PRÉ-IMUNIZAÇÃO E TRATAMENTO DE TRISTEZA
PARASITÁRIA EM BOVINOS LEITEIROS
Eliziária C. dos Santos1; Leandro L. de Oliveira1; Eduardo de A. M. da
Silva1; Sérgio O. de Paula1
1
Laboratório de Imunovirologia Molecular do Departamento de Biologia Geral da Universidade
Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Viçosa.
[email protected]
Dentre as enfermidades hemoparasitárias que causam grandes
perdas a bovinocultura leiteira destaca-se a Tristeza Parasitária Bovina
(TPB), que na América Latina tem como agentes etiológicos dois
protozoários do gênero Babesia - Babesia bovis e Babesia bigemina, e
uma bactéria intracelular obrigatória do gênero rickéttsia – Anaplasma
marginale. Ambas as espécies de protozoários são transmitidas pela
picada do carrapato da falilia ixodidae, do gênero Rhipicephalus
(Boophilus) microplus, enquanto Anaplasma marginale, além da picada
do vetor biológico, o carrapato do gênero Rhipicephalus (Boophilus)
microplus é transmitida pela picada de moscas hematófagas,
consideradas vetores mecânicos (BOCK, et al., 2004).
Um carrapato adulto ao parasitar os bovinos diminui sua
produção de leite em 8,9 mL/dia, considerando que inúmeros carrapatos
infectam um único animal as perdas com a produtividade chegam a
contabilizar aproximadamente US$ 1 bilhão de dólares ao ano. Além
dos gastos requeridos para o controle desses agentes etiológicos,
imunização e tratamento dos animais infectados. Desta forma a TPB
constitui-se em um fator limitante ao desenvolvimento da pecuária
leiteira.
PATOGENESEDOS AGENTES DA TRISTEZA PARASITÁRIA
BOVINA
Babesia bovis e Babesia bigemina
Das babesioses que afetam os bovinos, oito espécies já foram
identificadas, dentre essas a B. bovis e B. bigemina são as formas mais
comuns encontradas no território Brasileiro (GUGLIELMONE, et al.,
1995). A B. bigemina é uma espécie considerada pouco patogênica,
normalmente associada à anemia não complicada. Já a B. bovis é
altamente patogênica, capaz de causar complicações inflamatórias
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generalizadas e obstrução da microcirculação por eritrócitos parasitados
em órgãos como cérebro e pulmões, levando à severa disfunção dos
mesmos (MAHONEY 1977).
O comportamento biológico, dessas diferentes espécies tem
relação com o ciclo de vida do protozoário que se desenvolve em seu
habitat natural (BOCK, et al., 2004), e este requer a existência de um
hospedeiro vertebrado intermediário (bovino) e um hospedeiro
invertebrado definitivo (carrapato) (UILENBERG, 2006).
A transmissão de B. bovis aos bovinos se dá pela picada de
carrapatos da família Ixodidae, que não são apenas carreadores
mecânicos, mas se comportam como vetores biológicos, na medida em
que o protozoário completa a fase de reprodução sexuada do seu ciclo
dentro do organismo daqueles artrópodes (KESSLER, et al., 1998). Em
geral, a transmissão de B. bovis em uma área está associada a um
único vetor, mas a associação pode mudar de uma região para outra.
Assim, na Austrália e na América do Sul B. bovis é transmitida pelo
Boophilusmicroplus, na África pelo Boophilusannulatus e na Europa
pelo Rhipicephalusbursa (FRIEDHOFF 1988).
O protozoário possui uma interação com as células do
hospedeiro altamente especifica e não invadem outro tipo celular, além
dos eritrócitos. A infecção tem inicio com a inoculação das formas
infectantes, esporozoítos presentes na saliva dos vetores infectados, na
corrente sanguínea do hospedeiro vertebrado (BOCK, et al., 2004). Os
esporozoítos ao entrarem em contato com a superfície dos eritrócitos
internalizam-se, com auxilio de um complexo apical, constituído por
diversas organelas especializadas - roptrias, micronemas, anel polar e
conóide. O conteúdo das roptrias e micronemas é liberado sobre a
membrana eritrocitária, induzindo à formação de um vacúolo e
internalização das formas infectantes da Babesia. No interior da célula
hospedeira, a membrana do vacúolo é destruída e os esporozoítos
ficam em contato com o citoplasma (JACK & WARD 1981).
Uma vez internalizados os esporozoítos se diferenciam em
trofozoítos multiplicam-se assexuadamente por divisão binária
originando os estágios evolutivos da Babesia, os merozoítos, que então
saem para infectar outras hemácias (MEHLHORN & SHEIN, 1984). O
ciclo se repete, com a diferenciação dos merozoítos em trofozoítos e
divisão, a cada oito horas. Após alguns ciclos de replicação, parte dos
merozoítos pode se desenvolver a gametócitos masculinos ou femininos
que continuarão o ciclo da B. bovis no carrapato (JACK & WARD,
III Simpósio Nacional de Bovinocultura de Leite
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1981). A análise da ultra-estrutura do merozoíto de B. bovis mostra que
ele é circundado por uma película formada por dupla membrana
associada à microtúbulos, e pode assumir a forma arredondada ou
piriforme. Já o merozoíto da B. bigemina, possui forma ovóide sendo
denominado, por alguns autores, como precursor de gameta com um
nível diplóide de DNA, o que o diferencia do merozoíto de outras
espécies de Babesia. Esse precursor só irá se desenvolver no
organismo do carrapato (BOCK, et al., 2004).
O ciclo de vida do protozoário tem continuidade no hospedeiro
invertebrado e ainfectividade ocorre durante a hematofagia das
teleóginas em animais com índices de parasitemia e por transmissão
transovariana (FRIEDHOFF, 1988). A digestão dos eritrócitos
parasitados ocasiona a liberação dos merozoítos no intestino da
teleógina sofrendo alterações morfofisiológicas adaptativas preparando
para a fase sexuada do ciclo biológico.
