UNIVERSIDADE DE
BRASÍLIA
DEPARTAMENTO DE TEORIA
Dissertação:
LITERÁRIA
E LITERATURAS
"A i d e o l o g i a nas Canções de E x í l i o :
Ufanismo e C r í t i c a "
Elaborada p o r :
S y l v i a Helena Cyntrão
DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO
DEPARTAMENTO DE TEORIA LITERÁRIA E LITERATURAS
DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
COMO REQUISITO PARA OBTENÇÃO
DO TÍTULO DE MESTRE EM LITERATURA BRASILEIRA
Por:
S y l v i a Helena C y n t r ã o
Prof a
orientadora
Maria de Jesus E v a n g e l i s t a
A
Ideologia
Exílio:
nas
Canções
Ufanismo
Dezembro/1988
e
de
Crítica
Para FELIPE CYNTRÃO MEDEIROS CORRÊA,
meu filho de nove anos.
Na esperança de que, no futuro, não se sinta
como um exilado, em sua própria pátria ...
Agradecimentos
A Profa Maria de Jesus Evangelista,
orientadora sensível, segura
e
incansável.
A Sylvia e Eduardo Cyntrão, meus pais,
que me mostraram este caminho.
A Marilda e Luiz Dusi, meus tios,
que tornaram possível percorrê-lo.
SUMÁRIO
O o b j e t i v o desta
comum que c o m p õ e a
à poesia
para
social
dissertação
ideologia n a c i o n a l i s t a ,
m o d e r n i s t a de nossos d i a s .
d e s e n v o l v e r nosso
trabalho o
tema
é
analisar o universo
da
poesia
Escolhemos,
do e x í l i o ,
aparece como uma e s p é c i e de u n a n i m i d a d e n a c i o n a l ,
quência
na
literatura
Os
sendo escrita
tica.
A
verdade
críticos
pois
tal
portanto,
este
tema
sua
fre_
a
brasileira.
têm o b s e r v a d o que a
poesia
que
vem
repropõe o c a r á t e r p ú b l i c o e p o l í t i c o da fala
construção
(real
romântica
ou
do
objeto
imaginária)
poético
subordina-se,
do s u j e i t o e do g r u p o .
poé_
portanto, à
Nossa
inten_
ção é d e m o n s t r a r que a q u e s t i o do n a c i o n a l i s m o é uma q u e s t ã o
ex_
tremamente a t u a l ,
que
revigoram os
retomada
símbolos
nos
dias
de
hoje
por e s c r i t o r e s
de b r a s i l i d a d e p r o p o s t o s ,
século
XIX,
por G o n ç a l v e s D i a s .
E,
tal,
vimos
ser a d e q u a d o aplicar
método
a b o r d a g e m do
texto
literário.
s e m i ó t i c o de
O presente
los.
0 primeiro
para
no
trabalho
está
dividido
em
três
(A " C a n ç ã o do E x í l i o " de G o n ç a l v e s D i a s )
põe novidades i n te r p re ta t i va s , mas a p r e s e n t a uma s e l e ç ã o
da dos m e l h o r e s e s t u d o s já
sirva
de
referência
realizados
constante
na
sobre a o b r a ,
análise
que
faremos
o
capítu
não
pro
revisa_
para
que
nos
capítu
los posteriores (esta sim, de cunho reflexivo pessoal)
sobre
"Canções de Exílio" que ã matriz de Gonçalves Dias se
as
seguiram
até nossos dias.
o segundo capítulo
(A Canção do Exílio de
Carlos
Drummond de Andrade) centra-se nas Canções escritas por
Oswald
de Andrade, Murilo Mendes, Mário Quintana e, sobretudo, na
lise do poema de Drummond, objetivando demonstrar a
aná_
intertextua_
1idade, nesta espécie de "diálogo" que se estabelece entre
poe_
tas e entre diferentes visões de mundo, a partir do resultado do
trabalho estético, formal e ideológico obtido nos poemas.
o terceiro capítulo (o exílio na poesia crítico-irô_
nica) estuda as Canções de Exílio de Dalton Trevisan,
Eduardo
Alves da Costa, José Paulo Paes, Antônio Carlos Jobim e
Chico
Buarque de Hol landa, demonstrando o aspecto inovador dos
textos
e os aspectos resgatados da canção-matriz de Gonçalves Dias.
A conclusio constata a presença dos elementos
que
transcenderam a mera significaçio de elementos concretos de
um
mundo real, já que em sua articulação com os outros signos
do
discurso poético, conquistaram um campo mítico, como
símbolos
que remetem à brasilidade e ao nacionalismo, seja de forma
nista-exaltativa ou crítica-irônica. Eles falam do que não
dito na História, em seu particular espaço conotativo.
ufa_
foi
Í N D I C E
INTRODUÇÃO
11
CAPÍTULO
I. A "CANÇÃO DO EXÍLIO" DE GONÇALVES DIAS
1.1. DA RECEPÇÃO DA CANÇÃO DO EXÍLIO
22
1.2. A "CANÇÃO DO EXÍLIO" E O CONTEXTO LÍTERO-CULTURAL ..
25
1.3. DO NACIONALISMO UFANISTA
ÀS
CANÇÕES DE CASIMIRO DE
ABREU
27
II. A CANÇÃO DO EXÍLIO DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE NO CON_
TEXTO DO MODERNISMO BRASILEIRO
..
2.1. MODERNISMO: AS CANÇÕES DE EXÍLIO .................. 42
2.1.1. OSWALD DE ANDRADE E O "CANTO DE REGRESSO
A
PÁTRIA"
45
2.1.2. MURILO MENDES E SUA "CANÇÃO DO EXÍLIO"
50
2.1.3. "UMA CANÇÃO", DE MARIO QUINTANA
52
2.2. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E A "NOVA CANÇÃO DO
LIO"
EXÍ_
.
56
III. O EXÍLIO NA POESIA CRÍTICO-IRONICA
3.1. A "CANÇÃO DO EXÍLIO" DE DALTON TREVISAN
3.2. A "OUTRA CANÇÃO DO EXÍLIO" DE EDUARDO
63
ALVES
DA
COSTA
72
3.3- JOSÉ PAULO PAES E O EXÍLIO ESSENCIAL
3.4. "SABIA": O SIGNO DA IDEOLOGIA NACIONALISTA,
CHICO BUARQUE DE HOLLANDA
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
79
EM
83
99
115
SOMMAIRE
Le
but
de
cette
dissertation
commun qui
c o m p o s e l'idéologie n a t i o n a l i s t e ,
romantique
jusqu'à
avons choisi
ce
pour
thème nous
permanence
parait être
dans
la
ou
de
imaginaire)
notre
l'exil,
ont
pour
1'étude
politique
poétique
est
thème
de
étant
car
donné
du
discours
sa
jours
poétique.
s u b o r d o n n é à la v é r i t é
de
démontrer
une q u e s t i o n e x t r ê m e m e n t
au
considérons
du
le
o b s e r v e que la poésie de nos
par des é c r i v a i n s qui
nous
travail
Nous
brésilienne.
p u b l i q u e et
"brasilidade" proposes,
but,
Ia poésie
La
(réelle
du sujet et du g r o u p e .
n a t i o n a l i s m e est
ce
l'univers
jours.
Notre o b j e c t i f est
le présent
depuis
une u n a n i m i t é n a t i o n a l e ,
critiques
l'objet
d'analyser
sociale m o d e r n i s t e de nos
littérature
le c a r a c t è r e
construction
poésie
développer
Les
reprend
la
est
texte
Le
XIX e
les
reprise
symboles
du
dans
de
par G o n ç a l v e s D i a s .
Et,
la
dans
c o n v e n a b l e d ' a p p l i q u e r la m é t h o d e semiótique
littéraire.
travail
est
divise en
trois c h a p í t r e s .
(La "Chanson de L' E x i l " de G o n ç a l v e s Dias)
d ' interprétation,
actuelle,
ont renforce
siecle,
que la q u e s t i o n
m a i s plutôt
une
Le premier
ne présente pas de nouveautés
selection
réviseé des m e i l l e u r e s
études sur l'oeuvre, qui a été retenue comme
l'analyse
constant
dans
que nous ferons aux chapítres suivants
(celle-ci d'origine personnelle) sur les "Chansons de l' Exil" qui
ont suivi
le poème-source de Gonçalves Dias, jusqu'à nos jours.
Le deuxiime chapitre
(La "Chanson de
l'Exil"
Carlos Drummond de Andrade) analyse les chansons composées
de
par
Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Mário Quintana et, surtout, le
poème de Drummond, pour démonter L'intertextualité ,
de "dialogue" qui
cette sorte
s'établit entre les poetes et leurs différentes
visions de monde, à partir du résultat du travail esthétique, formel
et idéologique obtenu dans les poèmes.
Le
troisième chapitre (l' Exil dans la poésie critique
et ironique) étudie les Chansons de
l'Exil
de Dalton Trevisan,
Eduardo Alves da Costa, José Paulo Paes, Antônio Carlos Jobim
et
Chico Buarque de Hoilanda, demontrant les aspects innovateurs
des
textes
et ceux
qui
sont empruntés à la chanson de Gonçalves Dias.
La conclusion constate la présence des éléments
transcendants de la simple signification
mond réel, vu que, dans leur articulation
d'éléments
concrets d'un
avec les autres signes
du discours poetique, il's ontconquis un espace mythique, comme des
symboles qui
se rapportent à la "brasi1idade" et au nationalisme,
soit de maniére "ufaniste", soi de manière ironique critique. Les
poetes parlent de ce qui n'est pas raconté dans l'Histoire, dans
leur espace connotatit
particulier.
INTRODUÇÃO
Ufanistascom maior ou menor intensidade,
críticos
suaves ou exaltados - ao falar de nacionalismo, "todos
somos
uns exilados 1 ". Concordamos com Eduardo Portella 2 , portanto,
também afirmarmos que, em países como o Brasil, a vocação
ao
cultu_
ral pura é historicamente inadmissível; o intelectual deve inter_
ferir ativamente no processo de emancipação nacional.
Exílio espacial, exílio temporal: a terra
pátria
como base criadora de sentimentos e idéias; a alma sensível
artista mergulhado nas ambigUidades e contradições de sua
riência como homem, trazendo às suas obras, forte e
do
expe_
constante,
uma consciência do seu ser cultural.
"Vou voltar/Sei
que ainda vou voltar
pa ra o meu lugar"
Chico Buarque de Hollanda
Os
servado
caráter
que a
críticos
poesia
público
e
literários
que vem
político
sendo
da
contemporâneos
escrita
fala
têm
repropõe
poética, em
ção ao autocentramento da escrita. A construção do objeto
ob
o
oposi_
poético
12
subordina-se, portanto, à verdade (real ou imaginária) do
to e do grupo. O nacionalismo é, entio, uma questão
te atual,
Drummond
sujei_
extremame_
retomada modernamente por escritores como
Carlos
de Andrade, Dalton Trevisan e outros, revigorando
símbolos utilizados no século XIX por Gonçalves Dias, o
mágico da terra. Assim, a preocupação com o caráter
poeta
nacional,
dependendo das personalidades e das circunstancias, está
presen_
te em quase todo grande escritor brasileiro: da matriz
lírica
de Gonçalves Dias, "Canção do Exílio", a bela "Sabiá" do
Chico Buarque de Hollanda, escrita em um momento
os
poeta
histórico,
pós-64, dos mais difíceis para os artistas brasileiros.
"Sabiá"
reflete, como dezenas de outras "Canções", por estes dois
sécu_
los de literatura, a necessidade de resgatar a pátria.
Nossa
intenção será fazer um estudo do
simbólico comum que compõe a
universo
ideologia nacionalista, da
romântica de primeira fase ã poesia social modernista
poesia
contempo_
rinea.
Para o e s t u d o a que nos p r o p o m o s
c i o n a m o s os
poemas que vêm c l a s s i f i c a d o s
segundo o e n f o q u e dado ao
tema
exílio
realizar,
no q u a d r o a
por
seus
autores.
sele_
seguir,
.13
Enfoques dados pelos autores ao tema exílio
(algumas "Canções":)
"Exílio na Pátria
Nacionalismo
Nacionalismo
Crítico
Ufanista
(Dimensão temporal)
(dimensão espacial) (humor e/ou ironia)
Autores
1) A.C. Jobim e
"Sabia"
"Sabiá"
Chico Buarque
2) Casimiro de Abreu
"Canção do Exílio
I"
"Canção do Exí1io
Meu Lar II"
"Nova Canção
Exílio".
3) C A . Andrade
4) Dalton
Trevisan
"Canção do Exílio"
5) Eduardo A.da Costa
6) Gonçalves Dias
7) José Paulo Paes
"Outra Canção
Exílio"
"Canção do Exílio"
"Canção de Exílio
Facilitada"
"Uma Canção"
9) Murilo Mendes
"Canção do Exílio"
10) Oswald
Andrade
"Canto de Regresso
à pátria"
de
"Canção do Exílio
do
8) Mário Quintana
do
.14
1.
Q u a n t o ao m é t o d o a ser u t i l i z a d o , vimos ser adequa_
do partir de uma a n á l i s e
representaçio e
literária,
transcendência
para
apreender
que c o m p õ e m os
os
signos
textos
poéticos.
Será a p l i c a d o o m é t o d o s e m i ó t i c o de a b o r d a g e m do texto
rio,
para
realizar o
l e v a n t a m e n t o dos
romântica e na m o d e r n i s t a ,
uma
expressão
de
procedimentos
apreender o
fenômeno
balizantes
de
literatura
implica numa
cação,
cuja
têm c o r r e s p o n d i d o
valor
deve
ligada
ser
literário com a H i s t ó r i a .
rio contenha a
na
poesia
necessidade
implicaria
do histórico da
em
em
suas
de
isto é,
Sabemos
latente
Em o u t r a s
maneira específica
História,
palavras,
um d i s c u r s o
da
que
toda
0
alcance
a r t i c u l a ç ã o do
de e s t r u t u r a
na
te_n
num p r o c e s s o de signifi_
ao valor a r t í s t i c o .
b u s c a d o na
na
i m p l i c a ç õ e s glio_
Isto não s i g n i f i c a que o
ficou
linguagem.
serão u t i l i z a d o s
seu m e i o .
f i g u r a ç ã o da a p a r ê n c i a
que contém a q u i l o que
literatura
poético
semiose,
p r o d u ç ã o está
dito pela
sugeridos
integração do homem e
p r o f u n d o desse
foi
à
literá_
nacionalista.
Os
tativa
símbolos que,
de
arte,
texto
literá_
social,
mas
que
não
já
será dizer
s i m b ó l i c o que
texto
que
analisa
criando
a
o mun
significados
.15
e não de forma
dessa
forma,
sentido
imediata,
o valor a r t í s t i c o do
literal
ou m a n i f e s t o ,
por esta d i m e n s ã o
simbólica
Gonçalves
literatura
pelo m o m e n t o r e a l ,
como
Dias ou
Proust ou
b r a s i l e i r a e,
A
pouco mais
partir
literatura
formas
gem " b r a s i l e i r a " ,
rica q u a n t o
pre foi
a
sem
como m a r c o de
no que
seu
Oswald de A n d r a d e
para
expressar
sim com a
daí,
se
gerado
uma
não
fizeram
sua
experiê_
intenção de criar
buscada
na
"uma
nacional
talvez
tenha
refere à d e s c o b e r t a
de
c a r a c t e r i z a ç ã o de uma
A e x i s t ê n c i a da
indagação a e x i g i r
início do n o s s o M o d e r n i s m o ,
o
c e n t e n á r i o de
por a c a s o ,
p o r t a n t o , que os
derna e s c o l h e r a m esta data
finalmente,
o
nossa
terra
resposta".
tão
sern
1922,
era o ano em que
política.
simbolizar,
Independência
tido
se
Não foi
da Semana da Arte
intenção de
início de nossa
lingua_
nacionalidade
Independência
idealizadores
com a
a
consciência nacional.
de e x p r e s s ã o , à u t i l i z a ç ã o de uma
comemorava
cem a n o s ,
não está em
referimos.
genuinamente
identidade.
no Brasil
mas
Acharíamos,
no sentido p r o f u n d o ,
Sthendal,
de m e i o s é c u l o ,
suas p r ó p r i a s
texto que
a que nos
cia de vida e visio de m u n d o ,
literatura
mas
em si.
Mo_
após
Cultural.
Pois bem, a c o m p a n h a r o d e s e n v o l v i m e n t o das Artes brasileiras sobretu_
do a
literatura,
é o b s e r v a r o p e r c u r s o de um p r o c e s s o
desalie_
nante.
O Brasil
nasce como n a c i o n a l i d a d e
mo d e n o m i n a ç ã o g e o g r á f i c a ,
a
e não apenas
partir do R o m a n t i s m o ,
maioria dos v a l o r e s e s s e n c i a i s da cultura
que criou
brasileira.
princípio,
a n e c e s s i d a d e de e x a l t a r a p á t r i a ,
através do
i n d i a n i s m o de
Havia,
o que se
um José de A l e n c a r q u e ,
apesar
co_
a
a
realizou
de
.16
aproximar o
Índio
Peri mais a um cavalheiro medieval europeu
que a um autêntico nativo,
legou-nos as primeiras
imagens
do
1ite_
rárias de fato vibrantes da Terra Brasil.
Tendo conseguido sobreviver ao "mal do século", es_
ta mesma "Terra Brasil" reaparece, com força e entusiasmo,
versos de Castro Alves, o que seria mais um passo para
nos
o
apro_
fundamento do empenho desalienante em relação aos valores
euro_
peus, sempre tão cultuados entre nós.
O movimento
literário realista ainda
se apresenta_
va com uma "capa" européia, e o próprio Simbolismo
revolucionou
o verso, mas não chegou a transformar a linguagem. É com
dernismo que há esta real
ra genuinamente nacional
o
Mo_
transformação. Dissemos que a literatu
E,
tem pouco mais de meio século.
de
fato, apoiando-se nos caminhos autênticos e de renovação,
tos pela geração de 22, é nos anos 30 que a sociedade
aber_
brasilei_
ra ganha nova consistência e um enfrentamento mais consciente de
nossa realidade, por parte do intelectual brasileiro.
O Tndio é o caboclo brasileiros
, sobretudo após
naíma - do não apenas escritor, mas também
pesquisador
clorista Mário de Andrade - não vão mais aparecer como
gens idealizados; aparecem, sim, como seres humanos
maltratados pela realidade miserável
(abriga?
da Terra
que
Macu_
e
fol_
persona_
sofridos,
os
abriga
retirantes oferecem o
panorama
. . . ) .
O Nordeste e
seus
repetido - porém transfigurado, de acordo com o estilo
escritor desta época - para romances e poesias.
de
cada
.17
É, portanto, na segunda fase do Modernismo, situa
da nas décadas de 30 e 40 , que a literatura
nacional
seu perfil como tal, e, com isso, os valores,
ceitos e atitudes realmente genuínas de nosso
delineia
conceitos, precon_
universo
cultu
ral .
O esteticismo que marca a 3 a geração
em seguida,
trabalhara com a
feiçio formal
modernista,
da palavra, mas dei_
xará como "clássicos" na literatura brasileira o
Sertão:Veredas, de Guimarães Rosa, que captou,
romance
Grande
com rara
ção, as tradições e contradições de nosso povo, e
o
percep_
fortíssimo
poema, de cunho social, Morte e Vida Severina, de João Cabral de
Melo Neto.
É Ferreira Gullar, artista-combatente
pós-64,
quem nos fala sobre o problema da nacionalidade que sempre teria
sido no Brasil "uma indagação a exigir resposta, nunca uma
ques_
tão pacífica; como o país: algo que se deve construir ..."5 .
Sa_
bemos que a arte é um dos meios em que mais claramente os
povos
encontram a sua identidade, e é exatamente nos momentosde
cri se.
nacional, em que os poetas, sobretudo estes, mais expressam
a
autoconsciência e a consciência de seu "ser" político. Há, segun_
do Lukács 6 um sistema simbólico, ou sistema de analogias,
que
se integra à camada conotativa-expressiva da linguagem.
Essas ana
logias são a relação dialética entre a vida nacional e a
expres_
são literária criada por ela. Assim sendo, "Canções" como "Sabiá",
de Chico Buarque de Hollanda e Tom Jobim e "Fado Tropical"
ou
"Terra", de Caetano Veloso, podem ser consideradas como "Canções
do Exílio" contemporâneas, expressão máxima que são de sensibili_
.18
dade, recuperando, através de um sistema simbólico, que
remonta
ã "Canção" matriz do século XIX, o sentimento de nacionalidade
passado pelo filtro da subjetividade do poeta.
Escolhemos, portanto, para este estudo
exílio, pois este tema aparece como uma espécie
de
o tema do
unanimidade
nacional, tal é a frequência de seu tratamento pelos poetas
que,
fizeram, e fazem, a nossa literatura: no Romantismo as poesias de
viagem, o espaço externo ou mesmo interno perturbado ...;
no
Neo-Romantismo dos parnasianos, as barcas e velas que partem
e
voltam substituindo o símbolo da ave; no Modernismo, a noção
de
partir como a libertação da vida presente.
