UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA DEPARTAMENTO DE TEORIA Dissertação: LITERÁRIA E LITERATURAS "A i d e o l o g i a nas Canções de E x í l i o : Ufanismo e C r í t i c a " Elaborada p o r : S y l v i a Helena Cyntrão DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO DEPARTAMENTO DE TEORIA LITERÁRIA E LITERATURAS DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA COMO REQUISITO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM LITERATURA BRASILEIRA Por: S y l v i a Helena C y n t r ã o Prof a orientadora Maria de Jesus E v a n g e l i s t a A Ideologia Exílio: nas Canções Ufanismo Dezembro/1988 e de Crítica Para FELIPE CYNTRÃO MEDEIROS CORRÊA, meu filho de nove anos. Na esperança de que, no futuro, não se sinta como um exilado, em sua própria pátria ... Agradecimentos A Profa Maria de Jesus Evangelista, orientadora sensível, segura e incansável. A Sylvia e Eduardo Cyntrão, meus pais, que me mostraram este caminho. A Marilda e Luiz Dusi, meus tios, que tornaram possível percorrê-lo. SUMÁRIO O o b j e t i v o desta comum que c o m p õ e a à poesia para social dissertação ideologia n a c i o n a l i s t a , m o d e r n i s t a de nossos d i a s . d e s e n v o l v e r nosso trabalho o tema é analisar o universo da poesia Escolhemos, do e x í l i o , aparece como uma e s p é c i e de u n a n i m i d a d e n a c i o n a l , quência na literatura Os sendo escrita tica. A verdade críticos pois tal portanto, este tema sua fre_ a brasileira. têm o b s e r v a d o que a poesia que vem repropõe o c a r á t e r p ú b l i c o e p o l í t i c o da fala construção (real romântica ou do objeto imaginária) poético subordina-se, do s u j e i t o e do g r u p o . poé_ portanto, à Nossa inten_ ção é d e m o n s t r a r que a q u e s t i o do n a c i o n a l i s m o é uma q u e s t ã o ex_ tremamente a t u a l , que revigoram os retomada símbolos nos dias de hoje por e s c r i t o r e s de b r a s i l i d a d e p r o p o s t o s , século XIX, por G o n ç a l v e s D i a s . E, tal, vimos ser a d e q u a d o aplicar método a b o r d a g e m do texto literário. s e m i ó t i c o de O presente los. 0 primeiro para no trabalho está dividido em três (A " C a n ç ã o do E x í l i o " de G o n ç a l v e s D i a s ) põe novidades i n te r p re ta t i va s , mas a p r e s e n t a uma s e l e ç ã o da dos m e l h o r e s e s t u d o s já sirva de referência realizados constante na sobre a o b r a , análise que faremos o capítu não pro revisa_ para que nos capítu los posteriores (esta sim, de cunho reflexivo pessoal) sobre "Canções de Exílio" que ã matriz de Gonçalves Dias se as seguiram até nossos dias. o segundo capítulo (A Canção do Exílio de Carlos Drummond de Andrade) centra-se nas Canções escritas por Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Mário Quintana e, sobretudo, na lise do poema de Drummond, objetivando demonstrar a aná_ intertextua_ 1idade, nesta espécie de "diálogo" que se estabelece entre poe_ tas e entre diferentes visões de mundo, a partir do resultado do trabalho estético, formal e ideológico obtido nos poemas. o terceiro capítulo (o exílio na poesia crítico-irô_ nica) estuda as Canções de Exílio de Dalton Trevisan, Eduardo Alves da Costa, José Paulo Paes, Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque de Hol landa, demonstrando o aspecto inovador dos textos e os aspectos resgatados da canção-matriz de Gonçalves Dias. A conclusio constata a presença dos elementos que transcenderam a mera significaçio de elementos concretos de um mundo real, já que em sua articulação com os outros signos do discurso poético, conquistaram um campo mítico, como símbolos que remetem à brasilidade e ao nacionalismo, seja de forma nista-exaltativa ou crítica-irônica. Eles falam do que não dito na História, em seu particular espaço conotativo. ufa_ foi Í N D I C E INTRODUÇÃO 11 CAPÍTULO I. A "CANÇÃO DO EXÍLIO" DE GONÇALVES DIAS 1.1. DA RECEPÇÃO DA CANÇÃO DO EXÍLIO 22 1.2. A "CANÇÃO DO EXÍLIO" E O CONTEXTO LÍTERO-CULTURAL .. 25 1.3. DO NACIONALISMO UFANISTA ÀS CANÇÕES DE CASIMIRO DE ABREU 27 II. A CANÇÃO DO EXÍLIO DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE NO CON_ TEXTO DO MODERNISMO BRASILEIRO .. 2.1. MODERNISMO: AS CANÇÕES DE EXÍLIO .................. 42 2.1.1. OSWALD DE ANDRADE E O "CANTO DE REGRESSO A PÁTRIA" 45 2.1.2. MURILO MENDES E SUA "CANÇÃO DO EXÍLIO" 50 2.1.3. "UMA CANÇÃO", DE MARIO QUINTANA 52 2.2. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E A "NOVA CANÇÃO DO LIO" EXÍ_ . 56 III. O EXÍLIO NA POESIA CRÍTICO-IRONICA 3.1. A "CANÇÃO DO EXÍLIO" DE DALTON TREVISAN 3.2. A "OUTRA CANÇÃO DO EXÍLIO" DE EDUARDO 63 ALVES DA COSTA 72 3.3- JOSÉ PAULO PAES E O EXÍLIO ESSENCIAL 3.4. "SABIA": O SIGNO DA IDEOLOGIA NACIONALISTA, CHICO BUARQUE DE HOLLANDA CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 79 EM 83 99 115 SOMMAIRE Le but de cette dissertation commun qui c o m p o s e l'idéologie n a t i o n a l i s t e , romantique jusqu'à avons choisi ce pour thème nous permanence parait être dans la ou de imaginaire) notre l'exil, ont pour 1'étude politique poétique est thème de étant car donné du discours sa jours poétique. s u b o r d o n n é à la v é r i t é de démontrer une q u e s t i o n e x t r ê m e m e n t au considérons du le o b s e r v e que la poésie de nos par des é c r i v a i n s qui nous travail Nous brésilienne. p u b l i q u e et "brasilidade" proposes, but, Ia poésie La (réelle du sujet et du g r o u p e . n a t i o n a l i s m e est ce l'univers jours. Notre o b j e c t i f est le présent depuis une u n a n i m i t é n a t i o n a l e , critiques l'objet d'analyser sociale m o d e r n i s t e de nos littérature le c a r a c t è r e construction poésie développer Les reprend la est texte Le XIX e les reprise symboles du dans de par G o n ç a l v e s D i a s . Et, la dans c o n v e n a b l e d ' a p p l i q u e r la m é t h o d e semiótique littéraire. travail est divise en trois c h a p í t r e s . (La "Chanson de L' E x i l " de G o n ç a l v e s Dias) d ' interprétation, actuelle, ont renforce siecle, que la q u e s t i o n m a i s plutôt une Le premier ne présente pas de nouveautés selection réviseé des m e i l l e u r e s études sur l'oeuvre, qui a été retenue comme l'analyse constant dans que nous ferons aux chapítres suivants (celle-ci d'origine personnelle) sur les "Chansons de l' Exil" qui ont suivi le poème-source de Gonçalves Dias, jusqu'à nos jours. Le deuxiime chapitre (La "Chanson de l'Exil" Carlos Drummond de Andrade) analyse les chansons composées de par Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Mário Quintana et, surtout, le poème de Drummond, pour démonter L'intertextualité , de "dialogue" qui cette sorte s'établit entre les poetes et leurs différentes visions de monde, à partir du résultat du travail esthétique, formel et idéologique obtenu dans les poèmes. Le troisième chapitre (l' Exil dans la poésie critique et ironique) étudie les Chansons de l'Exil de Dalton Trevisan, Eduardo Alves da Costa, José Paulo Paes, Antônio Carlos Jobim et Chico Buarque de Hoilanda, demontrant les aspects innovateurs des textes et ceux qui sont empruntés à la chanson de Gonçalves Dias. La conclusion constate la présence des éléments transcendants de la simple signification mond réel, vu que, dans leur articulation d'éléments concrets d'un avec les autres signes du discours poetique, il's ontconquis un espace mythique, comme des symboles qui se rapportent à la "brasi1idade" et au nationalisme, soit de maniére "ufaniste", soi de manière ironique critique. Les poetes parlent de ce qui n'est pas raconté dans l'Histoire, dans leur espace connotatit particulier. INTRODUÇÃO Ufanistascom maior ou menor intensidade, críticos suaves ou exaltados - ao falar de nacionalismo, "todos somos uns exilados 1 ". Concordamos com Eduardo Portella 2 , portanto, também afirmarmos que, em países como o Brasil, a vocação ao cultu_ ral pura é historicamente inadmissível; o intelectual deve inter_ ferir ativamente no processo de emancipação nacional. Exílio espacial, exílio temporal: a terra pátria como base criadora de sentimentos e idéias; a alma sensível artista mergulhado nas ambigUidades e contradições de sua riência como homem, trazendo às suas obras, forte e do expe_ constante, uma consciência do seu ser cultural. "Vou voltar/Sei que ainda vou voltar pa ra o meu lugar" Chico Buarque de Hollanda Os servado caráter que a críticos poesia público e literários que vem político sendo da contemporâneos escrita fala têm repropõe poética, em ção ao autocentramento da escrita. A construção do objeto ob o oposi_ poético 12 subordina-se, portanto, à verdade (real ou imaginária) do to e do grupo. O nacionalismo é, entio, uma questão te atual, Drummond sujei_ extremame_ retomada modernamente por escritores como Carlos de Andrade, Dalton Trevisan e outros, revigorando símbolos utilizados no século XIX por Gonçalves Dias, o mágico da terra. Assim, a preocupação com o caráter poeta nacional, dependendo das personalidades e das circunstancias, está presen_ te em quase todo grande escritor brasileiro: da matriz lírica de Gonçalves Dias, "Canção do Exílio", a bela "Sabiá" do Chico Buarque de Hollanda, escrita em um momento os poeta histórico, pós-64, dos mais difíceis para os artistas brasileiros. "Sabiá" reflete, como dezenas de outras "Canções", por estes dois sécu_ los de literatura, a necessidade de resgatar a pátria. Nossa intenção será fazer um estudo do simbólico comum que compõe a universo ideologia nacionalista, da romântica de primeira fase ã poesia social modernista poesia contempo_ rinea. Para o e s t u d o a que nos p r o p o m o s c i o n a m o s os poemas que vêm c l a s s i f i c a d o s segundo o e n f o q u e dado ao tema exílio realizar, no q u a d r o a por seus autores. sele_ seguir, .13 Enfoques dados pelos autores ao tema exílio (algumas "Canções":) "Exílio na Pátria Nacionalismo Nacionalismo Crítico Ufanista (Dimensão temporal) (dimensão espacial) (humor e/ou ironia) Autores 1) A.C. Jobim e "Sabia" "Sabiá" Chico Buarque 2) Casimiro de Abreu "Canção do Exílio I" "Canção do Exí1io Meu Lar II" "Nova Canção Exílio". 3) C A . Andrade 4) Dalton Trevisan "Canção do Exílio" 5) Eduardo A.da Costa 6) Gonçalves Dias 7) José Paulo Paes "Outra Canção Exílio" "Canção do Exílio" "Canção de Exílio Facilitada" "Uma Canção" 9) Murilo Mendes "Canção do Exílio" 10) Oswald Andrade "Canto de Regresso à pátria" de "Canção do Exílio do 8) Mário Quintana do .14 1. Q u a n t o ao m é t o d o a ser u t i l i z a d o , vimos ser adequa_ do partir de uma a n á l i s e representaçio e literária, transcendência para apreender que c o m p õ e m os os signos textos poéticos. Será a p l i c a d o o m é t o d o s e m i ó t i c o de a b o r d a g e m do texto rio, para realizar o l e v a n t a m e n t o dos romântica e na m o d e r n i s t a , uma expressão de procedimentos apreender o fenômeno balizantes de literatura implica numa cação, cuja têm c o r r e s p o n d i d o valor deve ligada ser literário com a H i s t ó r i a . rio contenha a na poesia necessidade implicaria do histórico da em em suas de isto é, Sabemos latente Em o u t r a s maneira específica História, palavras, um d i s c u r s o da que toda 0 alcance a r t i c u l a ç ã o do de e s t r u t u r a na te_n num p r o c e s s o de signifi_ ao valor a r t í s t i c o . b u s c a d o na na i m p l i c a ç õ e s glio_ Isto não s i g n i f i c a que o ficou linguagem. serão u t i l i z a d o s seu m e i o . f i g u r a ç ã o da a p a r ê n c i a que contém a q u i l o que literatura poético semiose, p r o d u ç ã o está dito pela sugeridos integração do homem e p r o f u n d o desse foi à literá_ nacionalista. Os tativa símbolos que, de arte, texto literá_ social, mas que não já será dizer s i m b ó l i c o que texto que analisa criando a o mun significados .15 e não de forma dessa forma, sentido imediata, o valor a r t í s t i c o do literal ou m a n i f e s t o , por esta d i m e n s ã o simbólica Gonçalves literatura pelo m o m e n t o r e a l , como Dias ou Proust ou b r a s i l e i r a e, A pouco mais partir literatura formas gem " b r a s i l e i r a " , rica q u a n t o pre foi a sem como m a r c o de no que seu Oswald de A n d r a d e para expressar sim com a daí, se gerado uma não fizeram sua experiê_ intenção de criar buscada na "uma nacional talvez tenha refere à d e s c o b e r t a de c a r a c t e r i z a ç ã o de uma A e x i s t ê n c i a da indagação a e x i g i r início do n o s s o M o d e r n i s m o , o c e n t e n á r i o de por a c a s o , p o r t a n t o , que os derna e s c o l h e r a m esta data finalmente, o nossa terra resposta". tão sern 1922, era o ano em que política. simbolizar, Independência tido se Não foi da Semana da Arte intenção de início de nossa lingua_ nacionalidade Independência idealizadores com a a consciência nacional. de e x p r e s s ã o , à u t i l i z a ç ã o de uma comemorava cem a n o s , não está em referimos. genuinamente identidade. no Brasil mas Acharíamos, no sentido p r o f u n d o , Sthendal, de m e i o s é c u l o , suas p r ó p r i a s texto que a que nos cia de vida e visio de m u n d o , literatura mas em si. Mo_ após Cultural. Pois bem, a c o m p a n h a r o d e s e n v o l v i m e n t o das Artes brasileiras sobretu_ do a literatura, é o b s e r v a r o p e r c u r s o de um p r o c e s s o desalie_ nante. O Brasil nasce como n a c i o n a l i d a d e mo d e n o m i n a ç ã o g e o g r á f i c a , a e não apenas partir do R o m a n t i s m o , maioria dos v a l o r e s e s s e n c i a i s da cultura que criou brasileira. princípio, a n e c e s s i d a d e de e x a l t a r a p á t r i a , através do i n d i a n i s m o de Havia, o que se um José de A l e n c a r q u e , apesar co_ a a realizou de .16 aproximar o Índio Peri mais a um cavalheiro medieval europeu que a um autêntico nativo, legou-nos as primeiras imagens do 1ite_ rárias de fato vibrantes da Terra Brasil. Tendo conseguido sobreviver ao "mal do século", es_ ta mesma "Terra Brasil" reaparece, com força e entusiasmo, versos de Castro Alves, o que seria mais um passo para nos o apro_ fundamento do empenho desalienante em relação aos valores euro_ peus, sempre tão cultuados entre nós. O movimento literário realista ainda se apresenta_ va com uma "capa" européia, e o próprio Simbolismo revolucionou o verso, mas não chegou a transformar a linguagem. É com dernismo que há esta real ra genuinamente nacional o Mo_ transformação. Dissemos que a literatu E, tem pouco mais de meio século. de fato, apoiando-se nos caminhos autênticos e de renovação, tos pela geração de 22, é nos anos 30 que a sociedade aber_ brasilei_ ra ganha nova consistência e um enfrentamento mais consciente de nossa realidade, por parte do intelectual brasileiro. O Tndio é o caboclo brasileiros , sobretudo após naíma - do não apenas escritor, mas também pesquisador clorista Mário de Andrade - não vão mais aparecer como gens idealizados; aparecem, sim, como seres humanos maltratados pela realidade miserável (abriga? da Terra que Macu_ e fol_ persona_ sofridos, os abriga retirantes oferecem o panorama . . . ) . O Nordeste e seus repetido - porém transfigurado, de acordo com o estilo escritor desta época - para romances e poesias. de cada .17 É, portanto, na segunda fase do Modernismo, situa da nas décadas de 30 e 40 , que a literatura nacional seu perfil como tal, e, com isso, os valores, ceitos e atitudes realmente genuínas de nosso delineia conceitos, precon_ universo cultu ral . O esteticismo que marca a 3 a geração em seguida, trabalhara com a feiçio formal modernista, da palavra, mas dei_ xará como "clássicos" na literatura brasileira o Sertão:Veredas, de Guimarães Rosa, que captou, romance Grande com rara ção, as tradições e contradições de nosso povo, e o percep_ fortíssimo poema, de cunho social, Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. É Ferreira Gullar, artista-combatente pós-64, quem nos fala sobre o problema da nacionalidade que sempre teria sido no Brasil "uma indagação a exigir resposta, nunca uma ques_ tão pacífica; como o país: algo que se deve construir ..."5 . Sa_ bemos que a arte é um dos meios em que mais claramente os povos encontram a sua identidade, e é exatamente nos momentosde cri se. nacional, em que os poetas, sobretudo estes, mais expressam a autoconsciência e a consciência de seu "ser" político. Há, segun_ do Lukács 6 um sistema simbólico, ou sistema de analogias, que se integra à camada conotativa-expressiva da linguagem. Essas ana logias são a relação dialética entre a vida nacional e a expres_ são literária criada por ela. Assim sendo, "Canções" como "Sabiá", de Chico Buarque de Hollanda e Tom Jobim e "Fado Tropical" ou "Terra", de Caetano Veloso, podem ser consideradas como "Canções do Exílio" contemporâneas, expressão máxima que são de sensibili_ .18 dade, recuperando, através de um sistema simbólico, que remonta ã "Canção" matriz do século XIX, o sentimento de nacionalidade passado pelo filtro da subjetividade do poeta. Escolhemos, portanto, para este estudo exílio, pois este tema aparece como uma espécie de o tema do unanimidade nacional, tal é a frequência de seu tratamento pelos poetas que, fizeram, e fazem, a nossa literatura: no Romantismo as poesias de viagem, o espaço externo ou mesmo interno perturbado ...; no Neo-Romantismo dos parnasianos, as barcas e velas que partem e voltam substituindo o símbolo da ave; no Modernismo, a noção de partir como a libertação da vida presente. É desta intertextua1idade que a poesia também se alimenta, estabelecendo ligações entre diferentes visões de mundo. Para a comprovação desta tese, analisaremos um texto ori_ ginal - a "Canção do Exílio", escrita em 1843 - e os textos ela_ borados com base em alguma atitude para com o original. Esses textos são paródias; puras imitações, feitas na mesma época; ou tas de profundas reorganizações formais e temáticas, novas perspectivas propos_ segundo ideológicas ou históricas, elaboradas século XX. Neles concentraremos nosso trabalho. no Então ... "Chega! Meus olhos brasileiros se fecham saudosos. Minha boca procura a "Canção do Exílio" como era mesmo a "Canção do Exílio"? Eu tão esquecido de minha terra ... Ai terra que tem palmeiras, onde canta o sabiá" Carlos Drummond de Andrade .19 N O T A S . - INTRODUÇÃO Referências Bibliográficas 1. ANDRADE, Mario de. Aspectos de Literatura Brasileira. América Editora, 1943. 