Introdução É fato conhecido às transformações ocorridas na pecuária de corte nos últimos anos, principalmente com relação a sua rentabilidade, de altos e baixos. Comenta-se muito sobre os avanços tecnológicos, mas que na prática muito pouco de concreto se observa em termos produtivos, onde o enfoque principal se traduz no marketing comercial. De concreto, o que tem ocorrido (em pequena escala, infelizmente) é a mudança de comportamento empresarial por parte dos produtores, principalmente no gerenciamento, e isto é o primordial para o setor, onde a palavra chave é aumentar o giro da atividade, isto para quem quiser permanecer sadio economicamente na atividade. Deste modo, a alimentação continua sendo a forma mais rápida no objetivo de aumentar giro de terminação na pecuária de corte. O atendimento dos requerimentos nutricionais dos bovinos a pasto para máximas performances é um desafio, onde a energia é o fator limitante, não só pelo aspecto quantitativo como também pelo alto custo da suplementação. Uma das formas de aumentar a energia da dieta está na manipulação do padrão de fermentação ruminal, onde a forma na qual o ruminante digere o alimento permite uma flexibilidade na eleição de seus ingredientes. Foto 1 – A manipulação da fermentação ruminal é uma alternativa interessante para a redução de perdas da energia através da produção do gás metano, e assim, diminuir ainda mais a idade de abate.Agropecuária Bama-Juara-MT. Através de uma cadeia de eventos, os microrganismos do rúmen convertem os alimentos em três (3) principais ácidos graxos voláteis, o acético, o propiõnico e o butírico. Estes ácidos são absorvidos através da parede do rúmen e são usados como energia para manutenção e crescimento. Na produção do ácido acético existe liberação de dióxido de carbono e gás metano (CH4), o que representa considerável perda de energia, da ordem de 7 a 8 %, muito alto em termos econômicos. Dietas baseadas a pasto, o substrato básico é a celulose, onde a sua digestão por bactérias celulolíticas resulta na produção de ácido acético, que será tanto maior quanto pior for a qualidade do volumoso. Deste modo, o objetivo é o aumento na produção do ácido propiõnico, com redução da produção do gás metano, de modo a se ter maximização da energia da dieta. Neste campo da nutrição que entra o uso dos chamados ionóforos. Definição e atuação dos ionóforos Ionóforos são substancias produzidas por fermentação de microrganismos (streptomyces), classificados como antibióticos poliésteres, mas possuindo atividade específica, ou seja, agem seletivamente sobre a flora ruminal. Assim, sua atuação ocorre mais intensivamente sobre as bactérias gram positivas e em conseqüência, aumenta a concentração das bactérias gram negativas. Os ionóforos aumentam a permeabilidade da membrana aos íons, especialmente o potássio e o hidrogênio e em menor grau o cálcio e o sódio. As principais funções dos ionóforos são o aumento da concentração do ácido propiõnico, com redução do acético e butírico. Ocorre também redução na produção do metano e do ácido láctico, promovendo assim melhoria de eficiência do uso da energia bem como auxilio na prevenção da acidose em bovinos confinados. Outro efeito do uso dos ionóforos reside na redução da velocidade de passagem dos alimentos pelo trato digestivo, aumento da digestibilidade da fibra, diminuição da degradabilidade da proteína. Alguns trabalhos concluem a ação dos ionóforos sobre o metabolismo mineral, com aumento da absorção do fósforo, sódio e do magnésio. Também se verifica aumento dos níveis séricos de zinco e de cobre em novilhos suplementados com o ionóforo lasalocida sódica. Um outro efeito do ionóforo reside no controle da coccidiose, uma enfermidade produzida por protozoários, a qual pode representar um problema sério em algumas regiões. Devido que a coccidiose resulta em anorexia (diminuição do consumo de alimentos), algumas vezes a resposta ao uso dos ionóforos pode ser confundida às mudanças no processo fermentativo ou ao controle da coccidiose. Respostas ao uso dos ionóforos Efeito sobre o padrão de fermentação ruminal Quadro 1 Mudanças nas taxas de produção de ácidos graxos voláteis (mM/dia) ........................................................................................................................................... Ionóforo(ppm) Ácido acético Ác. Propiõnico Ác. Butirico Gás Metano (ppm) ............................................................................................................................................ 