COPPE/UFRJ FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS DA INDÚSTRIA TRADICIONAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS Fabrício Molica de Mendonça Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção. Orientador: Henrique Pereira da Fonseca Netto Rio de Janeiro Outubro de 2008 FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS DA INDÚSTRIA TRADICIONAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS Fabrício Molica de Mendonça TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Aprovada por: _________________________________________ Prof. Henrique Pereira da Fonseca Netto, Dr. _________________________________________ Prof. Rogério de Aragão Bastos do Valle, Dr. _________________________________________ Prof. Hamilton Carvalho Tolosa, Ph.D. _________________________________________ Prof. Cláudio Antonio Gonçalves Egler, D.Sc. _________________________________________ Prof. Mauro Borges Lemos, Ph.D. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL OUTUBRO DE 2008 ii Mendonça, Fabrício Molica Formação, desenvolvimento e estruturação de arranjos produtivos locais da indústria tradicional do Estado de Minas Gerais/ Fabrício Molica de Mendonça. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2008. XVIII, 266 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Henrique Pereira da Fonseca Netto Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia de Produção, 2008. Referencias Bibliográficas: p. 228-243. 1. Arranjos Produtivos Locais. 2. Condicionantes Territoriais. 3. Indústria Tradicional. 4. Trajetória de formação I. Fonseca Netto, Henrique Pereira da. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia de Produção. III. Titulo. iii Dedicatória Aos meus Pais Roque e Neyde, pelo amor incondicional durante toda a minha vida. Aos meus irmãos Damares e Diuliano, que sempre estiveram ao meu lado e torcem pelo meu crescimento. Aos meus tios Silmar e Nazaré, que me apoiaram sempre que puderam. iv Agradecimentos Ao Prof. Henrique Fonseca, pela confiança depositada no meu trabalho, apoio e orientação desde o meu ingresso no curso. Ao Prof. Rogério Valle, pelos ensinamentos, generosidade, amizade e apoio. À Maura Montella, pelo significado que tem na minha vida. Ao Levi, pela amizade e apoio nos momentos mais difíceis de tomada de decisão. Aos Tios Reinaldo e Regina pelo carinho com que me receberam no Rio de Janeiro, auxiliando em tudo que foi preciso para a minha instalação. Ao IEL/FIEMG do Estado de Minas Gerais por viabilizar o contato com os principais agentes de apoio e animação dos APLs estudados. A todos os profissionais das empresas e das entidades de apoio e animação que participaram do trabalho, pelo fornecimento de dados e informações necessários para a realização da pesquisa, com agradecimento especial para Carina Abritta, Wellington Doriguetto, Marcelo Gontijo, Cinthia Nobre, Eduardo Dilly. Aos amigos do SAGE, pela companhia e aprendizado, com agradecimento especial para Débora, Eduardo, Claudinha, Dejair, Rita, Paulinha, Antônio Marcos, Marília Magarão, Oswaldo, Iris, Roquemar, Saulo, Isis, Aline e Senhorinha Soyla. Aos amigos que encontrei ao longo desses últimos anos, pelo companheirismo nos momentos de lazer: Cristina, Sr Valente, D. Célia, Juliano, Geruza, Dilermando, Gabriel, Hiran, Enildo, Janete, Vinícius, Adriana, Gabriela, Márcia, Amaruri, Monique, Beatriz, Erika, Diogo, Marquinhos, Henrique, Dilma, Mirian e Zaíra. v Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.) FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURAÇÃO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS DA INDÚSTRIA TRADICIONAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS Fabrício Molica de Mendonça Outubro/ 2008 Orientador: Henrique Pereira da Fonseca Netto Programa: Engenharia de Produção. O presente estudo trata de investigação sobre os Sistemas Territoriais de Produção no âmbito de Arranjos Produtivos Locais (APLs), aprofundando questões específicas referentes à formação das firmas/empreendimentos e seu desenvolvimento em aglomerados territoriais, para mostrar como esses territórios foram estruturados de modo que se tornassem fatores de localização capazes de atrair e manter empresas relacionando entre si. Os APLs são originários de uma firma inicial verticalizada, estruturada sob a lógica funcional. Cada uma dessas empresas foi responsável por estruturar o território, dotando-o de condicionantes territoriais mínimos para a ampliação das atividades, por meio de fontes endógenas e auto-organizativas. Apesar de se poder identificar um modelo de trajetória territorial para os APLs estudados, cada APL possui características bastante específicas em relação ao número de agentes envolvidos e à forma de interação desses agentes no território. vi Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.) FORMATION, DEVELOPMENT AND STRUCTURING OF PRODUCTION CLUSTERS WITHIN TRADITIONAL INDUSTRIES IN MINAS GERAIS STATE, BRAZIL Fabrício Molica de Mendonça October / 2008 Advisor: Henrique Pereira da Fonseca Netto Department: Production Engineer. The present study discusses territorial production systems by analyzing cluster production, investigating specific issues involved in the formation of firms/ventures and how they develop into territorial clusters and showing how these territories are structured in such a way that they are able to attract and hold interrelated companies. Clusters start out with a single firm that has a vertical structure and is based on a functional logic. Each such company is responsible for structuring the territory, giving it the minimum of elements necessary to expand production activities through endogenous, self-organizing resources. Though a territorial development model could be identified for each of the production clusters under study, each cluster has very particular features, such as the number of agents involved and the way these agents interact within the territory. vii SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................ 1 PARTE I ........................................................................................................................... 7 Embasamento teórico relativo ao processo de formação de arranjos produtivos locais .. 7 CAPÍTULO 1 ................................................................................................................... 9 Redes, aglomerados produtivos e os Sistemas Produtivos Locais ................................... 9 1.1 Definição e características das redes de empresa .................................................... 9 1.2 Tipologia de rede de empresas proposta por Markusen ........................................ 11 1.2.1 Distrito Industrial Mashalliano.............................................................................. 11 1.2.2 Distrito Industrial Centro Radial (Hub and Spoke) ............................................... 13 1.2.3 Distrito Industrial Plataforma Satélite ................................................................... 14 1.2.4 Distrito Industrial Ancorado pelo Estado(state-centered) ..................................... 14 1.3 Outras tipologias envolvendo concentração espacial de firmas ............................ 15 1.3.1 As Redes Topdown e as redes flexíveis ................................................................ 15 1.3.2 Clusters Industriais ................................................................................................ 18 1.3.3 Milieux inovadores ................................................................................................ 19 1.3.4 Arranjo Produtivo Local, Sistema Produtivo e Inovativo Local e o Sistema Produtivo Local. ............................................................................................................. 20 1.3.5 A Terminologia Arranjo Produtivo Local ............................................................. 22 1.4 A concentração de empresas em aglomerações produtivas................................... 24 1.4.1 Externalidades marshallianas ................................................................................ 27 1.4.2 Externalidades schumpeterianas............................................................................ 29 1.4.3 Externalidades transacionais.................................................................................. 31 1.4.4 Externalidades institucionais ................................................................................. 33 CAPÍTULO 2 ................................................................................................................. 36 A formação dos Sistemas Produtivos Locais ................................................................. 36 2.1 Os sistemas locais de produção ............................................................................. 36 2.2 Tipologia de sistemas territoriais de produção ...................................................... 38 2.3 A formação e estruturação de sistemas locais de produção - Problemática .......... 45 PARTE II........................................................................................................................ 51 Os Arranjos Produtivos Locais das empresas de móveis e de confecções do Estado de Minas Gerais: características e funcionamento .............................................................. 51 viii CAPÍTULO 3 ................................................................................................................. 53 Aspectos metodológicos da pesquisa ............................................................................. 53 3.1. APLs Eleitos para a Pesquisa ................................................................................ 53 3.2. Tipo de pesquisa Desenvolvida ............................................................................. 55 3.3. Técnicas de coleta e análise dos dados.................................................................. 55 3.4. Desenvolvimento da pesquisa ............................................................................... 58 3.5. Limitações do estudo ............................................................................................. 62 CAPÍTULO 4 ................................................................................................................. 63 Os arranjos produtivos locais de móveis de Minas Gerais............................................. 63 4.1 Cadeia Produtiva de móveis .................................................................................. 64 4.2 A indústria moveleira no âmbito internacional, nacional e no Estado de Minas Gerais.............................................................................................................................. 65 4.3 4.2.1 Panorama Internacional .............................................................................. 65 4.2.2 Panorama Nacional..................................................................................... 66 4.2.3 Panorama de Minas Gerais ......................................................................... 69 Os Arranjos Produtivos Locais das empresas de móveis estudados em Minas Gerais.............................................................................................................................. 71 4.3.1 O APL de Ubá ............................................................................................ 71 4.3.2 O APL de Carmo do Cajuru ....................................................................... 98 CAPÍTULO 5 ............................................................................................................... 120 Os arranjos produtivos locais de confecções de Minas Gerais..................................... 120 5.1 Cadeia Produtiva Têxtil ....................................................................................... 120 5.2 A indústria de confecção no âmbito internacional, nacional e no Estado de Minas Gerais............................................................................................................................ 122 5.3 5.2.1 Panorama Internacional ............................................................................ 122 5.2.2 Panorama Nacional................................................................................... 123 5.2.3 Panorama de Minas Gerais ....................................................................... 125 Os Arranjos Produtivos Locais de empresas de confecções estudados em Minas Gerais............................................................................................................................ 127 5.3.1 O APL de Muriaé ..................................................................................... 127 5.3.2 O APL de São João Nepomuceno ............................................................ 151 PARTE III .................................................................................................................... 173 Análise da formação, desenvolvimento e estruturação de APLs da indústria tradicional, produtores de móveis e de artigos de confecção no Estado de Minas Gerais .............. 173 ix CAPÍTULO 6 ............................................................................................................... 175 Origem e evolução dos APL moveleiros e de confecção mineiros .............................. 175 6.1 Origem dos APLs mineiros ................................................................................. 175 6.2 Condicionantes territoriais de incentivo ao surgimento dos aglomerados .......... 177 6.3 A evolução e estruturação dos aglomerados produtivos mineiros ...................... 179 6.4 Modelo de formação e desenvolvimento dos APLs em Minas Gerais................ 185 Análise dos condicionantes territoriais dos APLs mineiros ......................................... 188 7.1 Análise das especificidades da produção de móveis e de confecção .................. 189 7.2 Análise comparativa dos condicionantes dos APLs de Ubá e Carmo do Cajuru 193 7.3 7.2.1 Condicionantes Marshallianos.................................................................. 193 7.2.2 Condicionantes Schumpeterianos............................................................. 196 7.2.3 Condicionantes transacionais ................................................................... 198 7.2.4 Condicionantes Institucionais................................................................... 200 Análise comparativa dos condicionantes dos APLs de Muriaé e São João Nepomuceno................................................................................................................. 201 7.4 Considerações gerais sobre os condicionantes territoriais .................................. 207 CAPÍTULO 8 ............................................................................................................... 212 Sugestões de políticas privadas e públicas para os APLs mineiros e pistas para novas pesquisas....................................................................................................................... 212 8.1 Sugestões de políticas privadas e públicas .......................................................... 212 8.1.1. Ações que extensivas a todos os APLs.................................................... 215 8.1.2. Ações Específicas para cada APL ............................................................ 216 8.1.2.1. Ações Específicas para o APL de Ubá ..................................................... 216 8.1.2.2. Ações Específicas para o APL de Carmo do Cajuru ................................ 217 8.1.2.3. Ações Específicas para o APL de Muriaé ................................................ 217 8.1.2.4. Ações Específicas para o APL de São João Nepomuceno ....................... 218 8.2 Pistas para novas pesquisas ................................................................................. 218 CONCLUSÃO.............................................................................................................. 223 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 228 ANEXO I...................................................................................................................... 244 Roteiro de entrevista usado na primeira fase da pesquisa de campo............................ 244 ANEXO II .................................................................................................................... 260 Roteiro de entrevista aplicada aos fabricantes na segunda fase da pesquisa de campo 260 x ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Tipologia de Arranjo Produtivo Local.......................................................22 Tabela 2. Fontes de coleta de dados dos APLs pesquisados .....................................57 Tabela 3. Condicionantes territoriais utilizados para analisar os APLs estudados ...61 Tabela 4. Dados Gerais da Indústria Moveleira Mundial em 2005...........................65 Tabela 5. Característica dos principais produtores mundiais de móveis...................66 Tabela 6. Número de estabelecimentos produtivos do setor moveleiro, número de trabalhadores relacionados e valor das exportações, por Estado Brasileiro ...................................................................................................67 Tabela 7. Principais Pólos Moveleiros e Potenciais no Brasil ..................................67 Tabela 8. Característica dos principais produtores nacionais de móveis ..................68 Tabela 9. Participação percentual no emprego da indústria de móveis em Minas Gerais: regiões selecionadas (2007) ..........................................................69 Tabela 10. Participação no número de estabelecimentos da indústria de móveis em Minas Gerais – regiões selecionadas (2007) .......................................70 Tabela 11. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de Ubá – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00)................................................72 Tabela 12. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes, a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de Ubá ........73 Tabela 13. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo Produtivo Local .........................................................................................88 Tabela 14. Relação de cursos de capacitação oferecidos pelo SENAI de Ubá ...........96 Tabela 15. Grupos temáticos do APL de Ubá e região e suas atribuições ..................98 Tabela 16. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de Divinópolis – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00)....................................99 Tabela 17. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de Carmo do Cajuru no período de 1999 a 2004..........................................100 Tabela 18. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo Produtivo Local .......................................................................................113 xi Tabela 19. Principais fontes de aquisição de materiais pelas empresas moveleiras de Carmo do Cajuru.................................................................................117 Tabela 20. Evolução do segmento do vestuário nos principais continentes (em bilhões de US$) .......................................................................................123 Tabela 21. Especificidades do setor do vestuário identificado no Brasil ..................124 Tabela 22. Número de estabelecimentos produtivos do setor moveleiro, número de trabalhadores relacionados por Estado Brasileiro...............................124 Tabela 23. Participação percentual no emprego da indústria do vestuário em Minas Gerais – regiões selecionadas (2007) ...........................................126 Tabela 24. Participação no número de estabelecimentos da indústria do vestuário em Minas Gerais – regiões selecionadas (2007) .....................................126 Tabela 25. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de Muriaé – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00).........................................128 Tabela 26. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de Muriaé no período de 1999 a 2004..........................................................129 Tabela 27. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo..142 Tabela 28. Resultado da participação de empresas do APL de vestuário de Muriaé em feiras especializadas...........................................................................144 Tabela 29. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, segundo microrregiões – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00) ..............................152 Tabela 30. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de São João Nepomuceno no período de 1999 a 2004........................................153 Tabela 31. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao arranjo de São João Nepomuceno........................................................................164 Tabela 32. Condicionantes territoriais favoráveis ao surgimento das pequenas empresas dos APLs estudados.................................................................178 Tabela 33. Comparação dos APLs de Ubá e Carmo do Cajuru, de acordo com a classificação de Mytelka e Farinelli ........................................................194 Tabela 34. Comparativo dos condicionantes marshallianos entre Carmo do Cajuru e Ubá........................................................................................................195 xii Tabela 35. Comparativo dos condicionantes schumpeterianos entre Carmo do Cajuru e Ubá............................................................................................197 Tabela 36. Comparativo dos condicionantes Transacionais entre Carmo do Cajuru e Ubá........................................................................................................199 Tabela 37. Comparativo dos condicionantes Institucionais entre Carmo do Cajuru e Ubá........................................................................................................201 Tabela 38. Comparação dos APLs de Muriaé e São João Nepomuceno, de acordo com a classificação de Mytelka e Farinelli..............................................202 Tabela 39. Comparativo dos condicionantes marshallianos entre Muriaé e São João Nepomuceno ...................................................................................203 Tabela 40. Comparativo dos condicionantes shumpterianos entre Muriaé e São João Nepomuceno ...................................................................................204 Tabela 41. Comparativo dos condicionantes Transacionais entre Muriaé e São João Nepomuceno ...................................................................................206 Tabela 42. Comparativo dos condicionantes Institucionais entre Muriaé e São João Nepomuceno ...................................................................................207 xiii ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Curva “U” e estratégias competitivas genéricas...........................................15 Figura 2. Curva “U” e estratégias competitivas genéricas ampliadas..........................18 Figura 3. Processos e desafios para o desenvolvimento ..............................................36 Figura 4. Tipologias dos sistemas territoriais de produção..........................................41 Figura 5. Resumo das tipologias do sistema territorial de produção ...........................44 Figura 6. Os APLs mineiros Estudados e suas respectivas áreas de abrangência .......54 Figura 7. Cadeia produtiva do setor moveleiro............................................................64 Figura 8. Estrutura do Arranjo Produtivo de móveis de Ubá ......................................80 Figura 9. Linha de produção de móveis chapeados e pintados....................................81 Figura 10. Linha de produção de móveis em madeira maciça conjugado com chapas .82 Figura 11. Linha de produção de móveis tubulares .......................................................84 Figura 12. Principais linhas de produtos do Arranjo de Ubá .........................................85 Figura 13. Destinação das vendas dos produtos do APL de Ubá ..................................89 Figura 14. Participação em feiras...................................................................................90 Figura 15. Itens terceirizados pelas empresas................................................................90 Figura 16. Serviços gerais terceirizados pelas empresas do APL..................................91 Figura 17. Tipo de relacionamento entre fabricantes e fornecedores ............................95 Figura 18. Estrutura do Arranjo Produtivo Moveleiro de Carmo do Cajuru ...............107 Figura 19. Processo produtivo de produtos em madeira maciça de Carmo do Cajuru 108 Figura 20. Linha de produção de móveis em madeira maciça conjugado com chapas109 Figura 21. As linhas de produtos fabricados pelas empresas de Carmo do Cajuru .....110 Figura 22. Destinação das vendas de móveis de Carmo do Cajuru .............................114 Figura 23. Participação em feiras pelas empresas de Carmo do Cajuru ......................114 Figura 24. Itens terceirizados e o percentual de empresas que terceirizam .................115 Figura 25. Cadeia Produtiva Têxtil – Vestuário/Confecções.......................................121 Figura 26. Estrutura do Arranjo Produtivo de Vestuário de Muriaé............................138 Figura 27. região Diagrama do processo produtivo da indústria do vestuário de Muriaé e ..............................................................................................................138 Figura 28. Principais linhas de produtos do Arranjo Produtivo de Muriaé .................139 Figura 29. Destinação das vendas dos artigos em confecção de Muriaé .....................143 Figura 30. Participação em feiras.................................................................................144 Figura 31. Estrutura do Arranjo Produtivo de Vestuário de São João Nepomuceno ..159 xiv Figura 32. Diagrama do processo produtivo da indústria do vestuário de São João Nepomuceno ..............................................................................................................160 Figura 33. Principais linhas de produtos do Arranjo Produtivo de São João Nepomuceno ..............................................................................................................161 Figura 34. Participação em feiras.................................................................................165 Figura 35. Itens terceirizados nas atividades de produção das empresas de São João Nepomuceno ..............................................................................................................166 Figura 36. Serviços gerais terceirizados pelas empresas de São João Nepomuceno...166 Figura 37. Estrutura Geral dos Arranjos Produtivos Locais ........................................185 Figura 38. Modelo de formação desenvolvimento dos APLs mineiros.......................186 xv SIGLAS E ABREVIAÇÕES USADAS ABIMÓVEL: Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário ABRAVEST: Associação Brasileira do Vestuário ACIU: Associação Comercial e Industrial de Ubá ACIUBÁ: Associação Comercial e Industrial de Ubá ACM: Associação Comercial de Muriaé. ADMR: Agência de Desenvolvimento de Muriaé e Região ADR: Agência de Desenvolvimento Regional ADUBAR: Agência de Desenvolvimento de Ubá e Região APEX: Agência de Promoção de Exportações e Investimentos APL: Arranjo Produtivo Local ASSIMODA: Associação das Indústrias de Moda BASA: Banco da Amazônia BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAD - Computer Aided Design C&T: Ciência e Tecnologia CDL: Clube de Diretores Lojistas CEAG-MG: Centro de Apoio a Pequenas e Médias Empresas de Minas Gerais CEBRAE: Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa CEF: Caixa Econômica Federal CETIQT: Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil CNI: Confederação Nacional da Indústria CONDESSC: Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Setor de Confecções CONFEX: Consórcio de Exportação de Artigos em de Confecção CTC: Cadeia Produtiva Têxtil DRMR: Delegacia Regional de Muriaé e Região EQUIPOTEL: Feira de equipamentos para hotéis e restaurantes FAGOG: Faculdade Ubaense Governador Ozanam Coelho FEMAP: Feira de Máquinas e Matérias-Primas FEMMUR: Feira de Móveis e de Máquinas de Ubá e Região FEMOCC: Feira de Móveis de Carmo do Cajuru xvi FEMUR: Feira de Móveis de Ubá e Região FENAVAM: Feira Internacional da Indústria Moveleira FENIT: Feira Nacional da Indústria Têxtil FEVEST: Feira Brasileira de Moda Íntima FIEMG: Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais GEOR: Gestão Estratégica Orientada para Resultados GREMI: Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs IBGE: Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística ICMS: Imposto sobre circulação de mercadoria e serviço IEDI – Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial IEL: Instituto Euvaldo Lodi INDI: Instituto Nacional de Desenvolvimento Industrial INTERSIND: Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Marcenaria de Ubá IPC: Índice de Preço ao Consumidor MCT: Ministério da Ciência e Tecnologia MDF: Medium-density fiberboard MDIC: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MME: Ministério de Minas e Energia MOVEXPORT: Associação dos Exportadores de Móveis de Ubá e Região P&D: Pesquisa e Desenvolvimento PIB: Produto Interno Bruto PME: Micro, Pequena e Média Empresa PRODER: Programa de Desenvolvimento e Renda RAIS/MTE: Relação Anual de Informações Sociais, Ministério do Trabalho REDESIST: Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SESI: Serviço Social da Indústria SETEX: Programa de capacitação para exportação SIF: Serviço de Investigações Florestais SINDIMOV-MG: Sindicato das Indústrias do Mobiliário e de Artefatos de Madeira no Estado de Minas Gerais SINDIVEST: Sindicato das Indústrias do Vestuário de São João Nepomuceno SMDE: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Muriaé xvii SOAC: Sindicato dos trabalhadores na Indústria de Confecções de Roupa SPILs: Sistemas Produtivos e Inovativos Locais SPL: Sistema Produtivo Local UEMG: Universidade Estadual de Minas Gerais UFJF: Universidade Federal de Juiz de Fora UFLA: Universidade Federal de Lavras UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro UFV: Universidade Federal de Viçosa UNIPAC: Universidade Presidente Antônio Carlos xviii INTRODUÇÃO As discussões sobre a importância do território como fator de desenvolvimento tem-se intensificado a partir da análise do desenvolvimento econômico ocorrido na Terceira Itália (Itália) e no Vale do Silício1 (EUA), nas décadas de 70 e 80, originado pela concentração de micro, pequenas e médias empresas organizadas na forma de redes relacionadas (PMEs), que aponta a localização como fonte de vantagens competitivas. Essas regiões apresentaram altas taxas de crescimento em relação à média regional em seus respectivos países, bem como, de outros países, num quadro de recessão econômica2. Em termos da análise espacial, houve um renovado interesse pelas idéias de Alfred Marshall3, que destacou os ganhos de eficiência decorrentes dos aglomerados produtivos, em que pequenas firmas se agrupam no que ele chamou de “distritos industriais”. Esses ganhos de eficiência se devem a externalidades positivas que geram rendimentos crescentes a partir da proximidade locacional, como aglomeração da oferta e da demanda e transbordamentos de conhecimento. Neste contexto, algumas terminologias para descrever essas manifestações territoriais surgiram, ressaltando os termos Arranjos Produtivos Locais (APLs) e Sistemas Produtivos Locais (SPLs). Apesar desses conceitos ainda serem muito discutidos, neste trabalho será usado o conceito de APLs4 desenvolvido pela Redesist5, 1 O Vale do Silício foi caracterizado pela implantação de inúmeras PMEs, especializadas em tecnologia de ponta, que trabalham num regime de produção horizontalizado, em que cada empresa se especializa em uma parte do produto. Este se constitui um dos casos de maior sucesso da indústria americana, no qual a Universidade de Stanford (Califórnia) teve papel fundamental no que tange ao incentivo à cooperação entre as firmas e promoção do dinamismo econômico da região. Segundo Mateu (2003), isso associado à existência de uma oferta razoável de insumos e serviços especializados incentivou o surgimento e desenvolvimento de pequenas firmas na região. As informações e experiências têm fluxo livre entre as firmas, o que é facilitado pelo fato de os técnicos também terem bastante mobilidade entre as firmas. 2 Outros estudos, envolvendo os Sistemas Territoriais de Produção, mostraram inúmeros casos de sucessos, em diversos países, como Baden-Wurttemberg, na Alemanha; West Jutland, na Dinamarca; Fuenlabrada, Catellón, Mondragón e o Vallés Oriental, na Espanha; Centre-Maurice, Montrèal e BoisFrancs, no Quebec, Canadá; Silicon Valley, Route 128 e partes da Grande Los Angeles, nos Estados Unidos; etc. No Brasil, ressaltam-se os casos do Vale dos Sinos/RS e Franca/SP, associados à produção calçadista, São José dos Campos/SP, à de aeronaves e Nova Friburgo, à de moda íntima. 3 Embora Marshall nunca tenha mencionado o termo espaço em seus escritos 4 “... aglomerados territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos 1 que é o mais amplo, incluindo desde arranjos mais rudimentares até os mais complexos e articulados. Além disso, o uso desse conceito não envolve juízo de valor quanto à ocorrência ou não de inovação ou mesmo se há uso sistemático de sistemas de inovação. O presente trabalho acadêmico trata de investigação, até então pouco contemplada de forma sistemática na literatura especializada, sobre os Sistemas Territoriais de Produção no âmbito de Arranjos Produtivos Locais (APLs), do tipo Distritos Marshallianos e a sua versão italiana, aprofundando questões específicas referente à formação das firmas/empreendimentos e seu desenvolvimento em aglomerados territoriais. O entendimento deste tipo de organização industrial/regional passou a ser importante na implementação de políticas de desenvolvimento de regiões e países, na busca de estratégias que visem acelerar o ganho de competitividade por meio da promoção, maturação e desenvolvimento de arranjos produtivos locais. No Brasil, no âmbito do governo federal, a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior elegeu, dentre outras medidas, o fortalecimento dos APLs como forma de contribuição ao desenvolvimento, buscando gerar capacitações, para elevar a competitividade no cenário internacional (MDIC, 2003). Os APLs aptos a serem beneficiados pelos mecanismos de política e suas instituições de apoio - BASA, SEBRAE, APEX, MDIC, MME, CEF, BNDES, IEL, etc. – foram identificados e divulgados pelo MDIC6. No âmbito dos Estados e das agências federais de desenvolvimento regional, vários deles apostam no desenvolvimento e no êxito destes sistemas territoriais de produção. Entretanto, um pacote de incentivos de uma política industrial genérica para os APLs tem apresentado dificuldades. O fato das empresas estarem agrupadas em determinado aglomerado produtivo não garante a geração de vantagens provenientes de economias externas e nem se pode afirmar que os benefícios trazidos por um determinado aglomerado territorial poderão ser obtidos em outros aglomerados. Além disso, os aglomerados são diversificados, tendo diferentes graus de desenvolvimento, de integração da cadeia produtiva, de articulação, associativismo, de integração entre os agentes e instituições locais e de capacidade para inovação. Essas diferenças são humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento” (Cassiolato & Lastres, 2003:27). 5 A Redesist – Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais - é uma rede de pesquisa interdisciplinar, que tem como foco de pesquisa os arranjos e sistemas produtivos locais. É coordenada pelo Instituto de Economia da UFRJ. Foi formalizada no ano de1997. 6 www.desenvolvimento.gov.br, acesso em 28 de janeiro de 2007. 2 resultantes de vários fatores, tais como: a evolução histórica, a organização institucional, o contexto social e cultural, a estrutura produtiva, as formas de inserção nos mercados nacional e internacional, as estruturas de governança, a logística, dos padrões de associativismo e de cooperativismo, as formas de aprendizado e de disseminação do conhecimento local, como sugere Suzigan et. al., 2005. Outra dificuldade está relacionada ao fato de que, muitas vezes, um simples aglomerado de empresas é forçosamente denominado APL para ser beneficiado por políticas públicas de apoio ao desenvolvimento do território. É sabido que, na literatura contemporânea referente a Economia Industrial, Economia Regional e Geografia Econômica, existem diversos estudos sobre Arranjos Produtivos Locais. Parte significativa desses estudos está relacionada: com avaliações ex post de características de arranjos e suas contribuições para o desenvolvimento local/regional/nacional; com a identificação de potencial de aglomerações empresariais em um setor; com o emprego de metodologias de identificação de arranjos produtivos locais, etc. Porém, há carência de estudos que busquem compreender a natureza do fenômeno, compreendendo a formação, o desenvolvimento e a estruturação desses arranjos. Entendemos que tais estudos podem contribuir para o melhor entendimento do fenômeno, bem como para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes. O avanço das metodologias de identificação e classificação de APLs, em geral, traz novas reflexões sobre este novo paradigma do desenvolvimento regional/local, mostrando que essas manifestações surgem de forma espontânea numa região, iniciadas pelo próprio ambiente local, baseado nos conhecimentos e habilidades dos agentes sociais e das empresas locais. Por isso, a natureza da organização de um APL não pode ser criada e nem imposta por lei. Eles são construídos por um processo de endogeneização no território, de dentro para fora, em cima de uma lógica territorial, levando em consideração o passado, a cultura, as relações exercidas entre empresas. Por isso, cada APL possui suas especificidades. Nesse processo de crescimento e desenvolvimento endógeno, a participação dos territórios, principalmente em relação ao espaço urbano, tem sido considerada uma questão importante, uma vez que, segundo Krugman (1991), ao avaliar a interação entre demanda, custos de transporte e rendimentos crescentes, chega à conclusão de que o empresário, ao decidir produzir, busca se localizar onde há procura elevada para determinado tipo de especialização e esse aumento da procura torna-se forte atrativo para novos produtores. Assim, um mercado urbano menos dinâmico apresentaria 3 limitações para o crescimento das firmas e, conseqüentemente, para a opção de localização, uma vez que, reduziria as possibilidades da geração das economias de escala, repercutindo no crescimento das firmas do APL. Se um mercado urbano pouco dinâmico limita e condiciona o desenvolvimento das firmas aglomeradas em espaço restrito, então, como os APLs, nesses espaços, foram estruturados dentro de uma lógica territorial, de modo que se tornassem fatores de localização capazes de atrair e manter empresas relacionadas entre si? Assim, o estudo tem como objetivo geral analisar quatro arranjos produtivos locais da indústria tradicional7, envolvendo a produção de móveis e confecções, préselecionados no Estado de Minas Gerais, de modo a identificar a trajetória empresarial e territorial desses APLs, ou seja, identificar como esses APLs se formaram, como se desenvolveram, como estão estruturados. Pergunta-se se há algum modelo de trajetória setorial e/ou territorial identificável, o que seria útil ao aprimoramento de políticas públicas direcionadas para o fortalecimento desse tipo de organização empresarial, que tem base na estruturação do território. Para atingir a finalidade proposta, o estudo envolve: a) a gênese desses APLs, por meio do levantamento do histórico de criação e desenvolvimento de cada aglomerado; b) o processo de formação desses APLs; c) o levantamento dos agentes envolvidos; d) o relacionamento entre as empresas dentro dos aglomerados; e e) os tipos de externalidades territoriais que podem estar contribuindo ou servindo de restrição para o desempenho desses APLs. O Estado de Minas Gerais foi escolhido em virtude de suas condições históricas de ocupação e a natureza técnica das primeiras indústrias que levou a um padrão disperso de localização8. Com isso, verificam-se disparidades regionais significativas, apresentando áreas industriais com nítidas diferenças de dinamismo. No Estado há 7 Segundo Kupfer (1998), a indústria tradicional é aquela que, independentemente do sistema técnico de produção adotado – contínuo ou montagem -, têm como identidade a elaboração de produtos manufaturados de menor conteúdo tecnológico, em geral, destinados ao consumo final. Correspondem a atividades que historicamente foram as primeiras a serem organizadas industrialmente, como as indústrias de alimentos, têxtil e vestuário, calçados e de móveis. 8 A antiga capital, Ouro Preto, pela ausência de entorno agrícola e de condições físico-territoriais, nunca exerceu o papel de um centro urbano com capacidade de polarizar as suas várias regiões. Belo Horizonte, só exerceu influência sobre a vida econômica do Estado a partir da década de 30. A indústria têxtil foi localizada de forma desconcentrada, em razão da existência de excedente econômico e de quedas d’água, que pudessem funcionar como fontes energéticas. A indústria siderúrgica, após várias tentativas fracassadas, foi-se localizando na Região Central do Estado, devido à disponibilidade de matérias-primas, porém de forma dispersa. A indústria de alimentos ora acompanhava a distribuição da produção agrícola, ora vinculava-se aos pequenos mercados locais das antigas cidades, criadas à época da mineração, ou às novas cidades que nasciam ou se expandiam, em função da dinâmica regional da agricultura e da pecuária(Figueiredo & Diniz, 2000). 4 microrregiões9 em depressão, estagnadas, de crescimento moderado, de rápido crescimento e de crescimento acelerado (Figueiredo & Diniz, 2000). Como conseqüência, tem apresentado desempenho econômico e social aquém do seu potencial, com altos níveis de desemprego; necessidade de investimento em infraestrutura; baixa geração de emprego dos novos, grandes e médios projetos industriais e as condições sociais precárias em grande parte do Estado (FIEMG, 1999). Porém, o Governo Estadual acredita na dinamização, dos APLs mineiros, como instrumento inovador de política de desenvolvimento regional, para solucionar tais problemas, mesmo porque, foram identificados pelo MDIC, 89 APLs, em Minas Gerais, fazendo com que este Estado ocupasse uma posição de 2º lugar, em número de APLs eleitos em território nacional. Foram escolhidos os APLs da indústria tradicional, uma vez que este tipo de aglomerado, por não nascer de uma infra-estrutura de Ciência e Tecnologia (C&T), em muitos casos, não possui formas embrionárias de coordenação e de governança. Podem entrar num círculo vicioso de estagnação ou regressão, caso não recebam apoio explícito do setor público, especialmente do poder local (Lemos et. al., 2003). Como muitos aglomerados de empresas têm sido enquadrados como APL para serem beneficiados por políticas públicas de apoio ao desenvolvimento, optou-se por restringir o estudo aos APLs de dois ramos tradicionais da indústria – moveleira e de confecção –, reconhecidos pelos governos Federal e Estadual e, ainda, que sofrem atuação do SEBRAE10 e/ou do IEL11. Foram escolhidos os seguintes APLs: APL do Pólo Moveleiro de Ubá; APL da Indústria de Móveis de Carmo do Cajuru; APL da Indústria de Confecção de Muriaé e; APL da Indústria do Vestuário de São João Nepomuceno. A comparação de APLs de um mesmo segmento contribui na identificação de diferentes fases de desenvolvimento e nas especificidades locais. No que se refere à metodologia da pesquisa, a pesquisa foi desenvolvida por meio da abordagem denominada Pesquisa Qualitativa, de cunho descritivo. O universo da pesquisa foram os próprios arranjos produtivos locais estudados. A coleta de dados 9 Os 853 municípios mineiros foram agrupados em 66 microrregiões. 10 http://www.sebrae.com.br/br/cooperecrescer/aplssebraeatua_1698.asp acessado em 28 de janeiro de 2007. 11 http://www.fiemg.com.br/content/diretoria/PublicacaoHTML.asp?cod_pai=268&cod_diretoria=268&no m_diretoria=APLs%2020Arranjos%20Produtivos%20Locais&cod_pasta_pai=&cod_publicacao=3094&PastasAbertas) acessado em 28 de janeiro de 2007 5 foi desenvolvida por meio das técnicas de pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, entrevista semi-estruturada e entrevista estruturada. A entrevista semi-estruturada foi desenvolvida de modo focalizado, tendo-se por base para o seu desenvolvimento um roteiro, elaborado em função dos itens que se desejava investigar. Já a entrevista estruturada foi desenvolvida após o estudo dos dados obtidos na fase anterior, por meio da aplicação de um questionário estruturado a amostras de empresas dos APLs. Em relação a estrutura da tese, esta foi dividida em três partes. Na parte I, composta por dois capítulos, procurou-se fazer uma revisão de literatura de modo a construir um embasamento teórico relativo ao processo de formação de Arranjos Produtivos Locais. No Capítulo 1, foram levantados as principais definições e conceitos de temas como redes de empresa, aglomerados produtivos e sistemas produtivos locais. No Capitulo 2, foram discutidos temas relacionados com a formação e estruturação de SPLs, abordando temas como: a localização e os aspectos regionais como vantagens competitivas, tipologias de sistemas territoriais de produção, o surgimento dos sistemas produtivos locais. Neste capítulo foi levantada a problemática da temática que norteia o desenvolvimento do trabalho da pesquisa. Na parte II, composta por três capítulos, procurou-se apresentar os dados coletados na pesquisa de campo envolvendo os quatro APLs. No Capítulo 3 foi descrita a metodologia do trabalho, levantando os métodos, as técnicas e limitações da pesquisa. No Capítulo 4, foram apresentados os estudos envolvendo os APLs da indústria moveleira, seguida da análise comparativa dos dois arranjos pesquisados, com base nos condicionantes territoriais levantados. No Capítulo 5, foram apresentados os estudos envolvendo os APLs da indústria de confecção, seguida da análise comparativa dos dois arranjos pesquisados, com base nos condicionantes territoriais levantados. Na parte III, composta de três capítulos, procurou-se consolidar os estudos da pesquisa de campo, envolvendo os arranjos selecionados, confirmando-se a hipótese desta tese, que em síntese encontra-se na conclusão. No Capítulo 6, foi mostrada a origem e a evolução dos APLs estudados, e, com base nesta análise, foi criado o modelo de formação e desenvolvimento destes aglomerados. No Capítulo 7, foi feita a análise dos condicionantes territoriais das correntes de pensamento Mashallianas, Shumpterianas, Transacionais e Institucionais. No Capítulo 8, foram sugeridas políticas para os APLs estudados e, ainda, foram sugeridas novas pesquisas, dando continuidade a este trabalho. 6 PARTE I Embasamento teórico relativo ao processo de formação de arranjos produtivos locais 7 Nas últimas décadas, a partir das experiências bem sucedidas de desenvolvimento econômico ocorridas na Terceira Itália e Vale do Silício, têm-se intensificado as discussões sobre a importância de manifestações territoriais, no âmbito de sistemas Produtivos Locais, como forma de organização da produção que induz o desenvolvimento local. Por isso, tais manifestações têm sido perseguidas por políticas de planejamento e desenvolvimento para incentivar sua propagação nas diversas regiões dos países. O interesse por esse tipo de organização diz respeito ao fato de que essa forma de organização industrial, desenvolvida dentro de uma lógica territorial, tem contribuído para ganhos em termos de competitividade em todo mundo, servindo como importante estratégia de sobrevivência para as micro, pequenas e médias empresas. A partir de então, houve crescente convergência entre visões de diferentes escolas de pensamento de que o foco de análise de competitividade deixasse de ser exclusivamente a firma e passasse a incidir sobre as relações entre firmas e entre estas e demais instituições dentro de um espaço restrito. A noção de competitividade incorporou fatores situados fora do âmbito das firmas, considerando-se: a) as externalidades aglomerativas, como infra-estruturas, aparato político institucional e regulatório, centros de educação e formação, mão-de-obra qualificada; b) a estrutura da indústria e organização da firma com base nas redes e oligopólio global; c) as preocupações com os aspectos relacionados com as mudanças tecnológicas e; d) os elementos não mercantis do ambiente territorial, como práticas cooperativas não formais e vínculos institucionais. Nesta primeira parte do trabalho, procurou-se fazer uma revisão bibliográfica, levantando os principais conceitos, definições e temas relacionados com as manifestações territoriais e aspectos regionais como vantagem competitiva, fornecidas pela literatura internacional. Assim, além da construção da hipótese da tese, nesta parte, foram consolidados grupos de condicionantes territoriais que serviram de base para analisar, num segundo momento, a formação, o desenvolvimento e a estruturação de Arranjos Produtivos Locais no Estado de Minas Gerais. 8 CAPÍTULO 1 Redes, aglomerados produtivos e os Sistemas Produtivos Locais 1.1 Definição e características das redes de empresa De acordo com Britto (2002), nas últimas décadas, houve diversas tendências relacionadas ao padrão evolutivo das principais economias capitalistas, tais como: a) consolidação de um paradigma organizacional, com base na experiência de empresas japonesas, incorporando novos princípios gerenciais, que enfatizam a cooperação interindustrial nas articulações entre produtores e fornecedores; b) estruturação de sistemas produtivos com base na especialização flexível; c) intensificação da concorrência e a globalização dos mercados, que resulta em estímulos a montagem de alianças estratégicas com múltiplos formatos entre empresas; d) consolidação de novas tecnologias de informação e de comunicação, que facilitam a interação entre agentes; e) evolução no sentido de uma nova sistemática de realização de atividades inovativas, crescentemente baseadas na aglutinação de múltiplas competências e em projetos cooperativos de caráter interdisciplinar; f) mudança de enfoque da política industrial implementada em diversos países, apoiando redes de empresas, em contraposição ao apoio a empresas isoladas. Em decorrência dessas mudanças, surgem as chamadas redes de firmas, em que as relações entre os participantes, freqüentemente, são pautadas por relações de longo prazo e pelo comprometimento mútuo dos parceiros com investimentos em ativos específicos e padrões operacionais compatíveis ao longo da cadeia produtiva12. Na busca pelo conceito do termo “rede”, Amato Neto (2000:46) mostrou que o conceito é muito abrangente e complexo. As diversas definições apresentadas por autores como Ribault et. al. (1995), Ceglie & Dini (1999), Podolny & Page (1998) e Wegner et. al. (2004), mostram que as redes de empresas se caracterizam como grupo de organizações 12 A cadeia produtiva é definida como um conjunto de atividades interdependentes que têm por objetivo produzir, modificar e distribuir um produto (Zylbersztain et. al., 1993). Essas atividades se articulam desde os insumos básicos até o consumidor final do produto, incluindo o processamento da matéria-prima e sua transformação, a distribuição e a comercialização do produto, constituindo os elos de uma corrente ou cadeia. As cadeias são importantes, já que são responsáveis por suprir o consumidor final de produtos em quantidade e qualidade compatíveis com suas necessidades e a preços competitivos (IEL, 2003). 9 que colaboram entre si, visando atingir objetivos comuns, por meio de relações horizontais ou verticais. Nesse sentido, Britto (2002) define redes de empresas como arranjos interorganizacionais, baseados em vínculos sistemáticos entre empresas independentes, que dão origem a uma forma particular de coordenação das atividades econômicas. Segundo o autor, a amplitude e a complexidade das interdependências entre empresas e outras organizações ou instituições tem sido caracterizadas em temas diversos, como: a) alianças estratégicas e outras formas de cooperação produtiva e tecnológica entre empresas; b) programas de cooperação específicos, envolvendo agentes com competências em áreas distintas, que interagem entre si para viabilizar determinada inovação; c) processos de subcontratação e de terceirização realizados por empresas especializadas em determinadas atividades; d) sistemas flexíveis de produção, baseados em relações estáveis e cooperativas entre empresas atuantes em determinado ramo de atividades; e) distritos industriais baseados na aglomeração espacial de empresas e outras instituições, que interagem entre si no âmbito de determinada região; f) sistemas nacionais e regionais de inovação baseados na especialização e interação de diversos tipos de agentes envolvidos, com a realização de atividades inovativas, tais como empresas, universidades, outras instituições, etc. Num primeiro momento, as redes são formadas para reduzir o risco das regiões perderem investimentos, em virtude da (re)localização de plantas produtivas e a sua eventual instalação em outras regiões com menores custos de operação (Markusen, 1996). Assim, a organização das atividades econômicas, a partir da coordenação entre empresas, pode ser uma estratégia importante para a redução da incerteza. Com o fortalecimento das relações das empresas envolvidas, a rede proporciona: competitividade, incremento na operacionalidade, investimento acessível, pesquisas, tecnologia de qualidade, certificação de qualidade e rentabilidade (Abreu, 2002). Isto mostra que a capacidade de atração de trabalho e capital de cada região ou localidade passa a depender, cada vez mais, da capacidade da região de se especializar naquilo que consiga estabelecer vantagens comparativas efetivas e dinâmicas. Essas vantagens são decorrentes do seu conjunto de elementos naturais, econômicos, sociais, culturais e políticos, complementares ou sistêmicos, associados à capacidade local de promoção continuada de sua inovação. 10 De acordo com Markusen (1996), nessa linha de raciocínio, um tipo de rede muito pesquisado se baseia na literatura sobre os novos distritos industriais, centrada na expansão de indústrias na região conhecida como Terceira Itália. A autora define um distrito industrial como uma área espacialmente delimitada, com nova orientação de atividade econômica de exportação e especialização definida, podendo ter como base recursos naturais ou certos tipos de indústria ou serviços. Nestes distritos a capacidade de atração e de retenção de investimentos está relacionada ao papel de firmas pequenas e inovadoras, articuladas em um arranjo cooperativo de âmbito e direção regionais, o que lhes dá capacidade de adaptação e de crescimento. No âmbito das discussões sobre a reorganização espacial da atividade industrial, Markusen (1996) propõe tipologias de rede de empresas, com base em distritos industriais. 1.2 Tipologia de rede de empresas proposta por Markusen A tipologia de redes de empresa, focada em Distritos Industriais, proposta por Markusen, é baseada na relação que as firmas mantêm com as outras do próprio distrito, e também com aquelas fora dele; na flexibilização do trabalho; na identificação dos trabalhadores com o distrito; na origem do mercado de trabalho; dentre outros fatores. Assim, sugere a seguinte tipologia: Distrito Marshalliano; Distrito Centro Radial; Distrito Plataforma Satélite e; Distrito Ancorado pelo Estado. 1.2.1 Distrito Industrial Mashalliano O conceito de “distrito industrial” foi retomado na década de 1980 por alguns autores, tais como Piore e Sabel (1984); Scott e Storper (1988), Storper e Scott (1989); Garofoli, (1983); Becattini, (1987), Becattini (1989); Brusco (1990); e Schmitz & Musyck (1994), em vários estudos de caso de industrialização e de desenvolvimento locais. O conceito de distritos industriais se deu primeiramente pela análise que enfocava os aspectos relativos ao desenvolvimento comum da Terceira Itália. De acordo com Markusen (1996), o distrito industrial marshalliano é formado por PMEs, em um determinado espaço, aproveitando economias externas de aglomeração. Esse tipo de distrito é encontrado em duas formas: a) na formulação original, conhecida na literatura como os Distritos Marshallianos; b) Na formulação 11 Italiana, conhecida na literatura como Distrito Industrial Italiano, que se trata de uma variação do modelo descrito por Marshall. Em sua formulação original, Marshall apresentou um padrão de organização comum à Inglaterra dos fins do século XIX, na qual pequenas firmas, concentradas na manufatura de produtos específicos de setores como têxtil, se localizavam geograficamente em aglomerações, em geral na periferia dos centros produtores. O modelo de Marshall mostra uma rede de transações entre empresas locais, aglomeradas nas proximidades das minas de carvão e fontes de água, que adquirem matérias-primas e serviços fora da região e, ainda, realiza transações comerciais com os mercados externos ao distrito. Nesse tipo de distrito, há um conjunto relativamente especializado de serviços, adequado às atividades locais: marketing, desenvolvimento de produtos e máquinas e em serviços de manutenção e reparo. Tal também inclui suporte financeiro local capaz de assumir riscos de longo-prazo, dada a confiança depositada nos empresários da região. O que torna esse distrito especial é a existência de economias externas, gerada por ganhos significativos, originado do conjunto de empresas e do desempenho individual, ressaltando a eficiência e competitividade das pequenas firmas de mesma natureza localizadas no mesmo espaço geográfico. Isso permite o desenvolvimento de identidade cultural local, uma capacidade industrial compartilhada e, ainda, um mercado de trabalho altamente flexível, uma vez que, a vinculação do trabalhador está relacionada com a região e não com a firma especialmente. Essa economia externa é responsável pela atração e manutenção de investimentos. Cabe ressaltar que, na formulação original de Marshall, não é mostrada a cooperação consciente de cada um dos atores. Contudo, nas contribuições mais recentes, a partir da década de 70, decorrentes das pesquisas sobre a experiência italiana, na região da Emília-Romana (Terceira Itália) e sobre outros casos similares na Europa e nos Estados Unidos, percebem-se esforços de cooperação conjunta entre atores locais. Essa cooperação ocorre inclusive na dimensão da construção institucional que melhoram a competitividade desses distritos. A cooperação se dá em diversas formas, sendo quase impossível classificá-las. Para Brusco (1992), as formas mais freqüentes estão relacionadas com: a) as relações de amizade, permitindo empréstimo de insumos, cooperação para complementar uma produção para atendimento a encomendas, podendo ou não ser utilizados acordos formais; b) as relações entre produtores dos bens finais e subcontratados de etapas da 12 produção, que resultam em grande parte das inovações do distrito; c) as relações entre várias empresas, com intuito de estabelecer economias de escala, requerendo um agente de coordenação de suas atividades; d) as relações com as pequenas empresas, viabilizando o uso de novas tecnologias e o alcance novos mercados. Dessa forma, segundo Markusen (1996), as principais características dos novos Distritos Mashallianos são: preponderância de pequenas empresas locais; economias de escala pouco significativas; alta relevância das transações intra-distritais; decisões de investimentos tomadas localmente; contratos e compromissos de longo-prazo entre fornecedores e consumidores-intermediários locais; relacionamento pouco relevante com firmas fora do distrito; mercado de trabalho interno à região altamente flexível; trabalhadores mais identificados com o distrito do que com as empresas; altas taxas de imigração de trabalhadores e baixas taxas de emigração; fontes locais de financiamento a longo-prazo aos novos negócios; decidida atuação dos governos locais na regulação e na promoção das principais indústrias; associações patronais fortes. 1.2.2 Distrito Industrial Centro Radial (Hub and Spoke) No Distrito Industrial do tipo Centro Radial a estrutura regional é articulada em torno de uma ou várias grandes corporações pertencentes a uma ou a algumas poucas indústrias. Neste caso, há firmas atuando como empresas-chave ou eixos de economia regional, congregando em torno de si fornecedores e outras atividades correlatas. São exemplos de Centro Radial a cidade de Toyota no Japão, Ulsan e Pohang na Coréia do Sul e São José dos Campos no Brasil. Segundo Markusen (1996), as principais características desse distrito são: estrutura econômica baseada em uma ou mais firmas verticalmente integradas; presença significativa de economias de escala; baixas taxas de renovação no rol de empresaschaves atuantes no distrito; alta densidade de transações entre as firmas-chave e fornecedores locais; investimentos mais importantes decididos no âmbito do distrito; alto grau de cooperação e de ligações com firmas dentro e fora do distrito; mercado de trabalho interno ao distrito é pouco flexível; irrelevância da cooperação entre as firmaschaves locais na assunção compartilhada de quaisquer riscos; altas taxas de imigração de trabalhadores e baixa emigração; serviços financeiros especializados; importante papel do governo local na regulação e na promoção das principais indústrias; alto grau de participação do setor público na provisão de infra-estrutura; perspectivas econômicas 13 regionais de longo-prazo dependentes dos setores industriais e das estratégias das firmas-chaves. 1.2.3 Distrito Industrial Plataforma Satélite O Distrito Industrial do tipo Plataforma Satélite é basicamente constituído de sucursais ou subdivisões de corporações multinacionais que tanto pode ter um caráter high-tech, quanto se basear em filiais atraídas por baixos salários, baixos impostos e incentivos governamentais. A estrutura econômica desse tipo de distrito é centrada em grandes firmas, cujo controle e a propriedade são externos ao distrito. Apresenta como principais características: a) economias de escala de moderadas a altas; b) poucas alterações nas empresas presentes no distrito; c) transações intra-distritais mínimas; d) decisões de investimentos tomadas fora do distrito; e) compromissos de curto prazo com fornecedores locais; f) cooperação com firmas fora do distrito; g) altas taxas de migração de trabalhadores, tanto para fora quanto para dentro do distrito; h) importância do governo local na provisão de infra-estrutura; i) perspectivas de crescimento ameaçadas pela possibilidade de transferência das filiais e de suas atividades para plataformas-satélites similares e que se mostrem mais atraentes. 1.2.4 Distrito Industrial Ancorado pelo Estado(state-centered) O Distrito Ancorado pelo Estado é formado por PMEs que estão vinculados a alguma entidade pública tais como universidades, base militar, agências governamentais, que funcionam como âncoras do desenvolvimento econômico regional. Nesse tipo de distrito as áreas de atração são o produto complexo de múltiplas forças, envolvendo estratégias empresariais, estruturas industriais, ciclos de lucros, prioridades de governos, política regional e nacional. De acordo com Markusen (1996), esse tipo de distrito tem como características: a) as relações intra-distritais são significativas entre as instituições dominantes e os seus fornecedores; b) as decisões mais importantes sobre investimentos são tomadas em diversas instâncias de governo; c) as redes de negócios são realizadas entre as instituições e as empresas fornecedoras e consumidoras locais; d) a presença de cooperação e negócios externos ao distrito; e) a presença de mercado de trabalho para 14 pessoal qualificado; f) as altas taxas de imigração de mão-de-obra; g) as perspectivas de longo prazo do distrito dependem das principais atividades públicas ou estatais locais. 1.3 Outras tipologias envolvendo concentração espacial de firmas Esta seção procura apresentar outras tipologias adotadas para explicar o fenômeno de concentração espacial das firmas em determinadas regiões. As principais definições adotadas são: Redes Topdown e redes flexíveis; Clusters Industriais, Milieu Inovadores, Arranjo Produtivo Local, Sistema Produtivo Local e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais. 1.3.1 As Redes Topdown e as redes flexíveis As tipologias apresentadas por Casarotto Filho & Pires (1998) são bem abrangentes. Para explicar estratégia competitiva voltada para PMEs, basearam no modelo desenvolvido por Porter (1986), denominado “modelo curva de U” (Figura 1). Neste modelo, Porter mostra, por meio da relação rentabilidade e fatia de mercado, que tanto a empresa que possui a menor fatia de mercado quanto a que possui a maior fatia poderão ser rentáveis, dependendo da estratégia competitiva adotada. Retorno do Investimento Ênfase no processo Ênfase no produto flexibilidade Produtos padronizados Diferenciação Liderança de custo Figura 1. Curva “U” e estratégias competitivas genéricas Parcela de mercado Fonte: Porter (1986) Do lado esquerdo da curva, a empresa pode alcançar uma boa rentabilidade por meio da diferenciação de produtos, produzindo sob encomenda ou, pelo menos, com grande flexibilidade, ou, ainda, com alta qualidade ou estilo. Essas empresas, que fabricam produtos diferenciados, conseguem fazer com que o cliente esteja disposto a 15 pagar pelo produto um preço acima do custo incorrido para produzir. Geralmente, a ênfase dessas empresas é na tecnologia de produto. Do lado direito da figura, a empresa pode alcançar boa rentabilidade por meio da liderança de custos, pela produção em larga escala, de forma padronizada, com baixo preço final, com ênfase em tecnologia de processo, exigindo maiores investimentos para manter sua posição no mercado. Neste caso, as grandes empresas conseguem produzir com custos menores do que o preço que os clientes estão dispostos a pagar. Pelo modelo, a empresa teria que escolher entre ser pequena, competindo por diferenciação de produto, ou grande, competindo por liderança de custos. As empresas de porte mediano seriam burocratizadas demais, para produzir sob medida, ou sem escala, para liderarem por custos (Porter, 1986). No entanto, com a terceirização, a parceirização, a subcontratação, a facção e outras formas de repasse da produção, criou-se a rede topdown, em que uma grande empresa – denominada empresa mãe ou empresa âncora - passa a ter uma rede de fornecedores dependentes, permitindo, assim, a competição por liderança de custos (Casarotto Filho & Pires, 1998), uma vez que existem economias de escala (Storper & Harrison, 1991). Por um lado, a organização da produção é governada pela empresa âncora, fazendo com que a empresa fornecedora seja altamente dependente das estratégias da empresa-mãe, com pouca ou nenhuma flexibilidade ou poder de influência nos destinos da rede. Por outro lado, a pequena empresa pode beneficiar-se da competência técnica da empresa principal, por meio de seus serviços de investigação técnica, de sua capacidade em matéria de organização e de alguma forma de assistência técnica (Paelinck, 1965). Os exemplos mais comuns desse tipo de rede ocorrem na indústria automobilística e na agroindústria13 (Casarotto Filho & Pires, 1998). Outro tipo de rede de empresas que passou a ter competitividade internacional foi a rede flexível, formada por micro e pequenas empresas. Neste tipo de rede, as empresas se unem, por meio de um consórcio14, para a fabricação de um produto ou 13 Algumas variações dessas redes são conhecidas como redes de subcontratação (Britto, 2002); Distrito industrial do tipo centro radial ou tipo plataforma satélite (Markussen, 1996); e redes japonesas (Robertson & Langlois,1995) 14 O consórcio gestor das redes de pequenas empresas representaria uma grande empresa em condições competitivas. O consórcio pode ser verticalizado ou horizontalizado. É dito verticalizado, se a produção dos componentes está distribuída entre os consorciados em cadeia. A montagem final pode estar com empresas consorciadas ou com uma empresa específica criada pelo próprio consórcio, como é o caso da produção dos equipamentos odontológicos e dos calçados do vale dos Sinos (RS). É dito horizontalizado, se todos fazem o mesmo produto e o consórcio administra marca, vendas, desenvolvimentos tecnológicos, monitoramento setorial, qualidade e padrões, ficando com os consorciados a produção, como é o caso do 16 parte dele, com comercialização, divulgação e assistência técnica exercidas pelas próprias empresas do consórcio. As principais características desse tipo de rede são a versatilidade e a capacidade de adaptação às novas condições ambientais e dos mercados de referência (Casarotto Filho & Pires, 1998). Nesse tipo de redes, as economias de escala são externas à firma, porém internas ao aglomerado ou à rede, permitindo a redução dos custos e a endogeneização da capacidade tecnológica (Storper & Harrison, 1991). Os exemplos mais comuns desse tipo de rede ocorrem nas indústrias de calçados, móveis, cerâmica, confecção, etc. Como exemplos de redes flexíveis, destacam-se os distritos industriais do tipo marshallianos, os distritos do tipo da Terceira Itália e os Distritos lnovativos do Tipo Venture Capital, como aqueles encontrados no Valle do Silício. Cabe ressaltar que as economias externas, segundo Rabelotti (1995), apresentam três diferentes formas: a) as estáticas, que são vinculadas à diminuição de custos proporcionada pela localização específica; b) as dinâmicas, que são vinculadas a processos espontâneos e socialmente difundidos, tais como treinamento educação, acúmulo de conhecimento e; c) as de proximidade ou de urbanização, que são derivadas dos menores custos de transação face à maior circulação de informações e ao estreitamento dos contatos pessoais. A partir da curva “U”, original de Porter, Casarotto Filho & Pires (1998) construíram a Figura 2, representando as redes topdown e flexível. A análise dessa figura mostra que a empresa pode competir das seguintes formas: a) diferenciação de produto, associado ou não a um nicho de mercado; b) liderança de custo, participando como fornecedora numa grande rede topdown; e c) flexibilidade/custo, participando de uma rede de empresas flexíveis. Em relação à coordenação dentro da estrutura industrial, Crocco et. al. (2001) mostram que, se a estrutura de uma rede é do tipo topdown, existe uma empresa central que coordenará as atividades. Porém, se a estrutura é do tipo redes de empresas, esse papel centralizador da arbitragem competição-cooperação é executado por um agente endógeno ao sistema, de modo que as empresas envolvidas não entrem em conflito, por um lado, e nem eliminem a concorrência, por outro lado. De acordo com Lemos et. al. (2003), dentro das redes flexíveis, é necessário fazer a distinção entre aquelas que surgem a partir de uma infra-estrutura de Ciência e consórcio da Batata Típica de Bologna (Casarotto Filho & Pires, 1998) e da produção de artesanatos em Minas Gerais (Abreu 2002). 17 Tecnologia (C&T) e aquelas denominadas de subsistência ou tradicionais. Enquanto os que nascem da infra-estrutura de C&T possuem formas de coordenação embrionárias e obtém ganhos transacionais do apoio explícito que recebem do setor público, as de subsistência, na maioria das vezes, não possuem formas de governança. Neste último caso, o papel de coordenação deve ser exercido por instituições públicas e/ou privadas tais como sindicatos patronais, centros de apoio às empresas e poder público local – de maneira a dar suporte organizacional às empresas participantes. Retorno do Investimento Redes flexíveis Rede topdown Ênfase no produto flexibilidade Ênfase no processo padronização Diferenciação Liderança custo Parcela de mercado Figura 2. Curva “U” e estratégias competitivas genéricas ampliadas Fonte: Casarotto Filho & Pires (2001) 1.3.2 Clusters Industriais Segundo Crocco et. al. (2001), os termos distritos industriais e clusters tem sido usados na literatura como sinônimos. Porém, alguns autores diferenciam a forma cluster da forma distrito industrial. A diferença básica é que o distrito industrial pode ser considerado um cluster localizado, baseado na especialização flexível, com forte competição cooperativa, mas com marcante concentração espacial das empresas. De acordo com Schmitz (1995), cluster é uma concentração geográfica e setorial de empresas que não pressupõe necessariamente a especialização e cooperação entre firmas. O autor mostra que um distrito industrial se constitui se um cluster alcança um desenvolvimento maior que a especialização e divisão de trabalho entre as firmas. Ou seja, quando desenvolve formas de colaboração entre os agentes econômicos locais, que levam à intensificação da produção e à sua capacidade de inovar. Porter (1998), a partir dos trabalhos feitos nos distritos industriais italianos, aprofunda o conceito de cluster para explicar os fenômenos observados. Para o autor, Clusters são concentrações geográficas de organizações e instituições de certo setor, 18 abrangendo uma rede de indústrias inter-relacionadas e outras entidades importantes para a competitividade. Eles incluem, por exemplo, suprimentos de insumos especializados, tais como componentes, maquinário e serviços, e fornecedores de infraestrutura especializada. Para Lastres & Cassiolato (2005), Cluster se refere à aglomeração territorial de empresas, com características similares. Em algumas concepções enfatiza mais o aspecto da concorrência do que o da cooperação, como fator de dinamismo. Não contempla necessariamente outros atores, além das empresas, tais como organizações de ensino, pesquisa e desenvolvimento, de apoio técnico, de financiamento e de promoção. 