Mini Paper Series Ano 10 o Julho, 2015 – N 239 Planeta anão, mas Big Data Kiran Mantripragada o dia 14 de março de 1930, Venetia Burney (1918-2009), uma garotinha de 11 anos que vivia em Oxford, Inglaterra, ouvia atentamente uma novidade que a sua avó contava enquanto lia a revista The Times: um cientista americano chamado Clyde Tombaugh (1906-1997) acabara de descobrir um novo planeta no nosso Sistema Solar. Imediatamente a menina pensou que esse planeta deveria se chamar Plutão (ou Pluto no Inglês), pois esse era o nome romano do deus das profundezas, que tinha a habilidade ímpar de se fazer invisível. Sua avó, concordando que esse seria um nome muito adequado, enviou a sugestão para os cientistas do laboratório onde Clyde Tombaugh trabalhava. O nome sugerido agradou prontamente o time de Clyde, pois além de representar muito bem o novo planeta, havia as iniciais do nome Percival Lowell (1855-1916), que previu matematicamente a existência de um Planeta X (como são chamados os hipotéticos corpos transnetunianos, ou que estão além de Netuno). Oitenta e cinco anos depois estamos testemunhando um evento de extrema importância, não somente para a astronomia, mas para todos os ramos da ciência. Uma missão da NASA chamada New Horizons chegou muito próximo de Plutão. Em 2006, justamente no ano em que Plutão foi rebaixado e passou a ser chamado de planeta anão (dwarf planet), a sonda New Horizons foi lançada. Ela passou todo esse tempo cruzando o Sistema Solar e agora os seus objetivos de fotografar, medir e coletar informações diversas sobre Plutão, foram finalmente alcançados. A pequena nave espacial carrega consigo sete sensores: Alice, um espectrômetro ultravioleta para se tentar determinar a composição e a estrutura da atmosfera de Plutão; LORRI, uma câmera CCD (Charge-Coupled Device) pancromática de alta-resolução; Ralph, uma câmera multiespectral na faixa de luz visível e infravermelho; REX, um sensor de rádio que permitirá medir temperatura e pressão da atmosfera de Plutão; SDC, um detector de grãos de poeira cósmica produzidos por asteroides e cometas; PEPSSI, um espectrômetro para detecção de partículas; e finalmente SWAP, um detector de plasma para medir a influência do vento solar nas vizinhanças de Plutão. Esses instrumentos passaram por períodos de coleta durante a viagem e também por grandes períodos de hibernação, salvando energia para o momento crucial: o sobrevoo em Plutão. N Apesar de levar quase dez anos para chegar até Plutão, a New Horizons tem pouco tempo para fazer toda a sua coleta. Estima-se que o período que vai desde a aproximação, a entrada e até a saída da órbita de Plutão, é de cerca de cinco meses com apenas cinco horas de sobrevoo no ponto mais baixo. Nesse tempo total a New Horizons deverá armazenar mais de 60 gigabits de dados. Em função da distância entre a Terra e o extremo do Sistema Solar, qualquer mensagem enviada para a sonda ou qualquer dado enviado para a Terra leva cerca de quatro horas e meia para viajar o espaço e encontrar o destinatário. Em outras palavras, para qualquer comando enviado para a New Horizons, deve-se esperar quase cinco horas até que a ação se efetive e mais cinco horas para receber o resultado de tal ação, num total de quase dez horas entre o envio e o recebimento do sinal de “acknowledge”. Além disso, a taxa de transmissão média da New Horizons é de 2 Kbps, podendo chegar a picos de 38 Kbps. Assim, estima-se que a transmissão dos 60 gigabits para o planeta Terra, deverá levar cerca de um ano e meio. Depois de Plutão a sonda ainda deverá visitar o Cinturão de Kuiper (ou Kuiper Belt), uma aglomeração de poeira congelada em formato de anel, “próxima” de Netuno. Apesar de um pequeno susto poucas semanas antes da aproximação, os técnicos testaram os equipamentos e tudo está em ordem, inclusive os sistemas de redundância. Os cientistas aguardaram ansiosamente a chegada da New Horizons ao ponto mais próximo do gelado “planeta anão”, sendo que nesse momento a sonda fez o sobrevoo a apenas 12.500 quilômetros acima da superfície. No dia 14 de Julho de 2015, quase dez anos depois do lançamento, pudemos acompanhar de perto esse histórico feito científico. Agora cabe-nos esperar, torcer e até contribuir para que muitas descobertas possam ser feitas a partir desse Big Data espacial. Eu já estou de olho nas próximas notícias da NASA e você? Para saber mais IEEE Spectrum Magazine Jul/2015 New Horizons – NASA http://pluto.jhuapl.edu/Mission/index.php Kiran Mantripragada é Research Engineer no IBM Research | Brasil, com cerca de 20 anos de experiência em Tecnologia da Informação. É Mestre em Engenharia de Computação e Doutorando em Engenharia Mecatrônica pela USP. Kiran é membro do TLC-BR desde 2009. O Mini Paper Series é uma publicação quinzenal do TLC-BR e para assinar e receber eletronicamente as futuras edições, envie um e-mail para [email protected].