CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA E GEOFÍSICA MARINHA - MESTRADO PRH-11 GUISELA SANTIAGO GROSSMANN PROCESSAMENTO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS SÍSMICOS DE PARASOUND NO DELTA SUBMARINO DO AMAZONAS NITERÓI 2002 GUISELA SANTIAGO GROSSMANN PROCESSAMENTO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS SÍSMICOS DE PARASOUND NO DELTA SUBMARINO DO AMAZONAS Dissertação apresentada ao programa de PósGraduação em Geologia e Geofísica Marinha da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.). Área de concentração: geologia e geofísica marinha BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. Alberto Garcia Figueiredo Jr. - Orientador Lagemar/UFF Dr. Jurandyr Schmidt - Orientador Petrobrás MSc. Paulo Roberto Maldonado Petrobrás Dra. Isa Brehme (Suplente) Lagemar/UFF ii FICHA CATALOGRÁFICA GROSSAMNN, GUISELA SANTIAGO PROCESSAMENTO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS SÍSMICOS DE PARASOUND NO DELTA SUBMARINO DO AMAZONAS Niterói, RJ - Universidade Federal Fluminense - UFF, Instituto de Geociências, Departamento de Geologia, Lagemar, 2002 Dissertação de Mestrado em Geologia e Geofísica Marinha 1. Delta Submarino do Amazonas 2. Gás Metano 3. Processamento Sísmico 4. Interpretação Sísmica I. Universidade Federal Fluminense - Instituto de Geociências - Departamento de Geologia II. Processamento e Interpretação de dados sísmicos de Parasound no delta submarino do Amazonas iii Ao meu marido e aos meus pais iv RESUMO O delta submarino do Amazonas é a principal feição geológica da Plataforma Continental Amazônica e é influenciado por diversos fatores oceanográficos e meteorológicos como a forte amplitude das marés, a Corrente Norte Brasileira e os ve ntos alíseos, e, principalmente, pela descarga do rio Amazonas. A construção do delta e a distribuição sedimentar tem sido influenciada por estes fatores ao longo do tempo e para investigar estes aspectos, foram utilizados registros de sísmica rasa de alta resolução e testemunhos de sedimento. O principal enfoque da pesquisa consistiu no processamento e na interpretação de dados de sísmica Parasound, para o qual ainda não há uma classificação específica para os tipos de eco. Os dados sísmicos foram processados utilizando-se dois softwares, o SENT da Universidade de Bremen (Alemanha) e o SEISMIC UNIX (SU) do Center for Waver Phenomena da Colorado School of Mines (Estados Unidos). Em uma primeira etapa foi feita uma filtragem de freqüências aplicando-se filtros passa-banda para se eliminar os ruídos e melhorar a visualização do sinal sísmico. Foram confeccionados espectros de amplitude do sinal para se checar a atenuação do sinal em áreas com presença de gás disperso no sedimento. Após a etapa do processamento foi realizada a interpretação dos perfis com a utilização de dados de análise granulométrica do sedimento e dos espectros de amplitude. Foram interpretados dez perfis, sendo três perpendiculares a linha de costa e o restante paralelos. A interpretação v destes perfis permitiu o mapeamento das zonas com presença de gás, caracterização das feições geológicas e distinção dos diferentes tipos de caráter de eco. vi ABSTRACT Amazon submarine delta is the main feature of the Amazon shelf. This area is influenced by several energetic forces, such as the large tidal amplitudes, the North Brazilian Current, the Trade Winds and specially by the enormous water discharge from the Amazon River. The delta construction and the sedimentary distribution have been influenced by this factors during the geologic time. In order to understand these aspects, high resolution shallow seismic and sediment cores were used. The main focus of this research was seismic processing and interpretation of Parasound data to which no echo-character classification was yet established. Data was processed using two softwares, SENT of Bremen University and Seismic Unix (SU) of Center for Wave Phenomena of Colorado School of Mines. At the first stage “pass-band” filters were applied in order to reduce noise and improve the quality of seismic signal. Amplitude spectra were constructed to check the signal attenuation when gas is present in sediment. Profile interpretation was based on sediment grain-size analyses and spectra amplitude. Ten profiles were interpreted, being three of them perpendicular to the coast and others parallel. Interpretation allowed location of gas charged sediment, characterization of geologic features and distinction of echo character. vii SUMÁRIO RESUMO …..………………………………………………………………….....… V ABSTRACT ………………………………………………………..………………VII AGRADECIMENTOS ………………………………………….………………….. X ÍNDICE DE FIGURAS ………………………………………..………..………… XI ÍNDICE DE TABELAS ………………………………………….…….………… XIII 1.INTRODUÇÃO ……………………………………...…………………………… 1 2. ÁREA DE ESTUDO ……………………………………………………….……..4 2.1. Evolução geológica e estratigrafia...…………………………………6 2.2. Fatores oceanográficos e meteorológicos atuantes ……………... 9 2.3. Sedimentologia e geomorfologia …………………………………..12 3. METODOLOGIA ………………………………………………………………..15 3.1. O sistema de Ecossonda Parasound……………………………….17 4. PROCESSAMENTO SÍSMICO ……………………………………………… 19 4.1. Aplicação de filtros …………………………………………………...21 4.2. Atenuação do sinal sísmico …………………………………………25 5. CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE CARÁTER DE ECO …………….…28 6. OCORRÊNCIAS DE GÁS METANO …………………………………………31 7. DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS PERFIS SÍSMICOS………....…36 7.1. Perfil A …………………………………………………………………36 7.2. Perfil B …………………………………………………………………38 7.3. Perfil C …………………………………………………………………42 7.4. Perfil D …………………………………………………………………47 7.5. Perfil E …………………………………………………………………49 viii 7.6. Perfil F …………………………………………………………………52 7.7. Perfil G ………………………………………………………………...54 7.8. Perfil H …………………………………………………………………57 7.9. Perfil I ………………………………………………………………….63 7.10. Perfil J ………………………………………………………………..67 8. CONCLUSÕES …………………………………………….…………………...70 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………...……………………….…..72 ANEXOS ………………………………………………………………………….. 78 ix AGRADECIMENTOS Antes de tudo agradeço à Deus, a estrela que sempre ilumina meu caminho. Ao meu marido, Philip Matheson, por estar sempre ao meu lado me dando apoio desde o início do mestrado. Aos meus pais, minhas irmãs e à tante Rose por acreditarem no meu potencial e por estarem sempre torcendo para a minha realização profissional. Aos meus orientadores Alberto Figueiredo e Jurandyr Schimdt pelos dois ótimos anos de convivência, aprendizado e amadurecimento profissional e, é claro, pela orientação e dedicação. À Universidade Federal Fluminense, ao LAGEMAR e à ANP por tornarem possível a realização deste trabalho. Aos colegas e professores do LAGEMAR por me proporcionarem sempre um ótimo ambiente de trabalho. Ao Hanno Von Lom (Universidade de Bremen) pela ajuda no processamento dos dados à bordo do Meteor. Aos colegas da Universidade de Bremen, à tripulação do Meteor e às amigas Sandrinha e Lú por todos os momentos de descontração à bordo do Meteor. Aos amigos de turma Maira, Paola, Léo, Ivo, Sandrinha, Lú e Pedro pela ótima convivência. À todos que, de um modo ou de outro, ajudaram na realização desta dissertação. x ÍNDICE DE FIGURAS 1. Bloco diagrama do delta submarino do Amazonas..…………………….…...2 2. Área de estudo ……………………………………………………………….…..5 3. Arcabouço Tafrotectônico Cretáceo da área …………………………......….7 4. Pluma superficial …………………………………………………………….…10 5. Lamas Fluidas ……………………………………………………………….….12 6. Distribuição superficial dos sedimentos .....……………………….…………13 7. Área de estudo com a rota do Meteor e testemunhos utilizados……....…16 8. Ecobatímetro Atlas Parasound ………………………………………………..18 9. Espectro de Amplitude x Frequência …………………………...……………22 10. Exemplo da aplicação de filtros passa-banda ……………………………..24 11. Tipos de caráter de eco ………………………………………………………30 12. Registros sísmicos de 3,5 kHz e Geopulse …….……...………………..…35 13. Perfil A ………………………………………………………………………...37 14. Perfil B …………………………………………………………………………39 15. Espectro de amplitude na posição B1 ………………………………………40 16. Espectro de amplitude na posição B2 ………………………………………41 17. Perfil C ……………………………………………………………….…………43 18. Descrição do GeoB 3916-2 ………………………………………………….44 19. Espectro de amplitude na posição C1 ……………………………………...45 20. Espectro de amplitude na posição C2 ……………………………………...46 21. Perfil D …………………………………………………………………………48 22. Perfil E …………………………………………………………………….……50 23. Espectro de amplitude na posição E1 .……………..………………………51 xi 24. Perfil F …………………………………………………………………..……...53 25. Perfil G …………………………………………………………………..…..…55 26. Detalhe da progradação dos sedimentos no perfil G ………….………….56 27. Perfil H’ ……………………………………………………………...…………59 28. Perfil H’’ ………………………………………………………………………. 60 29. Espectro de amplitude na posição H1 …………………………………….61 30. Espectro de amplitude nas posições H2 e H3………………...…………...62 31. Perfil I …………………………………………………………………………..64 32. Descrição do testemunho GeoB 3918-4 ………………………......……….65 33. Espectro de amplitude na posição do GeoB 3918-4 …………………….. 66 34. Perfil J ……………………………………………………………………...…..68 35. Descrição do testemunho GeoB 3920-2 …………………......…………….69 xii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Análise granulométrica dos piston cores ............................ Anexos Tabela 2. Valores de atenuação do sinal para 3,5 e 7 kHz ……………….. 26 Tabela 3. Valores de decaimento logarítimico para 14 kHz ……………...…27 xiii CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Os rios são os agentes mais importantes no transporte de sedimento para os oceanos, totalizando um volume de 25,33 bilhões de ton/ano (Lisitzin, 1996). Como resultado deste transporte, são construídos nas margens continentais, planícies costeiras, plataformas, taludes, elevações e outras feições deposicionais. A dimensão e morfologia dessas feições irão depender da fonte sedimentar e da dinâmica da região. Dentre todos os rios do planeta o Amazonas se destaca por suas dimensões e o volume de sedimento carreado para o oceano. O rio Amazonas corta uma bacia de drenagem de 7x106 km2 e possui a maior vazão do mundo, correspondendo a 20% de toda a drenagem de água para os oceanos. Em épocas de cheia a vazão do rio Amazonas pode atingir 354.793 m3/s (Figueiredo et al., 1993) e nas de baixa a vazão média é de 80.000 m3/s (Costa, 1997). O suprimento sedimentar à plataforma continental é de aproximadamente 1.2 x 109 toneladas por ano (Meade et al.,1985), sendo o segundo do mundo, em termos de descarga de sedimento. Com tamanha descarga sedimentar, o rio constrói um delta submarino que se estende desde a foz até a plataforma externa (Figueiredo et al., 1972). Esta região sofre ainda a influência da Corrente Norte Brasileira (CNB), que flui em direção noroeste, desviando a descarga do rio Amazonas nesta direção, das grandes amplitudes de marés e suas fortes correntes associadas e dos ventos Alísios de nordeste (Figura 1). Todos esses fatores em conjunto, promovem uma distribuição diferenciada de sedimentos ao longo da plataforma, influenciando na sua evolução sedimentar (Costa, 1997). A pluma superficial de sedimento gerada pelo desagüe do rio Amazonas nas águas oceânicas expande-se ao longo da plataforma continental, enquanto na interface água doce/água salgada ocorre a deposição de sedimento floculado. Tal depósito estende-se até a foz do Rio Orinoco na Venezuela dando origem a um dos maiores e mais contínuos ambientes deposicionais do mundo moderno (Ayres Neto, 1994). 