1.3.3 Milieux inovadores O conceito de milieu inovador foi desenvolvido pela Escola de Ciência Regional de língua francesa, por meio do Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs (GREMI) e pode ser visto como complementar a visão dos distritos italianos (Lemos, 2003). O GREMI teve o propósito de desenvolver uma metodologia comum e uma abordagem teórica que permitissem uma análise territorializada da inovação, enfocando o papel do ambiente e, mais especificamente, do milieu (lugar) no processo de desenvolvimento tecnológico (Maillat et. al.,1993). De acordo com a definição do GREMI, o milieu é constituído por um conjunto de relações que intervêm numa zona geográfica, que agrupa num todo coerente, um sistema de produção, uma cultura técnica e atores sociais. Sendo assim, o espírito da empresa, as práticas organizacionais, os comportamentos de empresas, a maneira de utilizar as técnicas e a conceituação do mercado e do know-how são, ao mesmo tempo, partes integrantes e partes constitutivas desse meio (Maillat et. al. 1993). O milieu é caracterizado por cooperações mais diretas entre os atores locais privados, públicos e coletivos. Estas cooperações que intervêm numa área geográfica determinada efetuamse geralmente sob forma de redes. A inovação é considerada o processo de integração de elementos que determinam ou favorecem a dinâmica e a transformação do sistema tecno-produtivo territorial (Gordon, 1993, Maillat, 1993). A partir dos conceitos de milieu e de inovação, o milieu inovador pode ser caracterizado pela integração de dinâmicas internas e mudanças externas. Sendo assim, Camagni (1991) define um milieu inovador como o local ou a complexa rede de 19 relações sociais em uma área geográfica limitada, que intensifica a capacidade inovativa local pelo processo de aprendizado sinergético e coletivo. O milieu inovador é um conjunto territorializado, no qual interações entre agentes econômicos desenvolvem-se pelas transações multilaterais geradoras de externalidades, específicas à inovação, e pela convergência das aprendizagens para formas cada vez mais eficientes de gestão em comum dos recursos. De acordo com Lemos (2003), a noção de milieux inovadores focaliza as relações criadas entre os diferentes agentes de uma aglomeração local, que propiciam a formação de um ambiente inovador, consideradas não apenas as relações econômicas, mas também sociais, culturais e psicológicas, inerentes a uma aglomeração específica. De acordo com esta abordagem, o milieu compreende um sistema de produção que abrange tecnologia, produção, capital e relações de mercado, envolvendo seus respectivos atores - empresas, associações sócio-profissionais regionais, universidades, centros de pesquisa, escolas e competências individuais e apoio de governos locais e regionais - e uma cultura técnica específica, partindo de um conjunto de percepções sociais, que torna possível o estabelecimento de processos de aprendizado e a expansão de conhecimento (Lemos, 2003). A abordagem do milieux inovadores insere-se num conjunto de inovações importantes no pensamento econômico, pois conduz à refletir, ao mesmo tempo, sobre o papel da mudança técnica; sobre as modalidades de coordenação e, ainda, sobre as mudanças estruturais que se operam no processo do desenvolvimento. 1.3.4 Arranjo Produtivo Local, Sistema Produtivo e Inovativo Local e o Sistema Produtivo Local. Para abranger todas as formas de aglomerações produtivas que surgem no território, a Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (REDESIST), coordenada pelo Instituto de Economia da UFRJ, utiliza três conceitos: o conceito de Arranjo Produtivo Local (APL) e o conceito de Sistemas produtivos e inovativos locais (SPILs) e o conceito de Sistema Produtivo Local (SPL). Arranjos Produtivos Locais (APLs) são “... aglomerados territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação 20 de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento (Cassiolato & Lastres, 2003:27). Já os SPILs são aqueles arranjos produtivos em que a “...interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local. Assim, consideramos que a dimensão institucional e regional constitui elemento crucial do processo de capacitação produtiva e inovativa. Diferentes contextos, sistemas cognitivos e regulatórios e forma de articulação e de aprendizado interativo entre agentes são reconhecidos como fundamentais na geração e difusão de conhecimentos e particularmente aqueles tácitos. Tais sistemas e formas de articulação podem ser tanto formais como informais(Cassiolato & Lastres, 2003:27).” Lastres & Cassiolato (2005), a partir dos conceitos de SPIL e APL, definem SPL como aqueles aglomerados produtivos ou APLs que apresentam vínculos consistentes de articulação, interação, cooperação e aprendizagem. Geralmente, envolvem a participação e a interação de empresas que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedores de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras e clientes, entre outros e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: a formação e capacitação de recursos humanos; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento. Fonseca Netto (2002) utiliza o termo Sistema Produtivo Local para definir a manifestação em sua forma territorizada. Segundo o autor, o SPL é composto por grupos de atores econômicos, políticos e sociais. Geralmente envolvem a interação de empresas produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços e consultoria, clientes, entre outros. Observa-se também a presença de instituições públicas e privadas voltadas para a formação e capacitação de recursos humanos, P&D, política, promoção e financiamento. 21 Para Mytelka & Farinelli (2000) e Lins (2000), é necessário também levar em consideração o papel das inter-relações entre os agentes envolvidos, uma vez que, a sinergia dentro dos APLs ocorre por meio das interações diversas, como parcerias público-privadas, envolvendo oferta de recursos de infra-estrutura e cooperação fornecedores-clientes. Para Abrantes e Benko (2003), o SPL designa um conjunto caracterizado pela proximidade de unidades produtivas, no sentido lato - artesanato, indústria, serviços, pesquisa -, que mantém ligações de intensidade variável conforme a organização do sistema e das instituições. Trata-se de processos econômicos coletivos localizados e de forma de organização econômica eficiente, resultante de uma construção histórica. Nesse sentido, Lefebvre (2000) afirma que APLs não se criam, mas podem ser estruturados a partir do local, com apoio de organismos existentes no Estado. 1.3.5 A Terminologia Arranjo Produtivo Local O argumento básico do conceito de APL adotado pela REDESIST é que, onde houver produção de qualquer bem ou serviço, haverá sempre um arranjo em torno da mesma, envolvendo atividades e atores relacionados à aquisição de matérias-primas, máquinas e demais insumos. Tais arranjos variarão, desde aqueles mais rudimentares àqueles mais complexos e articulados. Levando em consideração que os APLs podem apresentar diferenciações significativas, em virtude da sua capacidade dinâmica, várias tipologias foram criadas. Porém, a mais conhecida na literatura é a adaptada Mytelka & Farinelli (2000:4), que divide os APLs(cluster) em informais, organizados e inovativos (Tabela 1). Tabela 1. Tipologia de Arranjo Produtivo Local APLs Informais Existência de liderança Baixo Tamanho das firmas Micro e pequena Capacidade inovativa Pequena Confiança interna Pequena Nível tecnológico Pequena Linkages Algum Cooperação Pequena Competição Alta Novos produtos Poucos Exportação Pouca, nenhuma Fonte: adaptada de Mytelka & Farinelli (2000). APLs Organizados Baixo a Médio PME's Alguma Alta Média Algum Alguma a alta Alta Nenhum Média a Alta 22 APLs Inovativos Alto PME's e Grandes Contínua Alta Média Difundido Alta Média a Alta Alguns continuamente Alta Os APLs Informais geralmente são formados por micro e pequenas empresas, com baixo nível tecnológico, e cujos donos/administradores possuem pouca ou nenhuma capacidade e formação gerencial e administrativa. Também a mão-de-obra é pouco qualificada, sendo seu treinamento prática pouco usual. Face às pequenas ou inexistentes barreiras à entrada o número de empresas tende a ser muito grande, o que, se de um lado, proporciona uma dinâmica acentuada na geração de emprego, por outro dificulta o processo de cooperação inter-firmas. Por isso, a capacidade de mudança de patamar no que tange à capacidade de inserção dinâmica via exportações, de geração de novos processos e produtos e da própria sobrevivência a médio prazo é pequena. Os APLs Organizados são compostos geralmente por PMEs, nas quais a capacidade tecnológica encontra-se em expansão e em alguns casos muito próxima ao estado da arte em equipamentos e processos. A mão-de-obra recebe treinamento constante e a capacidade gerencial tende a se elevar com o passar do tempo. Contudo, a principal característica deste arranjo é sua capacidade de coordenação entre as empresas. A formação de redes de cooperação inter-firmas – direcionadas à provisão de infra-estrutura e serviços e ao desenvolvimento de estruturas organizacionais vinculadas à solução de problemas comuns - faz elevar, tanto a capacidade de adaptação tecnológica quanto o tempo de resposta, às mudanças do mercado. Seu principal problema parece ser a dificuldade de diversificação de seu mix setorial para atividades geradoras de inovação, com base tecnológica mais ampla e principalmente com linkages mais potentes à montante e à jusante no processo produtivo. Os APLs Inovativos são baseados em setores nos quais a capacidade inovativa é a grande chave de seu desempenho. Tem elevada capacidade gerencial e adaptativa, nível e treinamento da mão de obra acima da média, estrutura de linkages difundida, vinculação estreita ao mercado externo, além de um elevado grau de confiança e cooperação entre os agentes. Isso faz com que este tipo de arranjo produtivo detenha uma dinâmica diferenciada em relação aos anteriores. Contudo, para estes autores, a capacidade de geração de novos produtos com respostas imediatas ao mercado e a peculiaridade que faz com que, mesmo indústrias tradicionais (têxteis, móveis, móveis, etc), mas organizadas em distritos industriais, venham demonstrando dinamismo diferenciado nos países em desenvolvimento. De acordo com Mytelka & Farinelli (2000), os Informais e os Organizados são a forma predominante nos países periféricos, sendo os Inovativos a forma mais 23 encontrada nos países centrais. Para Santos et. al. (2005), os Inovativos são uma tentativa de caracterização dos distritos italianos. Desse modo, o termo APL não é visto como aglomeração em um estágio anterior de desenvolvimento, mas como um produto histórico do espaço social. Assim, alguns APLs podem não progredir necessariamente em direção a formas mais sistêmicas de organização produtiva local. Outros podem ter, ao contrário, formas organizacionais mais desenvolvidas como verdadeiros sistemas produtivos localizados, como é o caso dos APLs inovativos. Assim sendo, neste trabalho optou pelo uso da terminologia Arranjo Produtivo Local para as aglomerações setoriais regionais estudadas. Essa nomenclatura, segundo Garcez (2003), não envolve juízo de valor quanto à ocorrência ou não de inovação ou até mesmo de uma atuação sistêmica, no formato da abordagem dos sistemas de produtivos. 1.4 A concentração de empresas em aglomerações produtivas A questão do saber onde produzir com a máxima eficiência, tendo em vista a distribuição espacial dos recursos produtivos e do mercado consumidor, tornou-se importante à medida que o objetivo passou a ser o maior coeficiente possível entre o montante de lucro e os gastos necessários para sua obtenção. Dentre esses gastos, os custos de transporte e de comunicação sempre exerceram pesos significativos na escolha da melhor localização. Com estas considerações, permitiu-se o estabelecimento das teorias que buscassem explicitar os processos de concentração ou desconcentração econômica de empresas em determinadas regiões. Tais discussões têm como foco as relações que as firmas estabelecem com os espaços em que estão inseridas. Por um lado, não se consegue discutir estratégias de desenvolvimento regional sem levar em conta os fundamentos teóricos e a forma de organização das firmas, bem como seus reflexos sobre as regiões e população dos espaços em que se localiza. Por outro lado, a firma, sendo uma organização que nasce a partir da consolidação de uma economia de trocas, não consegue se organizar, produzir e comercializar, sem considerar os efeitos sofridos do espaço em que está inserida. Para mostrar como a firma afeta e é afetada pelo espaço local/regional em que atua, Polèse (1998) afirma que há desenvolvimento numa região se indivíduos fundam empresas e realizam bons negócios que perpetuam no longo prazo. Porém, para que 24 essas empresas possam desenvolver, é necessário que a região seja dotada do chamado “Espírito da Empresa” que está relacionado com quatro elementos inter-relacionados: a) Geográfico, relacionado com a presença, na região, de vantagens comparativas, tais como tamanho, estrutura de mercados, características geográficas, etc.; b) Sócioeconômico, relacionado com a proporção dos habitantes aptos a fazer negócios, considerando o grau de conhecimento desses habitantes, o nível de instrução, a escolaridade e a idade média da população; c) Sócio-cultural, relacionado com a inclinação para os negócios por parte dos habitantes; d) Institucional, relacionado com a presença de instituições que promovam crédito, assessoria, financiamento e demais intermediários indispensáveis para o bom funcionamento da empresa. Um exemplo da inter-relação entre os quatro elementos pode ser obtido por meio do seguinte raciocínio: (a) sem identificar as oportunidades por causa de fatores de difícil modificação, contidos no plano geográfico, pouca gente entra nos negócios (b) e, muitas vezes, fracassam, criando um local pouco propício para a criação de empresas. (c) Isso complica mais ainda em virtude da não presença de instituições que estejam dispostas a promover o crédito, financiamento e outras funções necessárias para o bom funcionamento da empresa. (d) Como conseqüência, o movimento de migração torna ainda menos interessante para a criação de empresas (Polèse, 1998). O processo aglomerativo provocado pelo “Espírito da Empresa”, em virtude da proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e sociais, acaba estimulando o crescimento das cidades e regiões. Isso é mostrado por Krugman (1991), defende a tese de que a implantação das firmas obedece a efeitos de feedback positivos de maneira que quanto mais se intensifica a concentração das firmas mais importante será o tamanho do mercado, e quanto mais este aumente permitirá induzir efeitos de arrastamento a montante e a jusante. Para explicar a dinâmica da localização industrial, o autor utiliza de três argumentos de Marshall. Segundo ele, a concentração de firmas: a) Permite a criação de um mercado de trabalho especializado e altamente qualificado; b) Favorece igualmente a produção de bens não-comercializáveis, nomeadamente em matéria de “segredos tecnológicos” de produção e de aprendizagem difundidos pelo meio ambiente indutor de uma verdadeira “atmosfera” industrial propícia à acessibilidade e à criação de novos conhecimentos e; c) Contribui para uma melhor circulação de informação permitindo a elaboração de funções de produção mais eficazes do que no caso das firmas isoladas. 25 Para explicar essa concentração geográfica, Krugman (1991) apresentou um modelo de desenvolvimento endógeno, de uma geografia econômica de centro-periferia, baseado na interação econômica de escala, custos de transporte e migração. Por meio deste modelo, explica a aglomeração de empresas por meio da análise da interação da demanda, rendimentos crescentes e custos de transporte, que conduzem a um processo cumulativo de divergência regional. Parte do princípio que, a produção industrial consiste num número de produtos diferenciados, cada um produzindo através de economias de escala, com uma estrutura de mercado monopolisticamente competitiva. Neste modelo, a sustentabilidade de um padrão centro-periferia é determinada pelo confronto de forças econômicas centrípetas e centrífugas. As forças centrípetas em geral representadas por linkages setoriais, mercados densos, spillovers de conhecimento e economias externas e de aglomeração, que levam à concentração espacial da atividade econômica. Essas forças são correspondentes aos encadeamentos à montante e à jusante de Hirschman (1958). Compreende tanto os fatores naturais que favorecem a localização, como fonte de matéria-prima, energia, localização de portos etc., quanto às economias externas que reforçam as vantagens do local, tais como tamanho do mercado de trabalho, ligações a montante e a jusante e transbordamentos tecnológicos, difusão de conhecimento entre empresas vizinhas e formas de aprendizagem. .As forças centrífugas são representadas pelos fatores que desestimulam a concentração industrial tais como: preços de aluguéis, poluição, custos não recuperáveis (sunk costs) e outras deseconomias externas. A aglomeração de firmas propicia os retornos crescentes no nível da produção o que diminui o custo de transporte e facilita mobilidade dos fatores, por isso, é vantajoso concentrar a produção de todos os bens em algumas localizações. Considerando o custo de transporte, a melhor localização está relacionada com a maximização do acesso dos bens aos mercados consumidores e aos ofertantes de bens intermediários, lugares onde está concentrada a população. As externalidades surgem como conseqüência das interações do mercado envolvendo economias de escala em nível da firma individual, com isso tem uma estrutura de mercado de concorrência imperfeita (Krugman, 1996). No entanto, Krugman (1991) argumenta que para compreender os determinantes da evolução de um sistema dinâmico explicativo da localização industrial é necessário levar em consideração o peso relativo dado aos parâmetros estudados por ele, tais como: demanda, economias de escala associadas à especialização, custos de transporte, forças centrípetas e centrífugas, e migrações. Esses diferentes pesos explicam por que, em 26 certos casos, a aglomeração é fruto de condições históricas iniciais de formação, como nos casos dos distritos industriais marshallianos e italianos e, em outros, fruto de modalidades de antecipação de agentes, como nos tecnopólis, nos pólos científicotecnológicos, dos parques industriais, e das Zonas de Processamento de Exportações (ZPE’s). No caso dos aglomerados produtivos, do tipo distrito marshalliano, a organização industrial não se efetua unicamente por intermédio do mercado, mas articula-se essencialmente em torno de uma série de interdependências entre firmas, veiculadas pelas economias externas ou externalidades, sendo elas mesmas o resultado da proximidade espacial (Lemos, 2003). Para Lemos et. al (2005) essas externalidades atuam como condicionantes territoriais que podem manifestar sobre o território de forma positiva, restritiva e negativa. Por isso, são consideradas como fator importante para explicar a formação, a estruturação, o crescimento e o desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais (APLs) nas regiões. Dentre os diversos tipos de externalidades15, apontadas pelos autores, serão ressaltadas, neste trabalho, as externalidades marshallianas, as externalidades schumpeterianas; as externalidades transacionais e as externalidades institucionais. De acordo com Lastres et. al. (2003), o aproveitamento das externalidades positivas geradas pela participação em APLs fortalece as chances de sobrevivência e crescimento, particularmente das PMEs, constituindo-se em importante fonte geradora de vantagens competitivas duradouras, aumentando seu potencial de alavancagem do desenvolvimento local, tanto social quanto econômico. 1.4.1 Externalidades marshallianas No tempo de Marshall, o papel das economias externas à empresa já era reconhecido como fundamental para o sucesso dos distritos industriais. A concentração de recursos humanos qualificados, infra-estrutura física e capacidade produtiva, em uma determinada região, melhoram a eficiência coletiva das empresas individuais. As economias externas derivam da disponibilidade local de fatores de produção no mercado. O crescimento da indústria como um todo permite diluir os custos fixos já investidos na economia, por um volume maior de produção. 15 Externalidades, também chamadas de economias externas, são benefícios, ganhos pelas unidades produtivas em função da expansão industrial ou de investimentos em infra-estrutura em uma região (Tigre, 2006). Ocorrem quando os benefícios provenientes da ação de uma empresa se estendem a várias outras (Montella, 2006). 27 Desse modo, as externalidades marshallianas são obtidas por vantagens aglomerativas, da escala territorial local, mas restritas aos ganhos de especializaçãolocalização. Elas são decorrentes de economias externas às firmas, mas internas à aglomeração produtiva e estão relacionadas com a forma de organização da produção. O principal condicionante territorial para seu surgimento é a capacidade de atração de atividades correlatas e complementares, capazes de estabelecerem uma cadeia produtiva localizada, de tal forma que o poder de indução inter-setorial seja internalizado na aglomeração (Lemos et. al., 2005). Krugman (1991) reconhece a importância do trabalho de Marshall na identificação de três razões distintas para localização em um mesmo espaço geográfico de uma indústria. A primeira consiste na exploração dos benefícios, tanto para as empresas como para os trabalhadores especializados, da concentração geográfica de indústrias. A segunda é referente ao baixo custo na provisão de insumos específicos. A terceira é relacionada com a maior facilidade do fluxo de informações, exprimindo as externalidades positivas oriundas dos spillovers de conhecimentos econômicos entre as firmas residentes no aglomerado produtivo. As externalidades marshallianas estão relacionadas com: a) a oferta de mão-deobra local/regional especializada, oriunda, por exemplo, de centros de aperfeiçoamento e de escolas técnicas, bem como de Universidades situadas no seio da base produtiva territorial; b) a presença de fornecedores de matérias-primas diversas disponíveis local e regionalmente, bem como de bens de capital; c) a proximidade/vizinhança de mercados, mesmo que nos últimos anos, haja tendência à queda dos custos de transportes (domésticos e internacionais); d) a disponibilidade de recursos naturais específicos localmente ou no entorno regional; e) a presença de economias de escala, que levam à implantação de um número restrito de unidades de produção (plantas industriais) operando em situação de “ótimo econômico” em um dado mercado; f) a presença de infra-estrutura física suficiente e adequada no seio da base produtiva local (energia, telecomunicação, vias de acesso por meios transportes, etc.); g) Encadeamento à jusante, à montante e horizontais extensivos no processo de produção; h) ganhos tecnológicos via transbordamentos (spillovers) de conhecimento relevante, quer seja pela mobilidade intra-distrital da força de trabalho, quer seja pela interação entre fornecedores e usuários; i) o acesso fácil à informação; (Fonseca Netto, 2002). 28 De acordo com Lemos et. al. (2005), essas externalidades marshallianas podem sofrer restrições em virtude de cadeias locais incompletas ou inexistentes. Os autores mostram duas situações de cadeias incompletas. A primeira é relacionada às redes dos tipos Centro-radial e plataforma satélite. No caso do centro radial, a integração vertical em nível do território, leva a acentuada hierarquização nas relações inter-firmas interna ao arranjo, fazendo com que as funções estratégicas como design, marketing, comercialização, desenvolvimento tecnológico, etc., sejam centralizadas na empresa âncora e, em menor extensão, nos fornecedores de primeiro nível, enquanto as atividades produtivas são descentralizadas para pequenas empresas altamente especializadas. No caso do tipo plataforma-satélite, a empresa âncora local é, em geral, uma subsidiária de uma empresa multinacional, que centraliza, em sua sede mundial, as tarefas de desenvolvimento tecnológico e concentra, no arranjo local, apenas as tarefas da esfera estrita de produção. Neste último caso, as relações inter-setoriais da cadeia local são limitadas, pois não envolvem os fornecedores de bens de capital, à montante, nem os serviços superiores de concepção de projetos básicos de engenharia e design, à jusante. A segunda é relacionada com as chamadas aglomerações produtivas informais, que não conseguem ser enquadradas, no sentido estrito, como distritos marshallianos. Essas aglomerações são formadas, geralmente, por PMEs com nível tecnológico baixo em relação à fronteira da indústria; precária capacidade de gestão; baixo nível de qualificação da força de trabalho sem sistemas contínuos de aprendizado e baixa barreira à entrada de novas firmas16. As dificuldades de verticalização inter-setorial local podem resultar em aglomerados de empresas mono-produto, com baixo nível de trocas intra-arranjo. 1.4.2 Externalidades schumpeterianas De acordo com Kupfer & Hasenclever (2002), os modelos evolucionistas enfatizam a inovação no seu modelo de competição denominado de "concorrência schumpeteriana". De acordo com Nelson & Winter (2006), algumas firmas se esforçam deliberadamente para liderar as inovações tecnológicas, enquanto outras tentam 16 Embora as baixas barreiras à entrada possam resultar em crescimento no número de firmas e no desenvolvimento de instituições de apoio dentro do aglomerado, isto não reflete, em geral, uma dinâmica positiva, como nos casos de uma progressão da capacidade de gestão; de investimentos em novas tecnologias de processo; de melhoramento da qualidade do produto; de diversificação de produtos; ou de direcionamento de parte da produção para exportações (Lemos et. al. 2005) 29 acompanhar os sucessos das líderes por meio da imitação. Para Schumpeter (1943), Possas (1996), Possas (1999) e Grassi (2004), as firmas, por meio de inovações, buscam diferenciar dos concorrentes para que possam obter lucros monopolistas ou extraordinários – acima do lucro normal conforme a linguagem neoclássica, associada ao custo de oportunidade –, realizando com isso seu intuito principal, que é a valorização do capital. Sendo assim, a busca pelo lucro de monopólio é que incentiva a inovação, fazendo com que a concorrência se torne mais eficaz. No entanto, as PMEs enfrentam problemas em relação a sua competitividade, enquanto firma individual, em virtude das dificuldades de acesso aos recursos intangíveis necessários para o seu desenvolvimento, principalmente em relação às atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), por demandar volumes consideráveis de recursos financeiros. No entanto, essa situação tende a amenizar quando essas firmas fazem parte de um aglomerado produtivo mais estruturado. Ao se inserir num aglomerado produtivo, a firma de menor porte passa a ter oportunidade de se associar a uma gama de ligações locais envolvendo usuários, produtores, setores produtores de conhecimento – tais como universidades e institutos de P&D – e setores produtores de bens e serviços da economia. Esses setores produtores do conhecimento estimulam o aprendizado e a inovação necessária para transformar as indústrias tradicionais (Nadvi, 1995; Nadvi e Schmitz, 1997; UNCTAD, 1998). No caso dos APLs, a busca pela inovação possui especificidade, pelo fato de não resultar apenas da ação individual do empresário – que visa a apropriação do sobrelucro -, mas da ação coletiva – que visa a apropriação recíproca de conhecimento disponível no aglomerado -, capturando, desta forma, um sobrelucro, via empreendedorismo coletivo. O aglomerado permite o desenvolvimento de interdependências não comercializáveis, na forma de transmissão de conhecimento tácito, não codificado e intencional. Estas interdependências adquirem sistematicidade e recorrência, pela cooperação, entendida como ação coletiva consciente dos atores, firmas e instituições de pesquisa, internas ao arranjo, que tendem a constituir redes locais de informação e conhecimento. Sabe-se também que estas redes locais não são auto-contidas e seu sucesso depende da capacidade dos agentes locais se articularem a redes externas ao arranjo, para buscarem capacitações tecnológicas complementares, que ampliem as oportunidades tecnológicas das firmas (Lemos et. al. 2005). As externalidades schumpteterianas estão relacionadas com a criação de um ambiente inovativo, caracterizado por: (a) elevado número de pessoas engajadas em 30 atividades de design e inovação e pelo elevado nível de qualificação da mão de obra; (b) recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários; (c) proximidade com universidades e centros de pesquisa; (d) presença de associações de classe e comerciais dedicadas à qualificação da força de trabalho e capacitação tecnológica das firmas, além da assistência de rotina às atividades produtivas técnicas e produtivas, comerciais e financeiras; e (e) intensa cooperação entre firmas competidoras (para compartilhar riscos e inovações e para estabilizar o mercado) e entre usuários e produtores (no desenvolvimento de produtos e processos de troca de informações, etc.) – a qual se sustenta no médio e longo prazos, pois estão baseadas em relações de confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas. 1.4.3 Externalidades transacionais De acordo com a Teoria dos Custos de Transação, o caráter crescentemente específico das transações reduz progressivamente a vantagem que o mercado oferece em termos de economia de escala, enquanto os custos derivados de negociar, redigir, implementar e verificar a execução adequada das cláusulas contratuais cresce (os custos de transação). É da comparação destes dois termos (economias de escala versus custos de transação) que sai a decisão final quanto à forma institucional mais adequada para a organização da transação: via mercado ou via estrutura hierárquica da empresa. Uma das alternativas à dicotomia mercado-hieraquia são as estruturas de governança bilaterais e os “contratos relacionais”, adequadas às situações que envolvem ativos específicos e freqüência de transação entre os agentes envolvidos. Para Lemos et. al. (2005), o sucesso destes tipos de estruturas de governança depende da continuidade do relacionamento entre as partes e do desenvolvimento de redes cooperativas. Schmitz (1997) mostra que os custos de transação podem ser reduzidos por meio da eficiência coletiva conquistada pela colaboração horizontal. A proximidade locacional das unidades produtivas favorece contatos freqüentes, formais e informais, entre o patronato, criando hábitos sociais, confiança recíproca e atenção às normas sociais. Isso acarreta reduções nos custos das negociações, envolvendo contratos de compra e venda de insumos e produtos, de serviços e de projetos. A Teoria dos Custos de Transação vê as redes de empresas como uma forma de reduzir custos, sem considerar seu potencial de cooperação para a complementação de 31 recursos e aprendizagem, como propõe a teoria da dependência dos recursos17 (Courlet & Pecquer, 1991). Para essa corrente, essas redes são consideradas como formas híbridas de governança entre a firma integrada e o mercado atomizado (Tigre, 2006). No caso dos APLs, o principal ativo são as trocas freqüentes e recorrentes de informações de conhecimento relevante entre os atores locais, principalmente em suas formas não-codificadas ou tácitas (Lemos et. al, 2005). Assim, seu âmbito transcende a tradicional dualidade entre o mercado e a empresa, localizando-se em uma esfera intermediária de coordenação. Esse espaço de coordenação não exclui nem o mercado nem a decisão individual de cada participante, mas deve incorporar a confiança mútua para se consolidar (Tigre, 2006, McCann & Arita, 2004). Nessas formas híbridas o oportunismo18 que norteia as empresas isoladas deve ser substituído por práticas baseadas em um código de confiança mútua e em reciprocidade das ações. Isso permitiria minimizar as incertezas frente ao comportamento dos parceiros comerciais em relação a variáveis como níveis de preços, quantidades, padrões de qualidade e direção tecnológica de novos produtos, permitindo melhor planejamento e redução de conflitos ao longo da cadeia produtiva (Britto, 2002). Lemos et. al. (2005) completa que, em um APL, o nível de desenvolvimento da governança local afeta as relações de mercado fora do aglomerado, especialmente as de compra de insumos e de venda de produtos finais e financeiras. O custo de transação externo ao aglomerado tende a se reduzir pari passu com a capacidade interna de governança, por meio da ação coletiva. Em geral, essas externalidades transacionais são externas às firmas, porém internas ao aglomerado produtivo (Lemos et. al., 2005) e estão relacionadas com: a) Existência de cooperação entre firmas competidoras baseada em relações de confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas por meio da utilização da colaboração horizontal; b) Existência de potencial de cooperação para complementar recursos e 17 A teoria da dependência dos recursos, que tem como base os trabalhos de Penrose (1959) sobre o crescimento da firma, parte do princípio de que a firma seria uma coleção de recursos produtivos que seriam alocados em diferentes usos ao longo do tempo, em função de decisões gerenciais. Tais recursos podem ser tangíveis - equipamentos, instalações e estoques – que são mais fáceis de serem obtidos no mercado, ou intangíveis - capacitação produtiva e tecnológica, capacidade de aprendizagem e cultura organizacional-, que dependem da eficiência da firma em adquirir, acessar e acumular recursos estratégicos. 18 Oportunismo, na Teoria dos Custos de Transação, está associado à manipulação de assimetrias de informação, visando apropriação de fluxos de lucros, então, entende-se por oportunismo a transmissão de informação seletiva, distorcida, e de promessas auto desacreditadas sobre o comportamento futuro do próprio agente, isto é, o agente em questão estabelece compromissos que ele mesmo sabe, a priori, que não irá cumprir (Fiani, 2002). 32 aprendizagem; c) Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação; d) Existência de contatos entre empresas formais e informais; e) Presença de confiança recíproca entre os atores; f) Existência de contratos mais flexíveis; g) Trocas freqüentes de informações e conhecimento entre os atores locais de forma não codificada; h) Influência da governança interna do APL em relação a facilidades para elaboração de contratos mais flexíveis; i) Contribuição da governança interna de modo a facilitar o processo de compras, vendas e marketing em conjunto. 1.4.4 Externalidades institucionais Instituições é o termo genérico que os economistas institucionais utilizam para representar o comportamento regular e padronizado das pessoas em uma sociedade, bem como as idéias e os valores associados a essas regularidades. Exemplos: as leis e os costumes que regulamentam o direito de propriedade, as práticas comerciais formalmente, codificadas ou não, vigentes nas diferentes sociedades, etc.(North, 1990). Segundo a teoria de North (1990), o ambiente econômico e social dos agentes é permeado por incerteza. Essa incerteza tem como principal conseqüência os custos de transação. Para reduzir esses custos de transação e coordenar as atividades humanas, as sociedades desenvolvem as instituições, dotadas de um continuo de regras formais e informais. O conjunto dessas regras passa a fazer parte da matriz institucional das sociedades, cuja dinâmica será sempre path dependency (Bueno, 2004). A partir dessa matriz, surgem as organizações que podem ser econômicas, sociais e políticas. Essas organizações passam a interagir entre si, com recursos econômicos e com a própria matriz institucional, sendo, portanto, responsáveis pela evolução institucional e pelo desempenho econômico das sociedades ao longo do tempo19. No caso dos aglomerados, estes podem concentrar capital humano de alta qualidade, atraindo novas empresas, que, conseqüentemente, atrairão ainda mais capital humano. Por um lado, isso permite ao trabalhador especializado manter maior independência em relação ao seu emprego atual porque tem a opção de trabalhar em empresas concorrentes. Por outro lado, a concentração de atividades confere às empresas um grau de flexibilidade em relação ao trabalhador, uma vez que torna menor a especificidade do seu capital humano. A explicação é que, geralmente, ao treinar um 19 Se em uma determinada sociedade, a matriz institucional recompensar a pirataria, as organizações piratas prosperarão. Se a matriz tem pouca ou nenhuma restrição em relação à corrupção, mais provável é que as instituições existentes passem a adotar essa prática no futuro (Bueno, 2004). 33 trabalhador, a empresa se torna mais dependente dele e, se demiti-lo, terá de incorrer novamente nos custos de treinamento. Porém, se várias empresas em um clustering, por exemplo, estão fazendo o mesmo, a empresa poderá atrair um trabalhador de outra empresa a um custo menor do que o de treinar um trabalhador novo. O resultado é que, tanto às empresas como os trabalhadores altamente qualificados, expõem-se menos ao oportunismo mútuo, reduzindo custos de transação (Bueno, 2004). Existem externalidades institucionais que são externas às firmas e aos aglomerados e outras externas às firmas e internas aos aglomerados (Lemos et. al., 2005). Neste ambiente institucional incluem-se elementos como a política macroeconômica, a burocracia, o judicial, a política industrial relacionada com o processo de difusão de tecnologia, a cultura local, o sistema de formalização por contrato, as instituições do trabalho, aos direitos da propriedade intelectual (Willianson, 1993, North, 1991; Storper, 1995, Bueno, 2004). Assim, o ambiente exerce grande influência na capacidade de sobrevivência e crescimento de um APL. O acesso a um ambiente institucional fortalecido e propício pode contribuir para a sobrevivência e o crescimento dos APLs. O fortalecimento deste ambiente pode ocorrer por meio: a) da criação de instituições que favorecem a interação entre empresas, reduzindo a assimetria de informação20 e, conseqüentemente, os custos de transação (Storper, 1995); b) da criação de aspectos culturais, estreitando laços de confiança, interação social, identidade e objetivos comuns (Piore & Sabel, 1984); c) da criação de instituições políticas e sociais de apoio, estimulando o desenvolvimento de atividades de parceria e transformando as redes em sistemas mais amplos de inovação e de produção, em nível local, regional e nacional (Best, 1990; Piore & Sabel, 1984; Morgan e Sayer, 1988; Storper e Scott, 1993); d) da redução dos custos relacionados à informação e à comunicação, reduzindo riscos associados à introdução de novos produtos e reduzindo o tempo da inovação, por meio das relações estabelecidas entre usuários e produtores (Lundval, 1988); e) do desenvolvimento de políticas voltadas para aproximar os APLs às instituições de ensino, pesquisa e agentes econômicos, permitindo oportunidades de aprendizado por interação (Tigre, 2006, Maillat & Kelbir, 1999, Cassiolato & Lastres, 2003). Porém essas externalidades institucionais podem funcionar como externalidade restritiva ou negativa. Como exemplos: a) a incerteza macroeconômica crônica pode 20 Assimetrias de informação são “diferenças nas informações que as partes envolvidas em uma transação possuem, particularmente se essa diferença afeta o resultado final da transação”(Fiani, 2002) 34 afetar o sistema de preços21 e crédito aumentando o risco da redução do preço real em virtude de períodos inflacionários; b) o impacto negativo de um regime monetário baseado em política ativa de juros reais elevados, pode inviabilizar formas de coordenação intra-arranjo produtivo, no sentido de reduzir a incerteza dos atores locais, prejudicando a tomada de decisões; c) a aprovação de legislações específicas que inviabiliza procedimentos de cooperação horizontal e vertical entre as firmas e até mesmo que afetem diretamente a concorrência, etc. Cabe ressaltar que, o ambiente não-cooperativo estimula a integração vertical, que surge como forma de isolar as atividades da firma da influência das constantes mudanças no ambiente externo. O próximo capítulo trata da formação e estruturação dos sistemas produtivos locais, abordando questões relacionadas com a localização e os aspectos regionais como vantagens competitivas, tipologias de sistemas territoriais de produção e o surgimento dos sistemas produtivos locais. No final do capítulo, são levantadas a problemática e a hipótese da tese. 21 Os Clusters, ancorados por grandes empresas, ou seja, os do tipo Topdown são menos vulneráveis aos riscos de redução de seus preços relativos, posto que os preços finais, na ponta da cadeia produtiva, são administrados por estruturas oligopolísticas (Lemos et. al , 2003). 35 CAPÍTULO 2 A formação dos Sistemas Produtivos Locais 2.1 Os sistemas locais de produção A discussão sobre os sistemas locais de produção vem adquirindo relevância na literatura econômica a partir dos anos 70, em virtude de mudanças estruturais significativas, ocorridas no ambiente competitivo das empresas (Fonseca Netto, 2002). Dentre estas, destacam-se três mudanças interligadas: a) no ambiente econômico, o processo acelerado da globalização da economia, associado à difusão das tecnologias de informação e de comunicação; b) no ambiente social, o processo de endogeneização do desenvolvimento em resposta às conseqüências da globalização da economia e, c) no ambiente político, o processo de descentralização decorrente da crise do planejamento e da intervenção regionais centralizadoras, que fortaleceu a interação de atores locais com governos estaduais e municipais (Casarotto Filho & Pires, 2001). Essas três mudanças são consideradas fundamentais para o processo de promoção do desenvolvimento, conforme mostra a Figura 3. AMBIENTES PROCESSOS Econômico DESAFIOS Globalização Social endogeneização Político Descentralização RESULTADO Competitividade Qualidade de Vida Cooperação Figura 3. Processos e desafios para o desenvolvimento Fonte: Casarotto Filho & Pires (2001) Considerando a intensificação desses três fatores – globalização, endogeneização do desenvolvimento e descentralização político-administrativa –, surge o interesse na discussão sobre a ocupação do espaço e a distribuição da riqueza, de forma a amenizar as desigualdades regionais e sociais. Tais discussões reconhecem a importância das PMEs como alternativa ou complemento ao desenvolvimento baseado em grandes empresas. As vantagens da empresa de menor porte estão associadas: a) ao 36 seu papel de “colchão de amortecimento de crises”, solucionando problemas crescentes de desemprego22. Apesar do reduzido quadro funcional de cada uma isolada, no conjunto, contribuem para uma ampla criação de novos empregos, reduzindo o fluxo migratório de pessoas que buscam oportunidades ocupacionais nos grandes centros urbanos; b) ao seu potencial de geração de novas formas de inovar, produzir e comercializar novos bens e serviços e, assim, melhor sobreviver e competir, conforme apontam alguns autores da vertente evolucionária; c) a sua maior flexibilidade no período de crises econômicas, permitindo maior estabilidade econômica e social ao país, evitando excesso de concentração de poderes em mãos de poucas empresas; e d) a seu foco no fortalecimento do espaço e das especificidades locais, com contribuição para o desenvolvimento local e regional (Lemos, 2003; Sachs, 2003; Abreu, 2002). Porém, a globalização, cada vez mais acentuada, dos mercados e da produção, pode colocar em questionamento a competitividade dessas empresas de menor porte, principalmente em virtude do grau de vulnerabilidade das mesmas. A inserção de empresas de menor porte em redes relacionadas e integradas, focadas nas inter-relações das unidades de produção, das atividades de apoio e do mercado, tem sido considerada como interessante forma de fortalecimento dessas empresas frente à concorrência internacional (Abreu, 2002; Andion, 2003). Estudos mostram que algumas formas de parcerias e alianças estratégicas se dão por meio da formação de sistemas territoriais de produção, que reúnem empresas com forte sinergia entre si, estimulando a inovação, a competitividade e a cooperação (Tigre, 2006). Dentre esses sistemas, os Arranjos Produtivos Locais (APLs) têm merecido particular atenção. O formato clássico desses APLs são os chamados distritos marshallianos, especialmente sua vertente italiana, apresentados por Markusen (1996). Esses APLs São caracterizados pela proximidade geográfica, especialização setorial, predominância de PMEs, cooperação inter-firmas, competição inter-firmas determinada pela inovação, troca de informações baseada na confiança socialmente construída, organizações de apoio ativas na oferta de serviços e parceria estreita com o setor público local (Santos et. al. 2002). 22 No Brasil, as micro e pequenas empresas, bem como as empresas familiares, assumem papel considerável para o desenvolvimento local, uma vez que essas empresas são numerosas - chegando a 3,6 milhões -, absorvem número significativo de empregos - em torno de 44% da mão-de-obra empregada com registro - e, ainda, contemplam formas de trabalhos diversas, permitindo a flexibilização (Sachs, 2003; Abreu, 2002). 37 De um modo geral, os estudos desenvolvidos em aglomerados produtivos mostram que a formação desses APLs pode trazer diversas vantagens para as unidades produtivas, tais como: a) estreitar o relacionamento entre essas unidades e os setores de produção de conhecimento, tais como as universidades e institutos de P&D, com os setores produtores e serviços da economia, estimulando o aprendizado e a inovação, necessários para transformar as indústrias tradicionais, (Nadvi, 1995; Nadvi e Schmitz, 1997; UNCTAD, 1998); b) reduzir os custos relacionados à informação e à comunicação, os riscos associados à introdução de novos produtos e o tempo para inovação, por meio das relações verticais estáveis entre usuários e produtores (Lundval, 1988); c) reduzir os custos de transação, por meio de maior eficiência coletiva e maior acesso ao mercado (Schmitz, 1997); d) obter ganhos de externalidades positivas, como a disponibilidade de mão-de-obra qualificada, de determinados tipos de infra-estrutura e de trocas informais geradoras de inovações de aprendizado (Storper, 1995; Maskell, 1996); e) obter apoio de instituições políticas e sociais, no desenvolvimento de atividades de parceria e no estímulo à transformação de tais redes em sistemas mais amplos de inovação e de produção em nível local, regional e nacional (Best, 1990; Piore & Sabel, 1984; Morgan e Sayer, 1988; Storper e Scott, 1993). Os fatores críticos do processo de desenvolvimento estão enraizados historicamente na realidade social local e não são facilmente transferíveis a outros espaços. Por isso, torna-se importante investigar a forma como esses territórios foram criados. A construção histórica de um aglomerado impacta no inter-relacionamento entre atores locais, na sua interdependência e no seu grau de autonomia na tomada de decisão e na formulação de projetos. A natureza, intensidade e a organização das relações de troca é que são determinantes para qualificar territórios de um sistema de produção Para isso, torna-se necessário conhecer as tipologias de sistemas territoriais de produção. 2.2 Tipologia de sistemas territoriais de produção Os sistemas territoriais de produção constituem espaços de relações entre a tecnologia, os mercados, o capital próprio, os “know-how”, a cultura técnica e as representações (Crevoisier e Maillat, 1989). Nestes sistemas, a natureza da atividade produtiva é, necessariamente, uma forma de ação coletiva fundada por meio de ações individuais que são interdependentes (Storper, 1995). Tais sistemas são capazes de 38 produzir uma dinâmica endógena de desenvolvimento, mantendo certa coesão, uma vez que, são animados pela interação entre atores e dinâmica de aprendizagem, presentes no meio em que estes sistemas se encontram (Becattini, 1990; Courlet, 1989; Garofoli, 1992; Planque, 1985; Tödtling, 1994; Maillat, Quévit et.Senn, 1993). Os trabalhos desenvolvidos pela REDESIST, baseados numa perspectiva evolucionista, apontam três fatores chaves que estão associados às vantagens da territorialização, decorrentes da economia da inovação e do aprendizado: a especificidade territorial – a forma em que a história do passado produtivo da localidade afeta o seu presente e as estratégias futuras; a cumulatividade no território – é o aprendizado coletivo local de conhecimento tácito que, por meio de redes internas, formais e informais, possibilita a formação de arranjos institucionais, como formas particulares de cooperação sob as regras da competição e rivalidade – e a apropriabilidade territorial – é a possibilidade criada pela aglomeração local, de ganhos privados das empresas, estabelecidos por meio de barreiras territoriais à entrada e saída. A forma e a intensidade com que esses fatores agem num território fazem com que sejam criadas características territoriais diferenciadas. Nesse sentido, Suzigan et. al. (2003) afirmam que os sistemas locais de produção podem apresentar variações em suas características, conforme sua história, evolução, organização institucional, contextos sociais e culturais nos quais se inserem, estrutura produtiva, organização industrial, formas de governança, logística, associativismo, cooperação entre agentes, formas de aprendizado e grau de disseminação do conhecimento especializado. Conhecer tais tipologias é importante, pois acabam dando suporte para a compreensão: a) do papel que o território tem na relação entre ele, as empresas e os agentes nele inseridos; b) o tipo de estrutura de empresas que tem procurado fixar nesses territórios; c) a intensidade de relação de troca existente entre os agentes d) o tipo de aprendizado predominante; e) os fatores de atração de empresas para a localidade; f) a adequação do tipo de sistema de produção ao desenvolvimento endógeno; g) os condicionantes territoriais que acabam sendo desenvolvidos neste tipo de sistema. Para identificar os tipos de sistemas territoriais de produção, Maillat (2002) e Maillat & Kelbir (1999) partiram de duas lógicas opostas: a lógica funcional e a lógica territorial. Em seguida, associaram essas lógicas a dois critérios: o grau de integração da cadeia de valor agregado e a intensidade de relações de troca entre firmas na região. As firmas que atuam segundo a lógica funcional são organizadas de maneira hierárquica, vertical, em que as decisões originam-se da direção central. Elas repartem 39 geograficamente suas diferentes funções, envolvendo concepção, produção, venda, etc., de maneira a diminuir os custos de produção relacionados com mão-de-obra, transportes, nível de fiscalização, subvenções acordadas, custos de transação por meio da internalização da produção, etc. Para essas firmas, o território desempenha um papel passivo, ou seja, funciona como um suporte ou local de passagem em que elas não estão inseridas. Como exemplos, podem ser citados as grandes firmas integradas verticalmente em que todas as funções são internalizadas; as sucursais de firmas multinacionais; e as micro e pequenas empresas atuando isoladas num espaço. As firmas que atuam segundo a lógica territorial são organizadas de maneira menos hierárquica. Geralmente, são organizadas em forma de rede, de modo mais horizontal, em que o meio orquestra o sistema (Maillat, 1998). Nesses territórios, as firmas mantêm relações de cooperação/concorrência, gerando sinergias e complementaridades necessárias ao seu funcionamento. Essa lógica implica um elo forte entre as firmas e o território de implantação, cujo objetivo está relacionado com a territorização da firma, ou seja, com sua inserção no sistema territorial de produção. O território desempenha um papel ativo, em que as firmas são enraizadas23 e contribuem para o seu enriquecimento. Como exemplos, podem ser citados grandes firmas que mantêm vínculo com as demais firmas da região, formando aglomerados, atuando como empresa âncora e as empresas de portes pequenos – micro e pequenas -, que estabelecem relações entre si, sem a presença da empresa âncora. O primeiro critério está relacionado com o grau de integração vertical das diversas atividades que contribuem para a produção de um bem, nas firmas situadas numa região. Essas atividades podem ser integradas, totalmente ou parcialmente, numa firma – apresentado forte presença de integração interna na cadeia de valor agregado na região –, ou serem repartidas entre várias firmas que também estejam estabelecidas na região – apresentando ausência de integração interna na cadeia de valor agregado na região. Esse critério permite verificar uma diferença entre os sistemas territoriais de produção, caracterizado, num extremo, por sistemas compostos de firmas isoladas ou de sucursais de grandes firmas e, num outro extremo, por grandes firmas que concentram diversas atividades produtivas, tais como pesquisa, desenvolvimento, produção e venda. O segundo critério inclui a intensidade de relações de troca entre firmas na região. Ele representa as inter-relações de natureza horizontal que se estabelecem entre 23 Esse enraizamento é o que Benhayoun et. al. (1999) chama de Ancrage Territorial 40 os diferentes atores da região tais como, empresas, organismos de pesquisa e outros. Esse critério permite distinguir, num extremo, os sistemas em que não aparece complementaridade ou interdependência entre os atores e, num outro extremo, os sistemas territoriais de produção nos quais existe uma dinâmica de interação. Essa tipologia de Maillat e Kelbir (1999) pode ser representada graficamente por meio da Figura 4 em que o primeiro critério é representado no eixo vertical e o segundo critério é representado no eixo horizontal. Presença de integração interna na cadeia de valor na região Ausência de integração interna na cadeia de valor na região Situação B Situação C Situação A Situação D Ausência de relações de troca na região Presença de relações de troca na região Figura 4. Tipologias dos sistemas territoriais de produção Fonte: Adaptado de Maillat & Kelbir (1999) A situação A é típica em regiões que apresentam ausência de integração e de territorização. Nesta situação predomina organizações horizontais, com ausência de troca entre elas e, conseqüentemente, a ausência de territorização. Este é o caso de sistemas territoriais de produção compostos por firmas que agem de maneira independente, ou seja, sem estabelecer relações entre elas. São tipicamente, pequenas firmas isoladas ou, então, sucursais de grandes firmas implantadas numa região, dependentes de uma hierarquia, situada fora da região, para todas as decisões ligadas ao desenvolvimento e à inovação. Essas firmas foram implantadas na região de acordo com uma lógica meramente funcional e, geralmente, obedecem a critérios tradicionais de localização tais como: acesso e custo da mão-de-obra, de infra-estruturas, de matérias 41 primas; de redes de transporte, etc. (Maillat & Kelbir, 1999). Muitos desses critérios de localização estão relacionados com algumas externalidades do tipo marshalliana. A situação B é típica em regiões que apresentam presença de integração, por meio da integração vertical, e ausência de territorização, em virtude da falta de relações de troca na região. Encontra-se aqui o caso da grande firma situada numa determinada região, cujas funções de produção, distribuição, marketing, etc., são inteiramente internalizadas, sem manter relações importantes, no sentido da complementaridade, com outros atores presentes na região. Tudo é produzido pela firma, desde a concepção ao condicionamento. Na realidade, a firma impõe-se ao território e à região. Muitas vezes, a firma pode estar ligada, por razões históricas, à região. O seu deslocamento ou desaparecimento pode trazer conseqüências catastróficas porque nenhuma outra atividade pode assegurar a retransmissão e a região perde recursos específicos que, por pertencerem à firma, poderão desaparecer ou deslocar com ela. Considerando os condicionantes territoriais, apresentados por Lemos et. al. (2005), percebe-se que nestas regiões, tanto os condicionantes marshallianos quanto os schumpeterianos, são fracos, em termos de território, por isso, a firma passa a utilizar da integração vertical como forma de reduzir custos de transação. A situação C é típica de regiões que apresentam presença de integração vertical e presença de relações de troca na região, permitindo assim a territorização. Trata-se de um sistema territorial de produção em que figura uma firma dominante liderando o conjunto da cadeia de valor agregado, mas que mantém relações com outros atores da região, como fornecedores, clientes, subcontratantes, centros de investigações, centros de formação. Pela externalização de certas atividades, uma dada firma suscita interdependências e manifesta sua inserção no território. A presença deste significa que a firma e seus parceiros cooperam e geram complementaridade (troca de conhecimentos, de competências, de tecnologias). Neste tipo de situação, pode-se perceber, com maior intensidade, os condicionantes territoriais locais, apresentados por Lemos et. al. (2005), que são os condicionantes Marshallianos; os condicionantes Schumpeterianos, voltados para a aprendizagem e desenvolvimento das firmas por meio de um processo evolutivo; e os condicionantes transacionais, que provocam a redução dos custos de transação, provocados pela maior interação entre as firmas. Neste caso, enquadram-se as tipologias de Markusen, relacionadas com os Distritos Industriais dos tipos: centro-radial, Plataforma-satélite e Ancorados pelo Estado. 42 A situação D é típica em regiões que apresentam ausência de integração, uma vez que predomina a organização horizontal, mas existe a presença de relações de trocas na região. Esse caso corresponde aos sistemas territoriais de produção compostos de pequenas firmas independentes e especializadas que mantém relações entre si. Em tal sistema, as interações entre os diferentes atores são reguladas pelo meio. Não existe ator dominante integrando os diferentes estágios da cadeia de valor agregado. São mecanismos de concorrência-cooperação, entre os atores complementares, que asseguram a coerência do conjunto e é o meio que organiza o sistema. Conseqüentemente, este tipo de organização é muito favorável à emergência de processos de aprendizagem. A característica destes sistemas de produção, organizados sobre uma base territorial, reside no fato de a coordenação entre as diferentes fases de produção é o resultado de um conjunto complexo de relações e regras que asseguram a coerência e a flexibilidade do conjunto (Maillat, 1998). Com efeito, o princípio organizador é o meio que age como elemento cognitivo sobre o funcionamento do sistema. Certos distritos industriais marshallianos e italianos funcionam de acordo com este princípio e podem, por conseguinte, ilustrar este caso. Neste tipo de região, existem os condicionantes territoriais locais, que além de permitirem esse tipo de organização, contribuem para que a região tenha característica diferenciada das outras regiões. Como foi visto, as firmas que funcionam segundo a lógica funcional - situações A e B - são organizadas de modo hierárquico, vertical, em que tudo se decide no nível de uma direção central. Nesses sistemas, as firmas mantêm relações com o exterior, mas no nível local, elas estabelecem pouco ou nenhuma relação. Não existe complementaridade entre as firmas e os recursos específicos não são ativados. A capacidade de desenvolvimento vem do exterior do sistema - desenvolvimento exógeno. Esses tipos de organização não favorecem o desenvolvimento endógeno porque não engendra processos de aprendizagem coletiva (Learning Interactive) na região, não desenvolvendo os recursos específicos do território (Maillat, 2002). O território desempenha papel passivo (Crevoisier, 1996). Já os sistemas territoriais de produção - situações C e D - funcionam principalmente segundo a lógica territorial. Com efeito, as firmas têm uma ligação forte com o território. Elas são organizadas em rede e estabelecem entre elas relações do tipo horizontal. O meio constitui o princípio organizador do sistema (Maillat, 1994; Maillat, 1998). Existem numerosas cooperações em parceria, pois o sistema funciona graças a uma multiplicidade de atores complementares e interdependentes movidos por 43 mecanismos endógenos de desenvolvimento. Os sistemas são muito mais autônomos que os dois precedentes, pois as firmas estão ancoradas no território. É, portanto, a partir da lógica territorial que os laços ou as redes são criados com o exterior. De acordo com esses autores, essas quatro situações – resumidas na Figura 5 não se excluem mutuamente. Na realidade os sistemas territoriais de produção sobrepõem-se. Além disso, não há nenhuma razão de considerar esta tipologia como estática, Pelo contrário, pode haver passagem de uma situação a outra: a) As sucursais das grandes firmas da situação A não são territorizadas, pois não mantêm relações com outras firmas da região, mas, como estratégia da organização geral, elas podem adquirir firmas, tanto a montante quanto a jusante, por meio de um processo de integração vertical, passando para a situação B; Presença de integração interna na cadeia de valor na região Ausência de integração interna na cadeia de valor na região Situação B • Presença de integração inter-firmas • Ausência de territorização • Presença da grande empresa vertical com funções internalizadas • A empresa impõe-se ao território • O desaparecimento da empresa pode trazer conseqüências catastróficas; • Não é favorável ao desenvolvimento endógeno • Não externaliza o conhecimento • Território desempenha papel passivo Situação A • Ausência de integração inter-firmas • Ausência de territorização • Predominância por organizações horizontais • Presença de pequenas empresas independentes e/ou sucursais de grandes empresas • Não engendra processos de aprendizagem • Território desempenha papel passivo Situação C • Presença de integração inter-firmas • Presença de territorização • A empresa dominante mantém relações com outros atores da região • As empresas cooperam e se complementam • Grande empresa manifesta ancoragem no território; • Há redes de interdependência com regras e códigos do meio • Leva ao desenvolvimento endógeno • Território desempenha papel ativo • • • • • • • • Situação D Ausência de integração inter-firmas Presença de territorização Predominância por organizações horizontais Favorável à emergência de processos de aprendizagem Presença de regras e relações que asseguram a flexibilidade do conjunto Ocorrem em distritos industriais Dispõem de capacidade endógena Território desempenha papel ativo Ausência de relações de troca na região Presença de relações de troca na região Figura 5. Resumo das tipologias do sistema territorial de produção Fonte: Elaboração própria. b) Uma grande firma integrada verticalmente, representada pela situação B, poderá interessar por externalizar algumas de suas atividades, estabelecendo relações com 44 outras firmas da região, passando para a situação C. Entretanto, segundo Maillat e Kelbir (1999), para que os parceiros escapem ao empreendimento da grande firma, é necessário que o meio se desenvolva; c) Se uma grande firma que se encontra na situação C, parcialmente integrada verticalmente, integra-se com vantagens, tanto pela aquisição de seus concorrentes, como pela absorção ou desaparecimento de seus subcontratados, passa para a situação B. Neste caso, segundo, Maillat & Kelbir (1999), o efeito meio corre o risco de desaparecer levando a região novamente a uma situação de dependência em relação à grande firma; d) Uma grande firma que encontrada na situação C poderá se desfazer e, no seu lugar, surgirem PMEs, apresentando forte relação entre elas, lideradas pelo meio. Maillat & Kelbir (1999) ressaltam que, na situação D, o sistema dispõe de uma organização do tipo meio. Porém, em razão do porte das firmas, as ligações com os mercados são freqüentemente deficientes. A evolução desejável para esse tipo de sistema territorial de produção é a passagem para uma situação intermediária entre C e D, em que, graças a algumas firmas, as conexões com os mercados são mais bem assegurada. Alternativa para essa situação pode ser o desenvolvimento de um agente endógeno de coordenação do arranjo, conforme é mostrado por Crocco et. al. (2003). Em alguns casos esse agente endógeno é representado por sindicatos patronais ou outra instituição públicas de animação e apoio. Portanto, as evoluções no sentido de maior territorização do espaço estiveram relacionadas a manifestações territoriais em oposição a mudanças estruturais de produção ocorridas nas últimas décadas (Fonseca Netto, 2002). No entanto, o sucesso dessa evolução foi dependente da capacidade de ação dos atores regionais e do processo de aprendizagem cumulativa e coletiva que eles realizaram, ou que eles foram capazes de adquirir (Maillat e Kelbir, 1999). Essa aprendizagem cumulativa e coletiva sempre esteve ligada a rotinas organizacionais codificadas ou tácitas (Nelson & Winter, 2006). 2.3 A formação e estruturação de sistemas locais de produção - Problemática Desde os primórdios, o tamanho, a estrutura e o potencial do Mercado sempre estiveram no bojo das preocupações das teorias da localização e da análise econômica espacial. As decisões locacionais das firmas estão condicionadas a certas características 45 e ao potencial de mercado, numa relação de causa e efeito. Por um lado, o empresário, ao decidir produzir, busca localizar-se onde pode ser estabelecida uma relação mais dinâmica com o mercado. Por outro lado, o maior dinamismo ocorre onde grande parte das empresas decide localizar-se (Krugman, 1991). O dinamismo desses espaços acaba sendo condição ideal para a decisão ótima de localização e desenvolvimento de empresas. Neles são encontrados: o centro privilegiado para a geração de externalidades, as possibilidades de economias de escala de produção, a presença de proximidade e de circularidade produtiva e a forte elasticidade da oferta de fatores de produção. Nesse aspecto, o tamanho, a estrutura e o potencial de mercado, geralmente urbano, acabam funcionando como condicionante limitador ou um atrativo para a localização ótima de firmas, denominado “Espírito da Empresa”. No entanto, nas últimas décadas, a partir das experiências bem sucedidas de desenvolvimento econômico ocorridas na Terceira Itália e em diversas partes do mundo, pôde-se perceber a emersão de um novo paradigma de desenvolvimento regional, tratados como manifestação territorial, do tipo distrito marshalliano, principalmente na vertente italiana. Tais manifestações surgem em um espaço restrito, com presença de firmas, geralmente de pequeno e médio porte, operando de forma sinérgica, em um segmento de atividade econômica ou em um determinado setor específico, com uma dada tecnologia original. Em uma fase madura de desenvolvimento, tais espaços atuam, quase sempre, sob a égide de parceiros institucionais, dando formato a uma governança local, apresentando participação ativa de atores sociais da comunidade local. Esses sistemas locais de produção, do tipo distritos marshallianos, conhecidos no Brasil como Arranjos Produtivos Locais, passaram a ser considerados protagonistas do desenvolvimento econômico. Por isso, são perseguidos por políticas de planejamento e desenvolvimento, no sentido de incentivar sua propagação, visto que, podem contribuir para que as PMEs, por meio da cooperação horizontal e vertical, enfrentem o desfio da sobrevivência (Lima, 2006; Maillat & Kelbir, 1999). Por um lado, por meio de redes horizontais, as PMEs podem coletivamente, atingir economias de escala acima da capacidade individual, realizar compras de insumos em conjunto, atingir escalas ótimas no uso de maquinário, combinar suas capacidades de produção para atender pedidos de grande escala, etc. Por outro lado, por meio de redes verticais, as PMEs, podem se especializar no seu core business e dar lugar a uma divisão externa do trabalho, por meio da interação entre usuários e produtores (Santos et. al. 2002). 46 O avanço das metodologias de identificação e classificação de APLs, em geral, traz novas reflexões sobre este novo paradigma do desenvolvimento regional/local. Segundo Aydalot (1986), Benko et. al. (1987), Pecqueur (2001), Maillat (2002), Torre (1993) e Benko & Dunford (1991), essas manifestações surgem num contexto de iniciativas voluntárias e espontâneas, territorializadas e sob influência da proximidade espacial, lançadas por atores enraizados em um sistema sócio-cultural e econômico local de produção, privilegiando os recursos - naturais, humanos e financeiros - endógenos ao território onde se inserem. Esse fenômeno tem origem na reação da população local às situações diferenciadas e reflete o nível de empreendedorismo local. Esses autores sustentam que, quando há políticas ou programas de promoção e de incentivos implantados de fora para dentro e/ou de cima para baixo, isto é, sem o mínimo de capacidade de organização e de mobilização social e política da comunidade local, na maioria das experiências internacionais há insucesso. Nesse sentido, Lefevre (2000) e Maillat & Kelbir (1999) afirmam que os sistemas territoriais de produção são, por definição, organizações informais, frutos de um processo histórico de formação, que surgem naturalmente numa região. Por isso, não podem ser criados e nem impostos por lei. Porém, para Lefevre (2000), esses sistemas podem ser estruturados a partir do local e com apoio institucional de organismos já existentes pelo Estado. Segundo Suzigan et. al. (2005), o processo de formação estruturação levam à diversificação dos APLs. Tais diferenças são resultantes da evolução histórica, da organização institucional, do contexto social e cultural, da estrutura produtiva, das formas de inserção nos mercados interno e internacional, das estruturas de governança, da logística, do associativismo, do cooperativismo, das formas de aprendizado e de disseminação do conhecimento local. Essas diferenças, de acordo com Lemos et. al. (2005), acabam criando externalidades positivas, negativas ou restritivas, que funcionam como condicionantes territoriais – marshallianos, schumpeterianas, transacionais e institucionais –, capazes de dar um caráter diferenciador aos APLs, influenciando a dinâmica dos sistemas produtivos. Qualquer alteração positiva ou negativa em um ou mais desses condicionantes pode gerar diferenças significativas entre os sistemas produtivos. A participação dos espaços territoriais no processo de crescimento e desenvolvimento endógeno pode estar relacionada com a teoria da concentração geográfica de empresas desenvolvida por Krugman (1991), em que, ao avaliar a 47 interação entre demanda, custos de transporte e rendimentos crescentes, chega à conclusão de que o empresário, ao decidir produzir, busca se localizar onde há procura elevada para determinado tipo de especialização e esse aumento da procura torna-se forte atrativo para novos produtores. No entanto, os resultados de suas pesquisas (Krugman, 1996; 1998) revelam que esse modelo teórico explica o processo de formação, desenvolvimento e estruturação de aglomerados produtivos do tipo distrito marshalliano, cuja geração é induzida pela presença de condicionantes territoriais ou de economias externas locais, geralmente resultando de ações fortuitas. Tais condicionantes acabam contribuindo para a decisão sobre o tipo de especialização a ser desenvolvida em uma localidade, com base em tipo de matéria-prima específica, mão-de-obra, tecnologia ou proximidade de mercados. A estruturação espacial das economias é definida por processos positivos resultantes das decisões dos agentes privados operando o balanço entre as forças da economia de mercado, ou seja, as forças centrífugas, que geram benefícios – representadas por linkages setoriais; mercados densos; spillovers de conhecimento e outras economias externas de aglomeração – e as forças centrípetas, que geram custos – preços de aluguéis, poluição, custos não recuperáveis (sunk costs) e outras deseconomias externas. Assim, desenvolvimento, crescimento e organização iniciais de APLs podem ser explicados pelos rendimentos crescentes, externos às empresas, mas internos ao local, da concentração dos fatores de produção e da redução do custo de transporte. Porém, a partir da interação entre os atores no funcionamento desses APLs, novas externalidades surgem como efeitos de aglomeração. Isso ocorre devido a economias nos custos de transação, a progressos na qualificação da mão-de-obra, a aumento de tecnologia e informação ou as características históricas ou sociais particulares que surgem ao longo da evolução de cada APL. Esses novos condicionantes ou externalidades são denominadas por Lemos et. al (2005) de Schumpeterianos, Transacionais e Institucionais. O modelo de Krugman, aplicado aos aglomerados produtivos locais do tipo distrito marshalliano, da indústria tradicional, reforça a posição de que sobra pouco espaço para a ação do Estado para criar APLs. No entanto, são importantes ações planejadoras voltadas para fortalecer esses APLs em seu funcionamento. Contudo, deve-se observar que, para Lemos et. al. (2005), externalidades podem agir como condicionantes territoriais na formação, estruturação, crescimento e desenvolvimento de 48 Arranjos Produtivos Locais (APLs) de forma positiva, negativa ou restritiva. A forma de manifestação desses condicionantes dá aos aglomerados um caráter único e diferenciador. Tais condicionantes estão atrelados ao tamanho, a estrutura diversificada e o potencial do mercado. Um mercado com perfil dinâmico e potencial goza de externalidades pecuniárias e tecnológicas; de possibilidades de economias escala de produção; de atuação dos efeitos de proximidades e de circularidade, conforme demonstrado por Hirschman (1959) e; de forte elasticidade da oferta de fatores de produção. Já um mercado urbano menos dinâmico apresentaria limitações para o crescimento das firmas e, conseqüentemente, para a opção de localização, uma vez que, reduziria as possibilidades da geração das economias de escala, repercutindo no crescimento das firmas do APL. Entretanto, de acordo com Krugman (1996), a oferta de fatores de produção é quase sempre elástica em uma dada localização regional, já que, com exceção das atividades extrativas, os fatores de produção são móveis, podendo migrar de outras regiões do espaço nacional. Além disso, a concentração de firmas de um mesmo setor, segmento ou campo tecnológico, pode oferecer retornos econômicos por meio dos diversos tipos de externalidades positivas, obtidas por meio da proximidade espacial, conforme sugere Marshall (1890), mesmo que ocorra de forma mais limitada diante de um grande mercado potencial. Desse modo, cabe indagar: Como os espaços dos APLs foram estruturados, dentro de uma lógica territorial, de modo que se tornassem fatores de localização capazes de atrair e manter empresas relacionadas entre si? Mais especificamente, a) até que ponto o tamanho, a estrutura diversificada e o potencial do mercado induzem ou condicionam as escolhas locacionais das firmas que compõem um APL? b) existem outros fatores econômicos e extra-econômicos que induziriam as tomadas de decisões locacionais, preferencialmente para estes territórios que abrigam esses APLs, mesmo situados em mercados urbanos pouco dinâmicos? c) é possível um APL especializado se formar, se desenvolver e se estruturar em mercados pouco dinâmicos e menos estruturados funcionalmente? d) como os conhecimentos e habilidades dos agentes sociais chegaram até eles? e) quais os condicionantes territoriais que favoreceram o surgimento, desenvolvimento e estruturação de empresas e dos sistemas produtivos territoriais nas regiões? e, f) quais os condicionantes territoriais que estão presentes na atual estrutura desses APLs? 49 O estudo parte da hipótese de que um mercado urbano pouco dinâmico limita e condiciona o desenvolvimento das firmas aglomeradas em espaços restritos, porém, não impede o surgimento, o desenvolvimento e a estruturação de APLs especializados em segmentos ou setores da indústria tradicional em regiões menos dinâmicas do Estado de Minas Gerais, pois, existem fatores econômicos e extra-econômicos, traduzidos nos condicionantes marshallianos, schumpeterianos, transacionais e institucionais relevantes que levariam os agentes econômicos e suas firmas a se mobilizarem. Para a comprovação desta hipótese, foi necessário o desenvolvimento da pesquisa de campo. A metodologia utilizada e os estudos desenvolvidos em quatro APLs mineiros são apresentados na Parte II. 50 PARTE II Os Arranjos Produtivos Locais das empresas de móveis e de confecções do Estado de Minas Gerais: características e funcionamento 51 O principal objetivo deste trabalho é investigar e analisar o processo de formação, desenvolvimento e estruturação de quatro arranjos produtivos locais (APLs) de indústrias tradicionais do Estado de Minas Gerais, os APLs do Pólo Moveleiro de Ubá, da Indústria de Móveis de Carmo do Cajuru, da Indústria de Confecção de Muriaé e da Indústria do Vestuário de São João Nepomuceno, como forma de instrução de políticas de desenvolvimento regional. Na literatura contemporânea referente a Economia Industrial e a Economia Regional, no que se refere aos Arranjos Produtivos Locais, há carência de estudos que busquem compreender a natureza do fenômeno, compreendendo a formação, o desenvolvimento e a estruturação desses arranjos. Tais estudos podem contribuir para o melhor entendimento do fenômeno, bem como, para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes. Para aprofundar questões específicas referente a formação das firmas/empreendimentos e seu desenvolvimento em aglomerados territoriais, é necessário transcender a revisão de literatura, em direção a uma pesquisa de campo. Então, realizou-se um estudo envolvendo quatro APLs mineiros, da indústria tradicional, de modo que pudesse aprofundar a investigação de como os espaços dos APLs foram estruturados, dentro de uma lógica territorial, de modo que se tornassem fatores de localização capazes de atrair e manter empresas relacionando entre si. Esta segunda parte da tese visa apresentar os dados coletados na pesquisa de campo junto aos quatro APLs. Num primeiro momento, é detalhada a metodologia utilizada, envolvendo o tipo de pesquisa, técnicas de coleta de dados levantamento dos métodos, as técnicas e as limitações da pesquisa. Em seguida são apresentados os resultados da pesquisa de campo envolvendo a evolução histórica dos APLs, a estrutura e a dinâmica desses arranjos produtivos e formas de cooperação e associativismo. Em virtude das peculiaridades de cada tipo de produção, mesmo pertencendo à indústria tradicional, optou-se por agrupar os dados relacionados com a produção de móveis em um capítulo e os dados relacionados com a produção de artigos em confecção em outro capítulo. 