É desta
intertextua1idade
que a poesia também se
alimenta, estabelecendo ligações entre diferentes
visões
de
mundo. Para a comprovação desta tese, analisaremos um texto
ori_
ginal - a "Canção do Exílio", escrita em 1843 - e os textos
ela_
borados com base em alguma atitude para com o original. Esses textos
são paródias; puras imitações, feitas na mesma época; ou
tas de profundas reorganizações formais e temáticas,
novas perspectivas
propos_
segundo
ideológicas ou históricas, elaboradas
século XX. Neles concentraremos nosso trabalho.
no
Então ...
"Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a "Canção do Exílio"
como era mesmo a "Canção do Exílio"?
Eu tão esquecido de minha terra ...
Ai
terra que tem palmeiras, onde canta o sabiá"
Carlos Drummond de Andrade
.19
N O T A S
.
-
INTRODUÇÃO
Referências Bibliográficas
1. ANDRADE, Mario de. Aspectos de Literatura Brasileira. América
Editora, 1943.
2. PORTELLA, Eduardo. Literatura e Realidade Nacional. Rio
de
Janeiro, Tempo Brasileiro, 1963.
3. HOLLANDA, Chico Buarque de. "Sabiá". In. Literatura
Comenta_
d a . Editora Globo, 1985.
4.
GULLAR, Ferreira. Vanguarda e Subdesenvolvimento.
Rio
Janeiro, Civilização Brasileira, 1965-
5. LUKÁCS, George. Estética. Barcelona, Grujalbo, 1965-1967.
de
" ... Que poesia pura
Aí seu poeta irmão,
A poesia pura
não existe, não"
Mário Quintana
CAPÍTULO I
A "CANÇÃO DO EXÍLIO" DE GONÇALVES DIAS
.22
1.1. DA RECEPÇÃO DA "CANÇÃO DO EXÍLIO"
A "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias,
texto-ma_
triz de nosso trabalho, foi produzida em 1843, no primeiro momen_
to do movimento romântico brasileiro, época em que o país,
re_
cem-independente de Portugal, vivia um forte nacionalismo, sendo
o texto marcado, por isso, por uma certa lusofobia -
sentimento
de aversio aos valores portugueses.
"O Brasil
foi a convergência de toda a sua
tão complexa e tão una", assim refere-se ã obra de
Dias Lúcia Miguel-Pereira
1
,com grande propriedade.
obra
Gonçalves
Idealista,
patriota, romântico,o poeta de Os Timbiras , "l-juca
Pirama ",
ÚLtimos Cantos, foi o primeiro a escrever sobre o Brasil, com um
amor físico e geográfico.
E de Gonçalves Dias o mérito de ser o primeiro
autores brasileiros
que conseguiu criar uma obra esteticamente
da, fundamentada na nacionalidade. Esta primazia foi
dos
váli_
reconhecida
por José de Alencar em suas cartas contra o poema épico
A
Con
federação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães. Na quarta
mis_
siva afirmava sua admiração pelo autor de "Canção do Exílio", lem_
brando que este ... "está criando os elementos de uma nova
la de poesia nacional, de que ele se tornará o fundador
Toda criação pressupõe a seleção e a
de dados da realidade; o tratamento poético reside na
esco
..."
combinação
forma
• 23
original de selecioná-los e combiná-los, como veremos a
seguir,
na análise textual de "Canção do Exílio".
O crítico Eduardo
Portella 3
propõe uma leitura poé_
tica do texto,que centraliza-se no signo poético. O entre-texto,
ou o literário, surgirá da dialética entre o "pré-texto",
linquagem, e o "texto", ou a língua. A leitura poética
interrelacionar
ou
procura
VERDADE/HOMEM/HISTÓRIA.
Também chamada de crítica transmanente , esta
pro_
posta de análise textual estaria situada na tensão entre
rioridade e exterioridade, ou melhor,
inte_
localiza-se no ponto
de
convergência ou tensão de todos os níveis, cuja força-mediadoraenergia simbólico-alegórica - é o MITO.
Cabe ao crítico leitor, portanto, o esforço
de
compreensão da verdade, 1ocalizando-se no interior do seu
jogo
e acompanhando a sua dinâmica interna.
Se por trás da obra literária está o Homem, o SER,
só poderemos detectá-lo em sua dinâmica de estruturação se
estudo de sua criação
o
abranger o contexto histórico em que
insere, a perspectiva diacrônica da obra produzida e a
se
leitura
poética que nos permitirá, através da análise de toda uma
simbo_
logia, explicá-la em seu valor artístico.
É de Theodor
Adorno 4
a idéia de que não há
conteúdo objetivo, nem uma categoria formal da poesia, por
um
mais
irreconhecivelmente transformado e às escondidas de si mesmo,que não
proceda da realidade empírica a que se furta. Com isso e com
reagrupamento dos diferentes aspectos, graças a suas leis
o
for
mais, a poesia condiciona seu comportamento para com a realidade.
.24
Mesmo o distanciamento das obras para com a realidade
é antes, ao mesmo tempo,
empírica
intermediado por esta. "A imaginação do
artista não é nenhuma creatio ex-nihilo".
Voltamos, portanto, à conciliação entre
interior
e exterior, já que nenhuma palavra inserida numa obra de
arte
desvincu1a-se completamente das significações que possui no
curso comunicativo. A verdade de uma poesia é sempre a
dis_
dialéti_
ca entre os dois momentos.
Literatura é criação humana. Ousamos dizer,
Lucien Goldmann
com
, que o homem só é autêntico na medida em
se considere ou sinta como parte de um conjunto em devir, e
situe numa dimensão transindividual, histórica ou
que
se
transcendente.
Igualmente a Adorno, Goldmann enfatiza que a obra literária
se
situa no ponto de encontro entre as formas mais elevadas das
ten_
dencias para a
coerência,
que são próprias
da
consciência cole_
tiva, e as formas mais elevadas de unidade e de coerência
consciência individual do criador. O óbvio desta reflexão,
nós, deve-se ao fato de que todo comportamento humano
é
da
para
uma
tentativa de dar uma resposta significativa a uma situação parti_
cular e tende, por isso mesmo, a criar um equilíbrio entre
sujeito da ação e o objeto sobre o qual
o
esta ação se
o
verifica-
meio ambiente.
A seleção de temas, vocábulos e estruturas é feita
pelo artista,
integral
tanto de forma consciente como inconsciente.
significincia de uma poesia não existe sem sua
A
estru
tura, totalidade dos seus momentos. Porém, é ao mesmo tempo
que a essa estrutura, como a da aparência estética, transcende.
o
.25
1.2. A "CANÇÃO DO EXÍLIO" E O CONTEXTO LÍTERO-CULTURAL
Sabemos que,por menor que seja a participação
efe_
tiva de qualquer homem em seu tempo, esse mesmo tempo em que
vi_
ve é que caracteriza suas vivências e pensamentos. Sobretudo
os
poetas, seres humanos dotados de uma sensibilidade além, são
os
primeiros a, como um prisma, conter e, em seguida, refletir
as
cores do seu tempo.
Gonçalves Dias nasceu um ano após a
Independência
do Brasil - em 1823 - e viveu sua fase adulta duas décadas
de_
pois, em meio ao grande entusiasmo produzido por este marco
his_
tórico brasileiro. É, portanto, natural que o sentimento
nacio
nal, de amor a Terra, esteja presente - e à priori - em sua obra;
e é nesse espírito que devemos ler Gonçalves Dias. O grande
poe_
ia soube, com mestria, associar, em perfeito equilíbrio, a força
ufanista ao poder verbal que caracterizou sua expressão.
Foi
"Canção do Exílio" o seu primeiro momento de inspiração, o
saporte da sua imortalidade; segundo Manuel Bandeira
a
pas_
, "Ainda
que
não tivesse escrito mais nada, ficaria, por ela, o seu nome para
sempre gravado na memória de sua gente".
Isto porque o nacionalismo de Gonçalves
Dias
não
apenas traduziu o furor ativista do pós-Independência, ou o
sen
timento saudosista de um jovem exilado em Coimbra. 0 poeta falou
de emoções universais profundas, transcendendo espaço e
tempo:
seu lirismo interno abriu caminhos na sensibilidade do
século
.26
XIX, perpetuando-se até nossos dias. É certo que novas formas de
expressão foram trabalhadas, novos movimentos literários, após o
Romantismo, ampliaram o "dizer" e o "fazer" poéticos
ao tema do exÍlio, mas a "Canção do Exílio", escrita em
vinculados
1843,
beleceu-se como a grande inspiradora, o poema "clássico",
esta_
Prin_
cípio da nacionalização literária brasileira.
"Estava eu na sala de redação do Diário
quando aí entrou um homem pequeno, magro,
do
ligeiro ... Não
preciso que me dissessem o nome, adivinhei quem era -
Rio
foi
Gonçalves
Dias!
Fiquei a olhar, pensando, com todas as minhas
sações da adolescência. Ouvia cantar em mim a famosa
sen
"Canção
do Exílio" ... "
Machado de Assis
.27
1.3.
DO NACIONALISMO UFANISTA
ÀS
CANÇÕES DE CASIMIRO DE ABREU
A análise formal sob vários ângulos, a ser
reali_
zada em seguida, sobre a "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias,
nio
se propõe a apresentar novidades interpretativas. Pretende-se,
sim, apresentar uma seleção revisada dos melhores estudos
realizados sobre a obra, para que sirva de referência
constante
na análise - esta sim, de cunho reflexivo pessoal - que
sobre as "Canções do Exílio", que a primeira se seguiram,
nossos dias.
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras,
onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorgeiam,
Não gorgeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho à noite,
mais prazer encontro eu lá;
já
faremos
até
.28
Minha
terra
tem p a l m e i r a s ,
Onde canta o S a b i á .
Minha
terra
tem p r i m o r e s ,
Que tais não e n c o n t r o eu c á ;
Em cismar - s o z i n h o i noite Mais
prazer e n c o n t r o eu
Minha
terra
lá;
tem p a l m e i r a s ,
Onde canta o S a b i á .
Nio permita Deus que eu m o r r a ,
Sem que eu volte para
Sem que d e s f r u t e os
lá;
primores
Que não e n c o n t r o por c á ;
Sem q u ' i n d a a v i s t e as
palmeiras,
Onde canta o S a b i á .
Epígrafe G o e t h i a n a - A e p í g r a f e usada pelo poeta é uma
ção
da " C a n ç ã o de M i g n o n " do autor a l e m ã o Johann
Goethe ( 1 7 4 9 - 1 8 3 2 ) , à época no auge de sua fama
Tudo
indica que G o n ç a l v e s Dias
tivesse
adapta_
Wolfgang
internacional.
recolhido esse
recorte
G o e t h i a n o em sua p e r m a n ê n c i a no meio a c a d ê m i c o de C o i m b r a .
uma citação
integral
modada pelo p o e t a .
e c o n t i n u a d a do t e x t o ,
Da primeira e s t r o f e de
mas
von
Não é
uma c i t a ç ã o aco_
"mignon",
Dias retirou a parte que m e l h o r traduzia sua nostalgia
Gonçalves
da
pá_
tria .
" C o n h e c e s o país o n d e florescem as laranjeiras? AR_
dem na escura fronde as frutas de ouro
para lá quisera eu ir" 8
...
Conhecê-lo ?
Para
lá,
.29
Estrutura
formal
-
A versificaçao
do
poema
em
questão
e regu_
lar, em períodos rítmicos iguais, do primeiro ao último
Os versos utilizados são os heptassílabos
dondilha maior. O movimento rítmico baseia-se na
verso.
ou
re_
alternância
da sílaba forte e fraca, com acentuação na primeira,
terceira,
quinta e sétima sílabas. Quanto às rimas sio soantes
(sabiá/
/lá, flores/amores) , com correspondência completa de sons.
alternam-se as ricas
(sabiá/lá)
E
com as pobres (lá/cá) .
Quanto
à estrofação, o poema foi agrupado em quadras - as três
primei_
ras estrofes - e sextilhas - as duas últimas estrofes. Entre
dois blocos de estrofes há uma complementaçio que se
os
expressa
através de um estribilho - "Minha terra tem palmeiras"/"onde can_
ta o Sabiá" -. O poeta intercala o. eu indívidual e coletivo,
numa
distribuição de equilíbrio 1írico-emotivo.
Os dois primeiros versos, que funcionam como
re_
frão, contêm os elementos básicos "eu", "palmeiras", "Sabiá"
para que se compreenda a relação poeta/terra natal.
"Palmeiras" e "Sabiá" traduzem dados da
realida_
de da terra Brasil, mas, por outro lado, traduzem a versão
que
o poeta tem dessa realidade: vemos aí a matéria-prima de que
se
serve Gonçalves Dias como fonte de inspiração; no entanto,
é
interessante observar que a combinação palmeira-sabiá não é
uma
verdade ecológica, mas uma invenção poética.
A aproximação de sabiá e palmeira confere
dois elementos novos significados.
maiúscula, personificado.
Sabiá
aos
aparece grafado
com
Isto nos leva a estabelecer uma
analo
gia com o poeta, que seria o "cantor" de uma tristeza, assim
mo o pássaro (sabiá)
tem um canto triste.
co
.30
Quanto à palmeira, é um símbolo de todo o
Os índios chamavam
Brasil.
de Pindorama - terra das palmeiras - o
Ma_
ranhio, lugar onde nasceu Gonçalves Dias.
O "eu lírico" está exilado,
longe de sua terra
na_
tal. Os advérbios cá e lá são os elementos formais que polarizam
essa comparaçio. O poeta não está satisfeito no lá, onde se
en_
contra, e deixa-se levar pelo sonho ou imaginação, "em cismar
zinho, a noite/Mais prazer encontro eu lá",
so
idealizando o
lugar
estilístico para exaltar esse
lugar
em que gostaria de estar - o lá.
Como recurso
longe e idealizado, Gonçalves Dias se vale da hipérbole, em
to_
dos os versos da 2a estrofe ("mais ..., mais, ... mais ...")
,
através dos
advérbios
mais
e não. Todo o processo
comparati_
vo se desenvolve paralelisticamente: "Minha terra/nosso c é u / n o s _
sas várzeas/nossos bosques/nossa vida/minha terra tem
ras estrelas/flores/vida/amores/primores; gorgeiam/não
palmei_
gorgeiam
como; tem/tem mais; flores/mais flores; vida/mais vida;
amores/
/mais amores; prazer/mais prazer; aqui/là; cá/lá.
Ainda como recursos formais para garantir o
con_
teudo, além do refrão que confere ao poema ritmo de canção, pode_
mos observar a sonoridade clara provocada pelas diversas
vras grafadas com a vogal " a " :
palmeira
, pala_
, sabiá, lá, estrela, vi_
da, várzeas, cá, canta, terra, tais, cismar, prazer, morra,
per_
mita, 'inda, aviste.
Sendo um poeta lírico, Gonçalves Dias se
de alguns termos cata1izadores que lhe condicionam ou
utiliza
expressam
a emoção poética, criando o clima para a explosão sentimental.
.31
Sio substantivos, verbos e advérbios repetidos como
prismas,
que refletem imagens, pensamentos e emoções. Em época de
ro",
O
poeta
"exage_
não se utilizou de um único adjetivo em
sua
"Canção do Exílio". Optou pela concentração e explicitação
seus sentimentos, nas idéias passadas pelos substantivos.
guiu, por isso, maior força de expressão, sendo
original. São os vocábulos que indicam a
de
Conse_
absolutamente
paisagem,os
elementos
condicionantes e estruturadores da emoção e da expressão linguís_
tica. Daí decorre a sensação visual do mundo físico que toma for_
ma com todas as luzes e cores que o poeta nos leva a
imaginar:
o céu mais cheio de estrelas, que é o mais lindo; várzeas
com
flores - imaginamos tantas ...; bosques selvagens, verdes,
pul_
sando vida ... Palmeiras, aves diversas e ... um Sabiá com
seu
canto (cantaria em realidade tão bem esta ave, como o grande poe_
ta nos leva a crer ? . . . ) .
Lendo a "Canção do Exílio", percebemos o
quanto
de sentimentos telúricos Gonçalves Dias faz brotar em nós -
va_
lores culturais, psicológicos, sociológicos e literários saltamnos, num tom emotivo-lírico , na configuração, em versos, do
na_
cionalismo ufanista, fervente a partir de 1824; do culto da natu_
reza; da expressão de solidão e saudosismo de um homem; na
pre_
dominância do sentimento sobre a razão.
Sobre este aspecto, ainda para aclarar o
do e a forma da "Canção", é de valor o trabalho
João Ferreira, publicado na revista
Cultura 7 ,
do
que nos
dados da gênese do poema, ora em questão. Diz serem
vas as Cartas do poeta a seu conterrâneo e amigo
Teófilo de Carvalho Leal.
conteú_
Professor
oferece
significati
Alexandre
Em carta datada de 28 de setembro
de
.32
1843 - dois meses apôs a composição da "Canção do Exílio" ,
Gon_
çalves Dias não tem rodeios para relatar ao amigo toda a solidão
dramática de Coimbra. Aborrecido com a incerteza da data para
a
abertura das aulas na Universidade, que estava pendente de
resposta sobre a presença de Sua Majestade o Rei de
uma
Portugal,
Gonçalves Dias declara sem eufemismos a seu interlocutor:"Teófilo.
Aqui estou, meu amigo, nesta maldita e aporrinhada terra dita de quanta poesia há no mundo - e aporrinhada de
mal_
quantas
aporrinhações podem aporrinhar um cristão".
Em carta, já datada de Caxias, no Maranhão,
e
dirigida ao mesmo Teófilo em 19/05/1845 - prossegue
João
Ferreira - dizia sobre seu passado em Coimbra: "Triste foi
a
minha vida em Coimbra - que ê triste viver fora da pátria,
su_
bir degraus alheios - e por esmola sentar-se ã mesa estranha"
Isto confirma o estado de espírito que a "Canção" traduz.
mesma carta teria ainda um outro significado: traduz a
hipersen_
sibilidade do poeta, agora sentindo as "dores da alma", a
dão
Esta
espiritual" em Caxias, que considera "mais triste
"soli_
ainda"
do que em Coimbra, por ser desconhecido ou mal conhecido na
ra de nascimento, onde deveria ser cultuado
ter`_
e estimado.
Outro fator externo que ajuda a explicar o
clima
psicológico e cultural do poeta são as suas relações com a
etno_
grafia e a paisagem brasileira. Temos, então, tanto um homem
Ciências quanto um homem de Letras na pessoa de Gonçalves
Neste sentido, estaria explicada a utilização
Goethiana na pré-abertura da "Canção do Exílio":
da
Dias.
epígrafe
seria
uma exibição de alta erudição e mais uma conseqüência de
aproximação com o poeta alemão, este também homem de letras
de Ciências.
de
menos
sua
e
.33
Grande partidário do nacionalismo cultural
so em seus poemas, Gonçalves Dias publicou em 1858 seu
expres_
dicioná_
rio em Língua Tupi e o importante Diário de Viagens , de uma
ex_
pediçio realizada pelo Rio Negro.
Após esta análise demonstrativa, podemos dizer que
o valor e a beleza desse poema não se depreendem apenas dos
pectos formais, do trabalho com o significante , ou dos
as_
aspectos
conteudísticos, das áreas do significado, mas de uma espécie
"magia" que tem envolvido os leitores há mais de um século.
de
0
resultado poético, que transcende o mero acordo significante/sig_
nificado gerador do signo demonstra, através da combinação
ori_
ginal destes, a relação que o poeta mantém com o real, revelando
o nacionalismo e o lirismo sentimental do poeta. romântico.
A matriz de Gonçalves Dias serviu de inspiração pa_
ra vários poetas. Reaparecerá por décadas como fonte. Uns
inova_
ram, outros a retomaram com as mesmas referências, o mesmo
timento, quase as mesmas palavras ...
sen_
Não houve acréscimo na es_
trutura, na forma, nem na própria expressão virtual do tema.
É
o caso das Canções do Exílio escritas pelo poeta da Segunda Gera_
ção Romântica brasileira, Casimiro de Abreu. Tendo vivido
Lisboa de 1854 a 1857, neste período escreveu algumas
visivelmente influenciadas pelo poema de Gonçalves Dias.
CANÇÃO DO EXÍLIO
Casimiro de Abreu
Eu nasci além dos mares:
Os meus lares,
Meus amores ficam lá!
em
canções,
.34
- Onde canta nos retiros
Seus suspiros,
Meus suspiros o Sabiá!
Oh! Que céu, que terra aquela,
Rica e bela
Como o céu de claro anil,
Que seiva, que luz, que galas,
Não exalas
Não exalas, meu Brasil!
Oh! Que saudades tamanhas das montanhas,
Daqueles campos natais,
Daquele céu de safira que se mira,
Que se mira nos cristais!
Não amo a terra do exílio,
Sou bom filho,
Quero a pátria, o meu país,
Quero a terra das mangueiras
E as palmeiras,
E as palmeiras tão gentis!