1 Figura 1 – Bloco diagrama da área de estudo mostrando o delta submarino do Amazonas e os fatores oceanográficos atuantes. (Figueiredo et al., 1996) Apesar das dimensões gigantescas e importância dos processos nesta região, os trabalhos científicos de maior envergadura realizados na Bacia da Foz do Amazonas datam do final da década de 60, sendo que desde então a maioria enfocou a sedimentação e os processos deposicionais quaternários restritos à região da plataforma continental, culminando com os estudos do Projeto AmasSeds (A Multidisciplinary Amazon Shelf Sediment Study) (Nittrouer et al.,1990). Por outro lado, a elaboração de trabalhos voltados para a evolução geológica da Bacia da Foz do Amazonas só foi possível devido a intensificação da exploração petrolífera na região (Oliveira, 1996). Um dos primeiros estudos estratigráficos foi realizado por Shaller (1971) 2 apresentando um arcabouço estratigráfico preliminar da bacia (Brandão & Feijó, 1994). Se por um lado existe grande quantidade de estudos dos processos durante o Quaternário e também diversos estudos voltados para a evolução geológica e exploração petrolífera, faltam estudos de como se estruturam os depósitos sedimentares e são gerados e acumulados os hidrocarbonetos. Estudos como do Projeto AmasSeds identificaram a presença de gás biogênico nos sedimentos lamosos do delta submarino do Amazonas. Estes depósitos possuem camadas discretas de areia de grande extensão lateral e que muitas vezes estão saturadas de gás. Nesse aspecto, diversas questões importantes estão ainda por ser respondidas, como por exemplo, a geometria das camadas arenosas e a distribuição de gás no sedimento. Quanto a estudos de tipos de caráter de eco, o trabalho mais significativo é o de Damuth (1975). Como este trabalho consistiu na classificação de diferentes tipos de caráter de eco para perfis de 3,5 kHz e na região fora do delta submarino do Amazonas, se fez necessária para esta dissertação uma classificação distinta para os perfis utilizados que são de uma freqüência de 4 kHz e se encontram na plataforma amazônica. A atenuação do sinal sísmico é um assunto ainda muito discutido e pesquisado. Neste estudo, particula rmente, a perda do sinal devido a presença de gás inserido no sedimento é marcante, assim a relação da atenuação do sinal com a presença de gás através de espectros de freqüência foi uma ferramenta de fundamental importância. Finalmente, este estudo tem como objetivo a análise dos dados sísmicos digitais do ecobatímetro e perfilador de subfundo Parasound. Essa análise consistiu no processamento e interpretação dos dados sísmicos, sendo identificados diferentes tipos de caráter de eco e ocorrências de gás no pacote sedimentar. 3 CAPÍTULO 2 ÁREA DE ESTUDO A área de estudo localiza-se na zona equatorial na Plataforma Continental Amazônica, adjacente à foz do rio Amazonas e está compreendida entre as latitudes de 0o e 5o N e as longitudes 46o e 51o W (Figura 2). Segundo Palma (1979) a Plataforma Continental Amazônica é a parte mais larga da plataforma continental brasileira, com uma largura média que varia de 133 km no extremo norte da área para 330 km em frente a foz do Amazonas. A declividade tende a diminuir com o aumento da largura de 1:1267 km no cabo Orange para 1:3143 km na foz do Amazonas, a profundidade da quebra da plataforma na foz e no Cabo Orange encontra-se a 105 m. Além destas características físicas, segundo Figueiredo et al. (1996) a área é o palco de encontro de grandes agentes modificadores da natureza como a descarga do rio Amazonas, as correntes de maré, a Corrente Norte Brasileira e os ventos Alíseos. 4 Figura 2 – Área de estudo em destaque e adjacências. Localização dos locais de coleta de testemunhos e a rota do navio Meteor durante o cruzeiro M34/4, do qual foram obtidos os dados sísmicos. 5 2.1. EVOLUÇÃO GEOLÓGICA E ESTRATIGRAFIA Sob o ponto de vista geológico, a área de estudo está situada na Bacia da Foz do Amazonas formada a partir da abertura do Oceano Atlântico com reversão da drenagem do Amazonas do Pacífico para o Atlântico com a elevação dos Andes. A Bacia da Foz do Amazonas compreende uma vasta área de sedimentação (360.000 km2) que se estende da Plataforma Continental (200.000 km2) ao Cone profundo do Amazonas (160.000 km2 ). Sua área enquadra-se entre os paralelos 00 e 50N e os meridianos 470 e 520W. Assim como as demais bacias marginais brasileiras, a Bacia da Foz do Amazonas tem sua gênese relacionada à evolução tectônica do Oceano Atlântico. Segundo Azevedo (1992), a evolução da Bacia da Foz do Amazonas está intimamente relacionada à abertura do Oceano Atlântico Equatorial e propõe que o Oceano Atlântico Equatorial foi formado pela fragmentação Albo-aptiana (113 a 96 Ma) do Gondwana setentrional. Rodarte & Brandão (1988) sugerem que a evolução teve seu início no Juro-Triássico e estaria mais associada à abertura do Oceano Atlântico Norte do que Oceano Atlântico Equatorial /Sul. Rezende & Ferradaes (1971) fornecem uma explicação detalhada da evolução da área relacionando-a com a ruptura e subsequente deriva dos continentes Sul Americano e Africano, dizendo que à ruptura progressiva dos continentes (Jurássico Superior) desencadeou-se, a partir da atual área do Cone do Amazonas, um fraturamento que se propagou intracratônicamente, através da Bacia Paleozóica do Amazonas e do Maranhão. A este associaram-se vários episódios magmáticos formando-se, parcialmente, o Atlântico Norte e o Atlântico Sul. Entre estes se interpuseram uma cadeia de proto-oceanos restritos nos quais predominaria mais tarde a sedimentação evaporítica. Com a expansão do fundo do Oceano Atlântico, no lugar de novos episódicos magmáticos, deu-se a abertura do sistema de fraturas do Triássico Superior, resultando na tafrogenia cretácea da área. Na margem continental evoluia a Cadeia Brasileira e entre esta e o continente, o baixo Amazonas. A figura 3 mostra o arcabouço estrutural da Bacia da foz do Amazonas. 6 Figura 3 - Arcabouço estrutural da Bacia da Foz do Amazonas. (Brandão & Feijó,1994) 7 A estratigrafia da Bacia da Foz do Amazonas constitui-se de dois conjuntos de seqüências: uma de rift e outra de margem passiva. Estas seqüências são limitadas por discordâncias e podem ser correlacionadas com seqüências de idade e importância semelhantes, em outras bacias costeiras do Brasil (Brandão & Feijó, 1994). Na seqüência rift são característicos acúmulos de siliclásticos em grandes grabens que apresentam tafrogenia de duas ocasiões distintas, no Triássico (associação a abertura do Atlântico Norte) e no Aptiano-Albiano (120 Ma – rift precursor do Oceano Atlântico Sul). A seqüência rift compreende as formações Calçoene e Caciporé (Brandão (1990); Brandão e Feijó (1994)). As formações Limoeiro, Marajó, Amapá, Travosas e o Grupo Pará compõem as seqüências de margem passiva que vão do Cretáceo Superior até o Quaternário e abrangem siliclásticos finos transgressivos e arenitos e folhelhos progradantes do Cretáceo Superior, siliclásticos e carbonatos do Terciário e siliclásticos finos progradantes do Quaternário (Schaller et al. (1971); Brandão (1990); Brandão e Feijó (1994)). Além dessas duas seqüências a plataforma continental da Bacia da Foz do Amazonas apresenta duas fases deposicionais distintas durante o Terciário, uma carbonática e outra siliclástica que estão relacionadas a reversão do rio Amazonas no Neomioceno (Oliveira, 1996). No Neomioceno se estabeleceu a conexão do rio Amazonas com o Oceano Atlântico, como efeito da elevação da Cordilheira dos Andes e as plataformas carbonáticas da Margem Continental Atlântica (bacias da Foz do Amazonas, Amapá e Caciporé) foram extintas (Oliveira, 1996; Torres, 1997). 8 2.2. FATORES OCEANOGRÁFICOS E METEOROLÓGICOS A circulação de água na área costeira do Amazonas representa uma interação do tipo estuarino, sistema frontal de água fluvial em direção ao mar, com fortes correntes rotatórias de marés (norte-noroeste, sul-sudoeste) e correntes superficiais (noroeste, sudoeste). Adicionalmente, a maior parte do fluxo de calor para o Atlântico Norte passa pela ou próximo à plataforma Amazônica, sob a forma da Corrente Norte Brasileira (CNB) (Nittrouer & DeMaster, 1986). No verão, quando a Zona de Convergência Intertropical está em uma latitude acima da foz do Amazonas, os ventos locais são fracos e o sistema Corrente Norte Brasileira/Contra-Corrente Norte Equatorial advecta a água doce para noroeste e nordeste criando uma grande pluma (Masson & Delecluse, 2001). A grande descarga fluvial do rio Amazonas é um dos fatores mais importantes que influenciam a oceanografia da Plataforma Amazônica (Geyer et al., 1996). A circulação estuarina na plataforma faz com que parte do sedimento do Amazonas seja transportado da costa para a plataforma, em forma de pluma na água de superfície, o que permite a água do oceano penetrar em direção oposta e abaixo da pluma superficial de baixa salinidade. Essa circulação ajuda a trapear os sedimentos recentes e particulados (Gibbs, 1976, 1982). A região de transição entre as águas bem mexidas próximas à costa e a pluma superficial, fortemente estratificada, é definida como zona frontal (Geyer et al., 1996, Figura 4). A circulação d’água próxima à foz do rio impede que grande parte do sedimento fluvial escape da plataforma para o mar, o que causa a deposição do sedimento numa banda altamente móvel, na parte interna da plataforma e que se estende por cerca de 1600 km em direção noroeste e 50-150 km ao longo da plataforma (Nittrouer & DeMaster, 1986). 