A ótica do cliente hospitalizado A ÓTIC A DO CLIENTE HOSPIT ALIZADO TICA OSPITALIZADO ADE DA SOBRE A QUALID ALIDADE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM THE PATIENT’S VIEW ON THE QUALITY OF NURSING CARE Camila Santejo Silveira* Neide Fávero** Marta Cristiane Alves-Pereira*** RESUMO: Trata-se de um estudo descritivo do tipo survey, desenvolvido na clínica cirúrgica de um hospital-escola em Ribeirão Preto, em 2000. O presente trabalho teve como objetivo conhecer as necessidades e expectativas manifestadas pelos pacientes sobre a assistência de enfermagem prestada durante o período de internação, além de verificar e analisar se as mesmas foram atendidas. Resultados: 30 (90.9%) pacientes informaram que suas necessidades e expectativas foram atendidas durante o período de hospitalização, 2 (6.1%) responderam que foram atendidas ocasionalmente e 1 (3.0%) afirmou que nunca foi atendido adequadamente pela equipe de enfermagem. O conhecimento das necessidades e expectativas do cliente em relação à equipe de enfermagem constitui o primeiro passo na busca da qualidade. Talvez o aprimoramento de uma sistemática de trabalho possa melhorar a qualidade da assistência prestada. Palavras-chave: Assistência de enfermagem; cliente; qualidade. ABSTRACT ABSTRACT:: This is a survey study developed in the surgery clinic of an university hospital of Ribeirão Preto during the year of 2000. It aimed at learning about the needs and expectations expressed by patients concerning the nursing care received during their hospitalization period, as well as at verifying and analyzing if such expectations and needs had been met. Thirty patients (90.9%) said that their needs and expectations had been met during the hospitalization period; two patients (6.1%) answered that they had occasionally been met and one patient (3.0%) claimed that they had never been adequately met by the nursing team. The knowledge concerning the patient’s needs and expectations with regard to the nursing team constitutes the first step in the search for quality. It is possible that the refinement of the working system can improve the nursing care given. Keywords: Nursing care; quality; patient. I NTRODUÇÃO Qualidade, segundo o dicionário Aurélio, é “propriedade, atributo ou condição das coisas ou das pessoas que as distingue das outras e lhes determina a natureza” (p. 1165)1. Como é sabido, a busca da qualidade se constitui na maior preocupação das organizações, na atualidade. Silva 2 destaca que os principais objetivos das organizações se referem ao controle da qualidade e, para atingi-los, há necessidade de adoção de novas estratégias administrativas com a finalidade de alcançar um atendimento de excelência. Assim, os profissionais de saúde devem procurar a melhoria da qualidade dos serviços de saúde, mesmo diante das atuais condições econômicas, sociais e políticas do país. A equipe de enfermagem, como grupo numericamente mais representativo, que se dedica à assistência à saúp.76 • R Enferm UERJ 2003; 11:76-9. de nas instituições hospitalares, desempenha importante papel na busca da qualidade3. Devido à vinculação do enfermeiro às funções administrativas e burocráticas, o processo de cuidar diretamente dos clientes fica mais distante e a qualidade da assistência torna-se cada vez mais difícil de ser alcançada. A fim de minimizar tal efeito, a enfermagem deve responsabilizar-se pela qualidade dos cuidados prestados aos clientes e dar prioridade às necessidades e expectativas dos mesmos no planejamento da assistência. Para Cianciarullo4, se diante das contradições encontradas no dia-a-dia do seu trabalho os enfermeiros buscassem eliminar o vazio teóricoprático existente entre a enfermagem e o cliente, certamente teriam um caminho a seguir. Silveira CS, Fávero N, Alves-Pereira MC Nesse contexto, quando a assistência é planejada individualmente para cada cliente, garante o atendimento das suas necessidades possibilitando, dessa