Implantação de sistema de gestão de gestão de custos no Hospital Regional
Prefeito Walfrido Monteiro Sobrinho, no município de Icó-Ceara.
Maria da Conceição Moreira Medeiros¹, Luciana Barreto Araújo² e Maíra Barroso
Pereira
Resumo
A Lei Federal nº 101/2000, denominada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), obriga
as entidades públicas a manterem um sistema de custos que permita a avaliação e o
acompanhamento da gestão orçamentária, financeira e patrimonial. Alguns órgãos da
administração pública procuraram implantar, implementar e/ou consolidar modelos
tecnológicos administrativos econômicos e/ou operacionais, consentâneos às tendências
atuais. No entanto,observa-se que, em algumas entidades públicas, não há
monitoramento adequado de custos, conforme preconiza as diretrizes da LRF.
Identificou-se que o Hospital Regional Prefeito Walfrido Monteiro Sobrinho, situado no
município de Ico, estado do Ceará, não dispõe de um sistema de custos para
monitoramento que avaliação das despesas com saúde no âmbito hospitalar, centrando o
foco de suas atividades no desembolso financeiro e nos procedimentos formais. Trata-se
de um projeto de intervenção a ser implantado no Hospital Regional Walfrido Monteiro
Sobrinho, com o objetivo de otimizar aspectos de planejamento, controle,
economicidade e objetividade; aprimorar o processo de planejamento com detalhamento
dos custos totais de cada serviço disponibilizado, onde os recursos seriam melhor
utilizados; controle da economicidade das operações avaliando a eficácia destas,
propiciando subsídio ao processo de tomada de decisões, identificação de desperdícios,
racionalização de custos entre outros; a avaliação, simulação e análise das alternativas,
visando otimizar os processos de atividades de elaboração dos serviços ofertados. Para
isso, estruturaremos a matriz e utilizaremos o “Sistema Integrado de Custos em Saúde
(SICSWEB)”, desenvolvido pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA-CE),
que apura os custos e que pode ser aplicado a qualquer unidade ambulatorial e
hospitalar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Palavras-chave: Sistema de custos; Lei de Responsabilidade Fiscal; Hospital Regional
Prefeito Walfrido Monteiro Sobrinho; Gestão de recursos.
Abstrat
The Law Federal no. 101/2000, denominated Law of Fiscal Responsibility (LRF),
he/she forces the public entities maintain her/it a system of costs that allows the
evaluation and the attendance of the administration budget, financial and patrimonial.
Some organs of the public administration tried to implant, to implement and/or to
consolidate administrative technological models economical and/or operational,
consentâneos to the current tendencies. In the entanto,observa-if that, in some public
entities, there is no appropriate monitoramento of costs, as it extols the guidelines of
LRF. He/she identified that the Hospital Regional Mayor Walfrido Monteiro Sobrinho,
located in the municipal district of I Hoist, state of Ceará, doesn't have a system of costs
for monitoramento that evaluation of the expenses with health in the extent hospitalar,
centering the focus of suas activities in the financial payment and in the formal
procedures. It is treated from an intervention project to be implanted at the Hospital
Regional Mayor Walfrido Monteiro Sobrinho, the objective of optimizing planning
aspects, control, economicidade and objectivity; to perfect the planning process with
detalhamento of the total costs of each made available service, where the resources
would be used better; control of the economicidade of the operations evaluating the
effectiveness of these, propitiating subsidy to the process of socket of decisions,
identification of wastes, rationalization of costs among others; the evaluation,
simulation and analysis of the alternatives, seeking to optimize the processes of
activities of elaboration of the presented services. For that, we will structure the head
office and we will use the Integrated "System of Costs in Health (SICSWEB) ",
developed by the General office of Health of the State of Ceará (SESA-CE), that it
cleans the costs and that the can be applied any unit ambulatorial and hospitalar in the
extent of the Unique system of Health (SUS).
Word-key: System of costs, Law of Fiscal Responsibility, Hospital Regional Mayor
Walfrido Monteiro Sobrinho, Administration of resources.