À microscopia eletrônica, observam-se no epitélio intestinal da
teleógina estruturas denominadas corpos estrelares, que são formas
características do protozoário, associados à reprodução sexuada. Essas
estruturas, de acordo com alguns autores, seriam os gametócitos que
ao chegarem ao intestino das teleóginas sofrem múltiplos ciclos de
replicação formando agregados de corpos estrelares, agora com nível
haplóides de DNA, denominados gametas. As estruturas maiores e
imóveis são caracterizadas como gametas femininos e os menores e
imóveis os masculinos (MEHLHORN & SHEIN, 1984).
Esses gametas sofrem singamia dando origem a uma estrutura
esférica – zigoto - diplóide, que por sua vez, infecta seletivamente as
células digestivas do carrapato onde se multiplicam em células basófilas
sintetizadoras devitelogenina. Dessa multiplicação surgem os oocinetos
– formas vermiculares – que escapam para a hemolinfa. Na B.
bigemina, os gametas diplóides sofrem o processo de meiose dando
origem ao zigoto com metade do material genético. Nas células
intestinais o zigoto passa pelo processo de esquizogonia (fissões
multiplas, esporogonia) originando cinetos poliplóides (formas
vermiculares, esporocinetos, amplos merozoítos) (MEHLHORN; SHEIN,
1984; FRIEDHOFF, 1988).
Esses vermículos, de ambas as espécies de Babesia, são
estruturas altamente moveis que ao escaparem para a hemocele
invadem todos os órgaos e tecidos da teleógina, incluindo os ovários, e
iniciam vários ciclos de esporogonia que se estendem até a morte do
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parasito. Dessa maneira, Babesia sp. infectam a progenie de teleóginas
sendo esta via denominada transovariana, fundamental para a
manutenção da endemia dessa parasitose no hospedeiro vertebrado
(GUGLIELMONE et al., 1997; BOCK et al., 2004) Todas as larvas que
eclodem desses ovos estão infectadas com Babesia, nesta fase, os
vermiculos migram para as glândula salivares e sofrem esquizogonia de
terceira geração dando origem as formas infectantes (esporozoítos) da
Babesia (KESSLER, et al., 1998). A infecção dos animais com Babesia
bovis ocorre pela picada do carrapato no estagio de larva e a Babesia
bigemina é trasmitida quando o vetor encontra-se na fase de ninfa ou já
na fase adulta e então o ciclo se repete.
Anaplasma marginale
Duas importantes espécies do gênero Anaplasma infectam os
bovinos, Anaplasma marginale e A. centrale (THEILER, 1910). A
primeira é altamente patogênica e a segunda por ser menos patogênica
é utilizada, como vacina viva, para imunizar o gado susceptível à
doença (De LA FUENTE, 2005).
Apesar de a Anaplasmose apresentar descrição histórica, os
mecanismos de transmissão e a importância epidemiológica das
diferentes formas de transmissão e dos possíveis vetores, ainda é
polêmica na literatura científica (GUGLIELMONE, 1995).
Estudos experimentais tem demostrado diferentes formas de
transmissão da Anaplasmose aos bovinos, dentre elas a iatrogênica, a
transmissão biológica por carrapatos, insetos hematófagos e a
transplacentária, sendo esta ainda foco de discussão (KOCAN, et al,
2003). Além destas, Ribeiro et al. (1995) relataram a forma congênita de
transmissão ocasionando a anaplasmose neonatal.
A transmissão biológica da A. marginale é bem descrita e já foi
demonstrada experimentalmente em mais de 20 espécies de carrapatos
da família ixodidae (KOCAN et al., 2004). Porém a relevância dos
mecanismos de transmissão dessas espécies, em condições naturais,
ainda não foi bem delineada (GONÇALVES-RUIZ et al., 2002).
Uma importante consideração, em relação à transmissão
biológica, feita por Kocan et al., (2002), é que alguns isolados de A.
marginale,
não
infectam
carrapatos,
fato
demonstrado
experimentalmente com cepas isoladas no Brasil. Esta observação teve
relação com a presença de estruturas denominadas apêndices, nos
carrapatos, que se associavam à multiplicação da Rickettsia no epitélio
III Simpósio Nacional de Bovinocultura de Leite
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intestinal do B. microplus o que não acontecia quando esta estrutura
estava ausente. Outra consideração, feita por Eriks et al. (1993), foi em
relação à influência dos níveis flutuantes de parasitemia dos bovinos que
contribui de forma direta para taxa de infecção dos vetores. Essa
observação é importante, uma vez que colocam em evidência as demais
formas de transmissão dessas Rickettsias na epidemiologia da
Anaplasmose em bovinos (De LA FUENTE et al., 2005). Assim, a
transmissão da Anaplasmose, realizada por dípteros hematófagos, tem
sido relatada (Kocan et al., 2005). Esses vetores incluem diferentes
espécies de tabanídeos Stomoxys calcitranse algumas espécies de
mosquitos (KESSLER, 2001). Porém, Scoles et al. (2005), relatou que essa
via depende fundamentalmente da parasitemia do sangue ingerido pelo
inseto.
Evidências epidemiológicas apontam que os principais vetores
da doença em bovinos no país ainda são os carrapatos da espécie
Boophilus microplus (GUGLIELMONE, 1995). E os mecanismos de
transmissão dos agentes patogênicos por esses ectoparasitos ocorrem
através das vias transovariana, transestadial (de larvas para ninfas e de
ninfas para adultos) ou intraestadial (KESSLER, 2001; GONÇALVESRUIZ et al., 2002).
A transmissão transovariana ainda é bastante contestada na
literatura científica (RIBEIRO & LIMA, 1996; GONÇALVES-RUIZ et al.,
2002). Um estudo realizado por Moura et al. (2003), utilizando
amplificação gênica pela técnica nested-PCR, detectaram a presença
de DNA de Anaplasma na progênie de teleóginas de Boophilus
microplus avaliada. Em concordância com este estudo Shimada et al.
(2004), detectou pela mesma técnica a presença de DNA de A.
marginale tanto em larvas presentes nas pastagens quanto nas
teleóginas que realizavam o repasto sanguíneo em bezerros
assintomáticos. Porém, não se pode afirmar que ovos e larvas de B.
microplus transmitem a doença aos bovinos, apesar de estarem
infectados (KOCAN et al., 2002).
