2012| # 01 + Design e Sustentabilidade Por Raquel Gomes dos Santos* A ideia de consumo consciente já existe? Sim, mas a sociedade, ainda em sua maioria, tem um olhar distante sobre meio ambiente. É possível notar o entendimento sobre a necessidade de conservação do ambiente, sobre a importância do ciclo de vida dos materiais e sobre otimização dos recursos naturais e energia. No entanto, este entendimento é pouco incorporado nas atitudes do dia-a-dia de cada pessoa, como o simples hábito de separar lixo doméstico. Essa distância decorre da baixa instrução e carência de produtos básicos da população, que torna a idéia do consumo consciente tímido e pouco expressivo no Brasil, e até mesmo incompreendido. Uma das barreiras encontradas, para os micros e pequenos empresários é o Sistema Tributário Nacional (carga tributária elevada, legislação complexa e folha de pagamento onerosa, etc.) que torna-se um obstáculo a mais ao desenvolvimento da produção nacional e por conseqüência acabam por desassociar as questões ambientais da fabricação de produtos e serviços oferecidos. Deixam de implementar em suas empresas novos materiais, novas tecnologias e novos produtos com perfis voltados à sustentabilidade. A implementação de produtos sustentáveis não depende simplesmente de sua colocação numa prateleira, mas necessita de incentivo e capacitação técnica de profissionais para quebrarem paradigmas e atuarem com estes novos conceitos, estabelecendo assim o design sustentável, e aí sim colocado na prateleira. Num mundo globalizado, torna-se importante a participação e atualização contínua de profissionais e empreendedores nacionais sobre o conceito de sustentabilidade no mundo. A mudança do perfil do consumidor acontece de forma vagarosa, normalmente com algumas ações, em sua maioria, por parte de empresas de grande porte com marcas presentes em vários países que possuem recursos para desenvolvimento de produtos, e preocupadas com imagem e perpetuação de sua marca. No entanto, algumas ações do poder público começam a aparecer, como por exemplo, as sacolas plásticas utilizadas em mercados, e que resultaram num efeito cascata: a mídia como formadora de opinião posiciona-se sobre as questões ambientais, uma fez formada e assimilada pela sociedade, há cobrança sobre as autoridades, que criam leis que levam a nova uma atitude de supermercadistas e lojistas. E por fim, estes vislumbram uma oportunidade de comunicação e marketing positivo resultando em presença na mídia e no fortalecimento de sua marca. Uma vez desencadeado um processo de sensibilização por algum veículo de comunicação ou alguém, ambos formadores de opinião, percebe-se a continuidade do processo no chamado “boca-a-boca”, fundamental na contribuição de mudanças na sociedade. Outro setor que vem respondendo de maneira positiva com relação ao meio ambiente é o de papel e celulose, que a partir de investimentos em pesquisas vem buscando a utilização de menos produtos químicos na fabricação do papel, como o uso do bagaço de cana-de-açúcar que vem ganhando espaço. A cana-de-açúcar no Brasil, tem se tornado uma aliada ao meio ambiente com avanços tecnológicos que lhe dão novos usos, como gerar fonte alternativa de energia elétrica e combustível, estimulando o setor automobilístico, reconhecidamente um setor propulsor de inovação e design, que faz-se necessário e a diferença neste mercado tão competitivo de sedução dos consumidores. Nessa mudança vagarosa, já é possível notar vários setores buscando de alguma forma adequar-se a um desenvolvimento sustentável. Hoje no setor de iluminação temos a inovação do Led e percepção ainda tímida, mas percebida, sobre a importância de um profissional especializado, o lightdesigner. Hoje são percebidos avanços significativos no dia-a-dia, basta um olhar para algumas empresas que já deram um passo a mais, e produzem produtos como tintas a base de água e não mais de solventes; blocos ecológicos para construção civil utilizando o entulho de obras; metais sanitários que economizam água; pisos e revestimentos ecológicos; tábuas, tapumes, prateleiras entre outros desenvolvidos por sobras de madeiras reflorestamento; janelas e portas de alumínio das latinhas coletadas por cooperativas; conduites de garrafas pet; tapetes de fibra de coco entre outros. O design é um instrumento fundamental, pois depois de concebido é incorporado à vida humana, ao jeito humano de ser. Então, mais do que nunca é preciso somar design e sustentabilidade: design sustentável. Consumir não quer dizer excesso de lixo. O que deve ser avaliado são os processos, materiais e tecnologias utilizados nos produtos. Um exemplo simples são as bandejas de isopor e de filme plásticos utilizados por muitas empresas para armazenar alimentos. Outro exemplo são os produtos comprados pelo tamanho da embalagem, sendo “o grande” e “mais colorido” os mais atrativos, e utilizados também como estratégia de marketing numa sociedade de consumo contemporânea desinformada. Se estes aspectos entre outros forem revistos, menos lixo será depositado na natureza e assim, menos impacto ambiental. Atualmente, uns dos vilões da era digital são os produtos eletrônicos, um dos setores que mais investe em pesquisa e desenvolvimento aliados a inovação, tecnologia e design. A tecnologia se transforma de maneira tão rápida, que produtos mais avançados são lançados no mercado antes mesmo do término da vida útil de seus antecessores. E em contrapartida recolhimento do material, separação e reciclagem dos produtos descartados não avança na mesma velocidade. Um dos fatores que os tornam vilões é o fato de possuírem metais pesados em sua constituição, além de diferentes tipos de plásticos. Os produtos eletrodomésticos seguem paralelamente com os eletrônicos, principalmente na questão da tecnologia e design, com uma inter-relação forte com o perfil do consumidor, com o estilo da sociedade e com a globalização. Por isso é um dos setores que mais incorpora os aspectos ambientais, principalmente, no que se diz respeito ao ser mais durável, eficaz e sustentável. Por outro lado, com o mercado aquecido algumas empresas vislumbram uma oportunidade mais lucrativa e acabam optando por uma produção mais econômica para acessar um público menos exigente e de menor poder aquisitivo. O Brasil possui ótimos índices de separação de lixo, como por exemplo, latas de alumínio e papel, papelão. No entanto, isso ocorre mais pela desigualdade econômica do que efetivamente por conscientização ambiental, onde pessoas de pouca ou quase nenhuma renda, se usam da catação como fonte de renda, e tornam-se parte de um sistema, muitas vezes perverso, de captação de lixo que alimentam o ciclo da reciclagem. Raquel Gomes dos Santos Analista de Design do Núcleo SENAI São Paulo Design, graduada em Arquitetura e Urbanismo e licenciada em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, extensão universitária em Gestão de Produtos e Políticas Culturais pela Faculdade São Luís, e especialista em Gestão Ambiental pelo Centro Universitário Fundação Santo André. 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