1 Introdução
Atualmente, constatam-se grandes avanços no controle dos gastos públicos.
Um exemplo disso é a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) (Lei Federal nº.
101/2000), que obriga, em seu artigo 50 parágrafo 3º, as entidades públicas a manterem
um sistema de custos que permita a avaliação e o acompanhamento da gestão
orçamentária, financeira e patrimonial. Neste contexto, alguns órgãos da administração
pública já começam a se movimentar procurando implantar, implementar e/ou
consolidar modelos tecnológicos, administrativos, econômicos e/ou operacionais,
consentâneos às tendências atuais (BRASIL, 2000).
No entanto, falta ainda em algumas entidades públicas uma preocupação
maior com seus custos, devido ao fato de que, a primeira vista, parece desnecessário
apurá-los quando o fundamental neste setor é o cumprimento da LRF. Adota-se a
premissa de que cumprindo a Lei o serviço público é eficaz. “Eficiência é um conceito
privado”, portanto, estranho ao setor público nesse município. Este vem sendo o seu
paradigma. Não faz parte da cultura do serviço público a consciência de que não basta
cumprir a lei, mas que é necessário cumpri-la com bom desempenho, com economia de
recursos e com a satisfação dos usuários dos serviços públicos (NUNES, 1998).
No Hospital Regional Prefeito Walfrido Monteiro Sobrinho, situado no
município de Icó, estado do Ceará, não existe um sistema de custos, pois não faz parte
da cultura de gestão desta instituição, que é publica, a avaliação dos custos. Outro
problema observado, que justifica a inexistência de um sistema de custos nesse hospital,
é a dificuldade de realizar planejamento e organizar o serviço. O controle é focado
muito mais no desembolso financeiro e nos procedimentos formais do que no custo
propriamente dito do serviço público ofertado ao cidadão, muito embora a Secretaria de
Finanças do Município de Icó possua um sistema de contabilidade informatizado.
Ademais, a ausência de um sistema de custos, no Hospital Regional de Icó,
impossibilita um nível de informações mais precisas e detalhadas, que possa ser
utilizado gerencialmente para a tomada de decisões; um detalhamento dos custos por
procedimentos, a fim de gerar informações necessárias das ações ao controle social;
uma análise criteriosa por procedimentos ou tipos de pacientes que agregam valor e
quais não agregam valor que possam direcionar ações viáveis de redução de custos
principalmente nos atendimentos menos rentáveis; uma identificação dos principais
geradores e consumidores das despesas; entre outras.
Assim sendo, a alocação dos recursos públicos torna-se, na maioria das
vezes, ineficiente, fazendo com que os mesmos sejam gastos em excesso ou
contingenciados onde não há margem para tanto, divorciando-se, consequentemente, do
interesse público presente. Além do que a ausência de um sistema de custos é um dos
fatores impeditivos para avaliação da eficiência, que é o conceito econômico derivado
da escassez de recursos que visa à produção de bens e serviços valorizados pela
sociedade ao menor custo social possível; da eficácia, que é a medida dos resultados ou
consequências decorrentes de uma tecnologia sanitária, quando utilizada em situações
ideais ou experimentais; e da efetividade, que é a medida dos resultados ou
consequências decorrentes de uma tecnologia sanitária, quando utilizada em situações
reais ou habituais de uso (BRASIL, 2008).
As informações sobre custos, que é um precioso recurso deve sinalizar a
tomada de decisões estratégicas, é fundamental para os gestores em qualquer
organização hospitalar; não somente nas privadas, quando pensamos na concorrência e
lucro, como também nas publicas, para utilização eficiente dos recursos e produção de
serviços de qualidade.
