JORNAL DO POLÍTICA POVO 5 n Sexta-feira, 19 de setembro de 2003 n t PREFEITURA Excesso de horas está privilegiando professora GIULIANO FERNANDES A ex-diretora da Apae, Deise Bess Pereira, está prestes a incorporar uma gratificação de 50% ao seu salário de professora municipal, engordando o contracheque em cerca de R$ 500,00, mas vai ter que superar dois obstáculos. O primeiro, e o mais alto, é a suspeita levantada pela vereadora Dina Marilú (PCdoB): a professora teria adulterado sua efetividade e lançado em proveito próprio cerca de 400 turnos extras de trabalho. Com este lastro, a ex-diretora da Apae estaria teoricamente ainda exercendo a função, sete meses depois de ter sido destituída. O segundo obstáculo é burocrático. Tânia ingressou com um processo administrativo na Prefeitura reivindicando o direito às horas extras. A dificuldade vai aparecer se a atual diretora da Apae, Ione Santos da Rosa, for consultada. Ela vai contestar o superfaturamento de horas e denunciar o acúmulo como irregular. Em outubro, Tânia Pereira vai completar cinco anos na função de diretora da Apae (contando os sete meses de compensação), período que lhe dá o direito de incorporar ao salário a gratificação para trabalhar com crianças especiais. Ontem, Dina Marilú confirmou que está preocupada com a situação e que por isso pediu informações oficiais ao Governo. "Podemos estar diante de uma imoralidade", justifica a vereadora, impressionada com o excesso de horas lançado pela ex-diretora em seu próprio benefício. Tânia deixou o cargo em março, ficou em licença por cerca de três meses por conta de horas extras acumuladas e em junho foi relotada na Biblioteca Pública. Sua substituição por Ione Rosa na Apae foi a pedido do presidente da entidade, Joaquim Casarin, numa transição que nunca foi muito bem explicada. A princípio, segundo o JP noticiou na época, Tânia teria entrado em férias e Ione era uma mera substituta provisória. Apae e Prefeitura demoraram muito a confirmar que houve uma troca de diretoria. Agora sabe-se o porquê. Dina Marilú está quase convencida que as horas foram lançadas irregularmente, já com a intenção de dar uma sobrevida que permitisse alcançar o período de cinco anos necessário para a incorporação da gratificação. A desconfiança da vereadora ganha envergadura com a postura da atual diretora Ione. Ela confirma as irregularidades dos créditos e que sua antecessora já gozou as folgas a que tinha direito. “Os turnos que estão sendo pedidos são irregulares, embora tenham sido autorizados pelo presidente da Apae, Joaquim Casarin”, disse Ione. REVISÃO - Joaquim Casarin alega que a professora Tânia sempre foi de sua confiança, mas que as informações podem ser revistas se estão sendo contestadas. “Não lembro desta documentação e acredito que todos os créditos da ex-diretora já foram compensados”, observa. Segundo Ione, o último mês de fevereiro, que teve 22 dias úteis, teria rendido para a professora Tânia 96 turnos de trabalho. "Os cálculos são um verdadeiro absurdo”, acusa. Tânia foi alertada pelo JP que a notícia seria publicada e convidada a dar sua versão, mas preferiu não falar. OS PERSONAGENS FOTOS ARQUIVO JP t CPI Marli Hunoff depõe hoje sobre cemitérios A ex-administradora do Jardim da Paz, Ana Marli Hunoff, irá depor hoje, às 10h, na CPI que investiga denúncias de irregularidades na administração dos cemitérios de Cachoeira do Sul. O depoimento será no plenário da Câmara de Vereadores. Ana Marli é acusada pela funcionária pública Lorenita Lopes Simões, que desde março de 1997 é servente no Cemitério Jardim da Paz, de irregularidades no sistema de arrecadação de pagamento de contribuintes. Lorenita afirmou na CPI que entregou ao prefeito Pipa Germanos recibos de anuidades e locação de capelas que foram encontrados TÂNIA: compensação de horas até a incorporação ZIMMER (C) NA CPI: erro de transcrição alterou versão DINA: fiscalização CASARIN: sem saber PARA ENTENDER MELHOR O que está acontecendo ■ Conforme as investigações de Dina, a ex-diretora teria acumulado ao longo de pouco mais de quatro anos de atividade na Apae cerca de 400 turnos de trabalho para compensar com folgas. ■ A direção da Apae admite que os créditos da ex-diretora chegam apenas à metade, cerca de 200, e já teriam sido compensados. ■ Tânia está movendo um processo administrativo para garantir a compensação que ela alega ter direito e que não foi reconhecida pela Apae. ■ O processo administrativo movido pela professora Tânia Pereira deverá ser repassado nos próximos dias para a procuradoria jurídica, que dará um parecer sobre o desencontro dos cálculos de créditos. ■ Segundo o advogado Léo Zahn, a Prefeitura poderá pedir a conferência dos créditos para apontar exatamente quantos turnos ainda devem ser compensados ou se a compensação já feita foi suficiente. ■ O processo foi protocolado em 13 de junho. Tânia requer cerca de 200 créditos que foram gerados e não compensados quando ela esteve lotada na Apae. Além desta hora extra, a professora Tânia já compensou nos meses de março, abril, maio e junho os créditos que foram reconhecidos pela diretoria da Apae. no lixo do escritório da administração. Os documentos comprovariam que Ana Marli jogava fora os papéis para ficar com os recursos. A presidenta da CPI, vereadora Dina Marilú (PCdoB), prefere não comentar sobre o que os depoentes estão relatando aos vereadores. “Eu e os demais membros da comissão decidimos por não nos manifestar, até porque não mantemos sigilo sobre o teor dos depoimentos”, justificou. Ontem, porém, ela admitiu que os depoimentos e provas recolhidos podem ser suficientes para que as irregularidades sejam denunciadas ao Ministério Público. VANDRÉ MARTIN Vereadora suspeita de manobra IONE: horas são demais SOUZA: inédito Importante O professor e vereador Paulo Souza, presidente do Sindicato dos Professores Municipais (Siprom), disse ontem que é inédito no quadro do magistério este volume de créditos acumulados e também a forma como eles foram compensados (em dias seguidos até completar quatro meses). Na próxima reunião do conselho, dia 25, o assunto será discutido. “Não vamos aceitar privilégios para um ou outro professor”, antecipou Paulo Souza. Importante O ex-administrador do Cemitério Municipal, Luiz Zimmer, entrou em contato com o JP para esclarecer que os funcionários do cemitério não procuravam as famílias para negociação de terrenos, como foi publicado na edição de ontem. Ele entende que houve um erro na transcrição da pergunta que lhe foi feita pela CPI, mesmo documento que baseou a notícia. T RIBUNA Giuliano Fernandes Ceasa Sul A reunião dos cachoeirenses em Porto Alegre para oficializar na Assembléia Legislativa e no Governo do Estado o interesse pela instalação da Ceasa Sul em Cachoeira será no próximo dia 2. A primeira proposta era fazer a mobilização na capital na próxima quinta-feira, mas nesta data os deputados não poderiam atender. A mobilização pelo investimento está sendo liderada pela Câmara Municipal. A Ceasa Sul deverá ser instalada na localidade do Piquiri, entre a Vila Jardim Todesmade e o Posto Shell. A implantação depende da Secretaria Estadual de Agricultura e precisa da aprovação da Assembléia Legislativa, que deverá votar este projeto no próximo mês.