2. PORTELLA, Eduardo. Literatura e Realidade Nacional. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1963. 3. HOLLANDA, Chico Buarque de. "Sabiá". In. Literatura Comenta_ d a . Editora Globo, 1985. 4. GULLAR, Ferreira. Vanguarda e Subdesenvolvimento. Rio Janeiro, Civilização Brasileira, 1965- 5. LUKÁCS, George. Estética. Barcelona, Grujalbo, 1965-1967. de " ... Que poesia pura Aí seu poeta irmão, A poesia pura não existe, não" Mário Quintana CAPÍTULO I A "CANÇÃO DO EXÍLIO" DE GONÇALVES DIAS .22 1.1. DA RECEPÇÃO DA "CANÇÃO DO EXÍLIO" A "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias, texto-ma_ triz de nosso trabalho, foi produzida em 1843, no primeiro momen_ to do movimento romântico brasileiro, época em que o país, re_ cem-independente de Portugal, vivia um forte nacionalismo, sendo o texto marcado, por isso, por uma certa lusofobia - sentimento de aversio aos valores portugueses. "O Brasil foi a convergência de toda a sua tão complexa e tão una", assim refere-se ã obra de Dias Lúcia Miguel-Pereira 1 ,com grande propriedade. obra Gonçalves Idealista, patriota, romântico,o poeta de Os Timbiras , "l-juca Pirama ", ÚLtimos Cantos, foi o primeiro a escrever sobre o Brasil, com um amor físico e geográfico. E de Gonçalves Dias o mérito de ser o primeiro autores brasileiros que conseguiu criar uma obra esteticamente da, fundamentada na nacionalidade. Esta primazia foi dos váli_ reconhecida por José de Alencar em suas cartas contra o poema épico A Con federação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães. Na quarta mis_ siva afirmava sua admiração pelo autor de "Canção do Exílio", lem_ brando que este ... "está criando os elementos de uma nova la de poesia nacional, de que ele se tornará o fundador Toda criação pressupõe a seleção e a de dados da realidade; o tratamento poético reside na esco ..." combinação forma • 23 original de selecioná-los e combiná-los, como veremos a seguir, na análise textual de "Canção do Exílio". O crítico Eduardo Portella 3 propõe uma leitura poé_ tica do texto,que centraliza-se no signo poético. O entre-texto, ou o literário, surgirá da dialética entre o "pré-texto", linquagem, e o "texto", ou a língua. A leitura poética interrelacionar ou procura VERDADE/HOMEM/HISTÓRIA. Também chamada de crítica transmanente , esta pro_ posta de análise textual estaria situada na tensão entre rioridade e exterioridade, ou melhor, inte_ localiza-se no ponto de convergência ou tensão de todos os níveis, cuja força-mediadoraenergia simbólico-alegórica - é o MITO. Cabe ao crítico leitor, portanto, o esforço de compreensão da verdade, 1ocalizando-se no interior do seu jogo e acompanhando a sua dinâmica interna. Se por trás da obra literária está o Homem, o SER, só poderemos detectá-lo em sua dinâmica de estruturação se estudo de sua criação o abranger o contexto histórico em que insere, a perspectiva diacrônica da obra produzida e a se leitura poética que nos permitirá, através da análise de toda uma simbo_ logia, explicá-la em seu valor artístico. É de Theodor Adorno 4 a idéia de que não há conteúdo objetivo, nem uma categoria formal da poesia, por um mais irreconhecivelmente transformado e às escondidas de si mesmo,que não proceda da realidade empírica a que se furta. Com isso e com reagrupamento dos diferentes aspectos, graças a suas leis o for mais, a poesia condiciona seu comportamento para com a realidade. .24 Mesmo o distanciamento das obras para com a realidade é antes, ao mesmo tempo, empírica intermediado por esta. "A imaginação do artista não é nenhuma creatio ex-nihilo". Voltamos, portanto, à conciliação entre interior e exterior, já que nenhuma palavra inserida numa obra de arte desvincu1a-se completamente das significações que possui no curso comunicativo. A verdade de uma poesia é sempre a dis_ dialéti_ ca entre os dois momentos. Literatura é criação humana. Ousamos dizer, Lucien Goldmann com , que o homem só é autêntico na medida em se considere ou sinta como parte de um conjunto em devir, e situe numa dimensão transindividual, histórica ou que se transcendente. Igualmente a Adorno, Goldmann enfatiza que a obra literária se situa no ponto de encontro entre as formas mais elevadas das ten_ dencias para a coerência, que são próprias da consciência cole_ tiva, e as formas mais elevadas de unidade e de coerência consciência individual do criador. O óbvio desta reflexão, nós, deve-se ao fato de que todo comportamento humano é da para uma tentativa de dar uma resposta significativa a uma situação parti_ cular e tende, por isso mesmo, a criar um equilíbrio entre sujeito da ação e o objeto sobre o qual o esta ação se o verifica- meio ambiente. A seleção de temas, vocábulos e estruturas é feita pelo artista, integral tanto de forma consciente como inconsciente. significincia de uma poesia não existe sem sua A estru tura, totalidade dos seus momentos. Porém, é ao mesmo tempo que a essa estrutura, como a da aparência estética, transcende. o .25 1.2. A "CANÇÃO DO EXÍLIO" E O CONTEXTO LÍTERO-CULTURAL Sabemos que,por menor que seja a participação efe_ tiva de qualquer homem em seu tempo, esse mesmo tempo em que vi_ ve é que caracteriza suas vivências e pensamentos. Sobretudo os poetas, seres humanos dotados de uma sensibilidade além, são os primeiros a, como um prisma, conter e, em seguida, refletir as cores do seu tempo. Gonçalves Dias nasceu um ano após a Independência do Brasil - em 1823 - e viveu sua fase adulta duas décadas de_ pois, em meio ao grande entusiasmo produzido por este marco his_ tórico brasileiro. É, portanto, natural que o sentimento nacio nal, de amor a Terra, esteja presente - e à priori - em sua obra; e é nesse espírito que devemos ler Gonçalves Dias. O grande poe_ ia soube, com mestria, associar, em perfeito equilíbrio, a força ufanista ao poder verbal que caracterizou sua expressão. Foi "Canção do Exílio" o seu primeiro momento de inspiração, o saporte da sua imortalidade; segundo Manuel Bandeira a pas_ , "Ainda que não tivesse escrito mais nada, ficaria, por ela, o seu nome para sempre gravado na memória de sua gente". Isto porque o nacionalismo de Gonçalves Dias não apenas traduziu o furor ativista do pós-Independência, ou o sen timento saudosista de um jovem exilado em Coimbra. 0 poeta falou de emoções universais profundas, transcendendo espaço e tempo: seu lirismo interno abriu caminhos na sensibilidade do século .26 XIX, perpetuando-se até nossos dias. É certo que novas formas de expressão foram trabalhadas, novos movimentos literários, após o Romantismo, ampliaram o "dizer" e o "fazer" poéticos ao tema do exÍlio, mas a "Canção do Exílio", escrita em vinculados 1843, beleceu-se como a grande inspiradora, o poema "clássico", esta_ Prin_ cípio da nacionalização literária brasileira. "Estava eu na sala de redação do Diário quando aí entrou um homem pequeno, magro, do ligeiro ... Não preciso que me dissessem o nome, adivinhei quem era - Rio foi Gonçalves Dias! Fiquei a olhar, pensando, com todas as minhas sações da adolescência. Ouvia cantar em mim a famosa sen "Canção do Exílio" ... " Machado de Assis .27 1.3. DO NACIONALISMO UFANISTA ÀS CANÇÕES DE CASIMIRO DE ABREU A análise formal sob vários ângulos, a ser reali_ zada em seguida, sobre a "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias, nio se propõe a apresentar novidades interpretativas. Pretende-se, sim, apresentar uma seleção revisada dos melhores estudos realizados sobre a obra, para que sirva de referência constante na análise - esta sim, de cunho reflexivo pessoal - que sobre as "Canções do Exílio", que a primeira se seguiram, nossos dias. CANÇÃO DO EXÍLIO Minha terra tem palmeiras, onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorgeiam, Não gorgeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho à noite, mais prazer encontro eu lá; já faremos até .28 Minha terra tem p a l m e i r a s , Onde canta o S a b i á . Minha terra tem p r i m o r e s , Que tais não e n c o n t r o eu c á ; Em cismar - s o z i n h o i noite Mais prazer e n c o n t r o eu Minha terra lá; tem p a l m e i r a s , Onde canta o S a b i á . Nio permita Deus que eu m o r r a , Sem que eu volte para Sem que d e s f r u t e os lá; primores Que não e n c o n t r o por c á ; Sem q u ' i n d a a v i s t e as palmeiras, Onde canta o S a b i á . Epígrafe G o e t h i a n a - A e p í g r a f e usada pelo poeta é uma ção da " C a n ç ã o de M i g n o n " do autor a l e m ã o Johann Goethe ( 1 7 4 9 - 1 8 3 2 ) , à época no auge de sua fama Tudo indica que G o n ç a l v e s Dias tivesse adapta_ Wolfgang internacional. recolhido esse recorte G o e t h i a n o em sua p e r m a n ê n c i a no meio a c a d ê m i c o de C o i m b r a . uma citação integral modada pelo p o e t a . e c o n t i n u a d a do t e x t o , Da primeira e s t r o f e de mas von Não é uma c i t a ç ã o aco_ "mignon", Dias retirou a parte que m e l h o r traduzia sua nostalgia Gonçalves da pá_ tria . " C o n h e c e s o país o n d e florescem as laranjeiras? AR_ dem na escura fronde as frutas de ouro para lá quisera eu ir" 8 ... Conhecê-lo ? Para lá, .29 Estrutura formal - A versificaçao do poema em questão e regu_ lar, em períodos rítmicos iguais, do primeiro ao último Os versos utilizados são os heptassílabos dondilha maior. O movimento rítmico baseia-se na verso. ou re_ alternância da sílaba forte e fraca, com acentuação na primeira, terceira, quinta e sétima sílabas. Quanto às rimas sio soantes (sabiá/ /lá, flores/amores) , com correspondência completa de sons. alternam-se as ricas (sabiá/lá) E com as pobres (lá/cá) . Quanto à estrofação, o poema foi agrupado em quadras - as três primei_ ras estrofes - e sextilhas - as duas últimas estrofes. Entre dois blocos de estrofes há uma complementaçio que se os expressa através de um estribilho - "Minha terra tem palmeiras"/"onde can_ ta o Sabiá" -. O poeta intercala o. eu indívidual e coletivo, numa distribuição de equilíbrio 1írico-emotivo. Os dois primeiros versos, que funcionam como re_ frão, contêm os elementos básicos "eu", "palmeiras", "Sabiá" para que se compreenda a relação poeta/terra natal. "Palmeiras" e "Sabiá" traduzem dados da realida_ de da terra Brasil, mas, por outro lado, traduzem a versão que o poeta tem dessa realidade: vemos aí a matéria-prima de que se serve Gonçalves Dias como fonte de inspiração; no entanto, é interessante observar que a combinação palmeira-sabiá não é uma verdade ecológica, mas uma invenção poética. A aproximação de sabiá e palmeira confere dois elementos novos significados. maiúscula, personificado. Sabiá aos aparece grafado com Isto nos leva a estabelecer uma analo gia com o poeta, que seria o "cantor" de uma tristeza, assim mo o pássaro (sabiá) tem um canto triste. co .30 Quanto à palmeira, é um símbolo de todo o Os índios chamavam Brasil. de Pindorama - terra das palmeiras - o Ma_ ranhio, lugar onde nasceu Gonçalves Dias. O "eu lírico" está exilado, longe de sua terra na_ tal. Os advérbios cá e lá são os elementos formais que polarizam essa comparaçio. O poeta não está satisfeito no lá, onde se en_ contra, e deixa-se levar pelo sonho ou imaginação, "em cismar zinho, a noite/Mais prazer encontro eu lá", so idealizando o lugar estilístico para exaltar esse lugar em que gostaria de estar - o lá. Como recurso longe e idealizado, Gonçalves Dias se vale da hipérbole, em to_ dos os versos da 2a estrofe ("mais ..., mais, ... mais ...") , através dos advérbios mais e não. Todo o processo comparati_ vo se desenvolve paralelisticamente: "Minha terra/nosso c é u / n o s _ sas várzeas/nossos bosques/nossa vida/minha terra tem ras estrelas/flores/vida/amores/primores; gorgeiam/não palmei_ gorgeiam como; tem/tem mais; flores/mais flores; vida/mais vida; amores/ /mais amores; prazer/mais prazer; aqui/là; cá/lá. Ainda como recursos formais para garantir o con_ teudo, além do refrão que confere ao poema ritmo de canção, pode_ mos observar a sonoridade clara provocada pelas diversas vras grafadas com a vogal " a " : palmeira , pala_ , sabiá, lá, estrela, vi_ da, várzeas, cá, canta, terra, tais, cismar, prazer, morra, per_ mita, 'inda, aviste. Sendo um poeta lírico, Gonçalves Dias se de alguns termos cata1izadores que lhe condicionam ou utiliza expressam a emoção poética, criando o clima para a explosão sentimental. .31 Sio substantivos, verbos e advérbios repetidos como prismas, que refletem imagens, pensamentos e emoções. Em época de ro", O poeta "exage_ não se utilizou de um único adjetivo em sua "Canção do Exílio". Optou pela concentração e explicitação seus sentimentos, nas idéias passadas pelos substantivos. guiu, por isso, maior força de expressão, sendo original. São os vocábulos que indicam a de Conse_ absolutamente paisagem,os elementos condicionantes e estruturadores da emoção e da expressão linguís_ tica. Daí decorre a sensação visual do mundo físico que toma for_ ma com todas as luzes e cores que o poeta nos leva a imaginar: o céu mais cheio de estrelas, que é o mais lindo; várzeas com flores - imaginamos tantas ...; bosques selvagens, verdes, pul_ sando vida ... Palmeiras, aves diversas e ... um Sabiá com seu canto (cantaria em realidade tão bem esta ave, como o grande poe_ ta nos leva a crer ? . . . ) . Lendo a "Canção do Exílio", percebemos o quanto de sentimentos telúricos Gonçalves Dias faz brotar em nós - va_ lores culturais, psicológicos, sociológicos e literários saltamnos, num tom emotivo-lírico , na configuração, em versos, do na_ cionalismo ufanista, fervente a partir de 1824; do culto da natu_ reza; da expressão de solidão e saudosismo de um homem; na pre_ dominância do sentimento sobre a razão. Sobre este aspecto, ainda para aclarar o do e a forma da "Canção", é de valor o trabalho João Ferreira, publicado na revista Cultura 7 , do que nos dados da gênese do poema, ora em questão. Diz serem vas as Cartas do poeta a seu conterrâneo e amigo Teófilo de Carvalho Leal. conteú_ Professor oferece significati Alexandre Em carta datada de 28 de setembro de .32 1843 - dois meses apôs a composição da "Canção do Exílio" , Gon_ çalves Dias não tem rodeios para relatar ao amigo toda a solidão dramática de Coimbra. Aborrecido com a incerteza da data para a abertura das aulas na Universidade, que estava pendente de resposta sobre a presença de Sua Majestade o Rei de uma Portugal, Gonçalves Dias declara sem eufemismos a seu interlocutor:"Teófilo. Aqui estou, meu amigo, nesta maldita e aporrinhada terra dita de quanta poesia há no mundo - e aporrinhada de mal_ quantas aporrinhações podem aporrinhar um cristão". Em carta, já datada de Caxias, no Maranhão, e dirigida ao mesmo Teófilo em 19/05/1845 - prossegue João Ferreira - dizia sobre seu passado em Coimbra: "Triste foi a minha vida em Coimbra - que ê triste viver fora da pátria, su_ bir degraus alheios - e por esmola sentar-se ã mesa estranha" Isto confirma o estado de espírito que a "Canção" traduz. mesma carta teria ainda um outro significado: traduz a hipersen_ sibilidade do poeta, agora sentindo as "dores da alma", a dão Esta espiritual" em Caxias, que considera "mais triste "soli_ ainda" do que em Coimbra, por ser desconhecido ou mal conhecido na ra de nascimento, onde deveria ser cultuado ter`_ e estimado. Outro fator externo que ajuda a explicar o clima psicológico e cultural do poeta são as suas relações com a etno_ grafia e a paisagem brasileira. Temos, então, tanto um homem Ciências quanto um homem de Letras na pessoa de Gonçalves Neste sentido, estaria explicada a utilização Goethiana na pré-abertura da "Canção do Exílio": da Dias. epígrafe seria uma exibição de alta erudição e mais uma conseqüência de aproximação com o poeta alemão, este também homem de letras de Ciências. de menos sua e .33 Grande partidário do nacionalismo cultural so em seus poemas, Gonçalves Dias publicou em 1858 seu expres_ dicioná_ rio em Língua Tupi e o importante Diário de Viagens , de uma ex_ pediçio realizada pelo Rio Negro. Após esta análise demonstrativa, podemos dizer que o valor e a beleza desse poema não se depreendem apenas dos pectos formais, do trabalho com o significante , ou dos as_ aspectos conteudísticos, das áreas do significado, mas de uma espécie "magia" que tem envolvido os leitores há mais de um século. de 0 resultado poético, que transcende o mero acordo significante/sig_ nificado gerador do signo demonstra, através da combinação ori_ ginal destes, a relação que o poeta mantém com o real, revelando o nacionalismo e o lirismo sentimental do poeta. romântico. A matriz de Gonçalves Dias serviu de inspiração pa_ ra vários poetas. Reaparecerá por décadas como fonte. Uns inova_ ram, outros a retomaram com as mesmas referências, o mesmo timento, quase as mesmas palavras ... sen_ Não houve acréscimo na es_ trutura, na forma, nem na própria expressão virtual do tema. É o caso das Canções do Exílio escritas pelo poeta da Segunda Gera_ ção Romântica brasileira, Casimiro de Abreu. Tendo vivido Lisboa de 1854 a 1857, neste período escreveu algumas visivelmente influenciadas pelo poema de Gonçalves Dias. CANÇÃO DO EXÍLIO Casimiro de Abreu Eu nasci além dos mares: Os meus lares, Meus amores ficam lá! em canções, .34 - Onde canta nos retiros Seus suspiros, Meus suspiros o Sabiá! Oh! Que céu, que terra aquela, Rica e bela Como o céu de claro anil, Que seiva, que luz, que galas, Não exalas Não exalas, meu Brasil! Oh! Que saudades tamanhas das montanhas, Daqueles campos natais, Daquele céu de safira que se mira, Que se mira nos cristais! Não amo a terra do exílio, Sou bom filho, Quero a pátria, o meu país, Quero a terra das mangueiras E as palmeiras, E as palmeiras tão gentis! Como a ave dos palmares Pelos ares Fugindo ao caçador; Eu vivo longe do ninho, Sem carinho e sem amor! .35 Debalde eu olho e procuro ... Tudo escuro Só vejo em roda de mim! Falta a luz do lar paterno Doce e te rno Doce e terno para mim. Distante do solo amado Desterrado A vida não é fe1iz . Nessa eterna primavera Quem me dera o meu país! Casimiro utiliza os mesmos elementos: a /laranjeira, o sabiá, a exaltação exagerada da a terra palmeira/ natal saudade da pátria distante. Seus amores são também os res, como os de Gonçalves Dias. As aves nele, fogem ao e maio_ caçador, no entanto não podemos considerar este aspecto como inovador, já que,talvez, a intenção do poeta tenha sido a de colocar a pala vra apenas como rima (pobre) para amor. "Fugindo ao caçador; Eu vivo longe do ninho Sem carinho, Sem carinho e sem amor! Seu Sabiá também aparece com maiúscula; o que nos faz questionar com que ave se identificaria o autor, se com o Sabiá, tão impo_ tante e simbólico, ou com qualquer outra ave, já que, certamente, pelos seus versos,ele se considera um "pássaro" fora do "ninho". .36 Remetendo-nos ao contexto histórico da terra Brasil, as Canções de Casimiro encontraram espaço de repercussão. cem-independente, o povo brasileiro precisava de ufanismo. Re_ "do meu céu de claro anil, do meu Brasil", da "terra de mangueiras" e "palmeiras", dessas confissões de amor emocionado, para lidar seu auto-respeito. CANÇÃO DO EXÍLIO MEU LAR (Fragmento) Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! Não seja lã; Eu quero ouvir na laranjeira, ã tarde, Cantar o sabiá! Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro Respirando este ar; Faz que eu viva, Senhor! Dá-me de novo Os gozos do meu lar! 0 país estrangeiro mais belezas Do que a pátria, não tem; E este mundo não vai um só dos beijos Tão doces de uma mãe! Dá-me os sítios gentis onde eu brincava Lá na quadra infantil; Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, O céu do meu Brasil! conso .37 Seu eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! Não seja lá: Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o Sabiá! Lisboa, 1857 Em "Canção do Exílio Meu Lar", o poeta recupera verdade ecológica do "Sabiá/Laranjeira", mas perde o a sentido simbólico da união dos dois Brasis: o do interior e o do litoral, proposto pelo "Sabiá/Palmeira" de Gonçalves Dias. A pátria apa_ rece como uma "doce mãe", aliás, marca típica do poeta, se lem brarmos que em seus poemas há referências constantes à infância e à figura materna: "Dá-me os sítios gentis onde eu brincava/ lá na quadra infantil". Nos poemas dos dois autores, a temática e nacionalis_ ta, valorizando a terra natal (ufanismo); em ambos há a prese_ ça da morte, mais acentuadamente em Casimiro de Abreu, onde ad_ quire aspectos ultra-românticos (morrer cedo, repetição insisten_ te) . Há lirismo nos versos de Casimiro, sem dúvida , porem, como pura expressão de sensibilidade, desligada de qual_ quer pretensão literária maior. Como sua marca pessoal, misturam-se aos grandiosos elementos naturais da terra natal os elementos naturais do tidiano do burguês brasileiro da época imperial, como co_ laranjei_ ras, mangueiras e regatos. Quando amplia o âmbito da visão, matizando de moderada beleza os aspectos exaltativos da é paisa gem; "Palmeiras tão gentis"; "falta a luz do lar paterno/Doce e .38 terno/Doce e terno para mim", É, sem dúvida, aí, que reside a originalidade de sua expressão poética: a capacidade de elaborar imagens delicadas. Casimiro foi o poeta dos temas mais comuns da psicologia humana e dos aspectos mais familiares da paisagem, tratando-os com uma amplitude bem menor do que Gonçalves Dias. f .39 N O T A S - CAPÍTULO I 1. MIGUEL-PEREIRA, Lúcia. A Vida de Gonçalves Dias. Rio de Janei_ ro, José Olympio Editora, 1943. 2. PORTELLA, Eduardo et alii. Teoria Literária. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1975. 3. ADORNO, Theodor. Notas de Literatura, Rio de Janeiro, Tempo Brasi 1 ei ro, 1973. 4 . GOLDMANN, Lucien. e Terra, A Sociologia do Romance. R i o d e J a n e i r o , Paz 1976. 5. BANDEIRA, Manuel. Poesia e Prosa, Rio de Janeiro, Agrillar, 1958. 6. FERREIRA, João - "A Canção do Exílio de Gonçalves Dias" in Revista Cultura, Brasília, ano 8, nº 29, p.42 a p.48. 7. CAMPOS, Geir. Poesia Alemã Traduzida no Brasil. Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, pp. 96-97, tra_ dução de João Ribeiro. "e nada resta, mesmo do que. escreve e te forçou ao exílio das palavras, senão contenitamento de escrever, enquanto o tempo, em suas formas breves ou longas, que sutil interpretavas se evapora no fundo do teu ser!" Carlos D rummond de Andrade. CAPÍTULO II A CANÇÃO DO EXÍLIO DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE .42 2.1.MODERNISMO: AS CANÇÕES DE EXÍLIO Existe um espaço onde diferentes vísões de se entrecruzam. mundo Em nosso trabalho, é o espaço literário do exílio, do texto-matriz de Gonçalves Dias, escrito em 1843, textos-produto do século XX. £ o que chamamos de processo textual, com suas complexas relações, que vão da pura tema aos inte£ imitação, como vimos em Casimiro de Abreu, à polêmica e à paródia, como ve remos, em seguida, nas canções de exílio dos poetas modernistas Mário Quintana, Murilo Mendes, Oswald de Andrade e Carlos Dru_ mond de Andrade. Cada um com seu objetivo poético, os autores ma citados não só retomaram o tema do exílio,com toda a ção nacionalista, como o repensaram, segundo novas conota_ perspectivas históricas, ideológicas e estéticas. "Minha terra não tem palmeiras" Mário Quintana "Minha terra tem palmares " Oswald de Andrade "Minha terra tem macieiras da Califórnia" Murilo Mendes "Ainda um g r i t o de vida aci_ e voltar" Carlos Drummond de Andrade .43 "Não permita Deus que eu morra Sem que volte para Sio Paulo" Oswald de Andrade "Para onde é tudo belo E fantástico" Carlos Drummond de Andrade O enraizamento das artes na trama da existência coletiva, longe de enf raquecer-lhe o poder, aumenta-lhe a ficação comunicativa signi_ e pode mesmo prolongar-1he o sentido. É esta abrangência na literatura moderna que traz consigo uma pre_ liminar consciência dos nexos, por meio dos quais o trabalho linguagem a vincula à sociedade e ã cultura. Colocada a de outra forma, que vai questio poderíamos reafirmar que esta sociedade viva servir de pano de fundo como princípio dinâmico e do conjunto, porque cada um dos seus aspectos só terá da é motor significa_ do neste momento de incessante transformação, que é uma socieda_ de. Este conceito nos permite, então, situar a obra em um todo vivo, de que o poeta é o cristalizador momentâneo. Esta compreen_ são da criação artística, vinculada à criação social nos apare_ ce, portanto, como a mais coerente, já que ê fato histórico comprovado que os grandes períodos criadores se situam, todos, em momentos de crise ou ruptura sociais e na e quase conseqüente necessidade de auto-afirmação desta mesma sociedade. Não se trata aqui, naturalmente, de reduzir obra de um autor à biografia e sim de situar a significação tente do tema tratado, enquanto tentativa de exteriorização de objetivação, cujo verdadeiro alcance resulta do desejo a la_ e de .44 eficácia que encerra. A decifraçao poética da produção literária será realizada a partir da reintegração no sistema de sinais nâmicos que o poeta constitui e de que devemos descobrir a di ínti_ ma significação. As teorias propostas por Lukacs possível 1 nos mostram estabelecer relações entre a totalidade da ser experiência social e a expressio que um indivíduo propõe da sua época, atra_ vés de uma representação simbólica. A investigação de Francastel prolonga esta direção e dá-lhe um sentido. 0 espaço torna-se um problema, porque o homem se apropria, através dele, de uma substancia social que não depende de um intuição mística do real, que os materialistas pretendem impor. A genialidade da criação seria, portanto, a nealogia da vida social, e a vida social encontra, na ge_ especula ção individual, o princípio e o motor de sua transformação. Enfim, Lukács e seus discípulos fazem da obra arte um conhecimento em si mesmo, conhecimento do mundo e cimento do "homem" (no sentido do humanismo desusado do passado). Mas não podia ser de outra maneira, porquanto de conhe século se ta de uma teoria que vê o artista como o receptor momentâneo tra_ de problemas existentes antes dele, já intelectualizados no seu mundo, quer pela ação dos homens, quer pelo crítico de uma épo ca posterior. Tudo se passa, pois, como se a obra e reconstituísse, num todo imaginado, temas propostos traduzisse anterior mente. É de Lukács a idéia de que quando uma cultura exprime através de uma obra, é porque essa obra atinge um se tal .45 grau de especificidade que se torna irredutível a qualquer outra ordem de realidade que não seja o absoluto que procura alcançar. Tal idéia poderemos comprovar a seguir, na de"Canto de Regresso à Pátria", do poeta renovador análise modernista, Oswald de Andrade. 2.1.1. OSWALD DE ANDRADE E O "CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA. Objetivando um distanciamento absoluto em relação ao tema do exílio, Oswald recorre, com seu"Canto de Regresso Pátria" - publicado em Pau-Brasil , 1924, a um processo de ã inveja são do sentido primeiro, proposto por Gonçalves Dias, em celebre Canção, estabelecendo uma paródia forte e sua extremamente crítica contra a alienação social, no Brasil. "Canto de Regresso à Pátria" pertence à produção de Oswald de Andrade, realizada no início da década de 20, a mes_ ma época da Semana da Arte Moderna. Finalmente, como queriam os autores revolucionários Si leiros, estávamos comemorando cem anos apôs a a Independência bra cultural independência política. Tínhamos tudo isso: talento, vontade de mudar, necessidade urgente de para auto- afirmação de nossa cultura brasileira, apoio de classes privile_ giadas e propostas, senão claras, ao menos dígnas do respeito da comunidade artística mundial: Di Amaral, Villa-Lobos, Oswald Cavalcanti, Tarsila de Andrade, Mário de Andrade tros, igualmente geniais, propunham a transformação, a a conscientização nacional, através da arte. Não eram idealistas, do e ou evolução, apenas traziam um projeto estético acompanhando o das van_ .46 guardas européias do começo so século e o ideológico, voltado para o conhecimento e a expressio da realidade do país. Convergên_ cia esta que revelou a vertente primitivista , pau brasi1 e pofâgica, com o seu humor literário, a sua inclinaçio parodísti_ antro_ ca, a sua aliança com o mito, o cotidiano e o popular. "Eu quero fazer um poema De flores de papel Laranja azul encarnado Branco e verdeamarel " Oswald de Andrade Continuamos, é certo, buscando a independência cultural, otimisticamente comemorada naqueles dias de fevereiro de 1922, e, se ainda o fazemos, é porque a coragem dos ros da Semana de Arte Mordena aparece como luz, pionei_ indicando as possibilidades sempre múltiplas da expressão artística, em nos_ so século. A retomada do tema exílio por Oswald de caracteriza-se por um nacionalismo crítico. Como Andrade instrumento deste trabalho crítico, o poeta utiliza o humor, compondo poema-paródia ao "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias. um Oswald elaborou uma espécie de releitura de nosso texto-matriz , onde, por trás da sátira, permanece o caráter nacionalista, apenas do_ todo, agora, de uma não nova perspectiva . O poeta, contudo, critica como veremos a seguir, a valorização do elemento nal na poesia, mas a forma ufanista de fazê-lo. nacio .47 CANTO DE REGRESSO A PÁTRIA Oswald de Andrade Minha terra tem palmares Onde gorgeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá. Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra. Ouro terra amor e rosas, Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para lá. Não permita Deus que eu morra Sem que volte para São Paulo, Sem que veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo. Oswald mantém o mesmo ritmo da canção-matriz jogo com os advérbios daqui/1á remete ã distância espacial 0 poe_ ta/terra natal , efeito conseguido por Gonçalves Dias e aí repetido A referência é que muda: o 1á não se refere ao Brasil, país sertão e litoral. A saudade do poeta é delimitada a São de Paulo, .48 a Rua 15, ao progresso de São Paulo. Há, na primeira estrofe, a quebra proposital do simbólico Canto do Sabiá, na palmeira. terra de Oswald de Andrade "tem palmares", onde quem A "gorgeia" é o mar (fato geograficamente correto). "Minha terra tem palmares Onde gorgeia o mar" Em seguida, no terceiro verso da mesma estrofe, o do canto dos passarinhos, devincu1ando-os do poeta fala espaço-referência da canção-matriz (o sabiá cantando na palmeira). "Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá" A segunda estrofe estrutura-se em torno de uma idéia nacionalis_ ta, pois o poeta relaciona, verso a verso, as virtudes de sua "terra" ("mais rosas, mais ouro, mais terra"). O segundo verso é de um realismo desconcertante, conseguido pelo "quase" que an_ tecede o advérbio mais (" ... E quase que mais amores"). A terceira estrofe é uma seqüência que confirma a idéia da ante rior e apresenta a repetição de dois versos da "Canção do Exí_ lio" de Gonçalves Dias: a suplica a Deus para que não o morrer sem voltar a sua terra ("Não permita Deus que eu deixe morra/ /sem que volte para lá). O último verso da terceira estrofe é retomado em repetição enfática, no primeiro verso da quarta e úl_ tima estrofe, onde, no verso seguinte, em seqüência, o poeta especifica e delimita o seu "lá" ( ... Sem que eu volte para São Paulo"). A sua terra, na realidade, é são Paulo, e mais, o que dá saudades é a Rua 15 (" ... Sem que veja a Rua 1 5 " ) , símbolo da .49 pujança e c o n ô m i c a do E s t a d o . ma-paródia com a 0 que o poeta de e das apresentou, contradições portanto, na foi apresentação subliminares Dias. de diferenças. intertextual idade das Representante foi Oswald rica de foi prosador aventuras lizes de v a n g u a r d i s m o de e ideológica. psicológicos cosmopolita, que mudança. foi cederam e nossa que criticamente o pria do o hino d e s t e vivência vivido por social Pátria" acrescenta a releitura diante de seu bem-humorada e uma partir íntima sociedade de Oswald de autor traços pre_ brasilidade de de um do autor por tempo "Canto de em mais d u r a n t e um poema o e l e m e n t o c r í t i c o , perspicaz confli_ no m o m e n t o Condicionado e espelho o paulista, 1929/30. própria pátrio. em que nos anos que revigorou o texto q u e , Dias, literato se d i v e r t e com a não por a c a s o , e emocional Gonçalves sociais c o n s t r u ç ã o do p e r t o os abalos sentimento obra gratuida_ fatores com c o n a t u r a 1 i d a d e os e a Moder_ m o m e n t o s fe_ legado do M o d e r n i s m o literária falar Sua nem t a n t o , de i n t e l i g ê n c i a burguesa em c r i s e , p r e c i s a v a m de a f i r m a ç ã o , lo foi deixado todos os a alienado-revoltado expressão desenvolvimen " f a s e h e r o í c a " do tendo havia nele homo-ludens s e g u i r a m de no e poeta de a l t o s e b a i x o s . Oswald de A n d r a d e , que a interpretati_ l i t e r á r i o e outros ele quem a s s i m i l o u tantes de uma de n o v i d a d e s informa A l f r e d o B o s i 1 , é a se deve a n a l i s a r pois chamada c o n c o r r e r a m para daquele Como da diferente Falar de paródia é, p o i s , experimentais, No e n t a n t o , contradição ética poe_ uma m a n e i r a percebidas to do tema por G o n ç a l v e s nismo, seu referência e x p l í c i t a ao " p r o g r e s s o de São Paulo". ler o c o n v e n c i o n a l , vas Oswald de A n d r a d e termina sécu_ sua pró diverso Regresso à t o r n a n d o - o uma romántico-ufanista. .50 2 . 1 . 