9 Figura 4 - Esquema mostrando as diferentes zonas da plataforma continental amazônica. (Modificada de Geyer et al., 1996) As marés são muito amplas na Plataforma Continental Amazônica e podem chegar à 10m na foz do rio e criar o fenômeno conhecido como pororoca (Elias, 2000). De acordo com Sternberg et al. (1996), durante análises da estabilidade do fundo e dos fluxos oscilatórios, as correntes de maré foram capazes de ressuspender o sedimento 91% das vezes. Densas camadas de lamas fluidas ocorrem em fortes fluxos de maré na porção interna da plataforma, em regiões de fortes frentes de salinidade associadas com a descarga do rio Amazonas (Geyer et al., 1991). As marés são semidiurnas e mensalmente exibem uma forte variação de amplitude (sizígia e quadratura), o que contribui para a variação da estratificação (Geyer et al., 1996). 10 Os ventos predominantes da área são os ventos Alísios. O máximo de estresse do vento corresponde aos ventos alísios de NE de dezembro a abril. A importância da ação dos ventos alísios reside na influência indireta sobre os sedimentos da plataforma continental. O movimento orbital das ondas superficiais de gravidade geradas por estes ventos produz um fluxo oscilatório, que pode atingir o fundo e influenciar no movimento dos sedimentos. Os ventos Alísios também tem um papel importante, no tempo de residência da água e dos sedimentos na pluma do Amazonas (Geyer et al., 1996). 2.3. SEDIMENTOLOGIA E GEOMORFOLOGIA A sedimentação na Plataforma Continental Amazônica é controlada pela descarga fluvial do rio Amazonas, pela circulação estuarina e pela dinâmica das marés, que atuam na redistribuição e deposição dos sedimentos. A área de maior sedimentação é a zona de turbidez máxima (ZTM), devido à floculação. A concentração de sedimentos nesta zona pode ser muito alta, formando lamas fluidas. A porção superior das lamas fluidas é móvel, a porção inferior é estacionária e abaixo desta existe um fundo coesivo (Figura 5) (Jaeger et al.,1995). 11 Lamas Fluidas Figura 5 – Figura esquemática mostrando o comportamento das lamas fluidas durante o ano. (Interpretação de A. G. Figueiredo Jr. a partir de palestra e resumo de Jaeger et al.,1995) A distribuição superficial dos sedimentos na Plataforma Continental Amazônica, à noroeste do rio Pará, é marcada pela presença de sedimentos terrígenos, compostos por lama na plataforma interna, passando a areias na plataforma externa (Figura 6). Sedimentos carbonáticos ocorrem restritos à plataforma externa e se concentram em frente à foz do rio Amazonas (Oliveira, 1997). A noroeste do cânion do Amazonas, as fácies carbonáticas são bem esparsas, predominando as que estão associadas a sedimentos terrígenos (Kowsmann et al.,1979). Dentro da fácies lamosa, Milliman et al. (1975) registraram a presença de uma estreita faixa de areias arcosianas, estendendo-se a partir da foz do rio Amazonas, de forma perpendicular à costa. 12 Figura 6 - Distribuição superficial dos sedimentos na Plataforma Continental Amazônica (Ivo & Figueiredo, 1995). Ainda que a foz do rio seja predominantemente subaquosa, a lâmina d´água aumenta em direção costa afora de forma muito gradual. Esta profundidade rasa provavelmente resulta de altas taxas de acumulação de sedimento, geralmente 2 cm/ano, mas que podem chegar em alguns locais a 40 cm/ano (Kuehl et al., 1993). Em estudos realizados por Sternberg et al. 13 (1996) na área do prodelta (65 m de profundidade) a fonte mais importante de sedimento parece ser a migração das lamas fluidas e o maior evento de sedimentação ocorrido durante a pesquisa do Projeto Amasseds foi quando 44 cm de sedimento foram depositados durante um período de 14 horas. Segundo Sternberg et al. (1996), o estresse cisalhante provocado pela combinação de ondas e correntes pode representar um mecanismo importante para iniciar o movimento downslope das lamas fluidas e o conseqüente crescimento do delta. No modelo clássico de Gilbert (1914), um delta pode ser dividido morfologicamente em três regiões distintas: topset, foreset e bottomset. No delta do Amazonas o topset estende-se da linha de costa a isóbata de 40 m, é a porção de gradiente mais suave do delta e seus estratos são primariamente de sedimentos lamosos com intercamadas arenosas, o foreset está situado entre as isóbatas de 40 e 60 m e é a porção mais íngreme do delta submarino, com estratos convergindo em direção ao mar, o bottomset vai da base do foreset até a plataforma externa, tem uma superfície de baixo gradiente, porém mais íngreme que o topset e seus estratos formam uma camada fina de lama recobrindo a superfície da camada transgressiva de areia (Nittrouer et al.,1988). Segundo Figueiredo (1993), a região topset possui um predomínio de facies com granulometria de maior diâmetro, o foreset tem sedimentos mais finos que os do topset e seus estratos inclinados seqüenciais atestam a progradação desta feição. O delta submarino do Amazonas é alongado na direção noroeste, sendo mais largo em frente à Foz do Amazonas ( Figura 1). Sua estrutura é formada por uma série de clinoformas acrecionárias suavemente inclinadas (Nittrouer et al., 1988). Os refletores sísmicos delineiam um volume lamoso clinoforme progradando sobre uma camada de areias transgressivas relíquias, a qual é exposta na plataforma externa. Devido à esta estrutura clinoforme, começando em aproximadamente 10 m de profundidade e estendendo-se até as isóbatas de 70 m ou 80 m, o delta submarino do Amazonas tem potencial para formar depósitos de sedimentos terrígenos de cerca de 60 m de espessura (Figueiredo et al., 1995). 14 CAPÍTULO 3 METODOLOGIA A pesquisa dessa dissertação foi desenvolvida em três etapas. Na primeira etapa foi realizado um levantamento bibliográfico sobre as características sedimentares da Bacia da Foz do Amazonas e sobre estudos de sísmica de reflexão monocanal. A segunda etapa constituiu no processamento dos dados digitais de perfilagem de subfundo do sistema Parasound. Nessa etapa de processamento houve, também, a oportunidade de realizar um processamento a bordo do navio Meteor utilizando um software da Universidade de Bremen. A terceira e última etapa compreendeu a interpretação dos perfis sísmicos com a ajuda de espectros de freqüência e correlação com análises pretéritas de descrição de testemunhos. Os dados digitais de subfundo, coletados pelo sistema de Ecossonda Parasound, foram obtidos pela equipe da Universidade de Bremen, a bordo do navio alemão Meteor, durante o cruzeiro 34, pernada 4, em abril de 1996, e estavam disponibilizados no Departamento de Geologia (LAGEMAR/UFF) sem qualquer tipo de processamento. Para a correlação com os dados digitais foram utilizados dados de análise granulométrica e descrição de testemunhos a pistão (Pistons Cores) (Tabela 1 - anexos), obtidos no projeto AmasSeds que estão disponíveis no Departamento de Geologia (LAGEMAR/UFF). Foram usados também descrição de perfilagens de testemunhos a gravidade (Gravity Cores) com medidas de velocidade de ondas P, suscetibilidade magnética, densidade gama e datações com C-14 em três testemunhos coletados no Cruzeiro Meteor M34/4. A Figura 7 mostra um mapa da área com as informações mais relevantes da coleta de dados. O traçado de deslocamento indica onde o navio de pesquisa Meteor coletou os dados sísmicos e realizou as três estações com coletas de testemunhos a gravidade. A Figura 8 mostra, também, a localização dos testemunhos do projeto AmasSeds que estão mais próximos aos perfis de sísmica Parasound. 15 4o N N 3o N 2o N 1o N 0o 52o0W 52 W 510W 51o W 500 W 50o W 0 o W 4949 W 0 o W 4848 W 47o0W W 47 46o0 W 46 W Figura 7 – Mapa da área de estudo com a rota (track) do Cruzeiro Meteor, mostrando as linhas de aquisição e os locais de coletas dos testemunhos que foram utilizados. Os símbolos quadrados representam os testemunhos a pistão coletados no Projeto Amasseds e os círculos os testemunhos a gravidade do cruzeiro Meteor. 16 3.1. O SISTEMA DE ECOSSONDA PARASOUND Existe uma grande quantidade de ecobatímetros que utilizam a freqüência de 3,5 kHz. O uso de freqüências tão baixas implica na necessidade de grandes transdutores e feixes de grande largura. Isso leva a geração de ecos laterais que interferem no eco do sedimento (Grant & Schreiber,1990). O Sistema de Ecossonda Parasound oferece novas possibilidades em perfilagens de fundo (Grant & Scheireber, 1990). É um ecobatímetro de água profunda com um feixe muito estreito e um perfilador de sub-fundo. Segundo Kuhn & Weber (1993), o sistema é baseado no princípio paramétrico. Em adição à transmissão do primeiro sinal com freqüência de 18 kHz, uma segunda freqüência primária, a qual pode variar entre 20,5 e 23,5 kHz, é simultaneamente radiada. O resultado é uma freqüência secundária variando entre 2,5 e 5,5 kHz. A freqüência secundária é gerada no centro do feixe incidente, que é o estreito ângulo do feixe das freqüências primárias, e livre de ecos laterais (Figura 8). A utilização do efeito paramétrico possui muitas vantagens sobre o sistema 3,5 kHz: - O pequeno ângulo do feixe de cerca de 40 reduz o diâmetro acústico para 7% em comparação com os 35% do 3,5 kHz (Grant & Schreiber, 1990). O pequeno diâmetro aumenta a resolução espacial verticalmente e lateralmente e reduz os padrões de difração dos ecogramas, aumentando a resolução da morfologia sedimentar (Kuhn & Weber, 1993); - Devido às altas freqüências primárias, um pulso de curto comprimento pode ser radiado. Este, combinado com a baixa freqüência secundária, proporciona uma maior resolução vertical, mesmo em águas mais profundas(Kuhn & Weber, 1993); - Devido a possibilidade de variação da segunda freqüência primária e do comprimento do pulso, o operador pode selecionar uma penetração ou uma resolução máxima de profundidade (Kuhn & Weber, 1993); - O sinal refletido digitalizado pode ser comparado com propriedades físicas medidas em perfilagens de testemunhos (velocidade, densidade, 17 porosidade, susceptibilidade magnética) e com sismogramas confeccionados destes dados (Kuhn & Weber, 1993). - Os diferentes valores de amplitude do eco podem ser correlacionadas com o tipo de litologia quando se tem dados de análise granulométrica (Grossmann et al., 2001). A desvantagem do sistema Parasound, é que, devido ao pequeno ângulo do feixe emitido, somente fracos sinais de fundo são refletidos para o navio em áreas com topografia íngreme (Kuhn & Weber, 1993). A fonte utilizada pelo equipamento é do tipo Sweep que consiste num pulso emitido com freqüência no caso constante e com comprimento definido. Este pulso possui uma amplitude constante. A saída dos dados é em ps3 e a freqüência do pulso emitido nos dados do presente trabalho foi de 4.0 kHz. Figura 8 –O ecobatímetro e perfilador de subfundo Atlas Parasound é acoplado ao casco do navio e a freqüência secundária (2,5 a 5,5 kHz) é gerada no centro do feixe incidente. 