A transmissão transestadial (do estádio de larva para ninfa e de
ninfa para adulto), pode ocorrer uma vez que o carrapato, apesar se ser
um parasito monóxeno e realizar as ecdises sobre o hospedeiro,
mudam frequentemente do local de fixação do instar anterior para fixarse novamente e iniciar a fixação e repasto sanguíneo em um novo instar
(KESSLER, 2001).
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O mecanismo de transmissão intraestadial, de acordo com
Potgieter (1981), é atribuído aos carrapatos machos. Eles são
considerados um importante meio de transmissão dessas Rickettsia, e
em virtude de sua grande movimentação e longevidade funcionando
também como reservatório da doença.
O ciclo de desenvolvimento da A. marginale é coordenado com as fases
de repasto sanguíneo do carrapato, em relação à transmissão biológica.
Os eritrócitos ingeridos de animais com altos níveis de parasitemia ao
serem digeridos liberam a forma infectanteno epitélio intestinal do
carrapato vetor. As Rickettsias então invadem as células do intestino
médio do carrapato, mediada por receptores que de acordo com Davey
& George (2002) representa o primeiro determinante da competência do
vetor. Em seguida as Rickettsias sofrem replicação intracelular pelo
processo de divisão binária. O processo continua com a invasão de
outros tecidos, como as glândulas salivares onde ocorre uma nova fase
de replicação culminando com o desenvolvimento da forma infectante
da doença que representa o segundo determinante da competência do
vetor (KOCAN et al., 1993; RIBEIRO & LIMA, 1996).
Kocan et al (2004), relatou que em cada sitio de infecção, nos
tecidos do carrapato, A. marginale desenvolve-se no interior de
vacúolos formados pela invaginação da membrana da célula parasitada
ou organizados em colônias. Dentro dessas colônias a primeira forma
vista e a reticulada (vegetativa) que por sua vez, dividem-se por fissão
binária formando grandes colônias com centenas de Rickettsias. Essas
formas reticuladas evoluem paracorpos densos, que são as formas
infectantes, capazes de sobreviver fora das células do vetor por um
curto período de tempo (KOCAN et al., 2003).
Esses corpos densos são as formas infectantes da A.
marginalee são transmitidas ao hospedeiro vertebrado durante o
repasto sanguíneo. Nos bovinos, elas infectam exclusivamente os
eritrócitos e multiplicam-se por fissão binária produzindo rickttsemias
persistentes. Bovinos constantemente infectados são considerados,
dentro do rebanho, como fonte de infecção para os vetores,
favorecendo a disseminação da rickéttsia (GUGLIELMONE, 1995).
ESTRATÉGIAS DE CONTROLEDOS HEMOPARASITOS
Inúmeros esforços têm sido concentrados, nas últimas décadas,
no sentido de desenvolver técnicas mais efetivas para o controle de
III Simpósio Nacional de Bovinocultura de Leite
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hemoparasitoses. Porém, apesar dos avanços alcançados esse controle
ainda representa um grande desafio.
Os métodos profiláticos mais empregados para a erradicação
dos parasitos da TPB envolvem premunição, o controle dos vetores por
métodos químicos, biológicos e imunológicos, sendo o último, o meio
mais eficiente de controle (PALMER & MCELWAIN, 1995;
GONÇALVES, 2000).
Premunição
É um método bastante útil para o controle de hematozoários
utilizado com a finalidade de promover imunidade especialmente em
casos de animais provenientes de áreas de instabilidade enzótica e
recém introduzidos nos rebanhos. Esse método consiste primariamente
na exposição dos animais aos agentes transmissores da TPB, seguidos
de tratamento adequado com objetivo de ativar as células de defesa do
sistema imunológico do animal (KESSLER et al., 2002).
O processo é baseado na inoculação de sangue de animais
portador dos agentes da TPB em animais susceptíveis a doença,
seguido de tratamento à base de drogas específicas (GONÇALVES,
2000). De acordo com Kessler et al (1991), o método mais correto de
premunição do rebanho consiste da utilização padronizada de cada
agente (A. marginale, B. bigemina e B. bovis), com inóculos produzidos
em bezerros esplenectomizados, congelados em nitrogênio líquido com
o número de parasitos quantificados em aproximadamente 100
hemácias parasitadas. É importante manter esse número, uma vez que
o percentual de parasitos inoculados é diretamente dependente da
virulência da amostra, além de tornar previsível o período em que os
animais apresentarão os sinais clínicos da doença e a intensidade das
infecções (KESSLER et al., 1987). É visto ainda como uma maneira de
otimizar o tratamento dos animais com parasitemia, que se baseiam nos
parâmetros de medida da temperatura corpórea, parasitemia,
hematócritos, patogenicidade das amostras e por último a avaliação da
resposta imune através de testes sorológicos.
Após a primeira inoculação e recuperação dos animais é
recomendado um reforço com mais duas ou três inoculações como
forma de reforçar a imunidade adquirida. Em seguida é necessário
realizar o primeiro desafio dos animais com a infestação por carrapatos
da propriedade em que eles serão introduzidos antes de solta-los nas
pastagens. Esse procedimento é de fundamental importância em razão
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da existência da diversidade antigênica entre as amostras existentes no
país, porém deve ser feito de forma gradativa sempre seguida por
tratamento (KESSLER et al., 1991; KESSLER et al., 1987).
Foi observado que essa medida de premunição é capaz de
determinar proteção contra a infectividade por hemoparasitos da TPB,
apesar das variações entre as amostras das diferentes espécies.
Porém, ela apresenta alguns inconvenientes como alto custo e
principalmente riscos de disseminação de doenças especialmente entre
os bezerros (MENDONÇA, et al., 2002). Outra importante limitação
relatada por Kessler et al., (2002), é o risco da transmissão de outros
tipos de afecções transmissíveis através do sangue, que acometem os
bovinos, como a leucocitose bovina, a rinotraqueíte infecciosa bovina
(IBR), a diarréia viral bovina (BVD), tuberculose e leptospirose que se
tornaram endêmicas, principalmente, nos rebanhos leiteiros. Apesar dos
inconvenientes o uso desse método é recomendado, porém deve ser
associados a outros métodos de controle.