2 . MURILO MENDES Como Oswald E SUA " C A N Ç Ã O de A n d r a d e , o tema do e x í l i o através da to-matriz de G o n ç a l v e s humorísticos paródia, isto é, com a i n t e n ç ã o de Dias, novas: o poeta b u s c a , inversão do produzir tex_ efeitos das car e de propor Murilo conquista religião à crítica livre com as realidades especulação invenção, encia não só da no trabalho vigorosa e sensível tiva da da retomou e críticos. temáticas o caminho da EXÍLIO" Murilo Mendes Poeta da g e r a ç ã o de 3 0 , sões DO de intelectual o que o b s e r v a m o s significações individual, política palavras, seu país. dimen_ e a social, expressão Conseguiu abrir aplicada à consciência na sua c a p a c i d a d e de suscetíveis de c i m e n t a r uma posi_ comuni_ experi_ mas c o l e t i v a . CANÇÃO DO EXfLIO Murilo Mendes Minha onde Os são terra tem m a c i e i r a s cantam g a t u r a m o s poetas da m i n h a pretos que da Califórnia de V e n e z a . terra vivem em torres de a m e t i s t a , os sargentos do e x é r c i t o são m o n i s t a s , os filósofos A gente não são p o l a c o s v e n d e n d o a pode sururus em f a m í l i a Eu morro sufocado prestações. dormir com os o r a d o r e s e os Os cubistas, pernilongos. têm por testemunha a Gioconda. .51 em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas Nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! O exílio de Murilo Mendes é um exílio simbólico, pois o poeta fala de dentro da terra natal. Sua intenção é a mostrar a opressão que pessoalmente sofre pela estrangeira. invasão de cultural Podemos perceber esta denúncia nas duas primeiras estrofes, em que vemos sucederem-se, em uma espécie de multiplj_ cação do real, uma série de elementos insólitos. No verso 1 o poeta diz "minha terra tem da Califórnia", macieiras rompendo com a imagem-símbolo de exaltação da flora brasileira, que é a palmeira de Gonçalves Dias, e nos apre sentando a macieira como o símbolo da invasão cultural norte-arne_ ricana. Na macieira (palmeira) não cantam mais, naturalmente, sabiás e sim gaturamos (pássaros mu1ticoloridos) , e de Veneza!: "Onde cantam gaturamos de Veneza". Nos quatro versos seguintes, o poeta uma total apresenta inversão de papéis ao dizer que "os sargentos do cito são monistas, cubitas", enfim, se preocupam com as exér_ idéias e a filosofia, enquanto que, por sua vez, os "filósofos são pola_ cos vendendo a prestações". Sua denúncia torna-se mais ferina ainda nos versos posteriores, culminando com a idéia de que até os "sururus em família", esses atos que íntimos entre pessoas .52 co-habitam, "têm por testemunha a Gioconda", um quadro c1ássi_ co estrangeiro, desvinculado de nossa realidade, mas a ela incor_ porado pela numerosa colônia italiana que habita nosso país. A confissio explícita de sua angústia de vem em seguida, quando diz que morre " ... cidadão Sufocado/em terra es_ trangeira", ou seja, essa influência estrangeira é tio va que sufoca o poeta em sua própria terra opressi_ (caracterizando o os versos da Canção de exí1io). Retomando mais de perto Gonçalves Dias, Murilo Mendes concorda que "nossas flores são mais bonitas/nossas frutas mais gostosas " " m a s " - e este mas é o gancho final da crítica à situação política, econômica e cultu_ ra1 da terra natal - " ... custam cem mil réis a dúzia". A validade deste (conforme classificamos anterior_ mente) poema-paródia, está na relação que se estabelece entre o ato poético e estético e os demais atos humanos, em suas cau_ sas e conseqüências políticas, sociais e culturais. Se procura_ mos entender a prática da arte - em especial, aqui, da literatu_ ra - devemos tomá-la por aquilo que ela ê, enraizada na trama da experiência coletiva, onde o indivíduo que assume procura, tal_ vez, razões e justificativas, mas onde tem que, no fim das con_ tas, enfrentar sua atividade específica, cujas implicações e relações intrínsecas e extrínsecas configuram o signo poético. 2.1.3. "UMA CANÇÃO", DE MÁRIO QUINTANA Defrontamo-nos aqui com uma perspectiva de exílio. A distância físico-geográfica que permeia a diferente "Canção" .53 de Gonçalves Dias transforma-se, dando lugar a um outro tipo de espaço: o do interior do poeta. UNA CANÇÃO Minha terra não tem palmeiras ... E em vez de um mero sabiá, Cantam aves invisíveis Nas palmeiras que não hâ. Minha terra tem relógios, Cada qual com sua hora Nos mais diversos instantes ... Mas onde o instante de agora ? Mas onde a palavra "onde" ? Terra ingrata, ingrato filho, Sob os céus da minha terra Eu canto a Cançio do Exí1io ! Os dois primeiros versos do poema de Mário negam os dois símbolos de valor fundamental Dias, a palmeira e o sabiá. /E em vez de um mero sabiá Quintana do poema deGonçalves ("Minha terra não tem palmeiras ... . . . " ) . O poeta cai, em seguida, confuso estado de irrealidade, com uma referencia onírica "aves invisíveis" que cantam "nas palmeiras que não há". meiro questionamento que nos vem é: a que terra num a O Pri_ o poeta, então, quis se referir nesta primeira estrofe ? A resposta vem, de diato, na segunda estrofe, refletindo uma grande angústia ime_ exis_ .54 tencial: terra "minha está terra no tem tempo e relógios". 0 e l e m e n t o de valor não no e s p a ç o , como no poema desta romântico. 0, poeta c o n s t a t a a d i v e r s i d a d e de tempos de p o s s i b i l i d a d e s , sua busca c o n c e n t r a - s e num tempo que não c o n s e g u e p e r c e b e r : mento presente "Mas o n d e o última estrofe dade a palavra interpretativa: instante de agora ?" . terra o espaço interior te, expõe a natal: i n a d a p t a ç ã o do autor à r e a l i d a d e : . s a t i s f a ç ã o de vida como filho, dade: "ingrato filho" revolta, não está do "terra ingrata" pela fora de ele não sabe buscar uma possível felici_ . pois, sua terra natal "Sob os céus de minha consegue que não "Sob os /Eu céus canto a dilacerado, refletir não angús_ Canção do a so) terra/ Exílio! ideológica a sua terra e , vivência deste poema encontra-se importância p o é t i c a , no entan_ sobre o último v e r s o onde o p o e t a , renega a único ponto de a p o i o : tal terra" sim, uma Ele harmonizar-se. da minha importância imperceptível, cabe-nos de s i t u a ç ã o de crise em que vive o p o e t a . interior caótica pro_ mas um homem a t o r m e n t a d o por A pala_ , lidão e o a f a s t a m e n t o de to, e/ ingrata, "Mas onde a portanto o seu p r o b l e m a não é o e x í l i o g e o g r á f i c o e, quase que poeta "Terra 0 s e n t i m e n t o que fecha o poema é, tia e possibili_ Existe a c o n s c i ê n c i a de que a terra não lhe porciona a e s p e r a d a também, terra e . A n t e c e d e o verso a n a l i s a d o a q u e l e q u e , c l a r a m e n _ vra " o n d e " ?" que, a de v i v ê n c i a o mo_ terceira a p r e s e n t a - s e com dupla /ou o próprio chão em que v i v e , ingrato f i l h o " Na mas resgata, no p r e s e n t e , a c e r t i d ã o de n a s c i m e n t o desta o terra, mesmo seu na .55 referência ã " C a n ç ã o do E x í l i o " tudo, ainda a própria sua canta este v e r s o lirismo a c e n t u a d o , estados d ' a l m a , ora prosaica e a são c a r a c t e r í s t i c a s soube aliar e s t a s tendências apesar c o n o t a ç ã o positiva Não é um poeta realidade c i r c u n d a n t e . É busca da obra de ...) social, interessante, Gonçalves Dias a carga social vararam do s é c u l o XIX ao século XX. co como ponto de a p o i o e servindo-se Mário Quintana d á - l h e uma m a n d o , ou m e l h o r , nova de M á r i o Q u i n t a n a , e acrescentando a a uma poética de p r e o c u p a ç õ e s c o m o molde e b a s e , toda dos ora de p r o f u n d o q u e s t i o n a m e n _ resgatado j u s t a m e n t e , e da c o m p r e e n s ã o neo-simbolistas ligada ao c o t i d i a n o , to e x i s t e n c i a l . com a tem uma 0 poeta, Canção. 0 que (e romântica. portanto, que tenha a " C a n ç ã o do E x í l i o " de implícita Embora de urgentes em símbolos tendo o seus inquietante poema elementos que românti_ básicos, conotação, transfor idéia de que o e x í l i o físico- geográfico pode ser d o l o r o s o , mas o e x í l i o " i n t e r i o r " é o trági_ co, fecham, pois, para totalmente, na ele, sua do em sua p r ó p r i a não há saída - as possibilidades i n c a p a c i d a d e de c o m p r e e n d e r e terra natal. ser se compreendi_ .56 2.2.CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E A "NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO No universo em que estamos inseridos, os questio_ namentos existenciais situam-se entre a razão concreta do diano vivido e o espaço mental das angústias coti_ e sentimentos per_ turbadores de uma lógica que, por si só, nunca resistiu ao do sensível criado pelos poetas. Carlos Drummond do como O mun_ de Andrade, por muitos consider£ poeta maior, pela riqueza de sua expressio e sua temática, abriu caminhos na conquista das formas, de inovad£ ras e renovadoras da linguagem poética, logo apôs a chamada "fa_ se heróica", ou primeira fase do Modernismo. Drummond lírico, social, prosaico, em busca de uma linguagem que melhor expresse seu "sentimento do mundo"; Drummond poeta público, político põe em evidência, na sua "Nova do Exílio" Canção a condiçio torturada do homem/cidadão, afastado espaço e no tempo (está aí o aspecto renovador do no texto-matriz de Gonçalves D i a s ) , de sua terra natal. Em seu poema o longe é um ser, uma grandeza que existe por si mesma: " ... V o l t a r / P a r a onde é tudo belo/E fantástico/A Palmeira/O Sabiá/O Longe". .57 NOVA Um CANÇÃO EXÍLIO sabiá Na p a l m e i r a , Estas aves Um o u t r o 0 DO céu longe. cantam canto. cintila Sobre flores Vozes na úmidas. mata, E o maior amor. Onde E é tudo belo fantástico, S ó , na n o i t e , Seria feliz. (Um sabiá. (Um sabiá, Na p a l m e i r a , l o n g e . ) Ainda um g r i t o de vida e Voltar Para onde é tudo belo E fantástico: A palmeira, o sabiá, Olonge. A partir à Canção de Gonçalves do t í t u l o de Dias. seu Distantes um poema Drummond século no nos tempo remete real, .58 os dois poetas se aproximam através do símbolos que compõem os dois textos. Produzida também em 5 estrofes, a "Nova Cançio do Exílio" difere, formalmente, da original, pelo ritmo, devido a metrificação diversa. Os elementos "sabiá", "palmeira" e o "eu" reapare_ cem também como símbolos do poeta criador, do espaço da terra natal e da conseqüente relação que se estabelece entre o poeta e suas recordações. A palavra (advérbio) ampliando o conceito espacial. longe substitui o lá, Este advérbio remeteria também ao aspecto temporal, às recordações de passado do poeta. Drummond mantêm as referências concretas ao belo de seu "longe", "céu", "flores", "mata", "amor". Há aí uma mudan_ ça de tom: enquanto Gonçalves Dias exalta os "primores" da terra natal, Carlos Drummond de Andrade apenas os constata, em descriçio sóbria, porém não menos lírica do que a do poeta romântico. "Só, na noite/seria feliz:" - vemos nestes versos a manutenção estado emocional do poeta, em relação ao eu "lírico" de do "Canção do Exílio", ampliado pela sugestão de que há felicidade, sim, na própria lembrança de um passado, ou de uma terra distante, resu_ midos nos três elementos básicos: "Sabiá", "Palmeira" e "Longe". A quarta estrofe ê a reafirmação da anterior, como ocorre "Cartão" de Gonçalves Dias na referência à capacidade de na irnagi_ nação e sonho do poeta - "Onde é tudo belo/e fantástico" (vd. a mesma idéia, nos versos do poema romântico: "Em cismar sozinho ã noite/mais prazer ..."). Drummond conclui seu poema com a idéia de esperança, transcrita no 1º verso da 5a estrofe: "Ainda um grito de vida e .59 voltar" (vd. em G o n ç a l v e s /Sem que eu v o l t e para lembrados de forma Dias: lá"). "Não permita Deus que eu morra/ V o l t a r para um tempo e um e s p a ç o re_ idealizada, devido à distância dos quais são símbolos a mesma " p a l m e i r a " e o m e s m o " s a b i á " da " C a n ç i o do Exí_ lio" do poeta 1ite_ ratura que genuinamente Os posta de leitura da seria texto textos primeiro contribuiu trabalhos plural estrutura portanto, código sêmico, ou dução do signo que se Essa análise mas de de c o n o t a ç ã o , referência. Para entre r e v e l a ç ã o da signos gera natal. A releitura seia-se no a p r o v e i t a m e n t o dos novos m a t i z e s , do que os lio" uma d i f e r e n c i a ç ã o em esta a temporal, significante e que não e s g o t a , haja pro significa no entanto, pois a relação signifì_ signos. Oswald lírico em pelo p r i m e i r o ba_ antes a eles a c r e s c e n t a n d o O c o r r e na "Nova C a n ç ã o do Exí_ relação original, t r a i ç ã o ou do simbólico que dinamiza a proposta signos, rompendo. Conside_ c o n t r a r i a m e n t e a um de que ao e x í l i o espacial sem que móvel a utilização não a p r e s e n t a um d i s t a n c i a m e n t o do " e u " relação à terra pretende Barthes é no ato de um v a l o r , Como v i m o s , Drummond , idéia não o código significação), Ca_ se cruzam o u t r o s textual em nossa a n á l i s e , total pro no " t e x t o " . onde d a n d o - l h e m o b i l i d a d e no c o n j u n t o dos de A n d r a d e , oferecem uma descobrir o processo localiza a s i g n i f i c a ç ã o , do signo com o u t r o s uma na a b e r t u r a de sua s i g n i f i c i n c i a . significados (= Barthes significância, da o b r a , (associação o ato s e m â n t i c o cação, Roland de s e n t i d o d e s v e l a d o , pertinente, e o código cultural do) de um e s p a ç o de de sua e s t r u t u r a ç ã o , ramos, c r i a ç ã o de nacional. (intertextua1idade). descrever a para a acrescentando-se pode j u n t a r - s e o n e g a ç ã o dos valores a exílio nacionais .60 (a palmeira e o s a b i á ) . Romano de Sant'Anna rias, os 1 C a r a c t e r í z a r - s e - i a , a s s i m , o que d e n o m i n o u de sobre o c o n c e i t o , jogos estabelecidos maiores ou m e n o r e s em nas relações sentido. teo Considerando que slo estilizaçio (e m e s m o d e s e j á v e l ! ) ; sem sem modificar inverter-lhe ou s e j a , o essencial da ela reagrupa os ra o d i s c u r s o p o é t i c o , plano da e x p r e s s ã o , a r t i c u l a d o com o pois real no vale por forma, p o d e m o s dizer que uma inovação que o ou subverter-lhe pressupostos seus c o n t o r n o s , lidade (o valor de u s o ) , estrutu_ não pode se reduzir-se Eles A diferença o sig_ entreo p r e c i s a m e n t e , no transforma a real, já do d i s c u r s o p o é t i c o , símbolos que função de mera que, Dias ní_ uti dito na e significação de em sua a r t i c u l a ç ã o c o n q u i s t a r a m um remetem à brasil idade e ao falam do que não foi espaço conteúdo t e ó r i c o s de B a r t h e s , transcenderam a elementos c o n c r e t o s de um m u n d o como ao em s i g n i f i c a ç ã o . de A n d r a d e signos es_ na qual As " p a l m e i r a s " e " s a b i á s " de G o n ç a l v e s com os outros o formais, suas v i z i n h a n ç a s . da s u b s t â n c i a : é a s o c i e d a d e que Carlos Drummond tex elementos i n c l u i , i n d i s s o e i a v e l m e n t e , um signo lingüístico e o s e m i o l ó g i c o e s t a r i a , ticular forma histórico. Segundo os lismo. aparte estrutura. Em relação a esta mesma mítico, desvios E n q u a n t o a paródia d e f o r m a , a p a r á f r a s e c o n f o r m a , a ti1ização r e f o r m a , vel a proporia o m á x i m o de admitir partir das intertextuais relação ao o r i g i n a l , de desvio em que o autor poderia (a de T y n i a n o v e Bakthin). ceria como um d e s v i o tolerável to original esti1ização Afonso História, campo naciona em seu conotativo. _________________________ 1. SANTANNA. P a r ó d i a , P a r á f r a s e e C i a . São Paulo, Ática, 1985. par "Mexi povo e meu poema crescem juntos como cresce no fruto a árvore nova Ao povo seu poema aqui devolvo menos como quem canta do que planta". Ferreira Gullar CAPÍTULO III O EXÍLIO NA POESIA CRÍTICO-IRÔNICA .63 3.1. "A CANÇÃO DO EXÍLIO" DE DALTON TREVISAN A "Canção de Exílio" de Dalton Trevisan foi publi_ cada, pela primeira vez, no dia 05 de agosto de 1984, no suple_ mento "Cultura" do jornal O Estado de São Paulo. Seu efeito curioso: os vários personagens citados pelo autor neste crônica tiveram as reações mais poema- inusitadas. Um chegou a que nunca tinha ouvido falar em Dalton; outro ficou foi dizer furioso, e outro ainda sentiu-se honrado, causando, assim, o texto diver sas interpretações e reações. Mas Dalton Trevisan é mesmo polêmico, do Vampiro de Curitiba a Desastres do Amor , passando pelo Cemitério de E1e_ fantes, seus textos trabalham a crise de valores por dentro, sem injetar-lhe nenhum tipo de solução. A técnica empregada pelo tor é a de mitificar a pequena burguesia curitibana, au_ criando estereótipos comportamentais. Toda sua obra surge como uma refle_ xão sobre o senso comum, entendido como ideologia em seus ní_ veis mais baixos, como acurou1ação de conhecimentos populares e das maneiras de ocupar-se da vida cotidiana. Devido, justamente, aos traços caricaturais de sua escritura, opera-se o to ideológico do mito na sua criação primitiva em esvaziamen_ Gonçalves Dias, como veremos na análise de sua "Canção do Exílio", com Sabiá. o .64 Um dos p o n t o s i m p o r t a n t e s a q u e s t i o n a r na o b r a D a l t o n T r e v i s a n é se sua v i s ã o g r o t e s c a , sua s á t i r a , ã p a r ó d i a e s t ã o l i g a d o s a uma d e n ú n c i a do n e g a t i v o , quer introduzir o riso, debochado a p a r ê n c i a de uma c u l t u r a o f i c i a l e subversivo, séria visam a retratar a Os ou se ele paralelamente à podemos dizer de simples e objetiva, s e por uma o b s e s s ã o d o e s s e n c i a l . apelo e