Evidenciada a obrigatoriedade da utilização do sistema de custos pela Lei, a
escassez dos recursos recebidos, a falta de um sistema de planejamento, controle,
detalhamento dos custos e importância dessa inovação, no suprimento da deficiência da
informação gerencial, sentimos a necessidade de intervir na implantação de um
“Sistema de Custos no Hospital Regional de Icó”, que poderá trazer significativos
benefícios àquela instituição, dentre os quais podemos destacar:
A otimização dos aspectos de planejamento, controle, economicidade e
objetividade;
 A melhoria do processo de planejamento, ou seja, com detalhamento dos custos
totais de cada serviço disponibilizado, onde os recursos seriam melhor utilizados;
O controle da economicidade das operações avaliando a eficácia destas,
propiciando subsídio ao processo de tomada de decisões, identificação de desperdícios,
racionalização de custos entre outros;
Avaliação, simulação e análise das alternativas, visando otimizar os processos de
atividades de elaboração dos serviços ofertados.
O sistema escolhido foi o Sistema Integrado de Custos em Saúde
(SICSWEB), desenvolvido pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA-CE),
que já vem sendo operacionalizado em unidades gerenciadas pela SESA e implantado
em alguns Hospitais Pólo de Atenção Secundária tendo como objetivo “apurar os custos e
que pode ser aplicado a qualquer unidade ambulatorial e hospitalar no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS)”.
2 Objetivos
2.1 Objetivo Geral
Implantar o Sistema Integrado de Custos em Saúde - SICS/WEB no Hospital Regional
Prefeito Walfrido Monteiro Sobrinho, no município de Icó, estado do Ceará.
2.2 Objetivos Específicos
Sensibilizar os gestores, os profissionais de saúde e do setor administrativo da
importância da implantação do SICS/WEB;
Buscar
parceria,
junto
à
SESA-CE,
para
implantação,
instalação
e
operacionalização do SICS/WEB;
Instalar e operacionalizar o funcionamento do SICS/WEB;
Capacitar os gestores e técnicos responsáveis por áreas de atuação, para
operacionalização do SICS/WEB, bem como na utilização dos relatórios obtidos através
do sistema.
3 Revisão da literatura
3.1.1 Custos e Centros de Custo
Dentro de qualquer organização, no processo de tomada de decisões,
existem ferramentas que auxiliam os gestores a tornar as organizações mais
competitivas em seu segmento de atuação. O sistema de custos, no ponto de vista de
Perez Júnior (2001), é uma ferramenta que fornece informações sobre a estrutura de
custos das organizações.
Trata-se de uma ferramenta que pode ser utilizada no âmbito interno de uma
organização nos níveis: estratégico, tático e operacional. No nível operacional ocorre a
coleta dos dados, no tático a diferenciação e classificação destes dados, transformandoos em nformações que provavelmente serão utilizadas pelo nível estratégico para a tomada
de decisões estratégicas como: decidir qual o melhor mix de produtos, cortar ou não um
produto, controle ou redução dos custos.
O sistema de custos é um sistema que coleta, classifica e organiza os dados
referentes aos custos dos produtos ou serviços, assim transformando-os em
informações. Confirmando este conceito, Martins comenta que “O sistema representa
um conduto que recolhe dados em diversos pontos, processa-os e emite, com base neles,
relatórios na outra extremidade” (MARTINS, 2001).
Complementando o conceito de sistema de custos, Crepaldi (2004) o define
como um sistema capaz de gerenciar os custos e monitorar o desempenho. As empresas
mais expressivas e competitivas do mercado estão utilizando sistemas de custeio para
diversas finalidades como:
• projetar produtos e serviços que correspondam às expectativas dos clientes
e possam ser produzidos e oferecidos com lucro;
• sinalizar onde é necessário realizar aprimoramentos contínuos e
descontínuos em qualidade, eficiência e rapidez;
• auxiliar os funcionários ligados à produção nas atividades de aprendizado
e aprimoramento contínuo;
• orientar o mix de produtos e decidir sobre investimentos;
• escolher fornecedores;
• negociar preços, características dos produtos, qualidade, entrega e serviço
com clientes;
• estruturar processos eficientes e eficazes de distribuição e serviços para os
mercados e público-alvo (CREPALDI, 2004).
Em decorrência da preocupação na utilização das informações como
instrumentos de planejamento, controle e tomada de decisões, os sistemas de custos,
segundo Matos (2002), “assume especial relevância como subsídio à complexa gestão
dos recursos das empresas do segmento saúde”.