Controle químico dos vetores
As estratégias de controle químico é uma das formas mais
antigas para erradicação dos vetores causadores de doenças ao gado
leiteiro (KOCAN, 2005). São dependentes do uso de acaricidas, como
forma de controle profilático e terapêutico.
Há relatos na literatura cientifica que o primeiro método eficiente
usado no controle dos carrapatos ocorreu com produtos a base de
arsênio (DAVEY, et al., 2002). Esse foi empregado por mais de 50 anos
em vários países do mundo onde o carrapato representava uma
ameaça à bovinocultura antes da resistência ao produto químico
tornasse um problema. Como alternativa a essa droga foram criados os
organoclorados que envolvem praticamente todos os grupos químicos
de agrotóxicos existentes na atualidade, desenvolvidos para o controle
de carrapatos (RAJPUT, et al., 2006).
Essas drogas ainda são relatadas como sendo relevantes por
alguns autores, no entanto sabe-se que essa prática acarreta inúmeras
desvantagens, pois, além de dispendiosa, favorece a contaminação dos
produtos de origem animal pela produção de resíduos químicos, causa
poluição das cadeias alimentares, do meio ambiente contribuindo de
maneira significativa para o surgimento de linhagens resistentes de
III Simpósio Nacional de Bovinocultura de Leite
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hemoparasitos reduzindo o período de proteção dos animais e
aumentando o custo com o tratamento (DAVEY & GEORGE, 2002).
De acordo com Kocan (2000), a resistência dos vetores causada
pelos acaricidas é vista de forma bastante dinâmica especialmente em
carrapatos de um único hospedeiro, como os do gênero Rhipicephalus
Boophilus microplus, agentes das babesioses, fato que pode ser
justificado devido ao menor período de tempo entre as gerações de
acaris nos bovinos. A evolução da resistência desses vetores aos
acaricidas tem sido um fator determinante na busca de novas formas de
controle com maior eficácia e baixas taxas de infectividade.
Controle biológico dos vetores
As formas de controle biológico representam uma alternativa ao
emprego de produtos químicos nas pastagens. Ela é baseada na
compreensão das relações existentes entre os vetores e o meio
ambiente, principalmente durante o estágio de vida livre, sua relação
com os predadores e no possível uso de compostos naturais para
controle dos mesmos (GONZALES, 2003).
O ponto crucial para viabilidade dos ectoparasitos na fase de
vida livre está diretamente relacionado à temperatura e umidade do ar.
Dessa maneira o clima tem um papel crucial no equilíbrio das
populações desses vetores, sendo capazes de alterar de maneira
significativa o número de larvas viáveis em determinadas localidades
(GINDIN, et al., 2002).
Gonzales (2003) ao estudar o controle biológico de ectoparasitos
relatou também a efetividade de manejo na rotatividade das pastagens,
como uma estratégia que visa à diminuição de larvas infectantes. Além
disso, pode-se utilizar ainda da inserção de microorganismos
potencialmente patogênicosaos vetores da TPB nas pastagens para o
controle dos ectoparasitos como bactérias Erwinea sp que agem
produzindo infecções no trato genital das teleóginase alguns fungos
entomopatogênicos dos gêneros Beauveria e Metarhizium que já
apresentam eficácia estimada em aproximadamente 50% a 60% em
relação à viabilidade infectiva dos ectoparasitos (GINDIN, et al., 2002).
Outra importante estratégia relatada por Sonenshine (2004) seria
o uso de ferormônios de carrapatos ou a introdução de machos estéreis
entre os ectoparasitos como uma das ferramentas mais importantes de
132 - 1st International Symposium of Dairy Cattle
controle, semelhante às empregadas para o controle de alguns insetos,
as quais têm sido relatadas como sendo efetivos (RAJPUT et al., 2006).
Por fim, observa-se que um dos fatores chave nesse tipo de
controle diz respeito ao estudo da ecologia dos parasitos. Esse
representa uma das formas mais eficientes que contribui de maneira
eficaz, para a otimização, tanto dos tratamentos químicos, quanto da
manipulação ambiental e das estratégias utilizando da imunidade dos
hospedeiros, tomando como base flutuações de picos sazonais de
abundancia desses parasitos (SPICKETT, 1994).
Controle imunológicodos vetores
O uso de vacinas representa o método mais efetivo já avaliado,
tanto em função de minimizar as perdas econômicas, quanto melhorar a
qualidade de vida dos animais mantendo a produtibilidade dos mesmos
(BABIUK, 2002; ANDRÉ, 2001). Além disso, esse método é visto como
uma tecnologia promissora, alternativa aos métodos de controle
tradicionais, premunição, sendo capaz de gerar memória imunológica,
maior eficiência e segurança.
De acordo com os estudos de Schenk et al., (1993), a estratégia
de imunização é essencial, dentre outras condições, sempre que houver
a transferência de animais de uma região em que as condições
ambientais e ou químicas contribuem para a diminuição drástica dos
vetores, para outra em que o vetor permanece nas pastagens o ano
todo, ou ainda quando os mesmos são transferidos de uma região livre
dos agentes para uma região endêmica. É recomendada a vacinação
de todo o rebanho nessas condições, porém cuidados especiais devem
ser tomados em casos de animais em fase reprodutiva, e vacas
prenhes.
