OBRAS INDICADAS PELA
UESPI
RESUMO DE OBRA
I JUCA PIRAMA
Gonçalves Dias
A PA Z E S T ` N A B O A E D U C A ˙ ˆ O
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Juca Pirama
(Gonçalves Dias )
Em I-Juca Pirama, poema épico-dramático, encontramos a trajetória da recupe-ra-ção moral de IJuca Pirama frente a seu pai e a tribo dos Timbiras. Recusando a morte em prol do pai velho, cego
e frágil, I-Juca Pirama, agora, precisa recuperar a fama de he-rói, daquele "que é digno da própria
morte", como, em tupi, orienta o seu próprio nome.
I- Biografia
Antonio Gonçalves Dias é poeta romântico da l° fase do romantismo brasileiro, que não satisfeito
de descrever subjetivamente a impressão que lhe causavam as particularidades do amor, da natureza
e dos costumes da pátria, conseguiu também, identificar-se mais objetivamente com as idéias e
expressões dos indígenas apesar de também idealizá-los ao modo romântico.
Usando para tal, impressões que guardara dos nossos nativos de quando teve contato na sua
infância.
É preciso atentar para um detalhe da obra deste autor_ sua verdadeira verve musical que
encontra abrigo nas canções e tambores nativos .
Por esta razão, na visão de alguns críticos, ele é um vate indígena, pois, na sua poesia indianista,
explica ou ressuscita as visões, entoa cânticos guerreiros, canta sacrifícios e combate sanguinolentos.
Ora outra também chora como um Marabá os desígnios de raça indígena, ora se reveste de
menino índio para falar dos encantos da mãe d'água.
Ou, como é o nosso caso se transviaste no índio Timbira, relembra as proezas do herói Tupi,
em I - Juca Pirama.
Gonçalves Dias publicou Últimos Cantos em 1851, obra em que se encontra o poema "I - Juca
Pirama".
Esta obra é considerada pelos críticos como um dos mais elaborados poemas do Romantismo
brasileiro.
PS: l -Juca Pirama. traduzido literalmente da língua tupi equivale em português a àquele que há
de ser morto e, como veremos este é o grande tema da obra.
II- Personagens
I - JUCA PIRAMA - típico herói romantizado, perfeito, sem mácula que desperta bons
sentimentos no homem burguês leitor.
O VELHO TUPI - simboliza a tradição secular dos índios tupis. É o pai de I - Juca Pirama
OS TIMBIRAS - índios ferozes e canibais.
O VELHO TIMBIRA - narrador e personagem ocular da estória.
III- Enredo
Neste momento faço a citação de uma síntese muito bem - elaborada pelo prof. Deneval S.
Azevedo Filho:
Um "eu narrador " conta as lembranças de um velho índio Timbira que, também com status de
narrador, num clima trágico e lírico, narra a história do último guerreiro tupi l-Juca-Pirama remanescente de sua tribo em conjunto ao pai, um velho chefe guerreiro cego e doente.
O herói tupi é feito prisioneiro pelos Timbiras, guerreiros ferozes e canibais. Antes de ser morto,
do guerreiro tupi é exigido que entoe o seu canto de morte, cantando seus leitos, sua bravura e suas
aventuras, pois a sua coragem de guerreiro e a sua honra - acreditavam os Timbiras - passariam
para todos que, depois do rito de morte, comessem as partes do seu corpo.
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I-Juca-Pirama conta sua história, fala de sua bravura, das tribos inimigas, das suas andanças,
de lutas contra Aimorés, mas, pensando no pai cego e doente, velho e faminto, sem guia, pede que
o deixem viver. ("Deixai-me viver! - canto IV).
Seu ato é interpretado como covardia e o chefe dos Timbiras ordene que o soltem (Soltai-o canto V ) e depois de ouvir o guerreiro, ordena-lhe: "És livre; parte.".
O guerreiro tupi promete-lhe que voltará depois da morte do pai.
No canto VI, de volta ao pai, o herói, que foi preparado para o ritual, conversa com o pai cego
que sente o cheiro forte das tintas que haviam sido passadas no corpo do prisioneiro, tintas próprias
dos rituais de sacrifício.
Destarte pergunta ao filho:
· _"Tu prisioneiro, tu?". E ao ficar sabendo pelo próprio filho o que acontecera, desconhecendo
o verdadeiro motivo de sua volta (zelar pelo pai doente), o velho leva-o de volta aos Timbiras e o
maldiz, rogando-lhe pragas e desejando-lhe que nem a morte o receba.