Um sistema de custo hospitalar deve “oferecer informações que permitam
aos gestores condições de melhorias nas funções de planejamento e controle das
operações” afirma que a “organização hospitalar terá sucesso se souber determinar o
que o paciente necessita e oferecer serviços médicos que satisfaçam a essas
necessidades” (MARTINS, 2002).
A maioria das instituições no Brasil utiliza métodos contábeis tradicionais,
que não levam ao conhecimento de seus custos reais, ou seja, não fazem uso de sistema
de custos que orienta e ofereça parâmetros para suas decisões administrativas e para o
controle de suas atividades.
Para o Programa Nacional de Gestão de Custos (PNGC), de 2006, o
objetivo básico da contabilidade de custos está relacionado com a relevância das
informações prestadas aos gestores. Estas devem ser relevantes a fim de fornecerem
dados que permitam a decisão acertada no processo gerencial, como: calcular os custos
dos serviços prestados, relacionados à atividade produtiva; fornecer, a todos os setores
da instituição, informação referente a seus recursos, independente da natureza
produtiva; subsidiar a tomada de decisão, a definição orçamentária, a política de
investimentos e planejamento das atividades operacionais; possibilitar a troca de
informações e a comparação de resultados entre instituições; facilitar a identificação de
atividades inerentes na aplicação de recursos e/ou troca na prática organizacional;
realizar prestação de contas, visando maior transparência ao controle social.
A gestão de custos auxilia as instituições hospitalares no levantamento das
informações necessárias para o alcance da excelência no atendimento. A criação do
PNGC, por parte do poder público, torna evidente a importância dada aos sistemas de
custos em todas as unidades hospitalares geridas pelo poder publico, nas suas três
esferas (União, Estado e Municípios).
A implantação de um sistema de custos deve ser feita de maneira gradativa,
levando em conta que a qualidade das informações geradas vai depender da qualidade
do pessoal envolvido na alimentação e seu processamento (MARTINS, 2003).
Completa o autor, que a implantação de um sistema de custos deve ser feita de maneira
progressiva e a melhoria da qualidade das informações será acompanhada
gradualmente, levando em consideração a qualidade do pessoal envolvido no
processamento e a necessidade da informação do usuário final. O sistema deverá
contemplar e adequar-se às necessidades específicas de cada organização (SOTHE, et
al. 2010).
3.1.2 Sistema de Custeio por Absorção
Para Martins (2003), a definição do sistema de custeio por absorção consiste
na apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados, todos os gastos
relativos ao esforço de fabricação são distribuidos para todos os produtos ou serviços
produzidos. O custeio por absorção tem sido um método de gestão de custos largamente
usados nos hospitais.
O hospital ou serviço de saúde pode ser entendido como um conjunto de
centros de custo, interligados por um determinado processo de trabalho, que produzem
bens e serviços de saúde. Os centros de custos, por sua vez, podem ser classificados por
sua natureza em:
- centros de custos diretos: são aqueles que produzem serviços de saúde, como o centro
de terapia intensiva, centro cirúrgico, as diversas clínicas médicas (pediatria,
gastroenterologia, geriatria, ginecologia e obstetrícia, etc.). Em geral, esses centros
produzem serviços finais, embora possam também produzir serviços intermediários para
outros centros de custo direto;
- centros de custos indiretos: são aqueles que produzem bens/serviços consumidos
internamente por todos ou quase todos os centros de custo de um estabelecimento de
saúde. Gastos com administração geral do estabelecimento, serviços de limpeza, energia
elétrica, transporte, impostos, informática, etc.
- centros de custo de apoio ou produtivos: são aqueles que produzem bens/serviços,
representados pelas unidades de produção do Hospital, visto que prestam serviços aos
pacientes e recebem uma remuneração por estes; que apoiam a atividade diagnóstica e
terapêutica dos centros de custos diretos. Como exemplo tem-se a cozinha (refeição
para doentes), lavanderia, a preparação de kits cirúrgicos, gases medicinais, centros de
imagens, laboratório de analises clínicas etc. Em geral, os produtos desses centros de
custo são de fácil apropriação pelos centros de custos diretos (MEDICI; MARQUES,
1996).
