A Arte de Comunicar Proposta de Percurso de Trabalho 1º Reunião de análise Ponto I - Momento de Oração - Seguir o percurso da Lectio Divina a partir do texto: Lc 4,14-22 Ponto II - Leitura de textos - ou partilha das ideias essenciais (se os textos já foram lidos) Ponto III - Análise da realidade à luz dos textos Ponto IV - Elaboração de uma lista de desafios 2º Reunião de determinação de desafios e proposta de objectivos e linhas de acção Ponto I - Momento de Oração - Seguir o percurso da Lectio Divina a partir do texto: Jo 14,12-14 Ponto II - Recordar os desafios Ponto III - Elaboração metas e objectivos (pouco - pequeno - possível - avaliável) Ponto IV - Procurar linhas de acção 3º Reunião de planificação de projectos ou do ano catequético Ponto I - Momento de Oração - Seguir o percurso da Lectio Divina a partir do texto: Jo 15,1-11 Ponto II - Recordar objectivos e linhas de acção Ponto III - Realização dum plano de acção trienal - e anual 4ª reunião … Recomendações • Ao sugerir 3 reuniões, não se pretende esgotar o processo. Seria importante, criar o hábito de regularmente, em reunião de catequistas, fazer uma leitura de documentos significativos no âmbito das questões catequéticas. A alteração da prática passa pela lenta evolução da forma de pensar e ver a realidade. Sem mudança de mentalidade, a renovação catequética terá dificuldade em realizar o percurso que a Igreja propõem e o ser humano espera. • Antes de cada reunião, o coordenador deverá enviar aos participantes a agenda da mesma (ordem de trabalhos), assim como os textos que serão objecto de reflexão, e eventualmente algumas perguntas orientadoras (ver perguntas incluídas nesta MENSAGEM). • No fim da reunião, devem ser sistematizadas e lidas as conclusões e decisões tomadas. Esse documento deverá ser posteriormente enviado aos participantes para tomada de conhecimento, e para servir de base de trabalho para as reuniões posteriores. • Durante a reunião, recomendamos um especial cuidado na gestão do tempo e das energias do grupo, evitando dispersões e gerindo possíveis resistências à reflexão e responsabilização individual no processo. • O sucesso dos projectos deve-se em parte ao processo de avaliação. Avaliar, é analisar o percurso realizado para apontar os pontos positivos, os aspectos a melhorar e determinar novas estratégias. Sem este passo, os projectos correm o risco de não produzir os frutos pretendidos. Repensar o “caminho da Iniciação cristã” obriga a repensar o papel e a espiritualidade do catequista. Ser “portador de uma boa notícia” implica estar a caminho com os que iniciam o caminho. Eis alguns desafios! A Espiritualidade do Catequista Hoje «Para responder aos desafios culturais: cultura do sujeito, cultura democrática, cultura crítica, científica e técnica e cultura da comunicação a catequese deverá estar assente numa espiritualidade forte. Uma espiritualidade que lhe seja própria e ao mesmo tempo adaptada à mutação que a atravessa neste momento.» André Fossion A espiritualidade do Catequista, não se limita à espiritualidade comum de todo o baptizado chamado a viver: a fé, esperança e caridade, a oração e a prática das virtudes evangélicas (devem viver este programa com excelência). Não reside na competência doutrinal do saber fazer metodológico. A espiritualidade do catequista reside na forma evangélica como é conduzido o acto catequético. Perante a crise de transmissão e de proposta da fé, que atitudes espirituais é chamado a desenvolver, o catequista, no exercício da sua missão, para transformar a crise que atravessa hoje a catequese em tempo de promessa? A espiritualidade do catequista é desafiada a ter uma dinâmica “abraâmica”, uma dinâmica que dá o toque da partida para uma aventura espiritual: “Vai, deixa a tua terra e dirige-te para a terra que eu te indicar”. Neste espírito de partida e de promessa propõem-se nove atitudes espirituais para serem vividas no acto catequético: três em ordem à comunicação, três em ordem à relação pedagógica e três relativas à organização da catequese. Comunicação 1. Aceitar o “largar as amarras” 2. Situar-se exactamente na sua responsabilidade 3. Não preencher com a “sua própria pequenez os caminhos de acesso à fé” Relação Pedagógica 1. Arriscar-se ao acolhimento no “espaço” do outro 2. Abrir-se a todos e não excluir ninguém 3. Personalizar as relações Organização Catequética 1. Promover um espírito de investigação, de liberdade e de amizade 2. Adoptar um espírito de rigor 3. Desenvolver um espírito de participação – corresponsabilidade 67 | 19 | Em Ordem à Comunicação da Fé 2. Situar-se exactamente na sua responsabilidade Em Ordem à Relação Pedagógica 