52 CAPÍTULO 3 Aspectos metodológicos da pesquisa 3.1. APLs Eleitos para a Pesquisa O principal objetivo deste trabalho é investigar e analisar o processo de formação, desenvolvimento e estruturação de quatro arranjos produtivos locais (APLs) de indústrias tradicionais do Estado de Minas Gerais – os APLs do Pólo Moveleiro de Ubá, da Indústria de Móveis de Carmo do Cajuru, da Indústria de Confecção de Muriaé e da Indústria do Vestuário de São João Nepomuceno – como forma de instrução de políticas de desenvolvimento regional. A área de abrangência dos APLs estudados é mostrada na Figura 6. Minas Gerais foi escolhida pelo histórico de ocupação industrial territorial, que gerou dispersão de localização e nítidas disparidades de dinamismo, com microrregiões24 estagnadas, em depressão, de crescimento moderado, rápido ou acelerado (Figueiredo & Diniz, 2000). Assim, em grande parte do Estado, o desempenho econômico e social é abaixo do potencial, com necessidade de investimento em infra-estrutura, baixa geração de emprego pelos grandes e médios novos projetos industriais, renda média per capita abaixo da nacional e altos níveis de desemprego (FIEMG, 1999). Para solução desses problemas, o Governo Estadual vê a dinamização de APLs como forma inovadora de desenvolvimento regional, já que foram identificados, pelo MDIC, 89 APLs, colocando este Estado em 2º lugar no país. Optou-se por restringir o estudo aos APLs tradicionais, reconhecidos pelos governos federal e estadual e, ainda, sob orientação do SEBRAE25 e/ou do IEL26, evitando-se APLs assim denominados apenas visando benefícios de políticas de desenvolvimento. Os APLs tradicionais, por não nascerem da infra-estrutura de Ciência e Tecnologia (C & T), não possuem forma embrionária de coordenação, por isso, 24 Os 853 municípios mineiros foram agrupados em 66 microrregiões. 25 http://www.sebrae.com.br/br/cooperecrescer/aplssebraeatua_1698.asp acessado em 28 de janeiro de 2007. 26 http://www.fiemg.com.br/content/diretoria/PublicacaoHTML.asp?cod_pai=268&cod_diretoria=268&no m_diretoria=APLs%2020Arranjos%20Produtivos%20Locais&cod_pasta_pai=&cod_publicacao=3094&PastasAbertas) acessado em 28 de janeiro de 2007 53 segundo Lemos et. al. (2003), se esses não contarem com o apoio do setor público, podem cair em ciclo vicioso de estagnação ou declínio. Figura 6. Os APLs mineiros Estudados e suas respectivas áreas de abrangência Fonte: Elaboração própria. 54 Para comparação de diferentes estágios de evolução de APLs de mesma atividade industrial e de especificidades de APLs de diferentes atividades industriais, foram escolhidos dois APLs de cada uma de duas atividades industriais, a moveleira e de confecção de vestuário, que têm grande destaque na absorção de mão-de-obra e geração de renda na economia de Minas Gerais. Ambos ocupam o terceiro lugar no país em relação ao número de estabelecimentos, conforme dados da RAIS/MTE (2007). 3.2. Tipo de pesquisa Desenvolvida Para atender ao propósito do estudo, a pesquisa foi desenvolvida por meio da abordagem denominada Pesquisa Qualitativa, de cunho descritivo. Esse tipo de pesquisa é o mais adequado à compreensão de impactos sociais e culturais de um fenômeno, pois visa compreensão mais que quantificação e, ao invés da generalização, tem o particular, o específico, o individual e o peculiar como focos, que se definem no seu desenvolvimento (Triviños, 1987; Godoy, 1995; Rampazzo 2002). Assim, há necessidade uso de subjetividade na adoção de critérios intencionais de acesso e qualificação de amostras, no uso de instrumentos pouco estruturados de coleta de dados e na aplicação de análise de cunho interpretativo (Vergara, 2005). De acordo com Oliveira (1999), a pesquisa qualitativa permite: a) descrição da complexidade de uma hipótese ou problema; b) análise da interação entre variáveis: c) compreensão e classificação de processos dinâmicos experimentados por grupos sociais; d) verificação do processo de mudança, criação ou formação de opiniões de m grupo; e) interpretação das particularidades dos comportamentos e atitudes dos indivíduos. 3.3. Técnicas de coleta e análise dos dados A coleta de dados foi feita pelas seguintes técnicas: a) pesquisa bibliográfica que, segundo Oliveira (1999), visa o conhecimento de contribuições científicas; b) pesquisa documental, que, segundo Black & Champion (1976), usa dados secundários, de fontes escritas e estatísticas de observações realizadas por órgãos públicos; c) entrevista semi-estruturada em função de itens verificados no referencial teórico, aplicada a conhecedores dos arranjos produtivos, cujo roteiro (anexo I), foi elaborado seguindo recomendações de Barros & Lehfeld (2000) e que, segundo Trivinõs (1987) e Yin (2005), visa dar ao informante liberdade necessária ao máximo enriquecimento da investigação; d) entrevista estruturada, aplicada a amostra de empresas produtoras do 55 APLs estudados, cujo roteiro (anexo II), foi elaborado em função de itens verificados por entrevista semi-estruturada. Assim, os dados da pesquisa são oriundos de diferentes fontes, primárias e secundárias, o que, para Triviños (1987), permite “abranger a máxima amplitude descritiva. Segundo Vergara (2005), esta técnica de pesquisa, denominada triangulação de dados, é baseada na interligação de diferentes fontes de dados e diferentes métodos, para investigação do mesmo fenômeno (Tabela 2). Conforme a disponibilidade de dados ou o conhecimento dos informantes, o uso de dados primários e secundários variou entre APLs e afetou o número e a forma de preenchimento do roteiro único de entrevistas. Em APLs objetos de estudos prévios, como nos de Ubá e São João Nepomuceno, realizou-se mais pesquisa documental em dissertações, teses e relatórios, e, nos APLs de Muriaé e Carmo do Cajuru, mais entrevistas. No caso de Muriaé, para resgatar a história da primeira confecção, adotouse o método de Depoimento Oral, em que se registra o conhecimento da história recente de um entrevistado, pois não haviam registros escritos e a fundadora ainda é viva. A aplicação de entrevista nos APLs foi dividida em dois momentos distintos. Entre maio e outubro do ano de 2007, foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas e, entre outubro e março de 2008, foram aplicadas entrevistas estruturadas. Em virtude da necessária flexibilidade na obtenção das informações, no primeiro momento, a seleção de entrevistados foi feita por amostragem não-probabilística do tipo Snowball (bola de neve), em que, segundo Malhotra (2001), a partir de referências ou informações obtidas em entrevistas anteriores, quantas vezes necessárias à complementação da pesquisa, selecionam-se aleatoriamente novos entrevistados. As entrevistas semi-estruturadas, embora seguindo o roteiro, foram feitas por conversas informais, dirigidas pelo entrevistador, para que o entrevistado se sentisse à vontade, sem ser limitado pelo número de perguntas. Durante a entrevista, documentos escritos foram apresentados aos entrevistados, para corroboração das respostas. Concomitantemente à coleta, a análise dos dados permitiu retro-alimentação, o que, segundo Triviños (1987), caracteriza a pesquisa qualitativa. Assim, com informações obtidas, desenvolveu-se o roteiro de entrevista estruturada aplicado em amostra da população de empresas formais e sindicalizadas, evitando-se empresas formais não sindicalizadas, em virtude da dificuldade de acesso e informais, por falta de cadastro de nome e endereço. 56 Tabela 2. Fontes de coleta de dados dos APLs pesquisados APL Ubá Fontes Primárias Entrevistas semi-estruturadas aplicadas a) ao gerente do INTERSIND; b) ao gerente do SENAI; c) a 6 empresários locais; Entrevista estruturada aplicada a 35 empresários locais Fontes Secundárias Diagnóstico do pólo moveleiro de Ubá e Região, realizado em 2003 pelo IEL; Industrialização Descentralizada: Sistemas Industriais Locais O Arranjo Produtivo Moveleiro de Ubá (Crocco et al, 2001); Jornal do Brasil (06/07/71); Revista Móveis de Minas (2007); INTERSIND 15 anos (2004). Base de dados da Fundação João Pinheiro (2004); Dados do IBGE, 2005. Carmo do Cajuru Entrevistas semi-estruturadas aplicadas: a) ao gerente do SINDMOV b) a 4 empresários, representantes do Comitê Gestor do APL Entrevista estruturada aplicada a 22 empresários locais Diagnóstico da \Indústria Moveleira de Carmo do Cajuru realizado em 2003 pelo IEL História de Carmo do Cajuru Monografia de Graduação de Mateus (2004) Muriaé Entrevistas semi-estruturadas aplicadas: a) ao técnico do SEBRE-MG; b) ao Fornecedor de maquinas e equipamentos; c) ao Secretário Municipal de Desenvolvimento; d) ao Presidente da Delegacia Regional de Muriae e Região; e) ao Presidente do Circuito Pólo da Moda; f) ao representante do SENAI; g) ao representante do CONDESC; h) à proprietária da primeira confecção de Muriaé; i)ao Museólogo da Cidade; j) a 6 empresários locais. Entrevista estruturada aplicada a 26 empresários locais O diagnóstico da Indústria do Vestuário de Muriaé e Região, realizado em 2005, pelo IEL; Dissertação de mestrado de Souza (2005); Base de dados da Fundação João Pinheiro (2004); Dados do IBGE (2005) São João Nepomuceno Entrevistas semi-estruturadas aplicadas: a) ao gestor do SEBRAE-MG; b) ao gestor do SENAI/SESI; c) ao presidente do SINDIVEST; d) ao presidente da Agência de Desenvolvimento; e) a 8 (oito) empresários locais, de empresas líderes do arranjo; Entrevista estruturada aplicada a 20 empresários locais. Diagnóstico da Indústria do Vestuário de São João Nepomuceno, realizado em 2003 pelo IEL; Diagnóstico de Gestão das Indústrias do Vestuário de São João Nepomuceno, realizado em 2005 pelo IEL; Base de dados da Fundação João Pinheiro (2004); Dados do IBGE (2005) Fonte: elaboração própria. As empresas foram contatados por meio de telefone e email. A aplicação do questionário, acompanhado da entrevista, foi realizada nas empresas que concordaram participar da pesquisa. Do total de empresas formais, foram entrevistadas 11 % (35) em Ubá; 30% (22) em Carmo do Cajuru; 11 % (26) em Muriaé; e 21 % (20) em São João 57 Nepomuceno. Esses percentuais, em função do número de empresas associadas aos órgãos de animação e apoio representam: 36% em Ubá, 52% em Carmo do Cajuru, 52% em Muriaé e 33% em São João Nepomuceno. Para checar se o número de entrevistas era suficiente, foi utilizado o raciocínio de Richardson (2007) para amostra estratificada proporcional em que o autor propõe tomar uma fração de amostragem para cada estrato que seja semelhante à proporção que ele ocupa no universo. Assim, neste procedimento, escolhendo-se 5% da população de cada estrato, seria o bastante. No caso da pesquisa, optou-se por estratificar a população em virtude da classificação de empresas, relacionada com o número de empregados. Como medida de segurança, estabeleceu-se um mínimo de entrevistas igual a 10% do total de empresas formais em cada APL. 3.4. Desenvolvimento da pesquisa Objetivando caracterizar e comparar APLs, que foram construídos por um processo de endogeneização do espaço, de dentro para fora, em cima da lógica territorial, o presente estudo foi dividido em cinco etapas: Etapa 1 – Levantamento do histórico de criação e desenvolvimento de cada APL Esta primeira etapa teve por finalidade levantar o processo de gênese dos sistemas produtivos industriais locais mineiros eleitos, mostrando como os espaços foram estruturados e desenvolvidos, dentro da lógica territorial. Etapa 2 – Identificação de agentes e de seus papéis nos APLs Após a construção do histórico de formação dos sistemas produtivos, foi feita a identificação dos agentes/entidades envolvidos, ressaltando suas competências e contribuições em seus campos de atuação nas cadeias produtivas dos APLs. Para essa identificação, foram usados desenhos representativos da realidade e mapas de associação de idéias construídos com base na transcrição das entrevistas e com base em análise documental. Esses mapas de associação de idéias têm sido muito utilizados, uma vez que têm por objetivo ajudar o pesquisador na análise e interpretação dos dados da pesquisa e facilitar a comunicação de seus resultados. A construção dos mapas de associação de idéias confere visibilidade ao processo de análise, devido à organização de dados em estado bruto em colunas que correspondem às categorias 58 sistemáticas definidas pelo pesquisador. Também permite a apresentação dos dados na seqüência em que eles foram coletados, sem fragmentá-los, evidenciando o todo ao se percorrerem as colunas dos mapas. Etapa 3 – Análise de relações entre empresas e entre estas e demais agentes do APL Após a coleta de dados, foi feita a análise dos papéis de cada agente no APL, por meio de relações estabelecidas dentro dos APLs, tais como: a) as empresas do segmento central, ressaltando a cooperação vertical interfirmas, usada para aproveitar economias externas, e a cooperação horizontal entre concorrentes, usada para intensificar atividades de compra, venda distribuição, pesquisa e desenvolvimento, e demais atividades mercadológicas em conjunto. b) as empresas de apoio, tais como fornecedores e prestadores de serviços gerais e específicos, ressaltando os tipos de parcerias entre esses agentes e os benefícios trazidos para o desenvolvimento do APL. Neste trabalho, o fornecedor é conceituado como toda empresa local, como loja de fábrica, revendedor ou representante comercial de empresas, situadas fora do município, que vende matéria-prima, embalagens, acessórios, máquinas e equipamentos; c) os agentes de capacitação e qualificação de mão-de-obra fabril e gerencial, ressaltando contribuições dessas entidades para a elevação do nível de competitividade do APL, por meio da elevação do nível de escolaridade de seus trabalhadores; d) os agentes de pesquisa, universidades e de inovação de produtos e processos, mostrando como as empresas do APL mantêm essa relação com os centros de pesquisa e com empresas de inovação de produtos e processos; e) os principais clientes, mostrando as relações e as estratégias usadas em conjunto para a busca de novos clientes; f) os agentes gerais de apoio e de animação do arranjo, avaliando como esses agentes têm desempenhado seus papéis na orientação da organização coletiva dos recursos materiais, humanos e culturais territorialmente disponíveis. Etapa 4 - Levantamento dos condicionantes territoriais Por análise qualitativa, foi feito o levantamento de condicionantes territoriais, que poderiam estar impulsionando ou restringindo o desenvolvimento de cada APL. 59 Tais condicionantes são equivalentes às externalidades apresentadas no capítulo I, que apresenta o levantamento das economias externas que poderiam ser obtidas por meio da aglomeração de empresas em APLs ou SPLs. Assim, esses condicionantes, importantes como suporte à políticas públicas levando em conta as especificidades territoriais dos APLs, foram classificados como: marshallianos, schumpeterianos, transacionais e institucionais (Tabela 3). Como os vários condicionantes podem estar ausentes ou presente com reflexos diferenciados nos APLs foi utilizado, para cada item de condicionante, uma escala Likert, com 5 níveis, formando uma escala de 0 a 4: 0 – Ausência do condicionante; 1 – Presença do condicionante com papel classificado como incipiente, funcionando até como problema para o APL; 2 – Presença do condicionante com papel classificado como razoável; 3 – Presença do condicionante com papel classificado como bom, ainda que não da forma ideal; 4 – Presença do condicionante com papel classificado como muito bom, ou seja, da forma ideal. A escala Likert, construída por análise de itens, foi escolhida por ser mais adequada ao tipo de análise adotada, já que, segundo Richardson (2007), é a mais indicada qualificar atitudes negativas e positivas de um objeto, instituição ou tipo de pessoa. Os resultados obtidos em entrevistas semi-estruturadas e estruturadas e em outras fontes secundárias de pesquisa foram classificados conforme a escala proposta para análise em conjunto. Etapa 5 – Levantamento da dinâmica organizacional de cada APL Nesta etapa, foram sumarizadas informações obtidas, para caracterização do estágio de desenvolvimento de cada APL, visando a comparação entre eles. Transpondo o raciocínio de Penrose (1959) para o APL, o que torna um conjunto de empresas em um APL (ou um APL em SPL) não é apenas a disponibilidade de recursos materiais, humanos e sociais, como tecnologia, informação, mão-de-obra, fornecedores, consumidores, mas o nível de organização do uso desses recursos produtivos. 60 Tabela 3. Condicionantes territoriais utilizados para analisar os APLs estudados Tipo Condicionante - Disponibilidade de mão-de-obra - Qualidade de mão-de-obra - Custo da mão-de-obra - Presença de fornecedores de matérias-primas diversas disponíveis na região - Presença de fornecedores de bens de capital - Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos - Existência de programas governamentais Marshallianos - Proximidade/vizinhança de mercados - Disponibilidade de recursos naturais específicos localmente ou no entorno regional - Presença de infra-estrutura física adequada e suficiente no seio da base produtiva local (energia, telecomunicação, vias de acesso por meios transportes, etc.) - Acesso fácil à informação - Existência de alto número de pessoas engajadas em atividades de design e inovação Proximidade - Elevado nível de qualificação da mão-de-obra - Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários - Universidades e Centros de pesquisa Schumpeterianos - Presença de associações de classe e comerciais dedicadas assistência de rotina às atividades técnicas, produtivas, comerciais e financeiras - Presença de associações de classe e comerciais para qualificação da força de trabalho - Presença de associações de classe e comerciais para capacitação tecnológica das firmas - Existência de cooperação entre firmas competidoras baseada em relações de confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas. - Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação - Utilização de colaboração horizontal - Existência de contatos freqüentes entre empresas formais e informais - Presença de confiança recíproca Transacionais - Existência de contratos mais flexíveis - Influência da governança interna do APL em relação a facilidades para elaboração de contratos mais flexíveis - Contribuição da governança interna para facilitar o processo de compras em conjunto - Contribuição da governança interna para facilitar o processo de vendas em conjunto - Contribuição da governança interna para facilitar o marketing conjunto - Existência de um ambiente institucional que permite a redução da assimetria de informação no SPL e redução de custos de transação - Criação de aspectos culturais que permitam estabelecer laços de confiança, interação social, identidade e objetivos comuns. - Existência de apoio das instituições políticas e sociais no Institucionais desenvolvimento de atividades de parceria - Existência de apoio de instituições políticas e sociais para estimular a transformação do SPL em sistemas mais amplos de inovação - Existência da proximidade dos APLs com instituições de ensino, pesquisa e agentes econômicos Fonte: Elaboração própria. 61 Etapa 6 – Análise comparativa de APLs e a criação do modelo de formação e desenvolvimento dos APLs estudados Nesta etapa, foi usada a técnica de triangulação dos dados obtidos nas fases anteriores, levantando formas de funcionamento e pontos divergentes e convergentes entre os APLs, permitindo comparações levando em consideração o passado, a cultura, as relações exercidas entre empresas. Por esse processo de comparação entre APLs e confrontação dos resultados com a literatura, buscando a generalização dos resultados. 3.5. Limitações do estudo A interpretação dos estudos e suas respectivas conclusões devem considerar as limitações inerentes à sua metodologia de execução, entre as quais: • As opiniões levantadas junto aos empresários locais se referem apenas a aqueles que pertencem às empresas formais sindicalizadas, podendo não representar a totalidade das impressões das empresas do APL; • Não foi investigada a eficiência em relação ao propósito da existência dos agentes participantes dos APLs, pois se baseou apenas em pesquisa de opinião; • Os condicionantes institucionais analisados foram os que podem afetar o comportamento das empresas em prol de um ambiente de maior cooperação presentes localmente. Não foram analisados condicionantes institucionais externos ao ambiente dos APLs, tais como o Sistema Nacional de Inovação e a conjuntura macroeconômica, que podem refletir nos APLs; • Os resultados obtidos são válidos para o grupo formado pelos quatro APLs estudados, pois, para a generalização de resultados, é necessário que o estudo seja replicado para uma amostra maior de APLs; • Os resultados obtidos refletem um período de tempo, que está dentro de um processo de evolução dos APLs. Assim, este estudo precisa ser revisado em tempo futuro para torná-lo adequado às novas realidades que surgirão. 62 CAPÍTULO 4 Os arranjos produtivos locais de móveis de Minas Gerais A indústria moveleira é formada por cadeias produtivas extensas, capazes de proporcionar importantes ganhos de escala e agilidade nas etapas do processo produtivo (Crocco & Horácio, 1999). Em geral é constituída por um contingente numeroso de empresas, em sua maioria, pequenas e médias, consideradas especializadas. As empresas de menor porte se ocupam da produção de peças e acessórios, ao passo que as maiores cuidam da montagem e do acabamento (Gorini,1998). Em relação a matérias-primas, as localidades ou países que possuem abundância desses recursos, principalmente a madeira, tende a explorar a oferta de recursos naturais como fator de competitividade. Já as localidades ou países que não possuem essa abundância, a competitividade é alcançada por meio da inovação no produto final, conseguida pelo aperfeiçoamento do design dos móveis e, ainda, pela utilização de combinações de matérias-primas. Com a finalidade de reduzir custos, manter a qualidade e superar a escassez de madeiras nobres e as limitações legais sobre sua exploração, as indústrias combinam diferentes matérias-primas na confecção do produto final. Como inovações de matérias-primas, destacam-se o MDF (Medium-density fiberboard) e as madeiras reflorestáveis, como o eucalipto e o pinus (IEL, 2003). Com relação à tecnologia de produção, as inovações do setor moveleiro dependem de inovações no setor de máquinas e equipamentos. A inovação mais recente foi a substituição de máquinas eletromecânicas por equipamentos microeletrônicos, o que permitiu uma redução do uso de mão-de-obra e a possibilidade de um processo de produção mais flexível (Rosa et. al. 2007). Apesar da recente modernização do setor, não existem limitações para o uso de máquinas antigas e modernas em uma mesma linha de produção. O setor continua muito especializado e intensivo em mão-de-obra. Este capítulo é estruturado em três partes. Na primeira parte é apresentada a Cadeia Produtiva do setor moveleiro, de modo a mostrar os relacionamentos que ocorrem dentro da cadeia. Na segunda parte, os panoramas internacionais, nacionais e no Estado de Minas Gerais. Na terceira parte, os APLs estudados de Ubá e Carmo do Cajuru. 63 4.1 Cadeia Produtiva de móveis Na cadeia produtiva de madeira e de móveis, os elos compreendem a extração da madeira, a transformação e a comercialização de produtos acabados, além da inserção constante de estratégias de marketing e de design (Figura 7). Insumos Indústria Madeireira Silvicultura e exploração vegetal Diversos Artefatos têxteis Artefatos de couro Britamento e outros trabalhos em pedra Fabricação de artigos de vidro Indústria Química Fabr. Tintas, vernizes, lacas e esmaltes Fabr. Estruturas de madeira e carpintaria Transformação Fabr. de madeira laminada,prensada. compensada, aglomerada. Fabricação de móveis de madeira Desdobramento da madeira Indústria Metalúrgica Produção de relaminados, tref. de aço Metalurgia do alumínio e suas ligas Produção de tubos de aço Ferragens em geral Fabricação impermeabili zantes e solventes Artefatos diversos de plástico Fabr. Adesivos e selentes Fabr. Lamina planos e tubul. plástico Fabricação de móveis de metal Fabricação de móveis de outros materiais Mercado interno e externo Atacado e varejo Representante comercial Fabricação de colchões Inserção de estratégias de Marketing e Design Figura 7. Cadeia produtiva do setor moveleiro Fonte: IEL (2003) O primeiro elo da cadeia moveleira, definido como insumos, engloba todo e qualquer tipo de material necessário para a fabricação do móvel, como madeira, couro, plástico, tecido, tubo de aço, etc., incluindo os bens e serviços fornecidos pelas indústrias madeireiras, metalúrgicas, químicas e outras diversas. O próximo elo é representado pela indústria de transformação, que engloba a fabricação dos móveis, sejam esses de madeira, plástico, metal ou outros materiais, incluindo a fabricação de colchões. A etapa final da cadeia produtiva inclui canais de distribuição e comercialização do produto final, como representantes comerciais, varejistas e atacadistas. 64 É importante ressaltar a importância das indústrias a montante da cadeia produtiva, responsáveis pelas etapas iniciais, ou seja, as indústrias que fornecem equipamentos para extração madeireira e as empresas de prestação de serviços. 4.2 A indústria moveleira no âmbito internacional, nacional e no Estado de Minas Gerais 4.2.1 Panorama Internacional Quantitativamente, o comércio mundial de móveis envolve basicamente sessenta países. A produção mundial é estimada em US$ 267 bilhões (Tabela 4). Os maiores países produtores são Estados Unidos (US$ 57 bilhões), China (US$ 38 bilhões), Itália (US$ 23 bilhões), Alemanha (US$ 19 bilhões), Japão (US$ 12 bilhões), Canadá (US$ 11 bilhões), Reino Unido (US$ 10 bilhões) e França (US$ 9 bilhões), que produziram juntos, em 2005, 67,8% do total mundial. Os maiores exportadores são, pela ordem, China (US$ 13 bilhões), Itália (US$ 10 bilhões), Alemanha (US$ 6 bilhões), Polônia (US$ 5 bilhões) e Canadá (US$ 4 bilhões), que respondem por 50% das exportações mundiais. Os maiores importadores são Estados Unidos (US$ 24 bilhões), Alemanha (US$ 8 bilhões), Reino Unido (US$ 7 bilhões), França (US$ 6 bilhões) e Japão (US$ 4 bilhões), que respondem por 57% do total das importações. Tabela 4. Dados Gerais da Indústria Moveleira Mundial em 2005 PAÍS PRODUÇÃO US$ % Milhões EXPORTAÇÕES US$ % Milhões IMPORTAÇÕES US$ % Milhões CONSUMO APARENTE US$ % Milhões Estados Unidos China Itália Alemanha Japão Canadá Reino Unido França Polônia Brasil México Indonésia Malásia Outros 57.371 37.965 23.692 18.890 12.356 11.723 10.154 9.185 7.078 6.314 3.097 2.357 2.262 64.846 21,5% 14,2% 8,9% 7,1% 4,6% 4,4% 3,8% 3,4% 2,6% 2,4% 1,2% 0,9% 0,8% 24,3% 2.893 13.451 10.159 6.557 506 4.417 1.273 2.364 5.277 994 1.269 1.835 1.979 27.094 3,6% 16,8% 12,7% 8,2% 0,6% 5,5% 1,6% 3,0% 6,6% 1,2% 1,6% 2,3% 2,5% 33,8% 23.765 479 1.675 8.236 3.660 3.478 6.664 5.881 812 154 528 56 330 28.194 28,3% 0,6% 2,0% 9,8% 4,4% 4,1% 7,9% 7,0% 1,0% 0,2% 0,6% 0,1% 0,4% 33,6% 78.243 24.993 15.208 20.570 15.511 10.784 15.546 12.703 2.612 5.474 2.356 578 614 65.489 28,9% 9,2% 5,6% 7,6% 5,7% 4,0% 5,7% 4,7% 1,0% 2,0% 0,9% 0,2% 0,2% 24,2% Total 267.290 100% 80.068 100% 83.912 100% 270.681 100% Fonte: CSIL Milano – Market & Industry Research Institute in: Rosa et. al. (2007). 65 As características dos principais produtores mundiais de móveis são mostradas na Tabela 5. Tabela 5. Característica dos principais produtores mundiais de móveis Característica da indústria Principais produtos e mercados Líder em design. Atua em todos os seguimentos de mercado. Líder em design. Destaque para dormitórios e cadeiras. Itália Expressiva fragmentação com grande número de PMEs. As principais empresas desenvolvem produtos, encomendam partes e componentes a terceiros, fazem o acabamento, juntam as partes e se ocupam das vendas. Alemanha Maior concentração da produção em médias e grandes empresas. Utilizam maquinários modernos e aproveitam economias de escala na produção e na comercialização. EUA Especialização na montagem de móveis, por meio da importação de componentes fabricados no México e em países da América Central. Algumas empresas americanas construíram ou adquiriram fábricas na China, como é o caso da Ashley, maior marca de móveis residenciais dos Estados Unidos. China Concentração da produção em médias e grandes empresas, dotadas de plantas concebidas para fabricar grandes volumes destinados à exportação. É mais competitiva nas linhas e nas etapas de produção mais intensivas em mão-de-obra. Fonte: Adaptado de Rosa et. al. (2007). Destino da produção Mercado Interno, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido e França. Concorre com vantagem competitiva na produção de móveis para cozinha, de valor intermediário. Mercado Interno, Suíça, Países Baixos e Áustria O segmento que a indústria americana concorre com maior vantagem competitiva compreende móveis para dormitórios, salas de estar e jantar e móveis estofados Mercado interno (há um pequeno volume de exportação de móveis de metal) Concentra-se em móveis de madeira (madeira maciça, painéis de MDF e de aglomerado) Mercado Interno, Estados Unidos, Hong Kong Japão (na linha de escritório já concorre no mercado brasileiro) De acordo com Rosa et. al. (2007), nos últimos 10 anos, a produção do setor moveleiro tem apresentado crescimento médio anual de 9% ao ano. Tal crescimento está relacionado com o grau de abertura dos mercados de mobiliário, medida como a taxa entre importação e consumo, que, para o mundo todo, subiu de 20% em 1996 para 31% em 2005. 4.2.2 Panorama Nacional No Brasil, a indústria nacional de móveis concentra-se, principalmente, nas Regiões Sul e Sudeste, sendo que 77% dos estabelecimentos estão localizados nos principais pólos produtores do país, ou seja, nos Estados de São Paulo (23%), Rio Grande do Sul (15%), Santa Catarina (13%), Paraná (13%) e Minas Gerais (13%), conforme mostra a Tabela 6 (Rosa et. al., 2007). 66 Tabela 6. Número de estabelecimentos produtivos do setor moveleiro, número de trabalhadores relacionados e valor das exportações, por Estado Brasileiro Estado Estabelecimentos Quant. % Bahia 355 2,2% Minas Gerais 2.126 13,2% Espírito Santo 313 1,9% Rio de Janeiro 583 3,6% São Paulo 3.754 23,3% Paraná 2.133 13,2% Santa Catarina 2.020 12,5% Rio Grande do Sul 2.443 15,2% Outros 2.377 14,8% Total 16.104 100,0% Fonte: Adaptado de Rosa et. al. (2007). Trabalhadores Quant. % 4.816 2,3% 24.717 12,0% 5.402 2,6% 5.367 2,6% 48.462 23,5% 29.079 14,1% 32.273 15,6% 33.479 16,2% 22.757 11,0% 206.352 100,0% EXPORTAÇÕES US$ (mil) % 68.257 6,9% 11.190 1,1% 6.426 0,6% 2.528 0,3% 87.427 8,8% 91.732 9,3% 433.339 43,8% 270.442 27,3% 19.083 1,9% 990.424 100,0% A produção brasileira de móveis está organizada em diversos pólos (Tabela 7), sendo os 7 principais: Grande São Paulo (SP), Bento Gonçalves (RS), São Bento do Sul (SC), Arapongas (PR), Ubá (MG), Votuporanga e Mirassol (SP)27 Tabela 7. Principais Pólos Moveleiros e Potenciais no Brasil Estado Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Minas Gerais Espírito Santo São Paulo Amazonas, Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Pernambuco e Maranhão. Fonte: Rosa et. al. (2007). Pólos moveleiros Arapongas, Curitiba, Londrina, Cascavel e Francisco Beltrão S.Bento do Sul, Rio Negrinho , Cel Freitas, Pinhalzinho e S. Lourenço do Oeste Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Restinga Seca, Santa Maria, Erechim, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Canela, Flores da Cunha, Gramado Ubá, Bom Despacho, Martinho Campos, Uberaba, Uberlândia, Carmo do Cajuru Linhares, Colatina e Vitória Votuporanga, Mirassol, São Paulo, Bálsamo, Jaci e Neves Paulista Possuem outros pólos com menos expressão De acordo com os dados da RAIS (2003), o tamanho dos estabelecimentos da indústria do setor é formado basicamente por micro e pequenas empresas. 75% dos estabelecimentos são microempresas, 20% são pequenas, 3% são médias e 2% são grandes empresas. Juntos, 16.104 estabelecimentos são responsáveis por aproximadamente 206 mil postos de trabalho28. 27 Em Arapongas (PR), Linhares (ES), Mirassol (SP) e Ubá (MG) concentram-se empresas que produzem móveis padronizados, comercializados no varejo convencional. (http://www.congressomoveleiro.com.br/industria_moveis.asp, acessado em 10/10/2007). 28 Além dessas 16 mil empresas formais, a Abimóvel fez uma estimativa de outras 16.000 empresas familiares e de capital nacional que atuam de forma irregular (http://www.congressomoveleiro.com.br/industria_moveis.asp, acessado em 10/10/2007). 67 Segundo dados da Abimóvel29, as pequenas e microempresas em geral são marcenarias que se concentram na produção de móveis residenciais de madeira sob encomenda. Na maior parte dos casos, são empresas desatualizadas tecnologicamente, com o design dos seus produtos sendo obtido da simples cópia. A Tabela 8 apresenta breve caracterização dos principais pólos moveleiros do país, ressaltando as principais características, tipos de produtos e mercado consumidor. Tabela 8. Característica dos principais produtores nacionais de móveis Característica da indústria Maior produtor. Abrange os pólos moveleiros: Grande São Paulo e o Noroeste Paulista (reúne os pólos de Mirassol e Votuporanga, formado por micro e pequenas empresas). Segundo maior produtor e exportador de móveis. O principal pólo moveleiro do estado localiza-se na região da Serra Gaúcha, que engloba, além de Bento Gonçalves, as cidades de Garibaldi, Gramado, Caxias e Flores da Cunha. Terceiro maior produtor e maior exportador. O principal pólo localiza-se na região de São Bento do Sul. Principais produtos Na Grande São Paulo predomina móveis para escritório. No Noroeste Paulista predominam móveis retilíneos seriados. Destino da produção Predominantemente para o mercado interno O principal produto é o móvel residencial retilíneo de painéis de madeira reconstituída (madeira aglomerada e MDF) A região também conta com produção em móveis de metal (Bertolini e Telasul). Em Gramado a produção é voltada para móveis artesanais. Os principais produtos são os móveis torneados de madeira maciça, especialmente o pinus, Produzidos sob encomenda. Predominantemente produz para o mercado interno. As exportações (27,3%) geralmente para os países: Estados Unidos, México, Uruguai e Trinidad e Tobago. A produção está distribuída nos municípios de Ubá, Bom Despacho, Martinho Campos, Uberaba, Uberlândia, Carmo do Cajuru. O maior pólo moveleiro de Minas é o de Ubá, formado, basicamente, por PMEs (mesmo existindo grandes empresas na região). Paraná Concentra-se basicamente no pólo de Arapongas, há médias e grandes empresas com maquinário mais avançados. Espírito O pólo moveleiro do Santo Nordeste Capixaba desenvolveu-se em torno do município de Linhares. Composto de micro, pequenas e grandes empresas Fonte: Adaptado de Rosa et. al. (2007). .Os tipos de produtos são Mesas, Cadeiras, Salas e Estantes. Em Ubá encontram-se todos os tipos e faixas de preços de produtos. Em Bom Despacho predominam os móveis em MDF. Em Carmo do Cajuru, predominam os móveis em madeira maciça. São Paulo Rio Grande do Sul Santa Catarina Minas Gerais 29 Poucos produtos para o mercado interno e a maioria para os países da Europa e Estados Unidos. Predominantemente para o mercado interno. Em Ubá há exportação para os países: Chile, Uruguai, Costa Rica, México, EUA, Angola e Espanha. Móveis retilíneos, estofados e escritórios, voltados para a classe popular Predominantemente para o mercado interno. Há exportação O principal produto da região é o móvel retilíneo produzido em série, com destaque para dormitórios. A principal exceção é a Delare, que fabrica estofados. Predominantemente para o mercado interno Para o mercado externo, por meio de escritórios de exportação. http://www.congressomoveleiro.com.br/industria_moveis.asp, acessado em 10/10/2007 68 Em termos de comércio exterior, Santa Catarina – com predominância do pólo de São Bento do Sul – e Rio Grande do Sul – principalmente a região de Bento Gonçalves – detêm, juntos, 71% do total das exportações nacionais. Esses estados têm intensificado suas vendas externas desde a década de 1980. 4.2.3 Panorama de Minas Gerais O Estado de Minas Gerais é constituído por 853 municípios distribuídos em 66 microrregiões. O Censo Demográfico (2000) aponta que o setor "madeira e mobiliário" está inserido em 408 municípios do Estado, empregando 62.063 pessoas (IEL, 2003). É notória uma grande concentração de indústrias em localidades específicas, como Belo Horizonte, Ubá, Carmo do Cajuru, Uberaba e Campestre, que podem ser denominadas pólos moveleiros (Rosa et. al. 2007). Alguns desses pólos são mais organizados e podem ser considerados arranjos produtivos locais, como é o caso de Ubá e de Carmo do Cajuru (IEL, 2003). A participação das microrregiões de Minas Gerais no número de empregos na indústria de moveleira é apresentada na Tabela 9. Tabela 9. Participação percentual no emprego da indústria de móveis em Minas Gerais: regiões selecionadas (2007) Fab. de Fab. de Fab. de móveis com móveis com móveis com predomínio predomínio de outros em madeira em metal materiais Ubá 44,4% 23,2% 17,0% Belo Horizonte 16,8% 31,9% 24,5% Divinópolis* 6,4% 13,2% 1,5% Uberlândia 2,3% 1,1% 1,0% São João del-Rei 2,1% 2,3% 0,0% Varginha 1,8% 0,2% 1,2% Poços de Caldas 1,7% 0,0% 0,3% Uberaba 1,4% 11,7% 0,1% Juiz de Fora 1,4% 2,1% 7,7% Governador Valadares 1,3% 0,0% 2,1% Bom Despacho 1,0% 0,0% 0,0% Ipatinga 0,8% 1,6% 4,0% Pouso Alegre 0,3% 0,0% 18,6% Outras 18,3% 12,7% 22,0% Total 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: RAIS/MTb. Obs CNAE/95 (CNAE 1.0 revisado em 2002), 2007 *A cidade de Carmo do Cajuru pertence a microrregião de Divinópolis 69 Fab. de colchões Total 27,8% 41,0% 0,0% 0,0% 0,0% 2,7% 0,0% 0,0% 5,5% 0,0% 0,0% 11,8% 0,0% 11,1% 100,0% 39,3% 21,0% 6,2% 1,9% 1,8% 1,7% 1,3% 2,2% 2,2% 1,1% 0,7% 2,1% 1,2% 17,3% 100,0% A participação das microrregiões de Minas Gerais no número de estabelecimentos é apresentada na Tabela 10. Tabela 10. Participação no número de estabelecimentos da indústria de móveis em Minas Gerais – regiões selecionadas (2007) Fab. de Fab. de Fab. de móveis com móveis com móveis com predomínio predomínio de outros em madeira em metal materiais Ubá 28,1% 24,3% 13,9% Belo Horizonte 21,8% 54,3% 30,6% Divinópolis 6,8% 7,1% 0,0% Uberlândia 3,4% 0,0% 0,0% São João del-Rei 3,8% 2,9% 0,0% Varginha 1,6% 0,0% 5,6% Poços de Caldas 1,8% 0,0% 0,0% Uberaba 2,6% 7,1% 0,0% Juiz de Fora 1,6% 1,4% 5,6% Governador Valadares 1,4% 0,0% 2,8% Bom Despacho 0,8% 0,0% 0,0% Ipatinga 1,4% 2,9% 5,6% Pouso Alegre 0,6% 0,0% 8,3% Outras 24,4% 0,0% 27,8% Total 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: RAIS/MTb. Obs CNAE/95 (CNAE 1.0 revisado em 2002), 2007 Fab. de colchões Total 10,5% 42,1% 0,0% 0,0% 0,0% 5,3% 0,0% 0,0% 5,3% 0,0% 0,0% 15,8% 0,0% 21,1% 100,0% 26,4% 26,5% 6,2% 2,7% 3,4% 1,8% 1,4% 2,9% 1,9% 1,3% 0,6% 2,2% 1,0% 21,7% 100,0% Essas tabelas mostram que a indústria de móveis em Minas Gerais, quantitativamente, está concentrada nas microrregiões de Belo Horizonte, Ubá e Divinópolis (com concentração em Carmo do Cajuru), representando 67% do emprego e 59% do total de estabelecimentos do setor no Estado. A microrregião de Ubá destaca-se em primeiro lugar tanto no número de estabelecimentos de fábricas de móveis com predominância em madeira quanto com o número de empregos na indústria de móveis, superando Belo Horizonte, que concentra o maior número de estabelecimentos no Estado confirmando a importância do desenvolvimento contínuo do arranjo produtivo de Ubá. As regiões de Ubá e de Divinópolis – marcada pela presença do pólo do Carmo do Cajuru – possuem características de arranjos produtivos locais. Em ambas as regiões o Sistema FIEMG, através do Instituto Euvaldo Lodi (IEL-MG) e do SENAI-MG, aliados aos SEBRAE-MG, buscam desenvolver ações no sentido de dinamizar esses pólos. 70 4.3 Os Arranjos Produtivos Locais das empresas de móveis estudados em Minas Gerais 4.3.1 O APL de Ubá O Município de Ubá localiza-se na região sudeste de Minas Gerais, na Zona da Mata, fazendo parte da microrregião de Ubá30 (IBGE, 2005), nas proximidades da fronteira com os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Esse município começou a se formar no início do século XIX, mais especificamente em 1815. Até meados do século XIX, a região viveu da agricultura de subsistência. Com o ciclo do café e movimento do plantio dessa cultura em direção ao Vale do Paraíba, o quadro de cultura de subsistência deu lugar a grande produção exportadora. Essa produção exportadora trouxe com ela a ferrovia e a necessidade de mão-de-obra, que era quase inexistente, o que provocou uma migração interna acentuada, principalmente entre os anos de 1830 e 1840 (INTERSIND, 2004). Ao lado do café, cultivavam-se o fumo31 e o milho, mas com a crise do café, a partir da década de 30, o fumo cresceu de importância, dominando a economia local até meados dos anos de 1950, quando começou a ser rejeitado pelo mercado em virtude da baixa combustibilidade. A rejeição do produto se deu em virtude do uso inadequado, por muitos anos seguidos, de insumos e adubos32, comprometendo a qualidade do fumo. Como conseqüências, no final dos anos 50, vieram as dificuldades, deixando grande número de pessoas sem trabalho nas fazendas e na cidade. Dentro desse contexto, era necessário encontrar novas atividades econômicas que absorvessem os desempregados. Com o surgimento das primeiras fábricas de móveis, o setor moveleiro foi considerado o mais promissor (INTERSIND, 2004). Hoje essa atividade responde por 65% da renda gerada na região (Andrade, 2007). 30 Fazem parte desta região os municípios de Ubá, Astolfo Dutra, Divinésia, Dores do Turvo, Guarani, Guidoval, Guiricema, Mercês, Piraúba, Rio Pomba, Rodeiro, São Geraldo, Senador Firmino, Silveirânia, Tabuleiro, Tocantins, Ubá, Visconde do Rio Branco (http://www.almg.gov.br/mregiao/MacroMicroMun/Macro2MicroMun.asp, acessado em 21/04/2007) 31 Na criação e na expansão da indústria do fumo e do pólo moveleiro é ressaltado papel exercido pelos colonos italianos e seus descendentes. Já antes da Abolição camponeses italianos foram trazidos para substituir o trabalho escravo na lavoura de café. Na época da Primeira Guerra Mundial houve um segundo momento de migração, formado principalmente por operários e artesãos. Ao se tornarem pequenos fazendeiros, esses migrantes formaram a base da produção fumageira, e seus filhos, trinta anos depois, construíram o pólo moveleiro (Coleção Ubá Móveis de Minas, Belo Horizonte: SEBRAE 2004, p. 13-21) 32 Nesse período Ubá era conhecido em todo país como maior consumidor de insumos e adubos e maior produtor de fumo. (INTERSIND, 2004) 71 A população de Ubá é de 94.584 habitantes em 2007. Do total da população residente, 90,15% está localizado na área urbana e 8,85% na área rural. A densidade demográfica do município é de 232,11 hab/km2, ocupando uma área total de 407,5 km2 (IBGE, 2005; Fundação João Pinheiro, 2007). Segundo a base de dados da Fundação João Pinheiro (2007), o município, no ano de 2004, apresentou um PIB a preços correntes de R$ 544.694 milhões e um PIB per capta de R$ 5.921,07, ocupando o primeiro lugar em relação ao total do PIB da microrregião, conforme a Tabela 11. O PIB per capta de Ubá e região é menor do que a média do Estado de Minas Gerais. Tabela 11. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de Ubá – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00) PIB a preços correntes (2004) PIB/hab Localidade Minas Gerais Microrregião Ubá Astolfo Dutra Divnésia Dores do Turvo Guarani Guidoval Guiricema Mercês Piraúba Rio Pomba São Geraldo Senador Firmino Silveirânia Tabuleiro Tocantins Visconde Rio Branco PIBpm População (R$1,00) agropecuário industrial serviços Total (1) 13.697.698 135.326 12.505 6.399 3.441 4.817 9.945 10.349 19.338 5.700 8.304 14.201 5.331 5.836 2.755 3.932 8.630 68.921.655 598.320 236.127 30.834 5.185 2.124 14.929 10.495 6.420 8.187 10.617 22.742 9.076 12.867 806 2.605 20.099 73.556.254 702.912 296.062 32.820 6.784 8.659 21.284 17.299 18.924 20.101 26.751 48.747 17.141 15.720 4.650 9.527 37.362 156.175.607 1.436.558 544.694 70.053 15.410 15.600 46.158 38.143 44.683 33.989 45.672 85.690 31.548 34.423 8.211 16.065 66.092 166.586.327 1.449.010 560.039 71.549 15.453 15.637 46.656 38.144 44.676 33.519 44.412 82.650 32.111 33.604 8.237 16.232 65.945 18.993.720 251.152 94.584 12.007 3.280 4.674 8.763 7.651 8.726 10.054 12.165 17.116 7.642 6.781 2.185 4.680 16.118 8.771 5.769 5.921 5.959 4.711 3.345 5.324 4.986 5.120 3.334 3.651 4.829 4.202 4.956 3.770 3.468 4.091 13.841 206.07 121.081 340.128 340.144 34.726 9.795 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2007) Fazendo a análise do PIB ao longo dos anos, por meio dos dados da Tabela 12, percebe-se que este apresentou crescimento significativo a partir de 1999, que pode estar relacionado ao desempenho da indústria do setor moveleiro. Ubá e região respondem por cerca de 35% do emprego total gerado pelo setor em Minas Gerais e por 18% do número de indústrias em operação (Andrade, 2007). 72 Tabela 12. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes, a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de Ubá PIB a preços correntes Ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004 agropecuário industrial Serviços Total (1) 7.246,50 7.266,08 6.600,80 8.238,71 10.850,39 12.505,33 141.651,97 149.076,75 148.293,61 159.991,03 186.345,82 236.126,82 180.735,15 200.513,50 214.866,57 234.385,04 260.743,72 296.061,53 329.633,62 356.856,33 369.760,98 402.614,78 457.939,93 544.693,68 PIBpm População PIB(pm)/hab. (R$1,00) 346.682,98 371.320,12 383.462,85 412.235,78 469.120,16 560.038,89 86.28 86.265 88.319 90.394 92.490 94.584 4.067,71 4.304,41 4.341,79 4.560,43 5.072,12 5.921,07 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2007) O bom desempenho da economia de Ubá não pode ser dissociado de sua consolidação como importante APL de indústrias do setor moveleiro. 4.3.1.1 Evolução histórica do setor moveleiro em Ubá 4.3.1.1.1 O surgimento da indústria do setor moveleiro em Ubá A atividade de marcenaria na cidade de Ubá e região já existe desde o início do século XX33 e está relacionada com a entrada, na região, de imigrantes italianos. Esses imigrantes trouxeram, além da mão-de-obra para trabalhar as lavouras de café e de fumo, vocação profissional para a manufatura e para o trabalho artístico. Entretanto, o setor moveleiro surgiu com maior intensidade na década de 1960, como alternativa para solucionar o problema da crise econômica na cidade e região, provocada pela perda de significância da cultura do fumo (INTERSIND, 2004). A opção por uma mudança radical no processo de desenvolvimento da atividade econômica do município, no sentido da industrialização de móveis, está relacionada: a) Ao interesse da Associação Comercial e Industrial de Ubá (ACIU), em desenvolver atividades industriais no município para absorção de mão de obra rural disponível; 33 Em 1917 surgiu a primeira marcenaria em Ubá, voltada para a produção de esquadrias e móveis sob encomenda, do proprietário Eduardo Marcato. Em 1927, Luiz Festes começou a produzir e comercializar malas e móveis sob encomenda. Em 1947, os Irmãos Teixeiras abriram uma fábrica de vassoura. Em 1951, Sebastião José Barreto fundou a Auto-Refrigeração, que fabricava, em série, refrigeradores em madeira. Em 1959, Francisco Parma fundou a Domani, a primeira fábrica de armários de cozinha laqueados, feitos em caixote de madeira desmontados que embalavam mercadorias do Armarinho Santo Antônio. Com o tempo passou a fabricar armários, guarda-roupa, sofá e esquadrias. O Armarinho Santo Antônio era uma grande empresa comercial que adquiria grande quantidade de mercadorias, desde produtos alimentícios até produtos de vestuário, abastecendo o mercado de Ubá e região. 73 b) À existência de indústrias moveleiras, como a Auto-Refrigeração34, criada em 1947, a Domani, em 1959, e empresas do Grupo Parma, criadas ao longo da década de 60; c) À criação, em 1963, de uma diretoria paralela à Associação Comercial, que ficou com a responsabilidade de cuidar dos problemas35 relacionados à precariedade da comunicação, à escassez da energia elétrica, ao asfaltamento da rodovia Ubá/Juiz de Fora e, ainda, a obtenção de linha de crédito, junto ao Banco do Brasil; d) À promoção, por parte da ACIU, de feiras e mostras, objetivando promover o parque manufatureiro, de modo a incentivar a criação de empresas industriais na cidade e região. A primeira mostra se deu em 1963 e a segunda em 196436. A partir de então, ao longo dos anos de 1960, as empresas do setor moveleiro de Ubá tiveram crescimento significativo, principalmente a Domani, que, por meio da obtenção de financiamentos, conseguiu ampliar sua capacidade de produção e de venda, chegando a empregar 1.200 pessoas na produção, exercendo papel significativo no crescimento e desenvolvimento do pólo moveleiro. As estratégias de produção, comercialização e distribuição adotadas pelas empresas, com base na produção de móveis populares – utilizando painéis de madeira reconstituída como o aglomerado e o compensado37 –, com pouca tecnologia de produção e investimento em frota de caminhões próprios, proporcionando rapidez de entrega, permitiu a rápida expansão. No início da década de 1970, os produtos da Domani estavam sendo vendidos em 16 estados brasileiros. Além disso, existiam 13 lojas do grupo Parma, espalhadas em Minas Gerais e em outros Estados. Em meados dos anos de 1970, o proprietário partiu para o ramo de fabricação de madeira aglomerada, abrindo a Minasplac. A princípio, essa indústria seria instalada 34 Em 1963, Sebastião José Barreto, proprietário da Auto-Refrigeração, assumiu a presidência da Associação Industrial e Comercial de Ubá (ACIU). 35 Antes de começar qualquer atividade, a cidade enfrentava problemas de infra-estrutura, envolvendo telefonia precária, energia elétrica insuficiente e uma malha rodoviária sem nenhuma estrada asfaltada que ligasse os centros de consumo e abastecimento. O problema das estradas era intensificado no período das chuvas, uma vez que, a cidade ficava completamente isolada dos grandes centros consumidores e dos fornecedores de madeira para as fábricas de móveis da cidade e região. 36 Foi na segunda mostra que ocorreu a apresentação do primeiro protótipo de armários de aço. Com a compra desse projeto, foi criada a Itatiaia Móveis, considerada a maior fábrica de móveis de aço de cozinha da América Latina. Esta fábrica projetou a Cidade de Ubá para o mundo. 37 No Brasil, o uso de painéis em madeira reconstituída, do tipo aglomerado, começou na década de 70 – com a produção das chamadas fórmicas –, com auge na década de 80, com o uso do aglomerado revestido de melamina. Em 1997, surgiu o MDF - medium density fiber board -, considerado como o grande avanço tecnológico no setor moveleiro (Bernardi, 1997). O uso desses painéis fez com que os pólos do setor moveleiro apresentassem crescimentos significativos (Lima 2005). 74 em Ubá, porém, em virtude da falta da matéria-prima eucalipto na cidade e região, aliada ao tempo para implantação do projeto - já que o projeto estava relacionado com recursos financeiros do governo -, o projeto foi para Uberaba, cidade situada no Triângulo Mineiro, local que possuía grande plantação de eucalipto. Com a transferência da Minasplac, houve o cancelamento das atividades da Domani. 4.3.1.1.2 O desenvolvimento do setor moveleiro a partir do fechamento da Domani O desenvolvimento do setor moveleiro de Ubá teve duas fases distintas. A primeira se inicia com o fechamento da Domani, caracterizada pelo surgimento e crescimento da indústria moveleira. A segunda inicia-se com a criação, em 1989, do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Marcenaria de Ubá – INTERSIND. 4.3.1.1.2.1 Surgimento e crescimento da indústria moveleira A partir do fechamento da Domani, em meados dos anos 70, alguns empregados decidiram iniciar negócios próprios, aproveitando o conhecimento adquirido na empresa em relação à produção e à comercialização e, ainda, aproveitando mão-de-obra disponível, o acesso a tecnologia e a localização em uma região já conhecida pela produção de móveis. A região era conhecida tanto pela produção de móveis populares da Domani e dos Irmãos Parma, quanto pelos móveis em aço, para cozinha, da Itatiaia38. Á medida que tais empresas se desenvolveram, muitos exempregados, dessas novas empresas, acabavam montando outras microempresas. No final dos anos 70, houve um crescimento significativo de indústrias do setor moveleiro. Os Censos Econômicos do IBGE, que registraram, em 1970, 25 novas empresas e, em 1980, 72 empresas localizadas no município de Ubá. No início dos anos 80, o número de empresas cresceu muito e de forma desorganizada e a produção apresentava características artesanais, com pouca tecnologia. Os empresários tinham pouco conhecimento do setor e resistiam a qualquer tentativa de reunião para a troca de informações, temendo que suas estratégias fossem copiadas pelos demais concorrentes. Em meados dos anos 80, em virtude da desorganização do setor aliado aos problemas relacionados com os altos índices de inflação – que chegou a 225,16% em 38 A Itatiaia utilizava, como estratégia mercadológica, a fixação do nome da empresa à localidade de Ubá. Contribuindo para a construção de um label territorial. 75 1985 -, alguns moveleiros começaram a falar da necessidade da criação de um sindicato de classe. Isso viabilizaria a organização do setor e a busca por oportunidades de novos mercados e acesso a fontes de financiamento mais acessíveis. A necessidade de agruparem para buscar soluções para o setor se intensifica com o desabastecimento da matéria-prima da indústria do setor moveleiro, conseqüente do Plano Cruzado39. Uma das soluções rápidas para o problema foi a criação, em junho de 1986, da Associação dos Fabricantes de Móveis de Ubá, formada inicialmente por 20 empresas. O primeiro desafio dessa associação era solucionar o problema da matériaprima. O segundo desafio foi conseguir linhas de crédito para as empresas do setor. Essa associação durou até 1989, quando os empresários fundaram o INTERSIND Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Marcenaria de Ubá. 4.3.1.1.2.2 A criação do INTERSIND e a organização das empresas do setor moveleiro No fim dos anos 80, o crescimento desproporcional e acelerado das empresas, aliada à falta de controle de materiais, aos altos índices de inflação, às novas tecnologias de produção e de processos, e, ainda, com o aumento dos efeitos da globalização sobre o setor, muitas empresas fecharam suas portas. Esse fato chamou a atenção dos empresários, que perceberam que só conseguiriam ser competitivos se juntassem suas forças na busca de uma maior organização das empresas do setor. O ponto de partida ocorreu em 22 de novembro de 1989, com a criação do INTERSIND, com o objetivo de organizar as ações do setor moveleiro, no sentido de auxiliar os empresários na busca de soluções para o crescimento do pólo. Por meio do Sindicato, os empresários ganharam força para reivindicar melhorias e investimentos. 39 Plano Cruzado I - Em 1º de março de 1986, o ministro da Fazenda, Dílson Funaro, lançou o Plano Cruzado. O plano fez uma reforma monetária: cortou três zeros do Cruzeiro e substituiu-o por uma nova moeda, o Cruzado. Congelou os preços por um ano e também os salários, pelo valor médio dos últimos seis meses acrescido de um abono de 8%. Previu, ainda, o chamado "gatilho salarial": toda vez que a inflação atingir ou ultrapassar 20%, os assalariados teriam um reajuste automático no mesmo valor, mais as diferenças negociadas nos dissídios das diferentes categorias. O Plano Cruzado extinguiu a correção monetária e criou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) para corrigir a poupança e as aplicações financeiras superiores a um ano. O Plano Cruzado teve efeito imediato de conter a inflação e aumentar o poder aquisitivo da população e, conseqüentemente, o consumo em todos os extratos sociais. Quatro meses depois, as mercadorias desaparecem das prateleiras dos supermercados, houve o processo de desabastecimento e os fornecedores passaram a cobrar ágio, e a inflação volta a subir. O governo manteve o congelamento até as eleições, tentando extrair maiores dividendos políticos do plano. A partir de então, o desabastecimento e a inflação avançaram muito. A conseqüente hiperinflação promoveu uma inversão de valores, favorecendo especuladores financeiros ao invés de geradores de empregos. (http://elogica.br.inter.net/crdubeux/hsarney.html, acessado em 23 de abril de 2007) 76 A década de 90, para as indústrias do setor, foi marcada pela capacitação de pessoal e de empresários, pelos trabalhos de parceria coordenados pelo INTERSIND e pelos investimentos na renovação do parque de máquinas e equipamentos. Isso contribuiu para que as empresas enfrentassem a abertura de mercado. Em maio de 1991 foi criado o Sindicato das Indústrias do Mobiliário e Artefatos de Madeira de Minas Gerais, SINDIMOV, resultado da fusão de vários sindicatos de serrarias, marcenarias carpintarias e estofados, entre outros. Em 1992 foi criada a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL), que tem por finalidade reunir fabricantes de móveis e fornecedores de insumo para a cadeia produtiva de todo o País. Em parceria com outras entidades como o SENAI (Serviço Nacional da Indústria), o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a Abimóvel realiza cursos de gestão e promove o desenvolvimento de um banco de informações favorecendo o setor moveleiro. Em maio de 1993, a indústria regional foi contemplada pela FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - com a inauguração da Unidade SENAI de Ubá, considerada até hoje como uma das instituições imprescindíveis para formação da mão-de-obra e tecnologia para a indústria moveleira. Em setembro de 1994, foi realizada, pelo INTERSIND, a primeira Feira de Móveis e de Máquinas de Ubá e Região – FEMMUR, com a participação de 46 indústrias - das 153 fábricas que o pólo abrigava -. Essa feira fez com que os móveis produzidos em Ubá e região se tornassem conhecidos em todo o território nacional. Em virtude do sucesso dessa feira, aumentou a procura por stands, por parte das indústrias de móveis. Isso contribuiu para o desmembramento da FEMMUR em duas feiras: a FEMUR – Feira de Móveis de Ubá e Região -, realizada nos anos pares e a FEMAP – Feira de Máquinas e Matérias-Primas, realizada nos anos ímpares, iniciando em junho de 1995. Os sucessos conquistados pelas duas feiras contribuíram, no APL, para o aumento da inovação e a utilização de novas tecnologias40. Como conseqüência desses trabalhos, aliada a uma política de financiamento voltada para o setor, durante toda a década de 90, houve investimentos significativos aplicados na renovação do parque industrial, por meio da importação de máquinas e 40 Cabe ressaltar que ambas as feiras do setor moveleiro proporcionam benefícios para outras atividades da cidade e da Região, como redes hoteleiras, restaurantes, empresas prestadoras de serviço de limpeza, de segurança, organização de eventos, informática, publicidade dentre outras. 77 equipamentos, provenientes, em sua maior parte, da Itália e da Alemanha. Foram ainda elevados os investimentos em automação e controle de qualidade, os quais se fizeram acompanhar do aumento de escala de produção das principais empresas do setor e do incremento da profissionalização de suas administrações. A tecnologia trouxe para Ubá a alta produção e melhoria na qualidade dos produtos e dos processos produtivos. Hoje a produção de Ubá se encontra em primeiro lugar no Estado e terceiro no país. Cabe ressaltar que os benefícios trazidos pelo fortalecimento do pólo não se restringiram apenas às fábricas de móveis. Eles se estenderam aos fornecedores de matéria-prima e de tecnologia moveleira que, aos poucos, foram se instalando em Ubá, a fim de fornecer matéria-prima, tecnologia de ponta e insumos. De acordo com a Gerente do INTERSIND, tal movimento de instalação dos principais fornecedores em Ubá se intensificou a partir do ano de 2002. Atualmente, existem 132 fornecedores – embalagens, ferragens, vidraçarias, prestadores de serviços – e 45 lojistas do setor de móveis41, sem contar os números de escritórios de representação de grandes fornecedores, com matrizes localizadas em outros Estados Brasileiros. Em 2001, como fruto da parceria entre INTERSIND/SEBRAE, nasceu a Movexport, Associação dos Exportadores de Móveis de Ubá e Região, com 8 empresas. O Movexport funcionou durante um período dentro das instalações do INTERSIND e se emancipou em 2003. O grupo começou produzindo aproximadamente 145.000 peças por mês42, sendo responsável pela geração de 2.500 empregos diretos. Em 2002, iniciou-se um projeto de incremento à exportação desenvolvido pela Embaixada do Brasil na Inglaterra, com o apoio do PROMÓVEL, visando uma parceria para participação de empresas brasileiras em feiras de móveis na Inglaterra. Em 2003, a FIEMG, por meio do IEL, apresentou os resultados do Diagnóstico do pólo moveleiro de Ubá, iniciado em 2002. Esse documento gerou subsídios para a realização do Planejamento Estratégico, com o intuito de oficializar o APL em 2004. Em dezembro de 2004, aconteceu a sexta edição da FEMUR, com a “Coleção Ubá, Móveis de Minas”, voltada para transformar a imagem do pólo copiador para pólo inovador. Neste mesmo ano, um grupo de 14 pessoas representando o INTERSIND, SEBRAE e os fabricantes visitaram Rio Branco, no Acre, para negociar a compra de 41 (http://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=14399#, acesso em 22/02/2008) 42 Os produtos são camas, guarda-roupas, criados, cômodas, dormitórios infanto-juvenis, berços, salas de jantar, buffets, racks, estantes, mesas para escritórios, móveis tubulares, sofás, armários de cozinhas, áreas de serviço e banheiros. 78 matéria-prima de área certificada, para fazer frente às exigências de legislação ambiental para concessão da licença ambiental, atendendo às exigências do mercado externo. Com a consolidação do Arranjo Produtivo Local de Ubá e o seu desenvolvimento, hoje, existe uma infra-estrutura institucional montada para funcionar em prol do arranjo. Este APL possui 32 parceiros, que serão citados no tópico a seguir. 4.3.1.2 Estrutura atual do arranjo produtivo de Ubá A estrutura do arranjo produtivo do setor moveleiro de Ubá (Figura 8) possui 6 atores principais: a) as empresas do segmento central que compreende as fábricas produtoras de móveis; b) as Atividades Conexas que compreende os fornecedores de máquinas e equipamentos e os fornecedores de matérias-primas e insumos; c) as Atividades Complementares representadas pelas empresas que prestam serviços específicos para a produção tais como: estofados, acessórios em metal, entalhamentos, etc.; d) Estrutura de apoio e animação que compreende a O Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Marcenaria de Ubá (INTERSIND), A Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), O Instituto Euvaldo Lodi (IEL), A Agência de Desenvolvimento de Ubá e Região Adubar; O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRE), Associação dos Exportadores de Móveis de Ubá e Região; - Associação Comercial e Industrial de Ubá(ACIU); – Associação Comercial e Industrial de Ubá (ACIUBÁ); e) Estrutura de formação, aperfeiçoamento e pesquisa representada pela Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), Faculdade Ubaense Governador Ozanam Coelho (FAGOG) SENAI e SEBRAE; f) prestadores de serviços gerais o APL representados pelos Bancos –Banco do Povo, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bancos Privados –, escritórios de contabilidade, serviços de segurança e transporte. Além dessas, existem outras entidades que estão fora da área de abrangência do APL, porém tem trabalhado em parceria, tais como: o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC); o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT); O Instituto Nacional de Desenvolvimento Industrial (INDI); a Universidade Federal de Viçosa (UFV); a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); a Universidade Federal 79 de Lavras (UFLA); a Agência de Promoção da Exportação (APEX); o Serviço de Investigações Florestais (SIF/UFV). Atividades Conexas Fornecedores de Maquinas e de Materiais Estruturas de apoio e de animação Atores INTERSIND, FIEMG, IEL, Locais SENAI, SEBRAE, ACIU ACIUBÁ Atividades Complementares: Acessórios, estofados, entalhamentos, etc. Empresas do Segmento Moveleiro Serviços Bancos Contabilidade Consultorias Especializadas Transporte Segurança etc. Estruturas de Formação, Aperfeiçoamento e de Pesquisa SEBRAE, SENAI, UNIPAC, FAGOG, UEMG Figura 8. Estrutura do Arranjo Produtivo de móveis de Ubá Fonte: Adaptação de Fonseca Netto (2002) 4.3.1.2.1 As empresas centrais do processo produtivo O pólo moveleiro de Ubá é constituído de 310 empresas formais e 53 informais, sendo essas empresas responsáveis por 9.500 empregos diretos e 28.000 empregos indiretos, abrangendo, além da cidade de Ubá, outros municípios, como: Guidoval, Piraúba, Rio Pomba, Rodeiro, São Geraldo, Tocantins e Visconde do Rio Branco. O arranjo é formado por micro, pequenas, médias e grandes empresas, embora haja predominância por micro e pequenas empresas. Segundo a classificação de empresas com base no número de empregados adotada pelo SEBRAE, havia, em abril de 2007, 171 microempresas – abrangendo as 53 informais e 118 formais –, sendo 120 de pequeno porte, 50 de médio porte e 22 de grande porte, conforme o INTERSIND. Para facilitar o entendimento sobre as características das empresas do setor moveleiro de Ubá, optou-se por classificar as empresas em 3 grupos. Grupo 1 – fabricante de móveis chapeados e pintados O grupo 1 é formado por, aproximadamente, 50 empresas, de grande, médio e pequeno porte, que trabalham com a fabricação de móveis chapeados e pintados com tinta de rápida secagem. Esse grupo fabrica produtos padronizados – dormitórios em 80 geral, salas, estantes e móveis de escritório – direcionados a classes populares, sendo que, em seu processo produtivo, não há a fase de montagem de móveis. Esse grupo é responsável pela produção de 48% de móveis do APL. No geral, o processo de fabricação (Figura 9) se inicia quando a matéria-prima MDF e/ou Aglomerado – são enviadas para serem cortadas no setor de organização e corte, obedecendo a critérios estipulados pelo desenvolvimento do produto. Em seguida, as peças cortadas são encaminhadas para o setor de furação para que os encaixes dos móveis sejam feitos e, muitas vezes, nesta fase, são necessários trabalhos de usinagem, como frisos e rasgos na chapa. Após a furação, as peças são pintadas com tintas ultravioletas de secagem rápida – podendo ou não sofrer retoques ou acabamentos especiais pelo setor de suporte. Quando secas, as peças são embaladas e enviadas para a expedição, juntamente com um kit – adquiridos prontos dos fornecedores – contendo parafusos, puxadores, pés e outros pertencentes às especificidades de cada móvel. Essas empresas deste grupo possuem alto investimento em tecnologia de ponta, em maquinário e em capital de giro, o que torna barreira de entrada de novos concorrentes. Trabalham com mão-de-obra mais qualificada (formada pelas escolas do SENAI-Ubá), voltada para operações em máquinas tecnologicamente avançadas. Os preços dos produtos são relativamente baixos e, conseqüentemente, os ganhos por unidade são consideravelmente baixos. O ganho dessas empresas está relacionado com maiores volumes de produção e venda, compensados por economia de escala. A estratégia competitiva é baseada em custos, justificando a constante adoção de inovações tecnológicas em produto, tecnologia de produção e processos de produção. Tinta verniz Entrada de Matéria Prima e acessórios Organização e corte Furação Embalagens Pintura Chapa Suporte acabamento Usinagem Figura 9. Linha de produção de móveis chapeados e pintados Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo 81 Embalagem Kits para montagem Expedição Essa informação pode ser comprovada, uma vez que todos os entrevistados, deste primeiro grupo, declararam utilizar tecnologia de última geração. De acordo com eles, essa é a condição para que possam sobreviver no mercado, uma vez que, essas novas tecnologias acabam afetando o custo do produto. 