0 41,0 9,7 5,4 18,6 0,5 35,6 13,0 4,3 14,7 1,0 33,9 13,7 3,2 15,2 5,0 33,0 14,6 2,2 8,5 10,0 27,8 15,1 3,1 8,5 Fonte: Simpósio Elanco, 1992. Quadro 2- Valores médios do líquido ruminal de novilhas suplementadas a pasto com ionóforo lasalocida sódica. Itens Lasalocida Controle pH 6,5 6,6 Ácido acético (% molar) 62,0 a 65,0 b Ácido propiõnico 26,0 a 22,0 b Ácido butirico 12,0 13,0 Metano 30,5 a 51,5 b Fonte: Campos Neto & Chagas (1990) O potencial dos ionóforos sobre a eficiência alimentar em bovinos confinados é bem conhecido, com respostas de 0 a 18 %. Goodrich e colaboradores, citados por Nardon(1997), revisando trabalhos sobre a influencia da monensina sódica no desempenho de bovinos, mostra que os animais suplementados ganharam 1,6 % e consumiram menos alimento em 6,4 %, num total de 228 experimentos. O efeito depressor sobre o consumo de alimentos, se positiva em dietas de confinamento (melhor conversão alimentar), tem que ser considerado quando na utilização a pasto, associado ao suplemento mineral, pois esta depressão no consumo do mineral pode limitar o ganho dos animais. Deste modo, quando se utilizar a monensina em associação ao mineral, agregar fontes vegetais (palabilizantes), de modo a não interferir no consumo do mineral. Efeito dos ionóforos em dietas de confinamento A literatura mostra que em dietas de alta densidade energética, a utilização dos ionóforos reduz o consumo de alimentos sem contudo causar redução no ganho de peso. Portanto, isto é de interesse econômico, pois melhora a conversão alimentar. No entanto, diversos trabalhos mostram respostas positivas também no ganho de peso, principalmente quando o ionóforo é a lasalocida sódica, especialmente na fase de adaptação dos animais à dieta. Foto 2- Animais Zebuínos são mais sensíveis a dietas com alto teor de carboidratos solúveis, e assim, os ionóforos auxiliam na prevenção da acidose lática.Faz.Reunidas-Lins-SP. Quadro 3 Desempenho de bovinos confinados suplementados com Monensina. Itens Controle Monensina Número de animais 5696 5578 Peso inicial em Kg 284 283 Peso final em Kg 430 432 Monensina (mg/cab/dia) -- 246 Ganho de peso ( Kg/cab/dia) 1,09 1,10 Consumo de MS ( kg/dia ) 8,27 7,73 Kg de MS / Kg de ganho 8,09 7,43 Fonte: Goodrich (1984) Com relação ao uso da lasalocida sódica, uma revisão de trabalhos, Horton (1987) apresenta resultados de performance, onde o ganho de peso foi aumentado em 6,5 % e a conversão alimentar superior em 10 % . Quadro 4- Efeito da lasalocida sódica em bovinos confinados, em dietas com alto teor de grãos (revisão). Trabalhos (autor) Ganho diário ( Kg ) Conversão ( Kg/Kg MS) Controle Lasalocida Controle Lasalocida 1-Kuhl (1980) 1,47 1,53 7,63 7,00 2-Owens&Gill( 1982) 1,57 1,65 5,75 5,27 3-Mader( 1984) 1,37 1,42 7,56 7,16 4-Brown (1979) 1,01 1,09 8,21 7,22 5-Berger (1981) 1,02 1,14 8,19 7,37 6-Brandt (1981) 1,16 1,18 9,04 8,15 7-Hinman(1983) 1,08 1,23 7,50 6,98 8-Lomas (1983) 1,33 1,34 9,09 7,68 Quadro 5 Efeito da lasalocida sódica em dietas de confinamento com alto teor de Volumosos. Trabalhos Ganho diário (Kg) Conversão (Kg / Kg MS) Controle Lasalocida Controle Lasalocida 1-Nelson ( 1983 ) 1,22 1,28 8,43 7,67 2-Hinam (1983 ) 0,74 0,80 10,60 9,22 3-Thonney ( 1981) 0,61 0,73 14,25 11,44 4-Boling ( 1983 ) 1,11 1,26 9,37 7,38 5-Horton ( 1984 ) 0,81 0,96 10,47 9,66 Média + 10 % - 13 % Alguns aspectos importantes, relacionados ao uso dos ionóforos é aquele relacionado com a alta incidência de um distúrbio metabólico, a acidose, principalmente em dietas com alto teor de concentrados. A acidose é decorrente de uma queda do pH ruminal, resultando em rumenite (engrossamento e inflamação das papilas ruminais, o que permite a passagem de bactérias para a corrente sangüínea causando os chamados abscessos de fígado. Os ionóforos, possuindo ação sobre o ácido láctico, contribui para o auxílio na prevenção deste distúrbio). Quadro 6- Efeito da lasalocida sódica sobre a performance de bovinos em confinamento e incidência de abscessos de fígado. Itens Controle Lasalocida ( 200 mg/cab/d) Ganho de peso ( Kg/dia) 1,212 1,293 Kg Ganho/Kg MS 8,62 7,75 Incidência de abcessos A + A – Fonte: Stock (1988) A + Presença de 6 a 7 grandes abcessos A - Presença de 1 a 2 pequenos abissos Foto 3- A consistência das fezes é um indicativo de um bom metabolismo. As mesmas quando caem, fazem barulho característico, de