COPPE/UFRJ
FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURAÇÃO DE ARRANJOS
PRODUTIVOS LOCAIS DA INDÚSTRIA TRADICIONAL DO ESTADO DE
MINAS GERAIS
Fabrício Molica de Mendonça
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Engenharia de Produção,
COPPE, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Doutor em Engenharia de
Produção.
Orientador: Henrique Pereira da Fonseca Netto
Rio de Janeiro
Outubro de 2008
FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURAÇÃO DE ARRANJOS
PRODUTIVOS LOCAIS DA INDÚSTRIA TRADICIONAL DO ESTADO DE
MINAS GERAIS
Fabrício Molica de Mendonça
TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ
COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM
CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO.
Aprovada por:
_________________________________________
Prof. Henrique Pereira da Fonseca Netto, Dr.
_________________________________________
Prof. Rogério de Aragão Bastos do Valle, Dr.
_________________________________________
Prof. Hamilton Carvalho Tolosa, Ph.D.
_________________________________________
Prof. Cláudio Antonio Gonçalves Egler, D.Sc.
_________________________________________
Prof. Mauro Borges Lemos, Ph.D.
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
OUTUBRO DE 2008
ii
Mendonça, Fabrício Molica
Formação, desenvolvimento e estruturação de arranjos
produtivos locais da indústria tradicional do Estado de
Minas Gerais/ Fabrício Molica de Mendonça. – Rio de
Janeiro: UFRJ/COPPE, 2008.
XVIII, 266 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Henrique Pereira da Fonseca Netto
Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia de Produção, 2008.
Referencias Bibliográficas: p. 228-243.
1. Arranjos Produtivos Locais. 2. Condicionantes
Territoriais. 3. Indústria Tradicional. 4. Trajetória de
formação I. Fonseca Netto, Henrique Pereira da. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,
Programa de Engenharia de Produção. III. Titulo.
iii
Dedicatória
Aos meus Pais Roque e Neyde,
pelo amor incondicional durante toda a minha vida.
Aos meus irmãos Damares e Diuliano,
que sempre estiveram ao meu lado e torcem pelo meu crescimento.
Aos meus tios Silmar e Nazaré,
que me apoiaram sempre que puderam.
iv
Agradecimentos
Ao Prof. Henrique Fonseca, pela confiança depositada no meu trabalho, apoio e
orientação desde o meu ingresso no curso.
Ao Prof. Rogério Valle, pelos ensinamentos, generosidade, amizade e apoio.
À Maura Montella, pelo significado que tem na minha vida.
Ao Levi, pela amizade e apoio nos momentos mais difíceis de tomada de decisão.
Aos Tios Reinaldo e Regina pelo carinho com que me receberam no Rio de Janeiro,
auxiliando em tudo que foi preciso para a minha instalação.
Ao IEL/FIEMG do Estado de Minas Gerais por viabilizar o contato com os principais
agentes de apoio e animação dos APLs estudados.
A todos os profissionais das empresas e das entidades de apoio e animação que
participaram do trabalho, pelo fornecimento de dados e informações necessários para a
realização da pesquisa, com agradecimento especial para Carina Abritta, Wellington
Doriguetto, Marcelo Gontijo, Cinthia Nobre, Eduardo Dilly.
Aos amigos do SAGE, pela companhia e aprendizado, com agradecimento especial para
Débora, Eduardo, Claudinha, Dejair, Rita, Paulinha, Antônio Marcos, Marília Magarão,
Oswaldo, Iris, Roquemar, Saulo, Isis, Aline e Senhorinha Soyla.
Aos amigos que encontrei ao longo desses últimos anos, pelo companheirismo nos
momentos de lazer: Cristina, Sr Valente, D. Célia, Juliano, Geruza, Dilermando,
Gabriel, Hiran, Enildo, Janete, Vinícius, Adriana, Gabriela, Márcia, Amaruri, Monique,
Beatriz, Erika, Diogo, Marquinhos, Henrique, Dilma, Mirian e Zaíra.
v
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)
FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURAÇÃO DE ARRANJOS
PRODUTIVOS LOCAIS DA INDÚSTRIA TRADICIONAL DO ESTADO DE
MINAS GERAIS
Fabrício Molica de Mendonça
Outubro/ 2008
Orientador: Henrique Pereira da Fonseca Netto
Programa: Engenharia de Produção.
O presente estudo trata de investigação sobre os Sistemas Territoriais de Produção
no âmbito de Arranjos Produtivos Locais (APLs), aprofundando questões específicas
referentes à formação das firmas/empreendimentos e seu desenvolvimento em
aglomerados territoriais, para mostrar como esses territórios foram estruturados de
modo que se tornassem fatores de localização capazes de atrair e manter empresas
relacionando entre si. Os APLs são originários de uma firma inicial verticalizada,
estruturada sob a lógica funcional. Cada uma dessas empresas foi responsável por
estruturar o território, dotando-o de condicionantes territoriais mínimos para a
ampliação das atividades, por meio de fontes endógenas e auto-organizativas. Apesar de
se poder identificar um modelo de trajetória territorial para os APLs estudados, cada
APL possui características bastante específicas em relação ao número de agentes
envolvidos e à forma de interação desses agentes no território.
vi
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)
FORMATION, DEVELOPMENT AND STRUCTURING OF PRODUCTION
CLUSTERS WITHIN TRADITIONAL INDUSTRIES IN MINAS GERAIS STATE,
BRAZIL
Fabrício Molica de Mendonça
October / 2008
Advisor: Henrique Pereira da Fonseca Netto
Department: Production Engineer.
The present study discusses territorial production systems by analyzing cluster
production, investigating specific issues involved in the formation of firms/ventures and
how they develop into territorial clusters and showing how these territories are
structured in such a way that they are able to attract and hold interrelated companies.
Clusters start out with a single firm that has a vertical structure and is based on a
functional logic. Each such company is responsible for structuring the territory, giving it
the minimum of elements necessary to expand production activities through
endogenous, self-organizing resources. Though a territorial development model could
be identified for each of the production clusters under study, each cluster has very
particular features, such as the number of agents involved and the way these agents
interact within the territory.
vii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 1
PARTE I ........................................................................................................................... 7
Embasamento teórico relativo ao processo de formação de arranjos produtivos locais .. 7
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................... 9
Redes, aglomerados produtivos e os Sistemas Produtivos Locais ................................... 9
1.1
Definição e características das redes de empresa .................................................... 9
1.2
Tipologia de rede de empresas proposta por Markusen ........................................ 11
1.2.1 Distrito Industrial Mashalliano.............................................................................. 11
1.2.2 Distrito Industrial Centro Radial (Hub and Spoke) ............................................... 13
1.2.3 Distrito Industrial Plataforma Satélite ................................................................... 14
1.2.4 Distrito Industrial Ancorado pelo Estado(state-centered) ..................................... 14
1.3
Outras tipologias envolvendo concentração espacial de firmas ............................ 15
1.3.1 As Redes Topdown e as redes flexíveis ................................................................ 15
1.3.2 Clusters Industriais ................................................................................................ 18
1.3.3 Milieux inovadores ................................................................................................ 19
1.3.4 Arranjo Produtivo Local, Sistema Produtivo e Inovativo Local e o Sistema
Produtivo Local. ............................................................................................................. 20
1.3.5 A Terminologia Arranjo Produtivo Local ............................................................. 22
1.4
A concentração de empresas em aglomerações produtivas................................... 24
1.4.1 Externalidades marshallianas ................................................................................ 27
1.4.2 Externalidades schumpeterianas............................................................................ 29
1.4.3 Externalidades transacionais.................................................................................. 31
1.4.4 Externalidades institucionais ................................................................................. 33
CAPÍTULO 2 ................................................................................................................. 36
A formação dos Sistemas Produtivos Locais ................................................................. 36
2.1
Os sistemas locais de produção ............................................................................. 36
2.2
Tipologia de sistemas territoriais de produção ...................................................... 38
2.3
A formação e estruturação de sistemas locais de produção - Problemática .......... 45
PARTE II........................................................................................................................ 51
Os Arranjos Produtivos Locais das empresas de móveis e de confecções do Estado de
Minas Gerais: características e funcionamento .............................................................. 51
viii
CAPÍTULO 3 ................................................................................................................. 53
Aspectos metodológicos da pesquisa ............................................................................. 53
3.1. APLs Eleitos para a Pesquisa ................................................................................ 53
3.2. Tipo de pesquisa Desenvolvida ............................................................................. 55
3.3. Técnicas de coleta e análise dos dados.................................................................. 55
3.4. Desenvolvimento da pesquisa ............................................................................... 58
3.5. Limitações do estudo ............................................................................................. 62
CAPÍTULO 4 ................................................................................................................. 63
Os arranjos produtivos locais de móveis de Minas Gerais............................................. 63
4.1
Cadeia Produtiva de móveis .................................................................................. 64
4.2
A indústria moveleira no âmbito internacional, nacional e no Estado de Minas
Gerais.............................................................................................................................. 65
4.3
4.2.1
Panorama Internacional .............................................................................. 65
4.2.2
Panorama Nacional..................................................................................... 66
4.2.3
Panorama de Minas Gerais ......................................................................... 69
Os Arranjos Produtivos Locais das empresas de móveis estudados em Minas
Gerais.............................................................................................................................. 71
4.3.1
O APL de Ubá ............................................................................................ 71
4.3.2
O APL de Carmo do Cajuru ....................................................................... 98
CAPÍTULO 5 ............................................................................................................... 120
Os arranjos produtivos locais de confecções de Minas Gerais..................................... 120
5.1
Cadeia Produtiva Têxtil ....................................................................................... 120
5.2
A indústria de confecção no âmbito internacional, nacional e no Estado de Minas
Gerais............................................................................................................................ 122
5.3
5.2.1
Panorama Internacional ............................................................................ 122
5.2.2
Panorama Nacional................................................................................... 123
5.2.3
Panorama de Minas Gerais ....................................................................... 125
Os Arranjos Produtivos Locais de empresas de confecções estudados em Minas
Gerais............................................................................................................................ 127
5.3.1
O APL de Muriaé ..................................................................................... 127
5.3.2
O APL de São João Nepomuceno ............................................................ 151
PARTE III .................................................................................................................... 173
Análise da formação, desenvolvimento e estruturação de APLs da indústria tradicional,
produtores de móveis e de artigos de confecção no Estado de Minas Gerais .............. 173
ix
CAPÍTULO 6 ............................................................................................................... 175
Origem e evolução dos APL moveleiros e de confecção mineiros .............................. 175
6.1
Origem dos APLs mineiros ................................................................................. 175
6.2
Condicionantes territoriais de incentivo ao surgimento dos aglomerados .......... 177
6.3
A evolução e estruturação dos aglomerados produtivos mineiros ...................... 179
6.4
Modelo de formação e desenvolvimento dos APLs em Minas Gerais................ 185
Análise dos condicionantes territoriais dos APLs mineiros ......................................... 188
7.1
Análise das especificidades da produção de móveis e de confecção .................. 189
7.2
Análise comparativa dos condicionantes dos APLs de Ubá e Carmo do Cajuru 193
7.3
7.2.1
Condicionantes Marshallianos.................................................................. 193
7.2.2
Condicionantes Schumpeterianos............................................................. 196
7.2.3
Condicionantes transacionais ................................................................... 198
7.2.4
Condicionantes Institucionais................................................................... 200
Análise comparativa dos condicionantes dos APLs de Muriaé e São João
Nepomuceno................................................................................................................. 201
7.4
Considerações gerais sobre os condicionantes territoriais .................................. 207
CAPÍTULO 8 ............................................................................................................... 212
Sugestões de políticas privadas e públicas para os APLs mineiros e pistas para novas
pesquisas....................................................................................................................... 212
8.1
Sugestões de políticas privadas e públicas .......................................................... 212
8.1.1.
Ações que extensivas a todos os APLs.................................................... 215
8.1.2.
Ações Específicas para cada APL ............................................................ 216
8.1.2.1. Ações Específicas para o APL de Ubá ..................................................... 216
8.1.2.2. Ações Específicas para o APL de Carmo do Cajuru ................................ 217
8.1.2.3. Ações Específicas para o APL de Muriaé ................................................ 217
8.1.2.4. Ações Específicas para o APL de São João Nepomuceno ....................... 218
8.2
Pistas para novas pesquisas ................................................................................. 218
CONCLUSÃO.............................................................................................................. 223
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 228
ANEXO I...................................................................................................................... 244
Roteiro de entrevista usado na primeira fase da pesquisa de campo............................ 244
ANEXO II .................................................................................................................... 260
Roteiro de entrevista aplicada aos fabricantes na segunda fase da pesquisa de campo 260
x
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1.
Tipologia de Arranjo Produtivo Local.......................................................22
Tabela 2.
Fontes de coleta de dados dos APLs pesquisados .....................................57
Tabela 3.
Condicionantes territoriais utilizados para analisar os APLs estudados ...61
Tabela 4.
Dados Gerais da Indústria Moveleira Mundial em 2005...........................65
Tabela 5.
Característica dos principais produtores mundiais de móveis...................66
Tabela 6.
Número de estabelecimentos produtivos do setor moveleiro, número
de trabalhadores relacionados e valor das exportações, por Estado
Brasileiro ...................................................................................................67
Tabela 7.
Principais Pólos Moveleiros e Potenciais no Brasil ..................................67
Tabela 8.
Característica dos principais produtores nacionais de móveis ..................68
Tabela 9.
Participação percentual no emprego da indústria de móveis em Minas
Gerais: regiões selecionadas (2007) ..........................................................69
Tabela 10.
Participação no número de estabelecimentos da indústria de móveis
em Minas Gerais – regiões selecionadas (2007) .......................................70
Tabela 11.
Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado
e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de
Ubá – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00)................................................72
Tabela 12.
Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes, a preços de mercado e
PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de Ubá ........73
Tabela 13.
Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo
Produtivo Local .........................................................................................88
Tabela 14.
Relação de cursos de capacitação oferecidos pelo SENAI de Ubá ...........96
Tabela 15.
Grupos temáticos do APL de Ubá e região e suas atribuições ..................98
Tabela 16.
Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado
e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de
Divinópolis – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00)....................................99
Tabela 17.
Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado
e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de
Carmo do Cajuru no período de 1999 a 2004..........................................100
Tabela 18.
Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo
Produtivo Local .......................................................................................113
xi
Tabela 19.
Principais fontes de aquisição de materiais pelas empresas moveleiras
de Carmo do Cajuru.................................................................................117
Tabela 20.
Evolução do segmento do vestuário nos principais continentes (em
bilhões de US$) .......................................................................................123
Tabela 21.
Especificidades do setor do vestuário identificado no Brasil ..................124
Tabela 22.
Número de estabelecimentos produtivos do setor moveleiro, número
de trabalhadores relacionados por Estado Brasileiro...............................124
Tabela 23.
Participação percentual no emprego da indústria do vestuário em
Minas Gerais – regiões selecionadas (2007) ...........................................126
Tabela 24.
Participação no número de estabelecimentos da indústria do vestuário
em Minas Gerais – regiões selecionadas (2007) .....................................126
Tabela 25.
Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado
e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de
Muriaé – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00).........................................128
Tabela 26.
Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado
e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de
Muriaé no período de 1999 a 2004..........................................................129
Tabela 27.
Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo..142
Tabela 28.
Resultado da participação de empresas do APL de vestuário de Muriaé
em feiras especializadas...........................................................................144
Tabela 29.
Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado
e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, segundo
microrregiões – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00) ..............................152
Tabela 30.
Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado
e PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de São
João Nepomuceno no período de 1999 a 2004........................................153
Tabela 31.
Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao arranjo
de São João Nepomuceno........................................................................164
Tabela 32.
Condicionantes territoriais favoráveis ao surgimento das pequenas
empresas dos APLs estudados.................................................................178
Tabela 33.
Comparação dos APLs de Ubá e Carmo do Cajuru, de acordo com a
classificação de Mytelka e Farinelli ........................................................194
Tabela 34.
Comparativo dos condicionantes marshallianos entre Carmo do Cajuru
e Ubá........................................................................................................195
xii
Tabela 35.
Comparativo dos condicionantes schumpeterianos entre Carmo do
Cajuru e Ubá............................................................................................197
Tabela 36.
Comparativo dos condicionantes Transacionais entre Carmo do Cajuru
e Ubá........................................................................................................199
Tabela 37.
Comparativo dos condicionantes Institucionais entre Carmo do Cajuru
e Ubá........................................................................................................201
Tabela 38.
Comparação dos APLs de Muriaé e São João Nepomuceno, de acordo
com a classificação de Mytelka e Farinelli..............................................202
Tabela 39.
Comparativo dos condicionantes marshallianos entre Muriaé e São
João Nepomuceno ...................................................................................203
Tabela 40.
Comparativo dos condicionantes shumpterianos entre Muriaé e São
João Nepomuceno ...................................................................................204
Tabela 41.
Comparativo dos condicionantes Transacionais entre Muriaé e São
João Nepomuceno ...................................................................................206
Tabela 42.
Comparativo dos condicionantes Institucionais entre Muriaé e São
João Nepomuceno ...................................................................................207
xiii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Curva “U” e estratégias competitivas genéricas...........................................15
Figura 2. Curva “U” e estratégias competitivas genéricas ampliadas..........................18
Figura 3. Processos e desafios para o desenvolvimento ..............................................36
Figura 4. Tipologias dos sistemas territoriais de produção..........................................41
Figura 5. Resumo das tipologias do sistema territorial de produção ...........................44
Figura 6. Os APLs mineiros Estudados e suas respectivas áreas de abrangência .......54
Figura 7. Cadeia produtiva do setor moveleiro............................................................64
Figura 8. Estrutura do Arranjo Produtivo de móveis de Ubá ......................................80
Figura 9. Linha de produção de móveis chapeados e pintados....................................81
Figura 10. Linha de produção de móveis em madeira maciça conjugado com chapas .82
Figura 11. Linha de produção de móveis tubulares .......................................................84
Figura 12. Principais linhas de produtos do Arranjo de Ubá .........................................85
Figura 13. Destinação das vendas dos produtos do APL de Ubá ..................................89
Figura 14. Participação em feiras...................................................................................90
Figura 15. Itens terceirizados pelas empresas................................................................90
Figura 16. Serviços gerais terceirizados pelas empresas do APL..................................91
Figura 17. Tipo de relacionamento entre fabricantes e fornecedores ............................95
Figura 18. Estrutura do Arranjo Produtivo Moveleiro de Carmo do Cajuru ...............107
Figura 19. Processo produtivo de produtos em madeira maciça de Carmo do Cajuru 108
Figura 20. Linha de produção de móveis em madeira maciça conjugado com chapas109
Figura 21. As linhas de produtos fabricados pelas empresas de Carmo do Cajuru .....110
Figura 22. Destinação das vendas de móveis de Carmo do Cajuru .............................114
Figura 23. Participação em feiras pelas empresas de Carmo do Cajuru ......................114
Figura 24. Itens terceirizados e o percentual de empresas que terceirizam .................115
Figura 25. Cadeia Produtiva Têxtil – Vestuário/Confecções.......................................121
Figura 26. Estrutura do Arranjo Produtivo de Vestuário de Muriaé............................138
Figura 27.
região
Diagrama do processo produtivo da indústria do vestuário de Muriaé e
..............................................................................................................138
Figura 28. Principais linhas de produtos do Arranjo Produtivo de Muriaé .................139
Figura 29. Destinação das vendas dos artigos em confecção de Muriaé .....................143
Figura 30. Participação em feiras.................................................................................144
Figura 31. Estrutura do Arranjo Produtivo de Vestuário de São João Nepomuceno ..159
xiv
Figura 32. Diagrama do processo produtivo da indústria do vestuário de São João
Nepomuceno ..............................................................................................................160
Figura 33. Principais linhas de produtos do Arranjo Produtivo de São João
Nepomuceno ..............................................................................................................161
Figura 34. Participação em feiras.................................................................................165
Figura 35. Itens terceirizados nas atividades de produção das empresas de São João
Nepomuceno ..............................................................................................................166
Figura 36. Serviços gerais terceirizados pelas empresas de São João Nepomuceno...166
Figura 37. Estrutura Geral dos Arranjos Produtivos Locais ........................................185
Figura 38. Modelo de formação desenvolvimento dos APLs mineiros.......................186
xv
SIGLAS E ABREVIAÇÕES USADAS
ABIMÓVEL: Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário
ABRAVEST: Associação Brasileira do Vestuário
ACIU: Associação Comercial e Industrial de Ubá
ACIUBÁ: Associação Comercial e Industrial de Ubá
ACM: Associação Comercial de Muriaé.
ADMR: Agência de Desenvolvimento de Muriaé e Região
ADR: Agência de Desenvolvimento Regional
ADUBAR: Agência de Desenvolvimento de Ubá e Região
APEX: Agência de Promoção de Exportações e Investimentos
APL: Arranjo Produtivo Local
ASSIMODA: Associação das Indústrias de Moda
BASA: Banco da Amazônia
BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAD - Computer Aided Design
C&T: Ciência e Tecnologia
CDL: Clube de Diretores Lojistas
CEAG-MG: Centro de Apoio a Pequenas e Médias Empresas de Minas Gerais
CEBRAE: Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa
CEF: Caixa Econômica Federal
CETIQT: Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil
CNI: Confederação Nacional da Indústria
CONDESSC: Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Setor de
Confecções
CONFEX: Consórcio de Exportação de Artigos em de Confecção
CTC: Cadeia Produtiva Têxtil
DRMR: Delegacia Regional de Muriaé e Região
EQUIPOTEL: Feira de equipamentos para hotéis e restaurantes
FAGOG: Faculdade Ubaense Governador Ozanam Coelho
FEMAP: Feira de Máquinas e Matérias-Primas
FEMMUR: Feira de Móveis e de Máquinas de Ubá e Região
FEMOCC: Feira de Móveis de Carmo do Cajuru
xvi
FEMUR: Feira de Móveis de Ubá e Região
FENAVAM: Feira Internacional da Indústria Moveleira
FENIT: Feira Nacional da Indústria Têxtil
FEVEST: Feira Brasileira de Moda Íntima
FIEMG: Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
GEOR: Gestão Estratégica Orientada para Resultados
GREMI: Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs
IBGE: Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística
ICMS: Imposto sobre circulação de mercadoria e serviço
IEDI – Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial
IEL: Instituto Euvaldo Lodi
INDI: Instituto Nacional de Desenvolvimento Industrial
INTERSIND: Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Marcenaria de Ubá
IPC: Índice de Preço ao Consumidor
MCT: Ministério da Ciência e Tecnologia
MDF: Medium-density fiberboard
MDIC: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
MME: Ministério de Minas e Energia
MOVEXPORT: Associação dos Exportadores de Móveis de Ubá e Região
P&D: Pesquisa e Desenvolvimento
PIB: Produto Interno Bruto
PME: Micro, Pequena e Média Empresa
PRODER: Programa de Desenvolvimento e Renda
RAIS/MTE: Relação Anual de Informações Sociais, Ministério do Trabalho
REDESIST: Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SESI: Serviço Social da Indústria
SETEX: Programa de capacitação para exportação
SIF: Serviço de Investigações Florestais
SINDIMOV-MG: Sindicato das Indústrias do Mobiliário e de Artefatos de Madeira no
Estado de Minas Gerais
SINDIVEST: Sindicato das Indústrias do Vestuário de São João Nepomuceno
SMDE: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Muriaé
xvii
SOAC: Sindicato dos trabalhadores na Indústria de Confecções de Roupa
SPILs: Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
SPL: Sistema Produtivo Local
UEMG: Universidade Estadual de Minas Gerais
UFJF: Universidade Federal de Juiz de Fora
UFLA: Universidade Federal de Lavras
UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais
UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFV: Universidade Federal de Viçosa
UNIPAC: Universidade Presidente Antônio Carlos
xviii
INTRODUÇÃO
As discussões sobre a importância do território como fator de desenvolvimento
tem-se intensificado a partir da análise do desenvolvimento econômico ocorrido na
Terceira Itália (Itália) e no Vale do Silício1 (EUA), nas décadas de 70 e 80, originado
pela concentração de micro, pequenas e médias empresas organizadas na forma de redes
relacionadas (PMEs), que aponta a localização como fonte de vantagens competitivas.
Essas regiões apresentaram altas taxas de crescimento em relação à média regional em
seus respectivos países, bem como, de outros países, num quadro de recessão
econômica2.
Em termos da análise espacial, houve um renovado interesse pelas idéias de
Alfred Marshall3, que destacou os ganhos de eficiência decorrentes dos aglomerados
produtivos, em que pequenas firmas se agrupam no que ele chamou de “distritos
industriais”. Esses ganhos de eficiência se devem a externalidades positivas que geram
rendimentos crescentes a partir da proximidade locacional, como aglomeração da oferta
e da demanda e transbordamentos de conhecimento.
Neste contexto, algumas terminologias para descrever essas manifestações
territoriais surgiram, ressaltando os termos Arranjos Produtivos Locais (APLs) e
Sistemas Produtivos Locais (SPLs). Apesar desses conceitos ainda serem muito
discutidos, neste trabalho será usado o conceito de APLs4 desenvolvido pela Redesist5,
1
O Vale do Silício foi caracterizado pela implantação de inúmeras PMEs, especializadas em tecnologia
de ponta, que trabalham num regime de produção horizontalizado, em que cada empresa se especializa
em uma parte do produto. Este se constitui um dos casos de maior sucesso da indústria americana, no qual
a Universidade de Stanford (Califórnia) teve papel fundamental no que tange ao incentivo à cooperação
entre as firmas e promoção do dinamismo econômico da região. Segundo Mateu (2003), isso associado à
existência de uma oferta razoável de insumos e serviços especializados incentivou o surgimento e
desenvolvimento de pequenas firmas na região. As informações e experiências têm fluxo livre entre as
firmas, o que é facilitado pelo fato de os técnicos também terem bastante mobilidade entre as firmas.
2
Outros estudos, envolvendo os Sistemas Territoriais de Produção, mostraram inúmeros casos de
sucessos, em diversos países, como Baden-Wurttemberg, na Alemanha; West Jutland, na Dinamarca;
Fuenlabrada, Catellón, Mondragón e o Vallés Oriental, na Espanha; Centre-Maurice, Montrèal e BoisFrancs, no Quebec, Canadá; Silicon Valley, Route 128 e partes da Grande Los Angeles, nos Estados
Unidos; etc. No Brasil, ressaltam-se os casos do Vale dos Sinos/RS e Franca/SP, associados à produção
calçadista, São José dos Campos/SP, à de aeronaves e Nova Friburgo, à de moda íntima.
3
Embora Marshall nunca tenha mencionado o termo espaço em seus escritos
4
“... aglomerados territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto
específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente
envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços
finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços,
comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem
também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos
1
que é o mais amplo, incluindo desde arranjos mais rudimentares até os mais complexos
e articulados. Além disso, o uso desse conceito não envolve juízo de valor quanto à
ocorrência ou não de inovação ou mesmo se há uso sistemático de sistemas de inovação.
O presente trabalho acadêmico trata de investigação, até então pouco
contemplada de forma sistemática na literatura especializada, sobre os Sistemas
Territoriais de Produção no âmbito de Arranjos Produtivos Locais (APLs), do tipo
Distritos Marshallianos e a sua versão italiana, aprofundando questões específicas
referente à formação das firmas/empreendimentos e seu desenvolvimento em
aglomerados territoriais.
O entendimento deste tipo de organização industrial/regional passou a ser
importante na implementação de políticas de desenvolvimento de regiões e países, na
busca de estratégias que visem acelerar o ganho de competitividade por meio da
promoção, maturação e desenvolvimento de arranjos produtivos locais. No Brasil, no
âmbito do governo federal, a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
elegeu, dentre outras medidas, o fortalecimento dos APLs como forma de contribuição
ao desenvolvimento, buscando gerar capacitações, para elevar a competitividade no
cenário internacional (MDIC, 2003). Os APLs aptos a serem beneficiados pelos
mecanismos de política e suas instituições de apoio - BASA, SEBRAE, APEX, MDIC,
MME, CEF, BNDES, IEL, etc. – foram identificados e divulgados pelo MDIC6. No
âmbito dos Estados e das agências federais de desenvolvimento regional, vários deles
apostam no desenvolvimento e no êxito destes sistemas territoriais de produção.
Entretanto, um pacote de incentivos de uma política industrial genérica para os
APLs tem apresentado dificuldades. O fato das empresas estarem agrupadas em
determinado aglomerado produtivo não garante a geração de vantagens provenientes de
economias externas e nem se pode afirmar que os benefícios trazidos por um
determinado aglomerado territorial poderão ser obtidos em outros aglomerados. Além
disso, os aglomerados são diversificados, tendo diferentes graus de desenvolvimento, de
integração da cadeia produtiva, de articulação, associativismo, de integração entre os
agentes e instituições locais e de capacidade para inovação. Essas diferenças são
humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa desenvolvimento e engenharia; política,
promoção e financiamento” (Cassiolato & Lastres, 2003:27).
5
A Redesist – Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais - é uma rede de pesquisa
interdisciplinar, que tem como foco de pesquisa os arranjos e sistemas produtivos locais. É coordenada
pelo Instituto de Economia da UFRJ. Foi formalizada no ano de1997.
6
www.desenvolvimento.gov.br, acesso em 28 de janeiro de 2007.
2
resultantes de vários fatores, tais como: a evolução histórica, a organização
institucional, o contexto social e cultural, a estrutura produtiva, as formas de inserção
nos mercados nacional e internacional, as estruturas de governança, a logística, dos
padrões de associativismo e de cooperativismo, as formas de aprendizado e de
disseminação do conhecimento local, como sugere Suzigan et. al., 2005. Outra
dificuldade está relacionada ao fato de que, muitas vezes, um simples aglomerado de
empresas é forçosamente denominado APL para ser beneficiado por políticas públicas
de apoio ao desenvolvimento do território.
É sabido que, na literatura contemporânea referente a Economia Industrial,
Economia Regional e Geografia Econômica, existem diversos estudos sobre Arranjos
Produtivos Locais. Parte significativa desses estudos está relacionada: com avaliações
ex post de características de arranjos e suas contribuições para o desenvolvimento
local/regional/nacional; com a identificação de potencial de aglomerações empresariais
em um setor; com o emprego de metodologias de identificação de arranjos produtivos
locais, etc. Porém, há carência de estudos que busquem compreender a natureza do
fenômeno, compreendendo a formação, o desenvolvimento e a estruturação desses
arranjos. Entendemos que tais estudos podem contribuir para o melhor entendimento do
fenômeno, bem como para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes.
O avanço das metodologias de identificação e classificação de APLs, em geral,
traz novas reflexões sobre este novo paradigma do desenvolvimento regional/local,
mostrando que essas manifestações surgem de forma espontânea numa região, iniciadas
pelo próprio ambiente local, baseado nos conhecimentos e habilidades dos agentes
sociais e das empresas locais. Por isso, a natureza da organização de um APL não pode
ser criada e nem imposta por lei. Eles são construídos por um processo de
endogeneização no território, de dentro para fora, em cima de uma lógica territorial,
levando em consideração o passado, a cultura, as relações exercidas entre empresas. Por
isso, cada APL possui suas especificidades.
Nesse processo de crescimento e desenvolvimento endógeno, a participação dos
territórios, principalmente em relação ao espaço urbano, tem sido considerada uma
questão importante, uma vez que, segundo Krugman (1991), ao avaliar a interação entre
demanda, custos de transporte e rendimentos crescentes, chega à conclusão de que o
empresário, ao decidir produzir, busca se localizar onde há procura elevada para
determinado tipo de especialização e esse aumento da procura torna-se forte atrativo
para novos produtores. Assim, um mercado urbano menos dinâmico apresentaria
3
limitações para o crescimento das firmas e, conseqüentemente, para a opção de
localização, uma vez que, reduziria as possibilidades da geração das economias de
escala, repercutindo no crescimento das firmas do APL.
Se um mercado urbano pouco dinâmico limita e condiciona o desenvolvimento
das firmas aglomeradas em espaço restrito, então, como os APLs, nesses espaços, foram
estruturados dentro de uma lógica territorial, de modo que se tornassem fatores de
localização capazes de atrair e manter empresas relacionadas entre si?
Assim, o estudo tem como objetivo geral analisar quatro arranjos produtivos
locais da indústria tradicional7, envolvendo a produção de móveis e confecções, préselecionados no Estado de Minas Gerais, de modo a identificar a trajetória empresarial e
territorial desses APLs, ou seja, identificar como esses APLs se formaram, como se
desenvolveram, como estão estruturados. Pergunta-se se há algum modelo de trajetória
setorial e/ou territorial identificável, o que seria útil ao aprimoramento de políticas
públicas direcionadas para o fortalecimento desse tipo de organização empresarial, que
tem base na estruturação do território. Para atingir a finalidade proposta, o estudo
envolve: a) a gênese desses APLs, por meio do levantamento do histórico de criação e
desenvolvimento de cada aglomerado; b) o processo de formação desses APLs; c) o
levantamento dos agentes envolvidos; d) o relacionamento entre as empresas dentro dos
aglomerados; e e) os tipos de externalidades territoriais que podem estar contribuindo
ou servindo de restrição para o desempenho desses APLs.
O Estado de Minas Gerais foi escolhido em virtude de suas condições históricas
de ocupação e a natureza técnica das primeiras indústrias que levou a um padrão
disperso de localização8. Com isso, verificam-se disparidades regionais significativas,
apresentando áreas industriais com nítidas diferenças de dinamismo. No Estado há
7
Segundo Kupfer (1998), a indústria tradicional é aquela que, independentemente do sistema técnico de
produção adotado – contínuo ou montagem -, têm como identidade a elaboração de produtos
manufaturados de menor conteúdo tecnológico, em geral, destinados ao consumo final. Correspondem a
atividades que historicamente foram as primeiras a serem organizadas industrialmente, como as indústrias
de alimentos, têxtil e vestuário, calçados e de móveis.
8
A antiga capital, Ouro Preto, pela ausência de entorno agrícola e de condições físico-territoriais, nunca
exerceu o papel de um centro urbano com capacidade de polarizar as suas várias regiões. Belo
Horizonte, só exerceu influência sobre a vida econômica do Estado a partir da década de 30. A indústria
têxtil foi localizada de forma desconcentrada, em razão da existência de excedente econômico e de
quedas d’água, que pudessem funcionar como fontes energéticas. A indústria siderúrgica, após várias
tentativas fracassadas, foi-se localizando na Região Central do Estado, devido à disponibilidade de
matérias-primas, porém de forma dispersa. A indústria de alimentos ora acompanhava a distribuição da
produção agrícola, ora vinculava-se aos pequenos mercados locais das antigas cidades, criadas à época da
mineração, ou às novas cidades que nasciam ou se expandiam, em função da dinâmica regional da
agricultura e da pecuária(Figueiredo & Diniz, 2000).
4
microrregiões9 em depressão, estagnadas, de crescimento moderado, de rápido
crescimento e de crescimento acelerado (Figueiredo & Diniz, 2000). Como
conseqüência, tem apresentado desempenho econômico e social aquém do seu
potencial, com altos níveis de desemprego; necessidade de investimento em infraestrutura; baixa geração de emprego dos novos, grandes e médios projetos industriais e
as condições sociais precárias em grande parte do Estado (FIEMG, 1999). Porém, o
Governo Estadual acredita na dinamização, dos APLs mineiros, como instrumento
inovador de política de desenvolvimento regional, para solucionar tais problemas,
mesmo porque, foram identificados pelo MDIC, 89 APLs, em Minas Gerais, fazendo
com que este Estado ocupasse uma posição de 2º lugar, em número de APLs eleitos em
território nacional.
Foram escolhidos os APLs da indústria tradicional, uma vez que este tipo de
aglomerado, por não nascer de uma infra-estrutura de Ciência e Tecnologia (C&T), em
muitos casos, não possui formas embrionárias de coordenação e de governança. Podem
entrar num círculo vicioso de estagnação ou regressão, caso não recebam apoio
explícito do setor público, especialmente do poder local (Lemos et. al., 2003).
Como muitos aglomerados de empresas têm sido enquadrados como APL para
serem beneficiados por políticas públicas de apoio ao desenvolvimento, optou-se por
restringir o estudo aos APLs de dois ramos tradicionais da indústria – moveleira e de
confecção –, reconhecidos pelos governos Federal e Estadual e, ainda, que sofrem
atuação do SEBRAE10 e/ou do IEL11. Foram escolhidos os seguintes APLs: APL do
Pólo Moveleiro de Ubá; APL da Indústria de Móveis de Carmo do Cajuru; APL da
Indústria de Confecção de Muriaé e; APL da Indústria do Vestuário de São João
Nepomuceno. A comparação de APLs de um mesmo segmento contribui na
identificação de diferentes fases de desenvolvimento e nas especificidades locais.
No que se refere à metodologia da pesquisa, a pesquisa foi desenvolvida por
meio da abordagem denominada Pesquisa Qualitativa, de cunho descritivo. O universo
da pesquisa foram os próprios arranjos produtivos locais estudados. A coleta de dados
9
Os 853 municípios mineiros foram agrupados em 66 microrregiões.
10
http://www.sebrae.com.br/br/cooperecrescer/aplssebraeatua_1698.asp acessado em 28 de janeiro de
2007.
11
http://www.fiemg.com.br/content/diretoria/PublicacaoHTML.asp?cod_pai=268&cod_diretoria=268&no
m_diretoria=APLs%2020Arranjos%20Produtivos%20Locais&cod_pasta_pai=&cod_publicacao=3094&PastasAbertas) acessado
em 28 de janeiro de 2007
5
foi desenvolvida por meio das técnicas de pesquisa bibliográfica, pesquisa documental,
entrevista semi-estruturada e entrevista estruturada. A entrevista semi-estruturada foi
desenvolvida de modo focalizado, tendo-se por base para o seu desenvolvimento um
roteiro, elaborado em função dos itens que se desejava investigar. Já a entrevista
estruturada foi desenvolvida após o estudo dos dados obtidos na fase anterior, por meio
da aplicação de um questionário estruturado a amostras de empresas dos APLs.
Em relação a estrutura da tese, esta foi dividida em três partes.
Na parte I, composta por dois capítulos, procurou-se fazer uma revisão de
literatura de modo a construir um embasamento teórico relativo ao processo de
formação de Arranjos Produtivos Locais. No Capítulo 1, foram levantados as principais
definições e conceitos de temas como redes de empresa, aglomerados produtivos e
sistemas produtivos locais. No Capitulo 2, foram discutidos temas relacionados com a
formação e estruturação de SPLs, abordando temas como: a localização e os aspectos
regionais como vantagens competitivas, tipologias de sistemas territoriais de produção,
o surgimento dos sistemas produtivos locais. Neste capítulo foi levantada a
problemática da temática que norteia o desenvolvimento do trabalho da pesquisa.
Na parte II, composta por três capítulos, procurou-se apresentar os dados
coletados na pesquisa de campo envolvendo os quatro APLs. No Capítulo 3 foi descrita
a metodologia do trabalho, levantando os métodos, as técnicas e limitações da pesquisa.
No Capítulo 4, foram apresentados os estudos envolvendo os APLs da indústria
moveleira, seguida da análise comparativa dos dois arranjos pesquisados, com base nos
condicionantes territoriais levantados. No Capítulo 5, foram apresentados os estudos
envolvendo os APLs da indústria de confecção, seguida da análise comparativa dos dois
arranjos pesquisados, com base nos condicionantes territoriais levantados.
Na parte III, composta de três capítulos, procurou-se consolidar os estudos da
pesquisa de campo, envolvendo os arranjos selecionados, confirmando-se a hipótese
desta tese, que em síntese encontra-se na conclusão. No Capítulo 6, foi mostrada a
origem e a evolução dos APLs estudados, e, com base nesta análise, foi criado o modelo
de formação e desenvolvimento destes aglomerados. No Capítulo 7, foi feita a análise
dos
condicionantes
territoriais
das
correntes
de
pensamento
Mashallianas,
Shumpterianas, Transacionais e Institucionais. No Capítulo 8, foram sugeridas políticas
para os APLs estudados e, ainda, foram sugeridas novas pesquisas, dando continuidade
a este trabalho.
6
PARTE I
Embasamento teórico relativo ao processo de formação de arranjos
produtivos locais
7
Nas
últimas
décadas,
a partir das
experiências
bem
sucedidas
de
desenvolvimento econômico ocorridas na Terceira Itália e Vale do Silício, têm-se
intensificado as discussões sobre a importância de manifestações territoriais, no âmbito
de sistemas Produtivos Locais, como forma de organização da produção que induz o
desenvolvimento local. Por isso, tais manifestações têm sido perseguidas por políticas
de planejamento e desenvolvimento para incentivar sua propagação nas diversas regiões
dos países. O interesse por esse tipo de organização diz respeito ao fato de que essa
forma de organização industrial, desenvolvida dentro de uma lógica territorial, tem
contribuído para ganhos em termos de competitividade em todo mundo, servindo como
importante estratégia de sobrevivência para as micro, pequenas e médias empresas.
A partir de então, houve crescente convergência entre visões de diferentes
escolas de pensamento de que o foco de análise de competitividade deixasse de ser
exclusivamente a firma e passasse a incidir sobre as relações entre firmas e entre estas e
demais instituições dentro de um espaço restrito. A noção de competitividade
incorporou fatores situados fora do âmbito das firmas, considerando-se: a) as
externalidades aglomerativas, como infra-estruturas, aparato político institucional e
regulatório, centros de educação e formação, mão-de-obra qualificada; b) a estrutura da
indústria e organização da firma com base nas redes e oligopólio global; c) as
preocupações com os aspectos relacionados com as mudanças tecnológicas e; d) os
elementos não mercantis do ambiente territorial, como práticas cooperativas não
formais e vínculos institucionais.
Nesta primeira parte do trabalho, procurou-se fazer uma revisão bibliográfica,
levantando os principais conceitos, definições e temas relacionados com as
manifestações territoriais e aspectos regionais como vantagem competitiva, fornecidas
pela literatura internacional. Assim, além da construção da hipótese da tese, nesta parte,
foram consolidados grupos de condicionantes territoriais que serviram de base para
analisar, num segundo momento, a formação, o desenvolvimento e a estruturação de
Arranjos Produtivos Locais no Estado de Minas Gerais.
8
CAPÍTULO 1
Redes, aglomerados produtivos e os Sistemas Produtivos Locais
1.1
Definição e características das redes de empresa
De acordo com Britto (2002), nas últimas décadas, houve diversas tendências
relacionadas ao padrão evolutivo das principais economias capitalistas, tais como: a)
consolidação de um paradigma organizacional, com base na experiência de empresas
japonesas, incorporando novos princípios gerenciais, que enfatizam a cooperação
interindustrial nas articulações entre produtores e fornecedores; b) estruturação de
sistemas produtivos com base na especialização flexível; c) intensificação da
concorrência e a globalização dos mercados, que resulta em estímulos a montagem de
alianças estratégicas com múltiplos formatos entre empresas; d) consolidação de novas
tecnologias de informação e de comunicação, que facilitam a interação entre agentes; e)
evolução no sentido de uma nova sistemática de realização de atividades inovativas,
crescentemente baseadas na aglutinação de múltiplas competências e em projetos
cooperativos de caráter interdisciplinar; f) mudança de enfoque da política industrial
implementada em diversos países, apoiando redes de empresas, em contraposição ao
apoio a empresas isoladas.
Em decorrência dessas mudanças, surgem as chamadas redes de firmas, em que
as relações entre os participantes, freqüentemente, são pautadas por relações de longo
prazo e pelo comprometimento mútuo dos parceiros com investimentos em ativos
específicos e padrões operacionais compatíveis ao longo da cadeia produtiva12. Na
busca pelo conceito do termo “rede”, Amato Neto (2000:46) mostrou que o conceito é
muito abrangente e complexo. As diversas definições apresentadas por autores como
Ribault et. al. (1995), Ceglie & Dini (1999), Podolny & Page (1998) e Wegner et. al.
(2004), mostram que as redes de empresas se caracterizam como grupo de organizações
12
A cadeia produtiva é definida como um conjunto de atividades interdependentes que têm por objetivo
produzir, modificar e distribuir um produto (Zylbersztain et. al., 1993). Essas atividades se articulam
desde os insumos básicos até o consumidor final do produto, incluindo o processamento da matéria-prima
e sua transformação, a distribuição e a comercialização do produto, constituindo os elos de uma corrente
ou cadeia. As cadeias são importantes, já que são responsáveis por suprir o consumidor final de produtos
em quantidade e qualidade compatíveis com suas necessidades e a preços competitivos (IEL, 2003).
9
que colaboram entre si, visando atingir objetivos comuns, por meio de relações
horizontais ou verticais.
Nesse sentido, Britto (2002) define redes de empresas como arranjos
interorganizacionais, baseados em vínculos sistemáticos entre empresas independentes,
que dão origem a uma forma particular de coordenação das atividades econômicas.
Segundo o autor, a amplitude e a complexidade das interdependências entre
empresas e outras organizações ou instituições tem sido caracterizadas em temas
diversos, como: a) alianças estratégicas e outras formas de cooperação produtiva e
tecnológica entre empresas; b) programas de cooperação específicos, envolvendo
agentes com competências em áreas distintas, que interagem entre si para viabilizar
determinada inovação; c) processos de subcontratação e de terceirização realizados por
empresas especializadas em determinadas atividades; d) sistemas flexíveis de produção,
baseados em relações estáveis e cooperativas entre empresas atuantes em determinado
ramo de atividades; e) distritos industriais baseados na aglomeração espacial de
empresas e outras instituições, que interagem entre si no âmbito de determinada região;
f) sistemas nacionais e regionais de inovação baseados na especialização e interação de
diversos tipos de agentes envolvidos, com a realização de atividades inovativas, tais
como empresas, universidades, outras instituições, etc.
Num primeiro momento, as redes são formadas para reduzir o risco das regiões
perderem investimentos, em virtude da (re)localização de plantas produtivas e a sua
eventual instalação em outras regiões com menores custos de operação (Markusen,
1996). Assim, a organização das atividades econômicas, a partir da coordenação entre
empresas, pode ser uma estratégia importante para a redução da incerteza. Com o
fortalecimento
das
relações
das
empresas
envolvidas,
a
rede
proporciona:
competitividade, incremento na operacionalidade, investimento acessível, pesquisas,
tecnologia de qualidade, certificação de qualidade e rentabilidade (Abreu, 2002).
Isto mostra que a capacidade de atração de trabalho e capital de cada região ou
localidade passa a depender, cada vez mais, da capacidade da região de se especializar
naquilo que consiga estabelecer vantagens comparativas efetivas e dinâmicas. Essas
vantagens são decorrentes do seu conjunto de elementos naturais, econômicos, sociais,
culturais e políticos, complementares ou sistêmicos, associados à capacidade local de
promoção continuada de sua inovação.
10
De acordo com Markusen (1996), nessa linha de raciocínio, um tipo de rede
muito pesquisado se baseia na literatura sobre os novos distritos industriais, centrada na
expansão de indústrias na região conhecida como Terceira Itália.
A autora define um distrito industrial como uma área espacialmente delimitada,
com nova orientação de atividade econômica de exportação e especialização definida,
podendo ter como base recursos naturais ou certos tipos de indústria ou serviços.
Nestes distritos a capacidade de atração e de retenção de investimentos está
relacionada ao papel de firmas pequenas e inovadoras, articuladas em um arranjo
cooperativo de âmbito e direção regionais, o que lhes dá capacidade de adaptação e de
crescimento. No âmbito das discussões sobre a reorganização espacial da atividade
industrial, Markusen (1996) propõe tipologias de rede de empresas, com base em
distritos industriais.
1.2
Tipologia de rede de empresas proposta por Markusen
A tipologia de redes de empresa, focada em Distritos Industriais, proposta por
Markusen, é baseada na relação que as firmas mantêm com as outras do próprio distrito,
e também com aquelas fora dele; na flexibilização do trabalho; na identificação dos
trabalhadores com o distrito; na origem do mercado de trabalho; dentre outros fatores.
Assim, sugere a seguinte tipologia: Distrito Marshalliano; Distrito Centro Radial;
Distrito Plataforma Satélite e; Distrito Ancorado pelo Estado.
1.2.1 Distrito Industrial Mashalliano
O conceito de “distrito industrial” foi retomado na década de 1980 por alguns
autores, tais como Piore e Sabel (1984); Scott e Storper (1988), Storper e Scott (1989);
Garofoli, (1983); Becattini, (1987), Becattini (1989); Brusco (1990); e Schmitz &
Musyck (1994), em vários estudos de caso de industrialização e de desenvolvimento
locais. O conceito de distritos industriais se deu primeiramente pela análise que
enfocava os aspectos relativos ao desenvolvimento comum da Terceira Itália.
De acordo com Markusen (1996), o distrito industrial marshalliano é formado
por PMEs, em um determinado espaço, aproveitando economias externas de
aglomeração. Esse tipo de distrito é encontrado em duas formas: a) na formulação
original, conhecida na literatura como os Distritos Marshallianos; b) Na formulação
11
Italiana, conhecida na literatura como Distrito Industrial Italiano, que se trata de uma
variação do modelo descrito por Marshall.
Em sua formulação original, Marshall apresentou um padrão de organização
comum à Inglaterra dos fins do século XIX, na qual pequenas firmas, concentradas na
manufatura de produtos específicos de setores como têxtil, se localizavam
geograficamente em aglomerações, em geral na periferia dos centros produtores.
O modelo de Marshall mostra uma rede de transações entre empresas locais,
aglomeradas nas proximidades das minas de carvão e fontes de água, que adquirem
matérias-primas e serviços fora da região e, ainda, realiza transações comerciais com os
mercados externos ao distrito. Nesse tipo de distrito, há um conjunto relativamente
especializado de serviços, adequado às atividades locais: marketing, desenvolvimento
de produtos e máquinas e em serviços de manutenção e reparo. Tal também inclui
suporte financeiro local capaz de assumir riscos de longo-prazo, dada a confiança
depositada nos empresários da região.
O que torna esse distrito especial é a existência de economias externas, gerada
por ganhos significativos, originado do conjunto de empresas e do desempenho
individual, ressaltando a eficiência e competitividade das pequenas firmas de mesma
natureza localizadas no mesmo espaço geográfico. Isso permite o desenvolvimento de
identidade cultural local, uma capacidade industrial compartilhada e, ainda, um mercado
de trabalho altamente flexível, uma vez que, a vinculação do trabalhador está
relacionada com a região e não com a firma especialmente. Essa economia externa é
responsável pela atração e manutenção de investimentos.
Cabe ressaltar que, na formulação original de Marshall, não é mostrada a
cooperação consciente de cada um dos atores. Contudo, nas contribuições mais recentes,
a partir da década de 70, decorrentes das pesquisas sobre a experiência italiana, na
região da Emília-Romana (Terceira Itália) e sobre outros casos similares na Europa e
nos Estados Unidos, percebem-se esforços de cooperação conjunta entre atores locais.
Essa cooperação ocorre inclusive na dimensão da construção institucional que
melhoram a competitividade desses distritos.
A cooperação se dá em diversas formas, sendo quase impossível classificá-las.
Para Brusco (1992), as formas mais freqüentes estão relacionadas com: a) as relações de
amizade, permitindo empréstimo de insumos, cooperação para complementar uma
produção para atendimento a encomendas, podendo ou não ser utilizados acordos
formais; b) as relações entre produtores dos bens finais e subcontratados de etapas da
12
produção, que resultam em grande parte das inovações do distrito; c) as relações entre
várias empresas, com intuito de estabelecer economias de escala, requerendo um agente
de coordenação de suas atividades; d) as relações com as pequenas empresas,
viabilizando o uso de novas tecnologias e o alcance novos mercados.
Dessa forma, segundo Markusen (1996), as principais características dos novos
Distritos Mashallianos são: preponderância de pequenas empresas locais; economias de
escala pouco significativas; alta relevância das transações intra-distritais; decisões de
investimentos tomadas localmente; contratos e compromissos de longo-prazo entre
fornecedores e consumidores-intermediários locais; relacionamento pouco relevante
com firmas fora do distrito; mercado de trabalho interno à região altamente flexível;
trabalhadores mais identificados com o distrito do que com as empresas; altas taxas de
imigração de trabalhadores e baixas taxas de emigração; fontes locais de financiamento
a longo-prazo aos novos negócios; decidida atuação dos governos locais na regulação e
na promoção das principais indústrias; associações patronais fortes.
1.2.2 Distrito Industrial Centro Radial (Hub and Spoke)
No Distrito Industrial do tipo Centro Radial a estrutura regional é articulada em
torno de uma ou várias grandes corporações pertencentes a uma ou a algumas poucas
indústrias. Neste caso, há firmas atuando como empresas-chave ou eixos de economia
regional, congregando em torno de si fornecedores e outras atividades correlatas. São
exemplos de Centro Radial a cidade de Toyota no Japão, Ulsan e Pohang na Coréia do
Sul e São José dos Campos no Brasil.
Segundo Markusen (1996), as principais características desse distrito são:
estrutura econômica baseada em uma ou mais firmas verticalmente integradas; presença
significativa de economias de escala; baixas taxas de renovação no rol de empresaschaves atuantes no distrito; alta densidade de transações entre as firmas-chave e
fornecedores locais; investimentos mais importantes decididos no âmbito do distrito;
alto grau de cooperação e de ligações com firmas dentro e fora do distrito; mercado de
trabalho interno ao distrito é pouco flexível; irrelevância da cooperação entre as firmaschaves locais na assunção compartilhada de quaisquer riscos; altas taxas de imigração
de trabalhadores e baixa emigração; serviços financeiros especializados; importante
papel do governo local na regulação e na promoção das principais indústrias; alto grau
de participação do setor público na provisão de infra-estrutura; perspectivas econômicas
13
regionais de longo-prazo dependentes dos setores industriais e das estratégias das
firmas-chaves.
1.2.3 Distrito Industrial Plataforma Satélite
O Distrito Industrial do tipo Plataforma Satélite é basicamente constituído de
sucursais ou subdivisões de corporações multinacionais que tanto pode ter um caráter
high-tech, quanto se basear em filiais atraídas por baixos salários, baixos impostos e
incentivos governamentais.
A estrutura econômica desse tipo de distrito é centrada em grandes firmas, cujo
controle e a propriedade são externos ao distrito. Apresenta como principais
características: a) economias de escala de moderadas a altas; b) poucas alterações nas
empresas presentes no distrito; c) transações intra-distritais mínimas; d) decisões de
investimentos tomadas fora do distrito; e) compromissos de curto prazo com
fornecedores locais; f) cooperação com firmas fora do distrito; g) altas taxas de
migração de trabalhadores, tanto para fora quanto para dentro do distrito; h) importância
do governo local na provisão de infra-estrutura; i) perspectivas de crescimento
ameaçadas pela possibilidade de transferência das filiais e de suas atividades para
plataformas-satélites similares e que se mostrem mais atraentes.
1.2.4 Distrito Industrial Ancorado pelo Estado(state-centered)
O Distrito Ancorado pelo Estado é formado por PMEs que estão vinculados a
alguma
entidade
pública
tais
como
universidades,
base
militar,
agências
governamentais, que funcionam como âncoras do desenvolvimento econômico regional.
Nesse tipo de distrito as áreas de atração são o produto complexo de múltiplas
forças, envolvendo estratégias empresariais, estruturas industriais, ciclos de lucros,
prioridades de governos, política regional e nacional.
De acordo com Markusen (1996), esse tipo de distrito tem como características:
a) as relações intra-distritais são significativas entre as instituições dominantes e os seus
fornecedores; b) as decisões mais importantes sobre investimentos são tomadas em
diversas instâncias de governo; c) as redes de negócios são realizadas entre as
instituições e as empresas fornecedoras e consumidoras locais; d) a presença de
cooperação e negócios externos ao distrito; e) a presença de mercado de trabalho para
14
pessoal qualificado; f) as altas taxas de imigração de mão-de-obra; g) as perspectivas de
longo prazo do distrito dependem das principais atividades públicas ou estatais locais.
1.3
Outras tipologias envolvendo concentração espacial de firmas
Esta seção procura apresentar outras tipologias adotadas para explicar o
fenômeno de concentração espacial das firmas em determinadas regiões. As principais
definições adotadas são: Redes Topdown e redes flexíveis; Clusters Industriais, Milieu
Inovadores, Arranjo Produtivo Local, Sistema Produtivo Local e Sistemas Produtivos e
Inovativos Locais.
1.3.1 As Redes Topdown e as redes flexíveis
As tipologias apresentadas por Casarotto Filho & Pires (1998) são bem
abrangentes. Para explicar estratégia competitiva voltada para PMEs, basearam no
modelo desenvolvido por Porter (1986), denominado “modelo curva de U” (Figura 1).
Neste modelo, Porter mostra, por meio da relação rentabilidade e fatia de mercado, que
tanto a empresa que possui a menor fatia de mercado quanto a que possui a maior fatia
poderão ser rentáveis, dependendo da estratégia competitiva adotada.
Retorno do
Investimento
Ênfase no processo
Ênfase no
produto
flexibilidade
Produtos padronizados
Diferenciação
Liderança de custo
Figura 1. Curva “U” e estratégias competitivas genéricas
Parcela de
mercado
Fonte: Porter (1986)
Do lado esquerdo da curva, a empresa pode alcançar uma boa rentabilidade por
meio da diferenciação de produtos, produzindo sob encomenda ou, pelo menos, com
grande flexibilidade, ou, ainda, com alta qualidade ou estilo. Essas empresas, que
fabricam produtos diferenciados, conseguem fazer com que o cliente esteja disposto a
15
pagar pelo produto um preço acima do custo incorrido para produzir. Geralmente, a
ênfase dessas empresas é na tecnologia de produto. Do lado direito da figura, a empresa
pode alcançar boa rentabilidade por meio da liderança de custos, pela produção em larga
escala, de forma padronizada, com baixo preço final, com ênfase em tecnologia de
processo, exigindo maiores investimentos para manter sua posição no mercado. Neste
caso, as grandes empresas conseguem produzir com custos menores do que o preço que
os clientes estão dispostos a pagar.
Pelo modelo, a empresa teria que escolher entre ser pequena, competindo por
diferenciação de produto, ou grande, competindo por liderança de custos. As empresas
de porte mediano seriam burocratizadas demais, para produzir sob medida, ou sem
escala, para liderarem por custos (Porter, 1986).
No entanto, com a terceirização, a parceirização, a subcontratação, a facção e
outras formas de repasse da produção, criou-se a rede topdown, em que uma grande
empresa – denominada empresa mãe ou empresa âncora - passa a ter uma rede de
fornecedores dependentes, permitindo, assim, a competição por liderança de custos
(Casarotto Filho & Pires, 1998), uma vez que existem economias de escala (Storper &
Harrison, 1991). Por um lado, a organização da produção é governada pela empresa
âncora, fazendo com que a empresa fornecedora seja altamente dependente das
estratégias da empresa-mãe, com pouca ou nenhuma flexibilidade ou poder de
influência nos destinos da rede. Por outro lado, a pequena empresa pode beneficiar-se
da competência técnica da empresa principal, por meio de seus serviços de investigação
técnica, de sua capacidade em matéria de organização e de alguma forma de assistência
técnica (Paelinck, 1965). Os exemplos mais comuns desse tipo de rede ocorrem na
indústria automobilística e na agroindústria13 (Casarotto Filho & Pires, 1998).
Outro tipo de rede de empresas que passou a ter competitividade internacional
foi a rede flexível, formada por micro e pequenas empresas. Neste tipo de rede, as
empresas se unem, por meio de um consórcio14, para a fabricação de um produto ou
13
Algumas variações dessas redes são conhecidas como redes de subcontratação (Britto, 2002); Distrito
industrial do tipo centro radial ou tipo plataforma satélite (Markussen, 1996); e redes japonesas
(Robertson & Langlois,1995)
14
O consórcio gestor das redes de pequenas empresas representaria uma grande empresa em condições
competitivas. O consórcio pode ser verticalizado ou horizontalizado. É dito verticalizado, se a produção
dos componentes está distribuída entre os consorciados em cadeia. A montagem final pode estar com
empresas consorciadas ou com uma empresa específica criada pelo próprio consórcio, como é o caso da
produção dos equipamentos odontológicos e dos calçados do vale dos Sinos (RS). É dito horizontalizado,
se todos fazem o mesmo produto e o consórcio administra marca, vendas, desenvolvimentos tecnológicos,
monitoramento setorial, qualidade e padrões, ficando com os consorciados a produção, como é o caso do
16
parte dele, com comercialização, divulgação e assistência técnica exercidas pelas
próprias empresas do consórcio. As principais características desse tipo de rede são a
versatilidade e a capacidade de adaptação às novas condições ambientais e dos
mercados de referência (Casarotto Filho & Pires, 1998). Nesse tipo de redes, as
economias de escala são externas à firma, porém internas ao aglomerado ou à rede,
permitindo a redução dos custos e a endogeneização da capacidade tecnológica (Storper
& Harrison, 1991). Os exemplos mais comuns desse tipo de rede ocorrem nas indústrias
de calçados, móveis, cerâmica, confecção, etc. Como exemplos de redes flexíveis,
destacam-se os distritos industriais do tipo marshallianos, os distritos do tipo da
Terceira Itália e os Distritos lnovativos do Tipo Venture Capital, como aqueles
encontrados no Valle do Silício.
Cabe ressaltar que as economias externas, segundo Rabelotti (1995), apresentam
três diferentes formas: a) as estáticas, que são vinculadas à diminuição de custos
proporcionada pela localização específica; b) as dinâmicas, que são vinculadas a
processos espontâneos e socialmente difundidos, tais como treinamento educação,
acúmulo de conhecimento e; c) as de proximidade ou de urbanização, que são derivadas
dos menores custos de transação face à maior circulação de informações e ao
estreitamento dos contatos pessoais.
A partir da curva “U”, original de Porter, Casarotto Filho & Pires (1998)
construíram a Figura 2, representando as redes topdown e flexível. A análise dessa
figura mostra que a empresa pode competir das seguintes formas: a) diferenciação de
produto, associado ou não a um nicho de mercado; b) liderança de custo, participando
como fornecedora numa grande rede topdown; e c) flexibilidade/custo, participando de
uma rede de empresas flexíveis.
Em relação à coordenação dentro da estrutura industrial, Crocco et. al. (2001)
mostram que, se a estrutura de uma rede é do tipo topdown, existe uma empresa central
que coordenará as atividades. Porém, se a estrutura é do tipo redes de empresas, esse
papel centralizador da arbitragem competição-cooperação é executado por um agente
endógeno ao sistema, de modo que as empresas envolvidas não entrem em conflito, por
um lado, e nem eliminem a concorrência, por outro lado.
De acordo com Lemos et. al. (2003), dentro das redes flexíveis, é necessário
fazer a distinção entre aquelas que surgem a partir de uma infra-estrutura de Ciência e
consórcio da Batata Típica de Bologna (Casarotto Filho & Pires, 1998) e da produção de artesanatos em
Minas Gerais (Abreu 2002).
17
Tecnologia (C&T) e aquelas denominadas de subsistência ou tradicionais. Enquanto os
que nascem da infra-estrutura de C&T possuem formas de coordenação embrionárias e
obtém ganhos transacionais do apoio explícito que recebem do setor público, as de
subsistência, na maioria das vezes, não possuem formas de governança. Neste último
caso, o papel de coordenação deve ser exercido por instituições públicas e/ou privadas tais como sindicatos patronais, centros de apoio às empresas e poder público local – de
maneira a dar suporte organizacional às empresas participantes.
Retorno do
Investimento
Redes
flexíveis
Rede topdown
Ênfase no produto
flexibilidade
Ênfase no
processo
padronização
Diferenciação
Liderança custo
Parcela de
mercado
Figura 2. Curva “U” e estratégias competitivas genéricas ampliadas
Fonte: Casarotto Filho & Pires (2001)
1.3.2 Clusters Industriais
Segundo Crocco et. al. (2001), os termos distritos industriais e clusters tem sido
usados na literatura como sinônimos. Porém, alguns autores diferenciam a forma cluster
da forma distrito industrial. A diferença básica é que o distrito industrial pode ser
considerado um cluster localizado, baseado na especialização flexível, com forte
competição cooperativa, mas com marcante concentração espacial das empresas.
De acordo com Schmitz (1995), cluster é uma concentração geográfica e setorial
de empresas que não pressupõe necessariamente a especialização e cooperação entre
firmas. O autor mostra que um distrito industrial se constitui se um cluster alcança um
desenvolvimento maior que a especialização e divisão de trabalho entre as firmas. Ou
seja, quando desenvolve formas de colaboração entre os agentes econômicos locais, que
levam à intensificação da produção e à sua capacidade de inovar.
Porter (1998), a partir dos trabalhos feitos nos distritos industriais italianos,
aprofunda o conceito de cluster para explicar os fenômenos observados. Para o autor,
Clusters são concentrações geográficas de organizações e instituições de certo setor,
18
abrangendo uma rede de indústrias inter-relacionadas e outras entidades importantes
para a competitividade. Eles incluem, por exemplo, suprimentos de insumos
especializados, tais como componentes, maquinário e serviços, e fornecedores de infraestrutura especializada.
Para Lastres & Cassiolato (2005), Cluster se refere à aglomeração territorial de
empresas, com características similares. Em algumas concepções enfatiza mais o
aspecto da concorrência do que o da cooperação, como fator de dinamismo. Não
contempla necessariamente outros atores, além das empresas, tais como organizações de
ensino, pesquisa e desenvolvimento, de apoio técnico, de financiamento e de promoção.
1.3.3 Milieux inovadores
O conceito de milieu inovador foi desenvolvido pela Escola de Ciência Regional
de língua francesa, por meio do Groupe de Recherche Européen sur les Milieux
Innovateurs (GREMI) e pode ser visto como complementar a visão dos distritos
italianos (Lemos, 2003). O GREMI teve o propósito de desenvolver uma metodologia
comum e uma abordagem teórica que permitissem uma análise territorializada da
inovação, enfocando o papel do ambiente e, mais especificamente, do milieu (lugar) no
processo de desenvolvimento tecnológico (Maillat et. al.,1993).
De acordo com a definição do GREMI, o milieu é constituído por um conjunto
de relações que intervêm numa zona geográfica, que agrupa num todo coerente, um
sistema de produção, uma cultura técnica e atores sociais. Sendo assim, o espírito da
empresa, as práticas organizacionais, os comportamentos de empresas, a maneira de
utilizar as técnicas e a conceituação do mercado e do know-how são, ao mesmo tempo,
partes integrantes e partes constitutivas desse meio (Maillat et. al. 1993). O milieu é
caracterizado por cooperações mais diretas entre os atores locais privados, públicos e
coletivos. Estas cooperações que intervêm numa área geográfica determinada efetuamse geralmente sob forma de redes. A inovação é considerada o processo de integração
de elementos que determinam ou favorecem a dinâmica e a transformação do sistema
tecno-produtivo territorial (Gordon, 1993, Maillat, 1993).
A partir dos conceitos de milieu e de inovação, o milieu inovador pode ser
caracterizado pela integração de dinâmicas internas e mudanças externas. Sendo assim,
Camagni (1991) define um milieu inovador como o local ou a complexa rede de
19
relações sociais em uma área geográfica limitada, que intensifica a capacidade inovativa
local pelo processo de aprendizado sinergético e coletivo.
O milieu inovador é um conjunto territorializado, no qual interações entre
agentes econômicos desenvolvem-se pelas transações multilaterais geradoras de
externalidades, específicas à inovação, e pela convergência das aprendizagens para
formas cada vez mais eficientes de gestão em comum dos recursos.
De acordo com Lemos (2003), a noção de milieux inovadores focaliza as
relações criadas entre os diferentes agentes de uma aglomeração local, que propiciam a
formação de um ambiente inovador, consideradas não apenas as relações econômicas,
mas também sociais, culturais e psicológicas, inerentes a uma aglomeração específica.
De acordo com esta abordagem, o milieu compreende um sistema de produção
que abrange tecnologia, produção, capital e relações de mercado, envolvendo seus
respectivos atores - empresas, associações sócio-profissionais regionais, universidades,
centros de pesquisa, escolas e competências individuais e apoio de governos locais e
regionais - e uma cultura técnica específica, partindo de um conjunto de percepções
sociais, que torna possível o estabelecimento de processos de aprendizado e a expansão
de conhecimento (Lemos, 2003).
A abordagem do milieux inovadores insere-se num conjunto de inovações
importantes no pensamento econômico, pois conduz à refletir, ao mesmo tempo, sobre o
papel da mudança técnica; sobre as modalidades de coordenação e, ainda, sobre as
mudanças estruturais que se operam no processo do desenvolvimento.
1.3.4 Arranjo Produtivo Local, Sistema Produtivo e Inovativo Local e o Sistema
Produtivo Local.
Para abranger todas as formas de aglomerações produtivas que surgem no
território, a Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
(REDESIST), coordenada pelo Instituto de Economia da UFRJ, utiliza três conceitos: o
conceito de Arranjo Produtivo Local (APL) e o conceito de Sistemas produtivos e
inovativos locais (SPILs) e o conceito de Sistema Produtivo Local (SPL).
Arranjos Produtivos Locais (APLs) são
“... aglomerados territoriais de agentes econômicos,
políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de
atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que
incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação
20
de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e
serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos,
prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras,
clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e
associação. Incluem também diversas outras instituições
públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de
recursos humanos (como escolas técnicas e universidades);
pesquisa desenvolvimento e engenharia; política, promoção e
financiamento (Cassiolato & Lastres, 2003:27).
Já os SPILs são aqueles arranjos produtivos em que a
“...interdependência, articulação e vínculos consistentes
resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com
potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa
endógena, da competitividade e do desenvolvimento local.
Assim, consideramos que a dimensão institucional e regional
constitui elemento crucial do processo de capacitação produtiva
e inovativa. Diferentes contextos, sistemas cognitivos e
regulatórios e forma de articulação e de aprendizado interativo
entre agentes são reconhecidos como fundamentais na geração e
difusão de conhecimentos e particularmente aqueles tácitos. Tais
sistemas e formas de articulação podem ser tanto formais como
informais(Cassiolato & Lastres, 2003:27).”
Lastres & Cassiolato (2005), a partir dos conceitos de SPIL e APL, definem SPL
como aqueles aglomerados produtivos ou APLs que apresentam vínculos consistentes
de articulação, interação, cooperação e aprendizagem. Geralmente, envolvem a
participação e a interação de empresas que podem ser desde produtoras de bens e
serviços finais até fornecedores de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria
e serviços, comercializadoras e clientes, entre outros e suas variadas formas de
representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e
privadas voltadas para: a formação e capacitação de recursos humanos; pesquisa,
desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento.
Fonseca Netto (2002) utiliza o termo Sistema Produtivo Local para definir a
manifestação em sua forma territorizada. Segundo o autor, o SPL é composto por
grupos de atores econômicos, políticos e sociais. Geralmente envolvem a interação de
empresas produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos,
prestadoras de serviços e consultoria, clientes, entre outros. Observa-se também a
presença de instituições públicas e privadas voltadas para a formação e capacitação de
recursos humanos, P&D, política, promoção e financiamento.
21
Para Mytelka & Farinelli (2000) e Lins (2000), é necessário também levar em
consideração o papel das inter-relações entre os agentes envolvidos, uma vez que, a
sinergia dentro dos APLs ocorre por meio das interações diversas, como parcerias
público-privadas, envolvendo oferta de recursos de infra-estrutura e cooperação
fornecedores-clientes.
Para Abrantes e Benko (2003), o SPL designa um conjunto caracterizado pela
proximidade de unidades produtivas, no sentido lato - artesanato, indústria, serviços,
pesquisa -, que mantém ligações de intensidade variável conforme a organização do
sistema e das instituições. Trata-se de processos econômicos coletivos localizados e de
forma de organização econômica eficiente, resultante de uma construção histórica.
Nesse sentido, Lefebvre (2000) afirma que APLs não se criam, mas podem ser
estruturados a partir do local, com apoio de organismos existentes no Estado.
1.3.5 A Terminologia Arranjo Produtivo Local
O argumento básico do conceito de APL adotado pela REDESIST é que, onde
houver produção de qualquer bem ou serviço, haverá sempre um arranjo em torno da
mesma, envolvendo atividades e atores relacionados à aquisição de matérias-primas,
máquinas e demais insumos. Tais arranjos variarão, desde aqueles mais rudimentares
àqueles mais complexos e articulados.
Levando em consideração que os APLs podem apresentar diferenciações
significativas, em virtude da sua capacidade dinâmica, várias tipologias foram criadas.
Porém, a mais conhecida na literatura é a adaptada Mytelka & Farinelli (2000:4), que
divide os APLs(cluster) em informais, organizados e inovativos (Tabela 1).
Tabela 1. Tipologia de Arranjo Produtivo Local
APLs
Informais
Existência de liderança
Baixo
Tamanho das firmas
Micro e pequena
Capacidade inovativa
Pequena
Confiança interna
Pequena
Nível tecnológico
Pequena
Linkages
Algum
Cooperação
Pequena
Competição
Alta
Novos produtos
Poucos
Exportação
Pouca, nenhuma
Fonte: adaptada de Mytelka & Farinelli (2000).