Diversos tipos de vacinas desenvolvidas têm sido descritas e
testadas, tanto em condições de laboratório quanto de campo, com o
propósito de aumentar a resistência dos bovinos aos agentes da TPB e
reduzir os efeitos clínicos da doença (BOCK et al., 2004). No entanto
muitas delas ainda são incapazes de induzir um grau de proteção
desejável provocado por uma infecção natural. Em resposta a isso o
controle imunológico vem sendo explorado baseado em interações do
parasito com o hospedeiro, que representa uma das formas mais
importantes de imunomanipulação. Nesse sentido, um número
crescente de moléculas protéicas provenientes tanto de extrato dos
vetores, quanto de proteínas purificadas tem sido sugerido como
III Simpósio Nacional de Bovinocultura de Leite
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antígeno em potencial ao desenvolvimento de novas vacinas. Esse tipo
de experimento já pôde ser observado nos estudos realizados por Da
Silva Vaz Júnior et al., (1998) no qual foi descrito que a taxa de
fecundidade das teleóginas alimentadas em bovinos imunizados com
ovos, larvas ou tecidos adultos de R. microplus apresentavam-se mais
baixas comparados as que alimentavam-se em bovinos não
imunizados. Esses achados levantam a importância de novos estudos
na busca de imunógenos candidatos a alvos vacinais.
IMUNIZAÇÃO CONTRA OS AGENTES DA TPB
Vacinas com cepas vivas atenuadas
O rápido desenvolvimento da biotecnologia tem proporcionado o
desenvolvimento de vacinas vivas atenuadas desde as décadas de 80 e
90. Essas passaram a representar uma alternativa ao método clássico
de premunição como forma de prevenção de agentes patogênicos aos
bovinos (BOCK et al., 2004). Essas vacinas estimulam tanto a
imunidade local quanto sistêmica e algumas são eficientes na presença
da imunidade materna (MADRUGA & ARAÚJO, 2001)
Dois tipos de vacinas trivalentes produzidas pela Hemopar
denominada Eritrovac®refrigerada e Eritrovac®N2congelada, ambas
constituídas com imunógenos vivos contendo cepas atenuadas contra
os agentes da TPB são utilizadas para imunização do rebanho no Brasil
(KESSLER; SCHENK, 1998). A primeira é distribuída pronta para o uso,
porém apresenta o inconveniente da necessidade de ser consumida em
um período de no máximo cinco dias, após sua fabricação, o que
inviabiliza testes prévios antes de sua liberação. Além disso, pode
apresentar risco do produto conter agentes virulentos e ou outros
contaminantes. Já a segunda depois de produzida, pode ser
conservada por um longo período de tempo, o que favorece o teste
prévio antes de sua liberação. Pode ser transportada para longas
distâncias e aplicada simultaneamente em um número relativamente
grande de animais sem necessidade de acompanhamento intensivo
(KESSLER et al., 2000)
Quatro anos depois da fabricação dessas vacinas, avanços
tecnológicos produzidos pela Embrapa Gado de Corte em associação
com o laboratório Hemopar – RS, possibilitou a síntese de outra vacina,
disponível no mercado com nome de Embravac – Hemopar, com um
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grau de imunogenicidade um pouco maior que as já desenvolvidas
(KESSLER, 1991).
De acordo com Sacco et al. (2001) a imunização com essas
cepas atenuadas demonstrou ser inócua imunogênica e eficiente, no
entanto devem-se considerar, ao imunizar o gado, as diversidades
fisiográficas do país e de cada região.
Apesar de haver relatos em relação a eficiência conseguida com
esse tipo de vacinação, algumas desvantagens têm sido relatadas como
a dificuldade de estoque, risco de transmissão de outras doenças
infecciosas e proteção parcial dos animais vacinados. Assim novas
tecnologias à produção de vacinas são amplamente requeridas.
Vacinas com cepas Inativas e exoantígenos
Esse tipo de vacina, composta por microorganismos mortos, vem
sendo estudado desde a década de 60, como forma de imunização do
gado contra a Babesia bovis (Mahoney, 1967). Muitos inconvenientes
têm sido relatados tanto em relação a sua produção, quanto ao
transporte e grau de imunidade conferida ao rebanho imunizado (BOCK
et al., 2004). Foi observado que bovinos inoculados com uma cepa de
parasito inativado com adjuvante completo de Freund apresentaram
apenas uma imunidade parcial, principalmente do tipo humoral e pouca
ou nenhuma imunidade celular (MAHONEY, 1967).
Desde então a comunidade científica, busca uma alternativa ao
uso dessas vacinas. Resultados promissores tem sido relatados, ao
empregarem exoantígenos provenientes do sobrenadante de cultura
celular como forma de imunização do gado leiteiro (PATARROYO, et
al., 1995). Por outro lado, vários grupos relatam que o período de
duração da imunidade conferida por esses antígenos são
consideravelmente inferiores quando comparado a imunizacao com
vacinas com cepas vivas atenuadas, inviabilizando seu uso. Porém um
achado interessante, observado por esses mesmos autores, foi que a
pré-vacinação do gado com exoantígenos homólogos administrado
antes das vacinas com cepas atenuadas, apresentavam capacidade em
reduzir riscos de reacções (JORGENSEN et al, 1993).
Novas pesquisas estão sendo realizadas na busca de novos
antígenos, inativos, como possíveis alvos vacinais. Nesse sentido
Wright et al. (1992) realizaram um sonicado de merozoítos de babesias
para que fosse possível a realização de uma abordagem empírica.
Seguindo essa mesma estratégia Brown et al. (2001) obtiveram os
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antígenos através do método de eletroforese de fluxo contínuo. Tais
métodos objetivaram encontrar alguns grupos de proteínas que
possivelmente estivessem envolvidas no processo de invasão celular
desses protozoários, além de identificarem novos imunógenos capazes
de estimular clones de células T, aprimorando o sistema de defesa dos
animais infectados (Palmer & Mcelwain, 1995).
Vacina contra o carrapato
Uma variedade de materiais antigênicos de diferentes tecidos do
carrapato Boophilus microplus vem sendo descritos durante décadas
(WILLADSEN, 2004). Dentre essas, destacam-se a identificação de
antígenos provenientes de macerados do carrapato como um todo,
antígenos larvais, extratos de antígenos das glândulas salivares,
precursores de enzimas proteolíticas, proteínas do epitélio intestinal
(Bm86, Bm91, BmA7), antígenos protéicos da vitelina e algumas
glicoproteínas dos ovos das teleóginas (BYC), das cutículas,
calreticulinas, dentre outras (DE LA FUERTA & KOCAN, 2006;
TRIMNELL et al., 2005). Os estudos desses antígenos tiveram inicio
com Willadsen et al., (1989) que isolaramglicoproteínasdas
microvilosidades do epitéliointestinalde cepasaustralianas de R.(B.)
microplus denominada Bm86.