67%, deste grupo afirmaram que acabam imitando os concorrentes em relação à adoção de tecnologia. Os outros 33%, formados por grandes empresas, afirmaram que incorporam novas tecnologias por meio da aquisição de máquinas e equipamentos de fornecedores internacionais. Grupo 2 – Fabricantes de móveis em madeira maciça e chapas O grupo 2 é formado por 283 empresas que trabalham com a fabricação de móveis na linha de marcenaria, conjugando madeira maciça com chapeado (MDF e/ou aglomerado), como: salas de jantar, estofados e móveis em estilo. Essas empresas seguem estilos e designers mais trabalhados e o processo produtivo é maior (Figura 10), requerendo tempos maiores para as fases de montagem e secagem. Organização e corte Prensagem Usinagem Chapa Entrada de Matéria Prima Montagem Lixação Osso Aplicação Fundo Lixação Fundo Madeira maciça Aplicação Verniz Embalagem Acessórios Organização e corte Usinagem Lixação Figura 10. Linha de produção de móveis em madeira maciça conjugado com chapas Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo O processo de produção envolve duas matérias-primas básicas – o chapeado e a madeira maciça -. De um lado, a chapa entra no processo produtivo, segue para o setor de corte e, depois de cortadas, as peças seguem para o setor de prensagem - em que a elas são coladas casca de madeira comprada – e, em seguida, são levadas para algum trabalho de usinagem. De outro lado, a madeira maciça entra no processo de produção, num outro setor de corte, seguindo para a usinagem e para a lixação. Esses dois processos se encontram na fase da montagem do móvel. A partir da obtenção do móvel 82 montado, este segue para as etapas de lixação, aplicação de fundo, nova lixação e aplicação de verniz. Após a secagem do verniz, o móvel é embalado. Em muitos móveis, nesta fase de embalagem ocorre a colocação de acessórios. Essas empresas demandam menos tecnologia, menores investimento em capital de giro e maior trabalho de marceneiros, quando comparadas com as do grupo 1 e, por isso, apresentam menores barreiras de entrada. Em compensação, os produtos são mais caros no mercado, pois são direcionados para segmentos que procuram peças com mais estilo e com maior valor agregado. No entanto, mesmo neste grupo, é necessário que a empresa acompanhe a evolução tecnológica para que possa continuar competitiva no mercado. A constante busca pela inovação tecnológica é uma forma de competição adotada pelas empresas do setor, na tentativa de reduzir, por meio da tecnologia, os custos de produção e gerar uma situação de monopólio. Tal monopólio pode ter maior ou menor grau de duração, até ser eliminada pela imitação dos demais concorrentes, como é comum ocorrer no pólo moveleiro, em virtude do acesso às mesmas fontes de inovação. Essa atualização tecnológica foi percebida na pesquisa, em que 21% dos fabricantes do grupo 2 declararam que utilizam tecnologia de última geração; 50% utilizam tecnologia avançada, porém não é considerada de última geração e 29%, formada por microempresas, utilizam tecnologia pouco moderna. Neste grupo, as novas tecnologias são incorporação por meio da aquisição de máquinas no mercado nacional (82%) e por meio de cooperação com fornecedores de materiais e insumos (24%). Grupo 3 – Fabricante de móveis tubulares O grupo 3 é formado por 30 microempresas que produzem móveis padronizados tubulares – móveis de escritório, camas, estofados, etc. –, atendendo a classes populares. Geralmente o processo de fabricação desses móveis inicia quando a matéria prima entra no processo de produção e termina quando os produtos são pintados e embalados para a venda. Não envolve a fase de montagem. Conforme mostra a Figura 11, os tubos - matéria-prima principal - entram no setor de corte para serem cortados de acordo com o móvel fabricado. Depois são enviados para o setor de dobra. Em seguida, são encaminhados para o setor de solda. Após a solda das peças, segue o banho químico e depois a pintura. Quando as peças secam, são embaladas e enviadas para a expedição. Os investimentos em tecnologia e em capital de giro acabam funcionando como 83 barreira à entrada de novas empresas. Os preços dos produtos são relativamente baixos e, conseqüentemente, os ganhos por unidade são consideravelmente baixos. A estratégia competitiva adotada é baseada em custos, porém 100% dos fabricantes de móveis modulares entrevistados afirmaram que a tecnologia adotada é moderna, mas não de última geração. Tais fabricantes são classificados como pequenas empresas. Solda Entrada de Matéria Prima Tubos Corte dos tubos Dobra dos tubos Prod. Químicos Soldagem Banho químico Tintas Pintura Mat. Embalagem Embalagem Figura 11. Linha de produção de móveis tubulares Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo Com esses três grupos de empresas43, o APL consegue atingir todas as classes sociais. Essa diversificação de produtos é considerada pelo Presidente do INTERSIND como um ponto positivo do APL, pois, por meio da diversificação, a concorrência direta acaba sendo reduzida. Segundo ele, essa diversificação pode ser considerada uma oportunidade para que as empresas desenvolvam estratégias de vendas em conjunto. Apesar dessa diversificação, o mix dos principais produtos é focado na fabricação de dormitórios – cama, guarda-roupa, cômoda, criado – móveis de sala – estofados, racks e estantes – móveis de sala de jantar – mesa, cadeira e armário – e outros – móveis de cozinha, tubulares e de escritório. O arranjo tem como “carrochefe”, dormitórios, destacando camas (27%) e guarda-roupas (24%) (Figura 12). Não foram considerados dos dados da produção da Itatiaia. De acordo com as entrevistas realizadas, percebe-se que a capacidade produtiva competitiva dessas empresas está relacionada com: a) o nível tecnológico próximo ao estado da arte, principalmente das empresas que trabalham com móveis chapeados e pintados; b) novas estratégias de comercialização baseadas em distribuição de catálogos, exposições em feiras; c) estruturação de um núcleo de inteligência comercial com dados específicos das empresas do setor; d) alta formação gerencial e administrativa exigida; e) capacitação da mão-de-obra em constantes treinamentos. 43 Além desses três grupos, existe uma grande empresa verticalizada, ou seja, a Itatiaia, conhecida como a maior produtora de armários em aço da América Latina. Esta empresa possui os seus próprios fornecedores, dão treinamentos em especial para os empregados, desenvolve estratégia de marketing e de distribuição própria. 84 Camas 27% Guarda-Roupas 24% Sala de jantar 18% Cômoda e Criados 15% Estofados 15% Escritório 9% Tubulares 9% 6% Cozinha 3% Peças Especiais 0% 50% Figura 12. Principais linhas de produtos do Arranjo de Ubá Fonte: Dados da pesquisa 4.3.1.2.2 Estrutura de apoio ao processo produtivo A Estrutura de apoio ao processo produtivo é formada pelos fornecedores de máquinas e equipamentos e fornecedores de matérias-primas e insumos (atividades conexas), os prestadores de serviços (atividades complementares e de serviços), e as entidades de capacitação (Estrutura de Formação, Aperfeiçoamento e Pesquisa). Os fornecedores do APL Ubá e região ainda não são auto-sustentáveis em materiais voltados para a fabricação de móveis, como verniz, tinta, madeira, painel, máquinas e equipamentos, entre outros. Os materiais, máquinas e equipamentos são originados de diversos lugares do Brasil e do mundo. Com a consolidação do pólo, a partir de 2002, muitos fornecedores de insumos – em tono de 132 fornecedores, envolvendo fábricas de embalagem, fábricas de artefatos em metal, fábricas de embalagem, revendedores de lixas, ferragens, madeira, material de manutenção etc. – criaram filiais no APL. Outros fornecedores de insumos - como fábricas de tinta, verniz, madeira, MDF, Aglomerados, vidros - e de máquinas e equipamentos abriram escritórios de representação na cidade. Isso faz com que haja a presença na região tanto de matéria-prima quanto de máquinas e equipamentos diversos. Os Prestadores de serviços Existem no APL empresas de prestação de serviços especializados, que podem 85 ser divididos em duas categorias: os prestadores de serviços específicos para o segmento - as empresas ou profissionais de consultoria de produtos, empresas de consultoria em processos produtivos, serviços de manutenção e assistência técnica em máquinas e equipamentos específicos do setor - e os prestadores de serviços gerais empresas prestadoras de serviços de transporte; transportadoras, assessoria de imprensa, gráfica, contabilidade e informática. Não há no Arranjo empresas especializadas em Design e desenvolvimento de produtos. Geralmente esse serviço é contratado de empresas localizadas nas cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e no estado do Rio Grande do Sul. O SENAI-Ubá44, além de atuar como entidade de capacitação de mão-de-obra, presta serviços de consultoria em processos produtivos para as empresas do APL e para empresas localizadas aglomerados de outros Estados do Brasil. 64% dos entrevistados afirmaram ter recorrido ao SENAI para questões relacionadas à inovação de processos produtivos e introdução de novas formas de organização da produção. Em relação ao serviço de transporte, todos os entrevistados afirmaram existir problemas com o atendimento de prazos de entrega. 52% mantêm caminhão próprio. Em virtude de problemas logísticos, o INTERSIND organizou uma central de entregas que se encontra em funcionamento. 48% dos entrevistados participam dessa central. Os agentes de capacitação No arranjo de Ubá, a origem da mão-de-obra é local. Durante muitos anos, a mão-de-obra era pouco qualificada, do tipo “learning by doing” em que os empregados eram treinados dentro da própria empresa. Com o passar dos anos, a complexidade da tecnologia de produção passou a exigir mão-de-obra mais qualificada, que chegasse dentro das organizações com um conhecimento prévio. Assim, o nível de competitividade da organização, de certa forma, está ligado ao nível de escolaridade e à capacitação de seus trabalhadores. Hoje, as instituições de capacitação existentes no 44 O SENAI presta serviços de assessoria técnica e tecnológica, voltados para soluções de problemas técnicos na administração e produção de bens e serviços, diagnósticos e recomendações voltadas para as soluções tecnológicas das empresas tais como: Aperfeiçoamento de métodos de trabalho; aplicação de sistemas de automação e controle de processos industriais; especificação e instalação de equipamentos; implantação de melhoria de processos; racionalização da produção; avaliação diagnóstica para desenvolvimento de plano de capacitação técnica de pessoal; desenvolvimento de projeto de fabricação de moldes, prototipagem e projeto de produtos; design para o setor moveleiro e parecer técnico. Presta também serviços de informação tecnológica. 86 APL são: o SENAI e o SEBRAE. Além disso, existem 3 faculdades na cidade: a UNIPAC; a UEMG e a FAGOC. 4.3.1.2.3 Estrutura de apoio e animação do arranjo de Ubá Há, em Ubá e região, importantes instituições voltadas para as atividades específicas do setor de moveleiro, como, centros de treinamento, serviços tecnológicos, sindicatos patronais, universidades, governos, associações empresariais, instituições de crédito, de ensino e pesquisa, entre outros. Além disso, existem as parcerias com instituições que se encontram fora da cidade e região. A Tabela 13 apresenta as principais instituições de apoio e coordenação do APL de Ubá. A Coordenação do APL é efetuada pelo INTERSIND, que mantém contato com os demais parceiros do APL, inserindo-o em novos mercados, inclusive exterior. O número de associados é igual a 115 empresas, ou seja, 37% das empresas formais do APL. 4.3.1.2.4 Principais clientes do Arranjo produtivo de Ubá Apesar dos móveis de Ubá ser encontrados em lojas de todo o país, os clientes potenciais nacionais das empresas do setor se localizam nos Estados de Minas Gerais (33%) – 2% local, 2% microrregional, 5% região da Zona da Mata e 24% outras regiões do Estado –, Rio de Janeiro (25%) e Espírito Santo (24%), conforme mostra a Figura 13. As empresas trabalham com marcas próprias, porém, utilizam a marca do pólo denominada “Ubá – Móveis de Minas”, como forma de promover o APL. Em relação à exportação, há três grandes empresas, com bom conhecimento em comércio exterior, que exportam isoladamente e dois consórcios de exportação: O Movexport, fundado em 2003, composto por 8 empresas e o Minas Furniture, fundado em 2005, composto por 6 empresas. Os principais compradores desses consórcios são: Chile, Uruguai, Costa Rica, México, EUA, Angola e Espanha. Dos produtos exportados pelo consórcio, destacaram as salas de jantar, com 33%, e os dormitórios, com 32%. Os 29% restantes foram armários de cozinha, de banheiro, estofados e outros. As exportações têm apresentado crescimentos significativos. Em 2005, o conjunto de exportação de todo o pólo foi de US$ 3,25 milhões, sendo US$ 1,5 milhões realizado pelo Movexport – representando 46% do volume de exportação do pólo. Em 2006, o pólo exportou US$ 6,3 milhões, tendo Angola como o principal comprador, 87 seguida pelo México e pelos Estados Unidos (Móveis de Minas, 2007). Em 2007, o pólo exportou US$ 7,4 milhões, ou seja, teve um aumento de 17,4% em relação a 200645. Tabela 13. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo Produtivo Local Entidade/ Representante SEBRAE SENAI Prefeitura Municipal de Ubá INTERSIND Faculdades Universidades e centros de pesquisa UFV, UFJF, UFMG Campo de atuação Contribuição para o APL Desenvolvimento de empresas de pequeno porte, por meio da prestação de serviços de orientação e capacitação empresarial para os empresários e empreendedores do município de Ubá e Região. - Promoção de cursos de capacitação, treinamentos, consultorias individualizadas e programas para a melhoria dos processos gerenciais de empresas do setor; - Aplicação da metodologia GEOR para acompanhamento de projetos no APL. - Participação no projeto de consolidação de um pólo de moveleiro competitivo e de qualidade na região, de modo a tornar este APL como referência regional e nacional; - Cursos específicos para a indústria do setor moveleiro - Consultoria em processo produtivo - Inovação de produto e de processo - Contribuição para a adoção de tecnologia - Doação de terrenos, isenção de taxas e impostos para micro e pequena empresas do setor, Capacitação para o Trabalho na indústria, por meio de um programa de qualificação profissional. Inovação tecnológica e melhoria de processo produtivo Promoção do setor produtivo do município, por meio de programas de incentivo para a instalação e crescimento das empresas. Promoção do desenvolvimento regional por meio de parcerias junto aos diversos segmentos da sociedade local, com empresários, associações de classe e poder público. Formação e desenvolvimento profissional para a Região nas áreas de Designer, Desenho Industrial e Engenharia de Produção Desenvolver pesquisas abordando, matéria prima, produtos, processos e tecnologia para o setor moveleiro Associação Fortalecimento da indústria e do Industrial e comércio local Comercial de Ubá – ACIU Banco do Brasil, Fornecimento de crédito e Caixa Econômica financiamento Federal, Bancos Privados Fonte: Dados da Pesquisa. 45 - Desenvolvimento de palestras, encontros, cursos, diagnósticos, planejamento, de modo a contribuir para o processo de desenvolvimento sustentável na cidade de Ubá e Região. - Elaboração, coordenação e controle de projetos de desenvolvimento voltado para o APL - Formação de pessoas para atuar nas áreas de Gestão da Produção, Designers e Desenho Industrial para atuarem nas empresas pertencentes ao APL. - Desenvolvimento de designers - Desenvolvimento de tecnologia para o setor; - Estudo em melhoramento genético de eucalipto, adaptável à região; - Serviços de laboratório em ergonomia -Desenvolvimento de inovação em processos produtivos - Oferecimento de assessoria para os associados da indústria e comércio da cidade; - Oferecimento de créditos e financiamentos diferenciados para as empresas do setor. http://www.global21.com.br/materias/materia.asp?cod=18676&tipo=noticia, acesso em 20/02/2008 88 33,06% Minas Gerais Rio de Janeiro 24,8% 13,9% Espírito Santo 12,4% Nordeste São Paulo 6,9% Centro Oeste 4,0% Norte 3,9% sul 1,1% 0% 50% . Figura 13. Destinação das vendas dos produtos do APL de Ubá Fonte: Dados da pesquisa De acordo com o Gerente Administrativo do INTERSIND, esse resultado está relacionado com as seguintes estratégias: a) as duas edições do Projeto Comprador, da Agência de Promoção às Exportações (APEX), em que esta agência subsidia, com até 70% do valor dos gastos, a vinda de compradores estrangeiros para negociar com as empresas do setor moveleiro46; b) o bom desempenho e investimento das empresas em treinamento de pessoal; c) o aprimoramento dos produtos e a aquisição de equipamentos mais modernos; d) as expressivas participações em feiras, nacionais e internacionais, tanto como visitantes quanto como expositores (Figura 14). O maior número de visitas e exposições em feiras locais se deve ao fato da existência de duas feiras, que ocorrem em Ubá, conhecidas nacionalmente: A FEMUR e a FEMAP. A FEMAP tem por objetivo oferecer tecnologia em forma de matéria-prima, máquinas, equipamentos e prestação de serviços especializados. Cabe ressaltar que O SEBRAE tem apoiado pequeno e microempresário a participar da FEMUR. Em 2004, foram 10 empresas e, em 2006, esse número subiu para 45. Para os pequenos e microempresários, esse apoio é fundamental para aumento das vendas de suas empresas, já que, na feira aparecem compradores de todo o país. 46 Tanto a Movexport quanto a Minas Furniture são filiadas à APEX. Geralmente, os gerentes desses consórcios entram em contato com empresas no exterior para contatar compradores potenciais, atraindoos, por meio desse projeto, para negociar em UBÁ. Atualmente, a “Minas Furniture” está em contato com 8 empresas localizadas no exterior. 89 88% 79% Locais Outras cidades do Estado 33% 18% 67% Outros Estados 39% Visitante 6% 6% Outros Países Expositor 0% 50% 100% Figura 14. Participação em feiras Fonte: Dados da pesquisa 4.3.1.3 A dinâmica do Arranjo Produtivo de Ubá e as formas de cooperação 4.3.1.3.1 Relacionamento entre empresas especializadas dentro do APL Desde o início das atividades moveleiras em Ubá, percebe-se que a cooperação entre empresas por meio das relações de subcontratação é bastante fraca. Em relação às atividades relacionadas com a produção, percebem-se iniciativas de terceirização, como em entalhamentos, estofamento, torneamento, parte elétrica de móveis especiais, estrado e acabamento em verniz (Figura 15). Acabamento em verniz 9,1% 78,8% 42,4% puxadores 18,2% Entalhamento Estrado 9,1% 0,0% 30,3% 18,2% 21,2% Estofamento Parte elétrica do móvel 42,4% 18,2% 24,2% Vidraçaria Pés e braços de sofá 60,6% 6,1% 12,1% 6,1% 9,1% 50,0% Presença da atividade Figura 15. Itens terceirizados pelas empresas Fonte: Dados da pesquisa. 90 100,0% Terceirização da atividade Em relação às atividades mais gerais, percebe-se que grande parte de serviços como transporte, segurança, contabilidade e manutenção tem sido desenvolvida internamente pela maioria das empresas (Figura 16). Manuteção 45% Serviços contábeis 79% Serviço de representação 82% Serviços de segurança 30% Transporte prod. acabado 30% Transporte de materiais 36% 0% 50% 100% Figura 16. Serviços gerais terceirizados pelas empresas do APL Fonte: Dados da Pesquisa Alguns motivos do baixo volume de terceirização puderam ser detectados por meio de entrevistas junto aos empresários, gerente do INTERSIND e técnicos do SENAI. Os empresários do Grupo 1 afirmam que a dificuldade em terceirizar, no processo produtivo, está relacionada com os aspectos tecnológicos de suas empresas, uma vez que fabricam móveis desmontados e pintados. A produção desses móveis em série é muito rápida e exige máquinas e equipamentos específicos, além de uma mãode-obra de máquina qualificada. A própria velocidade na produção já inibe o processo de especialização entre firmas. Como os móveis são desmontados, é necessário um controle mais rigoroso das peças que saem dessas empresas. Caso adotassem terceirização ou especialização inter-firmas, é provável que o custo com o controle dessa produção aumentasse consideravelmente. Neste tipo de firma, a única coisa terceirizada por eles são os kits que acompanham os móveis. Esses kits contêm parafusos, puxadores, ruelas e outras peças necessárias para a montagem dos móveis. Os empresários do Grupo 2 afirmam que as práticas de cooperação inter-firmas são inibidas, por um lado, pelas próprias exigências dos critérios de controle de qualidade impostos, de modo a atender as exigências ergonométricas e de resistência e, por outro, a baixa confiança existente entre as empresas. Segundo eles, isso traria gastos 91 com controle de qualidade muito grande, não compensando os ganhos que poderiam ser obtidos por meio da parceria entre as empresas. Então, tais práticas continuam ocorrendo em casos em que não é mais vantajoso internalizar a produção, em virtude do volume de trabalhos, tais como entalhamento, estofamento, parte elétrica de moveis, etc. Numa entrevista com um fabricante de acessórios em metal, foi relatado que a subcontratação ou a terceirização existe nesta empresa apenas para produtos que atendem a demandas específicas, como por exemplo, necessidades em usar alguma peça torneada, para atender a um pedido de cliente. Caso essa atividade comece a ser mais freqüente, a tendência é a aquisição de máquinas para o trabalho, junto com a contratação de empregados. Segundo esse fabricante, com a produção dentro da própria fábrica, a qualidade do produto é mais assegurada, em virtude do maior controle. De acordo com o Diagnóstico Moveleiro de Ubá (2003), uma horizontalidade maior das indústrias poderia provocar ganhos de produtividade e redução de custos. O aumento da terceirização de peças beneficia os processos produtivos e as linhas de montagem, minimizando o tempo de produção e ampliando a capacidade produtiva. Dessa forma, as empresas poderiam abrir novos mercados, aumentar a competitividade e dispensar maior atenção com qualidade e o design dos seus produtos. O supervisor técnico do SENAI acredita que ainda falta um ambiente de confiança maior entre as empresas, principalmente do grupo de produtores de marcenaria, de modo a possibilitar essa especialização. Para ele, ainda o risco de terceirizar parte da produção é maior do que o de internalizar essa produção. Acredita que isso seja fruto da história de formação das indústrias em Ubá e, até mesmo no país, e que os benefícios trazidos pela terceirização deveriam ser mais bem estudados47. Segundo ele, as tentativas de empresas italiana em reproduzir a mesma experiência em Uberlandia-MG, cm base na especialização inter-firmas, falharam em virtude do clima de competição entre os empresários e da falta de comprometimento de muitos. Já em Ubá, existem empresas de sucesso, como a Paropas, que incluem, dentro de sua estrutura, desde o plantio do eucalipto até a área de distribuição de produtos. Cabe ressaltar que não há parcerias entre empresas formais e informais dentro do APL. Tais parcerias são prejudicadas, pois, o setor, além de exigir tecnologias em maquinário, mão-de-obra e insumos consideravelmente altos, sofre com o rigor das legislações trabalhista, ambiental e fiscal. 47 Os motivos da não terceirização e os benefícios que poderiam surgir dentro do APL de Ubá com a terceirização, está fora do escopo deste trabalho, ficando como sugestões para novas pesquisas. 92 4.3.1.3.2 Relacionamento entre empresas concorrentes Até 1989, existia em Ubá uma competição acirrada entre os concorrentes. Eles desenvolviam suas estratégias isoladas e evitavam encontros para discutir os problemas em conjunto e troca de informações. Porém, ao longo da década de 1980, em virtude de problemas relacionados com inflação alta, desabastecimento e movimento da economia no sentido da globalização, os fabricantes perceberam a necessidade de maior interação. O marco de mudança então passa a ser a fundação do INTERSIND. Com o INTERSIND, a partir de 1990, há um movimento no sentido de fortalecer as relações de cooperação entre as empresas concorrentes. Ainda na década de 1990, foi criada a empresa Movimento Empresarial para construir o Pavilhão de Exposições do Horto Florestal, sendo, hoje, responsável pela administração e exploração do Pavilhão por um período de 15 anos. Nele são organizadas diversas feiras e exposições, sendo as de maior destaque a FEMAP e a FEMUR. Os resultados dessas feiras fizeram com que os empresários começassem a tomar consciência da necessidade do desenvolvimento de estratégias em conjunto para poderem obter benefícios em comum. Segundo o Gerente Administrativo do INTERSIND, até o ano de 2004, a cooperação entre concorrentes eram consideradas fracas, com poucas ações conjuntas. Porém, a partir desse ano, em virtude do resultado do Diagnóstico da Indústria do Pólo Moveleiro de Ubá, entregue em 2003, algumas ações, relacionadas como marketing, distribuição, compra e venda, foram desenvolvidas no sentido de proporcionar maior cooperação. Algumas ações de marketing em conjunto podem ser verificadas por meio: a) da participação de concorrentes em conjunto em feiras e exposições, dividindo stands com fabricantes de produtos similares (21%); b) do desenvolvimento de catálogos de produtos (27%); c) da promoção de campanha de marketing do pólo moveleiro (67%); d) da organização da FEMAP e da FEMUR (45%); e) da participação em feiras em outras cidades e regiões (39%); f) da participação em feiras internacionais (6%). Os dois consórcios de exportação também são considerados ações conjuntas, uma vez que, por meio deles, há vendas em conjunto. 27% dos entrevistados pertencem a um dos dois consórcios de exportação. Essas empresas também participam do denominado “Projeto Comprador”, patrocinado pela APEX. Outras ações em conjunto, relatadas pelos entrevistados, estão relacionadas com troca de informações (21%); ensaios para o desenvolvimento de novos produtos (9%); 93 ações conjuntas para a capacitação da mão-de-obra (6%) e; participação em central de entrega de produtos, como estratégia de atendimento aos prazos de entrega (48%). Porém, no geral, tanto a cooperação vertical, quanto horizontal e o nível de confiança entre concorrentes, ainda é considerada baixa. Isso resulta em baixa eficiência coletiva e, em contrapartida, aumenta os custos de transação. Isso aproxima o APL do modelo de distrito marshalliano, na versão descrita por Marshall (1890). 4.3.1.3.3 Relacionamento dos fornecedores dentro do APL De acordo com os resultados da pesquisa, existem boas relações entre os fornecedores de materiais e de máquinas e equipamentos e os demais agentes do APL. Esse relacionamento veio se estabelecendo ao longo dos anos de 1990 e intensificou a partir de 2000, com o aumentou o número de fornecedores, instalados na cidade, e de escritórios de representação de fornecedores de Estados e até mesmo países. Em relação aos fabricantes de móveis, as entrevistas mostraram que, em geral, os fornecedores de materiais, insumos, máquinas e equipamentos contribuem com informações sobre novos tipos de materiais e insumos; treinamento interno da empresa na utilização de novos materiais e equipamentos (Learning by using); desenvolvimento de novos produtos e participação em exposição em conjunto, ajudando nos gastos com aluguéis de stands, entre outros (Figura 17). Em relação ao INTERSIND, as fábricas fornecedoras que estão localizadas na cidade de Ubá acabam se filiando ao sindicato e exercendo participação ativa nas reuniões. As representadas por escritórios mantêm contatos, trocando informações sobre insumos, tecnologia de produção e processo, inovação tecnológica, etc. Junto às instituições de capacitação de mão-de-obra, por um lado, os fornecedores utilizam de mão-de-obra treinada para o comércio, de treinamentos em nível gerencial para as empresas, demandam serviços de consultoria, demandam pessoal formado nas faculdades e; por outro lado, fornecem informações sobre novos materiais e maquinários, necessárias para novos treinamentos e capacitações. Em relação aos agentes de P&D, que no caso do APL é representado pelo SENAI, que trabalha inovação de processos, há parceria em relação ao desenvolvimento de produtos, processos, novos materiais e adoção de novas tecnologias. 94 9% 6% Patrocínio e divisão de stands 21% Melhores prazos de pagamento Assistência técnica 33% 24% 0% 24% Manutenção 0% Capacitação de pessoal 30% 12% Pesq.e desenvolv, produto 45% 27% troca de informação 42% 0% 52% 30% Fornecedores de materiais e insumos 60% Fornecedores de máquinas e equipamentos Figura 17. Tipo de relacionamento entre fabricantes e fornecedores Fonte: Dados da pesquisa. 4.3.1.3.4 Relacionamento das empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e processos, Instituições de Pesquisa/Universidades Em geral, ressalvando as grandes empresas do APL, as empresas não possuem departamentos de P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e processos. Também não há empresas especializadas que prestam tais serviços na localidade. Grande parte das pesquisas voltadas pra inovação em processos produtivos é feita pelo SENAI de Ubá, que já é considerado uma referência nacional. Em relação a design e inovação de produtos e novos materiais, as pesquisas tem sido desenvolvida pelo SENAI do Rio Grande do Sul e por empresas privadas e profissionais liberais, de grandes centros urbanos, tais como: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Em relação a novos materiais, o Departamento de Floresta da Universidade Federal de Viçosa tem desenvolvido suas pesquisas no sentido de criação de plantas (Eucalipto), melhorados geneticamente de fácil adaptação na região, de modo que, com o passar dos anos, Ubá venha ser sustentável na principal matéria-prima. As principais fontes de informação utilizadas pelas empresas inovadoras são: o SENAI (27%), por meio de consultorias especializadas localmente; os fornecedores de máquinas e equipamentos, na fase de aquisição (70%); os representantes comerciais (70%); as publicações especializadas (73%); os congressos e feiras especializadas tais como FEMUR, FEMAP (48%) e, em menor peso, feiras de outros estados e países (6%). As grandes empresas relataram também os seus departamentos de P&D locais. 95 O desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias se dá por meio de interação com universidades e centros de pesquisa; por meio da aquisição de máquinas compradas nos mercados nacionais (82%) e internacionais (12%); em laboratórios de P&D do SENAI (27%); nas unidades de produção da empresa (18%) e; em cooperação com fornecedores de insumos (27%). 4.3.1.3.5 Relacionamento das empresas de formação de mão-de-obra O INTERSIND, em parceria com o SESI/SENAI e o SEBRAE, veio, nos últimos anos, desenvolvendo estratégias para elevar a quantidade e a qualificação da mão-de-obra na cidade de Ubá e região. O SENAI48 forma, em média, 130 alunos por trimestre, em cursos de aprendizagem industrial, técnicos, de qualificação e de aperfeiçoamento profissional (Tabela 14). Tabela 14. Relação de cursos de capacitação oferecidos pelo SENAI de Ubá Cursos Aprendizagem Industrial Técnicos Qualificação Especificação Eletricista de Manutenção; Marcenaria e Mecânica Geral Design Industrial e Moveleiro; Técnico em Mecânica; Segurança do Trabalho Acabador de Móveis de Madeira, Afiação de Ferramentas do Mobiliário, Ajustador Mecânico, capacitação para Encarregados, Controladores Lógicos Programáveis, Eletricidade Industrial, Eletrônica analógica, eletroidráulica, Estofador de Móveis, Marcenaria, Mecânico em Geral, Operador de Linha de Pintura Ultravioleta. Qualificação em Design de Móveis Aperfeiçoamento Profissional Acabador de Móveis de Madeira, AUTOCAD R14, Básico Chefia e Aspectos Humanos, Controle Estatístico de Processo, CORELDRAW, Ferramentas da Qualidade, Brigada de Incêndio, Informática, ISSO 9000, Montagem de Móveis, Operador de Máquinas para Marcenaria, Pinturas Especiais em Móveis, Secagem de Madeira, Secretária, Segurança em Marcenaria, Telemarketing. Fonte: Dados da pesquisa. O SEBRAE/MG em Ubá oferece treinamentos, consultorias e programas para a melhoria dos processos gerenciais, das habilidades de liderança e do comportamento do empreendedor. Oferece cursos de produção, vendas, logística, recursos humanos, empreendedorismo, atendimento ao cliente, controle financeiro e contabilidade. As instituições de ensino oferecem cursos superiores em Designer Industrial, de 48 Tem sede própria, junto à FIEMG, IEL e SESI. Conta com uma estrutura de das salas de aula, laboratório de teste de produtos, marcenaria, e um escritório que dá consultoria e atendimento ao Sistema CAD e em inovação de processo produtivo. Realiza alguns trabalhos de P&D. 96 Desenho Industrial e Pós-Graduação em Engenharia da Produção, contribuindo para que na região exista elevado número de pessoas em atividades de design, gerenciamento e inovação de produtos e processos produtivos. Nas entrevistas, 33% dos entrevistados declararam que utilizam mão-de-obra de estagiários das faculdades locais. 4.3.1.3.6 Relacionamento com os agentes de animação do APL A coordenação do arranjo de Ubá é feita pelo INTERSIND, que, associando 115 empresas, desde a sua criação em 1989, desenvolve uma série de atividades para maior integração entre a indústria e órgãos públicos. Ao longo dos anos, foram desenvolvidas pelo INTERSIND ações como: a) instalação do SEBRAE em Ubá; b) implantação do Proder – Programa de Desenvolvimento e Renda, em parceria com a Associação Comercial e Industrial de Ubá, Prefeitura e SEBRAE, criando assim a Adubar – Agência de Desenvolvimento de Ubá; c) incentivo à criação da empresa Movimento Empresarial para construir o Pavilhão de Exposições do Horto Florestal, sendo, hoje, responsável pela administração e exploração do Pavilhão por um período de 15 anos. Nele são organizadas diversas feiras e exposições, sendo as de maior destaque a FEMAP e a FEMUR; d) criação do SETEX, em parceria com o SEBRAE/MG e a APEX. O SETEX visa desenvolver ações de estruturação e qualificação de empresas para participação no mercado moveleiro internacional; e) o incentivo à criação de consórcios de exportação – o MOVESPORT e o Minas Furniture; f) promoção de visitas para formação de acordos de aquisição de matéria-prima, como exemplo, em 2004, um grupo de 14 pessoas visitaram a cidade de Rio Branco, no Acre; g) incentivo à utilização de matéria-prima de área certificada de manejo florestal sustentável, para atender exigências do mercado externo; h) coordenação das ações conjuntas de publicidade, distribuição, compra e venda. Visando o crescimento e a melhor estruturação do pólo, foi criado, em 2002, um Comitê Gestor do APL (Tabela 15), em que empresários e instituições foram divididas em 4 grupos temáticos: Capacitação de RH; Gestão da Tecnologia; Mercados e Imagem; Finanças. Tais grupos têm buscado solucionar os problemas do APL, por meio de ações junto a autoridades competentes. 97 Tabela 15. Grupos temáticos do APL de Ubá e região e suas atribuições Grupo Capacitação e RH Gestão e Tecnologia Mercado e Imagem Finanças Atribuições Ações que envolvem: qualificação de mão-de-obra profissionalizante; elevação do nível de escolaridade; capacitação das indústrias em gestão empresarial; fortalecimento de fornecedores e de lojistas da cadeia local. Ações que envolvem design, desenvolvimento de novos produtos, testes dos produtos, desenvolvimento de produto para a certificação, conformidade ergonômica, melhoria do processo produtivo, licenciamento ambiental, estação de tratamento efluentes líquidos cooperados, unidade de tratamento de resíduos industriais, artesanato com os resíduos, projeto de Reflorestamento, projeto de aproveitamento da madeira de eucalipto, oriunda de consórcio agrosilvopastoril. Ações que envolvem o Plano de Marketing, o Núcleo de Inteligência Comercial do mercado nacional, ampliação de esforços para exportação, adequação de produtos para o comércio exterior, gerenciamento da central de fretes e central de compras, feiras do setor moveleiro. Ações que envolvem assessoria ao crédito e financiamento para as empresas do APL e o Plano de Infra-estrutura do APL. Fonte: Dados da pesquisa. 4.3.2 O APL de Carmo do Cajuru O Município de Carmo do Cajuru localiza-se na região Centro-Oeste do Estado de Minas Gerais, fazendo parte da microrregião de Divinópolis49 (IBGE, 2005). A população do município em 2006 era de 19.184 habitantes, estando 84% na área urbana e 16% na área rural. A área total do município é de 455.000 km2, com densidade demográfica de 42,2 habitantes / km2 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Carmo_do_Cajuru, acessado em 14/10/2007). Esse município começou a se formar no início do século XIX, mais especificamente em 1825, emancipando-se em 1948. A cidade, desde as primeiras colonizações, tinha sua economia voltada para a agropecuária, apresentando grandes lavouras de milho, feijão, algodão, cana-de-açúcar e café, e, ainda, criação de gado bovino leiteiro e de corte50. Além disso, desde o início do século XX, já se registravam pequenas fábricas, como; fábrica de macarrão, fábricas de queijo e manteiga, beneficiadora de arroz, fábrica de fubá, fábrica de farinha de milho e mandioca e outras. 49 Fazem parte desta região os municípios de Carmo do Cajuru , Cláudio , Conceição do Pará , Divinópolis , Igaratinga , Itaúna , Nova Serrana , Perdigão , Santo Antônio do Monte , São Gonçalo do Pará , São Sebastião do Oeste (http://www.almg.gov.br/index.asp?grupo=estado&diretorio=mregiao&arquivo=macrorregioes¯o=6 , acessado em 14/10/2007). 50 Até hoje a agropecuária em Carmo do Cajuru é significativa, respondendo por cerca de 20% do PIB do município. 98 De acordo com Diomar (2000), com a inauguração da estrada de ferro, em 1890, Carmo do Cajuru passou a fornecer seus produtos para o Estado do Rio de Janeiro e ainda para outras regiões de Minas, principalmente para a região de Belo Horizonte, aproveitando a proximidade da região e a facilidade de transporte. Hoje o setor agropecuário é responsável por 20% do PIB municipal. O setor de prestação de serviços, incluindo o comércio local, também tem uma boa participação no PIB do município. De acordo com a Tabela 16, o município apresentou PIB a preços correntes de R$ 116.466 milhões e PIB per capta de R$ 6.273,74, ocupando o sexto lugar em relação ao total do PIB da microrregião. Dos 37% de representatividade da indústria no PIB, 70% está relacionada com a atividade moveleira. Assim, a principal atividade está relacionada com a produção de móveis em madeira. Tabela 16. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de Divinópolis – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00) PIB a preços correntes (2004) PIB/hab Localidade PIBpm agropecuário Minas Gerais Microrregião Carmo do Cajuru Claudio Conceição do Pará Divinópolis Igaratinga Itaúna Nova Serrana Perdigão Santo Antônio do Monte São Gonçalo do Pará São Sebastião do Oeste 13.697.698 223.135,42 22.351,94 16.350,66 industrial serviços População (R$1,00) Total (1) 68.921.655 73.556.254 156.175.607 1.715.958,09 1.613.521,13 3.552.614,64 41.975,96 49.033,92 113.361,82 46.264,93 73.547,59 136.163,19 166.586.327 3.678.921,39 116.465,78 138.532,80 18.993.720 432.027 18.564 24.595 8.771 8.515 6.274 5.633 13.960,98 41.944,57 23.420,25 24.826,24 9.829,10 7.719,01 34.404,26 850.572,66 8.014,82 463.708,24 173.741,00 8.301,87 17.086,04 829.119,51 23.341,49 333.541,78 162.540,00 16.085,83 65.451,28 1.721.636,74 54.776,56 822.076,25 346.110,10 32.106,71 70.208,96 1.786.796,66 55.026,03 862.821,77 353.212,87 32.317,03 5.252 200.636 8.057 82.232 47.469 6.303 13.368 8.906 6.830 10.493 7.441 5.127 37.378,35 30.621,31 70.705,57 138.705,23 139.267,32 26.292 5.297 7.968,74 42.338,75 24.896,59 75.204,08 77.277,73 8.189 9.437 17.385,59 16.014,28 13.622,81 47.022,67 46.994,44 4.438 10.589 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2007) Observando-se o PIB ao longo dos anos (Tabela 17), percebe-se crescimento significativo a partir de 1999. O crescimento relacionado com o setor industrial se deve ao desempenho da indústria do setor moveleiro, cuja origem remonta às décadas de 80 e 90 e está relacionada com a história da Mobiliadora Líder, fundada em 1955. 99 Tabela 17. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de Carmo do Cajuru no período de 1999 a 2004 PIB a preços correntes Ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Agropecuário industrial serviços Total (1) 11.941,90 12.333,44 14.030,58 19.381,36 19.679,48 22.351,94 21.583,40 26.135,83 24.429,71 28.744,70 36.249,24 41.975,96 28.391,46 31.055,43 36.361,90 39.816,65 43.942,78 49.033,92 61.916,76 69.524,70 74.822,19 87.942,71 99.871,50 113.361,82 PIBpm População PIB(pm)/hab. (R$1,00) 63.757,17 70.974,03 76.399,97 89.654,33 102.368,30 116.465,78 17.755 17.334 17.638 17.945 18.254 18.564 3.591 4.094 4.332 4.996 5.608 6.274 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2007) 4.3.2.1 Evolução histórica do setor moveleiro em Carmo do Cajuru Carmo do Cajuru é uma pequena cidade do Estado de Minas Gerais que, desde os anos 90, tem se destacado no cenário nacional em virtude da produção de móveis em madeira, por micro e pequenas empresas aglomeradas, voltadas para o atendimento das classes A e B. Esse aglomerado produtivo surgiu de maneira natural e sua história está relacionada com a história da Mobiliadora Líder, fundada em 195551. A história do setor moveleiro de Carmo do Cajuru pode ser dividida em três períodos: a) O primeiro período, que se inicia com a fundação da Mobiliadora Líder e termina no início da década de 1990, pode ser associado ao desenvolvimento e crescimento da Líder; b) o Segundo período compreende a década de 1990, quando ocorre a mudança de estratégias mercadológicas da Líder, caracterizada pela conquista de novos mercados e formação do aglomerado produtivo de micro e pequenas empresas em Carmo do Cajuru; c) o terceiro período começa a partir do ano 2000, caracterizado pela organização do arranjo produtivo local de Carmo do Cajuru, no sentido de buscar maior competitividade das empresas do setor. 4.3.2.1.1 A fundação e crescimento da Mobiliadora Líder Desde a sua fundação, em 05 de maio de 1955, a Líder fabricava móveis residenciais sob encomenda, intensivos em mão-de-obra especializada de marcenaria – na época essa mão-de-obra era formada por 8 marceneiros. O público alvo estava 51 A atividade de marcenaria na cidade surgiu em 1945, com a primeira fábrica de móveis denominada Marcenaria São José. Em 1955, esta fábrica foi comprada pelo chefe de oficina e marceneiro, João da Mata Nogueira. O novo proprietário fundou no dia 5 de maio de 1955 a Mobiliadora Líder (Diomar, 2000). 100 concentrado nas cidades de Divinópolis e de Belo Horizonte. Dos móveis produzidos, destacavam-se os dormitórios e salas de jantar. A qualidade do produto era garantida em função da matéria-prima utilizada e da mão-de-obra especializada, formada por constantes treinamentos dados dentro da própria empresa, principalmente quando foram necessárias novas contratações em virtude de crescimento de encomendas que levaram ao crescimento da empresa. Em função da qualidade dos produtos, durante a década de 1960 e 1970, a empresa apresentou crescimentos significativos, atendendo prontamente às solicitações de clientes, principalmente de Belo Horizonte, localizada a 113 km de Carmo do Cajuru. Como conseqüência, vários postos de trabalho foram abertos em todos os setores, envolvendo tanto o pessoal de fabricação quanto o pessoal Administrativo. Nessas décadas já começaram a surgir pequenos concorrentes da Líder, formado por ex-empregados da empresa. Na década de 1970, a Prefeitura Municipal desapropriou uma grande área para a construção do primeiro Distrito Industrial. De acordo com os registros, pôde-se levantar o número de 3 empresas que surgiram ao longo dos anos de 1960 e 3 empresas que surgiram ao longo dos anos de 1970. Em 1976, a empresa, percebendo a necessidade de aumentar o volume de produção para atender seu mercado potencial – que estava concentrado em Belo Horizonte – mudou o foco da produção sob encomenda para a produção em série. Essa estratégia resultou num aumento significativo de produção, havendo a necessidade de buscar novos mercados para escoar os produtos. Dessa forma, outras estratégias complementares tiveram que ser adotadas, como: criação de outra fábrica e show-room em Mateus Leme, lojas comerciais em Divinópolis e Lojas em Belo Horizonte. Ao longo dos anos 80, a empresa expandiu suas vendas para outros Estados Brasileiros, por meio de representantes. Com isso, houve um crescimento das atividades produtivas nesta década, fazendo com que muitos representantes de matérias-primas, insumos, máquinas e equipamentos freqüentassem a cidade de Carmo do Cajuru para realizar vendas para a Líder. Além desses representantes, muitos clientes também começaram a visitar Carmo do Cajuru, no sentido de realizar suas compras, uma vez que parte da estratégia mercadológica da Líder consistia em estampar o nome da cidade nos caminhões que realizavam as entregas dos produtos. Com a estratégia mercadológica da Líder, ao longo dos anos de 1980, várias empresas, formados por ex-empregados, surgiram, de modo a aproveitar o mercado, o 101 nome da Líder, a mão-de-obra especializada, o fluxo de vendedores de máquinas e equipamentos, bem como o fluxo de representantes de matéria-prima e insumos. Muitas das empresas fecharam suas portas ao longo dos anos de 1980, principalmente em virtude das conseqüências do plano Cruzado. O mesmo plano que incentivou a abertura de novas fábricas, por meio do incentivo ao empreendedorismo, foi o responsável pelo fechamento dessas em virtude dos altos índices de inflação e escassez de matéria-prima, desencadeados a partir do segundo semestre de 1986. Porém, foram detectadas 10 empresas, criadas nos anos 80, que sobrevivem até hoje. Dessas empresas, cinco (50%) pertencem à amostra da pesquisa. Essas empresas afirmaram que os principais motivos para que abrissem suas fábricas em Carmo do Cajuru estavam relacionados aos seguintes fatores: a) os proprietários já viviam na cidade e não pretendiam se mudar; b) os proprietários já trabalhavam para a Líder como marceneiros; c) os proprietários aprenderam muitas técnicas de produção e comercialização, no período em que trabalhavam para a Líder; d) a cidade oferecia boas condições para o desenvolvimento da marcenaria, uma vez que, com as estratégias mercadológicas da Líder, focando o nome da cidade, faziam com que clientes potenciais freqüentassem a cidade, bem como os representantes de máquinas e equipamentos e os representantes de matérias-primas e insumos; e) as constantes trocas de informações entre as pessoas; f) a cidade oferecia boas condições para a produção, como: estradas, energia elétrica, sistema de comunicação, mão-de-obra especializada disponível e compatível com o produto, proximidade de mercado; f) a baixa barreira de entrada de indústrias, em virtude dos móveis demandarem, à época, pouca tecnologia de maquinário e intensiva mão-de-obra de marcenaria e a garantia de mercado, criado pela própria Líder. 4.3.2.1.2 A expansão do mercado da Líder e a formação do aglomerado No início dos anos de 1990, houve um aumento da demanda pelos produtos em virtude de uma estratégia mercadológica mais agressiva da Líder - envolvendo aumento dos pontos de distribuição e associação da marca à imagem de produtos de boa qualidade voltados para o mercado A e B. Essa estratégia teve como base a abertura de lojas na cidade de Belo Horizonte e no Estado de São Paulo; o aumento de 102 representantes comerciais e estabelecimento de parcerias junto a arquitetos e decoradores de vários Estados do País52. Para continuar atendendo a demanda, garantindo a qualidade dos produtos e prazos de entrega houve a necessidade de fragmentar a produção. A partir de então, a empresa foi dividida em seis unidades produtivas: a) Unidade Salas de Jantar, responsável pela fabricação de móveis diferenciados e funcionais que compõem o ambiente; b) Unidade Racks e Estantes, responsável pela fabricação de estantes modulados com estilo moderno com características multifuncionais; c) Unidade Estofados, responsável pela fabricação de sofás e poltronas segundo design internacional; d) Unidades Colchões, responsável pela fabricação de espumas e colchões e acessórios para dormir, seguindo padrões de qualidade internacional; e) Unidade de colchas, responsável pela fabricação de colchas e almofadas, comercializadas nas lojas e; f) Unidade Dormitórios responsável pela fabricação de toda a linha relacionada a dormitórios. As cinco primeiras unidades funcionam em Carmo do Cajuru e a última, ou seja, a Unidade Dormitórios, em Mateus Leme. Juntas são responsáveis pela fabricação de 18.000 peças mensais – representando 40% da produção de móveis da cidade –, com participações diferenciadas no faturamento mensal da empresa. Além disso, a Líder emprega cerca de 1.200 pessoas, 61% da mão-de-obra do setor moveleiro da cidade. De acordo com a entrevista realizada na Líder, essa fragmentação da produção garantiu a expansão do mercado na década de 1990 até os dias atuais. Hoje a empresa possui 2 lojas de atacado, sendo uma em São Paulo (Capital) e uma em Uberlândia (MG), responsáveis por 10% do total do faturamento; 18 lojas de varejo, sendo 9 em Minas Gerais – 5 em Belo Horizonte, 1 em Divinópolis, 1 Contagem, 1 em Mateus Leme e 1 em Juiz de Fora – 5 em São Paulo – 4 na capital paulista e 1 em São José dos Campos – 2 em Brasília (DF); 1 no Espírito Santo – Vitória – 1 no Rio de Janeiro – na cidade do Rio de Janeiro. Além disso, existem 16 representantes comerciais, sendo um trabalhando em Minas Gerais e o restante distribuído nos outros Estados Brasileiros. As vendas a varejo têm maior concentração em Minas Gerais (65%) – com maior peso em Belo Horizonte (43%) –, seguida dos Estados de São Paulo (17%), Distrito Federal (10%), Espírito Santo (7%) e Rio de Janeiro (1%). 52 Apesar da prioridade de vendas ser para o mercado nacional, percebe-se que na década de 1990 a empresa chegou a vender para o mercado externo, mais especificamente, para os países: EUA, Panamá, Chile e Arábia. 103 Enquanto a Líder conquistava novos mercados houve o aumento de clientes, fornecedores de máquinas e equipamentos e de matérias-primas e insumos, por meio de representantes, na cidade. Como conseqüência, por um lado, as micro e pequenas empresas do setor, existentes até então, se beneficiavam dessas estratégias e, por outro lado, aumentou também o fluxo de informações sobre produção e comercialização, traduzidos em novas tecnologias de produção, contatos, treinamentos, novos materiais. Isso instigou outros empregados da Líder e das micro e pequenas empresas existentes a abrirem seus próprios negócios, uma vez que o ambiente propiciava a aquisição de materiais, a contratação de mão-de-obra especializada e a garantia de mercado, por meio dos representantes de compras das lojas de varejo de Belo Horizonte e São Paulo. Percebe-se que 50% das empresas formais de Carmo do Cajuru iniciaram suas atividades na década de 90. Isso pode ser comprovado na pesquisa, pois do total de entrevistados que abriram suas fábricas a partir de 1990, 86% foram empregados da Líder. Os motivos que fizeram com que abrissem suas fábricas na cidade foram: a) facilidade de entrada no mercado em virtude da política de marketing da Líder e a proximidade da cidade de Belo Horizonte e Grande Belo Horizonte (86%); b) facilidade de contatos com representantes comerciais, tanto para aquisição de insumos quanto máquinas e equipamentos e compradores de móveis (63%); c) presença de mão-de-obra especializada e disponível na cidade (86%); d) conhecimentos necessários para produzir (86%); c) busca por um tipo de negócio que estava relacionado com a vocação do lugar, uma vez que não queriam sair da cidade (95%). Esse crescimento de firmas da indústria moveleira foi favorecido pela facilidade de entrada em razão da atividade de marcenaria adotada; havia conhecimento tácito difundido entre os marceneiros; existia mão-de-obra especializada; presença de representantes de fornecedores e proximidade do mercado consumidor. O crescimento desproporcional e acelerado do número de empresas em Carmo do Cajuru, aliado aos efeitos da globalização, fez com que houvesse a necessidade de maior organização do setor. Assim, em 1994, foi instalado na cidade o Sindicato das Indústrias do Mobiliário e de Artefatos de Madeira no Estado de Minas Gerais – SINDIMOV-MG, com o objetivo de organizar as ações do setor moveleiro, no sentido de auxiliar os empresários na busca de soluções para o crescimento do pólo. Os dois trabalhos de destaques do SINDIMOV-MG, na década de 90, foram: a) intervenção junto à Prefeitura Municipal para resolver o problema de espaço físico, 104 criando o Distrito Industrial II e; b) a organização, junto com os empresários locais, em 1998, da primeira FEMOCC– Feira de Móveis de Carmo do Cajuru. Essa feira foi baseada nas feiras realizadas em Ubá e teve por objetivo aumentar o relacionamento entre os empresários e, ainda, promover o nome do aglomerado de Carmo do Cajuru. Porém, de acordo com os relatos em entrevistas e trabalhos desenvolvidos no APL o cenário no final da década de 1990 e no início dos anos 2000 era de: a) concorrência acirrada; b) pouca troca de informação; c) falta de habilidade gerencial por parte dos empresários; d) inexistência de serviços de instituições especializadas de apoio gerencial e de capacitação de mão-de-obra; e) existência de cópia de produtos, que levava a adoção de estratégias competitivas com base em preços; f) baixa qualificação da mão-de-obra; g) baixa participação coletiva em feiras localizadas fora da cidade, tanto como expositor quanto como visitante; h) baixo nível tecnológico dos equipamentos, muitos deles já obsoletos; i) poucas atividades terceirizadas, que, em geral, eram restritas aos trabalhos de entalhamento, manutenção de máquinas e transporte de matérias-primas, insumos e produtos e, ainda, serviços contábeis. 4.3.2.1.3 A organização do APL e a busca pela competitividade das empresas Em virtude do cenário da indústria moveleira de Carmo do Cajuru, houve a necessidade de maior organização do setor, no sentido de aumentar os níveis de competitividade das empresas. A partir de 2002, o SINDIMOV-MG passou a ter uma posição mais ativa, como órgão coordenador do arranjo. Um dos trabalhos quem vem sendo desenvolvido pelo SINDIMOV-MG, a partir de 2002, está relacionado com a redução de cópias de produtos dos concorrentes e na busca por produtos diferenciados. Isso tem diminuído a competição por meio de preço e até mesmo facilitado a cooperação de empresas na composição de produtos para atender pedidos específicos de clientes. Segundo o relato de 20% dos entrevistados, muitas vezes um comprador se interessa por uma peça de uma empresa e outra de outra empresa, sendo necessário que as empresas reúnam esforços para realizar o acabamento. Em 2003, o SINDIMOV-MG firmou parceria com a FIEMG - Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - com a inauguração da Unidade SENAI em Carmo do Cajuru. A finalidade do SENAI é de incrementar a mão-de-obra local e, conseqüentemente, a qualidade dos produtos do setor, por meio da criação de uma escola de marcenaria. 105 Em 2003, o SEBRAE começou a atuar na cidade, por meio de fornecimento de informações, promoção de cursos direcionados a empresa do setor e auxílio no fortalecimento e solidificação das empresas do APL. Além disso, o SEBRAE tem auxiliado o SINDIMOV nos trabalhos de coordenação do arranjo. Neste mesmo ano, o IEL – Instituto Euvaldo Lodi – realizou o Diagnóstico das Indústrias de Carmo do Cajuru. A partir dos resultados, o SINDIMOV-MG, em conjunto com o SENAI, SEBRAE e empresários locais, tem desenvolvido ações no sentido de amenizar os pontos fracos detectados. Como conseqüência dessas ações voltadas para a organização do setor, os relatos das entrevistas revelaram: a) aumento na participação de empresários em feiras realizadas em outras cidades e Estadas - como FENAVAM e EQUIPOTEL, no ano de 2005; b) maior capacitação da mão-de-obra local; c) desenvolvimento de serviço diferenciado de transporte, por meio da capacitação de motoristas de transportadoras, em virtude da especificidade do produto transportado; d) maior troca de informação entre os empresários, principalmente os sindicalizados. Pode-se perceber que, a partir de 2002 foram abertas, por pessoas da cidade, três lojas para fornecimento de insumos tais como cola, resinado, lixa, prego, tinta, aglomerados, etc.; uma empresa especializada em estofamentos; uma empresa especializada em partes de produtos como pé de sofá; uma especializada em entalhamento; uma empresa transportadora com serviços direcionados aos fabricantes de móveis da cidade, uma vez que o transporte do tipo de móvel produzido requer atenção especial. Com a consolidação do Arranjo Produtivo Local de Carmo do Cajuru, começou a ser montada infra-estrutura institucional em prol do arranjo. Tal estrutura, em virtude da evolução histórica do aglomerado, está longe da estrutura apresentada em Ubá. Na verdade, essa infra-estrutura institucional demora anos para se formar. Hoje, este APL possui 7 parceiros: MDIC, Prefeitura Municipal de Carmo do Cajuru, Sistema FIEMG, SEBRAE, SINDIMOV-MG, Banco do Brasil. 4.3.2.2 Estrutura atual do arranjo produtivo de Carmo do Cajuru A estrutura do arranjo produtivo do setor moveleiro de Carmo do Cajuru (Figura 18) possui 6 atores principais: a) as empresas do segmento central que compreende as fábricas produtoras de móveis; b) as Atividades Conexas que 106 compreende os pequenos fornecedores de matérias-primas e insumos; c) as atividades complementares representadas pelas empresas que prestam serviços específicos para a produção tais como: estofados, fabricantes de estrado, entalhamentos, etc.; d) Estrutura de apoio e animação que compreende a O Sindicato do Setor Moveleiro de Minas Gerais (SINDIMOV-MG), a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), O Instituto Euvaldo Lodi (IEL), O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRE), e) Estrutura de formação, aperfeiçoamento e pesquisa representado pelo SENAI e SEBRAE; f) prestadores de serviços gerais o APL representados pelos Bancos – Banco do Brasil,–, escritórios de contabilidade, serviços de segurança e transporte. Atividades Conexas Fornecedor Materiais Estruturas de apoio e de Atores animação Locais SINDIMOV, SEBRAE, FIEMG Atividades Complementares: Empresas do Segmento Moveleiro Serviços Bancos Contabilidade Consultorias Especializadas Transporte Segurança etc. Estruturas de Formação, Aperfeiçoamento e de Pesquisa SEBRAE, SENAI, Estofados, entalhamentos e estrados. Figura 18. Estrutura do Arranjo Produtivo Moveleiro de Carmo do Cajuru Fonte: Adaptação de Fonseca Netto (2002) 4.3.2.2.1 As empresas centrais do processo produtivo O pólo moveleiro de Carmo do Cajuru é constituído de 72 empresas, sendo 62 formais e 10 informais, responsáveis por 2.200 empregos diretos e 300 empregos indiretos. Segundo a classificação de empresas com base no número de empregados, adotado pelo SEBRAE, existem 49 microempresas – abrangendo as 10 informais 39 formais, produzindo 28% do total de móveis –, 22 de pequeno porte – responsáveis pela produção de 32% dos móveis – e 1 de grande porte – que fabrica 40% dos móveis da cidade, pertence ao grupo Líder, dividida em três unidades Mobiliadora, Estofados e Interiores. 107 O número de empresas informais é considerado baixo, quando comparado com outros APLs. Segundo o Gerente Administrativo do SINDIMOV-MG, o baixo número de empresas informais pode estar associado: a) ao nível considerável de investimentos em tecnologia, mão-de-obra, insumos, materiais e capital de giro mínimo para assegurar os períodos de estocagem e de recebimento de clientes. Tais investimentos servem como barreira a entrada de novas empresas; b) à constante fiscalização nas estradas, fazendo com que os produtos sejam acompanhados de notas fiscais; c) ao tipo de produto produzido, direcionado a uma camada social mais exigente em relação à legalidade, qualidade e garantia; d) ao próprio controle por parte das empresas formais, que acaba servindo como barreira a entrada de empresas informais. As 10 empresas informais apontadas são formadas por mão-de-obra familiar, fabricante de produtos com características artesanais e que acabam atendendo a outro segmento de mercado, não sendo concorrentes diretos das empresas formais. Em relação ao mix dos principais produtos fabricados, grande parte das empresas moveleiras de Carmo do Cajuru tem uma linha própria de produtos com características bem diferenciadas. No geral, as empresas utilizam a madeira maciça, conjugada com outros materiais, e o MDF para a produção. O processo produtivo pode ser visualizado por meio da Figura 19. Entalha mento Entrada de Matéria Prima Organização e corte Lixação Montagem Lixação Osso Aplicação Fundo Lixação Fundo Aplicação Verniz Embalagem Usinagem Acessórios Figura 19. Processo produtivo de produtos em madeira maciça de Carmo do Cajuru Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo Nesse processo, a matéria-prima madeira pode seguir diretamente para o setor de corte ou passar pelo setor de entalhamento antes de ir para o setor de corte. Após serem cortadas, as peças são encaminhadas para o setor de lixação – podendo também passar antes pela usinagem. Em seguida, as peças são montadas para a obtenção do móvel, que segue para as etapas de lixação, aplicação de fundo, nova lixação e aplicação de verniz. 108 Após a secagem, o móvel é embalado, fase em que há colocação de acessórios como puxadores, etiquetas, pés e outros. No caso de alguns artigos de dormitório e sala de jantar, como mesa, armários, guarda-roupas, cômodas, a madeira maciça tem sido conjugada com o MDF, conhecido por eles como chapeado ou folheado em madeira. Para esses produtos, o processo de produção, demonstrado na Figura 20, é o mesmo utilizado em Ubá no grupo de móveis de marcenaria. O processo envolve duas matérias-primas básicas – o chapeado e a madeira maciça -. Por um lado, a chapa entra no processo produtivo, segue para o setor de corte e, depois de cortadas as peças, estas seguem para o setor de prensagem - em que são coladas cascas de madeira comprada – e, em seguida, é feito algum trabalho de usinagem. Por outro lado, a madeira maciça entra no processo de produção em outro setor de corte, seguindo para a usinagem e para a lixação. Esses dois processos se encontram na fase da montagem do móvel. A partir da obtenção do móvel montado, este segue para as etapas de lixação, aplicação de fundo, nova lixação e aplicação de verniz. Após secagem do verniz, o móvel é embalado, fase em que há colocação de acessórios. De acordo com os dados da pesquisa (Figura 21), pode-se perceber que apesar da atuação nas mais diversas frentes produtivas do setor de móveis, há um forte predomínio pela produção de móveis de dormitório – cama, guarda-roupa, cômoda e criado –, seguida pela produção de salas de jantar - mesa, cadeira e armário - e móveis de escritório. Os demais produtos aparecem na linha de produção das indústrias, mas em escala reduzida. Outra peculiaridade é a de que as a maioria das empresas que produz móveis de dormitório também produz móveis de sala de jantar. Organização e corte Prensagem Usinagem Chapa Entrada de Matéria Prima Entalha mento Montagem Lixação Osso Aplicação Fundo Madeira maciça Lixação Fundo Aplicação Verniz Embalagem Acessórios Organização e corte Usinagem Lixação Figura 20. Linha de produção de móveis em madeira maciça conjugado com chapas Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo 109 Cabe ressaltar que, para os produtos de sala de jantar e dormitório, as empresas buscam diferenciar os seus produtos dos demais concorrentes, seja pelo tipo de matériaprima utilizada, seja pelo tipo de acabamento, design e estilo, etc. As principais estratégias de diferenciação adotadas, relatada pelos entrevistados, são: diferenciação de acabamento (77%); diferenciação de design e estilo (45%); diferenciação de matériaprima (55%) e; diferenciação de produto (27%). A diferenciação de produtos é considerada, pelo gerente do SINDIMOV-MG, um ponto positivo do APL, pois, por meio da diferenciação, a concorrência direta, principalmente por meio de preços, acaba sendo reduzida. Segundo ele, essa diversificação pode ser considerada oportunidade para que as empresas desenvolvam estratégias de vendas em conjunto. Isso pode ser comprovado pelo depoimento de 22% da amostra, que relataram que, em muitos casos, compradores se interessam por mesas de um determinado fabricante e cadeiras de outro. Isso faz com que haja uma parceria entre eles para composição do pedido, sendo necessário, portanto, que desenvolvam o acabamento em conjunto. Dormitório 64% Sala de jantar 50% Escritório 32% Estantes 27% Guarda Roupas 18% Racks 18% Cozinha 14% Peças Especiais 5% Estofados 9% 0% 50% 100% Figura 21. As linhas de produtos fabricados pelas empresas de Carmo do Cajuru Fonte: Dados da pesquisa. 4.3.2.2.2 Estrutura de apoio ao processo produtivo As empresas de apoio são principalmente os fornecedores, os prestadores de serviços e instituições de capacitação. Os fornecedores do APL As indústrias de Carmo do Cajuru utilizam matéria-prima e insumos originários 110 de diversos lugares do Brasil. Os fornecedores de madeira, por exemplo, estão localizados em Rondônia, quando as empresas compram diretamente das madeireiras, e, na Região de Divinópolis e Carmo do Cajuru, quando as empresas adquirem a madeira de atravessadores. Os fornecedores de tinta e verniz se concentram em São Paulo; os de compensados, MDF e aglomerados, no Paraná; os de acessórios, no Rio Grande do Sul, os de vidro, em Divinópolis, os de tecido, em Belo Horizonte. Em relação aos fornecedores de máquinas e equipamentos, pode-se afirmar que não existem tais fornecedores na cidade. As máquinas grandes são adquiridas em outros Estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul, e as máquinas pequenas são obtidas em outras cidades, como Belo Horizonte e Ubá. Grande parte da aquisição de máquinas e equipamentos ocorre por intermédio de representantes que visitam a cidade. Porém, a partir de 2003, três empresas fornecedoras de matérias-primas e insumos foram abertas, por moradores de Carmo do Cajuru, objetivando atender às fábricas de móveis. Essas lojas adquirem os produtos fora da região para serem vendidos aos fabricantes de móveis da cidade. Os principais produtos fornecidos por eles são lixa, cola, ferragens, embalagens, acessórios de acabamento e, até mesmo, madeira. Assim, pode-se afirmar que existem fornecedores de matérias-primas e insumos, com exceção de chapeados, compensados, tintas e verniz, na cidade. Os Prestadores de serviços Existem no APL empresas de prestação de serviços especializados considerados específicos e os prestadores de serviços gerais. Os prestadores de serviços específicos são: manutenção de máquinas e equipamentos, serviços de entalhamento e serviços de estofamento. Os dois primeiros são efetuados por profissionais autônomos e o último por uma microempresa especializada em estofamentos. Os prestadores de serviços gerais são: empresas prestadoras de serviços de transporte; transportadoras, serviços de contabilidade, serviços de representação e serviços de segurança Em relação ao serviço de transporte, todos os entrevistados afirmaram existir problemas com o atendimento de prazos de entrega. Esse problema é agravado, uma vez que o transporte do tipo de móveis produzidos em Carmo do Cajuru requer tratamento especial. Para amenizar o problema, desde 2005, o SINDIMOV-MG, em parceria com o SEBRAE, está desenvolvendo cursos de capacitação de motoristas de transportadoras. 111 Esse tipo de capacitação envolve conhecimentos específicos de embalagem de móveis, estrutura de carga, manuseio e descarga dos móveis. A necessidade de transporte com tratamentos especiais para os móveis de Carmo do Cajuru, segundo o Gerente do SINDIMOV-MG, é um dos fatores que limitam a expansão dos produtos para outros estados brasileiros. Após concluir o projeto de capacitação de motoristas de transportadoras, o próximo passo será a construção de uma central de entregas, de modo a minimizar os custos com entrega de produtos para outros estados. As Instituições de capacitação As instituições de capacitação existentes no APL são: o SENAI e o SEBRAE, que funcionam em Carmo do Cajuru desde 2003. O SENAI tem por objetivo melhorar a qualificação dos seus trabalhadores. A sede funciona na estrutura da Prefeitura Municipal de Carmo do Cajuru e conta com uma estrutura de 2 salas de aula e uma marcenaria. Desde 2005, os cursos oferecidos são de Marcenaria Geral e Acabador de Móveis de Madeira. O SEBRAE/MG presta serviços de orientação e capacitação empresarial aos empreendedores, como treinamentos e programas para a melhoria dos processos gerenciais; desenvolvimento de habilidades de liderança e comportamento empreendedor. Assim, oferece cursos de vendas, empreendedorismo, atendimento ao cliente, produção, logística, recursos humanos, controle financeiro e contabilidade. 4.3.2.2.3 Estrutura de apoio e animação do arranjo de Carmo do Cajuru A Coordenação do APL feita pelo SINDIMOV-MG mantém contato com os demais parceiros do APL. O número de associados é igual a 32 empresas, correspondendo a 50% das empresas formais do APL. O campo de atuação e as contribuições das principais entidades integradas ao APL de Carmo do Cajuru podem ser visualidades na Tabela 18. 4.3.2.2.4 Principais clientes do Arranjo produtivo de Carmo do Cajuru Os clientes potenciais das empresas do setor se localizam nos Estados de Minas Gerais (58,23%) – 36,31% na região de Belo Horizonte, 12,73% na região Centro Oeste de Minas, 0,11% local e, 9,08% em outras regiões do Estado – São Paulo (27,15%) e Rio de Janeiro (10,44%), conforme mostra a Figura 22. 112 Tabela 18. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo Produtivo Local Entidade/ Representante SEBRAE O Instituto Euvaldo Lodi – IEL/MG, SENAI Prefeitura Municipal de Carmo do Cajuru SINDIMOV-MG Campo de atuação Contribuição para o APL Desenvolvimento de empresas de pequeno porte, por meio da prestação de serviços de orientação e capacitação empresarial para os empresários e empreendedores do município de Carmo do Cajuru. - Promoção de cursos de capacitação, treinamentos, consultorias individualizadas e programas para a melhoria dos processos gerenciais de empresas do setor; - Aplicação da metodologia GEOR para acompanhamento de projetos no APL. - Participação no projeto de consolidação de um pólo de moveleiro competitivo e de qualidade na região. Produzir o máximo de integração, sinergia e eficiência na identificação de demandas e ofertas de conhecimento e tecnologias para atingir a premissa de tornar competitiva a indústria de Carmo do Cajuru. Promotor do desenvolvimento e da inovação da indústria mineira, por meio da articulação e integração entre os setores industrial, governamental, educacional e de pesquisa e desenvolvimento. Capacitação para o Trabalho na indústria, por meio de um programa de qualificação profissional. Promoção do setor produtivo do município, por meio de programas de incentivo para a instalação e crescimento das empresas. Promoção do desenvolvimento regional por meio de parcerias junto aos diversos segmentos da sociedade local, com empresários, associações de classe e poder público. Banco do Brasil, e Fornecimento de crédito e Bancos Privados financiamento Fonte: Dados da Pesquisa. - Cursos específicos para a indústria do setor moveleiro - Doação de terrenos, isenção de tributos para micro e pequena empresas do setor, - Desenvolvimento de palestras, encontros, cursos, diagnósticos, planejamento, de modo a contribuir para o processo de desenvolvimento sustentável na cidade - Elaboração, coordenação e controle de projetos de desenvolvimento do APL - Coordenação do APL - Oferecimento de financiamento e créditos, não diferenciados, para o setor. A concentração de vendas na região de Belo Horizonte e a expansão para os mercados do Estado de São Paulo e Rio de Janeiro estão relacionadas com os trabalhos de marketing e de expansão da Líder. Essas exportações de produtos para outras regiões é que sustentam a renda da região. Quanto à visitação e exposição em feiras setoriais, pôde-se perceber que a participação em feiras locais, em outras cidades do Estado e em outros Estados é bastante expressiva, conforme mostra a Figura 23, mostrando resultados do trabalho desenvolvido pelo SINDIMOV-MG, voltando para o aumento da participação das empresas de Carmo do Cajuru em missões e feiras. Tal preocupação tem se intensificado a partir dos resultados do Diagnóstico do setor moveleiro de Carmo do Cajuru, realizado em 2003, que mostraram baixo índice de participação de empresas em feiras, tanto como expositoras, quanto como visitantes. 113 Minas Gerais 58,23% São Paulo 27,15% Rio de Janeiro 10,44% Outros Estados 4,18% 0% 50% 100% Figura 22. Destinação das vendas de móveis de Carmo do Cajuru Fonte: Dados da pesquisa. A participação em feiras, como expositores, é uma importante forma de divulgação de produtos, podendo ser um atalho na busca de novos mercados. Isso pode ser comprovado no depoimento das pequenas empresas expositoras em outros Estados. Segundo elas, as vendas para outros Estados, como Pernambuco, Paraná, Santa Catarina e Ceará, começaram a ocorrer a partir do momento em que começaram a expor os seus produtos fora do Estado de Minas Gerais. 64% Feira Local 45% Outras cidades 55% Outros Estados Outros países 59% 36% 18% 9% 0% 0% 50% Expositor 100% Visitante Figura 23. Participação em feiras pelas empresas de Carmo do Cajuru Fonte: Dados da pesquisa. 114 4.3.2.3 A dinâmica do Arranjo Produtivo de Carmo do Cajuru e as formas de cooperação 4.3.2.3.1 Relacionamento entre as empresas especializadas dentro do APL Desde o início das atividades moveleiras em Carmo do Cajuru, a cooperação entre empresas por meio das relações de subcontratação é bastante fraca. Todos os entrevistados afirmaram que só existem essas práticas em serviços de entalhamentos, estofamentos, vidraçaria – que exigem empresas especializadas – e, em menor quantidade, em estrados, acabamento em verniz e lateral de gaveta (Figura 24). Os motivos para a terceirização dessas atividades/componentes estão relacionados: a redução do custo de produção (91% dos entrevistados), uma vez que tais atividades demandariam empregados especializados e registrados dentro das empresas; b) busca por melhor qualidade dos serviços prestados (32% dos entrevistados), por acreditarem que empresas especializadas em estofamentos e entalhamento podem apresentar melhor qualidade de acabamento do que se tais atividades fossem desenvolvidas na empresa. 59% 59% Vidraçaria 50% 50% Estofamento 5% Lateral de gaveta 68% 36% Estrado 45% 18% Acabamento em verniz 64% 68% 68% Entalhamento 0% 50% Presença da atividade 100% Terceirização da atividade Figura 24. Itens terceirizados e o percentual de empresas que terceirizam Fonte: Dados da Pesquisa. Tais empresários, quando questionados sobre a viabilidade de terceirização de partes ou componentes dos produtos, responderam que preferem internalizar a produção a terceirizar. Como justificativa, 36% afirmaram nunca ter pensado nessa possibilidade; 23% afirmam que o ambiente de confiança entre as empresas não é tão forte a ponto de permitir tal prática; 41% afirmaram que falta em outras empresas qualidade de mão-deobra e tecnologia capazes de garantir a qualidade do produto; 14% afirmaram que os 115 critérios de controle de qualidade são muito rigorosos para o setor, não compensando os ganhos que poderiam ser obtidos por meio da terceirização. No entanto, um trabalho voltado para maior horizontalização deveria ser desenvolvido para que as empresas possam obter ganhos de produtividade e redução de custos. O aumento da terceirização de peças beneficia os processos produtivos e as linhas de montagem, minimizando o tempo de produção e ampliando a capacidade produtiva. Dessa forma, as empresas poderiam abrir novos mercado, aumentar a competitividade e dispensar maior atenção com qualidade e o design dos seus produtos. 4.3.2.3.2 Relacionamento entre empresas concorrentes Até o final dos anos de 1990, existia em Carmo do Cajuru uma competição acirrada entre os concorrentes. Eles desenvolviam suas estratégias isoladas e evitavam encontros para discussão conjunta dos problemas e troca de informações. Como forma de amenizar esse tipo de concorrência, o SINDIMOV-MG veio desenvolvendo alguns trabalhos que acabaram refletindo em algumas ações conjuntas: a) desenvolvimento de catálogos (59% dos entrevistados); b) participação conjunta em feiras, com divisão de stands (59%); c) organização de feiras (63%); d) organização de expedições para visitação e exposição de produtos (54%); e) promoção de treinamento de pessoal em conjunto (31%); f) participação de ações de composição de produtos (22%) e; g) troca de informações em relação à tecnologia e design (81%). 