OS PRINCIPAIS DANOS COCRRIDIS EM TECIDOS OCULARES
RELACIONADOS À RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA E OS MÉTODOS DE
PROTEÇÃO
Marcio Soares Rabello
RESUMO
Apesar de a luz solar ser indispensável para a vida na Terra, ela também pode ser nociva. A radiação
ultravioleta é parte integrante do espectro eletromagnético assim como a luz visível, a radiação
infravermelha e outras e é potencialmente perigosa para os seres vivos, sendo capaz de causar vários
danos ao olho humano, tais como, catarata, fotoceratite, pterígio e degeneração macular através de dois
mecanismos: fragmentação molecular e geração de radicais livres. A principal forma de proteção contra a
RUV para os olhos é a utilização de óculos solares que possuam proteção contra esta radiação. Foram
coletadas onze amostras de óculos solares no estado do Rio de Janeiro, sendo dois na Praia do Recreio
dos Bandeirantes, dois na Praia do Saco, dois na Praia do Cemitério e cinco na fábrica de lentes de uma
empresa multinacional instalada no Brasil, localizada na região de Petrópolis. Todas as amostras foram
conduzidas até essa fábrica, onde foram submetidas ao espectrofotômetro, com o qual foi obtido um
gráfico de condutância e absorbância para cada uma delas. Todas as amostras da fábrica de lentes
permitiram que menos 10% da RUV atravessasse suas lentes o que conferiria uma satisfatória proteção
aos indivíduos que viessem a utilizar esses óculos. Por outro lado, os óculos coletados nas três praias
permitiram que quase toda a RUV atravessasse suas lentes o que confere pouca ou nenhuma proteção. Ao
comprar óculos solares, deve-se buscar aqueles fornecidos por fontes confiáveis para que os olhos não
sejam desnecessariamente expostos à RUV.
ABSTRACT
Despite the solar light being indispensable for the life in the Land, it also it can be harmful. The
ultraviolet radiation is integrant part of the electromagnetic specter as well as the visible light, the infra
red radiation and others. She is potentially dangerous for the beings livings creature, being capable to
cause some damages to the human eye as cataract, fotoceratite, pterígio and the degeneration to stain
through two mechanisms: molecular spalling and the generation of free radicals. The main form of
protection against the RUV for the eyes is the use of solar eyeglasses that possess protection against this
radiation. Eleven samples of solar eyeglasses in the state of Rio De Janeiro being two in the Beach of the
Recreation of the Bandeirantes had been collected, two in the Beach of the Bag, two in the Beach of
Cemetary and five in the plant of lenses of a multinational company installed in Brazil, located in the
region of Petrópolis. All the samples had been lead until this plant where they had been submitted to
espectrofotômetro through, which was gotten a graph of conductance and observation for each one of
them. All the samples of the plant of lenses had allowed that less than 10% of the RUV it crossed its
lenses what it would confer a satisfactory protection to the individuals that came to use these eyeglasses.
On the other hand, the eyeglasses collected in the three prais had allowed that almost all the RUV crossed
its lenses what it confers little or no protection. When buying solar eyeglasses, must be searched those
supplied by trustworthy sources so that the eyes are not displayed to the RUV.
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1. INTRODUÇÃO
A luz solar é o resultado de reações termonucleares que ocorrem no interior
do sol. Essa energia está intimamente relacionada à vida em nosso planeta. Os vegetais
e outros organismos fotossintetizantes se utilizam dela para converter energia luminosa
em energia química. Esses, por sua vez, vão servir de alimento para aqueles organismos
que não produzem seu próprio alimento e assim as cadeias alimentares vão se
organizando nos diferentes ecossistemas.
Um dos componentes da luz do sol é a radiação ultravioleta que também
pode ser dividida em radiação ultravioleta A, B e C, com base em seus comprimentos de
onda. Esta radiação é invisível ao olho humano, mas é comprovadamente capaz de
produzir efeitos nocivos ao organismo. Os danos causados pela radiação ultravioleta
foram verificados primeiramente na pele, estando associados a alguns efeitos que
podem ser imediatos como as queimaduras ou tardios como o fotoenvelhecimento e o
desenvolvimento do câncer de pele.