18 CAPÍTULO 4 PROCESSAMENTO SÍSMICO O processamento sísmico consiste em algumas etapas básicas como: demultiplexação (reorganização dos dados), geometria da aquisição, edição, aplicação de filtros (de freqüência, espacial e outros), deconvolução, análise de velocidade e migração (Yilmaz, 1987). No presente caso, os dados sísmicos do sistema Parasound são monocanal, sendo o processamento bastante simplificado. Assim, o processamento consistiu principalmente na aplicação de filtros passa-banda e “cliping” dos dados a fim de atenuar os ruídos e realçar o sinal sísmico. No processamento foram utilizados dois softwares. Um é o software confeccionado pela equipe de processamento sísmico da Universidade de Bremen chamado SeSuit, versão 1998 (SENT) e o outro é o Seismic Unix (SU) da CWP (Center for Wave Phenomena – Colorado School of Mines). O processamento dos dados foi dividido em duas fases. A primeira etapa do processamento realizada necessitou de uma base teórica com posterior parte prática. A base teórica consistiu no estudo da seqüência do processamento de dados sísmicos, desde a aquisição dos dados até a apresentação final de uma seção interpretada. Para tal foi necessário também um estudo do ambiente operacional Unix, para a familiarização com seus principais comandos. A parte prática do estudo do processamento consistiu no uso do software Seismic Unix. A segunda fase consistiu no processamento dos dados digitais de perfilagem de subfundo coletados pelo sistema de ecossonda Parasound. Para o processamento foi utilizado os softwares SeSuit e Seismic Unix . O software SeSuit, utilizado a bordo do navio Meteor durante o cruzeiro M49/3 em Março de 2001, é um software confeccionado apenas para o processamento de dados de Parasound, formato ps3, e estava instalado no sistema operacional Windows NT. O processamento com este software consistiu em passar nos dados um Clip para subtrair os ruídos e 19 realçar o sinal (amplitude do eco) e no final fazer um Mute para descartar a área do perfil correspondente a água. O Seismic Unix foi utilizado na estação de trabalho do Lagemar/UFF. O SU é um software com uma arquitetura de trabalho mais complexa, sendo utilizado nos sistemas operacionais Unix e Linux. Processa dados no formato SU, derivado do formato Seg-Y, que é o formato padrão internacional de dados sísmicos. O formato SU é similar ao formato Seg-Y, mas sem o header EBCDIC e o header binário. Como os dados coletados pelo sistema Parasound estavam no formato PS3, foi conseguido, através da Universidade de Bremen, o programa Supsread que converte os dados digitais coletados pelo Parasound (formato PS3) para o formato SU. 20 4.1. APLICAÇÃO DE FILTROS A quantidade de ruídos existentes nos traços é muito alta, dificultando a obtenção de bons resultados sem a aplicação de filtros. A filtragem de freqüências pode ser na forma de filtros passa-banda, filtros corta baixas e corta altas, filtros passa-alta (corta -se as baixas freqüências) ou filtros passa-baixa (corta-se as altas freqüências). O filtro passa-banda é o mais usado porque o traço sísmico tipicamente contém alguns ruídos de baixa freqüência e alguns que englobam altas freqüências (Yilmaz, 1987). O objetivo do filtro passa-banda é passar uma certa banda de freqüência com pequena ou nenhuma modificação e suprimir a parte remanescente. O filtro, em geral, é definido no espectro de amplitude que é dado por: A(f) = 1 , se f1 < f < f2 0 , para as freqüências restantes, onde f1 e f2 são as freqüências de corte. Para a escolha dos filtros mais apropriados foi realizada uma aná lise de freqüências. Foram confeccionados espectros, com um ou mais traços, a cada 50 km de perfil para se confirmar em quais freqüências os picos de amplitude estavam mais elevados. Para exemplificação foi confeccionado um espectro com apenas um traço sísmico para melhor facilidade na visualização (Figura 9). Observa-se que determinadas freqüências possuem picos de amplitude bem grandes. O pico de 150 Hz e 800 Hz correspondem a interferência de máquinas do próprio navio e o pico em torno de 4000 Hz é o responsável pelo sinal sísmico da reflexão no sedimento. 21 Figura 9 – Espectro de Amplitude x Frequência. Observa-se os picos de amplitude nas frequências de 150 Hz, 800 Hz e 4 kHz. Os picos em 150 Hz e 800 Hz são ruídos gerados pelo navio. 22 Foi selecionada uma seção com mil traços para exemplificar os testes de filtros no SU. Estes traços compreendem 6 km do perfil B e a figura 10-A apresenta esta seção sem ter sido aplicado filtro algum. Observa-se a grande quantidade de ruídos que atrapalham a visualização do sinal de subfundo. A figura 10-B mostra o mesmo conjunto de traços do perfil B submetido a um teste com um filtro passa-banda entre 1500 Hz e 6000 Hz, onde todas as freqüências abaixo de 1000 Hz e acima de 7000 Hz foram atenuadas resultando na predominância do sinal de 4 kHz. Observa-se que os ruídos provocados pelas freqüências de 150 Hz e 800 Hz foram eliminados, ocorrendo uma melhora na qualidade de visualização do sinal sísmico. Juntamente com os testes de filtros foram realizados testes para encontrar o melhor valor de “clip” para aplicar nos dados afim de realçar o sinal sísmico. O melhor valor encontrado para se clipar os dados foi utilizando um percentual de 99%. Foi dado também um ganho nos dados através do “automatic gain control” (AGC). O AGC eleva todas as amplitudes a um valor de referência, em geral definido pelo valor RMS (Root Mean Square). 23 A 1 km B 1 km Figura 10 – Seção que compreende 6 km do perfil B. Em A sem processamento. Em B a seção com as freqüências de 150 e 800 Hz eliminadas, resultando somente nas freqüências de 4 kHz. 24 4.2. ATENUAÇÃO DO SINAL SÍSMICO O sinal sísmico é formado por uma banda de freqüências e está sujeito a absorção ao longo da propagação devido a atenuação intrínseca das rochas. A Terra tem dois efeitos ligados a propagação de um campo de onda. Em um meio homogêneo, a densidade da energia decai proporcionalmente a 1/r2, onde r é o raio da frente de onda. A amplitude da onda é proporcional a raiz quadrada da densidade de energia e decai a 1/r. Na prática, a velocidade normalmente aumenta com a profundidade, o que favorece a divergência da frente de onda e um decaimento nas amplitudes com a distância mais rapidamente. Já em um meio não homogêneo, como no ambiente real, o sinal sísmico inicial muda conforme ela se propaga. Em particular, altas freqüências são mais rapidamente absorvidas que baixas freqüências (Yilmaz, 1987). A Terra funciona como um filtro corta altas freqüências. O fenômeno da atenuação é complexo. Enquanto a propagação da onda elástica é geralmente bem entendida, os processos não elásticos não são. Como observado de dados atenuados, as variações não elásticas com mudanças em estado físico são complicadas e provavelmente não podem ser explicadas por um simples modelo ou mecanismo (Hamilton, 1972). A atenuação pode ser dependente de vários fatores, como a freqüência, a pressão, a amplitude da deformação da onda, a temperatura e as propriedades das rochas (Johnston & Toksöz, 1980). Em estudos da atenuação de ondas compressionais e cisalhantes em sedimentos porosos saturados de água, a fricção interna (energia perdida através dos movimentos entre os grãos) é o processo dissipativo dominante (Hamilton, 1972). As relações entre freqüência, velocidade da onda P e atenuação do sinal tem importantes implicações na formação de parâmetros em modelos para sedimentos porosos. De acordo com Hamilton (1972) a equação que apresenta a dependência da atenuação com a freqüência é apresentada na forma: α = κ ⋅ fη 25 onde α é a atenuação da onda compressional em db/m, κ é uma constante, f é a freqüência em kHz e η é o expoente da freqüência. Na literatura os seguintes valores de α dependente da freqüência foram encontrados (Tabela 2). Tabela 2 – Valores de atenuação (α), conforme Hamilton (1972). Vp é a velocidade da onda compressional. Tipo de sedimento α (db/m) Vp (m/s) 3,5 kHz 7,0 kHz Areia média 1798 1,5 3,8 Areia fina 1686 1,7 3,2 Areia muito fina 1708 1,5 3,5 Silte argiloso 1459 --- 1,2 Estes valores foram medidos in situ e a velocidade foi determinada pela medida do tempo de ida e volta do sinal. A atenuação foi medida em decibéis assumindo ser essa de valor zero no primeiro metro de sedimento. Assumindo que a atenuação linear é dependente da freqüência, valores da constante κ podem ser obtidos, dividindo-se a atenuação pela freqüência. Relacionando a teoria acústica com a perda de energia acústica experimental incidente no fundo do mar é usualmente necessário assumir valores de atenuação em freqüências de interesse para vários tipos de sedimentos e camadas. Essa relação tem sido um sucesso em muitos estudos (freqüências de 0.1 a 4 kHz) nos quais a dependência da atenuação com a freqüência foi assumida. Para areias inconsolidadas, a atenuação pode ser correlacionada com o tamanho do grão e a porosidade, já que depende dos contatos entre as partículas. Na presença destes sedimentos a atenuação é maior do que em outros sedimentos porque estes são mais permeáveis. A angularidade dos grão de areia aumentam e a esfericidade diminui com o tamanho do grão, assim em areias de granulometria grossa a atenuação pode ser menor do que nas areias finas devido aos poucos contatos entre grãos. Em silte e argila a atenuação é aparentemente relacionada com a coesão entre as partículas 26 finas. Resumindo, a maior atenuação em sedimentos marinhos ocorre em areias muito finas, silte de granulometria grossa e misturas de areia e silte (Hamilton, 1972). Nos dados de sísmica usados neste estudo não foram medidos in situ a velocidade da onda compressional (Vp) e nem a atenuação do sinal (α ). Então, para se calcular a perda de energia sofrida pelo sinal sísmico devido a mudança de litologia ou presença de gás foi usada a definição de decremento logarítmico (∆p). Este consiste no logaritmo da razão de duas sucessivas amplitudes em um decaimento exponencial da