4.3.2.3.3 Relacionamento dos fornecedores dentro do APL Os fornecedores de máquinas e equipamentos, bem como, os maiores fornecedores de matérias-primas e insumos – madeira, aglomerados, MDF, tinta e verniz -, estão localizados fora da cidade e, ainda, a maioria se encontra em outros Estados Brasileiros. O contato com esses fornecedores é feito mediante representantes comerciais, telefones, páginas na internet, etc. Isso tem dificultado o estabelecimento de parcerias entre as empresas com os fornecedores. A partir de 2003, surgiram alguns fornecedores de matéria-prima e insumos na cidade. No geral, fornecem cola, lixa, prego, acessórios, pequenos estoques de madeira e aglomerados. Geralmente, tais fornecedores servem como alternativa para as pequenas empresas, no que diz respeito a compras eventuais e servem às microempresas que não conseguem realizar compras em maiores volumes. 116 Tais fornecedores, por se tratar de microempresas atravessadoras, não possuem poder de barganha sobre os seus fornecedores para que possam desenvolver política de preços diferenciada e participar de desenvolvimento de produtos e materiais dentro do APL. A existência deles está relacionada ao fato que a proximidade, dentro dos distritos industriais, faz com que funcionem como um estoque terceirizado das micro e pequenas empresas, permitindo a elas manterem menores níveis de estoques. Pode-se perceber que, mesmo sem preços competitivos, o número de empresas que adquirem cola, lixa, ferragens, acessórios e, até mesmo, madeira, desses fornecedores, é bastante significativo (Tabela 19) No caso da madeira, 45% dos entrevistados adquirirem toda ou parte da madeira em Carmo do Cajuru. Esses 45% são formados por microempresas que acabam pagando preços mais elevados em virtude da produção não atingir um patamar suficiente para adquirir a quantidade mínima que compense o custo com o transporte. Desse montante, 22% afirmaram que compram a madeira no local quando, por eventualidade, ocorre a falta do material no estoque. Tabela 19. Principais fontes de aquisição de materiais pelas empresas moveleiras de Carmo do Cajuru Fornecedores Madeira Chapeado/Compensado Tinta/verniz Ferragens Estofados Vidro/Espelho Lixas Embalagens Cola Acessórios Fonte: Dados da pesquisa. Local 45% 0% 0% 73% 64% 0% 82% 55% 100% 32% Na Região 18% 0% 0% 0% 0% 86% 0% 0% 0% 0% No Estado fora da Região 18% 0% 5% 23% 9% 0% 0% 41% 0% 41% Outros Estados 59% 91% 95% 36% 14% 0% 23% 36% 0% 50% 4.3.2.3.4 Relacionamento das empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e processos, Instituições de Pesquisa/Universidades Em geral, ressalvando a Mobiliadora Líder, não há departamentos de P&D nas empresas nem equipes de desenvolvimento de produtos e processos que prestam serviço ao arranjo. Em relação à inovação de processos produtivos, todas as pequenas empresas entrevistadas utilizam ou já utilizaram de serviços de consultoria das cidades de Divinópolis e de Belo Horizonte para ajustar o seu processo de produção. 45% das 117 microempresas entrevistadas afirmam que a inovação em processo ocorre por meio de troca de informações junto a outras empresas concorrentes, fornecedores de insumos e de maquinário. Os outros 55% afirmaram que esse tipo de inovação ocorre por meio de observação de coisas que são feitas em outras empresas concorrentes. As principais fontes de informação para a inovação de processos produtivos estão relacionadas com os vendedores de máquinas e equipamentos (36%); vendedores de insumos (14%) e revistas especializadas (64%). Em relação ao design e inovação de produto, todas as empresas afirmaram que desenvolvem atividades de design, considerado como o fator mais importante das atividades de inovação da indústria moveleira. Porém, apenas 36% das empresas entrevistadas afirmam que utilizam ou utilizaram profissionais da área. O restante desenvolve essa atividade dentro da própria empresa, pelos próprios empregados. Tal prática está mais voltada para o lançamento de produtos de mercado já desenvolvido, aproximando mais do conceito de cópia de produtos. As principais fontes de informação para a realização de design são: a) representantes comerciais e clientes (64%); b) arquitetos e decoradores (36%); c) revistas especializadas e de decoração (100%); d) feiras de móveis, máquinas e tendências (64%); e) troca de informação com empresas concorrentes, principalmente quando são contratadas para a composição de produtos (14%). Outro aspecto que deve ser levantado é o fato da Cidade estar localizada a 9 km de Divinópolis, que possui 6 faculdades, mas nenhuma delas possui cursos voltados para a formação de pessoal para o setor moveleiro. 3 delas possuem curso superior em Administração e Ciências Contábeis, porém, pela pesquisa, tais profissionais não têm sido absorvidos pelas empresas de Carmo do Cajuru e, ainda, não foi verificado nenhum trabalho de parceria envolvendo instituições de pesquisa. 4.3.2.3.5 Relacionamento das empresas de formação de mão-de-obra No arranjo de Carmo do Cajuru, a origem da mão-de-obra é local. Desde o início da atividade moveleira na cidade até a implantação do SENAI, no ano de 2003, a mãode-obra obra vinha sendo treinada dentro das empresas, ou seja, a qualificação por meio do “aprendendo fazendo” ou “learning by doing”. Pode-se perceber que os recursos humanos empregados no setor moveleiro detêm baixo nível de escolaridade. Cerca de 50% dos funcionários não possuem o 118 primeiro grau completo; 18% possuem o segundo grau completo e 6% possuem ou estão cursando curso superior. Cerca de 50% dos dirigentes possuem curso fundamental completo; 41% o segundo grau completo e 9% curso superior. A baixa qualificação profissional foi um dos pontos observados como desafio ao desenvolvimento das empresas. A ampliação do apoio governamental para melhoria dos vários níveis de ensino, disponibilização de linhas de crédito e ainda a ampliação das ações do SESI, SENAI, IEL e SEBRAE podem viabilizar problemas para a qualificação dos profissionais e, conseqüentemente, impulsionar a produtividade do setor. A partir de 2003, com a entrada do SENAI na cidade, a mão-de-obra tem sido fornecida também pela Escola de Marcenaria, que tem como objetivo formar e treinar jovens para a atividade de marcenaria. 68% dos entrevistados afirmam ter contratado alunos dessa escola do SENAI e atestam o tipo de profissional formado por essa escola. 4.3.2.3.6 Relacionamento com os agentes de animação do APL A coordenação do arranjo de Carmo do Cajuru é exercida pelo SINDIMOVMG, que, desde a sua criação, vem desenvolvendo uma série de atividades no sentido de contribuir para maior integração entre a indústria e órgãos públicos. Hoje existem 32 empresas associadas ao SINDIMOV, representando 50% das empresas formais. Ao longo dos anos, ações foram desenvolvidas pelo SINDIMOV-MG, como: a) apoio na criação do Distrito Industrial II; b) realização e organização de feiras locais; c) organização de expedição para visita e exposição em outras localidades; d) conscientização das empresas para comportamento mais cooperativo; e) desenvolvimento de parceria junto ao SENAI e SEBRAE para aumentar a qualificação da mão-de-obra no APL; f) promoção de encontros para discutir assuntos tais como: gestão ambiental; central de compras, vendas e cargas; capacitação de mão-de-obra. Visando o crescimento e a melhor estruturação do pólo, foi criado, em 2003, com base na experiência de sucesso de Ubá, um Comitê Gestor do APL, em que empresários foram divididos em 4 grupos temáticos: Capacitação e RH; Gestão e Tecnologia; Mercado e Imagens e; Finanças. No entanto, ainda não foram comprovadas ações reais, envolvendo esses grupos. 119 CAPÍTULO 5 Os arranjos produtivos locais de confecções de Minas Gerais O segmento de confecção é uma das indústrias mais disseminadas espacialmente no mundo e constitui importante fonte de geração de renda e emprego para muitos países, principalmente em desenvolvimento. É formado por um contingente numeroso de empresas com características heterogêneas em relação ao porte (IEL, 2005). O segmento é caracterizado pela presença de pequenas e médias empresas, consideradas especializadas, que fabricam principalmente artigos de pequeno valor agregado, utilizando, em larga escala, mão-de-obra barata (IEL, 2003c), apesar das mudanças tecnológicas, que permitiram expressivos incrementos de produtividade, baseados em preços, qualidade, flexibilidade e diferenciação de produtos. Esse segmento é encontrado no final da Cadeia Produtiva Têxtil e é considerado, dentro desta cadeia, como o elo que mais agrega valor ao produto. No entanto, sua competitividade depende de todas as etapas anteriores desta cadeia. As PMEs desse segmento conseguem sobreviver em virtude dos aspectos estruturais e pela diversificação da demanda. Segundo IEL (2003c), essa diversificação, juntamente com a flexibilidade, viabiliza os nichos de mercado antieconômicos para as empresas maiores. No entanto, a competitividade dessas PMEs intensifica quando estas são inseridas em Arranjos Produtivos Locais. Este capítulo é estruturado em três partes. Na primeira parte é apresentada a Cadeia Produtiva Têxtil, de modo a mostrar os relacionamentos que ocorrem dentro da cadeia, até o segmento de confecção. Na segunda parte, os panoramas internacionais, nacionais e no Estado de Minas Gerais. Na terceira parte, os APLs estudados de Muriaé e de São João Nepomuceno. 5.1 Cadeia Produtiva Têxtil Na Cadeia Produtiva Têxtil e de Confecções (CTC), os elos compreendem a interação entre os fornecedores, equipamentos, produtos químicos (fibras e filamentos), produtores de manufaturados (fios, tecidos, malhas) e bens acabados (confeccionados têxteis). Para facilitar a visualização de todos os processos produtivos relacionados à cadeia e direcionar as políticas publicas e os investimentos privados, consideram-se os 120 seguintes elos: fibras naturais, fibras manufaturadas, fiação, tecelagem, malharia, confecção - artigos de vestuário e outros confeccionados - e bem de capital. Além disso, há inserção constante de estratégias de marketing e de design (Figura 25). Fibras Têxteis Fibras Naturais Agropecuária Linho Sisal Seda Lã Algodão Juta Mineração Amianto Têxtil Fiação Acabamento Componentes Fibras Manufaturadas Celulose Petroquímica Eteno Tecelagem Raion Fibras artificiais Poliéster Poliacrílico Nylon Elastano Olefinica Fibras Sintéticas Confecção Malharia Atacado e Varejo Representante comercial Bens de Capital Exportações Máquinas Agrícolas Máquinas Ferramentais Máquinas têxteis Inserção de estratégias de Marketing e Design Figura 25. Cadeia Produtiva Têxtil – Vestuário/Confecções Fonte: IEL/FIEMG, 2005. O primeiro elo da cadeia, definido como “fibras têxteis”, engloba a produção de insumos utilizados na fabricação de têxteis e confeccionados. O elo de fibras naturais inclui todos os processos e atividade (agropecuária e mineração) envolvida na produção da fibra, representada, no Brasil, principalmente pelo algodão. O elo das fibras manufaturadas ou químicas subdivide-se em fibras artificiais e sintéticas. O Segundo elo da CTC é composto pela produção de fios, tecelagem e malharia. Os elos de fiação (fios fiados com fibras) e tecelagem (tecidos planos) caracterizam-se mundialmente por um processo de concentração, com empresas comumente integradas em fiação-tecelagem ou, ainda, em fiação-tecelagem-acabamento. 121 O próximo elo é representado pela indústria de transformação. Nele, é encontrada a ponta final da cadeia, ou seja, o elo de confecção. Este elo é intensivo em mão-de-obra e engloba a fabricação das roupas e acessórios do vestuário. É caracterizado por grande heterogeneidade de ramos e elevado grau de atomicidade das firmas, particularmente aquelas nos ramos do vestuário. O Elo de bens de capital, por sua vez, tem uma interface com toda CTC. As empresas que compõem este setor dedicam-se à fabricação de equipamentos e máquinas específicos para cada sub-setor da indústria têxtil e de confecções. Esse elo caracterizase por um reduzido número de empresas que abastecem o mercado mundial, trabalhando com altas escalas de produção e produtos de alto valor agregado. A última etapa da CTC abrange os canais de distribuição e comercialização do produto final, como representantes comerciais, varejistas e atacadistas. 5.2 A indústria de confecção no âmbito internacional, nacional e no Estado de Minas Gerais 5.2.1 Panorama Internacional O segmento do vestuário internacional é responsável por uma produção anual de aproximadamente US$ 226 bilhões (IEL, 2005), dos quais pouco mais de US$ 100 bilhões pertencem aos países recém-industrializados da Ásia, conforme ilustram os dados apresentados na Tabela 20. Os maiores produtores de artigos confeccionados são China, Estados Unidos e Índia. Os maiores exportadores são União Européia, seguida da China, Hong-Kong e Turquia, que juntas respondem por 64% do total das exportações. Os maiores importadores das indústrias do vestuário são: União Européia, Estados Unidos, Japão e Hong-Kong, que juntos, são responsáveis por mais de 90% das importações. Segundo IEL (2005), a atuação do Brasil no mercado do vestuário mundial é ainda pouco significativa, estando entre os 40 maiores exportadores e importadores da CTC mundial. Em 2004, o Brasil foi responsável por US$ 340 milhões das exportações no segmento do vestuário. Os principais mercados de destino dos produtos brasileiros do Vestuário foram os Estados Unidos com US$ 132 milhões, União Européia com US$ 89 milhões e o MERCOSUL com US$ 50 milhões. 122 Tabela 20. Evolução do segmento do vestuário nos principais continentes (em bilhões de US$) Continentes 1999 2000 2001 2002 2003 América do Norte 10,15 10,71 8,95 8,02 7,51 América Latina 18,38 21,24 20,55 20,88 20,00 Europa Ocidental 58,89 56,03 56,90 60,52 72,43 Ásia 79,02 90,58 87,01 89,92 100,92 Outros 18,16 18,47 20,28 21,51 25,08 Mundo Fonte: IEL (2005) 184,60 197,03 193,69 200,85 225,94 5.2.2 Panorama Nacional No Brasil o setor do vestuário, em sua maioria, é constituído por micro, pequenas e médias empresas, consideradas especializadas, que fabricam principalmente artigos de pequeno valor agregado, utilizando, em larga escala, mão-de-obra barata. Essas diferenças confirmam a existência de grande número de empresas de variados portes, predominantemente de origem familiar e constituída por capital nacional. A indústria do vestuário produz cerca de 4,4 milhões de peças/ano, representando economicamente um faturamento total equivalente a 4% do PIB nacional e 17% do PIB industrial. Emprega 1,7% da população economicamente ativa, ou 16,1% do total dos trabalhadores alocados na Indústria de Transformação (IEL, 2005). Certamente este é um setor de grande relevância para a economia do país e de forte impacto social. A indústria brasileira do vestuário, assim como em todo mundo, se caracteriza por um alto grau de diversificação quanto às matérias-primas, processos produtivos, concorrência e estratégias empresariais. O mercado consumidor é segmentado por faixa etária, sexo, idade e nível de renda. A Tabela 21 mostra as especificidades do setor de vestuário, nos principais estados brasileiros produtores. A abertura comercial, a partir de 1990, não só proporcionou as indústrias da CTC acessos aos modernos tecidos existentes no mercado internacional e preços mais competitivos, como também, a inserção de ferramentas de design, administração das marcas e da distribuição, agregando valor ao produto brasileiro. Sem contar na terceirização das fábricas (facções) que resultou em uma vantagem adicional, para muitos produtores do setor. 123 Tabela 21. Especificidades do setor do vestuário identificado no Brasil Estado Minas Gerais São Paulo Espírito Santo Rio de Janeiro Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Ceará Piauí Rio Grande do Norte Pernambuco Distrito Federal Mato Grosso do Sul Goiás Fonte: IEL, 2005. Descrição Divinópolis, Juiz de Fora e Cataguases (malharia e roupa esporte), Muriaé (lingerie noite e infantil), São João Nepomuceno (Jeans), Montes Claros (moda casual) Atuando em todos os segmentos Amparo (moda infantil;bebê), Ibitinga e Americana (cama, mesa e banho), São Paulo (moda casual), Auriflama (lingerie dia e camisaria/malha) Vila Velha e Colatina (malharia em geral, modinha e roupa esportiva) Nova Friburgo (lingerie dia e moda praia) e Itaperuna (lingerie noite). Maringá, Apucarana, Cascavel, Cianorte e Londrina (jeans e bonés) Blumenau e Jaraguá do Sul (vestuário em malha), Itajaí, Brusque, Indaiá, Ituporanga, Gaspar, Pomerode, Rio do Sul (roupas de malharia circular,cama, mesa e banho) Caxias do Sul, Farroupilha e Bento Gonçalves (roupas em tricô) Fortaleza (roupa íntima, moda praia, jeans) Teresina (jeans) Santa Cruz (cama, mesa e banho) Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe (moda íntima, jeans e sufware) Brasília e entorno (vestuário em Geral) Dourados e Campo Grande (vestuário em geral) Pirinópolis Catalão (jeans, roupas finas e de malha, infantis) A indústria nacional de confecção concentra-se, principalmente, nas Regiões Sudeste (51,83%) e Sul (31,41%). Sendo 28% dos estabelecimentos estão em São Paulo; 16% no Paraná; 14% em Minas Gerais e 11% em Santa Catarina (Tabela 22). Tabela 22. Número de estabelecimentos produtivos do setor do vestuário, número de trabalhadores relacionados por Estado Brasileiro Estado Espírito Santo Minas Gerais Rio de Janeiro São Paulo Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Ceará Pernambuco Piauí Rio Grande norte Dist. Federal Goias Mato Grosso Sul Outros Total Brasil Fonte: RAIS/MTE (2007) Estabelecimentos Quant. % 986 6,8% 2.053 14,2% 408 2,8% 4.043 28,0% 2.303 15,9% 1.584 11,0% 652 4,5% 67 0,5% 378 2,6% 679 4,7% 107 0,7% 58 0,4% 662 4,6% 32 0,2% 85 0,6% 14.452 100% 124 Trabalhadores Quant. % 46.266 7,5% 76.218 12,3% 15.938 2,6% 167.350 27,1% 94.349 15,3% 69.132 11,2% 21.387 3,5% 3.515 0,6% 16.378 2,7% 41.820 6,8% 15.500 2,5% 4.176 0,7% 22.377 3,6% 800 0,1% 3.798 0,6% 617.699 100% Caber ressaltar que, em relação ao número de empresas há uma relativa instabilidade, variando conforme os momentos favoráveis e desfavoráveis do mercado, o que ressalta uma forte característica deste setor, de uma quase ausência de barreiras à entrada de novos produtores no mercado. Em relação à destinação da produção, das 4,4 milhões de peças/ano produzidas, 97% são destinadas ao mercado interno e apenas 3% ao mercado externo. As importações contribuem com menos de 0,5% do consumo aparente de peças de roupas confeccionadas. De acordo com Crocco (2001), uma das maiores dificuldades do setor e de toda indústria brasileira é diminuir o seu alto grau de verticalização. Este modo de produção inviabiliza a redução dos custos e a especialização. No modelo encontrado no exterior, as empresas são mais especializadas, fomentam o inter-relacionamento entre si, trocam experiências, viabilizam a cooperação tecnológica e os investimentos em inovações no produto final. 5.2.3 Panorama de Minas Gerais O Estado de Minas Gerais é responsável por 14% da produção nacional de vestuário, ficando atrás apenas dos Estados de São Paulo e Paraná. Anualmente cerca de R$ 1,2 bilhão na indústria de vestuário, o que representa 3% do total do faturamento da indústria de transformação do Estado (IEL, 2005). O segmento mineiro de vestuário é formado por empresas tradicionais no mercado da moda. O bom desempenho do mercado motivou a abertura de micro e pequenas empresas, principalmente no ramo das confecções, por ser um setor que requer baixo nível de investimento inicial, e um dos preferidos pelos novos empreendedores que possuem pouco capital. Nos últimos anos, o vestuário apresentou crescimento expressivo e contínuo, tanto em número de estabelecimentos como em número de postos de trabalho ofertados. A Tabela 23 mostra a participação percentual no número de empregos e a Tabela 24 mostra o percentual de estabelecimentos do Vestuário do Estado. Analisando esses quadros, percebe-se a concentração da indústria do vestuário na Zona da Mata, Região Sul de Minas e Centro Oeste de Minas. Na Zona da Mata, há concentração dessas indústrias nas microrregiões: Juiz de Fora (abrangendo São João Nepomuceno); Cataguases; Ubá e Muriaé. Nessas Microrregiões, diversas linhas de 125 produção do vestuário têm sido trabalhadas, como a confecção do jeanswear, lingerie, moda praia, camisas, calças roupas esportivas, pijamas e toda a linha infantil. Tabela 23. Participação percentual no emprego da indústria do vestuário em Minas Gerais – regiões selecionadas (2007) Regiões Central Zona da Mata Centro oeste Sul de minas NoroesteMinas Triangulo Alto paraíba Rio doce Jequetinhonha Outros Minas Gerais Artigos em Malha (a) 2,1% 4,0% 2,3% 89,2% 1,3% 0,3% 0,3% 0,1% 0,0% 0,6% 100,0% Roupas Íntimas, Blusas, Camisas (b) 15,4% 43,3% 13,8% 16,7% 0,4% 4,5% 0,8% 3,1% 0,2% 1,9% 100,0% Peças do Vestuário Exceto (b) (c) 16,0% 28,8% 21,7% 24,0% 0,5% 3,0% 2,1% 2,9% 0,3% 0,8% 100,0% Roupas Profissionais (d) 36,0% 27,1% 3,2% 16,1% 0,1% 4,9% 1,4% 10,0% 0,2% 0,9% 100,0% Acessórios Vestuário (e) 24,0% 19,5% 29,5% 3,8% 0,0% 9,6% 5,9% 4,9% 1,1% 1,7% 100,0% Acessórios Segurança (f) 30,7% 0,1% 7,8% 37,7% 0,0% 14,4% 0,4% 6,3% 0,0% 2,6% 100,0% Total 16,7% 28,8% 18,8% 25,3% 0,5% 3,6% 1,8% 3,2% 0,3% 1,0% 100,0% Fonte: RAIS/MTE. Obs CNAE/95 (CNAE 1.0 revisado em 2002), 2007 Alguns desses aglomerados já possuem certo grau de organização, como os casos de Muriaé e São João Nepomuceno. Nestas localidades, o Sistema FIEMG, através do Instituto Euvaldo Lodi (IEL-MG) e do SENAI-MG, aliados aos SEBRAEMG, buscam desenvolver ações no sentido de dinamizar esses pólos, tornando-os alvo importante de qualquer ação que vise desenvolver a economia de Minas Gerais. Tabela 24. Participação no número de estabelecimentos da indústria do vestuário em Minas Gerais – regiões selecionadas (2007) Regiões Central Mineira Zona da Mata Centro Oeste Sul de Minas Noroeste Minas Triangulo Alto paraíba Rio doce Jequetinhonha Outros Minas Gerais Artigos em Malha (a) 3,4% 3,4% 1,4% 89,0% 0,7% 0,0% 1,4% 0,0% 0,0% 0,7% 100,0% Roupas Íntimas, Blusas, Camisas (b) 15,0% 35,3% 17,1% 16,8% 0,6% 5,9% 2,6% 3,2% 0,6% 2,9% 100,0% Peças do Vestuário Exceto (b) (c) 19,5% 25,4% 25,9% 17,4% 0,5% 4,3% 2,2% 3,4% 0,3% 1,1% 100,0% Roupas Profissionais (d) 44,0% 26,2% 2,4% 10,7% 1,2% 4,8% 1,2% 9,5% 0,0% 0,0% 100,0% Acessórios Vestuário (e) 29,8% 17,5% 17,5% 7,0% 0,0% 12,3% 5,3% 7,0% 1,8% 1,8% 100,0% Fonte: RAIS/MTE. Obs. CNAE/95 (CNAE 1.0 revisado em 2002), 2007 126 Acessórios Segurança (f) 20,0% 4,0% 4,0% 36,0% 0,0% 24,0% 0,0% 12,0% 0,0% 0,0% 100,0% Total 18,9% 25,0% 21,2% 22,1% 0,5% 4,7% 2,2% 3,6% 0,3% 1,4% 100,0% 5.3 Os Arranjos Produtivos Locais de empresas de confecções estudados em Minas Gerais 5.3.1 O APL de Muriaé O Município de Muriaé localiza-se na região sudeste de Minas Gerais na Zona da Mata, fazendo parte da microrregião de Muriaé53, delimitando com a fronteira do Rio de Janeiro (IBGE, 2005). Esse município começou a se formar aproximadamente no início do século XIX, mais especificamente em 1819. Elevou-se a cidade em 1923. Até o final do século XIX, a economia local era basicamente a comercialização de plantas medicinais extratificadas de madeiras-de-lei como as raízes de ipecacuanha, considerada na época raízes de grande valor econômico. No final desse século, a região passou a se destacar entre as maiores produtoras de café do país. Essa condição, que manteve até meados do século XX, permitiu ganhos de infra-estrutura para a Cidade, por meio da construção de estradas de ferro destinada ao transporte do café, serviços de armazenagem e beneficiamento de café e implantação de serviços de telefonia. Com a crise de 1929, com a economia de café apresentando quedas significativas e, ainda, com a inauguração da rodovia BR 116, em 1939, o governo local passou a estimular a melhoria genética do rebanho leiteiro existente. Aliado a mudança do café para o leite, surgiram empresas de transporte e cooperativas de leite. Em 1961, com o asfaltamento da BR116, o fluxo de veículos aumentou consideravelmente e o município avança para o progresso, intensificando a atividade econômica associada à produção do leite e, ainda, abrindo espaços para outras atividades econômicas. Nas décadas de 60 e 70, em virtude da BR116 e da BR 356, os serviços de transporte e serviços relacionados com a mecânica automotiva foram atividades de destaque. A cidade se tornou referência nacional no ramo de retífica de molas e de motores, fábrica de caminhão baú, serviços de transporte de carga. Ainda a partir da década de 60, Muriaé e Região começaram a dar os primeiros passos em direção ao segmento do vestuário que tomou importância significativa a partir dos anos de 1980 e, hoje, é responsável por 42% da renda gerada na região (IEL, 2005). 53 Fazem parte desta região os municípios de Muriaé, Carangola, Espera Feliz, Divino, Mirai,Tombos, Eugenópolis, Miradouro, Fervedouro, Barão do Monte Alto, Patrocínio de Muriaé, São Francisco da Gloria, Orizânia, Faria Lemos, Caiana, Vieiras, Rosário de Limeira, São Sebastião da Vargem Alegre, Pedra Dourada, Antônio Prado de Minas (IEL, 2005). 127 A população de Muriaé é de 97.628 habitantes em 2005. Do total da população residente, 91,12% está localizado na área urbana e 8,88% na área rural. A densidade demográfica do município é de 115 hab/km2, ocupando uma área total de 845,6 km2. (IBGE, 2005; Fundação João Pinheiro 2007). Segundo a base de dados da Fundação João Pinheiro (2007), o município, no ano de 2004, apresentou um PIB a preços correntes de R$ 453.192,45 milhões e um PIB per capta de R$ 4.702,35. Comparando esse PIB com os das demais cidades da microrregião, percebe-se que Muriaé ocupa o primeiro lugar, conforme a Tabela 25. No entanto, percebe-se que este PIB é bem inferior a média do Estado. Tabela 25. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de Muriaé – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00) PIB a preços correntes (2004) Localidade Minas Gerais Microrregião Muriaé Carangola Espera Feliz Divino Miraí Tombos Eugenópolis Miradouro Fervedouro Barão do Monte Alto Patrocínio de Muriaé São Franc. da Gloria Orizânia Faria Lemos Caiana Vieiras Rosário de Limeira S. Seb. Vargem Alegre Pedra Dourada Antônio Prado Minas PIBpm População PIB/hab (R$1,00) agropecuário industrial serviços Total (1) 13.697.698 157.135 28.548 9.985 18.760 17.958 7.198 6.464 7.294 9.315 9.429 68.921.655 225.429 119.051 23.501 10.535 3.792 10.276 4.431 5.697 19.110 1.962 73.556.254 683.733 305.593 89.001 49.429 38.497 29.024 24.066 19.476 22.094 17.270 156.175.607 1.066.297 453.192 122.487 78.723 60.247 46.498 34.961 32.468 50.519 28.662 166.586.327 1.067.203 459.081 118.613 77.830 59.729 45.803 34.769 32.472 50.215 28.788 18.993.720 271.126 97.628 32.383 21.033 19.463 12.437 12.619 9.736 9.536 9.999 8.771 3.936 4.702 3.663 3.700 3.069 3.683 2.755 3.335 5.266 2.879 4.698 2.656 11.393 18.747 18.795 6.242 3.011 2.327 7.608 11.550 21.486 21.932 5.072 4.324 3.679 4.670 5.662 4.380 5.623 2.217 1.258 6.314 2.045 1.269 9.990 11.145 8.725 8.133 7.408 15.886 17.073 20.701 14.558 14.300 16.048 17.100 21.145 14.617 14.340 5.353 7.015 3.864 4.256 4.032 2.998 2.438 5.472 3.434 3.557 3.906 993 7.519 12.418 12.477 4.183 2.983 2.522 2.292 901 921 5.352 4.352 8.775 7.565 8.812 7.586 2.796 1.922 3.152 3.947 2.424 889 3.717 7.030 7.051 1.557 4.528 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2004) Fazendo a análise do PIB ao longo dos anos, por meio dos dados da Tabela 26, percebe-se que este PIB tem mostrado crescimento significativo a partir de 1999. De 128 acordo com o IEL (2005), este crescimento está relacionado ao desempenho da indústria do vestuário, que representa 6% dos estabelecimentos e 5% do emprego formal e, ainda, representa 42% da renda gerada na região. O bom desempenho da economia de Muriaé não pode ser dissociado de sua consolidação como importante pólo produtor do Vestuário, destacando-se pela confecção de lingerie e roupas infantis (Souza, 2005). Tabela 26. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de Muriaé no período de 1999 a 2004 PIB a preços correntes Ano PIBpm agropecuário industrial serviços População Total (1) 1999 18.462,36 94.935,97 200.940,55 314.338,88 319.484,07 90.093 2000 19.668,30 95.160,72 225.227,87 340.056,90 344.856,42 92.798 2001 18.245,07 82.826,67 239.153,41 340.225,14 341.477,19 93.990 22.563,04 102.527,02 263.665,92 388.755,98 387.489,85 95.195 2002 2003 24.333,36 120.906,52 286.327,83 431.567,71 433.269,69 96.412 28.548,29 119.051,21 305.592,95 453.192,45 459.081,15 97.628 2004 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2004) PIB(pm)/hab. (R$1,00) 3.546,16 3.716,21 3.633,12 4.070,49 4.493,94 4.702,35 5.3.1.1 Evolução histórica da atividade de confecções em Muriaé A confecção em Muriaé tem suas raízes na habilidade manual e artística das mulheres que transformaram a produção doméstica em industrial. A proliferação de confecções em Muriaé ocorreu na década de 80, porém, sua origem remonta à década de 50 e está relacionada com a história da Malharia Galante. 5.3.1.1.1 A Malharia Galante Em 1959, a Malharia Galante, atraída pela facilidade de transportes ferroviário e rodoviário e pelo sistema de telefonia, foi transferida da cidade de Lajinha (MG) para a cidade de Muriaé. Naquela época, o transporte de mercadoria era muito difícil, por isso, a localização geográfica de Muriaé foi considerada importante fator de localização. Em Muriaé, a empresa alterou a razão social para Indústria de Malhas Galante Ltda., pois, além da atividade de confecção, teve que produzir malhas e tecidos, pois, não existia indústria têxtil na região. Assim, a empresa montou uma estrutura de produção que abrangia desde a compra do fio cru até a confecção das peças lisas e bordadas. Na fábrica adquiriam os fios crus, tingiam os fios em tinturaria própria, teciam, cortavam, confeccionavam, bordavam e vendiam os produtos por meio de 129 representantes comerciais, naquela época chamados de “Viajantes”54, para diversos estados brasileiros. Além dos representantes, várias pessoas procuravam adquirir os produtos da Galante para revenda, uma vez que se tratava de produtos finos com bordados, diferentes dos encontrados em grandes centros urbanos. A produção era, basicamente, roupas de bebês e infantis em malha de algodão, acrílico e lã, roupas femininas em malha, infanto-juvenil e roupas de senhoras em malha. A mão-de-obra treinada para a atividade era inexistente. Geralmente, as mulheres trabalhavam como professora, como empregadas em uma indústria que selecionava Malacacheta55 e, ainda, na catação e seleção de café nos entrepostos locais. Para solucionar esse problema da mão-de-obra, teve que trazer parte dos empregados de Lajinha para trabalhar na fábrica e treinar os novos funcionários em todas as fases do processo produtivo, principalmente o bordado. Como as mulheres que trabalhavam com seleção de malacacheta eram conhecedoras da legislação trabalhista, a Galante teve que iniciar suas atividades com todos empregados registrados – prática que não era adotada na cidade de Lajinha. Assim, para reduzir os encargos trabalhistas e aumentar a velocidade do processo produtivo, de modo a atender aos pedidos dos representantes, a Galante começou a treinar donas de casa no trabalho de facção e bordado, ganhando por produtividade e se comprometendo com a entrega nos prazos predeterminados, iniciando a relação de troca na região. De acordo com a proprietária da Galante, com o asfaltamento da BR 116, além das vantagens de transporte para escoamento da produção, o estratégico posicionamento geográfico da cidade de Muriaé favorecia a comercialização dos produtos da empresa. O volume dos negócios cresceu tanto que, na década de 60, havia cerca de 70 empregados registrados, além dos inúmeros trabalhadores a domicílio. Já no início da década de 1960 começaram a surgir confecções de artigos em malha formada por ex-empregados da Galante que contratavam mão-de-obra demissionária da empresa. Também começaram a surgir pequenas confecções caseiras, formada por donas de casa, treinadas pela Galante. 54 A Galante foi criada em 1954 na cidade de Lajinha, no Estado de Minas Gerais. Desde o seu funcionamento em Lajinha, já trabalhava com representantes comerciais de diversos Estados Brasileiros, com ênfase nos Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, Com a sua mudança para Muriaé, continuou trabalhando com os mesmos representantes. 55 Malacacheta é a matéria-prima de fabricação de resistência de ferro elétrico. 130 A Galante trabalhou como confecção até 1982, quando se transformou em comércio. Abriu duas lojas em Muriaé e uma em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, adquirindo mercadorias em São Paulo. As três lojas funcionam até hoje. 5.3.1.1.2 O surgimento das confecções O surgimento das atividades de confecções em Muriaé pode ser dividido em dois momentos distintos. O primeiro momento abrange as décadas de 60 e 70, caracterizado pelo surgimento da atividade de confecção na cidade e região. Neste momento, o foco da atividade econômica da cidade era voltado para o setor mecânico, envolvendo desde retíficas de motores e molas até oficinas de pequenos reparos. O segundo momento ocorre a partir de 1980, representado pelo crescimento do número de confecções na cidade e região. Inicia-se após a crise do setor mecânico em Muriaé, provocando o fechamento de inúmeras PMEs empresas de prestação de serviços. 5.3.1.1.2.1 Os anos de 1960 e 1970: surgimento da atividade na região No início dos anos de 60, começam a aparecer confecções legalizadas e não legalizadas na cidade de Muriaé. As legalizadas surgiram a partir de 1962, por exempregados da galante que, após receber treinamentos e permanecer por alguns anos na empresa, acabaram aprendendo todo o processo de produção, de condução dos negócios e de comercialização. Com o crescimento da procura por produtos, por parte dos representantes, alguns empregados abriram suas próprias confecções56. Muitas dessas confecções adquiriam malha da própria Galante, utilizavam mãode-obra de donas de casa, utilizavam os mesmos representantes da Galante e, até mesmo, copiavam produtos da empresa, principalmente enxovais de criança. Porém, em virtude de contatos com representantes comerciais, encontraram outras linhas de produtos que estavam relacionados com a demanda de mercado e apresentavam mais facilidade no processo produtivo. Assim, começaram a produzir colchas e jogos de cozinha bordados e, artigos para lingerie noite em fustão. Por meio de representantes, as mercadorias se espalhavam por todo o Brasil, principalmente para as regiões norte e nordeste. 56 Segundo a proprietária da Galante, foram 5 confecções que foram fundadas, ao longo dos anos 60 e 70, por empregados diretos da Galante. Geralmente, o empregado que seria dono da próxima confecção, ao sair da galante levava de 5 a 10 empregados para trabalhar com ele. Segundo ela, isso teve efeito multiplicador, uma vez que, depois de algum tempo empregados dessas empresas que originaram da Galante, acabavam seguindo o mesmo procedimento, abrindo novas confecções. 131 Em virtude do crescimento da procura por artigos bordados em Muriaé, muitas mulheres57, além de faccionar e/ou bordar como mão-de-obra terceirizada, começaram a fabricar seus próprios produtos, seja criando ou copiando peças tais como: colchas, jogos de cozinha e/ou roupas de dormir, bordadas. No início, elas comercializavam uma peça ou outra, porém, na segunda metade da década de 70, passaram a entregar suas peças para um novo agente, denominado por eles de “pronta-entrega”. Os “prontaentregas” eram vendedores ambulantes que pegavam as mercadorias dessas senhoras – por consignação e na base da confiança – e vendiam, voltando com os cheques de clientes já descontados o seu diferencial de ganho. Tal figura, em menor significância, existe até hoje. Segundo um dos entrevistados, por um lado, o aumento de representantes comerciais e de vendedores ambulantes estimulava a fabricação de produtos em Muriaé. Por outro, o aumento de produção em Muriaé atraíram fornecedores de tecidos e de aviamentos, voltados ao atendimento das necessidades das donas de casa, fornecendo pequenas quantidades. Isso favorecia a cópia, uma vez que tais vendedores iam de casa em casa, tirando pedidos, apresentando as amostras de tecidos e de aviamentos. Esse tipo de parceria entre donas de casas confeccionistas de peças, vendedores ambulantes e fornecedores especializados em pequenas quantidades de tecidos e aviamento, contribuiu para o aumento e desenvolvimento da atividade na cidade de Muriaé. Algumas donas de casa adquiriam mais máquinas e contratavam pessoas para ampliar o negócio e outras adquiriam máquinas para entrar no negócio. O aumento de aquisição de máquinas de costura doméstica em Muriaé chamou a atenção do fornecedor, em Juiz de Fora. A partir de uma pesquisa junto às cidades da região, em 1979, um empregado desse fornecedor de máquinas foi orientado a se mudar para Muriaé e montar a primeira loja de máquinas industriais, fornecendo também serviços de manutenção e assistência técnica. A partir de então, muitas donas de casa começaram a substituir suas máquinas domésticas por máquinas industriais. Esse fornecedor passou a trabalhar também com as confecções já existentes, contribuindo com o fornecimento de produtos com preços mais competitivos, assistência técnica e manutenção. Hoje, tal fornecedor é o principal vendedor de máquinas e equipamentos de confecções da cidade. Conta com uma oficina e com um laboratório de inovação tecnológica, buscando aperfeiçoar a tecnologia existente. 57 Geralmente os maridos dessas mulheres eram motoristas de caminhões, empregados ou donos de oficinas mecânicas especializadas em mecânica de caminhões. 132 5.3.1.1.2.2 O desenvolvimento das confecções nas décadas de 80 e 90 Nos anos 80, mudanças significativas trouxeram dificuldades para o setor mecânico na cidade de Muriaé, principalmente para as micro e pequenas empresas de prestação de serviços. Tais mudanças estavam relacionadas com: a) a substituição de parte do transporte de carga caminhões comuns para caminhões scaneas, diminuindo o fluxo de caminhões na região e, conseqüentemente, a demanda por serviços das oficinas; b) a implantação de três postos de pedágios na BR 116, aliada ao desenvolvimento e melhoramento de estradas localizadas no Sul de Minas e ao asfaltamento do trecho Realeza-Vitória, fizeram com que os caminhões, principalmente, vindo do Sul do País em direção às regiões Norte e Nordeste, buscassem outras rotas e; c) não menos importante, as diferenças de alíquotas de ICMS entre os Estados, principalmente a partir de 1988, provocavam diferenciação em preços de combustíveis, lubrificantes e preços de peças de reparo e manutenção, fazendo com que os caminhoneiros procurassem atender suas necessidades fora do Estado de Minas Gerais. Em meio às dificuldades enfrentadas e o enfraquecimento desse setor, a maioria das oficinas mecânicas fecharam e, conseqüentemente, aumentava o número de desemprego de chefes de família e de filhos homens dessas famílias. A alternativa então foi a absorção desses novos desempregados pelo negócio da costura. Como a maioria desses negócios era muito pequeno para conseguir sustentar toda a família, surgiu a necessidade de expansão. Porém, o aumento da capacidade de produção estava totalmente vinculado ao aumento da demanda pelos artigos fabricados. Assim, os homens passaram a fazer o trabalho de vendas, ficando responsáveis pela distribuição e venda de produtos enquanto as mulheres cuidavam da produção. Esses homens, utilizando seus carros particulares, distribuíam os produtos em diversas cidades, abrangendo os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, alguns estados do Nordeste e Norte do País. A estratégia de vendas usada era simples, entregavam o produto para as revendedoras das cidades e depois de 30 dias voltavam recolhendo o dinheiro e entregando novas mercadorias. Cabe ressaltar que, ainda na primeira metade dos anos 1980, houve mudanças significativas no gosto dos consumidores de colchas e jogos de cozinha, fazendo com que a produção voltasse mais para lingerie noite bordada. Começaram a desenvolver esse tipo de mercadoria em malha, apresentando grande aceitação no mercado. Com o procedimento de imitação e cópia que predominava a região, a maioria das confecções 133 começou a trabalhar com lingerie noite bordada em malha. Com essa ampliação do mercado, surgiam novas necessidades de aumento de capacidade produtiva para fazer frente às novas demandas, com isso, as donas de casa adquiriam mais máquinas, contratavam mais pessoas para trabalhar e, ainda, faziam uso de mão-de-obra de outras donas de casa para a facção e bordado das peças. Em 1987, atraída pelo volume de consumo de tecidos na cidade, a Vincunha instalou uma loja em Muriaé, chegando a exercer um grande monopólio. Em virtude de problemas de preços ditados por este monopólio, as empresas começaram a buscar alternativas, junto a concorrentes que estavam fora da região. Aos poucos os concorrentes foram colocando representantes comerciais, com lojas, nas cidades, enfraquecendo o poder da Vincunha que fechou sua representação no início dos anos de 1990. Nesta época já havia, na cidade, grande número de pequenos fornecedores de materiais – tecidos e aviamentos – e alguns fornecedores de máquinas e equipamentos. No início dos anos de 1990, com o fortalecimento do mercado, várias confecções começaram a trabalhar com representantes em todo o país. Sacoleiras começaram a procurar a cidade de Muriaé para realizar suas compras. O volume de produção e venda apresentava crescimentos. Ligado ao volume de pedidos e produção, o grande gargalo no processo produtivo estava na etapa de bordar. Mesmo aquelas confecções que mantinham bordadeiras no seu quadro de empregados, acabavam utilizando a mão-de-obra das donas de casa. A profissão de bordadeira era bastante reconhecida com salários diferenciados. Em 1994, com o surgimento da primeira máquina de bordar, a profissão de bordadeira começa a declinar, chegando a desaparecer, quase por completo, quando todo o trabalho de bordado passou a ser executado por essas máquinas. Assim, como forma de sobrevivência, tais bordadeiras acabaram abrindo suas próprias confecções. Esse crescimento de confecções era favorecido, pois, a atividade é de fácil entrada, principalmente para as bordadeiras que já conheciam todo o processo produtivo; presença de fornecedores de materiais, que forneciam prazos compatíveis com a realidade das empresas do setor na região; presença de fornecedores de máquinas e equipamentos que além das máquinas apresentava serviço de assistência técnica e de manutenção; constante visita de compradores formada por sacoleiras de todo o país, que viajavam para Muriaé; presença de mão mão-de-obra disponível. Segundo os relatos de Agentes Institucionais e de empresários da cidade de Muriaé, até 1996, as empresas formais ocupavam o mesmo espaço, como aglomerado 134 produtivo, porém sem nenhum tipo de relacionamento entre elas. Cada uma desenvolvia suas estratégias de produção e venda separadamente. Havia concorrência acirrada, principalmente em relação ao preço de vendas dos produtos. Os empresários formavam os seus preços, com base nas tabelas de preços dos concorrentes, porém, jogando o preço para baixo. Isso acabava prejudicando a todos, pois, em alguns casos, os preços de vendas praticados estavam inviabilizando a produção de determinados artigos. No aglomerado de empresas compartilhavam da estrutura de escoamento de produção; da facilidade de aquisição de matérias para a produção; da facilidade de aquisição de máquinas e equipamentos, bem como de assistência técnica e manutenção; do espaço para vendas, uma vez que as compradoras visitavam a cidade e realizavam grandes volumes de compras; da mão-de-obra disponível; e, ainda, do trabalho de facção dos trabalhadores domésticos e de empresas informais. A partir de 1996 - com o aumento desordenado de confecções, principalmente informais - verificado a partir de 1994, aliado ao fortalecimento de outros pólos da moda e ao processo de globalização da economia que mostrava algumas ameaças para o setor – os micro e pequenos empresários locais viram a necessidade de se agrupar para poderem enfrentar esses desafios e tirarem proveitos em comuns. A primeira ação em conjunto se deu, no ano de 1996, com a abertura de uma central de pronta-entrega, formada por 20 empresários donos de confecções. Essa central tinha por finalidade, além do aumento do volume de vendas, a garantia da qualidade do produto da cidade, uma vez que, o crescimento desordenado poderia comprometer a qualidade dos produtos e, conseqüentemente, afetaria a imagem da cidade e região. A partir da criação dessa central, o grupo começou a discutir questões que pudessem servir de ameaça ao aglomerado de empresas, principalmente, em relação às futuras conseqüências do plano real e da abertura de mercado. Esse grupo começou a perceber que eles eram muito fortes enquanto grupo, porém, se continuassem utilizando estratégias isoladas estariam fadados à destruição pelo processo de globalização. Em 1997 foi criada a Agencia de Desenvolvimento de Muriaé e Região (ADMR), por meio do projeto PRODER, que consistia em uma ação estruturada entre a Prefeitura, o SEBRAE, o Clube de Diretores Lojistas (CDL) e a Associação Comercial de Muriaé. A criação da ADMR tinha por objetivo atuar através de parcerias junto aos diversos segmentos da sociedade local, com empresários, associações de classe e poder público. No início, essa Agência teve como intenção, apoiar as ações do setor de confecção. 135 Em 199858, buscando aproveitar os incentivos do governo federal em relação a exportação, a ADMR – em conjunto com a FIEMG e o SEBRAE-MG –, realizou o primeiro encontro dos empresários, cujo principal tema estava relacionado com a implantação de um consórcio de exportação em Muriaé. A partir de então, 30 empresas começaram a participar das discussões e, no final do ano de 1999, o consórcio de exportação se emancipou. Este consórcio funcionou até o ano de 2001. De acordo com representantes de entidades locais, o insucesso do grupo de exportação estava relacionado com os seguintes fatores: ausência de informação sobre exportação e sobre o mercado exterior; não adequação dos produtos aos padrões do mercado externo; falta de aprimoramento tecnológico e comercial e, ainda, as diferenças no tamanho e organização das empresas que participavam do consórcio. O consórcio de exportação em Muriaé, apesar de não ter avançado, contribuiu para a união dos empresários locais. A partir das reuniões, esses empresários passaram a discutir temas como modelagem, processos produtivos, formação de preços de vendas, financiamentos, tecnologia de produção e de organização, necessidades de mão de obra especializada, diferenciação de produtos, consultoria e outros assuntos. Como conseqüência dessa união, a partir do ano 1999, várias entidades representativas e de apoio às confecções, foram instaladas: a) em 1999 foi implantada a Delegacia Regional de Muriaé e Região que é a entidade representativa do Sindicato da Indústria do Vestuário de Minas Gerais – SINDIVEST, que hoje conta com 50 associados; b) em 2001 foi colocado um ponto de atendimento do SEBRAE-MG em Muriaé; c) em 2002 foi criada a sub-sede do Sindicato dos trabalhadores na Indústria de Confecções de Roupa – SOAC; criação do Centro de treinamento César Augusto Bianchi Botaro ligado ao SENAI de Cataguases; d) em 2003 foi criado o Conselho de desenvolvimento do Setor de Confecções de Muriaé – CONDESSC59. A partir dos resultados eleitorais de 2004, o setor tem recebido ajuda da Prefeitura Municipal de Muriaé. A prefeitura doou terreno para a implantação do distrito industrial; tem incentivado empresas informais a se formalizarem, por meio de 58 O Governo Federal em 1998 tinha por meta dobrar as exportações brasileiras para US$ 100 bilhões, abrangendo 50 setores da economia, dentre eles o Setor de Vestuário, usando como estratégia o modelo de Consórcio de Exportação para micro e pequenas empresas, sob a coordenação da Associação Brasileira do Vestuário – ABRAVEST (IEL, 2005) 59 O CONDESSC foi caracterizado como a primeira iniciativa institucionalizada de associação do arranjo, em que um grupo de empresários se organizou para prover representatividade junto aos órgãos públicos, reivindicando junto à Prefeitura Municipal de Muriaé ações mais efetivas para a principal atividade econômica do município. 136 doação de terrenos e isenção temporária de impostos; cedeu espaços físicos para o funcionamento das instituições de apoio ao arranjo, tais como SENAI, CONDESSC e DRMR; e, ainda, fornece recursos financeiros para o treinamento da mão-de-obra local. Em 2005 foi realizado um diagnóstico da Indústria de Vestuário em Muriaé e Região, pelo Instituto Evaldo Lodi, envolvendo 239 empresas formais de micro, pequeno e médio porte. Como resultado desse estudo, verificou-se que existe uma infraestrutura institucional montada para funcionar em prol do arranjo, contudo as articulações entre elas ainda são incipientes, atingindo um grupo relativamente pequeno de empresas, quando se compara com número de empresas do setor na região. 5.3.1.2 Estrutura atual do Arranjo produtivo de Muriaé A estrutura do arranjo produtivo de vestuário de Muriaé, representado na Figura 26, possui 6 atores principais: a) as empresas do segmento central que compreende as confecções; b) as Atividades Conexas que compreende os fornecedores de máquinas e equipamentos e os fornecedores de matérias-primas e insumos; c) as Atividades Complementares representadas pelas empresas que prestam serviços às confecções tais como: modelagem, costura, estampagem, bordados, design, acessórios e outros; d) Estrutura de apoio e animação que compreende a Delegacia Regional de Muriaé (DRM), o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Setor de Confecções (CONDESSC), a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Muriaé (SMDE), a Agência de Desenvolvimento de Muriaé e Região (ADMR); A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e o Serviço Brasileiro de Apoio as Empresas (SEBRAE); e) Estrutura de Formação, aperfeiçoamento e pesquisa representada pelo SENAI e SEBRAE; f) prestadores de serviços gerais representados pelos Bancos –Banco do Povo, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bancos Privados –, escritórios de contabilidade, serviços de segurança e transporte. 5.3.1.2.1 As empresas centrais do processo produtivo As confecções do arranjo produtivo, com base na classificação adotada pelo SEBRAE, são em sua maioria micro e pequenas empresas. O aglomerado é constituído de 700 empresas formais e informais, do tipo familiar (IEL, 2005). Existem 578 microempresas – 461 informais 117 formais– que respondem por 25% da produção; 112 empresas de pequeno porte, que respondem por 53% da produção e; 10 empresas de 137 médio porte, que respondem por 22% da produção. Esse pólo gera, aproximadamente, 10.500 empregos diretos e indiretos. Atividades Conexas Fornecedores de Maquinas e de Materiais Estruturas de apoio e de animação Atores DRM, CONDESSC, Locais SMDE, ADMR SEBRAE, FIEMG Atividades Complementares: Bordados, Design Estampagem etc. Serviços Bancos Contabilidade Consultorias Especializadas Transporte Segurança etc. Empresas do Segmento de Confecção Estruturas de Formação, Aperfeiçoamento e de Pesquisa SEBRAE, SENAI, UNIPAC Figura 26. Estrutura do Arranjo Produtivo de Vestuário de Muriaé Fonte: Adaptação de Fonseca Netto (2002) No geral, conforme mostra a Figura 27, o fluxo de produção segue as seguintes etapas: a) a matéria-prima tecido é enviada para o setor de organização e corte, onde a produção é organizada - levando em consideração os moldes e, com o auxílio do CAD, ocorre o encaixe das peças de modo a reduzir as sobras – e cortada; b) após o corte, as peças podem seguir dois destinos, ou serão encaminhadas diretamente para a costura, ou para as etapas de estamparia e bordados e posteriormente para a costura; c) Na costura, recebem aviamentos, rendas, elásticos etc.; d) após a costura, seguem para a etapa de acabamento; e) depois de acabadas, seguem para o setor de limpeza e embalagem; f) depois de embaladas, são distribuídas para lojas próprias, sacoleiras ou diretamente para clientes. Aviamentos Rendas, Elásticos Entrada de Matéria Prima e acessórios Tecido Organização e corte Etiquetas, enfeites, etc Costura Embalagens Acabamento Limpeza e embalagem Expedição Estamparia e bordados Figura 27. Diagrama do processo produtivo da indústria do vestuário de Muriaé e região Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo 138 As atividades de costurar, bordar e estampar têm sido desempenhadas por empresas especializadas. No caso da facção, as empresas recebem o tecido cortado e os aviamentos necessários. Algumas empresas possuem bordadeiras mecânicas e máquinas de estampagem dentro da empresas, outras, em virtude do preço de aquisição, utilizam serviços de empresas especializadas. O mix dos principais produtos confeccionados é focado na fabricação de roupas intimas e infantis de modo geral. Pode-se perceber, por meio da Figura 28, que o arranjo tem, como “carro-chefe”, a lingerie feminina noite, ocupando, aproximadamente, 37% da produção, seguida da moda infantil (11,51%) e moda bebê (10,86%). Esse mesmo mix foi detectado na pesquisa de campo, em que 50% declaram produzir Lingerie Noite, 27% moda infantil e 15% Moda Bebê. Principais Linhas de Produtos (%) Lingerie noite 36,84% 11,51% Moda inf antil Moda bebê 10,86% 6,58% Modinha Moda inf anto-juvenil 6,25% 3,62% Jeans Lingerie dia 3,62% 2,30% Sport w ear Fitness 1,97% 1,64% Moda rigor Moda praia 0,99% 13,82% outros 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00% Figura 28. Principais linhas de produtos do Arranjo Produtivo de Muriaé Fonte: IEL, 2005 De acordo com Souza (2005), o que explica a vocação da cidade para o lingerie noite foi a boa receptividade das camisolas e pijamas pelos grandes mercados consumidores do país. O lingerie noite, fabricado pelo pólo, consegue aliar a tradição artesanal dos bordados com inovações em design e novos materiais. De acordo com os empresários entrevistados, a capacidade produtiva das indústrias do setor nessas linhas de produtos, está relacionada à qualidade de matériaprima (62%); inovação de desenhos e estilo (46%); novas estratégias de comercialização, por meio de internet e exposição em feiras de moda (15%), catálogos de produtos (31%); e a capacidade de atendimento em relação aos volumes e prazos exigidos pelos clientes (50%). 139 Existe também no APL uma empresa que exporta. Esta empresa tem investido maciçamente em inovação de produto, design, qualidade e certificação de produtos, para poder competir no mercado internacional. Segundo o presidente do CONDESSC, cerca de 40 empresas tem trabalhado com inovação em tecnologia de produção envolvendo processos produtivos, equipamento e gestão. 5.3.1.2.2 Estrutura de apoio ao processo produtivo A Estrutura de apoio ao processo produtivo é formada pelos fornecedores de máquinas e equipamentos e fornecedores de matérias-primas e insumos (atividades conexas), os prestadores de serviços (atividades complementares e de serviços), e as entidades de capacitação (Estrutura de Formação, Aperfeiçoamento e Pesquisa). Os fornecedores do APL Em Muriaé há 15 fornecedores de materiais - envolvendo tecidos, aviamentos, acessórios plásticos, etiquetas - e 5 fornecedores de máquinas e equipamentos. Esses fornecedores de máquinas e equipamentos também prestam serviços de manutenção e assistência técnica. Prestadores de serviços Existem no APL empresas de prestação de serviços e pessoas prestadoras de serviços especializados. Esses prestadores de serviço podem ser divididos em duas categorias: os prestadores de serviços específicos e os prestadores de serviços gerais. Os prestadores de serviços específicos são: as empresas ou profissionais de consultoria de moda, empresas de consultoria em processos produtivos (consultores independentes e o SENAI), empresas ou profissionais especializados em design, prestadoras de serviços de estamparia, prestadoras de serviços de bordado mecânico; pessoas prestadoras de serviço de bordados artesanais (manuais); empresas prestadoras de serviço de facção; empresas e pessoas prestadoras de serviço de mecânica de máquinas; pessoas prestadoras de serviços de criação de modelos. Os prestadores de serviços gerais são: empresas prestadoras de serviços de transporte; transportadoras, assessoria de imprensa, gráfica, contabilidade, serviços de fotógrafos, propaganda e marketing, informática. 140 Instituições de capacitação As instituições de capacitação existentes no APL são: o SENAI, o SEBRAE, o CONDESSC e três faculdades que funcionam na cidade. O SENAI funciona através de um Centro de Treinamento “César Augusto Bianchi Botaro”, criado em maio de 2002, por uma iniciativa dos empresários locais do setor de confecções, com o objetivo de melhorar a qualificação dos seus trabalhadores. Funciona num local cedido pela prefeitura municipal. Conta com uma estrutura de das salas de aula e um escritório, duas instrutoras que dão aulas, consultoria e atendimento ao Sistema CAD. A instituição mantém duas oficinas, uma com 4 máquinas de costura (reta, galoneira, caseadeira, galoneira de elástico) e outra com 18 máquinas de costura (reta, interlock – 5 fios, overlock, galoneira-canhão, colaretes e cortadeira) sob o regime de empréstimos dos empresários locais. O SEBRAE/MG em Muriaé funciona desde o ano de 2001. Presta serviços de orientação e capacitação empresarial aos empreendedores dos municípios de Muriaé. A instituição oferece treinamentos, consultorias individualizadas e programas para a melhoria dos processos gerenciais, o desenvolvimento das habilidades de liderança e do comportamento do empreendedor. O CONDESSC criou uma escola profissionalizante que tem por objetivos dar noções de costura e preparar o aluno para entrar no curso profissionalizante do SENAI e, ainda, dar oportunidade às pessoas que não possuem qualificação, através da iniciação da costura, inserindo-as no mercado de trabalho. 5.3.1.2.3 Estrutura de apoio e animação do arranjo de Muriaé A estrutura de apoio e animação é formada por um grupo de atores que envolvem o órgão representante do Sindicato Patronal de Vestuário em Muriaé (DRMR), centros de treinamento, serviços tecnológicos, entre outros (Tabela 27). Cabe ressaltar que a Coordenação do APL está sendo feita por quatro dessas instituições que trabalham em conjunto. Essas instituições são: a DRMR, o CONDESSC, a SMDE e o SEBRAE-MG. Porém, ainda é pequeno o número de empresas que estão mantendo relações com essas instituições. Hoje são 75 empresários que estão associados ao SINDIVEST, por meio da Delegacia Regional de Muriaé e Região. Assim, num universo de 239 empresas formais, isso representa 31% desse total. 141 Tabela 27. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo Entidades Campo de atuação Contribuição para o APL SEBRAE Desenvolvimento de PMEs por meio da prestação de serviços de orientação e capacitação empresarial para empresários e de Muriaé e Região. SENAI Capacitação para o Trabalho na indústria CONDESSC Desenvolvimento do setor de confecções e atendimento das demandas de cunho social, de modo a contribuir para o crescimento econômico de Muriaé e seus distritos. SMDE Promoção do setor produtivo do município, por meio de programas de incentivo para a instalação e crescimento das empresas. Promoção do desenvolvimento da indústria do vestuário no município de Muriaé e Região. - Promoção de cursos de capacitação, treinamentos, consultorias individualizadas e programas para a melhoria gerencial de empresas do vestuário; - Participação no projeto de consolidação de um pólo de confecção competitivo e de qualidade na região; - Exerce, em conjunto com o CONDESSC, o SMDE e a DRMR, a coordenação do APL. - Oferecimento de cursos específicos para a indústria do Vestuário tais como: Costura Industrial, Cronoanálise, Cortador de Confecção, Mecânico de Máquinas de Costurar, Modelagem Infantil e Adulto. - Criação de escolas profissionalizantes em parceria com o Senai, SEBRAE, SMDE e ADMR; - Realização de feiras de exposição para os produtos do vestuário; - Viabilização de participação de fabricantes em feiras especializadas em vestuário; - Exerce, em conjunto com o SEBRAE, o SMDE e a DRMR, a coordenação das atividades do arranjo - Doação de terrenos, isenção de taxas e impostos para micro e pequena empresas do vestuário; - Exerce, em conjunto com o CONDESSC, o SEBRAE e a DRMR, a coordenação das atividades do arranjo de Muriaé. - Implementação do projeto estrutural do arranjo produtivo de Muriaé; - coordenação desse APL em parceria com o SEBRAE-MG, o CONDESSC e o SMDE; - Desenvolvimento de palestras, encontros, cursos, diagnósticos, planejamento, de modo a contribuir para o processo de desenvolvimento sustentável na cidade de Muriaé e Região. - Formação de pessoas para atuar nas áreas de gestão e informática das empresas pertencentes ao APL . - Oferecimento de uma estrutura física de salas e auditório, para realizações de reuniões, treinamentos e cursos profissionalizantes; - Disponibilização de serviços de fax, atendimento ao consumidor, bancos de empregos, videoteca; - Disponibilização de assessoria técnica na área jurídica, fiscal, econômica, financeira e convênios médicos. - Oferecimento de assessoria para os associados do setor agropecuário, industrial, comercial e de serviços da cidade; - mantenedora do serviço social da Indústria de Minas Gerias (SESI). - Oferecimento de créditos e financiamentos não diferenciados para as empresas do setor. DRMR ADMR Faculdades CDL ACM Bancos Promoção do desenvolvimento regional por meio de parcerias junto aos diversos segmentos da sociedade local. Formação e desenvolvimento profissional qualificado Oferecimento de estrutura de apoio profissional aos diretores lojistas de Muriaé e Região. Fortalecimento do comércio local Fornecimento de crédito e financiamento Fonte: Dados da Pesquisa. De acordo com os entrevistados, a partir de 2005, a Prefeitura Municipal de Muriaé tem desempenhado papel relevante de apoio às atividades do APL. Ela tem 142 oferecido serviços de infra-estrutura municipal, estruturação de um distrito industrial, concessão de espaços físicos para abrigar os agentes de apoio ao arranjo (SENAI, CONDESSC e DRMR) e fornecimento de recursos financeiros para o treinamento da mão de obra local. 5.3.1.2.4 Principais clientes do Arranjo produtivo de Muriaé Os clientes potenciais das empresas (Figura 29) estão localizados na região sudeste, consumindo 81% da produção – Minas Gerais (37,5%), do Rio de Janeiro (24,8%), Espírito Santo (13,9%) e São Paulo (5%) –. Geralmente, nesses Estados, principalmente Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, são escoados os produtos das microempresas, que, na maioria das vezes, é feito por meio de sacoleiras que compram os produtos em Muriaé para revendê-los em suas cidades. No entanto, de acordo com o IEL (2005), existem algumas empresas, as mais bem estruturadas, conseguem vender para outros Estados e Regiões, atendendo a Grandes Varejistas e representantes comerciais. Minas Gerais 37,45% Rio de Janeiro 24,8% 13,9% Espírito Santo 5,0% São Paulo Nordeste 10,0% Centro Oeste 4,0% Norte 3,9% sul 1,1% 0% 50% 100% Figura 29. Destinação das vendas dos artigos em confecção de Muriaé Fonte: Dados da pesquisa. Existe uma empresa em Muriaé que tem exportado, com freqüência, para a Argentina, México e Espanha; duas exportam esporadicamente; e, cinco estão em fase de experimentação com a Grécia. Porém, ainda não há, no arranjo, um programa específico para facilitar e fomentar as exportações60, que seja capaz e desenvolver os 60 Isso pode ser percebido na apresentação do senhor Gustavo Veggi, no 1º Fórum de Desenvolvimento Sustentável de Muriaé e Região, ocorrido nos dias 30 e 31 de março de 2007. Segundo ele, a forma encontrada pela empresa exportadora foi por “meio de tentativa e erro; amadorismo e audácia”. A empresa partiu de textos especializados sobre exportação, contatos com empresas no exterior, feito pelos 143 procedimentos burocráticos, mercadológicos e legais, necessários para atingir o mercado externo. Quanto à visitação e exposição em feiras setoriais, os relatos de dirigentes das instituições de apoio, mostram que a participação das empresas do arranjo ainda é pouco freqüente (Figura 30). Com isso há perdas de oportunidades de negócios, para as empresas, seja através do contato com inovações ou conquista de novos clientes. 46% Locais 31% Outras cidades do Estado 27% 19% Outros Estados 27% 19% Outros Países Visitante 0% 0% Expositor 0% 50% 100% Figura 30. Participação em feiras Fonte: Dados da pesquisa No ano de 2006, o APL de Muriaé conseguiu 5 vagas para exposição na Feira Brasileira de Moda Íntima - FEVEST-2006 e no ano de 2007 conseguiu-se 5 vagas para exposição na Feira Nacional da Indústria Têxtil - FENIT-2007. As empresas que participaram da exposição obtiveram bons resultados (Tabela 28). Tabela 28. Resultado da participação de empresas do APL de vestuário de Muriaé em feiras especializadas 2006 2007 Evento FEVEST FENIT Vendas Realizadas 88.000,00 113.000,00 Perspectiva de Negócio 57% 74% Participação de empresas 5 5 Contatos comerciais 668 300 Contatos internacionais 5 países 0 Fonte: Estruturado a partir dos dados fornecidos pela Delegacia Regional de Muriaé e Região. proprietários da confecção, busca de informações em como exportar, por meio da internet e de informações fornecidas pelo Banco do Brasil. Para ele, no Arranjo de Muriaé “falta ainda conhecimento suficiente para exportação, credibilidade do mercado externo, pessoas qualificadas, qualidade de produto compatível com as exigências de mercado; competitividade de preços e diferenciação de produtos. 144 5.3.1.3 A dinâmica do Arranjo Produtivo de Muriaé e as formas de cooperação 5.3.1.3.1 Relacionamento entre empresas especializadas dentro do APL Desde o início das atividades de confecção em Muriaé, ainda com a chegada da Malharia Galante, é comum parcerias entre empresas por meio da subcontratação de faccionistas e bordadeiras. Além disso, os trabalhos de representação sempre foram feitas por empresas complementares, destinadas a venda dos produtos. Atualmente, as especializações na complementação do processo produtivo ocorrem, em algumas empresas, nas atividades de faccionar, bordar e estampar. As demais atividades são racionalizadas, buscando escala interna de produção, não aproveitando as economias externas da aglomeração, por meio de especialização. A prática de facção, usada para reduzir gargalos de produção, teve aumento considerável a partir dos anos 90 – chegando a 140 empresas especializadas em facção – em virtude de aumentos de demanda, em que, os investimentos em máquinas e equipamentos, espaço físico e pessoas, não compensariam. Grande parte da facção é desempenhada por microempresas informais e trabalhadores em domicílio. No entanto, parte considerável de empresas formais – 48 empresas formais – faccionam para outras empresas. Isso pode ser comprovado pelas entrevistas em 239 empresas formais, por parte do IEL (2005). Dessas empresas, 80% (191 empresas) apenas confeccionam; 14% (33 empresas) confeccionam e faccionam e 6% (15 empresas) apenas faccionam. De acordo com o presidente do CONDESSC, com o desenvolvimento tecnológico de máquinas voltadas para o segmento de confecção, a atividade de facção tem sofrido ameaça no APL de Muriaé. Cerca de 40 empresas tem se colocado próximas ao estado da arte da tecnologia, por meio da utilização de equipamentos modernos, chamados de terceira geração. Isso tem trazido problemas para as empresas que faccionam em virtude da utilização de máquinas de costura simples. Neste caso, muitas empresas, buscando garantir a qualidade de seu produto, preferem internalizar a produção. Isso pôde ser verificado no depoimento de 54% dos entrevistados que afirmaram utilizar tecnologia de última geração. Segundo esses entrevistados, a dificuldade em terceirizar parte da produção está relacionada a não modernização de máquinas e equipamentos e o não treinamento de mão-de-obra para trabalhar essas novas 145 tecnologias. 31% afirmam que há uma tendência a reduzir a terceirização em Muriaé, principalmente em atividades de facção. As especializações de empresas em bordados e estampagens passou a ocorrer a partir de 2005. Hoje, existem 8 empresas especializadas em bordados e 12 empresas especializadas em estamparia. Grande parte dos usuários desses serviços são microempresas, que não possuem volumes de produção suficiente para a aquisição desses equipamentos específicos. Cabe ressaltar que, em Muriaé, assim como em outros APLs, apesar de cada empresa buscar a diferenciação de seus produtos, acaba produzindo as mesmas linhas de produtos – entre as principais, a lingerie noite e a infantil – competindo entre si, principalmente por meio de preços. Neste caso, a estratégia de terceirização poderia: a) contribuir para a redução da competição via preços; b) reduzir o tempo de produção; c) aumentar a capacidade de fabricação da firma e; c) elevar os ganhos de produtividade através da redução de custos, uma vez que o custo da unidade passaria a depender do tamanho da indústria e não do tamanho da firma. De acordo com a DRMR, existe um movimento dos empresários locais, formados por micro empresários, no sentido de trabalhar com a especialização entre firmas, formando consórcios de produção em que cada um seja especializado por uma parte do processo produtivo. Mas, para que isso ocorra, é necessário maior treinamento de mão-de-obra e melhor qualificação gerencial. De acordo com Souza (2005) o baixo desempenho de recursos humanos, em específico no que se refere à qualificação profissional, é uma dificuldade relevante e ocasionada pela ausência de formação profissional específica61. O IEL (2005) mostrou que a escolaridade dos empregados das confecções é relativamente baixa. A pesquisa indicou que pouco menos da metade dos funcionários possuem o ensino fundamental. Destes, 1,22% são analfabetos, 21% têm ensino fundamental incompleto e 24,72% fundamental completo. 34,63% os empregados possuem o ensino médio completo e 15.98% incompleto. O número de funcionários com curso de nível superior completo apontado pela pesquisa foi de 1,05% do total. Em virtude do nível gerencial e da mão-de-obra local e, ainda, do nível de maquinários utilizados por grande parte das microempresas, o processo de cooperação interfirmas é dificultado, fazendo com que as empresas se preocupem mais com a 61 A partir de 2006, O CONDESSC e o SENAI têm procurado trabalhar no sentido de treinar e capacitar o pessoal para atender a demanda das empresas locais. 146 verticalização interna da produção, como forma de redução dos custos de transação, do que com o aproveitamento de economias externas. 5.3.1.3.2 Relacionamento entre empresas concorrentes Até o ano de 1996, existia em Muriaé uma competição acirrada entre os empresários. Porém, esse tipo de rivalidade veio diminuindo a partir de então. Os motivos para a redução dessa rivalidade estão ligados, de certa forma, à abertura de mercado na década de 1990 e a conseqüente entrada de produtos estrangeiros; a organização de outros pólos concorrentes, principalmente do Estado dos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro; ao crescimento desordenado do número de confecções em Muriaé a partir de 1994; aos problemas relacionados à guerra fiscal entre os Estados brasileiros, principalmente em relação ao Rio de Janeiro e ao Espírito Santos. A partir de então, os empresários começaram a tomar consciência da necessidade de desenvolverem estratégias em conjunto para enfrentar os problemas, tais como a criação da central de pronta-entrega e a formação de consórcio de exportação. Tais iniciativas abriram espaço para discussão entre os empresários. Hoje, grande parte deles acredita que um ambiente de acirrada concorrência e rivalidade entre as empresas da localidade não pode ser considerada saudável, sendo necessário desenvolver estratégias para reduzir essa competição. Alguns esforços pelas agentes de animação – a partir de 2005 – de modo a aumentar a parceria entre concorrentes, no sentido de despertar o interesse pela cooperação, estão relacionadas com: a) o incentivo em participação em feiras especializadas no setor, em que o expositor está levando catálogos de produtos desenvolvidos em comum com os concorrentes; b) troca de informações por meio de reuniões e fóruns desenvolvidos em Muriaé; c) ações conjuntas para capacitação de mão-de-obra, por meio da escola de treinamento que está sendo gerenciada pelo CONDESSC, que além de envolver os concorrentes, envolve também o apoio de fornecedores locais; d) incentivo à formação de um consórcio de exportação e; e) utilização de equipamentos do SENAI, como o CAD, por empresas concorrentes. Apesar dos esforços no sentido de buscar maior cooperação entre eles, a rede de relações sociais dos empresários do arranjo produtivo de confecções de Muriaé e Região não tem se traduzido ainda, de forma importante, em um conjunto de ações cooperadas com vistas a enfrentam as dificuldades comuns. Segundo o presidente do CONDESSC, 147 os empresários, em geral, participam relativamente pouco das associações e fóruns locais, na identificação de fontes e formas de financiamento e na organização de eventos técnicos e comerciais, relacionados ao setor do vestuário/confecções. Além disso, o número de 75 empresas associadas aos órgãos de coordenação é baixo, em relação ao número de empresas formais e informais em Muriaé. Isso pode ser comprovado no trabalho de Souza (2005), quando ele mostra que 100% dos entrevistados não praticavam nenhum trabalho em conjunto, relacionado com o Marketing, tais como: política de Marketing conjunta, pesquisa de Mercado, criação de marca conjunta e avaliação das necessidades comuns. O autor mostra que a dificuldade de cooperação entre os empresários está relacionada com a insegurança que sentem em relação aos concorrentes. Tais inseguranças podem ser traduzidas na falta de confiança entre os parceiros no que se refere ao cumprimento dos compromissos assumidos em conjunto (65%) e na falta de hábito de cooperação entre os empresários locais (54%). De acordo com o Secretário Municipal de Cultura, essa falta de confiança está relacionada com os aspectos históricos de formação dessas empresas. As empresas surgiram num ambiente de intenso conflito entre elas, em que praticavam cópias de produtos e concorrência acirrada em cima de preços de produtos. 