APLs
Organizados
Baixo a Médio
PME's
Alguma
Alta
Média
Algum
Alguma a alta
Alta
Nenhum
Média a Alta
22
APLs
Inovativos
Alto
PME's e Grandes
Contínua
Alta
Média
Difundido
Alta
Média a Alta
Alguns continuamente
Alta
Os APLs Informais geralmente são formados por micro e pequenas empresas,
com baixo nível tecnológico, e cujos donos/administradores possuem pouca ou
nenhuma capacidade e formação gerencial e administrativa. Também a mão-de-obra é
pouco qualificada, sendo seu treinamento prática pouco usual. Face às pequenas ou
inexistentes barreiras à entrada o número de empresas tende a ser muito grande, o que,
se de um lado, proporciona uma dinâmica acentuada na geração de emprego, por outro
dificulta o processo de cooperação inter-firmas. Por isso, a capacidade de mudança de
patamar no que tange à capacidade de inserção dinâmica via exportações, de geração de
novos processos e produtos e da própria sobrevivência a médio prazo é pequena.
Os APLs Organizados são compostos geralmente por PMEs, nas quais a
capacidade tecnológica encontra-se em expansão e em alguns casos muito próxima ao
estado da arte em equipamentos e processos. A mão-de-obra recebe treinamento
constante e a capacidade gerencial tende a se elevar com o passar do tempo. Contudo, a
principal característica deste arranjo é sua capacidade de coordenação entre as
empresas. A formação de redes de cooperação inter-firmas – direcionadas à provisão de
infra-estrutura e serviços e ao desenvolvimento de estruturas organizacionais vinculadas
à solução de problemas comuns - faz elevar, tanto a capacidade de adaptação
tecnológica quanto o tempo de resposta, às mudanças do mercado. Seu principal
problema parece ser a dificuldade de diversificação de seu mix setorial para atividades
geradoras de inovação, com base tecnológica mais ampla e principalmente com linkages
mais potentes à montante e à jusante no processo produtivo.
Os APLs Inovativos são baseados em setores nos quais a capacidade inovativa é
a grande chave de seu desempenho. Tem elevada capacidade gerencial e adaptativa,
nível e treinamento da mão de obra acima da média, estrutura de linkages difundida,
vinculação estreita ao mercado externo, além de um elevado grau de confiança e
cooperação entre os agentes. Isso faz com que este tipo de arranjo produtivo detenha
uma dinâmica diferenciada em relação aos anteriores. Contudo, para estes autores, a
capacidade de geração de novos produtos com respostas imediatas ao mercado e a
peculiaridade que faz com que, mesmo indústrias tradicionais (têxteis, móveis, móveis,
etc), mas organizadas em distritos industriais, venham demonstrando dinamismo
diferenciado nos países em desenvolvimento.
De acordo com Mytelka & Farinelli (2000), os Informais e os Organizados são a
forma predominante nos países periféricos, sendo os Inovativos a forma mais
23
encontrada nos países centrais. Para Santos et. al. (2005), os Inovativos são uma
tentativa de caracterização dos distritos italianos.
Desse modo, o termo APL não é visto como aglomeração em um estágio
anterior de desenvolvimento, mas como um produto histórico do espaço social. Assim,
alguns APLs podem não progredir necessariamente em direção a formas mais
sistêmicas de organização produtiva local. Outros podem ter, ao contrário, formas
organizacionais mais desenvolvidas como verdadeiros sistemas produtivos localizados,
como é o caso dos APLs inovativos. Assim sendo, neste trabalho optou pelo uso da
terminologia Arranjo Produtivo Local para as aglomerações setoriais regionais
estudadas. Essa nomenclatura, segundo Garcez (2003), não envolve juízo de valor
quanto à ocorrência ou não de inovação ou até mesmo de uma atuação sistêmica, no
formato da abordagem dos sistemas de produtivos.
1.4
A concentração de empresas em aglomerações produtivas
A questão do saber onde produzir com a máxima eficiência, tendo em vista a
distribuição espacial dos recursos produtivos e do mercado consumidor, tornou-se
importante à medida que o objetivo passou a ser o maior coeficiente possível entre o
montante de lucro e os gastos necessários para sua obtenção. Dentre esses gastos, os
custos de transporte e de comunicação sempre exerceram pesos significativos na
escolha da melhor localização.
Com estas considerações, permitiu-se o estabelecimento das teorias que
buscassem explicitar os processos de concentração ou desconcentração econômica de
empresas em determinadas regiões. Tais discussões têm como foco as relações que as
firmas estabelecem com os espaços em que estão inseridas. Por um lado, não se
consegue discutir estratégias de desenvolvimento regional sem levar em conta os
fundamentos teóricos e a forma de organização das firmas, bem como seus reflexos
sobre as regiões e população dos espaços em que se localiza. Por outro lado, a firma,
sendo uma organização que nasce a partir da consolidação de uma economia de trocas,
não consegue se organizar, produzir e comercializar, sem considerar os efeitos sofridos
do espaço em que está inserida.
Para mostrar como a firma afeta e é afetada pelo espaço local/regional em que
atua, Polèse (1998) afirma que há desenvolvimento numa região se indivíduos fundam
empresas e realizam bons negócios que perpetuam no longo prazo. Porém, para que
24
essas empresas possam desenvolver, é necessário que a região seja dotada do chamado
“Espírito da Empresa” que está relacionado com quatro elementos inter-relacionados: a)
Geográfico, relacionado com a presença, na região, de vantagens comparativas, tais
como tamanho, estrutura de mercados, características geográficas, etc.; b) Sócioeconômico, relacionado com a proporção dos habitantes aptos a fazer negócios,
considerando o grau de conhecimento desses habitantes, o nível de instrução, a
escolaridade e a idade média da população; c) Sócio-cultural, relacionado com a
inclinação para os negócios por parte dos habitantes; d) Institucional, relacionado com a
presença de instituições que promovam crédito, assessoria, financiamento e demais
intermediários indispensáveis para o bom funcionamento da empresa.
Um exemplo da inter-relação entre os quatro elementos pode ser obtido por
meio do seguinte raciocínio: (a) sem identificar as oportunidades por causa de fatores de
difícil modificação, contidos no plano geográfico, pouca gente entra nos negócios (b) e,
muitas vezes, fracassam, criando um local pouco propício para a criação de empresas.
(c) Isso complica mais ainda em virtude da não presença de instituições que estejam
dispostas a promover o crédito, financiamento e outras funções necessárias para o bom
funcionamento da empresa. (d) Como conseqüência, o movimento de migração torna
ainda menos interessante para a criação de empresas (Polèse, 1998).
O processo aglomerativo provocado pelo “Espírito da Empresa”, em virtude da
proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e sociais, acaba estimulando o
crescimento das cidades e regiões. Isso é mostrado por Krugman (1991), defende a tese
de que a implantação das firmas obedece a efeitos de feedback positivos de maneira que
quanto mais se intensifica a concentração das firmas mais importante será o tamanho do
mercado, e quanto mais este aumente permitirá induzir efeitos de arrastamento a
montante e a jusante.
Para explicar a dinâmica da localização industrial, o autor utiliza de três
argumentos de Marshall. Segundo ele, a concentração de firmas: a) Permite a criação de
um mercado de trabalho especializado e altamente qualificado; b) Favorece igualmente
a produção de bens não-comercializáveis, nomeadamente em matéria de “segredos
tecnológicos” de produção e de aprendizagem difundidos pelo meio ambiente indutor de
uma verdadeira “atmosfera” industrial propícia à acessibilidade e à criação de novos
conhecimentos e; c) Contribui para uma melhor circulação de informação permitindo a
elaboração de funções de produção mais eficazes do que no caso das firmas isoladas.
25
Para explicar essa concentração geográfica, Krugman (1991) apresentou um
modelo de desenvolvimento endógeno, de uma geografia econômica de centro-periferia,
baseado na interação econômica de escala, custos de transporte e migração. Por meio
deste modelo, explica a aglomeração de empresas por meio da análise da interação da
demanda, rendimentos crescentes e custos de transporte, que conduzem a um processo
cumulativo de divergência regional. Parte do princípio que, a produção industrial
consiste num número de produtos diferenciados, cada um produzindo através de
economias de escala, com uma estrutura de mercado monopolisticamente competitiva.
Neste modelo, a sustentabilidade de um padrão centro-periferia é determinada
pelo confronto de forças econômicas centrípetas e centrífugas. As forças centrípetas em
geral representadas por linkages setoriais, mercados densos, spillovers de conhecimento
e economias externas e de aglomeração, que levam à concentração espacial da atividade
econômica. Essas forças são correspondentes aos encadeamentos à montante e à jusante
de Hirschman (1958). Compreende tanto os fatores naturais que favorecem a
localização, como fonte de matéria-prima, energia, localização de portos etc., quanto às
economias externas que reforçam as vantagens do local, tais como tamanho do mercado
de trabalho, ligações a montante e a jusante e transbordamentos tecnológicos, difusão de
conhecimento entre empresas vizinhas e formas de aprendizagem. .As forças centrífugas
são representadas pelos fatores que desestimulam a concentração industrial tais como:
preços de aluguéis, poluição, custos não recuperáveis (sunk costs) e outras
deseconomias externas.
A aglomeração de firmas propicia os retornos crescentes no nível da produção o
que diminui o custo de transporte e facilita mobilidade dos fatores, por isso, é vantajoso
concentrar a produção de todos os bens em algumas localizações. Considerando o custo
de transporte, a melhor localização está relacionada com a maximização do acesso dos
bens aos mercados consumidores e aos ofertantes de bens intermediários, lugares onde
está concentrada a população. As externalidades surgem como conseqüência das
interações do mercado envolvendo economias de escala em nível da firma individual,
com isso tem uma estrutura de mercado de concorrência imperfeita (Krugman, 1996).
No entanto, Krugman (1991) argumenta que para compreender os determinantes
da evolução de um sistema dinâmico explicativo da localização industrial é necessário
levar em consideração o peso relativo dado aos parâmetros estudados por ele, tais como:
demanda, economias de escala associadas à especialização, custos de transporte, forças
centrípetas e centrífugas, e migrações. Esses diferentes pesos explicam por que, em
26
certos casos, a aglomeração é fruto de condições históricas iniciais de formação, como
nos casos dos distritos industriais marshallianos e italianos e, em outros, fruto de
modalidades de antecipação de agentes, como nos tecnopólis, nos pólos científicotecnológicos, dos parques industriais, e das Zonas de Processamento de Exportações
(ZPE’s).
No caso dos aglomerados produtivos, do tipo distrito marshalliano, a
organização industrial não se efetua unicamente por intermédio do mercado, mas
articula-se essencialmente em torno de uma série de interdependências entre firmas,
veiculadas pelas economias externas ou externalidades, sendo elas mesmas o resultado
da proximidade espacial (Lemos, 2003).
Para Lemos et. al (2005) essas externalidades atuam como condicionantes
territoriais que podem manifestar sobre o território de forma positiva, restritiva e
negativa. Por isso, são consideradas como fator importante para explicar a formação, a
estruturação, o crescimento e o desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais (APLs)
nas regiões. Dentre os diversos tipos de externalidades15, apontadas pelos autores, serão
ressaltadas, neste trabalho, as externalidades marshallianas, as externalidades
schumpeterianas; as externalidades transacionais e as externalidades institucionais.
De acordo com Lastres et. al. (2003), o aproveitamento das externalidades
positivas geradas pela participação em APLs fortalece as chances de sobrevivência e
crescimento, particularmente das PMEs, constituindo-se em importante fonte geradora
de vantagens competitivas duradouras, aumentando seu potencial de alavancagem do
desenvolvimento local, tanto social quanto econômico.
1.4.1 Externalidades marshallianas
No tempo de Marshall, o papel das economias externas à empresa já era
reconhecido como fundamental para o sucesso dos distritos industriais. A concentração
de recursos humanos qualificados, infra-estrutura física e capacidade produtiva, em uma
determinada região, melhoram a eficiência coletiva das empresas individuais. As
economias externas derivam da disponibilidade local de fatores de produção no
mercado. O crescimento da indústria como um todo permite diluir os custos fixos já
investidos na economia, por um volume maior de produção.
15
Externalidades, também chamadas de economias externas, são benefícios, ganhos pelas unidades
produtivas em função da expansão industrial ou de investimentos em infra-estrutura em uma região
(Tigre, 2006). Ocorrem quando os benefícios provenientes da ação de uma empresa se estendem a várias
outras (Montella, 2006).
27
Desse modo, as externalidades marshallianas são obtidas por vantagens
aglomerativas, da escala territorial local, mas restritas aos ganhos de especializaçãolocalização. Elas são decorrentes de economias externas às firmas, mas internas à
aglomeração produtiva e estão relacionadas com a forma de organização da produção. O
principal condicionante territorial para seu surgimento é a capacidade de atração de
atividades correlatas e complementares, capazes de estabelecerem uma cadeia produtiva
localizada, de tal forma que o poder de indução inter-setorial seja internalizado na
aglomeração (Lemos et. al., 2005).
Krugman (1991) reconhece a importância do trabalho de Marshall na
identificação de três razões distintas para localização em um mesmo espaço geográfico
de uma indústria. A primeira consiste na exploração dos benefícios, tanto para as
empresas como para os trabalhadores especializados, da concentração geográfica de
indústrias. A segunda é referente ao baixo custo na provisão de insumos específicos. A
terceira é relacionada com a maior facilidade do fluxo de informações, exprimindo as
externalidades positivas oriundas dos spillovers de conhecimentos econômicos entre as
firmas residentes no aglomerado produtivo.
As externalidades marshallianas estão relacionadas com: a) a oferta de mão-deobra local/regional especializada, oriunda, por exemplo, de centros de aperfeiçoamento
e de escolas técnicas, bem como de Universidades situadas no seio da base produtiva
territorial; b) a presença de fornecedores de matérias-primas diversas disponíveis local e
regionalmente, bem como de bens de capital; c) a proximidade/vizinhança de mercados,
mesmo que nos últimos anos, haja tendência à queda dos custos de transportes
(domésticos e internacionais); d) a disponibilidade de recursos naturais específicos
localmente ou no entorno regional; e) a presença de economias de escala, que levam à
implantação de um número restrito de unidades de produção (plantas industriais)
operando em situação de “ótimo econômico” em um dado mercado; f) a presença de
infra-estrutura física suficiente e adequada no seio da base produtiva local (energia,
telecomunicação, vias de acesso por meios transportes, etc.); g) Encadeamento à
jusante, à montante e horizontais extensivos no processo de produção; h) ganhos
tecnológicos via transbordamentos (spillovers) de conhecimento relevante, quer seja
pela mobilidade intra-distrital da força de trabalho, quer seja pela interação entre
fornecedores e usuários; i) o acesso fácil à informação; (Fonseca Netto, 2002).
28
De acordo com Lemos et. al. (2005), essas externalidades marshallianas podem
sofrer restrições em virtude de cadeias locais incompletas ou inexistentes. Os autores
mostram duas situações de cadeias incompletas.
A primeira é relacionada às redes dos tipos Centro-radial e plataforma satélite.
No caso do centro radial, a integração vertical em nível do território, leva a acentuada
hierarquização nas relações inter-firmas interna ao arranjo, fazendo com que as funções
estratégicas como design, marketing, comercialização, desenvolvimento tecnológico,
etc., sejam centralizadas na empresa âncora e, em menor extensão, nos fornecedores de
primeiro nível, enquanto as atividades produtivas são descentralizadas para pequenas
empresas altamente especializadas. No caso do tipo plataforma-satélite, a empresa
âncora local é, em geral, uma subsidiária de uma empresa multinacional, que centraliza,
em sua sede mundial, as tarefas de desenvolvimento tecnológico e concentra, no arranjo
local, apenas as tarefas da esfera estrita de produção. Neste último caso, as relações
inter-setoriais da cadeia local são limitadas, pois não envolvem os fornecedores de bens
de capital, à montante, nem os serviços superiores de concepção de projetos básicos de
engenharia e design, à jusante.
A segunda é relacionada com as chamadas aglomerações produtivas informais,
que não conseguem ser enquadradas, no sentido estrito, como distritos marshallianos.
Essas aglomerações são formadas, geralmente, por PMEs com nível tecnológico baixo
em relação à fronteira da indústria; precária capacidade de gestão; baixo nível de
qualificação da força de trabalho sem sistemas contínuos de aprendizado e baixa
barreira à entrada de novas firmas16. As dificuldades de verticalização inter-setorial
local podem resultar em aglomerados de empresas mono-produto, com baixo nível de
trocas intra-arranjo.
1.4.2 Externalidades schumpeterianas
De acordo com Kupfer & Hasenclever (2002), os modelos evolucionistas
enfatizam a inovação no seu modelo de competição denominado de "concorrência
schumpeteriana". De acordo com Nelson & Winter (2006), algumas firmas se esforçam
deliberadamente para liderar as inovações tecnológicas, enquanto outras tentam
16
Embora as baixas barreiras à entrada possam resultar em crescimento no número de firmas e no
desenvolvimento de instituições de apoio dentro do aglomerado, isto não reflete, em geral, uma dinâmica
positiva, como nos casos de uma progressão da capacidade de gestão; de investimentos em novas
tecnologias de processo; de melhoramento da qualidade do produto; de diversificação de produtos; ou de
direcionamento de parte da produção para exportações (Lemos et. al. 2005)
29
acompanhar os sucessos das líderes por meio da imitação. Para Schumpeter (1943),
Possas (1996), Possas (1999) e Grassi (2004), as firmas, por meio de inovações, buscam
diferenciar dos concorrentes para que possam obter lucros monopolistas ou
extraordinários – acima do lucro normal conforme a linguagem neoclássica, associada
ao custo de oportunidade –, realizando com isso seu intuito principal, que é a
valorização do capital. Sendo assim, a busca pelo lucro de monopólio é que incentiva a
inovação, fazendo com que a concorrência se torne mais eficaz.
No entanto, as PMEs enfrentam problemas em relação a sua competitividade,
enquanto firma individual, em virtude das dificuldades de acesso aos recursos
intangíveis necessários para o seu desenvolvimento, principalmente em relação às
atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), por demandar volumes consideráveis
de recursos financeiros. No entanto, essa situação tende a amenizar quando essas firmas
fazem parte de um aglomerado produtivo mais estruturado.
Ao se inserir num aglomerado produtivo, a firma de menor porte passa a ter
oportunidade de se associar a uma gama de ligações locais envolvendo usuários,
produtores, setores produtores de conhecimento – tais como universidades e institutos
de P&D – e setores produtores de bens e serviços da economia. Esses setores produtores
do conhecimento estimulam o aprendizado e a inovação necessária para transformar as
indústrias tradicionais (Nadvi, 1995; Nadvi e Schmitz, 1997; UNCTAD, 1998).
No caso dos APLs, a busca pela inovação possui especificidade, pelo fato de não
resultar apenas da ação individual do empresário – que visa a apropriação do sobrelucro
-, mas da ação coletiva – que visa a apropriação recíproca de conhecimento disponível
no aglomerado -, capturando, desta forma, um sobrelucro, via empreendedorismo
coletivo. O aglomerado permite o desenvolvimento de interdependências não
comercializáveis, na forma de transmissão de conhecimento tácito, não codificado e
intencional. Estas interdependências adquirem sistematicidade e recorrência, pela
cooperação, entendida como ação coletiva consciente dos atores, firmas e instituições de
pesquisa, internas ao arranjo, que tendem a constituir redes locais de informação e
conhecimento. Sabe-se também que estas redes locais não são auto-contidas e seu
sucesso depende da capacidade dos agentes locais se articularem a redes externas ao
arranjo, para buscarem capacitações tecnológicas complementares, que ampliem as
oportunidades tecnológicas das firmas (Lemos et. al. 2005).
As externalidades schumpteterianas estão relacionadas com a criação de um
ambiente inovativo, caracterizado por: (a) elevado número de pessoas engajadas em
30
atividades de design e inovação e pelo elevado nível de qualificação da mão de obra; (b)
recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários; (c) proximidade com
universidades e centros de pesquisa; (d) presença de associações de classe e comerciais
dedicadas à qualificação da força de trabalho e capacitação tecnológica das firmas, além
da assistência de rotina às atividades produtivas técnicas e produtivas, comerciais e
financeiras; e (e) intensa cooperação entre firmas competidoras (para compartilhar
riscos e inovações e para estabilizar o mercado) e entre usuários e produtores (no
desenvolvimento de produtos e processos de troca de informações, etc.) – a qual se
sustenta no médio e longo prazos, pois estão baseadas em relações de confiança
altamente desenvolvidas e sedimentadas.
1.4.3 Externalidades transacionais
De acordo com a Teoria dos Custos de Transação, o caráter crescentemente
específico das transações reduz progressivamente a vantagem que o mercado oferece
em termos de economia de escala, enquanto os custos derivados de negociar, redigir,
implementar e verificar a execução adequada das cláusulas contratuais cresce (os custos
de transação). É da comparação destes dois termos (economias de escala versus custos
de transação) que sai a decisão final quanto à forma institucional mais adequada para a
organização da transação: via mercado ou via estrutura hierárquica da empresa.
Uma das alternativas à dicotomia mercado-hieraquia são as estruturas de
governança bilaterais e os “contratos relacionais”, adequadas às situações que envolvem
ativos específicos e freqüência de transação entre os agentes envolvidos. Para Lemos et.
al. (2005), o sucesso destes tipos de estruturas de governança depende da continuidade
do relacionamento entre as partes e do desenvolvimento de redes cooperativas.
Schmitz (1997) mostra que os custos de transação podem ser reduzidos por meio
da eficiência coletiva conquistada pela colaboração horizontal. A proximidade
locacional das unidades produtivas favorece contatos freqüentes, formais e informais,
entre o patronato, criando hábitos sociais, confiança recíproca e atenção às normas
sociais. Isso acarreta reduções nos custos das negociações, envolvendo contratos de
compra e venda de insumos e produtos, de serviços e de projetos.
A Teoria dos Custos de Transação vê as redes de empresas como uma forma de
reduzir custos, sem considerar seu potencial de cooperação para a complementação de
31
recursos e aprendizagem, como propõe a teoria da dependência dos recursos17 (Courlet
& Pecquer, 1991). Para essa corrente, essas redes são consideradas como formas
híbridas de governança entre a firma integrada e o mercado atomizado (Tigre, 2006).
No caso dos APLs, o principal ativo são as trocas freqüentes e recorrentes de
informações de conhecimento relevante entre os atores locais, principalmente em suas
formas não-codificadas ou tácitas (Lemos et. al, 2005). Assim, seu âmbito transcende a
tradicional dualidade entre o mercado e a empresa, localizando-se em uma esfera
intermediária de coordenação. Esse espaço de coordenação não exclui nem o mercado
nem a decisão individual de cada participante, mas deve incorporar a confiança mútua
para se consolidar (Tigre, 2006, McCann & Arita, 2004).
Nessas formas híbridas o oportunismo18 que norteia as empresas isoladas deve
ser substituído por práticas baseadas em um código de confiança mútua e em
reciprocidade das ações. Isso permitiria minimizar as incertezas frente ao
comportamento dos parceiros comerciais em relação a variáveis como níveis de preços,
quantidades, padrões de qualidade e direção tecnológica de novos produtos, permitindo
melhor planejamento e redução de conflitos ao longo da cadeia produtiva (Britto, 2002).
Lemos et. al. (2005) completa que, em um APL, o nível de desenvolvimento da
governança local afeta as relações de mercado fora do aglomerado, especialmente as de
compra de insumos e de venda de produtos finais e financeiras. O custo de transação
externo ao aglomerado tende a se reduzir pari passu com a capacidade interna de
governança, por meio da ação coletiva.
Em geral, essas externalidades transacionais são externas às firmas, porém
internas ao aglomerado produtivo (Lemos et. al., 2005) e estão relacionadas com: a)
Existência de cooperação entre firmas competidoras baseada em relações de confiança
altamente desenvolvidas e sedimentadas por meio da utilização da colaboração
horizontal; b) Existência de potencial de cooperação para complementar recursos e
17
A teoria da dependência dos recursos, que tem como base os trabalhos de Penrose (1959) sobre o
crescimento da firma, parte do princípio de que a firma seria uma coleção de recursos produtivos que
seriam alocados em diferentes usos ao longo do tempo, em função de decisões gerenciais. Tais recursos
podem ser tangíveis - equipamentos, instalações e estoques – que são mais fáceis de serem obtidos no
mercado, ou intangíveis - capacitação produtiva e tecnológica, capacidade de aprendizagem e cultura
organizacional-, que dependem da eficiência da firma em adquirir, acessar e acumular recursos
estratégicos.
18
Oportunismo, na Teoria dos Custos de Transação, está associado à manipulação de assimetrias de
informação, visando apropriação de fluxos de lucros, então, entende-se por oportunismo a transmissão de
informação seletiva, distorcida, e de promessas auto desacreditadas sobre o comportamento futuro do
próprio agente, isto é, o agente em questão estabelece compromissos que ele mesmo sabe, a priori, que
não irá cumprir (Fiani, 2002).
32
aprendizagem; c) Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação; d)
Existência de contatos entre empresas formais e informais; e) Presença de confiança
recíproca entre os atores; f) Existência de contratos mais flexíveis; g) Trocas freqüentes
de informações e conhecimento entre os atores locais de forma não codificada; h)
Influência da governança interna do APL em relação a facilidades para elaboração de
contratos mais flexíveis; i) Contribuição da governança interna de modo a facilitar o
processo de compras, vendas e marketing em conjunto.
1.4.4 Externalidades institucionais
Instituições é o termo genérico que os economistas institucionais utilizam para
representar o comportamento regular e padronizado das pessoas em uma sociedade, bem
como as idéias e os valores associados a essas regularidades. Exemplos: as leis e os
costumes que regulamentam o direito de propriedade, as práticas comerciais
formalmente, codificadas ou não, vigentes nas diferentes sociedades, etc.(North, 1990).
Segundo a teoria de North (1990), o ambiente econômico e social dos agentes é
permeado por incerteza. Essa incerteza tem como principal conseqüência os custos de
transação. Para reduzir esses custos de transação e coordenar as atividades humanas, as
sociedades desenvolvem as instituições, dotadas de um continuo de regras formais e
informais. O conjunto dessas regras passa a fazer parte da matriz institucional das
sociedades, cuja dinâmica será sempre path dependency (Bueno, 2004). A partir dessa
matriz, surgem as organizações que podem ser econômicas, sociais e políticas. Essas
organizações passam a interagir entre si, com recursos econômicos e com a própria
matriz institucional, sendo, portanto, responsáveis pela evolução institucional e pelo
desempenho econômico das sociedades ao longo do tempo19.
No caso dos aglomerados, estes podem concentrar capital humano de alta
qualidade, atraindo novas empresas, que, conseqüentemente, atrairão ainda mais capital
humano. Por um lado, isso permite ao trabalhador especializado manter maior
independência em relação ao seu emprego atual porque tem a opção de trabalhar em
empresas concorrentes. Por outro lado, a concentração de atividades confere às
empresas um grau de flexibilidade em relação ao trabalhador, uma vez que torna menor
a especificidade do seu capital humano. A explicação é que, geralmente, ao treinar um
19
Se em uma determinada sociedade, a matriz institucional recompensar a pirataria, as organizações
piratas prosperarão. Se a matriz tem pouca ou nenhuma restrição em relação à corrupção, mais provável é
que as instituições existentes passem a adotar essa prática no futuro (Bueno, 2004).
33
trabalhador, a empresa se torna mais dependente dele e, se demiti-lo, terá de incorrer
novamente nos custos de treinamento. Porém, se várias empresas em um clustering, por
exemplo, estão fazendo o mesmo, a empresa poderá atrair um trabalhador de outra
empresa a um custo menor do que o de treinar um trabalhador novo. O resultado é que,
tanto às empresas como os trabalhadores altamente qualificados, expõem-se menos ao
oportunismo mútuo, reduzindo custos de transação (Bueno, 2004).
Existem externalidades institucionais que são externas às firmas e aos
aglomerados e outras externas às firmas e internas aos aglomerados (Lemos et. al.,
2005). Neste ambiente institucional incluem-se elementos como a política
macroeconômica, a burocracia, o judicial, a política industrial relacionada com o
processo de difusão de tecnologia, a cultura local, o sistema de formalização por
contrato, as instituições do trabalho, aos direitos da propriedade intelectual (Willianson,
1993, North, 1991; Storper, 1995, Bueno, 2004). Assim, o ambiente exerce grande
influência na capacidade de sobrevivência e crescimento de um APL.
O acesso a um ambiente institucional fortalecido e propício pode contribuir para
a sobrevivência e o crescimento dos APLs. O fortalecimento deste ambiente pode
ocorrer por meio: a) da criação de instituições que favorecem a interação entre
empresas, reduzindo a assimetria de informação20 e, conseqüentemente, os custos de
transação (Storper, 1995); b) da criação de aspectos culturais, estreitando laços de
confiança, interação social, identidade e objetivos comuns (Piore & Sabel, 1984); c) da
criação de instituições políticas e sociais de apoio, estimulando o desenvolvimento de
atividades de parceria e transformando as redes em sistemas mais amplos de inovação e
de produção, em nível local, regional e nacional (Best, 1990; Piore & Sabel, 1984;
Morgan e Sayer, 1988; Storper e Scott, 1993); d) da redução dos custos relacionados à
informação e à comunicação, reduzindo riscos associados à introdução de novos
produtos e reduzindo o tempo da inovação, por meio das relações estabelecidas entre
usuários e produtores (Lundval, 1988); e) do desenvolvimento de políticas voltadas para
aproximar os APLs às instituições de ensino, pesquisa e agentes econômicos,
permitindo oportunidades de aprendizado por interação (Tigre, 2006, Maillat & Kelbir,
1999, Cassiolato & Lastres, 2003).
Porém essas externalidades institucionais podem funcionar como externalidade
restritiva ou negativa. Como exemplos: a) a incerteza macroeconômica crônica pode
20
Assimetrias de informação são “diferenças nas informações que as partes envolvidas em uma transação
possuem, particularmente se essa diferença afeta o resultado final da transação”(Fiani, 2002)
34
afetar o sistema de preços21 e crédito aumentando o risco da redução do preço real em
virtude de períodos inflacionários; b) o impacto negativo de um regime monetário
baseado em política ativa de juros reais elevados, pode inviabilizar formas de
coordenação intra-arranjo produtivo, no sentido de reduzir a incerteza dos atores locais,
prejudicando a tomada de decisões; c) a aprovação de legislações específicas que
inviabiliza procedimentos de cooperação horizontal e vertical entre as firmas e até
mesmo que afetem diretamente a concorrência, etc.
Cabe ressaltar que, o ambiente não-cooperativo estimula a integração vertical,
que surge como forma de isolar as atividades da firma da influência das constantes
mudanças no ambiente externo.
O próximo capítulo trata da formação e estruturação dos sistemas produtivos
locais, abordando questões relacionadas com a localização e os aspectos regionais como
vantagens competitivas, tipologias de sistemas territoriais de produção e o surgimento
dos sistemas produtivos locais. No final do capítulo, são levantadas a problemática e a
hipótese da tese.
21
Os Clusters, ancorados por grandes empresas, ou seja, os do tipo Topdown são menos vulneráveis aos
riscos de redução de seus preços relativos, posto que os preços finais, na ponta da cadeia produtiva, são
administrados por estruturas oligopolísticas (Lemos et. al , 2003).
35
CAPÍTULO 2
A formação dos Sistemas Produtivos Locais
2.1
Os sistemas locais de produção
A discussão sobre os sistemas locais de produção vem adquirindo relevância na
literatura econômica a partir dos anos 70, em virtude de mudanças estruturais
significativas, ocorridas no ambiente competitivo das empresas (Fonseca Netto, 2002).
Dentre estas, destacam-se três mudanças interligadas: a) no ambiente econômico, o
processo acelerado da globalização da economia, associado à difusão das tecnologias de
informação e de comunicação; b) no ambiente social, o processo de endogeneização do
desenvolvimento em resposta às conseqüências da globalização da economia e, c) no
ambiente político, o processo de descentralização decorrente da crise do planejamento e
da intervenção regionais centralizadoras, que fortaleceu a interação de atores locais com
governos estaduais e municipais (Casarotto Filho & Pires, 2001). Essas três mudanças
são consideradas fundamentais para o processo de promoção do desenvolvimento,
conforme mostra a Figura 3.
AMBIENTES
PROCESSOS
Econômico
DESAFIOS
Globalização
Social
endogeneização
Político
Descentralização
RESULTADO
Competitividade
Qualidade de Vida
Cooperação
Figura 3. Processos e desafios para o desenvolvimento
Fonte: Casarotto Filho & Pires (2001)
Considerando
a
intensificação
desses
três
fatores
–
globalização,
endogeneização do desenvolvimento e descentralização político-administrativa –, surge
o interesse na discussão sobre a ocupação do espaço e a distribuição da riqueza, de
forma a amenizar as desigualdades regionais e sociais. Tais discussões reconhecem a
importância das PMEs como alternativa ou complemento ao desenvolvimento baseado
em grandes empresas. As vantagens da empresa de menor porte estão associadas: a) ao
36
seu papel de “colchão de amortecimento de crises”, solucionando problemas crescentes
de desemprego22. Apesar do reduzido quadro funcional de cada uma isolada, no
conjunto, contribuem para uma ampla criação de novos empregos, reduzindo o fluxo
migratório de pessoas que buscam oportunidades ocupacionais nos grandes centros
urbanos; b) ao seu potencial de geração de novas formas de inovar, produzir e
comercializar novos bens e serviços e, assim, melhor sobreviver e competir, conforme
apontam alguns autores da vertente evolucionária; c) a sua maior flexibilidade no
período de crises econômicas, permitindo maior estabilidade econômica e social ao país,
evitando excesso de concentração de poderes em mãos de poucas empresas; e d) a seu
foco no fortalecimento do espaço e das especificidades locais, com contribuição para o
desenvolvimento local e regional (Lemos, 2003; Sachs, 2003; Abreu, 2002).
Porém, a globalização, cada vez mais acentuada, dos mercados e da produção,
pode colocar em questionamento a competitividade dessas empresas de menor porte,
principalmente em virtude do grau de vulnerabilidade das mesmas.
A inserção de empresas de menor porte em redes relacionadas e integradas,
focadas nas inter-relações das unidades de produção, das atividades de apoio e do
mercado, tem sido considerada como interessante forma de fortalecimento dessas
empresas frente à concorrência internacional (Abreu, 2002; Andion, 2003).
Estudos mostram que algumas formas de parcerias e alianças estratégicas se dão
por meio da formação de sistemas territoriais de produção, que reúnem empresas com
forte sinergia entre si, estimulando a inovação, a competitividade e a cooperação (Tigre,
2006). Dentre esses sistemas, os Arranjos Produtivos Locais (APLs) têm merecido
particular atenção. O formato clássico desses APLs são os chamados distritos
marshallianos, especialmente sua vertente italiana, apresentados por Markusen (1996).
Esses APLs São caracterizados pela proximidade geográfica, especialização setorial,
predominância de PMEs, cooperação inter-firmas, competição inter-firmas determinada
pela inovação, troca de informações baseada na confiança socialmente construída,
organizações de apoio ativas na oferta de serviços e parceria estreita com o setor público
local (Santos et. al. 2002).
22
No Brasil, as micro e pequenas empresas, bem como as empresas familiares, assumem papel
considerável para o desenvolvimento local, uma vez que essas empresas são numerosas - chegando a 3,6
milhões -, absorvem número significativo de empregos - em torno de 44% da mão-de-obra empregada
com registro - e, ainda, contemplam formas de trabalhos diversas, permitindo a flexibilização (Sachs,
2003; Abreu, 2002).
37
De um modo geral, os estudos desenvolvidos em aglomerados produtivos
mostram que a formação desses APLs pode trazer diversas vantagens para as unidades
produtivas, tais como: a) estreitar o relacionamento entre essas unidades e os setores de
produção de conhecimento, tais como as universidades e institutos de P&D, com os
setores produtores e serviços da economia, estimulando o aprendizado e a inovação,
necessários para transformar as indústrias tradicionais, (Nadvi, 1995; Nadvi e Schmitz,
1997; UNCTAD, 1998); b) reduzir os custos relacionados à informação e à
comunicação, os riscos associados à introdução de novos produtos e o tempo para
inovação, por meio das relações verticais estáveis entre usuários e produtores (Lundval,
1988); c) reduzir os custos de transação, por meio de maior eficiência coletiva e maior
acesso ao mercado (Schmitz, 1997); d) obter ganhos de externalidades positivas, como a
disponibilidade de mão-de-obra qualificada, de determinados tipos de infra-estrutura e
de trocas informais geradoras de inovações de aprendizado (Storper, 1995; Maskell,
1996); e) obter apoio de instituições políticas e sociais, no desenvolvimento de
atividades de parceria e no estímulo à transformação de tais redes em sistemas mais
amplos de inovação e de produção em nível local, regional e nacional (Best, 1990; Piore
& Sabel, 1984; Morgan e Sayer, 1988; Storper e Scott, 1993).
Os fatores críticos do processo de desenvolvimento estão enraizados
historicamente na realidade social local e não são facilmente transferíveis a outros
espaços. Por isso, torna-se importante investigar a forma como esses territórios foram
criados. A construção histórica de um aglomerado impacta no inter-relacionamento
entre atores locais, na sua interdependência e no seu grau de autonomia na tomada de
decisão e na formulação de projetos.
A natureza, intensidade e a organização das relações de troca é que são
determinantes para qualificar territórios de um sistema de produção Para isso, torna-se
necessário conhecer as tipologias de sistemas territoriais de produção.
2.2
Tipologia de sistemas territoriais de produção
Os sistemas territoriais de produção constituem espaços de relações entre a
tecnologia, os mercados, o capital próprio, os “know-how”, a cultura técnica e as
representações (Crevoisier e Maillat, 1989). Nestes sistemas, a natureza da atividade
produtiva é, necessariamente, uma forma de ação coletiva fundada por meio de ações
individuais que são interdependentes (Storper, 1995). Tais sistemas são capazes de
38
produzir uma dinâmica endógena de desenvolvimento, mantendo certa coesão, uma vez
que, são animados pela interação entre atores e dinâmica de aprendizagem, presentes no
meio em que estes sistemas se encontram (Becattini, 1990; Courlet, 1989; Garofoli,
1992; Planque, 1985; Tödtling, 1994; Maillat, Quévit et.Senn, 1993).
Os trabalhos desenvolvidos pela REDESIST, baseados numa perspectiva
evolucionista, apontam três fatores chaves que estão associados às vantagens da
territorialização, decorrentes da economia da inovação e do aprendizado: a
especificidade territorial – a forma em que a história do passado produtivo da localidade
afeta o seu presente e as estratégias futuras; a cumulatividade no território – é o
aprendizado coletivo local de conhecimento tácito que, por meio de redes internas,
formais e informais, possibilita a formação de arranjos institucionais, como formas
particulares de cooperação sob as regras da competição e rivalidade – e a
apropriabilidade territorial – é a possibilidade criada pela aglomeração local, de ganhos
privados das empresas, estabelecidos por meio de barreiras territoriais à entrada e saída.
A forma e a intensidade com que esses fatores agem num território fazem com
que sejam criadas características territoriais diferenciadas. Nesse sentido, Suzigan et. al.
(2003) afirmam que os sistemas locais de produção podem apresentar variações em suas
características, conforme sua história, evolução, organização institucional, contextos
sociais e culturais nos quais se inserem, estrutura produtiva, organização industrial,
formas de governança, logística, associativismo, cooperação entre agentes, formas de
aprendizado e grau de disseminação do conhecimento especializado.
Conhecer tais tipologias é importante, pois acabam dando suporte para a
compreensão: a) do papel que o território tem na relação entre ele, as empresas e os
agentes nele inseridos; b) o tipo de estrutura de empresas que tem procurado fixar
nesses territórios; c) a intensidade de relação de troca existente entre os agentes d) o tipo
de aprendizado predominante; e) os fatores de atração de empresas para a localidade; f)
a adequação do tipo de sistema de produção ao desenvolvimento endógeno; g) os
condicionantes territoriais que acabam sendo desenvolvidos neste tipo de sistema.
Para identificar os tipos de sistemas territoriais de produção, Maillat (2002) e
Maillat & Kelbir (1999) partiram de duas lógicas opostas: a lógica funcional e a lógica
territorial. Em seguida, associaram essas lógicas a dois critérios: o grau de integração da
cadeia de valor agregado e a intensidade de relações de troca entre firmas na região.
As firmas que atuam segundo a lógica funcional são organizadas de maneira
hierárquica, vertical, em que as decisões originam-se da direção central. Elas repartem
39
geograficamente suas diferentes funções, envolvendo concepção, produção, venda, etc.,
de maneira a diminuir os custos de produção relacionados com mão-de-obra,
transportes, nível de fiscalização, subvenções acordadas, custos de transação por meio
da internalização da produção, etc. Para essas firmas, o território desempenha um papel
passivo, ou seja, funciona como um suporte ou local de passagem em que elas não estão
inseridas. Como exemplos, podem ser citados as grandes firmas integradas
verticalmente em que todas as funções são internalizadas; as sucursais de firmas
multinacionais; e as micro e pequenas empresas atuando isoladas num espaço.
As firmas que atuam segundo a lógica territorial são organizadas de maneira
menos hierárquica. Geralmente, são organizadas em forma de rede, de modo mais
horizontal, em que o meio orquestra o sistema (Maillat, 1998). Nesses territórios, as
firmas
mantêm
relações
de
cooperação/concorrência,
gerando
sinergias
e
complementaridades necessárias ao seu funcionamento. Essa lógica implica um elo
forte entre as firmas e o território de implantação, cujo objetivo está relacionado com a
territorização da firma, ou seja, com sua inserção no sistema territorial de produção. O
território desempenha um papel ativo, em que as firmas são enraizadas23 e contribuem
para o seu enriquecimento. Como exemplos, podem ser citados grandes firmas que
mantêm vínculo com as demais firmas da região, formando aglomerados, atuando como
empresa âncora e as empresas de portes pequenos – micro e pequenas -, que
estabelecem relações entre si, sem a presença da empresa âncora.
O primeiro critério está relacionado com o grau de integração vertical das
diversas atividades que contribuem para a produção de um bem, nas firmas situadas
numa região. Essas atividades podem ser integradas, totalmente ou parcialmente, numa
firma – apresentado forte presença de integração interna na cadeia de valor agregado na
região –, ou serem repartidas entre várias firmas que também estejam estabelecidas na
região – apresentando ausência de integração interna na cadeia de valor agregado na
região. Esse critério permite verificar uma diferença entre os sistemas territoriais de
produção, caracterizado, num extremo, por sistemas compostos de firmas isoladas ou de
sucursais de grandes firmas e, num outro extremo, por grandes firmas que concentram
diversas atividades produtivas, tais como pesquisa, desenvolvimento, produção e venda.
O segundo critério inclui a intensidade de relações de troca entre firmas na
região. Ele representa as inter-relações de natureza horizontal que se estabelecem entre
23
Esse enraizamento é o que Benhayoun et. al. (1999) chama de Ancrage Territorial
40
os diferentes atores da região tais como, empresas, organismos de pesquisa e outros.
Esse critério permite distinguir, num extremo, os sistemas em que não aparece
complementaridade ou interdependência entre os atores e, num outro extremo, os
sistemas territoriais de produção nos quais existe uma dinâmica de interação.
Essa tipologia de Maillat e Kelbir (1999) pode ser representada graficamente por
meio da Figura 4 em que o primeiro critério é representado no eixo vertical e o segundo
critério é representado no eixo horizontal.
Presença de integração interna
na cadeia de valor na região
Ausência de integração interna
na cadeia de valor na região
Situação B
Situação C
Situação A
Situação D
Ausência de relações de
troca na região
Presença de relações de
troca na região
Figura 4. Tipologias dos sistemas territoriais de produção
Fonte: Adaptado de Maillat & Kelbir (1999)
A situação A é típica em regiões que apresentam ausência de integração e de
territorização. Nesta situação predomina organizações horizontais, com ausência de
troca entre elas e, conseqüentemente, a ausência de territorização. Este é o caso de
sistemas territoriais de produção compostos por firmas que agem de maneira
independente, ou seja, sem estabelecer relações entre elas. São tipicamente, pequenas
firmas isoladas ou, então, sucursais de grandes firmas implantadas numa região,
dependentes de uma hierarquia, situada fora da região, para todas as decisões ligadas ao
desenvolvimento e à inovação. Essas firmas foram implantadas na região de acordo com
uma lógica meramente funcional e, geralmente, obedecem a critérios tradicionais de
localização tais como: acesso e custo da mão-de-obra, de infra-estruturas, de matérias
41
primas; de redes de transporte, etc. (Maillat & Kelbir, 1999). Muitos desses critérios de
localização estão relacionados com algumas externalidades do tipo marshalliana.
A situação B é típica em regiões que apresentam presença de integração, por
meio da integração vertical, e ausência de territorização, em virtude da falta de relações
de troca na região. Encontra-se aqui o caso da grande firma situada numa determinada
região, cujas funções de produção, distribuição, marketing, etc., são inteiramente
internalizadas, sem manter relações importantes, no sentido da complementaridade, com
outros atores presentes na região. Tudo é produzido pela firma, desde a concepção ao
condicionamento. Na realidade, a firma impõe-se ao território e à região. Muitas vezes,
a firma pode estar ligada, por razões históricas, à região. O seu deslocamento ou
desaparecimento pode trazer conseqüências catastróficas porque nenhuma outra
atividade pode assegurar a retransmissão e a região perde recursos específicos que, por
pertencerem à firma, poderão desaparecer ou deslocar com ela. Considerando os
condicionantes territoriais, apresentados por Lemos et. al. (2005), percebe-se que nestas
regiões, tanto os condicionantes marshallianos quanto os schumpeterianos, são fracos,
em termos de território, por isso, a firma passa a utilizar da integração vertical como
forma de reduzir custos de transação.
A situação C é típica de regiões que apresentam presença de integração vertical e
presença de relações de troca na região, permitindo assim a territorização. Trata-se de
um sistema territorial de produção em que figura uma firma dominante liderando o
conjunto da cadeia de valor agregado, mas que mantém relações com outros atores da
região, como fornecedores, clientes, subcontratantes, centros de investigações, centros
de formação. Pela externalização de certas atividades, uma dada firma suscita
interdependências e manifesta sua inserção no território. A presença deste significa que
a firma e seus parceiros cooperam e geram complementaridade (troca de
conhecimentos, de competências, de tecnologias). Neste tipo de situação, pode-se
perceber, com maior intensidade, os condicionantes territoriais locais, apresentados por
Lemos et. al. (2005), que são os condicionantes Marshallianos; os condicionantes
Schumpeterianos, voltados para a aprendizagem e desenvolvimento das firmas por meio
de um processo evolutivo; e os condicionantes transacionais, que provocam a redução
dos custos de transação, provocados pela maior interação entre as firmas. Neste caso,
enquadram-se as tipologias de Markusen, relacionadas com os Distritos Industriais dos
tipos: centro-radial, Plataforma-satélite e Ancorados pelo Estado.
42
A situação D é típica em regiões que apresentam ausência de integração, uma
vez que predomina a organização horizontal, mas existe a presença de relações de trocas
na região. Esse caso corresponde aos sistemas territoriais de produção compostos de
pequenas firmas independentes e especializadas que mantém relações entre si. Em tal
sistema, as interações entre os diferentes atores são reguladas pelo meio. Não existe ator
dominante integrando os diferentes estágios da cadeia de valor agregado. São
mecanismos de concorrência-cooperação, entre os atores complementares, que
asseguram a coerência do conjunto e é o meio que organiza o sistema.
Conseqüentemente, este tipo de organização é muito favorável à emergência de
processos de aprendizagem. A característica destes sistemas de produção, organizados
sobre uma base territorial, reside no fato de a coordenação entre as diferentes fases de
produção é o resultado de um conjunto complexo de relações e regras que asseguram a
coerência e a flexibilidade do conjunto (Maillat, 1998). Com efeito, o princípio
organizador é o meio que age como elemento cognitivo sobre o funcionamento do
sistema. Certos distritos industriais marshallianos e italianos funcionam de acordo com
este princípio e podem, por conseguinte, ilustrar este caso. Neste tipo de região, existem
os condicionantes territoriais locais, que além de permitirem esse tipo de organização,
contribuem para que a região tenha característica diferenciada das outras regiões.
Como foi visto, as firmas que funcionam segundo a lógica funcional - situações
A e B - são organizadas de modo hierárquico, vertical, em que tudo se decide no nível
de uma direção central. Nesses sistemas, as firmas mantêm relações com o exterior, mas
no nível local, elas estabelecem pouco ou nenhuma relação. Não existe
complementaridade entre as firmas e os recursos específicos não são ativados. A
capacidade de desenvolvimento vem do exterior do sistema - desenvolvimento exógeno.
Esses tipos de organização não favorecem o desenvolvimento endógeno porque não
engendra processos de aprendizagem coletiva (Learning Interactive) na região, não
desenvolvendo os recursos específicos do território (Maillat, 2002). O território
desempenha papel passivo (Crevoisier, 1996).
Já os sistemas territoriais de produção - situações C e D - funcionam
principalmente segundo a lógica territorial. Com efeito, as firmas têm uma ligação forte
com o território. Elas são organizadas em rede e estabelecem entre elas relações do tipo
horizontal. O meio constitui o princípio organizador do sistema (Maillat, 1994; Maillat,
1998). Existem numerosas cooperações em parceria, pois o sistema funciona graças a
uma multiplicidade de atores complementares e interdependentes movidos por
43
mecanismos endógenos de desenvolvimento. Os sistemas são muito mais autônomos
que os dois precedentes, pois as firmas estão ancoradas no território. É, portanto, a partir
da lógica territorial que os laços ou as redes são criados com o exterior.
De acordo com esses autores, essas quatro situações – resumidas na Figura 5 não se excluem mutuamente. Na realidade os sistemas territoriais de produção
sobrepõem-se. Além disso, não há nenhuma razão de considerar esta tipologia como
estática, Pelo contrário, pode haver passagem de uma situação a outra:
a)
As sucursais das grandes firmas da situação A não são territorizadas, pois não
mantêm relações com outras firmas da região, mas, como estratégia da
organização geral, elas podem adquirir firmas, tanto a montante quanto a jusante,
por meio de um processo de integração vertical, passando para a situação B;
Presença de
integração interna
na cadeia de valor
na região
Ausência de
integração interna
na cadeia de valor
na região
Situação B
• Presença de integração inter-firmas
• Ausência de territorização
• Presença da grande empresa vertical
com funções internalizadas
• A empresa impõe-se ao território
• O desaparecimento da empresa pode
trazer conseqüências catastróficas;
• Não é favorável ao desenvolvimento
endógeno
• Não externaliza o conhecimento
• Território desempenha papel passivo
Situação A
• Ausência de integração inter-firmas
• Ausência de territorização
• Predominância por organizações
horizontais
• Presença de pequenas empresas
independentes e/ou sucursais de
grandes empresas
• Não engendra processos de
aprendizagem
• Território desempenha papel passivo
Situação C
• Presença de integração inter-firmas
• Presença de territorização
• A empresa dominante mantém relações
com outros atores da região
• As empresas cooperam e se complementam
• Grande empresa manifesta ancoragem no
território;
• Há redes de interdependência com regras e
códigos do meio
• Leva ao desenvolvimento endógeno
• Território desempenha papel ativo
•
•
•
•
•
•
•
•
Situação D
Ausência de integração inter-firmas
Presença de territorização
Predominância por organizações horizontais
Favorável à emergência de processos de
aprendizagem
Presença de regras e relações que asseguram a
flexibilidade do conjunto
Ocorrem em distritos industriais
Dispõem de capacidade endógena
Território desempenha papel ativo
Ausência de relações
de troca na região
Presença de relações
de troca na região
Figura 5. Resumo das tipologias do sistema territorial de produção
Fonte: Elaboração própria.
b)
Uma grande firma integrada verticalmente, representada pela situação B, poderá
interessar por externalizar algumas de suas atividades, estabelecendo relações com
44
outras firmas da região, passando para a situação C. Entretanto, segundo Maillat e
Kelbir (1999), para que os parceiros escapem ao empreendimento da grande firma,
é necessário que o meio se desenvolva;
c)
Se uma grande firma que se encontra na situação C, parcialmente integrada
verticalmente, integra-se com vantagens, tanto pela aquisição de seus
concorrentes, como pela absorção ou desaparecimento de seus subcontratados,
passa para a situação B. Neste caso, segundo, Maillat & Kelbir (1999), o efeito
meio corre o risco de desaparecer levando a região novamente a uma situação de
dependência em relação à grande firma;
d)
Uma grande firma que encontrada na situação C poderá se desfazer e, no seu
lugar, surgirem PMEs, apresentando forte relação entre elas, lideradas pelo meio.
Maillat & Kelbir (1999) ressaltam que, na situação D, o sistema dispõe de uma
organização do tipo meio. Porém, em razão do porte das firmas, as ligações com os
mercados são freqüentemente deficientes. A evolução desejável para esse tipo de
sistema territorial de produção é a passagem para uma situação intermediária entre C e
D, em que, graças a algumas firmas, as conexões com os mercados são mais bem
assegurada. Alternativa para essa situação pode ser o desenvolvimento de um agente
endógeno de coordenação do arranjo, conforme é mostrado por Crocco et. al. (2003).
Em alguns casos esse agente endógeno é representado por sindicatos patronais ou outra
instituição públicas de animação e apoio.
Portanto, as evoluções no sentido de maior territorização do espaço estiveram
relacionadas a manifestações territoriais em oposição a mudanças estruturais de
produção ocorridas nas últimas décadas (Fonseca Netto, 2002). No entanto, o sucesso
dessa evolução foi dependente da capacidade de ação dos atores regionais e do processo
de aprendizagem cumulativa e coletiva que eles realizaram, ou que eles foram capazes
de adquirir (Maillat e Kelbir, 1999). Essa aprendizagem cumulativa e coletiva sempre
esteve ligada a rotinas organizacionais codificadas ou tácitas (Nelson & Winter, 2006).
2.3
A formação e estruturação de sistemas locais de produção - Problemática
Desde os primórdios, o tamanho, a estrutura e o potencial do Mercado sempre
estiveram no bojo das preocupações das teorias da localização e da análise econômica
espacial. As decisões locacionais das firmas estão condicionadas a certas características
45
e ao potencial de mercado, numa relação de causa e efeito. Por um lado, o empresário,
ao decidir produzir, busca localizar-se onde pode ser estabelecida uma relação mais
dinâmica com o mercado. Por outro lado, o maior dinamismo ocorre onde grande parte
das empresas decide localizar-se (Krugman, 1991).
O dinamismo desses espaços acaba sendo condição ideal para a decisão ótima de
localização e desenvolvimento de empresas. Neles são encontrados: o centro
privilegiado para a geração de externalidades, as possibilidades de economias de escala
de produção, a presença de proximidade e de circularidade produtiva e a forte
elasticidade da oferta de fatores de produção.
Nesse aspecto, o tamanho, a estrutura e o potencial de mercado, geralmente
urbano, acabam funcionando como condicionante limitador ou um atrativo para a
localização ótima de firmas, denominado “Espírito da Empresa”.
No entanto, nas últimas décadas, a partir das experiências bem sucedidas de
desenvolvimento econômico ocorridas na Terceira Itália e em diversas partes do mundo,
pôde-se perceber a emersão de um novo paradigma de desenvolvimento regional,
tratados como manifestação territorial, do tipo distrito marshalliano, principalmente na
vertente italiana. Tais manifestações surgem em um espaço restrito, com presença de
firmas, geralmente de pequeno e médio porte, operando de forma sinérgica, em um
segmento de atividade econômica ou em um determinado setor específico, com uma
dada tecnologia original. Em uma fase madura de desenvolvimento, tais espaços atuam,
quase sempre, sob a égide de parceiros institucionais, dando formato a uma governança
local, apresentando participação ativa de atores sociais da comunidade local.
Esses sistemas locais de produção, do tipo distritos marshallianos, conhecidos no
Brasil como Arranjos Produtivos Locais, passaram a ser considerados protagonistas do
desenvolvimento econômico. Por isso, são perseguidos por políticas de planejamento e
desenvolvimento, no sentido de incentivar sua propagação, visto que, podem contribuir
para que as PMEs, por meio da cooperação horizontal e vertical, enfrentem o desfio da
sobrevivência (Lima, 2006; Maillat & Kelbir, 1999). Por um lado, por meio de redes
horizontais, as PMEs podem coletivamente, atingir economias de escala acima da
capacidade individual, realizar compras de insumos em conjunto, atingir escalas ótimas
no uso de maquinário, combinar suas capacidades de produção para atender pedidos de
grande escala, etc. Por outro lado, por meio de redes verticais, as PMEs, podem se
especializar no seu core business e dar lugar a uma divisão externa do trabalho, por
meio da interação entre usuários e produtores (Santos et. al. 2002).
46
O avanço das metodologias de identificação e classificação de APLs, em geral,
traz novas reflexões sobre este novo paradigma do desenvolvimento regional/local.
Segundo Aydalot (1986), Benko et. al. (1987), Pecqueur (2001), Maillat (2002), Torre
(1993) e Benko & Dunford (1991), essas manifestações surgem num contexto de
iniciativas voluntárias e espontâneas, territorializadas e sob influência da proximidade
espacial, lançadas por atores enraizados em um sistema sócio-cultural e econômico local
de produção, privilegiando os recursos - naturais, humanos e financeiros - endógenos ao
território onde se inserem. Esse fenômeno tem origem na reação da população local às
situações diferenciadas e reflete o nível de empreendedorismo local. Esses autores
sustentam que, quando há políticas ou programas de promoção e de incentivos
implantados de fora para dentro e/ou de cima para baixo, isto é, sem o mínimo de
capacidade de organização e de mobilização social e política da comunidade local, na
maioria das experiências internacionais há insucesso.
Nesse sentido, Lefevre (2000) e Maillat & Kelbir (1999) afirmam que os
sistemas territoriais de produção são, por definição, organizações informais, frutos de
um processo histórico de formação, que surgem naturalmente numa região. Por isso,
não podem ser criados e nem impostos por lei. Porém, para Lefevre (2000), esses
sistemas podem ser estruturados a partir do local e com apoio institucional de
organismos já existentes pelo Estado.
Segundo Suzigan et. al. (2005), o processo de formação estruturação levam à
diversificação dos APLs. Tais diferenças são resultantes da evolução histórica, da
organização institucional, do contexto social e cultural, da estrutura produtiva, das
formas de inserção nos mercados interno e internacional, das estruturas de governança,
da logística, do associativismo, do cooperativismo, das formas de aprendizado e de
disseminação do conhecimento local.
Essas diferenças, de acordo com Lemos et. al. (2005), acabam criando
externalidades positivas, negativas ou restritivas, que funcionam como condicionantes
territoriais – marshallianos, schumpeterianas, transacionais e institucionais –, capazes de
dar um caráter diferenciador aos APLs, influenciando a dinâmica dos sistemas
produtivos. Qualquer alteração positiva ou negativa em um ou mais desses
condicionantes pode gerar diferenças significativas entre os sistemas produtivos.
A participação dos espaços territoriais no processo de crescimento e
desenvolvimento endógeno pode estar relacionada com a teoria da concentração
geográfica de empresas desenvolvida por Krugman (1991), em que, ao avaliar a
47
interação entre demanda, custos de transporte e rendimentos crescentes, chega à
conclusão de que o empresário, ao decidir produzir, busca se localizar onde há procura
elevada para determinado tipo de especialização e esse aumento da procura torna-se
forte atrativo para novos produtores.
No entanto, os resultados de suas pesquisas (Krugman, 1996; 1998) revelam que
esse modelo teórico explica o processo de formação, desenvolvimento e estruturação de
aglomerados produtivos do tipo distrito marshalliano, cuja geração é induzida pela
presença de condicionantes territoriais ou de economias externas locais, geralmente
resultando de ações fortuitas. Tais condicionantes acabam contribuindo para a decisão
sobre o tipo de especialização a ser desenvolvida em uma localidade, com base em tipo
de matéria-prima específica, mão-de-obra, tecnologia ou proximidade de mercados.
A estruturação espacial das economias é definida por processos positivos
resultantes das decisões dos agentes privados operando o balanço entre as forças da
economia de mercado, ou seja, as forças centrífugas, que geram benefícios –
representadas por linkages setoriais; mercados densos; spillovers de conhecimento e
outras economias externas de aglomeração – e as forças centrípetas, que geram custos –
preços de aluguéis, poluição, custos não recuperáveis (sunk costs) e outras
deseconomias externas.
Assim, desenvolvimento, crescimento e organização iniciais de APLs podem ser
explicados pelos rendimentos crescentes, externos às empresas, mas internos ao local,
da concentração dos fatores de produção e da redução do custo de transporte. Porém, a
partir da interação entre os atores no funcionamento desses APLs, novas externalidades
surgem como efeitos de aglomeração. Isso ocorre devido a economias nos custos de
transação, a progressos na qualificação da mão-de-obra, a aumento de tecnologia e
informação ou as características históricas ou sociais particulares que surgem ao longo
da evolução de cada APL. Esses novos condicionantes ou externalidades são
denominadas por Lemos et. al (2005) de Schumpeterianos, Transacionais e
Institucionais.
O modelo de Krugman, aplicado aos aglomerados produtivos locais do tipo
distrito marshalliano, da indústria tradicional, reforça a posição de que sobra pouco
espaço para a ação do Estado para criar APLs. No entanto, são importantes ações
planejadoras voltadas para fortalecer esses APLs em seu funcionamento. Contudo,
deve-se observar que, para Lemos et. al. (2005), externalidades podem agir como
condicionantes territoriais na formação, estruturação, crescimento e desenvolvimento de
48
Arranjos Produtivos Locais (APLs) de forma positiva, negativa ou restritiva. A forma
de manifestação desses condicionantes dá aos aglomerados um caráter único e
diferenciador.
Tais condicionantes estão atrelados ao tamanho, a estrutura diversificada e o
potencial do mercado. Um mercado com perfil dinâmico e potencial goza de
externalidades pecuniárias e tecnológicas; de possibilidades de economias escala de
produção; de atuação dos efeitos de proximidades e de circularidade, conforme
demonstrado por Hirschman (1959) e; de forte elasticidade da oferta de fatores de
produção. Já um mercado urbano menos dinâmico apresentaria limitações para o
crescimento das firmas e, conseqüentemente, para a opção de localização, uma vez que,
reduziria as possibilidades da geração das economias de escala, repercutindo no
crescimento das firmas do APL.
Entretanto, de acordo com Krugman (1996), a oferta de fatores de produção é
quase sempre elástica em uma dada localização regional, já que, com exceção das
atividades extrativas, os fatores de produção são móveis, podendo migrar de outras
regiões do espaço nacional. Além disso, a concentração de firmas de um mesmo setor,
segmento ou campo tecnológico, pode oferecer retornos econômicos por meio dos
diversos tipos de externalidades positivas, obtidas por meio da proximidade espacial,
conforme sugere Marshall (1890), mesmo que ocorra de forma mais limitada diante de
um grande mercado potencial.
Desse modo, cabe indagar: Como os espaços dos APLs foram estruturados,
dentro de uma lógica territorial, de modo que se tornassem fatores de localização
capazes de atrair e manter empresas relacionadas entre si? Mais especificamente, a) até
que ponto o tamanho, a estrutura diversificada e o potencial do mercado induzem ou
condicionam as escolhas locacionais das firmas que compõem um APL? b) existem
outros fatores econômicos e extra-econômicos que induziriam as tomadas de decisões
locacionais, preferencialmente para estes territórios que abrigam esses APLs, mesmo
situados em mercados urbanos pouco dinâmicos? c) é possível um APL especializado se
formar, se desenvolver e se estruturar em mercados pouco dinâmicos e menos
estruturados funcionalmente? d) como os conhecimentos e habilidades dos agentes
sociais chegaram até eles? e) quais os condicionantes territoriais que favoreceram o
surgimento, desenvolvimento e estruturação de empresas e dos sistemas produtivos
territoriais nas regiões? e, f) quais os condicionantes territoriais que estão presentes na
atual estrutura desses APLs?
49
O estudo parte da hipótese de que um mercado urbano pouco dinâmico limita e
condiciona o desenvolvimento das firmas aglomeradas em espaços restritos, porém, não
impede o surgimento, o desenvolvimento e a estruturação de APLs especializados em
segmentos ou setores da indústria tradicional em regiões menos dinâmicas do Estado de
Minas Gerais, pois, existem fatores econômicos e extra-econômicos, traduzidos nos
condicionantes marshallianos, schumpeterianos, transacionais e institucionais relevantes
que levariam os agentes econômicos e suas firmas a se mobilizarem.
Para a comprovação desta hipótese, foi necessário o desenvolvimento da
pesquisa de campo. A metodologia utilizada e os estudos desenvolvidos em quatro
APLs mineiros são apresentados na Parte II.
50
PARTE II
Os Arranjos Produtivos Locais das empresas de móveis e de confecções
do Estado de Minas Gerais: características e funcionamento
51
O principal objetivo deste trabalho é investigar e analisar o processo de
formação, desenvolvimento e estruturação de quatro arranjos produtivos locais (APLs)
de indústrias tradicionais do Estado de Minas Gerais, os APLs do Pólo Moveleiro de
Ubá, da Indústria de Móveis de Carmo do Cajuru, da Indústria de Confecção de Muriaé
e da Indústria do Vestuário de São João Nepomuceno, como forma de instrução de
políticas de desenvolvimento regional.
Na literatura contemporânea referente a Economia Industrial e a Economia
Regional, no que se refere aos Arranjos Produtivos Locais, há carência de estudos que
busquem compreender a natureza do fenômeno, compreendendo a formação, o
desenvolvimento e a estruturação desses arranjos. Tais estudos podem contribuir para o
melhor entendimento do fenômeno, bem como, para o desenvolvimento de políticas
públicas mais eficazes.
Para
aprofundar
questões
específicas
referente
a
formação
das
firmas/empreendimentos e seu desenvolvimento em aglomerados territoriais, é
necessário transcender a revisão de literatura, em direção a uma pesquisa de campo.
Então, realizou-se um estudo envolvendo quatro APLs mineiros, da indústria
tradicional, de modo que pudesse aprofundar a investigação de como os espaços dos
APLs foram estruturados, dentro de uma lógica territorial, de modo que se tornassem
fatores de localização capazes de atrair e manter empresas relacionando entre si.
Esta segunda parte da tese visa apresentar os dados coletados na pesquisa de
campo junto aos quatro APLs. Num primeiro momento, é detalhada a metodologia
utilizada, envolvendo o tipo de pesquisa, técnicas de coleta de dados levantamento dos
métodos, as técnicas e as limitações da pesquisa. Em seguida são apresentados os
resultados da pesquisa de campo envolvendo a evolução histórica dos APLs, a estrutura
e a dinâmica desses arranjos produtivos e formas de cooperação e associativismo.
Em virtude das peculiaridades de cada tipo de produção, mesmo pertencendo à
indústria tradicional, optou-se por agrupar os dados relacionados com a produção de
móveis em um capítulo e os dados relacionados com a produção de artigos em
confecção em outro capítulo.
52
CAPÍTULO 3
Aspectos metodológicos da pesquisa
3.1.
APLs Eleitos para a Pesquisa
O principal objetivo deste trabalho é investigar e analisar o processo de
formação, desenvolvimento e estruturação de quatro arranjos produtivos locais (APLs)
de indústrias tradicionais do Estado de Minas Gerais – os APLs do Pólo Moveleiro de
Ubá, da Indústria de Móveis de Carmo do Cajuru, da Indústria de Confecção de Muriaé
e da Indústria do Vestuário de São João Nepomuceno – como forma de instrução de
políticas de desenvolvimento regional. A área de abrangência dos APLs estudados é
mostrada na Figura 6.
Minas Gerais foi escolhida pelo histórico de ocupação industrial territorial, que
gerou dispersão de localização e nítidas disparidades de dinamismo, com
microrregiões24 estagnadas, em depressão, de crescimento moderado, rápido ou
acelerado (Figueiredo & Diniz, 2000). Assim, em grande parte do Estado, o
desempenho econômico e social é abaixo do potencial, com necessidade de
investimento em infra-estrutura, baixa geração de emprego pelos grandes e médios
novos projetos industriais, renda média per capita abaixo da nacional e altos níveis de
desemprego (FIEMG, 1999). Para solução desses problemas, o Governo Estadual vê a
dinamização de APLs como forma inovadora de desenvolvimento regional, já que
foram identificados, pelo MDIC, 89 APLs, colocando este Estado em 2º lugar no país.
Optou-se por restringir o estudo aos APLs tradicionais, reconhecidos pelos
governos federal e estadual e, ainda, sob orientação do SEBRAE25 e/ou do IEL26,
evitando-se APLs assim denominados apenas visando benefícios de políticas de
desenvolvimento. Os APLs tradicionais, por não nascerem da infra-estrutura de Ciência
e Tecnologia (C & T), não possuem forma embrionária de coordenação, por isso,
24
Os 853 municípios mineiros foram agrupados em 66 microrregiões.
25
http://www.sebrae.com.br/br/cooperecrescer/aplssebraeatua_1698.asp acessado em 28 de janeiro de
2007.
26
http://www.fiemg.com.br/content/diretoria/PublicacaoHTML.asp?cod_pai=268&cod_diretoria=268&no
m_diretoria=APLs%2020Arranjos%20Produtivos%20Locais&cod_pasta_pai=&cod_publicacao=3094&PastasAbertas) acessado
em 28 de janeiro de 2007
53
segundo Lemos et. al. (2003), se esses não contarem com o apoio do setor público,
podem cair em ciclo vicioso de estagnação ou declínio.
Figura 6. Os APLs mineiros Estudados e suas respectivas áreas de abrangência
Fonte: Elaboração própria.
54
Para comparação de diferentes estágios de evolução de APLs de mesma
atividade industrial e de especificidades de APLs de diferentes atividades industriais,
foram escolhidos dois APLs de cada uma de duas atividades industriais, a moveleira e
de confecção de vestuário, que têm grande destaque na absorção de mão-de-obra e
geração de renda na economia de Minas Gerais. Ambos ocupam o terceiro lugar no país
em relação ao número de estabelecimentos, conforme dados da RAIS/MTE (2007).
3.2. Tipo de pesquisa Desenvolvida
Para atender ao propósito do estudo, a pesquisa foi desenvolvida por meio da
abordagem denominada Pesquisa Qualitativa, de cunho descritivo. Esse tipo de pesquisa
é o mais adequado à compreensão de impactos sociais e culturais de um fenômeno, pois
visa compreensão mais que quantificação e, ao invés da generalização, tem o particular,
o específico, o individual e o peculiar como focos, que se definem no seu
desenvolvimento (Triviños, 1987; Godoy, 1995; Rampazzo 2002).
Assim, há necessidade uso de subjetividade na adoção de critérios intencionais
de acesso e qualificação de amostras, no uso de instrumentos pouco estruturados de
coleta de dados e na aplicação de análise de cunho interpretativo (Vergara, 2005).
De acordo com Oliveira (1999), a pesquisa qualitativa permite: a) descrição da
complexidade de uma hipótese ou problema; b) análise da interação entre variáveis: c)
compreensão e classificação de processos dinâmicos experimentados por grupos sociais;
d) verificação do processo de mudança, criação ou formação de opiniões de m grupo; e)
interpretação das particularidades dos comportamentos e atitudes dos indivíduos.
3.3. Técnicas de coleta e análise dos dados
A coleta de dados foi feita pelas seguintes técnicas: a) pesquisa bibliográfica
que, segundo Oliveira (1999), visa o conhecimento de contribuições científicas; b)
pesquisa documental, que, segundo Black & Champion (1976), usa dados secundários,
de fontes escritas e estatísticas de observações realizadas por órgãos públicos; c)
entrevista semi-estruturada em função de itens verificados no referencial teórico,
aplicada a conhecedores dos arranjos produtivos, cujo roteiro (anexo I), foi elaborado
seguindo recomendações de Barros & Lehfeld (2000) e que, segundo Trivinõs (1987) e
Yin (2005), visa dar ao informante liberdade necessária ao máximo enriquecimento da
investigação; d) entrevista estruturada, aplicada a amostra de empresas produtoras do
55
APLs estudados, cujo roteiro (anexo II), foi elaborado em função de itens verificados
por entrevista semi-estruturada.
Assim, os dados da pesquisa são oriundos de diferentes fontes, primárias e
secundárias, o que, para Triviños (1987), permite “abranger a máxima amplitude
descritiva. Segundo Vergara (2005), esta técnica de pesquisa, denominada triangulação
de dados, é baseada na interligação de diferentes fontes de dados e diferentes métodos,
para investigação do mesmo fenômeno (Tabela 2).
Conforme a disponibilidade de dados ou o conhecimento dos informantes, o uso
de dados primários e secundários variou entre APLs e afetou o número e a forma de
preenchimento do roteiro único de entrevistas. Em APLs objetos de estudos prévios,
como nos de Ubá e São João Nepomuceno, realizou-se mais pesquisa documental em
dissertações, teses e relatórios, e, nos APLs de Muriaé e Carmo do Cajuru, mais
entrevistas. No caso de Muriaé, para resgatar a história da primeira confecção, adotouse o método de Depoimento Oral, em que se registra o conhecimento da história recente
de um entrevistado, pois não haviam registros escritos e a fundadora ainda é viva.
A aplicação de entrevista nos APLs foi dividida em dois momentos distintos.
Entre maio e outubro do ano de 2007, foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas e,
entre outubro e março de 2008, foram aplicadas entrevistas estruturadas.
Em virtude da necessária flexibilidade na obtenção das informações, no primeiro
momento, a seleção de entrevistados foi feita por amostragem não-probabilística do tipo
Snowball (bola de neve), em que, segundo Malhotra (2001), a partir de referências ou
informações obtidas em entrevistas anteriores, quantas vezes necessárias à
complementação da pesquisa, selecionam-se aleatoriamente novos entrevistados.