Desde a caracterização da Bm86, a primeira vacina comercial
com um antígeno recombinante dessa glicoproteína (Bm86r),
constituída por clonagem em Eschericia coli, produzida por
pesquisadores australianos, foi liberada para consumo no ano de 1994,
comercializada como TickGARD® (Hoeschst Animal Health Austrália), e
subsequentemente determinada TickGARD Plus® (SMITH et al., 1995;
WILLADSEN et al., 1989). Dez anos depois pesquisadores cubanos,
usando o mesmo antígeno, desenvolveram nova formulação e
sintetizaram a vacina Gavac® (Heber Biotec AS, Havana, Cuba) e
Gavac Plus® atualmente comercializada em toda a América Latina
(Gárcia-Gárcia, et al., 1998).
O grau de efetividade da Gavac®, relatada por Soares et
al,(1998) conferiu uma proteção variandoentre 40% a 90%. Esses
autores utilizaram como método de avaliação a quantificação do número
de teleóginas no gado vacinado, comparado ao grupo controle, e a
mensuração do peso das fêmeas de R.(B.) microplus. Observou-se
ainda diminuição na postura e fertilidade dos ovos, com significativo
comprometimento em todos os estágios de desenvolvimento do
136 - 1st International Symposium of Dairy Cattle
parasito, e consequentemente diminuição do número de carrapatos nas
gerações subseqüentes (Rodriguez et al., 1994).
O mecanismo de ação desse imunógeno ocorre por meio da
produção de anticorpos anti-Bm86, que contribuem para alterar os
processos biológicos, e metabólicos da digestão. Durante o repasto
sanguíneo em bovinos imunizados, os parasitos ingerem também esses
anticorpos, que por sua vez, reconhecem os antígenos presentes em
suas células intestinais e os neutralizam. Esse processo culmina com
lesões irreversíveis na parede intestinal do parasito afetando o potencial
reprodutivo do mesmo. Esses danos têm efeito acumulativo sobre as
gerações de carrapatos, levando à redução da população nas
pastagens e nos animais (PRUETT et al., 2006).
Além da redução da população de carrapatos, os principais
benefícios dessa vacina incluem redução significativa da freqüência de
banhos com carrapaticidas, diminuição das doenças e mortalidade por
hemoparasitoses. Por ser um produto Biológico não ocasiona malefícios
ao homem, aos animais e ao meio-ambiente, os carrapatos não
desenvolvem resistência, e os animais aumentam a produção de leite e
carne, não havendo carência para uso dos mesmos (DE LA FUERTA &
KOCAN, 2006).
De acordo com Bock, et al., (2004) é importante desenvolver um
programa de vacinação do rebanho associado aos métodos de controle
convencionais até se chegar a um nível baixo de infestação, diminuindo
progressivamente os intervalos de uso de acaricidas. E Soares, et al,
(1998) relatou que a imunização do rebanho a cada seis meses é capaz
de garantir proteção suficiente aos animais, convivendo com
populações mínimas de parasitos, com riscos mínimos a saúde dos
mesmos.
Vacinas experimentais
Vacinas derivadas de cultura in vitro: a técnica é vista, em muitos
países, como uma alternativa à produção de antígenos contra os
agentes da TPB (MANGOLD, et al., 1996). É tida ainda como uma
valiosa ferramenta em pesquisa, no entanto, é utilizada para produção
de vacinas apenas nos países em que são encontradas dificuldades
àobtenção dessas cepas (BOCK, et al., 2004). Alguns inconvenientes
têm sidorelatados em relação à virulência ou imunogenicidade das
mesmas. Isto foi observado em relação a B. bovis, quando mantidas em
cultura por longos períodos de tempo. Esse achado foi realizado por
III Simpósio Nacional de Bovinocultura de Leite
-
137
Lew et al. (1997), que ao utilizar a técnica de PCR observou que as subpopulações de B. Bovis da cultura mudavam continuamente ao longo do
tempo. Dessa maneira, há indícios de que, a proteção conferida aos
animais imunizados com essas vacinas, provenientes de cultura em
longo prazo, não são capazes de conferir proteção viável. Contudo, não
é recomendada, a menos que se utilize técnicas de monitoração para
averiguar mudanças e testar e imunogenicidade das cepas (Bock et al.
1995).
Vacinas de Peptídeos sintéticos: novas tecnologias têm sido
desenvolvidas, tanto para o descobrimento, quanto para aplicabilidade
de peptídeos sintéticos como forma de prevenção, diagnóstico e
controle de doenças hemoparasitárias (PATARROYO; GONZÁLES,
2004). Esses peptídeossão derivados de um grupo de proteínas que de
acordo com Patarroyo & Guzman (2004), são alvos vacinais em
potencial pela sua capacidade em simular sítios antigênicos ou
receptores protéicos. Essa técnica tem se tornado mais vantajosa em
comparação as vacinas tradicionais, uma vez que têm a vantagem de
ser produzida em alta escala, a baixos custos, com alto grau de purezae
estabilidade, além de permitir a manipulação da resposta imunológica
(PATARROYO et al., 1995). Além disso, esses peptídeos se comportam
como proteínas nativas representando dessa forma, ótimos imunógenos
(PATARROYO; GONZÁLES, 2004).
Vacinas com Proteínas associadas à roptrias (RAP): Proteínas de
merozoítos íntegros ou de organelas do complexo apical, especialmente
associadas à roptrias, têm-se mostrado importantes no processo de
invasão e sobrevivência do parasitona célula hospedeira (BROWN, et
al., 1996; PALMER & McELWAIN, 1995). Além disso, Palmer et al.,
(1991) ao avaliarem diferentes isolados geográficos, já haviam
constatado que a RAP é uma das proteínas conservadase com alto
potencial imunogênico, sendo importantes no processo de imunidade
humoral e celular. Porém, essa constatação foi mais fortemente
relacionada em isolados de B. boviscomparado aos de B. bigemina
(BROWN, et al.,1996). Esta importância imunológica da RAP, segundo
Figueroa; Buening (1991) pôde ser comprovada pela inibição do
desenvolvimento in vitro da B. bovis, utilizando anticorpos monoclonais
específicos contra esse imunógeno, e pela capacidade do anticorpo
emconferir imunidade em relação às alterações de parasitismo no gado.