forma, que a assistência seja de melhor qualidade. De acordo com Silva2, o enfermeiro, como agente modificador do atual quadro assistencial, é quem deve efetuar tal mudança em sua prática diária, uma vez que as ações administrativas desse profissional são imprescindíveis para solucionar os problemas que emergem na instituição hospitalar. E caso ele tenha uma liderança efetiva, que trace estratégias adequadas, seguramente desenvolverá uma assistência de enfermagem com qualidade. O líder, além de ajudar na elaboração do plano de assistência, conduz a equipe a trabalhar harmonicamente em busca de objetivos que sejam comuns a todos os integrantes desse processo. Para o desenvolvimento deste estudo, estabelecemos os seguintes objetivos: conhecer as necessidades e expectativas manifestadas pelos pacientes internados na clínica cirúrgica de um hospital-escola sobre a assistência de enfermagem prestada a eles, durante o período de internação; verificar e analisar se essas expectativas e necessidades foram atendidas. METODOLOGIA O presente estudo descritivo é do tipo survey que “permite a obtenção de informações em relação à prevalência, distribuição e inter-relações de variáveis, no âmbito de uma população”(p.124) 5. Desenvolvemos este estudo, em 2000, com 33 pacientes internados na clínica cirúrgica de um hospital-escola da cidade de Ribeirão Preto , São Paulo, com idade igual ou superior a 18 anos, período de internação de 3 a 7 dias e que concordassem em participar do mesmo. A coleta de dados foi efetuada pela própria pesquisadora, por meio de entrevista semiestruturada, num período de 30 dias, após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição na qual foi desenvolvido o estudo. O instrumento de coleta de dados obteve informações a respeito da idade, procedência, grau de escolaridade, estado civil, profissão, renda familiar e número de internações anteriores dos entrevistados. As respostas dos clientes a respeito de suas expectativas em relação à equipe de enfermagem foram determinadas a partir da seguinte questão: O que o(a) senhor(a) esperava da equipe de enfermagem, durante o período do internação? Cite no mínimo três expectativas. Posteriormente, orientamos os clientes a determinarem em que grau suas expectativas e necessidades foram atendidas, durante a hospitalização, atribuindo notas de 0 a 2 (0-nunca, 1-ocasionalmente, 2-sempre). Para tanto, garantimos o caráter voluntário da participação do sujeito no estudo, bem como o caráter confidencial das entrevistas de cada informante. RESUL TADOS ESULT E DISCUSSÃO N o período do estudo, 36 pacientes, com idade igual ou superior a 18 anos e período de hospitalização de 3 a 7 dias, que estavam internados na unidade, foram abordados pela pesquisadora; 33 aceitaram participar da pesquisa. Desse modo, a população ficou constituída por 33 sujeitos, sendo 23 (69.7%) do sexo masculino e 10 (30.3%) do sexo feminino. A faixa etária que apresentou maior prevalência referia-se a de 51 a 70 com 14 (42.4%), seguida da faixa etária com idade menor que 30 anos com 9 (27.3%), 31 a 50 anos 8 (24.2%) e maior de 70 anos 2 (6.1%). Ao analisar a procedência dos entrevistados, constatamos que 5 (15.2%) residiam em Ribeirão Preto; 4 (12.1%) em outros estados (Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro) e a maioria dos clientes - 24 (72.7%)- procedia de outras cidades do Estado de São Paulo. Ao estudar o processo de referência a um hospital universitário, Fávero6 encontrou menor porcentagem de pacientes procedentes do município de Ribeirão Preto, por ser a referida instituição de nível terciário e, de acordo com os princípios de regionalização e hierarquização estabelecidos pelo Sistema Único de Saúde, outros serviços encaminham pacientes que necessitam de atendimento com maior grau de complexidade para esse hospital. Em relação ao estado civil, 21 (63.6%) dos entrevistados eram casados, 6 (18.2%) solteiros. E entre os