ploft, ploft. É isto mesmo? Faz.Reunidas-Lins-SP. Efeito dos ionóforos sobre a performance de bovinos a pasto São poucos os trabalhos sobre o uso de ionóforos para bovinos em pastejo. No entanto, os dados existentes são bastante promissores, principalmente se relembrarmos a atuação destes em dietas com alto teor de celulose. Quadro 7- Efeito da Lasalocida sódica em bovinos a pasto, com diferentes doses. Itens Lasalocida (mg/cab/dia) 0 50 100 200 300 Ganho diário (Kg/dia) 0,59 a 0,60 a 0,63 b 0,66 c 0,65 b Resposta (%) -- 3 7 13 11 Fonte: Miller (1984) Quadro 8 - Efeito do ionóforo Lasalocida sobre o ganho de peso de bovinos em pastejo e padrão de fermentação ruminal. Itens Controle Lasalocida Ácido propionico 22 a 26 b Metano 51 a 31 b Ganho de peso ( g / d ) 440 a 510 b Fonte: Campos Neto & Chagas (1990) Quadro 9 Efeito do ionóforo Lasalocida sobre o ganho de peso de bovino a pasto ( Brachiarão), município de Juti-MS. ITENS Controle Lasalocida Peso inicial (Kg) 325 328 Ganho de peso período (Kg) 105 122 Ganho diário (g / d) 683 794 Consumo de mineral (g/cab/d) 48 45 Consumo de lasalocida( mg/cab/d) -- 170 Fonte: Tayarol Martin & Chagas (1999) Foto- Fêmeas em engorda na Fazenda São Luiz, em Jatei, MS, recebendo energético com ionóforo, e ganho de 800 gramas / dia. Trabalho de Oliveira e colab, citados por Nardon (1997), não encontrou resposta significativa no uso da monensina em novilhos nelore, em pastagem de capim colonião, durante 150 dias de uso. No entanto, os autores relatam que houve resposta positiva apenas nos primeiros 50 dias de uso. A hipótese para este fato, é que o suprimento de monensina ocorreu na forma de bolus no rúmen, talvez com ação apenas neste período inicial. Um outro trabalho, Rode et alii (1994), mostra efeito positivo no ganho de peso de novilhas, da ordem de 14,5 % . Uma estratégia de utilização dos ionóforos consiste no monitoramento da condição corporal de novilhas e vacas antes do parto, pelo conhecimento da inter-relação entre condição corporal e fertilidade pós-parto. Deste modo, quando necessário (baixa condição corporal), deve-se fazer uso dos ionóforos associados ao suplemento mineral ou ao proteinado, quando no período da seca. Autores, como Thomas (1998), afirmam que o ionóforo isoladamente corresponde a um consumo de cerca de 300 gramas de N.D.T, e isto representa 400 gramas de milho. Foto - Novilhas de reposição recebendo ionóforos via suplemento mineral. Fazenda Primavera, Ribas do Rio Pardo, MS. Considerações sobre o uso dos ionóforos Maximizar o ganho de peso dos bovinos em pastejo é fundamental para a produtividade, tendo em vista a necessidade de aumentarmos o giro do negócio. Runsey (1983), afirma que o uso de aditivos foi responsável pelo aumento de 18 % na produção de carne nos Estados Unidos. Os ionóforos fazem parte desta relação de aditivos. Isto nos indica uma reflexão sobre seu uso, não só pelo aumento da produção isoladamente, mas principalmente relacionado à redução do custo de produção. Deste modo, os ionóforos podem e devem ser inclusos à dieta dos bovinos, de acordo com a modalidade de suplementação, quer seja adicionado ao suplemento mineral, ao energético, nas rações de semiconfinamento ou de confinamento. Os ionóforos, em qualquer modalidade de uso, devem ser calculados para fornecer 0,5 mg/Kg de peso vivo (princípio ativo). Quando usado ao suplemento mineral, o consumo da mistura deve ser bem quantificado, de modo a se ter exatidão no fornecimento do mesmo. Finalmente, cita-se que os ionóforos encontrados no Brasil, comercialmente, são o Taurotec (Lasalocida sódica) com 15 % do princípio ativo e o Rumensin (Monensina sódica), com 10 % do princípio ativo, e a Salinomicina com 12 %. Sugere-se ao produtor, que consulte um profissional para uma adequada utilização destes magníficos promotores de crescimento. Lamentavelmente, nosso governo através do Ministério da Agricultura, não permite que animais que são destinados à Europa, possam ser suplementados com os ionóforos. Para o mercado interno pode. O porque disto? Desconhecimento ou simplesmente aceitação de uma pura barreira comercial. Nutricionistas não podem concordar com isto. Não existe explicação científica para tal proibição, pois não existe no mercado, antibiótico de uso humano cuja base seja dos ionóforos citados. Não se iludam, agora são os ionóforos, depois virão outras barreiras contra nossa carne. Esperem para ver. Luiz Carlos Tayarol- Zootecnista- MS