Como a ave dos palmares
Pelos ares
Fugindo ao caçador;
Eu vivo longe do ninho,
Sem carinho e sem amor!
.35
Debalde eu olho e procuro ...
Tudo escuro
Só vejo em roda de mim!
Falta a luz do lar paterno
Doce e
te rno
Doce e terno para mim.
Distante do solo amado
Desterrado
A vida não é fe1iz .
Nessa eterna primavera
Quem me dera o meu país!
Casimiro utiliza os mesmos elementos: a
/laranjeira, o sabiá, a exaltação exagerada da
a
terra
palmeira/
natal
saudade da pátria distante. Seus amores são também os
res, como os de Gonçalves Dias. As aves nele, fogem ao
e
maio_
caçador,
no entanto não podemos considerar este aspecto como inovador, já
que,talvez, a
intenção do poeta tenha sido a de colocar a
pala
vra apenas como rima (pobre) para amor.
"Fugindo ao caçador;
Eu vivo longe do ninho
Sem carinho,
Sem carinho e sem amor!
Seu Sabiá também aparece com maiúscula; o que nos faz
questionar
com que ave se identificaria o autor, se com o Sabiá, tão
impo_
tante e simbólico, ou com qualquer outra ave, já que, certamente,
pelos seus versos,ele se considera um "pássaro" fora do "ninho".
.36
Remetendo-nos ao contexto histórico da terra Brasil,
as Canções de Casimiro encontraram espaço de repercussão.
cem-independente, o povo brasileiro precisava de ufanismo.
Re_
"do
meu céu de claro anil, do meu Brasil", da "terra de mangueiras"
e "palmeiras", dessas confissões de amor emocionado, para
lidar seu auto-respeito.
CANÇÃO DO EXÍLIO
MEU LAR
(Fragmento)
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! Não seja lã;
Eu quero ouvir na laranjeira, ã tarde,
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! Dá-me de novo
Os gozos do meu lar!
0 país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria, não tem;
E este mundo não vai um só dos beijos
Tão doces de uma mãe!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra
infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu
Brasil!
conso
.37
Seu eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! Não seja lá:
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o Sabiá!
Lisboa, 1857
Em "Canção do Exílio Meu Lar", o poeta recupera
verdade ecológica do "Sabiá/Laranjeira", mas perde o
a
sentido
simbólico da união dos dois Brasis: o do interior e o do litoral,
proposto pelo "Sabiá/Palmeira" de Gonçalves Dias. A pátria
apa_
rece como uma "doce mãe", aliás, marca típica do poeta, se
lem
brarmos que em seus poemas há referências constantes
à
infância
e à figura materna: "Dá-me os sítios gentis onde eu brincava/ lá
na quadra infantil".
Nos poemas dos dois autores, a temática e nacionalis_
ta, valorizando a terra natal
(ufanismo); em ambos há a
prese_
ça da morte, mais acentuadamente em Casimiro de Abreu, onde
ad_
quire aspectos ultra-românticos (morrer cedo, repetição insisten_
te) .
Há lirismo nos versos de Casimiro, sem
dúvida ,
porem, como pura expressão de sensibilidade, desligada de
qual_
quer pretensão literária maior.
Como sua marca pessoal, misturam-se aos grandiosos
elementos naturais da terra natal
os elementos naturais do
tidiano do burguês brasileiro da época imperial, como
co_
laranjei_
ras, mangueiras e regatos. Quando amplia o âmbito da visão,
matizando de moderada beleza os aspectos exaltativos da
é
paisa
gem; "Palmeiras tão gentis"; "falta a luz do lar paterno/Doce
e
.38
terno/Doce e terno para mim", É, sem dúvida, aí, que reside
a
originalidade de sua expressão poética: a capacidade de elaborar
imagens delicadas. Casimiro foi o poeta dos temas mais comuns da
psicologia humana e dos aspectos mais familiares da
paisagem,
tratando-os com uma amplitude bem menor do que Gonçalves Dias.
f
.39
N O T A S
-
CAPÍTULO I
1. MIGUEL-PEREIRA, Lúcia. A Vida de Gonçalves Dias. Rio de Janei_
ro, José Olympio Editora, 1943.
2. PORTELLA, Eduardo et alii. Teoria Literária. Rio de Janeiro,
Tempo Brasileiro,
1975.
3. ADORNO, Theodor. Notas de Literatura, Rio de Janeiro,
Tempo
Brasi 1 ei ro, 1973.
4 . GOLDMANN,
Lucien.
e Terra,
A Sociologia
do Romance.
R i o d e J a n e i r o , Paz
1976.
5. BANDEIRA, Manuel. Poesia e Prosa, Rio de Janeiro,
Agrillar,
1958.
6. FERREIRA, João - "A Canção do Exílio de Gonçalves Dias"
in
Revista Cultura, Brasília, ano 8, nº 29, p.42 a p.48.
7. CAMPOS, Geir. Poesia Alemã Traduzida no Brasil. Ministério da
Educação e Cultura, Serviço de Documentação, pp. 96-97, tra_
dução de João Ribeiro.
"e nada resta, mesmo do que. escreve
e te forçou ao exílio das palavras,
senão contenitamento de escrever,
enquanto o tempo, em suas formas breves
ou longas, que sutil interpretavas
se evapora no fundo do teu ser!"
Carlos D rummond de Andrade.
CAPÍTULO II
A CANÇÃO DO EXÍLIO DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
.42
2.1.MODERNISMO: AS CANÇÕES DE EXÍLIO
Existe um espaço onde diferentes vísões de
se entrecruzam.
mundo
Em nosso trabalho, é o espaço literário do
exílio, do texto-matriz de Gonçalves Dias, escrito em 1843,
textos-produto do século XX.
£ o que chamamos de processo
textual, com suas complexas relações, que vão da pura
tema
aos
inte£
imitação,
como vimos em Casimiro de Abreu, à polêmica e à paródia, como ve
remos, em seguida, nas canções de exílio dos poetas
modernistas
Mário Quintana, Murilo Mendes, Oswald de Andrade e Carlos
Dru_
mond de Andrade.
Cada um com seu objetivo poético, os autores
ma citados não só retomaram o tema do exílio,com toda a
ção nacionalista, como o repensaram, segundo novas
conota_
perspectivas
históricas, ideológicas e estéticas.
"Minha
terra
não tem palmeiras"
Mário Quintana
"Minha terra tem palmares "
Oswald de Andrade
"Minha terra tem macieiras da Califórnia"
Murilo Mendes
"Ainda
um g r i t o de vida
aci_
e voltar"
Carlos Drummond de Andrade
.43
"Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para Sio Paulo"
Oswald de Andrade
"Para onde é tudo belo
E fantástico"
Carlos Drummond de Andrade
O enraizamento das artes na trama da
existência
coletiva, longe de enf raquecer-lhe o poder, aumenta-lhe a
ficação comunicativa
signi_
e pode mesmo prolongar-1he o sentido.
É
esta abrangência na literatura moderna que traz consigo uma
pre_
liminar consciência dos nexos, por meio dos quais o trabalho
linguagem a vincula à sociedade e ã cultura. Colocada a
de outra forma,
que vai
questio
poderíamos reafirmar que esta sociedade viva
servir de pano de fundo como princípio dinâmico e
do conjunto, porque cada um dos seus aspectos só terá
da
é
motor
significa_
do neste momento de incessante transformação, que é uma
socieda_
de. Este conceito nos permite, então, situar a obra em um
todo
vivo, de que o poeta é o cristalizador momentâneo. Esta compreen_
são da criação artística, vinculada à criação social nos
apare_
ce, portanto, como a mais coerente, já que ê fato histórico
comprovado que os grandes períodos criadores se situam,
todos, em momentos de crise ou ruptura sociais e na
e
quase
conseqüente
necessidade de auto-afirmação desta mesma sociedade.
Não se trata aqui, naturalmente, de reduzir
obra de um autor à biografia e sim de situar a significação
tente do tema tratado, enquanto tentativa de exteriorização
de objetivação, cujo verdadeiro alcance resulta do desejo
a
la_
e
de
.44
eficácia que encerra. A decifraçao poética da produção literária
será realizada a partir da reintegração no sistema de sinais
nâmicos que o poeta constitui e de que devemos descobrir a
di
ínti_
ma significação.
As teorias propostas por Lukacs
possível
1
nos mostram
estabelecer relações entre a totalidade da
ser
experiência
social e a expressio que um indivíduo propõe da sua época,
atra_
vés de uma representação simbólica.
A investigação de Francastel
prolonga esta direção
e dá-lhe um sentido. 0 espaço torna-se um problema, porque
o
homem se apropria, através dele, de uma substancia social
que
não depende de um intuição mística do real, que os materialistas
pretendem impor. A genialidade da criação seria, portanto, a
nealogia da vida social, e a vida social encontra, na
ge_
especula
ção individual, o princípio e o motor de sua transformação.
Enfim, Lukács e seus discípulos fazem da obra
arte um conhecimento em si mesmo, conhecimento do mundo e
cimento do "homem" (no sentido do humanismo desusado do
passado). Mas não podia ser de outra maneira, porquanto
de
conhe
século
se
ta de uma teoria que vê o artista como o receptor momentâneo
tra_
de
problemas existentes antes dele, já intelectualizados no
seu
mundo, quer pela ação dos homens, quer pelo crítico de uma
épo
ca posterior. Tudo se passa, pois, como se a obra
e reconstituísse, num todo imaginado, temas propostos
traduzisse
anterior
mente.
É de Lukács a
idéia de que quando uma cultura
exprime através de uma obra, é porque essa obra atinge um
se
tal
.45
grau de especificidade que se torna
irredutível a qualquer outra
ordem de realidade que não seja o absoluto que procura alcançar.
Tal
idéia poderemos comprovar a seguir, na
de"Canto de Regresso à Pátria", do poeta renovador
análise
modernista,
Oswald de Andrade.
2.1.1. OSWALD DE ANDRADE E O "CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA.
Objetivando um distanciamento absoluto em
relação
ao tema do exílio, Oswald recorre, com seu"Canto de Regresso
Pátria" - publicado em Pau-Brasil , 1924, a um processo de
ã
inveja
são do sentido primeiro, proposto por Gonçalves Dias, em
celebre Canção, estabelecendo uma paródia forte e
sua
extremamente
crítica contra a alienação social, no Brasil.
"Canto de Regresso à Pátria"
pertence
à
produção
de Oswald de Andrade, realizada no início da década de 20, a mes_
ma época da Semana da Arte Moderna.
Finalmente, como queriam os autores revolucionários
Si leiros, estávamos comemorando
cem
anos apôs
a
a
Independência
bra
cultural
independência política. Tínhamos tudo
isso: talento, vontade de mudar, necessidade urgente de
para
auto-
afirmação de nossa cultura brasileira, apoio de classes
privile_
giadas e propostas, senão claras, ao menos dígnas do
respeito
da comunidade artística mundial: Di
Amaral, Villa-Lobos, Oswald
Cavalcanti, Tarsila
de Andrade,
Mário de Andrade
tros, igualmente geniais, propunham a transformação, a
a conscientização nacional, através da arte. Não eram
idealistas,
do
e ou
evolução,
apenas
traziam um projeto estético acompanhando o das van_
.46
guardas européias do começo so século e o ideológico,
voltado
para o conhecimento e a expressio da realidade do país.
Convergên_
cia esta que revelou a vertente primitivista , pau brasi1
e
pofâgica, com o seu humor literário, a sua inclinaçio
parodísti_
antro_
ca, a sua aliança com o mito, o cotidiano e o popular.
"Eu quero fazer um poema
De flores de papel
Laranja azul
encarnado
Branco e verdeamarel "
Oswald de Andrade
Continuamos, é certo, buscando a
independência
cultural, otimisticamente comemorada naqueles dias de
fevereiro
de 1922, e, se ainda o fazemos, é porque a coragem dos
ros da Semana de Arte Mordena aparece como luz,
pionei_
indicando
as
possibilidades sempre múltiplas da expressão artística, em
nos_
so século.
A retomada do tema exílio por Oswald de
caracteriza-se por um nacionalismo crítico.
Como
Andrade
instrumento
deste trabalho crítico, o poeta utiliza o humor, compondo
poema-paródia ao "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias.
um
Oswald
elaborou uma espécie de releitura de nosso texto-matriz ,
onde,
por trás da sátira, permanece o caráter nacionalista, apenas
do_
todo, agora, de uma
não
nova perspectiva
. O poeta, contudo,
critica como veremos a seguir, a valorização do elemento
nal na poesia, mas a forma ufanista de fazê-lo.
nacio
.47
CANTO DE REGRESSO A PÁTRIA
Oswald de Andrade
Minha
terra
tem palmares
Onde gorgeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá.
Minha terra tem mais
rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra.
Ouro terra amor e rosas,
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá.
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para São Paulo,
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.
Oswald mantém o mesmo ritmo da canção-matriz jogo com os advérbios daqui/1á remete ã distância espacial
0
poe_
ta/terra natal , efeito conseguido por Gonçalves Dias e aí repetido
A referência é que muda: o 1á não se refere ao Brasil, país
sertão e litoral. A saudade do poeta é delimitada a São
de
Paulo,
.48
a Rua 15, ao progresso de São Paulo. Há, na primeira
estrofe,
a quebra proposital do simbólico Canto do Sabiá, na palmeira.
terra de Oswald de Andrade "tem palmares", onde quem
A
"gorgeia"
é o mar (fato geograficamente correto).
"Minha terra tem palmares
Onde gorgeia o mar"
Em seguida, no terceiro verso da mesma estrofe, o
do canto dos passarinhos, devincu1ando-os do
poeta
fala
espaço-referência
da canção-matriz (o sabiá cantando na palmeira).
"Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá"
A segunda estrofe estrutura-se em torno de uma idéia
nacionalis_
ta, pois o poeta relaciona, verso a verso, as virtudes
de
sua
"terra" ("mais rosas, mais ouro, mais terra"). O segundo
verso
é de um realismo desconcertante, conseguido pelo "quase" que
an_
tecede o advérbio mais (" ... E quase que mais amores").
A terceira estrofe é uma seqüência que confirma a
idéia da
ante
rior e apresenta a repetição de dois versos da "Canção do
Exí_
lio" de Gonçalves Dias: a suplica a Deus para que não o
morrer sem voltar a sua terra
("Não permita Deus que eu
deixe
morra/
/sem que volte para lá). O último verso da terceira estrofe
é
retomado em repetição enfática, no primeiro verso da quarta e úl_
tima estrofe, onde, no verso seguinte, em seqüência, o
poeta
especifica e delimita o seu "lá" ( ... Sem que eu volte para São
Paulo"). A sua terra, na realidade, é são
Paulo,
e mais, o que
dá saudades é a Rua 15 (" ... Sem que veja a Rua 1 5 " ) , símbolo da
.49
pujança
e c o n ô m i c a do E s t a d o .
ma-paródia com a
0 que o poeta
de
e das
apresentou,
contradições
portanto,
na
foi
apresentação
subliminares
Dias.
de
diferenças.
intertextual idade
das
Representante
foi
Oswald
rica
de
foi
prosador
aventuras
lizes de v a n g u a r d i s m o
de
e
ideológica.
psicológicos
cosmopolita,
que
mudança.
foi
cederam e
nossa
que
criticamente o
pria
do
o hino d e s t e
vivência
vivido
por
social
Pátria" acrescenta a
releitura
diante
de
seu
bem-humorada
e
uma
partir
íntima
sociedade
de Oswald
de
autor
traços
pre_
brasilidade
de
de um
do autor
por
tempo
"Canto
de
em
mais
d u r a n t e um
poema o e l e m e n t o c r í t i c o ,
perspicaz
confli_
no m o m e n t o
Condicionado
e espelho
o
paulista,
1929/30.
própria
pátrio.
em
que
nos anos que
revigorou o texto q u e ,
Dias,
literato
se d i v e r t e com a
não por a c a s o ,
e emocional
Gonçalves
sociais
c o n s t r u ç ã o do
p e r t o os abalos
sentimento
obra
gratuida_
fatores
com c o n a t u r a 1 i d a d e os
e a
Moder_
m o m e n t o s fe_
legado do M o d e r n i s m o
literária
falar
Sua
nem t a n t o , de
i n t e l i g ê n c i a burguesa em c r i s e ,
p r e c i s a v a m de a f i r m a ç ã o ,
lo foi
deixado
todos os
a
alienado-revoltado
expressão
desenvolvimen
" f a s e h e r o í c a " do
tendo
havia nele
homo-ludens
s e g u i r a m de
no
e poeta de a l t o s e b a i x o s .
Oswald de A n d r a d e ,
que a
interpretati_
l i t e r á r i o e outros
ele quem a s s i m i l o u
tantes de uma
de n o v i d a d e s
informa A l f r e d o B o s i 1 , é a
se deve a n a l i s a r
pois
chamada
c o n c o r r e r a m para
daquele
Como
da
diferente
Falar de paródia é, p o i s ,
experimentais,
No e n t a n t o ,
contradição ética
poe_
uma m a n e i r a
percebidas
to do tema por G o n ç a l v e s
nismo,
seu
referência e x p l í c i t a ao " p r o g r e s s o de São Paulo".
ler o c o n v e n c i o n a l ,
vas
Oswald de A n d r a d e termina
sécu_
sua
pró
diverso
Regresso à
t o r n a n d o - o uma
romántico-ufanista.
.50
2 . 1 . 2 . MURILO MENDES
Como Oswald
E SUA " C A N Ç Ã O
de A n d r a d e ,
o tema do e x í l i o através da
to-matriz de G o n ç a l v e s
humorísticos
paródia,
isto é,
com a
i n t e n ç ã o de
Dias,
novas:
o poeta b u s c a ,
inversão do
produzir
tex_
efeitos
das
car e de propor
Murilo conquista
religião à crítica
livre com as
realidades
especulação
invenção,
encia não só
da
no trabalho
vigorosa e sensível
tiva da
da
retomou
e críticos.
temáticas
o caminho da
EXÍLIO"
Murilo Mendes
Poeta da g e r a ç ã o de 3 0 ,
sões
DO
de
intelectual
o que o b s e r v a m o s
significações
individual,
política
palavras,
seu
país.
dimen_
e
a
social,
expressão
Conseguiu
abrir
aplicada à consciência
na
sua
c a p a c i d a d e de
suscetíveis de c i m e n t a r uma
posi_
comuni_
experi_
mas c o l e t i v a .
CANÇÃO
DO
EXfLIO
Murilo Mendes
Minha
onde
Os
são
terra
tem m a c i e i r a s
cantam g a t u r a m o s
poetas
da m i n h a
pretos
que
da
Califórnia
de V e n e z a .
terra
vivem em
torres
de a m e t i s t a ,
os
sargentos do e x é r c i t o são m o n i s t a s ,
os
filósofos
A gente
não
são p o l a c o s v e n d e n d o a
pode
sururus em f a m í l i a
Eu morro
sufocado
prestações.
dormir
com os o r a d o r e s e os
Os
cubistas,
pernilongos.
têm por
testemunha a Gioconda.
.51
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil
réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
O exílio de Murilo Mendes é um exílio
simbólico,
pois o poeta fala de dentro da terra natal. Sua intenção é a
mostrar a opressão que pessoalmente sofre pela
estrangeira.
invasão
de
cultural
Podemos perceber esta denúncia nas duas
primeiras
estrofes, em que vemos sucederem-se, em uma espécie de
multiplj_
cação do real, uma série de elementos insólitos.
No verso 1 o poeta diz "minha terra tem
da Califórnia",
macieiras
rompendo com a imagem-símbolo de exaltação
da
flora brasileira, que é a palmeira de Gonçalves Dias, e nos apre
sentando a macieira como o símbolo da invasão cultural norte-arne_
ricana. Na macieira (palmeira) não cantam mais,
naturalmente,
sabiás e sim gaturamos (pássaros mu1ticoloridos) , e de
Veneza!:
"Onde cantam gaturamos de Veneza".
Nos quatro versos seguintes, o poeta
uma total
apresenta
inversão de papéis ao dizer que "os sargentos do
cito são monistas, cubitas", enfim, se preocupam com as
exér_
idéias
e a filosofia, enquanto que, por sua vez, os "filósofos são pola_
cos vendendo a prestações".
Sua denúncia torna-se mais
ferina
ainda nos versos posteriores, culminando com a idéia de que
até
os "sururus em família", esses atos
que
íntimos entre pessoas
.52
co-habitam, "têm
por testemunha a Gioconda", um quadro
c1ássi_
co estrangeiro, desvinculado de nossa realidade, mas a ela incor_
porado pela numerosa colônia
italiana que habita nosso país.
A confissio explícita de sua angústia de
vem em seguida, quando diz que morre "
...
cidadão
Sufocado/em terra es_
trangeira", ou seja, essa influência estrangeira é tio
va que sufoca o poeta em sua própria terra
opressi_
(caracterizando
o
os versos da Canção
de
exí1io).
Retomando mais de perto
Gonçalves Dias, Murilo Mendes concorda que "nossas flores
são
mais bonitas/nossas frutas mais gostosas " " m a s " - e este mas
é
o gancho final da crítica à situação política, econômica e cultu_
ra1 da terra natal - " ... custam cem mil
réis a dúzia".