desquitados e viúvos, encontramos 3 (9.1%), em cada categoria. Quanto ao nível de instrução, 18 (54.5%) pacientes estudaram até o 1º Grau, 7 (21.2%) cursaram até o 2º Grau, 4 (12.2%) possuem níR Enferm UERJ 2003; 11:76-9. • p.77 A ótica do cliente hospitalizado vel superior completo ou incompleto e 4 (12.1%) são analfabetos, fato que, provavelmente, interferiu na análise crítica e na capacidade de exigência desses sujeitos quanto ao serviço oferecido. Em relação à profissão, identificamos uma grande diversidade entre os pacientes entrevistados, sendo a maioria - 8 (24.2%) - aposentada; 6 (18.2%) do lar, seguindo-se motorista e pedreiro, ambos com 2 (6.1%) cada. Os demais profissionais - 17 (51.5%) - que participaram do estudo eram: professor, vendedor (autônomo), calceteiro, auxiliar de produção, secretário, açougueiro, escriturário, técnico de informática, guarda-noturno, moto-táxi, pintor, auxiliar de agricultor, comerciante, estudante e garçonete. Quanto à renda familiar, 19 (57.6%) dos entrevistados citaram renda mensal entre 1 e 3 salários mínimos, 5 (15.2%) entre 4 e 6 salários, 3 (9.1%) entre 7 e 9 salários, 2 (6.0%) entre 10 e 12 salários e 1 (3.0%) entre 16 e 18 salários mínimos, ficando a média salarial de, aproximadamente, R$ 599,00 (3.9 salários mínimos). Entre os participantes, 3 (9.1%) não possuíam renda mensal. De posse dos três últimos dados, pudemos traçar um perfil socioeconômico e cultural da população estudada. Tais aspectos, possivelmente, dificultaram que os entrevistados identificassem e diferenciassem a equipe de enfermagem dos demais elementos da equipe multiprofissional, prejudicando a sua avaliação da qualidade da assistência de enfermagem oferecida pelo serviço. Em relação às internações anteriores, observamos que 27 (81.8 %) referiram entre 1 e 8 episódios; 4 (12.2%) informaram mais de 9 internações anteriores e 2 (6.1%) relataram ser essa a primeira hospitalização, e como ela se constituía em uma situação nova, é provável que tenha interferido nas expectativas dos clientes em relação à equipe de enfermagem, muitas vezes, pelo desconhecimento das funções dessa equipe e maior atenção voltada à equipe médica. Ao analisarmos as expectativas expressas pelos clientes frente à equipe de enfermagem, observamos uma certa dificuldade por parte dos entrevistados em definir seu posicionamento relacionado a esse item, pois cerca de um terço dos entrevistados - 10 (30.3 %) - não referiram nenhuma expectativa em relação à equipe de enfermagem durante o período de internação; a expectativa predominante era ser bem atendido por esta equipe, representando 8 (24.2%) das expectativas. Apenas 7 (21.2 %) entrevistados referiram mais de uma p.78 • R Enferm UERJ 2003; 11:76-9. expectativa. Merecem destaque as expectativas negativas relatadas pelos clientes: não esperava que fossem prestativos; não esperava ter atenção; medo de não ter medicamento para dor. Tais resultados confirmam o desconhecimento da equipe de enfermagem por parte dos clientes, conforme ressaltam Silva2 e Fávero6. Poucas foram as expectativas relacionadas às funções assistencial e educacional da equipe de enfermagem. Os clientes valorizaram mais aspectos como: apoio, compreensão, carinho, consolo, atenção, disposição, os quais totalizaram 7 (28%) das expectativas expressas. Isso pode ser explicado pelo estresse causado pela internação no paciente, que busca equilíbrio nos membros da equipe de enfermagem, devido ao contato mais freqüente com esta equipe. É preciso que os enfermeiros, através de suas ações, reduzam essa resposta, pois a atuação da equipe de enfermagem é que determina a qualidade assistencial2,3,4. Por fim, ao indagarmos aos clientes em que grau suas expectativas e necessidades foram atendidas, durante a internação, 30 (90.9 %) atribuíram grau 2, informando que todas as necessidades e expectativas foram atendidas; 2 (6.1 %) atribuíram grau 1, respondendo que isso ocorreu ocasionalmente e 