onda (Attwell & Ramana, 1966): ∆p = 20log A 1/A2 ∆p é independente da freqüência e a tabela a seguir apresenta os valores deste parâmetro para uma freqüência de 14 kHz: Tabela 3 – Valores do decaimento logarítmico (∆p) para uma freqüência de 14 kHz (Hamilton,1972). Tipo de sedimento Areia média Areia fina Areia muito fina Silte argiloso Areia-silte-argila ∆p (14 kHz) 0,101 – 10% 0,100 – 10% 0,093 – 9% 0,028 – 3% 0,009 – 1% Neste trabalho para se distinguir a presença de gás, devido a atenuação do sinal, foi usado o logaritmo da razão de dois valores de amplitude na freqüência de 4kHz em um mesmo traço sísmico (mesmo decaimento exponencial da onda). Para isso o sinal foi dividido em parte superior (parte mais rasa) e inferior (parte mais profunda) de uma dada profundidade onde começa a se observar a perda de sinal no perfil sísmico. Em alguns casos espectros foram confeccionados para dois pontos diferentes numa mesma profundidade do perfil sísmico (um traço sísmico em cada ponto) para mostrar a nítida diferença da assinatura do sinal em dois locais distintos, sendo em um destes interpretada a presença de gás. 27 CAPÍTULO 5 CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE CARÁTER DE ECO Damuth (1975, 1978) tendo como base ecogramas de 3,5 kHz classifica os tipos de eco em duas categorias principais: distintos e indistintos. O primeiro tipo (Classe I) é subdividido em três tipos de eco, IA, IB e IC, em função da presença ou não de refletores em sub -superfície. O tipo IA apresenta a superfície do fundo marcada por um sinal forte e sem refletores em sub-superfície. O tipo IB apresenta diversos refletores em sub -superfície e é característico de regiões que apresentam baixas concentrações de sedimentos de granulometria grossa. O tipo IC também apresenta refletores em sub-superfície só que convergentes. O segundo tipo (Classe II) é marcado por uma continuidade da superfície de fundo e se divide em dois grupos: prolongado (IIA) e hiperbólico (IIB). O primeiro destes, subdividi-se em dois tipos (II A-1 e II A-2), relacionados à presença ou ausência de refletores em sub-superfície. O tipo IIA -1 é muito prolongado, sem refletores em sub superfície ou poucos refletores presentes de forma ocasional. O tipo IIA -2 possui refletores de sub-superfície paralelos, semi-prolongados e descontínuos, os quais alternam com zonas sem reflexão. Os hiperbólicos (tipo IIB) ramificam-se em seis diferentes tipos, de acordo com a quantidade, espaçamento e amplitude das hipérboles. Segundo Torres (1997), de acordo com amostras de sedimentos coletadas na área da foz do Amazonas o tipo de eco IIA-2 classificado por Damuth (1975) consiste em sedimentos finos (silte e silte arenoso) e grossos (areia siltosa e areia) e caracterizou a região sem reflexão deste tipo de caráter de eco como uma camada acusticamente semi-transparente chamada de camada de turbidez acústica. Esse mascaramento das camadas sedimentares ocorre devido a bolhas de gás trapeadas no sedimento que são produzidas pela degradação bioquímica da matéria orgânica, que espalha e atenua o sinal acústico (Carlson et al., 1985; Figueiredo et al.,1996). Em 28 resumo, a presença de gás provoca um espalhamento generalizado na frente de onda (scattering) e uma grande atenuação da amplitude do sinal, resultando numa seção sem sinal. Damuth (1975) correlacionando os tipos de eco com sedimentos de granulometria grossa, constatou que áreas que retornam ecos distintos, com refletores de sub -superfície plano paralelos (tipo IB), contém pouco ou nenhum sedimento de granulometria grossa. E regiões que apresentam eco indistinto, muito prolongado, sem refletores em sub -superfície (tipo IIA-1), contém altas concentrações desses sedimentos. Áreas onde o eco refletido é do tipo indistinto, semi-prolongado e com refletores intermitentes (tipo IIA -2) apresentam concentrações intermediárias de sedimentos grossos. Baseado nessas correlações, Damuth (1975) foi capaz de mostrar que a distribuição regional destes três tipos de eco refletem a trajetória da dispersão dos sedimentos terrígenos, da margem continental até a planície abissal da Margem Equatorial Oeste do Atlântico. Nos perfis utilizados neste estudo (4 kHz) foram encontrados alguns padrões de caráter de eco semelhantes ou próximos àqueles mencionados por Damuth (1975). Como a classificação de Damuth (1975) foi realizada para perfis de 3,5 kHz e principalmente para a região fora da plataforma continental amazônica se faz necessária uma classificação distinta para os perfis do Parasound. Os tipos de eco encontrados foram classificados como: Tipo S: reflexão forte do sinal em superfície e ausência de refletores em sub superfície (semelhante ao tipo IA de Damuth, 1975). (Figura 11A); Tipo SS: Presença de refletores de sub -superfície plano-paralelos e de grande continuidade lateral (semelhante ao tipo IB de Damuth, 1975). (Figura 11B); Tipo SP: Presença de refletores em sub-superfície, mas semi-prolongados e intermitentes (semelhante ao tipo IIA de Damuth, 1975). (Figura 11C). 29 A B C Figura 11 - Tipos de caráter de eco encontrados. Em A caráter de eco tipo S, em B tipo SS e em C tipo SP. 30 CAPÍTULO 6 OCORRÊNCIAS DE GÁS METANO A presença de matéria orgânica combinada com alta taxa de sedimentação são características comuns de estuários que criam condições apropriadas para a geração e preservação de gás biogênico (Figueiredo et al., 1996). Os gases típicos encontrados em sedimentos marinhos incluem hidrogênio, dióxido de carbono, nitrogênio, amônia, sulfídrico, metano e outros hidrocarbonetos. Estes gases podem ser originados pela atividade bacteriana em sedimentos rasos (processo biogênico) ou por processos termogênicos ocorrendo em maiores profundidades (>1000m) e à altas temperaturas dentro das rochas sedimentares (Floodgate and Judd, 1992). Entretanto, dentre estes gases o único que pode ser encontrado em considerável quantidade nos sedimentos marinhos é o gás metano (Davis, 1992; Floodgate and Judd, 1992). Segundo Rice & Caypool (1981), o gás biogênico em sedimentos marinhos é produzido pela matéria orgânica imatura. Estes autores indicam três zonas distintas em diferentes profundidades nos sedimentos marinhos durante o estágio imaturo: zona aeróbia, zona anaeróbia de sulfato - redução e zona anaeróbia de carbonato - redução (zona de produção de metano). As transições destas zonas são uma consequência geoquímica das mudanças ambientais induzidas pelos microorganismos. Durante a respiração aeróbia o oxigênio é rapidamente consumido. Depois do oxigênio esgotado, a sulfato – redução é a dominante forma de respiração. Abaixo desta zona, a redução do CO2, via hidrogênio produzido pela oxidação anaeróbia da matéria orgânica, resulta na formação do metano (Okyar & Ediger, 1999). Poucas bactérias são capazes de formar metano. Todas fazem parte de um grupo chamado Archæbacteria. A metanogênese ocorre em diversos ambientes, tais como, lamas marinhas e de água doce, pântanos, região de 31 descarte de esgotos, sendo todas estritamente anaeróbias (Floodgate & Judd, 1992). Devido o encontro da pluma amazônica, rica em silicatos e nitratos com as águas da Corrente Norte Brasileira, por sua vez rica em fosfatos e amônia, a região se equipara com as mais férteis do mundo (Figueiredo, 1993). O rio Amazonas devido ao seu enorme volume d’água, carrega a maior quantidade de Carbono Orgânico Total (COT) entre todos os rios do mundo. Essa matéria orgânica encontrada nos sedimentos da plataforma continental Amazônica é de origem mista (continental/oceânica) (Ayres Neto, 1994). O conteúdo do carbono orgânico total (COT) dos sedimentos de superfície apresentam valores baixos de 0.6% a 0.1% (de sedimento seco) para as lamas de superfície da plataforma interna. Os valores de COT variam de 0.08%, em sedimentos arenosos próximos a boca do rio, a até 1.02% em lamas ricas em material carbonático. Os valores mais altos de COT no noroeste da plataforma provavelmente resultam do aumento de produtividade naquela área (Showers & Angle,1986). Apesar de baixo, o conteúdo orgânico dos sedimentos da plataforma Amazônica é comparável a composição orgânica dos sedimentos do rio Amazonas (Elias, 2000). Aproximadamente 60% do carbono orgânico do Amazonas é transportado como carbono orgânico dissolvido (COD) dos quais 60% é material húmico. Carbono orgânico particulado fino (COPF) e material orgânico marinho são provavelmente a fonte principal de carbono para os sedimentos provindos da descarga do rio Amazonas (Aller et al.,1996). Segundo Elias (2000), em algumas regiões centrais da plataforma, a matéria orgânica passa por um alto potencial redox (condição redutora) durante sua deposição e resuspensão. Essa região contrasta com a área adjacente à foz do Amazonas e a noroeste da plataforma que apresentam um baixo potencial redox. O gás observado no delta submarino do Amazonas é um gás biogênico recente tipo metano. A profundidade do gás metano no sedimento depende da espessura da zona de redução do sulfato e da oxidação anaeróbia do metano (Blair & Aller, 1995) e de armadilhas estratigráficas (Figueiredo et al., 1996) que aprisionam o gás produzido. De acordo com Hart & Hamilton (1993), o gás em sedimentos deltáicos tende a ocorrer na 32 porção mais superior da coluna sedimentar, comumente a menos de 10 m abaixo do fundo marinho. Historicamente, métodos geofísicos tem sido usados para mapear a ocorrência e distribuição de gás nas camadas sedimentares rasas. Essa distribuição é comum e as evidências de sua presença é variada (Davis, 1992). Assinaturas de gás são reconhecidas em registros sísmicos de superfície e sub-superfície de diferentes formas. A turbidez acústica (acoustic turbidity) é o termo usado geralmente para se referir a partes da seção sísmica onde detalhes do sub-fundo são perdidos devido aos efeitos de bolhas de gás no interior do sedimento. É um bom indicador da presença de gás, mas acredita-se que as concentrações deste sejam pequenas, provavelmente o gás participa em uma pequena percentagem do volume total do sedimento (Davis, 1992). De acordo com Judd & Holand (1992), a turbidez acústica aparece como reflexões caóticas, causadas pelo espalhamento da energia acústica, parecendo como uma borra preta no registro de 3,5 kHz. É comum as reflexões subjacentes àquelas afetadas pelo gás exibirem um efeito “pull down” (Judd & Holand, 1992). Como estas reflexões se prolongam em direção a zona de turbidez acústica elas sofrem uma deflexão