1. Aceitar o “largar as amarras” – confiança no Espírito Não temos poderes sobre a comunicação da fé todavia a fé não se comunica sem nós. O catequista tem a obrigação de criar as melhores condições para que a fé seja possível, compreensível e desejável. Esta é a responsabilidade do catequista, tudo o resto é fruto da graça de Deus e da liberdade humana. O catequista é chamado a ter uma atitude espiritual de reserva. Pode preparar o terreno, regar o jardim, cuidar dele mas atenção: não inundar as raízes! Quantos erros se cometem pelo zelo religioso desordenado que ultrapassa os limites do que está sobe a responsabilidade do catequista! A forma evangélica de situar-se na catequese é: nem a demissão de si mesmo, nem a submissão ao outro, mas a preocupação em oferecer condições para que seja possível o crescimento do outro a nível humano e na fé. 1. Arriscar-se ao acolhimento no “espaço” do outro 2. Abrir-se a todos e não excluir ninguém O tema do acolhimento faz parte do discurso catequético habitual. Todavia corremos o risco de posicionar o catequista como aquele que acolhe e por esse motivo aquele que se coloca numa postura de superioridade perante o catequizando. Nesta visão (por vezes inconsciente), o catequista é aquele que tem o papel principal e está investido na função de acolher. Sobe este prisma, o outro é colocado numa postura de inferioridade, de passividade como aquele que apenas recebe. Seguindo a lógica do Evangelho não será talvez necessário deixar-se acolher pelo outro, reconhecendo as suas virtudes de hospitalidade e as forças de viver que o habitam? “Quem vos acolhe, me acolhe.” (Mt 10,40). “Quando encontrares hospitalidade numa casa, ficai aí até ao...” (Mc 6,10). Com Zaqueu, é Jesus que pede a hospitalidade, com os discípulos de Emaús é Jesus que recebe a hospitalidade. Abrir-se ao “espaço” do outro, deveria ser a atitude do catequista que não presume da disponibilidade do outro na escuta e acolhimento do Evangelho. Corre-se o risco de ir ao encontro das pessoas e dos meios onde se pensa que “esses estão aptos” ao acolhimento da fé segundo critérios pessoais. Quantas vezes o catequista filtra o campo dos destinatários a partir de critérios que têm a ver com afinidades pessoais, sociológicas ou culturais. Jesus contradiz profundamente esta atitude e actua contra qualquer expectativa: a Cananeia, a viúva, o centurião, Zaqueu, a pecadora, o ladrão... O acolhimento da fé faz-se onde menos se espera. “Os primeiros serão os últimos e os últimos os primeiros” (Mt 20,16) “As prostitutas e os pecadores preceder-vos-ão no Reino de Deus.” (Mt 21,31) Esta “reviravolta” evangélica não exclui ninguém e alerta contra a hierarquização e os preconceitos na atitude de fé. É um apelo a semear a palavra sem julgamentos. • Deixar a tentação da nostalgia e das ideologias da decadência; • Renunciar aos integrismos, a culpabilização das comunidades e do mundo; e viver: • na confiança e na alegria perante a situação de crise que se vive; • aceitar o desafio de “não dominar a situação”, como nos convida o Evangelho: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã. A cada dia basta a sua…” (Mt 6,34) “Um semeia, outro colhe...” (J 4,37) “Quando tiveres terminado o trabalho...” (Lc 17,10) Não temos a possibilidade de “criar no outro” a disponibilidade à escuta do Evangelho, por isso somos chamados a: • fazer confiança à humanidade (ela é capaz de: interrogação ética, busca de sentido, preocupação com direitos humanos...); • ser disponíveis ao Espírito que age no mundo e na Igreja… Estas atitudes não conduzem à passividade mas tornam os catequistas mais audaciosos e criativos, mais aptos a trabalhar intensamente hoje para o amanhã, sem ter o horizonte como objecto de conquista. | 20 | 68 3. Não preencher com a sua “própria pequenez” o acesso à fé O catequista não pode desejar que os catequizandos sejam a reprodução dele mesmo, a sua imagem, a imitação da sua forma de ser e viver a fé (os primeiros cristãos foram tentados em impor que todos os convertidos se sujeitassem aos costumes do judaísmo). É importante o catequista procurar propor a fé sem impor a sua forma de a viver (quantos obstáculos colocamos à fé a partir das nossas determinações pessoais, culturais, e até posições teologicamente incompletas ou psicologicamente duvidosas). O catequista deverá fazer a diferença entre: Acreditar como e acreditar com. Esta atitude convida o catequista a sair do seu mundo, a abrir-se ao mundo do outro com tudo o que supõe de diferença, de inesperado, de desconcertante... deslocar-se do centro da sua vida, do seu universo de interesses permitindo que o outro possa exercer as suas próprias virtudes de hospitalidade. O catequista é convidado a estar profundamente atento às suas ideias pré-concebidas no momento de atender os seus destinatários: afinidade, horários, lugares, ritmos, hábitos, costumes, métodos... Estes condicionantes podem limitar e excluir certos meios ou perfis... Abrir-se a todos, é uma vigilância profundamente evangélica é um desafio que convida a partir para sendas desconhecidas e a emigrar para lugares esquecidos (aqueles que habitualmente tendemos a marginalizar). 