As entrevistas semi-estruturadas, embora seguindo o roteiro, foram feitas por
conversas informais, dirigidas pelo entrevistador, para que o entrevistado se sentisse à
vontade, sem ser limitado pelo número de perguntas. Durante a entrevista, documentos
escritos foram apresentados aos entrevistados, para corroboração das respostas.
Concomitantemente à coleta, a análise dos dados permitiu retro-alimentação, o
que, segundo Triviños (1987), caracteriza a pesquisa qualitativa. Assim, com
informações obtidas, desenvolveu-se o roteiro de entrevista estruturada aplicado em
amostra da população de empresas formais e sindicalizadas, evitando-se empresas
formais não sindicalizadas, em virtude da dificuldade de acesso e informais, por falta de
cadastro de nome e endereço.
56
Tabela 2. Fontes de coleta de dados dos APLs pesquisados
APL
Ubá
Fontes Primárias
Entrevistas semi-estruturadas aplicadas
a) ao gerente do INTERSIND;
b) ao gerente do SENAI;
c) a 6 empresários locais;
Entrevista estruturada aplicada a 35
empresários locais
Fontes Secundárias
Diagnóstico do pólo moveleiro de Ubá e
Região, realizado em 2003 pelo IEL;
Industrialização Descentralizada: Sistemas
Industriais Locais O Arranjo Produtivo
Moveleiro de Ubá (Crocco et al, 2001);
Jornal do Brasil (06/07/71);
Revista Móveis de Minas (2007);
INTERSIND 15 anos (2004).
Base de dados da Fundação João Pinheiro
(2004);
Dados do IBGE, 2005.
Carmo do
Cajuru
Entrevistas semi-estruturadas aplicadas:
a) ao gerente do SINDMOV
b) a 4 empresários, representantes do
Comitê Gestor do APL
Entrevista estruturada aplicada a 22
empresários locais
Diagnóstico da \Indústria Moveleira de
Carmo do Cajuru realizado em 2003 pelo
IEL
História de Carmo do Cajuru
Monografia de Graduação de Mateus (2004)
Muriaé
Entrevistas semi-estruturadas aplicadas:
a) ao técnico do SEBRE-MG;
b) ao Fornecedor de maquinas e
equipamentos;
c) ao Secretário Municipal de
Desenvolvimento;
d) ao Presidente da Delegacia Regional
de Muriae e Região;
e) ao Presidente do Circuito Pólo da
Moda;
f) ao representante do SENAI;
g) ao representante do CONDESC;
h) à proprietária da primeira confecção
de Muriaé;
i)ao Museólogo da Cidade;
j) a 6 empresários locais.
Entrevista estruturada aplicada a 26
empresários locais
O diagnóstico da Indústria do Vestuário de
Muriaé e Região, realizado em 2005, pelo
IEL;
Dissertação de mestrado de Souza (2005);
Base de dados da Fundação João Pinheiro
(2004);
Dados do IBGE (2005)
São João
Nepomuceno
Entrevistas semi-estruturadas aplicadas:
a) ao gestor do SEBRAE-MG;
b) ao gestor do SENAI/SESI;
c) ao presidente do SINDIVEST;
d) ao presidente da Agência de
Desenvolvimento;
e) a 8 (oito) empresários locais, de
empresas líderes do arranjo;
Entrevista estruturada aplicada a 20
empresários locais.
Diagnóstico da Indústria do Vestuário de
São João Nepomuceno, realizado em 2003
pelo IEL;
Diagnóstico de Gestão das Indústrias do
Vestuário de São João Nepomuceno,
realizado em 2005 pelo IEL;
Base de dados da Fundação João Pinheiro
(2004);
Dados do IBGE (2005)
Fonte: elaboração própria.
As empresas foram contatados por meio de telefone e email. A aplicação do
questionário, acompanhado da entrevista, foi realizada nas empresas que concordaram
participar da pesquisa. Do total de empresas formais, foram entrevistadas 11 % (35) em
Ubá; 30% (22) em Carmo do Cajuru; 11 % (26) em Muriaé; e 21 % (20) em São João
57
Nepomuceno. Esses percentuais, em função do número de empresas associadas aos
órgãos de animação e apoio representam: 36% em Ubá, 52% em Carmo do Cajuru, 52%
em Muriaé e 33% em São João Nepomuceno.
Para checar se o número de entrevistas era suficiente, foi utilizado o raciocínio
de Richardson (2007) para amostra estratificada proporcional em que o autor propõe
tomar uma fração de amostragem para cada estrato que seja semelhante à proporção que
ele ocupa no universo. Assim, neste procedimento, escolhendo-se 5% da população de
cada estrato, seria o bastante. No caso da pesquisa, optou-se por estratificar a população
em virtude da classificação de empresas, relacionada com o número de empregados.
Como medida de segurança, estabeleceu-se um mínimo de entrevistas igual a 10% do
total de empresas formais em cada APL.
3.4. Desenvolvimento da pesquisa
Objetivando caracterizar e comparar APLs, que foram construídos por um
processo de endogeneização do espaço, de dentro para fora, em cima da lógica
territorial, o presente estudo foi dividido em cinco etapas:
Etapa 1 – Levantamento do histórico de criação e desenvolvimento de cada APL
Esta primeira etapa teve por finalidade levantar o processo de gênese dos
sistemas produtivos industriais locais mineiros eleitos, mostrando como os espaços
foram estruturados e desenvolvidos, dentro da lógica territorial.
Etapa 2 – Identificação de agentes e de seus papéis nos APLs
Após a construção do histórico de formação dos sistemas produtivos, foi feita a
identificação dos agentes/entidades envolvidos, ressaltando suas competências e
contribuições em seus campos de atuação nas cadeias produtivas dos APLs.
Para essa identificação, foram usados desenhos representativos da realidade e
mapas de associação de idéias construídos com base na transcrição das entrevistas e
com base em análise documental. Esses mapas de associação de idéias têm sido muito
utilizados, uma vez que têm por objetivo ajudar o pesquisador na análise e interpretação
dos dados da pesquisa e facilitar a comunicação de seus resultados. A construção dos
mapas de associação de idéias confere visibilidade ao processo de análise, devido à
organização de dados em estado bruto em colunas que correspondem às categorias
58
sistemáticas definidas pelo pesquisador. Também permite a apresentação dos dados na
seqüência em que eles foram coletados, sem fragmentá-los, evidenciando o todo ao se
percorrerem as colunas dos mapas.
Etapa 3 – Análise de relações entre empresas e entre estas e demais agentes do
APL
Após a coleta de dados, foi feita a análise dos papéis de cada agente no APL, por
meio de relações estabelecidas dentro dos APLs, tais como:
a) as empresas do segmento central, ressaltando a cooperação vertical interfirmas, usada para aproveitar economias externas, e a cooperação horizontal entre
concorrentes, usada para intensificar atividades de compra, venda distribuição, pesquisa
e desenvolvimento, e demais atividades mercadológicas em conjunto.
b) as empresas de apoio, tais como fornecedores e prestadores de serviços gerais
e específicos, ressaltando os tipos de parcerias entre esses agentes e os benefícios
trazidos para o desenvolvimento do APL. Neste trabalho, o fornecedor é conceituado
como toda empresa local, como loja de fábrica, revendedor ou representante comercial
de empresas, situadas fora do município, que vende matéria-prima, embalagens,
acessórios, máquinas e equipamentos;
c) os agentes de capacitação e qualificação de mão-de-obra fabril e gerencial,
ressaltando contribuições dessas entidades para a elevação do nível de competitividade
do APL, por meio da elevação do nível de escolaridade de seus trabalhadores;
d) os agentes de pesquisa, universidades e de inovação de produtos e processos,
mostrando como as empresas do APL mantêm essa relação com os centros de pesquisa
e com empresas de inovação de produtos e processos;
e) os principais clientes, mostrando as relações e as estratégias usadas em
conjunto para a busca de novos clientes;
f) os agentes gerais de apoio e de animação do arranjo, avaliando como esses
agentes têm desempenhado seus papéis na orientação da organização coletiva dos
recursos materiais, humanos e culturais territorialmente disponíveis.
Etapa 4 - Levantamento dos condicionantes territoriais
Por análise qualitativa, foi feito o levantamento de condicionantes territoriais,
que poderiam estar impulsionando ou restringindo o desenvolvimento de cada APL.
59
Tais condicionantes são equivalentes às externalidades apresentadas no capítulo
I, que apresenta o levantamento das economias externas que poderiam ser obtidas por
meio da aglomeração de empresas em APLs ou SPLs. Assim, esses condicionantes,
importantes como suporte à políticas públicas levando em conta as especificidades
territoriais dos APLs, foram classificados como: marshallianos, schumpeterianos,
transacionais e institucionais (Tabela 3).
Como os vários condicionantes podem estar ausentes ou presente com reflexos
diferenciados nos APLs foi utilizado, para cada item de condicionante, uma escala
Likert, com 5 níveis, formando uma escala de 0 a 4: 0 – Ausência do condicionante; 1 –
Presença do condicionante com papel classificado como incipiente, funcionando até
como problema para o APL; 2 – Presença do condicionante com papel classificado
como razoável; 3 – Presença do condicionante com papel classificado como bom, ainda
que não da forma ideal; 4 – Presença do condicionante com papel classificado como
muito bom, ou seja, da forma ideal.
A escala Likert, construída por análise de itens, foi escolhida por ser mais
adequada ao tipo de análise adotada, já que, segundo Richardson (2007), é a mais
indicada qualificar atitudes negativas e positivas de um objeto, instituição ou tipo de
pessoa.
Os resultados obtidos em entrevistas semi-estruturadas e estruturadas e em
outras fontes secundárias de pesquisa foram classificados conforme a escala proposta
para análise em conjunto.
Etapa 5 – Levantamento da dinâmica organizacional de cada APL
Nesta etapa, foram sumarizadas informações obtidas, para caracterização do
estágio de desenvolvimento de cada APL, visando a comparação entre eles. Transpondo
o raciocínio de Penrose (1959) para o APL, o que torna um conjunto de empresas em
um APL (ou um APL em SPL) não é apenas a disponibilidade de recursos materiais,
humanos e sociais, como tecnologia, informação, mão-de-obra, fornecedores,
consumidores, mas o nível de organização do uso desses recursos produtivos.
60
Tabela 3. Condicionantes territoriais utilizados para analisar os APLs estudados
Tipo
Condicionante
- Disponibilidade de mão-de-obra
- Qualidade de mão-de-obra
- Custo da mão-de-obra
- Presença de fornecedores de matérias-primas diversas disponíveis na região
- Presença de fornecedores de bens de capital
- Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos
- Existência de programas governamentais
Marshallianos
- Proximidade/vizinhança de mercados
- Disponibilidade de recursos naturais específicos localmente ou no entorno
regional
- Presença de infra-estrutura física adequada e suficiente no seio da base
produtiva local (energia, telecomunicação, vias de acesso por meios transportes,
etc.)
- Acesso fácil à informação
- Existência de alto número de pessoas engajadas em atividades de design e
inovação Proximidade
- Elevado nível de qualificação da mão-de-obra
- Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários
- Universidades e Centros de pesquisa
Schumpeterianos - Presença de associações de classe e comerciais dedicadas assistência de rotina às
atividades técnicas, produtivas, comerciais e financeiras
- Presença de associações de classe e comerciais para qualificação da força de
trabalho
- Presença de associações de classe e comerciais para capacitação tecnológica das
firmas
- Existência de cooperação entre firmas competidoras baseada em relações de
confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas.
- Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação
- Utilização de colaboração horizontal
- Existência de contatos freqüentes entre empresas formais e informais
- Presença de confiança recíproca
Transacionais - Existência de contratos mais flexíveis
- Influência da governança interna do APL em relação a facilidades para
elaboração de contratos mais flexíveis
- Contribuição da governança interna para facilitar o processo de compras em
conjunto
- Contribuição da governança interna para facilitar o processo de vendas em
conjunto
- Contribuição da governança interna para facilitar o marketing conjunto
- Existência de um ambiente institucional que permite a redução da
assimetria de informação no SPL e redução de custos de transação
- Criação de aspectos culturais que permitam estabelecer laços de
confiança, interação social, identidade e objetivos comuns.
- Existência de apoio das instituições políticas e sociais no
Institucionais desenvolvimento de atividades de parceria
- Existência de apoio de instituições políticas e sociais para estimular a
transformação do SPL em sistemas mais amplos de inovação
- Existência da proximidade dos APLs com instituições de ensino, pesquisa
e agentes econômicos
Fonte: Elaboração própria.
61
Etapa 6 – Análise comparativa de APLs e a criação do modelo de formação e
desenvolvimento dos APLs estudados
Nesta etapa, foi usada a técnica de triangulação dos dados obtidos nas fases
anteriores, levantando formas de funcionamento e pontos divergentes e convergentes
entre os APLs, permitindo comparações levando em consideração o passado, a cultura,
as relações exercidas entre empresas. Por esse processo de comparação entre APLs e
confrontação dos resultados com a literatura, buscando a generalização dos resultados.
3.5. Limitações do estudo
A interpretação dos estudos e suas respectivas conclusões devem considerar as
limitações inerentes à sua metodologia de execução, entre as quais:
•
As opiniões levantadas junto aos empresários locais se referem apenas a
aqueles que pertencem às empresas formais sindicalizadas, podendo não
representar a totalidade das impressões das empresas do APL;
•
Não foi investigada a eficiência em relação ao propósito da existência
dos agentes participantes dos APLs, pois se baseou apenas em pesquisa
de opinião;
•
Os condicionantes institucionais analisados foram os que podem afetar o
comportamento das empresas em prol de um ambiente de maior
cooperação presentes localmente. Não foram analisados condicionantes
institucionais externos ao ambiente dos APLs, tais como o Sistema
Nacional de Inovação e a conjuntura macroeconômica, que podem
refletir nos APLs;
•
Os resultados obtidos são válidos para o grupo formado pelos quatro
APLs estudados, pois, para a generalização de resultados, é necessário
que o estudo seja replicado para uma amostra maior de APLs;
•
Os resultados obtidos refletem um período de tempo, que está dentro de
um processo de evolução dos APLs. Assim, este estudo precisa ser
revisado em tempo futuro para torná-lo adequado às novas realidades
que surgirão.
62
CAPÍTULO 4
Os arranjos produtivos locais de móveis de Minas Gerais
A indústria moveleira é formada por cadeias produtivas extensas, capazes de
proporcionar importantes ganhos de escala e agilidade nas etapas do processo produtivo
(Crocco & Horácio, 1999). Em geral é constituída por um contingente numeroso de
empresas, em sua maioria, pequenas e médias, consideradas especializadas. As
empresas de menor porte se ocupam da produção de peças e acessórios, ao passo que as
maiores cuidam da montagem e do acabamento (Gorini,1998).
Em relação a matérias-primas, as localidades ou países que possuem abundância
desses recursos, principalmente a madeira, tende a explorar a oferta de recursos naturais
como fator de competitividade. Já as localidades ou países que não possuem essa
abundância, a competitividade é alcançada por meio da inovação no produto final,
conseguida pelo aperfeiçoamento do design dos móveis e, ainda, pela utilização de
combinações de matérias-primas. Com a finalidade de reduzir custos, manter a
qualidade e superar a escassez de madeiras nobres e as limitações legais sobre sua
exploração, as indústrias combinam diferentes matérias-primas na confecção do produto
final. Como inovações de matérias-primas, destacam-se o MDF (Medium-density
fiberboard) e as madeiras reflorestáveis, como o eucalipto e o pinus (IEL, 2003).
Com relação à tecnologia de produção, as inovações do setor moveleiro
dependem de inovações no setor de máquinas e equipamentos. A inovação mais recente
foi a substituição de máquinas eletromecânicas por equipamentos microeletrônicos, o
que permitiu uma redução do uso de mão-de-obra e a possibilidade de um processo de
produção mais flexível (Rosa et. al. 2007). Apesar da recente modernização do setor,
não existem limitações para o uso de máquinas antigas e modernas em uma mesma
linha de produção. O setor continua muito especializado e intensivo em mão-de-obra.
Este capítulo é estruturado em três partes. Na primeira parte é apresentada a
Cadeia Produtiva do setor moveleiro, de modo a mostrar os relacionamentos que
ocorrem dentro da cadeia. Na segunda parte, os panoramas internacionais, nacionais e
no Estado de Minas Gerais. Na terceira parte, os APLs estudados de Ubá e Carmo do
Cajuru.
63
4.1
Cadeia Produtiva de móveis
Na cadeia produtiva de madeira e de móveis, os elos compreendem a extração da
madeira, a transformação e a comercialização de produtos acabados, além da inserção
constante de estratégias de marketing e de design (Figura 7).
Insumos
Indústria Madeireira
Silvicultura e
exploração
vegetal
Diversos
Artefatos
têxteis
Artefatos de
couro
Britamento e
outros
trabalhos em
pedra
Fabricação
de artigos de
vidro
Indústria Química
Fabr. Tintas,
vernizes,
lacas e
esmaltes
Fabr. Estruturas
de madeira e
carpintaria
Transformação
Fabr. de madeira
laminada,prensada.
compensada,
aglomerada.
Fabricação
de móveis de
madeira
Desdobramento da
madeira
Indústria Metalúrgica
Produção de
relaminados,
tref. de aço
Metalurgia
do alumínio e
suas ligas
Produção de
tubos de aço
Ferragens
em geral
Fabricação
impermeabili
zantes e
solventes
Artefatos
diversos de
plástico
Fabr.
Adesivos e
selentes
Fabr. Lamina
planos e
tubul. plástico
Fabricação
de móveis de
metal
Fabricação
de móveis de
outros
materiais
Mercado
interno e
externo
Atacado e
varejo
Representante
comercial
Fabricação
de colchões
Inserção de estratégias de Marketing e Design
Figura 7. Cadeia produtiva do setor moveleiro
Fonte: IEL (2003)
O primeiro elo da cadeia moveleira, definido como insumos, engloba todo e
qualquer tipo de material necessário para a fabricação do móvel, como madeira, couro,
plástico, tecido, tubo de aço, etc., incluindo os bens e serviços fornecidos pelas
indústrias madeireiras, metalúrgicas, químicas e outras diversas.
O próximo elo é representado pela indústria de transformação, que engloba a
fabricação dos móveis, sejam esses de madeira, plástico, metal ou outros materiais,
incluindo a fabricação de colchões.
A etapa final da cadeia produtiva inclui canais de distribuição e comercialização
do produto final, como representantes comerciais, varejistas e atacadistas.
64
É importante ressaltar a importância das indústrias a montante da cadeia
produtiva, responsáveis pelas etapas iniciais, ou seja, as indústrias que fornecem
equipamentos para extração madeireira e as empresas de prestação de serviços.
4.2
A indústria moveleira no âmbito internacional, nacional e no Estado de
Minas Gerais
4.2.1
Panorama Internacional
Quantitativamente, o comércio mundial de móveis envolve basicamente sessenta
países. A produção mundial é estimada em US$ 267 bilhões (Tabela 4). Os maiores
países produtores são Estados Unidos (US$ 57 bilhões), China (US$ 38 bilhões), Itália
(US$ 23 bilhões), Alemanha (US$ 19 bilhões), Japão (US$ 12 bilhões), Canadá (US$
11 bilhões), Reino Unido (US$ 10 bilhões) e França (US$ 9 bilhões), que produziram
juntos, em 2005, 67,8% do total mundial. Os maiores exportadores são, pela ordem,
China (US$ 13 bilhões), Itália (US$ 10 bilhões), Alemanha (US$ 6 bilhões), Polônia
(US$ 5 bilhões) e Canadá (US$ 4 bilhões), que respondem por 50% das exportações
mundiais. Os maiores importadores são Estados Unidos (US$ 24 bilhões), Alemanha
(US$ 8 bilhões), Reino Unido (US$ 7 bilhões), França (US$ 6 bilhões) e Japão (US$ 4
bilhões), que respondem por 57% do total das importações.
Tabela 4. Dados Gerais da Indústria Moveleira Mundial em 2005
PAÍS
PRODUÇÃO
US$
%
Milhões
EXPORTAÇÕES
US$
%
Milhões
IMPORTAÇÕES
US$
%
Milhões
CONSUMO
APARENTE
US$
%
Milhões
Estados Unidos
China
Itália
Alemanha
Japão
Canadá
Reino Unido
França
Polônia
Brasil
México
Indonésia
Malásia
Outros
57.371
37.965
23.692
18.890
12.356
11.723
10.154
9.185
7.078
6.314
3.097
2.357
2.262
64.846
21,5%
14,2%
8,9%
7,1%
4,6%
4,4%
3,8%
3,4%
2,6%
2,4%
1,2%
0,9%
0,8%
24,3%
2.893
13.451
10.159
6.557
506
4.417
1.273
2.364
5.277
994
1.269
1.835
1.979
27.094
3,6%
16,8%
12,7%
8,2%
0,6%
5,5%
1,6%
3,0%
6,6%
1,2%
1,6%
2,3%
2,5%
33,8%
23.765
479
1.675
8.236
3.660
3.478
6.664
5.881
812
154
528
56
330
28.194
28,3%
0,6%
2,0%
9,8%
4,4%
4,1%
7,9%
7,0%
1,0%
0,2%
0,6%
0,1%
0,4%
33,6%
78.243
24.993
15.208
20.570
15.511
10.784
15.546
12.703
2.612
5.474
2.356
578
614
65.489
28,9%
9,2%
5,6%
7,6%
5,7%
4,0%
5,7%
4,7%
1,0%
2,0%
0,9%
0,2%
0,2%
24,2%
Total
267.290
100%
80.068
100%
83.912
100%
270.681
100%
Fonte: CSIL Milano – Market & Industry Research Institute in: Rosa et. al. (2007).
65
As características dos principais produtores mundiais de móveis são mostradas
na Tabela 5.
Tabela 5. Característica dos principais produtores mundiais de móveis
Característica da indústria
Principais produtos e
mercados
Líder em design. Atua em
todos os seguimentos de
mercado. Líder em design.
Destaque para dormitórios
e cadeiras.
Itália
Expressiva fragmentação com grande
número de PMEs. As principais
empresas desenvolvem produtos,
encomendam partes e componentes a
terceiros, fazem o acabamento, juntam
as partes e se ocupam das vendas.
Alemanha Maior concentração da produção em
médias e grandes empresas. Utilizam
maquinários modernos e aproveitam
economias de escala na produção e na
comercialização.
EUA
Especialização na montagem de
móveis, por meio da importação de
componentes fabricados no México e
em países da América Central.
Algumas
empresas
americanas
construíram ou adquiriram fábricas na
China, como é o caso da Ashley,
maior marca de móveis residenciais
dos Estados Unidos.
China
Concentração da produção em médias
e grandes empresas, dotadas de
plantas concebidas para fabricar
grandes volumes destinados à
exportação. É mais competitiva nas
linhas e nas etapas de produção mais
intensivas em mão-de-obra.
Fonte: Adaptado de Rosa et. al. (2007).
Destino da produção
Mercado
Interno,
Alemanha, Estados
Unidos, Reino Unido
e França.
Concorre com vantagem
competitiva na produção de
móveis para cozinha, de
valor intermediário.
Mercado
Interno,
Suíça, Países Baixos
e Áustria
O segmento que a indústria
americana concorre com
maior
vantagem
competitiva
compreende
móveis para dormitórios,
salas de estar e jantar e
móveis estofados
Mercado interno (há
um pequeno volume
de exportação de
móveis de metal)
Concentra-se em móveis de
madeira (madeira maciça,
painéis de MDF e de
aglomerado)
Mercado
Interno,
Estados Unidos,
Hong Kong Japão
(na linha de
escritório já concorre
no mercado
brasileiro)
De acordo com Rosa et. al. (2007), nos últimos 10 anos, a produção do setor
moveleiro tem apresentado crescimento médio anual de 9% ao ano. Tal crescimento
está relacionado com o grau de abertura dos mercados de mobiliário, medida como a
taxa entre importação e consumo, que, para o mundo todo, subiu de 20% em 1996 para
31% em 2005.
4.2.2
Panorama Nacional
No Brasil, a indústria nacional de móveis concentra-se, principalmente, nas
Regiões Sul e Sudeste, sendo que 77% dos estabelecimentos estão localizados nos
principais pólos produtores do país, ou seja, nos Estados de São Paulo (23%), Rio
Grande do Sul (15%), Santa Catarina (13%), Paraná (13%) e Minas Gerais (13%),
conforme mostra a Tabela 6 (Rosa et. al., 2007).
66
Tabela 6. Número de estabelecimentos produtivos do setor moveleiro, número de
trabalhadores relacionados e valor das exportações, por Estado Brasileiro
Estado
Estabelecimentos
Quant.
%
Bahia
355
2,2%
Minas Gerais
2.126
13,2%
Espírito Santo
313
1,9%
Rio de Janeiro
583
3,6%
São Paulo
3.754
23,3%
Paraná
2.133
13,2%
Santa Catarina
2.020
12,5%
Rio Grande do Sul
2.443
15,2%
Outros
2.377
14,8%
Total
16.104
100,0%
Fonte: Adaptado de Rosa et. al. (2007).
Trabalhadores
Quant.
%
4.816
2,3%
24.717
12,0%
5.402
2,6%
5.367
2,6%
48.462
23,5%
29.079
14,1%
32.273
15,6%
33.479
16,2%
22.757
11,0%
206.352
100,0%
EXPORTAÇÕES
US$ (mil)
%
68.257
6,9%
11.190
1,1%
6.426
0,6%
2.528
0,3%
87.427
8,8%
91.732
9,3%
433.339
43,8%
270.442
27,3%
19.083
1,9%
990.424
100,0%
A produção brasileira de móveis está organizada em diversos pólos (Tabela 7),
sendo os 7 principais: Grande São Paulo (SP), Bento Gonçalves (RS), São Bento do Sul
(SC), Arapongas (PR), Ubá (MG), Votuporanga e Mirassol (SP)27
Tabela 7. Principais Pólos Moveleiros e Potenciais no Brasil
Estado
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
Minas Gerais
Espírito Santo
São Paulo
Amazonas, Rio de Janeiro, Bahia,
Ceará, Pernambuco e Maranhão.
Fonte: Rosa et. al. (2007).
Pólos moveleiros
Arapongas, Curitiba, Londrina, Cascavel e Francisco Beltrão
S.Bento do Sul, Rio Negrinho , Cel Freitas, Pinhalzinho e S.
Lourenço do Oeste
Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Restinga Seca, Santa Maria,
Erechim, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Canela, Flores da Cunha,
Gramado
Ubá, Bom Despacho, Martinho Campos, Uberaba, Uberlândia,
Carmo do Cajuru
Linhares, Colatina e Vitória
Votuporanga, Mirassol, São Paulo, Bálsamo, Jaci e Neves Paulista
Possuem outros pólos com menos expressão
De acordo com os dados da RAIS (2003), o tamanho dos estabelecimentos da
indústria do setor é formado basicamente por micro e pequenas empresas. 75% dos
estabelecimentos são microempresas, 20% são pequenas, 3% são médias e 2% são
grandes
empresas.
Juntos,
16.104
estabelecimentos
são
responsáveis
por
aproximadamente 206 mil postos de trabalho28.
27
Em Arapongas (PR), Linhares (ES), Mirassol (SP) e Ubá (MG) concentram-se empresas que produzem
móveis padronizados, comercializados no varejo convencional.
(http://www.congressomoveleiro.com.br/industria_moveis.asp, acessado em 10/10/2007).
28
Além dessas 16 mil empresas formais, a Abimóvel fez uma estimativa de outras 16.000 empresas
familiares e de capital nacional que atuam de forma irregular
(http://www.congressomoveleiro.com.br/industria_moveis.asp, acessado em 10/10/2007).
67
Segundo dados da Abimóvel29, as pequenas e microempresas em geral são
marcenarias que se concentram na produção de móveis residenciais de madeira sob
encomenda. Na maior parte dos casos, são empresas desatualizadas tecnologicamente,
com o design dos seus produtos sendo obtido da simples cópia. A Tabela 8 apresenta
breve caracterização dos principais pólos moveleiros do país, ressaltando as principais
características, tipos de produtos e mercado consumidor.
Tabela 8. Característica dos principais produtores nacionais de móveis
Característica da indústria
Maior produtor. Abrange os
pólos moveleiros: Grande São
Paulo e o Noroeste Paulista
(reúne os pólos de Mirassol e
Votuporanga, formado por
micro e pequenas empresas).
Segundo maior produtor e
exportador de móveis. O
principal pólo moveleiro do
estado localiza-se na região
da Serra Gaúcha, que
engloba, além de Bento
Gonçalves, as cidades de
Garibaldi, Gramado, Caxias e
Flores da Cunha.
Terceiro maior produtor e
maior exportador. O principal
pólo localiza-se na região de
São Bento do Sul.
Principais produtos
Na Grande São Paulo predomina
móveis para escritório. No
Noroeste Paulista predominam
móveis retilíneos seriados.
Destino da produção
Predominantemente
para o mercado interno
O principal produto é o móvel
residencial retilíneo de painéis
de madeira reconstituída
(madeira aglomerada e MDF) A
região também conta com
produção em móveis de metal
(Bertolini e Telasul). Em
Gramado a produção é voltada
para móveis artesanais.
Os principais produtos são os
móveis torneados de madeira
maciça, especialmente o pinus,
Produzidos sob encomenda.
Predominantemente
produz para o mercado
interno.
As exportações (27,3%)
geralmente para os
países: Estados Unidos,
México, Uruguai e
Trinidad e Tobago.
A produção está distribuída
nos municípios de Ubá, Bom
Despacho, Martinho Campos,
Uberaba, Uberlândia, Carmo
do Cajuru. O maior pólo
moveleiro de Minas é o de
Ubá, formado, basicamente,
por PMEs (mesmo existindo
grandes empresas na região).
Paraná
Concentra-se basicamente no
pólo de Arapongas, há médias
e grandes empresas com
maquinário mais avançados.
Espírito O pólo moveleiro do
Santo
Nordeste Capixaba
desenvolveu-se em torno do
município de Linhares.
Composto de micro,
pequenas e grandes empresas
Fonte: Adaptado de Rosa et. al. (2007).
.Os tipos de produtos são Mesas,
Cadeiras, Salas e Estantes. Em
Ubá encontram-se todos os tipos
e faixas de preços de produtos.
Em Bom Despacho predominam
os móveis em MDF. Em Carmo
do Cajuru, predominam os
móveis em madeira maciça.
São
Paulo
Rio
Grande
do Sul
Santa
Catarina
Minas
Gerais
29
Poucos produtos para o
mercado interno e a
maioria para os países
da Europa e Estados
Unidos.
Predominantemente
para o mercado interno.
Em Ubá há exportação
para os países: Chile,
Uruguai, Costa Rica,
México, EUA, Angola
e Espanha.
Móveis retilíneos, estofados e
escritórios, voltados para a
classe popular
Predominantemente
para o mercado interno.
Há exportação
O principal produto da região é o
móvel retilíneo produzido
em série, com destaque para
dormitórios. A principal exceção
é a Delare, que fabrica estofados.
Predominantemente
para o mercado interno
Para o mercado externo,
por meio de escritórios
de exportação.
http://www.congressomoveleiro.com.br/industria_moveis.asp, acessado em 10/10/2007
68
Em termos de comércio exterior, Santa Catarina – com predominância do pólo
de São Bento do Sul – e Rio Grande do Sul – principalmente a região de Bento
Gonçalves – detêm, juntos, 71% do total das exportações nacionais. Esses estados têm
intensificado suas vendas externas desde a década de 1980.
4.2.3
Panorama de Minas Gerais
O Estado de Minas Gerais é constituído por 853 municípios distribuídos em 66
microrregiões. O Censo Demográfico (2000) aponta que o setor "madeira e mobiliário"
está inserido em 408 municípios do Estado, empregando 62.063 pessoas (IEL, 2003). É
notória uma grande concentração de indústrias em localidades específicas, como Belo
Horizonte, Ubá, Carmo do Cajuru, Uberaba e Campestre, que podem ser denominadas
pólos moveleiros (Rosa et. al. 2007). Alguns desses pólos são mais organizados e
podem ser considerados arranjos produtivos locais, como é o caso de Ubá e de Carmo
do Cajuru (IEL, 2003).
A participação das microrregiões de Minas Gerais no número de empregos na
indústria de moveleira é apresentada na Tabela 9.
Tabela 9. Participação percentual no emprego da indústria de móveis em Minas
Gerais: regiões selecionadas (2007)
Fab. de
Fab. de
Fab. de
móveis com móveis com móveis com
predomínio
predomínio
de outros
em madeira
em metal
materiais
Ubá
44,4%
23,2%
17,0%
Belo Horizonte
16,8%
31,9%
24,5%
Divinópolis*
6,4%
13,2%
1,5%
Uberlândia
2,3%
1,1%
1,0%
São João del-Rei
2,1%
2,3%
0,0%
Varginha
1,8%
0,2%
1,2%
Poços de Caldas
1,7%
0,0%
0,3%
Uberaba
1,4%
11,7%
0,1%
Juiz de Fora
1,4%
2,1%
7,7%
Governador Valadares
1,3%
0,0%
2,1%
Bom Despacho
1,0%
0,0%
0,0%
Ipatinga
0,8%
1,6%
4,0%
Pouso Alegre
0,3%
0,0%
18,6%
Outras
18,3%
12,7%
22,0%
Total
100,0%
100,0%
100,0%
Fonte: RAIS/MTb. Obs CNAE/95 (CNAE 1.0 revisado em 2002), 2007
*A cidade de Carmo do Cajuru pertence a microrregião de Divinópolis
69
Fab. de
colchões
Total
27,8%
41,0%
0,0%
0,0%
0,0%
2,7%
0,0%
0,0%
5,5%
0,0%
0,0%
11,8%
0,0%
11,1%
100,0%
39,3%
21,0%
6,2%
1,9%
1,8%
1,7%
1,3%
2,2%
2,2%
1,1%
0,7%
2,1%
1,2%
17,3%
100,0%
A participação das
microrregiões
de Minas Gerais no número de
estabelecimentos é apresentada na Tabela 10.
Tabela 10. Participação no número de estabelecimentos da indústria de móveis em
Minas Gerais – regiões selecionadas (2007)
Fab. de
Fab. de
Fab. de
móveis com móveis com móveis com
predomínio
predomínio
de outros
em madeira
em metal
materiais
Ubá
28,1%
24,3%
13,9%
Belo Horizonte
21,8%
54,3%
30,6%
Divinópolis
6,8%
7,1%
0,0%
Uberlândia
3,4%
0,0%
0,0%
São João del-Rei
3,8%
2,9%
0,0%
Varginha
1,6%
0,0%
5,6%
Poços de Caldas
1,8%
0,0%
0,0%
Uberaba
2,6%
7,1%
0,0%
Juiz de Fora
1,6%
1,4%
5,6%
Governador Valadares
1,4%
0,0%
2,8%
Bom Despacho
0,8%
0,0%
0,0%
Ipatinga
1,4%
2,9%
5,6%
Pouso Alegre
0,6%
0,0%
8,3%
Outras
24,4%
0,0%
27,8%
Total
100,0%
100,0%
100,0%
Fonte: RAIS/MTb. Obs CNAE/95 (CNAE 1.0 revisado em 2002), 2007
Fab. de
colchões
Total
10,5%
42,1%
0,0%
0,0%
0,0%
5,3%
0,0%
0,0%
5,3%
0,0%
0,0%
15,8%
0,0%
21,1%
100,0%
26,4%
26,5%
6,2%
2,7%
3,4%
1,8%
1,4%
2,9%
1,9%
1,3%
0,6%
2,2%
1,0%
21,7%
100,0%
Essas tabelas mostram que a indústria de móveis em Minas Gerais,
quantitativamente, está concentrada nas microrregiões de Belo Horizonte, Ubá e
Divinópolis (com concentração em Carmo do Cajuru), representando 67% do emprego e
59% do total de estabelecimentos do setor no Estado.
A microrregião de Ubá destaca-se em primeiro lugar tanto no número de
estabelecimentos de fábricas de móveis com predominância em madeira quanto com o
número de empregos na indústria de móveis, superando Belo Horizonte, que concentra
o maior número de estabelecimentos no Estado confirmando a importância do
desenvolvimento contínuo do arranjo produtivo de Ubá.
As regiões de Ubá e de Divinópolis – marcada pela presença do pólo do Carmo
do Cajuru – possuem características de arranjos produtivos locais. Em ambas as regiões
o Sistema FIEMG, através do Instituto Euvaldo Lodi (IEL-MG) e do SENAI-MG,
aliados aos SEBRAE-MG, buscam desenvolver ações no sentido de dinamizar esses
pólos.
70
4.3
Os Arranjos Produtivos Locais das empresas de móveis estudados em Minas
Gerais
4.3.1
O APL de Ubá
O Município de Ubá localiza-se na região sudeste de Minas Gerais, na Zona da
Mata, fazendo parte da microrregião de Ubá30 (IBGE, 2005), nas proximidades da
fronteira com os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
Esse município começou a se formar no início do século XIX, mais
especificamente em 1815. Até meados do século XIX, a região viveu da agricultura de
subsistência. Com o ciclo do café e movimento do plantio dessa cultura em direção ao
Vale do Paraíba, o quadro de cultura de subsistência deu lugar a grande produção
exportadora. Essa produção exportadora trouxe com ela a ferrovia e a necessidade de
mão-de-obra, que era quase inexistente, o que provocou uma migração interna
acentuada, principalmente entre os anos de 1830 e 1840 (INTERSIND, 2004).
Ao lado do café, cultivavam-se o fumo31 e o milho, mas com a crise do café, a
partir da década de 30, o fumo cresceu de importância, dominando a economia local até
meados dos anos de 1950, quando começou a ser rejeitado pelo mercado em virtude da
baixa combustibilidade. A rejeição do produto se deu em virtude do uso inadequado,
por muitos anos seguidos, de insumos e adubos32, comprometendo a qualidade do fumo.
Como conseqüências, no final dos anos 50, vieram as dificuldades, deixando grande
número de pessoas sem trabalho nas fazendas e na cidade.
Dentro desse contexto, era necessário encontrar novas atividades econômicas
que absorvessem os desempregados. Com o surgimento das primeiras fábricas de
móveis, o setor moveleiro foi considerado o mais promissor (INTERSIND, 2004). Hoje
essa atividade responde por 65% da renda gerada na região (Andrade, 2007).
30
Fazem parte desta região os municípios de Ubá, Astolfo Dutra, Divinésia, Dores do Turvo, Guarani,
Guidoval, Guiricema, Mercês, Piraúba, Rio Pomba, Rodeiro, São Geraldo, Senador Firmino, Silveirânia,
Tabuleiro, Tocantins, Ubá, Visconde do Rio Branco
(http://www.almg.gov.br/mregiao/MacroMicroMun/Macro2MicroMun.asp, acessado em 21/04/2007)
31
Na criação e na expansão da indústria do fumo e do pólo moveleiro é ressaltado papel exercido pelos
colonos italianos e seus descendentes. Já antes da Abolição camponeses italianos foram trazidos para
substituir o trabalho escravo na lavoura de café. Na época da Primeira Guerra Mundial houve um segundo
momento de migração, formado principalmente por operários e artesãos. Ao se tornarem pequenos
fazendeiros, esses migrantes formaram a base da produção fumageira, e seus filhos, trinta anos depois,
construíram o pólo moveleiro (Coleção Ubá Móveis de Minas, Belo Horizonte: SEBRAE 2004, p. 13-21)
32
Nesse período Ubá era conhecido em todo país como maior consumidor de insumos e adubos e maior
produtor de fumo. (INTERSIND, 2004)
71
A população de Ubá é de 94.584 habitantes em 2007. Do total da população
residente, 90,15% está localizado na área urbana e 8,85% na área rural. A densidade
demográfica do município é de 232,11 hab/km2, ocupando uma área total de 407,5 km2
(IBGE, 2005; Fundação João Pinheiro, 2007).
Segundo a base de dados da Fundação João Pinheiro (2007), o município, no ano
de 2004, apresentou um PIB a preços correntes de R$ 544.694 milhões e um PIB per
capta de R$ 5.921,07, ocupando o primeiro lugar em relação ao total do PIB da
microrregião, conforme a Tabela 11. O PIB per capta de Ubá e região é menor do que a
média do Estado de Minas Gerais.
Tabela 11. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e
PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de Ubá –
Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00)
PIB a preços correntes (2004)
PIB/hab
Localidade
Minas Gerais
Microrregião
Ubá
Astolfo Dutra
Divnésia
Dores do Turvo
Guarani
Guidoval
Guiricema
Mercês
Piraúba
Rio Pomba
São Geraldo
Senador Firmino
Silveirânia
Tabuleiro
Tocantins
Visconde Rio
Branco
PIBpm
População
(R$1,00)
agropecuário
industrial
serviços
Total (1)
13.697.698
135.326
12.505
6.399
3.441
4.817
9.945
10.349
19.338
5.700
8.304
14.201
5.331
5.836
2.755
3.932
8.630
68.921.655
598.320
236.127
30.834
5.185
2.124
14.929
10.495
6.420
8.187
10.617
22.742
9.076
12.867
806
2.605
20.099
73.556.254
702.912
296.062
32.820
6.784
8.659
21.284
17.299
18.924
20.101
26.751
48.747
17.141
15.720
4.650
9.527
37.362
156.175.607
1.436.558
544.694
70.053
15.410
15.600
46.158
38.143
44.683
33.989
45.672
85.690
31.548
34.423
8.211
16.065
66.092
166.586.327
1.449.010
560.039
71.549
15.453
15.637
46.656
38.144
44.676
33.519
44.412
82.650
32.111
33.604
8.237
16.232
65.945
18.993.720
251.152
94.584
12.007
3.280
4.674
8.763
7.651
8.726
10.054
12.165
17.116
7.642
6.781
2.185
4.680
16.118
8.771
5.769
5.921
5.959
4.711
3.345
5.324
4.986
5.120
3.334
3.651
4.829
4.202
4.956
3.770
3.468
4.091
13.841
206.07
121.081
340.128
340.144
34.726
9.795
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2007)
Fazendo a análise do PIB ao longo dos anos, por meio dos dados da Tabela 12,
percebe-se que este apresentou crescimento significativo a partir de 1999, que pode
estar relacionado ao desempenho da indústria do setor moveleiro. Ubá e região
respondem por cerca de 35% do emprego total gerado pelo setor em Minas Gerais e por
18% do número de indústrias em operação (Andrade, 2007).
72
Tabela 12. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes, a preços de mercado e
PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de Ubá
PIB a preços correntes
Ano
1999
2000
2001
2002
2003
2004
agropecuário
industrial
Serviços
Total (1)
7.246,50
7.266,08
6.600,80
8.238,71
10.850,39
12.505,33
141.651,97
149.076,75
148.293,61
159.991,03
186.345,82
236.126,82
180.735,15
200.513,50
214.866,57
234.385,04
260.743,72
296.061,53
329.633,62
356.856,33
369.760,98
402.614,78
457.939,93
544.693,68
PIBpm
População
PIB(pm)/hab.
(R$1,00)
346.682,98
371.320,12
383.462,85
412.235,78
469.120,16
560.038,89
86.28
86.265
88.319
90.394
92.490
94.584
4.067,71
4.304,41
4.341,79
4.560,43
5.072,12
5.921,07
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2007)
O bom desempenho da economia de Ubá não pode ser dissociado de sua
consolidação como importante APL de indústrias do setor moveleiro.
4.3.1.1 Evolução histórica do setor moveleiro em Ubá
4.3.1.1.1 O surgimento da indústria do setor moveleiro em Ubá
A atividade de marcenaria na cidade de Ubá e região já existe desde o início do
século XX33 e está relacionada com a entrada, na região, de imigrantes italianos. Esses
imigrantes trouxeram, além da mão-de-obra para trabalhar as lavouras de café e de
fumo, vocação profissional para a manufatura e para o trabalho artístico.
Entretanto, o setor moveleiro surgiu com maior intensidade na década de 1960,
como alternativa para solucionar o problema da crise econômica na cidade e região,
provocada pela perda de significância da cultura do fumo (INTERSIND, 2004). A
opção por uma mudança radical no processo de desenvolvimento da atividade
econômica do município, no sentido da industrialização de móveis, está relacionada:
a) Ao interesse da Associação Comercial e Industrial de Ubá (ACIU), em desenvolver
atividades industriais no município para absorção de mão de obra rural disponível;
33
Em 1917 surgiu a primeira marcenaria em Ubá, voltada para a produção de esquadrias e móveis sob
encomenda, do proprietário Eduardo Marcato. Em 1927, Luiz Festes começou a produzir e comercializar
malas e móveis sob encomenda. Em 1947, os Irmãos Teixeiras abriram uma fábrica de vassoura. Em
1951, Sebastião José Barreto fundou a Auto-Refrigeração, que fabricava, em série, refrigeradores em
madeira. Em 1959, Francisco Parma fundou a Domani, a primeira fábrica de armários de cozinha
laqueados, feitos em caixote de madeira desmontados que embalavam mercadorias do Armarinho Santo
Antônio. Com o tempo passou a fabricar armários, guarda-roupa, sofá e esquadrias. O Armarinho Santo
Antônio era uma grande empresa comercial que adquiria grande quantidade de mercadorias, desde
produtos alimentícios até produtos de vestuário, abastecendo o mercado de Ubá e região.
73
b) À existência de indústrias moveleiras, como a Auto-Refrigeração34, criada em 1947,
a Domani, em 1959, e empresas do Grupo Parma, criadas ao longo da década de 60;
c) À criação, em 1963, de uma diretoria paralela à Associação Comercial, que ficou
com a responsabilidade de cuidar dos problemas35 relacionados à precariedade da
comunicação, à escassez da energia elétrica, ao asfaltamento da rodovia Ubá/Juiz de
Fora e, ainda, a obtenção de linha de crédito, junto ao Banco do Brasil;
d) À promoção, por parte da ACIU, de feiras e mostras, objetivando promover o
parque manufatureiro, de modo a incentivar a criação de empresas industriais na
cidade e região. A primeira mostra se deu em 1963 e a segunda em 196436.
A partir de então, ao longo dos anos de 1960, as empresas do setor moveleiro
de Ubá tiveram crescimento significativo, principalmente a Domani, que, por meio da
obtenção de financiamentos, conseguiu ampliar sua capacidade de produção e de venda,
chegando a empregar 1.200 pessoas na produção, exercendo papel significativo no
crescimento e desenvolvimento do pólo moveleiro.
As estratégias de produção, comercialização e distribuição adotadas pelas
empresas, com base na produção de móveis populares – utilizando painéis de madeira
reconstituída como o aglomerado e o compensado37 –, com pouca tecnologia de
produção e investimento em frota de caminhões próprios, proporcionando rapidez de
entrega, permitiu a rápida expansão. No início da década de 1970, os produtos da
Domani estavam sendo vendidos em 16 estados brasileiros. Além disso, existiam 13
lojas do grupo Parma, espalhadas em Minas Gerais e em outros Estados.
Em meados dos anos de 1970, o proprietário partiu para o ramo de fabricação
de madeira aglomerada, abrindo a Minasplac. A princípio, essa indústria seria instalada
34
Em 1963, Sebastião José Barreto, proprietário da Auto-Refrigeração, assumiu a presidência da
Associação Industrial e Comercial de Ubá (ACIU).
35
Antes de começar qualquer atividade, a cidade enfrentava problemas de infra-estrutura, envolvendo
telefonia precária, energia elétrica insuficiente e uma malha rodoviária sem nenhuma estrada asfaltada
que ligasse os centros de consumo e abastecimento. O problema das estradas era intensificado no período
das chuvas, uma vez que, a cidade ficava completamente isolada dos grandes centros consumidores e dos
fornecedores de madeira para as fábricas de móveis da cidade e região.
36
Foi na segunda mostra que ocorreu a apresentação do primeiro protótipo de armários de aço. Com a
compra desse projeto, foi criada a Itatiaia Móveis, considerada a maior fábrica de móveis de aço de
cozinha da América Latina. Esta fábrica projetou a Cidade de Ubá para o mundo.
37
No Brasil, o uso de painéis em madeira reconstituída, do tipo aglomerado, começou na década de 70 –
com a produção das chamadas fórmicas –, com auge na década de 80, com o uso do aglomerado revestido
de melamina. Em 1997, surgiu o MDF - medium density fiber board -, considerado como o grande avanço
tecnológico no setor moveleiro (Bernardi, 1997). O uso desses painéis fez com que os pólos do setor
moveleiro apresentassem crescimentos significativos (Lima 2005).
74
em Ubá, porém, em virtude da falta da matéria-prima eucalipto na cidade e região,
aliada ao tempo para implantação do projeto - já que o projeto estava relacionado com
recursos financeiros do governo -, o projeto foi para Uberaba, cidade situada no
Triângulo Mineiro, local que possuía grande plantação de eucalipto. Com a
transferência da Minasplac, houve o cancelamento das atividades da Domani.
4.3.1.1.2 O desenvolvimento do setor moveleiro a partir do fechamento da Domani
O desenvolvimento do setor moveleiro de Ubá teve duas fases distintas. A
primeira se inicia com o fechamento da Domani, caracterizada pelo surgimento e
crescimento da indústria moveleira. A segunda inicia-se com a criação, em 1989, do
Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Marcenaria de Ubá – INTERSIND.
4.3.1.1.2.1 Surgimento e crescimento da indústria moveleira
A partir do fechamento da Domani, em meados dos anos 70, alguns
empregados decidiram iniciar negócios próprios, aproveitando o conhecimento
adquirido na empresa em relação à produção e à comercialização e, ainda, aproveitando
mão-de-obra disponível, o acesso a tecnologia e a localização em uma região já
conhecida pela produção de móveis. A região era conhecida tanto pela produção de
móveis populares da Domani e dos Irmãos Parma, quanto pelos móveis em aço, para
cozinha, da Itatiaia38. Á medida que tais empresas se desenvolveram, muitos exempregados, dessas novas empresas, acabavam montando outras microempresas.
No final dos anos 70, houve um crescimento significativo de indústrias do setor
moveleiro. Os Censos Econômicos do IBGE, que registraram, em 1970, 25 novas
empresas e, em 1980, 72 empresas localizadas no município de Ubá.
No início dos anos 80, o número de empresas cresceu muito e de forma
desorganizada e a produção apresentava características artesanais, com pouca
tecnologia. Os empresários tinham pouco conhecimento do setor e resistiam a qualquer
tentativa de reunião para a troca de informações, temendo que suas estratégias fossem
copiadas pelos demais concorrentes.
Em meados dos anos 80, em virtude da desorganização do setor aliado aos
problemas relacionados com os altos índices de inflação – que chegou a 225,16% em
38
A Itatiaia utilizava, como estratégia mercadológica, a fixação do nome da empresa à localidade de Ubá.
Contribuindo para a construção de um label territorial.
75
1985 -, alguns moveleiros começaram a falar da necessidade da criação de um sindicato
de classe. Isso viabilizaria a organização do setor e a busca por oportunidades de novos
mercados e acesso a fontes de financiamento mais acessíveis.
A necessidade de agruparem para buscar soluções para o setor se intensifica
com o desabastecimento da matéria-prima da indústria do setor moveleiro, conseqüente
do Plano Cruzado39. Uma das soluções rápidas para o problema foi a criação, em junho
de 1986, da Associação dos Fabricantes de Móveis de Ubá, formada inicialmente por 20
empresas. O primeiro desafio dessa associação era solucionar o problema da matériaprima. O segundo desafio foi conseguir linhas de crédito para as empresas do setor.
Essa associação durou até 1989, quando os empresários fundaram o INTERSIND Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Marcenaria de Ubá.
4.3.1.1.2.2 A criação do INTERSIND e a organização das empresas do setor
moveleiro
No fim dos anos 80, o crescimento desproporcional e acelerado das empresas,
aliada à falta de controle de materiais, aos altos índices de inflação, às novas tecnologias
de produção e de processos, e, ainda, com o aumento dos efeitos da globalização sobre o
setor, muitas empresas fecharam suas portas. Esse fato chamou a atenção dos
empresários, que perceberam que só conseguiriam ser competitivos se juntassem suas
forças na busca de uma maior organização das empresas do setor.
O ponto de partida ocorreu em 22 de novembro de 1989, com a criação do
INTERSIND, com o objetivo de organizar as ações do setor moveleiro, no sentido de
auxiliar os empresários na busca de soluções para o crescimento do pólo. Por meio do
Sindicato, os empresários ganharam força para reivindicar melhorias e investimentos.
39
Plano Cruzado I - Em 1º de março de 1986, o ministro da Fazenda, Dílson Funaro, lançou o Plano
Cruzado. O plano fez uma reforma monetária: cortou três zeros do Cruzeiro e substituiu-o por uma nova
moeda, o Cruzado. Congelou os preços por um ano e também os salários, pelo valor médio dos últimos
seis meses acrescido de um abono de 8%. Previu, ainda, o chamado "gatilho salarial": toda vez que a
inflação atingir ou ultrapassar 20%, os assalariados teriam um reajuste automático no mesmo valor, mais
as diferenças negociadas nos dissídios das diferentes categorias. O Plano Cruzado extinguiu a correção
monetária e criou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) para corrigir a poupança e as aplicações
financeiras superiores a um ano. O Plano Cruzado teve efeito imediato de conter a inflação e aumentar o
poder aquisitivo da população e, conseqüentemente, o consumo em todos os extratos sociais. Quatro
meses depois, as mercadorias desaparecem das prateleiras dos supermercados, houve o processo de
desabastecimento e os fornecedores passaram a cobrar ágio, e a inflação volta a subir. O governo manteve
o congelamento até as eleições, tentando extrair maiores dividendos políticos do plano. A partir de então,
o desabastecimento e a inflação avançaram muito. A conseqüente hiperinflação promoveu uma inversão
de valores, favorecendo especuladores financeiros ao invés de geradores de empregos.
(http://elogica.br.inter.net/crdubeux/hsarney.html, acessado em 23 de abril de 2007)
76
A década de 90, para as indústrias do setor, foi marcada pela capacitação de
pessoal e de empresários, pelos trabalhos de parceria coordenados pelo INTERSIND e
pelos investimentos na renovação do parque de máquinas e equipamentos. Isso
contribuiu para que as empresas enfrentassem a abertura de mercado.
Em maio de 1991 foi criado o Sindicato das Indústrias do Mobiliário e
Artefatos de Madeira de Minas Gerais, SINDIMOV, resultado da fusão de vários
sindicatos de serrarias, marcenarias carpintarias e estofados, entre outros.
Em 1992 foi criada a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário
(ABIMÓVEL), que tem por finalidade reunir fabricantes de móveis e fornecedores de
insumo para a cadeia produtiva de todo o País. Em parceria com outras entidades como
o SENAI (Serviço Nacional da Indústria), o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a
Abimóvel realiza cursos de gestão e promove o desenvolvimento de um banco de
informações favorecendo o setor moveleiro.
Em maio de 1993, a indústria regional foi contemplada pela FIEMG –
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - com a inauguração da Unidade
SENAI de Ubá, considerada até hoje como uma das instituições imprescindíveis para
formação da mão-de-obra e tecnologia para a indústria moveleira.
Em setembro de 1994, foi realizada, pelo INTERSIND, a primeira Feira de
Móveis e de Máquinas de Ubá e Região – FEMMUR, com a participação de 46
indústrias - das 153 fábricas que o pólo abrigava -. Essa feira fez com que os móveis
produzidos em Ubá e região se tornassem conhecidos em todo o território nacional.
Em virtude do sucesso dessa feira, aumentou a procura por stands, por parte
das indústrias de móveis. Isso contribuiu para o desmembramento da FEMMUR em
duas feiras: a FEMUR – Feira de Móveis de Ubá e Região -, realizada nos anos pares e
a FEMAP – Feira de Máquinas e Matérias-Primas, realizada nos anos ímpares,
iniciando em junho de 1995. Os sucessos conquistados pelas duas feiras contribuíram,
no APL, para o aumento da inovação e a utilização de novas tecnologias40.
Como conseqüência desses trabalhos, aliada a uma política de financiamento
voltada para o setor, durante toda a década de 90, houve investimentos significativos
aplicados na renovação do parque industrial, por meio da importação de máquinas e
40
Cabe ressaltar que ambas as feiras do setor moveleiro proporcionam benefícios para outras atividades
da cidade e da Região, como redes hoteleiras, restaurantes, empresas prestadoras de serviço de limpeza,
de segurança, organização de eventos, informática, publicidade dentre outras.
77
equipamentos, provenientes, em sua maior parte, da Itália e da Alemanha. Foram ainda
elevados os investimentos em automação e controle de qualidade, os quais se fizeram
acompanhar do aumento de escala de produção das principais empresas do setor e do
incremento da profissionalização de suas administrações. A tecnologia trouxe para Ubá
a alta produção e melhoria na qualidade dos produtos e dos processos produtivos. Hoje
a produção de Ubá se encontra em primeiro lugar no Estado e terceiro no país.
Cabe ressaltar que os benefícios trazidos pelo fortalecimento do pólo não se
restringiram apenas às fábricas de móveis. Eles se estenderam aos fornecedores de
matéria-prima e de tecnologia moveleira que, aos poucos, foram se instalando em Ubá,
a fim de fornecer matéria-prima, tecnologia de ponta e insumos. De acordo com a
Gerente do INTERSIND, tal movimento de instalação dos principais fornecedores em
Ubá se intensificou a partir do ano de 2002. Atualmente, existem 132 fornecedores –
embalagens, ferragens, vidraçarias, prestadores de serviços – e 45 lojistas do setor de
móveis41, sem contar os números de escritórios de representação de grandes
fornecedores, com matrizes localizadas em outros Estados Brasileiros.
Em 2001, como fruto da parceria entre INTERSIND/SEBRAE, nasceu a
Movexport, Associação dos Exportadores de Móveis de Ubá e Região, com 8 empresas.
O Movexport funcionou durante um período dentro das instalações do INTERSIND e se
emancipou em 2003. O grupo começou produzindo aproximadamente 145.000 peças
por mês42, sendo responsável pela geração de 2.500 empregos diretos.
Em 2002, iniciou-se um projeto de incremento à exportação desenvolvido pela
Embaixada do Brasil na Inglaterra, com o apoio do PROMÓVEL, visando uma parceria
para participação de empresas brasileiras em feiras de móveis na Inglaterra.
Em 2003, a FIEMG, por meio do IEL, apresentou os resultados do Diagnóstico
do pólo moveleiro de Ubá, iniciado em 2002. Esse documento gerou subsídios para a
realização do Planejamento Estratégico, com o intuito de oficializar o APL em 2004.
Em dezembro de 2004, aconteceu a sexta edição da FEMUR, com a “Coleção
Ubá, Móveis de Minas”, voltada para transformar a imagem do pólo copiador para pólo
inovador. Neste mesmo ano, um grupo de 14 pessoas representando o INTERSIND,
SEBRAE e os fabricantes visitaram Rio Branco, no Acre, para negociar a compra de
41
(http://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=14399#, acesso em 22/02/2008)
42
Os produtos são camas, guarda-roupas, criados, cômodas, dormitórios infanto-juvenis, berços, salas de
jantar, buffets, racks, estantes, mesas para escritórios, móveis tubulares, sofás, armários de cozinhas, áreas
de serviço e banheiros.
78
matéria-prima de área certificada, para fazer frente às exigências de legislação
ambiental para concessão da licença ambiental, atendendo às exigências do mercado
externo.
Com a consolidação do Arranjo Produtivo Local de Ubá e o seu
desenvolvimento, hoje, existe uma infra-estrutura institucional montada para funcionar
em prol do arranjo. Este APL possui 32 parceiros, que serão citados no tópico a seguir.
4.3.1.2 Estrutura atual do arranjo produtivo de Ubá
A estrutura do arranjo produtivo do setor moveleiro de Ubá (Figura 8) possui 6
atores principais: a) as empresas do segmento central que compreende as fábricas
produtoras de móveis; b) as Atividades Conexas que compreende os fornecedores de
máquinas e equipamentos e os fornecedores de matérias-primas e insumos; c) as
Atividades Complementares representadas pelas empresas que prestam serviços
específicos para a produção tais como: estofados, acessórios em metal, entalhamentos,
etc.; d) Estrutura de apoio e animação que compreende a O Sindicato Intermunicipal das
Indústrias de Marcenaria de Ubá (INTERSIND), A Federação das Indústrias de Minas
Gerais (FIEMG), O Instituto Euvaldo Lodi (IEL), A Agência de Desenvolvimento de
Ubá e Região Adubar; O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRE), Associação dos
Exportadores de Móveis de Ubá e Região; - Associação Comercial e Industrial de
Ubá(ACIU); – Associação Comercial e Industrial de Ubá (ACIUBÁ); e) Estrutura de
formação, aperfeiçoamento e pesquisa representada pela Universidade Presidente
Antônio Carlos (UNIPAC), Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG),
Faculdade Ubaense Governador Ozanam Coelho (FAGOG) SENAI e SEBRAE; f)
prestadores de serviços gerais o APL representados pelos Bancos –Banco do Povo,
Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bancos Privados –, escritórios de
contabilidade, serviços de segurança e transporte.
Além dessas, existem outras entidades que estão fora da área de abrangência do
APL, porém tem trabalhado em parceria, tais como: o Ministério do Desenvolvimento
Indústria e Comércio Exterior (MDIC); o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT); O
Instituto Nacional de Desenvolvimento Industrial (INDI); a Universidade Federal de
Viçosa (UFV); a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); a Universidade Federal
79
de Lavras (UFLA); a Agência de Promoção da Exportação (APEX); o Serviço de
Investigações Florestais (SIF/UFV).
Atividades Conexas
Fornecedores de
Maquinas e de
Materiais
Estruturas de apoio
e de animação
Atores
INTERSIND,
FIEMG, IEL,
Locais
SENAI, SEBRAE,
ACIU
ACIUBÁ
Atividades
Complementares:
Acessórios, estofados,
entalhamentos, etc.
Empresas do
Segmento
Moveleiro
Serviços
Bancos
Contabilidade
Consultorias
Especializadas
Transporte
Segurança
etc.
Estruturas de Formação,
Aperfeiçoamento e de Pesquisa
SEBRAE, SENAI, UNIPAC,
FAGOG, UEMG
Figura 8. Estrutura do Arranjo Produtivo de móveis de Ubá
Fonte: Adaptação de Fonseca Netto (2002)
4.3.1.2.1 As empresas centrais do processo produtivo
O pólo moveleiro de Ubá é constituído de 310 empresas formais e 53 informais,
sendo essas empresas responsáveis por 9.500 empregos diretos e 28.000 empregos
indiretos, abrangendo, além da cidade de Ubá, outros municípios, como: Guidoval,
Piraúba, Rio Pomba, Rodeiro, São Geraldo, Tocantins e Visconde do Rio Branco. O
arranjo é formado por micro, pequenas, médias e grandes empresas, embora haja
predominância por micro e pequenas empresas. Segundo a classificação de empresas
com base no número de empregados adotada pelo SEBRAE, havia, em abril de 2007,
171 microempresas – abrangendo as 53 informais e 118 formais –, sendo 120 de
pequeno porte, 50 de médio porte e 22 de grande porte, conforme o INTERSIND.
Para facilitar o entendimento sobre as características das empresas do setor
moveleiro de Ubá, optou-se por classificar as empresas em 3 grupos.
Grupo 1 – fabricante de móveis chapeados e pintados
O grupo 1 é formado por, aproximadamente, 50 empresas, de grande, médio e
pequeno porte, que trabalham com a fabricação de móveis chapeados e pintados com
tinta de rápida secagem. Esse grupo fabrica produtos padronizados – dormitórios em
80
geral, salas, estantes e móveis de escritório – direcionados a classes populares, sendo
que, em seu processo produtivo, não há a fase de montagem de móveis. Esse grupo é
responsável pela produção de 48% de móveis do APL.
No geral, o processo de fabricação (Figura 9) se inicia quando a matéria-prima MDF e/ou Aglomerado – são enviadas para serem cortadas no setor de organização e
corte, obedecendo a critérios estipulados pelo desenvolvimento do produto. Em seguida,
as peças cortadas são encaminhadas para o setor de furação para que os encaixes dos
móveis sejam feitos e, muitas vezes, nesta fase, são necessários trabalhos de usinagem,
como frisos e rasgos na chapa. Após a furação, as peças são pintadas com tintas
ultravioletas de secagem rápida – podendo ou não sofrer retoques ou acabamentos
especiais pelo setor de suporte. Quando secas, as peças são embaladas e enviadas para a
expedição, juntamente com um kit – adquiridos prontos dos fornecedores – contendo
parafusos, puxadores, pés e outros pertencentes às especificidades de cada móvel.
Essas empresas deste grupo possuem alto investimento em tecnologia de ponta,
em maquinário e em capital de giro, o que torna barreira de entrada de novos
concorrentes. Trabalham com mão-de-obra mais qualificada (formada pelas escolas do
SENAI-Ubá), voltada para operações em máquinas tecnologicamente avançadas. Os
preços dos produtos são relativamente baixos e, conseqüentemente, os ganhos por
unidade são consideravelmente baixos. O ganho dessas empresas está relacionado com
maiores volumes de produção e venda, compensados por economia de escala. A
estratégia competitiva é baseada em custos, justificando a constante adoção de
inovações tecnológicas em produto, tecnologia de produção e processos de produção.
Tinta
verniz
Entrada de
Matéria
Prima e
acessórios
Organização
e corte
Furação
Embalagens
Pintura
Chapa
Suporte
acabamento
Usinagem
Figura 9. Linha de produção de móveis chapeados e pintados
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo
81
Embalagem
Kits para
montagem
Expedição
Essa informação pode ser comprovada, uma vez que todos os entrevistados,
deste primeiro grupo, declararam utilizar tecnologia de última geração. De acordo com
eles, essa é a condição para que possam sobreviver no mercado, uma vez que, essas
novas tecnologias acabam afetando o custo do produto. 67%, deste grupo afirmaram que
acabam imitando os concorrentes em relação à adoção de tecnologia. Os outros 33%,
formados por grandes empresas, afirmaram que incorporam novas tecnologias por meio
da aquisição de máquinas e equipamentos de fornecedores internacionais.
Grupo 2 – Fabricantes de móveis em madeira maciça e chapas
O grupo 2 é formado por 283 empresas que trabalham com a fabricação de
móveis na linha de marcenaria, conjugando madeira maciça com chapeado (MDF e/ou
aglomerado), como: salas de jantar, estofados e móveis em estilo. Essas empresas
seguem estilos e designers mais trabalhados e o processo produtivo é maior (Figura 10),
requerendo tempos maiores para as fases de montagem e secagem.
Organização
e corte
Prensagem
Usinagem
Chapa
Entrada de
Matéria
Prima
Montagem
Lixação
Osso
Aplicação
Fundo
Lixação
Fundo
Madeira
maciça
Aplicação
Verniz
Embalagem
Acessórios
Organização
e corte
Usinagem
Lixação
Figura 10. Linha de produção de móveis em madeira maciça conjugado com chapas
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo
O processo de produção envolve duas matérias-primas básicas – o chapeado e a
madeira maciça -. De um lado, a chapa entra no processo produtivo, segue para o setor
de corte e, depois de cortadas, as peças seguem para o setor de prensagem - em que a
elas são coladas casca de madeira comprada – e, em seguida, são levadas para algum
trabalho de usinagem. De outro lado, a madeira maciça entra no processo de produção,
num outro setor de corte, seguindo para a usinagem e para a lixação. Esses dois
processos se encontram na fase da montagem do móvel. A partir da obtenção do móvel
82
montado, este segue para as etapas de lixação, aplicação de fundo, nova lixação e
aplicação de verniz. Após a secagem do verniz, o móvel é embalado. Em muitos
móveis, nesta fase de embalagem ocorre a colocação de acessórios.
Essas empresas demandam menos tecnologia, menores investimento em capital
de giro e maior trabalho de marceneiros, quando comparadas com as do grupo 1 e, por
isso, apresentam menores barreiras de entrada. Em compensação, os produtos são mais
caros no mercado, pois são direcionados para segmentos que procuram peças com mais
estilo e com maior valor agregado. No entanto, mesmo neste grupo, é necessário que a
empresa acompanhe a evolução tecnológica para que possa continuar competitiva no
mercado. A constante busca pela inovação tecnológica é uma forma de competição
adotada pelas empresas do setor, na tentativa de reduzir, por meio da tecnologia, os
custos de produção e gerar uma situação de monopólio. Tal monopólio pode ter maior
ou menor grau de duração, até ser eliminada pela imitação dos demais concorrentes,
como é comum ocorrer no pólo moveleiro, em virtude do acesso às mesmas fontes de
inovação. Essa atualização tecnológica foi percebida na pesquisa, em que 21% dos
fabricantes do grupo 2 declararam que utilizam tecnologia de última geração; 50%
utilizam tecnologia avançada, porém não é considerada de última geração e 29%,
formada por microempresas, utilizam tecnologia pouco moderna. Neste grupo, as novas
tecnologias são incorporação por meio da aquisição de máquinas no mercado nacional
(82%) e por meio de cooperação com fornecedores de materiais e insumos (24%).
Grupo 3 – Fabricante de móveis tubulares
O grupo 3 é formado por 30 microempresas que produzem móveis padronizados
tubulares – móveis de escritório, camas, estofados, etc. –, atendendo a classes populares.
Geralmente o processo de fabricação desses móveis inicia quando a matéria prima entra
no processo de produção e termina quando os produtos são pintados e embalados para a
venda. Não envolve a fase de montagem.
Conforme mostra a Figura 11, os tubos - matéria-prima principal - entram no
setor de corte para serem cortados de acordo com o móvel fabricado. Depois são
enviados para o setor de dobra. Em seguida, são encaminhados para o setor de solda.
Após a solda das peças, segue o banho químico e depois a pintura. Quando as peças
secam, são embaladas e enviadas para a expedição.
Os investimentos em tecnologia e em capital de giro acabam funcionando como
83
barreira à entrada de novas empresas. Os preços dos produtos são relativamente baixos
e, conseqüentemente, os ganhos por unidade são consideravelmente baixos. A estratégia
competitiva adotada é baseada em custos, porém 100% dos fabricantes de móveis
modulares entrevistados afirmaram que a tecnologia adotada é moderna, mas não de
última geração. Tais fabricantes são classificados como pequenas empresas.
Solda
Entrada de
Matéria
Prima
Tubos
Corte
dos
tubos
Dobra
dos
tubos
Prod.
Químicos
Soldagem
Banho
químico
Tintas
Pintura
Mat.
Embalagem
Embalagem
Figura 11. Linha de produção de móveis tubulares
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo
Com esses três grupos de empresas43, o APL consegue atingir todas as classes
sociais. Essa diversificação de produtos é considerada pelo Presidente do INTERSIND
como um ponto positivo do APL, pois, por meio da diversificação, a concorrência direta
acaba sendo reduzida. Segundo ele, essa diversificação pode ser considerada uma
oportunidade para que as empresas desenvolvam estratégias de vendas em conjunto.
Apesar dessa diversificação, o mix dos principais produtos é focado na
fabricação de dormitórios – cama, guarda-roupa, cômoda, criado – móveis de sala –
estofados, racks e estantes – móveis de sala de jantar – mesa, cadeira e armário – e
outros – móveis de cozinha, tubulares e de escritório. O arranjo tem como “carrochefe”, dormitórios, destacando camas (27%) e guarda-roupas (24%) (Figura 12). Não
foram considerados dos dados da produção da Itatiaia.
De acordo com as entrevistas realizadas, percebe-se que a capacidade produtiva
competitiva dessas empresas está relacionada com: a) o nível tecnológico próximo ao
estado da arte, principalmente das empresas que trabalham com móveis chapeados e
pintados; b) novas estratégias de comercialização baseadas em distribuição de
catálogos, exposições em feiras; c) estruturação de um núcleo de inteligência comercial
com dados específicos das empresas do setor; d) alta formação gerencial e
administrativa exigida; e) capacitação da mão-de-obra em constantes treinamentos.
43
Além desses três grupos, existe uma grande empresa verticalizada, ou seja, a Itatiaia, conhecida como a
maior produtora de armários em aço da América Latina. Esta empresa possui os seus próprios
fornecedores, dão treinamentos em especial para os empregados, desenvolve estratégia de marketing e de
distribuição própria.
84
Camas
27%
Guarda-Roupas
24%
Sala de jantar
18%
Cômoda e Criados
15%
Estofados
15%
Escritório
9%
Tubulares
9%
6%
Cozinha
3%
Peças Especiais
0%
50%
Figura 12. Principais linhas de produtos do Arranjo de Ubá
Fonte: Dados da pesquisa
4.3.1.2.2 Estrutura de apoio ao processo produtivo
A Estrutura de apoio ao processo produtivo é formada pelos fornecedores de
máquinas e equipamentos e fornecedores de matérias-primas e insumos (atividades
conexas), os prestadores de serviços (atividades complementares e de serviços), e as
entidades de capacitação (Estrutura de Formação, Aperfeiçoamento e Pesquisa).
Os fornecedores do APL
Ubá e região ainda não são auto-sustentáveis em materiais voltados para a
fabricação de móveis, como verniz, tinta, madeira, painel, máquinas e equipamentos,
entre outros. Os materiais, máquinas e equipamentos são originados de diversos lugares
do Brasil e do mundo. Com a consolidação do pólo, a partir de 2002, muitos
fornecedores de insumos – em tono de 132 fornecedores, envolvendo fábricas de
embalagem, fábricas de artefatos em metal, fábricas de embalagem, revendedores de
lixas, ferragens, madeira, material de manutenção etc. – criaram filiais no APL. Outros
fornecedores de insumos - como fábricas de tinta, verniz, madeira, MDF, Aglomerados,
vidros - e de máquinas e equipamentos abriram escritórios de representação na cidade.