pudica. Quanto ao estilo do a u t o r , g o s t o pela c o m u n i c a ç ã o c l a r a , seu painéis de seu notabilizando- tipos que compõe s i t u a ç ã o da c l a s s e m é d i a b a i x a q u e p o v o a p e r i f e r i a dos g r a n d e s c e n t r o s u r b a n o s . Ele s e u t i l i z a d o te " K i t s c h " em que a g e m os p e r s o n a g e n s , lo e x t r e m a m e n t e m o r d a z , para, irônico e c o n c i s o , Neste caso, a ambien_ a t r a v é s de um esta_ retratar a sub-vida d e p r i m e n t e e g r o t e s c a em q u e v i v e g r a n d e p a r t e da s o c i e d a d e si lei ra. de o K i t s c h a p a r e c e c o m o um e l e m e n t o bra_ poderoso de r e f l e x ã o s o b r e um m o d o e s t é t i c o da v i d a c o t i d i a n a de uma comu_ nidade, da, c o n t r i b u i n d o para r e t r a t a r uma c o m o p o d e m o s o b s e r v a r nos v e r s o s a psicologia social profun seguir: "Tudo faça para não morrer Em ú1timo caso Que seja longe de Curitiba Consolo único É a coroa roxa de flores de pano Na eterna saudade da Valquíria". ("Canção do Exílio") Dalton Trevisan pertence ao movimento de total novação que transformou a literatura re latino-americana em uma das mais experimentais da atualidade. Seu gênio encontra-se na habi_ .65 lidade de e s c o l h e r e destacar um m o m e n t o , timento e p r o j e t a r a r t i s t i c a m e n t e esse m i c r o c o s m o Escritor participou lismo, da de características renovação do que e s t a r i a do qual uma s i t u a ç ã o , R e a l i s m o ou fundamentado de um sen_ vida. pós-modernas, C o n s t i t u i ç ã o do num novo m o v i m e n t o Trevisan hiperrea_ descritivo não resulta uma v i s ã o de c o n j u n t o , mas de f r a g m e n t o s . ta tendência possibilitou a f o r m a ç ã o de um novo r e a l i s m o , marca_ do pela d e p u r a ç ã o e por um novo p o s i c i o n a m e n t o de c o m p o s i ç ã o t e r á r i a , d i a n t e do li_ referencial. " N ã o permita Deus Sem que daqui que eu morra me vá Sem que diga adeus ao pinheiro Onde já não canta o S a b i á " A b r i n d o seu p o e m a - c r ô n i c a , " C a n ç ã o do E x í l i o " , mos o último v e r s o da Gonçalves Dias. última e s t r o f e da toda a Brasil, sua c o m p o s i ç ã o . "Morrer ó supremo Em Curitiba aparece no p o e m a . rando este de lhe servirá de referência du_ típica do Sul do terra em que vive o poeta. é que não d á " . que, e s p a ç o vem a c o m p a n h a d a pela Contrariamente a exalta a terra n a t a l , m a s , Exílio" desfrute i d e n t i f i c a ç ã o do v o c á b u l o de n e g a ç ã o n ã o , ve_ pelo " p i n h e i r o " Trevisan Pinheiro é árvore em p a r t i c u l a r do P a r a n á , A " C a n ç ã o do Substituindo a "palmeira" começa a p a r t i c u 1 a r i z a r o e s p a ç o que rante Es_ segunda vez em seis Gonçalves pelo c o n t r á r i o , s e n t i m e n t o em v á r i o s outros Dias, o poeta até a versos renega, posteriores: pelo vezes, não reite_ .66 "Castigo Morrer Não permita Mais ser bem por sua (referência ao v e r e a d o r Xaxufa os "Nem cidade, a lá". a que morte Rafael Greca versinhos pensar no Ó Santo Sem contar Oficiada Nessa deCuritiba sutileza e seriedade. séria te muda de medi£ em nome da Macedo, bem viu o que rua" que a p a r e c e como fizeram/O Rafa e ..."). imaginou não a o Wanderlei sessão pelo hora ogeriza necrológio já Deus sua tornariam a vida não é g a i a t o já 0 Wanderlei Na daqui relaciona "Com o p o e t i n h a gorgeando Curitiba não dá falta de s e n s i b i l i d a d e , Um v e r e a d o r o em e n c o n t r o eu Trevisan "Em C u r i t i b a " R a f a " no p o e m a : que longe p e r s o n a g e n s c o n h e c i d o s da crizada, viver Deus prazeres Dalton é em C u r i t i b a A não a bastante pública grão-mestre você desiste p a s s a g e m em que se dos onze positivistas Davi da própria m o r t e " . refere ao cineasta Silvio Back: "Em Curitiba 0 Silvio Melhor Ora é iria não ter que filmar tradições contra os 1ugares-comuns e a tua vida vivido" d e n o m i n a n d o os rência ãs não dá curitibanas, personagens, Trevisan é hipocrisia. ora fazendo sempre um refe crítico .67 "Tudo faça para não morrer Em ú1timo caso Que seja longe de Curitiba Não avise mulher nem filho Nada de orador a beira do túmulo Já imaginou o presidente da OAB pipilando o verso Os trezentos milhões da Academia Paranaense Arrastando-se de maca bengala cadeira de roda". "Ah ser morto o mais longe da dona Mercedes Bem lacrada a tampa do teu caixão A juriti não há de chorar lágrimas fingidas" "Fuja da missa de sétimo dia Turno menos a famosa missa do sétimo dia Cantada em falsete pelo Dom Fedalto" A sociedade de Curitiba é retratada como superfíci_ al e medíocre em seu estilo de vida. 0 poeta não faz concessões, privilegiando os componentes sarcásticos, patéticos e desta sociedade. grotescos Dalton Trevisan nos descreve comportamentos que não lhe cabem, daí abrindo espaço para a crítica-irônica: o so_ ciai se transforma, aí, em elemento estrutural: "Ah nunca morrer em Curitiba Para sofrer até o Juízo Final" "Os Vinholes e o Mazza gorgeando os primores Que tais não encontro eu cá" Estas referências continuam como fortes justificativas para o seu desgosto pe_ Ia terra natal, particularizada em Curitiba.Outras referências importantes no .68 poema retratam a exploração da natureza e os d e s a s t r e s da r e g i ã o , tomando como s í m b o l o s da g a n h a n d o a cor local "Na 0 terra natal o como p i n h e i r o ) minha sabiá Perdeu terra não as já penas De sangue e Ao último tem (Jeová), mais enterrou no tingiu a água peito o bico a f i a d o sulfurosa pouco e difícil Em s e g u i d a , de no m o m e n t o da m o r t e , velório configurando Dias amendoim em sua própria c o m p r e e n d i d o em uma referên_ se c o m p o r t a r á a lá e s t a r ã o os algodão-doce Exilado Reitoria carrinhos fatia" vezes poeta terra n a t a l , " C a n ç ã o do em Dalton romântico. por Exílio" Trevisan, E n q u a n t o es_ o o u t r o sente-se sociedade e s t r e i t a sob p a r â m e t r o s c o r r u p t o s , em 0 v e r s o da ao do da pipoca melancia três socieda_ símbolos c r i s t ã o s : porta frita pátria. estar guerra" salão nobre retomado por longe da de no um a p e l o o p o s t o te se encontra mas é jeová será " N ã o permita D e u s " . Gonçalves uma de e n t e n d e r d e s s a c r a 1 i z a n d o os Batatinha de inclui subiimes: d e s c r e v e como Rondando a De rio Belém imputando também aos céus a culpa de A m a l d i ç ã o do velho "Teu do pinheiro". em um tempo e e s p a ç o tão "Dura (aqui pinheiro A revolta do poeta c r e s c e e ele cia a Deus palmeira de G o n ç a l v e s D i a s . não canta sabiá e a re_ exilado, sentir-se ameaçado e de a r t i f i c i a i s e, horizontes, o pior, não vivendo completamente .69 a l i e n a d a em relação ao que a c e r c a : sia, a falta de seriedade e de Cabe aqui citar 1ivro O Natal um e x t r a t o da ças de nomes e de sistema interessante publicada ajudou, regimes. incrível ano de 1986, c o m p a c t u o u com todas as Ele p o u c o se importou, no mais amplo de sentido da palavra ou se importa sistema, fala ao reflexão, ao s a c r i f í c i o d e s a 1 i e n a n t e , relações sociais qualquer destas vinculado e a inconseqüente seriam gico de d i s s o c i a ç ã o da sistema, de v i d a . não Em v i r t u d e d i s t o , As por este pessoas de vê-se e n c u r r a l a d o por povo obrigue à um status inteligência e a as psicoló porque cum a q u e l e que quo que integridade esti_ próprias mecanismo existem, tiona a que deste a c o n t e s t a ç ã o de seu influenciadas realidade. desde Na dialética m i s s ã o de c o - e x i s t i r , sensibilidade, preservação pessoas, prem p a p é i s . a vida de respeito m ú t u o " . Dalton T r e v i s a n lo fácil (...) lhe (até na ques_ dilace hora d a morte . . . ) : "Se a Bem A o mudan_ 0 que ele não deseja é a m u d a n ç a de m e n t a l i d a d e , um código é t i c o , ra a crôni_ Sem V o c ê : povo b r a s i l e i r o t o l e r o u , isso. hipocri_ Eduardo Cyntrão 1 , de "Porque até chegar a e s s e com a sinceridade. ca "0 Riso Solto do B r a s i l e i r o " , no a mediocridade, gente longe de repórter Que você Tem rosto não m o r r e surdina Curitiba Margarita foi em anuncia enterrado no jornal das vivo irreconhecível Porémcolorido Aparecerá no próximo capítulo da novela" oito .70 A "Canção do Exílio" de Dalton Trevisan na particu1arização do espaço, o "Canto de Regresso lembra, à Pátria", em que Oswaid de Andrade quer "voltar para a rua 15, e o progres_ so de São Paulo". A movimentação dos poetas, no entanto, é inver_ sa; enquanto Oswaid quer voltar para São Paulo, Trevisan pede Deus para que não o deixe morrer sem antes sair de Curitiba. qualquer forma, os dois textos podem ser considerados como dias da Canção de Gonçalves Dias. Paródia, no que a o conjunto ideológico da canção-matriz, ficando esta De paró_ entendemos, como uma relação transgressiva com a literatura. As alusões Dalton Trevisan a alguns símbolos de nacionalidade a de introduzem virtualmen_ te presente, a partir das referências aos símbolos e mitos permita Deus que eu morra/Sem que daqui me và/Nunca mais (Não aviste os pinheiros/Onde já não canta o sabiá). No entanto, é clara nes tes versos a dessacralização da consagrada significação românti_ ca dos símbolos, configurando a relação transgressiva de que fa_ Íamos anteriormente. Ao contrário de Oswaid de Andrade e Murilo Mendes, em Dalton Trevisan não mais permanece o caráter nacionalista bairrista), mesmo que dentro de uma perspectiva crítica. A (ou "Can_ ção do Exílio" de Trevisan apresenta um dilaceramento definitivo entre o sujeito e a terra, representada aqui pela cidade de Curi tiba. O verso que sintetiza toda a amargura e raiva do poeta ê, propôsitalmente, escrito em uma rude linguagem ofensiva: "Agora vem o Emiliano Que é doce morrer em Curitiba Para tua Curitiba merdosa isto aqui ó babaca" .71 Apesar de reiterado como símbolo da brasilidade, o Sabiá não consegue ser resgatado, pois, segundo o poeta, ele nio canta mais. Ele quem? Como sabemos, na Canção de já Gonçalves Dias sabiá era também metáfora para o próprio poeta. Aqui também essa dubiedade poderia ser apontada: o poeta-cantor não encontra a sua volta mais nenhum estímulo para compor, ou seja, cantar. Dalton Trevisan, como vimos, compõe seu texto gado às circunstâncias do espaço que descreve, às des que o caracterizam. No entanto, os elementos da li_ peculiarida_ composição transcendem a sua tipicidade e Curitiba passa a ser qualquer dade, ou espaço em que habitam e ajam pessoas como as por cí_ ele descritas. No entanto, estes elementos são repetitivos, ou recor_ rentes, em toda a sua obra. Suas histórias não são universos fe_ chados; Trevisan usa a literatura para mostrar o homem a ele pró_ prío, através de diferentes planos. E são estes planos que refletem que o colocam como um escritor neo-realista . Os se "cli_ chis" de Dalton Trevisan ampliam o real que, belo ou grotesco, seus textos querem retratar. .72 3.2. A "OUTRA CANÇÃO DO EXÍLIO" DE EDUARDO ALVES DA COSTA Como poeta contemporâneo, resolve repensar o Brasil Eduardo Alves da Costa em uma "Outra Canção do Exílio". tra , por apresentar uma visão diferente do país tão exaltado ou_ pe_ lo poeta romântico. Questão de momento, de situação histórica e social, de posicionamento ideológico, a intenção é clara: mostrar a sua amargura e revolta do ser que se sente exilado em sua própria pá_ tria. O alvo é o poder político, a atuação repressiva e opresso- ra dos que regem as vidas dos cidadãos comuns. "Minha terra tem primores Requintes 'de boçalidade Que fazem da mocidade Um delírio amordaçado". A palavra amordaçado remete a outra palavra do início do poema, açoite, também esta símbolo da repressão vivida em várias épocas: "As aves que aqui revoam São corvos do nunca mais, A povoar nossa noite Com duros olhos de açoite Que os anos esquecem jamais" .73 Este to de forma o poeta faz sentimento sombrio em d e s c o n c e r t a n t e no um j o g o de início da palavras relação ao primeira bem h u m o r a d o , país é expos_ estrofe, dessacralizando palmeíra de G o n ç a l v e s D i a s . A p r o v e i t a o s i g n i f i c a n t e , bue outro significado e em seguida faz a (Palmeiras, terra Corínthians Que copas Alan Poe, (em tem de atri_ Sio Paulo) Palmeiras, e outros times exuberantes o c u l t a m muitos Os c r i m e s , nunca m a i s " futebol lhe a denúncia: "Minha De time de pois crimes" por sua v e z , ligam-se aos " c o r v o s r e f e r ê n c i a às aves a g o u r e n t a s s í m b o l o s do irreversível e da total E s t r u t u r a d a em sete e s t r o f e s , trica do poema de G o n ç a l v e s Dias (os versos do c o n t o de do Edgar desesperança). o poeta repete a mé_ são h e p t a s s í l a b o s ) . Cada estrofe é e s t r u t u r a d a a partir de um v e r s o r e t o m a d o da can_ ção-matriz: 1a estrofe, 2a estrofe, "Minha terra "Em c i s m a r tem palmeiras" sozinho, ao (significado relento" (situaçio do 3a estrofe, "Minha 5a estrofe, "A chorar terra recriado) externa poeta) tem p r i m o r e s " sozinho, aflito" (situação interna do poeta) 6a estrofe, "Minha terra tem palmeiras" (primeiro mantido) 7a estrofe, "Não permita Deus que e u m o r r a " significado .74 Também Eduardo Alves da Costa, assim como poetas modernistas, particularizou o espaço em que se outros encontra: é Brasil, mas é, sobretudo, São Paulo (percebemos pelas imagens citadas, do cotidiano - os times de futebol e a poluiçio: "Em cismar sozinho, ao relento/sob um céu poluído, sem estrelas"). O poeta faz referência a seu lugar de exílio nhum prazer tenho eu cá_" , e este lugar é o tempo presente, se percebe no verso seguinte "porque me lembro do tempo neste tempo passado que o poeta diz ter tido o que não tem "Ne_ como ..." É no presente: a liberdade. "Porque me lembro do tempo Em que livre na campina Pulsava meu coração, voava, Como livre sabiá; ciscando Nas capoeiras, cantando Nos matagais, onde hoje a morte Tem mais flores, nossa vida Mais temores, noturnos, De mil suores fatais". A oral idade esta presente no poema, na constatação da corrupção que prejudica os cidadãos. "Equilibrado no risível sonho de grandeza que se esgarça e rompe roído pelo matreiro cupim da safadeza". Apesar de ser uma profunda crítica ã realidade bra sileira, o texto não nega totalmente as belezas da terra natal. .75 "Minha terra tem encantos De recantos naturais Praias de areias monazíticas Subsolos minerais Que se vão e não voltam mais" Vemos aí uma clara denúncia contra a dos recursos naturais brasileiros dilapidação pelos países estrangeiros. Assim como Dalton Trevisan, que, ao denunciar, to_ ma para si a posição de não compactuante, Eduardo Alves da Costa, na 5a estrofe, confessa seu sofrimento e sua consciência diante da realidade que o cerca: "A chorar sozinho, aflito, Penso, medito e reflito, Sem encontrar solução; A não ser voar para dentro, Voltar as costas à miséria, A doença e ao sofrimento, Que transcendem o quanto possam 0 pensamento conceber E a consciência suportar". A solução proposta pelo poeta não será certamente por ele adotada, não sofrer". pois é o "alienar-se é um estrofe, ato de engajamento portanto, de um e não de alienação. O recurso que nos idéia inversa: suportar, por mais que doam o coração e a ência. para Escrever já é um ato político; retratar realidades, analisando-as, poeta usa na ("voar para dentro") remete à consci .76 É de cial é um ser Gullar 2 Ferreira político, no a idéia de que s e n t i d o de política do homem na s o c i e d a d e da qual participa. inevitável, pois c o n v i v e r é viver em c o n j u n t o , ê n c i a s , é só poder c o n s t r u i r a v i d a , bém, palmeiras") palmeira, nao é 6a estrofe, atuação seria trocar experi_ é tendo como r e f e r e n c i a l , tam_ tem retoma o s í m b o l o da " C a n ç ã o " de G o n ç a l v e s D i a s , a á r v o r e nativa intenção do poeta "que Na mesma forma Extrema uma u s a n d o como figura de com d e s c a s o para sétima rilhar Dias, 1ín_ indiferen_ próprios síim filhos, dentes". e última e s t r o f e , o poeta a inicia com o v e r s o " n ã o permita da Deus "pelo crime de estar aten_ s i t u a ç ã o chegou ao ponto de ser criminoso con realidade o p r e s s i v a . idéia de e s p e r a n ç a com os os a c r e s c e n t a n d o ao a p e l o , a positivo ou s e j a , as c o n h e c i d a s p a l m e i r a s , abertos/a ironia; como E d u a r d o as põe "a b a l o i ç a r , que G o n ç a l v e s que eu m o r r a " , ("Minha Mas o c o n t e x t o ê m o d i f i c a d o ; Ao c o n t r á r i o , "agem" sonham de olhos primeiro verso r e f e r i r - s e às p a l m e i r a s tes/aos poetas e d e m e n t e s " , bolos de B r a s i l , o brasileira. guagem a p e r s o n i f i c a ç ã o , no f u t u r o , o presente não s a t i s f a z : los E esta atuação terra s í m b o l o de b r a s i l i d a d e . tra como a so_ outras v i d a s . Na to". todo ser já No e n t a n t o , há na estrofe a que o passado não existe mais "E possa chegar à v e l h i c e / c o m os e cabe_ ao v e n t o / d e m e l h o r m o m e n t o " . O Sabiá, alegria e da deseja como liberdade ê o poeta: s í m b o l o dos r e s g a t a d o para valores este nacionais, futuro de luz da que .77 "Que eu d