5.3.1.3.3 Relacionamento dos fornecedores dentro do APL De acordo com os empresários locais, os fornecedores de materiais e os de máquinas e equipamentos são bastante atuantes no APL, estabelecendo boas relações com as empresas do segmento central. Grande parte da matéria-prima e de insumos é adquirida no local. Os resultados da pesquisa mostram que 46% dos tecidos, 73% das etiquetas, 79% das tags, embalagens, aviamentos e embalagens e 100% dos laços e fitas são adquiridos em Muriaé. De acordo com os entrevistados, tais fornecedores trabalham com os melhores preços e melhores prazos e políticas de desconto para compras a vista. 58% dos entrevistados declararam que os preços dos fornecedores, na cidade de Muriaé, conseguem ser melhores do que os das próprias matrizes. Além das trocas constantes de informações técnicas sobre novos tipos de tecidos e aviamentos, principalmente quando se trata de algum tipo de novidade (77% dos entrevistados) e desenvolvimento de produtos em conjunto (19%). 148 Os fornecedores de máquinas e equipamentos prestam serviços de manutenção, assistência técnica, desenvolvimento e adaptação de máquinas e equipamentos para a realidade local. Esses fornecedores participam de encontros de empresários do vestuário. De acordo com o principal fornecedor de máquinas do APL, a sua empresa tem um serviço de atendimento às confecções que funciona 24 horas por dia. Os entrevistados declaram adquirir máquinas e equipamentos no local. Segundo eles, existe a parceira desses fornecedores em relação a troca de informações (100%); desenvolvimento de produtos (62%); adaptação de máquinas à realidade das empresas (54%); melhores prazos de pagamento (50%) e; assistência técnica (81%). Os fornecedores locais também têm contribuído para a capacitação de mão-deobra local. Os fornecedores de máquinas e equipamentos cederam os maquinários para a Escola de Capacitação de RH do CONDESSC e os fornecedores de materiais e insumos forneceram gratuitamente tecidos e aviamentos. 5.3.1.3.4 Relacionamento das empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e processos, Instituições de Pesquisa/Universidades De acordo com o Presidente do CONDESSC, as médias empresas e cerca de 50% das pequenas empresas possuem departamento de P&D. Elas trabalham o desenvolvimento de novos materiais, novos produtos – desenho e estilo, alterações de características técnicas, elaboração de novos produtos - e novos processos de produção – incorporando novos equipamentos na planta industrial e introduzindo novas técnicas tais como utilização do CAD, just in time e células de produção. De acordo com o IEL (2005), em termos de produtos, existem empresas que criam os produtos, as que terceirizam a criação do produto e as que copiam o produto. Segundo o Presidente do CONDESSC, a redução de cópias em Muriaé tem sido provocada por estratégias de rápidas mudanças no design de produtos. Segundo ele, 20 empresas mudam suas coleções de 2 em 2 meses. Isso tem reduzido a cópia, principalmente a cópia da tabela de preços. Não há no APL empresas especializadas em P&D e nem intercâmbios com Instituições de Pesquisa, como universidades que trabalham a pesquisa na área de confecção. Porém, o SENAI, em Muriaé, tem desenvolvido algum trabalho nesse sentido. 149 As principais fontes de informação utilizadas pelas empresas inovadoras são: a) departamentos de P&D da empresa (31%); b) SENAI, por meio de consultorias especializadas (46%); c) fornecedores de máquinas e equipamentos, na fase de aquisição (46%); d) representantes de vendas (50%); e) publicações especializadas (15,4%); f) congressos e feiras especializadas no país (38%). O desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias se dá: a) por meio da aquisição de máquinas compradas no mercado nacional (35%); b) em cooperação com fornecedores de equipamentos (54%); C) em laboratórios de P&D da empresa (19%); d) em cooperação com fornecedores de insumos (54%). 5.3.1.3.5 Relacionamento das empresas de treinamento e formação de mão-de-obra No arranjo de Muriaé, a origem da mão de obra é local, porém pouco qualificada. De acordo com o IEL (2005), os empregados são treinados na própria empresa, outros provêm de trabalho domiciliar feitos anteriormente e apenas uma parte dos trabalhadores são preparados pelos cursos técnicos existentes no SENAI. A qualificação adquirida em geral é do tipo “learning by doing”, ou seja, chão de fábrica. De posse dessa informação, o CONDESSC e o SENAI estão desenvolvendo trabalhos direcionados à qualificação da mão-de-obra local. Assim, foi criada uma escola profissionalizante em parceria com o SENAI, SEBRAE, Secretaria de desenvolvimento e ADMR, junto ao projeto “Qualificação profissional em vestuário”. Para seu funcionamento, conta com a participação dos empresários locais, que contribuem com doações de tecidos e aviamentos. A Singer doou algumas máquinas e os fornecedores locais prestam serviços de manutenção e assistência técnica. Também foi criado o projeto da fábrica de estopa “Escolinha do Trapo” que, por meio de doações de retalhos e aviamentos, confeccionam um tipo de flanela muito utilizada para limpara carros e caminhões. A venda dos trapos é reinvestida em 50% na manutenção da escola e 50% como pagamento (bolsa) para o pessoal. O SENAI ainda oferece 6 cursos com ênfase em vestuário – costura industrial, Cronoanálise, cortador de Confecção, Mecânico de Máquina de Costura; Modelagem Infantil; Modelagem Adulto – e o SEBRAE oferece cursos de vendas, empreendedorismo, atendimento ao cliente, produção, logística, recursos humanos, finanças e contabilidade. 150 5.3.1.3.6 Relacionamento com os agentes de animação do APL As ações de animação do APL têm sido desenvolvidas pela DRMR em conjunto com a CONDESSC, com a ADMR e com o SEBRAE. Essas quatro instituições vêm desenvolvendo atividades no sentido de proporcionar maior integração entre as empresas do APL e entre essas e os órgãos públicos. Essas instituições têm desenvolvido programas para articular o planejamento e a coordenação das ações das empresas participantes do agrupamento, sendo ressaltados os aspectos relacionados às novas possibilidades de criação e/ou adaptação de novas tecnologias; políticas de treinamento e capacitação; conscientização quanto a: ergonomia, higiene e segurança do trabalho e aspectos ecológicos e ambientais. Nessas instituições existem 75 empresas associadas. Esse número é considerado pequeno quando comparado com o número de empresas formais e informais em Muriaé. 5.3.2 O APL de São João Nepomuceno O município de São João Nepomuceno localiza-se na região sudeste de Minas Gerais na Zona da Mata, fazendo parte da microrregião de Juiz de Fora62, delimitando com a fronteira do Estado do Rio de Janeiro. Esse município começou a se formar no século XIX, mais especificamente, em 1811 e emancipou-se em 1880. Até o final do século XIX, a região viveu da agricultura e pecuária de subsistência. No final desse século, a cultura de subsistência deu lugar a produção exportadora do Café. E, ainda, em 1894 foi fundada a Companhia de Tecidos Mineiros – mais tarde passou a se chamar Companhia de Tecidos Sarmento – que se transformou numa grande empresa verticalizada, empregando grande parte da população que vivia na cidade. A produção exportadora do Café e a fundação da indústria trouxeram a Ferrovia e a Energia Elétrica. Com a crise do Café, a partir de 1930, parte da população voltou para a produção agrícola de subsistência e para a produção de gado. Nessa época a Companhia de Tecidos cresceu de importância, absorvendo a mão-de-obra disponível na cidade. 62 Fazem parte desta região os municípios de Santos Dumont, Santa Rita do Jacutinga, Rio Preto, Belmiro Braga, Simão Pereira, Santana do Deserto, Chiador, Mar de Espanha, Olaria, Lima Duarte, Pedro Teixeira, Bias Fortes, Santa Rita do Ibitinga, Ewbank da Câmara, Aracitaba, Oliveira Fortes, Paiva, Piau, Coronel Pacheco, Descoberto, Rio Novo, Chácara, Bicas, Rochedo de Minas, Maripá de Minas, Guarará, Senador Cortes, Pequeri, Matias Barbosa e Goianá, formando a maior microrregião da Zona da Mata, tendo como núcleo urbano mais importante a cidade de Juiz de Fora. 151 Com o crescimento e fortalecimento da Sarmento, outras industrias e comércios foram atraídas para a cidade. Dentre essas, destacaram as fábricas de calçados, de macarrão, de cerveja, de manteiga e de resfriamento de leite, de meias, de ferradura e de fundição de ferro e bronze. Com a crise da Sarmento ao longo da década de 1960, foram surgindo as primeiras confecções. Hoje, a confecção é reconhecida como a principal atividade econômica da cidade. A população de São João Nepomuceno é de 25.261 habitantes, em 2005. Desse total, 93,89% estão localizados na zona urbana e apenas 6,11% na zona rural (IBGE, 2005), apresentando um crescimento médio anual de 1,24%, no período de 2000-2005. Segundo a base de dados da Fundação João Pinheiro (2004), o município, no ano de 2004, apresentou um PIB a preços correntes de R$ 117.550,99 milhões e um PIB per capta de R$ 4.628,60. Comparando esse PIB com os das demais cidades da microrregião de Juiz de Fora, percebe-se que São João Nepomuceno ocupa o quarto lugar, com uma participação de 2,46% em relação ao total do PIB da microrregião, conforme a Tabela 29. Percebe-se que o PIB per capta é muito baixo, quando comparado com o PIB per capta da região e da média do Estado. Tabela 29. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, segundo microrregiões – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00) PIB a preços correntes (2004) PIB/hab Localidade PIBpm agropecuário Minas Gerais Microrregião São João Nepomuceno Juiz de Fora Santos Dumont Matias Barbosa Bicas Lima Duarte Mar de Espanha industrial serviços População (R$1,00) Total (1) 13.697.698 56.177 68.921.655 2.056.025 73.556.254 2.657.801 156.175.607 4.770.002 166.586.327 5.034.367 18.993.720 619.717 8.771 8.124 7.494 19.326 10.274 3.295 2.789 8.911 4.088 38.543 1.788.895 159.215 24.697 16.205 15.954 12.516 71.514 2.188.238 136.079 158.045 42.274 35.947 25.702 117.551 3.996.459 305.567 186.038 61.269 60.812 42.306 115.687 4.235.535 301.952 219.649 58.724 60.039 42.780 24.994 493.121 47.725 13.025 13.590 16.255 11.007 4.629 8.589 6.327 16.864 4.321 3.694 3.887 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2004) Fazendo a análise do PIB ao longo dos anos, por meio dos dados da Tabela 30, percebe-se que este PIB tem mostrado crescimento significativo a partir de 1999. De acordo com o IEL (2007), este crescimento está relacionado ao desempenho da indústria do vestuário, que comparada com o total das indústrias de vestuário do Estado, esta representa 2% dos estabelecimentos e 3,4% do emprego formal. 152 Tabela 30. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de São João Nepomuceno no período de 1999 a 2004 PIB a preços correntes Ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004 agropecuário industrial serviços Total (1) 4.787,84 4.916,38 4.844,08 5.432,04 5.996,11 7.494,08 27.082,44 31.433,16 33.860,61 33.055,77 35.692,76 38.542,68 46.287,80 50.343,93 55.940,38 60.492,56 66.158,36 71.514,24 78.158,08 86.693,46 94.645,07 98.980,36 107.847,24 117.550,99 PIBpm População 77.572,78 86.478,38 93.774,77 96.832,87 105.601,72 115.687,14 25.824 23.938 24.199 24.462 24.728 24.994 PIB(pm)/hab. (R$1,00) 3.003,90 3.612,60 3.875,15 3.958,50 4.270,53 4.628,60 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2004) 5.3.2.1 Evolução histórica da indústria de tecidos às confecções de roupas A origem da indústria de vestuário em São João Nepomuceno remonta à década de 70 e está relacionada com a história da Companhia Fiação e Tecido Sarmento, a primeira grande indústria que se instalou na cidade em 1894 e que, até a década de 1960, era considerada a principal fonte de renda da população. No início da década de 1960, a Sarmento começou a apresentar crises provocadas por problemas administrativos e tecnológicos. Com o surgimento de indústrias com tecnologias mais modernas, a firma ficou desatualizada, ficando fora da competição de mercado, uma vez que não tinha como fazer frente à concorrência. Como conseqüência das crises, que iniciaram em 1962 e se estendeu até a venda da massa falida em 1973, houve grande número de desemprego na cidade, atrasos no pagamento de empregados e até mesmo o pagamento por meio de tecidos. Muitos empregados trocavam os tecidos por dinheiro e alimentos na zona rural e nas cidades da região. Outros transformavam os tecidos em vestuário, por meio do trabalho das donas de casa, vendendo um produto com maior valor agregado e arrecadando maior volume de dinheiro. No início elas fabricavam enxovais para bebês e aos poucos começaram a produzir roupas para crianças e mulheres. A partir de então, em meio às sérias dificuldades enfrentadas pela Companhia Fiação e Tecidos Sarmento, pequenas fábricas de roupas despontaram como resposta à situação crítica que se estava vivendo. Essas confecções começaram com as donas de casa, de forma doméstica, sem experiência, seguindo, muitas vezes, a intuição e o espírito empreendedor. Essas donas de casa, utilizando de uma máquina de costura 153 caseira e do conhecimento de costura aprendido ainda na infância, começaram a confeccionar peças de roupas para vender, para garantir a sustentabilidade da família. Após a fabricação das peças, os próprios membros das famílias se encarregavam de oferecer os produtos em zonas rurais e em outras cidades da região. Com as sucessivas vendas, e a entrada de dinheiro proveniente de outras cidades da região, os pequenos negócios começaram a crescer, agregando outros membros das famílias, que, aos poucos foram aprendendo o ofício da costura. Com o crescimento das confecções, provocado pelo aumento da procura pelos produtos, principalmente pelas cidades da região, surgiu a necessidade de contratação de pessoas externas e ainda o serviço de vendas passou a ser feito por meio de representantes. Esses representantes tiveram um papel decisivo para a divulgação do nome da cidade, uma vez que, além de vender os produtos para as cidades da região, alcançavam também outras regiões do Estado e, até mesmo, outros Estados. Assim, durante a década de 1960 e início da década de 1970, existiam três elementos importantes para o desenvolvimento das confecções: a fornecedora de tecidos63, as pequenas confecções e os representantes comerciais que trabalhavam com mostruários de produtos das confecções e tiravam pedido de venda. Em virtude da baixa barreira à entrada e a facilidade de comercialização de produtos, por meio de representantes comerciais e, ainda, os resultados de sucessos das confecções existentes, fizeram com que outros empresários e ex-empregados da Sarmento abrissem seus próprios negócios, aumentando o número de confecções em São João Nepomuceno. Geralmente produziam produtos similares, com muita cópia de produtos, concorrendo por meio de preços. Neste período, o tipo de organização predominante passou a ser do tipo horizontal, ou seja, por meio de um agrupamento de micro e pequenas empresas que confeccionavam produtos para a venda. Essas firmas agiam de forma completamente independente, internalizando as etapas de produção, ou seja, não aproveitavam as economias externas que poderiam ser obtidas por meio da especialização. Na verdade, havia um agrupamento de empresas que acabavam estabelecendo uma relação de concorrência acirrada, obedecendo a uma lógica meramente funcional. Os critérios de 63 A partir da falência da Grande Firma Sarmento, em 1973, as confecções começaram a adquirir tecidos em outras localidades, principalmente no Estado de São Paulo. 154 localização estavam relacionados ao fato das famílias morarem na cidade; o acesso a mão-de-obra disponível e; o reconhecimento da localidade em nível nacional. 5.3.2.1.1 O desenvolvimento das confecções a partir dos anos 80 No início dos anos 80, algumas ações no sentido de proporcionar maior integração entre as indústrias foram desenvolvidas por meio da estruturação de um consórcio de exportação (CONFEX), envolvendo confecções especializadas na fabricação de roupas infantis, assessorado pelo nascente Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa (CEBRAE), Centro de Apoio a Pequenas e Médias Empresas de Minas Gerais (CEAG-MG) e com o apoio da Associação Comercial do município. Porém, as estratégias mercadológicas adotadas pelo consórcio, por meio de apresentação de mostruário no exterior, sem uma pesquisa prévia de mercado, acabaram não trazendo os resultados almejados, frustrando os participantes. As empresas continuaram produzindo independentemente e, em virtude do trabalho dos representantes das confecções de São João Nepomuceno, junto a Mesbla64, fez com que este grande magazine conhecesse os produtos dessas confecções. Então, em 1982, a Mesbla se aproximou dessas empresas, estabelecendo vínculos, por meio de contrato de compras, com as diversas confecções da cidade. Em virtude desse contrato estabelecido junto a Mesbla, houve a redução das condições de concorrência acirrada com base em preços e cópia de produtos. A partir de então, todos os fabricantes passaram a concentrar suas vendas num único cliente. Apesar da Mesbla não estabelecer residência no território, passou a comandar a maioria das confecções de São João Nepomuceno com exclusividade. As empresas então passaram a ser dependentes de decisões de uma hierarquia situada fora da região, para as decisões ligadas a inovação de produtos, de tecnologia e processos. A Mesbla é quem fornecia as especificações de produtos, qualidade e nível tecnológico de máquinas e equipamentos. Em contrapartida, aos poucos os empresários renovaram suas fábricas, adquiriram máquinas e equipamentos tecnologicamente modernos, adquiriram know-how para trabalhar com diversos tipos de tecido – jeans, brim, sarja, entre outros. 64 A Mesbla foi uma loja de departamentos criada em 1924, no Rio de Janeiro. Suas lojas chegaram a vender desde artigos para o lar e vestuário até automóveis e lanchas. Fechava grandes contratos de fornecimento com as indústrias. Ela encerrou suas atividades em 1997 quando pediu concordata (http://www.rsi.com.br/clientes/cliente.shtml?mesbla, acesso em 28 de novembro de 2007) 155 – capacitaram a mão-de-obra local e se especializaram na etapa de produção, uma vez que as vendas de seus produtos de boa qualidade já estavam garantidos pela Mesbla. Nesta mesma época surgiram muitas empresas informais para dar apoio, por meio do processo de facção, às empresas formais, possibilitando o aumento do volume de produção e, conseqüentemente, do volume de vendas, começando os primeiros trabalhos de subcontratação e parceria entre empresas formais e informais no território. Isso faz surgir pequenas relações de troca entre essas empresas na região. Porém, cabe lembrar que a decisão de quanto produzir, como produzir, o tipo de produto e de tecnologia era comandada pela grande empresa localizada fora do território. Em meados dos anos de 1980, em virtude do crescimento do setor, aliado aos problemas relacionados com os altos índices de inflação – que chegou a 225,16% a.a em 1985 -, e que se intensificou após o Plano Cruzado, houve a necessidade da criação de uma associação de classe para que os empresários locais pudessem se reunir para discutir os problemas enfrentados pelo setor, surgindo então a Associação das Indústrias de Moda – ASSIMODA65, com 30 participantes. A ASSIMODA tinha como propósito buscar alternativas para a organização das empresas e, ainda, conseguir linhas de crédito e financiamento, já que a inflação alta acabava por reduzir o capital de giro das empresas, em virtude da desvalorização da moeda entre os prazos de estocagem, fabricação, entrega de produtos e recebimento de vendas. Em virtude do aumento da produção de artigo em jeans lavado, em 1990 houve a entrada na cidade da primeira lavanderia de jeans66, que passou a atender, com serviços terceirizados a todas as confecções da cidade. Antes as empresas tinham que enviar seus produtos para Juiz de Fora para que pudessem ser lavados. Com a instalação dessa lavanderia na cidade, houve o aumento de produção de artigos em Jeans, atraindo muitos turistas compradores e sacoleiras, que buscavam mercadorias para revender. Outro fator de atração desses compradores era que São João Nepomuceno produzia para a Mesbla, fato que era considerado como garantida de produto de qualidade. Cabe ressaltar que durante a década de 1990 várias empresas fabricantes de produtos complementares foram instaladas na cidade tais como: cinco lavanderias, três empresas de bordado eletrônico, duas metalúrgicas, fábrica de cinto, além de um 65 Para Hélder Alves Furtado, empresário local, após o Plano Cruzado, quando a inflação bateu índices de recordes, os confeccionistas tinham que trabalhar com o preço em aberto, uma vez que para amenizar a perda de valor da moeda, o preço era acertado no dia do faturamento dos pedidos. Isso era válido para tanto para as compras de materiais quanto para as vendas de produtos acabados. 66 Hoje existem 5 lavanderias na cidade. 156 número considerável de facções e pessoas que exercem trabalhos manuais, como bordado e detalhes em couro. Além disso, há um fornecedor de máquinas e equipamentos que fornece assistência técnica e manutenção. Tudo isso faz aumentar a linkage territorial e, conseqüentemente, o aumento das relações de troca na região. Em virtude do aumento de turistas compradores e sacoleiras na região, a ASSIMODA fundou uma central de pronta-entrega das fábricas, que foi inaugurada em 1993, denominada Center Modas, mais conhecida como Shopping das Fábricas, com 30 lojas. O Center Modas funciona até hoje, disponibilizando a clientes de várias cidades e estados, produtos de qualidade no atacado e varejo, a preços competitivos. Em 1994, a ASSIMODA foi substituída pelo Sindicato das Indústrias do Vestuário de São João Nepomuceno - SINDIVEST. O SINDIVEST teve por objetivo atuar como prestador de serviços comuns e como catalisador do processo de desenvolvimento, no sentido de viabilizar projetos coletivos entre as empresas, explorando as várias alternativas e potencialidades de crescimento. Esse sindicato passou a oferecer serviços que contribuíam para o desenvolvimento de seus associados como convênios, cursos, palestras, parcerias, consultorias entre outros. Em 1996, o setor de confecção de São João Nepomuceno enfrenta um momento de crise, considerado pelos entrevistados como a pior crise enfrentada desde o drama ocasionado pela decadência da Sarmento. Essa crise foi provocada pela falência da Mesbla. Com isso, grande parte das empresas da cidade foi atingida por falta de pagamento por parte do magazine. Essa crise foi intensificada pela própria imprensa, conforme depoimento do empresário local. Segundo ele, na ocasião do fechamento do magazine, alguns jornais de circulação nacional publicaram reportagens dizendo que a cidade estava à beira do abismo e que a ruína seria inevitável. Isso fez com que as vendas realizadas para outros compradores também caíssem, uma vez que os turistas compradores e os sacoleiros buscaram outros locais para realizar suas compras. Com isso, muitas empresas fecharam suas portas e as remanescentes buscaram outras estratégias. Neste período, os empresários remanescentes perceberam a necessidade de juntar esforços para enfrentar a crise e, junto com o SINDIVEST, começaram a desenvolver estratégias de sobrevivência. Como não havia marcas das empresas na região, a solução seria buscar empresas famosas que estariam dispostas a produzir suas roupas em São João Nepomuceno. Porém, os empresários já não mais queriam 157 concentrar a produção nas mãos de um único cliente. Assim, começaram a produzir para várias empresas de grife tais como Zoomp, Triton, Fórum, Cantão e outros. Em 2000, a Prefeitura Municipal de São João Nepomuceno, em conjunto com a Associação Comercial e o SINDIVEST e o SEBRAE – que ainda não tinha escritório na cidade, mas já desenvolvia trabalhos em conjunto com o SINDIVEST desde 1999 – realizaram o PRODER 2000 (Plano de Desenvolvimento do Município). Em 2001, foi criada a Agência de Desenvolvimento regional com a finalidade de promover a aglutinação de instituições públicas e entidades de classe de empresas e da sociedade, buscando o desenvolvimento sustentado para a cidade e região. A partir de então, a agência tem promovido palestras, encontros, cursos e diagnósticos locais. Em 2004, após os resultados do Diagnostico da Indústria do Vestuário de São João Nepomuceno, mostrando que a cidade reúne potencial para o desenvolvimento de um arranjo produtivo local, o SEBRAE se instalou na cidade, com um escritório. Isso tem permitido maior contribuição desse órgão para as empresas locais, por meio de fornecimento de informações, promoção de cursos direcionados a empresa do setor e auxílio no fortalecimento e solidificação das empresas do APL. Além disso, o SEBRAE tem auxiliado o SINDIVEST nos trabalhos de coordenação do arranjo. Um dos trabalhos desenvolvidos pelo SEBRAE em conjunto com o SINDIVEST está relacionado com a busca de uma marca própria para os produtos da região, de modo a reduzir a participação do volume de produtos direcionados às grifes e aumentar a participação do volume de produtos com marca local. Esse trabalho teve como marco o trabalho realizado em 2004 na tentativa do lançamento de novos produtos como estratégia de conquista de mercados. Hoje o SEBRAE, em conjunto com a Agência de Desenvolvimento, o SINDIVEST e o Sistema FIEMG (FIEMG, IEL, SESI, SENAI), está engajado no sentido do fortalecimento do arranjo produtivo de São João Nepomuceno. Em 2007 foi realizado o Diagnóstico de Gestão das Indústrias do Vestuário de São João Nepomuceno, que teve por finalidade investigar as diversas formas de gestão adotadas nas empresas, oferecendo subsídios para a adoção de ações que visem o desenvolvimento do setor. 5.3.2.2 Estrutura atual do arranjo produtivo de São João Nepomuceno A estrutura do arranjo produtivo de vestuário de São João Nepomuceno, 158 representado na Figura 31, possui 6 atores principais: a) as empresas do segmento central, representadas pelas confecções; b) as Atividades Conexas, representada pelo fornecedor de máquinas e equipamentos; c) as Atividades Complementares representadas pelas empresas que prestam serviços às confecções tais como lavanderia, modelagem, costura, estampagem, bordados, design, fundição, fábrica de cintos, acessórios e outros; d) Estrutura de apoio e animação representada pelo SINDVEST, Sistema FIEMG, SEBRAE e Agência de Desenvolvimento Regional (ADR); e) aperfeiçoamento e pesquisa representada pelo SENAI, SEBRAE e Universidade Federal de Juiz de Fora; f) prestadores de serviços gerais o APL representados pelos Bancos – Banco do Povo, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bancos Privados –, escritórios de contabilidade, serviços de segurança e transporte. Atividades Conexas Fornecedor Maquinas Atores Locais Estruturas de apoio e de animação Sindivest, SEBRAE, FIEMG, ADR Empresas do Segmento Confecção Atividades Complementares: Lavanderia, Bordados, Estampagem etc. Serviços Bancos Contabilidade Consultorias Especializadas Transporte Segurança etc. Estruturas de Formação, Aperfeiçoamento e de Pesquisa SEBRAE, FIEMG, SENAI, UNIPAC Figura 31. Estrutura do Arranjo Produtivo de Vestuário de São João Nepomuceno Fonte: Adaptação de Fonseca Netto (2002) 5.3.2.2.1 As empresas centrais do processo produtivo As confecções do arranjo produtivo são em sua maioria micro e pequenas empresas. De acordo com o SEBRAE, o pólo é constituído, hoje, de 27067 empresas – 97 formais e 173 informais. Há 253 microempresas – abrangendo as 173 informais e 60 67 Dados informados pelo SEBRAE-MG em 16 de março de 2007. De acordo com o SEBRAE, o número apresentado pelo Diagnóstico levantado em 2003, de 350 empresas, sofreu quedas significativas, principalmente em relação as empresas informais, em virtude do aumento da concorrência tanto nacional quanto internacional. 159 formais –, 35 empresas de pequeno porte e 2 empresas de médio porte68. Esse pólo gera, aproximadamente, 6.000 empregos diretos e indiretos. Das empresas formais, 60 trabalham com a atividade de confecção. O processo produtivo do segmento do vestuário de São João Nepomuceno é esquematizado na Figura 32. No geral, o fluxo de produção segue as seguintes etapas: a) a matéria-prima tecido é enviada para o setor de organização e corte, Onde a produção é organizada - levando em consideração os moldes criados a partir de um protótipo, adequados as proporções do mesmo aos diversos tamanhos e, com o auxílio do CAD, ocorre o encaixe das peças de modo a reduzir as sobras – e o corte dos produtos; b) após o corte, as peças podem seguir dois destinos, ou serão encaminhadas para a etapa de bordados e encaminhadas posteriormente para a costura, ou são encaminhadas diretamente para a costura. Na costura, a peça recebe aviamentos, rendas, elásticos etc.; c) após a costura, as peças geralmente seguem para a lavanderia para o beneficiamento do produto, ou então seguir para a etapa de acabamento; d) após o beneficiamento do produto, este pode seguir para o setor de acabamento ou, quando se trata de bordados especiais, podem passar primeiro pelo setor de bordados antes de seguir para a etapa de acabamento. Na etapa de acabamento, as peças recebem etiquetas, zíperes, botões, rebites, gravações, fitas etc.; e) depois de acabadas, elas seguem para o setor de inspeção e embalagem; f) depois de embaladas, as peças são distribuídas para lojas próprias ou para atendimento de clientes de grifes. Aviamentos Rendas, Elásticos Entrada de Matéria Prima e acessórios Tecido Organização e corte Etiquetas, enfeites, etc Costura Embalagens Acabamento Inspeção e embalagem Expedição Lavanderia Bordado Figura 32. Diagrama do processo produtivo da indústria do vestuário de São João Nepomuceno Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo 68 As duas empresas de médio porte são duas lavanderias que prestam serviço de lavagem de jeans às empresas do APL. 160 Cabe ressaltar que as atividades de costurar, bordar e lavar têm sido desempenhadas por empresas especializadas. No caso da facção, as empresas recebem o tecido cortado e os aviamentos necessários. 15 empresas possuem bordadeiras mecânicas. As demais que fazem uso de bordados utilizam serviços das 3 empresas especializadas, em virtude do preço de aquisição e de manutenção dessa atividade dentro da empresa. Todas as empresas do arranjo, que produzem artigos que necessitam de lavagem de beneficiamento de produto, utilizam os serviços de firmas especializadas, ou seja, das cinco lavanderias de São João Nepomuceno. O mix dos principais produtos confeccionados é focado essencialmente na fabricação de bermudas; jaquetas, shorts, calças jeans e saias. Pode-se perceber, por meio da Figura 33, que o arranjo tem como “Carro-chefe” a produção de bermudas e calças jeans, ocupando 73% e 68% respectivamente. Esse mix foi detectado na pesquisa de campo, em que 70% dos entrevistados declararam trabalhar com artigos em Jeans. Essa diversificação da produção proporciona alguns benefícios, cabendo citar o maior aproveitamento da matéria prima e ampliação do campo de trabalho para profissionais especializados em designers, principalmente a partir do ano de 2005. No entanto, a maioria das empresas fabrica o mesmo mix. As empresas tendem a verticalizar a maioria de suas atividades. Bermuda 73,40% Calça Jeans 68,09% Saia 62,77% Outros 22,34% Camisas 21,28% Jardineiras Vestido 4,26% 1,06% 0% 50% 100% Figura 33. Principais linhas de produtos do Arranjo Produtivo de São João Nepomuceno Fonte: IEL, 2003a Cabe ressaltar que, praticamente, não há cópia de produtos no APL. Isso se deve ao fato das confecções produzirem sob encomenda, obedecendo às especificações e modelos apresentados pelas grifes e grandes magazines. Na pesquisa, pode-se detectar que 85% do volume de produção são direcionadas para marcas de grifes famosas. Em relação ao volume de produção com marcas próprias, cada empresa tem buscado 161 diferenciar os seus produtos dos concorrentes, de modo a obter maior liberdade de formação de preços dos produtos. Em relação aos concorrentes internacionais, os entrevistados afirmam que é notória a presença desses concorrentes no mercado. A partir da entrada de produtos chineses, na área de confecção, houve uma redução do volume de vendas das empresas formais, que acabam reduzindo o volume de produção a ser faccionada e, conseqüentemente, o número de pessoas trabalhando. Isso provocou uma queda no número de empresas do setor. Em 2003 eram 350 empresas em São João Nepomuceno e região. Em 2006, esse número caiu para 270. Segundo o SEBRAE, basicamente houve o fechamento de empresas informais. As remanescentes, geralmente, conseguem sobreviver prestando serviços de facção para outras empresas de outras regiões. Para enfrentar essa concorrência externa, as empresas contam com a diferenciação do produto por meio da qualidade do produto (70% dos entrevistados), compromisso com o prazo de entrega (100% dos entrevistados) e a criatividade em design (30% dos entrevistados). Todos eles afirmam que a concorrência por meio de preços é muito difícil em virtude da carga tributária dos produtos brasileiros, principalmente do Estado de Minas Gerais. 5.3.2.2.2 Estrutura de apoio ao processo produtivo A Estrutura de apoio ao processo produtivo é formada pelos fornecedores de máquinas e equipamentos (atividades conexas), os prestadores de serviços (atividades complementares e de serviços), e as entidades de capacitação (Estrutura de Formação, Aperfeiçoamento e Pesquisa). Fornecedores de Máquinas e equipamentos Há, no arranjo de São João Nepomuceno, um fornecedor de máquinas e equipamentos de confecção. Esse fornecedor presta serviços de representante de grandes fabricantes, de assistência técnica e manutenção dessas máquinas. Atividades Complementares e de serviços Existem no APL empresas de prestação de serviços e pessoas prestadoras de serviços especializados. Esses prestadores de serviço podem ser divididos em duas categorias: os prestadores de serviços específicos para o segmento e os prestadores de 162 serviços gerais. Os prestadores de serviços específicos são: as empresas ou profissionais de consultoria de moda, empresas de consultoria em processos produtivos (consultores independentes e o SENAI), empresas ou profissionais especializados em design, prestadoras de serviços de lavanderia, prestadoras de serviços de bordado mecânico; prestadoras de serviços de detalhes em couro; pessoas prestadoras de serviço de bordados artesanais (manuais); empresas prestadoras de serviço de facção; empresas e pessoas prestadoras de serviço de mecânica de máquinas. Os prestadores de serviços gerais são: empresas prestadoras de serviços de transporte; transportadoras, assessoria de imprensa, serviços de contabilidade, gráfica e informática. Estrutura de Formação, aperfeiçoamento e de pesquisa As instituições de capacitação existentes no APL são: o SENAI e o SEBRAE. O SENAI tem por objetivo melhorar a qualificação dos trabalhadores do arranjo de São João Nepomuceno. Tem sede própria e conta com salas de aula e um escritório. Conta com instrutores que dão aula, consultoria e atendimento ao sistema CAD. O centro de treinamento oferece 4 cursos com ênfase em vestuário (costura; modelagem; programação de produção; mecânico de máquina de costura) Prestam serviços de Risco, Molde, CAD, Desenvolvimento de produtos. O SEBRAE/MG em São João Nepomuceno funciona desde o ano de 1999, porém, o escritório foi montado em 2004. A instituição oferece treinamentos, consultorias individualizadas e programas para a melhoria dos processos gerenciais, o desenvolvimento das habilidades de liderança e do comportamento do empreendedor. O SEBRAE oferece cursos de vendas, empreendedorismo, atendimento ao cliente, produção, logística, recursos humanos, controle financeiro e contabilidade. Existe também, na cidade, a Universidade Antônio Carlos - UNIPAC, que oferece o curso de Administração, desde o ano de 2005. 5.3.2.2.3 Estrutura de apoio e animação do arranjo de São João Nepomuceno Há, na cidade de São João Nepomuceno, importantes agentes voltadas para as atividades específicas do setor de vestuário, tais como, centros de treinamento, serviços tecnológicos, sindicatos patronais e de trabalhadores, entre outros. A Tabela 31 apresenta as principais entidades de apoio e coordenação do APL. Como não há uma empresa de coordenação do APL de São João Nepomuceno, 163 as ações de animação são desenvolvidas pelo SINDIVEST, em parceria como SEBRAE. Todas as empresas de confecção, formais, são Sindicalizadas. Cabe ressaltar que, apesar da literatura mostrar que a participação do governo local é de suma importância para o desenvolvimento do APL, os relatos obtidos na pesquisa mostram que a atuação do governo local é pouco expressiva. No entanto, para fazer tal afirmativa, deveria ser desenvolvido um trabalho mais direcionado no sentido de apurar o papel de cada agente no APL e a avaliação de resultados dessa participação. Tabela 31. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao arranjo de São João Nepomuceno Entidade SEBRAE Campo de atuação Desenvolvimento de empresas de pequeno porte SESI/SENAI Capacitação para o Trabalho na indústria FIEMG Mobilizador da integração e articulação dos Sindicatos e empresas do setor industrial com os poderes constituídos e os diversos segmentos da sociedade Promotor do desenvolvimento e da inovação da indústria mineira, por meio da articulação e integração entre os setores industrial, governamental, educacional e de P&D Catalisador do processo de desenvolvimento e viabilizador de projetos coletivos entre empresas. IEL/MG, SINDIVEST Agencia de desenvol. Regional UFJF UNIPAC Associação de Lojistas Associação Comercial Banco do Povo Bancos Promotor da aglutinação de Instituições Públicas, de Entidades de Classe, de Empresas e da Sociedade, visando liderar o desenvolvimento sustentado. Centro de ensino, pesquisa e extensão Curso superior em Administração e Normal Superior Fortalecimento de lojas para exposição e venda de produtos Fortalecimento do comércio local Microcrédito Fornecimento de crédito e financiamento Fonte: Dados da pesquisa. 164 Contribuição para o APL - Promove de cursos de capacitação; facilita o acesso ao crédito; estimula a cooperação entre as empresas; fornece consultoria. - Treinamento de mão-de-obra para a indústria, oferecendo cursos específicos para aos seguimentos da indústria do APL; - Serviços de Risco, Molde, CAD, aldacis e Desenvolvimento Produtos. - Serviços: assessorias e consultorias econômica, tributária, trabalhista e jurídica; relações sindicais; meio ambiente; promoção de negócios; e financiamento. - Produz o máximo de integração, sinergia e eficiência na identificação de demandas e ofertas de conhecimento e tecnologias para atingir a premissa de tornar competitiva a indústria de São João Nepomuceno.. - Desenvolvimento gerencial e industrial do setor, por meio da implementação do projeto estrutural do APL em parceria com o SEBRAE-MG, o Sistema FIEMG e o MDIC. - Desenvolvimento de palestras, encontros, cursos, diagnósticos, planejamento, de modo a contribuir para o processo de desenvolvimento sustentável na cidade e Região. - Pesquisa de novos produtos e de novos processos produtivos. - Formação de pessoas na área de gestão de empresas do APL. - Construção e gerenciamento do CENTERMODAS, que é o espaço para a venda de produtos da indústria do APL a consumidores finais, lojistas e sacoleiras. Representação no comércio com apoio institucional Propicia crédito às empresas do APL, por meio de empréstimos, troca de cheques Propicia crédito e financiamento diferenciados para as empresas do setor 5.3.2.2.4 Principais clientes do Arranjo produtivo de São João Nepomuceno Os clientes potenciais das empresas do setor se localizam em grande parte nos Estados do Rio de Janeiro, como o maior comprador. O Estado de São Paulo é o segundo maior comprador da produção de São João Nepomuceno, seguido de Minas Gerais, Espírito Santo, Nordeste, Rio Grande do Sul e Paraná. A forma de escoar a produção é por meio de empresas de grifes famosas, que confeccionam peças em São João Nepomuceno e por representantes comerciais que revendem os produtos para as lojas dos principais Estados consumidores. Os resultados das entrevistas mostraram que 85% do volume de produção é direcionado aos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Em relação à exportação, apenas uma empresa tem exportado seus produtos. Na verdade, esta empresa tem produzido para uma marca internacional. Cerca de 80% da produção é comprometida com este único cliente. Quanto à visitação e exposição em feiras setoriais, os estudos até então desenvolvidos no APL e os relatos de dirigentes dos agentes de apoio, mostram que a participação das empresas do arranjo ainda é pouco freqüente. Os resultados da pesquisa mostraram que 35% dos entrevistados expõem seus produtos em feiras nacionais (Figura 34). Se for comparado com o percentual de expositores levantados pelo IEL (2003a), houve um crescimento significativo, já que em 2003, o número de expositores era de 5% dos produtores do APL. No entanto, o valor encontrado está próximo da pesquisa realizada pelo IEL (2006) que mostra que em 2006 38% dos fabricantes participaram como expositores em feiras. Segundo Souza (2005), a não exposição em feiras faz com que a empresa perca oportunidades de negócios, seja através do contato com inovações e novidades do setor ou conquista de novos clientes e fornecedores. Participação em feiras 60% Feiras Locais 35% Feiras em outras cidades 35% 50% 40% Feiras em outros Estados Feiras em Outros Países 25% 10% 0% 0% Visitantes Expositores 100% Figura 34. Participação em feiras Fonte: IEL, 2003a 165 5.3.2.3 A dinâmica do Arranjo Produtivo de São João Nepomuceno e as formas de cooperação 5.3.2.3.1 Relacionamento entre as empresas especializadas dentro do APL De acordo com as informações obtidas junto ao SEBRAE, em relação asa atividades de produção, há serviços terceirizados, com maior ênfase, no bordado, facção, costura parcial e lavanderia e, com menor ênfase, na modelagem, corte, cós e serviços de design (Figura 35). 55% 50% Facção Costura parcial 40% Design Costura total CAD Bordado Corte Modelagem Embalagem Cós Etiqueta 30% 25% 20% 15% 15% 15% 15% 10% 0% 50% 100% Figura 35. Itens terceirizados nas atividades de produção das empresas de São João Nepomuceno Fonte: Dados da pesquisa. Em relação às atividades mais gerais, os serviços os serviços que são mais terceirizados pelas empresas são: transporte, representação e contabilidade (Figura 36). 95% representação 70% Contablidade 40% Segurança Manutenção Transporte 20% 15% 0% 50% 100% Figura 36. Serviços gerais terceirizados pelas empresas de São João Nepomuceno Fonte: Dados da pesquisa. 166 A facção, por exemplo, é uma prática existente desde o início das relações entre as confecções de Sãojoanenses com a Mesbla. Essa prática é usada como forma de reduzir os gargalos de produção, provocados pelo aumento da demanda pelos produtos de uma determinada confecção, em que são contratadas facções na forma de microempresas e de trabalhadores em domicílio. A finalidade principal dessa facção sempre foi atender a demandas pontuais, em que, os investimentos em máquinas, equipamentos, espaço físico e pessoas, não compensariam. Isso explica a redução do número de empresas informais nos últimos anos em virtude do aumento da entrada de produtos concorrentes chineses. Quando há pedidos específicos, que precisam ser faccionados e os subcontratados não possuem máquinas específicas e/ou conhecimentos necessários para trabalhar determinados tecidos ou formas de faccionar, os subcontratantes fornecem treinamento a trabalhadores e, em alguns casos, até empréstimos de máquinas e equipamentos e serviços de manutenção e transporte de produtos. Isso foi detectado no depoimento de 30% dos entrevistados que afirmaram que já emprestaram máquinas e equipamentos de costura e deu treinamento a mão-de-obra. No entanto, esses mesmos entrevistados disseram que há uma tendência a reduzir essas práticas em virtude do grau de exigência de padrões de qualidade requeridos pelos clientes, aumentando a necessidade de controle sobre a produção. Em relação à terceirização é importante ressaltar que, por um lado, existem empresas que possuem máquinas e equipamentos com tecnologia considerada moderna e, por outro lado, empresas com máquinas simples. Isso tem dificultado o trabalho de facção, conforme o depoimento de 40% dos entrevistados. Isso pode estar contribuindo para que as empresas se preocupem mais com a verticalização interna da produção, como forma de redução dos custos de transação, do que com o aproveitamento de economias externas. Outros tipos de especialização que tem ocorrido desde a década de 90, estão relacionados com as atividades de lavagem de roupas, a estampagem e o bordado eletrônico. Hoje, existem 5 lavanderias e 3 empresas especializadas em bordado eletrônico, 2 metalúrgicas e 1 especializada em cintos. No geral, as especializações na complementação do processo produtivo ocorrem, em algumas empresas, nas atividades de faccionar, lavar e bordar. As demais atividades são racionalizadas, buscando escala interna de produção, não aproveitando as economias externas da aglomeração, por meio de especialização de atividades. 167 Para adotar estratégias de especialização inter-firmas, formando consórcios de produção em que cada um seja especializado por uma parte do processo produtivo, de acordo com 60% dos entrevistados, seria necessário maior treinamento de mão-de-obra e melhor qualificação gerencial para a garantia da qualidade do produto. Em relação aos recursos humanos, o trabalho de diagnóstico, desenvolvido pelo IEL (2006), mostrou que a escolaridade dos empregados das confecções da cidade é baixa. 5,40% são analfabetos, 11% têm ensino fundamental incompleto e 8,8% fundamental completo; 41,80% possuem o ensino médio incompleto e 7,7% completo. O número de funcionários com curso de nível superior completo apontado pela pesquisa foi de 3,3% do total. 5.3.2.3.2 Relacionamento entre empresas concorrentes A cooperação entre concorrentes ainda é considerada fraca, com poucas ações conjuntas entre eles, que começaram a despontar a partir 2004, tendo como marcos: a) o resultado do primeiro Diagnóstico das Indústrias do Vestuário de São João Nepomuceno, promovido pelo IEL (2003a) e; b) o trabalho do estilista Ronaldo Fraga – que desenvolveu uma linha de produtos com características de cidade de São João Nepomuceno. Com a experiência de Fraga, dezoito estilistas da cidade participaram de uma oficina-laboratório de design que gerou uma célula de criação de moda, onde os alunos desenvolveram peças inspiradas nas características de São João Nepomuceno e que fizeram parte da coleção Identidade e Moda. Esses dois trabalhos, de iniciativa do SINDIVEST com apoio do SEBRAE e Sistema FIEMG, tiveram por finalidades: a) reduzir o percentual de destinação dos produtos para empresas de grifes; b) aumentar a propagação de marcas locais no território nacional; c) proporcionar maiores proximidades entre as empresas locais, de modo a formar um ambiente mais cooperativo, reduzindo custos de transação e favorecendo a cooperação; d) fortalecer laços de confiança entre as empresas, por meio de maior interação entre elas. Como forma de aumentar o espírito de cooperação entre as empresas concorrentes, de modo a buscar aumentar a eficiência coletiva e reduzir o custo de transação, o SINDIVEST, em conjunto com o SEBRAE e Agencia de Desenvolvimento, tem desenvolvido ações educativas. Dentre essas ações, destacam-se 168 as freqüentes visitas a outros arranjos produtivos, tais como Cianorte (PR), Jaraguá e Goiânia (GO)69. 50% dos entrevistados afirmaram ter participado dessas visitas. Como resultado desse trabalho, pode-se detectar algumas ações conjuntas tais como: a) troca de informações entre um grupo de 20 empresas, que promovem reuniões para discutir questões relacionadas com a tecnologia, comercialização, distribuição, legislação e outros assuntos; b) desenvolvimento de marketing em conjunto, por três empresas que adquiriram a marca “Lápis de Cor”; c) Pesquisa e desenvolvimento de produtos, por um grupo de 15 empresas; d) desenvolvimento de ações conjuntas de desenho e estilo, por um grupo de 8 empresas que contrataram um estilista para visitar feiras especializadas, em São Paulo, para desenvolver suas coleções estacionais. De acordo com o Gerente do SEBRAE, a causa da baixa cooperação pode estar relacionada à história de formação e desenvolvimento passivo dessas empresas, principalmente, a partir da década de 1980, quando as empresas passaram a trabalhar sob orientação e controle da Mesbla70. Depois da Mesbla, vieram outras empresas – que mesmo com a diversificação dos clientes – trabalhavam da mesma forma. Essa relação com empresas de grifes e com grandes magazines pode ter contribuído para inibir o desenvolvimento de ações de cooperação ao longo do tempo. 5.3.2.3.3 Relacionamento dos fornecedores dentro do APL O fornecedor de máquinas e equipamentos localiza-se dentro do arranjo produtivo e, também, presta serviços de assistência técnica e manutenção. Porém, 100% dos entrevistados afirmaram não haver nenhum trabalho de parceria envolvendo este fornecedor no sentido de adaptação de máquinas, troca de pessoal, desenvolvimento de pesquisa em conjunto. Na realidade, tal fornecedor serve como um representante de grandes fabricantes. 70% dos entrevistados afirmaram que compram máquinas e equipamentos de outros fornecedores, localizados fora do APL e 30% disseram dar prioridades ao fornecedor local. 69 Segundo os empresários entrevistados, durante a visita à cidade paranaense, eles puderam conhecer o modelo de vendas adotado com o auxílio de guias de compra, que levam diariamente dezenas de excursões com lojistas e sacoleiros, impulsionando o turismo de negócios em Cianorte. Em Jaraguá, eles tiveram a oportunidade do contato com outro modelo de Arranjo Produtivo Local, e sentir o espírito associativista que impulsiona o desenvolvimento local. 70 A Mesbla, que era localizada em outra região, exercia o controle sobre a produção, a tecnologia, a inovação de produtos e processos. 169 Os fornecedores de materiais não se encontram dentro do arranjo. Os de tecido se encontram nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Paraná, nesta ordem de importância; os de etiquetas no Rio de Janeiro e; os de aviamentos em São Paulo. Em virtude da localização desses fornecedores, não há trabalho de parceria entre as empresas e fornecedores. Os principais problemas enfrentados pelas empresas estão relacionados com os prazos de entrega de matéria-prima e insumos para a produção (60% dos entrevistados) e a localização dos fornecedores (80% dos entrevistados). 5.3.2.3.4 Relacionamento das empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e processos, Instituições de Pesquisa/Universidades As confecções de São João Nepomuceno entrevistadas destinam grande parte dos seus produtos para empresas de grife e pequena parte desenvolvem com marca própria. No entanto, todas elas têm buscado tanto a inovação de produtos quanto a inovação de processos. Em relação à inovação de produtos, elas têm buscado alterar desenho e estilo (80%), alterar características técnicas (60%) e, ainda, elaborar novos produtos (60%). Em relação à inovação de processos, elas têm buscado incorporar novos equipamentos na planta industrial (40%) e introduzir novas técnicas organizacionais como CAD/CAM e Just in Time(40%). De acordo com o gerente do SEBRAE, o trabalho de P&D – inovação de produtos e inovação de processos – tem sido desenvolvido: a) pela própria empresa – 15 empresas possuem departamento de P&D de produtos e processos –; b) por meio de empresas especializadas na atividade de P&D de produtos, uma vez que, o arranjo conta com duas empresas especializadas que vendem seus serviços para as demais empresas; c) entidades de apoio ao arranjo, principalmente o sistema SESI/SENAI, que prestam serviços de risco, molde, CAD e desenvolvimento de produto; d) instituições de pesquisa, como a UFJF, no que se refere a trabalhos voltados para a inovação de processos produtivos; e o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil – CETIQT, no que se refere à inovação de matéria-prima. As principais fontes de informação utilizadas pelas empresas inovadoras são: a) departamentos de P&D da empresa na região (30%); b) instituições de pesquisa localizadas na região – UFJF – e fora da região – CETIQT (10%); c) SESI/SENAI, por meio de consultorias especializadas localmente (60%); e) representantes e clientes (80%); g) Visitas a feiras e viagens ao exterior (50%). 170 O desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias se dá: a) por meio da aquisição de máquinas compradas no mercado local, nacional e internacional (80%); b) nas unidades de produção da própria empresa (40%); c) em laboratórios de P&D da empresa (40%); d) em contato com o SENAI e SEBRAE. 5.3.2.3.5 Relacionamento das empresas de treinamento e formação de mão-de-obra No arranjo de São João Nepomuceno, a origem da mão de obra é local, com baixo grau de escolaridade e pouco qualificada. De acordo com o IEL (2006), os empregados são treinados na própria empresa, favorecendo o aprendizado “learning by doing” e learning by using, e uma parte dos trabalhadores são preparados pelos cursos técnicos existentes no SENAI tais como: costura, modelagem, programação de produção, mecânico de máquina de costura, dentre outros. Apesar da existência de agentes voltados para a capacitação e treinamento de pessoal, apenas 40% dos entrevistados declararam utilizar mão-de-obra proveniente do SENAI. O restante acaba contratando pessoal com experiência em outras empresas (30%) ou acabam fazendo treinamento de pessoal dentro da própria fábrica (60%). O SEBRAE tem oferecido cursos de vendas, logística, recursos humanos, empreendedorismo, atendimento ao cliente, controle financeiro e contabilidade. 50% dos entrevistados declararam participar desses cursos. A Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC) tem oferecido curso de Administração. No entanto, o número de pessoas com curso superior incompleto e completo é muito baixo nessas empresas. Os entrevistados desconhecem qualquer trabalho que tenha sido realizado em conjunto com essa universidade. 5.3.2.3.6 Relacionamento com os agentes de animação do APL As ações de animação do APL de São João Nepomuceno têm sido desenvolvidas pelo SINDIVEST, em parceria com o SEBRAE e com o sistema FIEMG. Essas três instituições vêm tentando desenvolver uma série de atividades no sentido de proporcionar maior desenvolvimento gerencial e industrial do setor, por meio da implantação do projeto estrutural do arranjo produtivo. Essas instituições têm desenvolvido programas para articular o planejamento e a coordenação das ações das empresas participantes do agrupamento, sendo ressaltados os aspectos relacionados às novas possibilidades de criação e/ou adaptação de novas 171 tecnologias, bem como o acompanhamento de rotinas técnicas, realizadas pelo SENAI; políticas de treinamento e capacitação operacional e gerencial, realizadas pelo SENAI e pelo SEBRAE; Busca de recursos financeiros para o APL, realizados pelo SINDIVEST; incentivo a uma maior cooperação entre as empresas do APL, por meio de ações criadas pelo SINDVEST, tais como, visitas, palestras, estudos voltados para a criação de uma central de vendas e o desenvolvimento de uma marca do APL de São João Nepomuceno. O esforço conjunto desses agentes de animação tem por finalidade: a) estimular a transformação do APL em sistemas mais amplos de inovação de produtos, processos e organizacionais; b) facilitar o processo de compras, vendas, distribuição e marketing; c) incrementar o potencial que o APL tem para complementar recurso e aprendizagem; d) reduzir os custos de transação, por meio do incremento da cooperação, etc. No entanto, segundo o Gerente do SEBRAE, os resultados dessas ações levam anos para serem observadas e o processo de mudança é lento e gradual. Um dos reflexos que pode ser observado está relacionado com os dois diagnósticos realizados pelo IEL, em relação à participação em feiras. No ano de 2003, apenas 5% participavam em feiras nacionais. Em 2006, esse valor subiu para 38%. 172 PARTE III Análise da formação, desenvolvimento e estruturação de APLs da indústria tradicional, produtores de móveis e de artigos de confecção no Estado de Minas Gerais 173 Os aglomerados produtivos possuem características bastante específicas em relação ao número de agentes envolvidos e à forma de interação desses agentes no território. Os APL são diversificados, apresentando diferentes graus de desenvolvimento, de integração a montante e a jusante da cadeia produtiva, de articulação, de associativismo, de integração entre os agentes e instituições locais e de capacidade para inovação. Essas diferenças são resultantes da evolução histórica, da organização institucional, do contexto social e cultural, da estrutura produtiva, das formas de inserção nos mercados interno e internacional, das estruturas de governança, da logística, do associativismo, do cooperativismo, das formas de aprendizado e de disseminação do conhecimento local. Assim, o caráter diferenciador de um determinado APL centra na capacidade das firmas interagirem entre si e com o seu território, obedecendo aos códigos constituídos pelo meio. Essa relação de troca leva à chamada ancoragem ou enraizamento territorial que, conseqüentemente, leva ao desenvolvimento endógeno. Para analisar a dinâmica dos sistemas produtivos é necessário analisar os condicionantes territoriais que estão relacionados com os diversos tipos de externalidades, como as institucionais, marshallianas, schumpeterianas e transacionais. A análise do comportamento de arranjos produtivos locais, com base em seus condicionantes, vai além da observação do comportamento desses aglomerados territoriais e acaba levando a reflexões sobre políticas de apoio aos sistemas produtivos locais, como estratégia de desenvolvimento local. Esta parte tem por finalidade analisar o processo de formação, desenvolvimento e estruturação de APLs da indústria tradicional, produtores de móveis e de artigos de confecção no Estado de Minas Gerais, por meio da consolidação dos resultados obtidos na pesquisa de campo. Assim, nesta parte foi mostrada: a) a origem e a evolução dos APLs estudados, e, com base nesta análise, foi criado o modelo de formação e desenvolvimento destes aglomerados; b) a análise dos condicionantes territoriais das correntes de pensamento Marshallianas, Shumpterianas, Transacionais e Institucionais e; c) foram sugeridas políticas para os APLs estudados. 174 CAPÍTULO 6 Origem e evolução dos APL moveleiros e de confecção mineiros 6.1 Origem dos APLs mineiros Em Ubá e São João Nepomuceno a proliferação das empresas está relacionada a um “acidente histórico”, provocado pelo fechamento da empresa principal. Em Ubá, o fechamento da Domani, em meados dos anos de 1970, levou os ex-empregados da produção, por meio de conhecimentos adquiridos, a iniciarem suas próprias empresas, com recursos financeiros próprios, dando continuidade ao tipo de produto, ou seja, à produção de dormitórios e salas de jantar mais populares, com baixo padrão tecnológico e preços módicos. Em São João Nepomuceno, paralelamente às sucessivas crises da Sarmento ao longo dos anos 60, pequenas fábricas de roupas surgiram naturalmente, no seio das residências familiares, aproveitando a facilidade de obtenção da matéria-prima tecido (da Sarmento) e as habilidades das mulheres em relação à costura, como resposta à situação crítica que se estava vivendo. O fechamento da Sarmento na década de 70, levou parte da mão-de-obra familiar desempregada a ser absorvida pelas confecções e, com a ampliação de vendas, principalmente para outras localidades, houve a contratação de mão-de-obra e a transformação da produção doméstica em industrial. Em Carmo do Cajuru e Muriaé, não houve o fechamento da empresa principal. Na realidade, o desenvolvimento das atividades nessas regiões fez surgir condições que favoreceram a emergência do aglomerado, como existência de uma força de trabalho especializada, oportunidades de mercado e demanda e acesso a mercados. Em ambas as localidades, as empresas concorrentes foram criadas por ex-empregados do setor de produção, que após um tempo de trabalho, adquiriram conhecimentos e abriram seus próprios negócios com recursos financeiros próprios. Em Carmo do Cajuru, o fortalecimento da Mobiliadora Líder no mercado, provocada pelo desenvolvimento de estratégias de expansão ocorrida nas décadas de 70 e 80, fez surgir condições que favoreceram a emergência do aglomerado, principalmente na década de 1990. Em Muriaé, a Malharia Galante, quando instalada, trouxe pessoas para treinamento e capacitação de mão-de-obra, desenvolveu mercado comprador na região e, ainda, estabeleceu relações com a população local, por meio do treinamento de donas de casa nas atividades de costura e bordado. Com intensificação das vendas, por meio de 175 representantes de vendas que levavam mercadorias para outras regiões do Estado e do País, houve a necessidade de ampliação das confecções domésticas, transformando-as em produção industrial. Assim, surgiu número considerável de confecções ao logo dos anos 60 e 70. Porém, o crescimento do número de empresas no aglomerado se deu na década de 80, quando ocorreu queda na atividade principal da cidade, que estava relacionada com pequenas oficinas mecânicas, sendo grande parte dos desempregados absorvida pela empresa familiar. Assim, nos quatro APLs estudados, a origem da aglomeração de empresas de um mesmo ramo de atividade, apresentando vantagem competitiva locacional, está relacionada com uma empresa verticalizada e estruturada sob a lógica funcional. Tais empresas – a Domani em Ubá, a Mobiliadora Líder em Carmo do Cajuru, a Malharia Galante em Muriaé e a Companhia Fiação e Tecidos Sarmento em São João Nepomuceno – foram responsáveis, cada uma em sua localidade, por moldar a base produtiva do território, dotando-o de condicionantes territoriais mínimos para a ampliação das atividades. A gênese desses APLs revela o potencial empreendedor dos territórios em que se encontram, pois, observou-se que tais arranjos não surgiram dos estímulos do planejamento público, mas de fontes endógenas e auto-organizativas. É interessante observar que é comum na indústria tradicional a formação de aglomerados produtivos provenientes da criação de empresas por ex-empregados de empresas locais, originários de uma empresa principal. Esse surgimento de empresas ocorre ou por “acidente histórico”, quando a empresa principal deixa de existir ou por evolução, quando ex-empregados, movidos pelo conhecimento adquirido, acabam criando empresas concorrentes ou complementares. Isso pode ser observado nos estudos de Piore & Sabel (1984), Souza (1992), Maia, (1994), Campos et. al., (2000), Crocco, et. al., 2001, Prochinik, (2002), Cunha et. al. (2006), Lima (2006), Kraemer, (2007). Em todas as localidades, estudadas por esses autores, a formação dos aglomerados se deve a condicionantes territoriais. Contudo, a maioria desses estudos não especifica os condicionantes territoriais que serviram para a criação e o desenvolvimento de empresas na região. Assim, apesar de diferirem de local para local, a investigação desses condicionantes, é um bom caminho para compreender o processo de formação, desenvolvimento e estágio de maturação dos arranjos produtivos locais. 176 6.2 Condicionantes territoriais de incentivo ao surgimento dos aglomerados Os condicionantes territoriais existentes que serviram como vantagens competitivas locacionais favoráveis ao surgimento das empresas e à formação de aglomerados de firmas semelhantes, nos APLs estudados, são mostrados na Tabela 32. Percebe-se que a maioria desses condicionantes para surgimento dos APLs está relacionada com as externalidades marshallianas, criadas pelas empresas pioneiras, tais como: infra-estrutura viária, comunicação e energia; mão-de-obra especializada; acesso fácil à tecnologia de produção; label territorial construído pela empresa principal. Com o tempo, outros tipos de externalidades locais são desenvolvidos, servindo como estímulos ou entraves ao crescimento e ao desenvolvimento dos APLs. Cabe ressaltar que os ganhos obtidos em se estabelecerem em aglomerados com presença de fatores de produção comuns (terra, trabalho, capital, energia, armazenagem e transporte) podem se resumir a melhorias no acesso e manipulação desses fatores, resultando aumentos de produtividade e queda de preços (Haddad, 1989). A criação e reunião dessas firmas na mesma região foi uma forma de apropriação de retornos crescentes obtidos nas etapas de produção, o que Marshall (1890/1986) denominou de economias internas e externas. Enquanto as economias internas vêm no bojo do aumento da especialização da produção e aperfeiçoamento técnico, produtivo e organizacional, gerando ganhos internos e inerentes a cada firma, as economias externas se mostram dependentes do desenvolvimento geral da indústria, principalmente com respeito ao volume total de fábricas do mesmo gênero localizadas na mesma vizinhança. Em Ubá, além do trabalho desenvolvido pela Domani, o suprimento de móveis em metal pela Itatiaia para grande parte do território nacional, contribuiu para a divulgação do local, exercendo efeito positivo sobre as empresas do APL, denominado “efeito de vizinhança71”. Com o tempo, essas vantagens competitivas foram fortalecidas, funcionando como atratores de novas empresas para o local, além de impulsionar a produção e a rentabilidade das existentes. Isso ocorreu em virtude, basicamente, de três razões: a) os efeitos de encadeamentos de firmas para a montante e a jusante no processo de produção72; b) a aglomeração de trabalhadores especializados; c) as interações promotoras da inovação tecnológica. 71 Ver Veltz 1989 72 Ver Hirschman, 1958 177 Tabela 32. Condicionantes territoriais favoráveis ao surgimento das pequenas empresas dos APLs estudados Localidade Condicionantes territoriais favoráveis ao surgimento do APL Ubá a) ambiente institucional favorável à industrialização de Ubá, como alternativa de absorção de mão-de-obra rural disponível; b) conhecimentos difundidos aos ex-empregados da Domani, por meio do processo de aprendizagem e rotina; c) infra-estrutura de comunicação, energia elétrica e estradas; d) mão-de-obra treinada, disponível e compatível com o tipo de produto da Domani; e) presença de um label territorial,construído por meio das estratégias de produção, distribuição e divulgação da Domani e das empresas comerciais dos irmãos Parma; f) estratégias de crescimento da Itatiaia73, associando a marca à cidade de Ubá; g) Produtos direcionados para classe popular, com baixo custo de fabricação, baixo nível tecnológico e conseqüentemente, baixa barreira de entrada de novas firmas. Carmo do a) conhecimentos difundidos aos ex-empregados da Líder, por meio do processo de aprendizagem e rotina; Cajuru b) criação na década de 1970 do distrito industrial de Carmo do Cajuru, com infraestrutura de funcionamento; c) infra-estrutura de comunicação, energia elétrica, estradas; d) incentivo à industrialização por meio da criação do Distrito Industrial, com infraestrutura mínima de funcionamento, na década de 70; d) mão-de-obra treinada, disponível e compatível com o tipo de produto da Líder; e) presença de label territorial, construído por meio das estratégias de produção, distribuição e divulgação da Líder, associando a marca á cidade de Carmo do Cajuru; f) Produtos direcionados para classe mais alta, porém intensivo em mão-de-obra, baixo nível tecnológico e, conseqüentemente, baixa barreira de entrada de novas firmas. Muriaé a) ambiente institucional desfavorável para a atividade mecânica, apresentando como alternativa o trabalho nas confecções, iniciadas pelas donas de casa; b) cultura do empresário local voltado para PMEs; c) conhecimento difundido para grande número de donas de casa; d) infra-estrutura de comunicação, estradas, energia elétrica e serviços de transporte; e) existência de fornecedores de máquina e equipamentos e assistência técnica, para empresas do setor de confecção na cidade; f) existência de número significativo de vendedores e de representantes comerciais; g) presença de um label territorial, construído ao longo dos anos de 1980, pelos representantes de vendas e vendedores de produtos, fora da região; h) exigência de baixo nível tecnológico, apresentando baixa barreira à entrada. São João a) presença de fornecedor da principal matéria-prima tecido, pela Sarmento74; Nepomuceno b) nome da cidade associado a tecidos e produtos de qualidade; c) infra-estrutura de comunicação, estradas, energia elétrica e serviços de transporte; d) conhecimento sobre costura difundido para grande número de donas de casa, por meio do processo de aprendizagem e rotina dentro das confecções existentes na cidade; e) exigência de baixo nível tecnológico, apresentando baixa barreira de entrada; f) formação de número significativo de vendedores e representantes comerciais; g) disponibilidade de mão-de-obra; h) qualidade da mão-de-obra compatível com as exigências da indústria. Fonte: dados da pesquisa. 73 A Itatiaia foi criada na década de 60, produzindo armários em Aço. Nos finais da década de 70, vendia para boa parte do território nacional, levando o nome de Ubá como importante produtora de móveis de qualidade. Hoje é considerada a maior empresa fabricante de armários em aço da América Latina. 74 Houve uma fase da Sarmento em que ela estava pagando seus empregados com o tecido, levando ao aumento de tecidos disponíveis para a venda, na cidade. 178 Além disso, a criação de firmas calcadas na exportação regional75 foi responsável pela garantia da sustentabilidade e de crescimento da região, já que, à medida que as empresas expandiam suas vendas para outras cidades e regiões, aumentavam o volume de produtos fabricados; atraíam mão-de-obra especializada em algumas atividades; aumentavam a renda das empresas; e, ainda, propiciavam surgimento de investimentos públicos em infra-estrutura. Como conseqüência, a concentração de trabalhadores gerava externalidades no local, como a difusão do conhecimento tácito e a educação no ofício para a mão-de-obra, incitando uma identidade da região com a atividade empreendida. Isso fez com que mais empresas fossem atraídas para o negócio, mesmo porque as barreiras à entrada, em todos os quatro APLs eram consideradas baixas. 6.3 A evolução e estruturação dos aglomerados produtivos mineiros Nos quatro APLs estudados, a aglomeração territorial concentrando empresas de um mesmo ramo nas localidades e as relações sociais em um mesmo local levou, desde o início, ao aumento do fluxo de serviços, tanto ligados à atividade fim, quanto serviços mais genéricos. Assim surgiram representantes comerciais para vendas de produtos acabados – principalmente nos APLs de confecção – e representantes de matériasprimas e insumos para a fabricação, como máquinas, equipamentos, assistência técnica e serviços de manutenção; serviços de transporte; agências bancárias, etc.76. As empresas passaram a ter acesso aos mesmos representantes, tecnologia, insumos, maquinários, e também à mesma mão-de-obra especializada e aos mesmos serviços gerais. Isso atraiu novas empresas, reforçando o sentido de crescimento iniciado, porém, tal crescimento se deu de forma desorganizada. Durante o período de crescimento desorganizado das empresas, verificou-se a tanto a especialização produtiva – esperada em agrupamentos produtivos, provocada pelos transbordamentos (spill-over’s) de conhecimentos das estruturas produtivas localizadas, fazendo com que o processo de aprendizado quase natural entre os 75 De acordo com Santos et. al. (2005), o crescimento de uma região se dá por meio das exportações. A princípio, sem exportações a renda de uma região tenderia a cair continuamente até a pobreza absoluta. Esse raciocínio está de acordo com a teoria da Base Econômica (ou Base Exportadora). De acordo com Haddad (2003:24) o conceito de base econômica define as atividades básicas como aquelas que produzem bens e serviços para uso externo à região, sob a forma, portanto, de exportação inter-regional ou internacional. 76 Alguns representantes comerciais acabaram se instalando desde o início nas cidades, como é o caso de fornecedores de maquinas e equipamentos em Muriaé. 