Isso faz com que haja a presença na região tanto de matéria-prima quanto de máquinas e
equipamentos diversos.
Os Prestadores de serviços
Existem no APL empresas de prestação de serviços especializados, que podem
85
ser divididos em duas categorias: os prestadores de serviços específicos para o
segmento - as empresas ou profissionais de consultoria de produtos, empresas de
consultoria em processos produtivos, serviços de manutenção e assistência técnica em
máquinas e equipamentos específicos do setor - e os prestadores de serviços gerais empresas prestadoras de serviços de transporte; transportadoras, assessoria de imprensa,
gráfica, contabilidade e informática.
Não há no Arranjo empresas especializadas em Design e desenvolvimento de
produtos. Geralmente esse serviço é contratado de empresas localizadas nas cidades de
Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e no estado do Rio Grande do Sul.
O SENAI-Ubá44, além de atuar como entidade de capacitação de mão-de-obra,
presta serviços de consultoria em processos produtivos para as empresas do APL e para
empresas localizadas aglomerados de outros Estados do Brasil. 64% dos entrevistados
afirmaram ter recorrido ao SENAI para questões relacionadas à inovação de processos
produtivos e introdução de novas formas de organização da produção.
Em relação ao serviço de transporte, todos os entrevistados afirmaram existir
problemas com o atendimento de prazos de entrega. 52% mantêm caminhão próprio.
Em virtude de problemas logísticos, o INTERSIND organizou uma central de entregas
que se encontra em funcionamento. 48% dos entrevistados participam dessa central.
Os agentes de capacitação
No arranjo de Ubá, a origem da mão-de-obra é local. Durante muitos anos, a
mão-de-obra era pouco qualificada, do tipo “learning by doing” em que os empregados
eram treinados dentro da própria empresa. Com o passar dos anos, a complexidade da
tecnologia de produção passou a exigir mão-de-obra mais qualificada, que chegasse
dentro das organizações com um conhecimento prévio. Assim, o nível de
competitividade da organização, de certa forma, está ligado ao nível de escolaridade e à
capacitação de seus trabalhadores. Hoje, as instituições de capacitação existentes no
44
O SENAI presta serviços de assessoria técnica e tecnológica, voltados para soluções de problemas
técnicos na administração e produção de bens e serviços, diagnósticos e recomendações voltadas para as
soluções tecnológicas das empresas tais como: Aperfeiçoamento de métodos de trabalho; aplicação de
sistemas de automação e controle de processos industriais; especificação e instalação de equipamentos;
implantação de melhoria de processos; racionalização da produção; avaliação diagnóstica para
desenvolvimento de plano de capacitação técnica de pessoal; desenvolvimento de projeto de fabricação de
moldes, prototipagem e projeto de produtos; design para o setor moveleiro e parecer técnico. Presta
também serviços de informação tecnológica.
86
APL são: o SENAI e o SEBRAE. Além disso, existem 3 faculdades na cidade: a
UNIPAC; a UEMG e a FAGOC.
4.3.1.2.3 Estrutura de apoio e animação do arranjo de Ubá
Há, em Ubá e região, importantes instituições voltadas para as atividades
específicas do setor de moveleiro, como, centros de treinamento, serviços tecnológicos,
sindicatos patronais, universidades, governos, associações empresariais, instituições de
crédito, de ensino e pesquisa, entre outros. Além disso, existem as parcerias com
instituições que se encontram fora da cidade e região. A Tabela 13 apresenta as
principais instituições de apoio e coordenação do APL de Ubá.
A Coordenação do APL é efetuada pelo INTERSIND, que mantém contato com
os demais parceiros do APL, inserindo-o em novos mercados, inclusive exterior. O
número de associados é igual a 115 empresas, ou seja, 37% das empresas formais do
APL.
4.3.1.2.4 Principais clientes do Arranjo produtivo de Ubá
Apesar dos móveis de Ubá ser encontrados em lojas de todo o país, os clientes
potenciais nacionais das empresas do setor se localizam nos Estados de Minas Gerais
(33%) – 2% local, 2% microrregional, 5% região da Zona da Mata e 24% outras regiões
do Estado –, Rio de Janeiro (25%) e Espírito Santo (24%), conforme mostra a Figura
13. As empresas trabalham com marcas próprias, porém, utilizam a marca do pólo
denominada “Ubá – Móveis de Minas”, como forma de promover o APL.
Em relação à exportação, há três grandes empresas, com bom conhecimento em
comércio exterior, que exportam isoladamente e dois consórcios de exportação: O
Movexport, fundado em 2003, composto por 8 empresas e o Minas Furniture, fundado
em 2005, composto por 6 empresas. Os principais compradores desses consórcios são:
Chile, Uruguai, Costa Rica, México, EUA, Angola e Espanha. Dos produtos exportados
pelo consórcio, destacaram as salas de jantar, com 33%, e os dormitórios, com 32%. Os
29% restantes foram armários de cozinha, de banheiro, estofados e outros.
As exportações têm apresentado crescimentos significativos. Em 2005, o
conjunto de exportação de todo o pólo foi de US$ 3,25 milhões, sendo US$ 1,5 milhões
realizado pelo Movexport – representando 46% do volume de exportação do pólo. Em
2006, o pólo exportou US$ 6,3 milhões, tendo Angola como o principal comprador,
87
seguida pelo México e pelos Estados Unidos (Móveis de Minas, 2007). Em 2007, o pólo
exportou US$ 7,4 milhões, ou seja, teve um aumento de 17,4% em relação a 200645.
Tabela 13. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo
Produtivo Local
Entidade/
Representante
SEBRAE
SENAI
Prefeitura
Municipal de Ubá
INTERSIND
Faculdades
Universidades e
centros de pesquisa
UFV, UFJF,
UFMG
Campo de atuação
Contribuição para o APL
Desenvolvimento de empresas de
pequeno porte, por meio da
prestação de serviços de orientação e
capacitação empresarial para os
empresários e empreendedores do
município de Ubá e Região.
- Promoção de cursos de capacitação,
treinamentos, consultorias individualizadas
e programas para a melhoria dos processos
gerenciais de empresas do setor;
- Aplicação da metodologia GEOR para
acompanhamento de projetos no APL.
- Participação no projeto de consolidação de
um pólo de moveleiro competitivo e de
qualidade na região, de modo a tornar este
APL como referência regional e nacional;
- Cursos específicos para a indústria do
setor moveleiro
- Consultoria em processo produtivo
- Inovação de produto e de processo
- Contribuição para a adoção de tecnologia
- Doação de terrenos, isenção de taxas e
impostos para micro e pequena empresas do
setor,
Capacitação para o Trabalho na
indústria, por meio de um programa
de qualificação profissional.
Inovação tecnológica e melhoria de
processo produtivo
Promoção do setor produtivo do
município, por meio de programas
de incentivo para a instalação e
crescimento das empresas.
Promoção do desenvolvimento
regional por meio de parcerias junto
aos diversos segmentos da sociedade
local, com empresários, associações
de classe e poder público.
Formação e desenvolvimento
profissional para a Região nas áreas
de Designer, Desenho Industrial e
Engenharia de Produção
Desenvolver pesquisas abordando,
matéria prima, produtos, processos e
tecnologia para o setor moveleiro
Associação
Fortalecimento da indústria e do
Industrial e
comércio local
Comercial de Ubá
– ACIU
Banco do Brasil,
Fornecimento de crédito e
Caixa Econômica
financiamento
Federal, Bancos
Privados
Fonte: Dados da Pesquisa.
45
- Desenvolvimento de palestras, encontros,
cursos, diagnósticos, planejamento, de
modo a contribuir para o processo de
desenvolvimento sustentável na cidade de
Ubá e Região.
- Elaboração, coordenação e controle de
projetos de desenvolvimento voltado para o
APL
- Formação de pessoas para atuar nas áreas
de Gestão da Produção, Designers e
Desenho Industrial para atuarem nas
empresas pertencentes ao APL.
- Desenvolvimento de designers
- Desenvolvimento de tecnologia para o
setor;
- Estudo em melhoramento genético de
eucalipto, adaptável à região;
- Serviços de laboratório em ergonomia
-Desenvolvimento de inovação em
processos produtivos
- Oferecimento de assessoria para os
associados da indústria e comércio da
cidade;
- Oferecimento de créditos e financiamentos
diferenciados para as empresas do setor.
http://www.global21.com.br/materias/materia.asp?cod=18676&tipo=noticia, acesso em 20/02/2008
88
33,06%
Minas Gerais
Rio de Janeiro
24,8%
13,9%
Espírito Santo
12,4%
Nordeste
São Paulo
6,9%
Centro Oeste
4,0%
Norte
3,9%
sul
1,1%
0%
50%
.
Figura 13. Destinação das vendas dos produtos do APL de Ubá
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo com o Gerente Administrativo do INTERSIND, esse resultado está
relacionado com as seguintes estratégias: a) as duas edições do Projeto Comprador, da
Agência de Promoção às Exportações (APEX), em que esta agência subsidia, com até
70% do valor dos gastos, a vinda de compradores estrangeiros para negociar com as
empresas do setor moveleiro46; b) o bom desempenho e investimento das empresas em
treinamento de pessoal; c) o aprimoramento dos produtos e a aquisição de equipamentos
mais modernos; d) as expressivas participações em feiras, nacionais e internacionais,
tanto como visitantes quanto como expositores (Figura 14).
O maior número de visitas e exposições em feiras locais se deve ao fato da
existência de duas feiras, que ocorrem em Ubá, conhecidas nacionalmente: A FEMUR e
a FEMAP. A FEMAP tem por objetivo oferecer tecnologia em forma de matéria-prima,
máquinas, equipamentos e prestação de serviços especializados.
Cabe ressaltar que O SEBRAE tem apoiado pequeno e microempresário a
participar da FEMUR. Em 2004, foram 10 empresas e, em 2006, esse número subiu
para 45. Para os pequenos e microempresários, esse apoio é fundamental para aumento
das vendas de suas empresas, já que, na feira aparecem compradores de todo o país.
46
Tanto a Movexport quanto a Minas Furniture são filiadas à APEX. Geralmente, os gerentes desses
consórcios entram em contato com empresas no exterior para contatar compradores potenciais, atraindoos, por meio desse projeto, para negociar em UBÁ. Atualmente, a “Minas Furniture” está em contato com
8 empresas localizadas no exterior.
89
88%
79%
Locais
Outras cidades
do Estado
33%
18%
67%
Outros Estados
39%
Visitante
6%
6%
Outros Países
Expositor
0%
50%
100%
Figura 14. Participação em feiras
Fonte: Dados da pesquisa
4.3.1.3 A dinâmica do Arranjo Produtivo de Ubá e as formas de cooperação
4.3.1.3.1 Relacionamento entre empresas especializadas dentro do APL
Desde o início das atividades moveleiras em Ubá, percebe-se que a cooperação
entre empresas por meio das relações de subcontratação é bastante fraca. Em relação às
atividades relacionadas com a produção, percebem-se iniciativas de terceirização, como
em entalhamentos, estofamento, torneamento, parte elétrica de móveis especiais, estrado
e acabamento em verniz (Figura 15).
Acabamento em verniz
9,1%
78,8%
42,4%
puxadores
18,2%
Entalhamento
Estrado
9,1%
0,0%
30,3%
18,2%
21,2%
Estofamento
Parte elétrica do móvel
42,4%
18,2%
24,2%
Vidraçaria
Pés e braços de sofá
60,6%
6,1%
12,1%
6,1%
9,1%
50,0%
Presença da atividade
Figura 15. Itens terceirizados pelas empresas
Fonte: Dados da pesquisa.
90
100,0%
Terceirização da atividade
Em relação às atividades mais gerais, percebe-se que grande parte de serviços
como transporte, segurança, contabilidade e manutenção tem sido desenvolvida
internamente pela maioria das empresas (Figura 16).
Manuteção
45%
Serviços contábeis
79%
Serviço de representação
82%
Serviços de segurança
30%
Transporte prod. acabado
30%
Transporte de materiais
36%
0%
50%
100%
Figura 16. Serviços gerais terceirizados pelas empresas do APL
Fonte: Dados da Pesquisa
Alguns motivos do baixo volume de terceirização puderam ser detectados por
meio de entrevistas junto aos empresários, gerente do INTERSIND e técnicos do
SENAI.
Os empresários do Grupo 1 afirmam que a dificuldade em terceirizar, no
processo produtivo, está relacionada com os aspectos tecnológicos de suas empresas,
uma vez que fabricam móveis desmontados e pintados. A produção desses móveis em
série é muito rápida e exige máquinas e equipamentos específicos, além de uma mãode-obra de máquina qualificada. A própria velocidade na produção já inibe o processo
de especialização entre firmas. Como os móveis são desmontados, é necessário um
controle mais rigoroso das peças que saem dessas empresas. Caso adotassem
terceirização ou especialização inter-firmas, é provável que o custo com o controle
dessa produção aumentasse consideravelmente. Neste tipo de firma, a única coisa
terceirizada por eles são os kits que acompanham os móveis. Esses kits contêm
parafusos, puxadores, ruelas e outras peças necessárias para a montagem dos móveis.
Os empresários do Grupo 2 afirmam que as práticas de cooperação inter-firmas
são inibidas, por um lado, pelas próprias exigências dos critérios de controle de
qualidade impostos, de modo a atender as exigências ergonométricas e de resistência e,
por outro, a baixa confiança existente entre as empresas. Segundo eles, isso traria gastos
91
com controle de qualidade muito grande, não compensando os ganhos que poderiam ser
obtidos por meio da parceria entre as empresas. Então, tais práticas continuam
ocorrendo em casos em que não é mais vantajoso internalizar a produção, em virtude do
volume de trabalhos, tais como entalhamento, estofamento, parte elétrica de moveis, etc.
Numa entrevista com um fabricante de acessórios em metal, foi relatado que a
subcontratação ou a terceirização existe nesta empresa apenas para produtos que
atendem a demandas específicas, como por exemplo, necessidades em usar alguma peça
torneada, para atender a um pedido de cliente. Caso essa atividade comece a ser mais
freqüente, a tendência é a aquisição de máquinas para o trabalho, junto com a
contratação de empregados. Segundo esse fabricante, com a produção dentro da própria
fábrica, a qualidade do produto é mais assegurada, em virtude do maior controle.
De acordo com o Diagnóstico Moveleiro de Ubá (2003), uma horizontalidade
maior das indústrias poderia provocar ganhos de produtividade e redução de custos. O
aumento da terceirização de peças beneficia os processos produtivos e as linhas de
montagem, minimizando o tempo de produção e ampliando a capacidade produtiva.
Dessa forma, as empresas poderiam abrir novos mercados, aumentar a competitividade
e dispensar maior atenção com qualidade e o design dos seus produtos.
O supervisor técnico do SENAI acredita que ainda falta um ambiente de
confiança maior entre as empresas, principalmente do grupo de produtores de
marcenaria, de modo a possibilitar essa especialização. Para ele, ainda o risco de
terceirizar parte da produção é maior do que o de internalizar essa produção. Acredita
que isso seja fruto da história de formação das indústrias em Ubá e, até mesmo no país,
e que os benefícios trazidos pela terceirização deveriam ser mais bem estudados47.
Segundo ele, as tentativas de empresas italiana em reproduzir a mesma experiência em
Uberlandia-MG, cm base na especialização inter-firmas, falharam em virtude do clima
de competição entre os empresários e da falta de comprometimento de muitos. Já em
Ubá, existem empresas de sucesso, como a Paropas, que incluem, dentro de sua
estrutura, desde o plantio do eucalipto até a área de distribuição de produtos.
Cabe ressaltar que não há parcerias entre empresas formais e informais dentro do
APL. Tais parcerias são prejudicadas, pois, o setor, além de exigir tecnologias em
maquinário, mão-de-obra e insumos consideravelmente altos, sofre com o rigor das
legislações trabalhista, ambiental e fiscal.
47
Os motivos da não terceirização e os benefícios que poderiam surgir dentro do APL de Ubá com a
terceirização, está fora do escopo deste trabalho, ficando como sugestões para novas pesquisas.
92
4.3.1.3.2 Relacionamento entre empresas concorrentes
Até 1989, existia em Ubá uma competição acirrada entre os concorrentes. Eles
desenvolviam suas estratégias isoladas e evitavam encontros para discutir os problemas
em conjunto e troca de informações. Porém, ao longo da década de 1980, em virtude de
problemas relacionados com inflação alta, desabastecimento e movimento da economia
no sentido da globalização, os fabricantes perceberam a necessidade de maior interação.
O marco de mudança então passa a ser a fundação do INTERSIND.
Com o INTERSIND, a partir de 1990, há um movimento no sentido de fortalecer
as relações de cooperação entre as empresas concorrentes. Ainda na década de 1990, foi
criada a empresa Movimento Empresarial para construir o Pavilhão de Exposições do
Horto Florestal, sendo, hoje, responsável pela administração e exploração do Pavilhão
por um período de 15 anos. Nele são organizadas diversas feiras e exposições, sendo as
de maior destaque a FEMAP e a FEMUR. Os resultados dessas feiras fizeram com que
os empresários começassem a tomar consciência da necessidade do desenvolvimento de
estratégias em conjunto para poderem obter benefícios em comum.
Segundo o Gerente Administrativo do INTERSIND, até o ano de 2004, a
cooperação entre concorrentes eram consideradas fracas, com poucas ações conjuntas.
Porém, a partir desse ano, em virtude do resultado do Diagnóstico da Indústria do Pólo
Moveleiro de Ubá, entregue em 2003, algumas ações, relacionadas como marketing,
distribuição, compra e venda, foram desenvolvidas no sentido de proporcionar maior
cooperação.
Algumas ações de marketing em conjunto podem ser verificadas por meio: a) da
participação de concorrentes em conjunto em feiras e exposições, dividindo stands com
fabricantes de produtos similares (21%); b) do desenvolvimento de catálogos de
produtos (27%); c) da promoção de campanha de marketing do pólo moveleiro (67%);
d) da organização da FEMAP e da FEMUR (45%); e) da participação em feiras em
outras cidades e regiões (39%); f) da participação em feiras internacionais (6%).
Os dois consórcios de exportação também são considerados ações conjuntas,
uma vez que, por meio deles, há vendas em conjunto. 27% dos entrevistados pertencem
a um dos dois consórcios de exportação. Essas empresas também participam do
denominado “Projeto Comprador”, patrocinado pela APEX.
Outras ações em conjunto, relatadas pelos entrevistados, estão relacionadas com
troca de informações (21%); ensaios para o desenvolvimento de novos produtos (9%);
93
ações conjuntas para a capacitação da mão-de-obra (6%) e; participação em central de
entrega de produtos, como estratégia de atendimento aos prazos de entrega (48%).
Porém, no geral, tanto a cooperação vertical, quanto horizontal e o nível de
confiança entre concorrentes, ainda é considerada baixa. Isso resulta em baixa eficiência
coletiva e, em contrapartida, aumenta os custos de transação. Isso aproxima o APL do
modelo de distrito marshalliano, na versão descrita por Marshall (1890).
4.3.1.3.3 Relacionamento dos fornecedores dentro do APL
De acordo com os resultados da pesquisa, existem boas relações entre os
fornecedores de materiais e de máquinas e equipamentos e os demais agentes do APL.
Esse relacionamento veio se estabelecendo ao longo dos anos de 1990 e intensificou a
partir de 2000, com o aumentou o número de fornecedores, instalados na cidade, e de
escritórios de representação de fornecedores de Estados e até mesmo países.
Em relação aos fabricantes de móveis, as entrevistas mostraram que, em geral,
os fornecedores de materiais, insumos, máquinas e equipamentos contribuem com
informações sobre novos tipos de materiais e insumos; treinamento interno da empresa
na utilização de novos materiais e equipamentos (Learning by using); desenvolvimento
de novos produtos e participação em exposição em conjunto, ajudando nos gastos com
aluguéis de stands, entre outros (Figura 17).
Em relação ao INTERSIND, as fábricas fornecedoras que estão localizadas na
cidade de Ubá acabam se filiando ao sindicato e exercendo participação ativa nas
reuniões. As representadas por escritórios mantêm contatos, trocando informações sobre
insumos, tecnologia de produção e processo, inovação tecnológica, etc.
Junto às instituições de capacitação de mão-de-obra, por um lado, os
fornecedores utilizam de mão-de-obra treinada para o comércio, de treinamentos em
nível gerencial para as empresas, demandam serviços de consultoria, demandam pessoal
formado nas faculdades e; por outro lado, fornecem informações sobre novos materiais
e maquinários, necessárias para novos treinamentos e capacitações.
Em relação aos agentes de P&D, que no caso do APL é representado pelo
SENAI, que trabalha inovação de processos, há parceria em relação ao desenvolvimento
de produtos, processos, novos materiais e adoção de novas tecnologias.
94
9%
6%
Patrocínio e divisão de stands
21%
Melhores prazos de pagamento
Assistência técnica
33%
24%
0%
24%
Manutenção 0%
Capacitação de pessoal
30%
12%
Pesq.e desenvolv, produto
45%
27%
troca de informação
42%
0%
52%
30%
Fornecedores de materiais e insumos
60%
Fornecedores de máquinas e equipamentos
Figura 17. Tipo de relacionamento entre fabricantes e fornecedores
Fonte: Dados da pesquisa.
4.3.1.3.4 Relacionamento das empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de
produtos e processos, Instituições de Pesquisa/Universidades
Em geral, ressalvando as grandes empresas do APL, as empresas não possuem
departamentos de P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e processos.
Também não há empresas especializadas que prestam tais serviços na localidade.
Grande parte das pesquisas voltadas pra inovação em processos produtivos é
feita pelo SENAI de Ubá, que já é considerado uma referência nacional. Em relação a
design e inovação de produtos e novos materiais, as pesquisas tem sido desenvolvida
pelo SENAI do Rio Grande do Sul e por empresas privadas e profissionais liberais, de
grandes centros urbanos, tais como: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
Em relação a novos materiais, o Departamento de Floresta da Universidade
Federal de Viçosa tem desenvolvido suas pesquisas no sentido de criação de plantas
(Eucalipto), melhorados geneticamente de fácil adaptação na região, de modo que, com
o passar dos anos, Ubá venha ser sustentável na principal matéria-prima.
As principais fontes de informação utilizadas pelas empresas inovadoras são: o
SENAI (27%), por meio de consultorias especializadas localmente; os fornecedores de
máquinas e equipamentos, na fase de aquisição (70%); os representantes comerciais
(70%); as publicações especializadas (73%); os congressos e feiras especializadas tais
como FEMUR, FEMAP (48%) e, em menor peso, feiras de outros estados e países
(6%). As grandes empresas relataram também os seus departamentos de P&D locais.
95
O desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias se dá por meio de
interação com universidades e centros de pesquisa; por meio da aquisição de máquinas
compradas nos mercados nacionais (82%) e internacionais (12%); em laboratórios de
P&D do SENAI (27%); nas unidades de produção da empresa (18%) e; em cooperação
com fornecedores de insumos (27%).
4.3.1.3.5 Relacionamento das empresas de formação de mão-de-obra
O INTERSIND, em parceria com o SESI/SENAI e o SEBRAE, veio, nos
últimos anos, desenvolvendo estratégias para elevar a quantidade e a qualificação da
mão-de-obra na cidade de Ubá e região.
O SENAI48 forma, em média, 130 alunos por trimestre, em cursos de
aprendizagem industrial, técnicos, de qualificação e de aperfeiçoamento profissional
(Tabela 14).
Tabela 14. Relação de cursos de capacitação oferecidos pelo SENAI de Ubá
Cursos
Aprendizagem
Industrial
Técnicos
Qualificação
Especificação
Eletricista de Manutenção; Marcenaria e Mecânica Geral
Design Industrial e Moveleiro; Técnico em Mecânica; Segurança do Trabalho
Acabador de Móveis de Madeira, Afiação de Ferramentas do Mobiliário, Ajustador
Mecânico, capacitação para Encarregados, Controladores Lógicos Programáveis,
Eletricidade Industrial, Eletrônica analógica, eletroidráulica, Estofador de Móveis,
Marcenaria, Mecânico em Geral, Operador de Linha de Pintura Ultravioleta.
Qualificação em Design de Móveis
Aperfeiçoamento
Profissional
Acabador de Móveis de Madeira, AUTOCAD R14, Básico Chefia e Aspectos
Humanos, Controle Estatístico de Processo, CORELDRAW, Ferramentas da
Qualidade, Brigada de Incêndio, Informática, ISSO 9000, Montagem de Móveis,
Operador de Máquinas para Marcenaria, Pinturas Especiais em Móveis, Secagem de
Madeira, Secretária, Segurança em Marcenaria, Telemarketing.
Fonte: Dados da pesquisa.
O SEBRAE/MG em Ubá oferece treinamentos, consultorias e programas para a
melhoria dos processos gerenciais, das habilidades de liderança e do comportamento do
empreendedor. Oferece cursos de produção, vendas, logística, recursos humanos,
empreendedorismo, atendimento ao cliente, controle financeiro e contabilidade.
As instituições de ensino oferecem cursos superiores em Designer Industrial, de
48
Tem sede própria, junto à FIEMG, IEL e SESI. Conta com uma estrutura de das salas de aula,
laboratório de teste de produtos, marcenaria, e um escritório que dá consultoria e atendimento ao Sistema
CAD e em inovação de processo produtivo. Realiza alguns trabalhos de P&D.
96
Desenho Industrial e Pós-Graduação em Engenharia da Produção, contribuindo para que
na região exista elevado número de pessoas em atividades de design, gerenciamento e
inovação de produtos e processos produtivos. Nas entrevistas, 33% dos entrevistados
declararam que utilizam mão-de-obra de estagiários das faculdades locais.
4.3.1.3.6 Relacionamento com os agentes de animação do APL
A coordenação do arranjo de Ubá é feita pelo INTERSIND, que, associando 115
empresas, desde a sua criação em 1989, desenvolve uma série de atividades para maior
integração entre a indústria e órgãos públicos. Ao longo dos anos, foram desenvolvidas
pelo INTERSIND ações como: a) instalação do SEBRAE em Ubá; b) implantação do
Proder – Programa de Desenvolvimento e Renda, em parceria com a Associação
Comercial e Industrial de Ubá, Prefeitura e SEBRAE, criando assim a Adubar –
Agência de Desenvolvimento de Ubá; c) incentivo à criação da empresa Movimento
Empresarial para construir o Pavilhão de Exposições do Horto Florestal, sendo, hoje,
responsável pela administração e exploração do Pavilhão por um período de 15 anos.
Nele são organizadas diversas feiras e exposições, sendo as de maior destaque a
FEMAP e a FEMUR; d) criação do SETEX, em parceria com o SEBRAE/MG e a
APEX. O SETEX visa desenvolver ações de estruturação e qualificação de empresas
para participação no mercado moveleiro internacional; e) o incentivo à criação de
consórcios de exportação – o MOVESPORT e o Minas Furniture; f) promoção de
visitas para formação de acordos de aquisição de matéria-prima, como exemplo, em
2004, um grupo de 14 pessoas visitaram a cidade de Rio Branco, no Acre; g) incentivo à
utilização de matéria-prima de área certificada de manejo florestal sustentável, para
atender exigências do mercado externo; h) coordenação das ações conjuntas de
publicidade, distribuição, compra e venda.
Visando
o crescimento e a melhor estruturação do pólo, foi criado, em 2002, um
Comitê Gestor do APL (Tabela 15), em que empresários e instituições foram divididas
em 4 grupos temáticos: Capacitação de RH; Gestão da Tecnologia; Mercados e
Imagem; Finanças. Tais grupos têm buscado solucionar os problemas do APL, por meio
de ações junto a autoridades competentes.
97
Tabela 15. Grupos temáticos do APL de Ubá e região e suas atribuições
Grupo
Capacitação e RH
Gestão e Tecnologia
Mercado e Imagem
Finanças
Atribuições
Ações que envolvem: qualificação de mão-de-obra profissionalizante;
elevação do nível de escolaridade; capacitação das indústrias em gestão
empresarial; fortalecimento de fornecedores e de lojistas da cadeia local.
Ações que envolvem design, desenvolvimento de novos produtos, testes dos
produtos, desenvolvimento de produto para a certificação, conformidade
ergonômica, melhoria do processo produtivo, licenciamento ambiental,
estação de tratamento efluentes líquidos cooperados, unidade de tratamento
de resíduos industriais, artesanato com os resíduos, projeto de
Reflorestamento, projeto de aproveitamento da madeira de eucalipto,
oriunda de consórcio agrosilvopastoril.
Ações que envolvem o Plano de Marketing, o Núcleo de Inteligência
Comercial do mercado nacional, ampliação de esforços para exportação,
adequação de produtos para o comércio exterior, gerenciamento da central
de fretes e central de compras, feiras do setor moveleiro.
Ações que envolvem assessoria ao crédito e financiamento para as empresas
do APL e o Plano de Infra-estrutura do APL.
Fonte: Dados da pesquisa.
4.3.2
O APL de Carmo do Cajuru
O Município de Carmo do Cajuru localiza-se na região Centro-Oeste do Estado
de Minas Gerais, fazendo parte da microrregião de Divinópolis49 (IBGE, 2005). A
população do município em 2006 era de 19.184 habitantes, estando 84% na área urbana
e 16% na área rural. A área total do município é de 455.000 km2, com densidade
demográfica de 42,2 habitantes / km2 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Carmo_do_Cajuru,
acessado em 14/10/2007).
Esse município começou a se formar no início do século XIX, mais
especificamente em 1825, emancipando-se em 1948. A cidade, desde as primeiras
colonizações, tinha sua economia voltada para a agropecuária, apresentando grandes
lavouras de milho, feijão, algodão, cana-de-açúcar e café, e, ainda, criação de gado
bovino leiteiro e de corte50. Além disso, desde o início do século XX, já se registravam
pequenas fábricas, como; fábrica de macarrão, fábricas de queijo e manteiga,
beneficiadora de arroz, fábrica de fubá, fábrica de farinha de milho e mandioca e outras.
49
Fazem parte desta região os municípios de Carmo do Cajuru , Cláudio , Conceição do Pará ,
Divinópolis , Igaratinga , Itaúna , Nova Serrana , Perdigão , Santo Antônio do Monte , São Gonçalo do
Pará , São Sebastião do Oeste
(http://www.almg.gov.br/index.asp?grupo=estado&diretorio=mregiao&arquivo=macrorregioes&macro=6
, acessado em 14/10/2007).
50
Até hoje a agropecuária em Carmo do Cajuru é significativa, respondendo por cerca de 20% do PIB do
município.
98
De acordo com Diomar (2000), com a inauguração da estrada de ferro, em 1890,
Carmo do Cajuru passou a fornecer seus produtos para o Estado do Rio de Janeiro e
ainda para outras regiões de Minas, principalmente para a região de Belo Horizonte,
aproveitando a proximidade da região e a facilidade de transporte.
Hoje o setor agropecuário é responsável por 20% do PIB municipal. O setor de
prestação de serviços, incluindo o comércio local, também tem uma boa participação no
PIB do município. De acordo com a Tabela 16, o município apresentou PIB a preços
correntes de R$ 116.466 milhões e PIB per capta de R$ 6.273,74, ocupando o sexto
lugar em relação ao total do PIB da microrregião. Dos 37% de representatividade da
indústria no PIB, 70% está relacionada com a atividade moveleira. Assim, a principal
atividade está relacionada com a produção de móveis em madeira.
Tabela 16. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e
PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de
Divinópolis – Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00)
PIB a preços correntes (2004)
PIB/hab
Localidade
PIBpm
agropecuário
Minas Gerais
Microrregião
Carmo do Cajuru
Claudio
Conceição do
Pará
Divinópolis
Igaratinga
Itaúna
Nova Serrana
Perdigão
Santo Antônio do
Monte
São Gonçalo do
Pará
São Sebastião do
Oeste
13.697.698
223.135,42
22.351,94
16.350,66
industrial
serviços
População
(R$1,00)
Total (1)
68.921.655
73.556.254 156.175.607
1.715.958,09 1.613.521,13 3.552.614,64
41.975,96
49.033,92
113.361,82
46.264,93
73.547,59
136.163,19
166.586.327
3.678.921,39
116.465,78
138.532,80
18.993.720
432.027
18.564
24.595
8.771
8.515
6.274
5.633
13.960,98
41.944,57
23.420,25
24.826,24
9.829,10
7.719,01
34.404,26
850.572,66
8.014,82
463.708,24
173.741,00
8.301,87
17.086,04
829.119,51
23.341,49
333.541,78
162.540,00
16.085,83
65.451,28
1.721.636,74
54.776,56
822.076,25
346.110,10
32.106,71
70.208,96
1.786.796,66
55.026,03
862.821,77
353.212,87
32.317,03
5.252
200.636
8.057
82.232
47.469
6.303
13.368
8.906
6.830
10.493
7.441
5.127
37.378,35
30.621,31
70.705,57
138.705,23
139.267,32
26.292
5.297
7.968,74
42.338,75
24.896,59
75.204,08
77.277,73
8.189
9.437
17.385,59
16.014,28
13.622,81
47.022,67
46.994,44
4.438
10.589
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2007)
Observando-se o PIB ao longo dos anos (Tabela 17), percebe-se crescimento
significativo a partir de 1999. O crescimento relacionado com o setor industrial se deve
ao desempenho da indústria do setor moveleiro, cuja origem remonta às décadas de 80 e
90 e está relacionada com a história da Mobiliadora Líder, fundada em 1955.
99
Tabela 17. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e
PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de Carmo do
Cajuru no período de 1999 a 2004
PIB a preços correntes
Ano
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Agropecuário
industrial
serviços
Total (1)
11.941,90
12.333,44
14.030,58
19.381,36
19.679,48
22.351,94
21.583,40
26.135,83
24.429,71
28.744,70
36.249,24
41.975,96
28.391,46
31.055,43
36.361,90
39.816,65
43.942,78
49.033,92
61.916,76
69.524,70
74.822,19
87.942,71
99.871,50
113.361,82
PIBpm
População
PIB(pm)/hab.
(R$1,00)
63.757,17
70.974,03
76.399,97
89.654,33
102.368,30
116.465,78
17.755
17.334
17.638
17.945
18.254
18.564
3.591
4.094
4.332
4.996
5.608
6.274
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2007)
4.3.2.1 Evolução histórica do setor moveleiro em Carmo do Cajuru
Carmo do Cajuru é uma pequena cidade do Estado de Minas Gerais que, desde
os anos 90, tem se destacado no cenário nacional em virtude da produção de móveis em
madeira, por micro e pequenas empresas aglomeradas, voltadas para o atendimento das
classes A e B. Esse aglomerado produtivo surgiu de maneira natural e sua história está
relacionada com a história da Mobiliadora Líder, fundada em 195551.
A história do setor moveleiro de Carmo do Cajuru pode ser dividida em três
períodos: a) O primeiro período, que se inicia com a fundação da Mobiliadora Líder e
termina no início da década de 1990, pode ser associado ao desenvolvimento e
crescimento da Líder; b) o Segundo período compreende a década de 1990, quando
ocorre a mudança de estratégias mercadológicas da Líder, caracterizada pela conquista
de novos mercados e formação do aglomerado produtivo de micro e pequenas empresas
em Carmo do Cajuru; c) o terceiro período começa a partir do ano 2000, caracterizado
pela organização do arranjo produtivo local de Carmo do Cajuru, no sentido de buscar
maior competitividade das empresas do setor.
4.3.2.1.1 A fundação e crescimento da Mobiliadora Líder
Desde a sua fundação, em 05 de maio de 1955, a Líder fabricava móveis
residenciais sob encomenda, intensivos em mão-de-obra especializada de marcenaria –
na época essa mão-de-obra era formada por 8 marceneiros. O público alvo estava
51
A atividade de marcenaria na cidade surgiu em 1945, com a primeira fábrica de móveis denominada
Marcenaria São José. Em 1955, esta fábrica foi comprada pelo chefe de oficina e marceneiro, João da
Mata Nogueira. O novo proprietário fundou no dia 5 de maio de 1955 a Mobiliadora Líder (Diomar,
2000).
100
concentrado nas cidades de Divinópolis e de Belo Horizonte. Dos móveis produzidos,
destacavam-se os dormitórios e salas de jantar.
A qualidade do produto era garantida em função da matéria-prima utilizada e da
mão-de-obra especializada, formada por constantes treinamentos dados dentro da
própria empresa, principalmente quando foram necessárias novas contratações em
virtude de crescimento de encomendas que levaram ao crescimento da empresa.
Em função da qualidade dos produtos, durante a década de 1960 e 1970, a
empresa apresentou crescimentos significativos, atendendo prontamente às solicitações
de clientes, principalmente de Belo Horizonte, localizada a 113 km de Carmo do
Cajuru. Como conseqüência, vários postos de trabalho foram abertos em todos os
setores, envolvendo tanto o pessoal de fabricação quanto o pessoal Administrativo.
Nessas décadas já começaram a surgir pequenos concorrentes da Líder, formado
por ex-empregados da empresa. Na década de 1970, a Prefeitura Municipal
desapropriou uma grande área para a construção do primeiro Distrito Industrial. De
acordo com os registros, pôde-se levantar o número de 3 empresas que surgiram ao
longo dos anos de 1960 e 3 empresas que surgiram ao longo dos anos de 1970.
Em 1976, a empresa, percebendo a necessidade de aumentar o volume de
produção para atender seu mercado potencial – que estava concentrado em Belo
Horizonte – mudou o foco da produção sob encomenda para a produção em série. Essa
estratégia resultou num aumento significativo de produção, havendo a necessidade de
buscar novos mercados para escoar os produtos. Dessa forma, outras estratégias
complementares tiveram que ser adotadas, como: criação de outra fábrica e show-room
em Mateus Leme, lojas comerciais em Divinópolis e Lojas em Belo Horizonte.
Ao longo dos anos 80, a empresa expandiu suas vendas para outros Estados
Brasileiros, por meio de representantes. Com isso, houve um crescimento das atividades
produtivas nesta década, fazendo com que muitos representantes de matérias-primas,
insumos, máquinas e equipamentos freqüentassem a cidade de Carmo do Cajuru para
realizar vendas para a Líder. Além desses representantes, muitos clientes também
começaram a visitar Carmo do Cajuru, no sentido de realizar suas compras, uma vez
que parte da estratégia mercadológica da Líder consistia em estampar o nome da cidade
nos caminhões que realizavam as entregas dos produtos.
Com a estratégia mercadológica da Líder, ao longo dos anos de 1980, várias
empresas, formados por ex-empregados, surgiram, de modo a aproveitar o mercado, o
101
nome da Líder, a mão-de-obra especializada, o fluxo de vendedores de máquinas e
equipamentos, bem como o fluxo de representantes de matéria-prima e insumos.
Muitas das empresas fecharam suas portas ao longo dos anos de 1980,
principalmente em virtude das conseqüências do plano Cruzado. O mesmo plano que
incentivou a abertura de novas fábricas, por meio do incentivo ao empreendedorismo,
foi o responsável pelo fechamento dessas em virtude dos altos índices de inflação e
escassez de matéria-prima, desencadeados a partir do segundo semestre de 1986. Porém,
foram detectadas 10 empresas, criadas nos anos 80, que sobrevivem até hoje. Dessas
empresas, cinco (50%) pertencem à amostra da pesquisa. Essas empresas afirmaram que
os principais motivos para que abrissem suas fábricas em Carmo do Cajuru estavam
relacionados aos seguintes fatores: a) os proprietários já viviam na cidade e não
pretendiam se mudar; b) os proprietários já trabalhavam para a Líder como marceneiros;
c) os proprietários aprenderam muitas técnicas de produção e comercialização, no
período em que trabalhavam para a Líder; d) a cidade oferecia boas condições para o
desenvolvimento da marcenaria, uma vez que, com as estratégias mercadológicas da
Líder, focando o nome da cidade, faziam com que clientes potenciais freqüentassem a
cidade, bem como os representantes de máquinas e equipamentos e os representantes de
matérias-primas e insumos; e) as constantes trocas de informações entre as pessoas; f) a
cidade oferecia boas condições para a produção, como: estradas, energia elétrica,
sistema de comunicação, mão-de-obra especializada disponível e compatível com o
produto, proximidade de mercado; f) a baixa barreira de entrada de indústrias, em
virtude dos móveis demandarem, à época, pouca tecnologia de maquinário e intensiva
mão-de-obra de marcenaria e a garantia de mercado, criado pela própria Líder.
4.3.2.1.2 A expansão do mercado da Líder e a formação do aglomerado
No início dos anos de 1990, houve um aumento da demanda pelos produtos em
virtude de uma estratégia mercadológica mais agressiva da Líder - envolvendo aumento
dos pontos de distribuição e associação da marca à imagem de produtos de boa
qualidade voltados para o mercado A e B. Essa estratégia teve como base a abertura de
lojas na cidade de Belo Horizonte e no Estado de São Paulo; o aumento de
102
representantes comerciais e estabelecimento de parcerias junto a arquitetos e
decoradores de vários Estados do País52.
Para continuar atendendo a demanda, garantindo a qualidade dos produtos e
prazos de entrega houve a necessidade de fragmentar a produção. A partir de então, a
empresa foi dividida em seis unidades produtivas: a) Unidade Salas de Jantar,
responsável pela fabricação de móveis diferenciados e funcionais que compõem o
ambiente; b) Unidade Racks e Estantes, responsável pela fabricação de estantes
modulados com estilo moderno com características multifuncionais; c) Unidade
Estofados, responsável pela fabricação de sofás e poltronas segundo design
internacional; d) Unidades Colchões, responsável pela fabricação de espumas e
colchões e acessórios para dormir, seguindo padrões de qualidade internacional; e)
Unidade de colchas, responsável pela fabricação de colchas e almofadas,
comercializadas nas lojas e; f) Unidade Dormitórios responsável pela fabricação de toda
a linha relacionada a dormitórios.
As cinco primeiras unidades funcionam em Carmo do Cajuru e a última, ou seja,
a Unidade Dormitórios, em Mateus Leme. Juntas são responsáveis pela fabricação de
18.000 peças mensais – representando 40% da produção de móveis da cidade –, com
participações diferenciadas no faturamento mensal da empresa. Além disso, a Líder
emprega cerca de 1.200 pessoas, 61% da mão-de-obra do setor moveleiro da cidade.
De acordo com a entrevista realizada na Líder, essa fragmentação da produção
garantiu a expansão do mercado na década de 1990 até os dias atuais. Hoje a empresa
possui 2 lojas de atacado, sendo uma em São Paulo (Capital) e uma em Uberlândia
(MG), responsáveis por 10% do total do faturamento; 18 lojas de varejo, sendo 9 em
Minas Gerais – 5 em Belo Horizonte, 1 em Divinópolis, 1 Contagem, 1 em Mateus
Leme e 1 em Juiz de Fora – 5 em São Paulo – 4 na capital paulista e 1 em São José dos
Campos – 2 em Brasília (DF); 1 no Espírito Santo – Vitória – 1 no Rio de Janeiro – na
cidade do Rio de Janeiro. Além disso, existem 16 representantes comerciais, sendo um
trabalhando em Minas Gerais e o restante distribuído nos outros Estados Brasileiros.
As vendas a varejo têm maior concentração em Minas Gerais (65%) – com
maior peso em Belo Horizonte (43%) –, seguida dos Estados de São Paulo (17%),
Distrito Federal (10%), Espírito Santo (7%) e Rio de Janeiro (1%).
52
Apesar da prioridade de vendas ser para o mercado nacional, percebe-se que na década de 1990 a
empresa chegou a vender para o mercado externo, mais especificamente, para os países: EUA, Panamá,
Chile e Arábia.
103
Enquanto a Líder conquistava novos mercados houve o aumento de clientes,
fornecedores de máquinas e equipamentos e de matérias-primas e insumos, por meio de
representantes, na cidade. Como conseqüência, por um lado, as micro e pequenas
empresas do setor, existentes até então, se beneficiavam dessas estratégias e, por outro
lado, aumentou também o fluxo de informações sobre produção e comercialização,
traduzidos em novas tecnologias de produção, contatos, treinamentos, novos materiais.
Isso instigou outros empregados da Líder e das micro e pequenas empresas existentes a
abrirem seus próprios negócios, uma vez que o ambiente propiciava a aquisição de
materiais, a contratação de mão-de-obra especializada e a garantia de mercado, por meio
dos representantes de compras das lojas de varejo de Belo Horizonte e São Paulo.
Percebe-se que 50% das empresas formais de Carmo do Cajuru iniciaram suas
atividades na década de 90. Isso pode ser comprovado na pesquisa, pois do total de
entrevistados que abriram suas fábricas a partir de 1990, 86% foram empregados da
Líder.
Os motivos que fizeram com que abrissem suas fábricas na cidade foram: a)
facilidade de entrada no mercado em virtude da política de marketing da Líder e a
proximidade da cidade de Belo Horizonte e Grande Belo Horizonte (86%); b) facilidade
de contatos com representantes comerciais, tanto para aquisição de insumos quanto
máquinas e equipamentos e compradores de móveis (63%); c) presença de mão-de-obra
especializada e disponível na cidade (86%); d) conhecimentos necessários para produzir
(86%); c) busca por um tipo de negócio que estava relacionado com a vocação do lugar,
uma vez que não queriam sair da cidade (95%).
Esse crescimento de firmas da indústria moveleira foi favorecido pela facilidade
de entrada em razão da atividade de marcenaria adotada; havia conhecimento tácito
difundido entre os marceneiros; existia mão-de-obra especializada; presença de
representantes de fornecedores e proximidade do mercado consumidor.
O crescimento desproporcional e acelerado do número de empresas em Carmo
do Cajuru, aliado aos efeitos da globalização, fez com que houvesse a necessidade de
maior organização do setor. Assim, em 1994, foi instalado na cidade o Sindicato das
Indústrias do Mobiliário e de Artefatos de Madeira no Estado de Minas Gerais –
SINDIMOV-MG, com o objetivo de organizar as ações do setor moveleiro, no sentido
de auxiliar os empresários na busca de soluções para o crescimento do pólo.
Os dois trabalhos de destaques do SINDIMOV-MG, na década de 90, foram: a)
intervenção junto à Prefeitura Municipal para resolver o problema de espaço físico,
104
criando o Distrito Industrial II e; b) a organização, junto com os empresários locais, em
1998, da primeira FEMOCC– Feira de Móveis de Carmo do Cajuru. Essa feira foi
baseada nas feiras realizadas em Ubá e teve por objetivo aumentar o relacionamento
entre os empresários e, ainda, promover o nome do aglomerado de Carmo do Cajuru.
Porém, de acordo com os relatos em entrevistas e trabalhos desenvolvidos no
APL o cenário no final da década de 1990 e no início dos anos 2000 era de: a)
concorrência acirrada; b) pouca troca de informação; c) falta de habilidade gerencial por
parte dos empresários; d) inexistência de serviços de instituições especializadas de
apoio gerencial e de capacitação de mão-de-obra; e) existência de cópia de produtos,
que levava a adoção de estratégias competitivas com base em preços; f) baixa
qualificação da mão-de-obra; g) baixa participação coletiva em feiras localizadas fora
da cidade, tanto como expositor quanto como visitante; h) baixo nível tecnológico dos
equipamentos, muitos deles já obsoletos; i) poucas atividades terceirizadas, que, em
geral, eram restritas aos trabalhos de entalhamento, manutenção de máquinas e
transporte de matérias-primas, insumos e produtos e, ainda, serviços contábeis.
4.3.2.1.3 A organização do APL e a busca pela competitividade das empresas
Em virtude do cenário da indústria moveleira de Carmo do Cajuru, houve a
necessidade de maior organização do setor, no sentido de aumentar os níveis de
competitividade das empresas. A partir de 2002, o SINDIMOV-MG passou a ter uma
posição mais ativa, como órgão coordenador do arranjo.
Um dos trabalhos quem vem sendo desenvolvido pelo SINDIMOV-MG, a partir
de 2002, está relacionado com a redução de cópias de produtos dos concorrentes e na
busca por produtos diferenciados. Isso tem diminuído a competição por meio de preço e
até mesmo facilitado a cooperação de empresas na composição de produtos para atender
pedidos específicos de clientes. Segundo o relato de 20% dos entrevistados, muitas
vezes um comprador se interessa por uma peça de uma empresa e outra de outra
empresa, sendo necessário que as empresas reúnam esforços para realizar o acabamento.
Em 2003, o SINDIMOV-MG firmou parceria com a FIEMG - Federação das
Indústrias do Estado de Minas Gerais - com a inauguração da Unidade SENAI em
Carmo do Cajuru. A finalidade do SENAI é de incrementar a mão-de-obra local e,
conseqüentemente, a qualidade dos produtos do setor, por meio da criação de uma
escola de marcenaria.
105
Em 2003, o SEBRAE começou a atuar na cidade, por meio de fornecimento de
informações, promoção de cursos direcionados a empresa do setor e auxílio no
fortalecimento e solidificação das empresas do APL. Além disso, o SEBRAE tem
auxiliado o SINDIMOV nos trabalhos de coordenação do arranjo.
Neste mesmo ano, o IEL – Instituto Euvaldo Lodi – realizou o Diagnóstico das
Indústrias de Carmo do Cajuru. A partir dos resultados, o SINDIMOV-MG, em
conjunto com o SENAI, SEBRAE e empresários locais, tem desenvolvido ações no
sentido de amenizar os pontos fracos detectados.
Como conseqüência dessas ações voltadas para a organização do setor, os relatos
das entrevistas revelaram: a) aumento na participação de empresários em feiras
realizadas em outras cidades e Estadas - como FENAVAM e EQUIPOTEL, no ano de
2005; b) maior capacitação da mão-de-obra local; c) desenvolvimento de serviço
diferenciado de transporte, por meio da capacitação de motoristas de transportadoras,
em virtude da especificidade do produto transportado; d) maior troca de informação
entre os empresários, principalmente os sindicalizados.
Pode-se perceber que, a partir de 2002 foram abertas, por pessoas da cidade, três
lojas para fornecimento de insumos tais como cola, resinado, lixa, prego, tinta,
aglomerados, etc.; uma empresa especializada em estofamentos; uma empresa
especializada em partes de produtos como pé de sofá; uma especializada em
entalhamento; uma empresa transportadora com serviços direcionados aos fabricantes
de móveis da cidade, uma vez que o transporte do tipo de móvel produzido requer
atenção especial.
Com a consolidação do Arranjo Produtivo Local de Carmo do Cajuru, começou
a ser montada infra-estrutura institucional em prol do arranjo. Tal estrutura, em virtude
da evolução histórica do aglomerado, está longe da estrutura apresentada em Ubá. Na
verdade, essa infra-estrutura institucional demora anos para se formar. Hoje, este APL
possui 7 parceiros: MDIC, Prefeitura Municipal de Carmo do Cajuru, Sistema FIEMG,
SEBRAE, SINDIMOV-MG, Banco do Brasil.
4.3.2.2 Estrutura atual do arranjo produtivo de Carmo do Cajuru
A estrutura do arranjo produtivo do setor moveleiro de Carmo do Cajuru
(Figura 18) possui 6 atores principais: a) as empresas do segmento central que
compreende as fábricas produtoras de móveis; b) as Atividades Conexas que
106
compreende os pequenos fornecedores de matérias-primas e insumos; c) as atividades
complementares representadas pelas empresas que prestam serviços específicos para a
produção tais como: estofados, fabricantes de estrado, entalhamentos, etc.; d) Estrutura
de apoio e animação que compreende a O Sindicato do Setor Moveleiro de Minas
Gerais (SINDIMOV-MG), a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), O
Instituto Euvaldo Lodi (IEL), O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)
e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRE), e) Estrutura
de formação, aperfeiçoamento e pesquisa representado pelo SENAI e SEBRAE; f)
prestadores de serviços gerais o APL representados pelos Bancos – Banco do Brasil,–,
escritórios de contabilidade, serviços de segurança e transporte.
Atividades Conexas
Fornecedor
Materiais
Estruturas de
apoio e de
Atores
animação
Locais
SINDIMOV,
SEBRAE,
FIEMG
Atividades
Complementares:
Empresas do
Segmento
Moveleiro
Serviços
Bancos
Contabilidade
Consultorias
Especializadas
Transporte
Segurança
etc.
Estruturas de Formação,
Aperfeiçoamento e de
Pesquisa
SEBRAE, SENAI,
Estofados,
entalhamentos e
estrados.
Figura 18. Estrutura do Arranjo Produtivo Moveleiro de Carmo do Cajuru
Fonte: Adaptação de Fonseca Netto (2002)
4.3.2.2.1 As empresas centrais do processo produtivo
O pólo moveleiro de Carmo do Cajuru é constituído de 72 empresas, sendo 62
formais e 10 informais, responsáveis por 2.200 empregos diretos e 300 empregos
indiretos. Segundo a classificação de empresas com base no número de empregados,
adotado pelo SEBRAE, existem 49 microempresas – abrangendo as 10 informais 39
formais, produzindo 28% do total de móveis –, 22 de pequeno porte – responsáveis pela
produção de 32% dos móveis – e 1 de grande porte – que fabrica 40% dos móveis da
cidade, pertence ao grupo Líder, dividida em três unidades Mobiliadora, Estofados e
Interiores.
107
O número de empresas informais é considerado baixo, quando comparado com
outros APLs. Segundo o Gerente Administrativo do SINDIMOV-MG, o baixo número
de empresas informais pode estar associado: a) ao nível considerável de investimentos
em tecnologia, mão-de-obra, insumos, materiais e capital de giro mínimo para assegurar
os períodos de estocagem e de recebimento de clientes. Tais investimentos servem
como barreira a entrada de novas empresas; b) à constante fiscalização nas estradas,
fazendo com que os produtos sejam acompanhados de notas fiscais; c) ao tipo de
produto produzido, direcionado a uma camada social mais exigente em relação à
legalidade, qualidade e garantia; d) ao próprio controle por parte das empresas formais,
que acaba servindo como barreira a entrada de empresas informais. As 10 empresas
informais apontadas são formadas por mão-de-obra familiar, fabricante de produtos com
características artesanais e que acabam atendendo a outro segmento de mercado, não
sendo concorrentes diretos das empresas formais.
Em relação ao mix dos principais produtos fabricados, grande parte das
empresas moveleiras de Carmo do Cajuru tem uma linha própria de produtos com
características bem diferenciadas. No geral, as empresas utilizam a madeira maciça,
conjugada com outros materiais, e o MDF para a produção. O processo produtivo pode
ser visualizado por meio da Figura 19.
Entalha
mento
Entrada de
Matéria
Prima
Organização
e corte
Lixação
Montagem
Lixação
Osso
Aplicação
Fundo
Lixação
Fundo
Aplicação
Verniz
Embalagem
Usinagem
Acessórios
Figura 19. Processo produtivo de produtos em madeira maciça de Carmo do Cajuru
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo
Nesse processo, a matéria-prima madeira pode seguir diretamente para o setor de
corte ou passar pelo setor de entalhamento antes de ir para o setor de corte. Após serem
cortadas, as peças são encaminhadas para o setor de lixação – podendo também passar
antes pela usinagem. Em seguida, as peças são montadas para a obtenção do móvel, que
segue para as etapas de lixação, aplicação de fundo, nova lixação e aplicação de verniz.
108
Após a secagem, o móvel é embalado, fase em que há colocação de acessórios como
puxadores, etiquetas, pés e outros.
No caso de alguns artigos de dormitório e sala de jantar, como mesa, armários,
guarda-roupas, cômodas, a madeira maciça tem sido conjugada com o MDF, conhecido
por eles como chapeado ou folheado em madeira. Para esses produtos, o processo de
produção, demonstrado na Figura 20, é o mesmo utilizado em Ubá no grupo de móveis
de marcenaria. O processo envolve duas matérias-primas básicas – o chapeado e a
madeira maciça -. Por um lado, a chapa entra no processo produtivo, segue para o setor
de corte e, depois de cortadas as peças, estas seguem para o setor de prensagem - em
que são coladas cascas de madeira comprada – e, em seguida, é feito algum trabalho de
usinagem. Por outro lado, a madeira maciça entra no processo de produção em outro
setor de corte, seguindo para a usinagem e para a lixação. Esses dois processos se
encontram na fase da montagem do móvel. A partir da obtenção do móvel montado, este
segue para as etapas de lixação, aplicação de fundo, nova lixação e aplicação de verniz.
Após secagem do verniz, o móvel é embalado, fase em que há colocação de acessórios.
De acordo com os dados da pesquisa (Figura 21), pode-se perceber que apesar
da atuação nas mais diversas frentes produtivas do setor de móveis, há um forte
predomínio pela produção de móveis de dormitório – cama, guarda-roupa, cômoda e
criado –, seguida pela produção de salas de jantar - mesa, cadeira e armário - e móveis
de escritório. Os demais produtos aparecem na linha de produção das indústrias, mas em
escala reduzida. Outra peculiaridade é a de que as a maioria das empresas que produz
móveis de dormitório também produz móveis de sala de jantar.
Organização
e corte
Prensagem
Usinagem
Chapa
Entrada de
Matéria
Prima
Entalha
mento
Montagem
Lixação
Osso
Aplicação
Fundo
Madeira
maciça
Lixação
Fundo
Aplicação
Verniz
Embalagem
Acessórios
Organização
e corte
Usinagem
Lixação
Figura 20. Linha de produção de móveis em madeira maciça conjugado com chapas
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo
109
Cabe ressaltar que, para os produtos de sala de jantar e dormitório, as empresas
buscam diferenciar os seus produtos dos demais concorrentes, seja pelo tipo de matériaprima utilizada, seja pelo tipo de acabamento, design e estilo, etc. As principais
estratégias de diferenciação adotadas, relatada pelos entrevistados, são: diferenciação de
acabamento (77%); diferenciação de design e estilo (45%); diferenciação de matériaprima (55%) e; diferenciação de produto (27%).
A diferenciação de produtos é considerada, pelo gerente do SINDIMOV-MG,
um ponto positivo do APL, pois, por meio da diferenciação, a concorrência direta,
principalmente por meio de preços, acaba sendo reduzida. Segundo ele, essa
diversificação pode ser considerada oportunidade para que as empresas desenvolvam
estratégias de vendas em conjunto. Isso pode ser comprovado pelo depoimento de 22%
da amostra, que relataram que, em muitos casos, compradores se interessam por mesas
de um determinado fabricante e cadeiras de outro. Isso faz com que haja uma parceria
entre eles para composição do pedido, sendo necessário, portanto, que desenvolvam o
acabamento em conjunto.
Dormitório
64%
Sala de jantar
50%
Escritório
32%
Estantes
27%
Guarda Roupas
18%
Racks
18%
Cozinha
14%
Peças Especiais
5%
Estofados
9%
0%
50%
100%
Figura 21. As linhas de produtos fabricados pelas empresas de Carmo do Cajuru
Fonte: Dados da pesquisa.
4.3.2.2.2 Estrutura de apoio ao processo produtivo
As empresas de apoio são principalmente os fornecedores, os prestadores de
serviços e instituições de capacitação.
Os fornecedores do APL
As indústrias de Carmo do Cajuru utilizam matéria-prima e insumos originários
110
de diversos lugares do Brasil. Os fornecedores de madeira, por exemplo, estão
localizados em Rondônia, quando as empresas compram diretamente das madeireiras, e,
na Região de Divinópolis e Carmo do Cajuru, quando as empresas adquirem a madeira
de atravessadores. Os fornecedores de tinta e verniz se concentram em São Paulo; os de
compensados, MDF e aglomerados, no Paraná; os de acessórios, no Rio Grande do Sul,
os de vidro, em Divinópolis, os de tecido, em Belo Horizonte.
Em relação aos fornecedores de máquinas e equipamentos, pode-se afirmar que
não existem tais fornecedores na cidade. As máquinas grandes são adquiridas em outros
Estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul, e as máquinas pequenas são obtidas em
outras cidades, como Belo Horizonte e Ubá. Grande parte da aquisição de máquinas e
equipamentos ocorre por intermédio de representantes que visitam a cidade.
Porém, a partir de 2003, três empresas fornecedoras de matérias-primas e
insumos foram abertas, por moradores de Carmo do Cajuru, objetivando atender às
fábricas de móveis. Essas lojas adquirem os produtos fora da região para serem
vendidos aos fabricantes de móveis da cidade. Os principais produtos fornecidos por
eles são lixa, cola, ferragens, embalagens, acessórios de acabamento e, até mesmo,
madeira. Assim, pode-se afirmar que existem fornecedores de matérias-primas e
insumos, com exceção de chapeados, compensados, tintas e verniz, na cidade.
Os Prestadores de serviços
Existem no APL empresas de prestação de serviços especializados considerados
específicos e os prestadores de serviços gerais. Os prestadores de serviços específicos
são: manutenção de máquinas e equipamentos, serviços de entalhamento e serviços de
estofamento. Os dois primeiros são efetuados por profissionais autônomos e o último
por uma microempresa especializada em estofamentos. Os prestadores de serviços
gerais são: empresas prestadoras de serviços de transporte; transportadoras, serviços de
contabilidade, serviços de representação e serviços de segurança
Em relação ao serviço de transporte, todos os entrevistados afirmaram existir
problemas com o atendimento de prazos de entrega. Esse problema é agravado, uma vez
que o transporte do tipo de móveis produzidos em Carmo do Cajuru requer tratamento
especial. Para amenizar o problema, desde 2005, o SINDIMOV-MG, em parceria com o
SEBRAE, está desenvolvendo cursos de capacitação de motoristas de transportadoras.
111
Esse tipo de capacitação envolve conhecimentos específicos de embalagem de móveis,
estrutura de carga, manuseio e descarga dos móveis.
A necessidade de transporte com tratamentos especiais para os móveis de Carmo
do Cajuru, segundo o Gerente do SINDIMOV-MG, é um dos fatores que limitam a
expansão dos produtos para outros estados brasileiros. Após concluir o projeto de
capacitação de motoristas de transportadoras, o próximo passo será a construção de uma
central de entregas, de modo a minimizar os custos com entrega de produtos para outros
estados.
As Instituições de capacitação
As instituições de capacitação existentes no APL são: o SENAI e o SEBRAE,
que funcionam em Carmo do Cajuru desde 2003. O SENAI tem por objetivo melhorar a
qualificação dos seus trabalhadores. A sede funciona na estrutura da Prefeitura
Municipal de Carmo do Cajuru e conta com uma estrutura de 2 salas de aula e uma
marcenaria. Desde 2005, os cursos oferecidos são de Marcenaria Geral e Acabador de
Móveis de Madeira. O SEBRAE/MG presta serviços de orientação e capacitação
empresarial aos empreendedores, como treinamentos e programas para a melhoria dos
processos gerenciais; desenvolvimento de habilidades de liderança e comportamento
empreendedor. Assim, oferece cursos de vendas, empreendedorismo, atendimento ao
cliente, produção, logística, recursos humanos, controle financeiro e contabilidade.
4.3.2.2.3 Estrutura de apoio e animação do arranjo de Carmo do Cajuru
A Coordenação do APL feita pelo SINDIMOV-MG mantém contato com os
demais parceiros do APL. O número de associados é igual a 32 empresas,
correspondendo a 50% das empresas formais do APL. O campo de atuação e as
contribuições das principais entidades integradas ao APL de Carmo do Cajuru podem
ser visualidades na Tabela 18.
4.3.2.2.4 Principais clientes do Arranjo produtivo de Carmo do Cajuru
Os clientes potenciais das empresas do setor se localizam nos Estados de Minas
Gerais (58,23%) – 36,31% na região de Belo Horizonte, 12,73% na região Centro Oeste
de Minas, 0,11% local e, 9,08% em outras regiões do Estado – São Paulo (27,15%) e
Rio de Janeiro (10,44%), conforme mostra a Figura 22.
112
Tabela 18. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo
Produtivo Local
Entidade/
Representante
SEBRAE
O Instituto
Euvaldo Lodi –
IEL/MG,
SENAI
Prefeitura
Municipal de
Carmo do Cajuru
SINDIMOV-MG
Campo de atuação
Contribuição para o APL
Desenvolvimento de empresas de
pequeno porte, por meio da
prestação de serviços de orientação e
capacitação empresarial para os
empresários e empreendedores do
município de Carmo do Cajuru.
- Promoção de cursos de capacitação,
treinamentos, consultorias individualizadas
e programas para a melhoria dos processos
gerenciais de empresas do setor;
- Aplicação da metodologia GEOR para
acompanhamento de projetos no APL.
- Participação no projeto de consolidação de
um pólo de moveleiro competitivo e de
qualidade na região.
Produzir o máximo de integração, sinergia e
eficiência na identificação de demandas e
ofertas de conhecimento e tecnologias para
atingir a premissa de tornar competitiva a
indústria de Carmo do Cajuru.
Promotor do desenvolvimento e da
inovação da indústria mineira, por
meio da articulação e integração
entre
os
setores
industrial,
governamental, educacional e de
pesquisa e desenvolvimento.
Capacitação para o Trabalho na
indústria, por meio de um programa
de qualificação profissional.
Promoção do setor produtivo do
município, por meio de programas
de incentivo para a instalação e
crescimento das empresas.
Promoção do desenvolvimento
regional por meio de parcerias junto
aos diversos segmentos da sociedade
local, com empresários, associações
de classe e poder público.
Banco do Brasil, e Fornecimento de crédito e
Bancos Privados
financiamento
Fonte: Dados da Pesquisa.
- Cursos específicos para a indústria do
setor moveleiro
- Doação de terrenos, isenção de tributos
para micro e pequena empresas do setor,
- Desenvolvimento de palestras, encontros,
cursos, diagnósticos, planejamento, de
modo a contribuir para o processo de
desenvolvimento sustentável na cidade
- Elaboração, coordenação e controle de
projetos de desenvolvimento do APL
- Coordenação do APL
- Oferecimento de financiamento e créditos,
não diferenciados, para o setor.
A concentração de vendas na região de Belo Horizonte e a expansão para os
mercados do Estado de São Paulo e Rio de Janeiro estão relacionadas com os trabalhos
de marketing e de expansão da Líder. Essas exportações de produtos para outras regiões
é que sustentam a renda da região.
Quanto à visitação e exposição em feiras setoriais, pôde-se perceber que a
participação em feiras locais, em outras cidades do Estado e em outros Estados é
bastante expressiva, conforme mostra a Figura 23, mostrando resultados do trabalho
desenvolvido pelo SINDIMOV-MG, voltando para o aumento da participação das
empresas de Carmo do Cajuru em missões e feiras. Tal preocupação tem se
intensificado a partir dos resultados do Diagnóstico do setor moveleiro de Carmo do
Cajuru, realizado em 2003, que mostraram baixo índice de participação de empresas em
feiras, tanto como expositoras, quanto como visitantes.
113
Minas Gerais
58,23%
São Paulo
27,15%
Rio de Janeiro
10,44%
Outros Estados
4,18%
0%
50%
100%
Figura 22. Destinação das vendas de móveis de Carmo do Cajuru
Fonte: Dados da pesquisa.
A participação em feiras, como expositores, é uma importante forma de
divulgação de produtos, podendo ser um atalho na busca de novos mercados. Isso pode
ser comprovado no depoimento das pequenas empresas expositoras em outros Estados.
Segundo elas, as vendas para outros Estados, como Pernambuco, Paraná, Santa Catarina
e Ceará, começaram a ocorrer a partir do momento em que começaram a expor os seus
produtos fora do Estado de Minas Gerais.
64%
Feira Local
45%
Outras cidades
55%
Outros Estados
Outros países
59%
36%
18%
9%
0%
0%
50%
Expositor
100%
Visitante
Figura 23. Participação em feiras pelas empresas de Carmo do Cajuru
Fonte: Dados da pesquisa.
114
4.3.2.3 A dinâmica do Arranjo Produtivo de Carmo do Cajuru e as formas de
cooperação
4.3.2.3.1 Relacionamento entre as empresas especializadas dentro do APL
Desde o início das atividades moveleiras em Carmo do Cajuru, a cooperação
entre empresas por meio das relações de subcontratação é bastante fraca. Todos os
entrevistados afirmaram que só existem essas práticas em serviços de entalhamentos,
estofamentos, vidraçaria – que exigem empresas especializadas – e, em menor
quantidade, em estrados, acabamento em verniz e lateral de gaveta (Figura 24). Os
motivos para a terceirização dessas atividades/componentes estão relacionados: a
redução do custo de produção (91% dos entrevistados), uma vez que tais atividades
demandariam empregados especializados e registrados dentro das empresas; b) busca
por melhor qualidade dos serviços prestados (32% dos entrevistados), por acreditarem
que empresas especializadas em estofamentos e entalhamento podem apresentar melhor
qualidade de acabamento do que se tais atividades fossem desenvolvidas na empresa.
59%
59%
Vidraçaria
50%
50%
Estofamento
5%
Lateral de gaveta
68%
36%
Estrado
45%
18%
Acabamento em verniz
64%
68%
68%
Entalhamento
0%
50%
Presença da atividade
100%
Terceirização da atividade
Figura 24. Itens terceirizados e o percentual de empresas que terceirizam
Fonte: Dados da Pesquisa.
Tais empresários, quando questionados sobre a viabilidade de terceirização de
partes ou componentes dos produtos, responderam que preferem internalizar a produção
a terceirizar. Como justificativa, 36% afirmaram nunca ter pensado nessa possibilidade;
23% afirmam que o ambiente de confiança entre as empresas não é tão forte a ponto de
permitir tal prática; 41% afirmaram que falta em outras empresas qualidade de mão-deobra e tecnologia capazes de garantir a qualidade do produto; 14% afirmaram que os
115
critérios de controle de qualidade são muito rigorosos para o setor, não compensando os
ganhos que poderiam ser obtidos por meio da terceirização.
No entanto, um trabalho voltado para maior horizontalização deveria ser
desenvolvido para que as empresas possam obter ganhos de produtividade e redução de
custos. O aumento da terceirização de peças beneficia os processos produtivos e as
linhas de montagem, minimizando o tempo de produção e ampliando a capacidade
produtiva. Dessa forma, as empresas poderiam abrir novos mercado, aumentar a
competitividade e dispensar maior atenção com qualidade e o design dos seus produtos.
4.3.2.3.2 Relacionamento entre empresas concorrentes
Até o final dos anos de 1990, existia em Carmo do Cajuru uma competição
acirrada entre os concorrentes. Eles desenvolviam suas estratégias isoladas e evitavam
encontros para discussão conjunta dos problemas e troca de informações.
Como forma de amenizar esse tipo de concorrência, o SINDIMOV-MG veio
desenvolvendo alguns trabalhos que acabaram refletindo em algumas ações conjuntas:
a) desenvolvimento de catálogos (59% dos entrevistados); b) participação conjunta em
feiras, com divisão de stands (59%); c) organização de feiras (63%); d) organização de
expedições para visitação e exposição de produtos (54%); e) promoção de treinamento
de pessoal em conjunto (31%); f) participação de ações de composição de produtos
(22%) e; g) troca de informações em relação à tecnologia e design (81%).
4.3.2.3.3 Relacionamento dos fornecedores dentro do APL
Os fornecedores de máquinas e equipamentos, bem como, os maiores
fornecedores de matérias-primas e insumos – madeira, aglomerados, MDF, tinta e
verniz -, estão localizados fora da cidade e, ainda, a maioria se encontra em outros
Estados Brasileiros. O contato com esses fornecedores é feito mediante representantes
comerciais, telefones, páginas na internet, etc. Isso tem dificultado o estabelecimento de
parcerias entre as empresas com os fornecedores.
A partir de 2003, surgiram alguns fornecedores de matéria-prima e insumos na
cidade. No geral, fornecem cola, lixa, prego, acessórios, pequenos estoques de madeira
e aglomerados. Geralmente, tais fornecedores servem como alternativa para as pequenas
empresas, no que diz respeito a compras eventuais e servem às microempresas que não
conseguem realizar compras em maiores volumes.
116
Tais fornecedores, por se tratar de microempresas atravessadoras, não possuem
poder de barganha sobre os seus fornecedores para que possam desenvolver política de
preços diferenciada e participar de desenvolvimento de produtos e materiais dentro do
APL. A existência deles está relacionada ao fato que a proximidade, dentro dos distritos
industriais, faz com que funcionem como um estoque terceirizado das micro e pequenas
empresas, permitindo a elas manterem menores níveis de estoques.
Pode-se perceber que, mesmo sem preços competitivos, o número de empresas
que adquirem cola, lixa, ferragens, acessórios e, até mesmo, madeira, desses
fornecedores, é bastante significativo (Tabela 19)
No caso da madeira, 45% dos entrevistados adquirirem toda ou parte da madeira
em Carmo do Cajuru. Esses 45% são formados por microempresas que acabam pagando
preços mais elevados em virtude da produção não atingir um patamar suficiente para
adquirir a quantidade mínima que compense o custo com o transporte. Desse montante,
22% afirmaram que compram a madeira no local quando, por eventualidade, ocorre a
falta do material no estoque.
Tabela 19. Principais fontes de aquisição de materiais pelas empresas moveleiras de
Carmo do Cajuru
Fornecedores
Madeira
Chapeado/Compensado
Tinta/verniz
Ferragens
Estofados
Vidro/Espelho
Lixas
Embalagens
Cola
Acessórios
Fonte: Dados da pesquisa.