O filho reage e resolve mostrar que não é covarde. Grita "Alarma! alarma" o seu grito de guerra.
O velho escuta, tomado de súbito pela reação do filho que luta bravamente, golpeando inimigos e
destruindo a tribo timbira até que o chefe lhe ordena "Basta!".
A honra do herói é então recuperada. Chorou pelo pai o moço guerreiro. E ao ser mal interpretado
lutou como um bravo "valente e brioso".
Realmente é uma bela estória, não é mesmo? Certamente você já deve ter visto filmes
hollywoodianos com um enredo bem menos criativo.
No Brasil acredita-se que a alta cultura não é acessível ao popular e desta forma surge uma
descriminação às avessas - de baixo para cima. O leitor no Brasil recebe alcunha de alienado e
pasmem_ ignorante de sua própria realidade!
Observe como a estória descrita acima é de um enredo extremamente popular, para não dizer
até apelativo.
Como é claro compreender que o aluno é um agente de mudanças, carecemos que você leia
a obra para que possa vivenciar o quão grandiosa é a arte brasileira.
Bem, continuemos a tratar do resumo:
TEMA
O índio adequado a um forte sentimento de honra, simboliza a própria força natural do ameríndio,
sua alta cultura acerca de seu povo representado no modo como este acata o rígido código de ética
de seu povo.
O índio brasileiro é um clone do cavaleiro medieval das novelas européias românticas como as
de Walter Scott.
ENREDO E CANTOS
O poema nos é apresentado em dez cantos, organizados em forma de composição épico dramática. Todos sempre pautam pela apresentação de um índio cujo caráter e heroísmo são
salientados a cada instante.
Há muita musicalidade haja vista o título acima ( Cantos ) por isto o vestibulando deve sempre
estar atento para as medidas poéticas ( decassílabos e alexandrinos ) isto poderá ser tema de
questão no vestibular.
Veja abaixo uma tabela auto - explicativa de cada canto:
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I
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercada de troncos - cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d'altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d'outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno dum índio infeliz.
Quem é? - ninguém sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz: - de um povo remoto
Descende por certo - dum povo gentil;
Assim lá na Grécia ao escravo insulano
Tornavam distinto do vil muçulmano
As linhas corretas do nobre perfil.
Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Timbiras: - no extenso terreiro Assola-se o teto, que o teve em prisão;
Convidam-se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incumbem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa função.
Acerva-se a lenha da vasta fogueira,
Entesa-se a corda de embira ligeira,
Adorna-se a maça com penas gentis:
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vário matiz.
Entanto as mulheres com leda trigança,
Afeitas ao rito da bárbara usança,
O índio já uqerem cativo acabar:
A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
Brilhante enduape no corpo lhe cingem,
Sombreia-lhe a fronte gentil canitar.
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II
Em fundos vasos d'alvacenta argila
ferve o cauim;
Enchem-se as copas, o prazer começa,
reina o festim.
O prisioneiro, cuja morte anseiam,
sentado está,
O prisioneiro, que outro sol no ocaso
jamais verá!
A dura corda, que lhe enlaça o colo,
mostra-lhe o fim
Da vida escura, que será mais breve
do que o festim!
Contudo os olhos d'ignóbil pranto
secos estão;
Mudos os lábios não descerram queixas
do coração.
Mas um martírio, que encobrir não pode,
em rugas faz
A mentirosa placidez do rosto
na fronte audaz!
Que tens, guerreiro? Que terror te assalta
no passo horrendo?
Honra das tabas que nascer te viram,
folga morrendo.
Folga morrendo; porque além dos Andes
revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
da fria morte.
Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva,
lá murcha e pende:
Somente ao tronco, que devassa os ares,
o raio ofende!
Que foi? Tupã mandou que ele caísse,
como viveu;
E o caçador que o avistou prostrado
esmoreceu!
Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes
revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
da fria morte.
III
Em larga roda de novéis guerreiros
Ledo caminha o festival Timbira,
A quem do sacrifício cabe as honras.
Na fronte o canitar sacode em ondas,
O enduape na cinta se embalança,
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Na destra mão sopesa a ivirapeme,
Orgulhoso e pujante. Ao menor passo
Colar d'alvo marfim, insígnia d'honra,
Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,
Como que por feitiço não sabido
Encantadas ali as almas grandes
Dos vencidos Tapuias, inda chorem
Serem glória e brasão d'imigos feros.