Os sistemas de custeio por absorção são a base para o estabelecimento de
outros sistemas de levantamento de custos.
3.1.3 Custeio por Procedimento
Segundo Silva (2011):
Os sistemas de custeio por procedimento são aqueles associados
imediatamente a uma determinada intervenção médica ou cirúrgica.
Em geral, elas estão associadas a um determinado centro de custo,
sendo, dessa forma relativamente fácil o seu levantamento. O ponto de
partida é a criação de uma classificação e codificação dos
procedimentos e o conhecimento dos seus insumos e componentes na
medida em que o próprio procedimento pode ser considerado um
produto.
O estabelecimento por sistema de custeio por procedimento exige que cada
centro de custo conheça e apresente, de forma mais detalhada, os produtos ou
procedimentos realizados. Assim, é possível ter uma planilha de custos associados a
cada procedimento.
Esse tipo de sistema permite ainda estimar análises custo-benefício de
procedimentos alternativos associados a um mesmo diagnóstico, propiciando a escolha
da técnica ou procedimento mais custo-efetivo. Pode ser, portanto, uma poderosa
ferramenta para análise econômica em saúde.
3.1.4 Custeio Baseado em Atividades – ABC
O sistema de custeio ABC permite melhor visualização dos custos por meio
da análise das atividades executadas dentro da instituição e suas respectivas relações
com os objetos de custos. O princípio básico deste sistema é tornar direto o maior
número possível de custos proporcionais e não proporcionais, por meio de
direcionadores de custos.
Silva (2004) acrescenta custo como o valor de todos os recursos utilizados
na produção e distribuição de bens e serviços. Os custos em saúde podem ser
classificados em diretos e indiretos; fixos e variáveis; visíveis e invisíveis.
Os custos fixos são aqueles não passíveis de alteração a curto prazo, pelo
fato de serem independentes do volume de produção (por exemplo, rendas, gastos com
capital etc.), enquanto os custos variáveis são custos cuja dimensão depende do volume
de produção, por exemplo, aprovisionamento, pagamento ao ato (à vista), alimentação
etc.
Para Silva (2004), custos diretos:
São aqueles diretamente incorridos na provisão de relevantes serviços
de saúde (“screening”, diagnóstico e tratamento etc.) e os atribuíveis
de alguns serviços sociais. Os custos diretos visíveis são tais custos
incorridos e “visíveis” nos orçamentos de serviços formais de saúde.
Os custos diretos invisíveis são os custos correspondentes de serviços
de saúde fornecidos sem pagamento ou pagos informalmente por
familiares dos pacientes, organizações voluntárias etc.
Ainda para Silva (2004), custos indiretos:
São aqueles oriundos indiretamente das consequências de condições
particulares, doenças e suas sequelas, morte, morbidade, função
reduzida etc. Os custos indiretos visíveis são principalmente medidos
em termos de perdas de produção econômica (ou possibilidade de
consumo) e normalmente incluem valores imputados a produtos não
comercializáveis (fora do mercado), como os serviços domésticos ou
agricultura de subsistência. Os custos indiretos invisíveis são
largamente subjetivos – “intangíveis”, tais como os custos de reações
psíquicas como dor, desconforto, ansiedade, estigma etc. que são
difíceis de calcular mais que, não obstante, podem ter valores
implícitos e, em algumas situações, pode ser possível deduzir
aquelas de real decisão.
3.2 Sistema Integrado de Custos em Saúde – SICS/WEB
O Sistema Integrado de Custos em Saúde – SICS/WEB, utilizado pela
Secretaria de Saúde (SESA) surgiu da deficiência de informações confiáveis quanto aos
custos dos serviços produzidos em hospitais e unidades assistenciais gerenciadas pela
SESA, desenvolvido a partir de um sistema cedido pelo Professor Ricardo Regis
Saunders Duarte da Universidade Federal do Ceará, que disponibilizou seus achados
para serem incorporados à Secretaria, no entanto só o modelo não eram suficiente, havia
ainda a necessidade de que fosse desenvolvido um software que possibilitasse a
operacionalização desse modelo por parte das unidades hospitalares e ambulatoriais.