1.1. Mecanismos Bioquímicos dos Danos Causados pela Radiação Ultravioleta
Da mesma forma que a pele humana e os olhos podem ser mais ou menos
sensíveis às radiações, de acordo com a cor, cuidados, idade e condições de saúde do
indivíduo, essa sensibilidade tende a ser maior ou menor (TAYLOR, 1998).
A Tabela I mostra, de maneira geral, a porcentagem de absorção da RUV de
diferentes comprimentos de onda pelas diferentes estruturas do olho humano.
Tabela I – Porcentagem de absorção da RUV de diferentes comprimentos de
onda por partes do olho humano
λ (nm)
Córnea
Humor aquoso
cristalino
< 280
100 %
300
Humor vítreo
92 %
6%
2%
320
45 %
16 %
32 %
1%
340
37 %
14 %
48 %
1%
360
34 %
12 %
52 %
2%
Fonte: OKUNO E VILELA, 2005.
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Para que o dano induzido pela radiação UV possa ocorrer, o tecido precisa
conter uma molécula que a absorva. Os danos ao tecido podem acontecer de duas
maneiras: fragmentação molecular e geração de radicais livres (TAYLOR, 1988).
1.1.1.
Fragmentação Molecular
Proteínas, enzimas e ácidos nucléicos contêm ligação duplas de forma
alternada. Tais configurações moleculares eficientemente ressoam com comprimento de
onda de radiação ultravioleta. Uma analogia pode ser feita com os cantores de ópera que
são capazes de quebrar copos de vidro quando entoam certas notas ( TAYLOR, 1988 ).
A intensidade aumentada da radiação ultravioleta pode, então, induzir a
quebra das ligações moleculares e causar inflamação, neoplasma ou afetar o sistema
imunológico ( TAYLOR, 1898 ).
1.1.2. Geração de Radicais Livres
As moléculas orgânicas e inorgânicas e os átomos que contêm um ou mais
elétrons não pareados, com existência independente, podem ser classificados como
radicais livres. Essa configuração faz dos radicais livres moléculas altamente instáveis,
com meia-vida curtíssima e quimicamente muito reativas. A presença dos radicais livres
é crítica para a manutenção de muitas funções fisiológicas normais (TAYLOR, 1988).
Moléculas pigmentadas absorvem radiação UV de comprimentos de onda
específicos. A absorção desses fótons faz com que o elétron salte de um nível menos
energético para um mais energético ou de um nível já muito energético para fora do
átomo, desestabilizando-o. Este elétron ejetado geralmente se combina com átomos de
moléculas vizinhas, gerando uma reação em cadeia (TAYLOR, 1988).
Os radicais livres podem ser gerados no citoplasma, nas mitocôndrias ou na
membrana e o seu alvo celular (proteínas, lipídeos, carboidratos e DNA) está
relacionado com o seu sítio de formação (ANDERSON, 1996).
3
1.2. Métodos de Proteção
A principal forma de proteção para os olhos contra a radiação UV é a
utilização de óculos solares. Os óculos solares ideais são aqueles que proporcionam
conforto, através da diminuição da luz visível em níveis agradáveis e bloqueiam
inteiramente os raios UV (MATSUHARA, et al, 2004).
No entanto, nem todos os óculos solares são capazes de filtrar a radiação
UV. A cor escura ajuda a filtrar a faixa visível do espectro, mas, por si só, não bloqueia
a faixa não visível dos ultravioletas. É preciso que as lentes recebam o tratamento que
confere essa propriedade não sendo, necessariamente, colorido. O filtro pode existir até
em lentes incolores. Portanto, óculos com grau e também as lentes de contato podem
possuir proteção UV (MATSUHARA, et al, 2004).
Todos os óculos com lentes escuras diminuem a quantidade de luz visível
que atinge o olho. Com isso, a pupila aumenta de diâmetro. Os óculos inadequados, por
diminuírem a luz visível mas não os raios ultravioletas, acabam permitindo que mais
radiação UV passe pelo aumentado diâmetro da pupila, intensificando desta forma os
danos causados aos tecidos oculares subseqüentes (MATSUHARA, et al, 2004).