e s f r u t e Do canto do Onde Que poral: pressora; a liberdade não e n c o n t r o por há v á r i a s Eduardo A l v e s o homem o p r i m i d o , primores Sabiá gorgeia Como v i m o s , ciar o e x í l i o . os da cá". formas do ser h u m a n o nos m o s t r o u o e x í l i o tern v i v e n d o uma s i t u a ç i o p o l i t i c a m e n t e re_ o cidadão exilado, Costa viven_ preso a b s u r d a m e n t e , em seu próprio país . Ainda e Eduardo A l v e s na linha crítico-irônica de Dalton temos o i n t e r e s s a n t e p o e m a , do poeta Trevisan contemporâ_ neo A n t ô n i o Carlos de Brito 3 : "Minha Onde terra canta tem o palmeiras tico-tico Enquantoissoosabiá V i v e c o m e n d o o meu Ficou moderno Ficou moderno o milagre A água já ácida a Brasil não vira vinho Vira direto vinagre" Neste poema podemos A primeira referência a uma modinha p o p u l a r , tulo da perceber a situaçio política b r a s i l e i r a , cassado da década de 7 0 . a o fubá crítica mordaz ao " m i l a g r e e c o n ô m i c o " estrofe é lúdica; fra apresenta o " T i c o - t i c o no f u b á " . referida modinha ê d e c o m p o s t o e o t i c o - t i c o passa a tar nas c é l e b r e s p a l m e i r a s de G o n ç a l v e s D i a s , e enquanto o O tí_ can_ sabiá .78 aparece como símbolo, não mais dos valores símbolo da " e s p e r t e z a " de alguns No e n t a n t o , gunda e s t r o f e , para a Caberia, de n a c i o n a l i d a d e das, a crítica c o n c e n t r a n d o na "crise a z e d a " que nesta natureza mesma deve ã nossa Precisamos tir. nas palavra vinagre somos o b r i g a d o s canções razões de criar o Estado,para dos e s c r i t o r e s escreveram para criar como G o n ç a l v e s D i a s , A l e n c a r , Guimarães lhou-se na Rosa e outros. arte uma c r i a r - s e uma identidade presença pressão estêtica a n t e r i o r e s ou literatura tão forte se e considera Isso se passar posteriores de caráter a ao Moder nacional, Oswald de Andrade, nacionalidade No e n t a n t o , exis este espe fortes de sentir indivi t r a n s f o r m a - s e no seu c o n t r á r i o , a ex_ universal. as palmeiras e s a b i á s , do por analisa superá-lo? como um dos meios mais T e m a s como s o l i d ã o , fala é o h o m e m , se M a c h a d o de A s s i s , própria. d u a l , e x p r e s s o em s i g n o s , enfrentar. após a " i n v a s ã o " nação b r a s i l e i r a A v a l o r i z a ç ã o da literária, melhor sob o coloniaiismo e a d e p e n d ê n c i a . a uma a a Se_ "mági_ de e x í l i o já e x p r e s s ã o estética formação histórica, A maioria nismo da como um conseqüências c o n s t a n t e do n a c i o n a l i s m o na literatura brasileira que é da mas irônica c o n c e n t r a - s e na parte do t r a b a l h o , presenciada levantar a q u e s t ã o das terra, brasileiros. em que o poeta a p r e s e n t a as c a s " do " m i l a g r e " , definição da que g a n h a m , amor, assim, nao só o b r a s i l e i r o , liberdade e respeito, morte, emergem por sobre uma nova d i m e n s ã o : quem mas todos os h o m e n s , m a n i f e s t a n d o sua angústia frente as situações que o o p r i m e m e e n v e r g o n h a m . e claman revolta, • 79 3.3- J O S É P A U L O PAES E O EXÍLIO Essência e síntese. ESSENCIAL R e d u ç i o e c o n c i s i o . A p ó s anali_ sar os t e x t o s d e s c r i t i v o s e r e p l e t o s de c r í t i c a s , c a s m o s de um D a l t o n T r e v i s a n , ironias e é no m í n i m o com e s p a n t o que nos de_ p a r a m o s com a " C a n ç ã o de E x í l i o F a c i l i t a d a " do p o e t a , t a m b é m con_ temporâneo, José Paulo Paes. R a p i d a m e n t e , porém, o espanto cial 0 ini_ t r a n s f o r m a - s e em c u r i o s i d a d e e a c u r i o s i d a d e em a d m i r a ç ã o . p o e m a a p r e s e n t a a d e s a g r e g a ç ã o total por sar_ da sintaxe discursiva i s s o , p o d e r - s e - i a e n q u a d r á - l o c o m o u m dos m e l h o r e s e, represen_ t a n t e s , no Brasil,da poesia p ó s - m o d e r n a . O p o e m a a p a r e c e c o m o r e a l i d a d e em s i , n ã o visa a e x p l i c a r n a d a . A e x p l o r a ç ã o do uma sig_ n i f i c a n t e é f e i t a a t r a v é s do som e da e x p r e s s i v i d a d e p r o p o s t a pe_ los s i n a i s g r á f i c o s ( i n t e r r o g a ç ã o , e x c l a m a ç ã o , poeta reaproveita a reticências). rima o x í t o n a do p o e m a - m a t r i z , 0 concentrando sua c a r g a s i g n i f i c a t i v a na o p o s i ç ã o dos a d v é r b i o s c á / l á e das interjeições ah! bah! D e t o d a s a s C a n ç õ e s d e E x í l i o v i s t a s por n ó s , é a ú n i c a que só p o d e ser c o m p r e e n d i d a ferencial t e n d o - s e em a b s o l u t o o re da c a n ç ã o - m a t r i z . CANÇÃO DE EXÍLIO Lá? Ah! esta FACILITADA .80 Sabiá... Papá ... Maná ... Sofá... Sinhá . . . Cá? Bah! Em v e r d a d e , que o leitor poéticos. de fácil tem na leitura, percepção, (aliás, ve remos a título não c o r r e s p o n d e à d i f i c u l d a d e até chegar a É uma c a n ç ã o a p e n a s para os ção e x p l i c a t i v a te o pois a d e c o d i f i c a r os signos i n i c i a d o s , não é um poema linguagem aí nao aparece com uma (apesar de ser m e t a l i n g u í s t i c a ) nem é esta m e s m a a nem é fun recorren_ intençio de José Paulo P a e s ) , como seguir: "Lá? Ah!" O poeta da demonstra ii:terjeição e x c l a m a t i v a ) tempo, vem relembrado. esta contentamento ao falar de Em s e g u i d a , um (percebido lugar através no espaço e relaciona os e l e m e n t o s que no promo lembrança: " Sabiá . . . Papá ... Maná... Sofá ... Sinhá..." E e descontamento na 3a e última com o e s p a ç o estrofe (ou tempo) a d e m o n s t r a ç ã o de em que se enfado encontra: .81 "Cá? Bah!" Como vemos, a " C a n ç i o do Exílio F a c i l i t a d a " ao m i o l o , a t r a v é s de uma revolucionária apresentação formal, conteúdo da Canção de G o n ç a l v e s D i a s . tido e s s e n c i a l , reduz 0 poeta m a n t é m , os símbolos de n a c i o n a l i d a d e , em seu atendendo, Canção de José P a u l o Paes que a censura as artes ta, não p e r m i t i a sob pena de prisão ou e x í l i o : trar em nosso t r a b a l h o , res e x e m p l o s : a terra o poeta em que de um poder É, assim, envolvem sente-se estimulado a seja ele m ú s i c o , em solo lhe pelos pintor, tomaram: a tempo em artis_ tentamos valorizar homens José "Canção do E x í l i o " de G o n ç a l v e s Dias, pátria, domínio podemos obser_ p r o d u z i n d o em l i b e r d a d e de Paes compôs com a p e n a s s i t u a ç õ e s que uma paródia à nove palavras na p r o p o s i ç ã o de um ligente jogo uma comandado (a verdadeira m e t a l i n g u a g e m ) . leitor só o c o r r e a partir da pelos c o n t e x t o s c u l t u r a i s , afetados, de início, lembrar revolucionária sem rede forma linguagem autocentrada perceptual pela e s t r u t u r a Maiakóviski inte_ A decodificaçao deste jogo morais, Em nosso t e m p o , portanto, por deste, estéticos e formal pelo condicionada p o l í t i c o s que são do p o e m a . m a i s do que n u n c a , q u a n d o este diz q u e , revolucionária". fa_ cidadão, e alguns sinais g r á f i c o s de p o n t u a ç ã o , semântico, mos_ livre-pensar. v a l o r i z a n d o as Paulo a sob o de que poeta, sua d e n u n c i a n d o ou pátrio. tem_ a p r e s e n t a - s e c o m o um dos seus melho_ nestes m o m e n t o s de c r i s e n a c i o n a l , resgate do que O livre e x p r e s s ã o do nasceu e que m o m e n t a n e a m e n t e está de falar ou e s c r e v e r , o a escrita é o o p ó s - 6 4 . 0 que p o l í t i c o não d e s e j a d o var o a r t i s t a , vor do aqui foi sen_ porém, às e x i g ê n c i a s e s t é t i c a s e c u l t u r a i s de seu p r ó p r i o tempo: po em que a o torna-se válido, " N ã o há poesia .82 Sobre os caminhos expressivos do poeta José Paes, cabe-nos aqui ressaltar que estreou em torno de Paulo 45, com poemas voltados para as tensões sociais, enveredando depois pe_ los experimentos da poesia concretista: a "Canção do Exílio Fa_ cilitada" talvez seja a melhor síntese das duas correntes que participou; dita podemos considerá-la como uma fusão da participante e da poesia dita tecnicista. de poesia Como podemos Ob_ servar, no que toca ao resultado do plano de expressão, a Canção de José Paulo Paes torna inútil as polêmicas sobre poética. poema é pura Arte, em seus múltiplos reflexos. Seu .83 3.4 "SABIA": BUARQUE O SIGNO DA IDEOLOGIA NACIONALISTA dos CHICO DE HOLLANDA Complementando o capítulo, mada EM mitos da ideologia pia expressão em nosso país: convém destacar nacionalista por um a reto_ artista de du_ o poeta e músico Chico Buarque de Ho11anda. Chico Fernandes, anos, é "a única tival o de M . P . B . , respeito do da de d e n ú n c i a , poeta optou forma de gar era pela Censura. tuação pelos de medo Em ta r de 64: triste o teve "Apesar anos versos, de 1966, Som e fraternal foi, aos 23 v e n c e d o r , com -, do ganhava com à suas a II composições de V o c ê " , da retratava forte fortes Em 6 8 , que uma lu proibidas toda repressão após seu uma si sofrida 1964. e m seguida transcritos, são o m e l h o r pela A r t e , o representaria definitivamente governo militar, situação vivida Fes_ simpatia letras ditadura. muitos, várias diante Millôr especializada. para sabia Em do compositor Chico que, impotência nos o escritor Imagem e resistência poeta volta, delas, Seus da mas de da do nacional". crítica em diante, sua Uma e da e auto-exílio brasileiros, temunho Record, s í m b o l o da protesto; opinião m e t á f o r a de a l e g r i a TV 66 um pelo aqui. no Museu público De e - na unanimidade com d e p o i m e n t o s a m ú s i c a "A B a n d a " e Buarque, após o golpe tes mili_ .84 "Hoje você é quem manda Falou tá falado/Não tem discussão/A minha gente hoje anda/Falando de lado/ E olhando pro chão, viu/ Você que inventou esse estado/E inventou de inventar/Toda escuridão/ Você que inventou o pecado/ Esqueceu-se de inventar/O perdão/Apesar de você/ Amanhã há de ser/Outro dia /Eu pergunto a você/Onde vai se esconder/Da enorme euforia/Como vai Quando o galo cantar proibir/ insistir/Em .../Quando chegar o momento/Esse meu sofrimento/Vou cobrar com juros, juro/Todo esse amor reprimido/Esse grito contido/Esse samba no escuro/Você que inventou a tristeza/Ora, tenha a fineza/ De desinventar/Você vai pagar e é dobrado/Cada lágrima rolada/Neste meu penar" . .85 Mas seu lugar ao ceria Chico B u a r q u e , lado dos grandes com A n t ô n i o M.P.B.) Carlos ganhou poetas m o d e r n i s t a s , Jobim, voltar, Vou voltar Foi lá e Que eu uma Na composto sua símbolos sei compôs (ganhando quando, um em par_ Festival de queainda para é hei o meu lugar ainda lá de ouvir cantar Sabiá" década de 6 0 , c a n ç ã o com os s o b r e t u d o o sabia cem anos apôs G o n ç a l v e s e1ementos -símbo1os e a palmeira , numa época de o jovem poeta crise social e filhos da t e r r a , nao p o d e r í a m o s d e i x a r de tos de c i d a d ã o s , como a haviam definitivamente "Sabiá". "Vou mos poeta, sido suprimidos da força Vou voltar, Vou voltar Foi lá e é ainda Uma hei sabiá, Vou v o l t a r , sei política, em q u e , para política o meu vigente. cantar sei lugar lá de ouvir cantar uma sabiá que ainda voltar Vou deitar à sombra Que já de uma não há flor que já não dá como lutar por nossos direi_ que ainda Vou Colher a Brasil, liberdade de e x p r e s s ã o e a j u s t i ç a , pela ter resgata estes mes_ Sabiá Que eu terra Dias palmeira que .86 E algum a m o r , talvez As noites que eu E anunciar o dia Vou v o l t a r , Vou sei possa encontrar não queria que ainda voltar Não vai ser Que tantos fiz em vão planos Como fiz enganos Como estradas fiz Fiz de enganar de me e n c o n t r a r de me tudo e nada Em " S a b i á " , de me perder te e s q u e c e r C h i c o reitera a idéia de retorno, sar de d e m o n s t r a r a c o n s c i ê n c i a da d e s t r u i ç ã o de v a l o r e s terísticos de sua ape_ carac_ terra. "Vou v o l t a r , Vou voltar Vou deitar ã sei que ainda sombra de uma palmeira Que já não há Colher a flor que já E algum a m o r , talvez não dá possa encontrar". Os v o c á b u l o s n o i t e e dia a p a r e c e m , em s e g u i d a , mo referentes para o p r e s s ã o , tempo sombrio e de novos t e m p o s . A fé nesta r e c o n s t r u ç ã o , ce na noites que eu não q u e r i a E anunciar o dia Vou v o l t a r , Vou sei que ainda voltar Não vai ser em v ã o " esperança a p e s a r de t u d o , seqüencia: "As recomeço, Co_ apare_ .87 O poeta termina sua composição rememorando os per calços por que teve de passar durante algum tempo, na intenção até de esquecer o lugar de sua origem, tantos eram os problemas que se apresentavam, mas não conseguiu. Ele termina com um outro tipo de reiteração da idéia do amor à pátria, colocando-se sen_ timentalmente no verso final. "Que fiz tantos planos de me enganar Como fiz enganos de me encontrar Como fiz estradas de me perder Fiz de tudo e nada de te esquecer" Apesar da temática política e de protesto da maioria de seus poemas, quase sempre musicados, Chico Buarque é também extremamente lírico, conseguindo belos resultados na união destas duas características. Dos versos de "A Banda" ("a minha gente sofrida esqueceu-se da dor/Prá ver a banda passar/ Cantando coisas de a m o r ) , a "Pedaço de Mim" (Oh, pedaço de mim/ Oh, metade exilada de mim/Leva os teus sinais/Que a saudade dói como um barco/Que aos poucos descreve um arco/E evita atracar no c a i s ) , da peça Opera do Malandro, a obra-prima "Construção" (Amou daquela vez como se fosse a última tro paredes mágicas (...)/Ergueu no patamar (...)/Tijolo com tijolo num desenho /Morreu na contramão atrapalhando o sábado"), vemos qua_ lógico(...) alterna rem-se e entrelaçarem-se o lírico e o social, em equilíbrio ras vezes encontrado na literatura ra brasileira. Contemporâneo a Chico Buarque e igualmente no trabalho com as palavras, o poeta compositor Caetano mestre Emmanuel Telles Veloso também vivenciou o exílio forçado e, mesmo não ten .88 do como referência os mesmos símbolos que inspiraram Chico Buarque, compôs sobre seu afastamento da terra natal muitos ver_ sos, dos quais distinguimos os seguintes: e eu te direi que num dia as estradas voltarão voltarão trazendo todos para a festa do lugar abre os olhos mostra o riso quero careço preciso d e v e r você se alegrar eu não estou indo-me embora 'tou só preparando a hora de vo1tar de voltar" Existe nos textos de Caetano uma certa dificuldade em discernir entre aquilo que é externo ao sujeito e aquilo que compõe sua intimidade. É a questão da identidade e da vitalidade do sujeito, que pressupõe um confronto com o que pode vir a acon tecer em outro espaço. No entanto, o "eu" poético define-se posi_ tivamente e assegura uma volta, no momento adequado, para resga tar-se e ao que deixou neste lugar. Sabemos da importância dos artistas, como prismas diante do mundo, absorvendo e decompondo-se, através de sua ar te, nas "cores" mais variadas. Agem como refletores por vezes, e como sintetizadores por outras. gênios Foram e são assim os poéticos do pós-64, Caetano Veloso e Chico Buarque. De tal forma, .89 que este último levou o poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, a referir-se emocíonadamente a importância da idéia que compôs a música "A Banda". "0 jeito no momento é ver a banda passar, cantando coisas de amor. Pois de amor andamos todos precisando, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos cine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e a Va_ o mais que estamos vivendo ou presenciando". É este o universo mental onde até hoje estamos seridos. Na mediação, através dos signos, entre o ato i£ estético e os demais atos humanos, (sociais, políticos, econômicos . . . ) , vimos ressurgirem os símbolos de brasilidade em cada época de crise nacional, em cada período de perigo de desvalorização da terra natal. A "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias, nos primeiros momentos do Brasil publicada independente, funcionou como nossa certidão de nascimento. Precisávamos, aquela época, do ufa_ nismo do poeta romântico e da supervalorização de nossos maiores elementos nacionais. A Canção do Exílio mítificou-se através dos tempos e podemos percebê-lo através das inúmeras composições que revigo raram os mitos por ela propostos. A Canção romântica foi o poema mais retomado na literatura brasileira através de estilizações , paráfrases ou paródias. Há que se refletir muito sobre esta fa_ to. Não somos os primeiros a fazê-lo, nem seremos os últimos. Re_ solvemos empreender este trabalho, pois, paralelamente aos tistas, como estudiosos da Literatura, também, nestes ar_ últimos .90 anos, temos s o f r i d o com a de nosso p a í s . to de Consideramos, recrudescimento tar nossa m o d e s t a sional em que situação cultural, portanto, da crise de contribuição e social fundamental e neste identidade n a c i o n a l , nosso a l e r t a , na política área momen apresen profis_ atuamos. ^ • 91 CANÇÃO DO EXÍLIO Dalton Trevisan Não permita Deus Sem que daqui Sem que diga que me vá adeus Onde já não canta Morrer ó eu morra supremo ao o pinheiro sabia desfrute Em Curitiba é que não dá Com o poetinha 0 Rafa e o X a x u f a Na missa 0 bem viu o que das trêfego g o r g e a n d o os