A validade deste (conforme classificamos
anterior_
mente) poema-paródia, está na relação que se estabelece
entre
o ato poético e estético e os demais atos humanos, em suas
cau_
sas e conseqüências políticas, sociais e culturais. Se
procura_
mos entender a prática da arte - em especial, aqui, da
literatu_
ra - devemos tomá-la por aquilo que ela ê, enraizada na trama da
experiência coletiva, onde o indivíduo que assume procura,
tal_
vez, razões e justificativas, mas onde tem que, no fim das
con_
tas, enfrentar sua atividade específica, cujas
implicações
e
relações intrínsecas e extrínsecas configuram o signo poético.
2.1.3.
"UMA CANÇÃO", DE MÁRIO QUINTANA
Defrontamo-nos aqui
com uma perspectiva
de exílio. A distância físico-geográfica que permeia a
diferente
"Canção"
.53
de Gonçalves Dias transforma-se, dando lugar a um outro tipo
de
espaço: o do interior do poeta.
UNA CANÇÃO
Minha terra não tem palmeiras ...
E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves
invisíveis
Nas palmeiras que não hâ.
Minha terra tem relógios,
Cada qual com sua hora
Nos mais diversos
instantes ...
Mas onde o instante de agora ?
Mas onde a palavra "onde" ?
Terra ingrata,
ingrato filho,
Sob os céus da minha terra
Eu canto a Cançio do Exí1io !
Os dois primeiros versos do poema de Mário
negam os dois símbolos de valor fundamental
Dias, a
palmeira
e o sabiá.
/E em vez de um mero sabiá
Quintana
do poema deGonçalves
("Minha terra não tem palmeiras ...
. . . " ) . O poeta cai, em seguida,
confuso estado de irrealidade, com uma referencia onírica
"aves invisíveis" que cantam "nas palmeiras que não há".
meiro questionamento que nos vem é: a que terra
num
a
O
Pri_
o poeta, então,
quis se referir nesta primeira estrofe ? A resposta vem, de
diato, na segunda estrofe, refletindo uma grande angústia
ime_
exis_
.54
tencial:
terra
"minha
está
terra
no
tem
tempo e
relógios".
0 e l e m e n t o de valor
não no e s p a ç o ,
como no poema
desta
romântico.
0, poeta c o n s t a t a a d i v e r s i d a d e de tempos de p o s s i b i l i d a d e s ,
sua busca c o n c e n t r a - s e num tempo que não c o n s e g u e p e r c e b e r :
mento presente
"Mas o n d e o
última estrofe
dade
a
palavra
interpretativa:
instante de agora ?" .
terra
o espaço
interior
te,
expõe a
natal:
i n a d a p t a ç ã o do autor à r e a l i d a d e :
.
s a t i s f a ç ã o de vida
como filho,
dade: "ingrato filho"
revolta,
não está
do
"terra
ingrata"
pela
fora de
ele não sabe buscar uma possível
felici_
.
pois,
sua
terra
natal
"Sob os céus de minha
consegue
que
não
"Sob os
/Eu
céus
canto a
dilacerado,
refletir
não
angús_
Canção do
a
so)
terra/
Exílio!
ideológica
a sua
terra e
,
vivência
deste
poema
encontra-se
importância p o é t i c a ,
no entan_
sobre o último v e r s o onde o p o e t a ,
renega a
único ponto de a p o i o :
tal
terra"
sim,
uma
Ele
harmonizar-se.
da minha
importância
imperceptível,
cabe-nos
de
s i t u a ç ã o de crise em que vive o p o e t a .
interior
caótica
pro_
mas
um homem a t o r m e n t a d o por
A
pala_
,
lidão e o a f a s t a m e n t o de
to,
e/
ingrata,
"Mas onde a
portanto o seu p r o b l e m a não é o e x í l i o g e o g r á f i c o e,
quase que
poeta
"Terra
0 s e n t i m e n t o que fecha o poema é,
tia e
possibili_
Existe a c o n s c i ê n c i a de que a terra não lhe
porciona a e s p e r a d a
também,
terra
e
. A n t e c e d e o verso a n a l i s a d o a q u e l e q u e , c l a r a m e n _
vra " o n d e " ?"
que,
a
de v i v ê n c i a
o mo_
terceira
a p r e s e n t a - s e com dupla
/ou o próprio chão em que v i v e ,
ingrato f i l h o "
Na
mas
resgata,
no p r e s e n t e ,
a c e r t i d ã o de n a s c i m e n t o desta
o
terra,
mesmo
seu
na
.55
referência ã " C a n ç ã o do E x í l i o "
tudo,
ainda
a
própria
sua
canta
este v e r s o
lirismo a c e n t u a d o ,
estados d ' a l m a ,
ora prosaica e
a
são c a r a c t e r í s t i c a s
soube aliar e s t a s
tendências
apesar
c o n o t a ç ã o positiva
Não é um poeta
realidade c i r c u n d a n t e .
É
busca
da
obra
de
...)
social,
interessante,
Gonçalves Dias
a
carga
social
vararam do s é c u l o XIX ao
século XX.
co como ponto de a p o i o e
servindo-se
Mário Quintana
d á - l h e uma
m a n d o , ou m e l h o r ,
nova
de M á r i o Q u i n t a n a ,
e
acrescentando a
a
uma
poética
de p r e o c u p a ç õ e s
c o m o molde e b a s e ,
toda
dos
ora de p r o f u n d o q u e s t i o n a m e n _
resgatado j u s t a m e n t e ,
e
da c o m p r e e n s ã o
neo-simbolistas
ligada ao c o t i d i a n o ,
to e x i s t e n c i a l .
com a
tem uma
0 poeta,
Canção.
0
que
(e
romântica.
portanto,
que tenha
a " C a n ç ã o do E x í l i o " de
implícita
Embora
de
urgentes
em símbolos
tendo o
seus
inquietante
poema
elementos
que
românti_
básicos,
conotação,
transfor
idéia de que o e x í l i o
físico-
geográfico pode ser d o l o r o s o , mas o e x í l i o " i n t e r i o r " é o
trági_
co,
fecham,
pois,
para
totalmente,
na
ele,
sua
do em sua p r ó p r i a
não há
saída - as
possibilidades
i n c a p a c i d a d e de c o m p r e e n d e r e
terra
natal.
ser
se
compreendi_
.56
2.2.CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E A "NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO
No universo em que estamos inseridos, os
questio_
namentos existenciais situam-se entre a razão concreta do
diano vivido e o espaço mental das angústias
coti_
e sentimentos
per_
turbadores de uma lógica que, por si só, nunca resistiu ao
do sensível criado
pelos poetas.
Carlos Drummond
do como
O
mun_
de Andrade, por muitos
consider£
poeta maior, pela riqueza de sua expressio e
sua temática, abriu caminhos na conquista das formas,
de
inovad£
ras e renovadoras da linguagem poética, logo apôs a chamada
"fa_
se heróica", ou primeira fase do Modernismo.
Drummond lírico, social, prosaico, em busca de
uma
linguagem que melhor expresse seu "sentimento do mundo"; Drummond
poeta público, político põe em evidência, na sua "Nova
do Exílio"
Canção
a condiçio torturada do homem/cidadão, afastado
espaço e no tempo
(está
aí o aspecto renovador do
no
texto-matriz
de Gonçalves D i a s ) , de sua terra natal. Em seu poema o
longe
é
um ser, uma grandeza que existe por si mesma: " ... V o l t a r / P a r a
onde é tudo belo/E fantástico/A Palmeira/O Sabiá/O Longe".
.57
NOVA
Um
CANÇÃO
EXÍLIO
sabiá
Na p a l m e i r a ,
Estas
aves
Um o u t r o
0
DO
céu
longe.
cantam
canto.
cintila
Sobre
flores
Vozes
na
úmidas.
mata,
E o maior amor.
Onde
E
é
tudo
belo
fantástico,
S ó , na n o i t e ,
Seria
feliz.
(Um
sabiá.
(Um
sabiá,
Na p a l m e i r a , l o n g e . )
Ainda
um g r i t o
de vida
e
Voltar
Para
onde
é
tudo
belo
E fantástico:
A palmeira,
o sabiá,
Olonge.
A partir
à Canção de
Gonçalves
do
t í t u l o de
Dias.
seu
Distantes
um
poema
Drummond
século
no
nos
tempo
remete
real,
.58
os dois poetas se aproximam através do símbolos que compõem
os
dois textos. Produzida também em 5 estrofes, a "Nova Cançio
do
Exílio" difere,
formalmente,
da original,
pelo ritmo,
devido a
metrificação diversa.
Os elementos "sabiá", "palmeira" e o "eu"
reapare_
cem também como símbolos do poeta criador, do espaço da
terra
natal e da conseqüente relação que se estabelece entre o
poeta
e suas recordações. A palavra (advérbio)
ampliando o conceito espacial.
longe
substitui o
lá,
Este advérbio remeteria também ao
aspecto temporal, às recordações de passado do poeta.
Drummond
mantêm as referências concretas ao
belo
de seu "longe", "céu", "flores", "mata", "amor". Há aí uma mudan_
ça de tom: enquanto Gonçalves Dias exalta os "primores" da terra
natal, Carlos Drummond de Andrade apenas os constata, em descriçio
sóbria, porém não menos lírica do que a do poeta romântico. "Só,
na noite/seria feliz:" - vemos nestes versos a manutenção
estado emocional do poeta, em relação ao eu "lírico" de
do
"Canção
do Exílio", ampliado pela sugestão de que há felicidade, sim, na
própria lembrança de um passado, ou de uma terra distante,
resu_
midos nos três elementos básicos: "Sabiá", "Palmeira" e "Longe".
A quarta estrofe ê a reafirmação da anterior, como ocorre
"Cartão" de Gonçalves Dias na referência à capacidade de
na
irnagi_
nação e sonho do poeta - "Onde é tudo belo/e fantástico" (vd.
a
mesma idéia, nos versos do poema romântico: "Em cismar sozinho ã
noite/mais
prazer
...").
Drummond
conclui
seu poema com a
idéia de esperança,
transcrita no 1º verso da 5a estrofe: "Ainda um grito de vida
e
.59
voltar"
(vd.
em G o n ç a l v e s
/Sem que eu v o l t e para
lembrados
de
forma
Dias:
lá").
"Não permita Deus que eu
morra/
V o l t a r para um tempo e um e s p a ç o re_
idealizada,
devido à distância
dos
quais
são
símbolos a mesma " p a l m e i r a " e o m e s m o " s a b i á " da " C a n ç i o do
Exí_
lio" do poeta
1ite_
ratura
que
genuinamente
Os
posta de
leitura
da
seria
texto
textos
primeiro contribuiu
trabalhos
plural
estrutura
portanto,
código sêmico,
ou
dução do
signo
que se
Essa
análise
mas
de
de c o n o t a ç ã o ,
referência.
Para
entre
r e v e l a ç ã o da
signos
gera
natal.
A
releitura
seia-se no a p r o v e i t a m e n t o dos
novos m a t i z e s ,
do que os
lio"
uma d i f e r e n c i a ç ã o em
esta
a
temporal,
significante e
que não e s g o t a ,
haja
pro
significa
no
entanto,
pois a
relação
signifì_
signos.
Oswald
lírico
em
pelo p r i m e i r o
ba_
antes a eles a c r e s c e n t a n d o
O c o r r e na "Nova C a n ç ã o do Exí_
relação original,
t r a i ç ã o ou
do
simbólico
que dinamiza a
proposta
signos,
rompendo.
Conside_
c o n t r a r i a m e n t e a um
de que ao e x í l i o espacial
sem que
móvel
a utilização
não a p r e s e n t a um d i s t a n c i a m e n t o do " e u "
relação à terra
pretende
Barthes é no ato de
um v a l o r ,
Como v i m o s , Drummond ,
idéia
não
o código
significação),
Ca_
se cruzam o u t r o s
textual
em nossa a n á l i s e ,
total
pro
no " t e x t o " .
onde
d a n d o - l h e m o b i l i d a d e no c o n j u n t o dos
de A n d r a d e ,
oferecem uma
descobrir o processo
localiza a s i g n i f i c a ç ã o ,
do signo com o u t r o s
uma
na a b e r t u r a de sua s i g n i f i c i n c i a .
significados
(=
Barthes
significância,
da o b r a ,
(associação
o ato s e m â n t i c o
cação,
Roland
de s e n t i d o d e s v e l a d o ,
pertinente,
e o código cultural
do)
de
um e s p a ç o de
de sua e s t r u t u r a ç ã o ,
ramos,
c r i a ç ã o de
nacional.
(intertextua1idade).
descrever a
para a
acrescentando-se
pode j u n t a r - s e o
n e g a ç ã o dos
valores
a
exílio
nacionais
.60
(a palmeira e o s a b i á ) .
Romano de Sant'Anna
rias,
os
1
C a r a c t e r í z a r - s e - i a , a s s i m , o que
d e n o m i n o u de
sobre o c o n c e i t o ,
jogos
estabelecidos
maiores ou m e n o r e s em
nas
relações
sentido.
teo
Considerando
que
slo
estilizaçio
(e m e s m o d e s e j á v e l ! ) ;
sem
sem modificar
inverter-lhe
ou s e j a ,
o essencial
da
ela
reagrupa os
ra o d i s c u r s o p o é t i c o ,
plano da e x p r e s s ã o ,
a r t i c u l a d o com o
pois
real
no vale por
forma,
p o d e m o s dizer que
uma
inovação que o
ou
subverter-lhe
pressupostos
seus c o n t o r n o s ,
lidade (o valor de u s o ) ,
estrutu_
não
pode
se
reduzir-se
Eles
A diferença
o sig_
entreo
p r e c i s a m e n t e , no
transforma a
real,
já
do d i s c u r s o p o é t i c o ,
símbolos que
função de
mera
que,
Dias
ní_
uti
dito
na
e
significação
de
em sua a r t i c u l a ç ã o
c o n q u i s t a r a m um
remetem à brasil idade e ao
falam do que não foi
espaço
conteúdo
t e ó r i c o s de B a r t h e s ,
transcenderam a
elementos c o n c r e t o s de um m u n d o
como
ao
em s i g n i f i c a ç ã o .
de A n d r a d e
signos
es_
na qual
As " p a l m e i r a s " e " s a b i á s " de G o n ç a l v e s
com os outros
o
formais,
suas v i z i n h a n ç a s .
da s u b s t â n c i a : é a s o c i e d a d e que
Carlos Drummond
tex
elementos
i n c l u i , i n d i s s o e i a v e l m e n t e , um
signo lingüístico e o s e m i o l ó g i c o e s t a r i a ,
ticular
forma
histórico.
Segundo os
lismo.
aparte
estrutura.
Em relação a esta mesma
mítico,
desvios
E n q u a n t o a paródia d e f o r m a , a p a r á f r a s e c o n f o r m a , a
ti1ização r e f o r m a ,
vel
a
proporia o m á x i m o de
admitir
partir das
intertextuais
relação ao o r i g i n a l ,
de desvio em que o autor
poderia
(a
de T y n i a n o v e Bakthin).
ceria como um d e s v i o tolerável
to original
esti1ização
Afonso
História,
campo
naciona
em seu
conotativo.
_________________________
1. SANTANNA. P a r ó d i a , P a r á f r a s e e C i a . São Paulo, Ática, 1985.
par
"Mexi povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore nova
Ao povo seu poema aqui devolvo
menos como quem canta
do que planta".
Ferreira Gullar
CAPÍTULO III
O EXÍLIO
NA
POESIA
CRÍTICO-IRÔNICA
.63
3.1. "A CANÇÃO DO EXÍLIO" DE DALTON TREVISAN
A "Canção de Exílio" de Dalton Trevisan foi
publi_
cada, pela primeira vez, no dia 05 de agosto de 1984, no
suple_
mento "Cultura" do jornal O Estado de São Paulo. Seu efeito
curioso: os vários personagens citados pelo autor neste
crônica tiveram as reações mais
poema-
inusitadas. Um chegou a
que nunca tinha ouvido falar em Dalton; outro ficou
foi
dizer
furioso,
e outro ainda sentiu-se honrado, causando, assim, o texto
diver
sas interpretações e reações.
Mas Dalton Trevisan é mesmo polêmico, do
Vampiro
de Curitiba a Desastres do Amor , passando pelo Cemitério de
E1e_
fantes, seus textos trabalham a crise de valores por dentro, sem
injetar-lhe nenhum tipo de solução. A técnica empregada pelo
tor é a de mitificar a pequena burguesia curitibana,
au_
criando
estereótipos comportamentais. Toda sua obra surge como uma refle_
xão
sobre
o
senso
comum,
entendido
como
ideologia
em
seus ní_
veis mais baixos, como acurou1ação de conhecimentos populares
e
das maneiras de ocupar-se da vida cotidiana. Devido, justamente,
aos traços caricaturais de sua escritura, opera-se o
to ideológico do mito na sua criação primitiva em
esvaziamen_
Gonçalves
Dias, como veremos na análise de sua "Canção do Exílio", com
Sabiá.
o
.64
Um dos p o n t o s
i m p o r t a n t e s a q u e s t i o n a r na o b r a
D a l t o n T r e v i s a n é se sua v i s ã o g r o t e s c a ,
sua s á t i r a ,
ã p a r ó d i a e s t ã o l i g a d o s a uma d e n ú n c i a do n e g a t i v o ,
quer
introduzir o
riso,
debochado
a p a r ê n c i a de uma c u l t u r a o f i c i a l
e
subversivo,
séria
visam a
retratar a
Os
ou se
ele
paralelamente à
podemos dizer de
simples e objetiva,
s e por uma o b s e s s ã o d o e s s e n c i a l .
apelo
e pudica.
Quanto ao estilo do a u t o r ,
g o s t o pela c o m u n i c a ç ã o c l a r a ,
seu
painéis de
seu
notabilizando-
tipos que compõe
s i t u a ç ã o da c l a s s e m é d i a b a i x a q u e p o v o a
p e r i f e r i a dos g r a n d e s c e n t r o s u r b a n o s .
Ele s e u t i l i z a d o
te " K i t s c h " em que a g e m os p e r s o n a g e n s ,
lo e x t r e m a m e n t e m o r d a z ,
para,
irônico e c o n c i s o ,
Neste caso,
a
ambien_
a t r a v é s de um esta_
retratar a
sub-vida
d e p r i m e n t e e g r o t e s c a em q u e v i v e g r a n d e p a r t e da s o c i e d a d e
si lei ra.
de
o K i t s c h a p a r e c e c o m o um e l e m e n t o
bra_
poderoso
de r e f l e x ã o s o b r e um m o d o e s t é t i c o da v i d a c o t i d i a n a de uma comu_
nidade,
da,
c o n t r i b u i n d o para
r e t r a t a r uma
c o m o p o d e m o s o b s e r v a r nos v e r s o s a
psicologia
social
profun
seguir:
"Tudo faça para não morrer
Em ú1timo caso
Que seja longe de Curitiba
Consolo único
É a coroa roxa de flores de pano
Na eterna saudade da Valquíria".
("Canção do Exílio")
Dalton Trevisan pertence ao movimento de total
novação que transformou a literatura
re
latino-americana em uma das
mais experimentais da atualidade. Seu gênio encontra-se
na habi_
.65
lidade de e s c o l h e r e destacar um m o m e n t o ,
timento e
p r o j e t a r a r t i s t i c a m e n t e esse m i c r o c o s m o
Escritor
participou
lismo,
da
de
características
renovação do
que e s t a r i a
do qual
uma s i t u a ç ã o ,
R e a l i s m o ou
fundamentado
de
um
sen_
vida.
pós-modernas,
C o n s t i t u i ç ã o do
num novo m o v i m e n t o
Trevisan
hiperrea_
descritivo
não resulta uma v i s ã o de c o n j u n t o , mas de f r a g m e n t o s .
ta tendência possibilitou a f o r m a ç ã o de um novo r e a l i s m o ,
marca_
do pela d e p u r a ç ã o e por um novo p o s i c i o n a m e n t o de c o m p o s i ç ã o
t e r á r i a , d i a n t e do
li_
referencial.
" N ã o permita
Deus
Sem que daqui
que eu
morra
me vá
Sem que
diga
adeus
ao
pinheiro
Onde já
não canta o S a b i á "
A b r i n d o seu p o e m a - c r ô n i c a , " C a n ç ã o do E x í l i o " ,
mos o último v e r s o da
Gonçalves Dias.
última
e s t r o f e da
toda a
Brasil,
sua c o m p o s i ç ã o .
"Morrer ó supremo
Em Curitiba
aparece no p o e m a .
rando este
de
lhe servirá de referência du_
típica do Sul
do
terra em que vive o poeta.