69 | 21 | 3. Personalizar as relações Jesus ensinava às multidões mas não deixava de estabelecer contactos pessoais: Nicodemos, Samaritana, jovem rico... O diálogo pessoal é fundamental no percurso catequético. O catequista pode cair na tentação de reduzir a sua missão à de um animador de grupo, sem estabelecer uma relação com cada um e desenvolver a relação entre todos. A espiritualidade do catequista inclui ao mesmo tempo o sentido da comunidade e a relação pessoal, acompanhamento individualizado. A confissão de fé é um acto pessoal com o apoio de um “nós”. Não podemos esquecer que a cultura valoriza a liberdade individual. A espiritualidade do catequista é uma espiritualidade de “companheirismo”, do irmão mais velho que já tocou a outra margem e acompanha o caminhar do outro rumo ao futuro. Em Ordem à Organização da Catequese Ela Mesma 1. Promover um espírito de investigação, de liberdade e de amizade Três condições favoráveis no exercício da catequese: procura assídua, respeito pelas liberdades e fraternidade: Procura da Verdade Implica humildade e questionamento. “Catequizar é levar alguém a procurar o mistério de Cristo em todas as suas dimensões.” É importante que o catequizando se sinta estimulado intelectualmente. O desafio é que ele possa experimentar por ele mesmo a fé, mesmo que ela ultrapasse a razão sabendo que ela não deixa de ter espaços de “razão”. Liberdade Respeitar a inteligência dos catequizandos implica renunciar a qualquer forma de violência, de pressão, de manipulação. É despertar para a liberdade respeitando-a. É situar a fé na ordem do reconhecimento e da livre adesão... Permitir que o outro encontre o que se procura. Fraternidade Ela acontece como uma graça oferecida gratuitamente e sem condições. A catequese torna-se assim uma experiência fraterna, eclesial. Estes três dados favorecem o acolhimento do Espírito e a disponibilidade à sua acção. O catequista é ao mesmo tempo um “buscador” de Deus e um garante da liberdade, um amigo. 2. Adoptar um espírito de rigor O catequista não é um improvisador... a sua tarefa exige rigor. O rigor implica manter uma distância crítica em relação ao que faz, ao que diz e ao que se passa à sua volta. O rigor diz respeito aos conteúdos, ao método, à organização e exige um trabalho de investigação, analise, avaliação, elaboração de hipóteses e de aprendizagens a partir da prática. O rigor em catequese não é só uma exigência técnica, é autenticamente uma atitude espiritual no sentido em que manifesta uma atenção à pessoa no processo de amadurecimento da fé. Não tem a ver com o desejo de dominar tudo, pelo contrário tem a ver com a atitude de colocar-se à escuta e na disponibilidade perante o Espírito. Rigor como busca suprema de fidelidade e coerência aos planos de Deus para com o seu povo. Respeito para como os irmãos, para com a sua inteligência, procura e abertura ao Espírito. QU E STÕE S A espiritualidade do catequista será então a arte de cultivar de fazer confluir e de organizar o espaço do encontro entre a graça de Deus e a liberdade humana. 3. Desenvolver um espírito de participação A catequese é, por vezes, entendida como um poder, todavia a sua essência é serviço co-participado e corresponsabilizado. Nesta linha de pensamento, o Sínodo de 1977 recomendava que se estabelecesse estreitas ligações entre os catequetas, os teólogos e os especialistas das ciências humanas. A atitude espiritual do catequista implica consultar, escutar e colaborar com os vários intervenientes do processo catequético, inclusive os catequizandos (Também eles são corresponsáveis e podem ser implicados a nível de programação, iniciativas…). Dieu toujours recommencé André Fossion Lumen vitae Novalis, CERF, Belgique, 1997 Traduzido e adaptado A VI S ITAR • • • • Que interrogações convoca este olhar sobre a atitude espiritual do catequista? Que desafios oferece à relação entre catequistas e catequizandos? Que caminhos de resposta ao “humano em busca caminhos de acreditar” indicam este texto? Que ligações podem ser feitas entre este texto e os desafios que a “iniciação à vida cristã” oferece às nossas práticas catequéticas? • … 71 | 23 |