Local
45%
0%
0%
73%
64%
0%
82%
55%
100%
32%
Na Região
18%
0%
0%
0%
0%
86%
0%
0%
0%
0%
No Estado fora
da Região
18%
0%
5%
23%
9%
0%
0%
41%
0%
41%
Outros Estados
59%
91%
95%
36%
14%
0%
23%
36%
0%
50%
4.3.2.3.4 Relacionamento das empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de
produtos e processos, Instituições de Pesquisa/Universidades
Em geral, ressalvando a Mobiliadora Líder, não há departamentos de P&D nas
empresas nem equipes de desenvolvimento de produtos e processos que prestam serviço
ao arranjo. Em relação à inovação de processos produtivos, todas as pequenas empresas
entrevistadas utilizam ou já utilizaram de serviços de consultoria das cidades de
Divinópolis e de Belo Horizonte para ajustar o seu processo de produção. 45% das
117
microempresas entrevistadas afirmam que a inovação em processo ocorre por meio de
troca de informações junto a outras empresas concorrentes, fornecedores de insumos e
de maquinário. Os outros 55% afirmaram que esse tipo de inovação ocorre por meio de
observação de coisas que são feitas em outras empresas concorrentes.
As principais fontes de informação para a inovação de processos produtivos
estão relacionadas com os vendedores de máquinas e equipamentos (36%); vendedores
de insumos (14%) e revistas especializadas (64%).
Em relação ao design e inovação de produto, todas as empresas afirmaram que
desenvolvem atividades de design, considerado como o fator mais importante das
atividades de inovação da indústria moveleira. Porém, apenas 36% das empresas
entrevistadas afirmam que utilizam ou utilizaram profissionais da área. O restante
desenvolve essa atividade dentro da própria empresa, pelos próprios empregados. Tal
prática está mais voltada para o lançamento de produtos de mercado já desenvolvido,
aproximando mais do conceito de cópia de produtos.
As principais fontes de informação para a realização de design são: a)
representantes comerciais e clientes (64%); b) arquitetos e decoradores (36%); c)
revistas especializadas e de decoração (100%); d) feiras de móveis, máquinas e
tendências (64%); e) troca de informação com empresas concorrentes, principalmente
quando são contratadas para a composição de produtos (14%).
Outro aspecto que deve ser levantado é o fato da Cidade estar localizada a 9 km
de Divinópolis, que possui 6 faculdades, mas nenhuma delas possui cursos voltados
para a formação de pessoal para o setor moveleiro. 3 delas possuem curso superior em
Administração e Ciências Contábeis, porém, pela pesquisa, tais profissionais não têm
sido absorvidos pelas empresas de Carmo do Cajuru e, ainda, não foi verificado nenhum
trabalho de parceria envolvendo instituições de pesquisa.
4.3.2.3.5 Relacionamento das empresas de formação de mão-de-obra
No arranjo de Carmo do Cajuru, a origem da mão-de-obra é local. Desde o início
da atividade moveleira na cidade até a implantação do SENAI, no ano de 2003, a mãode-obra obra vinha sendo treinada dentro das empresas, ou seja, a qualificação por meio
do “aprendendo fazendo” ou “learning by doing”.
Pode-se perceber que os recursos humanos empregados no setor moveleiro
detêm baixo nível de escolaridade. Cerca de 50% dos funcionários não possuem o
118
primeiro grau completo; 18% possuem o segundo grau completo e 6% possuem ou
estão cursando curso superior. Cerca de 50% dos dirigentes possuem curso fundamental
completo; 41% o segundo grau completo e 9% curso superior.
A baixa qualificação profissional foi um dos pontos observados como desafio ao
desenvolvimento das empresas. A ampliação do apoio governamental para melhoria dos
vários níveis de ensino, disponibilização de linhas de crédito e ainda a ampliação das
ações do SESI, SENAI, IEL e SEBRAE podem viabilizar problemas para a qualificação
dos profissionais e, conseqüentemente, impulsionar a produtividade do setor.
A partir de 2003, com a entrada do SENAI na cidade, a mão-de-obra tem sido
fornecida também pela Escola de Marcenaria, que tem como objetivo formar e treinar
jovens para a atividade de marcenaria. 68% dos entrevistados afirmam ter contratado
alunos dessa escola do SENAI e atestam o tipo de profissional formado por essa escola.
4.3.2.3.6 Relacionamento com os agentes de animação do APL
A coordenação do arranjo de Carmo do Cajuru é exercida pelo SINDIMOVMG, que, desde a sua criação, vem desenvolvendo uma série de atividades no sentido de
contribuir para maior integração entre a indústria e órgãos públicos. Hoje existem 32
empresas associadas ao SINDIMOV, representando 50% das empresas formais.
Ao longo dos anos, ações foram desenvolvidas pelo SINDIMOV-MG, como: a)
apoio na criação do Distrito Industrial II; b) realização e organização de feiras locais; c)
organização de expedição para visita e exposição em outras localidades; d)
conscientização
das
empresas
para
comportamento
mais
cooperativo;
e)
desenvolvimento de parceria junto ao SENAI e SEBRAE para aumentar a qualificação
da mão-de-obra no APL; f) promoção de encontros para discutir assuntos tais como:
gestão ambiental; central de compras, vendas e cargas; capacitação de mão-de-obra.
Visando o crescimento e a melhor estruturação do pólo, foi criado, em 2003,
com base na experiência de sucesso de Ubá, um Comitê Gestor do APL, em que
empresários foram divididos em 4 grupos temáticos: Capacitação e RH; Gestão e
Tecnologia; Mercado e Imagens e; Finanças. No entanto, ainda não foram comprovadas
ações reais, envolvendo esses grupos.
119
CAPÍTULO 5
Os arranjos produtivos locais de confecções de Minas Gerais
O segmento de confecção é uma das indústrias mais disseminadas espacialmente
no mundo e constitui importante fonte de geração de renda e emprego para muitos
países, principalmente em desenvolvimento. É formado por um contingente numeroso
de empresas com características heterogêneas em relação ao porte (IEL, 2005). O
segmento é caracterizado pela presença de pequenas e médias empresas, consideradas
especializadas, que fabricam principalmente artigos de pequeno valor agregado,
utilizando, em larga escala, mão-de-obra barata (IEL, 2003c), apesar das mudanças
tecnológicas, que permitiram expressivos incrementos de produtividade, baseados em
preços, qualidade, flexibilidade e diferenciação de produtos.
Esse segmento é encontrado no final da Cadeia Produtiva Têxtil e é considerado,
dentro desta cadeia, como o elo que mais agrega valor ao produto. No entanto, sua
competitividade depende de todas as etapas anteriores desta cadeia.
As PMEs desse segmento conseguem sobreviver em virtude dos aspectos
estruturais e pela diversificação da demanda. Segundo IEL (2003c), essa diversificação,
juntamente com a flexibilidade, viabiliza os nichos de mercado antieconômicos para as
empresas maiores. No entanto, a competitividade dessas PMEs intensifica quando estas
são inseridas em Arranjos Produtivos Locais.
Este capítulo é estruturado em três partes. Na primeira parte é apresentada a
Cadeia Produtiva Têxtil, de modo a mostrar os relacionamentos que ocorrem dentro da
cadeia, até o segmento de confecção. Na segunda parte, os panoramas internacionais,
nacionais e no Estado de Minas Gerais. Na terceira parte, os APLs estudados de Muriaé
e de São João Nepomuceno.
5.1
Cadeia Produtiva Têxtil
Na Cadeia Produtiva Têxtil e de Confecções (CTC), os elos compreendem a
interação entre os fornecedores, equipamentos, produtos químicos (fibras e filamentos),
produtores de manufaturados (fios, tecidos, malhas) e bens acabados (confeccionados
têxteis). Para facilitar a visualização de todos os processos produtivos relacionados à
cadeia e direcionar as políticas publicas e os investimentos privados, consideram-se os
120
seguintes elos: fibras naturais, fibras manufaturadas, fiação, tecelagem, malharia,
confecção - artigos de vestuário e outros confeccionados - e bem de capital. Além disso,
há inserção constante de estratégias de marketing e de design (Figura 25).
Fibras Têxteis
Fibras Naturais
Agropecuária
Linho Sisal Seda
Lã Algodão Juta
Mineração
Amianto
Têxtil
Fiação
Acabamento
Componentes
Fibras Manufaturadas
Celulose
Petroquímica
Eteno
Tecelagem
Raion
Fibras artificiais
Poliéster
Poliacrílico Nylon
Elastano
Olefinica
Fibras
Sintéticas
Confecção
Malharia
Atacado e
Varejo
Representante
comercial
Bens de Capital
Exportações
Máquinas
Agrícolas
Máquinas
Ferramentais
Máquinas
têxteis
Inserção de estratégias de Marketing e Design
Figura 25. Cadeia Produtiva Têxtil – Vestuário/Confecções
Fonte: IEL/FIEMG, 2005.
O primeiro elo da cadeia, definido como “fibras têxteis”, engloba a produção de
insumos utilizados na fabricação de têxteis e confeccionados. O elo de fibras naturais
inclui todos os processos e atividade (agropecuária e mineração) envolvida na produção
da fibra, representada, no Brasil, principalmente pelo algodão. O elo das fibras
manufaturadas ou químicas subdivide-se em fibras artificiais e sintéticas.
O Segundo elo da CTC é composto pela produção de fios, tecelagem e malharia.
Os elos de fiação (fios fiados com fibras) e tecelagem (tecidos planos) caracterizam-se
mundialmente por um processo de concentração, com empresas comumente integradas
em fiação-tecelagem ou, ainda, em fiação-tecelagem-acabamento.
121
O próximo elo é representado pela indústria de transformação. Nele, é
encontrada a ponta final da cadeia, ou seja, o elo de confecção. Este elo é intensivo em
mão-de-obra e engloba a fabricação das roupas e acessórios do vestuário. É
caracterizado por grande heterogeneidade de ramos e elevado grau de atomicidade das
firmas, particularmente aquelas nos ramos do vestuário.
O Elo de bens de capital, por sua vez, tem uma interface com toda CTC. As
empresas que compõem este setor dedicam-se à fabricação de equipamentos e máquinas
específicos para cada sub-setor da indústria têxtil e de confecções. Esse elo caracterizase por um reduzido número de empresas que abastecem o mercado mundial,
trabalhando com altas escalas de produção e produtos de alto valor agregado.
A última etapa da CTC abrange os canais de distribuição e comercialização do
produto final, como representantes comerciais, varejistas e atacadistas.
5.2
A indústria de confecção no âmbito internacional, nacional e no Estado de
Minas Gerais
5.2.1
Panorama Internacional
O segmento do vestuário internacional é responsável por uma produção anual de
aproximadamente US$ 226 bilhões (IEL, 2005), dos quais pouco mais de US$ 100
bilhões pertencem aos países recém-industrializados da Ásia, conforme ilustram os
dados apresentados na Tabela 20. Os maiores produtores de artigos confeccionados são
China, Estados Unidos e Índia. Os maiores exportadores são União Européia, seguida
da China, Hong-Kong e Turquia, que juntas respondem por 64% do total das
exportações. Os maiores importadores das indústrias do vestuário são: União Européia,
Estados Unidos, Japão e Hong-Kong, que juntos, são responsáveis por mais de 90% das
importações.
Segundo IEL (2005), a atuação do Brasil no mercado do vestuário mundial é
ainda pouco significativa, estando entre os 40 maiores exportadores e importadores da
CTC mundial. Em 2004, o Brasil foi responsável por US$ 340 milhões das exportações
no segmento do vestuário. Os principais mercados de destino dos produtos brasileiros
do Vestuário foram os Estados Unidos com US$ 132 milhões, União Européia com US$
89 milhões e o MERCOSUL com US$ 50 milhões.
122
Tabela 20. Evolução do segmento do vestuário nos principais continentes (em bilhões
de US$)
Continentes
1999
2000
2001
2002
2003
América do Norte
10,15
10,71
8,95
8,02
7,51
América Latina
18,38
21,24
20,55
20,88
20,00
Europa Ocidental
58,89
56,03
56,90
60,52
72,43
Ásia
79,02
90,58
87,01
89,92
100,92
Outros
18,16
18,47
20,28
21,51
25,08
Mundo
Fonte: IEL (2005)
184,60
197,03
193,69
200,85
225,94
5.2.2
Panorama Nacional
No Brasil o setor do vestuário, em sua maioria, é constituído por micro,
pequenas e médias empresas, consideradas especializadas, que fabricam principalmente
artigos de pequeno valor agregado, utilizando, em larga escala, mão-de-obra barata.
Essas diferenças confirmam a existência de grande número de empresas de variados
portes, predominantemente de origem familiar e constituída por capital nacional.
A indústria do vestuário produz cerca de 4,4 milhões de peças/ano,
representando economicamente um faturamento total equivalente a 4% do PIB nacional
e 17% do PIB industrial. Emprega 1,7% da população economicamente ativa, ou 16,1%
do total dos trabalhadores alocados na Indústria de Transformação (IEL, 2005).
Certamente este é um setor de grande relevância para a economia do país e de forte
impacto social.
A indústria brasileira do vestuário, assim como em todo mundo, se caracteriza
por um alto grau de diversificação quanto às matérias-primas, processos produtivos,
concorrência e estratégias empresariais. O mercado consumidor é segmentado por faixa
etária, sexo, idade e nível de renda. A Tabela 21 mostra as especificidades do setor de
vestuário, nos principais estados brasileiros produtores.
A abertura comercial, a partir de 1990, não só proporcionou as indústrias da
CTC acessos aos modernos tecidos existentes no mercado internacional e preços mais
competitivos, como também, a inserção de ferramentas de design, administração das
marcas e da distribuição, agregando valor ao produto brasileiro. Sem contar na
terceirização das fábricas (facções) que resultou em uma vantagem adicional, para
muitos produtores do setor.
123
Tabela 21. Especificidades do setor do vestuário identificado no Brasil
Estado
Minas Gerais
São Paulo
Espírito Santo
Rio de Janeiro
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
Ceará
Piauí
Rio Grande do Norte
Pernambuco
Distrito Federal
Mato Grosso do Sul
Goiás
Fonte: IEL, 2005.
Descrição
Divinópolis, Juiz de Fora e Cataguases (malharia e roupa esporte), Muriaé
(lingerie noite e infantil), São João Nepomuceno (Jeans), Montes Claros (moda
casual)
Atuando em todos os segmentos Amparo (moda infantil;bebê), Ibitinga e
Americana (cama, mesa e banho), São Paulo (moda casual), Auriflama (lingerie
dia e camisaria/malha)
Vila Velha e Colatina (malharia em geral, modinha e roupa esportiva)
Nova Friburgo (lingerie dia e moda praia) e Itaperuna (lingerie noite).
Maringá, Apucarana, Cascavel, Cianorte e Londrina (jeans e bonés)
Blumenau e Jaraguá do Sul (vestuário em malha), Itajaí, Brusque, Indaiá,
Ituporanga, Gaspar, Pomerode, Rio do Sul (roupas de malharia circular,cama,
mesa e banho)
Caxias do Sul, Farroupilha e Bento Gonçalves (roupas em tricô)
Fortaleza (roupa íntima, moda praia, jeans)
Teresina (jeans)
Santa Cruz (cama, mesa e banho)
Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe (moda íntima, jeans e sufware)
Brasília e entorno (vestuário em Geral)
Dourados e Campo Grande (vestuário em geral)
Pirinópolis Catalão (jeans, roupas finas e de malha, infantis)
A indústria nacional de confecção concentra-se, principalmente, nas Regiões
Sudeste (51,83%) e Sul (31,41%). Sendo 28% dos estabelecimentos estão em São
Paulo; 16% no Paraná; 14% em Minas Gerais e 11% em Santa Catarina (Tabela 22).
Tabela 22. Número de estabelecimentos produtivos do setor do vestuário, número de
trabalhadores relacionados por Estado Brasileiro
Estado
Espírito Santo
Minas Gerais
Rio de Janeiro
São Paulo
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
Ceará
Pernambuco
Piauí
Rio Grande norte
Dist. Federal
Goias
Mato Grosso Sul
Outros
Total Brasil
Fonte: RAIS/MTE (2007)
Estabelecimentos
Quant.
%
986
6,8%
2.053
14,2%
408
2,8%
4.043
28,0%
2.303
15,9%
1.584
11,0%
652
4,5%
67
0,5%
378
2,6%
679
4,7%
107
0,7%
58
0,4%
662
4,6%
32
0,2%
85
0,6%
14.452
100%
124
Trabalhadores
Quant.
%
46.266
7,5%
76.218
12,3%
15.938
2,6%
167.350
27,1%
94.349
15,3%
69.132
11,2%
21.387
3,5%
3.515
0,6%
16.378
2,7%
41.820
6,8%
15.500
2,5%
4.176
0,7%
22.377
3,6%
800
0,1%
3.798
0,6%
617.699
100%
Caber ressaltar que, em relação ao número de empresas há uma relativa
instabilidade, variando conforme os momentos favoráveis e desfavoráveis do mercado,
o que ressalta uma forte característica deste setor, de uma quase ausência de barreiras à
entrada de novos produtores no mercado.
Em relação à destinação da produção, das 4,4 milhões de peças/ano produzidas,
97% são destinadas ao mercado interno e apenas 3% ao mercado externo. As
importações contribuem com menos de 0,5% do consumo aparente de peças de roupas
confeccionadas.
De acordo com Crocco (2001), uma das maiores dificuldades do setor e de toda
indústria brasileira é diminuir o seu alto grau de verticalização. Este modo de produção
inviabiliza a redução dos custos e a especialização. No modelo encontrado no exterior,
as empresas são mais especializadas, fomentam o inter-relacionamento entre si, trocam
experiências, viabilizam a cooperação tecnológica e os investimentos em inovações no
produto final.
5.2.3
Panorama de Minas Gerais
O Estado de Minas Gerais é responsável por 14% da produção nacional de
vestuário, ficando atrás apenas dos Estados de São Paulo e Paraná. Anualmente cerca de
R$ 1,2 bilhão na indústria de vestuário, o que representa 3% do total do faturamento da
indústria de transformação do Estado (IEL, 2005).
O segmento mineiro de vestuário é formado por empresas tradicionais no
mercado da moda. O bom desempenho do mercado motivou a abertura de micro e
pequenas empresas, principalmente no ramo das confecções, por ser um setor que
requer baixo nível de investimento inicial, e um dos preferidos pelos novos
empreendedores que possuem pouco capital.
Nos últimos anos, o vestuário apresentou crescimento expressivo e contínuo,
tanto em número de estabelecimentos como em número de postos de trabalho ofertados.
A Tabela 23 mostra a participação percentual no número de empregos e a Tabela 24
mostra o percentual de estabelecimentos do Vestuário do Estado.
Analisando esses quadros, percebe-se a concentração da indústria do vestuário
na Zona da Mata, Região Sul de Minas e Centro Oeste de Minas. Na Zona da Mata, há
concentração dessas indústrias nas microrregiões: Juiz de Fora (abrangendo São João
Nepomuceno); Cataguases; Ubá e Muriaé. Nessas Microrregiões, diversas linhas de
125
produção do vestuário têm sido trabalhadas, como a confecção do jeanswear, lingerie,
moda praia, camisas, calças roupas esportivas, pijamas e toda a linha infantil.
Tabela 23. Participação percentual no emprego da indústria do vestuário em Minas
Gerais – regiões selecionadas (2007)
Regiões
Central
Zona da Mata
Centro oeste
Sul de minas
NoroesteMinas
Triangulo
Alto paraíba
Rio doce
Jequetinhonha
Outros
Minas Gerais
Artigos
em
Malha
(a)
2,1%
4,0%
2,3%
89,2%
1,3%
0,3%
0,3%
0,1%
0,0%
0,6%
100,0%
Roupas
Íntimas,
Blusas,
Camisas
(b)
15,4%
43,3%
13,8%
16,7%
0,4%
4,5%
0,8%
3,1%
0,2%
1,9%
100,0%
Peças do
Vestuário Exceto (b)
(c)
16,0%
28,8%
21,7%
24,0%
0,5%
3,0%
2,1%
2,9%
0,3%
0,8%
100,0%
Roupas
Profissionais
(d)
36,0%
27,1%
3,2%
16,1%
0,1%
4,9%
1,4%
10,0%
0,2%
0,9%
100,0%
Acessórios
Vestuário
(e)
24,0%
19,5%
29,5%
3,8%
0,0%
9,6%
5,9%
4,9%
1,1%
1,7%
100,0%
Acessórios
Segurança
(f)
30,7%
0,1%
7,8%
37,7%
0,0%
14,4%
0,4%
6,3%
0,0%
2,6%
100,0%
Total
16,7%
28,8%
18,8%
25,3%
0,5%
3,6%
1,8%
3,2%
0,3%
1,0%
100,0%
Fonte: RAIS/MTE. Obs CNAE/95 (CNAE 1.0 revisado em 2002), 2007
Alguns desses aglomerados já possuem certo grau de organização, como os
casos de Muriaé e São João Nepomuceno. Nestas localidades, o Sistema FIEMG,
através do Instituto Euvaldo Lodi (IEL-MG) e do SENAI-MG, aliados aos SEBRAEMG, buscam desenvolver ações no sentido de dinamizar esses pólos, tornando-os alvo
importante de qualquer ação que vise desenvolver a economia de Minas Gerais.
Tabela 24. Participação no número de estabelecimentos da indústria do vestuário em
Minas Gerais – regiões selecionadas (2007)
Regiões
Central Mineira
Zona da Mata
Centro Oeste
Sul de Minas
Noroeste Minas
Triangulo
Alto paraíba
Rio doce
Jequetinhonha
Outros
Minas Gerais
Artigos
em
Malha
(a)
3,4%
3,4%
1,4%
89,0%
0,7%
0,0%
1,4%
0,0%
0,0%
0,7%
100,0%
Roupas
Íntimas,
Blusas,
Camisas
(b)
15,0%
35,3%
17,1%
16,8%
0,6%
5,9%
2,6%
3,2%
0,6%
2,9%
100,0%
Peças do
Vestuário Exceto (b)
(c)
19,5%
25,4%
25,9%
17,4%
0,5%
4,3%
2,2%
3,4%
0,3%
1,1%
100,0%
Roupas
Profissionais
(d)
44,0%
26,2%
2,4%
10,7%
1,2%
4,8%
1,2%
9,5%
0,0%
0,0%
100,0%
Acessórios
Vestuário
(e)
29,8%
17,5%
17,5%
7,0%
0,0%
12,3%
5,3%
7,0%
1,8%
1,8%
100,0%
Fonte: RAIS/MTE. Obs. CNAE/95 (CNAE 1.0 revisado em 2002), 2007
126
Acessórios
Segurança
(f)
20,0%
4,0%
4,0%
36,0%
0,0%
24,0%
0,0%
12,0%
0,0%
0,0%
100,0%
Total
18,9%
25,0%
21,2%
22,1%
0,5%
4,7%
2,2%
3,6%
0,3%
1,4%
100,0%
5.3
Os Arranjos Produtivos Locais de empresas de confecções estudados em
Minas Gerais
5.3.1
O APL de Muriaé
O Município de Muriaé localiza-se na região sudeste de Minas Gerais na Zona
da Mata, fazendo parte da microrregião de Muriaé53, delimitando com a fronteira do Rio
de Janeiro (IBGE, 2005). Esse município começou a se formar aproximadamente no
início do século XIX, mais especificamente em 1819. Elevou-se a cidade em 1923.
Até o final do século XIX, a economia local era basicamente a comercialização
de plantas medicinais extratificadas de madeiras-de-lei como as raízes de ipecacuanha,
considerada na época raízes de grande valor econômico. No final desse século, a região
passou a se destacar entre as maiores produtoras de café do país. Essa condição, que
manteve até meados do século XX, permitiu ganhos de infra-estrutura para a Cidade,
por meio da construção de estradas de ferro destinada ao transporte do café, serviços de
armazenagem e beneficiamento de café e implantação de serviços de telefonia.
Com a crise de 1929, com a economia de café apresentando quedas
significativas e, ainda, com a inauguração da rodovia BR 116, em 1939, o governo local
passou a estimular a melhoria genética do rebanho leiteiro existente. Aliado a mudança
do café para o leite, surgiram empresas de transporte e cooperativas de leite.
Em 1961, com o asfaltamento da BR116, o fluxo de veículos aumentou
consideravelmente e o município avança para o progresso, intensificando a atividade
econômica associada à produção do leite e, ainda, abrindo espaços para outras
atividades econômicas. Nas décadas de 60 e 70, em virtude da BR116 e da BR 356, os
serviços de transporte e serviços relacionados com a mecânica automotiva foram
atividades de destaque. A cidade se tornou referência nacional no ramo de retífica de
molas e de motores, fábrica de caminhão baú, serviços de transporte de carga.
Ainda a partir da década de 60, Muriaé e Região começaram a dar os primeiros
passos em direção ao segmento do vestuário que tomou importância significativa a
partir dos anos de 1980 e, hoje, é responsável por 42% da renda gerada na região (IEL,
2005).
53
Fazem parte desta região os municípios de Muriaé, Carangola, Espera Feliz, Divino, Mirai,Tombos,
Eugenópolis, Miradouro, Fervedouro, Barão do Monte Alto, Patrocínio de Muriaé, São Francisco da
Gloria, Orizânia, Faria Lemos, Caiana, Vieiras, Rosário de Limeira, São Sebastião da Vargem Alegre,
Pedra Dourada, Antônio Prado de Minas (IEL, 2005).
127
A população de Muriaé é de 97.628 habitantes em 2005. Do total da população
residente, 91,12% está localizado na área urbana e 8,88% na área rural. A densidade
demográfica do município é de 115 hab/km2, ocupando uma área total de 845,6 km2.
(IBGE, 2005; Fundação João Pinheiro 2007).
Segundo a base de dados da Fundação João Pinheiro (2007), o município, no ano
de 2004, apresentou um PIB a preços correntes de R$ 453.192,45 milhões e um PIB per
capta de R$ 4.702,35. Comparando esse PIB com os das demais cidades da
microrregião, percebe-se que Muriaé ocupa o primeiro lugar, conforme a Tabela 25. No
entanto, percebe-se que este PIB é bem inferior a média do Estado.
Tabela 25. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e
PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, microrregião de Muriaé –
Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00)
PIB a preços correntes (2004)
Localidade
Minas Gerais
Microrregião
Muriaé
Carangola
Espera Feliz
Divino
Miraí
Tombos
Eugenópolis
Miradouro
Fervedouro
Barão do Monte
Alto
Patrocínio de
Muriaé
São Franc. da
Gloria
Orizânia
Faria Lemos
Caiana
Vieiras
Rosário de
Limeira
S. Seb. Vargem
Alegre
Pedra Dourada
Antônio Prado
Minas
PIBpm
População
PIB/hab
(R$1,00)
agropecuário
industrial
serviços
Total (1)
13.697.698
157.135
28.548
9.985
18.760
17.958
7.198
6.464
7.294
9.315
9.429
68.921.655
225.429
119.051
23.501
10.535
3.792
10.276
4.431
5.697
19.110
1.962
73.556.254
683.733
305.593
89.001
49.429
38.497
29.024
24.066
19.476
22.094
17.270
156.175.607
1.066.297
453.192
122.487
78.723
60.247
46.498
34.961
32.468
50.519
28.662
166.586.327
1.067.203
459.081
118.613
77.830
59.729
45.803
34.769
32.472
50.215
28.788
18.993.720
271.126
97.628
32.383
21.033
19.463
12.437
12.619
9.736
9.536
9.999
8.771
3.936
4.702
3.663
3.700
3.069
3.683
2.755
3.335
5.266
2.879
4.698
2.656
11.393
18.747
18.795
6.242
3.011
2.327
7.608
11.550
21.486
21.932
5.072
4.324
3.679
4.670
5.662
4.380
5.623
2.217
1.258
6.314
2.045
1.269
9.990
11.145
8.725
8.133
7.408
15.886
17.073
20.701
14.558
14.300
16.048
17.100
21.145
14.617
14.340
5.353
7.015
3.864
4.256
4.032
2.998
2.438
5.472
3.434
3.557
3.906
993
7.519
12.418
12.477
4.183
2.983
2.522
2.292
901
921
5.352
4.352
8.775
7.565
8.812
7.586
2.796
1.922
3.152
3.947
2.424
889
3.717
7.030
7.051
1.557
4.528
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2004)
Fazendo a análise do PIB ao longo dos anos, por meio dos dados da Tabela 26,
percebe-se que este PIB tem mostrado crescimento significativo a partir de 1999. De
128
acordo com o IEL (2005), este crescimento está relacionado ao desempenho da indústria
do vestuário, que representa 6% dos estabelecimentos e 5% do emprego formal e, ainda,
representa 42% da renda gerada na região. O bom desempenho da economia de Muriaé
não pode ser dissociado de sua consolidação como importante pólo produtor do
Vestuário, destacando-se pela confecção de lingerie e roupas infantis (Souza, 2005).
Tabela 26. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e
PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de Muriaé no
período de 1999 a 2004
PIB a preços correntes
Ano
PIBpm
agropecuário
industrial
serviços
População
Total (1)
1999
18.462,36
94.935,97 200.940,55 314.338,88 319.484,07
90.093
2000
19.668,30
95.160,72 225.227,87 340.056,90 344.856,42
92.798
2001
18.245,07
82.826,67 239.153,41 340.225,14 341.477,19
93.990
22.563,04
102.527,02 263.665,92 388.755,98 387.489,85
95.195
2002
2003
24.333,36
120.906,52 286.327,83 431.567,71 433.269,69
96.412
28.548,29
119.051,21 305.592,95 453.192,45 459.081,15
97.628
2004
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2004)
PIB(pm)/hab.
(R$1,00)
3.546,16
3.716,21
3.633,12
4.070,49
4.493,94
4.702,35
5.3.1.1 Evolução histórica da atividade de confecções em Muriaé
A confecção em Muriaé tem suas raízes na habilidade manual e artística das
mulheres que transformaram a produção doméstica em industrial. A proliferação de
confecções em Muriaé ocorreu na década de 80, porém, sua origem remonta à década de
50 e está relacionada com a história da Malharia Galante.
5.3.1.1.1 A Malharia Galante
Em 1959, a Malharia Galante, atraída pela facilidade de transportes ferroviário e
rodoviário e pelo sistema de telefonia, foi transferida da cidade de Lajinha (MG) para a
cidade de Muriaé. Naquela época, o transporte de mercadoria era muito difícil, por isso,
a localização geográfica de Muriaé foi considerada importante fator de localização.
Em Muriaé, a empresa alterou a razão social para Indústria de Malhas Galante
Ltda., pois, além da atividade de confecção, teve que produzir malhas e tecidos, pois,
não existia indústria têxtil na região. Assim, a empresa montou uma estrutura de
produção que abrangia desde a compra do fio cru até a confecção das peças lisas e
bordadas. Na fábrica adquiriam os fios crus, tingiam os fios em tinturaria própria,
teciam, cortavam, confeccionavam, bordavam e vendiam os produtos por meio de
129
representantes comerciais, naquela época chamados de “Viajantes”54, para diversos
estados brasileiros.
Além dos representantes, várias pessoas procuravam adquirir os produtos da
Galante para revenda, uma vez que se tratava de produtos finos com bordados,
diferentes dos encontrados em grandes centros urbanos. A produção era, basicamente,
roupas de bebês e infantis em malha de algodão, acrílico e lã, roupas femininas em
malha, infanto-juvenil e roupas de senhoras em malha.
A mão-de-obra treinada para a atividade era inexistente. Geralmente, as
mulheres trabalhavam como professora, como empregadas em uma indústria que
selecionava Malacacheta55 e, ainda, na catação e seleção de café nos entrepostos locais.
Para solucionar esse problema da mão-de-obra, teve que trazer parte dos empregados de
Lajinha para trabalhar na fábrica e treinar os novos funcionários em todas as fases do
processo produtivo, principalmente o bordado.
Como as mulheres que trabalhavam com seleção de malacacheta eram
conhecedoras da legislação trabalhista, a Galante teve que iniciar suas atividades com
todos empregados registrados – prática que não era adotada na cidade de Lajinha.
Assim, para reduzir os encargos trabalhistas e aumentar a velocidade do processo
produtivo, de modo a atender aos pedidos dos representantes, a Galante começou a
treinar donas de casa no trabalho de facção e bordado, ganhando por produtividade e se
comprometendo com a entrega nos prazos predeterminados, iniciando a relação de troca
na região.
De acordo com a proprietária da Galante, com o asfaltamento da BR 116, além
das vantagens de transporte para escoamento da produção, o estratégico posicionamento
geográfico da cidade de Muriaé favorecia a comercialização dos produtos da empresa.
O volume dos negócios cresceu tanto que, na década de 60, havia cerca de 70
empregados registrados, além dos inúmeros trabalhadores a domicílio.
Já no início da década de 1960 começaram a surgir confecções de artigos em
malha formada por ex-empregados da Galante que contratavam mão-de-obra
demissionária da empresa. Também começaram a surgir pequenas confecções caseiras,
formada por donas de casa, treinadas pela Galante.
54
A Galante foi criada em 1954 na cidade de Lajinha, no Estado de Minas Gerais. Desde o seu
funcionamento em Lajinha, já trabalhava com representantes comerciais de diversos Estados Brasileiros,
com ênfase nos Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, Com a sua mudança para
Muriaé, continuou trabalhando com os mesmos representantes.
55
Malacacheta é a matéria-prima de fabricação de resistência de ferro elétrico.
130
A Galante trabalhou como confecção até 1982, quando se transformou em
comércio. Abriu duas lojas em Muriaé e uma em Petrópolis, no Estado do Rio de
Janeiro, adquirindo mercadorias em São Paulo. As três lojas funcionam até hoje.
5.3.1.1.2 O surgimento das confecções
O surgimento das atividades de confecções em Muriaé pode ser dividido em dois
momentos distintos. O primeiro momento abrange as décadas de 60 e 70, caracterizado
pelo surgimento da atividade de confecção na cidade e região. Neste momento, o foco
da atividade econômica da cidade era voltado para o setor mecânico, envolvendo desde
retíficas de motores e molas até oficinas de pequenos reparos. O segundo momento
ocorre a partir de 1980, representado pelo crescimento do número de confecções na
cidade e região. Inicia-se após a crise do setor mecânico em Muriaé, provocando o
fechamento de inúmeras PMEs empresas de prestação de serviços.
5.3.1.1.2.1 Os anos de 1960 e 1970: surgimento da atividade na região
No início dos anos de 60, começam a aparecer confecções legalizadas e não
legalizadas na cidade de Muriaé. As legalizadas surgiram a partir de 1962, por exempregados da galante que, após receber treinamentos e permanecer por alguns anos na
empresa, acabaram aprendendo todo o processo de produção, de condução dos negócios
e de comercialização. Com o crescimento da procura por produtos, por parte dos
representantes, alguns empregados abriram suas próprias confecções56.
Muitas dessas confecções adquiriam malha da própria Galante, utilizavam mãode-obra de donas de casa, utilizavam os mesmos representantes da Galante e, até
mesmo, copiavam produtos da empresa, principalmente enxovais de criança. Porém, em
virtude de contatos com representantes comerciais, encontraram outras linhas de
produtos que estavam relacionados com a demanda de mercado e apresentavam mais
facilidade no processo produtivo. Assim, começaram a produzir colchas e jogos de
cozinha bordados e, artigos para lingerie noite em fustão. Por meio de representantes, as
mercadorias se espalhavam por todo o Brasil, principalmente para as regiões norte e
nordeste.
56
Segundo a proprietária da Galante, foram 5 confecções que foram fundadas, ao longo dos anos 60 e 70,
por empregados diretos da Galante. Geralmente, o empregado que seria dono da próxima confecção, ao
sair da galante levava de 5 a 10 empregados para trabalhar com ele. Segundo ela, isso teve efeito
multiplicador, uma vez que, depois de algum tempo empregados dessas empresas que originaram da
Galante, acabavam seguindo o mesmo procedimento, abrindo novas confecções.
131
Em virtude do crescimento da procura por artigos bordados em Muriaé, muitas
mulheres57, além de faccionar e/ou bordar como mão-de-obra terceirizada, começaram a
fabricar seus próprios produtos, seja criando ou copiando peças tais como: colchas,
jogos de cozinha e/ou roupas de dormir, bordadas. No início, elas comercializavam uma
peça ou outra, porém, na segunda metade da década de 70, passaram a entregar suas
peças para um novo agente, denominado por eles de “pronta-entrega”. Os “prontaentregas” eram vendedores ambulantes que pegavam as mercadorias dessas senhoras –
por consignação e na base da confiança – e vendiam, voltando com os cheques de
clientes já descontados o seu diferencial de ganho. Tal figura, em menor significância,
existe até hoje.
Segundo um dos entrevistados, por um lado, o aumento de representantes
comerciais e de vendedores ambulantes estimulava a fabricação de produtos em Muriaé.
Por outro, o aumento de produção em Muriaé atraíram fornecedores de tecidos e de
aviamentos, voltados ao atendimento das necessidades das donas de casa, fornecendo
pequenas quantidades. Isso favorecia a cópia, uma vez que tais vendedores iam de casa
em casa, tirando pedidos, apresentando as amostras de tecidos e de aviamentos.
Esse tipo de parceria entre donas de casas confeccionistas de peças, vendedores
ambulantes e fornecedores especializados em pequenas quantidades de tecidos e
aviamento, contribuiu para o aumento e desenvolvimento da atividade na cidade de
Muriaé. Algumas donas de casa adquiriam mais máquinas e contratavam pessoas para
ampliar o negócio e outras adquiriam máquinas para entrar no negócio.
O aumento de aquisição de máquinas de costura doméstica em Muriaé chamou a
atenção do fornecedor, em Juiz de Fora. A partir de uma pesquisa junto às cidades da
região, em 1979, um empregado desse fornecedor de máquinas foi orientado a se mudar
para Muriaé e montar a primeira loja de máquinas industriais, fornecendo também
serviços de manutenção e assistência técnica. A partir de então, muitas donas de casa
começaram a substituir suas máquinas domésticas por máquinas industriais.
Esse fornecedor passou a trabalhar também com as confecções já existentes,
contribuindo com o fornecimento de produtos com preços mais competitivos,
assistência técnica e manutenção. Hoje, tal fornecedor é o principal vendedor de
máquinas e equipamentos de confecções da cidade. Conta com uma oficina e com um
laboratório de inovação tecnológica, buscando aperfeiçoar a tecnologia existente.
57
Geralmente os maridos dessas mulheres eram motoristas de caminhões, empregados ou donos de
oficinas mecânicas especializadas em mecânica de caminhões.
132
5.3.1.1.2.2 O desenvolvimento das confecções nas décadas de 80 e 90
Nos anos 80, mudanças significativas trouxeram dificuldades para o setor
mecânico na cidade de Muriaé, principalmente para as micro e pequenas empresas de
prestação de serviços. Tais mudanças estavam relacionadas com: a) a substituição de
parte do transporte de carga caminhões comuns para caminhões scaneas, diminuindo o
fluxo de caminhões na região e, conseqüentemente, a demanda por serviços das
oficinas; b) a implantação de três postos de pedágios na BR 116, aliada ao
desenvolvimento e melhoramento de estradas localizadas no Sul de Minas e ao
asfaltamento do trecho Realeza-Vitória, fizeram com que os caminhões, principalmente,
vindo do Sul do País em direção às regiões Norte e Nordeste, buscassem outras rotas e;
c) não menos importante, as diferenças de alíquotas de ICMS entre os Estados,
principalmente a partir de 1988, provocavam diferenciação em preços de combustíveis,
lubrificantes e preços de peças de reparo e manutenção, fazendo com que os
caminhoneiros procurassem atender suas necessidades fora do Estado de Minas Gerais.
Em meio às dificuldades enfrentadas e o enfraquecimento desse setor, a maioria
das oficinas mecânicas fecharam e, conseqüentemente, aumentava o número de
desemprego de chefes de família e de filhos homens dessas famílias. A alternativa então
foi a absorção desses novos desempregados pelo negócio da costura. Como a maioria
desses negócios era muito pequeno para conseguir sustentar toda a família, surgiu a
necessidade de expansão. Porém, o aumento da capacidade de produção estava
totalmente vinculado ao aumento da demanda pelos artigos fabricados.
Assim, os homens passaram a fazer o trabalho de vendas, ficando responsáveis
pela distribuição e venda de produtos enquanto as mulheres cuidavam da produção.
Esses homens, utilizando seus carros particulares, distribuíam os produtos em diversas
cidades, abrangendo os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, alguns estados do
Nordeste e Norte do País. A estratégia de vendas usada era simples, entregavam o
produto para as revendedoras das cidades e depois de 30 dias voltavam recolhendo o
dinheiro e entregando novas mercadorias.
Cabe ressaltar que, ainda na primeira metade dos anos 1980, houve mudanças
significativas no gosto dos consumidores de colchas e jogos de cozinha, fazendo com
que a produção voltasse mais para lingerie noite bordada. Começaram a desenvolver
esse tipo de mercadoria em malha, apresentando grande aceitação no mercado. Com o
procedimento de imitação e cópia que predominava a região, a maioria das confecções
133
começou a trabalhar com lingerie noite bordada em malha. Com essa ampliação do
mercado, surgiam novas necessidades de aumento de capacidade produtiva para fazer
frente às novas demandas, com isso, as donas de casa adquiriam mais máquinas,
contratavam mais pessoas para trabalhar e, ainda, faziam uso de mão-de-obra de outras
donas de casa para a facção e bordado das peças.
Em 1987, atraída pelo volume de consumo de tecidos na cidade, a Vincunha
instalou uma loja em Muriaé, chegando a exercer um grande monopólio. Em virtude de
problemas de preços ditados por este monopólio, as empresas começaram a buscar
alternativas, junto a concorrentes que estavam fora da região. Aos poucos os
concorrentes foram colocando representantes comerciais, com lojas, nas cidades,
enfraquecendo o poder da Vincunha que fechou sua representação no início dos anos de
1990. Nesta época já havia, na cidade, grande número de pequenos fornecedores de
materiais – tecidos e aviamentos – e alguns fornecedores de máquinas e equipamentos.
No início dos anos de 1990, com o fortalecimento do mercado, várias
confecções começaram a trabalhar com representantes em todo o país. Sacoleiras
começaram a procurar a cidade de Muriaé para realizar suas compras. O volume de
produção e venda apresentava crescimentos. Ligado ao volume de pedidos e produção,
o grande gargalo no processo produtivo estava na etapa de bordar. Mesmo aquelas
confecções que mantinham bordadeiras no seu quadro de empregados, acabavam
utilizando a mão-de-obra das donas de casa. A profissão de bordadeira era bastante
reconhecida com salários diferenciados.
Em 1994, com o surgimento da primeira máquina de bordar, a profissão de
bordadeira começa a declinar, chegando a desaparecer, quase por completo, quando
todo o trabalho de bordado passou a ser executado por essas máquinas. Assim, como
forma de sobrevivência, tais bordadeiras acabaram abrindo suas próprias confecções.
Esse crescimento de confecções era favorecido, pois, a atividade é de fácil
entrada, principalmente para as bordadeiras que já conheciam todo o processo
produtivo; presença de fornecedores de materiais, que forneciam prazos compatíveis
com a realidade das empresas do setor na região; presença de fornecedores de máquinas
e equipamentos que além das máquinas apresentava serviço de assistência técnica e de
manutenção; constante visita de compradores formada por sacoleiras de todo o país, que
viajavam para Muriaé; presença de mão mão-de-obra disponível.
Segundo os relatos de Agentes Institucionais e de empresários da cidade de
Muriaé, até 1996, as empresas formais ocupavam o mesmo espaço, como aglomerado
134
produtivo, porém sem nenhum tipo de relacionamento entre elas. Cada uma desenvolvia
suas estratégias de produção e venda separadamente. Havia concorrência acirrada,
principalmente em relação ao preço de vendas dos produtos. Os empresários formavam
os seus preços, com base nas tabelas de preços dos concorrentes, porém, jogando o
preço para baixo. Isso acabava prejudicando a todos, pois, em alguns casos, os preços de
vendas praticados estavam inviabilizando a produção de determinados artigos.
No aglomerado de empresas compartilhavam da estrutura de escoamento de
produção; da facilidade de aquisição de matérias para a produção; da facilidade de
aquisição de máquinas e equipamentos, bem como de assistência técnica e manutenção;
do espaço para vendas, uma vez que as compradoras visitavam a cidade e realizavam
grandes volumes de compras; da mão-de-obra disponível; e, ainda, do trabalho de
facção dos trabalhadores domésticos e de empresas informais.
A partir de 1996 - com o aumento desordenado de confecções, principalmente
informais - verificado a partir de 1994, aliado ao fortalecimento de outros pólos da
moda e ao processo de globalização da economia que mostrava algumas ameaças para o
setor – os micro e pequenos empresários locais viram a necessidade de se agrupar para
poderem enfrentar esses desafios e tirarem proveitos em comuns. A primeira ação em
conjunto se deu, no ano de 1996, com a abertura de uma central de pronta-entrega,
formada por 20 empresários donos de confecções. Essa central tinha por finalidade,
além do aumento do volume de vendas, a garantia da qualidade do produto da cidade,
uma vez que, o crescimento desordenado poderia comprometer a qualidade dos
produtos e, conseqüentemente, afetaria a imagem da cidade e região.
A partir da criação dessa central, o grupo começou a discutir questões que
pudessem servir de ameaça ao aglomerado de empresas, principalmente, em relação às
futuras conseqüências do plano real e da abertura de mercado. Esse grupo começou a
perceber que eles eram muito fortes enquanto grupo, porém, se continuassem utilizando
estratégias isoladas estariam fadados à destruição pelo processo de globalização.
Em 1997 foi criada a Agencia de Desenvolvimento de Muriaé e Região
(ADMR), por meio do projeto PRODER, que consistia em uma ação estruturada entre a
Prefeitura, o SEBRAE, o Clube de Diretores Lojistas (CDL) e a Associação Comercial
de Muriaé. A criação da ADMR tinha por objetivo atuar através de parcerias junto aos
diversos segmentos da sociedade local, com empresários, associações de classe e poder
público. No início, essa Agência teve como intenção, apoiar as ações do setor de
confecção.
135
Em 199858, buscando aproveitar os incentivos do governo federal em relação a
exportação, a ADMR – em conjunto com a FIEMG e o SEBRAE-MG –, realizou o
primeiro encontro dos empresários, cujo principal tema estava relacionado com a
implantação de um consórcio de exportação em Muriaé.
A partir de então, 30 empresas começaram a participar das discussões e, no final
do ano de 1999, o consórcio de exportação se emancipou. Este consórcio funcionou até
o ano de 2001. De acordo com representantes de entidades locais, o insucesso do grupo
de exportação estava relacionado com os seguintes fatores: ausência de informação
sobre exportação e sobre o mercado exterior; não adequação dos produtos aos padrões
do mercado externo; falta de aprimoramento tecnológico e comercial e, ainda, as
diferenças no tamanho e organização das empresas que participavam do consórcio.
O consórcio de exportação em Muriaé, apesar de não ter avançado, contribuiu
para a união dos empresários locais. A partir das reuniões, esses empresários passaram a
discutir temas como modelagem, processos produtivos, formação de preços de vendas,
financiamentos, tecnologia de produção e de organização, necessidades de mão de obra
especializada, diferenciação de produtos, consultoria e outros assuntos. Como
conseqüência dessa união, a partir do ano 1999, várias entidades representativas e de
apoio às confecções, foram instaladas: a) em 1999 foi implantada a Delegacia Regional
de Muriaé e Região que é a entidade representativa do Sindicato da Indústria do
Vestuário de Minas Gerais – SINDIVEST, que hoje conta com 50 associados; b) em
2001 foi colocado um ponto de atendimento do SEBRAE-MG em Muriaé; c) em 2002
foi criada a sub-sede do Sindicato dos trabalhadores na Indústria de Confecções de
Roupa – SOAC; criação do Centro de treinamento César Augusto Bianchi Botaro ligado
ao SENAI de Cataguases; d) em 2003 foi criado o Conselho de desenvolvimento do
Setor de Confecções de Muriaé – CONDESSC59.
A partir dos resultados eleitorais de 2004, o setor tem recebido ajuda da
Prefeitura Municipal de Muriaé. A prefeitura doou terreno para a implantação do
distrito industrial; tem incentivado empresas informais a se formalizarem, por meio de
58
O Governo Federal em 1998 tinha por meta dobrar as exportações brasileiras para US$ 100 bilhões,
abrangendo 50 setores da economia, dentre eles o Setor de Vestuário, usando como estratégia o modelo
de Consórcio de Exportação para micro e pequenas empresas, sob a coordenação da Associação Brasileira
do Vestuário – ABRAVEST (IEL, 2005)
59
O CONDESSC foi caracterizado como a primeira iniciativa institucionalizada de associação do arranjo,
em que um grupo de empresários se organizou para prover representatividade junto aos órgãos públicos,
reivindicando junto à Prefeitura Municipal de Muriaé ações mais efetivas para a principal atividade
econômica do município.
136
doação de terrenos e isenção temporária de impostos; cedeu espaços físicos para o
funcionamento das instituições de apoio ao arranjo, tais como SENAI, CONDESSC e
DRMR; e, ainda, fornece recursos financeiros para o treinamento da mão-de-obra local.
Em 2005 foi realizado um diagnóstico da Indústria de Vestuário em Muriaé e
Região, pelo Instituto Evaldo Lodi, envolvendo 239 empresas formais de micro,
pequeno e médio porte. Como resultado desse estudo, verificou-se que existe uma infraestrutura institucional montada para funcionar em prol do arranjo, contudo as
articulações entre elas ainda são incipientes, atingindo um grupo relativamente pequeno
de empresas, quando se compara com número de empresas do setor na região.
5.3.1.2 Estrutura atual do Arranjo produtivo de Muriaé
A estrutura do arranjo produtivo de vestuário de Muriaé, representado na Figura
26, possui 6 atores principais: a) as empresas do segmento central que compreende as
confecções; b) as Atividades Conexas que compreende os fornecedores de máquinas e
equipamentos e os fornecedores de matérias-primas e insumos; c) as Atividades
Complementares representadas pelas empresas que prestam serviços às confecções tais
como: modelagem, costura, estampagem, bordados, design, acessórios e outros; d)
Estrutura de apoio e animação que compreende a Delegacia Regional de Muriaé
(DRM), o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Setor de Confecções
(CONDESSC), a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Muriaé
(SMDE), a Agência de Desenvolvimento de Muriaé e Região (ADMR); A Federação
das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e o Serviço Brasileiro de Apoio as
Empresas (SEBRAE); e) Estrutura de Formação, aperfeiçoamento e pesquisa
representada pelo SENAI e SEBRAE; f) prestadores de serviços gerais representados
pelos Bancos –Banco do Povo, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bancos
Privados –, escritórios de contabilidade, serviços de segurança e transporte.
5.3.1.2.1 As empresas centrais do processo produtivo
As confecções do arranjo produtivo, com base na classificação adotada pelo
SEBRAE, são em sua maioria micro e pequenas empresas. O aglomerado é constituído
de 700 empresas formais e informais, do tipo familiar (IEL, 2005). Existem 578
microempresas – 461 informais 117 formais– que respondem por 25% da produção; 112
empresas de pequeno porte, que respondem por 53% da produção e; 10 empresas de
137
médio porte, que respondem por 22% da produção. Esse pólo gera, aproximadamente,
10.500 empregos diretos e indiretos.
Atividades Conexas
Fornecedores de
Maquinas e de
Materiais
Estruturas de apoio
e de animação
Atores
DRM,
CONDESSC,
Locais
SMDE, ADMR
SEBRAE,
FIEMG
Atividades
Complementares:
Bordados, Design
Estampagem etc.
Serviços
Bancos
Contabilidade
Consultorias
Especializadas
Transporte
Segurança
etc.
Empresas do
Segmento de
Confecção
Estruturas de Formação,
Aperfeiçoamento e de Pesquisa
SEBRAE, SENAI, UNIPAC
Figura 26. Estrutura do Arranjo Produtivo de Vestuário de Muriaé
Fonte: Adaptação de Fonseca Netto (2002)
No geral, conforme mostra a Figura 27, o fluxo de produção segue as seguintes
etapas: a) a matéria-prima tecido é enviada para o setor de organização e corte, onde a
produção é organizada - levando em consideração os moldes e, com o auxílio do CAD,
ocorre o encaixe das peças de modo a reduzir as sobras – e cortada; b) após o corte, as
peças podem seguir dois destinos, ou serão encaminhadas diretamente para a costura, ou
para as etapas de estamparia e bordados e posteriormente para a costura; c) Na costura,
recebem aviamentos, rendas, elásticos etc.; d) após a costura, seguem para a etapa de
acabamento; e) depois de acabadas, seguem para o setor de limpeza e embalagem; f)
depois de embaladas, são distribuídas para lojas próprias, sacoleiras ou diretamente para
clientes.
Aviamentos
Rendas,
Elásticos
Entrada de
Matéria
Prima e
acessórios
Tecido
Organização
e corte
Etiquetas,
enfeites, etc
Costura
Embalagens
Acabamento
Limpeza e
embalagem
Expedição
Estamparia
e bordados
Figura 27. Diagrama do processo produtivo da indústria do vestuário de Muriaé e
região
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo
138
As atividades de costurar, bordar e estampar têm sido desempenhadas por
empresas especializadas. No caso da facção, as empresas recebem o tecido cortado e os
aviamentos necessários. Algumas empresas possuem bordadeiras mecânicas e máquinas
de estampagem dentro da empresas, outras, em virtude do preço de aquisição, utilizam
serviços de empresas especializadas.
O mix dos principais produtos confeccionados é focado na fabricação de roupas
intimas e infantis de modo geral. Pode-se perceber, por meio da Figura 28, que o arranjo
tem, como “carro-chefe”, a lingerie feminina noite, ocupando, aproximadamente, 37%
da produção, seguida da moda infantil (11,51%) e moda bebê (10,86%). Esse mesmo
mix foi detectado na pesquisa de campo, em que 50% declaram produzir Lingerie Noite,
27% moda infantil e 15% Moda Bebê.
Principais Linhas de Produtos (%)
Lingerie noite
36,84%
11,51%
Moda inf antil
Moda bebê
10,86%
6,58%
Modinha
Moda inf anto-juvenil
6,25%
3,62%
Jeans
Lingerie dia
3,62%
2,30%
Sport w ear
Fitness
1,97%
1,64%
Moda rigor
Moda praia
0,99%
13,82%
outros
0,00%
5,00%
10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00%
Figura 28. Principais linhas de produtos do Arranjo Produtivo de Muriaé
Fonte: IEL, 2005
De acordo com Souza (2005), o que explica a vocação da cidade para o lingerie
noite foi a boa receptividade das camisolas e pijamas pelos grandes mercados
consumidores do país. O lingerie noite, fabricado pelo pólo, consegue aliar a tradição
artesanal dos bordados com inovações em design e novos materiais.
De acordo com os empresários entrevistados, a capacidade produtiva das
indústrias do setor nessas linhas de produtos, está relacionada à qualidade de matériaprima (62%); inovação de desenhos e estilo (46%); novas estratégias de
comercialização, por meio de internet e exposição em feiras de moda (15%), catálogos
de produtos (31%); e a capacidade de atendimento em relação aos volumes e prazos
exigidos pelos clientes (50%).
139
Existe também no APL uma empresa que exporta. Esta empresa tem investido
maciçamente em inovação de produto, design, qualidade e certificação de produtos, para
poder competir no mercado internacional.
Segundo o presidente do CONDESSC, cerca de 40 empresas tem trabalhado
com inovação em tecnologia de produção envolvendo processos produtivos,
equipamento e gestão.
5.3.1.2.2 Estrutura de apoio ao processo produtivo
A Estrutura de apoio ao processo produtivo é formada pelos fornecedores de
máquinas e equipamentos e fornecedores de matérias-primas e insumos (atividades
conexas), os prestadores de serviços (atividades complementares e de serviços), e as
entidades de capacitação (Estrutura de Formação, Aperfeiçoamento e Pesquisa).
Os fornecedores do APL
Em Muriaé há 15 fornecedores de materiais - envolvendo tecidos, aviamentos,
acessórios plásticos, etiquetas - e 5 fornecedores de máquinas e equipamentos. Esses
fornecedores de máquinas e equipamentos também prestam serviços de manutenção e
assistência técnica.
Prestadores de serviços
Existem no APL empresas de prestação de serviços e pessoas prestadoras de
serviços especializados. Esses prestadores de serviço podem ser divididos em duas
categorias: os prestadores de serviços específicos e os prestadores de serviços gerais. Os
prestadores de serviços específicos são: as empresas ou profissionais de consultoria de
moda, empresas de consultoria em processos produtivos (consultores independentes e o
SENAI), empresas ou profissionais especializados em design, prestadoras de serviços
de estamparia, prestadoras de serviços de bordado mecânico; pessoas prestadoras de
serviço de bordados artesanais (manuais); empresas prestadoras de serviço de facção;
empresas e pessoas prestadoras de serviço de mecânica de máquinas; pessoas
prestadoras de serviços de criação de modelos. Os prestadores de serviços gerais são:
empresas prestadoras de serviços de transporte; transportadoras, assessoria de imprensa,
gráfica, contabilidade, serviços de fotógrafos, propaganda e marketing, informática.
140
Instituições de capacitação
As instituições de capacitação existentes no APL são: o SENAI, o SEBRAE, o
CONDESSC e três faculdades que funcionam na cidade.
O SENAI funciona através de um Centro de Treinamento “César Augusto
Bianchi Botaro”, criado em maio de 2002, por uma iniciativa dos empresários locais do
setor de confecções, com o objetivo de melhorar a qualificação dos seus trabalhadores.
Funciona num local cedido pela prefeitura municipal. Conta com uma estrutura de das
salas de aula e um escritório, duas instrutoras que dão aulas, consultoria e atendimento
ao Sistema CAD. A instituição mantém duas oficinas, uma com 4 máquinas de costura
(reta, galoneira, caseadeira, galoneira de elástico) e outra com 18 máquinas de costura
(reta, interlock – 5 fios, overlock, galoneira-canhão, colaretes e cortadeira) sob o regime
de empréstimos dos empresários locais.
O SEBRAE/MG em Muriaé funciona desde o ano de 2001. Presta serviços de
orientação e capacitação empresarial aos empreendedores dos municípios de Muriaé. A
instituição oferece treinamentos, consultorias individualizadas e programas para a
melhoria dos processos gerenciais, o desenvolvimento das habilidades de liderança e do
comportamento do empreendedor.
O CONDESSC criou uma escola profissionalizante que tem por objetivos dar
noções de costura e preparar o aluno para entrar no curso profissionalizante do SENAI
e, ainda, dar oportunidade às pessoas que não possuem qualificação, através da
iniciação da costura, inserindo-as no mercado de trabalho.
5.3.1.2.3 Estrutura de apoio e animação do arranjo de Muriaé
A estrutura de apoio e animação é formada por um grupo de atores que
envolvem o órgão representante do Sindicato Patronal de Vestuário em Muriaé
(DRMR), centros de treinamento, serviços tecnológicos, entre outros (Tabela 27).
Cabe ressaltar que a Coordenação do APL está sendo feita por quatro dessas
instituições que trabalham em conjunto. Essas instituições são: a DRMR, o
CONDESSC, a SMDE e o SEBRAE-MG. Porém, ainda é pequeno o número de
empresas que estão mantendo relações com essas instituições. Hoje são 75 empresários
que estão associados ao SINDIVEST, por meio da Delegacia Regional de Muriaé e
Região. Assim, num universo de 239 empresas formais, isso representa 31% desse total.
141
Tabela 27. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao Arranjo
Entidades
Campo de atuação
Contribuição para o APL
SEBRAE
Desenvolvimento de PMEs por
meio da prestação de serviços de
orientação e capacitação
empresarial para empresários e
de Muriaé e Região.
SENAI
Capacitação para o Trabalho na
indústria
CONDESSC
Desenvolvimento do setor de
confecções e atendimento das
demandas de cunho social, de
modo a contribuir para o
crescimento
econômico
de
Muriaé e seus distritos.
SMDE
Promoção do setor produtivo do
município,
por
meio
de
programas de incentivo para a
instalação e crescimento das
empresas.
Promoção do desenvolvimento
da indústria do vestuário no
município de Muriaé e Região.
- Promoção de cursos de capacitação, treinamentos,
consultorias individualizadas e programas para a
melhoria gerencial de empresas do vestuário;
- Participação no projeto de consolidação de um pólo
de confecção competitivo e de qualidade na região;
- Exerce, em conjunto com o CONDESSC, o SMDE
e a DRMR, a coordenação do APL.
- Oferecimento de cursos específicos para a
indústria do Vestuário tais como: Costura Industrial,
Cronoanálise, Cortador de Confecção, Mecânico de
Máquinas de Costurar, Modelagem Infantil e Adulto.
- Criação de escolas profissionalizantes em parceria
com o Senai, SEBRAE, SMDE e ADMR;
- Realização de feiras de exposição para os produtos
do vestuário;
- Viabilização de participação de fabricantes em
feiras especializadas em vestuário;
- Exerce, em conjunto com o SEBRAE, o SMDE e a
DRMR, a coordenação das atividades do arranjo
- Doação de terrenos, isenção de taxas e impostos
para micro e pequena empresas do vestuário;
- Exerce, em conjunto com o CONDESSC, o
SEBRAE e a DRMR, a coordenação das atividades
do arranjo de Muriaé.
- Implementação do projeto estrutural do arranjo
produtivo de Muriaé;
- coordenação desse APL em parceria com o
SEBRAE-MG, o CONDESSC e o SMDE;
- Desenvolvimento de palestras, encontros, cursos,
diagnósticos, planejamento, de modo a contribuir
para o processo de desenvolvimento sustentável na
cidade de Muriaé e Região.
- Formação de pessoas para atuar nas áreas de gestão
e informática das empresas pertencentes ao APL .
- Oferecimento de uma estrutura física de salas e
auditório, para realizações de reuniões, treinamentos
e cursos profissionalizantes;
- Disponibilização de serviços de fax, atendimento
ao consumidor, bancos de empregos, videoteca;
- Disponibilização de assessoria técnica na área
jurídica, fiscal, econômica, financeira e convênios
médicos.
- Oferecimento de assessoria para os associados do
setor agropecuário, industrial, comercial e de
serviços da cidade;
- mantenedora do serviço social da Indústria de
Minas Gerias (SESI).
- Oferecimento de créditos e financiamentos não
diferenciados para as empresas do setor.
DRMR
ADMR
Faculdades
CDL
ACM
Bancos
Promoção do desenvolvimento
regional por meio de parcerias
junto aos diversos segmentos da
sociedade local.
Formação e desenvolvimento
profissional qualificado
Oferecimento de estrutura de
apoio profissional aos diretores
lojistas de Muriaé e Região.
Fortalecimento do comércio
local
Fornecimento de crédito e
financiamento
Fonte: Dados da Pesquisa.
De acordo com os entrevistados, a partir de 2005, a Prefeitura Municipal de
Muriaé tem desempenhado papel relevante de apoio às atividades do APL. Ela tem
142
oferecido serviços de infra-estrutura municipal, estruturação de um distrito industrial,
concessão de espaços físicos para abrigar os agentes de apoio ao arranjo (SENAI,
CONDESSC e DRMR) e fornecimento de recursos financeiros para o treinamento da
mão de obra local.
5.3.1.2.4 Principais clientes do Arranjo produtivo de Muriaé
Os clientes potenciais das empresas (Figura 29) estão localizados na região
sudeste, consumindo 81% da produção – Minas Gerais (37,5%), do Rio de Janeiro
(24,8%), Espírito Santo (13,9%) e São Paulo (5%) –. Geralmente, nesses Estados,
principalmente Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, são escoados os produtos
das microempresas, que, na maioria das vezes, é feito por meio de sacoleiras que
compram os produtos em Muriaé para revendê-los em suas cidades. No entanto, de
acordo com o IEL (2005), existem algumas empresas, as mais bem estruturadas,
conseguem vender para outros Estados e Regiões, atendendo a Grandes Varejistas e
representantes comerciais.
Minas Gerais
37,45%
Rio de Janeiro
24,8%
13,9%
Espírito Santo
5,0%
São Paulo
Nordeste
10,0%
Centro Oeste
4,0%
Norte
3,9%
sul
1,1%
0%
50%
100%
Figura 29. Destinação das vendas dos artigos em confecção de Muriaé
Fonte: Dados da pesquisa.
Existe uma empresa em Muriaé que tem exportado, com freqüência, para a
Argentina, México e Espanha; duas exportam esporadicamente; e, cinco estão em fase
de experimentação com a Grécia. Porém, ainda não há, no arranjo, um programa
específico para facilitar e fomentar as exportações60, que seja capaz e desenvolver os
60
Isso pode ser percebido na apresentação do senhor Gustavo Veggi, no 1º Fórum de Desenvolvimento
Sustentável de Muriaé e Região, ocorrido nos dias 30 e 31 de março de 2007. Segundo ele, a forma
encontrada pela empresa exportadora foi por “meio de tentativa e erro; amadorismo e audácia”. A
empresa partiu de textos especializados sobre exportação, contatos com empresas no exterior, feito pelos
143
procedimentos burocráticos, mercadológicos e legais, necessários para atingir o
mercado externo.
Quanto à visitação e exposição em feiras setoriais, os relatos de dirigentes das
instituições de apoio, mostram que a participação das empresas do arranjo ainda é pouco
freqüente (Figura 30). Com isso há perdas de oportunidades de negócios, para as
empresas, seja através do contato com inovações ou conquista de novos clientes.
46%
Locais
31%
Outras cidades
do Estado
27%
19%
Outros Estados
27%
19%
Outros Países
Visitante
0%
0%
Expositor
0%
50%
100%
Figura 30. Participação em feiras
Fonte: Dados da pesquisa
No ano de 2006, o APL de Muriaé conseguiu 5 vagas para exposição na Feira
Brasileira de Moda Íntima - FEVEST-2006 e no ano de 2007 conseguiu-se 5 vagas para
exposição na Feira Nacional da Indústria Têxtil - FENIT-2007. As empresas que
participaram da exposição obtiveram bons resultados (Tabela 28).
Tabela 28. Resultado da participação de empresas do APL de vestuário de Muriaé em
feiras especializadas
2006
2007
Evento
FEVEST
FENIT
Vendas Realizadas
88.000,00
113.000,00
Perspectiva de Negócio
57%
74%
Participação de empresas
5
5
Contatos comerciais
668
300
Contatos internacionais
5 países
0
Fonte: Estruturado a partir dos dados fornecidos pela Delegacia Regional de Muriaé e Região.
proprietários da confecção, busca de informações em como exportar, por meio da internet e de
informações fornecidas pelo Banco do Brasil. Para ele, no Arranjo de Muriaé “falta ainda conhecimento
suficiente para exportação, credibilidade do mercado externo, pessoas qualificadas, qualidade de produto
compatível com as exigências de mercado; competitividade de preços e diferenciação de produtos.
144
5.3.1.3 A dinâmica do Arranjo Produtivo de Muriaé e as formas de cooperação
5.3.1.3.1 Relacionamento entre empresas especializadas dentro do APL
Desde o início das atividades de confecção em Muriaé, ainda com a chegada da
Malharia Galante, é comum parcerias entre empresas por meio da subcontratação de
faccionistas e bordadeiras. Além disso, os trabalhos de representação sempre foram
feitas por empresas complementares, destinadas a venda dos produtos.
Atualmente, as especializações na complementação do processo produtivo
ocorrem, em algumas empresas, nas atividades de faccionar, bordar e estampar. As
demais atividades são racionalizadas, buscando escala interna de produção, não
aproveitando as economias externas da aglomeração, por meio de especialização.
A prática de facção, usada para reduzir gargalos de produção, teve aumento
considerável a partir dos anos 90 – chegando a 140 empresas especializadas em facção –
em virtude de aumentos de demanda, em que, os investimentos em máquinas e
equipamentos, espaço físico e pessoas, não compensariam. Grande parte da facção é
desempenhada por microempresas informais e trabalhadores em domicílio. No entanto,
parte considerável de empresas formais – 48 empresas formais – faccionam para outras
empresas. Isso pode ser comprovado pelas entrevistas em 239 empresas formais, por
parte do IEL (2005). Dessas empresas, 80% (191 empresas) apenas confeccionam; 14%
(33 empresas) confeccionam e faccionam e 6% (15 empresas) apenas faccionam.
De acordo com o presidente do CONDESSC, com o desenvolvimento
tecnológico de máquinas voltadas para o segmento de confecção, a atividade de facção
tem sofrido ameaça no APL de Muriaé. Cerca de 40 empresas tem se colocado
próximas ao estado da arte da tecnologia, por meio da utilização de equipamentos
modernos, chamados de terceira geração. Isso tem trazido problemas para as empresas
que faccionam em virtude da utilização de máquinas de costura simples. Neste caso,
muitas empresas, buscando garantir a qualidade de seu produto, preferem internalizar a
produção.
Isso pôde ser verificado no depoimento de 54% dos entrevistados que afirmaram
utilizar tecnologia de última geração. Segundo esses entrevistados, a dificuldade em
terceirizar parte da produção está relacionada a não modernização de máquinas e
equipamentos e o não treinamento de mão-de-obra para trabalhar essas novas
145
tecnologias. 31% afirmam que há uma tendência a reduzir a terceirização em Muriaé,
principalmente em atividades de facção.
As especializações de empresas em bordados e estampagens passou a ocorrer a
partir de 2005. Hoje, existem 8 empresas especializadas em bordados e 12 empresas
especializadas em estamparia. Grande parte dos usuários desses serviços são
microempresas, que não possuem volumes de produção suficiente para a aquisição
desses equipamentos específicos.
Cabe ressaltar que, em Muriaé, assim como em outros APLs, apesar de cada
empresa buscar a diferenciação de seus produtos, acaba produzindo as mesmas linhas de
produtos – entre as principais, a lingerie noite e a infantil – competindo entre si,
principalmente por meio de preços. Neste caso, a estratégia de terceirização poderia: a)
contribuir para a redução da competição via preços; b) reduzir o tempo de produção; c)
aumentar a capacidade de fabricação da firma e; c) elevar os ganhos de produtividade
através da redução de custos, uma vez que o custo da unidade passaria a depender do
tamanho da indústria e não do tamanho da firma.
De acordo com a DRMR, existe um movimento dos empresários locais,
formados por micro empresários, no sentido de trabalhar com a especialização entre
firmas, formando consórcios de produção em que cada um seja especializado por uma
parte do processo produtivo. Mas, para que isso ocorra, é necessário maior treinamento
de mão-de-obra e melhor qualificação gerencial.
De acordo com Souza (2005) o baixo desempenho de recursos humanos, em
específico no que se refere à qualificação profissional, é uma dificuldade relevante e
ocasionada pela ausência de formação profissional específica61. O IEL (2005) mostrou
que a escolaridade dos empregados das confecções é relativamente baixa. A pesquisa
indicou que pouco menos da metade dos funcionários possuem o ensino fundamental.
Destes, 1,22% são analfabetos, 21% têm ensino fundamental incompleto e 24,72%
fundamental completo. 34,63% os empregados possuem o ensino médio completo e
15.98% incompleto. O número de funcionários com curso de nível superior completo
apontado pela pesquisa foi de 1,05% do total.
Em virtude do nível gerencial e da mão-de-obra local e, ainda, do nível de
maquinários utilizados por grande parte das microempresas, o processo de cooperação
interfirmas é dificultado, fazendo com que as empresas se preocupem mais com a
61
A partir de 2006, O CONDESSC e o SENAI têm procurado trabalhar no sentido de treinar e capacitar o
pessoal para atender a demanda das empresas locais.
146
verticalização interna da produção, como forma de redução dos custos de transação, do
que com o aproveitamento de economias externas.
5.3.1.3.2 Relacionamento entre empresas concorrentes
Até o ano de 1996, existia em Muriaé uma competição acirrada entre os
empresários. Porém, esse tipo de rivalidade veio diminuindo a partir de então. Os
motivos para a redução dessa rivalidade estão ligados, de certa forma, à abertura de
mercado na década de 1990 e a conseqüente entrada de produtos estrangeiros; a
organização de outros pólos concorrentes, principalmente do Estado dos Estados de
Minas Gerais e Rio de Janeiro; ao crescimento desordenado do número de confecções
em Muriaé a partir de 1994; aos problemas relacionados à guerra fiscal entre os Estados
brasileiros, principalmente em relação ao Rio de Janeiro e ao Espírito Santos.
A partir de então, os empresários começaram a tomar consciência da
necessidade de desenvolverem estratégias em conjunto para enfrentar os problemas, tais
como a criação da central de pronta-entrega e a formação de consórcio de exportação.
Tais iniciativas abriram espaço para discussão entre os empresários. Hoje, grande parte
deles acredita que um ambiente de acirrada concorrência e rivalidade entre as empresas
da localidade não pode ser considerada saudável, sendo necessário desenvolver
estratégias para reduzir essa competição.
Alguns esforços pelas agentes de animação – a partir de 2005 – de modo a
aumentar a parceria entre concorrentes, no sentido de despertar o interesse pela
cooperação, estão relacionadas com: a) o incentivo em participação em feiras
especializadas no setor, em que o expositor está levando catálogos de produtos
desenvolvidos em comum com os concorrentes; b) troca de informações por meio de
reuniões e fóruns desenvolvidos em Muriaé; c) ações conjuntas para capacitação de
mão-de-obra, por meio da escola de treinamento que está sendo gerenciada pelo
CONDESSC, que além de envolver os concorrentes, envolve também o apoio de
fornecedores locais; d) incentivo à formação de um consórcio de exportação e; e)
utilização de equipamentos do SENAI, como o CAD, por empresas concorrentes.