para baixo devido ao decréscimo na velocidade (Vp) na zona sob influência do gás. Esse decréscimo é mais pronunciado quando o gás está livre no sedimento (bubble phase) (Okyar & Ediger, 1999). Um outro tipo de ocorrência de gás seria o “gas brightening”, caracterizado pelo aumento do contraste de impedância entre determinados refletores e o sedimento subjacente devido à presença de gás, sendo geralmente observado acima ou lateralmente, nas adjacências das zonas de turbidez acústica (Hart et al., 1993). Segundo Judd & Holand (1992) essas reflexões com aumento de amplitude que se estendem lateralmente de zonas de turbidez acústica são denominadas de “enhanced reflections” (refletores realçados por gás) e ocorrem quando o gás aparece como acumulações dentro de poros de sedimentos (ricos em silte e areia) – mancha brilhante (bright spots) ou disseminado dentro de sedimentos selados (ricos em argila). O branqueamento ou mascaramento acústico (acoustic blanking) é o termo usado para descrever áreas no registro sísmico onde as reflexões são 33 fracas ou ausentes. Este efeito é atribuído à absorção da energia acústica por um sedimento carregado de gás. O gás trapeado no sedimento pode dar uma alta amplitude do eco, realçando o refletor, gerando um grande contraste de impedância acústica com o sedimento acima sem gás (Davis, 1992; Judd & Hovland, 1992). García-Gil et al. (1999) chamam este tipo de acumulação de apantallamientos acústicos e identificam como um mascaramento total do registro onde o limite superior da acumulação é marcada pela presença de um refletor com geometria geralmente plana. Há muitas outras classificações dos tipos de acumulações de gás nos sedimentos, baseando-se principalmente nas características das respostas sísmicas, geometrias e dimensões. De acordo com Figueiredo et al. (1996) no delta submarino do Amazonas os refletores “gas brightening” predominam na área próxima a foz do rio Amazonas em depósitos de camadas de areia e lama, enquanto as zonas de turbidez acústica dominam nos sedimentos finos da porção distal do sistema. A Figura 12 apresenta uma seção sísmica da região foreset do delta comparando registros de 3,5 kHz e Geopulse adquiridos ao mesmo tempo e numa mesma área. Nos dois registros o gás aparece como zona de turbidez acústica no lado direito do registro e como refletores “gas brightening” no lado esquerdo. Observa-se ainda na figura 12, que em registros de Geopulse (que tem maior potência), os refletores abaixo do gás podem ser detectados, pois a reflexão não é tão forte se comparada aos perfis de 3,5 kHz da mesma área. Vale ressaltar que nos registros de geopulse foi utilizado um swell filter, o que tirou as ondulações na superfície do fundo. A extensão de gás na plataforma é tão grande que por horas e horas de navegação o registro pode apresentar-se sem penetração devido ao gás trapeado na superfície e subitamente registrar uma “janela” sem gás, onde é possível observar as estruturas internas do pacote sedimentar, e depois voltar ao padrão anterior (Figueiredo, 1993). Nos perfis de Parasound são encontradas áreas com ausência de sinal de vários quilômetros de extensão, principalmente nos perfis localizados na região proximal à foz do Amazonas e as principais formas de ocorrência de gás citadas anteriormente podem ser encontradas. 34 Figura 12 – Registros sísmicos de 3,5 kHz e Geopulse, da mesma região, mostrando gás trapeado no sedimento. Em função da maior potência do Geopulse, em relação ao 3,5 kHz, é possível observar refletores abaixo da camada de gás (Figueiredo et al., 1996). 35 CAPÍTULO 7 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS PERFIS SÍSMICOS 7.1. PERFIL A Este perfil localiza-se relativamente próximo a foz do rio Amazonas e é caracterizado por refletores de sub -superfície plano-paralelos e de grande continuidade lateral (Eco tipo SS), sobrepostos a areias relíquias, numa discordância bem caracterizada (Figura 13). Esta continuidade pode ser observada por vários quilômetros e é interrompida bruscamente quando o sedimento está carregado de gás (acoustic blanking). Os refletores de sub superfície plano -paralelos possuem diferentes amplitudes do eco que são associadas a laminações de areia e lama. Essa alternância de litologia pode ter sido causada pela descarga do rio ou pela variação da maré (Grossmann et al., 2001). Algumas sand waves podem ser observadas no lado SE onde o caráter do Eco passa a ser do tipo S. Com base no testemunho 4236 (Projeto Amasseds – Tabela 1), que se encontra próximo ao perfil A e na profundidade de 49 m de lâmina d’água, o primeiro 1 m de sedimento é composto por laminações de silte e areia muito fina, sendo o restante composto predominantemente por areia média. 36 PERFILA SE NW 0 m NíveldoMar Tipo d e E c o S Tipo d e E c o SS 25m SandWaves Gás 50m Areias relíquias Gás Branqueamento Acústico 10km 0 4N N 0 2N Figura 13 - Perfil sísmico A e mapadelocalização 4236 A 0 0 0 51W 4 90 W 4 70 W Mapa delocalização doPerfilA(—)edotestemunho4236(+) 7.2. PERFIL B É um perfil paralelo à costa, na região proximal a Foz do Amazonas, numa área de grande descarga sedimentar e alta taxa de sedimentação (Figura 14). Com base no testemunho 4234 (Projeto Amasseds), que se encontra próximo ao perfil B e na profundidade de 18 m de lâmina d’água, os primeiros 4 m de sedimento são compostos predominantemente por silte e a partir daí até 5,8 m o sedimento é composto por laminações de silte e areia muito fina. Já o testemunho 4235, que se encontra mais distante do perfil B, e a 49 m de profundidade, possui 6,7 m de sedimento que são predominantemente compostos de areia fina. Características do caráter do Eco: - refletores de sub -superfície plano-paralelos (tipo de eco SS); - refletores com grande conti nuidade lateral (principalmente nos primeiros cinco metros de sedimento); - presença de zonas sem reflexão de sinal, perda da continuidade lateral dos refletores aleatoriamente devido a presença de gás; - Turbidez acústica e branqueamento acústico; - presença de downlaps e paleocanal. O espectro de amplitude do traço sísmico na posição B1 apresenta a mesma variação da amplitude (o mesmo padrão), tanto para a parte superior quanto para a inferior dos 5 m do pacote sedimentar (Figura 15). No espectro de amplitude do traço sísmico na posição B2, a parte superior (5 m) apresenta valores de amplitude (percentagem relativa entre as freqüências) bem maiores do que para a parte inferior do espectro, onde a perda de sinal, devido a presença de gás, na freqüência de 4 kHz, é calculada em 87% (17,5db) (Figura 16). O refletor forte (bright spot) antes do branqueamento acústico pode ser devido ao gás trapeado. 38 PERFIL B NW SE 0 m Nível do Mar B1 B2 TipodeEcoSS Paleocanal 25m Gás Gás Gás TurbidezAcústica downlaps Branqueamentoacústico 50m 10km 0 4N N Figura 14 - Perfil Sísmico B com localizaçãodosespectros B1 e B2 e mapa daárea de estudocomlocalizaçãodoperfil B e dos testemunhos 4234 e 4235 0 2N 4234 B 4235 0 0 0 51W 0 49W 4 70 W Localização doPerfilB(—) e dos testemunhos 4234e4235(+) inferior superior Figura 15 – Espectro de amplitude do traço sísmico na posição B1 (Figura 14). Traço vermelho corresponde a camada dos 5m superiores e o traço azul aos 5m inferiores. 40 superior inferior Figura 16 – Espectro de amplitude do traço sísmico na posição B2 (Figura 14). Traço vermelho corresponde a camada dos 5m superiores e o traço azul aos 5m inferiores. 41 7.3. PERFIL C Localiza-se em uma posição perpendicular a costa, na região do foreset do delta submarino (Figura 17). É dividido em uma região com uma reflexão em sub-superfície (tipo de eco SS) e outra região com apenas uma reflexão forte em superfície (tipo de eco S). Observa-se neste perfil na região do foreset (Eco do tipo SS) downlap de sedimentos terrígenos sobre areias relíquias e presença de gás. Na região do bottomset, onde ocorre o eco do tipo S, há muitas sand waves. O testemunho 4233 (Tabela 1 e Costa (1997)), se encontra próximo a este perfil e está à uma profundidade de 41 m de lâmina d’água, o primeiro 1,75 m do pacote sedimentar apresenta areia muito fina com laminações de silte e alguns buracos preenchidos por lama, enquanto o restante até 7 m é totalmente arenoso (areia fina) e repleto de fragmentos de conchas. A Figura 18 apresenta descrição dos sedimentos, reflectância e as propriedades físicas do testemunho à gravidade GeoB 3916-2 coletado durante a perfilagem (Ficher, 1996). A profundidade da lâmina d’água é de 38 m e o comprimento do testemunho é de 5,95 m. Em toda sua extensão o pacote sedimentar apresenta argila, com bioturbação de 30 a 60% do sedimento até os 3 m e a partir daí a bioturbação cai para 30%. Nos últimos 50 cm ocorre fragmentos de conchas. A análise de C-14 feita neste testemunho em 5,90 m indicou uma idade de 1150 anos com erro de ± 40 anos. Devido a não continuidade de alguns refletores em sub-superfície, foram confeccionados dois espectros para se analisar a perda do sinal. O espectro de amplitude do traço sísmico na posição C1 (Figura 19) apresenta forte reflexão do sinal nos primeiros 6 m de sedimento (profundidade de 37,5 m relativa ao nível do mar) e uma atenuação média de 97% (19,5 db) relativa aos 6 m subsequentes. No espectro de amplitude do traço sísmico na posição C2 (Figura 20) observa-se que não há perda de amplitude de sinal significativa da parte superior para a inferior aos 6 m e as variações na amplitude do sinal devem estar relacionadas a mudanças na litologia e não a presença de gás, conforme indica o perfil sísmico C. 42 PERFIL C NE SW 0 m Nível do Mar TipodeEcoS TipodeEcoSS GeoB3916-2 25m C1 Gás C2 Downlaps SandWaves Areiasrelíquias 50m 75 m 10km 0 4N N Figura 17 - Perfil Sísmico C com localização dos espectros C1 e C2 e dotestemunho GeoB3916-2 e mapa da áreacomlocalizaçãodoperfiledos testemunhos 0 2N 4233 C 3916-2 0 0 0 51W 4 90 W 4 70 W Mapa delocalização doPerfilC(—) e do testemunho a pistão 4233(+) e do testemunho a gravidadeGeoB3916-2(!) Figura 18 – Descrição dos sedimentos e características físicas do testemunho à gravidade GeoB3916-2 (Ficher, 1996). 44 superior inferior Figura 19 – Espectro de amplitude do traço sísmico na posição C1 (Figura 17). Traço vermelho corresponde a camada dos 6m superiores e o traço azul aos 6m inferiores. 45 superior inferior Figura 20 – Espectro de amplitude do traço sísmico na posição C2 (Figura 17). Traço vermelho corresponde a camada dos 6m superiores e o traço azul aos 6m inferiores. 