138 - 1st International Symposium of Dairy Cattle
Essas características da RAP a torna forte candidata a uma vacina
especialmente contra B. bovis.
Vacinas com proteínas principais de superfícies (MSPs) de
Anaplasma marginale: Uma nova geração de vacinas com
imunógenos da membrana externa desse parasito tem sido
extensivamente estudada, por sua capacidade em induzir resposta
imune protetoracontra desafio homólogo e parcialmente contra desafio
heterólogo (TEBELE & PALMER, 1991). Já foram caracterizadas seis
dessas proteínas (MSP1a; MSP1b; MSP2; MSP3; MSP4 e MSP5) como
antígenos potenciais (TEBELE et al. 1991; OBERLE et al. 1993).
Dessas a MSP1a e MSP2 vem demonstrando grande potencial
imunogênico contra isolados virulentos de A. marginale, apesar do
polimorfismo apresentada por MSP1a e da variabilidade genética de
MSP2. Estudos observaram que a resposta imune de bovinos
imunizados com MSP1a e MSP1b é do tipo humoral e os anticorpos
contra esses imunógenos neutralizam a invasão da riquétsia às células
do hospedeiro (McGarey & Allred, 1994). A MSP2, apesar de seu
polimorfismo, possui epitopos conservados entre diferentes isolados.
Tal fato foi verificado ao se constatar que células TCD4 específicas para
MSP2 reconheciam epitopos comuns a vários isoladosde A. marginale.
Desta forma a MSP2, é responsável por uma resposta humoral primária
contra as distintas regiões variáveis (Brown et al. 2001). Bovinos
imunizados com MSP3 mostraram uma resposta, frente a diversos
isolados, semelhante à resposta a MSP2 A MSP4 está presente tanto
na membrana interna quanto na membrana externa dessa riquétsia
(Palmer & McGuire 1984), codificada por gene de cópia única (Oberle et
al.1993), o seu potencial como imunógeno foi apenas parcialmente
analisado. Já a imunização com a MSP5 nativa de acordo com Tebele
et al. (1991) e Palmer et al. (1994), não conferiu proteção com isolado
homólogo de A. marginale. Dessa forma as MSPs representam
ferramentas promissoras no controle da doença
III Simpósio Nacional de Bovinocultura de Leite
-
139
Controle integrado
Para a pecuária leiteira, é necessária uma abordagem
pragmática tanto em relação aos carrapatos, quanto as doenças a eles
associadas. De todas as formas de controle de hematozoários já
abordadas, a maior efetividade ocorre quando elas são aplicadas de
forma integrada. Nesse sentido, Perry et al., (1998), relataram um
resultado significativo alcançado por meio da associação do uso
estratégico de acaricidas, exploração da estabilidade endêmica e
imunização do rebanho em condições endemicamente instáveis.
Vale ressaltar que para melhor exploração dessas medidas de
controle é de fundamental importância o conhecimento das diversas
interações que regulam a epidemiologia dos agentes da TPB no gado
leiteiro em diferentes regiões geográficas. Essa estratégia é
indispensável tanto para aplicação quanto para o desenvolvimento de
novas medidas de controle. Dessa forma consegue-se romper com a
cadeia epidemiológica desses parasitos, diminuir a morbidade e
mortalidade dos animais e consequentemente minimizar os grandes
prejuízos à pecuária leiteira.
TRATAMENTO
As formas de tratamento do gado leiteiro, infectado com os
agentes da TPB, especialmente em regiões enzóticas, devem ser
focados, sobretudo no equilíbrio entre parasito – hospedeiroe
recuperação dos sintomas clínicos da doença (FARIAS, 1995).
Para adoção de um tratamento adequado, é de fundamental
importância que os animais sejam monitorados constantemente de
maneira criteriosa, o que facilita o diagnóstico precoce da doença,
quando as lesões ainda podem ser revertidas.
Além disso, o tratamento deve ser instituído assim que a doença
for diagnosticada, atentando paraa instituição de um protocolo
adequado e por pessoal treinado. Cuidados devem ser tomados em
relação às condições metabólicas e ao peso dos animais, antes de
iniciar o tratamento. Isso é importante para adequar à dosagem dos
medicamentos, evitando desta forma, a subdosagem ou a
superdosagem. Diversas drogas são relatadas na literatura científica
como forma de minimizar os impactos sistêmicos causados pela
doença.
140 - 1st International Symposium of Dairy Cattle
A quimioterapia aos agentes da TPB pode ser direcionada
especificamente aos parasitos associada a uma terapia de suporte para
recuperação mais rápida dos animais, visando melhora do quadro
clínico da doença especialmente em animais mais debilitados. Desta
forma, o tratamento é feito com drogas de efeito babesicida (derivados
de diamidina), anaplasmicida (tetraciclinas), ou de ação dupla
(associação de diamidina com tetraciclina ou imidocarb) e nos casos
mais graves, há necessidade de uma medicação de suporte associada
a administração de drogas para melhora do quadro clinico dos animais
(FARIAS, 1995).
Quimioprofilaxia da TPB
Babesicidas derivados da Diamidina
Uma série de quimioterápicos babesicidas tem sido descritos na
literatura. No entanto, poucos são disponíveis comercialmente (De Vos
& Potgieter, 1994). Duas dessas drogas, mais amplamente
comercializadas, é o aceturato de diminazeno e dipropionato de
imidocarb, as quais podem ser usadas tanto para o tratamento da
Babesia sp. quanto para anaplasmose.
Esse complexo de drogas derivados de Diamidinas constitui na
atualidade os babesicidas mais utilizados com eficácia comprovada e
baixo nível de toxicidade para os animais. O método de atuação dessas
drogas ocorre diretamente sobre os ácidos nucléicos do protozoário,
distorcendo sua estrutura helicoidal e nas espécies de Babesia ela atua
provocando vacuolização do citoplasma, redução dos ribossomos e
dilatação da cisterna do núcleo.