1 (3.0 %) atribuiu grau 0, afirmando que nunca foi atendido adequadamente pela equipe de enfermagem. A maioria das respostas positiva indica o atendimento das expectativas, valorizando os serviços prestados, o que corresponde ao alcance da finalidade da assistência de enfermagem2,3,4,6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise os dados coletados permitiu observar que a maioria dos entrevistados atribuiu grau 2 às necessidades e expectativas, durante a hospitalização, ou seja, sempre foram atendidos pela equipe de enfermagem. Tal fato se contrapõe quando comparamos as expectativas expressas pelos clientes em relação a esta equipe, já que 30.3% não referiram nenhuma expectativa e, além disso, expectativas negativas surgiram durante o estudo. Talvez o aprimoramento de uma sistemática de trabalho possa melhorar a qualidade da assistência de enfermagem. Isso é possível porque a enfermagem possui um conjunto de conhecimentos técnicos e teóricos próprios que devem ser utilizados para nortear sua prática de trabalho. Silveira CS, Fávero N, Alves-Pereira MC O conhecimento das necessidades e expectativas do cliente em relação à equipe de enfermagem se constitui no primeiro passo dado por esses profissionais na busca da qualidade. Devemos considerar que quando a assistência prestada recebe uma avaliação positiva por parte da clientela evidencia que, além de estarmos atendendo às suas necessidades, está sendo garantida também a satisfação profissional do enfermeiro. REFERÊNCIAS 1. Ferreira ABH. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1986. 2. Silva SH. Controle da qualidade assistencial de LA VISIÓN DEL CLIENTE HOSPIT ALIZADO SOBRE OSPITALIZADO enfermagem- implementação de um modelo [tese de doutorado]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 1993. 3. Marra CC, Fernandes NS, Camargnani MIS. A qualidade da assistência de enfermagem e a motivação no trabalho. Enfoque 1988; 16: 88-9. 4. Cianciarulo TI. Análise retrospectiva da qualidade de assistência de enfermagem em um hospital universitário [tese de livre-docência]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 1998. 5. Polit DF, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa a em enfermagem. 3 ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1995. 6. Fávero N. Estudo do processo de referência a um hospital universitário [tese de doutorado]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo;1986. LA CALID AD DE LA ASISTENCIA ALIDAD DE ENFERMERÍA RESUMEN: Se trata de estudio del tipo survey, desarrollado en la clínica quirúrgica de un hospitalescuela, en Ribeirao Preto , São Paulo, Brasil, en 2000. El presente trabajo tuvo como objetivo conocer las necesidades y expectativas manifestadas por los pacientes sobre la asistencia de enfermería prestada durante el período de internación, además de verificar y analizar si las expectativas y necesidades expresas por los clientes fueron atendidas. Resultados: 30 (90.9%) pacientes informaron que sus necessidades y expectativas fueron atendidas durante el período de permanência en el hospital, 2 (6.1%) respondieron que fueron atendidas ocasionalmente y 1 (3.0%) afirmó que nunca fue atendido adecuadamente por el equipo de enfermería. El conocimiento de las necesidades y expectativas del cliente en relación al equipo de enfermería constituye el primero paso en la búsqueda de calidad. Tal vez el mejoramiento de una sistemática de trabajo pueda mejorar la calidad de la asistencia prestada. Palabras clave: Asistencia de enfermería; cliente; calidad. Recebido em: 10.07.2002 Aprovado em: 06.05.2003 Notas * Aluna de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Bolsista de Iniciação Científica CNPq. ** Orientadora, Professora Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. *** Enfermeira do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Mestre pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. R Enferm UERJ 2003; 11:76-9. • p.79