é que não d á " .
que,
e s p a ç o vem a c o m p a n h a d a
pela
Contrariamente a
exalta a terra n a t a l , m a s ,
Exílio"
desfrute
i d e n t i f i c a ç ã o do
v o c á b u l o de n e g a ç ã o n ã o ,
ve_
pelo " p i n h e i r o " Trevisan
Pinheiro é árvore
em p a r t i c u l a r do P a r a n á ,
A
" C a n ç ã o do
Substituindo a "palmeira"
começa a p a r t i c u 1 a r i z a r o e s p a ç o que
rante
Es_
segunda vez em seis
Gonçalves
pelo c o n t r á r i o ,
s e n t i m e n t o em v á r i o s
outros
Dias, o poeta
até a
versos
renega,
posteriores:
pelo
vezes,
não
reite_
.66
"Castigo
Morrer
Não
permita
Mais
ser
bem
por
sua
(referência ao v e r e a d o r
Xaxufa
os
"Nem
cidade,
a
lá".
a
que
morte
Rafael
Greca
versinhos
pensar
no
Ó Santo
Sem contar
Oficiada
Nessa
deCuritiba
sutileza e
seriedade.
séria
te muda
de
medi£
em nome da
Macedo,
bem viu o que
rua"
que a p a r e c e como
fizeram/O
Rafa
e
...").
imaginou
não
a
o
Wanderlei
sessão
pelo
hora
ogeriza
necrológio
já
Deus
sua
tornariam a vida
não é
g a i a t o já
0 Wanderlei
Na
daqui
relaciona
"Com o p o e t i n h a
gorgeando
Curitiba
não dá
falta de s e n s i b i l i d a d e ,
Um v e r e a d o r
o
em
e n c o n t r o eu
Trevisan
"Em C u r i t i b a
" R a f a " no p o e m a :
que
longe
p e r s o n a g e n s c o n h e c i d o s da
crizada,
viver
Deus
prazeres
Dalton
é
em C u r i t i b a
A não
a
bastante
pública
grão-mestre
você
desiste
p a s s a g e m em que
se
dos
onze
positivistas
Davi
da
própria m o r t e " .
refere ao cineasta
Silvio
Back:
"Em Curitiba
0
Silvio
Melhor
Ora
é
iria
não
ter
que
filmar
tradições
contra os
1ugares-comuns e a
tua
vida
vivido"
d e n o m i n a n d o os
rência ãs
não dá
curitibanas,
personagens,
Trevisan é
hipocrisia.
ora
fazendo
sempre um
refe
crítico
.67
"Tudo faça para não morrer
Em ú1timo caso
Que seja
longe de Curitiba
Não avise mulher nem filho
Nada de orador a beira do túmulo
Já imaginou o presidente da OAB pipilando o verso
Os trezentos milhões da Academia Paranaense
Arrastando-se de maca bengala cadeira de roda".
"Ah ser morto o mais longe da dona Mercedes
Bem lacrada a tampa do teu caixão
A juriti não há de chorar lágrimas fingidas"
"Fuja da missa de sétimo dia
Turno menos a famosa missa do sétimo dia
Cantada
em falsete pelo Dom Fedalto"
A sociedade de Curitiba é retratada como superfíci_
al e medíocre em seu estilo de vida. 0 poeta não faz concessões,
privilegiando os componentes sarcásticos, patéticos e
desta sociedade.
grotescos
Dalton Trevisan nos descreve comportamentos que
não lhe cabem, daí abrindo espaço para a crítica-irônica:
o
so_
ciai se transforma, aí, em elemento estrutural:
"Ah nunca morrer em Curitiba
Para sofrer até o Juízo Final"
"Os Vinholes e o Mazza gorgeando os primores
Que tais não encontro eu cá"
Estas referências continuam como fortes justificativas para o seu desgosto pe_
Ia terra natal, particularizada em Curitiba.Outras referências importantes no
.68
poema retratam a exploração da natureza e os d e s a s t r e s da r e g i ã o ,
tomando como
s í m b o l o s da
g a n h a n d o a cor
local
"Na
0
terra
natal
o
como p i n h e i r o )
minha
sabiá
Perdeu
terra
não
as
já
penas
De
sangue e
Ao
último
tem
(Jeová),
mais
enterrou
no
tingiu a água
peito o bico a f i a d o
sulfurosa
pouco
e difícil
Em s e g u i d a ,
de no m o m e n t o da m o r t e ,
velório
configurando
Dias
amendoim
em sua
própria
c o m p r e e n d i d o em uma
referên_
se c o m p o r t a r á a
lá
e s t a r ã o os
algodão-doce
Exilado
Reitoria
carrinhos
fatia"
vezes
poeta
terra n a t a l ,
" C a n ç ã o do
em Dalton
romântico.
por
Exílio"
Trevisan,
E n q u a n t o es_
o o u t r o sente-se
sociedade e s t r e i t a
sob p a r â m e t r o s c o r r u p t o s ,
em
0 v e r s o da
ao do
da
pipoca
melancia
três
socieda_
símbolos c r i s t ã o s :
porta
frita
pátria.
estar
guerra"
salão nobre
retomado por
longe da
de
no
um a p e l o o p o s t o
te se encontra
mas
é
jeová
será
" N ã o permita D e u s " .
Gonçalves
uma
de e n t e n d e r
d e s s a c r a 1 i z a n d o os
Batatinha
de
inclui
subiimes:
d e s c r e v e como
Rondando a
De
rio Belém
imputando também aos céus a culpa de
A m a l d i ç ã o do velho
"Teu
do
pinheiro".
em um tempo e e s p a ç o tão
"Dura
(aqui
pinheiro
A revolta do poeta c r e s c e e ele
cia a Deus
palmeira
de G o n ç a l v e s D i a s .
não
canta
sabiá e a
re_
exilado,
sentir-se ameaçado e
de
a r t i f i c i a i s e,
horizontes,
o pior,
não
vivendo
completamente
.69
a l i e n a d a em relação ao que a c e r c a :
sia,
a
falta de
seriedade e de
Cabe aqui
citar
1ivro
O
Natal
um e x t r a t o da
ças de nomes e de
sistema
interessante
publicada
ajudou,
regimes.
incrível
ano de
1986,
c o m p a c t u o u com todas as
Ele p o u c o se
importou,
no mais
amplo
de
sentido
da
palavra
ou se
importa
sistema,
fala
ao
reflexão,
ao s a c r i f í c i o d e s a 1 i e n a n t e ,
relações
sociais
qualquer
destas
vinculado
e
a
inconseqüente
seriam
gico de d i s s o c i a ç ã o da
sistema,
de v i d a .
não
Em v i r t u d e d i s t o ,
As
por
este
pessoas
de
vê-se e n c u r r a l a d o
por
povo
obrigue à
um
status
inteligência e a
as
psicoló
porque cum
a q u e l e que
quo que
integridade
esti_
próprias
mecanismo
existem,
tiona
a
que
deste
a c o n t e s t a ç ã o de seu
influenciadas
realidade.
desde
Na dialética m i s s ã o de c o - e x i s t i r ,
sensibilidade,
preservação
pessoas,
prem p a p é i s .
a vida
de
respeito m ú t u o " .
Dalton T r e v i s a n
lo fácil
(...)
lhe
(até na
ques_
dilace
hora
d a morte . . . ) :
"Se a
Bem
A
o
mudan_
0 que ele não deseja é a m u d a n ç a de m e n t a l i d a d e ,
um código é t i c o ,
ra a
crôni_
Sem V o c ê :
povo b r a s i l e i r o t o l e r o u ,
isso.
hipocri_
Eduardo Cyntrão 1 ,
de
"Porque até chegar a e s s e
com
a
sinceridade.
ca "0 Riso Solto do B r a s i l e i r o " ,
no
a mediocridade,
gente
longe
de
repórter
Que
você
Tem
rosto
não m o r r e
surdina
Curitiba
Margarita
foi
em
anuncia
enterrado
no jornal
das
vivo
irreconhecível
Porémcolorido
Aparecerá
no
próximo
capítulo
da
novela"
oito
.70
A "Canção do Exílio" de Dalton Trevisan
na particu1arização do espaço, o "Canto de Regresso
lembra,
à
Pátria",
em que Oswaid de Andrade quer "voltar para a rua 15, e o progres_
so de São Paulo". A movimentação dos poetas, no entanto, é inver_
sa; enquanto Oswaid quer voltar para São Paulo, Trevisan pede
Deus para que não o deixe morrer sem antes sair de Curitiba.
qualquer forma, os dois textos podem ser considerados como
dias da Canção de Gonçalves Dias. Paródia, no que a
o conjunto ideológico da canção-matriz, ficando esta
De
paró_
entendemos,
como uma relação transgressiva com a literatura. As alusões
Dalton Trevisan a alguns símbolos de nacionalidade
a
de
introduzem
virtualmen_
te presente, a partir das referências aos símbolos e mitos
permita Deus que eu morra/Sem que daqui me và/Nunca mais
(Não
aviste
os pinheiros/Onde já não canta o sabiá). No entanto, é clara nes
tes versos a
dessacralização
da consagrada significação
românti_
ca dos símbolos, configurando a relação transgressiva de que
fa_
Íamos anteriormente.
Ao contrário de Oswaid de Andrade e Murilo Mendes,
em Dalton Trevisan não mais permanece o caráter nacionalista
bairrista), mesmo que dentro de uma perspectiva crítica. A
(ou
"Can_
ção do Exílio" de Trevisan apresenta um dilaceramento definitivo
entre o sujeito e a terra, representada aqui pela cidade de Curi
tiba.
O
verso que sintetiza toda a amargura e raiva do
poeta
ê, propôsitalmente, escrito em uma rude linguagem ofensiva:
"Agora vem o Emiliano
Que é doce morrer em Curitiba
Para tua Curitiba merdosa isto aqui ó babaca"
.71
Apesar de reiterado como símbolo da brasilidade, o
Sabiá não consegue ser resgatado, pois, segundo o poeta, ele
nio canta mais.
Ele quem? Como sabemos, na Canção de
já
Gonçalves
Dias sabiá era também metáfora para o próprio poeta. Aqui
também
essa dubiedade poderia ser apontada: o poeta-cantor não encontra
a sua volta mais nenhum estímulo para compor, ou seja, cantar.
Dalton Trevisan, como vimos, compõe seu texto
gado às circunstâncias do espaço que
descreve,
às
des que o caracterizam. No entanto, os elementos da
li_
peculiarida_
composição
transcendem a sua tipicidade e Curitiba passa a ser qualquer
dade, ou espaço em que habitam e
ajam pessoas como as por
cí_
ele
descritas. No entanto, estes elementos são repetitivos, ou recor_
rentes, em toda a sua obra. Suas histórias não são universos
fe_
chados; Trevisan usa a literatura para mostrar o homem a ele pró_
prío, através de diferentes planos. E são estes planos que
refletem que o colocam como um escritor neo-realista . Os
se
"cli_
chis" de Dalton Trevisan ampliam o real que, belo ou grotesco,
seus textos querem retratar.
.72
3.2. A "OUTRA CANÇÃO DO EXÍLIO" DE EDUARDO ALVES DA COSTA
Como poeta contemporâneo,
resolve
repensar o Brasil
Eduardo Alves da
Costa
em uma "Outra Canção do Exílio".
tra , por apresentar uma visão diferente do país tão exaltado
ou_
pe_
lo poeta romântico.
Questão de momento, de situação histórica e social,
de posicionamento ideológico, a intenção é clara: mostrar a
sua
amargura e revolta do ser que se sente exilado em sua própria pá_
tria. O alvo é o poder político, a atuação repressiva e
opresso-
ra dos que regem as vidas dos cidadãos comuns.
"Minha terra tem primores
Requintes 'de boçalidade
Que fazem da mocidade
Um delírio amordaçado".
A palavra amordaçado remete a outra palavra
do
início do poema, açoite, também esta símbolo da repressão vivida
em várias épocas:
"As aves que aqui
revoam
São corvos do nunca mais,
A povoar nossa noite
Com duros olhos de açoite
Que os anos esquecem jamais"
.73
Este
to de
forma
o poeta
faz
sentimento
sombrio em
d e s c o n c e r t a n t e no
um j o g o de
início da
palavras
relação ao
primeira
bem h u m o r a d o ,
país é expos_
estrofe,
dessacralizando
palmeíra de G o n ç a l v e s D i a s . A p r o v e i t a o s i g n i f i c a n t e ,
bue outro
significado
e em seguida
faz a
(Palmeiras,
terra
Corínthians
Que
copas
Alan
Poe,
(em
tem
de
atri_
Sio
Paulo)
Palmeiras,
e outros
times
exuberantes
o c u l t a m muitos
Os c r i m e s ,
nunca m a i s "
futebol
lhe
a
denúncia:
"Minha
De
time de
pois
crimes"
por sua v e z ,
ligam-se aos " c o r v o s
r e f e r ê n c i a às aves a g o u r e n t a s
s í m b o l o s do
irreversível
e da
total
E s t r u t u r a d a em sete e s t r o f e s ,
trica do poema de G o n ç a l v e s Dias
(os versos
do c o n t o de
do
Edgar
desesperança).
o poeta repete a
mé_
são h e p t a s s í l a b o s ) .
Cada estrofe é e s t r u t u r a d a a partir de um v e r s o r e t o m a d o da
can_
ção-matriz:
1a
estrofe,
2a estrofe,
"Minha
terra
"Em c i s m a r
tem
palmeiras"
sozinho,
ao
(significado
relento"
(situaçio
do
3a
estrofe,
"Minha
5a
estrofe,
"A chorar
terra
recriado)
externa
poeta)
tem p r i m o r e s "
sozinho,
aflito"
(situação
interna
do
poeta)
6a
estrofe,
"Minha
terra
tem
palmeiras"
(primeiro
mantido)
7a
estrofe,
"Não
permita
Deus
que e u m o r r a "
significado
.74
Também Eduardo Alves da Costa, assim como
poetas modernistas, particularizou o espaço em que se
outros
encontra:
é Brasil, mas é, sobretudo, São Paulo (percebemos pelas
imagens
citadas, do cotidiano - os times de futebol e a poluiçio:
"Em
cismar sozinho, ao relento/sob um céu poluído, sem estrelas").
O poeta faz referência a seu lugar de exílio
nhum prazer tenho eu cá_" , e este lugar é o tempo presente,
se
percebe
no verso
seguinte "porque me
lembro do
tempo
neste tempo passado que o poeta diz ter tido o que não tem
"Ne_
como
..." É
no
presente: a liberdade.
"Porque me lembro do tempo
Em que livre na campina
Pulsava meu coração, voava,
Como livre sabiá; ciscando
Nas capoeiras, cantando
Nos matagais, onde hoje a morte
Tem mais flores, nossa vida
Mais temores, noturnos,
De mil
suores fatais".
A oral idade esta presente no poema, na constatação
da corrupção que prejudica os cidadãos.
"Equilibrado no risível
sonho
de grandeza que se esgarça e rompe
roído pelo matreiro cupim da safadeza".
Apesar de ser uma profunda crítica ã realidade bra
sileira, o texto não nega totalmente as belezas da terra natal.
.75
"Minha terra
tem encantos
De recantos naturais
Praias de areias monazíticas
Subsolos minerais
Que se vão e não voltam mais"
Vemos aí uma clara denúncia contra a
dos recursos naturais brasileiros
dilapidação
pelos países estrangeiros.
Assim como Dalton Trevisan, que, ao denunciar, to_
ma para si a posição de não compactuante, Eduardo Alves da Costa,
na 5a estrofe, confessa seu sofrimento e sua consciência
diante
da realidade que o cerca:
"A chorar sozinho, aflito,
Penso, medito e reflito,
Sem encontrar solução;
A não ser voar para dentro,
Voltar as costas à miséria,
A doença e ao sofrimento,
Que transcendem o quanto possam
0 pensamento conceber
E a consciência suportar".
A solução proposta pelo poeta
não será certamente por ele adotada,
não sofrer".
pois é o "alienar-se
é
um
estrofe,
ato
de
engajamento
portanto,
de um
e
não
de
alienação. O
recurso que nos
idéia inversa: suportar, por mais que doam o coração e a
ência.
para
Escrever já é um ato político; retratar realidades,
analisando-as,
poeta usa na
("voar para dentro")
remete à
consci
.76
É de
cial é um ser
Gullar 2
Ferreira
político,
no
a
idéia
de que
s e n t i d o de política
do homem na
s o c i e d a d e da
qual
participa.
inevitável,
pois c o n v i v e r é viver em c o n j u n t o ,
ê n c i a s , é só poder c o n s t r u i r a v i d a ,
bém,
palmeiras")
palmeira,
nao é
6a
estrofe,
atuação
seria
trocar
experi_
é
tendo como r e f e r e n c i a l ,
tam_
tem
retoma o s í m b o l o da " C a n ç ã o " de G o n ç a l v e s D i a s ,
a
á r v o r e nativa
intenção do
poeta
"que
Na
mesma
forma
Extrema
uma
u s a n d o como figura de
com d e s c a s o para
sétima
rilhar
Dias,
1ín_
indiferen_
próprios
síim
filhos,
dentes".
e última e s t r o f e ,
o poeta a
inicia
com o v e r s o " n ã o permita
da
Deus
"pelo crime de estar aten_
s i t u a ç ã o chegou ao ponto de ser criminoso con
realidade o p r e s s i v a .
idéia de e s p e r a n ç a
com os
os
a c r e s c e n t a n d o ao a p e l o ,
a
positivo
ou s e j a , as c o n h e c i d a s p a l m e i r a s ,
abertos/a
ironia;
como
E d u a r d o as põe "a b a l o i ç a r ,
que G o n ç a l v e s
que eu m o r r a " ,
("Minha
Mas o c o n t e x t o ê m o d i f i c a d o ;
Ao c o n t r á r i o ,
"agem"
sonham de olhos
primeiro verso
r e f e r i r - s e às p a l m e i r a s
tes/aos poetas e d e m e n t e s " ,
bolos de B r a s i l ,
o
brasileira.
guagem a p e r s o n i f i c a ç ã o ,
no f u t u r o ,
o presente não s a t i s f a z :
los
E esta
atuação
terra
s í m b o l o de b r a s i l i d a d e .
tra
como a
so_
outras v i d a s .
Na
to".
todo ser
já
No e n t a n t o ,
há na estrofe
a
que o passado não existe mais
"E possa chegar à v e l h i c e / c o m os
e
cabe_
ao v e n t o / d e m e l h o r m o m e n t o " .
O Sabiá,
alegria e da
deseja
como
liberdade ê
o poeta:
s í m b o l o dos
r e s g a t a d o para
valores
este
nacionais,
futuro de
luz
da
que
.77
"Que eu d e s f r u t e
Do canto do
Onde
Que
poral:
pressora;
a
liberdade
não e n c o n t r o
por
há v á r i a s
Eduardo A l v e s
o homem o p r i m i d o ,
primores
Sabiá
gorgeia
Como v i m o s ,
ciar o e x í l i o .
os
da
cá".
formas do ser h u m a n o
nos m o s t r o u o e x í l i o
tern
v i v e n d o uma s i t u a ç i o p o l i t i c a m e n t e
re_
o cidadão exilado,
Costa
viven_
preso a b s u r d a m e n t e ,
em seu
próprio
país .
Ainda
e Eduardo A l v e s
na
linha
crítico-irônica
de
Dalton
temos o i n t e r e s s a n t e p o e m a , do poeta
Trevisan
contemporâ_
neo A n t ô n i o Carlos de Brito 3 :
"Minha
Onde
terra
canta
tem
o
palmeiras
tico-tico
Enquantoissoosabiá
V i v e c o m e n d o o meu
Ficou
moderno
Ficou
moderno o milagre
A água já
ácida a
Brasil
não vira
vinho
Vira
direto
vinagre"
Neste
poema
podemos
A primeira
referência a uma modinha p o p u l a r ,
tulo da
perceber a
situaçio política b r a s i l e i r a ,
cassado da década de 7 0 .
a
o
fubá
crítica
mordaz
ao " m i l a g r e e c o n ô m i c o "
estrofe é
lúdica;
fra
apresenta
o " T i c o - t i c o no f u b á " .
referida modinha ê d e c o m p o s t o e o t i c o - t i c o passa a
tar nas c é l e b r e s p a l m e i r a s de G o n ç a l v e s D i a s ,
e
enquanto o
O
tí_
can_
sabiá
.78
aparece como
símbolo,
não mais dos valores
símbolo da " e s p e r t e z a " de alguns
No e n t a n t o ,
gunda e s t r o f e ,
para
a
Caberia,
de n a c i o n a l i d a d e
das,
a crítica
c o n c e n t r a n d o na
"crise
a z e d a " que
nesta
natureza mesma
deve ã nossa
Precisamos
tir.
nas
palavra vinagre
somos o b r i g a d o s
canções
razões
de
criar o
Estado,para
dos e s c r i t o r e s
escreveram
para
criar
como G o n ç a l v e s D i a s , A l e n c a r ,
Guimarães
lhou-se na
Rosa
e outros.
arte
uma
c r i a r - s e uma
identidade
presença
pressão
estêtica
a n t e r i o r e s ou
literatura
tão forte
se
e
considera
Isso
se
passar
posteriores
de
caráter
a
ao Moder
nacional,
Oswald de Andrade,
nacionalidade
No e n t a n t o ,
exis
este
espe
fortes
de
sentir
indivi
t r a n s f o r m a - s e no seu c o n t r á r i o , a
ex_
universal.
as palmeiras e s a b i á s ,
do por
analisa
superá-lo?
como um dos meios mais
T e m a s como s o l i d ã o ,
fala é o h o m e m ,
se
M a c h a d o de A s s i s ,
própria.
d u a l , e x p r e s s o em s i g n o s ,
enfrentar.
após a " i n v a s ã o "
nação b r a s i l e i r a
A v a l o r i z a ç ã o da
literária,
melhor
sob o coloniaiismo e a d e p e n d ê n c i a .
a
uma
a
a
Se_
"mági_
de e x í l i o já
e x p r e s s ã o estética
formação histórica,
A maioria
nismo
da
como um
conseqüências
c o n s t a n t e do n a c i o n a l i s m o na literatura brasileira
que é da
mas
irônica c o n c e n t r a - s e na
parte do t r a b a l h o ,
presenciada
levantar a q u e s t ã o das
terra,
brasileiros.
em que o poeta a p r e s e n t a as
c a s " do " m i l a g r e " ,
definição
da
que g a n h a m ,
amor,
assim,
nao só o b r a s i l e i r o ,
liberdade e
respeito,
morte,
emergem por
sobre
uma nova d i m e n s ã o : quem
mas todos os h o m e n s ,
m a n i f e s t a n d o sua angústia
frente as situações que o o p r i m e m e e n v e r g o n h a m .
e
claman
revolta,
• 79
3.3-
J O S É P A U L O PAES
E O EXÍLIO
Essência e síntese.