seis Jaime na Ao menos Nem no O Wanderlei Ó Santo Sem contar Oficiada Nessa a pelo hora da Ordem te série muda de m u l h e r e s da em nome da rua vida necrológio já Deus versinhos palminha nio é g a i a t o já fosse pensar igreja batia Em Curitiba a m o r t e Um vereador fizeram imaginou nio o sessão Wanderlei pública grão-mestre você desiste da dos onze positivistas Davi própria morte • 92 Em Curitiba é que 0 Sílvio Melhor iria nio filmar ter 0 Hélio dirá que foi nunca ter Muito menos amigo faça para Em ultímo caso Que seja Não avise Nada tido tua vida teu a m i g o de mulher infância Curitiba nem filho de orador à beira imaginou Os trezentos o vem a Com o Para milhões de c h u m a ç o de tua da maca desgracida tapar do presidente Arrastando-se túmulo da OAB bengala dona narina A Rosa tampa há Maria Cismou Nem o não um Fuja da missa caixão lágrimas fingidas noite fundo passarinho sétima Tudo menos a Cantada falsete em teu Iberê no a r t i g o de de roda dona M e r c e d e s não dirá tremendo como do de chorar sozinho ã Morreu de olho o u v i d o longe da ser m o r t o o mais A Juriti cadeira algodão Ah a Paranaense Mercedes sei lacrada p i p i l a n d o o verso Academia Porque o o u v i d o nao Bem infância nio morrer longe de Já Lã dá vivido Antes Tudo não dia famosa missa pelo do Dom s é t i m o dia Fedalto .93 Castigo bastante Morrer Não ser bem prazeres Você que longe já daqui se entregue leprosas Aos ratos piolhentos Sem esquecer Ah nunca Para das morrer A araponga de de em até com caspa fubá da nanicas mimoso meia-noite e o Mazza Que tais não e n c o n t r o eu Não permita g o r j e a n d o os primores cá Deus Sem que daqui O sabiá borboleta Final Vinholes Minha sobrancelha Curitiba o Juízo louca na gravatinha corruídas broinha sofrer lá defendeu baratas Trincando Curitiba não dá e n c o n t r o eu em vida Nem morte que em Deus Mais Às viver em C u r i t i b a permita A não é terra me vá já não não canta tem pinheiro mais Perdeu as penas enterrou De sangue tingiu Ao último pinheiro a água no peito o bico a f i a d o sulfurosa do rio Foi demais o d e n t i n h o de o u r o do e x - p a d r e Com raízes e tudo a r r a n c o u - s e Montou numa nuvem E voou sim voou Em Curitiba o pedras ligeira sobre as teu das Belém fim asas do bem-te-vi Emir .94 Crucificado Consolo numa trovinha coroa Na eterna roxa de flores em gasolina E ateando fogo de e difícil o vestido Teu nobre velório Rondando a Batatinha Bem A no salão porta lã e s t a r ã o os algodão-doce frita gente longe você Teu rosto da Reitoria carrinhos em fatia surdina Curitiba repórter Margarita Que cetim pipoca melancia não m o r r e em de de guerra será amendoim negro de e n t e n d e r de a assim pano A m a l d i ç ã o do velho Jeová Se Salomão saudade da V a l q u í r i a Embebendo De do único É a Dura assim foi anuncia enterrado no jornal das oito vivo irreconhecível Po rérn c o l o r i d o Aparecerá no Pode amizade crer próximo capítulo Agora vem o Que doce morrer em C u r i t i b a é Para tua Veja o que Depois de No bosque Por sete Pagos da novela Emiliano Curitiba m e r d o s a fizeram com a santa das é líder isto aqui Maria ó babaca Bueno feminista flores m u r c h a s da Boca Rouge dinheiros pelo negro p a c h o l a e o polaquinho fanho .95 O Esmaga cuspirá Ó supremo que Não permita Deus Nunca r e t r a t i n h o do daqui mais não dá que eu morra me vá aviste os Onde já não canta o OUTRA teu desfrute Em C u r i t i b a Sem que no CANÇÃO DO pinheiros sabiá EXÍLIO Eduardo Alves da Costa Minha terra tem Corínthians De copas Que outros que São corvos povoar aqui do revoam noite olhos anos crimes. nunca m a i s , nossa Com duros Que os de açoite esquecem jamais. Em cismar s o z i n h o , Sob um ceu Nenhum livre livre tenho lembro do Pulsava meu Como ao poluído, prazer Porque me Em que times exuberantes ocultam muitos As aves A e Palmeiras, na sem e s t r e l a s , eu cá; tempo campina coração, sabiá; Nas c a p o e i r a s , relento, voava, ciscando cantando túmulo .96 Nos m a t a g a i s , Tem mais Mais flores, terrores, De mil Minha terra delírio Acrobacia De primores, mocidade amordaçado: impossível saltimbanco Equilibrado esquizôide, no risível De g r a n d e z a que pelo m a t r e i r o Minha terra recantos Praias Que cupim e da rompe, safadeza. encantos naturais, monazíticas, minerais se vio e nio v o l t a m m a i s . A chorar Penso, Sem tem de a r e i a s Subsolos sonho se e s g a r ç a Roído De vida boçalidade, fazem da Um nossa fatais. tem de hoje a m o r t e noturnos, suores Requintes Que onde sozinho, medito e encontrar A nio ser aflito, reflito, solução; voar para dentro, V o l t a r as asas i m i s é r i a , À doença Que e ao sofrimento, transcedem 0 pensamento E a o quanto conceber consciência suportar. possam .97 Minha terra tem A baloiçar, palmeiras indiferentes Aos poetas Que sonham de olhos A e abertos, rilhar os d e n t e s . Não permita Pelo crime E dementes possa Com os De Do eu Que de estar cabelos ao v e n t o desfrute os gorjeia nao atento; momento. cantodo Onde que eu morra chegar à v e l h i c e melhor Que Deus primores sabiá, a liberdade encontro por cá. .98 N O T A S - 1. CYNTRÃO, CAPÍTULO I I I Eduardo. Lima E d i t o r a , 2. GULLAR, Ferreira. neiro, 0 Natal Sem V o c ê , Rio de J a n e i r o , Waldir 1986. Vanguarda e Subdesenvolvimento. Civilização Brasileira, 3. BRITO, A n t ô n i o Carlos de et a l i i . Buarque de H o l l a n d a . Rio de Ja 1978. 26 poetas h o j e . Rio de J a n e i r o . Org.Heloísa Sabor do B r a s i l , 1976. .93 CONCLUSÕES Tendo chegado a parte final de nossas cabe-nos aqui exposições, retomar algumas de premissas propostas na introdu_ ção e no corpo deste trabalho, no que dizem respeito à tese que nos propusemos a estudar e a defender. Nossa intenção foi fazer um estudo do universo simbólico comum que de Gonçalves Dias, a partir de sua "Canção do Exílio", a Dalton Trevisan e Chico Buarque de Hollanda tem composto a nossa ideologia nacionalista, durante quase dois sécu_ los. A questão principal, portanto, e por que em diver_ sos momentos de nossa história, sobretudo os de crise de dade para o país, famosos poetas retomaram os signos identi_ propostos por Gonçalves Dias, no seu lírico poema ufanista, motivado exílio em terra estrangeira? Falamos do exílio em terra pelo estran_ geira, sem receio de que pareça redundante, pois, conforme monstramos, através do corpus estudado nos capítulos res, o exílio dos poetas pode variar em função do Aparece, por vezes, como o vivenciado pelos poetas de anterio referencial. românticos, Gonçalves Dias e Casimiro de Abreu, onde o poeta situa-se, de fato, fora do país; aparece também como exílio temporal, no ca so de Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade, visto que "eu" lírico não determina o espaço em que se encontra; ou o ainda .100 temos,diversamente, das " C a n ç õ e s " de o exílio na própria Dalton T r e v i s a n discurso poético para tisfações vividos A c o n j u n ç ã o dos em cada que, primeiro, o sabiá e a em solo foram criados da sempre, independência ral de 1 9 2 2 , e pelo Barthes, portanto, Isto não política de que o ,á dos mesmos latente na História, Em outras p a l a v r a s , plicaria imediata, tico do texto não e s t á , no sentido p r o f u n d o , nacionalismo mas texto com a que simbólico criando dito pela analisa a Roland texto lite História. figuração fi linguagem. literatura o mundo im_ exterior significados próprios pelo m o m e n t o r e a l , portanto, 70. contém aquilo que dizer que a que 30, de c o l o c a r - s e com em seu em si, 0 valor sentido e artís literal, gerado pela d i m e n s ã o simbólica a que nos anteriormente. - Cultu_ nos anos literário contenha a que não foi da m a n e i r a e s p e c í f i c a da A r t e , Brasil: décadas de 60 e mas a c r e d i t a m o s , p o d e r í a m o s aqui em um d i s c u r s o de forma terra independência naturalmente, social, já signos identidade nacional chamada a r t i c u l a ç ã o do texto da aparência de estrutura ferimos através na políticos p r o f u n d o do v a l o r a r t í s t i c o do buscado na insa_ uma q u e s t ã o e x t r e m a m e n t e a t u a l , 1822 serviço do s o c i a l , significa o explicita-se passando pelo Estado Novo de V a r g a s , ser que usam sociais e nos m o m e n t o s de c r i s e de que o alcance rário deve não, fizemos para v a l o r i z a ç ã o da Não se trata a q u i , cou que longo p e r í o d o de g o v e r n o m i l i t a r das literatura a caso A q u e s t ã o da m a n i f e s t a ç ã o do na literatura brasileira, retomada, o seus d e s g o s t o s e culturais, expressaram-se palmeira. é pátrio. resposta à p e r g u n t a poema, como e Murilo Mendes, relatar e d e n u n c i a r fatos e s t é t i c o s , que, pátria, mas re .101 A análise de textual que Exílio" visou a nelas e n c o n t r a r despontam, alguns, sem nos pois, sentidos segundo a teoria de B a r t h e s , poemas co-alegórica do-nos no cifrar a uma, Assim, esteve e q u i l i b r a d a de e e x t e r i o r i d a d e , ou m e l h o r , são de todos os níveis, é o MITO. cuja na dinâmica mas algumas e a mostrar a como mas a interiorida_ força m e d i a d o r a , emergia para localizan_ acompanhar e tentar de_ finalmente expormos nio verdades. paráfrase e e s t i l i z a ç ã o , Sant'Anna. Diz o autor literatura b r a s i l e i r a como uma predomina a imitação se uma introduz propostos que talvez se possa s u c e s s ã o de (até o século X V I I I ) , certa individualidade de pa_ por A f o n s o Romano de pensar a três a fase nacional até o da imaturo para tir era século XVIII viveu o d o m í n i o da produzir obras mais do século XIX houve a d e s c o b e r t a m o v i m e n t o p a r o d í s t i c o que mo, coincidiria história fases: e uma da onde romântica onde uma na onde o processo criador atingiu m a i o r a u t o n o m i a . Brasil ten- simbóli_ Introduzimos em nossa a n á l i s e os c o n c e i t o s ródia, reve_ no p o n t o de c o n v e r g ê n c i a ou interna, a nossa proposta de aná_ C o u b e - n o s aí o e s f o r ç o d e , possíveis de leitura não visa t e n s ã o entre interior deste jogo de s í m b o l o s , sua as " C a n ç õ e s a encerrar o texto em um s i s t e m a , lar p o s s i b i l i d a d e s de sua a b e r t u r a . dos sobre p r e o c u p a r m o s m u i t o com o " e s q u e c i m e n t o " fundar uma v e r d a d e , 1ise realizamos fase Ou paráfrase, moder seja, o pois ain individualizadas. A par de e s t i l i z a ç ã o e e n f i m , com o a d v e n t o do o modernis em nossa c u l t u r a . A princípio, cultural no Brasil de C o m p a r a ç ã o a esta o r g a n i z a ç ã o 'da história literária poderia Europa, servir, de onde tendo-se como sempre primeiramente e referencial partiram .102 as m o v i m e n t a ç õ e s a r t í s t i c a s . ria t r a b a l h a n d o apenas que as fontes Cultural", outra. les sob o eixo das e o r i g e n s estariam ou c r i a n d o uma Com i s s o , que No e n t a n t o , hegemonia esta o r g a n i z a ç ã o semelhanças, no p a s s a d o ou i n t r o d u z i r a m as pressupondo na "Capital de uma o b r a / o u c u l t u r a , a p a g a m - s e as d i f e r e n ç a s , alterações sobre ou a um esta sobre a importância daque_ primeiro modelo de composição. Consideramos modernistas, o mesmo que que nio por nós a n a l i s a d o s , dizer que de Assis a S t e r n e . determinando a há autores para com G o n ç a l v e s D i a s . Garcia M a r q u e s Em v e r d a d e , nenhum d é b i t o dos deve a o que há é intertextualidade. Faulkner ou Machado um jogo dos A partir d a í , rado u l t r a p a s s a d o o e n f o q u e que apenas Seria textos seria conside_ falava de " f o n t e s " , "i n fluências" e "plágios". Para entio, e f e i t o do nosso e s t u d o , a q u e s t ã o do d e s v i o , na e s t i l i z a ç a o o d e s v i o em relação a ao leitor, um Gonçalves Dias, Andrade, se, tolerável e na mínimo, paródia o desvio Estes c o n c e i t o s seriam total, relativos se este não conhece a " C a n ç ã o do E x í l i o " , não entenderá por e x e m p l o . estilizaçao e receptor bem considerar, vendo na p a r á f r a s e o d e s v i o texto m a t r i z . pois, resolvemos nada Em outros paródia informado, são para da " C a n ç ã o " de Oswald termos, recursos que de possa seria dizer q u e , apenas percebidos d e c o d i f i c a r os de paráfra_ por um textos su perpostos. Selecionamos lio", de G o n ç a l v e s D i a s , autor brasileiro a criar m e n t a d a na n a c i o n a l i d a d e . como m a t r i z por uma o poema " C a n ç ã o do ter este o m é r i t o de ser o p r i m e i r o obra e s t e t i c a m e n t e v á l i d a , Conforme demonstramos Exí no C a p í t u l o funda I, .103 os e l e m e n t o s nativos forma u f a n i s t a , tros poetas, do B r a s i l , vistos pelo poeta abriram c a m i n h o para q u e , u t i l i z a n d o outra e s t é t i c a , mesmos e l e m e n t o s uma conotação diversa, romântico de posteriormente, OU_ ou e m p r e s t a n d o a estes p u d e s s e m falar sobre a suaterranatal. Esta de "magia" um século d e p r e e n d e - s e por outro ta, sim, lado, da do que tem e n v o l v i d o os não a p e n a s dos aspectos transcendência desse a c o r d o na c o m b i n a ç ã o original destes, refletindo relação que o e s c r i t o r mantém com o Em s e g u i d a , a "Canção" escrita e uma em C a s i m i r o o exagero g r a u , m a s ; foi de poeticamente nada relação ao retórico conteudísticas inusitadas. polêmico Oswald texto romântico em seu Realiza, transcri_ original. mais alto símbo_ reforçá-los, fizeram Foi com fosse várias ainda que o tendências revigoramento a p a r e c e n d o de de A n d r a d e . O poeta inverte o portanto, formas s e n t i d o do um texto p a r o d í s t i c o , na es dos por o caso do " C a n t o de R e g r e s s o à P á t r i a " , original, contrapondo a estética modernista à estética ca. texto- originais. símbolus nacionalistas brasileiros vezes a literária, técnica de c i t a ç ã o e Com o advento do M o d e r n i s m o , e toda o primeiro poeta a d e i x a r - s e " t o c a r " pelos sob moldes tilísticas Dias p a r á f r a s e do los de b r a s i l i d a d e da " C a n ç ã o do E x í l i o " e a que Gonçalves da mesma época por C a s i m i r o de A b r e u , já que o que o c o r r e é Resul_ real. ressaltamos, com um d e s l o c a m e n t o m í n i m o em Temos ou, significante/significado, genialidade ção, formais trabalho com as á r e a s do s i g n i f i c a d o . gerador do S I G N O , d e m o n s t r a n d o a matriz, leitores há mais do texto românti_ tomada de uma .104 consciência c r í t i c a em texto m a t r i z . são as 0 que Oswald semelhanças do seu sim as d i f e r e n ç a s . assim, relaçio ã agiria busca, de pelo todo, nlo havia Gonçalves Romano de invertido ou m o d o que pode to focado num e l e m e n t o d o m i n a n t e , que no contrariamente a Casimiro, S e g u n d o Afonso tal natal, exílio com o de como um e s p e l h o ra os detalhes terra Dias, Sant'Anna uma inverter invertendo, lente uma nio a mas paródia, que parte exage do elemeri portanto, a parte como se faz na c a r i c a t u r a . C o m p o n d o este panorama das " C a n ç õ e s de E x í l i o " p _a_ rodísticas, a n a l i s a m o s os Alves da Costa. Já nos ceito de p a r ó d i a , por trabalho. Pois bem, lhamento, o de a textos de Dalton T r e v i s a n e de temos nós referido e x a u s t i v a m e n t e a t é , a p l i c a d o aos expressou-se Fontainier, deste m o d o na ao coji estudados neste em seu f e n ô m e n o que abarca o h u m o r , sátira e mesmo o c e p t i c i s m o do a u t o r , curso poético. textos a c r e s c e n t a m o s a este c o n c e i t o , IRONIA, Eduardo o deta_ sarcasmo, c o m p o s i ç ã o de seu em seu Les Figures du D j scou r s , sobre a figura de 1968, linguagem em q u e s t i o : "I ' ironie c o n s i s t e a dire par une r a i l l e r i e , p l a i s s a n t e ou pense, sérieuse, suasao, ironia faire p e n s e r " . serve ã e s t i m u l a n d o em nós c o n v i c ç õ e s e o p i n i õ e s partir da a t i t u d e , do Dalton Trevisan é, em nossa Mais c o n t i s t a , no e n t a n t o , tom e do estilo p r o p o s t o s literatura, pelo v o l u m e de em nosso lio c o n t e m p o r â n e o . vive, que a trabalho, Dalton sua prática per a no t e x t o p o é t i c o . literária, como poeta de uma retrato da partieu 1 a r i z a n d o o e s p a ç o de e x í l i o , da promovidos um dos m e s t r e s produçio apresenta um ou le c o n t r a i r e de ce qu'on ou de ce qu'on veut Diríamos m a i s , dis da ironia. aparece, C a n ç ã o de Exí s o c i e d a d e em que que não é a Coimbra .105 longínqua de G o n ç a l v e s D i a s , mas a sua própria cidade de Curiti_ ba . O p o e t a , a t r a v é s de c o m e n t á r i o s e x t r e m a m e n t e i r ô n i c o s , põe um painel artista: gada a autor tipos que o estariam uma vida denuncia artificial, esta brasileira, C a n ç ã o do em que se vez mais das ma da p o l u i ç ã o , abrindo suas social Alves brasileira. da inicial Costa piegas , situação níveis, seu vivido país. O espaço sobre a times de futebol situa apenas politicamente uma e ao nesta São cidade, opressora critica de proble_ vivida mais do que t u d o , profunda com um d i s t a n c i a m e n t o cidade de a e situação o