"Eis-me aqui", diz ao índio prisioneiro;
"Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,
As nossas matas devastaste ousado,
Morrerás morte vil da mão de um forte."
Vem a terreiro o mísero contrário;
Do colo à cinta a muçurana desce:
"Dize-nos quem és, tesu feitos canta,
Ou se mais te apraz, defende-te. "Começa
O índio, que ao redor derrama os olhos,
Com triste voz os ânimos comove.
IV
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
Andei longes terras,
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes - escravos!
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De estranhos ignavos
Calcados aos pés.
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.
Aos golpes do imigo
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d'espinhos
Chegamos aqui!
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu'ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego,
Qual seja - dizei!
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
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De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? - Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixa-me viver!
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro;
Se a vida deploro,
Também sei morrer.
V
"Soltai-o!" diz o chefe. Pasma a turba;
Os guerreiros murmuram: mal ouviram,
Nem pôde nunca um chefe dar tal ordem!
Brada segunda vez com voz mais alta,
Afrouxam-se as prisões, a embira cede,
A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo,
"Timbira", diz o índio enternecido,
Solto apenas dos nós que o seguravam:
"És um guerreiro ilustre, um grande chefe,
Tu que assim do meu mal te comoveste,
Nem sofres que, transposta a natureza,
Com olhos onde a luz já não cintila,
Chore a morte do filho o pai cansado,
Que somente por seu na voz conhece,
"És livre; parte.
"E voltarei."
"Debalde."
"Sim, voltarei, morto meu pai."
"Não voltes."
É bem feliz, se existe, em que não veja,
Que filho tem, qual chora: és livre; parte!"
"Acaso tu supões que me acobardo,
Que receio morrer!"
"És livre; parte!"
"Ora não partirei; quero provar-te
Que um filho dos Tupis vive com honra,
E com honra maior, se acaso o vencem,
Da morte o passo glorioso afronta.
"Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
E tu choraste!... parte; não queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes."
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Sobresteve o Tupi: - arfando em ondas
O rebater do coração se ouvia
Precípite. - Do rosto afogueado
Gélidas bagas de suor corriam:
Talvez que o assaltavam um pensamento...
Já não... que na enlutada fantasia,
Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,
Do velho pai a morimbunda imagem
Quase bradar-lhe ouvia: "Ingrato! ingrato!"
Curvado o colo, taciturno e frio,
Espectro d'homem, penetrou no bosque!
VI
"Filho meu, onde estás?
"Ao vosso lado;
Aqui vos trago provisões: tomai-as,
As vossas forças restaurai perdidas,
E a caminho, e já!"
"Tardaste muito!
Não era nado o sol, quando partiste,
E frouxo o seu calor já sinto agora!"
"Sim, demorei-me a divagar sem rumo,
Perdi-me nestas matas intrincadas,
Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;
Convém partir, e já!"
"Que novos males
Nos resta de sofrer? - que novas dores,
No outro fado pior Tupã nos guarda?"
"As setas da aflição já se esgotaram,
Nem para novo golpe espaço intacto
Em nossos corpos resta."
"Mas tu tremes!"
"Talvez do afã da caça..."
"Oh filho caro!
Um quê misterioso aqui me fala,
Aqui no coração; piedosa fraude
Será por certo, que não mentes nunca!
Não conheces temor, e agora temes?
Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,
E contra o seu querer não valem brios.
Partamos!... "E com mão trêmula, incerta
Procura o filho, tateando as trevas
Da sua noite lúgubre e medonha.
Sentindo o acre odor das frescas tintas,
Uma idéia fatal correu-lhe à mente...
Do filho os membros gélidos apalpa,
E a dolorosa maciez das plumas
Conhece estremecendo: - foge, volta,
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encontra sob suas mãos o duro crânio,
Despido então do natural ornato!...
Recua aflito e pávido, cobrindo
Às mãos ambos os olhos fulminados,
Como que teme ainda o triste velho
De ver, não mais cruel, porém mais clara,
Daquele exício grande a imagem viva
Ante os olhos do corpo afigurada.
Não era que a verdade conhecesse
Inteira e cruel qual tinha sido;
Mas que funesto azar correra o filho,
Ele o via; ele o tinha ali presente;
E era de repetir-se a cada instante.
A dor passada, a previsão futura
E o presente tão negro, ali os tinha;
Ali no coração se concentrava,
Era num ponto só, mas era a morte!
