GESTÃO RURAL COMO AGENTE DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
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POSTER-Agricultura Familiar e Ruralidade
MAYKELL LEITE DA COSTA; ANDREA CRISTINA DÖRR; MARCOS ALVES DOS
REYS.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, SANTA MARIA - RS - BRASIL.
GESTÃO RURAL COMO AGENTE DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
RURAL MANAGEMENT AS AGENT OF REGIONAL DEVELOPMENT
Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar e Ruralidade
Resumo
A agricultura familiar contribui para geração de renda e desenvolvimento. Por outro lado,
pobreza e desigualdades no meio rural contribuem para o êxodo rural e degradação ambiental.
Neste contexto, o crescimento da competição em mercados contribui para que consumidores
passem a exigir produtos diferenciados e com qualidade. Esta exigência acaba por representar
a abertura de novos nichos de mercado para a agricultura familiar cujas especificidades estão
relacionadas a aspectos organizacionais e de gerenciamento. Este trabalho caracteriza a gestão
das propriedades de agricultores familiares em Santa Rosa/RS e estuda a difusão do
conhecimento de gestão pela extensão rural.
Palavras-chave: Gestão Rural; Agricultura Familiar; Desenvolvimento Regional
Abstract
Family farming contributes to income generation and development. On the other hand,
poverty and inequality in rural areas contribute to the rural exodus and environmental
degradation. In this context, the growth of competition in markets contributes to the fact that
consumers will require differentiated products and with quality. This requirement will
eventually represent an open up of new market niches for family farming whose specificities
are related to organizational and management aspects. This work intends to study the
management of family farmers’ properties in Santa Rosa/RS and the diffusion of management
knowledge for rural extension services.
Keywords: Rural Management; family farming; regional development
1 INTRODUÇÃO
A agricultura familiar colabora significativamente para a produção de alimentos, para a
geração de renda e para o desenvolvimento de todas as regiões do Brasil, tendo papel
fundamental no agronegócio1 brasileiro. Estas propriedades rurais se caracterizam pelo fato
1
De forma equivocada, o termo agronegócio vem sendo utilizado para designar a agricultura empresarial
realizada em grande escala. Este equivoco é cometido tanto por leigos como no âmbito acadêmico. Contudo a
1
dos trabalhos serem executados em sua maioria utilizando mão-de-obra familiar. Segundo o
Censo Agropecuário dos anos de 1995-1996, existem mais de quatro milhões de propriedades
consideradas de agricultura familiar, estas contribuem para gerar quase a metade do valor
bruto da produção agropecuária brasileira, além disso, empregam cerca de 80% dos
trabalhadores rurais (BUIANAIN, 2002).
Apesar da importância da agricultura familiar para a geração de renda, para o
desenvolvimento das regiões, na conservação da cultura e para a permanência do homem no
campo, a pobreza e as desigualdades no meio rural contribuem para o êxodo rural, agravando
ainda mais as condições de vida nas cidades. Neste sentido, a questão agrícola é ligada à
questão agrária que por sua vez tem reflexos sobre a criminalidade e precárias condições de
vida nos centros urbanos. Essas condições de desigualdade e pobreza são conseqüência de
fatores bióticos, clima e pragas, e de fatores econômicos. Os fatores relacionados a
características do mercado, cada vez mais competitivo, são diretamente influenciados pela
gestão aplicada nas propriedades rurais (COSTA et al, 2009).
O crescimento da competição em mercados cada vez mais globalizados significa
pressão pela redução dos custos de produção e eficiência produtiva, além disso, devido à
diversidade de produtos e serviços oferecidos, contribui para que os consumidores passem a
exigir produtos diferenciados e com melhores padrões de qualidade. Essa busca por produtos
com características diferenciadas, por sua vez, acaba por representar a abertura de novos
nichos de mercado para a agricultura familiar. Essa abertura pode se dar através da produção
de produtos orgânicos, socialmente responsáveis e ainda produtos certificados, sendo que tais
produtos têm uma demanda crescente, principalmente por parte de consumidores de maior
poder aquisitivo, o que contribui para o aumento do valor agregado. Além disso,
concomitantemente, agricultores familiares podem produzir produtos de menor valor
agregado, como soja, milho, leite entre outros, de forma competitiva e com maiores taxas de
rentabilidade. Por outro lado, apesar da abertura de novos mercados ser um fator benéfico
para a agricultura familiar, os mesmos mercados globalizados que oferecem oportunidades de
novos nichos, geram grandes desafios para os produtores rurais, seja em aspectos produtivos,
tecnológicos, como também na eficiência gerencial das propriedades familiares.
De acordo com Lourenzani et al. (2008), a gestão rural é idealizada como um conjunto
de atividades (planejamento e controle da produção, marketing, custos, logística,
comercialização, entre outros). O desempenho das propriedades rurais familiares varia
grandemente, e isto está relacionado com a posse das chamadas vantagens competitivas
(LANGEMEIER e MORGAN, 2003). Uma vantagem competitiva relacionada à gestão, pode
ser definida como a presença de desempenho financeiro consistente e maior que a média das
empresas/propriedades rurais de seu setor ao longo do tempo (VASCONCELOS e BRITO,
2004).