46 7.4. PERFIL D O perfil D localiza-se na região do bottomset do delta submarino do Amazonas (Figura 21). Não há penetração do sinal em sub-superfície em todo o perfil (eco caráter tipo S). Observam-se grandes bancos de areia, podendo chegar a 12 m de altura e a 2 km de largura no topo e algumas sand waves. Supõe-se que a forte reflexão do fundo seja constituída de areias relíquias e que nesta área não haja deposição de sedimentos provindos atualmente da Foz do Amazonas devido a ação da Corrente Norte do Brasil que barra a chegada desses sedimentos na área. 47 PERFIL D NW 0m SE NíveldoMar Tipo de Eco S 25m 50m Bancos deareia 75m 100m 10km 0 4N N D 0 2N Figura21 - Perfil Sísmico D e mapa de localização 0 0 0 51W Mapa delocalização doPerfilD(—) 4 90 W 4 70 W 7.5. PERFIL E O perfil E localiza -se nas regiões de foreset e botomset do delta (Figura 22). Possui dois tipos de eco, um com penetração do sinal em subsuperfície (tipo SS) e outro do tipo S na região de profundidades maiores que 70 m (bottomset) com apenas uma reflexão forte do sinal em superfície. A progradação dos sedimentos em direção costa afora é bem caracterizada pelos downlaps, sendo possível ver as várias camadas sedimentares, que devido as diferentes amplitudes do eco (reflexão mais fracas em amarelo e mais fortes em preto) supõe-se serem laminações de silte e areia. Há um grande branqueamento acústico (ver perfil, Figura 22), de cerca de 8 km de extensão, com grande atenuação do sinal, onde se observa a descontinuidade lateral dos refletores sísmicos. Na direçao SW desse mascaramento dos refletores é possível ver downlaps pretéritos, identificando a progradação dos sedimentos terrígenos. O espectro de amplitude localizado na posição E1 (Figura 23) mostra a atenuação de cerca de 60% (12 db) do sinal dos primeiros 7,5 m para os 7,5 m seguintes na área do mascaramento. O testemunho 4231 (Projeto AmasSeds), se encontra próximo a este perfil e está à uma profundidade de 45 m de lâmina d’água, possui um comprimento total de 8 m e é predominantemente lamoso. De acordo com Costa (1997), a partir dos 5 m é constituído de muitas laminações de areia muito fina a fina. 49 PERFIL E NE SW 0m NíveldoMar Tipo de Eco SS Tipo de Eco S 25m Downlap E1 Branqueamento Acústico 50m Downlap 10 km Múltiplas 75m Sand waves Areias relíquias 100m 0 4N N E 4231 0 Figura 22 - Perfil Sísmico E com localizaçãodoespectroE1e mapadaáreacoma localização d o p e r f i l E e d o testemunho4231 2N 0 0 0 51W 0 49W 4 70 W Mapa delocalização doPerfilE(—) e dotestemunho4231(+) superior inferior Figura 23 – Espectro de amplitude do traço sísmico na posição E1 (Figura 22). Traço vermelho corresponde a camada dos 7,5m superiores e o traço azul aos 7,5m inferiores. 51 7.6. PERFIL F Esse perfil encontra-se paralelo à costa e possui caráter de eco do tipo SP (Figura 24). Sua morfologia possui altos que parecem remanescentes de efeitos erosivos das correntes. Em direção NW, observa-se a presença de uma feição similar a um vulcão de lama. Talvez pequenas concentrações de gás inseridas no sedimento podem ser responsáveis pelo aparecimento dessa feição e pela perda da penetração do sinal em algumas áreas. 52 PERFIL F NW SE 0 m NíveldoMar CNB Tipo d e E c o S P Vulcãodelama Gás 25m múltiplas 50m 10km 0 4N N F 0 2N Figura 24 - Perfil sísmico F e mapadelocalização 0 0 0 51W 0 49W Mapa delocalização doPerfilF (—) 4 70 W 7.7. PERFIL G Perfil perpendicular à costa incluindo região do foreset e do bottomset. O caráter de eco apresenta-se sem penetração em quase toda sua extensão (tipo S) (Figura 25). O canal pretérito (paleocanal) recoberto por sedimento está a aproximadamente 85 m de profundidade e pode estar relacionado a correntes de fundo de direção noroeste. O testemunho 4203 (Projeto AmasSeds – Tabela 1) localiza-se nas proximidades do perfil G, está localizado a 40 m de profundidade de lâmina d’água e possui um comprimento total de 4,65 m. A textura é predominantemente siltosa (tabela 1). De acordo com Costa (1997) esse testemunho possui muitas laminações de areia muito fina, principalmente nos primeiros 2,5 m. Uma foto de 30 cm desse testemunho mostra uma coloração escura e alguma variação na granulometria. O testemunho 4226 está localizado a uma profundidade de 58 m de lâmina d’água e possui um comprimento total de 7 m. A textura é predominantemente siltosa, mas os primeiros 50 cm são compostos por areia muito fina. A Figura 26 mostra um detalhe da progradação dos sedimentos recentes sobre as areias relíquias. 54 PERFIL G NE SW 0 m NíveldoMar Tipos deEco S e SP 25m Múltiplas Downlaps 50m 75m Paleocanal Areias relíquias 10km 100 m Foto d o PC 4203 (100 a 130 cm) 0 4N N Figura 25 - Perfil sísmico G, mapa d a á r e a c o m a localização do perfil G e dos testemunhos 4226 e 4203 e foto d o testemunho 4203 4203 G 4226 0 2N 0 0 0 51W 4 90 W 4 70 W Mapa delocalização doPerfilG(—) e dostestemunhos4226e4203(+) Downlaps Areias relíquias Figura 26 – Detalhe da progradação dos sedimentos sobre as areias relíquias na transição foreset-bottomset do perfil G. 56 7.8. PERFIL H Esse perfil encontra-se a noroeste da Foz do Amazonas, na região do Bottomset, tem caráter de eco do tipo SP, possui 134 km de extensão e está dividido em duas partes: perfil H’ (Figura 27) e perfil H’’ (Figura 28). Existem cinco testemunhos nas proximidades que serão usados na interpretação. O testemunho PC4205 é o mais distante do perfil H, sua granulometria predominante é silte (Tabela 1), com algumas a l minações de argila a partir dos 2,7 m, está à uma profundidade de 18 m e possui um comprimento total de 6 m. O testemunho PC4222 se encontra a uma profundidade de 37 m, possui comprimento total de 6,5 m e é também composto basicamente por silte. Os testemunhos PC 4224 e PC 4206 foram coletados a profundidade de 50 m, possuindo comprimento total de 7 m e 10,4 m, respectivamente. O PC 4224 é todo composto por variações granulométricas entre silte e argila. O PC 4206 possui silte nos primeiros 4 m de sedimentos e a partir desta profundidade apresenta laminações de silte e argila. O PC 4223 está a uma profundidade de 72 m e é o localizado mais próximo ao perfil, possuindo apenas 2 m de comprimento. Os primeiros 20 cm são compostos de areia muito fina, e a partir daí a granulometria que predomina é o silte. Analisando-se os testemunhos conclui-se que há predominânica de silte, podendo haver ou não uma camada de areia muito fina superficialmente. Junto à continuação do perfil H (H’’) encontra-se uma foto de 30 cm do PC4206. Nota-se uma coloração clara e uma faixa de coloração bem mais escura que pode estar relacionada à florações planctônicas. Não observa-se mudança de granulometria, a parte amostrada parece ser lamosa. Na localização do traço onde foi confeccionado o espectro de amplitude H1 (perfil H’) observa-se uma reflexão forte nos primeiros centímetros de sedimento e um pouco mais fraca nos próximos 11,25 m, quando a reflexão torna-se forte novamente. O espectro de amplitude (Figura 29) mostra que a parte inferior tem uma amplitude do sinal um pouco mais alta, provavelmente devido às areias que estão sendo recobertas. Correlacionando-se este padrão encontrado com o testemunho PC 4223 supõe-se que há areia no topo da seção e a partir daí, silte é depositado sobre areias. 57 PERFILH’ SE NW 0m NíveldoMar 25 m Tipo de Eco SP 50 m H1 H2 H3 75 m 100m 10 km I 0 4N H’ N 4222 4205 Figura 27 - Perfil sísmico H’ com localização dos espectros H1, H2eH3 e mapa daáreacom a localização do perfil e dostestemunhos H’’ 4223 4206 4224 0 2N 0 0 0 51W 4 90 W 4 70 W Mapa de localização doPerfilH’(—) e dostestemunhos4205,4206, 4222,4223, 4224(+ ) A Figura 30 apresenta a superposição de dois espectros de amplitude, H2 e H3, para um mesmo intervalo de profundidade considerado (30 m). Observa-se que não há penetração do sinal no traço sísmico H3, onde há um banco de areia, sobre o qual ainda não ocorreu a deposição de sedimento finos. A grande diferença de amplitude entre os pontos H2 e H3 e a não penetração do eco, é devido ao sedimento arenoso e além disso a presença de gás no ponto H3. 58 PERFILH’ SE NW 0m NíveldoMar 25 m Tipo de Eco SP 50 m H1 H2 H3 75 m 100m 10 km I 0 4N H’ N 4222 4205 Figura 27 - Perfil sísmico H’ com localização dos espectros H1, H2eH3 e mapa daáreacom a localização do perfil e dostestemunhos H’’ 4223 4206 4224 0 2N 0 0 0 51W 4 90 W 4 70 W Mapa de localização doPerfilH’(—) e dostestemunhos4205,4206, 4222,4223, 4224(+ ) PERFIL H’’ NW SE 0m NíveldoMar Tipo de Eco SP 25m Canal preenchido 50m Canal preenchido CNB 75m 100m 10km FOTO do PC 4206 (250 a 280cm) 0 4N N N 4222 4205 Figura 28 - Perfil sísmico H’’, mapadaárea com a localização do perfil e dos testemunhos e fotodotestemunho 4206 4223 4206 4224 H’’ 0 2N 0 0 0 51W 4 90 W 4 70 W Mapa delocalização doPerfilH’’(—) e dostestemunhos4205,4206, 4222,4223,4224(+) inferior superior Figura 29 – Espectro de amplitude do traço sísmico na posição H1 (Figura 27). Traço vermelho corresponde a camada dos 11,5m superiores e o traço azul aos 11,5m inferiores. 61 H2 H3 Figura 30 – Espectros de amplitude H2+H3 (Figura 27). Amplitude do sinal no ponto H2 do perfil corresponde ao traço azul e a amplitude do sinal no ponto H3 corresponde ao traço em vermelho. Para ambos os traços foram selecionados os primeiros 30m de sedimento. 62 7.9. PERFIL I Esse perfil localiza-se numa região de bottomset, possui caráter de eco do tipo SP, vários bancos de areia e algumas sand waves (Figura 31). Em algumas áreas é visível a progradação pretérita e recente dos sedimentos, o que mostra que os sedimentos são carreados para noroeste da foz do Amazonas e depositados no bottomset do delta submarino. Observa -se várias áreas sem penetração de sinal que podem estar ligadas à presença de gás disperso no sedimento. A Figura 32 apresenta a descrição dos sedimentos, reflectância e as propriedades físicas do testemunho à gravidade GeoB 3918-4 (Ficher, 1996) coletado durante a perfilagem. A profundidade da lâmina d’água é de 51 m e o comprimento do testemunho é de 4,84 m. Em toda sua extensão o pacote sedimentar apresenta argila, com bioturbação do sedimento menor que 30%. Há presença de bolhas de gás entre 36 e 46 cm. Abaixo de 1 m de testemunho não foi possível medir a velocidade da onda sísmica (Vp) devido a presença de gás metano. Análise de C-14 feita nos 4,5 m deste testemunho indicou uma idade de 1030 anos com erro de ± 40 anos. De acordo com estes dados do testemunho GeoB 3918-4, constata-se que ainda há a presença de gás nesta região distal da foz do Amazonas e provavelmente os sedimentos que estão progradando sobre os bancos são lamosos. Foi confeccionado um espectro de amplitude (Espectro I1) no mesmo ponto onde foi coletado o testemunho GeoB 3918-4 a fim de se verificar a presença de gás no sedimento, como apontado na descrição dos sedimentos deste testemunho (Figura 33). Analisando-se esse espectro observa-se que os primeiros 6 m de sedimento apresentam forte reflexão do sinal enquanto que os 6 m seguintes possuem uma atenuação do sinal muito grande, praticamente todo sinal é perdido, o que confirma a presença de gás inserida no sedimento nesta região como descrito em Fisher (1996). 