179 produtores – quanto à prática de fabricação de produtos homogêneos, por meio da cópia de produtos. Assim, houve o acirramento da concorrência com base em preços, em virtude da livre circulação da informação, da mobilidade dos fatores de produção, do acesso à tecnologia rudimentar e da baixa barreira à entrada de empresas, dificultando o inter-relacionamento entre as empresas, no território. A partir da formação dos aglomerados, o desenvolvimento dos quatro APLs esteve atrelado a eventos que geraram bifurcações na sua trajetória histórica, que estão relacionados a mudanças na forma de organização industrial e mudança tecnológica. Em Ubá, por exemplo, no decorrer dos anos de 1980, as empresas enfrentaram diversos problemas de ordem política e econômica – associados ao crescimento desorganizado do setor. Isso fez com que as empresas percebessem a necessidade de se criar uma entidade de apoio e animação, capaz de ajudar no fortalecimento do conjunto de empresas, buscando aumentar a capacidade competitiva, por meio de investimento em tecnologia, capital de giro, estratégias mercadológicas, qualificação da força de trabalho e outras. Com a fundação do INTERSIND, em 1989, muitos resultados positivos foram alcançados, envolvendo organização industrial e mudança tecnológica, associada ao aumento de financiamentos para empresas do setor. Tais financiamentos iniciaram nos finais dos anos 80 para sanar problemas de capital de giro e nos anos 90 foram direcionados para a expansão das empresas e modernização do parque industrial. A modernização das máquinas e equipamentos foi condição para que as empresas continuassem atendendo o seu nicho de mercado, que consistia em consumidores de uma classe mais popular, principalmente num período em que houve entrada de tecnologia moderna no setor em virtude da abertura de mercado, envolvendo máquinas, equipamentos, produtos e materiais77. Em Carmo do Cajuru, a mudança na trajetória do setor está relacionada à estratégia mercadológica da Mobiliadora Líder, no início dos anos de 1990, voltada para a expansão de vendas de um tipo de móvel que exige mais mão-de-obra e baixo investimento tecnológico, voltado para uma classe social mais elevada. Isso fez com que o número de empresas aumentasse consideravelmente na primeira metade da década de 1990. Com o crescimento desorganizado do setor, foi instalado, em Carmo do Cajuru, em 1994, o SINDIMOV-MG, com a finalidade de aumentar a capacidade competitiva 77 No Brasil, na década de 90 houve mudança no comportamento do consumidor de móveis no sentido de adquirir móveis feitos em MDF, de baixo custo, seguindo linhas mais retilíneas e de fácil montagem. Porém, para a fabricação é exigida tecnologia de produção mais sofisticada e cara. 180 das empresas, por meio da organização industrial das empresas do setor. Os trabalhos desenvolvidos pelo SINDIMOV-MG (modestos quando comparados com o INTERSIND), em parceria com as empresas do setor, têm feito com que as empresas apresentem algum grau de evolução e ampliação do mercado comprador. Em Muriaé, por exemplo, o crescimento desordenado de confecções, nos anos de 1980 e primeira metade dos anos de 1990, aliado ao fortalecimento de outros pólos da moda e ao processo de globalização da economia, fizeram com que os empresários percebessem a necessidade de juntar esforços para que pudessem enfrentar os desafios. A partir da criação da pronta-entrega, as discussões dos empresários em relação à busca de soluções para problemas em conjunto e de interesse do poder público local em relação ao setor, fez surgir, a partir de 1999, várias entidades de animação representativas em Muriaé. Assim, surgiram a Delegacia Regional de Muriaé e Região; o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Setor de Confecções – CONDESSC; a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Muriaé SMDE; e o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e pequenas Empresas – SEBRAE-MG, que juntas exercem a coordenação do arranjo. Em São João Nepomuceno, o crescimento desorganizado e independente das confecções ocorreu até início dos anos 80, quando a Mesbla, uma grande empresa comercial, passou a exercer a coordenação e controle das empresas. Por meio de contratos de produção, firmado junto às PMEs formais da cidade, essa grande empresa coordenava a produção das empresas locais, decidindo toda a inovação tecnológica em relação a produto, processo e tecnologia. Neste mesmo período, surgiu um número significativo de empresas informais, que tinha por finalidade dar suporte às empresas formais, na facção de peças, principalmente quando o volume de pedidos era superior à capacidade produtiva das empresas. Isso deu início a um processo de parceria entre empresas formais e informais, que existe até hoje. O crescimento do setor e os problemas relacionados com os altos índices de inflação da década de 1980 fizeram com que fosse criada a associação de classe para os empresários locais, denominada ASSIMODA, para discutir problemas em comuns e a busca de financiamentos para capital de giro. Em meados dos anos de 1990, foi substituída pelo SINDIVEST. A relação com a Mesbla durou até o ano de 1996, quando esse grande magazine faliu, trazendo conseqüências indesejáveis às empresas do arranjo, principalmente falência. Isso fez com que os empresários começassem a juntar esforços para enfrentarem a crise. Como as empresas não trabalhavam com marcas próprias, a solução imediata foi a 181 busca de outras empresas famosas que estariam dispostas a produzir suas roupas em São João Nepomuceno. Assim, começaram a produzir para várias empresas de grife, como Zoomp, Triton, Fórum, Cantão e outros, de modo a reduzir o risco em produzir apenas para um comprador. A partir de então, o SINDIVEST assumiu a o papel de animação e apoio ao aglomerado e tem incentivado o desenvolvimento de marcas próprias. Em virtude dos trabalhos por essas entidades de animação e de apoio aos APLs, houve redução de cópias de produtos entre empresas concorrentes, principalmente daquelas que são filiadas às entidades. A diferenciação dos produtos é feita por meio de design e estilos próprios, tipo de material utilizado, tipo de tecnologia empregada, formas de comercialização, imagens e marcas, etc. É importante destacar que o setor moveleiro em geral apresenta vocação para a diferenciação, condicionada às características do produto – utilização de diferentes tecnologias de produção; diferentes tipos de materiais (aço, tubos, madeira maciça, MDF), diferentes possibilidades de uso – e/ou à dos seus consumidores –; segmentação de mercado e segmentação de estilos do consumidor. Em Ubá, a constante busca por novas tecnologias de produção e processo de grupo que produz móveis padronizados e tecnologicamente avançados busca a constante modernização das máquinas e equipamentos para que se possa obter um lucro extraordinário por meio da inovação. Em Carmo do Cajuru, essa diferenciação de produtos tem facilitado a cooperação de empresas para a composição de produtos para atender pedidos específicos de clientes. Nos dois APLs de confecção, ocorreram duas situações bem distintas. Em Muriaé, houve a redução de cópia de produtos de empresas concorrentes formais e que são filiadas às instituições de coordenação. Porém, há ainda a prática de cópia de produtos, principalmente pelas empresas informais. Como forma de reduzir o efeito da cópia, as empresas têm investido no aumento da velocidade na inovação de design e mudança de materiais e estilo. A partir de então, também houve surgimento de empresas especializadas em parte de processos produtivos. Em São João Nepomuceno, a prática de cópia de produtos foi bastante reduzida desde o período Mesbla, principalmente porque as empresas formais sempre trabalharam para atender as exigências das empresas de Grifes e as empresas informais foram criadas para dar suporte às formais. Percebe-se então que a criação de empresas de animação e de apoio é importante para o crescimento e sucesso do APL, pois estimulam a capacidade de inovação, podendo levar o agrupamento a entrar em um círculo virtuoso de crescimento. Esse crescimento se dá quando as novas empresas são atraídas pela renda e pelas áreas de 182 mercado mais densas, mesmo quando o local já seja abastecido pelos produtos das empresas em questão. O aumento da densidade da área de mercado poderá tornar a operação mais lucrativa no local, em virtude do aumento do consumo local e redução de custos de transporte, levando ao reforço da densidade e a diversificação produtiva no APL e, conseqüentemente, o aumento da competitividade do local. A organização desses aglomerados, então, fez com que as empresas passassem a se beneficiar da proximidade a outras firmas e obter ganhos com a melhoria na qualidade de mão-de-obra, custos na obtenção de matérias-primas, conhecimento tácito, dentre outros. A interdependência ou linkages, gerados pelo próprio encadeamento das atividades produtivas e da proximidade das firmas, pode ser considerada responsável pelo crescimento e desenvolvimento dos APLs. No entanto, há uma diferença na presença dessas linkages e a forma de funcionamento no APL. Isso acaba criando um perfil diferenciado, com diferentes graus de crescimento e desenvolvimento. Em Ubá, muitos empreendimentos se formaram para fornecer conhecimento, matéria-prima, insumos e tecnologia de ponta. Assim, surgiram serviços de fornecimento de máquinas e equipamentos; serviços de desenvolvimento de máquinas e de materiais; prestadores de consultoria em processos produtivos, tendência de consumo específico e atividades de P&D e oferta de treinamento de mão-de-obra. Muitos fornecedores são lojas de representação de grandes fornecedores, atuando com peso de negociação no APL. Em Carmo do Cajuru, surgiram micro-empresas comerciais, fornecedoras de matéria-prima e insumos. Tais fornecedores não possuem atuação significativa no APL, já que são apenas atravessadores, funcionando como estoque terceirizado para os fabricantes locais. A instalação de representantes de grandes fornecedores no local é dificultada em virtude do tamanho das cidades e o número de empresas, que não gerariam retorno de investimento para esses fornecedores. Em Muriaé e em São João Nepomuceno foram instaladas empresas de apoio ao processo produtivo, como fornecedores de máquinas e equipamentos de confecção, prestadores de serviços de consultoria em moda, em processo produtivo e em atividades de P&D e terceirização de facção e lavanderia. Em Muriaé, ressalta-se o fornecimento de insumos, a prestação de serviços de bordados e estampagem. Os efeitos ou externalidades locais, viabilizando escala mínima eficiente, e conseqüentemente, atraindo outras empresas privadas pela possibilidade de lucro, com o oferecimento de uma gama de serviços à indústria, que aprimoram e integram a cadeia produtiva. Em todos os APLs estudados, além dos serviços ligados à atividade, houve a 183 entrada de outras atividades de serviços gerais, tais como: bancos, assessoria de imprensa, gráfica, transporte, etc. Para que os APLs se tornassem mais competitivos, e não entrassem num círculo vicioso de estagnação ou regressão, foi necessário desenvolvimento de parcerias com entidades públicas (Federal, Estadual e Municipal) ou para-públicas de apoio e capacitação de mão-de-obra especializada e de gerência; de apoio às atividades de P&D; de provimento de infra-estrutura de suporte ao crescimento do APL; de captação de crédito e financiamentos; e de catalisadores da ação cooperativa e do investimento coletivo. Em Ubá, foram estabelecidas parcerias com 32 parceiros, com diversas instituições de apoio, em todos os níveis de governo. Em Carmo do Cajuru existem apenas 6 parceiros. Em Muriaé e São João Nepomuceno, há 13 parceiros, ressaltando que, em Muriaé, o peso maior de apoio é recebido da prefeitura municipal e de entidades locais criadas. Percebe-se então que cada APL possui características bastante específicas em relação ao número de agentes envolvidos e à forma de interação desses agentes no território. Apesar de essas especificidades exercerem influência no desenvolvimento de cada um, o conjunto de todos os atores que fazem parte desses APLs, pode ser visualizado por meio do modelo desenvolvido por Fonseca Netto (2002), para representar um Sistema Territorial de Produção A Figura 37 mostra, no geral, que os atores principais podem ser agrupados em: a) Empresas do segmento central, envolvendo a atividade principal tais como produtores de móveis em Ubá e Carmo do Cajuru e produtores de artigos em confecção em Muriaé e São João Nepomuceno; b) empresas de atividades, representadas pelos fornecedores de materiais e de máquinas e equipamentos locais; c) atividades complementares, relacionadas com a complementação do processo produtivo. Na produção de móveis, estas atividades estão relacionadas com fornecimento de parte de móveis, estofamentos, entalhamentos e outros. Na produção de artigos em confecção, essas atividades estão relacionadas com estampagem, lavanderia, bordados etc; d) estrutura de animação e apoio, geralmente representada pelos sindicatos e demais secretarias criadas com a finalidade de animar as articulações dentro do APL bem como as de apoio tais como Associações, SEBRAE, SENAI, FIEMG, etc.; e) Estrutura de formação, aperfeiçoamento e pesquisa, tais como universidades, SENAI, Laboratórios de desenvolvimento de produtos e processos produtivos, etc.; f) Prestadores de serviços, 184 como bancos, consultores, consultorias especializadas, serviços de contabilidade, serviços de exportação, etc. Sistema Territorial de Produção Atividades Atores Locais Empresas do Segmento Central Estruturas de apoio e de animação Atividades Complementares Figura 37. Serviços Bancos Consultores Contabilidade Consultorias especializadas etc. Estruturas de Formação, Aperfeiçoamento e de Pesquisa Estrutura Geral dos Arranjos Produtivos Locais Fonte: Adaptado de Fonseca Netto (2002). Aprofundando-se a análise de aglomerações produtivas, é possível mostrar que a interação destas com o ambiente é biunívoca, modificando-o e sendo modificado por elas, influenciando o grau de enraizamento ou ancoragem territorial, já que, acaba criando externalidades – marshallianas, schumpeterianas, transacionais e institucionais – positivas e negativas nestes territórios. Por exemplo, um ambiente de interação cooperativo acaba estimulando a redução da verticalização das firmas, uma vez que os custos de transacionar com o mercado passam a ser menores frente às constantes mudanças nos fatores externos. Como conseqüência deste processo, tem-se maior especialização produtiva das empresas, maior divisão do trabalho, ganho da produtividade e aumenta as facilidades em estabelecer canais de aprendizado coletivo. Isso estimula a criação de ativos intangíveis, que estimulam a circulação informal de conhecimento no APL, levando ao seu crescimento e desenvolvimento. 6.4 Modelo de formação e desenvolvimento dos APLs em Minas Gerais Grosso modo, pode-se afirmar que a trajetória de formação e desenvolvimento dos APLs estudados está relacionada com condições que favoreceram a emergência do aglomerado: a existência de uma força de trabalho especializada, de oportunidades de mercado e demanda, de acesso a mercados e de apoio de entidades de coordenação e suporte. Por meio do estudo desses quatro APLs o modelo que mostra essa trajetória, 185 pode ser apresentado na Figura 38. Tal modelo pode ser usado para analisar a trajetória de desenvolvimento de outros APLs. Surgimento da atividade na região por uma empresa estruturada com base em uma lógica funcional Crescimento e desenvolvimento da empresa na Região, bem como a infra-estrutura básica para o funcionamento, conquista de mercados externos à região Aumento do fluxo de pessoas na região para oferecimento de matéria-prima, insumos, serviços e compradores de produtos e até mesmo o surgimento de empresas que fabricam e vendem produtos similares Absorção de conhecimento sobre produção, gestão e mercado por parte dos empregados Acidente Histórico Formação de firmas de exempregados na mesma atividade Evolução natural Formação de firmas de exempregados em atividade afim Formação de firmas de exempregados da empresa Principal na mesma atividade Aumento do fluxo de produto para fora da região e aumento de pessoal provenientes de fornecedores e compradores para a região Formação do Label Territorial Aumento desordenado de micro e pequenas empresas na região com forte competição com base em preços Criação ou fundação de um órgão de animação, que geralmente é um sindicato Formação de empresas de apoio, como fornecedores e prestadores de serviços Surgimento das instituições de apoio na busca de novas perspectivas Criação de ativos intangíveis (não quantificáveis) que estimulam a circulação informal de informação e de conhecimento no APL Figura 38. Modelo de formação e desenvolvimento dos APLs mineiros Fonte: Dados da pesquisa. 186 Cabe ressaltar que, apesar de ser identificado um modelo de trajetória dos APLs de Minas Gerais estudados, os aglomerados são diversificados, apresentando diferentes graus de desenvolvimento, de integração a montante e a jusante da cadeia produtiva, de articulação, de associativismo, de integração entre os agentes e instituições locais e de capacidade para inovação. Essas diferenças são resultantes da evolução histórica, da organização institucional, do contexto social e cultural, da estrutura produtiva, das formas de inserção nos mercados interno e internacional, das estruturas de governança, da logística, do associativismo, do cooperativismo, das formas de aprendizado e de disseminação do conhecimento local. Então, para analisar a dinâmica dos sistemas produtivos é necessário analisar os condicionantes territoriais que estão relacionados com os diversos tipos de externalidades, como as institucionais, marshallianas, schumpeterianas e transacionais, já que, segundo Lemos et. al. (2005), qualquer alteração em algum ou alguns desses condicionantes pode provocar diferenças significativas, tanto positivas quanto negativas, entre os sistemas produtivos. 187 CAPÍTULO 7 Análise dos condicionantes territoriais dos APLs mineiros É sabido que os sistemas locais se comportam de maneiras diferentes em virtude do processo histórico de formação, localização geográfica e diferenças de interações estabelecidas localmente (Garcez, 2003), traduzida no conjunto de competências tecnológicas diferenciadas, de ativos complementares e de rotinas (Nelson & Winter, 2006). Com o passar dos anos, surgem condicionantes territoriais locais, em que a ausência ou a presença, servem como externalidades positivas e restritivas, conferindolhes um caráter único e diferenciador para cada aglomerado. Neste estudo, as externalidades ou condicionantes territoriais foram divididas em Marshallianos, Shumpterianos, Transacionais e Institucionais. A análise de tais condicionantes é importante para que se possa entender a dinâmica dos aglomerados uma vez que, tal dinâmica está relacionada à presença, intensidade e ausência desses condicionantes. Cabe ressaltar que a existência ou não de condicionantes territoriais, por si só, não garante o sucesso ou o fracasso do aglomerado, porém, indicam pontos positivos e negativos que poderão ser trabalhados em prol do APL (Lemos et. al., 2005). A classificação de estímulo ou de entrave é feita após a uma análise mais subjetiva, uma vez que, um mesmo condicionante pode exercer esses dois papéis. Um exemplo esta relacionado com o crescimento das empresas de móveis em Ubá. A necessidade de crescimento das empresas fez com que elas se mudassem para outra área, porém, a falta de infra-estrutura trouxe problemas de informação e comunicação que tem servido como um entrave ao desenvolvimento. Antes de fazer uma análise comparativa entre os APLs, é importante levar em consideração as peculiaridades de cada tipo de produção. Em virtude das dificuldades de comparação de APLs que fabricam produtos diferentes, mesmo pertencentes à indústria tradicional, optou-se, num primeiro momento, fazer comparações entre a produção de móveis e a produção de artigos em confecção. Num segundo momento, foi feito a comparação dos dois APLs de produção de móveis e dos dois APLs de produção de artigos em confecção. 188 7.1 Análise das especificidades da produção de móveis e de confecção A pesquisa realizada nos diferentes APLs permitiu que fossem identificadas especificidades relacionadas aos diferentes tipos de atividades produtivas que podem interferir na análise de condicionantes territoriais. Os principais pontos foram: a) Tipo de produto fabricado As confecções fabricam artigos de pequeno volume unitário, de baixo valor, fáceis de serem transportados, tanto nas fases de produção, quanto após o produto ser acabado. Isso facilita tanto as estratégias de terceirização de parte do produto – facção, bordados, corte, estampagem, embalagem, colocação de acessórios e outros – quanto a manutenção de serviços de distribuição mais flexíveis, como sacoleiras, ônibus, correio etc. Essa facilidade de transporte dificulta a fiscalização e facilita a manutenção de empresas informais, bem como a relação de parceria entre formais e informais. Os produtores de móveis fabricam artigos maiores, difíceis de serem transportados, tanto na fase de produção – uma das razões para a internalização da produção –, quanto na fase de produto acabado, já que alguns produtos requerem até transportes especiais, como no caso de Carmo do Cajuru. Os compradores geralmente são empresas varejistas. O transporte do produto acabado, por si só, facilita a fiscalização e a formalização de empresas que pretendem manter relações de vendas fora da localidade. b) Matérias-primas e insumos As matérias-primas e insumos da produção de artigos de confecção não apresentam diferenças em termos de aparência, qualidade e rendimento, quando adquirida em grandes volumes. Isso facilita o transporte e as estratégias de compra em conjunto e, ainda, tanto as matérias-primas quanto os insumos podem ser adquiridos em pequenas quantidades. Para os produtores de móveis, a matéria-prima “madeira” apresenta diferenças significativas em termos de aparência, qualidade e rendimento, quando adquiridas em grandes volumes. Isso dificulta estratégias de compra em conjunto e até mesmo a aquisição de partes de componentes de terceiros78. 78 O transporte de Matéria-prima é considerado um gargalo na produção. A carência de matéria-prima (madeira) e as preocupações ambientais têm feito com que grande parte das inovações do setor estejam voltadas para sobre os recursos de produção. Com a finalidade de reduzir custos, manter a qualidade e superar a escassez de madeiras nobres e as limitações legais sobre sua exploração, as indústrias 189 c) Fornecedores Para as confecções, a localização dos fornecedores e a facilidade de aquisição de matéria-prima e insumos, associados à velocidade do processo produtivo, têm exigido menores recursos empatados em capital de giro. Já para as empresas produtoras de móveis, a localização dos principais fornecedores (na região sul ou norte do país) e os volumes mínimos de venda exigida pelos fornecedores e o custo do transporte faz com que parte significativa de recursos financeiros da empresa seja empregada em estoques para cumprir o ciclo operacional das empresas. Além disso, o custo dos móveis é considerado alto, quando comparados com a margem de contribuição de cada unidade. d) Processo de fabricação e acabamento A flexibilidade do processo de produção das confecções79 e a uniformidade da matéria-prima e insumos facilitam estratégias de especialização em etapas de processos produtivos, bem como a organização da produção via subcontratação, sem necessidades de controles excessivos do processo. Sem contar na terceirização das fábricas (facções) que resultou em uma vantagem adicional, para muitos produtores do setor. Para os produtores de móveis, essas vantagens da confecção, não têm sido encontradas, uma vez que não há uniformidade da matéria-prima e as especificidades de acabamento dificultam a terceirização, exigindo maiores comprometimento entre os agentes parceiros e maiores gastos com controle. Isso tem prejudicado o desenvolvimento de estratégias de produção em conjunto, favorecendo a verticalização. e) Legislações específicas As legislações para as confecções exercem influência mais branda e estão relacionadas com as leis gerais da indústria como um todo, facilitando as relações entre formais e informais e a proliferação de grande número de empresas informais nas localidades. Na produção de móveis, a rotina de fabricação apresenta riscos para a saúde combinam diferentes matérias-primas na confecção do produto final. A inovação por meio de design, conjugando diferentes artigos para composição com a matéria prima tem ajudado. 79 As características da indústria de confecções relacionada com a heterogeneidade de suas unidades fabris que variam bastante as escalas das plantas de suas fabricas, um elevado número de empresas e um mercado extremamente segmentado (Bastos, 1993) vêm facilitando a existência da subcontratação, envolvendo empresas de diversas dimensões até o trabalhador a domicilio. As relações de subcontratação surgem como uma das configurações da divisão social do trabalho. Tal subcontratação se dá pelo sistema de facção e subcontratação de costureiras (Ruas, 1992; Maia, 1994). 190 humana, produz resíduos danosos ao ambiente e, ainda, contribui para a exploração de fontes escassas de recursos (madeira de lei). Isso tem feito com que as legislações específicas para a fabricação de móveis sejam mais exigentes. Como conseqüências: a) as exigências relacionadas ao uso de equipamentos de segurança e de ergonomia dificultam o relacionamento entre empresas formais e informais, principalmente a relação entre empresas e trabalhadores a domicílio; b) as exigências ambientais, envolvendo o tratamento de resíduos da produção e a utilização de matéria-prima originada de fontes não renováveis de recursos, têm impedido obtenção de financiamentos para as empresas moveleiras, liberação de documentos para a exportação e, ainda, a consecução de credibilidade de outros países; c) a exigência ambiental tem feito com que haja maior controle em toda a cadeia produtiva; a redução de relações de parcerias entre formais e informais e a busca por novas alternativas por meio da inovação de materiais e de produtos. f) Comercialização e distribuição de produtos Para as confecções, o escoamento é facilitado pelas vendas diluídas feitas a sacoleiras, a vendedores ambulantes e em despachados pelo correio, ônibus, etc. Isso reduz a dependência excessiva de transporte de produtos acabados, fazendo com que o transporte não seja considerado problema tão significativo. Os recursos utilizados para a comercialização são: mostruário de artigos prontos, distribuídos aos representantes comerciais, catálogos e venda física nos pontos de distribuição. Para as empresas de móveis, a comercialização geralmente é feita para lojas de atacado e varejo, direcionadas a um segmento de mercado específico. As estratégias de comercialização desses produtos envolvem exposições locais, projetos compradores e desenvolvimento de catálogos. Em virtude das especificidades dos produtos, são exigidos tipos de transportes apropriados e um volume de vendas significativo, que compensem os custos desse transporte. O Transporte representa um dos principais gargalos para as empresas do setor nos dois APLs estudados, havendo necessidade de estratégias voltadas para a distribuição conjunta e desenvolvimento de transportadoras especializadas. g) Investimento em Máquinas e equipamentos Nas confecções, apesar do investimento em máquinas de várias etapas do processo produtivo ser consideravelmente alto, existem máquinas com preços mais 191 acessíveis que podem ser obtidas para trabalhos especializados como facção, corte, acabamento, etiqueta, embalagem, etc. Isso permite facilidade de entrada e saída de empresas, de relativa instabilidade, que varia conforme os momentos favoráveis e desfavoráveis do mercado, o que ressalta uma forte característica desta atividade, de uma quase ausência de barreiras à entrada de novos produtores no mercado. Já para a produção de móveis, apesar de não existir limitações para utilizar máquinas antigas e modernas na produção, o valor de investimento nessas máquinas e equipamentos é relativamente alto, quando comparado com as confecções. A indústria moveleira exige instalações mínimas de segurança e de funcionamento e, ainda, a especialização em parte do processo produtivo não é uma característica forte. Isso dificulta a entrada de novos produtores, mas exerce peso maior na saída desses produtores. h) Investimento em capital de giro Nas confecções, a maior margem percentual por unidade de produção adquirida pelas vendas, associada ao alto giro de estoques e à velocidade do processo de produção, têm feito com que a demanda por capital de giro seja menor, favorecendo entrada e saída de empresas. Já para a produção de móveis, a menor margem de contribuição por unidade produzida, a manutenção de níveis elevados de estoque de materiais, produtos em processo e produtos acabados, associados a volumes consideravelmente altos empregados em mão-de-obra, materiais, gastos indiretos de fabricação, têm feito com que os investimentos em capital de giro sejam relativamente superiores, dificultando entrada e saída de empresas. i) Inovação tecnológica Nas confecções a inovação tecnológica está mais relacionada com o design de produtos. Neste ramo a cópia de produtos da mesma localidade tem sido significativa, obrigando a concentração de esforços de inovação em design, como estratégia de redução de custos e diferenciação de produtos, de modo a alcançar melhores preços e maiores margens de lucro. A falta de inovação em tecnologia de produção, com aquisição de máquinas e equipamentos tem inibido as relações entre empresas formais e informais e a terceirização de parte da produção. Na atividade moveleira, as inovações estão relacionadas com máquinas e equipamentos, busca por novos materiais e novos processos produtivos e design. 192 7.2 Análise comparativa dos condicionantes dos APLs de Ubá e Carmo do Cajuru O APL de Ubá pode ser caracterizado como um arranjo produtivo organizado a caminho da inovação, enquanto o APL de Carmo do Cajuru pode ser caracterizado como um APL de sobrevivência (Tabela 33). Essa diferença de resultado pode ser verificada por meio dos condicionantes territoriais, presentes no território. 7.2.1 Condicionantes Marshallianos Analisando os condicionantes Marshallianos (Tabela 34), no geral, Ubá tem apresentado melhores resultados do que Carmo do Cajuru. Porém, nos quesitos disponibilidade de mão-de-obra, vizinhança de mercado e infra-estrutura de telecomunicação, os resultados de Carmo do Cajuru foram melhores. Em ambos APLs, o custo da mão-de-obra especializada é considerado cara, não sendo um fator de atração e fixação da empresa nas referidas localidades. Quanto aos fornecedores, não há indústria de fornecimento da maioria das matérias-primas, insumos e máquinas e equipamentos em nenhum dos dois APLs. Não há disponibilidade de recursos naturais (matéria-prima) localmente ou no entorno e nem existe viabilidade econômica para a fixação dessas indústrias nos devidos territórios, fazendo com que as cadeias produtivas nessas localidades se tornem menos completas. Os Grandes produtores, principalmente os do primeiro grupo em Ubá, adquirem madeira e insumos diretamente de outros Estados, destacando o Paraná e o Rio Grande do Sul. Os demais fabricantes adquirem essas matérias-primas e insumos por meio de lojas de representações das indústrias localizadas fora do APL. Essas lojas de representações em Ubá têm facilitado a proximidade entre empresas e fornecedores. Em Carmo do Cajuru, a escala de produção da indústria local limita a atração de fornecedores especializados, por meio de lojas de representação. As pequenas empresas acabam adquirindo matérias-primas e insumos de outros Estados, principalmente o Paraná. Existem alguns pequenos fornecedores de matéria-prima e insumos, para atendimento às necessidades eventuais desses materiais e, ainda, para abastecer as microempresas que não possuem escala mínima suficiente para realização de compras fora da região. 193 Tabela 33. Comparação dos APLs de Ubá e Carmo do Cajuru, de acordo com a classificação de Mytelka e Farinelli Itens analisados Tamanho das firmas Nível tecnológico Formação gerencial e administrativa Mão-de-obra Barreiras à entrada Competição Cooperação entre as empresas Especialização interfirmas Capacidade de inovação em produtos e processos, Prática de exportação Número de empresas informais Ubá Grandes, médias, pequenas e microempresas Relacionado com o estado da arte em termos de tecnologia de produção e está em contínuo desenvolvimento Em expansão (principalmente por meio de formação universitária e por meio de cursos do SEBRAE) Constante treinamento, tanto internos na empresa quanto por meio de instituições de treinamento, ressaltando o SENAI Alta barreira para grupos de fabricantes de móveis produzidos com tecnologia avançada; baixa barreira para móveis do tipo marcenaria e média entrada em móveis tubulares Média, com rivalidades entre os fabricantes de produtos semelhantes. Tendências a cooperação. Pequena na esfera de produção e existência de cooperação em outras esferas: participação de concorrentes em feiras e exposições, elaboração de catálogos, promoção de campanha de marketing do APL; organização de feiras locais e participação em feiras em outras cidades e regiões, criação da central de entregas, participação de empresas em consórcio de exportação Baixa, não aproveitando as economias externas provenientes de aglomerados produtivos Alta em relação a processo e baixa em relação a produto. Pequena, envolvendo 14 empresas, quando comparada com o número de empresas formais no APL. Médio, uma vez que este número é menor do que o número de empresas formais. Efetuada pelo INTERSIND Coordenação das empresas do APL Nível de confiança Baixa para prática de especialização interfirmas Fonte: dados da pesquisa. Carmo do Cajuru micro e pequenas empresas Aquém do estado da arte em termos de tecnologia de produção (Muitas delas funcionam com máquinas e equipamentos comprados de outras empresas fora da região) Baixa (na sua maioria é exercida por empresários que possuem apenas o primeiro ou o segundo grau completo) Praticamente treinada na empresa (a partir de 2003, o SENAI tem treinado uma pequena parte dessa mão-de-obra) São consideradas baixas em virtude da tecnologia de produção. Baixa em virtude da diversificação do mix de produtos, tanto em relação aos diversos tipos de produtos produzidos quanto em relação aos estilos Pequena na esfera de produção e existência de cooperação em outras esferas: participação de concorrentes em feiras e exposições, catálogos de produtos, promoção de campanha de marketing e pela organização de feiras locais e participação em feiras em outras cidades e regiões; Baixa, não aproveitando as economias externas provenientes de aglomerados produtivos Possui peso relativo, porém, é necessário investigar se essa inovação não se trata de cópia de produtos já absorvidos pelo mercado Inexistência de exportação para outros países O número de empresas informais é considerado baixo Efetuada pelo SINDMOV-MG. Baixa 194 Em relação à presença de fornecedores de bens de capital, percebe-se que a maioria deles se encontra nos Estados de São Paulo e Paraná. Em Ubá, além de alguns fabricantes de tipos de equipamentos básicos para a indústria moveleira, há também escritórios de representação tanto para as máquinas de origem nacional e estrangeira. Nos dois APLs, o encadeamento à jusante, à montante e horizontais extensivos é prejudicado em virtude das cadeias produtivas não completas. Em Ubá, esse encadeamento é maior, em virtude da atração de grande número de fornecedores de materiais e máquinas e equipamentos e, ainda, da presença de lojas de móveis de varejo na cidade. Em Carmo do Cajuru, isso não ocorre, pela dificuldade de atrair fornecedores e, ainda, por não existir mercado consumidor nas proximidades do município. Tabela 34. Comparativo dos condicionantes marshallianos entre Ubá e Carmo do Cajuru Condicionantes Marshallianos Ubá Média Carmo do Cajuru Média Disponibilidade de mão-de-obra 2,6 2,7 Qualidade de mão-de-obra 3,5 3,0 Custo da mão-de-obra 2,0 2,0 Presença de fornecedores de matérias-primas na região 2,5 1,0 Presença de fornecedores de bens de capital 2,5 0,0 Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos 2,5 1,0 Proximidade/vizinhança de mercados 3,0 3,0 Presença de recursos naturais específicos localmente 0,0 0,0 Presença de infra-estrutura energia 3,5 2,0 Presença de infra-estrutura telecomunicação 2.5 3,0 Presença de infra-estrutura transporte 2,0 1,5 Presença de infra-estrutura estrada 2,0 2,0 O acesso fácil à informação 4,0 3,0 4,0 2,61 4,0 2,35 Label territorial como estratégia mercadológica Média dos pontos Fonte: Dados da pesquisa. Em relação à infra-estrutura, tanto em Ubá quanto em Carmo do Cajuru, a infraestrutura urbana e as rodovias de ligação da região a outras regiões do estado também são muito precárias. Como atuar nesse tipo de deficiência está fora do alcance direto de uma política para cluster, pode haver uma política visando induzir ações de órgãos públicos do governo estadual e federal para tais problemas. Em Ubá, em virtude de 195 infra-estrutura urbana para a expansão das firmas, estas se deslocaram para o distrito industrial, que está localizado na zona rural, fazendo com que os problemas em relação à comunicação se acentuem. Em Carmo do Cajuru, problemas de comunicação e energia elétrica no Distrito Industrial II também podem ser percebidos. Quanto ao transporte de produtos acabados, este é considerado o gargalo nos dois APLs. Em Ubá, há carência de transporte em virtude do volume de entregas, acarretando atrasos de entrega de produtos e insatisfação de clientes. Em Carmo do Cajuru, o problema do transporte está relacionado com a necessidade de um transporte especializado para o tipo de produto mais artesanal, inviabilizando a distribuição em maior escala de produtos para outros estados. Em relação ao Label Territorial como estratégia mercadológica, Ubá e Carmo do Cajuru são cidades muito conhecidas no País em virtude do tipo de produtos que fabricam, principalmente nas localidades em que há comercialização desses produtos. Na pesquisa, a primeira condição, declarada pelos entrevistados, que levou a instalação de suas fábricas nessas localidades, está relacionada com o fato da localidade já ser conhecida para esse tipo de atividade. Associado a este label territorial, declaram que nestas localidades existem mão-de-obra especializada, infra-estrutura voltada para o tipo de produto e facilidades de obtenção de informações. 7.2.2 Condicionantes Schumpeterianos Analisando os condicionantes Schumpeterianos, estes foram mais bem avaliados no APL de Ubá (Tabela 35), com exceção de elevado número de pessoas engajadas em atividades de design e inovação de produto. Em Ubá, os resultados mostram que não há empresas especializadas em design e, ainda, que não existe essa atividade na maioria das empresas, com exceção das grandes empresas que possuem departamentos específicos. Geralmente esse serviço é contratado de empresas localizadas fora do Arranjo. Em muitas empresas de menores portes, a programação da produção é determinada a partir dos pedidos e o design é estabelecido, acompanhando os concorrentes e seguindo revistas de moda. Já em Carmo do Cajuru, as empresas afirmam desenvolver o design dos seus produtos com base em pedidos de clientes, representantes comerciais e revistas especializadas. Em relação à proximidade com Universidades e Centros de Pesquisa, em Ubá, há boa relação com os centros de pesquisa e de ensino de faculdades e universidades. 196 Há cursos voltados para o setor, tais como o curso superior em Administração, Designer Industrial, Desenho Industrial e curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Existem parcerias com a Universidade Federal de Viçosa no que se refere a reflorestamento, design, ergonomia e processos produtivos, e com a Universidade Federal de Juiz de Fora, no que se refere a design e processos produtivos. Em Carmo do Cajuru, há presença de faculdades e universidades no entorno da cidade, no entanto, não foi detectada a presença de trabalhos de parcerias envolvendo essas entidades. Tabela 35. Comparativo dos condicionantes schumpeterianos entre Ubá e Carmo do Cajuru Condicionantes Schumpeterianos Ubá Carmo do Cajuru Existência de elevado número de pessoas engajadas em atividades de design e inovação de produto 1,0 1,0 Elevado nível de qualificação da mão-de-obra 3,5 0,9 Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários 0,0 0,0 Proximidade Universidades e Centros de pesquisa 2,8 0,0 Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à assistência de rotina às atividades produtivas técnicas e produtivas, comerciais e financeira. 3,2 1,0 Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à qualificação da força de trabalho 3,6 2,6 Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à capacitação tecnológica às firmas 3,0 0,0 2,44 0,79 Média dos pontos Fonte: Dados da pesquisa. O nível de qualificação da mão-de-obra e gerencial em Ubá é considerado elevado, com presença de fortes instituições de capacitação, tais como: o SENAI (com diversos cursos voltados para a formação profissional), o SEBRAE e faculdades, com cursos direcionados para a produção. Já em Carmo do Cajuru, há qualificação de parte da mão-de-obra por poucos cursos fornecidos pela escola de marcenaria do SENAI, além de alguns cursos de gerenciamento do SEBRAE. No geral, a mão-de-obra é treinada no interior da fábrica, na sua rotina de produção - learning by doing - sendo especializada no tipo de trabalho requerido. Esse melhor nível de qualificação das empresas de Ubá é um dos reflexos da proximidade do APL com universidades e centros de pesquisa. Apesar de Carmo do Cajuru estar próxima a Divinópolis, não pôde ser comprovada, nesta pesquisa, relação entre as faculdades da região com as pequenas fábricas de móveis, uma vez que tais Faculdades não oferecem cursos voltados à 197 formação de profissionais para atuarem nas diversas áreas que as empresas moveleiras necessitam tais como: design, gestão da produção, tendências de mercado e outros. Isso explica a pouca importância atribuída pelas empresas a essas instituições de ensino. A presença de associações de classe e comerciais exerce importante papel para o incremento da capacidade produtiva do APL. O apoio das instituições como SENAI, SEBRAE, secretarias de governo, centros tecnológicos, universidades, associações de classe, associações comerciais, centros de treinamento e capacitação de mão de obra tem se apresentado como essencial para a resolução de problemas técnicos de produção, capacitação, financiamentos, acesso a mercados distantes, aquisição de novos conhecimentos, entre outros elementos vitais para o sucesso das empresas. Em Ubá, o SENAI tem procurado atuar tanto na capacitação de mão-de-obra quanto na capacitação tecnológica das empresas, enquanto o INTERSIND busca, por meio do Comitê Gestor, dar assistência de rotina às atividades técnicas, produtivas, comerciais e financeiras. Apesar da existência de Comitê semelhante em Carmo do Cajuru, percebe-se que o maior grau de sucesso do APL de Ubá está relacionado com sua maior articulação com essas associações, conseqüente do maior grau de maturidade e organização do APL. Tanto em Ubá quanto em Carmo do Cajuru, o acesso a informações sobre novos produtos e tendências de mercado (moda, design, materiais) é um ativo estratégico. Em ambos os APLs, existe incentivo por parte da coordenadora do APL em organização de feiras, promoção de visitações de feiras de tendências, desenvolvimento de palestras. 7.2.3 Condicionantes transacionais Em relação aos condicionantes transacionais (Tabela 36), ambos APLs tem apresentado pontos bastante restritivos, principalmente em relação a cooperação horizontal e vertical. As empresas preferem internalizar a produção a ter que transacionar com o mercado. Prevalece, assim, um clima de desconfiança e competição, sobretudo quando se trata de atividades ou de conhecimentos estratégicos, como P&D de produtos, design, e, até mesmo, em ações mais corriqueiras, como compra conjunta. No entanto, essa tendência à verticalização parece ser característica desse tipo de indústria no Brasil. De acordo com Cunha et. al. (2006), as empresas moveleiras de Arapongas, do Oeste Catarinense, de São Bento do Sul, e de Bento Gonçalves, apresentam alto grau de verticalização, realizando, praticamente, todas as fases do processo produtivo dentro de suas fábricas. 198 Em Ubá, o alto grau de verticalização na produção está relacionado com a tecnologia adotada, principalmente, pelas empresas do grupo 1. Pelos relatos, a tendência é aumentar mais ainda essa internalização da produção. Grandes volumes são produzidos por essas empresas, que basicamente, detém 48% da produção total do aglomerado. Então, há o risco de o APL se transformar em um aglomerado de empresas verticalizadas, tecnologicamente avançadas, e especializadas em móveis padronizados. Tabela 36. Comparativo dos condicionantes Transacionais de Ubá e Carmo do Cajuru Condicionantes Transacionais Cooperação entre firmas competidoras baseada em relações de confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas. Ubá Carmo do Cajuru 2,0 2,0 Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação 2,0 2,0 Utilização de colaboração vertical 1,0 1,0 Utilização de colaboração horizontal 1,0 1,0 Contatos freqüentes entre empresas formais e informais 0,0 0,0 Presença de confiança recíproca 2,0 2,0 Menor rigor dos contratos padronizados A governança interna do APL tem influenciado para facilitar a elaboração de contratos no sentido de maior flexibilidade 4,0 4,0 3,0 0,0 A governança interna tem contribuído para facilitar o processo de compras 3,0 1,0 3,0 1,0 3,0 2,18 1,0 1,67 A governança interna tem contribuído para facilitar o processo de vendas A governança interna tem contribuído para facilitar o processo de distribuição e marketing Média dos pontos Fonte: Dados da pesquisa. A baixa interação com outras empresas locais dificulta: a formação de parcerias; a divisão de trabalho no interior da cadeia produtiva de móveis; o surgimento de empresas especializadas na realização de etapas produtivas, já que a aquisição de partes e de serviços de terceiros comumente não atinge valores significativos e; a existência de um número significativo de empresas que produzem o mesmo tipo de móvel, sem nenhum compartilhamento de trabalho entre si. Isso limita as possibilidades de criar externalidades positivas aos produtores a partir de ações conjuntas, que poderiam contribuir para o incremento da competitividade de todo o sistema local. 199 Tanto em Ubá quanto em Carmo do Cajuru, as formas mais relevantes de cooperação entre empresas estão relacionadas à prática de participação em exposição com a divisão de stands; organização de exposições; visitas a outros arranjos produtivos; trocas freqüentes e recorrentes, de forma não codificada, entre atores locais de informações e conhecimento. Segundo Cunha et. al. (2006), tais formas também são as mais praticadas em outros aglomerados produtivos tais como: Arapongas, Empresas do Oeste Catarinense e Bento Gonçalves. Em São Bento do Sul existe cooperação nas atividades de treinamento de pessoal e compra conjunta de insumos. Em Ubá, a governança interna do APL tem desenvolvido trabalhos no sentido de aumentar a cooperação. Hoje, há dois pequenos grupos de empresas que realizam estratégias de exportação em conjunto; há uma central de distribuição, coordenado pelo INTERSIND, objetivando resolver problemas de falta de transporte de produto acabado; há trabalho de marketing em conjunto para divulgar a marca do APL de Ubá e Região. Outra forma de parceria, que tem sido muito utilizada em Ubá, está relacionada ao estreito contato entre as empresas e os fornecedores locais e representantes de fornecedores que estão instalados na região. A boa relação de confiança entre eles permite que sejam desenvolvidos trabalhos em conjunto divisão de stands em exposição, treinamento de empregados para utilização de materiais e máquinas específicas. Essa relação com os fornecedores é possível em Ubá em virtude da maior parte das indústrias possuírem lojas de representação na cidade. 7.2.4 Condicionantes Institucionais Em relação aos condicionantes Institucionais Locais (Tabela 37), percebe-se que em ambos os APLs existem os agentes capazes de proporcionar mudanças no ambiente institucional em prol de uma cultura de maior confiança, cooperação e parceria e, conseqüentemente, a redução dos custos de transação. Tanto em Ubá quanto em Carmo do Cajuru, os agentes de mudanças têm se esforçado para aumentar o relacionamento entre as empresas, de modo que, no longo prazo, consiga obter uma ambiente institucional que valorize a interação social e estreite os laços de confiança. Isso é importante para a geração de um ambiente de reduzido custos de transação, capaz de fortalecer as cooperações verticais e horizontais, aproveitando o potencial de cooperação para complementar recursos e aprendizagem. Os principais trabalhos que estão sendo desenvolvidos por esses agentes são: promoção 200 de visitas técnicas em outros APLs; exposições em conjunto, palestras, desenvolvimento de marketing em conjunto; iniciativas em conjunto de vendas, transporte e compra de matéria-prima; tentativas de buscar alternativas para que as empresas possam atender a legislações específicas80. Tabela 37. Comparativo dos condicionantes Institucionais entre Carmo do Cajuru e Ubá Condicionantes Institucionais Ubá Carmo do Cajuru Existência de um ambiente institucional que permite a redução da assimetria de informação no APL e redução de custos de transação 2,0 2,0 A criação de aspectos culturais que permitam estabelecer laços de confiança, interação social, identidade e objetivos comuns 3,0 2,0 Existência de apoio de agentes políticos e sociais no desenvolvimento de atividades de parceria 4,0 2,0 Existência de apoio de agentes políticos e sociais para estimular a transformação do APL em sistemas mais amplos de inovação 4,0 3,0 Existência da proximidade dos APLs com instituições de ensino, pesquisa e agentes econômicos 4,0 0,0 3,4 1,8 Média dos pontos Fonte: Dados da pesquisa. Apesar da existência desses agentes no território, as atividades de cooperação vertical e horizontal são consideradas bastante fracas, em virtude da falta de um ambiente de maior confiança e ajuda mútua. No entanto, a não correlação direta desses condicionantes com a mudança no ambiente institucional não significa, num primeiro momento, que esses agentes não estão cumprindo o seu papel, pois tais mudanças são lentas e graduais, podendo levar muitos anos para serem efetivadas. 7.3 Análise comparativa dos condicionantes dos APLs de Muriaé e São João Nepomuceno Pode-se perceber que, nos dois, existem grupos de desempenho diferenciado em relação a maioria das empresas. Em Muriaé este grupo é de 50 empresas – dentro de um universo de 578 formais e informais – e em São João Nepomuceno, este grupo é de 30 empresas – dentro do universo de 270 formais e informais. Os dois APLs são caracterizados como de sobrevivência, conforme mostra a Tabela 38. 80 A legislação ambiental tem inibido o desenvolvimento de exportações em Carmo do Cajuru e, ainda, o acesso dessas empresas às fontes de financiamentos subsidiadas. Os agentes de animação e apoio têm trabalhado no sentido de dotar essas empresas de infra-estrutura mínima exigida por essa legislação. 201 Tabela 38. Comparação dos APLs de Muriaé e São João Nepomuceno, de acordo com a classificação de Mytelka e Farinelli Itens analisados Tamanho das firmas Nível tecnológico Formação gerencial e administrativa Mão-de-obra Barreiras à entrada Competição Cooperação entre as empresas Especialização interfirmas Capacidade de inovação em produtos e processos Prática de exportação Número de empresas informais Coordenação das empresas do APL Nível de confiança para prática de especialização interfirmas Fonte: dados da pesquisa. Muriaé Micro, pequenas e médias empresas Contínuo desenvolvimento para o grupo de 30 empresas que se encontra no estado da arte da tecnologia e pequeno para o restante, dificultando a terceirização Em expansão para o grupo de 30 empresas e baixo para o restante. Baixo nível de escolaridade, porém, em constante treinamento, tanto internos na empresa quanto por meio do SENAI e do CONDESSC Baixa Média, tendendo a cooperar dentro do grupo de 30 empresários que utilizam da diferenciação de produtos e alta nas demais empresas que praticam cópia de produtos e concorrência de preços. Dentro do grupo de 30 empresas, há trabalhos de cooperação horizontal tais como: participação em feiras especializadas no setor; troca de informações; ações conjuntas para capacitação de mão-de-obra, tentativas de formar consórcios de exportação; elaboração conjunta de catálogos de produtos e outros. Nas demais empresas não há essa cooperação. Existem práticas de especialização inter-firmas tais como a facção, bordados mecânicos, bordados manuais e estampagens Alta no grupo das 30 empresas e baixa nas demais São João Nepomuceno Micro, pequenas e médias empresas Contínuo desenvolvimento para o grupo de 20 empresas que se encontra no estado da arte da tecnologia e pequeno para o restante, dificultando a terceirização Em expansão para o grupo de 20 empresas e baixo para o restante. Baixo nível de escolaridade e geralmente o treinamento se dá dentro da empresa, por meio dos tipos de aprendizado learning by doing e learning by using. Baixa Média, uma vez que as empresas diferenciam seus produtos e grande parte da produção é direcionada para clientes específicos, localizados fora do território do APL. Baixa, porém, há iniciativas de cooperação horizontal tais como: participação em feiras; troca de informações por meio de reuniões, por 20 empresas; ações conjuntas de marketing em conjunto de 3 empresas que adquiriram a marca “Lápis de Cor”; trabalho de design em conjunto por 8 empresas e elaboração conjunta de catálogos de produtos; organização de feiras locais e participação em feiras em outras cidades e regiões. Existem práticas de especialização inter-firmas tais como a facção, especialização em bordados e em lavagem de jeans. Alta no grupo de 20 empresas e baixa nas demais Quase inexistente (há 1 empresa exporta regularmente, 2 exportam esporadicamente e 5 estão em fase experimental ) Alto Alto Exercida pelo DRMR, CONDESSC, SMDE e o SEBRAE-MG, mas o número de associados é bastante pequeno, comparado com o número de empresas do setor no APL. Baixo, sendo necessários esforços da coordenação do APL, para aumentar essa confiança. Exercida pelo SINDIVEST em conjunto com o SEBRAE e com a Agência de Desenvolvimento Regional. O número de associados abrange 100% das empresas formais. Baixo, sendo necessários esforços da coordenação do APL, para aumentar essa confiança. 202 Praticamente inexistente (1 empresa exporta regularmente) As especificidades de cada aglomerado podem ser verificadas por meio da análise dos condicionantes territoriais. 7.3.1. Condicionantes marshallianos Analisando os condicionantes Marshallianos (Tabela 39), percebe-se que, nos dois APLs, a existência e o peso desses condicionantes quase não se alteram. Em relação à qualidade da mão de obra, Muriaé apresenta melhor resultado, que pode estar relacionado com o maior número de instituições de capacitação de mão-de-obra especializada no território, enquanto a mão-de-obra de São João Nepomuceno é basicamente treinada dentro das próprias empresas. Quanto à disponibilidade de mãode-obra especializada, percebe-se que, atualmente, com o crescimento do volume de empresas, há uma carência de pessoal especializado, fazendo com que os custos de mão-de-obra apresentem aumentos significativos, quando comparados com outras localidades. Tabela 39. Comparativo dos condicionantes marshallianos entre Muriaé e São João Nepomuceno Condicionantes Marshallianos Muriaé (média) São João Nepomuceno (média) Disponibilidade de mão-de-obra 3,0 2,6 Qualidade de mão-de-obra 2,5 2,0 Custo da mão-de-obra 2,0 2,0 Presença de fornecedores de matérias-primas na região 3,0 0,0 Presença de fornecedores de bens de capital 3,0 2,0 Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos 2,5 2,0 Proximidade/vizinhança de mercados 3,0 3,0 Presença de recursos naturais específicos localmente/ entorno 0,0 0,0 Presença de infra-estrutura energia 4,0 3,5 Presença de infra-estrutura telecomunicação 3,0 2,5 Presença de infra-estrutura transporte 3,0 3,0 Presença de infra-estrutura estrada 1,6 2,0 O acesso fácil à informação 3,0 3,0 Label territorial como estratégia mercadológica 3,5 3,5 2,85 2,22 Média dos pontos Fonte: Dados da pesquisa. 203 Em relação à presença de fornecedores, Muriaé apresenta melhores condições, já que todos os materiais, máquinas e equipamentos necessários são comercializados no território, enquanto em São João Nepomuceno não há fornecedores locais de materiais e há apenas um fornecedor de máquinas e equipamentos. 7.3.2. Condicionantes Shumpterianos Analisando os condicionantes Shumpterianos, percebe-se que estes, no geral, também não apresentaram diferenças significativas entre os APLs de Muriaé e São João Nepomuceno (Tabela 40). A qualidade da mão-de-obra em ambos APLs é aceitável, porém não possui uma qualificação muito elevada. Em Muriaé, o trabalho voltado para o treinamento de mão-de-obra especializada é mais intenso, mesmo porque existe a constante preocupação dos órgãos de coordenação, juntamente com a Prefeitura Municipal de Muriaé, na capacitação da mão-de-obra para o trabalho em confecções. Em São João Nepomuceno, grande parte do aprendizado está relacionado com os tipos learning by doing e learning by using. Quanto à proximidade com universidades e centros de pesquisa, São João Nepomuceno apresenta situação mais vantajosa, até mesmo pela localização geográfica próxima à cidade de Juiz de Fora, permitindo maiores contatos das empresas do APL com Universidades e Centros de Pesquisa. Tabela 40. Comparativo dos condicionantes schumpeterianos entre Muriaé e São João Nepomuceno Condicionantes Shumpterianos Muriaé (média) São João Nepomuceno (média) Existência na região de elevado número de pessoas engajadas em atividades de design e inovação de produto 2,0 1,5 Elevado nível de qualificação da mão-de-obra 2,0 2,0 Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários 0,0 0,0 Proximidade Universidades e Centros de pesquisa Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos 0,0 2,5 Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à assistência de rotina às atividades produtivas técnicas e produtivas, comerciais e financeira. 3,0 3,0 Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à qualificação da força de trabalho 3,0 2,5 Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à capacitação tecnológica às firmas 3,0 3,0 2,16 2,07 Média dos pontos Fonte: Dados da pesquisa. 204 7.3.3. Condicionantes transacionais Em relação aos condicionantes transacionais (Tabela 41), ambos os APLs têm apresentado pontos bastante restritivos, principalmente em relação à cooperação horizontal. Apesar dos esforços da governança interna para ampliar esse tipo de cooperação, existe baixa cooperação nas atividades de compras e vendas em conjunto, provocadas pelo baixo nível de confiança entre as empresas. Não existem grupos de exportação de peso, sendo essas atividades desenvolvidas pelas empresas isoladas, arcando com os custos burocráticos. O marketing conjunto é muito restrito a pequenos grupos. Esse baixo nível de cooperação horizontal é percebido até mesmo nos grupos mais atuantes nos APLs de Muriaé e São João Nepomuceno. Nesse caso, cada empresa busca desenvolver suas estratégias de compra e venda. Tal comportamento ainda é fruto do período de concorrência acirrada, vivida em décadas anteriores. Já em relação à cooperação vertical, tem-se percebido maior presença desse tipo de cooperação, principalmente quando comparada com os APLs do setor moveleiro. Em maior escala, essa cooperação se dá por meio das atividades de facção, bordados e estampagem e, em menor escala, nas atividades de etiquetagem, embalagem, costura, cós, etc. Em São João Nepomuceno, ressalta-se a atividade de lavanderia. As demais atividades são racionalizadas, buscando escala interna de produção, não aproveitando as economias externas da aglomeração, por meio de especialização de atividades. Nas entrevistas, percebeu-se que, além da falta de confiança entre as empresas, os diferentes estágios tecnológicos têm dificultado práticas de cooperação. Há empresas com máquinas tecnologicamente avançadas e outras com máquinas muito simples. Pôde-se detectar em São João Nepomuceno a cooperação envolvendo empréstimo de máquinas e treinamento de pessoal. Em São João Nepomuceno, a proximidade entre empresas formais e informais é maior, uma vez que, desde a década de 1980, as empresas informais surgiram como estratégia de ampliação da capacidade produtiva das empresas formais. Em Muriaé, existe concorrência entre as empresas formais e informais. Um dos problemas enfrentados pela governança local é o nível de participação dos empresários. Em Muriaé, por exemplo, poucos empresários são filiados ao sindicato, de modo que a grande maioria fica fora do campo de atuação da governança interna do APL. Em São João Nepomuceno, a maioria dos empresários é filiada, porém, há pouca participação efetiva desses empresários no arranjo. 205 Tabela 41. Comparativo dos condicionantes Transacionais entre Muriaé e São João Nepomuceno Condicionantes Transacionais Muriaé (média) São João Nepomuceno (média) Cooperação entre firmas competidoras baseada em relações de confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas. 1,5 2,0 Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação 1,5 1,5 Utilização de colaboração vertical 2,5 3,0 Utilização de colaboração horizontal 1,0 1,0 Contatos freqüentes entre empresas formais e informais 2,5 3,0 Presença de confiança recíproca 2,0 2,0 Menor rigor dos contratos padronizados 3,0 2,0 A governança interna do APL tem influenciado para facilitar a elaboração de contratos no sentido de maior flexibilidade 2,5 1,5 A governança interna tem contribuído para facilitar o processo de compras 2,0 1,0 A governança interna tem contribuído para facilitar o processo de vendas 2,5 3,0 A governança interna tem contribuído para facilitar o processo de distribuição e marketing 2,5 2,5 2,13 2,05 Média dos pontos Fonte: Dados da pesquisa. Dentro dos grupos atuantes de ambos APLs, as trocas de informações de forma não codificada, abrangendo tanto os canais verticais quanto horizontais, é mais presente em Muriaé, já que existe um trabalho da governança interna promovendo discussões para troca dessas informações. Em São João Nepomuceno, essa troca de informação ocorre mais em nível vertical, principalmente, entre empresas formais e informais. 7.3.4. Condicionantes Institucionais Em relação aos condicionantes institucionais locais (Tabela 42), percebe-se que ambos os APLs possuem as mesmas condições para atuação. Existe o empenho dos agentes de animação e apoio no sentido de proporcionar um ambiente de menor assimetria de informação e redução de custos de transação, fazendo com que o APL seja estimulado a se transformar em sistemas mais amplos de inovação. No entanto, o número reduzido de afiliados a esses agentes em Muriaé e a baixa participação nas reuniões em São João Nepomuceno, tem dificultado o trabalho desses agentes. 206 Tabela 42. Comparativo dos condicionantes Institucionais entre Muriaé e São João Nepomuceno Condicionantes Institucionais Muriaé (média) São João Nepomuceno (média) Existência de um ambiente institucional que permite a redução da assimetria de informação no APL e redução de custos de transação 2,5 2,5 A criação de aspectos culturais que permitam estabelecer laços de confiança, interação social, identidade e objetivos comuns. 2,0 2,0 Existe apoio das instituições políticas e sociais locais no desenvolvimento de atividades de parceria 3,0 2,5 Existem apoios de instituições políticas e sociais para estimular a transformação do APL em sistemas mais amplos de inovação (esforço conjunto SEBRAE, FIEMG, Universidades, governo federal) 2,5 2,5 Existência da proximidade dos APLs com instituições de ensino, pesquisa e agentes econômicos 0 2,5 2,0 2,4 Média dos pontos Fonte: Dados da pesquisa. Em São João Nepomuceno, percebe-se uma ausência de apoio do pode público local no desenvolvimento de atividades de parceria. Em Muriaé há falta de proximidade do APL com instituições de pesquisa e centros de ensino. Em ambos APLs, as diferentes alíquotas de ICMS entre os Estados têm prejudicado as empresas do setor na formação de preços, principalmente quando o produto tem que concorrer com outros de outros estados. 7.4 Considerações gerais sobre os condicionantes territoriais Neste trabalho a análise da dinâmica dos sistemas produtivos é feita com base no levantamento dos condicionantes territoriais que estão relacionados com os diversos tipos de externalidades marshallianas, schumpeterianas, transacionais e institucionais. Analisando os quatro APLs, percebe-se que os condicionantes que tem apresentado resultados mais significativos, no sentido de atrair e manter empresas relacionando entre si, são os condicionantes marshallianos. Por isso esses condicionantes têm exercido papel de fator de localização de empresas em um determinado local, tais como o acesso e o custo da mão-de-obra, de infra-estruturas, de matérias primas e de redes de transporte. 207 Tais condicionantes são importantes para que os aglomerados surjam. No entanto, não garantem o desenvolvimento e a sustentabilidade do aglomerado, no longo prazo, porque não garantem o processo de territorização, que é conseguido por meio da relação de trocas na região. Além disso, segundo o raciocínio de Penrose (1959), no que se refere aos recursos produtivos, os mesmos condicionantes territoriais podem existir em outras localidades. Nesse sentido, torna-se necessário romper a barreira dos ganhos marshallianos em direção, uma vez que, o caráter diferenciador de um determinado APL centra na capacidade das firmas interagirem entre si e com o seu território, obedecendo aos códigos constituídos pelo meio. Essa relação de troca leva à chamada ancoragem ou enraizamento territorial que, conseqüentemente, leva ao desenvolvimento endógeno. Outros condicionantes são desenvolvidos nesses territórios, tais como: os condicionantes Shumpterianos, voltados para a aprendizagem e desenvolvimento das firmas por meio de um processo evolutivo; os condicionantes transacionais, que provocam a redução dos custos de transação, provocados pela maior interação entre as firmas e; os condicionantes institucionais locais, provocados pela modificação no ambiente institucional, voltado para a construção de um ambiente que valorize a interação social e estreite os laços de confiança mútua. A existência ou ausência dos itens contidos em cada grupo de condicionante acaba influenciando o APL. Por exemplo, um ambiente institucional fraco acaba acentuando a assimetria de informação, reduzindo a confiança que poderia existir neste ambiente. Isso faz com que as empresas acabem internalizando a produção como forma de reduzir os custos de transação, que passam a ser crescentes frente às mudanças nos fatores externos. Como resultado deste processo, tem-se uma menor especialidade produtiva das empresas, menor divisão do trabalho, perda de produtividade e dificuldade em estabelecer canais de aprendizado coletivo, colocando em risco o desenvolvimento do aglomerado como um todo. Para o fortalecimento deste ambiente institucional, dentro dos APLs, os agentes de animação e os de apoio exercem importância significativa, uma vez que são capazes de influenciar a coordenação das empresas, estimulando a criação de um ambiente local que valorize a interação social e estreite os laços de confiança mútua. Neste ambiente, as forças de competição e colaboração tendem a se reforçar mutuamente e do equilíbrio dessa interação é possível a composição de uma estratégia mais eficaz para as firmas envolvidas do que a competição pura. 208 Nos quatro casos estudados, percebe-se a presença e a atuação significativas desses agentes de animação e de apoio, ressaltando o papel dos Sindicatos Patronais, que atuam como agente de animação que auxilia na coordenação das ações dos APLs. Apesar dos esforços voltados para romper com as externalidades marshallianas, como fator de localização, o que se tem percebido, nos APLs estudados que existem restrições significativas relacionadas com as externalidades schumpeterianas e transacionais. No que se refere às externalidades schumpeterianas, as restrições estão relacionadas com o compartilhamento de ações coletivas e do conhecimento tácito e a busca de inovação no conjunto do arranjo. Quanto à externalidades transacionais, há dificuldades em manter níveis mínimos de cooperação horizontal e vertical tanto na produção quanto em outras atividades como vendas, marketing, desenvolvimento de produtos e outros. Cabe ressaltar que até mesmo algumas externalidades marshallianas, os APLs não tem desenvolvido com o tempo, tais como encadeamento a jusante, à montante e horizontais extensivos, presença de fornecedores e desenvolvimento de infra-estrutura. Lemos et. al. (2005) afirmam que tais dificuldades estão ligadas aos aspectos urbanos e de entorno, em que os APLs estão inseridos. Ambos os aspectos devem ser considerados como ponto de partida para o desenvolvimento de políticas de desenvolvimento de APLs. Em relação aos aspectos urbanos, os autores mostram que a concentração urbana funciona como uma força centrípeta de atração e criação de novas atividades produtivas. Conseqüentemente, a diversificação produtiva se beneficia dos ganhos ilimitados da divisão social do trabalho e proporciona as chamadas economias de urbanização, que são dependentes do centro urbano em questão. Quando os APLs estão inseridos em um centro urbano forte, acabam sendo induzidos à inovação. Tal inovação acaba renovando incessantemente a própria base produtiva local. Com o tempo, a economia local pode passar por um processo de renovação, em função da maior oferta de bens e serviços a disposição de seu desenvolvimento, ou sua substituição enquanto um produto exportável. Isso pode levar a um eventual declínio da atividade do APL, sem trazer maiores traumas para o local. No entanto, quando as cidades são menores, possuem dificuldades de diversificação e o crescimento é dependente da própria evolução do APL. Essas cidades são chamadas por Lemos et. al. (2005) de “cidades mono-apl”. Nelas as economias urbanas são eficientes, com elevado nível de produtividade do APL, porém, pouco 209 dinâmicas no longo prazo, uma vez que, são limitadas aos ganhos de especialização marshallianas. Segundo esses autores, sem as vantagens mínimas da diversificação, propiciadas pelo desenvolvimento urbano, torna-se limitados os ganhos externos localizados, necessários para o crescimento dos APLs, o que pode resultar em arranjos sem dinamismo ou arranjos de subsistência. Um eventual declínio da atividade pode trazer conseqüências indesejáveis para o local. O caso da Mesbla em São João Nepomuceno e a crise das oficinas mecânicas em Muriaé podem exemplificar este raciocínio, em que as cidades foram prejudicadas em virtude desse declínio da atividade associado à falta de diversificação das atividades urbanas. Em todas as localidades estudadas, pôde-se perceber a dependência da renda proveniente das atividades dos APLs. Em Ubá, o APL de móveis é responsável por 65% da renda; em Carmo do Cajuru este percentual é de 37%, em Muriaé é de 42% e em São João Nepomuceno esse percentual é de 60%. Em relação aos aspectos de entorno, os autores mostram que quando os APLs são localizados próximos a centros urbanos industrializados de grande e médios portes, providas de capital social desenvolvido, rede integrada de transporte, infra-estrutura urbana consolidada e sistema de educação sofisticado é possível implementar estratégias de complementaridades produtivas entre as empresas do pólo urbano regional e seu entorno. No entanto, quando se tem um entorno de subsistência economicamente vazio, existe a dificuldade de desenvolver estratégias de desenvolvimento local em virtude das dificuldades de integração regional decorrentes do baixo nível de renda. Os APLs estudados se encontram em uma situação intermediária. Nos APLs de São João Nepomuceno, Muriaé e Ubá há uma extensão da produção para outras cidades dessas regiões, aumentando assim a área de abrangência do APL além dos limites territoriais dos municípios. No entanto, essas localidades de entorno são basicamente de sobrevivência e acabam dependendo também da renda proveniente do APL. Em todas elas o entorno é basicamente de subsistência, apresentando densidade urbana limitada, baixo nível de renda per capta, reduzida complementaridade produtiva e de serviços com o pólo urbano. Em Carmo do Cajuru, o entorno é bem mais desenvolvido para outras atividades que não fazem parte do setor moveleiro, ficando a cidade como a única produtora de móveis da região. No entanto, a cidade é bastante pequena, o que dificulta o processo de especialização e o encadeamento de firmas a montante e a jusante. 210 Dessa forma, todos os APLs estudados são afetados pelas restrições impostas tais como: a) os núcleos urbanos não são capazes de desaglomerar atividades econômicas para o seu entorno e de criar um mercado de trabalho local dinâmico; b) a lógica do desenvolvimento das capacitações tecnológicas é essencialmente produtiva; c) as densidades urbanas e as áreas de mercado são restritas, dificultando o surgimento de atividades de serviços e industriais complementares à sua especialização industrial; A análise dos aglomerados produtivos pela ótica dos condicionantes e as considerações sobre os aspetos urbanos e de entorno acabam levando a reflexões sobre políticas de apoio aos sistemas produtivos locais e elaboração de pistas para novas pesquisas. 