ESSENCIAL
R e d u ç i o e c o n c i s i o . A p ó s anali_
sar os t e x t o s d e s c r i t i v o s e r e p l e t o s de c r í t i c a s ,
c a s m o s de um D a l t o n T r e v i s a n ,
ironias e
é no m í n i m o com e s p a n t o que nos de_
p a r a m o s com a " C a n ç ã o de E x í l i o F a c i l i t a d a " do p o e t a ,
t a m b é m con_
temporâneo, José Paulo Paes. R a p i d a m e n t e , porém, o espanto
cial
0
ini_
t r a n s f o r m a - s e em c u r i o s i d a d e e a c u r i o s i d a d e em a d m i r a ç ã o .
p o e m a a p r e s e n t a a d e s a g r e g a ç ã o total
por
sar_
da
sintaxe discursiva
i s s o , p o d e r - s e - i a e n q u a d r á - l o c o m o u m dos m e l h o r e s
e,
represen_
t a n t e s , no Brasil,da poesia p ó s - m o d e r n a . O p o e m a a p a r e c e c o m o
r e a l i d a d e em s i , n ã o visa a e x p l i c a r n a d a . A e x p l o r a ç ã o do
uma
sig_
n i f i c a n t e é f e i t a a t r a v é s do som e da e x p r e s s i v i d a d e p r o p o s t a pe_
los s i n a i s g r á f i c o s ( i n t e r r o g a ç ã o , e x c l a m a ç ã o ,
poeta
reaproveita a
reticências).
rima o x í t o n a do p o e m a - m a t r i z ,
0
concentrando
sua c a r g a s i g n i f i c a t i v a na o p o s i ç ã o dos a d v é r b i o s c á / l á e
das
interjeições ah! bah!
D e t o d a s a s C a n ç õ e s d e E x í l i o v i s t a s por n ó s ,
é a ú n i c a que só p o d e ser c o m p r e e n d i d a
ferencial
t e n d o - s e em a b s o l u t o o re
da c a n ç ã o - m a t r i z .
CANÇÃO
DE
EXÍLIO
Lá?
Ah!
esta
FACILITADA
.80
Sabiá...
Papá
...
Maná
...
Sofá...
Sinhá . . .
Cá?
Bah!
Em v e r d a d e ,
que o
leitor
poéticos.
de
fácil
tem na
leitura,
percepção,
(aliás,
ve remos a
título não c o r r e s p o n d e à d i f i c u l d a d e
até chegar a
É uma c a n ç ã o a p e n a s para os
ção e x p l i c a t i v a
te
o
pois
a
d e c o d i f i c a r os
signos
i n i c i a d o s , não é um
poema
linguagem aí nao aparece com uma
(apesar de ser m e t a l i n g u í s t i c a )
nem é esta m e s m a a
nem é
fun
recorren_
intençio de José Paulo P a e s ) ,
como
seguir:
"Lá?
Ah!"
O poeta
da
demonstra
ii:terjeição e x c l a m a t i v a )
tempo,
vem
relembrado.
esta
contentamento
ao falar de
Em s e g u i d a ,
um
(percebido
lugar
através
no espaço e
relaciona os e l e m e n t o s que
no
promo
lembrança:
" Sabiá . . .
Papá
...
Maná...
Sofá
...
Sinhá..."
E
e
descontamento
na
3a
e
última
com o e s p a ç o
estrofe
(ou
tempo)
a
d e m o n s t r a ç ã o de
em que
se
enfado
encontra:
.81
"Cá?
Bah!"
Como vemos, a " C a n ç i o do Exílio F a c i l i t a d a "
ao m i o l o ,
a t r a v é s de uma
revolucionária apresentação formal,
conteúdo da Canção de G o n ç a l v e s D i a s .
tido e s s e n c i a l ,
reduz
0 poeta m a n t é m ,
os símbolos de n a c i o n a l i d a d e ,
em seu
atendendo,
Canção de José P a u l o Paes
que a censura as artes
ta,
não p e r m i t i a
sob pena de prisão ou e x í l i o :
trar em nosso t r a b a l h o ,
res e x e m p l o s :
a
terra
o poeta
em que
de
um poder
É,
assim,
envolvem
sente-se estimulado a
seja ele m ú s i c o ,
em
solo
lhe
pelos
pintor,
tomaram:
a
tempo
em
artis_
tentamos
valorizar
homens
José
"Canção do E x í l i o " de G o n ç a l v e s
Dias,
pátria,
domínio
podemos
obser_
p r o d u z i n d o em
l i b e r d a d e de
Paes
compôs
com a p e n a s
s i t u a ç õ e s que
uma
paródia à
nove
palavras
na p r o p o s i ç ã o de um
ligente jogo
uma
comandado
(a verdadeira m e t a l i n g u a g e m ) .
leitor
só o c o r r e a
partir
da
pelos c o n t e x t o s c u l t u r a i s ,
afetados,
de
início,
lembrar
revolucionária
sem
rede
forma
linguagem autocentrada
perceptual
pela e s t r u t u r a
Maiakóviski
inte_
A decodificaçao deste jogo
morais,
Em nosso t e m p o ,
portanto,
por
deste,
estéticos e
formal
pelo
condicionada
p o l í t i c o s que
são
do p o e m a .
m a i s do que n u n c a ,
q u a n d o este diz q u e ,
revolucionária".
fa_
cidadão,
e alguns sinais g r á f i c o s de p o n t u a ç ã o ,
semântico,
mos_
livre-pensar.
v a l o r i z a n d o as
Paulo
a
sob o
de
que
poeta,
sua
d e n u n c i a n d o ou
pátrio.
tem_
a p r e s e n t a - s e c o m o um dos seus melho_
nestes m o m e n t o s de c r i s e n a c i o n a l ,
resgate do que
O
livre e x p r e s s ã o do
nasceu e que m o m e n t a n e a m e n t e está
de falar ou e s c r e v e r ,
o
a
escrita é o
o p ó s - 6 4 . 0 que
p o l í t i c o não d e s e j a d o
var o a r t i s t a ,
vor do
aqui
foi
sen_
porém,
às e x i g ê n c i a s e s t é t i c a s e c u l t u r a i s de seu p r ó p r i o tempo:
po em que a
o
torna-se válido,
" N ã o há
poesia
.82
Sobre os caminhos expressivos do poeta José
Paes, cabe-nos aqui
ressaltar que estreou em torno de
Paulo
45,
com
poemas voltados para as tensões sociais, enveredando depois
pe_
los experimentos da poesia concretista: a "Canção do Exílio
Fa_
cilitada" talvez seja a melhor síntese das duas correntes
que participou;
dita
podemos considerá-la como uma fusão da
participante e da
poesia dita
tecnicista.
de
poesia
Como podemos Ob_
servar, no que toca ao resultado do plano de expressão, a Canção
de José Paulo Paes torna inútil as polêmicas sobre poética.
poema é pura Arte, em seus múltiplos reflexos.
Seu
.83
3.4
"SABIA":
BUARQUE
O
SIGNO DA
IDEOLOGIA NACIONALISTA
dos
CHICO
DE HOLLANDA
Complementando o capítulo,
mada
EM
mitos
da
ideologia
pia expressão em nosso país:
convém destacar
nacionalista
por
um
a reto_
artista
de du_
o poeta e músico Chico Buarque
de
Ho11anda.
Chico
Fernandes,
anos,
é "a
única
tival
o
de M . P . B . ,
respeito
do
da
de d e n ú n c i a ,
poeta
optou
forma
de
gar
era
pela
Censura.
tuação
pelos
de
medo
Em
ta r de 64:
triste
o
teve
"Apesar
anos
versos,
de
1966,
Som e
fraternal
foi,
aos
23
v e n c e d o r , com
-,
do
ganhava
com
à
suas
a
II
composições
de V o c ê " ,
da
retratava
forte
fortes
Em 6 8 ,
que
uma
lu
proibidas
toda
repressão
após
seu
uma
si
sofrida
1964.
e m seguida transcritos, são o m e l h o r
pela A r t e ,
o
representaria
definitivamente
governo militar,
situação vivida
Fes_
simpatia
letras
ditadura.
muitos,
várias
diante
Millôr
especializada.
para
sabia
Em
do
compositor
Chico
que,
impotência
nos
o
escritor
Imagem e
resistência
poeta
volta,
delas,
Seus
da
mas
de
da
do
nacional".
crítica
em diante,
sua
Uma
e
da
e
auto-exílio
brasileiros,
temunho
Record,
s í m b o l o da
protesto;
opinião
m e t á f o r a de a l e g r i a
TV
66
um
pelo
aqui.
no Museu
público
De
e
-
na
unanimidade
com d e p o i m e n t o s
a m ú s i c a "A B a n d a "
e
Buarque,
após o golpe
tes
mili_
.84
"Hoje você é quem manda
Falou tá falado/Não tem
discussão/A
minha gente
hoje anda/Falando de lado/
E olhando pro chão, viu/
Você que
inventou esse
estado/E
inventou de
inventar/Toda
escuridão/
Você que inventou o pecado/
Esqueceu-se de
inventar/O
perdão/Apesar de você/
Amanhã há de ser/Outro dia
/Eu pergunto a você/Onde
vai
se esconder/Da enorme
euforia/Como vai
Quando o galo
cantar
proibir/
insistir/Em
.../Quando chegar o
momento/Esse meu
sofrimento/Vou
cobrar
com juros, juro/Todo esse
amor
reprimido/Esse grito
contido/Esse samba no
escuro/Você que inventou a
tristeza/Ora, tenha a fineza/
De desinventar/Você vai
pagar e é dobrado/Cada
lágrima rolada/Neste meu
penar" .
.85
Mas
seu
lugar ao
ceria
Chico B u a r q u e ,
lado dos grandes
com A n t ô n i o
M.P.B.)
Carlos
ganhou
poetas m o d e r n i s t a s ,
Jobim,
voltar,
Vou
voltar
Foi
lá
e
Que eu
uma
Na
composto
sua
símbolos
sei
compôs
(ganhando
quando,
um
em par_
Festival
de
queainda
para
é
hei
o meu
lugar
ainda lá
de ouvir
cantar
Sabiá"
década de 6 0 ,
c a n ç ã o com os
s o b r e t u d o o sabia
cem anos apôs G o n ç a l v e s
e1ementos -símbo1os
e a palmeira ,
numa época de
o jovem poeta
crise
social
e
filhos da t e r r a ,
nao p o d e r í a m o s d e i x a r de
tos de c i d a d ã o s ,
como a
haviam
definitivamente
"Sabiá".
"Vou
mos
poeta,
sido
suprimidos
da
força
Vou
voltar,
Vou
voltar
Foi
lá e é ainda
Uma
hei
sabiá,
Vou v o l t a r ,
sei
política,
em q u e ,
para
política
o meu
vigente.
cantar
sei
lugar
lá
de ouvir
cantar
uma
sabiá
que ainda
voltar
Vou
deitar à sombra
Que
já
de
uma
não há
flor que já não dá
como
lutar por nossos direi_
que ainda
Vou
Colher a
Brasil,
liberdade de e x p r e s s ã o e a j u s t i ç a ,
pela
ter
resgata estes mes_
Sabiá
Que eu
terra
Dias
palmeira
que
.86
E
algum a m o r ,
talvez
As
noites
que
eu
E
anunciar
o
dia
Vou v o l t a r ,
Vou
sei
possa
encontrar
não queria
que ainda
voltar
Não vai
ser
Que
tantos
fiz
em vão
planos
Como fiz
enganos
Como
estradas
fiz
Fiz de
enganar
de me e n c o n t r a r
de me
tudo e nada
Em " S a b i á " ,
de me
perder
te e s q u e c e r
C h i c o reitera a
idéia de
retorno,
sar de d e m o n s t r a r a c o n s c i ê n c i a da d e s t r u i ç ã o de v a l o r e s
terísticos
de
sua
ape_
carac_
terra.
"Vou v o l t a r ,
Vou
voltar
Vou
deitar ã
sei
que ainda
sombra
de
uma
palmeira
Que já não há
Colher a
flor que já
E algum a m o r ,
talvez
não
dá
possa
encontrar".
Os v o c á b u l o s n o i t e e dia a p a r e c e m , em s e g u i d a ,
mo
referentes
para o p r e s s ã o ,
tempo
sombrio e
de novos t e m p o s . A fé nesta r e c o n s t r u ç ã o ,
ce na
noites
que
eu
não q u e r i a
E anunciar o dia
Vou v o l t a r ,
Vou
sei
que ainda
voltar
Não vai
ser em v ã o "
esperança
a p e s a r de t u d o ,
seqüencia:
"As
recomeço,
Co_
apare_
.87
O poeta termina sua composição rememorando os
per
calços por que teve de passar durante algum tempo, na
intenção
até de esquecer o lugar de sua origem, tantos eram os
problemas
que se apresentavam, mas não conseguiu. Ele termina com um outro
tipo de reiteração da idéia do amor à pátria, colocando-se
sen_
timentalmente no verso final.
"Que
fiz tantos planos de me enganar
Como fiz enganos de me encontrar
Como fiz estradas de me perder
Fiz de tudo e nada de te esquecer"
Apesar
da
temática
política
e
de
protesto da
maioria de seus poemas, quase sempre musicados, Chico Buarque
é
também extremamente lírico, conseguindo belos resultados
na
união destas duas características. Dos versos de "A Banda"
("a
minha gente sofrida esqueceu-se da dor/Prá ver a banda
passar/
Cantando coisas de a m o r ) , a "Pedaço de Mim" (Oh, pedaço de
mim/
Oh, metade exilada de mim/Leva os teus sinais/Que a saudade
dói
como um barco/Que aos poucos descreve um arco/E evita atracar no
c a i s ) , da peça Opera do Malandro, a obra-prima "Construção" (Amou
daquela vez como se fosse a última
tro paredes mágicas
(...)/Ergueu
no patamar
(...)/Tijolo com tijolo num desenho
/Morreu na contramão atrapalhando o sábado"), vemos
qua_
lógico(...)
alterna
rem-se e entrelaçarem-se o lírico e o social, em equilíbrio
ras vezes encontrado
na
literatura
ra
brasileira.
Contemporâneo a Chico Buarque e igualmente
no trabalho com as palavras, o poeta compositor Caetano
mestre
Emmanuel
Telles Veloso também vivenciou o exílio forçado e, mesmo não ten
.88
do como referência os mesmos símbolos que
inspiraram
Chico
Buarque, compôs sobre seu afastamento da terra natal muitos
ver_
sos, dos quais distinguimos os seguintes:
e eu te direi que num dia
as estradas voltarão
voltarão trazendo todos
para a festa do lugar
abre os olhos mostra o riso
quero careço preciso
d e v e r você se alegrar
eu não estou
indo-me embora
'tou só preparando a hora
de vo1tar
de voltar"
Existe nos textos de Caetano uma certa dificuldade
em discernir entre aquilo que é externo ao sujeito e aquilo
que
compõe sua intimidade. É a questão da identidade e da vitalidade
do sujeito, que pressupõe um confronto com o que pode vir a acon
tecer em outro espaço. No entanto, o "eu" poético define-se posi_
tivamente e assegura uma volta, no momento adequado, para
resga
tar-se e ao que deixou neste lugar.
Sabemos da importância dos artistas, como
prismas
diante do mundo, absorvendo e decompondo-se, através de sua
ar
te, nas "cores" mais variadas. Agem como refletores por
vezes,
e como sintetizadores por outras.
gênios
Foram e são assim os
poéticos do pós-64, Caetano Veloso e Chico Buarque. De tal
forma,
.89
que este último levou o poeta maior, Carlos Drummond de
Andrade,
a referir-se emocíonadamente a importância da idéia que compôs a
música "A Banda".
"0 jeito no momento é ver a banda passar, cantando
coisas de amor. Pois de amor andamos todos precisando, em
dose
tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência
e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para
frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos
cine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e
a
Va_
o
mais que estamos vivendo ou presenciando".
É este o universo mental onde até hoje estamos
seridos. Na mediação, através dos signos, entre o ato
i£
estético
e os demais atos humanos, (sociais, políticos, econômicos . . . ) ,
vimos ressurgirem os símbolos de brasilidade em cada época
de
crise nacional, em cada período de perigo de desvalorização
da
terra natal. A "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias,
nos primeiros momentos do Brasil
publicada
independente, funcionou
como
nossa certidão de nascimento. Precisávamos, aquela época, do ufa_
nismo do poeta romântico e da supervalorização de nossos maiores
elementos nacionais.
A Canção do Exílio mítificou-se através dos tempos
e podemos percebê-lo através das
inúmeras composições que revigo
raram os mitos por ela propostos. A Canção romântica foi o poema
mais retomado na literatura brasileira através de estilizações ,
paráfrases ou paródias. Há que se refletir muito sobre esta
fa_
to. Não somos os primeiros a fazê-lo, nem seremos os últimos. Re_
solvemos empreender este trabalho, pois, paralelamente aos
tistas, como estudiosos da Literatura, também, nestes
ar_
últimos
.90
anos,
temos
s o f r i d o com a
de nosso p a í s .
to de
Consideramos,
recrudescimento
tar nossa m o d e s t a
sional
em que
situação cultural,
portanto,
da crise de
contribuição e
social
fundamental
e
neste
identidade n a c i o n a l ,
nosso a l e r t a ,
na
política
área
momen
apresen
profis_
atuamos.