63 PERFIL I N S 0m NíveldoMar 25m TipodeEcoSP GeoB3918-4 EspectroI1 50m 75m 100m 10km 10km II 0 4N 3918-4 N Figura 31 - Perfil sísmico I comlocalização do espectro I1 e dotestemunho GeoB3918-4 e mapa da área c o m a localização do perfil e do testemunho 0 2N 0 0 0 51W 4 90 W 4 70 W Mapa delocalização doPerfilI (—)edotestemunhoagravidade3918-4(!) Figura 32 - Descrição dos sedimentos e características físicas do testemunho à gravidade GeoB3918-4 (Ficher,1996). 65 Superior Inferior Figura 33 – Espectro de amplitude I1 (Figura 31). Traço vermelho corresponde a camada dos 6 m superiores e o traço azul aos 6 m inferiores a localização do gás. 66 7.10. PERFIL J O perfil J (Figura 34) apresenta um banco carbonático que ocorre como uma feição alongada na quebra da plataforma em torno de 125 m de profundidade, a offshore do Cabo Cassiporé, onde a plataforma continental se estreita. Segundo Figueiredo & Grossmann (2001), este banco refere-se a um recife carbonático cujo topo pode ser aplainado ou ondulado e uma característica comum é que os recifes agem como uma barreira para o sedimento que são transportados em direção ao talude. Um testemunho a gravidade (GeoB3920-2 (Fischer, 1996)) foi coletado ao final deste perfil e apresenta características bem distintas dos anteriores (Figura 35). A profundidade da lâmina d’água é de 128 m e o comprimento do testemunho é de 4,05 m. Os primeiros 20 cm de sedimento apresentam argila arenosa com fragmentos de concha, um fóssil e arenitos de praia (beach rocks). Em todo o testemunho a bioturbação do sedimento é menor que 30%. A partir dos 20 cm a litologia característica é de argila siltosa, há ainda fragmentos de conchas e fragmentos de arenito de praia até aproximadamente 1 m. Em torno dos 62 cm foram encontradas bolhas de gás. Laminações de areia foram encontradas em 90, 100, 120 e 136 cm. Observa-se que a densidade obtida através de raio-gama é bem baixa nas seções do testemunho onde ocorrem as laminações de areia. 67 PERFIL J SE NW 75 m 100m Banco carbonático GeoB3920-2 125m 150m 175m 10km J 3920-2 0 4N N Figura 34- Perfil sísmico J com localizaçãodotestemunho GeoB3920-2 e mapa da área com a llocalização doperfil e dotestemunho 0 2N 0 0 0 51W 0 49W 4 70 W Mapa delocalização doPerfilJ(—) e dotestemunho a gravidade3920-2(!) Figura 35 - Descrição dos sedimentos e características físicas do testemunho à gravidade GeoB3920-2 (Fischer, 1996). 69 CAPÍTULO 8 CONCLUSÕES O processamento dos dados sísmicos de Parasound possibilitou a interpretação de diferentes feições geológicas e de grandes extensões de sedimento carregado de gás no delta submarino do Amazonas. Com a ajuda dos espectros de amplitude confeccionados durante a etapa do processamento sísmico foi interpretada a presença de gás na maioria dos perfis, principalmente nas áreas mais proximais à foz e as mais distais da foz do Amazonas. O gás inserido no sedimento provoca uma perda de sinal bastante significativa, que é demonstrada nos espectros de amplitude. Conclui-se que o delta submarino do Amazonas é uma região que apresenta gás disperso no sedimento em quase toda sua extensão e a análise das amplitudes do sinal a partir de espectros de amplitude mostrou-se como mais uma ferramenta para a interpretação de perfis sísmicos, principalmente na detecção de gás. De acordo com estudos do Projeto Amasseds o gás encontrado na área é do tipo biogênico (gás metano) e de acordo com a interpretação dos perfis este pode ser encontrado tanto abaixo dos primeiros centímetros de sedimento quanto abaixo de uma camada de sedimentos maior, cerca de 5 a 8 metros. Nas áreas mais distais (perfis I e J) as ocorrências de gás ainda foram constatadas nos primeiros centímetros através da análise de dois testemunhos à gravidade coletados nessa área. A interpretação dos perfis demonstrou que existem três tipos de caráter de eco, classificados como: tipo S, tipo SS e tipo SP, que são comparáveis ao tipos IA, IB e IIA de Damuth (1975), respectivamente. Os tipos S e SS encontram-se na região do delta mais proximal à foz do Amazonas, enquanto que o tipo SP é mais encontrado na região distal. Foi possível também identificar várias feições geológicas, como a presença de paleocanal, vulcão de lama, sand waves, bancos de areia, 70 influenciados ou não pelos fatores oceanográficos atuantes na região. A morfologia do delta submarino também é bem caracterizada pelos perfis, podendo-se notar as três regiões distintas (topset, foreset e bottomset). A utilização do caráter de eco na interpretação da distribuição de fácies sedimentares, de gás inserido no sedimento e caracteri zação de ambientes de sedimentação tem sido uma ferramenta de grande importância para a geologia. 71 CAPÍTULO 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLER, R.C.; BLAIR, N.E.; XIA, Q. & RUDE, P.D. 1996. Remineralization rates, recycling, and storage of carbon in amazon shelf sediments. Continental Shelf Research, v.16(5/6), 753-786. AYRES NETO, A. 1994. 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Society of Exploration Geophysicists, 526p. 77 ANEXOS 78 Tabela 1 - Análise granulométrica dos Piston Cores do Projeto AmasSeds localizados na área de estudo Nº PC Latitude 4203 4203 4203 4203 4203 4203 4203 4203 4203 4203 4203 4203 4203 4203 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 2º,93 4205 4205 4205 4205 4205 4205 4205 4205 4205 4205 4205 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N Long. 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 49º,48 W W W W W W W W W W W W W W 50º,11 W 50º,11 W 50º,11 W 50º,11 W 50º,11 W 50º,11 W 50º,11 W 50º,11 W 50º,11 W 50º,11 W 50º,11 W Intervalo cascalho Areia Amostra(%) média gem grossa (%) 30-40 0.00 0.00 60-70 0.00 0.00 90-100 0.00 0.00 120-130 0.00 0.00 150-160 0.00 0.00 180-190 0.89 0.00 210-220 0.00 0.00 240-250 0.00 0.00 270-280 0.00 0.00 330-340 0.00 0.00 360-370 0.00 0.00 390-400 0.00 0.00 420-430 0.00 0.01 450-460 0.00 0.00 30-40 60-70 90-100 120-130 150-160 180-190 210-220 240-250 270-280 330-340 360-370 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 Areia grossa (%) areia média (%) areia fina (%) Silte (%) Argila Mediana Média (%) 0.05 0.03 0.04 0.04 0.00 0.03 0.00 0.00 0.06 0.05 0.07 0.17 0.04 0.08 Areia média fina (%) 6.03 2.32 4.94 4.77 6.05 4.33 0.77 1.88 0.94 7.75 2.17 5.75 0.52 0.69 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.02 0.00 0.04 0.03 0.02 0.03 0.00 0.01 0.00 0.00 0.00 0.02 0.00 0.01 0.02 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 Classificação 77.83 76.59 67.95 73.97 70.08 74.31 57.26 71.83 51.84 48.53 44.46 82.02 86.59 79.73 16.05 21.03 27.05 21.20 23.15 20.43 41.97 26.29 47.16 43.65 53.30 12.04 12.79 19.50 4.176 4.204 4.225 4.205 4.224 4.203 7.074 4.239 7.193 7.083 8.074 4.182 4.219 5.008 5.401 5.772 5.821 5.758 5.809 5.492 7.139 6.100 7.469 7.397 8.082 4.787 4.831 5.772 silte silte silte silte silte silte silte silte silte silte argila silte silte silte 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.07 0.02 0.08 0.11 0.11 0.07 0.06 0.07 0.12 0.11 0.05 51.79 40.88 34.23 41.66 50.20 38.31 43.28 39.14 28.80 28.98 32.89 48.14 59.10 65.69 58.23 49.69 61.62 56.66 60.79 71.09 70.91 67.07 7.236 8.047 8.073 8.041 7.245 8.054 8.033 8.220 9.030 8.197 8.082 7.203 7.478 7.469 7.460 7.761 7.459 7.462 7.543 8.721 8.136 7.510 silte silte silte silte silte silte silte silte argila argila silte 4205 4205 4205 4205 4205 4205 4205 4205 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 4206 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 03º,14 N N N N N N N N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 3º,23 N 50º,11 50º,11 50º,11 50º,11 50º,11 50º,11 50º,11 50º,11 W W W W W W W W 390-400 420-430 450-460 480-490 510-520 540-550 570-580 600-606 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.03 0.04 0.04 0.05 0.02 0.02 0.04 0.08 28.40 25.47 29.61 31.72 29.63 39.24 38.14 30.50 71.58 74.50 70.35 68.23 70.35 60.74 61.82 69.42 9.090 8.091 9.051 9.087 9.025 8.183 8.052 9.023 8.487 7.793 8.409 8.746 8.706 7.876 7.749 8.703 argila silte argila argila argila silte silte argila 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 W W W W W W W W W W W W W W W W W W W W W W W W 30-40 183-190 210-220 240-250 270-280 300-310 330-340 360-370 410-420 470-480 500-510 530-540 550-560 570-580 600-610 630-640 660-666 680-690 700-710 730-740 760-768 790-800 820-830 850-860 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.03 0.16 0.08 0.10 0.24 0.08 0.76 0.05 0.05 0.09 0.05 0.05 0.66 0.04 0.14 0.00 0.27 0.19 0.06 0.17 0.13 0.04 0.05 0.15 50.92 52.47 57.67 74.63 61.83 53.62 60.46 50.70 47.82 47.28 23.90 36.47 50.86 44.38 34.33 70.03 52.02 53.54 46.44 48.69 56.20 39.24 40.88 37.29 49.05 47.37 42.25 25.27 37.93 46.30 38.78 49.26 52.13 52.62 76.05 63.48 48.48 55.58 65.53 29.97 47.71 46.27 53.50 51.13 43.67 60.72 59.07 62.56 7.241 7.219 7.170 6.248 7.045 7.206 7.107 7.242 8.039 8.051 8.077 8.216 7.227 8.109 8.123 5.248 7.208 7.196 8.060 8.021 7.142 8.185 8.152 8.211 7.453 7.475 7.466 6.517 7.363 7.765 7.371 7.809 8.076 8.371 8.469 7.522 7.477 8.102 8.079 6.773 7.455 7.473 8.115 8.033 7.147 8.453 8.440 8.467 silte silte silte silte silte silte silte silte argila argila argila silte silte argila argila silte silte silte argila argila silte argila argila argila 4206 4206 4206 4206 4206 3º,23 3º,23 3º,23 3º,23 3º,23 N N N N N 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 49º,86 W W W W W 880-890 910-920 940-950 980-990 10001010 10301040 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.07 0.11 0.33 2.11 4.86 42.73 43.42 42.37 43.94 68.42 57.20 56.47 57.31 53.94 26.71 8.154 8.123 8.136 8.094 7.048 8.430 8.419 8.116 8.105 6.466 argila argila argila argila silte 4206 3º,23 N 49º,86 W 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