;
d) Realizar inquéritos epidemiológicos e comportamentais mais detalhados e
regulares, incluindo os estudos já planificados, tais como, INSIDA, BSS+,
IRARE;
e) Apoiar pesquisas chave para melhorar o entendimento dos condutores da
epidemia e intensificação das actividades de prevenção, com especial
enfoque para a análise da informação;
f) Manter o sistema de acompanhamento dos gastos financeiros em
HIV/SIDA em todos os sectores;
g) Definir um mecanismo que obrigue todos os implementadores da resposta
nacional a prestarem informação programática e financeira das acções da
resposta nacional, em geral, e da prevenção, em particular, ao Conselho
Nacional de Combate ao Sida.
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