^
• 91
CANÇÃO
DO
EXÍLIO
Dalton Trevisan
Não
permita
Deus
Sem que daqui
Sem que
diga
que
me vá
adeus
Onde já não canta
Morrer
ó
eu morra
supremo
ao
o
pinheiro
sabia
desfrute
Em Curitiba é que não dá
Com o poetinha
0
Rafa e o X a x u f a
Na missa
0
bem viu o que
das
trêfego
g o r g e a n d o os
seis
Jaime
na
Ao menos
Nem
no
O Wanderlei
Ó Santo
Sem contar
Oficiada
Nessa
a
pelo
hora
da Ordem
te
série
muda
de m u l h e r e s
da
em nome
da
rua
vida
necrológio
já
Deus
versinhos
palminha
nio é
g a i a t o já
fosse
pensar
igreja
batia
Em Curitiba a m o r t e
Um vereador
fizeram
imaginou
nio
o
sessão
Wanderlei
pública
grão-mestre
você
desiste
da
dos
onze
positivistas
Davi
própria
morte
• 92
Em Curitiba é que
0
Sílvio
Melhor
iria
nio
filmar
ter
0 Hélio dirá
que
foi
nunca
ter
Muito
menos
amigo
faça
para
Em
ultímo
caso
Que
seja
Não
avise
Nada
tido
tua
vida
teu
a m i g o de
mulher
infância
Curitiba
nem
filho
de orador à beira
imaginou
Os
trezentos
o
vem a
Com o
Para
milhões
de
c h u m a ç o de
tua
da
maca
desgracida
tapar
do
presidente
Arrastando-se
túmulo
da
OAB
bengala
dona
narina
A
Rosa
tampa
há
Maria
Cismou
Nem o
não
um
Fuja da missa
caixão
lágrimas
fingidas
noite
fundo
passarinho
sétima
Tudo menos
a
Cantada
falsete
em
teu
Iberê no a r t i g o de
de
roda
dona M e r c e d e s
não dirá
tremendo
como
do
de chorar
sozinho ã
Morreu
de
olho o u v i d o
longe da
ser m o r t o o mais
A Juriti
cadeira
algodão
Ah
a
Paranaense
Mercedes
sei
lacrada
p i p i l a n d o o verso
Academia
Porque o o u v i d o nao
Bem
infância
nio morrer
longe de
Já
Lã
dá
vivido
Antes
Tudo
não
dia
famosa missa
pelo
do
Dom
s é t i m o dia
Fedalto
.93
Castigo bastante
Morrer
Não
ser
bem
prazeres
Você
que
longe
já
daqui
se
entregue
leprosas
Aos
ratos
piolhentos
Sem
esquecer
Ah
nunca
Para
das
morrer
A araponga
de
de
em
até
com caspa
fubá
da
nanicas
mimoso
meia-noite
e o Mazza
Que
tais
não e n c o n t r o eu
Não
permita
g o r j e a n d o os
primores
cá
Deus
Sem que daqui
O sabiá
borboleta
Final
Vinholes
Minha
sobrancelha
Curitiba
o Juízo
louca
na
gravatinha
corruídas
broinha
sofrer
lá
defendeu
baratas
Trincando
Curitiba
não dá
e n c o n t r o eu
em vida
Nem morte
que
em
Deus
Mais
Às
viver
em C u r i t i b a
permita
A não
é
terra
me vá
já
não
não
canta
tem
pinheiro
mais
Perdeu as
penas
enterrou
De
sangue
tingiu
Ao
último
pinheiro
a
água
no peito o bico a f i a d o
sulfurosa
do
rio
Foi
demais
o d e n t i n h o de o u r o do e x - p a d r e
Com
raízes
e
tudo a r r a n c o u - s e
Montou
numa
nuvem
E voou
sim voou
Em Curitiba o
pedras
ligeira
sobre as
teu
das
Belém
fim
asas
do bem-te-vi
Emir
.94
Crucificado
Consolo
numa
trovinha
coroa
Na
eterna
roxa
de
flores
em gasolina
E ateando
fogo
de
e difícil
o
vestido
Teu
nobre
velório
Rondando a
Batatinha
Bem
A
no
salão
porta
lã
e s t a r ã o os
algodão-doce
frita
gente
longe
você
Teu
rosto
da
Reitoria
carrinhos
em
fatia
surdina
Curitiba
repórter Margarita
Que
cetim
pipoca
melancia
não m o r r e em
de
de
guerra
será
amendoim
negro
de e n t e n d e r
de
a
assim
pano
A m a l d i ç ã o do velho Jeová
Se
Salomão
saudade da V a l q u í r i a
Embebendo
De
do
único
É a
Dura
assim
foi
anuncia
enterrado
no jornal
das
oito
vivo
irreconhecível
Po rérn c o l o r i d o
Aparecerá
no
Pode
amizade
crer
próximo
capítulo
Agora
vem o
Que
doce morrer em C u r i t i b a
é
Para
tua
Veja
o que
Depois
de
No bosque
Por
sete
Pagos
da
novela
Emiliano
Curitiba m e r d o s a
fizeram com a
santa
das
é
líder
isto aqui
Maria
ó babaca
Bueno
feminista
flores m u r c h a s
da
Boca
Rouge
dinheiros
pelo negro p a c h o l a
e o
polaquinho
fanho
.95
O
Esmaga
cuspirá
Ó supremo
que
Não permita
Deus
Nunca
r e t r a t i n h o do
daqui
mais
não dá
que
eu
morra
me vá
aviste
os
Onde já não canta o
OUTRA
teu
desfrute
Em C u r i t i b a
Sem que
no
CANÇÃO
DO
pinheiros
sabiá
EXÍLIO
Eduardo Alves da Costa
Minha
terra
tem
Corínthians
De
copas
Que
outros
que
São corvos
povoar
aqui
do
revoam
noite
olhos
anos
crimes.
nunca m a i s ,
nossa
Com duros
Que os
de
açoite
esquecem jamais.
Em cismar s o z i n h o ,
Sob um ceu
Nenhum
livre
livre
tenho
lembro do
Pulsava meu
Como
ao
poluído,
prazer
Porque me
Em que
times
exuberantes
ocultam muitos
As aves
A
e
Palmeiras,
na
sem e s t r e l a s ,
eu
cá;
tempo
campina
coração,
sabiá;
Nas c a p o e i r a s ,
relento,
voava,
ciscando
cantando
túmulo
.96
Nos m a t a g a i s ,
Tem mais
Mais
flores,
terrores,
De mil
Minha
terra
delírio
Acrobacia
De
primores,
mocidade
amordaçado:
impossível
saltimbanco
Equilibrado
esquizôide,
no
risível
De g r a n d e z a que
pelo m a t r e i r o
Minha
terra
recantos
Praias
Que
cupim
e
da
rompe,
safadeza.
encantos
naturais,
monazíticas,
minerais
se vio e nio v o l t a m m a i s .
A chorar
Penso,
Sem
tem
de a r e i a s
Subsolos
sonho
se e s g a r ç a
Roído
De
vida
boçalidade,
fazem da
Um
nossa
fatais.
tem
de
hoje a m o r t e
noturnos,
suores
Requintes
Que
onde
sozinho,
medito e
encontrar
A nio
ser
aflito,
reflito,
solução;
voar
para
dentro,
V o l t a r as asas i m i s é r i a ,
À doença
Que
e ao
sofrimento,
transcedem
0
pensamento
E
a
o quanto
conceber
consciência
suportar.
possam
.97
Minha
terra
tem
A baloiçar,
palmeiras
indiferentes
Aos
poetas
Que
sonham de olhos
A
e
abertos,
rilhar os d e n t e s .
Não
permita
Pelo crime
E
dementes
possa
Com os
De
Do
eu
Que
de estar
cabelos
ao v e n t o
desfrute os
gorjeia
nao
atento;
momento.
cantodo
Onde
que eu morra
chegar à v e l h i c e
melhor
Que
Deus
primores
sabiá,
a
liberdade
encontro
por
cá.
.98
N O T A S
-
1. CYNTRÃO,
CAPÍTULO I I I
Eduardo.
Lima E d i t o r a ,
2. GULLAR,
Ferreira.
neiro,
0 Natal
Sem V o c ê ,
Rio de J a n e i r o ,
Waldir
1986.
Vanguarda e Subdesenvolvimento.
Civilização Brasileira,
3. BRITO, A n t ô n i o Carlos de et a l i i .
Buarque de H o l l a n d a .
Rio de
Ja
1978.
26
poetas h o j e .
Rio de J a n e i r o .
Org.Heloísa
Sabor do B r a s i l ,
1976.
.93
CONCLUSÕES
Tendo chegado a parte final de nossas
cabe-nos aqui
exposições,
retomar algumas de premissas propostas na
introdu_
ção e no corpo deste trabalho, no que dizem respeito à tese
que
nos propusemos a estudar e a defender.
Nossa
intenção foi
fazer um estudo do
universo
simbólico comum que de Gonçalves Dias, a partir de sua
"Canção
do Exílio", a Dalton Trevisan e Chico Buarque de Hollanda
tem
composto a nossa ideologia nacionalista, durante quase dois sécu_
los.
A questão principal, portanto, e por que em
diver_
sos momentos de nossa história, sobretudo os de crise de
dade para o país, famosos poetas retomaram os signos
identi_
propostos
por Gonçalves Dias, no seu lírico poema ufanista, motivado
exílio em terra estrangeira? Falamos do exílio em terra
pelo
estran_
geira, sem receio de que pareça redundante, pois, conforme
monstramos, através do corpus
estudado nos capítulos
res, o exílio dos poetas pode variar em função do
Aparece, por vezes, como o vivenciado pelos poetas
de
anterio
referencial.
românticos,
Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu, onde o poeta situa-se,
de
fato, fora do país; aparece também como exílio temporal, no
ca
so de Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade, visto que
"eu" lírico não determina o espaço em que se encontra; ou
o
ainda
.100
temos,diversamente,
das " C a n ç õ e s " de
o exílio na própria
Dalton T r e v i s a n
discurso poético para
tisfações
vividos
A
c o n j u n ç ã o dos
em cada
que,
primeiro,
o sabiá e a
em
solo
foram criados
da
sempre,
independência
ral
de 1 9 2 2 ,
e pelo
Barthes,
portanto,
Isto não
política
de
que o
,á
dos mesmos
latente na
História,
Em outras p a l a v r a s ,
plicaria
imediata,
tico do texto não e s t á ,
no sentido p r o f u n d o ,
nacionalismo
mas
texto com a
que
simbólico
criando
dito pela
analisa
a
Roland
texto
lite
História.
figuração
fi
linguagem.
literatura
o mundo
im_
exterior
significados próprios
pelo m o m e n t o r e a l ,
portanto,
70.
contém aquilo que
dizer que a
que
30,
de c o l o c a r - s e
com
em seu
em si, 0 valor
sentido
e
artís
literal,
gerado pela d i m e n s ã o simbólica a que nos
anteriormente.
-
Cultu_
nos anos
literário contenha a
que não foi
da m a n e i r a e s p e c í f i c a da A r t e ,
Brasil:
décadas de 60 e
mas a c r e d i t a m o s ,
p o d e r í a m o s aqui
em um d i s c u r s o
de forma
terra
independência
naturalmente,
social,
já
signos
identidade nacional
chamada
a r t i c u l a ç ã o do
texto
da aparência de estrutura
ferimos
através
na
políticos
p r o f u n d o do v a l o r a r t í s t i c o do
buscado na
insa_
uma q u e s t ã o e x t r e m a m e n t e a t u a l ,
1822
serviço do s o c i a l ,
significa
o
explicita-se
passando pelo Estado Novo de V a r g a s ,
ser
que usam
sociais e
nos m o m e n t o s de c r i s e de
que o alcance
rário deve
não,
fizemos
para v a l o r i z a ç ã o da
Não se trata a q u i ,
cou
que
longo p e r í o d o de g o v e r n o m i l i t a r das
literatura a
caso
A q u e s t ã o da m a n i f e s t a ç ã o do
na literatura brasileira,
retomada,
o
seus d e s g o s t o s e
culturais,
expressaram-se
palmeira.
é
pátrio.
resposta à p e r g u n t a
poema,
como
e Murilo Mendes,
relatar e d e n u n c i a r
fatos e s t é t i c o s ,
que,
pátria,
mas
re
.101
A análise
de
textual
que
Exílio" visou a nelas e n c o n t r a r
despontam,
alguns,
sem nos
pois,
sentidos
segundo a
teoria de B a r t h e s ,
poemas
co-alegórica
do-nos no
cifrar a
uma,
Assim,
esteve e q u i l i b r a d a
de e e x t e r i o r i d a d e , ou m e l h o r ,
são de todos os
níveis,
é o MITO.
cuja
na
dinâmica
mas algumas
e a mostrar
a
como
mas a
interiorida_
força m e d i a d o r a ,
emergia
para
localizan_
acompanhar e
tentar de_
finalmente expormos
nio
verdades.
paráfrase e e s t i l i z a ç ã o ,
Sant'Anna.
Diz o autor
literatura
b r a s i l e i r a como uma
predomina a
imitação
se
uma
introduz
propostos
que talvez
se
possa
s u c e s s ã o de
(até o século X V I I I ) ,
certa
individualidade
de
pa_
por A f o n s o Romano
de
pensar a
três
a
fase
nacional
até o
da
imaturo para
tir
era
século XVIII
viveu o d o m í n i o da
produzir obras mais
do século XIX houve a d e s c o b e r t a
m o v i m e n t o p a r o d í s t i c o que
mo,
coincidiria
história
fases:
e
uma
da
onde
romântica onde
uma
na onde o processo criador atingiu m a i o r a u t o n o m i a .
Brasil
ten-
simbóli_
Introduzimos em nossa a n á l i s e os c o n c e i t o s
ródia,
reve_
no p o n t o de c o n v e r g ê n c i a ou
interna,
a
nossa proposta de aná_
C o u b e - n o s aí o e s f o r ç o d e ,
possíveis
de
leitura não visa
t e n s ã o entre
interior deste jogo de s í m b o l o s ,
sua
as " C a n ç õ e s
a encerrar o texto em um s i s t e m a ,
lar p o s s i b i l i d a d e s de sua a b e r t u r a .
dos
sobre
p r e o c u p a r m o s m u i t o com o " e s q u e c i m e n t o "
fundar uma v e r d a d e ,
1ise
realizamos
fase
Ou
paráfrase,
moder
seja,
o
pois
ain
individualizadas.
A
par
de e s t i l i z a ç ã o e e n f i m ,
com o a d v e n t o
do
o
modernis
em nossa c u l t u r a .
A princípio,
cultural no Brasil
de C o m p a r a ç ã o a
esta o r g a n i z a ç ã o 'da história literária
poderia
Europa,
servir,
de onde
tendo-se como
sempre
primeiramente
e
referencial
partiram
.102
as m o v i m e n t a ç õ e s a r t í s t i c a s .
ria
t r a b a l h a n d o apenas
que as
fontes
Cultural",
outra.
les
sob o eixo das
e o r i g e n s estariam ou
c r i a n d o uma
Com i s s o ,
que
No e n t a n t o ,
hegemonia
esta o r g a n i z a ç ã o
semelhanças,
no p a s s a d o ou
i n t r o d u z i r a m as
pressupondo
na
"Capital
de uma o b r a / o u c u l t u r a ,
a p a g a m - s e as d i f e r e n ç a s ,
alterações
sobre
ou a
um
esta
sobre a
importância daque_
primeiro modelo
de
composição.
Consideramos
modernistas,
o mesmo que
que
nio
por nós a n a l i s a d o s ,
dizer
que
de Assis a S t e r n e .
determinando a
há
autores
para com G o n ç a l v e s D i a s .
Garcia M a r q u e s
Em v e r d a d e ,
nenhum d é b i t o dos
deve
a
o que há é
intertextualidade.
Faulkner
ou
Machado
um jogo dos
A partir d a í ,
rado u l t r a p a s s a d o o e n f o q u e que apenas
Seria
textos
seria
conside_
falava de " f o n t e s " ,
"i n
fluências" e "plágios".
Para
entio,
e f e i t o do nosso e s t u d o ,
a q u e s t ã o do d e s v i o ,
na e s t i l i z a ç a o o d e s v i o
em
relação a
ao
leitor,
um
Gonçalves Dias,
Andrade,
se,
tolerável
e na
mínimo,
paródia o desvio
Estes c o n c e i t o s
seriam
total,
relativos
se este não conhece a " C a n ç ã o do E x í l i o " ,
não entenderá
por e x e m p l o .
estilizaçao e
receptor bem
considerar,
vendo na p a r á f r a s e o d e s v i o
texto m a t r i z .
pois,
resolvemos
nada
Em outros
paródia
informado,
são
para
da " C a n ç ã o " de Oswald
termos,
recursos
que
de
possa
seria dizer q u e ,
apenas
percebidos
d e c o d i f i c a r os
de
paráfra_
por
um
textos
su
perpostos.
Selecionamos
lio",
de G o n ç a l v e s D i a s ,
autor brasileiro
a
criar
m e n t a d a na n a c i o n a l i d a d e .
como m a t r i z
por
uma
o
poema
" C a n ç ã o do
ter este o m é r i t o de
ser o p r i m e i r o
obra e s t e t i c a m e n t e v á l i d a ,
Conforme demonstramos
Exí
no C a p í t u l o
funda
I,
.103
os e l e m e n t o s
nativos
forma u f a n i s t a ,
tros
poetas,
do B r a s i l ,
vistos
pelo poeta
abriram c a m i n h o para q u e ,
u t i l i z a n d o outra e s t é t i c a ,
mesmos e l e m e n t o s
uma
conotação diversa,
romântico
de
posteriormente,
OU_
ou e m p r e s t a n d o a
estes
p u d e s s e m falar
sobre
a
suaterranatal.
Esta
de
"magia"
um século d e p r e e n d e - s e
por outro
ta,
sim,
lado,
da
do
que
tem e n v o l v i d o os
não a p e n a s
dos
aspectos
transcendência
desse a c o r d o
na c o m b i n a ç ã o original
destes,
refletindo
relação que o e s c r i t o r
mantém com o
Em s e g u i d a ,
a "Canção" escrita
e
uma
em C a s i m i r o o exagero
g r a u , m a s ; foi
de
poeticamente
nada
relação ao
retórico
conteudísticas
inusitadas.
polêmico Oswald
texto
romântico
em
seu
Realiza,
transcri_
original.
mais
alto
símbo_
reforçá-los,
fizeram
Foi
com
fosse
várias
ainda
que
o
tendências
revigoramento
a p a r e c e n d o de
de A n d r a d e .
O
poeta
inverte o
portanto,
formas
s e n t i d o do
um texto p a r o d í s t i c o ,
na
es
dos
por
o caso do " C a n t o de R e g r e s s o à P á t r i a " ,
original, contrapondo a estética modernista à estética
ca.
texto-
originais.
símbolus nacionalistas brasileiros
vezes
a
literária,
técnica de c i t a ç ã o e
Com o advento do M o d e r n i s m o ,
e
toda
o primeiro poeta a d e i x a r - s e " t o c a r " pelos
sob moldes
tilísticas
Dias
p a r á f r a s e do
los de b r a s i l i d a d e da " C a n ç ã o do E x í l i o " e a
que
Gonçalves
da mesma época
por C a s i m i r o de A b r e u ,
já que o que o c o r r e é
Resul_
real.
ressaltamos,
com um d e s l o c a m e n t o m í n i m o em
Temos
ou,
significante/significado,
genialidade
ção,
formais
trabalho com as á r e a s do s i g n i f i c a d o .
gerador do S I G N O , d e m o n s t r a n d o a
matriz,
leitores há mais
do
texto
românti_
tomada de
uma
.104
consciência c r í t i c a em
texto m a t r i z .
são as
0 que Oswald
semelhanças
do seu
sim as d i f e r e n ç a s .
assim,
relaçio ã
agiria
busca,
de
pelo todo,
nlo havia
Gonçalves
Romano de
invertido ou
m o d o que pode
to focado num e l e m e n t o d o m i n a n t e ,
que
no
contrariamente a Casimiro,
S e g u n d o Afonso
tal
natal,
exílio com o de
como um e s p e l h o
ra os detalhes
terra
Dias,
Sant'Anna
uma
inverter
invertendo,
lente
uma
nio
a
mas
paródia,
que
parte
exage
do elemeri
portanto,
a
parte
como se faz na c a r i c a t u r a .
C o m p o n d o este panorama das " C a n ç õ e s de E x í l i o " p _a_
rodísticas,
a n a l i s a m o s os
Alves da Costa.
Já nos
ceito de p a r ó d i a ,
por
trabalho.
Pois bem,
lhamento,
o de
a
textos de Dalton T r e v i s a n e de
temos
nós
referido e x a u s t i v a m e n t e a t é ,
a p l i c a d o aos
expressou-se
Fontainier,
deste m o d o
na
ao coji
estudados
neste
em seu
f e n ô m e n o que abarca o h u m o r ,
sátira e mesmo o c e p t i c i s m o do a u t o r ,
curso poético.
textos
a c r e s c e n t a m o s a este c o n c e i t o ,
IRONIA,
Eduardo
o
deta_
sarcasmo,
c o m p o s i ç ã o de
seu
em seu Les Figures du D j scou r s ,
sobre a
figura
de
1968,
linguagem em q u e s t i o :
"I ' ironie c o n s i s t e a dire par une r a i l l e r i e ,
p l a i s s a n t e ou
pense,
sérieuse,
suasao,
ironia
faire p e n s e r " .
serve ã
e s t i m u l a n d o em nós c o n v i c ç õ e s e o p i n i õ e s
partir da a t i t u d e ,
do
Dalton Trevisan é,
em nossa
Mais c o n t i s t a ,
no e n t a n t o ,
tom e do estilo p r o p o s t o s
literatura,
pelo v o l u m e de
em nosso
lio c o n t e m p o r â n e o .
vive,
que a
trabalho,
Dalton
sua
prática
per
a
no t e x t o p o é t i c o .
literária,
como poeta de uma
retrato da
partieu 1 a r i z a n d o o e s p a ç o de e x í l i o ,
da
promovidos
um dos m e s t r e s
produçio
apresenta um
ou
le c o n t r a i r e de ce qu'on
ou de ce qu'on veut
Diríamos m a i s ,
dis
da
ironia.
aparece,
C a n ç ã o de
Exí
s o c i e d a d e em que
que não é a
Coimbra
.105
longínqua
de G o n ç a l v e s D i a s ,
mas a
sua
própria cidade
de
Curiti_
ba . O p o e t a , a t r a v é s de c o m e n t á r i o s e x t r e m a m e n t e i r ô n i c o s ,
põe
um painel
artista:
gada
a
autor
tipos que o estariam
uma
vida
denuncia
artificial,
esta
brasileira,
C a n ç ã o do
em que se
vez mais
das
ma da p o l u i ç ã o ,
abrindo
suas
social
Alves
brasileira.
da
inicial
Costa
piegas ,
situação
níveis,
seu
vivido
país. O espaço
sobre
a
times de futebol
situa apenas
politicamente
uma
e ao
nesta
São
cidade,
opressora
critica
de
proble_
vivida
mais do que t u d o ,
profunda
com um d i s t a n c i a m e n t o
cidade de
a
e
situação
o texto de Eduardo
absoluto
do
sentido
Os símbolos n a c i o n a i s de G o n ç a l v e s Dias são des_
c o n s t r u í d o s um a um, m a s , no final
dos v e r s o s ,
los é
única e última esperança
re-va1orizado,
um cidadão
com
particularizado
Em relação ao poema m a t r i z ,
aparece
daquele.
repensou o
Seu texto é a m a r g o ,
em d i v e r s o s
hipócritas. O
Eduardo Alves da C o s t a ,
indicações
mas o poeta não se
pelo país c o m o um todo.
apresenta,
também
algumas
ã
li_
empobrecido.
r e f e r ê n c i a s aos
reflexões
e
e
como um m i c r o c o s m o da
como o de D a l t o n ,
Percebemos
através
falsos
sentimentalismo
sentido,
Exílio",
insere não é,
forma ó b v i a .
valores
apegada ao
Neste m e s m o
a "Outra
de
sociedade m e d i o c r i z a d a ,
um c o t i d i a n o cada
Paulo,
m a s s a c r a n d o como pessoa
é a a p r e s e n t a ç ã o de uma c o m u n i d a d e p e q u e n o - b u r g u e s a ,
sociedade
em
de
com_
como sendo a
s o f r i d o e o p r i m i d o pela
"Que eu
desfrute os
falta
primores
Do canto do S a b i á ,
Onde
Que
gorgeia
a
de
liberdade
não e n c o n t r o por c á " .
um destes
liberdade:
símbo_
de
.106
Não e s t a m o s ,
a qualquer
quado,
das
tipo de ordem c r o n o l ó g i c a .
achamos
intenções
te bloco de
conveniente
dos
textos
intenções c r í t i c a s e
A
os
tender-se-ão ao
a
sua
ou
irônicas v ê m - s e juntar aos
an_
perceberá
José
Paulo P a e s .
que,
pelo p o e t a ,
melhor o jogo
Este
textual
pelo texto p o é t i c o em q u e s t ã o . O " j o g o "
ção" de G o n ç a l v e s
Dias:
no Brasil
elementos n a c i o n a i s .
os s a b i á s , g a t u r a m o s
As
réis
inverso c u l t u r a l ,
Veneza.
das
a
importante
sufoca
do
tipo de
...").
poema
Alves da Costa.