De 2002 a 2006, o Núcleo de Economia da Saúde (NUCONS) participando
do Projeto Economia da Saúde financiado pelo Departament for International
Development (DFID) do Reino Unido, de responsabilidade do Ministério da Saúde,
apresentou e aprovou, dentre outros projetos de interesse do SUS-CE, um projeto de
implantação de Sistema de Custos, utilizando a matriz de insumo-produto, cuja
adaptação da matriz de insumo-produto de Leontief para o ambiente hospitalar foi
realizada pelo professor da UFC (SILVA, 2011).
O projeto piloto aconteceu entre 2003 e 2005, tendo como estratégia o
desenvolvimento do software pelo setor de informática da SESA e, concomitantemente
aplicado em algumas unidades, dentre elas o Hospital São José de Doenças Infecciosas,
os hospitais-pólo para atenção secundária São Vicente de Paula na Região de Itapipoca
e o São Francisco na Região de Canindé, no Centro de Hematologia e Hemoterapia
(HEMOCE) e Laboratório de Saúde Pública (LACEN), todos gerenciados pela SESA
(SILVA, 2011).
O software foi implementado com tecnologias contempladas com licença
Open-source (Código aberto) e voltado para Internet sendo centralizado em um servidor
de aplicação (Apache Tomcat). A centralização do mesmo facilita a manutenção e
replicação para as unidades que o utilizam. As tecnologias envolvidas nos projetos são:
a base de dados PostgreSQL para armazenamento das informações e Java na plataforma
JEE (Java Enterprise Edition) para desenvolvimento da camada da programação
(SILVA, 2011).
O software é composto, basicamente, por telas de cadastros dos centros de
custos e de despesas, e configuração dos centros de custos e despesas em formato
matricial. Produz relatórios por centros de custo analítico e sintético, por despesa
analítica e sintética, além dos relatórios comparativos dos custos unitários diretos e
finais junto à produção (SILVA, 2011).
Esse programa foi desenvolvido a partir do levantamento dos dados mensais
necessários ao preenchimento das duas matrizes de gastos efetivos mensais e de
interrelações, executando todas a checagens nas totalizações para montagem das duas
tabelas, assim como o resultado final (SILVA, 2011).
É importante salientar que o software é disponível via Internet, isto é,
dependente da conexão para acesso e disponibilidade de dados.
Sendo um procedimento padronizado se tem a oportunidade de verificar o
comportamento dos custos em diferentes ocasiões e situações distintas dadas a
peculiaridade e característica de cada unidade, possibilitando um estudo mais
aprimorado, podendo ainda auxiliar na tomada de decisões administrativa e gerencial.
4 PLANO DE IMPLEMENTAÇÃO
Uma intervenção é constituída pelo conjunto de meios (físicos, humanos e
financeiros) organizados em um contexto específico, em dado momento, para produzir
bens ou serviços com o objetivo de modificar uma situação problema. Uma intervenção
é caracterizada, portanto, por cinco componentes: objetivos, recursos, serviços, bens ou
atividades, efeitos e contexto preciso em um dado momento.
O Projeto de Intervenção: Implantação de Sistema de Gestão de Custos no
Hospital Regional Prefeito Walfrido Monteiro Sobrinho, no município de Icó - Ceará,
desenvolvido durante o Curso de Especialização em Gestão e Economia Saúde,
promovido pela Escola de Saúde Pública do Ceará é, então, o planejamento de todo o
processo da intervenção, para que esta seja realmente executada e monitorada pelo autor
do trabalho.