Após a administração dessas drogas a parasitemia sanguínea
da B. bigemina diminui consideravelmente e em relação a B. bovis
grande parte dos parasitos é degenerada. A dose e o número de
aplicações do medicamento são dependentes da espécie causadora da
doença. Assim para a B. bigemina baixas doses e uma única aplicação
são suficientes já para B. bovis são necessárias no mínimo duas
aplicações do medicamento com intervalo de 24 horas (FARIAS, 1995).
O aceturato de diminazeno deve ser administrado na dose de
3,5 mg/kg, por via intramuscular, conferindo proteção por um período
aproximado de 2 a 4 semanas (De Vos, 1979). Já o dipropionato de
imidocarb, deve ser administrada por via subcutânea na dose de 1,2
mg/kg para tratamento das babesioses conferindo proteção contra B.
III Simpósio Nacional de Bovinocultura de Leite
-
141
bovis aproximadamente por 4 semanas e B. bigemina, por um período
de até dois meses e 3 mg/kg no caso da anaplasmose (De Vos &
Potgieter, 1994).
Em doses mais altas, foi relatado que o dipropionato de
imidocarb pode ainda ser capaz de eliminar a B. bovis e B. bigemina em
animais portadores, além de contribuir no desenvolvimento da
imunidade após vacinação dos animais (De Vos, Dalgliesh, &
McGregor, 1986).
É recomendável repetir o tratamento somente após sete dias da
primeira aplicação, não administrar o medicamento em vacas prenhes
ou que estejam produzindo leite para consumo humano (FARIAS,
1995).
Anaplasmicidas
A antibioticoterapiaé o tratamento mais eficaz no combate aos
sintomas clínicos da anaplasmose. Dentre as drogas mais utilizadas as
tetraciclinas representam o maior grupo, apresentando eficácia
comprovada contra muitas espécies de bactérias, tanto Gram-negativas
quanto positivas, e até contra alguns protozoários (Kocan, et al., 2000).
As tetraciclinas agem especificamente inibindo os ribossomos
dos procariotos (bacteriano) bloqueando receptores na subunidade
ribossomal 30s o qual se liga as tRNA durante o processo de
traduçãogênica. Dessa maneira, essas drogas conseguem inibir a
sintese de proteínas bacterianas impedindo dessa forma a replicação e
consequentemente levando a morte celular (BOCK et al., 2004).
O diagnóstico precoce e a administração da droga ainda na fase
aguda da doença,contribui para supressão das fases de multiplicação,
seguida da degeneração do parasito. Esse por sua vez, passa de uma
forma distendida, vacuolizada a uma forma bastante reduzida e
compactada com destruição gradativa das hemácias parasitadas.
A droga deve ser administrada via intramuscular, e para
controlar a infecção é necessário a dosagem de 10 mg/kg em no
mínimo duas aplicações (FARIAS, 1995).
Dos medicamentos mais conhecidos, que ainda fazem parte de
grupo das tetraciclinas, são as Clortetraciclinas e Oxitetraciclinas. Sua
importância está na capacidadeem controlar cepas resistentes com um
simples ajuste de dosagem, o que não acontece com os outros
antibióticos comumente utilizados, os quais facilmente atingem
dosagens tóxicas. A dosagem recomendada de Clortetraciclina é de 5
142 - 1st International Symposium of Dairy Cattle
mg/kg com no mínimo cinco aplicações com intervalos de 24 horas. Já
para Oxitetraciclina para um efeito de curta duração, a dosagem
recomendada de 3-5 mg/kg com aplicações diárias ou 20 mg/kg para
um efeito de longa duração em uma única aplicação é suficiente para
provocar aregressão do quadro clínico.
Medicação de Suporte
O tratamento com drogas, especialmente quando a clínica da
doença se apresenta de forma mais branda, é suficiente para reverter o
quadro clínico. No entanto, recomenda-se a hidratação por meio da
administração de um energético como o Stimovit® associado à vitamina
B12 a esses animais. E como forma de minimizar a sobrecarga hepática
causada pelo excesso de hemoglobina metabolizada é comum o uso
drogascom função hepatoprotetora,como o Antitoxil® (FARIAS, 1995).
Cuidados especiais devem ser tomados em relação à
soroterapia, especialmente quando a clínica da doença apresenta sinais
extremos. Ela se torna contra indicada especialmente em casos de
anemia grave. Pois, uma vez que nesses casos, a viscosidade
diminuída do sangue do animal somada à diminuiçãoda resistência do
fluxo nos vasos periféricos contribui para aumento o debito cardíaco e
consequentemente de sobrecarga cardíaca, podendo agravar ainda
mais o quadro clinico do animal (Kocan, et al., 2000).
Nos casos mais graves da doença, na maioria das vezes é
necessária a transfusão sanguínea, como forma de evitar que ocorra
choque hipovolêmico. Além disso, ela aumenta as possibilidades de
potencializar o efeito das drogas. O limite de sangue a ser transfundidos
é de no máximo dois litros a cada 250 Kg de peso do animal,
considerando sempre a intensidade da anemia.
Apesar de a anemia ser um dos agravantes causados pelos
agentes da TPB, não há necessidade de suprimento de ferro. Pois, na
anemia do tipo hemolítica a hemoglobina liberada é incorporada pelas
células do sistema reticulo endotelial, e o ferro liberado é reutilizado
para a formação de hemoglobina, ou armazenada no “pool” de ferritina
(FARIAS, 1995).
Podem
ainda
ser
associados
ao
tratamento
antiinflamatório/antitérmico associados a meios de controle dos
parasitos. Porém de modo geral, a eficácia do tratamento envolve o
III Simpósio Nacional de Bovinocultura de Leite
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143
diagnóstico precoce da doença e a manutenção desses agentes em
mínimas populações, incapazes dessa forma de causar infecções.
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pré-imunização e tratamento de tristeza parasitária em bovinos