Apesar dos esforços no sentido de buscar maior cooperação entre eles, a rede de
relações sociais dos empresários do arranjo produtivo de confecções de Muriaé e Região
não tem se traduzido ainda, de forma importante, em um conjunto de ações cooperadas
com vistas a enfrentam as dificuldades comuns. Segundo o presidente do CONDESSC,
147
os empresários, em geral, participam relativamente pouco das associações e fóruns
locais, na identificação de fontes e formas de financiamento e na organização de eventos
técnicos e comerciais, relacionados ao setor do vestuário/confecções. Além disso, o
número de 75 empresas associadas aos órgãos de coordenação é baixo, em relação ao
número de empresas formais e informais em Muriaé.
Isso pode ser comprovado no trabalho de Souza (2005), quando ele mostra que
100% dos entrevistados não praticavam nenhum trabalho em conjunto, relacionado com
o Marketing, tais como: política de Marketing conjunta, pesquisa de Mercado, criação
de marca conjunta e avaliação das necessidades comuns. O autor mostra que a
dificuldade de cooperação entre os empresários está relacionada com a insegurança que
sentem em relação aos concorrentes.
Tais inseguranças podem ser traduzidas na falta de confiança entre os parceiros
no que se refere ao cumprimento dos compromissos assumidos em conjunto (65%) e na
falta de hábito de cooperação entre os empresários locais (54%).
De acordo com o Secretário Municipal de Cultura, essa falta de confiança está
relacionada com os aspectos históricos de formação dessas empresas. As empresas
surgiram num ambiente de intenso conflito entre elas, em que praticavam cópias de
produtos e concorrência acirrada em cima de preços de produtos.
5.3.1.3.3 Relacionamento dos fornecedores dentro do APL
De acordo com os empresários locais, os fornecedores de materiais e os de
máquinas e equipamentos são bastante atuantes no APL, estabelecendo boas relações
com as empresas do segmento central. Grande parte da matéria-prima e de insumos é
adquirida no local. Os resultados da pesquisa mostram que 46% dos tecidos, 73% das
etiquetas, 79% das tags, embalagens, aviamentos e embalagens e 100% dos laços e fitas
são adquiridos em Muriaé.
De acordo com os entrevistados, tais fornecedores trabalham com os melhores
preços e melhores prazos e políticas de desconto para compras a vista. 58% dos
entrevistados declararam que os preços dos fornecedores, na cidade de Muriaé,
conseguem ser melhores do que os das próprias matrizes. Além das trocas constantes de
informações técnicas sobre novos tipos de tecidos e aviamentos, principalmente quando
se trata de algum tipo de novidade (77% dos entrevistados) e desenvolvimento de
produtos em conjunto (19%).
148
Os fornecedores de máquinas e equipamentos prestam serviços de manutenção,
assistência técnica, desenvolvimento e adaptação de máquinas e equipamentos para a
realidade local. Esses fornecedores participam de encontros de empresários do
vestuário. De acordo com o principal fornecedor de máquinas do APL, a sua empresa
tem um serviço de atendimento às confecções que funciona 24 horas por dia.
Os entrevistados declaram adquirir máquinas e equipamentos no local. Segundo
eles, existe a parceira desses fornecedores em relação a troca de informações (100%);
desenvolvimento de produtos (62%); adaptação de máquinas à realidade das empresas
(54%); melhores prazos de pagamento (50%) e; assistência técnica (81%).
Os fornecedores locais também têm contribuído para a capacitação de mão-deobra local. Os fornecedores de máquinas e equipamentos cederam os maquinários para a
Escola de Capacitação de RH do CONDESSC e os fornecedores de materiais e insumos
forneceram gratuitamente tecidos e aviamentos.
5.3.1.3.4 Relacionamento das empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de
produtos e processos, Instituições de Pesquisa/Universidades
De acordo com o Presidente do CONDESSC, as médias empresas e cerca de
50% das pequenas empresas possuem departamento de P&D. Elas trabalham o
desenvolvimento de novos materiais, novos produtos – desenho e estilo, alterações de
características técnicas, elaboração de novos produtos - e novos processos de produção
– incorporando novos equipamentos na planta industrial e introduzindo novas técnicas
tais como utilização do CAD, just in time e células de produção.
De acordo com o IEL (2005), em termos de produtos, existem empresas que
criam os produtos, as que terceirizam a criação do produto e as que copiam o produto.
Segundo o Presidente do CONDESSC, a redução de cópias em Muriaé tem sido
provocada por estratégias de rápidas mudanças no design de produtos. Segundo ele, 20
empresas mudam suas coleções de 2 em 2 meses. Isso tem reduzido a cópia,
principalmente a cópia da tabela de preços.
Não há no APL empresas especializadas em P&D e nem intercâmbios com
Instituições de Pesquisa, como universidades que trabalham a pesquisa na área de
confecção. Porém, o SENAI, em Muriaé, tem desenvolvido algum trabalho nesse
sentido.
149
As principais fontes de informação utilizadas pelas empresas inovadoras são: a)
departamentos de P&D da empresa (31%); b) SENAI, por meio de consultorias
especializadas (46%); c) fornecedores de máquinas e equipamentos, na fase de
aquisição (46%); d) representantes de vendas (50%); e) publicações especializadas
(15,4%); f) congressos e feiras especializadas no país (38%).
O desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias se dá: a) por meio da
aquisição de máquinas compradas no mercado nacional (35%); b) em cooperação com
fornecedores de equipamentos (54%); C) em laboratórios de P&D da empresa (19%); d)
em cooperação com fornecedores de insumos (54%).
5.3.1.3.5 Relacionamento das empresas de treinamento e formação de mão-de-obra
No arranjo de Muriaé, a origem da mão de obra é local, porém pouco
qualificada. De acordo com o IEL (2005), os empregados são treinados na própria
empresa, outros provêm de trabalho domiciliar feitos anteriormente e apenas uma parte
dos trabalhadores são preparados pelos cursos técnicos existentes no SENAI. A
qualificação adquirida em geral é do tipo “learning by doing”, ou seja, chão de fábrica.
De posse dessa informação, o CONDESSC e o SENAI estão desenvolvendo
trabalhos direcionados à qualificação da mão-de-obra local. Assim, foi criada uma
escola profissionalizante em parceria com o SENAI, SEBRAE, Secretaria de
desenvolvimento e ADMR, junto ao projeto “Qualificação profissional em vestuário”.
Para seu funcionamento, conta com a participação dos empresários locais, que
contribuem com doações de tecidos e aviamentos. A Singer doou algumas máquinas e
os fornecedores locais prestam serviços de manutenção e assistência técnica. Também
foi criado o projeto da fábrica de estopa “Escolinha do Trapo” que, por meio de doações
de retalhos e aviamentos, confeccionam um tipo de flanela muito utilizada para limpara
carros e caminhões. A venda dos trapos é reinvestida em 50% na manutenção da escola
e 50% como pagamento (bolsa) para o pessoal.
O SENAI ainda oferece 6 cursos com ênfase em vestuário – costura industrial,
Cronoanálise, cortador de Confecção, Mecânico de Máquina de Costura; Modelagem
Infantil; Modelagem
Adulto – e o SEBRAE oferece cursos
de vendas,
empreendedorismo, atendimento ao cliente, produção, logística, recursos humanos,
finanças e contabilidade.
150
5.3.1.3.6 Relacionamento com os agentes de animação do APL
As ações de animação do APL têm sido desenvolvidas pela DRMR em conjunto
com a CONDESSC, com a ADMR e com o SEBRAE. Essas quatro instituições vêm
desenvolvendo atividades no sentido de proporcionar maior integração entre as
empresas do APL e entre essas e os órgãos públicos.
Essas instituições têm desenvolvido programas para articular o planejamento e a
coordenação das ações das empresas participantes do agrupamento, sendo ressaltados os
aspectos relacionados às novas possibilidades de criação e/ou adaptação de novas
tecnologias; políticas de treinamento e capacitação; conscientização quanto a:
ergonomia, higiene e segurança do trabalho e aspectos ecológicos e ambientais. Nessas
instituições existem 75 empresas associadas. Esse número é considerado pequeno
quando comparado com o número de empresas formais e informais em Muriaé.
5.3.2 O APL de São João Nepomuceno
O município de São João Nepomuceno localiza-se na região sudeste de Minas
Gerais na Zona da Mata, fazendo parte da microrregião de Juiz de Fora62, delimitando
com a fronteira do Estado do Rio de Janeiro. Esse município começou a se formar no
século XIX, mais especificamente, em 1811 e emancipou-se em 1880.
Até o final do século XIX, a região viveu da agricultura e pecuária de
subsistência. No final desse século, a cultura de subsistência deu lugar a produção
exportadora do Café. E, ainda, em 1894 foi fundada a Companhia de Tecidos Mineiros
– mais tarde passou a se chamar Companhia de Tecidos Sarmento – que se transformou
numa grande empresa verticalizada, empregando grande parte da população que vivia
na cidade. A produção exportadora do Café e a fundação da indústria trouxeram a
Ferrovia e a Energia Elétrica.
Com a crise do Café, a partir de 1930, parte da população voltou para a produção
agrícola de subsistência e para a produção de gado. Nessa época a Companhia de
Tecidos cresceu de importância, absorvendo a mão-de-obra disponível na cidade.
62
Fazem parte desta região os municípios de Santos Dumont, Santa Rita do Jacutinga, Rio Preto, Belmiro
Braga, Simão Pereira, Santana do Deserto, Chiador, Mar de Espanha, Olaria, Lima Duarte, Pedro
Teixeira, Bias Fortes, Santa Rita do Ibitinga, Ewbank da Câmara, Aracitaba, Oliveira Fortes, Paiva, Piau,
Coronel Pacheco, Descoberto, Rio Novo, Chácara, Bicas, Rochedo de Minas, Maripá de Minas, Guarará,
Senador Cortes, Pequeri, Matias Barbosa e Goianá, formando a maior microrregião da Zona da Mata,
tendo como núcleo urbano mais importante a cidade de Juiz de Fora.
151
Com o crescimento e fortalecimento da Sarmento, outras industrias e comércios
foram atraídas para a cidade. Dentre essas, destacaram as fábricas de calçados, de
macarrão, de cerveja, de manteiga e de resfriamento de leite, de meias, de ferradura e de
fundição de ferro e bronze. Com a crise da Sarmento ao longo da década de 1960, foram
surgindo as primeiras confecções. Hoje, a confecção é reconhecida como a principal
atividade econômica da cidade.
A população de São João Nepomuceno é de 25.261 habitantes, em 2005. Desse
total, 93,89% estão localizados na zona urbana e apenas 6,11% na zona rural (IBGE,
2005), apresentando um crescimento médio anual de 1,24%, no período de 2000-2005.
Segundo a base de dados da Fundação João Pinheiro (2004), o município, no ano
de 2004, apresentou um PIB a preços correntes de R$ 117.550,99 milhões e um PIB per
capta de R$ 4.628,60. Comparando esse PIB com os das demais cidades da
microrregião de Juiz de Fora, percebe-se que São João Nepomuceno ocupa o quarto
lugar, com uma participação de 2,46% em relação ao total do PIB da microrregião,
conforme a Tabela 29. Percebe-se que o PIB per capta é muito baixo, quando
comparado com o PIB per capta da região e da média do Estado.
Tabela 29. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e
PIB/habitantes, por setor de atividade econômica, segundo microrregiões –
Minas Gerais – 2004 (R$ 1.000,00)
PIB a preços correntes (2004)
PIB/hab
Localidade
PIBpm
agropecuário
Minas Gerais
Microrregião
São João
Nepomuceno
Juiz de Fora
Santos Dumont
Matias Barbosa
Bicas
Lima Duarte
Mar de Espanha
industrial
serviços
População
(R$1,00)
Total (1)
13.697.698
56.177
68.921.655
2.056.025
73.556.254
2.657.801
156.175.607
4.770.002
166.586.327
5.034.367
18.993.720
619.717
8.771
8.124
7.494
19.326
10.274
3.295
2.789
8.911
4.088
38.543
1.788.895
159.215
24.697
16.205
15.954
12.516
71.514
2.188.238
136.079
158.045
42.274
35.947
25.702
117.551
3.996.459
305.567
186.038
61.269
60.812
42.306
115.687
4.235.535
301.952
219.649
58.724
60.039
42.780
24.994
493.121
47.725
13.025
13.590
16.255
11.007
4.629
8.589
6.327
16.864
4.321
3.694
3.887
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2004)
Fazendo a análise do PIB ao longo dos anos, por meio dos dados da Tabela 30,
percebe-se que este PIB tem mostrado crescimento significativo a partir de 1999. De
acordo com o IEL (2007), este crescimento está relacionado ao desempenho da indústria
do vestuário, que comparada com o total das indústrias de vestuário do Estado, esta
representa 2% dos estabelecimentos e 3,4% do emprego formal.
152
Tabela 30. Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes e a preços de mercado e
PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade de São João
Nepomuceno no período de 1999 a 2004
PIB a preços correntes
Ano
1999
2000
2001
2002
2003
2004
agropecuário
industrial
serviços
Total (1)
4.787,84
4.916,38
4.844,08
5.432,04
5.996,11
7.494,08
27.082,44
31.433,16
33.860,61
33.055,77
35.692,76
38.542,68
46.287,80
50.343,93
55.940,38
60.492,56
66.158,36
71.514,24
78.158,08
86.693,46
94.645,07
98.980,36
107.847,24
117.550,99
PIBpm
População
77.572,78
86.478,38
93.774,77
96.832,87
105.601,72
115.687,14
25.824
23.938
24.199
24.462
24.728
24.994
PIB(pm)/hab.
(R$1,00)
3.003,90
3.612,60
3.875,15
3.958,50
4.270,53
4.628,60
Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Fundação João Pinheiro (2004)
5.3.2.1 Evolução histórica da indústria de tecidos às confecções de roupas
A origem da indústria de vestuário em São João Nepomuceno remonta à década
de 70 e está relacionada com a história da Companhia Fiação e Tecido Sarmento, a
primeira grande indústria que se instalou na cidade em 1894 e que, até a década de
1960, era considerada a principal fonte de renda da população.
No início da década de 1960, a Sarmento começou a apresentar crises
provocadas por problemas administrativos e tecnológicos. Com o surgimento de
indústrias com tecnologias mais modernas, a firma ficou desatualizada, ficando fora da
competição de mercado, uma vez que não tinha como fazer frente à concorrência.
Como conseqüência das crises, que iniciaram em 1962 e se estendeu até a venda
da massa falida em 1973, houve grande número de desemprego na cidade, atrasos no
pagamento de empregados e até mesmo o pagamento por meio de tecidos. Muitos
empregados trocavam os tecidos por dinheiro e alimentos na zona rural e nas cidades da
região. Outros transformavam os tecidos em vestuário, por meio do trabalho das donas
de casa, vendendo um produto com maior valor agregado e arrecadando maior volume
de dinheiro. No início elas fabricavam enxovais para bebês e aos poucos começaram a
produzir roupas para crianças e mulheres.
A partir de então, em meio às sérias dificuldades enfrentadas pela Companhia
Fiação e Tecidos Sarmento, pequenas fábricas de roupas despontaram como resposta à
situação crítica que se estava vivendo. Essas confecções começaram com as donas de
casa, de forma doméstica, sem experiência, seguindo, muitas vezes, a intuição e o
espírito empreendedor. Essas donas de casa, utilizando de uma máquina de costura
153
caseira e do conhecimento de costura aprendido ainda na infância, começaram a
confeccionar peças de roupas para vender, para garantir a sustentabilidade da família.
Após a fabricação das peças, os próprios membros das famílias se encarregavam
de oferecer os produtos em zonas rurais e em outras cidades da região. Com as
sucessivas vendas, e a entrada de dinheiro proveniente de outras cidades da região, os
pequenos negócios começaram a crescer, agregando outros membros das famílias, que,
aos poucos foram aprendendo o ofício da costura.
Com o crescimento das confecções, provocado pelo aumento da procura pelos
produtos, principalmente pelas cidades da região, surgiu a necessidade de contratação
de pessoas externas e ainda o serviço de vendas passou a ser feito por meio de
representantes. Esses representantes tiveram um papel decisivo para a divulgação do
nome da cidade, uma vez que, além de vender os produtos para as cidades da região,
alcançavam também outras regiões do Estado e, até mesmo, outros Estados.
Assim, durante a década de 1960 e início da década de 1970, existiam três
elementos importantes para o desenvolvimento das confecções: a fornecedora de
tecidos63, as pequenas confecções e os representantes comerciais que trabalhavam com
mostruários de produtos das confecções e tiravam pedido de venda.
Em virtude da baixa barreira à entrada e a facilidade de comercialização de
produtos, por meio de representantes comerciais e, ainda, os resultados de sucessos das
confecções existentes, fizeram com que outros empresários e ex-empregados da
Sarmento abrissem seus próprios negócios, aumentando o número de confecções em
São João Nepomuceno. Geralmente produziam produtos similares, com muita cópia de
produtos, concorrendo por meio de preços.
Neste período, o tipo de organização predominante passou a ser do tipo
horizontal, ou seja, por meio de um agrupamento de micro e pequenas empresas que
confeccionavam produtos para a venda. Essas firmas agiam de forma completamente
independente, internalizando as etapas de produção, ou seja, não aproveitavam as
economias externas que poderiam ser obtidas por meio da especialização. Na verdade,
havia um agrupamento de empresas que acabavam estabelecendo uma relação de
concorrência acirrada, obedecendo a uma lógica meramente funcional. Os critérios de
63
A partir da falência da Grande Firma Sarmento, em 1973, as confecções começaram a adquirir tecidos
em outras localidades, principalmente no Estado de São Paulo.
154
localização estavam relacionados ao fato das famílias morarem na cidade; o acesso a
mão-de-obra disponível e; o reconhecimento da localidade em nível nacional.
5.3.2.1.1 O desenvolvimento das confecções a partir dos anos 80
No início dos anos 80, algumas ações no sentido de proporcionar maior
integração entre as indústrias foram desenvolvidas por meio da estruturação de um
consórcio de exportação (CONFEX), envolvendo confecções especializadas na
fabricação de roupas infantis, assessorado pelo nascente Centro Brasileiro de Apoio à
Pequena e Média Empresa (CEBRAE), Centro de Apoio a Pequenas e Médias Empresas
de Minas Gerais (CEAG-MG) e com o apoio da Associação Comercial do município.
Porém, as estratégias mercadológicas adotadas pelo consórcio, por meio de
apresentação de mostruário no exterior, sem uma pesquisa prévia de mercado, acabaram
não trazendo os resultados almejados, frustrando os participantes.
As empresas continuaram produzindo independentemente e, em virtude do
trabalho dos representantes das confecções de São João Nepomuceno, junto a Mesbla64,
fez com que este grande magazine conhecesse os produtos dessas confecções. Então, em
1982, a Mesbla se aproximou dessas empresas, estabelecendo vínculos, por meio de
contrato de compras, com as diversas confecções da cidade. Em virtude desse contrato
estabelecido junto a Mesbla, houve a redução das condições de concorrência acirrada
com base em preços e cópia de produtos.
A partir de então, todos os fabricantes passaram a concentrar suas vendas num
único cliente. Apesar da Mesbla não estabelecer residência no território, passou a
comandar a maioria das confecções de São João Nepomuceno com exclusividade. As
empresas então passaram a ser dependentes de decisões de uma hierarquia situada fora
da região, para as decisões ligadas a inovação de produtos, de tecnologia e processos. A
Mesbla é quem fornecia as especificações de produtos, qualidade e nível tecnológico de
máquinas e equipamentos. Em contrapartida, aos poucos os empresários renovaram suas
fábricas, adquiriram máquinas e equipamentos tecnologicamente modernos, adquiriram
know-how para trabalhar com diversos tipos de tecido – jeans, brim, sarja, entre outros.
64
A Mesbla foi uma loja de departamentos criada em 1924, no Rio de Janeiro. Suas lojas chegaram a
vender desde artigos para o lar e vestuário até automóveis e lanchas. Fechava grandes contratos de
fornecimento com as indústrias. Ela encerrou suas atividades em 1997 quando pediu concordata
(http://www.rsi.com.br/clientes/cliente.shtml?mesbla, acesso em 28 de novembro de 2007)
155
– capacitaram a mão-de-obra local e se especializaram na etapa de produção, uma vez
que as vendas de seus produtos de boa qualidade já estavam garantidos pela Mesbla.
Nesta mesma época surgiram muitas empresas informais para dar apoio, por
meio do processo de facção, às empresas formais, possibilitando o aumento do volume
de produção e, conseqüentemente, do volume de vendas, começando os primeiros
trabalhos de subcontratação e parceria entre empresas formais e informais no território.
Isso faz surgir pequenas relações de troca entre essas empresas na região. Porém, cabe
lembrar que a decisão de quanto produzir, como produzir, o tipo de produto e de
tecnologia era comandada pela grande empresa localizada fora do território.
Em meados dos anos de 1980, em virtude do crescimento do setor, aliado aos
problemas relacionados com os altos índices de inflação – que chegou a 225,16% a.a em
1985 -, e que se intensificou após o Plano Cruzado, houve a necessidade da criação de
uma associação de classe para que os empresários locais pudessem se reunir para
discutir os problemas enfrentados pelo setor, surgindo então a Associação das Indústrias
de Moda – ASSIMODA65, com 30 participantes. A ASSIMODA tinha como propósito
buscar alternativas para a organização das empresas e, ainda, conseguir linhas de crédito
e financiamento, já que a inflação alta acabava por reduzir o capital de giro das
empresas, em virtude da desvalorização da moeda entre os prazos de estocagem,
fabricação, entrega de produtos e recebimento de vendas.
Em virtude do aumento da produção de artigo em jeans lavado, em 1990 houve
a entrada na cidade da primeira lavanderia de jeans66, que passou a atender, com
serviços terceirizados a todas as confecções da cidade. Antes as empresas tinham que
enviar seus produtos para Juiz de Fora para que pudessem ser lavados. Com a instalação
dessa lavanderia na cidade, houve o aumento de produção de artigos em Jeans, atraindo
muitos turistas compradores e sacoleiras, que buscavam mercadorias para revender.
Outro fator de atração desses compradores era que São João Nepomuceno produzia para
a Mesbla, fato que era considerado como garantida de produto de qualidade.
Cabe ressaltar que durante a década de 1990 várias empresas fabricantes de
produtos complementares foram instaladas na cidade tais como: cinco lavanderias, três
empresas de bordado eletrônico, duas metalúrgicas, fábrica de cinto, além de um
65
Para Hélder Alves Furtado, empresário local, após o Plano Cruzado, quando a inflação bateu índices de
recordes, os confeccionistas tinham que trabalhar com o preço em aberto, uma vez que para amenizar a
perda de valor da moeda, o preço era acertado no dia do faturamento dos pedidos. Isso era válido para
tanto para as compras de materiais quanto para as vendas de produtos acabados.
66
Hoje existem 5 lavanderias na cidade.
156
número considerável de facções e pessoas que exercem trabalhos manuais, como
bordado e detalhes em couro. Além disso, há um fornecedor de máquinas e
equipamentos que fornece assistência técnica e manutenção. Tudo isso faz aumentar a
linkage territorial e, conseqüentemente, o aumento das relações de troca na região.
Em virtude do aumento de turistas compradores e sacoleiras na região, a
ASSIMODA fundou uma central de pronta-entrega das fábricas, que foi inaugurada em
1993, denominada Center Modas, mais conhecida como Shopping das Fábricas, com 30
lojas. O Center Modas funciona até hoje, disponibilizando a clientes de várias cidades e
estados, produtos de qualidade no atacado e varejo, a preços competitivos.
Em 1994, a ASSIMODA foi substituída pelo Sindicato das Indústrias do
Vestuário de São João Nepomuceno - SINDIVEST. O SINDIVEST teve por objetivo
atuar como prestador de serviços comuns e como catalisador do processo de
desenvolvimento, no sentido de viabilizar projetos coletivos entre as empresas,
explorando as várias alternativas e potencialidades de crescimento. Esse sindicato
passou a oferecer serviços que contribuíam para o desenvolvimento de seus associados
como convênios, cursos, palestras, parcerias, consultorias entre outros.
Em 1996, o setor de confecção de São João Nepomuceno enfrenta um momento
de crise, considerado pelos entrevistados como a pior crise enfrentada desde o drama
ocasionado pela decadência da Sarmento. Essa crise foi provocada pela falência da
Mesbla. Com isso, grande parte das empresas da cidade foi atingida por falta de
pagamento por parte do magazine.
Essa crise foi intensificada pela própria imprensa, conforme depoimento do
empresário local. Segundo ele, na ocasião do fechamento do magazine, alguns jornais
de circulação nacional publicaram reportagens dizendo que a cidade estava à beira do
abismo e que a ruína seria inevitável. Isso fez com que as vendas realizadas para outros
compradores também caíssem, uma vez que os turistas compradores e os sacoleiros
buscaram outros locais para realizar suas compras. Com isso, muitas empresas fecharam
suas portas e as remanescentes buscaram outras estratégias.
Neste período, os empresários remanescentes perceberam a necessidade de
juntar esforços para enfrentar a crise e, junto com o SINDIVEST, começaram a
desenvolver estratégias de sobrevivência. Como não havia marcas das empresas na
região, a solução seria buscar empresas famosas que estariam dispostas a produzir suas
roupas em São João Nepomuceno. Porém, os empresários já não mais queriam
157
concentrar a produção nas mãos de um único cliente. Assim, começaram a produzir para
várias empresas de grife tais como Zoomp, Triton, Fórum, Cantão e outros.
Em 2000, a Prefeitura Municipal de São João Nepomuceno, em conjunto com a
Associação Comercial e o SINDIVEST e o SEBRAE – que ainda não tinha escritório na
cidade, mas já desenvolvia trabalhos em conjunto com o SINDIVEST desde 1999 –
realizaram o PRODER 2000 (Plano de Desenvolvimento do Município).
Em 2001, foi criada a Agência de Desenvolvimento regional com a finalidade de
promover a aglutinação de instituições públicas e entidades de classe de empresas e da
sociedade, buscando o desenvolvimento sustentado para a cidade e região. A partir de
então, a agência tem promovido palestras, encontros, cursos e diagnósticos locais.
Em 2004, após os resultados do Diagnostico da Indústria do Vestuário de São
João Nepomuceno, mostrando que a cidade reúne potencial para o desenvolvimento de
um arranjo produtivo local, o SEBRAE se instalou na cidade, com um escritório. Isso
tem permitido maior contribuição desse órgão para as empresas locais, por meio de
fornecimento de informações, promoção de cursos direcionados a empresa do setor e
auxílio no fortalecimento e solidificação das empresas do APL. Além disso, o SEBRAE
tem auxiliado o SINDIVEST nos trabalhos de coordenação do arranjo.
Um dos trabalhos desenvolvidos pelo SEBRAE em conjunto com o SINDIVEST
está relacionado com a busca de uma marca própria para os produtos da região, de modo
a reduzir a participação do volume de produtos direcionados às grifes e aumentar a
participação do volume de produtos com marca local. Esse trabalho teve como marco o
trabalho realizado em 2004 na tentativa do lançamento de novos produtos como
estratégia de conquista de mercados.
Hoje o SEBRAE, em conjunto com a Agência de Desenvolvimento, o
SINDIVEST e o Sistema FIEMG (FIEMG, IEL, SESI, SENAI), está engajado no
sentido do fortalecimento do arranjo produtivo de São João Nepomuceno. Em 2007 foi
realizado o Diagnóstico de Gestão das Indústrias do Vestuário de São João
Nepomuceno, que teve por finalidade investigar as diversas formas de gestão adotadas
nas empresas, oferecendo subsídios para a adoção de ações que visem o
desenvolvimento do setor.
5.3.2.2 Estrutura atual do arranjo produtivo de São João Nepomuceno
A estrutura do arranjo produtivo de vestuário de São João Nepomuceno,
158
representado na Figura 31, possui 6 atores principais: a) as empresas do segmento
central, representadas pelas confecções; b) as Atividades Conexas, representada pelo
fornecedor de máquinas e equipamentos; c) as Atividades Complementares
representadas pelas empresas que prestam serviços às confecções tais como lavanderia,
modelagem, costura, estampagem, bordados, design, fundição, fábrica de cintos,
acessórios e outros; d) Estrutura de apoio e animação representada pelo SINDVEST,
Sistema FIEMG, SEBRAE e Agência de Desenvolvimento Regional (ADR); e)
aperfeiçoamento e pesquisa representada pelo SENAI, SEBRAE e Universidade Federal
de Juiz de Fora; f) prestadores de serviços gerais o APL representados pelos Bancos –
Banco do Povo, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bancos Privados –,
escritórios de contabilidade, serviços de segurança e transporte.
Atividades Conexas
Fornecedor
Maquinas
Atores
Locais
Estruturas de apoio
e de animação
Sindivest,
SEBRAE,
FIEMG, ADR
Empresas do
Segmento
Confecção
Atividades
Complementares:
Lavanderia, Bordados,
Estampagem etc.
Serviços
Bancos
Contabilidade
Consultorias
Especializadas
Transporte
Segurança
etc.
Estruturas de Formação,
Aperfeiçoamento e de Pesquisa
SEBRAE, FIEMG, SENAI,
UNIPAC
Figura 31. Estrutura do Arranjo Produtivo de Vestuário de São João Nepomuceno
Fonte: Adaptação de Fonseca Netto (2002)
5.3.2.2.1 As empresas centrais do processo produtivo
As confecções do arranjo produtivo são em sua maioria micro e pequenas
empresas. De acordo com o SEBRAE, o pólo é constituído, hoje, de 27067 empresas –
97 formais e 173 informais. Há 253 microempresas – abrangendo as 173 informais e 60
67
Dados informados pelo SEBRAE-MG em 16 de março de 2007. De acordo com o SEBRAE, o número
apresentado pelo Diagnóstico levantado em 2003, de 350 empresas, sofreu quedas significativas,
principalmente em relação as empresas informais, em virtude do aumento da concorrência tanto nacional
quanto internacional.
159
formais –, 35 empresas de pequeno porte e 2 empresas de médio porte68. Esse pólo gera,
aproximadamente, 6.000 empregos diretos e indiretos. Das empresas formais, 60
trabalham com a atividade de confecção.
O processo produtivo do segmento do vestuário de São João Nepomuceno é
esquematizado na Figura 32. No geral, o fluxo de produção segue as seguintes etapas: a)
a matéria-prima tecido é enviada para o setor de organização e corte, Onde a produção é
organizada - levando em consideração os moldes criados a partir de um protótipo,
adequados as proporções do mesmo aos diversos tamanhos e, com o auxílio do CAD,
ocorre o encaixe das peças de modo a reduzir as sobras – e o corte dos produtos; b) após
o corte, as peças podem seguir dois destinos, ou serão encaminhadas para a etapa de
bordados e encaminhadas posteriormente para a costura, ou são encaminhadas
diretamente para a costura. Na costura, a peça recebe aviamentos, rendas, elásticos etc.;
c) após a costura, as peças geralmente seguem para a lavanderia para o beneficiamento
do produto, ou então seguir para a etapa de acabamento; d) após o beneficiamento do
produto, este pode seguir para o setor de acabamento ou, quando se trata de bordados
especiais, podem passar primeiro pelo setor de bordados antes de seguir para a etapa de
acabamento. Na etapa de acabamento, as peças recebem etiquetas, zíperes, botões,
rebites, gravações, fitas etc.; e) depois de acabadas, elas seguem para o setor de
inspeção e embalagem; f) depois de embaladas, as peças são distribuídas para lojas
próprias ou para atendimento de clientes de grifes.
Aviamentos
Rendas,
Elásticos
Entrada de
Matéria
Prima e
acessórios
Tecido
Organização
e corte
Etiquetas,
enfeites, etc
Costura
Embalagens
Acabamento
Inspeção e
embalagem
Expedição
Lavanderia
Bordado
Figura 32. Diagrama do processo produtivo da indústria do vestuário de São João
Nepomuceno
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo
68
As duas empresas de médio porte são duas lavanderias que prestam serviço de lavagem de jeans às
empresas do APL.
160
Cabe ressaltar que as atividades de costurar, bordar e lavar têm sido
desempenhadas por empresas especializadas. No caso da facção, as empresas recebem o
tecido cortado e os aviamentos necessários. 15 empresas possuem bordadeiras
mecânicas. As demais que fazem uso de bordados utilizam serviços das 3 empresas
especializadas, em virtude do preço de aquisição e de manutenção dessa atividade
dentro da empresa. Todas as empresas do arranjo, que produzem artigos que necessitam
de lavagem de beneficiamento de produto, utilizam os serviços de firmas especializadas,
ou seja, das cinco lavanderias de São João Nepomuceno.
O mix dos principais produtos confeccionados é focado essencialmente na
fabricação de bermudas; jaquetas, shorts, calças jeans e saias. Pode-se perceber, por
meio da Figura 33, que o arranjo tem como “Carro-chefe” a produção de bermudas e
calças jeans, ocupando 73% e 68% respectivamente. Esse mix foi detectado na pesquisa
de campo, em que 70% dos entrevistados declararam trabalhar com artigos em Jeans.
Essa diversificação da produção proporciona alguns benefícios, cabendo citar o maior
aproveitamento da matéria prima e ampliação do campo de trabalho para profissionais
especializados em designers, principalmente a partir do ano de 2005. No entanto, a
maioria das empresas fabrica o mesmo mix. As empresas tendem a verticalizar a
maioria de suas atividades.
Bermuda
73,40%
Calça Jeans
68,09%
Saia
62,77%
Outros
22,34%
Camisas
21,28%
Jardineiras
Vestido
4,26%
1,06%
0%
50%
100%
Figura 33. Principais linhas de produtos do Arranjo Produtivo de São João
Nepomuceno
Fonte: IEL, 2003a
Cabe ressaltar que, praticamente, não há cópia de produtos no APL. Isso se deve
ao fato das confecções produzirem sob encomenda, obedecendo às especificações e
modelos apresentados pelas grifes e grandes magazines. Na pesquisa, pode-se detectar
que 85% do volume de produção são direcionadas para marcas de grifes famosas. Em
relação ao volume de produção com marcas próprias, cada empresa tem buscado
161
diferenciar os seus produtos dos concorrentes, de modo a obter maior liberdade de
formação de preços dos produtos.
Em relação aos concorrentes internacionais, os entrevistados afirmam que é
notória a presença desses concorrentes no mercado. A partir da entrada de produtos
chineses, na área de confecção, houve uma redução do volume de vendas das empresas
formais, que acabam reduzindo o volume de produção a ser faccionada e,
conseqüentemente, o número de pessoas trabalhando. Isso provocou uma queda no
número de empresas do setor. Em 2003 eram 350 empresas em São João Nepomuceno e
região. Em 2006, esse número caiu para 270. Segundo o SEBRAE, basicamente houve
o fechamento de empresas informais. As remanescentes, geralmente, conseguem
sobreviver prestando serviços de facção para outras empresas de outras regiões.
Para enfrentar essa concorrência externa, as empresas contam com a
diferenciação do produto por meio da qualidade do produto (70% dos entrevistados),
compromisso com o prazo de entrega (100% dos entrevistados) e a criatividade em
design (30% dos entrevistados). Todos eles afirmam que a concorrência por meio de
preços é muito difícil em virtude da carga tributária dos produtos brasileiros,
principalmente do Estado de Minas Gerais.
5.3.2.2.2 Estrutura de apoio ao processo produtivo
A Estrutura de apoio ao processo produtivo é formada pelos fornecedores de
máquinas e equipamentos (atividades conexas), os prestadores de serviços (atividades
complementares e de serviços), e as entidades de capacitação (Estrutura de Formação,
Aperfeiçoamento e Pesquisa).
Fornecedores de Máquinas e equipamentos
Há, no arranjo de São João Nepomuceno, um fornecedor de máquinas e
equipamentos de confecção. Esse fornecedor presta serviços de representante de
grandes fabricantes, de assistência técnica e manutenção dessas máquinas.
Atividades Complementares e de serviços
Existem no APL empresas de prestação de serviços e pessoas prestadoras de
serviços especializados. Esses prestadores de serviço podem ser divididos em duas
categorias: os prestadores de serviços específicos para o segmento e os prestadores de
162
serviços gerais. Os prestadores de serviços específicos são: as empresas ou profissionais
de consultoria de moda, empresas de consultoria em processos produtivos (consultores
independentes e o SENAI), empresas ou profissionais especializados em design,
prestadoras de serviços de lavanderia, prestadoras de serviços de bordado mecânico;
prestadoras de serviços de detalhes em couro; pessoas prestadoras de serviço de
bordados artesanais (manuais); empresas prestadoras de serviço de facção; empresas e
pessoas prestadoras de serviço de mecânica de máquinas. Os prestadores de serviços
gerais são: empresas prestadoras de serviços de transporte; transportadoras, assessoria
de imprensa, serviços de contabilidade, gráfica e informática.
Estrutura de Formação, aperfeiçoamento e de pesquisa
As instituições de capacitação existentes no APL são: o SENAI e o SEBRAE. O
SENAI tem por objetivo melhorar a qualificação dos trabalhadores do arranjo de São
João Nepomuceno. Tem sede própria e conta com salas de aula e um escritório. Conta
com instrutores que dão aula, consultoria e atendimento ao sistema CAD. O centro de
treinamento oferece 4 cursos com ênfase em vestuário (costura; modelagem;
programação de produção; mecânico de máquina de costura) Prestam serviços de Risco,
Molde, CAD, Desenvolvimento de produtos. O SEBRAE/MG em São João
Nepomuceno funciona desde o ano de 1999, porém, o escritório foi montado em 2004.
A instituição oferece treinamentos, consultorias individualizadas e programas para a
melhoria dos processos gerenciais, o desenvolvimento das habilidades de liderança e do
comportamento
do
empreendedor.
O
SEBRAE
oferece
cursos
de
vendas,
empreendedorismo, atendimento ao cliente, produção, logística, recursos humanos,
controle financeiro e contabilidade.
Existe também, na cidade, a Universidade Antônio Carlos - UNIPAC, que
oferece o curso de Administração, desde o ano de 2005.
5.3.2.2.3 Estrutura de apoio e animação do arranjo de São João Nepomuceno
Há, na cidade de São João Nepomuceno, importantes agentes voltadas para as
atividades específicas do setor de vestuário, tais como, centros de treinamento, serviços
tecnológicos, sindicatos patronais e de trabalhadores, entre outros. A Tabela 31
apresenta as principais entidades de apoio e coordenação do APL.
Como não há uma empresa de coordenação do APL de São João Nepomuceno,
163
as ações de animação são desenvolvidas pelo SINDIVEST, em parceria como
SEBRAE. Todas as empresas de confecção, formais, são Sindicalizadas.
Cabe ressaltar que, apesar da literatura mostrar que a participação do governo
local é de suma importância para o desenvolvimento do APL, os relatos obtidos na
pesquisa mostram que a atuação do governo local é pouco expressiva. No entanto, para
fazer tal afirmativa, deveria ser desenvolvido um trabalho mais direcionado no sentido
de apurar o papel de cada agente no APL e a avaliação de resultados dessa participação.
Tabela 31. Campo de atuação e contribuição das entidades integradas ao arranjo de São
João Nepomuceno
Entidade
SEBRAE
Campo de atuação
Desenvolvimento de empresas de
pequeno porte
SESI/SENAI
Capacitação para o Trabalho na
indústria
FIEMG
Mobilizador da integração e articulação
dos Sindicatos e empresas do setor
industrial com os poderes constituídos
e os diversos segmentos da sociedade
Promotor do desenvolvimento e da
inovação da indústria mineira, por
meio da articulação e integração entre
os setores industrial, governamental,
educacional e de P&D
Catalisador do processo de
desenvolvimento e viabilizador de
projetos coletivos entre empresas.
IEL/MG,
SINDIVEST
Agencia de
desenvol.
Regional
UFJF
UNIPAC
Associação de
Lojistas
Associação
Comercial
Banco do
Povo
Bancos
Promotor da aglutinação de Instituições
Públicas, de Entidades de Classe, de
Empresas e da Sociedade, visando
liderar o desenvolvimento sustentado.
Centro de ensino, pesquisa e extensão
Curso superior em Administração e
Normal Superior
Fortalecimento de lojas para exposição
e venda de produtos
Fortalecimento do comércio local
Microcrédito
Fornecimento de crédito e
financiamento
Fonte: Dados da pesquisa.
164
Contribuição para o APL
- Promove de cursos de capacitação; facilita o
acesso ao crédito; estimula a cooperação entre
as empresas; fornece consultoria.
- Treinamento de mão-de-obra para a
indústria, oferecendo cursos específicos para
aos seguimentos da indústria do APL;
- Serviços de Risco, Molde, CAD, aldacis e
Desenvolvimento Produtos.
- Serviços: assessorias e consultorias
econômica, tributária, trabalhista e jurídica;
relações sindicais; meio ambiente; promoção
de negócios; e financiamento.
- Produz o máximo de integração, sinergia e
eficiência na identificação de demandas e
ofertas de conhecimento e tecnologias para
atingir a premissa de tornar competitiva a
indústria de São João Nepomuceno..
- Desenvolvimento gerencial e industrial do
setor, por meio da implementação do projeto
estrutural do APL em parceria com o
SEBRAE-MG, o Sistema FIEMG e o MDIC.
- Desenvolvimento de palestras, encontros,
cursos, diagnósticos, planejamento, de modo a
contribuir para o processo de desenvolvimento
sustentável na cidade e Região.
- Pesquisa de novos produtos e de novos
processos produtivos.
- Formação de pessoas na área de gestão de
empresas do APL.
- Construção e gerenciamento do CENTERMODAS, que é o espaço para a venda de
produtos da indústria do APL a consumidores
finais, lojistas e sacoleiras.
Representação no comércio com apoio
institucional
Propicia crédito às empresas do APL, por
meio de empréstimos, troca de cheques
Propicia crédito e financiamento diferenciados
para as empresas do setor
5.3.2.2.4 Principais clientes do Arranjo produtivo de São João Nepomuceno
Os clientes potenciais das empresas do setor se localizam em grande parte nos
Estados do Rio de Janeiro, como o maior comprador. O Estado de São Paulo é o
segundo maior comprador da produção de São João Nepomuceno, seguido de Minas
Gerais, Espírito Santo, Nordeste, Rio Grande do Sul e Paraná. A forma de escoar a
produção é por meio de empresas de grifes famosas, que confeccionam peças em São
João Nepomuceno e por representantes comerciais que revendem os produtos para as
lojas dos principais Estados consumidores. Os resultados das entrevistas mostraram que
85% do volume de produção é direcionado aos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Em relação à exportação, apenas uma empresa tem exportado seus produtos. Na
verdade, esta empresa tem produzido para uma marca internacional. Cerca de 80% da
produção é comprometida com este único cliente.
Quanto à visitação e exposição em feiras setoriais, os estudos até então
desenvolvidos no APL e os relatos de dirigentes dos agentes de apoio, mostram que a
participação das empresas do arranjo ainda é pouco freqüente. Os resultados da pesquisa
mostraram que 35% dos entrevistados expõem seus produtos em feiras nacionais
(Figura 34). Se for comparado com o percentual de expositores levantados pelo IEL
(2003a), houve um crescimento significativo, já que em 2003, o número de expositores
era de 5% dos produtores do APL. No entanto, o valor encontrado está próximo da
pesquisa realizada pelo IEL (2006) que mostra que em 2006 38% dos fabricantes
participaram como expositores em feiras. Segundo Souza (2005), a não exposição em
feiras faz com que a empresa perca oportunidades de negócios, seja através do contato
com inovações e novidades do setor ou conquista de novos clientes e fornecedores.
Participação em feiras
60%
Feiras Locais
35%
Feiras em outras cidades
35%
50%
40%
Feiras em outros Estados
Feiras em Outros Países
25%
10%
0%
0%
Visitantes
Expositores
100%
Figura 34. Participação em feiras
Fonte: IEL, 2003a
165
5.3.2.3 A dinâmica do Arranjo Produtivo de São João Nepomuceno e as formas
de cooperação
5.3.2.3.1 Relacionamento entre as empresas especializadas dentro do APL
De acordo com as informações obtidas junto ao SEBRAE, em relação asa
atividades de produção, há serviços terceirizados, com maior ênfase, no bordado,
facção, costura parcial e lavanderia e, com menor ênfase, na modelagem, corte, cós e
serviços de design (Figura 35).
55%
50%
Facção
Costura parcial
40%
Design
Costura total
CAD
Bordado
Corte
Modelagem
Embalagem
Cós
Etiqueta
30%
25%
20%
15%
15%
15%
15%
10%
0%
50%
100%
Figura 35. Itens terceirizados nas atividades de produção das empresas de São João
Nepomuceno
Fonte: Dados da pesquisa.
Em relação às atividades mais gerais, os serviços os serviços que são mais
terceirizados pelas empresas são: transporte, representação e contabilidade (Figura 36).
95%
representação
70%
Contablidade
40%
Segurança
Manutenção
Transporte
20%
15%
0%
50%
100%
Figura 36. Serviços gerais terceirizados pelas empresas de São João Nepomuceno
Fonte: Dados da pesquisa.
166
A facção, por exemplo, é uma prática existente desde o início das relações entre
as confecções de Sãojoanenses com a Mesbla. Essa prática é usada como forma de
reduzir os gargalos de produção, provocados pelo aumento da demanda pelos produtos
de uma determinada confecção, em que são contratadas facções na forma de
microempresas e de trabalhadores em domicílio. A finalidade principal dessa facção
sempre foi atender a demandas pontuais, em que, os investimentos em máquinas,
equipamentos, espaço físico e pessoas, não compensariam. Isso explica a redução do
número de empresas informais nos últimos anos em virtude do aumento da entrada de
produtos concorrentes chineses.
Quando há pedidos específicos, que precisam ser faccionados e os
subcontratados não possuem máquinas específicas e/ou conhecimentos necessários para
trabalhar determinados tecidos ou formas de faccionar, os subcontratantes fornecem
treinamento a trabalhadores e, em alguns casos, até empréstimos de máquinas e
equipamentos e serviços de manutenção e transporte de produtos. Isso foi detectado no
depoimento de 30% dos entrevistados que afirmaram que já emprestaram máquinas e
equipamentos de costura e deu treinamento a mão-de-obra. No entanto, esses mesmos
entrevistados disseram que há uma tendência a reduzir essas práticas em virtude do grau
de exigência de padrões de qualidade requeridos pelos clientes, aumentando a
necessidade de controle sobre a produção.
Em relação à terceirização é importante ressaltar que, por um lado, existem
empresas que possuem máquinas e equipamentos com tecnologia considerada moderna
e, por outro lado, empresas com máquinas simples. Isso tem dificultado o trabalho de
facção, conforme o depoimento de 40% dos entrevistados. Isso pode estar contribuindo
para que as empresas se preocupem mais com a verticalização interna da produção,
como forma de redução dos custos de transação, do que com o aproveitamento de
economias externas.
Outros tipos de especialização que tem ocorrido desde a década de 90, estão
relacionados com as atividades de lavagem de roupas, a estampagem e o bordado
eletrônico. Hoje, existem 5 lavanderias e 3 empresas especializadas em bordado
eletrônico, 2 metalúrgicas e 1 especializada em cintos.
No geral, as especializações na complementação do processo produtivo ocorrem,
em algumas empresas, nas atividades de faccionar, lavar e bordar. As demais atividades
são racionalizadas, buscando escala interna de produção, não aproveitando as
economias externas da aglomeração, por meio de especialização de atividades.
167
Para adotar estratégias de especialização inter-firmas, formando consórcios de
produção em que cada um seja especializado por uma parte do processo produtivo, de
acordo com 60% dos entrevistados, seria necessário maior treinamento de mão-de-obra
e melhor qualificação gerencial para a garantia da qualidade do produto. Em relação aos
recursos humanos, o trabalho de diagnóstico, desenvolvido pelo IEL (2006), mostrou
que a escolaridade dos empregados das confecções da cidade é baixa. 5,40% são
analfabetos, 11% têm ensino fundamental incompleto e 8,8% fundamental completo;
41,80% possuem o ensino médio incompleto e 7,7% completo. O número de
funcionários com curso de nível superior completo apontado pela pesquisa foi de 3,3%
do total.
5.3.2.3.2 Relacionamento entre empresas concorrentes
A cooperação entre concorrentes ainda é considerada fraca, com poucas ações
conjuntas entre eles, que começaram a despontar a partir 2004, tendo como marcos: a) o
resultado do primeiro Diagnóstico das Indústrias do Vestuário de São João
Nepomuceno, promovido pelo IEL (2003a) e; b) o trabalho do estilista Ronaldo Fraga –
que desenvolveu uma linha de produtos com características de cidade de São João
Nepomuceno. Com a experiência de Fraga, dezoito estilistas da cidade participaram de
uma oficina-laboratório de design que gerou uma célula de criação de moda, onde os
alunos desenvolveram peças inspiradas nas características de São João Nepomuceno e
que fizeram parte da coleção Identidade e Moda.
Esses dois trabalhos, de iniciativa do SINDIVEST com apoio do SEBRAE e
Sistema FIEMG, tiveram por finalidades: a) reduzir o percentual de destinação dos
produtos para empresas de grifes; b) aumentar a propagação de marcas locais no
território nacional; c) proporcionar maiores proximidades entre as empresas locais, de
modo a formar um ambiente mais cooperativo, reduzindo custos de transação e
favorecendo a cooperação; d) fortalecer laços de confiança entre as empresas, por meio
de maior interação entre elas.
Como forma de aumentar o espírito de cooperação entre as empresas
concorrentes, de modo a buscar aumentar a eficiência coletiva e reduzir o custo de
transação,
o
SINDIVEST,
em
conjunto
com
o
SEBRAE e Agencia de
Desenvolvimento, tem desenvolvido ações educativas. Dentre essas ações, destacam-se
168
as freqüentes visitas a outros arranjos produtivos, tais como Cianorte (PR), Jaraguá e
Goiânia (GO)69. 50% dos entrevistados afirmaram ter participado dessas visitas.
Como resultado desse trabalho, pode-se detectar algumas ações conjuntas tais
como: a) troca de informações entre um grupo de 20 empresas, que promovem reuniões
para discutir questões relacionadas com a tecnologia, comercialização, distribuição,
legislação e outros assuntos; b) desenvolvimento de marketing em conjunto, por três
empresas que adquiriram a marca “Lápis de Cor”; c) Pesquisa e desenvolvimento de
produtos, por um grupo de 15 empresas; d) desenvolvimento de ações conjuntas de
desenho e estilo, por um grupo de 8 empresas que contrataram um estilista para visitar
feiras especializadas, em São Paulo, para desenvolver suas coleções estacionais.
De acordo com o Gerente do SEBRAE, a causa da baixa cooperação pode estar
relacionada à história de formação e desenvolvimento passivo dessas empresas,
principalmente, a partir da década de 1980, quando as empresas passaram a trabalhar
sob orientação e controle da Mesbla70. Depois da Mesbla, vieram outras empresas – que
mesmo com a diversificação dos clientes – trabalhavam da mesma forma. Essa relação
com empresas de grifes e com grandes magazines pode ter contribuído para inibir o
desenvolvimento de ações de cooperação ao longo do tempo.
5.3.2.3.3 Relacionamento dos fornecedores dentro do APL
O fornecedor de máquinas e equipamentos localiza-se dentro do arranjo
produtivo e, também, presta serviços de assistência técnica e manutenção. Porém, 100%
dos entrevistados afirmaram não haver nenhum trabalho de parceria envolvendo este
fornecedor no sentido de adaptação de máquinas, troca de pessoal, desenvolvimento de
pesquisa em conjunto. Na realidade, tal fornecedor serve como um representante de
grandes fabricantes. 70% dos entrevistados afirmaram que compram máquinas e
equipamentos de outros fornecedores, localizados fora do APL e 30% disseram dar
prioridades ao fornecedor local.
69
Segundo os empresários entrevistados, durante a visita à cidade paranaense, eles puderam conhecer o
modelo de vendas adotado com o auxílio de guias de compra, que levam diariamente dezenas de
excursões com lojistas e sacoleiros, impulsionando o turismo de negócios em Cianorte. Em Jaraguá, eles
tiveram a oportunidade do contato com outro modelo de Arranjo Produtivo Local, e sentir o espírito
associativista que impulsiona o desenvolvimento local.
70
A Mesbla, que era localizada em outra região, exercia o controle sobre a produção, a tecnologia, a
inovação de produtos e processos.
169
Os fornecedores de materiais não se encontram dentro do arranjo. Os de tecido
se encontram nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Paraná, nesta
ordem de importância; os de etiquetas no Rio de Janeiro e; os de aviamentos em São
Paulo. Em virtude da localização desses fornecedores, não há trabalho de parceria entre
as empresas e fornecedores. Os principais problemas enfrentados pelas empresas estão
relacionados com os prazos de entrega de matéria-prima e insumos para a produção
(60% dos entrevistados) e a localização dos fornecedores (80% dos entrevistados).
5.3.2.3.4 Relacionamento das empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de
produtos e processos, Instituições de Pesquisa/Universidades
As confecções de São João Nepomuceno entrevistadas destinam grande parte
dos seus produtos para empresas de grife e pequena parte desenvolvem com marca
própria. No entanto, todas elas têm buscado tanto a inovação de produtos quanto a
inovação de processos. Em relação à inovação de produtos, elas têm buscado alterar
desenho e estilo (80%), alterar características técnicas (60%) e, ainda, elaborar novos
produtos (60%). Em relação à inovação de processos, elas têm buscado incorporar
novos equipamentos na planta industrial (40%) e introduzir novas técnicas
organizacionais como CAD/CAM e Just in Time(40%).
De acordo com o gerente do SEBRAE, o trabalho de P&D – inovação de
produtos e inovação de processos – tem sido desenvolvido: a) pela própria empresa – 15
empresas possuem departamento de P&D de produtos e processos –; b) por meio de
empresas especializadas na atividade de P&D de produtos, uma vez que, o arranjo conta
com duas empresas especializadas que vendem seus serviços para as demais empresas;
c) entidades de apoio ao arranjo, principalmente o sistema SESI/SENAI, que prestam
serviços de risco, molde, CAD e desenvolvimento de produto; d) instituições de
pesquisa, como a UFJF, no que se refere a trabalhos voltados para a inovação de
processos produtivos; e o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil –
CETIQT, no que se refere à inovação de matéria-prima.
As principais fontes de informação utilizadas pelas empresas inovadoras são: a)
departamentos de P&D da empresa na região (30%); b) instituições de pesquisa
localizadas na região – UFJF – e fora da região – CETIQT (10%); c) SESI/SENAI, por
meio de consultorias especializadas localmente (60%); e) representantes e clientes
(80%); g) Visitas a feiras e viagens ao exterior (50%).
170
O desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias se dá: a) por meio da
aquisição de máquinas compradas no mercado local, nacional e internacional (80%); b)
nas unidades de produção da própria empresa (40%); c) em laboratórios de P&D da
empresa (40%); d) em contato com o SENAI e SEBRAE.
5.3.2.3.5 Relacionamento das empresas de treinamento e formação de mão-de-obra
No arranjo de São João Nepomuceno, a origem da mão de obra é local, com
baixo grau de escolaridade e pouco qualificada. De acordo com o IEL (2006), os
empregados são treinados na própria empresa, favorecendo o aprendizado “learning by
doing” e learning by using, e uma parte dos trabalhadores são preparados pelos cursos
técnicos existentes no SENAI tais como: costura, modelagem, programação de
produção, mecânico de máquina de costura, dentre outros.
Apesar da existência de agentes voltados para a capacitação e treinamento de
pessoal, apenas 40% dos entrevistados declararam utilizar mão-de-obra proveniente do
SENAI. O restante acaba contratando pessoal com experiência em outras empresas
(30%) ou acabam fazendo treinamento de pessoal dentro da própria fábrica (60%).
O SEBRAE tem oferecido cursos de vendas, logística, recursos humanos,
empreendedorismo, atendimento ao cliente, controle financeiro e contabilidade. 50%
dos entrevistados declararam participar desses cursos.
A Universidade Presidente Antônio Carlos (UNIPAC) tem oferecido curso de
Administração. No entanto, o número de pessoas com curso superior incompleto e
completo é muito baixo nessas empresas. Os entrevistados desconhecem qualquer
trabalho que tenha sido realizado em conjunto com essa universidade.
5.3.2.3.6 Relacionamento com os agentes de animação do APL
As ações de animação do APL de São João Nepomuceno têm sido desenvolvidas
pelo SINDIVEST, em parceria com o SEBRAE e com o sistema FIEMG. Essas três
instituições vêm tentando desenvolver uma série de atividades no sentido de
proporcionar maior desenvolvimento gerencial e industrial do setor, por meio da
implantação do projeto estrutural do arranjo produtivo.
Essas instituições têm desenvolvido programas para articular o planejamento e a
coordenação das ações das empresas participantes do agrupamento, sendo ressaltados os
aspectos relacionados às novas possibilidades de criação e/ou adaptação de novas
171
tecnologias, bem como o acompanhamento de rotinas técnicas, realizadas pelo SENAI;
políticas de treinamento e capacitação operacional e gerencial, realizadas pelo SENAI e
pelo SEBRAE; Busca de recursos financeiros para o APL, realizados pelo SINDIVEST;
incentivo a uma maior cooperação entre as empresas do APL, por meio de ações criadas
pelo SINDVEST, tais como, visitas, palestras, estudos voltados para a criação de uma
central de vendas e o desenvolvimento de uma marca do APL de São João
Nepomuceno.
O esforço conjunto desses agentes de animação tem por finalidade: a) estimular
a transformação do APL em sistemas mais amplos de inovação de produtos, processos e
organizacionais; b) facilitar o processo de compras, vendas, distribuição e marketing; c)
incrementar o potencial que o APL tem para complementar recurso e aprendizagem; d)
reduzir os custos de transação, por meio do incremento da cooperação, etc.
No entanto, segundo o Gerente do SEBRAE, os resultados dessas ações levam
anos para serem observadas e o processo de mudança é lento e gradual. Um dos reflexos
que pode ser observado está relacionado com os dois diagnósticos realizados pelo IEL,
em relação à participação em feiras. No ano de 2003, apenas 5% participavam em feiras
nacionais. Em 2006, esse valor subiu para 38%.
172
PARTE III
Análise da formação, desenvolvimento e estruturação de APLs da
indústria tradicional, produtores de móveis e de artigos de confecção
no Estado de Minas Gerais
173
Os aglomerados produtivos possuem características bastante específicas em
relação ao número de agentes envolvidos e à forma de interação desses agentes no
território.
Os
APL
são
diversificados,
apresentando
diferentes
graus
de
desenvolvimento, de integração a montante e a jusante da cadeia produtiva, de
articulação, de associativismo, de integração entre os agentes e instituições locais e de
capacidade para inovação.
Essas diferenças são resultantes da evolução histórica, da organização
institucional, do contexto social e cultural, da estrutura produtiva, das formas de
inserção nos mercados interno e internacional, das estruturas de governança, da
logística, do associativismo, do cooperativismo, das formas de aprendizado e de
disseminação do conhecimento local.
Assim, o caráter diferenciador de um determinado APL centra na capacidade das
firmas interagirem entre si e com o seu território, obedecendo aos códigos constituídos
pelo meio. Essa relação de troca leva à chamada ancoragem ou enraizamento territorial
que, conseqüentemente, leva ao desenvolvimento endógeno.
Para analisar a dinâmica dos sistemas produtivos é necessário analisar os
condicionantes territoriais que estão relacionados com os diversos tipos de
externalidades, como as institucionais, marshallianas, schumpeterianas e transacionais.
A análise do comportamento de arranjos produtivos locais, com base em seus
condicionantes, vai além da observação do comportamento desses aglomerados
territoriais e acaba levando a reflexões sobre políticas de apoio aos sistemas produtivos
locais, como estratégia de desenvolvimento local.
Esta parte tem por finalidade analisar o processo de formação, desenvolvimento
e estruturação de APLs da indústria tradicional, produtores de móveis e de artigos de
confecção no Estado de Minas Gerais, por meio da consolidação dos resultados obtidos
na pesquisa de campo. Assim, nesta parte foi mostrada: a) a origem e a evolução dos
APLs estudados, e, com base nesta análise, foi criado o modelo de formação e
desenvolvimento destes aglomerados; b) a análise dos condicionantes territoriais das
correntes de pensamento Marshallianas, Shumpterianas, Transacionais e Institucionais
e; c) foram sugeridas políticas para os APLs estudados.
174
CAPÍTULO 6
Origem e evolução dos APL moveleiros e de confecção mineiros
6.1
Origem dos APLs mineiros
Em Ubá e São João Nepomuceno a proliferação das empresas está relacionada a
um “acidente histórico”, provocado pelo fechamento da empresa principal. Em Ubá, o
fechamento da Domani, em meados dos anos de 1970, levou os ex-empregados da
produção, por meio de conhecimentos adquiridos, a iniciarem suas próprias empresas,
com recursos financeiros próprios, dando continuidade ao tipo de produto, ou seja, à
produção de dormitórios e salas de jantar mais populares, com baixo padrão tecnológico
e preços módicos. Em São João Nepomuceno, paralelamente às sucessivas crises da
Sarmento ao longo dos anos 60, pequenas fábricas de roupas surgiram naturalmente, no
seio das residências familiares, aproveitando a facilidade de obtenção da matéria-prima
tecido (da Sarmento) e as habilidades das mulheres em relação à costura, como resposta
à situação crítica que se estava vivendo. O fechamento da Sarmento na década de 70,
levou parte da mão-de-obra familiar desempregada a ser absorvida pelas confecções e,
com a ampliação de vendas, principalmente para outras localidades, houve a contratação
de mão-de-obra e a transformação da produção doméstica em industrial.
Em Carmo do Cajuru e Muriaé, não houve o fechamento da empresa principal.
Na realidade, o desenvolvimento das atividades nessas regiões fez surgir condições que
favoreceram a emergência do aglomerado, como existência de uma força de trabalho
especializada, oportunidades de mercado e demanda e acesso a mercados. Em ambas as
localidades, as empresas concorrentes foram criadas por ex-empregados do setor de
produção, que após um tempo de trabalho, adquiriram conhecimentos e abriram seus
próprios negócios com recursos financeiros próprios. Em Carmo do Cajuru, o
fortalecimento da Mobiliadora Líder no mercado, provocada pelo desenvolvimento de
estratégias de expansão ocorrida nas décadas de 70 e 80, fez surgir condições que
favoreceram a emergência do aglomerado, principalmente na década de 1990. Em
Muriaé, a Malharia Galante, quando instalada, trouxe pessoas para treinamento e
capacitação de mão-de-obra, desenvolveu mercado comprador na região e, ainda,
estabeleceu relações com a população local, por meio do treinamento de donas de casa
nas atividades de costura e bordado. Com intensificação das vendas, por meio de
175
representantes de vendas que levavam mercadorias para outras regiões do Estado e do
País, houve a necessidade de ampliação das confecções domésticas, transformando-as
em produção industrial. Assim, surgiu número considerável de confecções ao logo dos
anos 60 e 70. Porém, o crescimento do número de empresas no aglomerado se deu na
década de 80, quando ocorreu queda na atividade principal da cidade, que estava
relacionada com pequenas oficinas mecânicas, sendo grande parte dos desempregados
absorvida pela empresa familiar.
Assim, nos quatro APLs estudados, a origem da aglomeração de empresas de
um mesmo ramo de atividade, apresentando vantagem competitiva locacional, está
relacionada com uma empresa verticalizada e estruturada sob a lógica funcional. Tais
empresas – a Domani em Ubá, a Mobiliadora Líder em Carmo do Cajuru, a Malharia
Galante em Muriaé e a Companhia Fiação e Tecidos Sarmento em São João
Nepomuceno – foram responsáveis, cada uma em sua localidade, por moldar a base
produtiva do território, dotando-o de condicionantes territoriais mínimos para a
ampliação das atividades. A gênese desses APLs revela o potencial empreendedor dos
territórios em que se encontram, pois, observou-se que tais arranjos não surgiram dos
estímulos do planejamento público, mas de fontes endógenas e auto-organizativas.
É interessante observar que é comum na indústria tradicional a formação de
aglomerados produtivos provenientes da criação de empresas por ex-empregados de
empresas locais, originários de uma empresa principal. Esse surgimento de empresas
ocorre ou por “acidente histórico”, quando a empresa principal deixa de existir ou por
evolução, quando ex-empregados, movidos pelo conhecimento adquirido, acabam
criando empresas concorrentes ou complementares. Isso pode ser observado nos estudos
de Piore & Sabel (1984), Souza (1992), Maia, (1994), Campos et. al., (2000), Crocco,
et. al., 2001, Prochinik, (2002), Cunha et. al. (2006), Lima (2006), Kraemer, (2007).
Em todas as localidades, estudadas por esses autores, a formação dos
aglomerados se deve a condicionantes territoriais. Contudo, a maioria desses estudos
não especifica os condicionantes territoriais que serviram para a criação e o
desenvolvimento de empresas na região. Assim, apesar de diferirem de local para local,
a investigação desses condicionantes, é um bom caminho para compreender o processo
de formação, desenvolvimento e estágio de maturação dos arranjos produtivos locais.
176
6.2
Condicionantes territoriais de incentivo ao surgimento dos aglomerados
Os condicionantes territoriais existentes que serviram como vantagens
competitivas locacionais favoráveis ao surgimento das empresas e à formação de
aglomerados de firmas semelhantes, nos APLs estudados, são mostrados na Tabela 32.
Percebe-se que a maioria desses condicionantes para surgimento dos APLs está
relacionada com as externalidades marshallianas, criadas pelas empresas pioneiras, tais
como: infra-estrutura viária, comunicação e energia; mão-de-obra especializada; acesso
fácil à tecnologia de produção; label territorial construído pela empresa principal. Com
o tempo, outros tipos de externalidades locais são desenvolvidos, servindo como
estímulos ou entraves ao crescimento e ao desenvolvimento dos APLs.
Cabe ressaltar que os ganhos obtidos em se estabelecerem em aglomerados com
presença de fatores de produção comuns (terra, trabalho, capital, energia, armazenagem
e transporte) podem se resumir a melhorias no acesso e manipulação desses fatores,
resultando aumentos de produtividade e queda de preços (Haddad, 1989).
A criação e reunião dessas firmas na mesma região foi uma forma de
apropriação de retornos crescentes obtidos nas etapas de produção, o que Marshall
(1890/1986) denominou de economias internas e externas. Enquanto as economias
internas vêm no bojo do aumento da especialização da produção e aperfeiçoamento
técnico, produtivo e organizacional, gerando ganhos internos e inerentes a cada firma,
as economias externas se mostram dependentes do desenvolvimento geral da indústria,
principalmente com respeito ao volume total de fábricas do mesmo gênero localizadas
na mesma vizinhança. Em Ubá, além do trabalho desenvolvido pela Domani, o
suprimento de móveis em metal pela Itatiaia para grande parte do território nacional,
contribuiu para a divulgação do local, exercendo efeito positivo sobre as empresas do
APL, denominado “efeito de vizinhança71”.
Com o tempo, essas vantagens competitivas foram fortalecidas, funcionando
como atratores de novas empresas para o local, além de impulsionar a produção e a
rentabilidade das existentes. Isso ocorreu em virtude, basicamente, de três razões: a) os
efeitos de encadeamentos de firmas para a montante e a jusante no processo de
produção72; b) a aglomeração de trabalhadores especializados; c) as interações
promotoras da inovação tecnológica.
71
Ver Veltz 1989
72
Ver Hirschman, 1958
177
Tabela 32. Condicionantes territoriais favoráveis ao surgimento das pequenas empresas
dos APLs estudados
Localidade
Condicionantes territoriais favoráveis ao surgimento do APL
Ubá
a) ambiente institucional favorável à industrialização de Ubá, como alternativa de
absorção de mão-de-obra rural disponível;
b) conhecimentos difundidos aos ex-empregados da Domani, por meio do processo de
aprendizagem e rotina;
c) infra-estrutura de comunicação, energia elétrica e estradas;
d) mão-de-obra treinada, disponível e compatível com o tipo de produto da Domani;
e) presença de um label territorial,construído por meio das estratégias de produção,
distribuição e divulgação da Domani e das empresas comerciais dos irmãos Parma;
f) estratégias de crescimento da Itatiaia73, associando a marca à cidade de Ubá;
g) Produtos direcionados para classe popular, com baixo custo de fabricação, baixo
nível tecnológico e conseqüentemente, baixa barreira de entrada de novas firmas.
Carmo do
a) conhecimentos difundidos aos ex-empregados da Líder, por meio do processo de
aprendizagem e rotina;
Cajuru
b) criação na década de 1970 do distrito industrial de Carmo do Cajuru, com infraestrutura de funcionamento;
c) infra-estrutura de comunicação, energia elétrica, estradas;
d) incentivo à industrialização por meio da criação do Distrito Industrial, com infraestrutura mínima de funcionamento, na década de 70;
d) mão-de-obra treinada, disponível e compatível com o tipo de produto da Líder;
e) presença de label territorial, construído por meio das estratégias de produção,
distribuição e divulgação da Líder, associando a marca á cidade de Carmo do Cajuru;
f) Produtos direcionados para classe mais alta, porém intensivo em mão-de-obra, baixo
nível tecnológico e, conseqüentemente, baixa barreira de entrada de novas firmas.
Muriaé
a) ambiente institucional desfavorável para a atividade mecânica, apresentando como
alternativa o trabalho nas confecções, iniciadas pelas donas de casa;
b) cultura do empresário local voltado para PMEs;
c) conhecimento difundido para grande número de donas de casa;
d) infra-estrutura de comunicação, estradas, energia elétrica e serviços de transporte;
e) existência de fornecedores de máquina e equipamentos e assistência técnica, para
empresas do setor de confecção na cidade;
f) existência de número significativo de vendedores e de representantes comerciais;
g) presença de um label territorial, construído ao longo dos anos de 1980, pelos
representantes de vendas e vendedores de produtos, fora da região;
h) exigência de baixo nível tecnológico, apresentando baixa barreira à entrada.
São João
a) presença de fornecedor da principal matéria-prima tecido, pela Sarmento74;
Nepomuceno b) nome da cidade associado a tecidos e produtos de qualidade;
c) infra-estrutura de comunicação, estradas, energia elétrica e serviços de transporte;
d) conhecimento sobre costura difundido para grande número de donas de casa, por
meio do processo de aprendizagem e rotina dentro das confecções existentes na
cidade;
e) exigência de baixo nível tecnológico, apresentando baixa barreira de entrada;
f) formação de número significativo de vendedores e representantes comerciais;
g) disponibilidade de mão-de-obra;
h) qualidade da mão-de-obra compatível com as exigências da indústria.
Fonte: dados da pesquisa.
73
A Itatiaia foi criada na década de 60, produzindo armários em Aço. Nos finais da década de 70, vendia
para boa parte do território nacional, levando o nome de Ubá como importante produtora de móveis de
qualidade. Hoje é considerada a maior empresa fabricante de armários em aço da América Latina.
74
Houve uma fase da Sarmento em que ela estava pagando seus empregados com o tecido, levando ao
aumento de tecidos disponíveis para a venda, na cidade.
178
Além disso, a criação de firmas calcadas na exportação regional75 foi
responsável pela garantia da sustentabilidade e de crescimento da região, já que, à
medida que as empresas expandiam suas vendas para outras cidades e regiões,
aumentavam o volume de produtos fabricados; atraíam mão-de-obra especializada em
algumas atividades; aumentavam a renda das empresas; e, ainda, propiciavam
surgimento de investimentos públicos em infra-estrutura. Como conseqüência, a
concentração de trabalhadores gerava externalidades no local, como a difusão do
conhecimento tácito e a educação no ofício para a mão-de-obra, incitando uma
identidade da região com a atividade empreendida. Isso fez com que mais empresas
fossem atraídas para o negócio, mesmo porque as barreiras à entrada, em todos os
quatro APLs eram consideradas baixas.
6.3
A evolução e estruturação dos aglomerados produtivos mineiros
Nos quatro APLs estudados, a aglomeração territorial concentrando empresas de
um mesmo ramo nas localidades e as relações sociais em um mesmo local levou, desde
o início, ao aumento do fluxo de serviços, tanto ligados à atividade fim, quanto serviços
mais genéricos. Assim surgiram representantes comerciais para vendas de produtos
acabados – principalmente nos APLs de confecção – e representantes de matériasprimas e insumos para a fabricação, como máquinas, equipamentos, assistência técnica
e serviços de manutenção; serviços de transporte; agências bancárias, etc.76. As
empresas passaram a ter acesso aos mesmos representantes, tecnologia, insumos,
maquinários, e também à mesma mão-de-obra especializada e aos mesmos serviços
gerais. Isso atraiu novas empresas, reforçando o sentido de crescimento iniciado, porém,
tal crescimento se deu de forma desorganizada.
Durante o período de crescimento desorganizado das empresas, verificou-se a
tanto a especialização produtiva – esperada em agrupamentos produtivos, provocada
pelos transbordamentos (spill-over’s) de conhecimentos das estruturas produtivas
localizadas, fazendo com que o processo de aprendizado quase natural entre os
75
De acordo com Santos et. al. (2005), o crescimento de uma região se dá por meio das exportações. A
princípio, sem exportações a renda de uma região tenderia a cair continuamente até a pobreza absoluta.