4.1 Cenário da Intervenção
O Hospital Regional, sediado no município de Icó, estado do Ceará, é uma
Entidade Pública de referência para média complexidade nas Clínicas Cirúrgica,
Traumato-Ortopédica, Obstétrica e Pediátrica, da 17ª. Região de Saúde, composta pelos
Municípios de Baixio, Cedro, Icó, Ipaumirim, Lavras da Mangabeira, Orós e Umari,
além disso, é responsável pelo atendimento clínico à população do município sede. Os
atendimentos são realizados através do sistema de referência e urgência/emergência,
atendendo também aos procedimentos de Raio X, Eletrocardiograma e Ultrassonografia,
de acordo com a Programação Pactuada e Integrada (PPI) de cada um dos municípios,
garantindo o atendimento 24 horas.
Possui uma capacidade instalada de 51 leitos, sendo que destes, 24 são
destinados à clínica médica e 25 para a clínica cirúrgica e Traumato-Ortopédica e 03
para a clínica pediátrica. Os profissionais que prestam serviços a essa instituição como
médicos, enfermeiros e técnico em enfermagem e radiologia trabalham em regime de
plantão de 12 horas.
4.2 Sujeitos da Intervenção
Os sujeitos da intervenção serão os gestores e funcionários do Hospital
Regional de Icó que estão lotados nos seguintes núcleos: administrativo, composto de
todos os setores que participam de atividades gerenciais e decisórias da Instituição; os
de produção, onde estão inseridos os setores que de uma forma ou de outra servem de
apoio para que a estrutura produtiva geradora de receita funcione; e por último os
produtivos, que concentrarão todos os setores que efetivamente realizam as atividades
de prestação de serviços e assistência. Especificamente, os diretores clínico,
administrativo de enfermagem e com os técnicos responsáveis pelos setores.
4.3 Plano da Implementação
A intervenção será realizada em quatro eixos, sendo elaborada uma
estratégia para cada objetivo específico. Cada eixo apresenta uma etapa da intervenção e
a sua totalidade contribuirá para a resolução geral do problema. As estratégias
constituem a base do projeto, sendo, portanto, um conjunto de mini-intervenções que
juntas reduzem, controlam ou eliminam o problema.
4.4 Estratégias e atividades da Intervenção
Tendo em vista as dificuldades de incorporação de um novo processo de
trabalho, que surgem por parte do pessoal interno, principalmente aqueles diretamente
envolvidos com o sistema, bem como o custo de implantação e funcionamento do
mesmo, é fácil verificar que a implantação deve normalmente ser gradativa. Onde antes
nunca houve sistemas formais de capacitação de dados, há que se começar com o
mínimo.
Uma estratégia importante é iniciar pela motivação junto aos gestores e
pessoal mostrando, pelo menos aos diretores o que é o sistema global. O que ele
pretende fazer, como serão reunidas as informações, etc. Deve-se incutir o grau de
importância que um pequeno número trará no funcionamento do esquema inteiro e
como é importante lhe ser dada a devida atenção. E, se possível, tentar convencê-lo de
quais benefícios poderão advir para ele do próprio sistema.
Para a criação dos centros e implantação do sistema de custos serão
necessárias algumas observações como: avaliação interna do nível organizacional do
Hospital; sensibilização dos gestores (prefeito municipal, secretário de saúde diretor
clínico e diretor administrativo) para a importância do projeto; levantamento minucioso
de todas as rotinas administrativas, ou seja, levantamento total dos custos e despesas
totais do hospital, por exemplo, pessoal, energia elétrica, água e esgoto, telefone,
manutenção de equipamentos e instalações, materiais de consumo e medicamentos
gerais, buscar parceria junto à Secretaria de Saúde; criar e identificar os centros de
custos; implantar o sistema de custos; capacitar gestores e técnicos do Hospital
Regional de Icó, para operacionalização do SICS e SICS/Web.
4.4.1 EIXO 1 DA INTERVENÇÃO
- ESTRATÉGIA 1
Sensibilização dos gestores, profissionais de saúde e do setor administrativo
da importância da implantação do SICS/WEB.