"Tu prisioneiro, tu?"
"Vós o dissestes."
"Dos índios?"
"Sim.
"De que nação?"
"Timbiras."
"E a muçurana funeral rompeste,
Dos falsos manitôs quebraste a maça..."
"Nada fiz... aqui estou."
"Nada!"
Emudecem;
Curto instante depois prossegue o velho:
"Tu és valente, bem o sei: confesso,
Fizeste-o, certo, ou já não foras vivo!"
"Nada fiz; mas souberam da existência
De um pobre velho, que em mim só vivia..."
"E depois?..."
"Eis-me aqui."
"Fica esta taba?"
"Na direção do sol, quando transmonta."
"Longe?"
"Não muito"
"Tens razão: partamos."
"E quereis ir?..."
"Na direção do ocaso."
VII
"Por amor de um triste velho,
Que ao termo fatal já chega,
Vós, guerreiros, concedestes
A vida a um prisioneiro.
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Ação tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jamais praticada
Entre os Tupis - e mas foram
Senhores em gentileza.
"Eu porém nunca vencido,
Nem os combates por armas
Nem por nobreza nos atos;
Aqui venho, e o filho trago,
Vós o dizeis prisioneiro,
Seja assim como dizeis;
Mandai vir a lenha, o fogo,
A maça do sacrifício
E a muçurana ligeira:
Em tudo o rito se cumpra!
E quando eu for só na terra,
Certo acharei entre os vossos,
Que gentis se revelam,
Alguém que meus passos guie;
Alguém que vendo o meu peito
Coberto de cicatrizes,
Tomando a vez de meu filho,
De haver-me por pai se ufane!"
Mas o chefe dos Timbiras,
Os sobrolhos encrespando,
Ao velho Tupi guerreiro
Responde com torvo acento:
"Nada farei do que me dizes:
É teu filho imbele e fraco!
Aviltaria o triunfo
Da mais guerreira das tribos
Derramar seu ignóbil sangue:
Ele chorou de cobarde;
Nós outros, fortes Timbiras,
Só de heróis fazemos pasto."
Do velho Tupi guerreiro
A surda voz na garganta
Faz ouvir uns sons confusos,
Como os rugidos de um tigre,
Que pouco a pouco se assanha!
VIII
"Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
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Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
"Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
"Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
"Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acendas o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas como asco e terror!
"Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E o oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.
"Um amigo não tenhas piedoso
Que teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d'argila cuidoso
Arco e flecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és."
IX
Isto dizendo, o meserando velho
A quem Tupã tamanha dor, tal fado
Já nos confins da vida reservara,
Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
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Da sua noite escura as densas trevas
Palpando. "Alarma! alarma!" O velho pára.
O grito que escutou é voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
Noutra quadra melhor. "Alarma! alarma!"
Esse momento só vale apagar-lhe
Os tão compridos transes, as angústias,
Que o frio coração lhe atormentaram
De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.
Ele que em tanta dor se contivera,
Tomado pelo súbito contraste,
Desfaz-se agora em pranto copioso,
Que o exaurido coração remoça.
A taba se alborota, os golpes descem,
Gritos, imprecações profundas soam,
Emaranhada a multidão braveja,
Revolve-se, enovela-se confusa,
E mais revolta em mor furor se acende.
E os sons dos golpes que incessantes fervem.
Vozes, gemidos, estertor da morte
Vão longe pelas ermas serranias
Da humana tempestade propagando
Quantas vagas de povo enfurecido
Contra um rochedo vivo se quebravam.
Era ele, o Tupi; nem fora justo
Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,
Aturado labor de tantos anos,
Derradeiro brasão da raça extinta,
De um jacto e por um só se aniquilasse.
"Basta!" clama o chefe dos Timbiras,
"Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças."
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo brandando:
"Este, sim, que é meu filho muito amado!
"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
Corram livres as lágrimas que choro,
Estas lágrimas, sim, que não desonram."
X
Um velho Timbira, coberto de glória
guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
do que ele contava,
Dizia prudente: "Meninos, eu vi!
"Eu vi o brioso no largo terreiro
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cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente, como era, chorou sem ter pejo;
parece que o vejo,
Que o tenho nest'hora diante de mim.
"Eu disse comigo: Que infâmia d'escravo!
Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como ele, não vi!