211 CAPÍTULO 8 Sugestões de políticas privadas e públicas para os APLs mineiros e pistas para novas pesquisas 8.1 Sugestões de políticas privadas e públicas A análise do comportamento de arranjos produtivos locais, com base em seus condicionantes, sejam esses marshallianos, schumpeterianos, transacionais ou institucionais e as considerações sobre os aspetos urbanos e de entorno, permite reflexões sobre políticas para estimular o crescimento e desenvolvimento desses arranjos. Isso ocorre porque, ao se levantar condicionantes positivos e negativos desses arranjos territoriais, podem listar políticas que intensifiquem os benefícios da presença de condicionantes positivos e reduzam os efeitos dos negativos e restritivos, apesar da presença ou ausência desses condicionantes não garantir o sucesso ou o fracasso, pois a evolução desses aglomerados depende da efetividade da interação geral entre todos os componentes do arranjo. Assim, esses condicionantes podem servir como direcionadores de ações privadas e/ou públicas para melhorar condições locais ou regionais para o crescimento do conjunto de empresas, por meio de incentivos a investimentos, ao desenvolvimento tecnológico e às exportações, visando, sobretudo, aumento de emprego e de renda. A contribuição do levantamento dos condicionantes é o preparo do terreno para ações conjuntas das empresas e destas com órgãos e entidades locais e com o setor público. O conjunto de políticas deve ser elaborado após a realização de pesquisas de campo nos APLs, previamente identificados por metodologias apropriadas, tais como as desenvolvidas por autores como Crocco et. al (2003) e Suzigan et. al. (2005), que podem captar as especificidades que condicionam cada uma das aglomerações de empresas, como a história, a evolução, a forma de organização industrial, as instituições de apoio, as estrutura de governança, entre outras (IEDI, 2003). De acordo com Crocco et. al (2005), as características dos APLs podem estar centradas tanto no ambiente interno do APL quanto no ambiente externo, como, por exemplo, sistema de inovação incompleto ou ambiente econômico instável. Como tanto 212 o ambiente interno como externo estão envolvidos com os APLs, devem ser levados em consideração para elaboração de políticas publicas. Assim, ao estudar os condicionantes territoriais relacionados aos APLs, além de se constatar as economias externas locais relativas ao tamanho de mercado, à concentração de mão-de-obra especializada, à spill-overs tecnológicos e a outros fatores que favorecem a especialização local, acaba-se identificando as características internas que costumam estar presentes nos APLs, tais como: a) a interação por meio de linkages de produção, comércio e distribuição; b) a cooperação em marketing, promoção de exportações, suprimentos de insumos essenciais, atividades de P & D; c) o apoio das instituições locais; d) as lideranças locais de coordenação de ações privadas e públicas; e) a existência de algumas formas locais de identidade política, social ou cultural que constitui a base para que haja confiança e compartilhamento de informações entre as empresas; f) os programas existentes (ou já implementados) de reestruturação produtiva, organizacional e tecnológica, com ou sem o apoio de órgãos públicos de financiamento. Em virtude dos diferentes tipos de condicionantes e, até mesmo, da presença destes com intensidades variadas, os APLs acabam apresentando características muito particulares em seus atributos, seus agentes, sua inserção própria no ambiente, seu tipo de escala de produção, seu tipo de inovação, etc. Assim, não existe uma política única, inflexível, que sirva aos propósitos de qualquer aglomeração produtiva e que possa ser aplicada em qualquer lugar. Essa análise reforça o conceito, estabelecido na literatura, de que não há política única de desenvolvimento a ser aplicada a todos APLs, pois essas devem ser moldadas conforme as peculiaridades de cada aglomeração (UNCTAD, 1998; Altemburg & Meyer-Stamer, 1999 e Ceglie & Dini, 1999). Contudo, a análise dos condicionantes territoriais permite identificar vários pontos comuns mesmo em APLs de locais diferentes e até mesmo de setores diferentes, parecendo estar mais ligados à estrutura da indústria do que locais. Por exemplo: a) em todos os APLs estudados, há fraca cooperação vertical e horizontal entre as empresas. Porém, esse problema parece ser uma característica cultural, já que está presente em outros APLs do Brasil, como Nova Friburgo, na produção de lingerie (Lima, 2006), Nova Serrana, na produção de calçados (Crocco et. al., 2005), Arapongas, Bento Gonçalves, Oeste Catarinense e São Bento do Sul, na produção de móveis (Cunha et. al., 2006); b) Pela mesma razão estrutural, o contato com universidades e centros de pesquisa, em geral, é baixo, com exceção de Ubá; c) em todos os APLs estudados, há problemas relacionados a infra-estrutura viária, o que parece bem típico pelo menos no 213 Estado de Minas Gerais; d) há problemas relacionados com a distância dos fornecedores de matérias-primas, sendo que, em alguns casos como em Carmo do Cajuru e São João Nepomuceno, não há fornecedores das principais matérias-primas, mostrando que os APLs podem ter dificuldade em dispor de cadeia produtiva completa; e) Há problemas relacionados com ausência ou baixa exportação para outros países, o que pode ser uma característica geral da maioria dos APLs, em consonância com o quadro geral do país, em que há dificuldades na exportação de produtos, principalmente dos com maior valor agregado. Em alguns APLs, como em Carmo do Cajuru, a ausência de exportação está relacionada a problemas de legislação ambiental. A ausência de exportação pode ser uma estratégia de determinados APLs, como é o caso de São João Nepomuceno, que têm foco centrado no mercado nacional. Assim, percebe-se que as conclusões de cada estudo podem auxiliar futuros estudos de caso e até mesmo contribuir para o desenvolvimento de diretrizes mais gerais dentro de políticas para APLs, mas não se pode esquecer as particularidades de cada um, pois, por exemplo, enquanto alguns APLs podem estar buscando elevar a cooperação para atingir melhor qualidade na produção, comercialização e distribuição, outros podem estar buscando cooperação para efetuar exportação para outras regiões e outros países. Conforme Suzigan (2001), de modo geral, políticas de apoio aos APLs devem ter em comum a valorização do local e devem ser focadas em dois pontos: 1) orientar o papel dos agentes privados no sentido da ação coletiva; 2) implementar políticas públicas que possibilitem o aproveitamento de economias externas geograficamente restritas, para criar ou consolidar vantagens competitivas locais e, em conjunto com a ação coletiva dos agentes privados, alcançar a eficiência coletiva. Além disso, segundo Lemos et. al. (2005), as políticas de apoio aos APLs devem ultrapassar os limites de uma política industrial local em direção a uma política de desenvolvimento regional, considerando questões relacionadas com desenvolvimento do urbano e da área de entorno. No caso da não consideração da questão regional, significaria o apoio ao desenvolvimento de enclaves produtivos incapazes de integrar o todo regional. E, no caso da não consideração do urbano, o descompasso entre o tamanho populacional das cidades e o tamanho econômico podem resultar em APLs de sobrevivência, em função das dificuldades de diversificação. Para os autores, o desenvolvimento urbano é condição necessária para que se alcance as vantagens mínimas da diversificação e, conseqüentemente, o dinamismo dos arranjos. 214 Para mostrar a importância da análise dos condicionantes territoriais, foram traçadas algumas sugestões iniciais, tanto em nível geral, de modo a abranger todos os APLs estudados, quanto em nível específico, considerando as peculiaridades de cada um. No entanto, tais sugestões devem ser analisadas com maior cautela e devem ser discutidas pelos atores locais dos APLs. 8.1.1. Ações extensivas a todos os APLs Com base nos resultados obtidos com o estudo dos condicionantes territoriais, percebe-se que todos os quatro APLs estudados apresentam certas características em comum, permitindo a sugestão de ações que envolvem todos eles, tais como: a) Buscar parcerias entre governos Municipal, Estadual e Federal para o desenvolvimento de ações voltadas para sanar problemas de infra-estrutura em todas as suas dimensões, uma vez que problemas de infra-estrutura viária, energia, comunicação podem comprometer a qualidade dos serviços associados ao processo produtivo, bem como a capacidade de produção e venda das empresas do APL; b) Desenvolver trabalhos em grupo, dirigido pela governança local, para aumentar a confiança entre os atores dos APLs, de modo a quebrar barreiras e a promover o interesse por ações conjuntas entre os agentes; c) Estimular ações orientadas para a cooperação horizontal e vertical entre os atores (principalmente do setor moveleiro), pois a cooperação inter-firmas é um fator fundamental para o estabelecimento de relações de confiança entre os atores do arranjo, sendo, portanto, um pré-requisito para a eficiência produtiva das firmas. De um lado, por meio de redes horizontais, as empresas podem coletivamente atingir economias de escala acima da capacidade individual, podem realizar compras conjuntas de insumos, atingir escala ótima no uso da maquinaria, realizar marketing conjunto e combinar suas capacidades de produção para atender pedidos de grande escala. Por meio de redes verticais, as empresas podem especializar nos seus core business e dar lugar a uma divisão externa do trabalho, mas interna ao local (Ceglie e Dini, 1999) e podem reduzir os riscos associados à introdução de novos produtos e o tempo de transição entre o projeto e o mercado. De outro lado, por cooperação, é possível criar um espaço de aprendizagem coletiva, um invisible college (Best, 1990), onde as idéias são trocadas e desenvolvidas e o conhecimento compartilhado na tentativa de melhorar a qualidade de produtos e processos; de poupar segmentos de 215 mercado mais lucrativos, de coordenar ações e de realizar a resolução de problemas conjuntamente. d) Fortalecer iniciativas de especialização inter-firmas, quando se tem uma cidade com um tamanho urbano que permite essa especialização, por meio da formação de grupos, palestras, experimentação e incentivo, de modo a proporcionar maior linkage territorial; e) Fortalecer os consórcios de exportação, incentivando a criação de entidade voltada para orientação sobre legislações específicas, procedimentos burocráticos, atividades de marketing internacional e execução do projeto de exportação; f) Definir com maior clareza os mercados alvos do APL, de modo a desenvolver estratégias de ampliação de mercado, seja para o mercado nacional ou internacional. 8.1.2. Ações Específicas para cada APL A forma com que os condicionantes territoriais manifestam num território, seja positivamente ou negativamente, acaba conferindo a esses territórios um caráter único e diferenciado. Por isso, ações mais específicas devem ser trabalhadas para garantir a esses APLs maior desenvolvimento. Sendo assim, neste estudo foram levantadas algumas ações pra os APLs de Ubá, Carmo do Cajuru, Muriaé e São João Nepomuceno. 8.1.2.1. Ações Específicas para o APL de Ubá Para o APL de Ubá, as principais ações específicas são: a) Aumentar o contingente de pessoas ou empresas engajadas nas atividades de design e inovação de produtos; b) Fortalecer iniciativas do tipo central de distribuição, de modo a resolver problemas de transporte no APL; c) Viabilizar a criação de central de compras de materiais e insumos, de modo a reduzir comportamento oportunista de fornecedores e, ainda, viabilizar melhores preços e qualidade de materiais; d) Incentivar a participação de outras empresas formais no APL; e) Incentivar a modernização do Distrito Industrial de Ubá, por meio de parcerias junto aos governos Municipal, Estadual e Federal. 216 8.1.2.2. Ações Específicas para o APL de Carmo do Cajuru Para o APL de Carmo do Cajuru, as principais ações específicas a serem discutidas com a população local são: a) Apoiar o desenvolvimento dos produtores locais, por parte do governo local e da associação de classe, por meio da criação e manutenção de centros de treinamento e formação profissional, centros de prestação de serviços tecnológicos e agências governamentais de desenvolvimento; b) Incentivar a modernização tecnológica das fábricas, por meio de financiamento para investimento em permanente e capital de giro; c) Apoiar a pesquisa para o atendimento às exigências ambientais, para viabilizar a constituição de consórcios de exportação; d) Incentivar a compra em conjunto e a formação de uma central de compras, para resolver gargalos provocados pela ausência de fornecedores locais de matérias-primas, insumos e equipamentos, que prejudicam não só a maior integração da cadeia produtiva, como também a competitividade das empresas. Por um lado, a ausência de fornecedores dificulta o fluxo de “conhecimento” e de novas idéias e, conseqüentemente, inovações de produto e processo. Por outro, a distância dos fornecedores de matérias-primas e de equipamentos dificilmente será solucionada por meio da instalação deles no território; e) Desenvolver estratégias que visam utilização conjunta de máquinas e equipamentos, por incentivo à especialização e/ou formação de cooperativas e associações; f) Promover a proximidade das empresas do APL das instituições criadoras de conhecimento e pesquisa, como universidades, pois a falta dessa proximidade tem sido um importante gargalo para a capacitação tecnológica do arranjo, comprometendo inovação de produtos e processos produtivos. 8.1.2.3. Ações Específicas para o APL de Muriaé Em Muriaé, as principais ações específicas são: a) Aproximar as empresas do APL das instituições criadoras de conhecimento e pesquisa, por meio das entidades de coordenação, uma vez que, tais instituições são importantes para a capacitação tecnológica do arranjo; 217 b) Aumentar o número de empresas associadas ao órgão de governança, uma vez que o baixo número de empresas associadas, em torno de 50, tem comprometido o desempenho do APL como um todo; c) Incentivar a formalização de empresas informais; d) Reduzir a tendência de cópia de produtos, por meio de um trabalho de conscientização dos órgãos de coordenação; 8.1.2.4. Ações Específicas para o APL de São João Nepomuceno Em São João Nepomuceno as principais ações específicas sugeridas são: a) Intensificar a atuação do órgão de governança (o sindicato patronal local), dada a sua representatividade como órgão de coordenador do APL, na busca de maior eficiência coletiva do APL; b) Promover maior participação dos empresários nas decisões do APL, já que o nível de participação é muito baixo; c) Aumentar as relações entre o órgão coordenador do APL com o governo local, já que esse governo pode atuar na criação e na manutenção de apoio ao desenvolvimento dos produtores locais e contribuir para o fortalecimento do APL, por meio de parcerias; d) Incentivar a compra em conjunto pela formação de uma central de compras, para resolver gargalos provocados pela ausência de fornecedores locais de matérias-primas, insumos e equipamentos, que prejudicam não só a maior integração da cadeia produtiva, como também a competitividade das empresas. Por um lado, a ausência de fornecedores dificulta o fluxo de “conhecimento” e de novas idéias e, conseqüentemente, inovações de produto e processo. Por outro, a distância dos fornecedores de matérias-primas e de equipamentos dificilmente será solucionada por meio da instalação deles no território; e) Promover ações que atraiam compradores para o local, principalmente sacoleiras e viajantes de outras partes do Estado e até mesmo de outros Estados. 8.2 Pistas para novas pesquisas De acordo com a literatura internacional, os APLs possuem características comuns tais como: proximidade geográfica, especialização setorial, predominância de PMEs, cooperação, competição inter-firmas determinada pela inovação, troca de 218 informações baseada na confiança socialmente construída, organizações de apoio ativas na oferta de serviços e parceria estreita com o setor público local. Entretanto, as peculiaridades de cada APL fazem com que a própria inexistência de um padrão único de formação de APLs termine por impor limites à capacidade de mapear esses arranjos e, principalmente, de identificar APLs com maiores possibilidades de desenvolvimento. Isso dificulta o desenvolvimento de políticas públicas de apoio aos APLs, voltadas para a valorização do local. Para tanto, a literatura trabalha com um amplo leque de informações que procuram identificar os tipos de relacionamentos entre as empresas e entre estas e as instituições de apoio e pesquisa. Tais informações, no entanto, somente podem ser obtidas através de pesquisa de campo. IEDI (2003) aponta que somente por meio da pesquisa de campo é possível captar as especificidades de cada uma das aglomerações de empresas, sua história, evolução, forma de organização industrial, instituições de apoio, estrutura de governança e outras características relevantes. Os estudos de campo ajudam a identificar o tipo de manifestação territorial, contribuindo para a criação de tipologias e, ainda, na montagem de modelos que explicam a estrutura desses aglomerados. Nesse aspecto, o estudo dos condicionantes territoriais, associados à investigação do processo de formação, desenvolvimento e estruturação de APLs, exerce importante papel de suporte no desenvolvimento de políticas públicas. Um grupo de condicionantes acaba exercendo influência sobre os demais, sendo, portanto, responsáveis pela manutenção ou não do espírito da empresa no território. Por exemplo, um ambiente institucional local fraco, em termos de laços culturais e confiança mútua, acaba aumentando os custos de transação. Isso leva a baixa cooperação horizontal e vertical, a baixa troca de informações e conhecimentos técnicos e tecnológicos entre os agentes locais e a internalização da produção. Como conseqüência há a construção de um território fraco. No entanto, a metodologia utilizada para levantar o processo de formação, desenvolvimento e estruturação dos quatro APLs, apresenta limitações que podem servir como sugestões para novas pesquisas. Pode-se perceber nos quatro APLs a presença de condicionantes locais institucionais, voltados para a criação de um ambiente mais propício à redução de custos de transação. Esses condicionantes são representados por agentes, cuja finalidade está relacionada com a mudança na cultura local, por meio de incentivos de atividades conjuntas de visitação, marketing, compras e vendas. Entretanto, o efeito desses 219 condicionantes locais ainda não atingiu o aumento da confiança entre as empresas para a realização da parceria e cooperação. Apesar de mudanças institucionais serem difíceis de ocorrer, podendo levar anos, já que envolvem um conjunto de leis, costumes, valores e regras locais, trabalhos de acompanhamento e avaliação das ações desses agentes, com foco nas mudanças devem ser introduzidos. Tais estudos devem confrontar o papel ou a finalidade desses agentes com os objetivos, metas e resultados das ações dos trabalhos desenvolvidos, buscando respostas para as seguintes indagações: até que ponto os agentes de mudança estão conseguindo atingir os seus objetivos em relação ao ambiente institucional local? Quais os trabalhos são desenvolvidos e os resultados propostos e obtidos? Como a população local, ou os empresários locais vêem a necessidade desses agentes de mudança? A visão dos empresários locais sobre o papel dos agentes de mudança, principalmente das entidades de apoio e animação é muito importante, uma vez que, para que ocorra o desenvolvimento do local é necessário que esses agentes sejam bem vistos pelos empresários locais. Percebe-se então que, tanto a filiação quanto a participação efetiva desses empresários é de suma importância para o desenvolvimento. No entanto, em APLs como o de São João Nepomuceno, percebe-se que 100% das empresas formais são filiadas ao sindicato local, mas, o nível de participação nas reuniões tem sido considerado baixo. Em Muriaé, tanto a filiação quanto a participação dos integrantes são consideradas baixas. Em Ubá o número de filiados é considerado baixo, mas a participação efetiva foi apontada como um importante diferencial. Em Carmo do Cajuru, a filiação abrange mais de 50% e a participação nas reuniões tem sido considerada um fator diferencial. Então, cabe questionar o que leva a maior filiação e participação dos empresários locais nas entidades de apoio e animação desses APLs? Quais os fatores que podem levar os empresários a se filiarem e não apresentarem uma participação efetiva? Fazendo uma relação entre participação e cooperação horizontal e vertical, percebeu-se que Ubá e Carmo do Cajuru apresentaram mais participação nas reuniões promovidas pelos agentes de apoio e animação. No entanto, esses dois APLs apresentam cooperação horizontal e vertical baixas. Então, cabe questionar qual a relação entre participação e desenvolvimento das atividades de cooperação horizontal e vertical dentro dos APLs? Será que esta é uma característica brasileira dos APLs de móveis, já que a cooperação em outros APLs do Brasil apresenta baixo nível de 220 participação? Por que o setor moveleiro tem essa dificuldade de cooperar por meio da cooperação horizontal e vertical? Será que essa característica pode ser associada a condicionantes territoriais institucionais externos ao APL e internos ao País, tais como exigências de legislações específicas, política macroeconômica, Sistema Nacional de Inovação? Quais são os reais motivos dessa dificuldade? A cooperação horizontal e vertical, no Brasil, principalmente na produção, é realmente importante para que um APL receba essa denominação? Quais os ganhos reais que as empresas podem obter com essa cooperação? Como isso poderia ser comprovado no Brasil? É possível construir grupos artificiais de cooperação dentro dos APLs para analisar os efeitos na produtividade? Como os resultados desses grupos poderiam ser difundidos para outras empresas do mesmo território? Em relação aos condicionantes institucionais, o estudo deu foco apenas aos que são internos ao APL. Não foram levados em consideração os externos aos APLs, como legislações de setores específicos, legislações estaduais e federais, efeitos de políticas macroeconômicas, sistemas nacionais de inovação e legislações específicas que inibem ou estimulam a exportação. Por exemplo, o estudo não conseguiu responder o por quê do baixo volume de exportações nos APLs. É sabido que o de São João Nepomuceno, os empresários locais estão com foco no mercado interno e não estão cogitando a possibilidade de exportar. Porém, nos demais APLs há o interesse em exportar os produtos para outros países. No entanto, o volume de exportação é considerado baixo. Será que o problema está relacionado com a política macroeconômica ou com legislações específicas? Que tipo de agente está cuidando da capacitação dos APLs para exportação e qual a capacidade e competência técnica desses agentes? Também deveriam ser buscados trabalhos que mostrassem o real papel do governo local. Na experiência internacional, os governos locais tiveram uma atuação importante. Nos quatro APLs estudados verifica-se que em Muriaé a prefeitura local tem demonstrado participação ativa, financiando toda infra-estrutura de funcionamento dos agentes de apoio e animação, no entanto a filiação e a participação de empresários são consideradas baixas. Em São João Nepomuceno pode-se perceber divergências entre o Governo Local com as ações do APL. Em Ubá, o Governo Local é mais um parceiro do APL, contribuindo para o fortalecimento da infra-estrutura do município. Em Carmo do Cajuru, a Prefeitura Municipal atua por meio de infra-estrutura de energia, estrada, saneamento básico etc. Nesse sentido, cabe questionar qual o papel do governo local? Será que esse governo local deve ser considerado chave no 221 desenvolvimento do APL? Até que ponto o Governo Local deve intervir nas ações dos APLs? Como esse governo local pode criar externalidades positivas para o APL? Que tipo de participação é exigido desse governo local? Quais os métodos de avaliação que poderiam dar resultados mais justos. 222 CONCLUSÃO O presente estudo é uma investigação sobre Sistemas Territoriais de Produção, objetivando aprofundar questões específicas sobre a formação, a estruturação e o desenvolvimento de aglomerados territoriais de firmas/empreendimentos denominados Arranjos Produtivos Locais (APLs). Para isso, foram estudados quatro APLs industriais do Estado de Minas Gerais: o APL do Pólo Moveleiro de Ubá, o APL da Indústria de Móveis de Carmo do Cajuru, o APL da Indústria de Confecção de Muriaé e o APL da Indústria do Vestuário de São João Nepomuceno. A coleta de dados foi desenvolvida por meio de técnicas de pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, entrevista semiestruturada e entrevista estruturada. A verificação da origem dos APLs confirmou a hipótese estabelecida de que estes foram induzidos por economias externas locais, provenientes de uma firma inicial estruturada verticalmente. A ampliação das atividades se deu por meio da abertura de empresas por ex-empregados ou empregados da produção da empresas inicial, que usaram seus próprios recursos financeiros e conhecimentos e habilidades adquiridas por meio do processo de rotina e aprendizagem. O APL moveleiro de Ubá se originou da Domani; o APL moveleiro de Carmo do Cajuru se originou da Mobiliadora Líder; o APL de confecção de Muriaé se originou da Malharia Galante e; o APL de confecção de São João Nepomuceno se originou da Companhia Fiação e Tecido Sarmento. A aglomeração de novas firmas calcadas na exportação regional foi responsável pelo desenvolvimento e crescimento dos APLs, já que, à medida que as empresas expandiam suas vendas para outras cidades e regiões, aumentavam o volume de produtos fabricados; atraíam mão-de-obra especializada em algumas atividades; aumentavam a renda das empresas; e propiciavam surgimento de investimentos públicos em infra-estrutura. Isso acarretou aumentos de rendimentos crescentes, externos às empresas, embora internos ao local. Como conseqüência, a concentração de trabalhadores gerava externalidades no local, como a difusão do conhecimento tácito e treinamento para a mão-de-obra, incitando uma identidade da região com a atividade empreendida. Isso fez com que mais empresas fossem atraídas para o negócio, mesmo porque as barreiras de entradas, em todos os quatro APLs eram consideradas baixas. 223 Nos quatro APLs estudados, a estruturação espacial, por meio da aglomeração territorial concentrando empresas e contatos humanos de um mesmo ramo em um mesmo local, levou, desde o início, ao aumento do fluxo de serviços, tanto ligados à atividade fim, quanto serviços mais genéricos. Assim surgiram representantes comerciais para vendas de produtos acabados – principalmente nos APLs de confecção – e representantes de matérias-primas e insumos para a fabricação, como máquinas, equipamentos, assistência técnica e serviços de manutenção; serviços de transporte; agências bancárias, etc. Com o tempo, a necessidade de maior competitividade fez com que outras organizações fossem criadas. Surgiram entidades de apoio e animação, voltadas para a capacitação da mão-de-obra especializada e gerência, apoio às atividades de P&D, de provimento de infra-estrutura de suporte ao crescimento, de captação de crédito e financiamento e de catalisadores da ação cooperativa. Cabe ressaltar a importância dos Sindicatos Patronais, que atuam como agentes de animação que auxilia na coordenação das ações dos APLs. A gênese dos APLs revela o potencial empreendedor dos territórios em que se encontram, pois, observou-se que tais arranjos não surgiram dos estímulos do planejamento público, mas de fontes endógenas e auto-organizativas. No geral, os atores principais podem ser agrupados em: a) Empresas do segmento central; b) empresas de atividades, representadas pelos fornecedores de materiais e de máquinas e equipamentos locais; c) atividades complementares, relacionadas com a complementação do processo produtivo; d) estrutura de animação e apoio, geralmente representada pelos sindicatos e demais secretarias criadas com a finalidade de animar as articulações dentro do APL; e) Estrutura de formação, aperfeiçoamento e pesquisa; f) Prestadores de serviços. Apesar de se poder identificar um modelo de trajetória territorial para os quatro APLs estudados, e até mesmo uma estrutura de funcionamento comum, cada APL possui características bastante específicas em relação ao número de agentes envolvidos, à forma de interação desses agentes no território e à produtos resultantes. A aglomeração de firmas na mesma região acabou apropriando retornos crescentes, provenientes de economias internas – por meio do aumento da especialização da produção e aperfeiçoamento técnico, produtivo e organizacional – e de economias externas que estão relacionadas com o desempenho geral da indústria e funcionam como condicionantes territoriais positivos ou restritivos. A interdependência ou linkages, gerados pelo próprio encadeamento das atividades produtivas e da proximidade das firmas, pode ser considerada responsável pelo crescimento e desenvolvimento dos 224 APLs. No entanto, há uma diferença na presença dessas linkages e a forma de funcionamento no APL, pois condicionantes locais determinaram o tipo de especialização em cada APL. No início, a maioria desses condicionantes para surgimento dos APLs esteve relacionada com as externalidades marshallianas, criadas pelas empresas pioneiras, tais como: infra-estrutura de estrada, comunicação e energia; mão-de-obra especializada; acesso fácil à tecnologia de produção; label territorial construído pela empresa principal. Os principais motivos relatados pelos empresários para abrirem suas empresas estão ligadas também a esse tipo de condicionante, sendo os principais motivos ligados a: existência de mão-de-obra local; existência de infra-estrutura; conhecimento adquirido relacionado com a atividade; a origem do empresário é local e não existe o desejo de sair do local para buscar alternativas de sobrevivência; e o label territorial, relacionado com a especificidade de cada APL. Apesar da importância desses condicionantes Marshallianos para o aglomerado produtivo, eles não garantem o desenvolvimento de um processo de territorização, uma vez que podem ser encontrados em outras localidades e, poderiam também ser criados. Com o tempo, outros tipos de externalidades locais são desenvolvidos, por meio das inter-relações estabelecidas dentro do APL, em virtude da necessidade de gestão conjunta com a participação de organizações de animação e apoio. Tais externalidades são as Schumpeterianas, voltadas para a criação de um ambiente inovativo, com base na aprendizagem e no desenvolvimento das firmas por meio de um processo evolutivo; as Transacionais, voltadas para a busca de maior interação entre as firmas, por meio da redução dos custos de transação e; as Institucionais, relacionadas com as modificações no ambiente institucional em que os APLs estão inseridos, de modo a construir um ambiente que valorize a interação social e estreite os laços de confiança mútua. Esses condicionantes territoriais estão relacionados com a trajetória histórica dos aglomerados, traduzidos no conjunto de competências tecnológicas diferenciadas, de ativos complementares e de rotinas, servindo como estímulos ou entraves ao crescimento e ao desenvolvimento dos APLs. Isso confere a cada um deles um caráter único e diferenciador, fazendo com que a competição entre eles se enquadre na chamada concorrência monopolística. Percebe-se que, entre os APLs de Ubá e Carmo do Cajuru e entre os de Muriaé e São João Nepomuceno, há diferentes graus de desenvolvimento, de integração da cadeia produtiva, de articulação, de integração entre os agentes e instituições locais e de capacidade para inovação. Essas diferenças são resultantes da 225 evolução histórica, da organização institucional, do contexto social e cultural, da estrutura produtiva, das formas de inserção nos mercados interno e internacional, das estruturas de governança, da logística, do associativismo, do cooperativismo, das formas de aprendizado e de disseminação do conhecimento local. Dentro dessa especificidade, percebe-se que o APL de Ubá pode se enquadrado como um APL organizado e os demais como APLs informais ou de sobrevivência. Contudo, há vários pontos comuns entre os quatro APLs estudados, reconhecidos pela análise dos vários condicionantes territoriais, que podem fazer parte de outros APLs brasileiros, com destaque para: a) fraca cooperação vertical e horizontal entre as empresas; b) pouco contato com universidades e centros de pesquisa, c) problemas na infra-estrutura de estradas; d) problemas relacionados com a localização de fornecedores, mostrando ausência de cadeia produtiva completa; e) ausência ou baixo volume de exportação para o mercado nacional e internacional; f) baixa participação nas entidades de animação e apoio por meio de filiação e / ou pela freqüência nos encontros; g) falta de confiança entre os agentes; h) falta de um papel definido do governo local. Em acréscimo, apesar dos esforços voltados para romper com as externalidades marshallianas decorrentes do fator localização, há restrições significativas relativas a externalidades schumpeterianas e transacionais, e até mesmo marshallianas, nos encadeamentos extensivos à montante, à jusante e horizontais, que afetam todos os APLs e estão relacionadas aos ambientes urbanos e respectivos entornos em que esses APLs estão inseridos. Entre essas restrições, destacam-se: a) a lógica essencialmente produtiva das capacitações tecnológicas; b) a realidade do entorno, basicamente voltada para a sobrevivência, com baixa densidade urbana, baixo nível de renda per capta e reduzida complementaridade produtiva e de prestação de serviços, dificultando o surgimento de atividades e de serviços industriais complementares à especialização dos APLs; c) a limitação na capacidade dos núcleos urbanos de desaglomeração das atividades econômicas para o entorno e de criação de um mercado de trabalho local dinâmico; d) a dependência das cidades e entorno em relação à evolução do APL, que pode trazer conseqüências indesejáveis com o eventual declínio da atividade. Isso comprova a hipótese do trabalho, mostrando que em um mercado urbano restrito e pouco dinâmico, apesar das limitações impostas, é possível o surgimento, o desenvolvimento de firmas e a estruturação de APLs especializados em segmentos ou 226 setores da indústria tradicional. Os condicionantes marshallianos, schumpeterianos, transacionais e institucionais levam os agentes econômicos a se mobilizarem. Desse modo, políticas de apoio aos APLs, como instrumento de planejamento e desenvolvimento, devem ultrapassar os limites de uma política industrial local em direção a uma política de desenvolvimento regional, considerando também as questões relacionadas com desenvolvimento do urbano e da área de entorno. Isso é necessário para que não se crie ilhas de desenvolvimento produtivo incapazes de integrar o todo regional e nem que se promova APLs sem dinamismo, comprometendo a sua sobrevivência no longo prazo. As limitações identificadas pela pesquisa servem como sugestões para novas pesquisas, tais como: a) Identificação do efeito nas características dos APLs, de condicionantes institucionais externos específicos, como as exigências de legislações ambientais, Política Macroeconômica e Sistema Nacional de Inovação; b) avaliação de ações dos agentes territoriais de mudança, incluindo o governo local, confrontando finalidade, objetivos, metas e resultados das ações de trabalho desenvolvidas; c) avaliação da opinião dos empresários locais sobre o papel dos agentes de mudança; d) identificação dos motivos da falta de cooperação horizontal e vertical, bem avaliação da necessidade real de cooperação; e) identificação dos fatores que podem contribuir para aumento da participação efetiva dos empresários locais nas entidades de animação e apoio; f) avaliação dos efeitos das demandas e das ofertas das cidades e do entorno no desenvolvimento de políticas voltadas para os APLs. 227 REFERÊNCIAS ABIMÓVEL/SEBRAE. 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Centros Regionais km 1.9 - Principais vias de acesso à cidade. 1.10 - Produto Interno Bruto (PIB) Muriaé a preços correntes e a preços de mercado e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade no período de 1999 a 2004 PIB a preços correntes PIBpm População Ano agropecuário industrial 1999 2000 2001 2002 2003 2004 1.11 - Número de empresas: Micro Pequena Familiar serviços Total (1) Média Nº Capital Fechado Não familiar Nº Capital aberto 1.12 - Total de empregos diretos e indiretos: Grande Nº Nacionais Nº Nº Estrangeira s Nº 1.13 - Nº de instituições de apoio: 1.14 - Mercados de atuação: Interno ( )Não Externo ( )Não ( )Sim ( )Sim % participação % Participação 245 Total PIB(pm)/ hab. (R$1,00) 1.15 – Em relação ao mercado interno, qual(is) o(s) destino(s) da produção do APL e a distribuição percentual? 1.16 - Como ocorre o escoamento da produção para outras cidades e regiões? 1.17 – Em relação ao mercado externo, quantas empresas exportam? Quais os principais problemas com exportação? O que seria necessário para melhorar o número de empresas envolvidas com exportação? 1.18 - Já houve casos de formação de consórcios de exportação ao logo da história do APL? Como ocorreu? Quais os pontos positivos e negativos desse consórcio? Esses consórcios existem ainda? 1.19 - Importâncias do setor para a região/Local PIB município % do PIB relacionado com a atividade Número de empregos relacionados com a atividade Quociente Locacional Milhões II - Levantamento do Histórico do APL 2.1 – Qual a origem da atividade na região? Como e quando essa atividade surgiu? Quem iniciou esse tipo de atividade? 2.2 - Por que essa atividade? 2.3 - Qual o fato histórico que está relacionado com essa origem? 2.4 - Como a mão de obra foi treinada e como as pessoas aprenderam a atividade? 2.5 - Quais os fatores contribuíram para o surgimento da atividade na região? OBS: Essa pergunta pode ter como referência o quadro de condicionantes territoriais* 2.6 - Explique como foi desenvolvida essa atividade, em forma de empresas, a partir de então? 2.7 - Como e por que esta atividade ficou conhecida? 2.8 - Quais os aspectos que contribuíram para que essa atividade tornasse importante na região? 2.9 - Como e quando a região foi estruturando de modo a se tornar um fator de localização? 2.10 - Como e quando surgiram as outras empresas concorrentes da atividade? 2.11 - Como e quando surgiram as empresas complementares e de apoio e quais foram essas empresas complementares? 2.12 - Quais as instituições de apoio que surgiram ao longo dos anos? Como e quando surgiram? 246 2.13 - Como é formada a ambiência institucional? O número de associações? Instituições de apoio? Instituições financeiras etc.? 2.14 - Como foi detectada a presença de um arranjo produtivo local nesta região? 2.15 - Qual a estrutura do APL hoje? Qual o desenho desse APL, envolvendo desde os fornecedores de materiais até o mercado consumidor (colocar a localização, dentro e fora do APL). 2.16 - Que papel a prefeitura e/ou Estado tem desempenhado durante toda a trajetória do APL? * Quadro de condicionantes territoriais 0) Sem efeito 1) ruim funcionando como restrição 2) bom, mas não muito representativo 3) muito bom e representativo 4) ótimo, favorecendo o desenvolvimento. Condicionantes Marshallianos Disponibilidade de mão-de-obra Número Observações Qualidade de mão-de-obra Custo da mão-de-obra Presença de fornecedores de matérias-primas diversas disponíveis na região Presença de fornecedores de bens de capital Proximidade Universidades e Centros de pesquisa Existência de programas governamentais Proximidade/vizinhança de mercados Disponibilidade de recursos naturais específicos localmente ou no entorno regional da localidade Presença de infra-estrutura física suficiente e adequada no seio da base produtiva (energia, telecomunicação, via de acesso por meios transportes) Acesso fácil à informação Condicionantes Shumpterianos Existência de elevado número de pessoas engajadas em atividades de design e inovação Elevado nível de qualificação da mão-de-obra Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos Presença de associações de classe e comerciais dedicadas a assistência de rotina às atividades produtivas técnicas, comerciais e financeira Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à qualificação da força de trabalho Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à capacitação tecnológica às firmas 247 Número Observações Condicionantes Transacionais Existência de cooperação entre firmas competidoras baseada em relações de confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas Número Observações Número Observações Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação Utilização de colaboração horizontal Existência de contatos freqüentes entre empresas formais e informais Presença de confiança recíproca Existência de contratos mais flexíveis Trocas freqüentes de informações e conhecimento entre os atores locais de forma não codificada Existência de grande confiança entre os atores Existência de potencial de cooperação para complementar recursos e aprendizagem Influência da governança interna do APL em relação a facilidades para elaboração de contratos mais flexíveis Contribuição da governança interna de modo a facilitar o processo de compras em conjunto Contribuição da governança interna para facilitar o processo de vendas Contribuição da governança interna para facilitar o marketing conjunto Condicionantes Institucionais Existência de um ambiente institucional que permite a redução da assimetria de informação no SPL e redução de custos de transação Criação de aspectos culturais que permitam estabelecer laços de confiança, interação social, identidade e objetivos comuns Existência de apoio das instituições políticas e sociais no desenvolvimento de atividades de parceria Existência de apoio de instituições políticas e sociais para estimular a transformação do SPL em sistemas mais amplos de inovação (esforço conjunto SEBRAE, FIEMG, universidade, Governo Federal) Existência da proximidade dos APLs com instituições de ensino, pesquisa e agentes econômicos III– Estrutura atual do APL 3.1 - Quais são os principais produtos fabricados pelas empresas do APL e a participação percentual desses produtos? 3.2 - Todas as empresas fabricam o mesmo mix de produtos? Se não, especificar 3.3 - Qual a linha de produto principal do APL? 3.4 - Quais fatores são determinantes para manter a capacidade competitiva na principal linha de produto? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4)muito importante 1 2 3 4 Qualidade da matéria-prima Qualidade da mão-de-obra Custo da mão-de-obra Nível tecnológico dos equipamentos Inovações de desenho e estilo nos produtos Novas estratégias de comercialização Capacidade de atendimento (volume e prazo) 248 3.5 - Quem são os maiores concorrentes do APL? 3.6 - Que tipo de riscos estes concorrentes oferece? 3.7 - Quais as vantagens que o APL oferece para enfrentar os concorrentes? 3.8 - O que tem contribuído para que as empresas se instalem no APL? 3.9 - Quais as principais barreiras de entrada de novas empresas? 3.10 - Quais são as principais vantagens que podem ser associadas a localização da empresa na região? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante 1 2 3 4 Infra-estrutura disponível Disponibilidade de mão-de-obra Qualidade da mão-de-obra Custo da mão-de-obra Existência de programas governamentais Proximidade com universidades e centros de pesquisa Proximidade com os fornecedores de insumos Proximidade com os clientes/consumidores Outros; especificar: 3.11- Quais os pontos que são considerados como fortes no APL? 3.12 - Quais são as oportunidades que o APL possui para o seu desenvolvimento? 3.13 - Quais são os pontos fracos do APL? 3.14 - O que as empresas do APL percebem como ameaça a sua existência no longo prazo? 3.15- Existem empresas que servem como núcleo para outras empresas, agindo como coordenadores da produção? Como isso funciona? Quantas empresas são? 3.16 - Existe algum órgão de coordenação das atividades? 3.17 - Existem marcas próprias ou as empresas trabalham para outras firmas? 3.18 –Em relação a Estrutura do Arranjo produtivo especifique: a) As empresas líderes, o número dessas empresas, a localização e o tipo de produto fabricado. b) As empresas de apoio tais como fornecedores, prestadores de serviços e instituições de capacitação. Mostrar o papel de cada uma delas e o número dessas empresas no APL c) Os principais clientes do APL. A localização desses clientes e as estratégias de vendas do APL d) As instituições de apoio e coordenação do APL e o campo de atuação dessas instituições Entidade/Representante Campo de atuação Contribuição para o APL 249 3.19 – Como é o nível tecnológico do APL? a) Baixo b) Algum c) Contínua 3.20 – Como considera a capacidade tecnológica do APL? (justifique) a) Reduzida b) Em expansão próxima c) Elevada ao estado da arte em equipamentos e processos 3.21 – Como classifica a formação gerencial e administrativa do APL? (justifique) a) Baixa b) Tendendo a elevar com c) Elevado o tempo 3.22 – Como classificaria a capacidade da mão-de-obra do APL? (justifique) a) Baixa b) Média (constantes c) Acima da treinamentos) média 3.23 – Como classificaria a barreira de entrada de novos concorrentes? (justifique) a) Baixa b) Média c) Alta 3.24 – Como classificaria o nível de competição no APL? (justifique) a) Alta b) Média (tendendo a c) Baixa cooperação) 3.25 – Como classificaria o nível de cooperação no APL? (justifique) a) Baixa b) Média c) Alta 3.26 – Como classificaria o nível de confiança entre as empresas para o estabelecimento de parcerias? (justifique) a) Baixa b) Média c) Alta 3.27 - Como classificaria o número de empresas informais em relação ao número de empresas formais? (justifique) a) Alta b) média c) Baixa Existe boa relação entre as empresas formais e informais? Quais os tipos de relações que são estabelecidas entre elas? 3.28 – Como considera a prática de exportação, envolvendo o número empresas e o volume de produtos exportados? (justifique) a) Pouca ou b)Média a alta c)Média a alta nenhuma 3.29 - Como classificaria a capacidade inovativa do APL? (justifique) a) Baixa b) Média, apresentando dificuldades de c) Grande chave do diversificação do seu mix setorial em direção a desempenho atividades geradoras de inovação. 3.30 - Como classificaria a capacidade de coordenação entre as empresas? (justifique) a) Baixa b) Alta c) Alta 3.31- Como classificaria a capacidade de geração de novos produtos? (justifique) a) Baixa b) Baixa a média c) Alta IV - Relações entre os agentes do segmento produtivo 4.1 -Relação entre as empresas do APL com empresas especializadas e/ou complementares 4.1.1 - Existe integração da cadeia produtiva por meio de empresas especializadas na realização de atividades complementares do processo produtivo? Sim Não Se sim, quais? Exemplifique. Esta prática é comum? 4.1.2 - Há casos em que a firma faz opção pela racionalidade da produção buscada por meio de estabelecimento de escalas internas, obtidas por meio da verticalização da atividade? Sim Não 250 Se sim, como? Quando isso ocorre? 4.1.3 - Existe a subcontratação de firmas formais para a realização de diferentes etapas do processo produtivo (complementar, por exemplo)? Que tipo de subcontratação existe? (serviços de transporte, usinagem, montagem, acabamento etc, especifique) 4.1.4 - É comum as empresas serem subcontratadas por outras empresas do APL? Existem dados estatísticos que mostram o volume desses pedidos? Essa prática já é adotada há muito tempo? 4.1.5 - Em geral, por que as firmas optam pela subcontratação (especifique cada caso)? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante 1 2 3 4 Redução de custo de produção Atender a demanda aumentando a capacidade de produção Busca de melhor qualidade por serviços especializados Serviços complementares (bordados) Outros 4.1.7 – Quando uma empresa subcontrata outra é comum a pratica de treinamento do pessoal? Justifique 4.1.8 - Quando uma empresa subcontrata outra é comum a pratica de cessão de equipamentos para o subcontratante? 4.1.9 – Quando ocorre a subcontratação de firmas formais, como são feitos os contratos? Tipo de contrato ( ) informal ( ) escrito Prazo do ( ) por tempo indeterminado ( ) por operação/lote produtos contrato Exclusividade do ( ) atende apenas a firma ( ) atende outras firmas subcontratado 4.1.10 - Existe a subcontratação de firmas INFORMAIS para a realização de diferentes etapas do processo produtivo (complementar por exemplo)? Que tipo de subcontratação existe? (serviços de transporte, usinagem, montagem, acabamento etc, especifique) 4.1.11- É comum a prática de subcontratação de empresas informais? Desde quando? 4.1.12 - Em geral, por que as firmas optam pela subcontratação (especifique cada caso)? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante 1 2 3 4 Redução de custo de produção Atender a demanda aumentando a capacidade de produção Busca de melhor qualidade por serviços especializados Serviços complementares (bordados) Outros 4.1.13 – Quando uma empresa subcontrata uma informal é comum a pratica de treinamento do pessoal? Justifique 4.1.14 - Quando uma empresa subcontrata uma informa é comum a pratica de cessão de equipamentos para o subcontratante? 4.1.15 – Quando ocorre a subcontratação de firmas informais, como são feitos os contratos? Tipo de contrato ( ) informal ( ) escrito 251 Prazo do ( ) por tempo indeterminado ( ) por operação/lote produtos contrato Exclusividade do ( ) atende apenas a firma ( ) atende outras firmas subcontratado 4.1.16 - Existem pessoas que trabalham em seus domicílios? Qual a importância desses trabalhadores e quais as atividades que são repassadas para eles? Há parcerias entre as empresas formais e os trabalhadores domiciliados? De que tipo? Como ocorre? Que tipo de contrato é estabelecido? 4.1.17 – Quando ocorre a subcontratação de pessoas em domicílio, como são feitos os contratos? Tipo de contrato ( ) informal ( ) escrito Prazo do ( ) por tempo indeterminado ( ) por operação/lote produtos contrato Exclusividade do ( ) atende apenas a firma ( ) atende outras firmas subcontratado 4.1.18 - As subcontratantes oferecem algum tipo de serviço às subcontratadas informais e aos trabalhadores em domicilio? Quais os tipos de serviços são oferecidos? (pagamento adiantado, organização da produção, empréstimo de máquinas e equipamentos, conserto e manutenção, treinamento de trabalhadores ou transporte de produtos?) 4.2 - Relação com empresas concorrentes 4.2.1 - Existe a cooperação inter-firmas concorrentes? Se sim, que tipo de cooperação ocorre e a freqüência? (compra em conjunto, Marketing em conjunto, consórcios de compra de insumos, uso comum de equipamentos especializados, venda em conjunto, P&D, obtenção de financiamento, promovem exposições e demais eventos, divisão de gastos para eventos, etc). Explique minuciosamente. 4.2.2 - Se existe essa cooperação, há uma tradição nesse tipo de cooperação inter-firmas? Como considera essa cooperação (Baixa ou suficiente)? 4.2.3 - Nos últimos cinco anos, como evoluíram as relações de cooperação com as demais empresas do segmento na região com relação às seguintes atividades? 1)diminuição; 2)estável; 3)aumento; 4)forte aumento Atividades de cooperação 1 2 3 4 Troca de informações Ensaios para desenvolvimento e melhoria de produtos Ações conjuntas para capacitação de RH Ações conjuntas de marketing Ações conjuntas em desenho e estilo Outras: especificar 4.3 - Relação entre as empresas e fornecedores 4.3.1 - Quais são os principais insumos? 4.3.2 - Onde são adquiridos os insumos, máquinas e equipamentos utilizados no APL? 4.3.3 - Caso os fornecedores estejam distantes, isso é considerado um problema para o APL? Por que? 252 4.3.4 - Caso o fornecedor não esteja dentro do APL, o que tem dificultado essa localização? 4.3.5 - Qual a relação dos fabricantes com os fornecedores de MP? Que tipo de trabalho desenvolve juntos? Existem fornecedores de insumos no arranjo local? Existe abundância de fornecedores na Região? 4.3.6 - Qual a relação dos fabricantes com os fornecedores de máquinas e equipamentos? Que tipo de trabalho desenvolve juntos? Existem fornecedores de máquinas e equipamentos no arranjo local? Existe abundância de fornecedores na Região? 4.3.7 - Quais são os pontos fortes e fracos em relação aos Fornecedores? 4.3.8 - Principais dificuldades na relação com fornecedores de insumos 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante Dificuldades Grau Observações Condições de pagamento Escassez de fornecedores Localização de fornecedores Preço considerado alto Não há dificuldades Outros (especificar) 4.3.9 -Principais dificuldades na relação com fornecedores de máquinas e equipamentos 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4)muito importante Dificuldades Grau Observações Condições de pagamento Escassez de fornecedores Localização de fornecedores Preço Não há dificuldades Outros (especificar) 4.3.10 - Nos últimos cinco anos, como evoluíram as relações de cooperação com seus fornecedores em nível local em relação às seguintes atividades: 1)diminuição; 2)estável; 3)aumento; 4)forte aumento Atividades de cooperação Grau Observações Troca de informações Ensaios para desenvolvimento e melhoria de produtos Assistência Técnica no processo produtivo Ações conjuntas para capacitação de RH Ações conjuntas em desenho e estilo Outras (especificar) Melhores prazos de pagamento a fornecedores de Matéria prima Melhores prazos de pagamento a fornecedores de máquinas e equipamentos 4.3.11 - Quais os tipos de contratos (formais ou informais) são firmados entre empresas do APL e os fornecedores? Explique os diversos tipos de relação existente e os possíveis tipos de contratos. Justifique Tipo de ( ) informal ( ) escrito contrato Prazo do ( ) por tempo indeterminado ( ) por operação/lote produtos contrato Exclusividade ( ) atende apenas a firma ( ) atende outras firmas subcontratado 253 4.4 - Relação entre empresas do APL e empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e processos, Instituições de Pesquisa/Universidades. 4.4.1 - Existem empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e processos que prestam serviços ao APL? Onde estão localizados? Como funcionam? 4.4.2 - Existem laboratórios que prestam serviços ao APL? Como funciona? 4.4.3 - Existem empresas responsáveis pelo P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e processos? Como funciona? 4.4.4 - Se não existem empresas específicas, quem exerce a atividade de P&D no APL? 4.4.5 - Que tipo de relação é estabelecido entre as empresas do APL e as empresas de P&D? 4.4.6 - Quais as formas de intercâmbio que a empresa costuma manter com Centros de Pesquisa, Universidades e instituições afins: Origem: a) local; b)no país; c)no exterior Freqüência: 1)inexistente; 2)rara; 3)anual; 4)mensal Forma de interação a b c 1 2 3 4 Desenvolvimento de novos produtos Desenvolvimento de novos processos Testes e certificados Treinamento de pessoal Caracterização e seleção de matéria-prima Outros- Especificar 4.4.7 - Caso a empresa não mantenha nenhuma forma de interação com universidades e centros de pesquisa, em nível local ou regional, quais os motivos? 4.5 - Relação entre empresas do APL e empresas de treinamento e formação de Mão-deobra 4.5.1 - Quais os tipos de mão de obra empregada no APL e a origem dessa Mão de obra? 4.5.2 - Existem empresas de treinamento de mão de obra? Quais e como funciona? 4.5.3 - Se não existem empresas de treinamento e formação de mão de obra no APL, quem treina e forma essa mão de obra? Explique. 4.6 - Relação entre fabricantes e vendedores dos produtos do APL 4.6.1 - Quem são os mercados consumidores prioritários das empresas do APL? 4.6.2 -. Quais são os principais canais de comercialização adotados pelas empresas do APL ? Forma de comercialização Observações Sob encomenda Lojas Próprias Grandes Varejistas sob encomenda Escritórios de Exportação Representação 254 4.6.3 - Para cada canal, como você classificaria (1 ruim a 4 ótimo) por que? 4.6.4 - As empresas do APL trabalham com marca própria ou com a marca de empresas consumidoras? Especifique os casos. 4.7 - Relação entre as empresas do APL e Instituições de Coordenação 4.7.1 - Quais são as instituições envolvidas no APL? Qual o papel de cada uma delas? 4.7.2 - Existem instituições de coordenação no APL? Quais? Qual o trabalho desenvolvido por elas? 4.7.3 - Quais os trabalhos que essa instituição (essas instituições) tem desempenhado? 4.8 - Capacidade Tecnológica do APL 4.8.1 - As empresas do arranjo desenvolvem inovações tecnológicas? De que tipo? 4.8.2 - Como as empresas do arranjo desenvolvem inovação tecnológica? 4.8.3 - Existem firmas que desenvolvem inovações em seus produtos? Quais e o tipo de inovação? 4.8.4 - Existem firmas inovadoras e firmas imitadoras dentro do APL? Como funciona essa questão dentro do APL? 4.8.5 - Ao longo da década dos últimos 5 anos, quais foram as principais inovações adotadas pelas empresas em seus produtos e/ou processo produtivo: 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante Inovações de Produto Observações Alterações no desenho/estilo Alterações de características técnicas Novo produto Outros(especificar) Inovações no processo Incorporação de novos equipamentos na planta industrial Nova configuração da planta industrial Construção de uma nova planta Introdução de novas técnicas organizacionais - Células de produção - Just-in-time externo - CAD/CAM - outras (especificar): Observações 4.8.6 - Quais são as principais fontes de informação que as empresas utilizam para promover inovações de produto ou de processo? Fonte Observações Departamentos de P&D da empresa na região Departamentos de P&D da empresa situados em outras regiões 255 Departamento de P&D da empresa localizada fora do país Consultorias especializadas contratadas localmente Consultorias especializadas localizadas fora da região Consultorias especializadas localizada no exterior Universidades e Centros Tecnológicos na região Universidades e Centros Tecnológicos de outras regiões Universidades e Centros Tecnológicos localizados no exterior Aquisição de novos equipamentos fornecidos localmente Aquisição de novos equipamentos de produtores nacionais Aquisição de novos equipamentos oriundos de fornecedores externos Clientes Publicações especializadas Troca de informações com empresas do setor na região Troca de informações com empresas do setor fora da região Troca de informações com empresas do setor localizadas no exterior Congressos e feiras do setor realizadas no país Congressos e feiras do setor realizadas no exterior Outros: especificar 4.8.7 – Como se dá o desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante Forma de incorporação de inovações tecnológicas Observações Aquisição de máquinas compradas no mercado nacional Aquisição de máquinas compradas no mercado internacional Em cooperação com fornecedores de equipamentos Nas unidades de produção da empresa Em laboratórios de P&D da empresa algumas Em cooperação com outras empresas concorrentes Em cooperação com outras organizações (de ensino e pesquisa, entidades de apoio setoriais, etc.) Em cooperação com fornecedores de insumos Outros. especificar: 4.9 - As empresas do APL e políticas públicas 4.9.1 - Quais políticas governamentais que tem contribuído para a eficiência do APL? Para importância: (1) sem importância; (2) pouco importante (3) importante; (4) muito importante Para âmbito de governo: L) local; E) estadual; F) federal Ações de Política Importância Âmbito de governo Observações Programas de capacitação profissional e treinamento técnico Melhorias na educação básica Programas de apoio a consultoria técnica Linhas de crédito (especificar) Incentivos fiscais (especificar) Outras (especificar): 256 V - Aspectos gerais do APL e condicionantes territoriais 5.1 – Classifique as características do APL Avaliação de Algumas Características 0 1 2 Não se Fraco bom Aplica 3 muito bom 4 ótimo Disponibilidade de mão-de-obra Qualidade da mão-de-obra Custo da mão-de-obra Proximidade com universidades e centros tecnológicos para realizar testes Proximidade com os fornecedores de matéria-prima Proximidade com os fornecedores de equipamentos Proximidade com os clientes/consumidores Influência dos sindicatos Existência do setor consolidado no local Treinamento da mão-de-obra voltado para a atividade do APL Parceria com empresas do ramo Disponibilidade de habitação para mão-de-obra qualificada Disponibilidade de mão-de-obra especializada Concorrência com empresas do ramo Economia voltada para um só produto Área para instalação de empreendimentos industriais Energia elétrica Estradas Telecomunicações Segurança Serviços Urbanos Proximidade de Universidades Recebe auxílio de universidades em pesquisa e desenvolvimento Presença de Escola Técnica Facilidade de obtenção de assistência técnica 5.2 - Apontar quais os condicionantes que contribuem para o fortalecimento do APL e os condicionantes que têm servido como restrição ao desenvolvimento. 0) Sem efeito 1) ruim funcionando como restrição 2) bom, mas não muito representativo 3) muito bom e representativo 4) ótimo, favorecendo o desenvolvimento. Condicionantes Marshallianos Disponibilidade de mão-de-obra Qualidade de mão-de-obra Custo da mão-de-obra Presença de fornecedores de matérias-primas diversas disponíveis na região Presença de fornecedores de bens de capital Proximidade Universidades e Centros de pesquisa Existência de programas governamentais Proximidade/vizinhança de mercados Disponibilidade de recursos naturais específicos localmente ou no entorno regional da localidade 257 Número Observações Presença de infra-estrutura física suficiente e adequada no seio da base produtiva (energia, telecomunicação, via de acesso por meios transportes) Acesso fácil à informação Condicionantes Shumpterianos Existência de elevado número de pessoas engajadas em atividades de design e inovação Número Observações Número Observações Número Observações Elevado nível de qualificação da mão-de-obra Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos Presença de associações de classe e comerciais dedicadas a assistência de rotina às atividades produtivas técnicas, comerciais e financeira Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à qualificação da força de trabalho Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à capacitação tecnológica às firmas Condicionantes Transacionais Existência de cooperação entre firmas competidoras baseada em relações de confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação Utilização de colaboração horizontal Existência de contatos freqüentes entre empresas formais e informais Presença de confiança recíproca Existência de contratos mais flexíveis Trocas freqüentes de informações e conhecimento entre os atores locais de forma não codificada Existência de grande confiança entre os atores Existência de potencial de cooperação para complementar recursos e aprendizagem. Influência da governança interna do APL em relação a facilidades para elaboração de contratos mais flexíveis Contribuição da governança interna de modo a facilitar o processo de compras em conjunto Contribuição da governança interna para facilitar o processo de vendas Contribuição da governança interna para facilitar o marketing conjunto Condicionantes Institucionais Existência de um ambiente institucional que permite a redução da assimetria de informação no SPL e redução de custos de transação Criação de aspectos culturais que permitam estabelecer laços de confiança, interação social, identidade e objetivos comuns Existência de apoio das instituições desenvolvimento de atividades de parceria políticas e sociais no Existência de apoio de instituições políticas e sociais para estimular a transformação do SPL em sistemas mais amplos de inovação (esforço conjunto SEBRAE, FIEMG, universidade, Governo Federal) Existência da proximidade dos APLs com instituições de ensino, pesquisa e agentes econômicos 258 VI – Roteiro de entrevista para a pesquisa em órgãos institucionais 6.1 - A que atribui a formação e o desenvolvimento do ramo de atividade nesta cidade? 6.2 - Quando a instituição iniciou suas atividades? 6.3 - Quantas empresas filiaram-se a esta instituição no início de suas atividades? 6.4 - Quantas empresas são filiadas hoje? 6.5 - Quais são os seus principais objetivos como órgão Institucional? 6.6 - Quais desses objetivos estão sendo atingidos satisfatoriamente? 6.7 - Qual o papel dessa instituição no APL? 6.8 - Como a Instituição vê a cooperação neste ramo de atividade, entre seus vários agentes econômicos (empresários, empregados, fornecedores, trabalhadores a domicílio, instituições)? 6.9 - Quais os trabalhos desenvolvidos por essa instituição que teve papel relevante no desenvolvimento do APL? 6.10 - Quais os serviços que esta instituição presta ao APL? 259 ANEXO II Roteiro de entrevista aplicada aos fabricantes na segunda fase da pesquisa de campo 260 Questionário direcionado aos empresários do APL Número questionário Início atividades (data) Identificação da Empresa Nome da Empresa Endereço Telefones Nome do informante Associado ao Sindicato Recursos Humanos 1 -Número de Funcionários até 19 de 20 a 99 Sim =1 Não=2 de 100 a 499 2 -Origem da mão de obra é local? 3 - Grau de Escolaridade dos funcionários Grau de instrução 1 Analfabeto Email Contato Natureza Jurídica 2 Fundamental incompleto Sim 3 Fundamental completo acima de 500 1 formal, 2 Informal Masculinos Femininos Não 4 Ensino Médio 5 Ensino médio incompleto completo 6 Superior incompleto 7 Superior completo Número de Funcionários Dirigente da empresa 4 -Valor médio mensal com mão-de-obra e encargos 5 - Treinamento de pessoal (1 sim e 2 não) Feito na própria empresa Senai outras Sebrae Mercado 1 A empresa possui loja de varejo Sim se sim: em outras regiões do Estado Local região Quantas? Quantas? Não em outro estado (quais) 2 A empresa possui loja de Atacado Sim se sim: em outras regiões do Estado Local região Quantas? Quantas? Não em outro estado (quais) 3 A empresa trabalha com representantes comerciais? se sim: Local região Quantos? Quantos? Sim em outras regiões do Estado em outro estado (quais) em outros países (quais) 4 Qual o percentual de destino das vendas nos mercados? local (na cidade) Regional (na microrregião) Na região Quantas? Quantas? Quantas? Quantas? Não Quantos? Quantos? Quantos? Nas outras regiões de Minas Nos outros Estados Brasileiros (listar os Estados) No Exterior Qual o nome do Estado de maior venda? 5 - Qual o faturamento médio mensal da empresa? 6 Quais são os principais canais de comercialização adotados pela empresa? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante Sob encomenda Lojas Próprias varejistas Pessoas físicas Outros (especificar): 261 8 pós graduação 7 A marca dos produtos Marca própria Marca de outro fabricante Marca do pólo ou de programa específico percentual percentual percentual 8 - Como a empresa faz para diferenciar o seu produto dos produtos do concorrente? Produz um produto diferente dos concorrentes Estratégia diferenciada em Marketing Tipo de matéria prima usada Constante inovação de estilo Relacionamento com o cliente Utilização de tipos diferenciados de acabamento Outros - Especificar 9 - A empresa já vendeu ou vende para mercado internacional? Sim =1 Não=0 Por que? Quais países? se Não 10 - A empresa já participou de consórcios de exportação? Sim =1 Não=0 Quando? Sim 11 - A empresa participa de feiras? Se sim: (1) Pouco frequente, (2) frequente(3) muito frequente Local como expositor Não Em outros Estados como Expositor Local como visitante Em outros Estados como Visitantes Em outras cidades como expositr Em outros países como expositor Em outras cidades como visitantes Em outros países como visitantes Produção 1 - Número médio de peças produzidas por mês 2 - Qual o tipo de produção adotado pela empresa? por encomenda em série por encomenda em série (linha própria) outros Explicar 3 - Quais os tipos de produtos que a empresa fabrica? Percentual Percentual Percentual Percentual 4 - A empresa produz parte de produto de outra empresa? Sim =1 Não=0 Quais produtos? Terceirização e subcontratação 1 - A empresa compra parte de produtos de outra empresa para a composição do seu produto? Sim =1 Não=0 Quais as partes que são compradas? 2 - A empresa terceiriza algum tipo de produto ou parte do processo de produção? Se sim, em que atividades? 3 - Quando a empresa faz opção pela terceirização, qual o motivo? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante Redução de custo de produção Atender a demanda aumentando a capacidade de produção Busca de melhor qualidade por serviços especializados 4 - Quando a empresa terceiriza, qual o tipo de contrato é estabelecido: informal escrito tempo indeterminado por operação 5 - A empresa já trabalhou como subcontratada de outra empresa? Sim Não Quais os tipos de produtos que produziu? 262 Sim =1 Não=0 Serviços complementares Não possui maquinário específico Qual o tipo de contrato foi estabelecido: informal escrito tempo indeterminado por operação Se sim treinamento de pessoal Cessão de máquinas e equipamentos Adiantamento em forma de dinheiro Transporte de produto inacabado e acabado 7 - A empresa subcontrata mão-de-obra em domicílio? Sim Não Quais os tipos de produtos ou atividades? 8 - Existe algum tipo de parceria entre empresa formal e informal para a execução de parte do processo produtivo? Sim Não Quais? 9 - Existe a subcontratação de outros serviços que não estejam ligados ao processo produtivo? Se sim, quais? Transporte de matériais e insumos informal escrito tempo indeterminado por operação Transporte de produtos acabados informal tempo indeterminado escrito por operação Firmas de serviço de segurança informal tempo indeterminado escrito por operação Firmas de serviço de representação informal tempo indeterminado escrito por operação Firmas de serviços contábeis informal tempo indeterminado escrito por operação Firmas de design informal tempo indeterminado escrito por operação Firmas de manutenção informal tempo indeterminado escrito por operação Outros (especificar) informal tempo indeterminado escrito por operação Sim =1 Não=0 10 - Quais as maiores dificuldades em tercerizar ou subcontratar empresas? Falta de confiança em outras empresas para a terceirização de parte de processo de produção A tecnologia do contratante é muito inferior, comprometendo a qualidade do produto Falta de mão-de-obra com qualificações específicas em outras empresas, inibindo a contratação Os critérios de controle de qualidade impostos para atender as exigências ergonométricas e de resistência são muito rigorosas, não compensando os ganhos que poderiam ser obtidos por meio da terceirização outros (Especificar) Concorrentes 1 - A empresa participa ou já participou de estratégias conjuntas com outras empresas concorrentes? Central de compras Centro de distribuição Missões internacionais Central de Vendas Troca de informações Feiras/stands c/ concorrentes Organização de eventos Visita em feiras Consórcio de exportação Ações conjuntas de Marketing Outros Especificar 263 Ações conjuntas p/ capacitação pessoal Ações conjunta de design e estilo Ensaios p desenvolv. e melhoria de produto Desenvolvimento de catálogo Uso comum de equipamentos especializados Fornecedores de materiais e insumos 1 Quais os principais materiais utilizados na produção, o número de fornecedores e localização? (onde compram, indendentemente de onde vem o insumo) Número de fornecedores Observações Sudeste Sul Norte e Nordeste materiais Local MG SP ES RS SC PR RR RO PA AM BA 2 - Há relações de cooperação com os fornecedores de materiais? Se sim: Que tipo de relação de cooperação exite? Troca de informações Ações de design e estilo Pesq./desenvolv. Produtos Troca de pessoal Capacitação de pessoal Melhores prazos de pagto Sim=1 não = 0 Melhores preços para as empresas do APL Patrocínio e divisão de stands em exposições e feiras Outros 3 - Principais dificuldades na relação com fornecedores de materiais 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante Condições de pagamento Localização de fornecedores Escassez de fornecedores Preço Não há dificuldades Outros (especificar) 4 - Quais os tipos de contratos estipulados na relação de produtor e fornecedor de materiais? informal escrito Tipo de contrato tempo indeterminado por operação Prazo do contrato 5 - Quais os gastos mensais com materiais e insumos da empresa? 6 - Qual o valor médio de outros gastos mensais, excluindo materiais, insumos e mão-de-obra? Fornecedores de máquinas e equipamentos 1 - Quais as principais máquinas e equipamentos utilizados na produção, o número de fornecedores e localização? (3 a 5 máquinas e equipamentos) Número de fornecedores Sudeste Sul Norte e Nordeste Exterior (país/nome) Equipamentos Local MG SP ES RS SC PR RR RO PA AM BA 1 2 - Há relações de cooperação com os fornecedores de máquinas e equipamentos? Se sim: Que tipo de relação de cooperação exite? Troca de informações Pesq./desenvolv. Produtos Capacitação de pessoal manutenção Sim=1 não = 0Não Ações de design e estilo Melhores preços para as empresas do APL Troca de pessoal Patrocínio e divisão de stands em exposições e feiras Melhores prazos de pagto Outros Assistência ténica no processo produtivo 3 - Principais dificuldades na relação com fornecedores de máquinas e equipamentos 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante Condições de pagamento Preço Não há dificuldades Escassez de fornecedores Localização de fornecedores Outros (especificar) Quais os tipos de contratos estipulados na relação de produtor e fornecedor de máquinas e equipamentos? informal escrito Tipo de contrato tempo indeterminado por operação Prazo do contrato 264 Relações com universidades e centros de pesquisa 1) Quais as formas de intercâmbio que a empresa costuma manter com Centros de Pesquisa, universidade e instituições afins: Local no país no exterior Forma de interação Desenvolvimento de novos produtos Desenvolvimento de novos processos Testes e certificados Treinamento de pessoal Caracterização e seleção de matéria-prima Outros- Especificar 2) Se não mantém, quais os motivos? Inovação de produto e processo 1) Quais são as principais inovações da empresa em seu processo produtivo? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante Inovações de Produto Alterações no desenho/estilo Alterações de características técnicas Inovações no processo Incorporação de novos equipamentos na planta industrial Nova configuração da planta industrial Construção de uma nova planta Introdução de novas técnicas organizacionais Novo produto Outros(especificar) Células de produção Just-in-time externo CAD/CAM outras (especificar): Qual o procedimento adotado pela empresa no desenvolvimento do design ou da moldelagem? desenvolve na empresa por profissionais especializados Terceiriza Desenvolve na empresa pelos próprios integrantes da empresa Copia de outras empresas 2) Quais são as principais fontes de informação que a empresa utiliza para promover a inovação de produtos e/ou processos? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante Local/região fora da região Departamentos de P&D da empresa Local/região fora da região Consultoria especializadas contratadas Local/região fora da região Universidades e centros tecnológicos Local/região fora da região Aquisição novos equip. fornecidos Clientes Publicações especializadas Local/região fora da região Troca de inform. Empresas do setor Congressos e feiras comerciais e industriais do setor realizadas no país Congressos e feiras comerciais e industriais do setor realizadas no exterior fora do país fora do país fora do país fora do país fora do país Incorporação de novas tecnologias 1 - A tecnologia de produção (máquinas e equipamentos) da sua fábrica é considerada: De última geração ( muito atualizada) Pouco moderna Moderna, porém não é considerada de última geração bem ultrapassada 3 - Como se dá o desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante Forma de incorporação de inovações tecnológicas Nas unidades de produção da empresa Aquisição de máquinas compradas no mercado nacional Em laboratórios de P&D da empresa Aquisição de máquinas compradas no merc. internacional Em cooperação com outras empresas concorrentes Em cooperação com fornecedores de equipamentos Outros. especificar: Em cooperação com fornecedores de insumos Em cooperação com outras organizações de ensino, pesquisa, entidades de apoio setoriais, etc. 265 Instituição de coordenação do APL Quais os serviços do setor de coordenação a empresa tem utilizado? Serviços médicos e odontológicos Cursos Palestras e treinamentos Central de entrega Assistência Jurídica Consórcio de exportação Feiras, missões e eventos Outros, Especificar Localização Por que a empresa buscou situar o seu negócio neste local? Quais as vantagens da empresa funcionar nesta cidade? Observações: 266