- ATIVIDADES:
Atividade 1 – Realizar oficina de sensibilização com os diretores clínico, administrativo
de enfermagem e com os técnicos responsáveis pelos setores, para familiarizá-los com
alguns conceitos sobre custos, sobre a importância do sistema para o Hospital e prestar
esclarecimentos sobre o método e funcionamento do sistema. 26
Atividade 2 – Elaborar diagnóstico com o objetivo de identificar os fluxos e processos
das atividades de cada setor para a classificação dos centros de custo.
Atividade 3 – Definir os centros de custos.
4.4.2. EIXO 2 DA INTERVENÇÃO
- ESTRATÉGIA 2
Articular junto ao Núcleo de Economia da Saúde da Secretaria de Estado da
Saúde – NUCONS/SESA, com o objetivo de buscar parceria para implantação,
instalação e operacionalização do SICS/WEB.
- ATIVIDADES
Atividade 1 – Articular, junto ao NUCONS/SESA, a liberação do SICS/WEB, para
instalação e implantação no Hospital Regional Prefeito Walfrido Monteiro Sobrinho.
Atividade 2 – Identificar o nível de organização interna (informatização) para os centros
de custos.
Atividade 3 – Buscar parceria com a Secretaria de Saúde do Município de Icó para
informatização dos setores chave.
Atividade 4 – Solicitar ao NUCONS/SESA a liberação do Manual de Custos para
operacionalização do sistema.
4.4.3 EIXO 3 DA INTERVENÇÃO
- ESTRATÉGIA 3
Instalação e operacionalização do SICS/WEB.
- ATIVIDADES
Atividade 1. Identificar os equipamentos para instalação e operacionalização do
SICS/WEB.
Atividade 2. Agendar com o NUCONS/SESA a liberação de técnicos para instalar e
orientar na operacionalização do sistema.
4.4.4 EIXO 4 DA INTERVENÇÃO
- ESTRATÉGIA 4
Capacitação dos gestores e técnicos responsáveis por cada setor para
operacionalização do SICS/WEB, bem como na utilização dos relatórios obtidos através
do sistema.
- ATIVIDADES
Atividade 1- Treinar as pessoas chaves, como diretores clínico, administrativo, de
enfermagem e técnicos responsáveis pelos setores de pessoal, almoxarifado, farmácia,
nutrição, lavanderia, manutenção, produção, etc.
Resultados:
Sensibilização dos gestores para a importância da implantação do
SICS/Web.
Articulação junto ao Núcleo de Economia da Saúde da Secretaria de Estado
da Saúde NUCONS/SESA, com o objetivo de buscar parceria para implantação,
instalação e operacionalização do SICS/WEB, que resultou na disponibilização de duas
técnicas para implantação e acompanhamento do sistema. Posteriormente ocorreu a
instalação e operacionalização e do SICS/WEB.
Capacitação da equipe: diretores geral, administrativo e de enfermagem,
assim como os técnicos responsáveis por cada clínica e setores para operacionalização
do SICS/Web, bem como na utilização dos relatórios obtidos através do sistema.
Conclusões:
Uma das principais conclusões foi que para um sistema de custos ser um
instrumento estratégico de gestão, há necessidade de se desenvolver na instituição a
cultura de utilização das informações no cotidiano por aqueles que produzem os custos
e seus dirigentes. A implantação do SICS revelou também o interesse dos gestores dos
hospitais por outros sistemas de informações, mas principalmente por um sistema único
de gestão hospital integrado, que contemplaria não só o sistema de gestão de custos,
mas subsistemas que tratam da gestão de pacientes, gestão clínica, diagnóstico e terapia,
gestão de materiais, financeira, recursos humanos, nutrição, manutenção e outros,
segundo as necessidades da instituição.
REFERÊNCIAS
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de finanças públicas voltada para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras
providências.
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Brasília, DF, 2008.
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Paulo: Atlas, 2004.
KASPCZAK, M. C. M.; SCANDELARY, L.; FRANCISCO, A. C. de Sistema de
custos: importância para tomadas de decisões. In: 2º Encontro de Engenharia e
Tecnologia dos Campos Gerais, 2009. UTFPR, Curitiba, 2009. P. 3-4.
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ICO. Prefeitura Municipal de
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