Esse raciocínio está de acordo com a teoria da Base Econômica (ou Base Exportadora). De acordo com
Haddad (2003:24) o conceito de base econômica define as atividades básicas como aquelas que produzem
bens e serviços para uso externo à região, sob a forma, portanto, de exportação inter-regional ou
internacional.
76
Alguns representantes comerciais acabaram se instalando desde o início nas cidades, como é o caso de
fornecedores de maquinas e equipamentos em Muriaé.
179
produtores – quanto à prática de fabricação de produtos homogêneos, por meio da cópia
de produtos. Assim, houve o acirramento da concorrência com base em preços, em
virtude da livre circulação da informação, da mobilidade dos fatores de produção, do
acesso à tecnologia rudimentar e da baixa barreira à entrada de empresas, dificultando o
inter-relacionamento entre as empresas, no território.
A partir da formação dos aglomerados, o desenvolvimento dos quatro APLs
esteve atrelado a eventos que geraram bifurcações na sua trajetória histórica, que estão
relacionados a mudanças na forma de organização industrial e mudança tecnológica.
Em Ubá, por exemplo, no decorrer dos anos de 1980, as empresas enfrentaram
diversos problemas de ordem política e econômica – associados ao crescimento
desorganizado do setor. Isso fez com que as empresas percebessem a necessidade de se
criar uma entidade de apoio e animação, capaz de ajudar no fortalecimento do conjunto
de empresas, buscando aumentar a capacidade competitiva, por meio de investimento
em tecnologia, capital de giro, estratégias mercadológicas, qualificação da força de
trabalho e outras. Com a fundação do INTERSIND, em 1989, muitos resultados
positivos foram alcançados, envolvendo organização industrial e mudança tecnológica,
associada ao aumento de financiamentos para empresas do setor. Tais financiamentos
iniciaram nos finais dos anos 80 para sanar problemas de capital de giro e nos anos 90
foram direcionados para a expansão das empresas e modernização do parque industrial.
A modernização das máquinas e equipamentos foi condição para que as empresas
continuassem atendendo o seu nicho de mercado, que consistia em consumidores de
uma classe mais popular, principalmente num período em que houve entrada de
tecnologia moderna no setor em virtude da abertura de mercado, envolvendo máquinas,
equipamentos, produtos e materiais77.
Em Carmo do Cajuru, a mudança na trajetória do setor está relacionada à
estratégia mercadológica da Mobiliadora Líder, no início dos anos de 1990, voltada para
a expansão de vendas de um tipo de móvel que exige mais mão-de-obra e baixo
investimento tecnológico, voltado para uma classe social mais elevada. Isso fez com que
o número de empresas aumentasse consideravelmente na primeira metade da década de
1990. Com o crescimento desorganizado do setor, foi instalado, em Carmo do Cajuru,
em 1994, o SINDIMOV-MG, com a finalidade de aumentar a capacidade competitiva
77
No Brasil, na década de 90 houve mudança no comportamento do consumidor de móveis no sentido de
adquirir móveis feitos em MDF, de baixo custo, seguindo linhas mais retilíneas e de fácil montagem.
Porém, para a fabricação é exigida tecnologia de produção mais sofisticada e cara.
180
das empresas, por meio da organização industrial das empresas do setor. Os trabalhos
desenvolvidos pelo SINDIMOV-MG (modestos quando comparados com o
INTERSIND), em parceria com as empresas do setor, têm feito com que as empresas
apresentem algum grau de evolução e ampliação do mercado comprador.
Em Muriaé, por exemplo, o crescimento desordenado de confecções, nos anos
de 1980 e primeira metade dos anos de 1990, aliado ao fortalecimento de outros pólos
da moda e ao processo de globalização da economia, fizeram com que os empresários
percebessem a necessidade de juntar esforços para que pudessem enfrentar os desafios.
A partir da criação da pronta-entrega, as discussões dos empresários em relação à busca
de soluções para problemas em conjunto e de interesse do poder público local em
relação ao setor, fez surgir, a partir de 1999, várias entidades de animação
representativas em Muriaé. Assim, surgiram a Delegacia Regional de Muriaé e Região;
o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Setor de Confecções –
CONDESSC; a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Muriaé SMDE; e o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e pequenas Empresas – SEBRAE-MG,
que juntas exercem a coordenação do arranjo.
Em São João Nepomuceno, o crescimento desorganizado e independente das
confecções ocorreu até início dos anos 80, quando a Mesbla, uma grande empresa
comercial, passou a exercer a coordenação e controle das empresas. Por meio de
contratos de produção, firmado junto às PMEs formais da cidade, essa grande empresa
coordenava a produção das empresas locais, decidindo toda a inovação tecnológica em
relação a produto, processo e tecnologia. Neste mesmo período, surgiu um número
significativo de empresas informais, que tinha por finalidade dar suporte às empresas
formais, na facção de peças, principalmente quando o volume de pedidos era superior à
capacidade produtiva das empresas. Isso deu início a um processo de parceria entre
empresas formais e informais, que existe até hoje. O crescimento do setor e os
problemas relacionados com os altos índices de inflação da década de 1980 fizeram com
que fosse criada a associação de classe para os empresários locais, denominada
ASSIMODA, para discutir problemas em comuns e a busca de financiamentos para
capital de giro. Em meados dos anos de 1990, foi substituída pelo SINDIVEST. A
relação com a Mesbla durou até o ano de 1996, quando esse grande magazine faliu,
trazendo conseqüências indesejáveis às empresas do arranjo, principalmente falência.
Isso fez com que os empresários começassem a juntar esforços para enfrentarem a crise.
Como as empresas não trabalhavam com marcas próprias, a solução imediata foi a
181
busca de outras empresas famosas que estariam dispostas a produzir suas roupas em São
João Nepomuceno. Assim, começaram a produzir para várias empresas de grife, como
Zoomp, Triton, Fórum, Cantão e outros, de modo a reduzir o risco em produzir apenas
para um comprador. A partir de então, o SINDIVEST assumiu a o papel de animação e
apoio ao aglomerado e tem incentivado o desenvolvimento de marcas próprias.
Em virtude dos trabalhos por essas entidades de animação e de apoio aos APLs,
houve redução de cópias de produtos entre empresas concorrentes, principalmente
daquelas que são filiadas às entidades. A diferenciação dos produtos é feita por meio de
design e estilos próprios, tipo de material utilizado, tipo de tecnologia empregada,
formas de comercialização, imagens e marcas, etc.
É importante destacar que o setor moveleiro em geral apresenta vocação para a
diferenciação, condicionada às características do produto – utilização de diferentes
tecnologias de produção; diferentes tipos de materiais (aço, tubos, madeira maciça,
MDF), diferentes possibilidades de uso – e/ou à dos seus consumidores –; segmentação
de mercado e segmentação de estilos do consumidor. Em Ubá, a constante busca por
novas tecnologias de produção e processo de grupo que produz móveis padronizados e
tecnologicamente avançados busca a constante modernização das máquinas e
equipamentos para que se possa obter um lucro extraordinário por meio da inovação.
Em Carmo do Cajuru, essa diferenciação de produtos tem facilitado a cooperação de
empresas para a composição de produtos para atender pedidos específicos de clientes.
Nos dois APLs de confecção, ocorreram duas situações bem distintas. Em
Muriaé, houve a redução de cópia de produtos de empresas concorrentes formais e que
são filiadas às instituições de coordenação. Porém, há ainda a prática de cópia de
produtos, principalmente pelas empresas informais. Como forma de reduzir o efeito da
cópia, as empresas têm investido no aumento da velocidade na inovação de design e
mudança de materiais e estilo. A partir de então, também houve surgimento de empresas
especializadas em parte de processos produtivos. Em São João Nepomuceno, a prática
de cópia de produtos foi bastante reduzida desde o período Mesbla, principalmente
porque as empresas formais sempre trabalharam para atender as exigências das
empresas de Grifes e as empresas informais foram criadas para dar suporte às formais.
Percebe-se então que a criação de empresas de animação e de apoio é importante
para o crescimento e sucesso do APL, pois estimulam a capacidade de inovação,
podendo levar o agrupamento a entrar em um círculo virtuoso de crescimento. Esse
crescimento se dá quando as novas empresas são atraídas pela renda e pelas áreas de
182
mercado mais densas, mesmo quando o local já seja abastecido pelos produtos das
empresas em questão. O aumento da densidade da área de mercado poderá tornar a
operação mais lucrativa no local, em virtude do aumento do consumo local e redução de
custos de transporte, levando ao reforço da densidade e a diversificação produtiva no
APL e, conseqüentemente, o aumento da competitividade do local.
A organização desses aglomerados, então, fez com que as empresas passassem a
se beneficiar da proximidade a outras firmas e obter ganhos com a melhoria na
qualidade de mão-de-obra, custos na obtenção de matérias-primas, conhecimento tácito,
dentre outros. A interdependência ou linkages, gerados pelo próprio encadeamento das
atividades produtivas e da proximidade das firmas, pode ser considerada responsável
pelo crescimento e desenvolvimento dos APLs. No entanto, há uma diferença na
presença dessas linkages e a forma de funcionamento no APL. Isso acaba criando um
perfil diferenciado, com diferentes graus de crescimento e desenvolvimento.
Em Ubá, muitos empreendimentos se formaram para fornecer conhecimento,
matéria-prima, insumos e tecnologia de ponta. Assim, surgiram serviços de
fornecimento de máquinas e equipamentos; serviços de desenvolvimento de máquinas e
de materiais; prestadores de consultoria em processos produtivos, tendência de consumo
específico e atividades de P&D e oferta de treinamento de mão-de-obra. Muitos
fornecedores são lojas de representação de grandes fornecedores, atuando com peso de
negociação no APL. Em Carmo do Cajuru, surgiram micro-empresas comerciais,
fornecedoras de matéria-prima e insumos. Tais fornecedores não possuem atuação
significativa no APL, já que são apenas atravessadores, funcionando como estoque
terceirizado para os fabricantes locais. A instalação de representantes de grandes
fornecedores no local é dificultada em virtude do tamanho das cidades e o número de
empresas, que não gerariam retorno de investimento para esses fornecedores. Em
Muriaé e em São João Nepomuceno foram instaladas empresas de apoio ao processo
produtivo, como fornecedores de máquinas e equipamentos de confecção, prestadores
de serviços de consultoria em moda, em processo produtivo e em atividades de P&D e
terceirização de facção e lavanderia. Em Muriaé, ressalta-se o fornecimento de insumos,
a prestação de serviços de bordados e estampagem.
Os efeitos ou externalidades locais, viabilizando escala mínima eficiente, e
conseqüentemente, atraindo outras empresas privadas pela possibilidade de lucro, com o
oferecimento de uma gama de serviços à indústria, que aprimoram e integram a cadeia
produtiva. Em todos os APLs estudados, além dos serviços ligados à atividade, houve a
183
entrada de outras atividades de serviços gerais, tais como: bancos, assessoria de
imprensa, gráfica, transporte, etc.
Para que os APLs se tornassem mais competitivos, e não entrassem num círculo
vicioso de estagnação ou regressão, foi necessário desenvolvimento de parcerias com
entidades públicas (Federal, Estadual e Municipal) ou para-públicas de apoio e
capacitação de mão-de-obra especializada e de gerência; de apoio às atividades de P&D;
de provimento de infra-estrutura de suporte ao crescimento do APL; de captação de
crédito e financiamentos; e de catalisadores da ação cooperativa e do investimento
coletivo. Em Ubá, foram estabelecidas parcerias com 32 parceiros, com diversas
instituições de apoio, em todos os níveis de governo. Em Carmo do Cajuru existem
apenas 6 parceiros. Em Muriaé e São João Nepomuceno, há 13 parceiros, ressaltando
que, em Muriaé, o peso maior de apoio é recebido da prefeitura municipal e de
entidades locais criadas.
Percebe-se então que cada APL possui características bastante específicas em
relação ao número de agentes envolvidos e à forma de interação desses agentes no
território. Apesar de essas especificidades exercerem influência no desenvolvimento de
cada um, o conjunto de todos os atores que fazem parte desses APLs, pode ser
visualizado por meio do modelo desenvolvido por Fonseca Netto (2002), para
representar um Sistema Territorial de Produção
A Figura 37 mostra, no geral, que os atores principais podem ser agrupados em:
a) Empresas do segmento central, envolvendo a atividade principal tais como produtores
de móveis em Ubá e Carmo do Cajuru e produtores de artigos em confecção em Muriaé
e São João Nepomuceno; b) empresas de atividades, representadas pelos fornecedores
de materiais e de máquinas e equipamentos locais; c) atividades complementares,
relacionadas com a complementação do processo produtivo. Na produção de móveis,
estas atividades estão relacionadas com fornecimento de parte de móveis, estofamentos,
entalhamentos e outros. Na produção de artigos em confecção, essas atividades estão
relacionadas com estampagem, lavanderia, bordados etc; d) estrutura de animação e
apoio, geralmente representada pelos sindicatos e demais secretarias criadas com a
finalidade de animar as articulações dentro do APL bem como as de apoio tais como
Associações,
SEBRAE,
SENAI,
FIEMG,
etc.;
e)
Estrutura
de
formação,
aperfeiçoamento e pesquisa, tais como universidades, SENAI, Laboratórios de
desenvolvimento de produtos e processos produtivos, etc.; f) Prestadores de serviços,
184
como bancos, consultores, consultorias especializadas, serviços de contabilidade,
serviços de exportação, etc.
Sistema Territorial de Produção
Atividades
Atores
Locais
Empresas do
Segmento
Central
Estruturas de
apoio e de
animação
Atividades
Complementares
Figura 37.
Serviços
Bancos
Consultores
Contabilidade
Consultorias
especializadas
etc.
Estruturas de Formação,
Aperfeiçoamento e de
Pesquisa
Estrutura Geral dos Arranjos Produtivos Locais
Fonte: Adaptado de Fonseca Netto (2002).
Aprofundando-se a análise de aglomerações produtivas, é possível mostrar que a
interação destas com o ambiente é biunívoca, modificando-o e sendo modificado por
elas, influenciando o grau de enraizamento ou ancoragem territorial, já que, acaba
criando externalidades – marshallianas, schumpeterianas, transacionais e institucionais –
positivas e negativas nestes territórios. Por exemplo, um ambiente de interação
cooperativo acaba estimulando a redução da verticalização das firmas, uma vez que os
custos de transacionar com o mercado passam a ser menores frente às constantes
mudanças nos fatores externos. Como conseqüência deste processo, tem-se maior
especialização produtiva das empresas, maior divisão do trabalho, ganho da
produtividade e aumenta as facilidades em estabelecer canais de aprendizado coletivo.
Isso estimula a criação de ativos intangíveis, que estimulam a circulação informal de
conhecimento no APL, levando ao seu crescimento e desenvolvimento.
6.4
Modelo de formação e desenvolvimento dos APLs em Minas Gerais
Grosso modo, pode-se afirmar que a trajetória de formação e desenvolvimento
dos APLs estudados está relacionada com condições que favoreceram a emergência do
aglomerado: a existência de uma força de trabalho especializada, de oportunidades de
mercado e demanda, de acesso a mercados e de apoio de entidades de coordenação e
suporte. Por meio do estudo desses quatro APLs o modelo que mostra essa trajetória,
185
pode ser apresentado na Figura 38. Tal modelo pode ser usado para analisar a trajetória
de desenvolvimento de outros APLs.
Surgimento da atividade na região por uma empresa
estruturada com base em uma lógica funcional
Crescimento e desenvolvimento da empresa na
Região, bem como a infra-estrutura básica para o
funcionamento, conquista de mercados externos à
região
Aumento do fluxo de pessoas na região para
oferecimento de matéria-prima, insumos, serviços e
compradores de produtos e até mesmo o surgimento
de empresas que fabricam e vendem produtos
similares
Absorção de conhecimento sobre produção, gestão e
mercado por parte dos empregados
Acidente Histórico
Formação
de
firmas de exempregados na
mesma atividade
Evolução natural
Formação de
firmas de exempregados em
atividade afim
Formação de firmas de exempregados da empresa Principal na
mesma atividade
Aumento do fluxo de produto para fora da região e aumento de pessoal provenientes
de fornecedores e compradores para a região
Formação do Label Territorial
Aumento desordenado de micro e pequenas empresas na região com forte
competição com base em preços
Criação ou fundação de um órgão de animação, que geralmente é um sindicato
Formação de empresas de apoio, como fornecedores e prestadores de serviços
Surgimento das instituições de apoio na busca de novas perspectivas
Criação de ativos intangíveis (não quantificáveis) que estimulam a circulação
informal de informação e de conhecimento no APL
Figura 38. Modelo de formação e desenvolvimento dos APLs mineiros
Fonte: Dados da pesquisa.
186
Cabe ressaltar que, apesar de ser identificado um modelo de trajetória dos APLs
de Minas Gerais estudados, os aglomerados são diversificados, apresentando diferentes
graus de desenvolvimento, de integração a montante e a jusante da cadeia produtiva, de
articulação, de associativismo, de integração entre os agentes e instituições locais e de
capacidade para inovação. Essas diferenças são resultantes da evolução histórica, da
organização institucional, do contexto social e cultural, da estrutura produtiva, das
formas de inserção nos mercados interno e internacional, das estruturas de governança,
da logística, do associativismo, do cooperativismo, das formas de aprendizado e de
disseminação do conhecimento local. Então, para analisar a dinâmica dos sistemas
produtivos é necessário analisar os condicionantes territoriais que estão relacionados
com os diversos tipos de externalidades, como as institucionais, marshallianas,
schumpeterianas e transacionais, já que, segundo Lemos et. al. (2005), qualquer
alteração em algum ou alguns desses condicionantes pode provocar diferenças
significativas, tanto positivas quanto negativas, entre os sistemas produtivos.
187
CAPÍTULO 7
Análise dos condicionantes territoriais dos APLs mineiros
É sabido que os sistemas locais se comportam de maneiras diferentes em virtude
do processo histórico de formação, localização geográfica e diferenças de interações
estabelecidas localmente (Garcez, 2003), traduzida no conjunto de competências
tecnológicas diferenciadas, de ativos complementares e de rotinas (Nelson & Winter,
2006). Com o passar dos anos, surgem condicionantes territoriais locais, em que a
ausência ou a presença, servem como externalidades positivas e restritivas, conferindolhes um caráter único e diferenciador para cada aglomerado.
Neste estudo, as externalidades ou condicionantes territoriais foram divididas
em Marshallianos, Shumpterianos, Transacionais e Institucionais. A análise de tais
condicionantes é importante para que se possa entender a dinâmica dos aglomerados
uma vez que, tal dinâmica está relacionada à presença, intensidade e ausência desses
condicionantes.
Cabe ressaltar que a existência ou não de condicionantes territoriais, por si só,
não garante o sucesso ou o fracasso do aglomerado, porém, indicam pontos positivos e
negativos que poderão ser trabalhados em prol do APL (Lemos et. al., 2005). A
classificação de estímulo ou de entrave é feita após a uma análise mais subjetiva, uma
vez que, um mesmo condicionante pode exercer esses dois papéis. Um exemplo esta
relacionado com o crescimento das empresas de móveis em Ubá. A necessidade de
crescimento das empresas fez com que elas se mudassem para outra área, porém, a falta
de infra-estrutura trouxe problemas de informação e comunicação que tem servido
como um entrave ao desenvolvimento.
Antes de fazer uma análise comparativa entre os APLs, é importante levar em
consideração as peculiaridades de cada tipo de produção. Em virtude das dificuldades
de comparação de APLs que fabricam produtos diferentes, mesmo pertencentes à
indústria tradicional, optou-se, num primeiro momento, fazer comparações entre a
produção de móveis e a produção de artigos em confecção. Num segundo momento, foi
feito a comparação dos dois APLs de produção de móveis e dos dois APLs de produção
de artigos em confecção.
188
7.1
Análise das especificidades da produção de móveis e de confecção
A pesquisa realizada nos diferentes APLs permitiu que fossem identificadas
especificidades relacionadas aos diferentes tipos de atividades produtivas que podem
interferir na análise de condicionantes territoriais. Os principais pontos foram:
a) Tipo de produto fabricado
As confecções fabricam artigos de pequeno volume unitário, de baixo valor,
fáceis de serem transportados, tanto nas fases de produção, quanto após o produto ser
acabado. Isso facilita tanto as estratégias de terceirização de parte do produto – facção,
bordados, corte, estampagem, embalagem, colocação de acessórios e outros – quanto a
manutenção de serviços de distribuição mais flexíveis, como sacoleiras, ônibus, correio
etc. Essa facilidade de transporte dificulta a fiscalização e facilita a manutenção de
empresas informais, bem como a relação de parceria entre formais e informais.
Os produtores de móveis fabricam artigos maiores, difíceis de serem
transportados, tanto na fase de produção – uma das razões para a internalização da
produção –, quanto na fase de produto acabado, já que alguns produtos requerem até
transportes especiais, como no caso de Carmo do Cajuru. Os compradores geralmente
são empresas varejistas. O transporte do produto acabado, por si só, facilita a
fiscalização e a formalização de empresas que pretendem manter relações de vendas
fora da localidade.
b) Matérias-primas e insumos
As matérias-primas e insumos da produção de artigos de confecção não
apresentam diferenças em termos de aparência, qualidade e rendimento, quando
adquirida em grandes volumes. Isso facilita o transporte e as estratégias de compra em
conjunto e, ainda, tanto as matérias-primas quanto os insumos podem ser adquiridos em
pequenas quantidades. Para os produtores de móveis, a matéria-prima “madeira”
apresenta diferenças significativas em termos de aparência, qualidade e rendimento,
quando adquiridas em grandes volumes. Isso dificulta estratégias de compra em
conjunto e até mesmo a aquisição de partes de componentes de terceiros78.
78
O transporte de Matéria-prima é considerado um gargalo na produção. A carência de matéria-prima
(madeira) e as preocupações ambientais têm feito com que grande parte das inovações do setor estejam
voltadas para sobre os recursos de produção. Com a finalidade de reduzir custos, manter a qualidade e
superar a escassez de madeiras nobres e as limitações legais sobre sua exploração, as indústrias
189
c) Fornecedores
Para as confecções, a localização dos fornecedores e a facilidade de aquisição de
matéria-prima e insumos, associados à velocidade do processo produtivo, têm exigido
menores recursos empatados em capital de giro. Já para as empresas produtoras de
móveis, a localização dos principais fornecedores (na região sul ou norte do país) e os
volumes mínimos de venda exigida pelos fornecedores e o custo do transporte faz com
que parte significativa de recursos financeiros da empresa seja empregada em estoques
para cumprir o ciclo operacional das empresas. Além disso, o custo dos móveis é
considerado alto, quando comparados com a margem de contribuição de cada unidade.
d) Processo de fabricação e acabamento
A flexibilidade do processo de produção das confecções79 e a uniformidade da
matéria-prima e insumos facilitam estratégias de especialização em etapas de processos
produtivos, bem como a organização da produção via subcontratação, sem necessidades
de controles excessivos do processo. Sem contar na terceirização das fábricas (facções)
que resultou em uma vantagem adicional, para muitos produtores do setor. Para os
produtores de móveis, essas vantagens da confecção, não têm sido encontradas, uma vez
que não há uniformidade da matéria-prima e as especificidades de acabamento
dificultam a terceirização, exigindo maiores comprometimento entre os agentes
parceiros e maiores gastos com controle. Isso tem prejudicado o desenvolvimento de
estratégias de produção em conjunto, favorecendo a verticalização.
e) Legislações específicas
As legislações para as confecções exercem influência mais branda e estão
relacionadas com as leis gerais da indústria como um todo, facilitando as relações entre
formais e informais e a proliferação de grande número de empresas informais nas
localidades. Na produção de móveis, a rotina de fabricação apresenta riscos para a saúde
combinam diferentes matérias-primas na confecção do produto final. A inovação por meio de design,
conjugando diferentes artigos para composição com a matéria prima tem ajudado.
79
As características da indústria de confecções relacionada com a heterogeneidade de suas unidades
fabris que variam bastante as escalas das plantas de suas fabricas, um elevado número de empresas e um
mercado extremamente segmentado (Bastos, 1993) vêm facilitando a existência da subcontratação,
envolvendo empresas de diversas dimensões até o trabalhador a domicilio. As relações de subcontratação
surgem como uma das configurações da divisão social do trabalho. Tal subcontratação se dá pelo sistema
de facção e subcontratação de costureiras (Ruas, 1992; Maia, 1994).
190
humana, produz resíduos danosos ao ambiente e, ainda, contribui para a exploração de
fontes escassas de recursos (madeira de lei). Isso tem feito com que as legislações
específicas para a fabricação de móveis sejam mais exigentes. Como conseqüências: a)
as exigências relacionadas ao uso de equipamentos de segurança e de ergonomia
dificultam o relacionamento entre empresas formais e informais, principalmente a
relação entre empresas e trabalhadores a domicílio; b) as exigências ambientais,
envolvendo o tratamento de resíduos da produção e a utilização de matéria-prima
originada de fontes não renováveis de recursos, têm impedido obtenção de
financiamentos para as empresas moveleiras, liberação de documentos para a
exportação e, ainda, a consecução de credibilidade de outros países; c) a exigência
ambiental tem feito com que haja maior controle em toda a cadeia produtiva; a redução
de relações de parcerias entre formais e informais e a busca por novas alternativas por
meio da inovação de materiais e de produtos.
f) Comercialização e distribuição de produtos
Para as confecções, o escoamento é facilitado pelas vendas diluídas feitas a
sacoleiras, a vendedores ambulantes e em despachados pelo correio, ônibus, etc. Isso
reduz a dependência excessiva de transporte de produtos acabados, fazendo com que o
transporte não seja considerado problema tão significativo. Os recursos utilizados para a
comercialização são: mostruário de artigos prontos, distribuídos aos representantes
comerciais, catálogos e venda física nos pontos de distribuição. Para as empresas de
móveis, a comercialização geralmente é feita para lojas de atacado e varejo,
direcionadas a um segmento de mercado específico. As estratégias de comercialização
desses produtos envolvem exposições locais, projetos compradores e desenvolvimento
de catálogos. Em virtude das especificidades dos produtos, são exigidos tipos de
transportes apropriados e um volume de vendas significativo, que compensem os custos
desse transporte. O Transporte representa um dos principais gargalos para as empresas
do setor nos dois APLs estudados, havendo necessidade de estratégias voltadas para a
distribuição conjunta e desenvolvimento de transportadoras especializadas.
g) Investimento em Máquinas e equipamentos
Nas confecções, apesar do investimento em máquinas de várias etapas do
processo produtivo ser consideravelmente alto, existem máquinas com preços mais
191
acessíveis que podem ser obtidas para trabalhos especializados como facção, corte,
acabamento, etiqueta, embalagem, etc. Isso permite facilidade de entrada e saída de
empresas, de relativa instabilidade, que varia conforme os momentos favoráveis e
desfavoráveis do mercado, o que ressalta uma forte característica desta atividade, de
uma quase ausência de barreiras à entrada de novos produtores no mercado. Já para a
produção de móveis, apesar de não existir limitações para utilizar máquinas antigas e
modernas na produção, o valor de investimento nessas máquinas e equipamentos é
relativamente alto, quando comparado com as confecções. A indústria moveleira exige
instalações mínimas de segurança e de funcionamento e, ainda, a especialização em
parte do processo produtivo não é uma característica forte. Isso dificulta a entrada de
novos produtores, mas exerce peso maior na saída desses produtores.
h) Investimento em capital de giro
Nas confecções, a maior margem percentual por unidade de produção adquirida
pelas vendas, associada ao alto giro de estoques e à velocidade do processo de
produção, têm feito com que a demanda por capital de giro seja menor, favorecendo
entrada e saída de empresas. Já para a produção de móveis, a menor margem de
contribuição por unidade produzida, a manutenção de níveis elevados de estoque de
materiais, produtos em processo e produtos acabados, associados a volumes
consideravelmente altos empregados em mão-de-obra, materiais, gastos indiretos de
fabricação, têm feito com que os investimentos em capital de giro sejam relativamente
superiores, dificultando entrada e saída de empresas.
i) Inovação tecnológica
Nas confecções a inovação tecnológica está mais relacionada com o design de
produtos. Neste ramo a cópia de produtos da mesma localidade tem sido significativa,
obrigando a concentração de esforços de inovação em design, como estratégia de
redução de custos e diferenciação de produtos, de modo a alcançar melhores preços e
maiores margens de lucro. A falta de inovação em tecnologia de produção, com
aquisição de máquinas e equipamentos tem inibido as relações entre empresas formais e
informais e a terceirização de parte da produção. Na atividade moveleira, as inovações
estão relacionadas com máquinas e equipamentos, busca por novos materiais e novos
processos produtivos e design.
192
7.2
Análise comparativa dos condicionantes dos APLs de Ubá e Carmo do
Cajuru
O APL de Ubá pode ser caracterizado como um arranjo produtivo organizado a
caminho da inovação, enquanto o APL de Carmo do Cajuru pode ser caracterizado
como um APL de sobrevivência (Tabela 33). Essa diferença de resultado pode ser
verificada por meio dos condicionantes territoriais, presentes no território.
7.2.1
Condicionantes Marshallianos
Analisando os condicionantes Marshallianos (Tabela 34), no geral, Ubá tem
apresentado melhores resultados do que Carmo do Cajuru. Porém, nos quesitos
disponibilidade de mão-de-obra, vizinhança de mercado e infra-estrutura de
telecomunicação, os resultados de Carmo do Cajuru foram melhores. Em ambos APLs,
o custo da mão-de-obra especializada é considerado cara, não sendo um fator de atração
e fixação da empresa nas referidas localidades.
Quanto aos fornecedores, não há indústria de fornecimento da maioria das
matérias-primas, insumos e máquinas e equipamentos em nenhum dos dois APLs. Não
há disponibilidade de recursos naturais (matéria-prima) localmente ou no entorno e nem
existe viabilidade econômica para a fixação dessas indústrias nos devidos territórios,
fazendo com que as cadeias produtivas nessas localidades se tornem menos completas.
Os Grandes produtores, principalmente os do primeiro grupo em Ubá, adquirem
madeira e insumos diretamente de outros Estados, destacando o Paraná e o Rio Grande
do Sul. Os demais fabricantes adquirem essas matérias-primas e insumos por meio de
lojas de representações das indústrias localizadas fora do APL.
Essas lojas de representações em Ubá têm facilitado a proximidade entre
empresas e fornecedores. Em Carmo do Cajuru, a escala de produção da indústria local
limita a atração de fornecedores especializados, por meio de lojas de representação. As
pequenas empresas acabam adquirindo matérias-primas e insumos de outros Estados,
principalmente o Paraná. Existem alguns pequenos fornecedores de matéria-prima e
insumos, para atendimento às necessidades eventuais desses materiais e, ainda, para
abastecer as microempresas que não possuem escala mínima suficiente para realização
de compras fora da região.
193
Tabela 33. Comparação dos APLs de Ubá e Carmo do Cajuru, de acordo com a
classificação de Mytelka e Farinelli
Itens analisados
Tamanho das firmas
Nível tecnológico
Formação gerencial
e administrativa
Mão-de-obra
Barreiras à entrada
Competição
Cooperação entre as
empresas
Especialização interfirmas
Capacidade de
inovação em
produtos e
processos,
Prática de
exportação
Número de empresas
informais
Ubá
Grandes, médias, pequenas e microempresas
Relacionado com o estado da arte em
termos de tecnologia de produção e está
em contínuo desenvolvimento
Em expansão (principalmente por meio
de formação universitária e por meio de
cursos do SEBRAE)
Constante treinamento, tanto internos
na empresa quanto por meio de
instituições de treinamento, ressaltando
o SENAI
Alta barreira para grupos
de
fabricantes de móveis produzidos com
tecnologia avançada; baixa barreira
para móveis do tipo marcenaria e média
entrada em móveis tubulares
Média, com rivalidades entre os
fabricantes de produtos semelhantes.
Tendências a cooperação.
Pequena na esfera de produção e
existência de cooperação em outras
esferas: participação de concorrentes
em feiras e exposições, elaboração de
catálogos, promoção de campanha de
marketing do APL; organização de
feiras locais e participação em feiras
em outras cidades e regiões, criação da
central de entregas, participação de
empresas em consórcio de exportação
Baixa, não aproveitando as economias
externas provenientes de aglomerados
produtivos
Alta em relação a processo e baixa em
relação a produto.
Pequena, envolvendo 14 empresas,
quando comparada com o número de
empresas formais no APL.
Médio, uma vez que este número é
menor do que o número de empresas
formais.
Efetuada pelo INTERSIND
Coordenação
das
empresas do APL
Nível de confiança
Baixa
para prática de
especialização interfirmas
Fonte: dados da pesquisa.
Carmo do Cajuru
micro e pequenas empresas
Aquém do estado da arte em termos de
tecnologia de produção (Muitas delas
funcionam
com
máquinas
e
equipamentos comprados de outras
empresas fora da região)
Baixa (na sua maioria é exercida por
empresários que possuem apenas o
primeiro ou o segundo grau completo)
Praticamente treinada na empresa (a
partir de 2003, o SENAI tem treinado
uma pequena parte dessa mão-de-obra)
São consideradas baixas em virtude da
tecnologia de produção.
Baixa em virtude da diversificação do
mix de produtos, tanto em relação aos
diversos tipos de produtos produzidos
quanto em relação aos estilos
Pequena na esfera de produção e
existência de cooperação em outras
esferas: participação de concorrentes
em feiras e exposições, catálogos de
produtos, promoção de campanha de
marketing e pela organização de feiras
locais e participação em feiras em
outras cidades e regiões;
Baixa, não aproveitando as economias
externas provenientes de aglomerados
produtivos
Possui peso relativo, porém, é
necessário investigar se essa inovação
não se trata de cópia de produtos já
absorvidos pelo mercado
Inexistência de exportação para outros
países
O número de empresas informais é
considerado baixo
Efetuada pelo SINDMOV-MG.
Baixa
194
Em relação à presença de fornecedores de bens de capital, percebe-se que a
maioria deles se encontra nos Estados de São Paulo e Paraná. Em Ubá, além de alguns
fabricantes de tipos de equipamentos básicos para a indústria moveleira, há também
escritórios de representação tanto para as máquinas de origem nacional e estrangeira.
Nos dois APLs, o encadeamento à jusante, à montante e horizontais extensivos é
prejudicado em virtude das cadeias produtivas não completas. Em Ubá, esse
encadeamento é maior, em virtude da atração de grande número de fornecedores de
materiais e máquinas e equipamentos e, ainda, da presença de lojas de móveis de varejo
na cidade. Em Carmo do Cajuru, isso não ocorre, pela dificuldade de atrair fornecedores
e, ainda, por não existir mercado consumidor nas proximidades do município.
Tabela 34. Comparativo dos condicionantes marshallianos entre Ubá e Carmo do
Cajuru
Condicionantes Marshallianos
Ubá
Média
Carmo do Cajuru
Média
Disponibilidade de mão-de-obra
2,6
2,7
Qualidade de mão-de-obra
3,5
3,0
Custo da mão-de-obra
2,0
2,0
Presença de fornecedores de matérias-primas na região
2,5
1,0
Presença de fornecedores de bens de capital
2,5
0,0
Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais
extensivos
2,5
1,0
Proximidade/vizinhança de mercados
3,0
3,0
Presença de recursos naturais específicos localmente
0,0
0,0
Presença de infra-estrutura energia
3,5
2,0
Presença de infra-estrutura telecomunicação
2.5
3,0
Presença de infra-estrutura transporte
2,0
1,5
Presença de infra-estrutura estrada
2,0
2,0
O acesso fácil à informação
4,0
3,0
4,0
2,61
4,0
2,35
Label territorial como estratégia mercadológica
Média dos pontos
Fonte: Dados da pesquisa.
Em relação à infra-estrutura, tanto em Ubá quanto em Carmo do Cajuru, a infraestrutura urbana e as rodovias de ligação da região a outras regiões do estado também
são muito precárias. Como atuar nesse tipo de deficiência está fora do alcance direto de
uma política para cluster, pode haver uma política visando induzir ações de órgãos
públicos do governo estadual e federal para tais problemas. Em Ubá, em virtude de
195
infra-estrutura urbana para a expansão das firmas, estas se deslocaram para o distrito
industrial, que está localizado na zona rural, fazendo com que os problemas em relação
à comunicação se acentuem. Em Carmo do Cajuru, problemas de comunicação e
energia elétrica no Distrito Industrial II também podem ser percebidos.
Quanto ao transporte de produtos acabados, este é considerado o gargalo nos
dois APLs. Em Ubá, há carência de transporte em virtude do volume de entregas,
acarretando atrasos de entrega de produtos e insatisfação de clientes. Em Carmo do
Cajuru, o problema do transporte está relacionado com a necessidade de um transporte
especializado para o tipo de produto mais artesanal, inviabilizando a distribuição em
maior escala de produtos para outros estados.
Em relação ao Label Territorial como estratégia mercadológica, Ubá e Carmo do
Cajuru são cidades muito conhecidas no País em virtude do tipo de produtos que
fabricam, principalmente nas localidades em que há comercialização desses produtos.
Na pesquisa, a primeira condição, declarada pelos entrevistados, que levou a instalação
de suas fábricas nessas localidades, está relacionada com o fato da localidade já ser
conhecida para esse tipo de atividade. Associado a este label territorial, declaram que
nestas localidades existem mão-de-obra especializada, infra-estrutura voltada para o tipo
de produto e facilidades de obtenção de informações.
7.2.2
Condicionantes Schumpeterianos
Analisando os condicionantes Schumpeterianos, estes foram mais bem avaliados
no APL de Ubá (Tabela 35), com exceção de elevado número de pessoas engajadas em
atividades de design e inovação de produto. Em Ubá, os resultados mostram que não há
empresas especializadas em design e, ainda, que não existe essa atividade na maioria
das empresas, com exceção das grandes empresas que possuem departamentos
específicos. Geralmente esse serviço é contratado de empresas localizadas fora do
Arranjo. Em muitas empresas de menores portes, a programação da produção é
determinada a partir dos pedidos e o design é estabelecido, acompanhando os
concorrentes e seguindo revistas de moda. Já em Carmo do Cajuru, as empresas
afirmam desenvolver o design dos seus produtos com base em pedidos de clientes,
representantes comerciais e revistas especializadas.
Em relação à proximidade com Universidades e Centros de Pesquisa, em Ubá,
há boa relação com os centros de pesquisa e de ensino de faculdades e universidades.
196
Há cursos voltados para o setor, tais como o curso superior em Administração, Designer
Industrial, Desenho Industrial e curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção.
Existem parcerias com a Universidade Federal de Viçosa no que se refere a
reflorestamento, design, ergonomia e processos produtivos, e com a Universidade
Federal de Juiz de Fora, no que se refere a design e processos produtivos. Em Carmo do
Cajuru, há presença de faculdades e universidades no entorno da cidade, no entanto, não
foi detectada a presença de trabalhos de parcerias envolvendo essas entidades.
Tabela 35. Comparativo dos condicionantes schumpeterianos entre Ubá e Carmo do
Cajuru
Condicionantes Schumpeterianos
Ubá
Carmo do Cajuru
Existência de elevado número de pessoas engajadas em
atividades de design e inovação de produto
1,0
1,0
Elevado nível de qualificação da mão-de-obra
3,5
0,9
Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários
0,0
0,0
Proximidade Universidades e Centros de pesquisa
2,8
0,0
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à
assistência de rotina às atividades produtivas técnicas e
produtivas, comerciais e financeira.
3,2
1,0
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à
qualificação da força de trabalho
3,6
2,6
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à
capacitação tecnológica às firmas
3,0
0,0
2,44
0,79
Média dos pontos
Fonte: Dados da pesquisa.
O nível de qualificação da mão-de-obra e gerencial em Ubá é considerado
elevado, com presença de fortes instituições de capacitação, tais como: o SENAI (com
diversos cursos voltados para a formação profissional), o SEBRAE e faculdades, com
cursos direcionados para a produção. Já em Carmo do Cajuru, há qualificação de parte
da mão-de-obra por poucos cursos fornecidos pela escola de marcenaria do SENAI,
além de alguns cursos de gerenciamento do SEBRAE. No geral, a mão-de-obra é
treinada no interior da fábrica, na sua rotina de produção - learning by doing - sendo
especializada no tipo de trabalho requerido. Esse melhor nível de qualificação das
empresas de Ubá é um dos reflexos da proximidade do APL com universidades e
centros de pesquisa. Apesar de Carmo do Cajuru estar próxima a Divinópolis, não pôde
ser comprovada, nesta pesquisa, relação entre as faculdades da região com as pequenas
fábricas de móveis, uma vez que tais Faculdades não oferecem cursos voltados à
197
formação de profissionais para atuarem nas diversas áreas que as empresas moveleiras
necessitam tais como: design, gestão da produção, tendências de mercado e outros. Isso
explica a pouca importância atribuída pelas empresas a essas instituições de ensino.
A presença de associações de classe e comerciais exerce importante papel para o
incremento da capacidade produtiva do APL. O apoio das instituições como SENAI,
SEBRAE, secretarias de governo, centros tecnológicos, universidades, associações de
classe, associações comerciais, centros de treinamento e capacitação de mão de obra
tem se apresentado como essencial para a resolução de problemas técnicos de produção,
capacitação, financiamentos, acesso a mercados distantes, aquisição de novos
conhecimentos, entre outros elementos vitais para o sucesso das empresas. Em Ubá, o
SENAI tem procurado atuar tanto na capacitação de mão-de-obra quanto na capacitação
tecnológica das empresas, enquanto o INTERSIND busca, por meio do Comitê Gestor,
dar assistência de rotina às atividades técnicas, produtivas, comerciais e financeiras.
Apesar da existência de Comitê semelhante em Carmo do Cajuru, percebe-se que o
maior grau de sucesso do APL de Ubá está relacionado com sua maior articulação com
essas associações, conseqüente do maior grau de maturidade e organização do APL.
Tanto em Ubá quanto em Carmo do Cajuru, o acesso a informações sobre novos
produtos e tendências de mercado (moda, design, materiais) é um ativo estratégico. Em
ambos os APLs, existe incentivo por parte da coordenadora do APL em organização de
feiras, promoção de visitações de feiras de tendências, desenvolvimento de palestras.
7.2.3
Condicionantes transacionais
Em relação aos condicionantes transacionais (Tabela 36), ambos APLs tem
apresentado pontos bastante restritivos, principalmente em relação a cooperação
horizontal e vertical. As empresas preferem internalizar a produção a ter que
transacionar com o mercado. Prevalece, assim, um clima de desconfiança e competição,
sobretudo quando se trata de atividades ou de conhecimentos estratégicos, como P&D
de produtos, design, e, até mesmo, em ações mais corriqueiras, como compra conjunta.
No entanto, essa tendência à verticalização parece ser característica desse tipo de
indústria no Brasil. De acordo com Cunha et. al. (2006), as empresas moveleiras de
Arapongas, do Oeste Catarinense, de São Bento do Sul, e de Bento Gonçalves,
apresentam alto grau de verticalização, realizando, praticamente, todas as fases do
processo produtivo dentro de suas fábricas.
198
Em Ubá, o alto grau de verticalização na produção está relacionado com a
tecnologia adotada, principalmente, pelas empresas do grupo 1. Pelos relatos, a
tendência é aumentar mais ainda essa internalização da produção. Grandes volumes são
produzidos por essas empresas, que basicamente, detém 48% da produção total do
aglomerado. Então, há o risco de o APL se transformar em um aglomerado de empresas
verticalizadas, tecnologicamente avançadas, e especializadas em móveis padronizados.
Tabela 36. Comparativo dos condicionantes Transacionais de Ubá e Carmo do Cajuru
Condicionantes Transacionais
Cooperação entre firmas competidoras baseada em relações de confiança
altamente desenvolvidas e sedimentadas.
Ubá
Carmo do
Cajuru
2,0
2,0
Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação
2,0
2,0
Utilização de colaboração vertical
1,0
1,0
Utilização de colaboração horizontal
1,0
1,0
Contatos freqüentes entre empresas formais e informais
0,0
0,0
Presença de confiança recíproca
2,0
2,0
Menor rigor dos contratos padronizados
A governança interna do APL tem influenciado para facilitar a elaboração
de contratos no sentido de maior flexibilidade
4,0
4,0
3,0
0,0
A governança interna tem contribuído para facilitar o processo de compras
3,0
1,0
3,0
1,0
3,0
2,18
1,0
1,67
A governança interna tem contribuído para facilitar o processo de vendas
A governança interna tem contribuído para facilitar o processo de
distribuição e marketing
Média dos pontos
Fonte: Dados da pesquisa.
A baixa interação com outras empresas locais dificulta: a formação de parcerias;
a divisão de trabalho no interior da cadeia produtiva de móveis; o surgimento de
empresas especializadas na realização de etapas produtivas, já que a aquisição de partes
e de serviços de terceiros comumente não atinge valores significativos e; a existência de
um número significativo de empresas que produzem o mesmo tipo de móvel, sem
nenhum compartilhamento de trabalho entre si. Isso limita as possibilidades de criar
externalidades positivas aos produtores a partir de ações conjuntas, que poderiam
contribuir para o incremento da competitividade de todo o sistema local.
199
Tanto em Ubá quanto em Carmo do Cajuru, as formas mais relevantes de
cooperação entre empresas estão relacionadas à prática de participação em exposição
com a divisão de stands; organização de exposições; visitas a outros arranjos
produtivos; trocas freqüentes e recorrentes, de forma não codificada, entre atores locais
de informações e conhecimento. Segundo Cunha et. al. (2006), tais formas também são
as mais praticadas em outros aglomerados produtivos tais como: Arapongas, Empresas
do Oeste Catarinense e Bento Gonçalves. Em São Bento do Sul existe cooperação nas
atividades de treinamento de pessoal e compra conjunta de insumos.
Em Ubá, a governança interna do APL tem desenvolvido trabalhos no sentido de
aumentar a cooperação. Hoje, há dois pequenos grupos de empresas que realizam
estratégias de exportação em conjunto; há uma central de distribuição, coordenado pelo
INTERSIND, objetivando resolver problemas de falta de transporte de produto acabado;
há trabalho de marketing em conjunto para divulgar a marca do APL de Ubá e Região.
Outra forma de parceria, que tem sido muito utilizada em Ubá, está relacionada
ao estreito contato entre as empresas e os fornecedores locais e representantes de
fornecedores que estão instalados na região. A boa relação de confiança entre eles
permite que sejam desenvolvidos trabalhos em conjunto divisão de stands em
exposição, treinamento de empregados para utilização de materiais e máquinas
específicas. Essa relação com os fornecedores é possível em Ubá em virtude da maior
parte das indústrias possuírem lojas de representação na cidade.
7.2.4
Condicionantes Institucionais
Em relação aos condicionantes Institucionais Locais (Tabela 37), percebe-se que
em ambos os APLs existem os agentes capazes de proporcionar mudanças no ambiente
institucional em prol de uma cultura de maior confiança, cooperação e parceria e,
conseqüentemente, a redução dos custos de transação.
Tanto em Ubá quanto em Carmo do Cajuru, os agentes de mudanças têm se
esforçado para aumentar o relacionamento entre as empresas, de modo que, no longo
prazo, consiga obter uma ambiente institucional que valorize a interação social e estreite
os laços de confiança. Isso é importante para a geração de um ambiente de reduzido
custos de transação, capaz de fortalecer as cooperações verticais e horizontais,
aproveitando o potencial de cooperação para complementar recursos e aprendizagem.
Os principais trabalhos que estão sendo desenvolvidos por esses agentes são: promoção
200
de
visitas
técnicas
em
outros
APLs;
exposições
em
conjunto,
palestras,
desenvolvimento de marketing em conjunto; iniciativas em conjunto de vendas,
transporte e compra de matéria-prima; tentativas de buscar alternativas para que as
empresas possam atender a legislações específicas80.
Tabela 37. Comparativo dos condicionantes Institucionais entre Carmo do Cajuru e Ubá
Condicionantes Institucionais
Ubá
Carmo do
Cajuru
Existência de um ambiente institucional que permite a redução da
assimetria de informação no APL e redução de custos de transação
2,0
2,0
A criação de aspectos culturais que permitam estabelecer laços de
confiança, interação social, identidade e objetivos comuns
3,0
2,0
Existência de apoio de agentes políticos e sociais no
desenvolvimento de atividades de parceria
4,0
2,0
Existência de apoio de agentes políticos e sociais para estimular a
transformação do APL em sistemas mais amplos de inovação
4,0
3,0
Existência da proximidade dos APLs com instituições de ensino,
pesquisa e agentes econômicos
4,0
0,0
3,4
1,8
Média dos pontos
Fonte: Dados da pesquisa.
Apesar da existência desses agentes no território, as atividades de cooperação
vertical e horizontal são consideradas bastante fracas, em virtude da falta de um
ambiente de maior confiança e ajuda mútua. No entanto, a não correlação direta desses
condicionantes com a mudança no ambiente institucional não significa, num primeiro
momento, que esses agentes não estão cumprindo o seu papel, pois tais mudanças são
lentas e graduais, podendo levar muitos anos para serem efetivadas.
7.3
Análise comparativa dos condicionantes dos APLs de Muriaé e São João
Nepomuceno
Pode-se perceber que, nos dois, existem grupos de desempenho diferenciado em
relação a maioria das empresas. Em Muriaé este grupo é de 50 empresas – dentro de um
universo de 578 formais e informais – e em São João Nepomuceno, este grupo é de 30
empresas – dentro do universo de 270 formais e informais. Os dois APLs são
caracterizados como de sobrevivência, conforme mostra a Tabela 38.
80
A legislação ambiental tem inibido o desenvolvimento de exportações em Carmo do Cajuru e, ainda, o
acesso dessas empresas às fontes de financiamentos subsidiadas. Os agentes de animação e apoio têm
trabalhado no sentido de dotar essas empresas de infra-estrutura mínima exigida por essa legislação.
201
Tabela 38. Comparação dos APLs de Muriaé e São João Nepomuceno, de acordo com a
classificação de Mytelka e Farinelli
Itens analisados
Tamanho das firmas
Nível tecnológico
Formação gerencial e
administrativa
Mão-de-obra
Barreiras à entrada
Competição
Cooperação entre as
empresas
Especialização interfirmas
Capacidade de
inovação em produtos
e processos
Prática de exportação
Número de empresas
informais
Coordenação das
empresas do APL
Nível de confiança
para prática de
especialização interfirmas
Fonte: dados da pesquisa.
Muriaé
Micro, pequenas e médias empresas
Contínuo desenvolvimento para o
grupo de 30 empresas que se
encontra no estado da arte da
tecnologia e pequeno para o restante,
dificultando a terceirização
Em expansão para o grupo de 30
empresas e baixo para o restante.
Baixo nível de escolaridade, porém,
em constante treinamento, tanto
internos na empresa quanto por meio
do SENAI e do CONDESSC
Baixa
Média, tendendo a cooperar dentro
do grupo de 30 empresários que
utilizam da diferenciação de produtos
e alta nas demais empresas que
praticam cópia de produtos e
concorrência de preços.
Dentro do grupo de 30 empresas, há
trabalhos de cooperação horizontal
tais como: participação em feiras
especializadas no setor; troca de
informações; ações conjuntas para
capacitação
de
mão-de-obra,
tentativas de formar consórcios de
exportação; elaboração conjunta de
catálogos de produtos e outros. Nas
demais empresas não há essa
cooperação.
Existem práticas de especialização
inter-firmas tais como a facção,
bordados
mecânicos,
bordados
manuais e estampagens
Alta no grupo das 30 empresas e
baixa nas demais
São João Nepomuceno
Micro, pequenas e médias empresas
Contínuo desenvolvimento para o
grupo de 20 empresas que se encontra
no estado da arte da tecnologia e
pequeno para o restante, dificultando a
terceirização
Em expansão para o grupo de 20
empresas e baixo para o restante.
Baixo nível de escolaridade e
geralmente o treinamento se dá dentro
da empresa, por meio dos tipos de
aprendizado learning by doing e
learning by using.
Baixa
Média, uma vez que as empresas
diferenciam seus produtos e grande
parte da produção é direcionada para
clientes específicos, localizados fora do
território do APL.
Baixa, porém, há iniciativas de
cooperação horizontal tais como:
participação em feiras; troca de
informações por meio de reuniões, por
20 empresas; ações conjuntas de
marketing em conjunto de 3 empresas
que adquiriram a marca “Lápis de
Cor”; trabalho de design em conjunto
por 8 empresas e elaboração conjunta
de catálogos de produtos; organização
de feiras locais e participação em feiras
em outras cidades e regiões.
Existem práticas de especialização
inter-firmas tais como a facção,
especialização em bordados e em
lavagem de jeans.
Alta no grupo de 20 empresas e baixa
nas demais
Quase inexistente (há 1 empresa
exporta regularmente, 2 exportam
esporadicamente e 5 estão em fase
experimental )
Alto
Alto
Exercida pelo DRMR, CONDESSC,
SMDE e o SEBRAE-MG, mas o
número de associados é bastante
pequeno, comparado com o número
de empresas do setor no APL.
Baixo, sendo necessários esforços da
coordenação do APL, para aumentar
essa confiança.
Exercida pelo SINDIVEST em
conjunto com o SEBRAE e com a
Agência de Desenvolvimento Regional.
O número de associados abrange 100%
das empresas formais.
Baixo, sendo necessários esforços da
coordenação do APL, para aumentar
essa confiança.
202
Praticamente inexistente (1 empresa
exporta regularmente)
As especificidades de cada aglomerado podem ser verificadas por meio da
análise dos condicionantes territoriais.
7.3.1. Condicionantes marshallianos
Analisando os condicionantes Marshallianos (Tabela 39), percebe-se que, nos
dois APLs, a existência e o peso desses condicionantes quase não se alteram. Em
relação à qualidade da mão de obra, Muriaé apresenta melhor resultado, que pode estar
relacionado com o maior número de instituições de capacitação de mão-de-obra
especializada no território, enquanto a mão-de-obra de São João Nepomuceno é
basicamente treinada dentro das próprias empresas. Quanto à disponibilidade de mãode-obra especializada, percebe-se que, atualmente, com o crescimento do volume de
empresas, há uma carência de pessoal especializado, fazendo com que os custos de
mão-de-obra apresentem aumentos significativos, quando comparados com outras
localidades.
Tabela 39. Comparativo dos condicionantes marshallianos entre Muriaé e São João
Nepomuceno
Condicionantes Marshallianos
Muriaé
(média)
São João
Nepomuceno
(média)
Disponibilidade de mão-de-obra
3,0
2,6
Qualidade de mão-de-obra
2,5
2,0
Custo da mão-de-obra
2,0
2,0
Presença de fornecedores de matérias-primas na região
3,0
0,0
Presença de fornecedores de bens de capital
3,0
2,0
Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos
2,5
2,0
Proximidade/vizinhança de mercados
3,0
3,0
Presença de recursos naturais específicos localmente/ entorno
0,0
0,0
Presença de infra-estrutura energia
4,0
3,5
Presença de infra-estrutura telecomunicação
3,0
2,5
Presença de infra-estrutura transporte
3,0
3,0
Presença de infra-estrutura estrada
1,6
2,0
O acesso fácil à informação
3,0
3,0
Label territorial como estratégia mercadológica
3,5
3,5
2,85
2,22
Média dos pontos
Fonte: Dados da pesquisa.
203
Em relação à presença de fornecedores, Muriaé apresenta melhores condições, já
que todos os materiais, máquinas e equipamentos necessários são comercializados no
território, enquanto em São João Nepomuceno não há fornecedores locais de materiais e
há apenas um fornecedor de máquinas e equipamentos.
7.3.2. Condicionantes Shumpterianos
Analisando os condicionantes Shumpterianos, percebe-se que estes, no geral,
também não apresentaram diferenças significativas entre os APLs de Muriaé e São João
Nepomuceno (Tabela 40). A qualidade da mão-de-obra em ambos APLs é aceitável,
porém não possui uma qualificação muito elevada. Em Muriaé, o trabalho voltado para
o treinamento de mão-de-obra especializada é mais intenso, mesmo porque existe a
constante preocupação dos órgãos de coordenação, juntamente com a Prefeitura
Municipal de Muriaé, na capacitação da mão-de-obra para o trabalho em confecções.
Em São João Nepomuceno, grande parte do aprendizado está relacionado com os tipos
learning by doing e learning by using.
Quanto à proximidade com universidades e centros de pesquisa, São João
Nepomuceno apresenta situação mais vantajosa, até mesmo pela localização geográfica
próxima à cidade de Juiz de Fora, permitindo maiores contatos das empresas do APL
com Universidades e Centros de Pesquisa.
Tabela 40. Comparativo dos condicionantes schumpeterianos entre Muriaé e São João
Nepomuceno
Condicionantes Shumpterianos
Muriaé
(média)
São João
Nepomuceno
(média)
Existência na região de elevado número de pessoas engajadas
em atividades de design e inovação de produto
2,0
1,5
Elevado nível de qualificação da mão-de-obra
2,0
2,0
Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários
0,0
0,0
Proximidade Universidades e Centros de pesquisa
Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos
0,0
2,5
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à
assistência de rotina às atividades produtivas técnicas e
produtivas, comerciais e financeira.
3,0
3,0
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à
qualificação da força de trabalho
3,0
2,5
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à
capacitação tecnológica às firmas
3,0
3,0
2,16
2,07
Média dos pontos
Fonte: Dados da pesquisa.
204
7.3.3. Condicionantes transacionais
Em relação aos condicionantes transacionais (Tabela 41), ambos os APLs têm
apresentado pontos bastante restritivos, principalmente em relação à cooperação
horizontal. Apesar dos esforços da governança interna para ampliar esse tipo de
cooperação, existe baixa cooperação nas atividades de compras e vendas em conjunto,
provocadas pelo baixo nível de confiança entre as empresas. Não existem grupos de
exportação de peso, sendo essas atividades desenvolvidas pelas empresas isoladas,
arcando com os custos burocráticos. O marketing conjunto é muito restrito a pequenos
grupos. Esse baixo nível de cooperação horizontal é percebido até mesmo nos grupos
mais atuantes nos APLs de Muriaé e São João Nepomuceno. Nesse caso, cada empresa
busca desenvolver suas estratégias de compra e venda. Tal comportamento ainda é
fruto do período de concorrência acirrada, vivida em décadas anteriores.
Já em relação à cooperação vertical, tem-se percebido maior presença desse
tipo de cooperação, principalmente quando comparada com os APLs do setor
moveleiro. Em maior escala, essa cooperação se dá por meio das atividades de facção,
bordados e estampagem e, em menor escala, nas atividades de etiquetagem,
embalagem, costura, cós, etc. Em São João Nepomuceno, ressalta-se a atividade de
lavanderia. As demais atividades são racionalizadas, buscando escala interna de
produção, não aproveitando as economias externas da aglomeração, por meio de
especialização de atividades. Nas entrevistas, percebeu-se que, além da falta de
confiança entre as empresas, os diferentes estágios tecnológicos têm dificultado
práticas de cooperação. Há empresas com máquinas tecnologicamente avançadas e
outras com máquinas muito simples. Pôde-se detectar em São João Nepomuceno a
cooperação envolvendo empréstimo de máquinas e treinamento de pessoal.
Em São João Nepomuceno, a proximidade entre empresas formais e informais
é maior, uma vez que, desde a década de 1980, as empresas informais surgiram como
estratégia de ampliação da capacidade produtiva das empresas formais. Em Muriaé,
existe concorrência entre as empresas formais e informais.
Um dos problemas enfrentados pela governança local é o nível de participação
dos empresários. Em Muriaé, por exemplo, poucos empresários são filiados ao
sindicato, de modo que a grande maioria fica fora do campo de atuação da governança
interna do APL. Em São João Nepomuceno, a maioria dos empresários é filiada,
porém, há pouca participação efetiva desses empresários no arranjo.
205
Tabela 41. Comparativo dos condicionantes Transacionais entre Muriaé e São João
Nepomuceno
Condicionantes Transacionais
Muriaé
(média)
São João
Nepomuceno
(média)
Cooperação entre firmas competidoras baseada em relações de
confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas.
1,5
2,0
Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de
transação
1,5
1,5
Utilização de colaboração vertical
2,5
3,0
Utilização de colaboração horizontal
1,0
1,0
Contatos freqüentes entre empresas formais e informais
2,5
3,0
Presença de confiança recíproca
2,0
2,0
Menor rigor dos contratos padronizados
3,0
2,0
A governança interna do APL tem influenciado para facilitar a
elaboração de contratos no sentido de maior flexibilidade
2,5
1,5
A governança interna tem contribuído para facilitar o processo
de compras
2,0
1,0
A governança interna tem contribuído para facilitar o processo
de vendas
2,5
3,0
A governança interna tem contribuído para facilitar o processo
de distribuição e marketing
2,5
2,5
2,13
2,05
Média dos pontos
Fonte: Dados da pesquisa.
Dentro dos grupos atuantes de ambos APLs, as trocas de informações de forma
não codificada, abrangendo tanto os canais verticais quanto horizontais, é mais presente
em Muriaé, já que existe um trabalho da governança interna promovendo discussões
para troca dessas informações. Em São João Nepomuceno, essa troca de informação
ocorre mais em nível vertical, principalmente, entre empresas formais e informais.
7.3.4. Condicionantes Institucionais
Em relação aos condicionantes institucionais locais (Tabela 42), percebe-se que
ambos os APLs possuem as mesmas condições para atuação. Existe o empenho dos
agentes de animação e apoio no sentido de proporcionar um ambiente de menor
assimetria de informação e redução de custos de transação, fazendo com que o APL seja
estimulado a se transformar em sistemas mais amplos de inovação. No entanto, o
número reduzido de afiliados a esses agentes em Muriaé e a baixa participação nas
reuniões em São João Nepomuceno, tem dificultado o trabalho desses agentes.
206
Tabela 42. Comparativo dos condicionantes Institucionais entre Muriaé e São João
Nepomuceno
Condicionantes Institucionais
Muriaé
(média)
São João
Nepomuceno
(média)
Existência de um ambiente institucional que permite a
redução da assimetria de informação no APL e redução
de custos de transação
2,5
2,5
A criação de aspectos culturais que permitam
estabelecer laços de confiança, interação social,
identidade e objetivos comuns.
2,0
2,0
Existe apoio das instituições políticas e sociais locais no
desenvolvimento de atividades de parceria
3,0
2,5
Existem apoios de instituições políticas e sociais para
estimular a transformação do APL em sistemas mais
amplos de inovação (esforço conjunto SEBRAE,
FIEMG, Universidades, governo federal)
2,5
2,5
Existência da proximidade dos APLs com instituições
de ensino, pesquisa e agentes econômicos
0
2,5
2,0
2,4
Média dos pontos
Fonte: Dados da pesquisa.
Em São João Nepomuceno, percebe-se uma ausência de apoio do pode público
local no desenvolvimento de atividades de parceria. Em Muriaé há falta de proximidade
do APL com instituições de pesquisa e centros de ensino.
Em ambos APLs, as diferentes alíquotas de ICMS entre os Estados têm
prejudicado as empresas do setor na formação de preços, principalmente quando o
produto tem que concorrer com outros de outros estados.
7.4
Considerações gerais sobre os condicionantes territoriais
Neste trabalho a análise da dinâmica dos sistemas produtivos é feita com base no
levantamento dos condicionantes territoriais que estão relacionados com os diversos
tipos de externalidades marshallianas, schumpeterianas, transacionais e institucionais.
Analisando os quatro APLs, percebe-se que os condicionantes que tem
apresentado resultados mais significativos, no sentido de atrair e manter empresas
relacionando entre si, são os condicionantes marshallianos. Por isso esses
condicionantes têm exercido papel de fator de localização de empresas em um
determinado local, tais como o acesso e o custo da mão-de-obra, de infra-estruturas, de
matérias primas e de redes de transporte.
207
Tais condicionantes são importantes para que os aglomerados surjam. No
entanto, não garantem o desenvolvimento e a sustentabilidade do aglomerado, no longo
prazo, porque não garantem o processo de territorização, que é conseguido por meio da
relação de trocas na região. Além disso, segundo o raciocínio de Penrose (1959), no que
se refere aos recursos produtivos, os mesmos condicionantes territoriais podem existir
em outras localidades.
Nesse sentido, torna-se necessário romper a barreira dos ganhos marshallianos
em direção, uma vez que, o caráter diferenciador de um determinado APL centra na
capacidade das firmas interagirem entre si e com o seu território, obedecendo aos
códigos constituídos pelo meio. Essa relação de troca leva à chamada ancoragem ou
enraizamento territorial que, conseqüentemente, leva ao desenvolvimento endógeno.
Outros condicionantes são desenvolvidos nesses territórios, tais como: os
condicionantes Shumpterianos, voltados para a aprendizagem e desenvolvimento das
firmas por meio de um processo evolutivo; os condicionantes transacionais, que
provocam a redução dos custos de transação, provocados pela maior interação entre as
firmas e; os condicionantes institucionais locais, provocados pela modificação no
ambiente institucional, voltado para a construção de um ambiente que valorize a
interação social e estreite os laços de confiança mútua.
A existência ou ausência dos itens contidos em cada grupo de condicionante
acaba influenciando o APL. Por exemplo, um ambiente institucional fraco acaba
acentuando a assimetria de informação, reduzindo a confiança que poderia existir neste
ambiente. Isso faz com que as empresas acabem internalizando a produção como forma
de reduzir os custos de transação, que passam a ser crescentes frente às mudanças nos
fatores externos. Como resultado deste processo, tem-se uma menor especialidade
produtiva das empresas, menor divisão do trabalho, perda de produtividade e
dificuldade em estabelecer canais de aprendizado coletivo, colocando em risco o
desenvolvimento do aglomerado como um todo.
Para o fortalecimento deste ambiente institucional, dentro dos APLs, os agentes
de animação e os de apoio exercem importância significativa, uma vez que são capazes
de influenciar a coordenação das empresas, estimulando a criação de um ambiente local
que valorize a interação social e estreite os laços de confiança mútua. Neste ambiente,
as forças de competição e colaboração tendem a se reforçar mutuamente e do equilíbrio
dessa interação é possível a composição de uma estratégia mais eficaz para as firmas
envolvidas do que a competição pura.
208
Nos quatro casos estudados, percebe-se a presença e a atuação significativas
desses agentes de animação e de apoio, ressaltando o papel dos Sindicatos Patronais,
que atuam como agente de animação que auxilia na coordenação das ações dos APLs.
Apesar dos esforços voltados para romper com as externalidades marshallianas,
como fator de localização, o que se tem percebido, nos APLs estudados que existem
restrições significativas relacionadas com as externalidades schumpeterianas e
transacionais. No que se refere às externalidades schumpeterianas, as restrições estão
relacionadas com o compartilhamento de ações coletivas e do conhecimento tácito e a
busca de inovação no conjunto do arranjo. Quanto à externalidades transacionais, há
dificuldades em manter níveis mínimos de cooperação horizontal e vertical tanto na
produção quanto em outras atividades como vendas, marketing, desenvolvimento de
produtos e outros.
Cabe ressaltar que até mesmo algumas externalidades marshallianas, os APLs
não tem desenvolvido com o tempo, tais como encadeamento a jusante, à montante e
horizontais extensivos, presença de fornecedores e desenvolvimento de infra-estrutura.
Lemos et. al. (2005) afirmam que tais dificuldades estão ligadas aos aspectos
urbanos e de entorno, em que os APLs estão inseridos. Ambos os aspectos devem ser
considerados como ponto de partida para o desenvolvimento de políticas de
desenvolvimento de APLs.
Em relação aos aspectos urbanos, os autores mostram que a concentração urbana
funciona como uma força centrípeta de atração e criação de novas atividades produtivas.
Conseqüentemente, a diversificação produtiva se beneficia dos ganhos ilimitados da
divisão social do trabalho e proporciona as chamadas economias de urbanização, que
são dependentes do centro urbano em questão.
Quando os APLs estão inseridos em um centro urbano forte, acabam sendo
induzidos à inovação. Tal inovação acaba renovando incessantemente a própria base
produtiva local. Com o tempo, a economia local pode passar por um processo de
renovação, em função da maior oferta de bens e serviços a disposição de seu
desenvolvimento, ou sua substituição enquanto um produto exportável. Isso pode levar
a um eventual declínio da atividade do APL, sem trazer maiores traumas para o local.
No entanto, quando as cidades são menores, possuem dificuldades de
diversificação e o crescimento é dependente da própria evolução do APL. Essas cidades
são chamadas por Lemos et. al. (2005) de “cidades mono-apl”. Nelas as economias
urbanas são eficientes, com elevado nível de produtividade do APL, porém, pouco
209
dinâmicas no longo prazo, uma vez que, são limitadas aos ganhos de especialização
marshallianas. Segundo esses autores, sem as vantagens mínimas da diversificação,
propiciadas pelo desenvolvimento urbano, torna-se limitados os ganhos externos
localizados, necessários para o crescimento dos APLs, o que pode resultar em arranjos
sem dinamismo ou arranjos de subsistência. Um eventual declínio da atividade pode
trazer conseqüências indesejáveis para o local. O caso da Mesbla em São João
Nepomuceno e a crise das oficinas mecânicas em Muriaé podem exemplificar este
raciocínio, em que as cidades foram prejudicadas em virtude desse declínio da atividade
associado à falta de diversificação das atividades urbanas.
Em todas as localidades estudadas, pôde-se perceber a dependência da renda
proveniente das atividades dos APLs. Em Ubá, o APL de móveis é responsável por 65%
da renda; em Carmo do Cajuru este percentual é de 37%, em Muriaé é de 42% e em São
João Nepomuceno esse percentual é de 60%.
Em relação aos aspectos de entorno, os autores mostram que quando os APLs
são localizados próximos a centros urbanos industrializados de grande e médios portes,
providas de capital social desenvolvido, rede integrada de transporte, infra-estrutura
urbana consolidada e sistema de educação sofisticado é possível implementar estratégias
de complementaridades produtivas entre as empresas do pólo urbano regional e seu
entorno. No entanto, quando se tem um entorno de subsistência economicamente vazio,
existe a dificuldade de desenvolver estratégias de desenvolvimento local em virtude das
dificuldades de integração regional decorrentes do baixo nível de renda.
Os APLs estudados se encontram em uma situação intermediária. Nos APLs de
São João Nepomuceno, Muriaé e Ubá há uma extensão da produção para outras cidades
dessas regiões, aumentando assim a área de abrangência do APL além dos limites
territoriais dos municípios. No entanto, essas localidades de entorno são basicamente de
sobrevivência e acabam dependendo também da renda proveniente do APL. Em todas
elas o entorno é basicamente de subsistência, apresentando densidade urbana limitada,
baixo nível de renda per capta, reduzida complementaridade produtiva e de serviços
com o pólo urbano. Em Carmo do Cajuru, o entorno é bem mais desenvolvido para
outras atividades que não fazem parte do setor moveleiro, ficando a cidade como a
única produtora de móveis da região. No entanto, a cidade é bastante pequena, o que
dificulta o processo de especialização e o encadeamento de firmas a montante e a
jusante.
210
Dessa forma, todos os APLs estudados são afetados pelas restrições impostas
tais como: a) os núcleos urbanos não são capazes de desaglomerar atividades
econômicas para o seu entorno e de criar um mercado de trabalho local dinâmico; b) a
lógica do desenvolvimento das capacitações tecnológicas é essencialmente produtiva; c)
as densidades urbanas e as áreas de mercado são restritas, dificultando o surgimento de
atividades de serviços e industriais complementares à sua especialização industrial;
A análise dos aglomerados produtivos pela ótica dos condicionantes e as
considerações sobre os aspetos urbanos e de entorno acabam levando a reflexões sobre
políticas de apoio aos sistemas produtivos locais e elaboração de pistas para novas
pesquisas.
211
CAPÍTULO 8
Sugestões de políticas privadas e públicas para os APLs mineiros e pistas para
novas pesquisas
8.1
Sugestões de políticas privadas e públicas
A análise do comportamento de arranjos produtivos locais, com base em seus
condicionantes, sejam esses marshallianos, schumpeterianos, transacionais ou
institucionais e as considerações sobre os aspetos urbanos e de entorno, permite
reflexões sobre políticas para estimular o crescimento e desenvolvimento desses
arranjos. Isso ocorre porque, ao se levantar condicionantes positivos e negativos desses
arranjos territoriais, podem listar políticas que intensifiquem os benefícios da presença
de condicionantes positivos e reduzam os efeitos dos negativos e restritivos, apesar da
presença ou ausência desses condicionantes não garantir o sucesso ou o fracasso, pois a
evolução desses aglomerados depende da efetividade da interação geral entre todos os
componentes do arranjo.
Assim, esses condicionantes podem servir como direcionadores de ações
privadas e/ou públicas para melhorar condições locais ou regionais para o crescimento
do conjunto de empresas, por meio de incentivos a investimentos, ao desenvolvimento
tecnológico e às exportações, visando, sobretudo, aumento de emprego e de renda. A
contribuição do levantamento dos condicionantes é o preparo do terreno para ações
conjuntas das empresas e destas com órgãos e entidades locais e com o setor público.
O conjunto de políticas deve ser elaborado após a realização de pesquisas de
campo nos APLs, previamente identificados por metodologias apropriadas, tais como as
desenvolvidas por autores como Crocco et. al (2003) e Suzigan et. al. (2005), que
podem captar as especificidades que condicionam cada uma das aglomerações de
empresas, como a história, a evolução, a forma de organização industrial, as instituições
de apoio, as estrutura de governança, entre outras (IEDI, 2003).