Há,
poeta
exílio
nos
como nos do autorda "Outra
crítica
frutas
dúzia
o
em que
seja
de
forma
de
Murilo
s í m b o l o s da
"Can_
que m o s t r a a
são m a c i e i r a s
A
em
ao
inva
sua
própria
por
pois
aparece
"mas
brinda
mostra
com
preocu
estrangeira,
tao
terra,
Dalton
Exílio",
nos
e
a
uma
caracterizan
Trevisan
ú l t i m o s versos do poema
C a n ç ã o do
dos
Califórnia
gostosas,
Murilo Mendes
influência
sofrido
da
presente
(as mais
romântico,
pação do c i d a d ã o com a o p r e s s i v a
opressiva que
por
e o p r o c e s s o de " d e s i d e n t i f i c a ç ã o "
palmeiras
de
no preço e x o r b i t a n t e
custam cem mil
um
inverso os
es_
tao maior
proposto,
a
meio
receptor,
sócio-cultural
ao c o n t e x t o
r e l a c i o n a r ao
por
interrelacionados,
pelo c o n t e x t o
relacionada
Mendes é, j u s t a m e n t e ,
do o mesmo
e
receptor do t e x t o .
condicionado
e
são e s t r a n g e i r a
partir
A es_
Esta v i s ã o é c o d i f i c a d a
sensibilidade
uma parodia
poéticos
a
como estrutura comunicativa manifestamen_
leitor,
estará
subjarente,
reflexões
analisados.
do trabalho e s t é t i c o com os S I G N O S ,
se d e s e n v o l v e u
obedecendo
é a m a n i f e s t a ç ã o de um dizer de modo peculiar
visão de um m u n d o .
suz v e z ,
nossas
poetas M u r i l o Mendes
ironia,
lingüística,
finais,
Como p r o c e d i m e n t o mais ade_
relacionar
coincidentes
teriormente c i t a d o s ,
te
nestas c o n c l u s õ e s
e
Eduardo
de M u r i l o M e n d e s ,
pequena
confissão
.107
de esperança, na vontade manifesta de sentir-se, de novo,
genui_
namente brasileiro. O poeta refere-se, então, ao maior MITO, cria_
do e retomado na poesia brasileira: "Ai quem me dera .../ouvir um
sabiá com certidão de
idade".
Por sua vez, José Paulo Paes realmente revoluciona
a expressão do exílio em sua "Canção de Exílio Facilitada",
redu_
zindo a forma a versos de uma sílaba apenas, que sintetizam
o
que teria sobrado desse Brasil, e deste sentimento de
brasilida_
de, na segunda metade do século XX. A concisão do poeta
permite
com que ganhe em expressividade conteudístíca. O poeta trata, em
sua Canção, do exílio essencial, apresentando os
sentimentos-
chaves de sua relação com a terra natal. O que importa é a
sa
tisfação, que está lá, distante, enquanto que no lugar em
que
se encontra o que há é insatisfação, tédio e descontentamento .
José Paulo Paes mantém, em seu sentido básico, os símbolos
nossa nacionalidade, atendendo, porem, ás exigências
de
estéticas
de seu tempo, se observarmos a estrutura formal que escolheu
pa
ra expressar-se.
Já com uma visão diferente do exílio, Mário Quintana
e Carlos Drummond de Andrade expressam a problematização do "eu"
lírico não localizado no espaço. Em suas "Canções" é a
dimensão
temporal a responsável
tristeza,
pelos sentimentos de angústia e
presentes nos textos.
A Canção de Mário Quintana aparece, segundo
os
conceitos a que nos referimos no início destas conclusões,
como
uma estilização do texto matriz. Há um desvio tolerável em
rela
ção a este último, sem que, contudo, haja traição a seu
signifi
cado primeiro. O poeta nega os dois valores fundamentais do
poe_
ma
de
Gonçalves
um mero
sabiá
Dias
...")
culmina com uma
("Minha
e
terra
introduz
perspectiva
(físico),
sente
instante
Na "Nova
poeta
espécie de
uma
apenas
temporal.
fazer
ra:
o
Este
parte
1onge
mesma,
na
quer voltar
III,
o
quanto a de Carlos
0
pervertê-lo.
p r o p i c i a n d o uma
Canção,
ao c o n t r á r i o ,
Drummond
os
confirma,
Palmeira,
uma
e o
nacionalidade
Longe").
grandeza
que existe
brasilei
observa_
por
presente do p o e t a .
temporal,
na
um
o
passa
Conforme
fantástico".
(ou
para
no e l e m e n t o que
da
tanto a
Percebemos
si
Ele
aí
c o n f i r m a ç ã o da vonta
tempo p a s s a d o )
expressão
Drummond de A n d r a d e ,
- A l i a n d o estas
a
sua
poética
lírico de
dois
Dias,
o que
grandes
de M a r i o
em
Qutntana
apóia-se,
sobretudo,
no
significa
mergulhar
em
estados
da
p r ó s p c ç ã o dos
características
Gonçalves
Exílio destes
textos p o d e r o s o s ,
Mário Q u i n t a n a .
seria f e l i z " .
um discurso m a r c a d a m e n t e
de
trata
o
contudo,
Em sua
símbolos
ao e s p a ç o
Compreender
canção matriz de
se
que
utiliza
no d i s c u r s o ,
tudo belo e
Como v i m o s ,
ções
sem,
concentra-se
longe é
retornar
que " s ó , na n o i t e ,
alma.
pessoal
c o n j u n t o de
para "onde é
humano.
Drummond
semelhante a
importância que a s s u m e na vida
de do poeta de
nao
p a r c i a l m e n t e o e i x o do e x í l i o espacial
fusão entre o espacial
valor
forma
inserção
("Um sabiá/Na
mos no C a p í t u l o
uma
de
deslocamento
do
já
de
i n a d a p t a ç ã o do tempo pre_
Exílio",
inversão de v a l o r e s ,
deslocando
em vez
de a g o r a ? " ) .
reforma do texto o r i g i n a l .
não propõe uma
a
mas de uma
retoma o tema da c a n ç ã o m a t r i z ,
0 que ocorre é
e
um q u e s t i o n a m e n t o existencial
C a n ç ã o do
processo de e s t i l í z a ç ã o ,
tem p a l m e i r a s
d i f e r e n t e de e x í l i o :
do exílio espacial
("Mas onde o
não
aos
elementos
podemos
poetas
reiteradosda
perceber das
modernistas
no s e n t i d o de a f i r m a ç ã o n a c i o n a l .
são
Can
dois
.109
Como seqüência a estas
saltar que as
reflexões, é preciso
referências a épocas de nossa H i s t ó r i a ,
neste
b a l h o , visaram a uma melhor c o m p r e e n s ã o dos fatos q u e ,
velmente,
tados.
duais
influenciaram o u n i v e r s o mental
Mesmo algumas
obras
podem situar-se
voltadas
no plano da
no plano de a t u a l i d a d e . Neste
de
Ferreira Gullar
(que,
toda arte é p o l í t i c a ,
por
para
sentido,
sua v e z ,
"uma vez que
poetas por nós
política,
concordamos
seja,
com a
teoria
interpretou L u k á c s ) de que
se e m p r e s t a a esta
Política,
palavra
em
realidade se dá sempre e n q u a n t o h i s t ó r i a humana e na
medi_
isto é,
socialmen_
politicamente definido".
j u s t a m e n t e em um p e r í o d o p a r t i c u l a r m e n t e
para os b r a s i l e i r o s amantes da
ciai,
índiví_
na medida
Foi
cil
que Chico Buarque de H o l l a n d a ,
tica e política de seus
Após a
poemas,
tomada
de 1 9 6 4 , os artistas e
difí_
l i b e r d a d e e da part ici p a ç ã o so_
sem nenhum f a v o r ,
figurar como um de nossos m e l h o r e s p o e t a s ,
quase
pela
passou
relevância
sempre m u s i c a d o s .
do g o v e r n o pelos m i l i t a r e s ,
intelectuais
nio c o n i v e n t e s
no
ano
com um regime
livre e x p r e s s ã o e que t r a n s g r e d i a os d i r e i t o s
manns b á s i c o s ,
tentavam e x p r e s s a r - s e u t i l i z a n d o recursos
da
(como p s e u d ô n i m o s )
censura
vigente.
pátria e o u t r o s ,
foram p r e s o s e
artistas mais visados
negros
diver_
t o r t u r a d o s na
própria
exilados.
Chico Buarque esteve
dos
hu_
na e s p e r a n ç a de " b u r l a r " a a r b i t r a r i e d a d e
Muitos
ainda,
a
esté_
que combatia a
sos
ci_
ou
da em que a historia humana se dá como d e s t i n o c o m u m ,
te,
tra_
indubita_
t e m á t i c a s mais
realidade
um s i g n i f i c a d o s u f i c i e n t e m e n t e a m p l o .
que a
dos
res_
fora
pela a ç ã o da
do B r a s i l ,
censura.
pois era
Naqueles
um
anos
(sem medo de usar p r o p o s i t a d a m e n t e um clichê tão expressi_
.110
vo . . . ) , as canções de protesto se sucediam, mas, em poucos dias,
o público já não tinha mais acesso às suas letras. Foi o caso de
"Apesar de Você", citada no Capítulo III deste estudo.
A exemplo dos grandes poetas da literatura
brasi_
leira, Chico compôs a sua Canção de Exílio, colocando como
títu_
Io do poema o maior MITO de nossa poesia nacional: "Sabia".
Con_
siderada, por alguns críticos desatentos (e desinformados...) co_
mo anõdina, a canção do poeta-composi tor é um exemplo da
dos símbolos de nacionalismo,
força
resgatados num tempo tao distante.
Em outro contexto social, tão distinto da época romântica, a
tilização em "Sabiá", pôde passar-nos a consciência da
es_
destrui_
ção de valores importantes e característicos da terra natal
do
poeta que, apesar de tudo, insistiu na idéia do retorno("Vou vol_
tar/Sei que ainda vou voltar/Não vai ser em v ã o " ) . A idéia funda_
mental, aí, é de que um novo tempo possa ser vivido e que os
lores fundamentais de nossa nacionalidade possam ainda ser
va_
revi_
gorados.
Se há que se comprovar que Chico Buarque fez
1ite_
ratura (e não paraliteratura , como querem alguns, tomando-se
mo para1iterário o texto sem caráter criativo, linear e
co_
referen_
cial ao extremo, e destituído de tensão v e r b a l ) , tomemos
como
exemplo definitivo alguns trechos do poema "Agora Falando Sério",
em que este faz do ato criador a matéria mesma da elaboração poé_
tica, e se realiza enquanto questionamento da sua própria
ficação. "Agora Falando Sério" usa como técnica a
signi_
intratextuali_
dade: o poeta investe contra o processo lírico para calar
imagens líricas e atingir o silêncio maior da poesia. A
as
referên_
cia expressa a dois de seus poemas anteriores, "A Banda" e
"Sa_
.111
biã",
anuncia a
cio da p o e s i a ,
ção p o é t i c a ,
intenção de
fecundar
toda a
sua obra
com o silên_
d a n d o - l h e nova s i g n i f i c a ç ã o , m e d i a n t e a reelabora_
como podemos ver a
"Agora
eu
a
falando
queria
que
se
um
e
acredita
espanta
um chute
pega
no
um
lirismo
no c a c h o r r o
um tiro no
Dou
cantar
bonita
que o mal
Dou
sério
não
cantiga
seguir:
fora
sabiá.
no v i o l i n o
faço a mala e c o r r o
prá
não ver
Eu
quero
um
silêncio
do
vizinho
e
chamar
e o
a
banda
fazer
silêncio
tão
doente
reclamar
polícia
e médico
síndico do meu
pedindo
prá
passar
eu
tédio
cantar
..."
C h i c o Buarque de Hollanda
do em nosso t r a b a l h o , p r o p o s i t a l m e n t e ,
foi
o ú l t i m o autor
cita_
pois o seu " e x í l i o
poéti_
c o " aparece como a outra ponta do n o v e l o l i t e r á r i o em que se
seriram os demais p o e t a s ,
sar.
cujas C a n ç õ e s de E x í l i o t e n t a m o s anali_
Sua e s t i l i z a ç ã o do poema m a t r i z é o e q u i l í b r i o entre as
ráfrases
de C a s i m i r o e as
in_
paródias
de Oswald e T r e v i s a n .
pa_
. 112
É como se em " S a b i á " a
do os
seus v a l o r e s
sua
elevar-se a
faltava
Cronologicamente,
poemas em paródia que
significação
tivesse
fundamentais e o b r a s i l e i r o ,
um cidadão c o n s c i e n t e .
terior a o u t r o s
pátria
(para n ó s ,
temporal,
na
a dignidade
de
a Canção de Chico é
an_
tratavam do e x í l i o ,
t r a n s c e n d e u o m o m e n t o em que
complemento
reconquista_
foi
mas
escrita,
consciência
para
crítica
c o n t e m p o r â n e o s do M o d e r n i s m o )
que
a Canção
de
Gonça1ves D i a s .
Referimo-nos,
ao
também poeta
Como homem e
e
ainda,
no t e r c e i r o e ú l t i m o C a p í t u l o
c o n t e m p o r â n e o de Chico
artista
sofreu os ataques
Buarque,
Caetano Veloso.
da c e n s u r a , à época da
di_
obrigado a exilar-se
em
tadura m i l i t a r dos anos 60 e 7 0 ,
e foi
Londres,
sobre o a f a s t a m e n t o da terra na_
tendo c o m p o s t o ,
tal.
Caetano
entrp
fotos
foi
e
estariam
("Viva
Viva
a
nos
suburbano
Maria/Viva
e
inaugurou
problemas
a
retratado
Bahia
e
(...)
sem
telefo
um m o v i m e n t o cujas
nas
Viva
raízes
possibilidades
ludicamente
que
antes das
nas
brasilei
urbano,
canções
Iracema/Viva
textos da
não foram apenas
vezes
logo deles
parecem em si
ultimas
idéias
c o n s i s t i r ã o no desfecho deste
ressaltar que os
cionados,
muitas
sem f u s i l / s e m fome
de
inte
Caetano:
Ipanema
(...)
Banda/Carmem Miranda").
taremos e
de
aquele que , "por
d e n o m i n a d o T r o p i c á l i a . Era o Brasil
Ainda,
mos
livros e
Brasil",
centradas
ras e que foi
riorano e
a estrela nacionalista brasileira
nomes/sem
ne/nn c o r a ç ã o do
também,
serviram
para
se d e s v i n c u l a s s e m .
desvirtuadas,
trabalho,
bibliografia,
suportes
que
que aqui
para as
nossas
Portanto,
gostaria
em seguida
nossas
intuições
apresen
h i p ó t e s e s . Por
ganhassem
se a l g u m a s
é porque d e s v i r t u a d a s
rela
corpo
afirmações
podem ter
sido
.113
as a p r e e n s õ e s q u e ,
resultado
eventualmente,
delas
r e f l e x i v o que em nenhuma obra
fizemos,
crítica
objetivando
um
e n c o n t r a m o s pron_
to.
N o s s o u n i v e r s o mental
sores ou
que
nos
receptores
fez
sofrer
até
verso e prosa
uma
venciar
final
até o
X X I . Apesar de
deficitária,
da
de c i d a d i o s b r a s i l e i r o s , emis_
comunicação poética,
constituirmos
independência
desta
anos
para não dizer
nação.
do
Proclamamos
política que nio c o n s e g u i m o s
década
quinhentos
nossa
é constituído
de 8 0 ,
de
quase à beira
civilização,
calamitosa;
nossa
do
vi_
século
nossa e c o n o m i a
cultura
é
(in)
sem s a ú d e ,
quase
mulheres que,
/ou
competentes
da
sem v a l o r e s .
por m e i o de
sintetizadores
desta
área.
Não fosse
sua
arte,
força
tradições,
nem este a r r e m e d o de
país.
tão
que
importante à vida: o amor à p á t r i a .
canção matriz
de
sua
foram,
Dias
Os
as
grandes
nosso,
que,
a
poetas de
necessidade
têm
l e m b r a r e m - s e e de
de seu p o v o ,
quase s e m p r e ,
que
r e f l e t o r e s e/
da
terra
vi_
o que é
s e m p r e , que
revigorados
E é esta a
constantemente
l e m b r a r - n o s de
seu
próprio
de
formas p o é t i c a s d i v e r s a s ,
país
tem
como um eco
por
nossa
nossos
que o país
de
sido o u v i d o e
infindável,
é
governos
d e s a p r o v a m o s . O s e n t i m e n t o de e x í l i o de
sente o p r i m i d o em
as
de b r a s i l i d a d e da
e não da m i n o r i a que entra e sai
se
Brasil,
e não t e r í a m o s
o amor,
sempre
tido
e
tristezas e mesmo
meio de e s t i l i z a ç õ e s , p a r ó d i a s ou p a r á f r a s e s .
reflexão m a i o r :
homens
fez com que
símbolos
de d é c a d a s ,
pe_
sem e d u c a ç ã o ,
quem v a l o r i z a
E foi
belezas,
terra n a t a l .
através
emana
de seus c o s t u m e s ,
a q u e l e o r g u l h o e m o c i o n a d o de
incongruências
alguns
têm a g i d o como
Mas G o n ç a l v e s
animou os poetas a c a n t a r e m as
um povo
por
sensível
cie seu p o v o , de suas
brasse em nós
Somos
é
espo1ia_
da e a nossa p r o d u ç ã o a r t í s t i c a c o m p l e t a m e n t e d e s p r e s t i g i a d a
los órgãos
em
quem
repetido
no t e m p o .
. 114
Se literatura é c r i a ç ã o h u m a n a , o seu
namento com o
ser
que a
produz
só pode
ser
interrelacio_
c o m p r e e n d i d o como
f i l ó s o f o Martim H e i d e g g e r em Sobre o H u m a n i s m o ,
1967,
o
o
apresen_
tou :
"Transformar
permanente do
a única
SER q u e , e m
causa (Sache)
em
sua
linguagem
permanência,
do p e n s a m e n t o .
res e s s e n c i a i s dizem sempre o mesmo
to,
É
(das
Só o homem fala.
Inclua-se, a í , o papel
essencial
se e s s e n c i a l i z a a
esse
espera
pelo
ad-vento
homem,
isso que os
Selbe),
isso,
iguais
do h o m e m ,
no
entan
(das G l e i c h e ) " .
Só o homem
é
Por
histórico.
da arte como verdade de m a n i f e s _
pois é
história da
é
pensado
falar é a r t i c u l a r o d e s t i n o do SER.
isso só o homem p e n s a .
taçio do SER a t r a v é s
vez
por
não significa que digam sempre c o i s a s
Pensar e
que
cada
no d e s t i n o " e p o c a l " do
humanidade.
"Terra
por mais distante
o errante navegante
quem jamais te esqueceria?"
Caetano Veloso
ser
.115
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A ideologia nas Canções de Exílio: ufanismo e crítica