E à fé que vos digo: parece-me encanto
Que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"
Assim o Timbira, coberto de glória,
guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
do que ele contava,
Tornava prudente: "Meninos, eu vi!"
IV- Cantos em ordem numérica
CANTO 1
Apresentação e descrição da tribo dos Timbiras.
CANTO 2
Narra a festa canibalística dos timbiras e a aflição do guerreiro tupi que será sacrificado.
CANTO 3
Apresentação do guerreiro tupi - I - Juca Pirama
CANTO 4
I- Juca Pirama aprisionado pelos Timbiras declama o seu canto de morte e pede ao Timbiras que
deixem-no ir para cuidar do pai alquebrado e cego.
CANTO 5
Ao escutarem o canto de morte do guerreiro tupi, os timbiras entendem ser aquilo um ato de covardia
e desse modo desqualificam-no para o sacrifício.
CANTO 6
O filho volta ao pai que ao pressentir o cheiro de tinta dos timbiras que é específica para o sacrifício
desconfia do filho e ambos partem novamente para a tribo dos timbiras para sanarem ato tão
vergonhoso para o povo tupi.
CANTO 7
Sob alegação de que os tupis são fracos, o chefe dos timbiras não permite a consumação do ritual.
CANTO 8
O pai envergonhado maldiz o suposto filho covarde.
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COLÉGIO PRO CAMPUS - “A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO” - OBRAS INDICADAS - UESPI
CANTO 9
Enraivecido o guerreiro tupi lança o seu grito de guerra e derrota a todos valentemente em nome de
sua honra.
CANTO 10
O velho Timbira ( narrador ) rende-se frente ao poder do tupi e diz a célebre frase: "meninos, eu vi" .
NARRATIVA
Foco narrativo em terceira pessoa.
CRÍTICA
Como a obra é indianista e é muito fácil caracterizar isto pelo léxico utilizado, o aluno não terá
o que temer para identificar o estilo na hora da prova_ vale ressaltar a musicalidade dos versos que
é uma característica típica de Gonçalves Dias.
O poema I-Juca Pirama nos dá uma visão mais próxima do índio, ligado aos seus costumes,
convenhamos dizer que ainda é muito idealizado e moldado ao gosto romântico.
O índio integrado no ambiente natural, e principalmente adequado a um sentimento de honra,
reflete o pensamento ocidental de honra tão típico das novelas de cavalaria medievais_ é o caso do
texto Rei Arthur e a Távola Redonda.
Para melhor explicitar o exposto acima, citamos na íntegra fragmento do comentário feito em
Literatura Comentada - Gonçalves Dias, da Abril, p. 1011
Se os europeus podiam encontrar na Idade Média as origens da nacionalidade, o mesmo não
aconteceu com os brasileiros.
Provavelmente por essa razão, a volta ao passado, mesclada ao culto do bom selvagem,
encontra na figura do indígena o símbolo exato e adequada para a realização da pesquisa lírica e
heróica do passado.
O índio é então redescoberto.
Embora sua recriação poética dê idéia da redescoberta de uma raça que estava adormecida
pela tradição e que foi revivida pelo poeta.
O idealismo, a etnografia fantasiada , as situações desenvolvidas como episódios da grande
gesta heróica e trágica da civilização indígena brasileira, a qual sofre a degradação do branco
conquistador e colonizador, têm na sua forma e na sua composição reflexos da epopéia. da tragédia
clássica e dos romances de gesta da Idade Média.
Assim o índio que conhecemos nos versos bem elaborados de Gonçalves Dias é uma figura
poética, um símbolo.
Gonçalves Dias centra I - Juca Pirama num estado de coisas que ganham uma enorme
importância pela inevitável transgressão cometida pelo herói, transgressão de cunho romanesco (o
choro diante da morte) que quando transposta a literatura gera uma incrível idealização dos estados
de alma.
Como exemplo, podem-se citar as reações causadas pelo "suposto medo da morte". Com
isso, o autor transforma a alma indígena em correlativos dos seus próprios movimentos, sublinhando
a afetividade e o choque entre os afetos: há uma interpenetração de afetos (amor. ódio, vingança
etc.) que estabelece uma harmonia romântica entre o ser que esta sendo julgado e a sua natureza ~
a natureza indígena, com a conseqüente preferência pelas cenas e momentos que correspondem
ao teor das emoções.
Daí as avalanches de bravura e de louvor à honra e ao caráter.
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Fonte: André Lazarotte & Prof. Deneval Azevedo
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