2. OBJETIVOS
•
Descrever alguns dos principais danos ocorridos em tecidos oculares
relacionados com a radiação ultravioleta;
•
Testar a eficiência de alguns óculos solares adquiridos em diferentes
circunstâncias.
2.1. Tecidos Oculares e os Danos Associados à RUV
2.1.1. Fotoceratite
A fotoceratite é uma irritação ocular aguda com inflamação da córnea. As
lesões oculares são dolorosas e temporárias, pois o epitélio ocular tem grande
capacidade de regeneração. Os sintomas se iniciam quando as células deste epitélio
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começam a descamar e no geral persistem por um ou dois dias. Há um período de
latência de quatro a doze horas que precede os sintomas de sensação de areia, fotofobia,
borramento da visão, lacrimejamento e um piscar intermitente e doloroso, conhecido
por blefaroespasmo (OKUNO E VILELA, 2005).
2.1.2.
Pterígio
O pterígio é uma estrutura carnosa originária da conjuntiva que cresce
invadindo a córnea. Ocorre comumente no canto interno do olho e causa distúrbios à
visão principalmente se atingir a pupila. O pterígio ocorre com maior freqüência em
pessoas que ficam muito tempo em ambientes externos e, portanto se expõem à RUV
solar (OKUNO E VILELA, 2005). A figura 03 mostra um olho humano acometido por
essa doença.
Figura 01 – Fotografia de um olho humano com pterígio
Fonte: NETO, 2006.
2.1.3. Catarata
A catarata é a opacificação do cristalino, evidente em idade avançada e que
pode causar cegueira. Consiste numa área de opacidade na superfície do cristalino. Na
fase inicial da formação da catarata, as proteínas das fibras do cristalino, imediatamente
abaixo da cápsula, tornam-se desnaturadas. Mais tarde, essas mesmas proteínas
coagulam, formando áreas opacas que ocupam o lugar das fibras protéicas transparentes
normais. Por fim, numa fase mais avançada, o cálcio freqüentemente deposita-se sobre
as proteínas coaguladas, aumentando ainda mais a opacidade (LEVI E GUYTON,
2006).
5
A exposição à fração UVB da RUV, associada a outros fatores, induz a
desnaturação dessas proteínas, entre as quais o triptofano, que filtra a radiação e
aumenta o risco de opacificação do cristalino. O risco de desenvolvimento da catarata
diminui com o controle da exposição à radiação UVB. Algumas drogas, como o
psoralênico, que é utilizado em métodos de fototerapia, aumentam o risco de catarata
porque sensibilizam os olhos à radiação, daí a necessidade de proteção ocular e não
exposição solar por 24 horas (OKUNO E VILELA, 2005).
2.1.4. Degeneração Macular
A mácula apresenta uma tendência natural a se degenerar com o passar do
tempo. No entanto a exposição prolongada à radiação UV e também à luz visível de
pequeno comprimento de onda (violeta / azul) podem contribuir para esse processo de
envelhecimento, causando uma perda progressiva da visão. Ainda não se tem uma
comprovação científica a esse respeito, talvez devido à eficiência do cristalino e da
córnea como filtros de radiação UV (TAYLOR, 1998).
3. M ATERIAL E MÉTODOS
3.1. Aquisição do Material
Foram adquiridos seis óculos solares no mês de outubro, sendo dois em cada
uma das seguintes praias: Recreio dos Bandeirantes (Município do Rio de Janeiro – RJ),
Praia do Saco (Município de Mangaratiba – RJ) e na Praia do Cemitério (Município de
Rio das Ostras – RJ). Também foram adquiridas cinco amostras de lentes de óculos
solares na Carl Zeiss Vision (uma das quatro multinacionais fabricantes de lentes
instaladas no Brasil), localizada na região de Petrópolis – RJ, na mesma época.