De acordo com Crocco et. al (2005), as características dos APLs podem estar
centradas tanto no ambiente interno do APL quanto no ambiente externo, como, por
exemplo, sistema de inovação incompleto ou ambiente econômico instável. Como tanto
212
o ambiente interno como externo estão envolvidos com os APLs, devem ser levados em
consideração para elaboração de políticas publicas.
Assim, ao estudar os condicionantes territoriais relacionados aos APLs, além de
se constatar as economias externas locais relativas ao tamanho de mercado, à
concentração de mão-de-obra especializada, à spill-overs tecnológicos e a outros fatores
que favorecem a especialização local, acaba-se identificando as características internas
que costumam estar presentes nos APLs, tais como: a) a interação por meio de linkages
de produção, comércio e distribuição; b) a cooperação em marketing, promoção de
exportações, suprimentos de insumos essenciais, atividades de P & D; c) o apoio das
instituições locais; d) as lideranças locais de coordenação de ações privadas e públicas;
e) a existência de algumas formas locais de identidade política, social ou cultural que
constitui a base para que haja confiança e compartilhamento de informações entre as
empresas; f) os programas existentes (ou já implementados) de reestruturação produtiva,
organizacional e tecnológica, com ou sem o apoio de órgãos públicos de financiamento.
Em virtude dos diferentes tipos de condicionantes e, até mesmo, da presença
destes com intensidades variadas, os APLs acabam apresentando características muito
particulares em seus atributos, seus agentes, sua inserção própria no ambiente, seu tipo
de escala de produção, seu tipo de inovação, etc. Assim, não existe uma política única,
inflexível, que sirva aos propósitos de qualquer aglomeração produtiva e que possa ser
aplicada em qualquer lugar. Essa análise reforça o conceito, estabelecido na literatura,
de que não há política única de desenvolvimento a ser aplicada a todos APLs, pois essas
devem ser moldadas conforme as peculiaridades de cada aglomeração (UNCTAD,
1998; Altemburg & Meyer-Stamer, 1999 e Ceglie & Dini, 1999).
Contudo, a análise dos condicionantes territoriais permite identificar vários
pontos comuns mesmo em APLs de locais diferentes e até mesmo de setores diferentes,
parecendo estar mais ligados à estrutura da indústria do que locais. Por exemplo: a) em
todos os APLs estudados, há fraca cooperação vertical e horizontal entre as empresas.
Porém, esse problema parece ser uma característica cultural, já que está presente em
outros APLs do Brasil, como Nova Friburgo, na produção de lingerie (Lima, 2006),
Nova Serrana, na produção de calçados (Crocco et. al., 2005), Arapongas, Bento
Gonçalves, Oeste Catarinense e São Bento do Sul, na produção de móveis (Cunha et.
al., 2006); b) Pela mesma razão estrutural, o contato com universidades e centros de
pesquisa, em geral, é baixo, com exceção de Ubá; c) em todos os APLs estudados, há
problemas relacionados a infra-estrutura viária, o que parece bem típico pelo menos no
213
Estado de Minas Gerais; d) há problemas relacionados com a distância dos fornecedores
de matérias-primas, sendo que, em alguns casos como em Carmo do Cajuru e São João
Nepomuceno, não há fornecedores das principais matérias-primas, mostrando que os
APLs podem ter dificuldade em dispor de cadeia produtiva completa; e) Há problemas
relacionados com ausência ou baixa exportação para outros países, o que pode ser uma
característica geral da maioria dos APLs, em consonância com o quadro geral do país,
em que há dificuldades na exportação de produtos, principalmente dos com maior valor
agregado. Em alguns APLs, como em Carmo do Cajuru, a ausência de exportação está
relacionada a problemas de legislação ambiental. A ausência de exportação pode ser
uma estratégia de determinados APLs, como é o caso de São João Nepomuceno, que
têm foco centrado no mercado nacional.
Assim, percebe-se que as conclusões de cada estudo podem auxiliar futuros
estudos de caso e até mesmo contribuir para o desenvolvimento de diretrizes mais gerais
dentro de políticas para APLs, mas não se pode esquecer as particularidades de cada
um, pois, por exemplo, enquanto alguns APLs podem estar buscando elevar a
cooperação para atingir melhor qualidade na produção, comercialização e distribuição,
outros podem estar buscando cooperação para efetuar exportação para outras regiões e
outros países.
Conforme Suzigan (2001), de modo geral, políticas de apoio aos APLs devem
ter em comum a valorização do local e devem ser focadas em dois pontos: 1) orientar o
papel dos agentes privados no sentido da ação coletiva; 2) implementar políticas
públicas que possibilitem o aproveitamento de economias externas geograficamente
restritas, para criar ou consolidar vantagens competitivas locais e, em conjunto com a
ação coletiva dos agentes privados, alcançar a eficiência coletiva.
Além disso, segundo Lemos et. al. (2005), as políticas de apoio aos APLs devem
ultrapassar os limites de uma política industrial local em direção a uma política de
desenvolvimento regional, considerando questões relacionadas com desenvolvimento
do urbano e da área de entorno. No caso da não consideração da questão regional,
significaria o apoio ao desenvolvimento de enclaves produtivos incapazes de integrar o
todo regional. E, no caso da não consideração do urbano, o descompasso entre o
tamanho populacional das cidades e o tamanho econômico podem resultar em APLs de
sobrevivência, em função das dificuldades de diversificação. Para os autores, o
desenvolvimento urbano é condição necessária para que se alcance as vantagens
mínimas da diversificação e, conseqüentemente, o dinamismo dos arranjos.
214
Para mostrar a importância da análise dos condicionantes territoriais, foram
traçadas algumas sugestões iniciais, tanto em nível geral, de modo a abranger todos os
APLs estudados, quanto em nível específico, considerando as peculiaridades de cada
um. No entanto, tais sugestões devem ser analisadas com maior cautela e devem ser
discutidas pelos atores locais dos APLs.
8.1.1. Ações extensivas a todos os APLs
Com base nos resultados obtidos com o estudo dos condicionantes territoriais,
percebe-se que todos os quatro APLs estudados apresentam certas características em
comum, permitindo a sugestão de ações que envolvem todos eles, tais como:
a) Buscar parcerias entre governos Municipal, Estadual e Federal para o
desenvolvimento de ações voltadas para sanar problemas de infra-estrutura em todas
as suas dimensões, uma vez que problemas de infra-estrutura viária, energia,
comunicação podem comprometer a qualidade dos serviços associados ao processo
produtivo, bem como a capacidade de produção e venda das empresas do APL;
b) Desenvolver trabalhos em grupo, dirigido pela governança local, para aumentar a
confiança entre os atores dos APLs, de modo a quebrar barreiras e a promover o
interesse por ações conjuntas entre os agentes;
c) Estimular ações orientadas para a cooperação horizontal e vertical entre os atores
(principalmente do setor moveleiro), pois a cooperação inter-firmas é um fator
fundamental para o estabelecimento de relações de confiança entre os atores do
arranjo, sendo, portanto, um pré-requisito para a eficiência produtiva das firmas. De
um lado, por meio de redes horizontais, as empresas podem coletivamente atingir
economias de escala acima da capacidade individual, podem realizar compras
conjuntas de insumos, atingir escala ótima no uso da maquinaria, realizar marketing
conjunto e combinar suas capacidades de produção para atender pedidos de grande
escala. Por meio de redes verticais, as empresas podem especializar nos seus core
business e dar lugar a uma divisão externa do trabalho, mas interna ao local (Ceglie e
Dini, 1999) e podem reduzir os riscos associados à introdução de novos produtos e o
tempo de transição entre o projeto e o mercado. De outro lado, por cooperação, é
possível criar um espaço de aprendizagem coletiva, um invisible college (Best, 1990),
onde as idéias são trocadas e desenvolvidas e o conhecimento compartilhado na
tentativa de melhorar a qualidade de produtos e processos; de poupar segmentos de
215
mercado mais lucrativos, de coordenar ações e de realizar a resolução de problemas
conjuntamente.
d) Fortalecer iniciativas de especialização inter-firmas, quando se tem uma cidade com
um tamanho urbano que permite essa especialização,
por meio da formação de
grupos, palestras, experimentação e incentivo, de modo a proporcionar maior linkage
territorial;
e) Fortalecer os consórcios de exportação, incentivando a criação de entidade voltada
para orientação sobre legislações específicas, procedimentos burocráticos, atividades
de marketing internacional e execução do projeto de exportação;
f) Definir com maior clareza os mercados alvos do APL, de modo a desenvolver
estratégias de ampliação de mercado, seja para o mercado nacional ou internacional.
8.1.2. Ações Específicas para cada APL
A forma com que os condicionantes territoriais manifestam num território, seja
positivamente ou negativamente, acaba conferindo a esses territórios um caráter único e
diferenciado. Por isso, ações mais específicas devem ser trabalhadas para garantir a
esses APLs maior desenvolvimento. Sendo assim, neste estudo foram levantadas
algumas ações pra os APLs de Ubá, Carmo do Cajuru, Muriaé e São João Nepomuceno.
8.1.2.1.
Ações Específicas para o APL de Ubá
Para o APL de Ubá, as principais ações específicas são:
a) Aumentar o contingente de pessoas ou empresas engajadas nas atividades de design e
inovação de produtos;
b) Fortalecer iniciativas do tipo central de distribuição, de modo a resolver problemas de
transporte no APL;
c) Viabilizar a criação de central de compras de materiais e insumos, de modo a reduzir
comportamento oportunista de fornecedores e, ainda, viabilizar melhores preços e
qualidade de materiais;
d) Incentivar a participação de outras empresas formais no APL;
e) Incentivar a modernização do Distrito Industrial de Ubá, por meio de parcerias junto
aos governos Municipal, Estadual e Federal.
216
8.1.2.2.
Ações Específicas para o APL de Carmo do Cajuru
Para o APL de Carmo do Cajuru, as principais ações específicas a serem
discutidas com a população local são:
a) Apoiar o desenvolvimento dos produtores locais, por parte do governo local e da
associação de classe, por meio da criação e manutenção de centros de treinamento e
formação profissional, centros de prestação de serviços tecnológicos e agências
governamentais de desenvolvimento;
b) Incentivar a modernização tecnológica das fábricas, por meio de financiamento para
investimento em permanente e capital de giro;
c) Apoiar a pesquisa para o atendimento às exigências ambientais, para viabilizar a
constituição de consórcios de exportação;
d) Incentivar a compra em conjunto e a formação de uma central de compras, para
resolver gargalos provocados pela ausência de fornecedores locais de matérias-primas,
insumos e equipamentos, que prejudicam não só a maior integração da cadeia
produtiva, como também a competitividade das empresas. Por um lado, a ausência de
fornecedores dificulta o fluxo de “conhecimento” e de novas idéias e,
conseqüentemente, inovações de produto e processo. Por outro, a distância dos
fornecedores de matérias-primas e de equipamentos dificilmente será solucionada por
meio da instalação deles no território;
e) Desenvolver estratégias que visam utilização conjunta de máquinas e equipamentos,
por incentivo à especialização e/ou formação de cooperativas e associações;
f) Promover a proximidade das empresas do APL das instituições criadoras de
conhecimento e pesquisa, como universidades, pois a falta dessa proximidade tem
sido um importante gargalo para a capacitação tecnológica do arranjo,
comprometendo inovação de produtos e processos produtivos.
8.1.2.3.
Ações Específicas para o APL de Muriaé
Em Muriaé, as principais ações específicas são:
a) Aproximar as empresas do APL das instituições criadoras de conhecimento e
pesquisa, por meio das entidades de coordenação, uma vez que, tais instituições são
importantes para a capacitação tecnológica do arranjo;
217
b) Aumentar o número de empresas associadas ao órgão de governança, uma vez que o
baixo número de empresas associadas, em torno de 50, tem comprometido o
desempenho do APL como um todo;
c) Incentivar a formalização de empresas informais;
d) Reduzir a tendência de cópia de produtos, por meio de um trabalho de
conscientização dos órgãos de coordenação;
8.1.2.4.
Ações Específicas para o APL de São João Nepomuceno
Em São João Nepomuceno as principais ações específicas sugeridas são:
a) Intensificar a atuação do órgão de governança (o sindicato patronal local), dada a sua
representatividade como órgão de coordenador do APL, na busca de maior eficiência
coletiva do APL;
b) Promover maior participação dos empresários nas decisões do APL, já que o nível de
participação é muito baixo;
c) Aumentar as relações entre o órgão coordenador do APL com o governo local, já que
esse governo pode atuar na criação e na manutenção de apoio ao desenvolvimento dos
produtores locais e contribuir para o fortalecimento do APL, por meio de parcerias;
d) Incentivar a compra em conjunto pela formação de uma central de compras, para
resolver gargalos provocados pela ausência de fornecedores locais de matérias-primas,
insumos e equipamentos, que prejudicam não só a maior integração da cadeia
produtiva, como também a competitividade das empresas. Por um lado, a ausência de
fornecedores dificulta o fluxo de “conhecimento” e de novas idéias e,
conseqüentemente, inovações de produto e processo. Por outro, a distância dos
fornecedores de matérias-primas e de equipamentos dificilmente será solucionada por
meio da instalação deles no território;
e) Promover ações que atraiam compradores para o local, principalmente sacoleiras e
viajantes de outras partes do Estado e até mesmo de outros Estados.
8.2
Pistas para novas pesquisas
De acordo com a literatura internacional, os APLs possuem características
comuns tais como: proximidade geográfica, especialização setorial, predominância de
PMEs, cooperação, competição inter-firmas determinada pela inovação, troca de
218
informações baseada na confiança socialmente construída, organizações de apoio ativas
na oferta de serviços e parceria estreita com o setor público local.
Entretanto, as peculiaridades de cada APL fazem com que a própria inexistência
de um padrão único de formação de APLs termine por impor limites à capacidade de
mapear esses arranjos e, principalmente, de identificar APLs com maiores
possibilidades de desenvolvimento. Isso dificulta o desenvolvimento de políticas
públicas de apoio aos APLs, voltadas para a valorização do local. Para tanto, a literatura
trabalha com um amplo leque de informações que procuram identificar os tipos de
relacionamentos entre as empresas e entre estas e as instituições de apoio e pesquisa.
Tais informações, no entanto, somente podem ser obtidas através de pesquisa de
campo. IEDI (2003) aponta que somente por meio da pesquisa de campo é possível
captar as especificidades de cada uma das aglomerações de empresas, sua história,
evolução, forma de organização industrial, instituições de apoio, estrutura de
governança e outras características relevantes. Os estudos de campo ajudam a identificar
o tipo de manifestação territorial, contribuindo para a criação de tipologias e, ainda, na
montagem de modelos que explicam a estrutura desses aglomerados.
Nesse aspecto, o estudo dos condicionantes territoriais, associados à
investigação do processo de formação, desenvolvimento e estruturação de APLs, exerce
importante papel de suporte no desenvolvimento de políticas públicas. Um grupo de
condicionantes acaba exercendo influência sobre os demais, sendo, portanto,
responsáveis pela manutenção ou não do espírito da empresa no território. Por exemplo,
um ambiente institucional local fraco, em termos de laços culturais e confiança mútua,
acaba aumentando os custos de transação. Isso leva a baixa cooperação horizontal e
vertical, a baixa troca de informações e conhecimentos técnicos e tecnológicos entre os
agentes locais e a internalização da produção. Como conseqüência há a construção de
um território fraco.
No entanto, a metodologia utilizada para levantar o processo de formação,
desenvolvimento e estruturação dos quatro APLs, apresenta limitações que podem
servir como sugestões para novas pesquisas.
Pode-se perceber nos quatro APLs a presença de condicionantes locais
institucionais, voltados para a criação de um ambiente mais propício à redução de custos
de transação. Esses condicionantes são representados por agentes, cuja finalidade está
relacionada com a mudança na cultura local, por meio de incentivos de atividades
conjuntas de visitação, marketing, compras e vendas. Entretanto, o efeito desses
219
condicionantes locais ainda não atingiu o aumento da confiança entre as empresas para
a realização da parceria e cooperação.
Apesar de mudanças institucionais serem difíceis de ocorrer, podendo levar
anos, já que envolvem um conjunto de leis, costumes, valores e regras locais, trabalhos
de acompanhamento e avaliação das ações desses agentes, com foco nas mudanças
devem ser introduzidos. Tais estudos devem confrontar o papel ou a finalidade desses
agentes com os objetivos, metas e resultados das ações dos trabalhos desenvolvidos,
buscando respostas para as seguintes indagações: até que ponto os agentes de mudança
estão conseguindo atingir os seus objetivos em relação ao ambiente institucional local?
Quais os trabalhos são desenvolvidos e os resultados propostos e obtidos? Como a
população local, ou os empresários locais vêem a necessidade desses agentes de
mudança?
A visão dos empresários locais sobre o papel dos agentes de mudança,
principalmente das entidades de apoio e animação é muito importante, uma vez que,
para que ocorra o desenvolvimento do local é necessário que esses agentes sejam bem
vistos pelos empresários locais. Percebe-se então que, tanto a filiação quanto a
participação efetiva desses empresários é de suma importância para o desenvolvimento.
No entanto, em APLs como o de São João Nepomuceno, percebe-se que 100% das
empresas formais são filiadas ao sindicato local, mas, o nível de participação nas
reuniões tem sido considerado baixo. Em Muriaé, tanto a filiação quanto a participação
dos integrantes são consideradas baixas. Em Ubá o número de filiados é considerado
baixo, mas a participação efetiva foi apontada como um importante diferencial. Em
Carmo do Cajuru, a filiação abrange mais de 50% e a participação nas reuniões tem sido
considerada um fator diferencial. Então, cabe questionar o que leva a maior filiação e
participação dos empresários locais nas entidades de apoio e animação desses APLs?
Quais os fatores que podem levar os empresários a se filiarem e não apresentarem uma
participação efetiva?
Fazendo uma relação entre participação e cooperação horizontal e vertical,
percebeu-se que Ubá e Carmo do Cajuru apresentaram mais participação nas reuniões
promovidas pelos agentes de apoio e animação. No entanto, esses dois APLs
apresentam cooperação horizontal e vertical baixas. Então, cabe questionar qual a
relação entre participação e desenvolvimento das atividades de cooperação horizontal e
vertical dentro dos APLs? Será que esta é uma característica brasileira dos APLs de
móveis, já que a cooperação em outros APLs do Brasil apresenta baixo nível de
220
participação? Por que o setor moveleiro tem essa dificuldade de cooperar por meio da
cooperação horizontal e vertical? Será que essa característica pode ser associada a
condicionantes territoriais institucionais externos ao APL e internos ao País, tais como
exigências de legislações específicas, política macroeconômica, Sistema Nacional de
Inovação? Quais são os reais motivos dessa dificuldade? A cooperação horizontal e
vertical, no Brasil, principalmente na produção, é realmente importante para que um
APL receba essa denominação? Quais os ganhos reais que as empresas podem obter
com essa cooperação? Como isso poderia ser comprovado no Brasil? É possível
construir grupos artificiais de cooperação dentro dos APLs para analisar os efeitos na
produtividade? Como os resultados desses grupos poderiam ser difundidos para outras
empresas do mesmo território?
Em relação aos condicionantes institucionais, o estudo deu foco apenas aos que
são internos ao APL. Não foram levados em consideração os externos aos APLs, como
legislações de setores específicos, legislações estaduais e federais, efeitos de políticas
macroeconômicas, sistemas nacionais de inovação e legislações específicas que inibem
ou estimulam a exportação. Por exemplo, o estudo não conseguiu responder o por quê
do baixo volume de exportações nos APLs. É sabido que o de São João Nepomuceno,
os empresários locais estão com foco no mercado interno e não estão cogitando a
possibilidade de exportar. Porém, nos demais APLs há o interesse em exportar os
produtos para outros países. No entanto, o volume de exportação é considerado baixo.
Será que o problema está relacionado com a política macroeconômica ou com
legislações específicas? Que tipo de agente está cuidando da capacitação dos APLs para
exportação e qual a capacidade e competência técnica desses agentes?
Também deveriam ser buscados trabalhos que mostrassem o real papel do
governo local. Na experiência internacional, os governos locais tiveram uma atuação
importante. Nos quatro APLs estudados verifica-se que em Muriaé a prefeitura local
tem demonstrado participação ativa, financiando toda infra-estrutura de funcionamento
dos agentes de apoio e animação, no entanto a filiação e a participação de empresários
são consideradas baixas. Em São João Nepomuceno pode-se perceber divergências
entre o Governo Local com as ações do APL. Em Ubá, o Governo Local é mais um
parceiro do APL, contribuindo para o fortalecimento da infra-estrutura do município.
Em Carmo do Cajuru, a Prefeitura Municipal atua por meio de infra-estrutura de
energia, estrada, saneamento básico etc. Nesse sentido, cabe questionar qual o papel do
governo local? Será que esse governo local deve ser considerado chave no
221
desenvolvimento do APL? Até que ponto o Governo Local deve intervir nas ações dos
APLs? Como esse governo local pode criar externalidades positivas para o APL? Que
tipo de participação é exigido desse governo local? Quais os métodos de avaliação que
poderiam dar resultados mais justos.
222
CONCLUSÃO
O presente estudo é uma investigação sobre Sistemas Territoriais de Produção,
objetivando aprofundar questões específicas sobre a formação, a estruturação e o
desenvolvimento de aglomerados territoriais de firmas/empreendimentos denominados
Arranjos Produtivos Locais (APLs). Para isso, foram estudados quatro APLs industriais
do Estado de Minas Gerais: o APL do Pólo Moveleiro de Ubá, o APL da Indústria de
Móveis de Carmo do Cajuru, o APL da Indústria de Confecção de Muriaé e o APL da
Indústria do Vestuário de São João Nepomuceno. A coleta de dados foi desenvolvida
por meio de técnicas de pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, entrevista semiestruturada e entrevista estruturada.
A verificação da origem dos APLs confirmou a hipótese estabelecida de que
estes foram induzidos por economias externas locais, provenientes de uma firma inicial
estruturada verticalmente. A ampliação das atividades se deu por meio da abertura de
empresas por ex-empregados ou empregados da produção da empresas inicial, que
usaram seus próprios recursos financeiros e conhecimentos e habilidades adquiridas por
meio do processo de rotina e aprendizagem. O APL moveleiro de Ubá se originou da
Domani; o APL moveleiro de Carmo do Cajuru se originou da Mobiliadora Líder; o
APL de confecção de Muriaé se originou da Malharia Galante e; o APL de confecção de
São João Nepomuceno se originou da Companhia Fiação e Tecido Sarmento.
A aglomeração de novas firmas calcadas na exportação regional foi responsável
pelo desenvolvimento e crescimento dos APLs, já que, à medida que as empresas
expandiam suas vendas para outras cidades e regiões, aumentavam o volume de
produtos fabricados; atraíam mão-de-obra especializada em algumas atividades;
aumentavam a renda das empresas; e propiciavam surgimento de investimentos
públicos em infra-estrutura. Isso acarretou aumentos de rendimentos crescentes,
externos às empresas, embora internos ao local.
Como conseqüência, a concentração de trabalhadores gerava externalidades no
local, como a difusão do conhecimento tácito e treinamento para a mão-de-obra,
incitando uma identidade da região com a atividade empreendida. Isso fez com que mais
empresas fossem atraídas para o negócio, mesmo porque as barreiras de entradas, em
todos os quatro APLs eram consideradas baixas.
223
Nos quatro APLs estudados, a estruturação espacial, por meio da aglomeração
territorial concentrando empresas e contatos humanos de um mesmo ramo em um
mesmo local, levou, desde o início, ao aumento do fluxo de serviços, tanto ligados à
atividade fim, quanto serviços mais genéricos. Assim surgiram representantes
comerciais para vendas de produtos acabados – principalmente nos APLs de confecção
– e representantes de matérias-primas e insumos para a fabricação, como máquinas,
equipamentos, assistência técnica e serviços de manutenção; serviços de transporte;
agências bancárias, etc. Com o tempo, a necessidade de maior competitividade fez com
que outras organizações fossem criadas. Surgiram entidades de apoio e animação,
voltadas para a capacitação da mão-de-obra especializada e gerência, apoio às
atividades de P&D, de provimento de infra-estrutura de suporte ao crescimento, de
captação de crédito e financiamento e de catalisadores da ação cooperativa. Cabe
ressaltar a importância dos Sindicatos Patronais, que atuam como agentes de animação
que auxilia na coordenação das ações dos APLs.
A gênese dos APLs revela o potencial empreendedor dos territórios em que se
encontram, pois, observou-se que tais arranjos não surgiram dos estímulos do
planejamento público, mas de fontes endógenas e auto-organizativas. No geral, os atores
principais podem ser agrupados em: a) Empresas do segmento central; b) empresas de
atividades, representadas pelos fornecedores de materiais e de máquinas e equipamentos
locais; c) atividades complementares, relacionadas com a complementação do processo
produtivo; d) estrutura de animação e apoio, geralmente representada pelos sindicatos e
demais secretarias criadas com a finalidade de animar as articulações dentro do APL; e)
Estrutura de formação, aperfeiçoamento e pesquisa; f) Prestadores de serviços.
Apesar de se poder identificar um modelo de trajetória territorial para os quatro
APLs estudados, e até mesmo uma estrutura de funcionamento comum, cada APL
possui características bastante específicas em relação ao número de agentes envolvidos,
à forma de interação desses agentes no território e à produtos resultantes. A
aglomeração de firmas na mesma região acabou apropriando retornos crescentes,
provenientes de economias internas – por meio do aumento da especialização da
produção e aperfeiçoamento técnico, produtivo e organizacional – e de economias
externas que estão relacionadas com o desempenho geral da indústria e funcionam como
condicionantes territoriais positivos ou restritivos. A interdependência ou linkages,
gerados pelo próprio encadeamento das atividades produtivas e da proximidade das
firmas, pode ser considerada responsável pelo crescimento e desenvolvimento dos
224
APLs. No entanto, há uma diferença na presença dessas linkages e a forma de
funcionamento no APL, pois condicionantes locais determinaram o tipo de
especialização em cada APL.
No início, a maioria desses condicionantes para surgimento dos APLs esteve
relacionada com as externalidades marshallianas, criadas pelas empresas pioneiras, tais
como: infra-estrutura de estrada, comunicação e energia; mão-de-obra especializada;
acesso fácil à tecnologia de produção; label territorial construído pela empresa
principal. Os principais motivos relatados pelos empresários para abrirem suas empresas
estão ligadas também a esse tipo de condicionante, sendo os principais motivos ligados
a: existência de mão-de-obra local; existência de infra-estrutura; conhecimento
adquirido relacionado com a atividade; a origem do empresário é local e não existe o
desejo de sair do local para buscar alternativas de sobrevivência; e o label territorial,
relacionado com a especificidade de cada APL.
Apesar da importância desses condicionantes Marshallianos para o aglomerado
produtivo, eles não garantem o desenvolvimento de um processo de territorização, uma
vez que podem ser encontrados em outras localidades e, poderiam também ser criados.
Com o tempo, outros tipos de externalidades locais são desenvolvidos, por meio das
inter-relações estabelecidas dentro do APL, em virtude da necessidade de gestão
conjunta com a participação de organizações de animação e apoio. Tais externalidades
são as Schumpeterianas, voltadas para a criação de um ambiente inovativo, com base na
aprendizagem e no desenvolvimento das firmas por meio de um processo evolutivo; as
Transacionais, voltadas para a busca de maior interação entre as firmas, por meio da
redução dos custos de transação e; as Institucionais, relacionadas com as modificações
no ambiente institucional em que os APLs estão inseridos, de modo a construir um
ambiente que valorize a interação social e estreite os laços de confiança mútua.
Esses condicionantes territoriais estão relacionados com a trajetória histórica dos
aglomerados, traduzidos no conjunto de competências tecnológicas diferenciadas, de
ativos complementares e de rotinas, servindo como estímulos ou entraves ao
crescimento e ao desenvolvimento dos APLs. Isso confere a cada um deles um caráter
único e diferenciador, fazendo com que a competição entre eles se enquadre na chamada
concorrência monopolística. Percebe-se que, entre os APLs de Ubá e Carmo do Cajuru
e entre os de Muriaé e São João Nepomuceno, há diferentes graus de desenvolvimento,
de integração da cadeia produtiva, de articulação, de integração entre os agentes e
instituições locais e de capacidade para inovação. Essas diferenças são resultantes da
225
evolução histórica, da organização institucional, do contexto social e cultural, da
estrutura produtiva, das formas de inserção nos mercados interno e internacional, das
estruturas de governança, da logística, do associativismo, do cooperativismo, das
formas de aprendizado e de disseminação do conhecimento local. Dentro dessa
especificidade, percebe-se que o APL de Ubá pode se enquadrado como um APL
organizado e os demais como APLs informais ou de sobrevivência.
Contudo, há vários pontos comuns entre os quatro APLs estudados,
reconhecidos pela análise dos vários condicionantes territoriais, que podem fazer parte
de outros APLs brasileiros, com destaque para: a) fraca cooperação vertical e horizontal
entre as empresas; b) pouco contato com universidades e centros de pesquisa, c)
problemas na infra-estrutura de estradas; d) problemas relacionados com a localização
de fornecedores, mostrando ausência de cadeia produtiva completa; e) ausência ou
baixo volume de exportação para o mercado nacional e internacional; f) baixa
participação nas entidades de animação e apoio por meio de filiação e / ou pela
freqüência nos encontros; g) falta de confiança entre os agentes; h) falta de um papel
definido do governo local.
Em acréscimo, apesar dos esforços voltados para romper com as externalidades
marshallianas decorrentes do fator localização, há restrições significativas relativas a
externalidades schumpeterianas e transacionais, e até mesmo marshallianas, nos
encadeamentos extensivos à montante, à jusante e horizontais, que afetam todos os
APLs e estão relacionadas aos ambientes urbanos e respectivos entornos em que esses
APLs estão inseridos. Entre essas restrições, destacam-se: a) a lógica essencialmente
produtiva das capacitações tecnológicas; b) a realidade do entorno, basicamente voltada
para a sobrevivência, com baixa densidade urbana, baixo nível de renda per capta e
reduzida complementaridade produtiva e de prestação de serviços, dificultando o
surgimento de atividades e de serviços industriais complementares à especialização dos
APLs; c) a limitação na capacidade dos núcleos urbanos de desaglomeração das
atividades econômicas para o entorno e de criação de um mercado de trabalho local
dinâmico; d) a dependência das cidades e entorno em relação à evolução do APL, que
pode trazer conseqüências indesejáveis com o eventual declínio da atividade.
Isso comprova a hipótese do trabalho, mostrando que em um mercado urbano
restrito e pouco dinâmico, apesar das limitações impostas, é possível o surgimento, o
desenvolvimento de firmas e a estruturação de APLs especializados em segmentos ou
226
setores da indústria tradicional. Os condicionantes marshallianos, schumpeterianos,
transacionais e institucionais levam os agentes econômicos a se mobilizarem.
Desse modo, políticas de apoio aos APLs, como instrumento de planejamento e
desenvolvimento, devem ultrapassar os limites de uma política industrial local em
direção a uma política de desenvolvimento regional, considerando também as questões
relacionadas com desenvolvimento do urbano e da área de entorno. Isso é necessário
para que não se crie ilhas de desenvolvimento produtivo incapazes de integrar o todo
regional e nem que se promova APLs sem dinamismo, comprometendo a sua
sobrevivência no longo prazo.
As limitações identificadas pela pesquisa servem como sugestões para novas
pesquisas, tais como: a) Identificação do efeito nas características dos APLs, de
condicionantes institucionais externos específicos, como as exigências de legislações
ambientais, Política Macroeconômica e Sistema Nacional de Inovação; b) avaliação de
ações dos agentes territoriais de mudança, incluindo o governo local, confrontando
finalidade, objetivos, metas e resultados das ações de trabalho desenvolvidas; c)
avaliação da opinião dos empresários locais sobre o papel dos agentes de mudança; d)
identificação dos motivos da falta de cooperação horizontal e vertical, bem avaliação da
necessidade real de cooperação; e) identificação dos fatores que podem contribuir para
aumento da participação efetiva dos empresários locais nas entidades de animação e
apoio; f) avaliação dos efeitos das demandas e das ofertas das cidades e do entorno no
desenvolvimento de políticas voltadas para os APLs.
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ANEXO I
Roteiro de entrevista usado na primeira fase da pesquisa de campo
244
Roteiro de Entrevista
I – Identificação do Arranjo Produtivo Local
1.1 - Nome do Arranjo Produtivo Local:
1.2 - Ramo de atividade:
1.3 - Cidade Principal:
1.4 - Cidades envolvidas:
1.5 - População cidade principal:
Número de habitantes
Número de habitantes na zona urbana
Número de habitantes na zona rural
1.6 - Localização do município
1.7 - Distância do município aos principais centros:
Centros Nacionais
km
Belo Horizonte
Rio de Janeiro
Vitória
Brasília
1.8 - Principais eixos rodoviários de ligação.
Centros Regionais
km
1.9 - Principais vias de acesso à cidade.
1.10 - Produto Interno Bruto (PIB) Muriaé a preços correntes e a preços de mercado e
PIB/habitantes, por setor de atividade econômica da cidade no período de 1999 a 2004
PIB a preços correntes
PIBpm População
Ano
agropecuário
industrial
1999
2000
2001
2002
2003
2004
1.11 - Número de empresas:
Micro
Pequena
Familiar
serviços
Total (1)
Média
Nº
Capital
Fechado
Não familiar
Nº
Capital
aberto
1.12 - Total de empregos diretos e indiretos:
Grande
Nº
Nacionais
Nº
Nº
Estrangeira
s
Nº
1.13 - Nº de instituições de apoio:
1.14 - Mercados de atuação:
Interno
( )Não
Externo
( )Não
( )Sim
( )Sim
% participação
% Participação
245
Total
PIB(pm)/
hab.
(R$1,00)
1.15 – Em relação ao mercado interno, qual(is) o(s) destino(s) da produção do APL e a
distribuição percentual?
1.16 - Como ocorre o escoamento da produção para outras cidades e regiões?
1.17 – Em relação ao mercado externo, quantas empresas exportam? Quais os principais
problemas com exportação? O que seria necessário para melhorar o número de empresas
envolvidas com exportação?
1.18 - Já houve casos de formação de consórcios de exportação ao logo da história do APL?
Como ocorreu? Quais os pontos positivos e negativos desse consórcio? Esses consórcios
existem ainda?
1.19 - Importâncias do setor para a região/Local
PIB município
% do PIB relacionado com a atividade
Número de empregos relacionados com a atividade
Quociente Locacional
Milhões
II - Levantamento do Histórico do APL
2.1 – Qual a origem da atividade na região? Como e quando essa atividade surgiu? Quem
iniciou esse tipo de atividade?
2.2 - Por que essa atividade?
2.3 - Qual o fato histórico que está relacionado com essa origem?
2.4 - Como a mão de obra foi treinada e como as pessoas aprenderam a atividade?
2.5 - Quais os fatores contribuíram para o surgimento da atividade na região?
OBS: Essa pergunta pode ter como referência o quadro de condicionantes territoriais*
2.6 - Explique como foi desenvolvida essa atividade, em forma de empresas, a partir de então?
2.7 - Como e por que esta atividade ficou conhecida?
2.8 - Quais os aspectos que contribuíram para que essa atividade tornasse importante na região?
2.9 - Como e quando a região foi estruturando de modo a se tornar um fator de localização?
2.10 - Como e quando surgiram as outras empresas concorrentes da atividade?
2.11 - Como e quando surgiram as empresas complementares e de apoio e quais foram essas
empresas complementares?
2.12 - Quais as instituições de apoio que surgiram ao longo dos anos? Como e quando
surgiram?
246
2.13 - Como é formada a ambiência institucional? O número de associações? Instituições de
apoio? Instituições financeiras etc.?
2.14 - Como foi detectada a presença de um arranjo produtivo local nesta região?
2.15 - Qual a estrutura do APL hoje? Qual o desenho desse APL, envolvendo desde os
fornecedores de materiais até o mercado consumidor (colocar a localização, dentro e fora do
APL).
2.16 - Que papel a prefeitura e/ou Estado tem desempenhado durante toda a trajetória do APL?
* Quadro de condicionantes territoriais
0) Sem efeito 1) ruim funcionando como restrição 2) bom, mas não muito representativo 3)
muito bom e representativo 4) ótimo, favorecendo o desenvolvimento.
Condicionantes Marshallianos
Disponibilidade de mão-de-obra
Número
Observações
Qualidade de mão-de-obra
Custo da mão-de-obra
Presença de fornecedores de matérias-primas diversas disponíveis na
região
Presença de fornecedores de bens de capital
Proximidade Universidades e Centros de pesquisa
Existência de programas governamentais
Proximidade/vizinhança de mercados
Disponibilidade de recursos naturais específicos localmente ou no
entorno regional da localidade
Presença de infra-estrutura física suficiente e adequada no seio da base
produtiva (energia, telecomunicação, via de acesso por meios
transportes)
Acesso fácil à informação
Condicionantes Shumpterianos
Existência de elevado número de pessoas engajadas em atividades de
design e inovação
Elevado nível de qualificação da mão-de-obra
Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários
Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas a assistência
de rotina às atividades produtivas técnicas, comerciais e financeira
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à
qualificação da força de trabalho
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à
capacitação tecnológica às firmas
247
Número
Observações
Condicionantes Transacionais
Existência de cooperação entre firmas competidoras baseada em
relações de confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas
Número
Observações
Número
Observações
Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação
Utilização de colaboração horizontal
Existência de contatos freqüentes entre empresas formais e informais
Presença de confiança recíproca
Existência de contratos mais flexíveis
Trocas freqüentes de informações e conhecimento entre os atores
locais de forma não codificada
Existência de grande confiança entre os atores
Existência de potencial de cooperação para complementar recursos e
aprendizagem
Influência da governança interna do APL em relação a facilidades para
elaboração de contratos mais flexíveis
Contribuição da governança interna de modo a facilitar o processo de
compras em conjunto
Contribuição da governança interna para facilitar o processo de vendas
Contribuição da governança interna para facilitar o marketing conjunto
Condicionantes Institucionais
Existência de um ambiente institucional que permite a redução da
assimetria de informação no SPL e redução de custos de transação
Criação de aspectos culturais que permitam estabelecer laços de
confiança, interação social, identidade e objetivos comuns
Existência de apoio das instituições políticas e sociais no
desenvolvimento de atividades de parceria
Existência de apoio de instituições políticas e sociais para estimular a
transformação do SPL em sistemas mais amplos de inovação (esforço
conjunto SEBRAE, FIEMG, universidade, Governo Federal)
Existência da proximidade dos APLs com instituições de ensino,
pesquisa e agentes econômicos
III– Estrutura atual do APL
3.1 - Quais são os principais produtos fabricados pelas empresas do APL e a participação
percentual desses produtos?
3.2 - Todas as empresas fabricam o mesmo mix de produtos? Se não, especificar
3.3 - Qual a linha de produto principal do APL?
3.4 - Quais fatores são determinantes para manter a capacidade competitiva na principal linha de
produto? 1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4)muito importante
1
2
3
4
Qualidade da matéria-prima
Qualidade da mão-de-obra
Custo da mão-de-obra
Nível tecnológico dos equipamentos
Inovações de desenho e estilo nos produtos
Novas estratégias de comercialização
Capacidade de atendimento (volume e prazo)
248
3.5 - Quem são os maiores concorrentes do APL?
3.6 - Que tipo de riscos estes concorrentes oferece?
3.7 - Quais as vantagens que o APL oferece para enfrentar os concorrentes?
3.8 - O que tem contribuído para que as empresas se instalem no APL?
3.9 - Quais as principais barreiras de entrada de novas empresas?
3.10 - Quais são as principais vantagens que podem ser associadas a localização da empresa na
região?
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
1
2
3
4
Infra-estrutura disponível
Disponibilidade de mão-de-obra
Qualidade da mão-de-obra
Custo da mão-de-obra
Existência de programas governamentais
Proximidade com universidades e centros de pesquisa
Proximidade com os fornecedores de insumos
Proximidade com os clientes/consumidores
Outros; especificar:
3.11- Quais os pontos que são considerados como fortes no APL?
3.12 - Quais são as oportunidades que o APL possui para o seu desenvolvimento?
3.13 - Quais são os pontos fracos do APL?
3.14 - O que as empresas do APL percebem como ameaça a sua existência no longo prazo?
3.15- Existem empresas que servem como núcleo para outras empresas, agindo como
coordenadores da produção? Como isso funciona? Quantas empresas são?
3.16 - Existe algum órgão de coordenação das atividades?
3.17 - Existem marcas próprias ou as empresas trabalham para outras firmas?
3.18 –Em relação a Estrutura do Arranjo produtivo especifique:
a) As empresas líderes, o número dessas empresas, a localização e o tipo de produto fabricado.
b) As empresas de apoio tais como fornecedores, prestadores de serviços e instituições de
capacitação. Mostrar o papel de cada uma delas e o número dessas empresas no APL
c) Os principais clientes do APL. A localização desses clientes e as estratégias de vendas do
APL
d) As instituições de apoio e coordenação do APL e o campo de atuação dessas instituições
Entidade/Representante
Campo de atuação
Contribuição para o APL
249
3.19 – Como é o nível tecnológico do APL?
a) Baixo
b) Algum
c) Contínua
3.20 – Como considera a capacidade tecnológica do APL? (justifique)
a) Reduzida
b) Em expansão próxima
c) Elevada
ao estado da arte em
equipamentos e processos
3.21 – Como classifica a formação gerencial e administrativa do APL? (justifique)
a) Baixa
b) Tendendo a elevar com
c) Elevado
o tempo
3.22 – Como classificaria a capacidade da mão-de-obra do APL? (justifique)
a) Baixa
b) Média (constantes
c) Acima da
treinamentos)
média
3.23 – Como classificaria a barreira de entrada de novos concorrentes? (justifique)
a) Baixa
b) Média
c) Alta
3.24 – Como classificaria o nível de competição no APL? (justifique)
a) Alta
b) Média (tendendo a
c) Baixa
cooperação)
3.25 – Como classificaria o nível de cooperação no APL? (justifique)
a) Baixa
b) Média
c) Alta
3.26 – Como classificaria o nível de confiança entre as empresas para o estabelecimento de
parcerias? (justifique)
a) Baixa
b) Média
c) Alta
3.27 - Como classificaria o número de empresas informais em relação ao número de empresas
formais? (justifique)
a) Alta
b) média
c) Baixa
Existe boa relação entre as empresas formais e informais? Quais os tipos de relações que são
estabelecidas entre elas?
3.28 – Como considera a prática de exportação, envolvendo o número empresas e o volume de
produtos exportados? (justifique)
a) Pouca ou b)Média a alta
c)Média a alta
nenhuma
3.29 - Como classificaria a capacidade inovativa do APL? (justifique)
a) Baixa
b) Média, apresentando dificuldades de
c) Grande chave do
diversificação do seu mix setorial em direção a
desempenho
atividades geradoras de inovação.
3.30 - Como classificaria a capacidade de coordenação entre as empresas? (justifique)
a) Baixa
b) Alta
c) Alta
3.31- Como classificaria a capacidade de geração de novos produtos? (justifique)
a) Baixa
b) Baixa a média
c) Alta
IV - Relações entre os agentes do segmento produtivo
4.1 -Relação entre as empresas do APL com empresas especializadas e/ou complementares
4.1.1 - Existe integração da cadeia produtiva por meio de empresas especializadas na realização
de atividades complementares do processo produtivo?
Sim
Não
Se sim, quais? Exemplifique. Esta prática é comum?
4.1.2 - Há casos em que a firma faz opção pela racionalidade da produção buscada por meio de
estabelecimento de escalas internas, obtidas por meio da verticalização da atividade?
Sim
Não
250
Se sim, como? Quando isso ocorre?
4.1.3 - Existe a subcontratação de firmas formais para a realização de diferentes etapas do
processo produtivo (complementar, por exemplo)? Que tipo de subcontratação existe? (serviços
de transporte, usinagem, montagem, acabamento etc, especifique)
4.1.4 - É comum as empresas serem subcontratadas por outras empresas do APL? Existem
dados estatísticos que mostram o volume desses pedidos? Essa prática já é adotada há muito
tempo?
4.1.5 - Em geral, por que as firmas optam pela subcontratação (especifique cada caso)?
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
1
2
3
4
Redução de custo de produção
Atender a demanda aumentando a capacidade de produção
Busca de melhor qualidade por serviços especializados
Serviços complementares (bordados)
Outros
4.1.7 – Quando uma empresa subcontrata outra é comum a pratica de treinamento do pessoal?
Justifique
4.1.8 - Quando uma empresa subcontrata outra é comum a pratica de cessão de equipamentos
para o subcontratante?
4.1.9 – Quando ocorre a subcontratação de firmas formais, como são feitos os contratos?
Tipo de contrato ( ) informal
( ) escrito
Prazo do
( ) por tempo indeterminado
( ) por operação/lote produtos
contrato
Exclusividade do ( ) atende apenas a firma
( ) atende outras firmas
subcontratado
4.1.10 - Existe a subcontratação de firmas INFORMAIS para a realização de diferentes etapas
do processo produtivo (complementar por exemplo)? Que tipo de subcontratação existe?
(serviços de transporte, usinagem, montagem, acabamento etc, especifique)
4.1.11- É comum a prática de subcontratação de empresas informais? Desde quando?
4.1.12 - Em geral, por que as firmas optam pela subcontratação (especifique cada caso)?
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
1
2
3
4
Redução de custo de produção
Atender a demanda aumentando a capacidade de produção
Busca de melhor qualidade por serviços especializados
Serviços complementares (bordados)
Outros
4.1.13 – Quando uma empresa subcontrata uma informal é comum a pratica de treinamento do
pessoal? Justifique
4.1.14 - Quando uma empresa subcontrata uma informa é comum a pratica de cessão de
equipamentos para o subcontratante?
4.1.15 – Quando ocorre a subcontratação de firmas informais, como são feitos os contratos?
Tipo de contrato ( ) informal
( ) escrito
251
Prazo do
( ) por tempo indeterminado
( ) por operação/lote produtos
contrato
Exclusividade do ( ) atende apenas a firma
( ) atende outras firmas
subcontratado
4.1.16 - Existem pessoas que trabalham em seus domicílios? Qual a importância desses
trabalhadores e quais as atividades que são repassadas para eles? Há parcerias entre as empresas
formais e os trabalhadores domiciliados? De que tipo? Como ocorre? Que tipo de contrato é
estabelecido?
4.1.17 – Quando ocorre a subcontratação de pessoas em domicílio, como são feitos os
contratos?
Tipo de contrato ( ) informal
( ) escrito
Prazo do
( ) por tempo indeterminado
( ) por operação/lote produtos
contrato
Exclusividade do ( ) atende apenas a firma
( ) atende outras firmas
subcontratado
4.1.18 - As subcontratantes oferecem algum tipo de serviço às subcontratadas informais e aos
trabalhadores em domicilio? Quais os tipos de serviços são oferecidos? (pagamento adiantado,
organização da produção, empréstimo de máquinas e equipamentos, conserto e manutenção,
treinamento de trabalhadores ou transporte de produtos?)
4.2 - Relação com empresas concorrentes
4.2.1 - Existe a cooperação inter-firmas concorrentes? Se sim, que tipo de cooperação ocorre e
a freqüência? (compra em conjunto, Marketing em conjunto, consórcios de compra de insumos,
uso comum de equipamentos especializados, venda em conjunto, P&D, obtenção de
financiamento, promovem exposições e demais eventos, divisão de gastos para eventos, etc).
Explique minuciosamente.
4.2.2 - Se existe essa cooperação, há uma tradição nesse tipo de cooperação inter-firmas? Como
considera essa cooperação (Baixa ou suficiente)?
4.2.3 - Nos últimos cinco anos, como evoluíram as relações de cooperação com as demais
empresas do segmento na região com relação às seguintes atividades?
1)diminuição; 2)estável; 3)aumento; 4)forte aumento
Atividades de cooperação
1
2
3
4
Troca de informações
Ensaios para desenvolvimento e melhoria de produtos
Ações conjuntas para capacitação de RH
Ações conjuntas de marketing
Ações conjuntas em desenho e estilo
Outras: especificar
4.3 - Relação entre as empresas e fornecedores
4.3.1 - Quais são os principais insumos?
4.3.2 - Onde são adquiridos os insumos, máquinas e equipamentos utilizados no APL?
4.3.3 - Caso os fornecedores estejam distantes, isso é considerado um problema para o APL?
Por que?
252
4.3.4 - Caso o fornecedor não esteja dentro do APL, o que tem dificultado essa localização?
4.3.5 - Qual a relação dos fabricantes com os fornecedores de MP? Que tipo de trabalho
desenvolve juntos? Existem fornecedores de insumos no arranjo local? Existe abundância de
fornecedores na Região?
4.3.6 - Qual a relação dos fabricantes com os fornecedores de máquinas e equipamentos? Que
tipo de trabalho desenvolve juntos? Existem fornecedores de máquinas e equipamentos no
arranjo local? Existe abundância de fornecedores na Região?
4.3.7 - Quais são os pontos fortes e fracos em relação aos Fornecedores?
4.3.8 - Principais dificuldades na relação com fornecedores de insumos
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
Dificuldades
Grau
Observações
Condições de pagamento
Escassez de fornecedores
Localização de fornecedores
Preço considerado alto
Não há dificuldades
Outros (especificar)
4.3.9 -Principais dificuldades na relação com fornecedores de máquinas e equipamentos
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4)muito importante
Dificuldades
Grau
Observações
Condições de pagamento
Escassez de fornecedores
Localização de fornecedores
Preço
Não há dificuldades
Outros (especificar)
4.3.10 - Nos últimos cinco anos, como evoluíram as relações de cooperação com seus
fornecedores em nível local em relação às seguintes atividades:
1)diminuição; 2)estável; 3)aumento; 4)forte aumento
Atividades de cooperação
Grau
Observações
Troca de informações
Ensaios para desenvolvimento e melhoria de produtos
Assistência Técnica no processo produtivo
Ações conjuntas para capacitação de RH
Ações conjuntas em desenho e estilo
Outras (especificar)
Melhores prazos de pagamento a fornecedores de Matéria prima
Melhores prazos de pagamento a fornecedores de máquinas e
equipamentos
4.3.11 - Quais os tipos de contratos (formais ou informais) são firmados entre empresas do APL
e os fornecedores? Explique os diversos tipos de relação existente e os possíveis tipos de
contratos. Justifique
Tipo de
( ) informal
( ) escrito
contrato
Prazo do
( ) por tempo indeterminado
( ) por operação/lote produtos
contrato
Exclusividade ( ) atende apenas a firma
( ) atende outras firmas
subcontratado
253
4.4 - Relação entre empresas do APL e empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de
produtos e processos, Instituições de Pesquisa/Universidades.
4.4.1 - Existem empresas de P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e processos que
prestam serviços ao APL? Onde estão localizados? Como funcionam?
4.4.2 - Existem laboratórios que prestam serviços ao APL? Como funciona?
4.4.3 - Existem empresas responsáveis pelo P&D e equipes de desenvolvimento de produtos e
processos? Como funciona?
4.4.4 - Se não existem empresas específicas, quem exerce a atividade de P&D no APL?
4.4.5 - Que tipo de relação é estabelecido entre as empresas do APL e as empresas de P&D?
4.4.6 - Quais as formas de intercâmbio que a empresa costuma manter com Centros de Pesquisa,
Universidades e instituições afins: Origem: a) local; b)no país; c)no exterior
Freqüência: 1)inexistente; 2)rara; 3)anual; 4)mensal
Forma de interação
a
b
c
1
2
3
4
Desenvolvimento de novos produtos
Desenvolvimento de novos processos
Testes e certificados
Treinamento de pessoal
Caracterização e seleção de matéria-prima
Outros- Especificar
4.4.7 - Caso a empresa não mantenha nenhuma forma de interação com universidades e centros
de pesquisa, em nível local ou regional, quais os motivos?
4.5 - Relação entre empresas do APL e empresas de treinamento e formação de Mão-deobra
4.5.1 - Quais os tipos de mão de obra empregada no APL e a origem dessa Mão de obra?
4.5.2 - Existem empresas de treinamento de mão de obra? Quais e como funciona?
4.5.3 - Se não existem empresas de treinamento e formação de mão de obra no APL, quem
treina e forma essa mão de obra? Explique.
4.6 - Relação entre fabricantes e vendedores dos produtos do APL
4.6.1 - Quem são os mercados consumidores prioritários das empresas do APL?
4.6.2 -. Quais são os principais canais de comercialização adotados pelas empresas do APL ?
Forma de comercialização
Observações
Sob encomenda
Lojas Próprias
Grandes Varejistas sob encomenda
Escritórios de Exportação
Representação
254
4.6.3 - Para cada canal, como você classificaria (1 ruim a 4 ótimo) por que?
4.6.4 - As empresas do APL trabalham com marca própria ou com a marca de empresas
consumidoras? Especifique os casos.
4.7 - Relação entre as empresas do APL e Instituições de Coordenação
4.7.1 - Quais são as instituições envolvidas no APL? Qual o papel de cada uma delas?
4.7.2 - Existem instituições de coordenação no APL? Quais? Qual o trabalho desenvolvido por
elas?
4.7.3 - Quais os trabalhos que essa instituição (essas instituições) tem desempenhado?
4.8 - Capacidade Tecnológica do APL
4.8.1 - As empresas do arranjo desenvolvem inovações tecnológicas? De que tipo?
4.8.2 - Como as empresas do arranjo desenvolvem inovação tecnológica?
4.8.3 - Existem firmas que desenvolvem inovações em seus produtos? Quais e o tipo de
inovação?
4.8.4 - Existem firmas inovadoras e firmas imitadoras dentro do APL? Como funciona essa
questão dentro do APL?
4.8.5 - Ao longo da década dos últimos 5 anos, quais foram as principais inovações adotadas
pelas empresas em seus produtos e/ou processo produtivo:
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
Inovações de Produto
Observações
Alterações no desenho/estilo
Alterações de características técnicas
Novo produto
Outros(especificar)
Inovações no processo
Incorporação de novos equipamentos na planta industrial
Nova configuração da planta industrial
Construção de uma nova planta
Introdução de novas técnicas organizacionais
- Células de produção
- Just-in-time externo
- CAD/CAM
- outras (especificar):
Observações
4.8.6 - Quais são as principais fontes de informação que as empresas utilizam para promover
inovações de produto ou de processo?
Fonte
Observações
Departamentos de P&D da empresa na região
Departamentos de P&D da empresa situados em outras regiões
255
Departamento de P&D da empresa localizada fora do país
Consultorias especializadas contratadas localmente
Consultorias especializadas localizadas fora da região
Consultorias especializadas localizada no exterior
Universidades e Centros Tecnológicos na região
Universidades e Centros Tecnológicos de outras regiões
Universidades e Centros Tecnológicos localizados no exterior
Aquisição de novos equipamentos fornecidos localmente
Aquisição de novos equipamentos de produtores nacionais
Aquisição de novos equipamentos oriundos de fornecedores externos
Clientes
Publicações especializadas
Troca de informações com empresas do setor na região
Troca de informações com empresas do setor fora da região
Troca de informações com empresas do setor localizadas no exterior
Congressos e feiras do setor realizadas no país
Congressos e feiras do setor realizadas no exterior
Outros: especificar
4.8.7 – Como se dá o desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias?
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
Forma de incorporação de inovações tecnológicas
Observações
Aquisição de máquinas compradas no mercado nacional
Aquisição de máquinas compradas no mercado internacional
Em cooperação com fornecedores de equipamentos
Nas unidades de produção da empresa
Em laboratórios de P&D da empresa algumas
Em cooperação com outras empresas concorrentes
Em cooperação com outras organizações (de ensino e pesquisa,
entidades de apoio setoriais, etc.)
Em cooperação com fornecedores de insumos
Outros. especificar:
4.9 - As empresas do APL e políticas públicas
4.9.1 - Quais políticas governamentais que tem contribuído para a eficiência do APL?
Para importância: (1) sem importância; (2) pouco importante (3) importante; (4) muito
importante Para âmbito de governo: L) local; E) estadual; F) federal
Ações de Política
Importância Âmbito de governo Observações
Programas de capacitação profissional e
treinamento técnico
Melhorias na educação básica
Programas de apoio a consultoria técnica
Linhas de crédito (especificar)
Incentivos fiscais (especificar)
Outras (especificar):
256
V - Aspectos gerais do APL e condicionantes territoriais
5.1 – Classifique as características do APL
Avaliação de Algumas Características
0
1
2
Não se Fraco bom
Aplica
3
muito
bom
4
ótimo
Disponibilidade de mão-de-obra
Qualidade da mão-de-obra
Custo da mão-de-obra
Proximidade com universidades e centros
tecnológicos para realizar testes
Proximidade com os fornecedores de matéria-prima
Proximidade com os fornecedores de equipamentos
Proximidade com os clientes/consumidores
Influência dos sindicatos
Existência do setor consolidado no local
Treinamento da mão-de-obra voltado para a
atividade do APL
Parceria com empresas do ramo
Disponibilidade de habitação para mão-de-obra
qualificada
Disponibilidade de mão-de-obra especializada
Concorrência com empresas do ramo
Economia voltada para um só produto
Área para instalação de empreendimentos industriais
Energia elétrica
Estradas
Telecomunicações
Segurança
Serviços Urbanos
Proximidade de Universidades
Recebe auxílio de universidades em pesquisa e
desenvolvimento
Presença de Escola Técnica
Facilidade de obtenção de assistência técnica
5.2 - Apontar quais os condicionantes que contribuem para o fortalecimento do APL e os
condicionantes que têm servido como restrição ao desenvolvimento.
0) Sem efeito 1) ruim funcionando como restrição 2) bom, mas não muito representativo 3)
muito bom e representativo 4) ótimo, favorecendo o desenvolvimento.
Condicionantes Marshallianos
Disponibilidade de mão-de-obra
Qualidade de mão-de-obra
Custo da mão-de-obra
Presença de fornecedores de matérias-primas diversas disponíveis na
região
Presença de fornecedores de bens de capital
Proximidade Universidades e Centros de pesquisa
Existência de programas governamentais
Proximidade/vizinhança de mercados
Disponibilidade de recursos naturais específicos localmente ou no
entorno regional da localidade
257
Número
Observações
Presença de infra-estrutura física suficiente e adequada no seio da base
produtiva (energia, telecomunicação, via de acesso por meios
transportes)
Acesso fácil à informação
Condicionantes Shumpterianos
Existência de elevado número de pessoas engajadas em atividades de
design e inovação
Número
Observações
Número
Observações
Número
Observações
Elevado nível de qualificação da mão-de-obra
Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usuários
Encadeamentos à jusante, à montante e horizontais extensivos
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas a assistência de
rotina às atividades produtivas técnicas, comerciais e financeira
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à qualificação
da força de trabalho
Presença de associações de classe e comerciais dedicadas à capacitação
tecnológica às firmas
Condicionantes Transacionais
Existência de cooperação entre firmas competidoras baseada em relações
de confiança altamente desenvolvidas e sedimentadas
Presença de eficiência coletiva que reduz os custos de transação
Utilização de colaboração horizontal
Existência de contatos freqüentes entre empresas formais e informais
Presença de confiança recíproca
Existência de contratos mais flexíveis
Trocas freqüentes de informações e conhecimento entre os atores locais
de forma não codificada
Existência de grande confiança entre os atores
Existência de potencial de cooperação para complementar recursos e
aprendizagem.
Influência da governança interna do APL em relação a facilidades para
elaboração de contratos mais flexíveis
Contribuição da governança interna de modo a facilitar o processo de
compras em conjunto
Contribuição da governança interna para facilitar o processo de vendas
Contribuição da governança interna para facilitar o marketing conjunto
Condicionantes Institucionais
Existência de um ambiente institucional que permite a redução da
assimetria de informação no SPL e redução de custos de transação
Criação de aspectos culturais que permitam estabelecer laços de
confiança, interação social, identidade e objetivos comuns
Existência de apoio das instituições
desenvolvimento de atividades de parceria
políticas
e
sociais
no
Existência de apoio de instituições políticas e sociais para estimular a
transformação do SPL em sistemas mais amplos de inovação (esforço
conjunto SEBRAE, FIEMG, universidade, Governo Federal)
Existência da proximidade dos APLs com instituições de ensino,
pesquisa e agentes econômicos
258
VI – Roteiro de entrevista para a pesquisa em órgãos institucionais
6.1 - A que atribui a formação e o desenvolvimento do ramo de atividade nesta cidade?
6.2 - Quando a instituição iniciou suas atividades?
6.3 - Quantas empresas filiaram-se a esta instituição no início de suas atividades?
6.4 - Quantas empresas são filiadas hoje?
6.5 - Quais são os seus principais objetivos como órgão Institucional?
6.6 - Quais desses objetivos estão sendo atingidos satisfatoriamente?
6.7 - Qual o papel dessa instituição no APL?
6.8 - Como a Instituição vê a cooperação neste ramo de atividade, entre seus vários agentes
econômicos (empresários, empregados, fornecedores, trabalhadores a domicílio, instituições)?
6.9 - Quais os trabalhos desenvolvidos por essa instituição que teve papel relevante no
desenvolvimento do APL?
6.10 - Quais os serviços que esta instituição presta ao APL?
259
ANEXO II
Roteiro de entrevista aplicada aos fabricantes na segunda fase da
pesquisa de campo
260
Questionário direcionado aos empresários do APL
Número questionário
Início atividades (data)
Identificação da Empresa
Nome da Empresa
Endereço
Telefones
Nome do informante
Associado ao Sindicato
Recursos Humanos
1 -Número de Funcionários
até 19
de 20 a 99
Sim =1 Não=2
de 100 a 499
2 -Origem da mão de obra é local?
3 - Grau de Escolaridade dos funcionários
Grau de
instrução
1 Analfabeto
Email
Contato
Natureza Jurídica
2 Fundamental
incompleto
Sim
3 Fundamental
completo
acima de 500
1 formal, 2 Informal
Masculinos
Femininos
Não
4 Ensino Médio 5 Ensino médio
incompleto
completo
6 Superior
incompleto
7 Superior
completo
Número de
Funcionários
Dirigente da
empresa
4 -Valor médio mensal com mão-de-obra e encargos
5 - Treinamento de pessoal (1 sim e 2 não)
Feito na própria empresa
Senai
outras
Sebrae
Mercado
1 A empresa possui loja de varejo
Sim
se sim:
em outras regiões do Estado
Local
região
Quantas?
Quantas?
Não
em outro estado (quais)
2 A empresa possui loja de Atacado
Sim
se sim:
em outras regiões do Estado
Local
região
Quantas?
Quantas?
Não
em outro estado (quais)
3 A empresa trabalha com representantes comerciais?
se sim:
Local
região
Quantos?
Quantos?
Sim
em outras regiões do Estado
em outro estado (quais)
em outros países (quais)
4 Qual o percentual de destino das vendas nos mercados?
local (na cidade)
Regional (na microrregião)
Na região
Quantas?
Quantas?
Quantas?
Quantas?
Não
Quantos?
Quantos?
Quantos?
Nas outras regiões de Minas
Nos outros Estados Brasileiros (listar os Estados)
No Exterior
Qual o nome do Estado de maior venda?
5 - Qual o faturamento médio mensal da empresa?
6 Quais são os principais canais de comercialização adotados pela empresa?
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
Sob encomenda
Lojas Próprias
varejistas
Pessoas físicas
Outros (especificar):
261
8 pós graduação
7 A marca dos produtos
Marca própria
Marca de outro fabricante
Marca do pólo ou de programa específico
percentual
percentual
percentual
8 - Como a empresa faz para diferenciar o seu produto dos produtos do concorrente?
Produz um produto diferente dos concorrentes
Estratégia diferenciada em Marketing
Tipo de matéria prima usada
Constante inovação de estilo
Relacionamento com o cliente
Utilização de tipos diferenciados de acabamento
Outros - Especificar
9 - A empresa já vendeu ou vende para mercado internacional?
Sim =1 Não=0
Por que?
Quais países?
se Não
10 - A empresa já participou de consórcios de exportação?
Sim =1 Não=0
Quando?
Sim
11 - A empresa participa de feiras?
Se sim: (1) Pouco frequente, (2) frequente(3) muito frequente
Local como expositor
Não
Em outros Estados como Expositor
Local como visitante
Em outros Estados como Visitantes
Em outras cidades como expositr
Em outros países como expositor
Em outras cidades como visitantes
Em outros países como visitantes
Produção
1 - Número médio de peças produzidas por mês
2 - Qual o tipo de produção adotado pela empresa?
por encomenda
em série por encomenda
em série (linha própria)
outros Explicar
3 - Quais os tipos de produtos que a empresa fabrica?
Percentual
Percentual
Percentual
Percentual
4 - A empresa produz parte de produto de outra empresa?
Sim =1 Não=0
Quais produtos?
Terceirização e subcontratação
1 - A empresa compra parte de produtos de outra empresa para a composição do seu produto?
Sim =1 Não=0
Quais as partes que são compradas?
2 - A empresa terceiriza algum tipo de produto ou parte do processo de produção?
Se sim, em que atividades?
3 - Quando a empresa faz opção pela terceirização, qual o motivo?
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
Redução de custo de produção
Atender a demanda aumentando a capacidade de produção
Busca de melhor qualidade por serviços especializados
4 - Quando a empresa terceiriza, qual o tipo de contrato é estabelecido:
informal
escrito
tempo indeterminado
por operação
5 - A empresa já trabalhou como subcontratada de outra empresa?
Sim
Não
Quais os tipos de produtos que produziu?
262
Sim =1 Não=0
Serviços complementares
Não possui maquinário específico
Qual o tipo de contrato foi estabelecido:
informal
escrito
tempo indeterminado
por operação
Se sim
treinamento de pessoal
Cessão de máquinas e equipamentos
Adiantamento em forma de dinheiro
Transporte de produto inacabado e acabado
7 - A empresa subcontrata mão-de-obra em domicílio?
Sim
Não
Quais os tipos de produtos ou atividades?
8 - Existe algum tipo de parceria entre empresa formal e informal para a execução de parte do processo produtivo?
Sim
Não
Quais?
9 - Existe a subcontratação de outros serviços que não estejam ligados ao processo produtivo?
Se sim, quais?
Transporte de matériais e insumos
informal
escrito
tempo indeterminado
por operação
Transporte de produtos acabados
informal
tempo indeterminado
escrito
por operação
Firmas de serviço de segurança
informal
tempo indeterminado
escrito
por operação
Firmas de serviço de representação
informal
tempo indeterminado
escrito
por operação
Firmas de serviços contábeis
informal
tempo indeterminado
escrito
por operação
Firmas de design
informal
tempo indeterminado
escrito
por operação
Firmas de manutenção
informal
tempo indeterminado
escrito
por operação
Outros (especificar)
informal
tempo indeterminado
escrito
por operação
Sim =1 Não=0
10 - Quais as maiores dificuldades em tercerizar ou subcontratar empresas?
Falta de confiança em outras empresas para a terceirização de parte de processo de produção
A tecnologia do contratante é muito inferior, comprometendo a qualidade do produto
Falta de mão-de-obra com qualificações específicas em outras empresas, inibindo a contratação
Os critérios de controle de qualidade impostos para atender as exigências ergonométricas e de resistência são
muito rigorosas, não compensando os ganhos que poderiam ser obtidos por meio da terceirização
outros (Especificar)
Concorrentes
1 - A empresa participa ou já participou de estratégias conjuntas com outras empresas concorrentes?
Central de compras
Centro de distribuição
Missões internacionais
Central de Vendas
Troca de informações
Feiras/stands c/ concorrentes
Organização de eventos
Visita em feiras
Consórcio de exportação
Ações conjuntas de Marketing
Outros Especificar
263
Ações conjuntas p/ capacitação pessoal
Ações conjunta de design e estilo
Ensaios p desenvolv. e melhoria de produto
Desenvolvimento de catálogo
Uso comum de equipamentos especializados
Fornecedores de materiais e insumos
1 Quais os principais materiais utilizados na produção, o número de fornecedores e localização?
(onde compram, indendentemente de onde vem o insumo)
Número de fornecedores
Observações
Sudeste
Sul
Norte e Nordeste
materiais
Local MG SP ES RS SC PR RR RO PA AM BA
2 - Há relações de cooperação com os fornecedores de materiais?
Se sim: Que tipo de relação de cooperação exite?
Troca de informações
Ações de design e estilo
Pesq./desenvolv. Produtos
Troca de pessoal
Capacitação de pessoal
Melhores prazos de pagto
Sim=1 não = 0
Melhores preços para as empresas do APL
Patrocínio e divisão de stands em exposições e feiras
Outros
3 - Principais dificuldades na relação com fornecedores de materiais
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
Condições de pagamento
Localização de fornecedores
Escassez de fornecedores
Preço
Não há dificuldades
Outros (especificar)
4 - Quais os tipos de contratos estipulados na relação de produtor e fornecedor de materiais?
informal
escrito
Tipo de contrato
tempo indeterminado
por operação
Prazo do contrato
5 - Quais os gastos mensais com materiais e insumos da empresa?
6 - Qual o valor médio de outros gastos mensais, excluindo materiais, insumos e mão-de-obra?
Fornecedores de máquinas e equipamentos
1 - Quais as principais máquinas e equipamentos utilizados na produção, o número de fornecedores e localização?
(3 a 5 máquinas e equipamentos)
Número de fornecedores
Sudeste
Sul
Norte e Nordeste
Exterior (país/nome)
Equipamentos
Local MG SP ES RS SC PR RR RO PA AM BA
1
2 - Há relações de cooperação com os fornecedores de máquinas e equipamentos?
Se sim: Que tipo de relação de cooperação exite?
Troca de informações
Pesq./desenvolv. Produtos
Capacitação de pessoal
manutenção
Sim=1 não = 0Não
Ações de design e estilo
Melhores preços para as empresas do APL
Troca de pessoal
Patrocínio e divisão de stands em exposições e feiras
Melhores prazos de pagto
Outros
Assistência ténica no processo produtivo
3 - Principais dificuldades na relação com fornecedores de máquinas e equipamentos
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
Condições de pagamento
Preço
Não há dificuldades
Escassez de fornecedores
Localização de fornecedores
Outros (especificar)
Quais os tipos de contratos estipulados na relação de produtor e fornecedor de máquinas e equipamentos?
informal
escrito
Tipo de contrato
tempo indeterminado
por operação
Prazo do contrato
264
Relações com universidades e centros de pesquisa
1) Quais as formas de intercâmbio que a empresa costuma manter com Centros de Pesquisa,
universidade e instituições afins:
Local
no país
no exterior
Forma de interação
Desenvolvimento de novos produtos
Desenvolvimento de novos processos
Testes e certificados
Treinamento de pessoal
Caracterização e seleção de matéria-prima
Outros- Especificar
2) Se não mantém, quais os motivos?
Inovação de produto e processo
1) Quais são as principais inovações da empresa em seu processo produtivo?
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
Inovações de Produto
Alterações no desenho/estilo
Alterações de características técnicas
Inovações no processo
Incorporação de novos equipamentos na planta industrial
Nova configuração da planta industrial
Construção de uma nova planta
Introdução de novas técnicas organizacionais
Novo produto
Outros(especificar)
Células de produção
Just-in-time externo
CAD/CAM
outras (especificar):
Qual o procedimento adotado pela empresa no desenvolvimento do design ou da moldelagem?
desenvolve na empresa por profissionais especializados
Terceiriza
Desenvolve na empresa pelos próprios integrantes da empresa
Copia de outras empresas
2) Quais são as principais fontes de informação que a empresa utiliza para promover a inovação de produtos e/ou processos?
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
Local/região
fora da região
Departamentos de P&D da empresa
Local/região
fora da região
Consultoria especializadas contratadas
Local/região
fora da região
Universidades e centros tecnológicos
Local/região
fora da região
Aquisição novos equip. fornecidos
Clientes
Publicações especializadas
Local/região
fora da região
Troca de inform. Empresas do setor
Congressos e feiras comerciais e industriais do setor realizadas no país
Congressos e feiras comerciais e industriais do setor realizadas no exterior
fora do país
fora do país
fora do país
fora do país
fora do país
Incorporação de novas tecnologias
1 - A tecnologia de produção (máquinas e equipamentos) da sua fábrica é considerada:
De última geração ( muito atualizada)
Pouco moderna
Moderna, porém não é considerada de última geração
bem ultrapassada
3 - Como se dá o desenvolvimento ou incorporação de novas tecnologias?
1)sem importância; 2)pouco importante; 3)importante; 4),muito importante
Forma de incorporação de inovações tecnológicas
Nas unidades de produção da empresa
Aquisição de máquinas compradas no mercado nacional
Em laboratórios de P&D da empresa
Aquisição de máquinas compradas no merc. internacional
Em cooperação com outras empresas concorrentes
Em cooperação com fornecedores de equipamentos
Outros. especificar:
Em cooperação com fornecedores de insumos
Em cooperação com outras organizações de ensino, pesquisa, entidades de apoio setoriais, etc.
265
Instituição de coordenação do APL
Quais os serviços do setor de coordenação a empresa tem utilizado?
Serviços médicos e odontológicos
Cursos Palestras e treinamentos
Central de entrega
Assistência Jurídica
Consórcio de exportação
Feiras, missões e eventos
Outros, Especificar
Localização
Por que a empresa buscou situar o seu negócio neste local?
Quais as vantagens da empresa funcionar nesta cidade?
Observações:
266
Download

formação desenvolvimento e estruturação de arranjos