texto de Eduardo absoluto do sentido Os símbolos n a c i o n a i s de G o n ç a l v e s Dias são des_ c o n s t r u í d o s um a um, m a s , no final dos v e r s o s , los é única e última esperança re-va1orizado, um cidadão com particularizado Em relação ao poema m a t r i z , aparece daquele. repensou o Seu texto é a m a r g o , em d i v e r s o s hipócritas. O Eduardo Alves da C o s t a , indicações mas o poeta não se pelo país c o m o um todo. apresenta, também algumas ã li_ empobrecido. r e f e r ê n c i a s aos reflexões e e como um m i c r o c o s m o da como o de D a l t o n , Percebemos através falsos sentimentalismo sentido, Exílio", insere não é, forma ó b v i a . valores apegada ao Neste m e s m o a "Outra de sociedade m e d i o c r i z a d a , um c o t i d i a n o cada Paulo, m a s s a c r a n d o como pessoa é a a p r e s e n t a ç ã o de uma c o m u n i d a d e p e q u e n o - b u r g u e s a , sociedade em de com_ como sendo a s o f r i d o e o p r i m i d o pela "Que eu desfrute os falta primores Do canto do S a b i á , Onde Que gorgeia a de liberdade não e n c o n t r o por c á " . um destes liberdade: símbo_ de .106 Não e s t a m o s , a qualquer quado, das tipo de ordem c r o n o l ó g i c a . achamos intenções te bloco de conveniente dos textos intenções c r í t i c a s e A os tender-se-ão ao a sua ou irônicas v ê m - s e juntar aos an_ perceberá José Paulo P a e s . que, pelo p o e t a , melhor o jogo Este textual pelo texto p o é t i c o em q u e s t ã o . O " j o g o " ção" de G o n ç a l v e s Dias: no Brasil elementos n a c i o n a i s . os s a b i á s , g a t u r a m o s As réis inverso c u l t u r a l , Veneza. das a importante sufoca do tipo de ..."). poema Alves da Costa. Há, poeta exílio nos como nos do autorda "Outra crítica frutas dúzia o em que seja de forma de Murilo s í m b o l o s da "Can_ que m o s t r a a são m a c i e i r a s A em ao inva sua própria por pois aparece "mas brinda mostra com preocu estrangeira, tao terra, Dalton Exílio", nos e a uma caracterizan Trevisan ú l t i m o s versos do poema C a n ç ã o do dos Califórnia gostosas, Murilo Mendes influência sofrido da presente (as mais romântico, pação do c i d a d ã o com a o p r e s s i v a opressiva que por e o p r o c e s s o de " d e s i d e n t i f i c a ç ã o " palmeiras de no preço e x o r b i t a n t e custam cem mil um inverso os es_ tao maior proposto, a meio receptor, sócio-cultural ao c o n t e x t o r e l a c i o n a r ao por interrelacionados, pelo c o n t e x t o relacionada Mendes é, j u s t a m e n t e , do o mesmo e receptor do t e x t o . condicionado e são e s t r a n g e i r a partir A es_ Esta v i s ã o é c o d i f i c a d a sensibilidade uma parodia poéticos a como estrutura comunicativa manifestamen_ leitor, estará subjarente, reflexões analisados. do trabalho e s t é t i c o com os S I G N O S , se d e s e n v o l v e u obedecendo é a m a n i f e s t a ç ã o de um dizer de modo peculiar visão de um m u n d o . suz v e z , nossas poetas M u r i l o Mendes ironia, lingüística, finais, Como p r o c e d i m e n t o mais ade_ relacionar coincidentes teriormente c i t a d o s , te nestas c o n c l u s õ e s e Eduardo de M u r i l o M e n d e s , pequena confissão .107 de esperança, na vontade manifesta de sentir-se, de novo, genui_ namente brasileiro. O poeta refere-se, então, ao maior MITO, cria_ do e retomado na poesia brasileira: "Ai quem me dera .../ouvir um sabiá com certidão de idade". Por sua vez, José Paulo Paes realmente revoluciona a expressão do exílio em sua "Canção de Exílio Facilitada", redu_ zindo a forma a versos de uma sílaba apenas, que sintetizam o que teria sobrado desse Brasil, e deste sentimento de brasilida_ de, na segunda metade do século XX. A concisão do poeta permite com que ganhe em expressividade conteudístíca. O poeta trata, em sua Canção, do exílio essencial, apresentando os sentimentos- chaves de sua relação com a terra natal. O que importa é a sa tisfação, que está lá, distante, enquanto que no lugar em que se encontra o que há é insatisfação, tédio e descontentamento . José Paulo Paes mantém, em seu sentido básico, os símbolos nossa nacionalidade, atendendo, porem, ás exigências de estéticas de seu tempo, se observarmos a estrutura formal que escolheu pa ra expressar-se. Já com uma visão diferente do exílio, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade expressam a problematização do "eu" lírico não localizado no espaço. Em suas "Canções" é a dimensão temporal a responsável tristeza, pelos sentimentos de angústia e presentes nos textos. A Canção de Mário Quintana aparece, segundo os conceitos a que nos referimos no início destas conclusões, como uma estilização do texto matriz. Há um desvio tolerável em rela ção a este último, sem que, contudo, haja traição a seu signifi cado primeiro. O poeta nega os dois valores fundamentais do poe_ ma de Gonçalves um mero sabiá Dias ...") culmina com uma ("Minha e terra introduz perspectiva (físico), sente instante Na "Nova poeta espécie de uma apenas temporal. fazer ra: o Este parte 1onge mesma, na quer voltar III, o quanto a de Carlos 0 pervertê-lo. p r o p i c i a n d o uma Canção, ao c o n t r á r i o , Drummond os confirma, Palmeira, uma e o nacionalidade Longe"). grandeza que existe brasilei observa_ por presente do p o e t a . temporal, na um o passa Conforme fantástico". (ou para no e l e m e n t o que da tanto a Percebemos si Ele aí c o n f i r m a ç ã o da vonta tempo p a s s a d o ) expressão Drummond de A n d r a d e , - A l i a n d o estas a sua poética lírico de dois Dias, o que grandes de M a r i o em Qutntana apóia-se, sobretudo, no significa mergulhar em estados da p r ó s p c ç ã o dos características Gonçalves Exílio destes textos p o d e r o s o s , Mário Q u i n t a n a . seria f e l i z " . um discurso m a r c a d a m e n t e de trata o contudo, Em sua símbolos ao e s p a ç o Compreender canção matriz de se que utiliza no d i s c u r s o , tudo belo e Como v i m o s , ções sem, concentra-se longe é retornar que " s ó , na n o i t e , alma. pessoal c o n j u n t o de para "onde é humano. Drummond semelhante a importância que a s s u m e na vida de do poeta de nao p a r c i a l m e n t e o e i x o do e x í l i o espacial fusão entre o espacial valor forma inserção ("Um sabiá/Na mos no C a p í t u l o uma de deslocamento do já de i n a d a p t a ç ã o do tempo pre_ Exílio", inversão de v a l o r e s , deslocando em vez de a g o r a ? " ) . reforma do texto o r i g i n a l . não propõe uma a mas de uma retoma o tema da c a n ç ã o m a t r i z , 0 que ocorre é e um q u e s t i o n a m e n t o existencial C a n ç ã o do processo de e s t i l í z a ç ã o , tem p a l m e i r a s d i f e r e n t e de e x í l i o : do exílio espacial ("Mas onde o não aos elementos podemos poetas reiteradosda perceber das modernistas no s e n t i d o de a f i r m a ç ã o n a c i o n a l . são Can dois .109 Como seqüência a estas saltar que as reflexões, é preciso referências a épocas de nossa H i s t ó r i a , neste b a l h o , visaram a uma melhor c o m p r e e n s ã o dos fatos q u e , velmente, tados. duais influenciaram o u n i v e r s o mental Mesmo algumas obras podem situar-se voltadas no plano da no plano de a t u a l i d a d e . Neste de Ferreira Gullar (que, toda arte é p o l í t i c a , por para sentido, sua v e z , "uma vez que poetas por nós política, concordamos seja, com a teoria interpretou L u k á c s ) de que se e m p r e s t a a esta Política, palavra em realidade se dá sempre e n q u a n t o h i s t ó r i a humana e na medi_ isto é, socialmen_ politicamente definido". j u s t a m e n t e em um p e r í o d o p a r t i c u l a r m e n t e para os b r a s i l e i r o s amantes da ciai, índiví_ na medida Foi cil que Chico Buarque de H o l l a n d a , tica e política de seus Após a poemas, tomada de 1 9 6 4 , os artistas e difí_ l i b e r d a d e e da part ici p a ç ã o so_ sem nenhum f a v o r , figurar como um de nossos m e l h o r e s p o e t a s , quase pela passou relevância sempre m u s i c a d o s . do g o v e r n o pelos m i l i t a r e s , intelectuais nio c o n i v e n t e s no ano com um regime livre e x p r e s s ã o e que t r a n s g r e d i a os d i r e i t o s manns b á s i c o s , tentavam e x p r e s s a r - s e u t i l i z a n d o recursos da (como p s e u d ô n i m o s ) censura vigente. pátria e o u t r o s , foram p r e s o s e artistas mais visados negros diver_ t o r t u r a d o s na própria exilados. Chico Buarque esteve dos hu_ na e s p e r a n ç a de " b u r l a r " a a r b i t r a r i e d a d e Muitos ainda, a esté_ que combatia a sos ci_ ou da em que a historia humana se dá como d e s t i n o c o m u m , te, tra_ indubita_ t e m á t i c a s mais realidade um s i g n i f i c a d o s u f i c i e n t e m e n t e a m p l o . que a dos res_ fora pela a ç ã o da do B r a s i l , censura. pois era Naqueles um anos (sem medo de usar p r o p o s i t a d a m e n t e um clichê tão expressi_ .110 vo . . . ) , as canções de protesto se sucediam, mas, em poucos dias, o público já não tinha mais acesso às suas letras. Foi o caso de "Apesar de Você", citada no Capítulo III deste estudo. A exemplo dos grandes poetas da literatura brasi_ leira, Chico compôs a sua Canção de Exílio, colocando como títu_ Io do poema o maior MITO de nossa poesia nacional: "Sabia". Con_ siderada, por alguns críticos desatentos (e desinformados...) co_ mo anõdina, a canção do poeta-composi tor é um exemplo da dos símbolos de nacionalismo, força resgatados num tempo tao distante. Em outro contexto social, tão distinto da época romântica, a tilização em "Sabiá", pôde passar-nos a consciência da es_ destrui_ ção de valores importantes e característicos da terra natal do poeta que, apesar de tudo, insistiu na idéia do retorno("Vou vol_ tar/Sei que ainda vou voltar/Não vai ser em v ã o " ) . A idéia funda_ mental, aí, é de que um novo tempo possa ser vivido e que os lores fundamentais de nossa nacionalidade possam ainda ser va_ revi_ gorados. Se há que se comprovar que Chico Buarque fez 1ite_ ratura (e não paraliteratura , como querem alguns, tomando-se mo para1iterário o texto sem caráter criativo, linear e co_ referen_ cial ao extremo, e destituído de tensão v e r b a l ) , tomemos como exemplo definitivo alguns trechos do poema "Agora Falando Sério", em que este faz do ato criador a matéria mesma da elaboração poé_ tica, e se realiza enquanto questionamento da sua própria ficação. "Agora Falando Sério" usa como técnica a signi_ intratextuali_ dade: o poeta investe contra o processo lírico para calar imagens líricas e atingir o silêncio maior da poesia. A as referên_ cia expressa a dois de seus poemas anteriores, "A Banda" e "Sa_ .111 biã", anuncia a cio da p o e s i a , ção p o é t i c a , intenção de fecundar toda a sua obra com o silên_ d a n d o - l h e nova s i g n i f i c a ç ã o , m e d i a n t e a reelabora_ como podemos ver a "Agora eu a falando queria que se um e acredita espanta um chute pega no um lirismo no c a c h o r r o um tiro no Dou cantar bonita que o mal Dou sério não cantiga seguir: fora sabiá. no v i o l i n o faço a mala e c o r r o prá não ver Eu quero um silêncio do vizinho e chamar e o a banda fazer silêncio tão doente reclamar polícia e médico síndico do meu pedindo prá passar eu tédio cantar ..." C h i c o Buarque de Hollanda do em nosso t r a b a l h o , p r o p o s i t a l m e n t e , foi o ú l t i m o autor cita_ pois o seu " e x í l i o poéti_ c o " aparece como a outra ponta do n o v e l o l i t e r á r i o em que se seriram os demais p o e t a s , sar. cujas C a n ç õ e s de E x í l i o t e n t a m o s anali_ Sua e s t i l i z a ç ã o do poema m a t r i z é o e q u i l í b r i o entre as ráfrases de C a s i m i r o e as in_ paródias de Oswald e T r e v i s a n . pa_ . 112 É como se em " S a b i á " a do os seus v a l o r e s sua elevar-se a faltava Cronologicamente, poemas em paródia que significação tivesse fundamentais e o b r a s i l e i r o , um cidadão c o n s c i e n t e . terior a o u t r o s pátria (para n ó s , temporal, na a dignidade de a Canção de Chico é an_ tratavam do e x í l i o , t r a n s c e n d e u o m o m e n t o em que complemento reconquista_ foi mas escrita, consciência para crítica c o n t e m p o r â n e o s do M o d e r n i s m o ) que a Canção de Gonça1ves D i a s . Referimo-nos, ao também poeta Como homem e e ainda, no t e r c e i r o e ú l t i m o C a p í t u l o c o n t e m p o r â n e o de Chico artista sofreu os ataques Buarque, Caetano Veloso. da c e n s u r a , à época da di_ obrigado a exilar-se em tadura m i l i t a r dos anos 60 e 7 0 , e foi Londres, sobre o a f a s t a m e n t o da terra na_ tendo c o m p o s t o , tal. Caetano entrp fotos foi e estariam ("Viva Viva a nos suburbano Maria/Viva e inaugurou problemas a retratado Bahia e (...) sem telefo um m o v i m e n t o cujas nas Viva raízes possibilidades ludicamente que antes das nas brasilei urbano, canções Iracema/Viva textos da não foram apenas vezes logo deles parecem em si ultimas idéias c o n s i s t i r ã o no desfecho deste ressaltar que os cionados, muitas sem f u s i l / s e m fome de inte Caetano: Ipanema (...) Banda/Carmem Miranda"). taremos e de aquele que , "por d e n o m i n a d o T r o p i c á l i a . Era o Brasil Ainda, mos livros e Brasil", centradas ras e que foi riorano e a estrela nacionalista brasileira nomes/sem ne/nn c o r a ç ã o do também, serviram para se d e s v i n c u l a s s e m . desvirtuadas, trabalho, bibliografia, suportes que que aqui para as nossas Portanto, gostaria em seguida nossas intuições apresen h i p ó t e s e s . Por ganhassem se a l g u m a s é porque d e s v i r t u a d a s rela corpo afirmações podem ter sido .113 as a p r e e n s õ e s q u e , resultado eventualmente, delas r e f l e x i v o que em nenhuma obra fizemos, crítica objetivando um e n c o n t r a m o s pron_ to. N o s s o u n i v e r s o mental sores ou que nos receptores fez sofrer até verso e prosa uma venciar final até o X X I . Apesar de deficitária, da de c i d a d i o s b r a s i l e i r o s , emis_ comunicação poética, constituirmos independência desta anos para não dizer nação. do Proclamamos política que nio c o n s e g u i m o s década quinhentos nossa é constituído de 8 0 , de quase à beira civilização, calamitosa; nossa do vi_ século nossa e c o n o m i a cultura é (in) sem s a ú d e , quase mulheres que, /ou competentes da sem v a l o r e s . por m e i o de sintetizadores desta área. Não fosse sua arte, força tradições, nem este a r r e m e d o de país. tão que importante à vida: o amor à p á t r i a . canção matriz de sua foram, Dias Os as grandes nosso, que, a poetas de necessidade têm l e m b r a r e m - s e e de de seu p o v o , quase s e m p r e , que r e f l e t o r e s e/ da terra vi_ o que é s e m p r e , que revigorados E é esta a constantemente l e m b r a r - n o s de seu próprio de formas p o é t i c a s d i v e r s a s , país tem como um eco por nossa nossos que o país de sido o u v i d o e infindável, é governos d e s a p r o v a m o s . O s e n t i m e n t o de e x í l i o de sente o p r i m i d o em as de b r a s i l i d a d e da e não da m i n o r i a que entra e sai se Brasil, e não t e r í a m o s o amor, sempre tido e tristezas e mesmo meio de e s t i l i z a ç õ e s , p a r ó d i a s ou p a r á f r a s e s . reflexão m a i o r : homens fez com que símbolos de d é c a d a s , pe_ sem e d u c a ç ã o , quem v a l o r i z a E foi belezas, terra n a t a l . através emana de seus c o s t u m e s , a q u e l e o r g u l h o e m o c i o n a d o de incongruências alguns têm a g i d o como Mas G o n ç a l v e s animou os poetas a c a n t a r e m as um povo por sensível cie seu p o v o , de suas brasse em nós Somos é espo1ia_ da e a nossa p r o d u ç ã o a r t í s t i c a c o m p l e t a m e n t e d e s p r e s t i g i a d a los órgãos em quem repetido no t e m p o . . 114 Se literatura é c r i a ç ã o h u m a n a , o seu namento com o ser que a produz só pode ser interrelacio_ c o m p r e e n d i d o como f i l ó s o f o Martim H e i d e g g e r em Sobre o H u m a n i s m o , 1967, o o apresen_ tou : "Transformar permanente do a única SER q u e , e m causa (Sache) em sua linguagem permanência, do p e n s a m e n t o . res e s s e n c i a i s dizem sempre o mesmo to, É (das Só o homem fala. Inclua-se, a í , o papel essencial se e s s e n c i a l i z a a esse espera pelo ad-vento homem, isso que os Selbe), isso, iguais do h o m e m , no entan (das G l e i c h e ) " . Só o homem é Por histórico. da arte como verdade de m a n i f e s _ pois é história da é pensado falar é a r t i c u l a r o d e s t i n o do SER. isso só o homem p e n s a . taçio do SER a t r a v é s vez por não significa que digam sempre c o i s a s Pensar e que cada no d e s t i n o " e p o c a l " do humanidade. "Terra por mais distante o errante navegante quem jamais te esqueceria?" Caetano Veloso ser .115 BIBLIOGRAFIA 1. Obras c o n s u l t a d a s ra . ADORNO, Théorie Esthétique. Paris. T h e o d o r W. Brasileiro, ANDRADE, BARTHES, Notas de L i t e r a t u r a . Kincsieck, 1974. Rio de J a n e i r o , T e m p o A s p e c t o s de Literatura Brasileira. América 1943. BANDEIRA, Manuel. mintica. . literatu_ 1973. Mario de. Editora, . literária e sobre a brasileira: . 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