3.2. Processamento
Uma das lentes de cada um dos óculos solares foi submetida a uma descarga
de radiação ultravioleta em um espectrofotômetro acoplado a um computador com um
software específico para esse fim e capaz de gerar um gráfico, para que fosse avaliada a
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condutância e a absorbância de cada uma delas. O espectrofotômetro utilizado pertence
à Carl Zeiss Vision e pode ser observado nas figuras 02 e 03.
Figura 02 – Fotografia do espectrofotômetro utilizado – vista frontal
Figura – 03 Fotografia do espectrofotômetro utilizado – vista lateral
4. RESULTADOS
Os gráficos das figuras 04 a 14 mostram a condutância/absorbância de cada
uma das amostras provadas. A graduação vertical se refere à porcentagem da radiação
que atravessou a amostra e sensibilizou o filtro existente no lado oposto ao da fonte
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emissora de radiação. Já a graduação horizontal se refere ao comprimento de onda da
radiação dado em nanômetros (nm).
Figura – 04 Condutância / absorbância da amostra 01 (fábrica de lentes)
Figura – 05 Condutância / absorbância da amostra 02 (fábrica de lentes)
8
Figura – 06 Condutância / absorbância da amostra 03 (fábrica de lentes)
Figura – 07 Condutância / absorbância da amostra 04 (fábrica de lentes)
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Figura – 08 Condutância / absorbância da amostra 05 (fábrica de lentes)
Figura – 09 Condutância / absorbância da amostra 01 (Praia do Saco)
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Figura – 10 Condutância / absorbância da amostra 02 (Praia do Saco)
Figura – 11 Condutância / absorbância da amostra 01 (Praia do Cemitério)
11
Figura – 12 Condutância / absorbância da amostra 02 (Praia do Cemitério)
Figura – 13 Condutância / absorbância da amostra 01 (Praia do Recreio)
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Figura – 14 Condutância / absorbância da amostra 02 (Praia do Recreio)
5. DISCUSSÃO
Os gráficos das amostras coletadas na fábrica de lentes apresentaram uma
condutância para radiações eletromagnéticas com comprimentos de onda
compreendidos entre 100 e 400nm (radiação ultravioleta) inferior a 10%, o que
significa que as lentes dessas amostras foram capazes de impedir a passagem de
mais de 90% de toda essa radiação que incidiu sobre elas. Essa característica é
extremamente importante, uma vez que quaisquer óculos solares diminuem a
passagem da luz visível e, com isso, provocam um aumento no diâmetro da pupila.
Este bloqueio não causa nenhum prejuízo visual já que a radiação
ultravioleta está numa faixa de comprimento de onda menor do que aquela capaz de
ser processada pelo olho humano.
Por outro lado, os gráficos das amostras coletadas nas três praias mostraram
uma condutância para radiações eletromagnéticas com comprimentos de onda
compreendidos entre 100 e 400nm próxima dos 100%, o que significa que as lentes
dessas amostras não foram capazes de impedir a passagem da radiação ultravioleta.
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Indivíduos que viessem a utilizar esses óculos solares estariam ainda mais
expostos aos danos induzidos pela radiação ultravioleta – alguns dos quais são
brevemente descritos neste trabalho – do que os indivíduos que não utilizam
nenhuma forma de proteção uma vez que estes óculos solares somente diminuem a
quantidade de luz visível que chega até os olhos, provocando um aumento no
diâmetro da pupila, mas não impedem a passagem da radiação ultravioleta que entra
em maior quantidade pelo aumentado diâmetro dessa estrutura.
6.CONCLUSÃO
As amostras coletadas no período de 06 a 08 de outubro de 2006 nas três
praias citadas mostraram-se incapazes de oferecer proteção contra a radiação
ultravioleta o que torna seu uso nocivo aos olhos.
As amostras coletadas na Carl Zeiss Vision que possuíam o selo de proteção
contra a radiação UV mostraram eficiente proteção contra essa radiação.
Ao comprar óculos solares, deve-se procurar aqueles fornecidos por fontes
confiáveis pois, como já foi analisado, nem todos possuem a propriedade de bloquear os
raios ultravioletas como deveriam.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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