Neste sentido, é preciso considerar, ainda, as especificidades da agricultura familiar,
estas podem estar relacionadas a aspectos organizacionais e de gerenciamento (TEDESCO,
1999). Assim, os profissionais que trabalham com a assistência voltada à agricultura familiar
precisam conhecer as características específicas das comunidades que atendem, utilizando
metodologias e instrumentos adequados para a gestão eficiente, levando a um aumento da
renda e de qualidade de vida dos produtores familiares e das regiões.
expressão não tem este significado, sendo que, o Agronegócio é caracterizado pelas operações de produção,
processamento, armazenamento e distribuição de produtos agropecuários e de itens elaborados a partir destes.
2
Destaca-se que se tem dado pouca ênfase à capacitação gerencial dos agricultores
familiares, de forma a promover a inserção destes no agronegócio nacional. Segundo Batalha
et al. (2002), vários trabalhos, envolvendo projetos de desenvolvimento rural, têm
demonstrado deficiências gerenciais nos agronegócios familiares, o que reduz os ganhos e o
desenvolvimento sustentável. Esses dados justificam a necessidade de estudos que busquem
conhecer a realidade de gerenciamento das propriedades de agricultura familiar, bem como a
busca de alternativas para melhorar ou mesmo implantarem uma gestão adequada a realidade.
Nesse sentido, o presente trabalho buscou analisar a existência, bem como qual o tipo de
gestão existente nas propriedades de agricultores familiares no município de Santa Rosa/RS.
Em seguida foi realizado um levantamento, juntamente com esses agricultores, acerca de
alternativas para um gerenciamento adequado das propriedades visando uma melhoria nas
condições de renda, eficiência e desenvolvimento rural.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Considerando que os mercados estão cada vez mais competitivos, se faz necessário
produzir com custos cada vez menores e com maior qualidade (MINOZZO, 1999). Essa
realidade é percebida de igual maneira nos sistemas agrícolas, tanto empresarial quanto
familiar, ainda mais ao se considerar que a agricultura familiar responde por quase a metade
da produção agrícola brasileira. Assim, tem de se tornar claro para os gestores, tanto públicos
quanto privados, que a competitividade deste seguimento somente será alcançada através da
adoção de práticas que estimulem a cooperação entre os agentes econômicos das cadeias
produtivas, e ainda entre estes e as instituições governamentais.
Estudiosos de diversas correntes de pensamento admitem que para fortalecer a
agricultura familiar é necessário agregar valor aos seus produtos. Isso pode ser conseguido de
diversas maneiras, sendo estas relacionadas ao desenvolvimento e comercialização de
produtos que exaltem características como: o caráter social da agricultura familiar; o local
onde estes são produzidos; características produtivas, como a utilização de práticas orgânicas;
entre outras. Contudo, para viabilizar estas oportunidades é necessário a capacidade de
inovação e de uma gestão eficaz das propriedades rurais (BATALHA et al, 2004).
Em sistemas agrícolas, a inovação é atribuída muito mais as novas tecnologias de
produção. Assim, a maior parte da pesquisa e desenvolvimento voltadas para o setor
agropecuário, tanto empresarial quanto familiar, acaba deixando a gestão rural como algo
menos importante. Contudo, as inovações produtivas juntamente com a gestão eficaz é que
garantem a competitividade e o crescimento sustentado do setor agrícola do pais.
É necessário que os produtores rurais sejam capazes de gerenciar bem suas relações na
cadeia produtiva tanto a jusante como a montante, no caso dos agricultores familiares, isso se
torna ainda mais prioritário, tendo em vista as restrições econômicas e produtivas as quais
estes estão submetidos. Na maioria das vezes, os agricultores familiares não têm seus maiores
problemas nas técnicas produtivas, as quais dentro de cada realidade estão disponíveis. Os
obstáculos residem no conhecimento dos mercados, nas formas de relação entre os agentes, na
negociação e em práticas gerenciais (BATALHA et al, 2004).
Diversos trabalhos vêm mostrando que dificuldades no gerenciamento têm ocasionado a
redução dos ganhos na agricultura familiar (BATALHA e SCARPELLI, 2002; BATALHA e
SPROESSER, 2002). De acordo com Callado et al, (2008), a maioria das atividades no setor
agrícola se desenvolvem de forma irregular durante o exercício, e a gestão rural enfrenta o
desafio de atenuar as irregularidades naturais do curso dos trabalhos, de forma a intensificar
as atividades produtivas relacionadas.
3
Parte considerável de técnicos e dos próprios agricultores tem a visão equivocada que
qualquer atividade não vinculada diretamente a produção significa perda de tempo, isso se
aplica até mesmo as atividades de gerenciamento rural. Pavarina et al (2003) realizou um
estudo onde analisou atividades administrativas (planejamento, organização, direção e
controle) e atividades estratégicas e operacionais (finanças, comercialização, recursos
humanos e produção) de 132 produtores agrícolas da Cooperativa Tritícola Mista Alto Jacuí
(COTRIJAL) no Rio Grande do Sul e verificou diferenças significativas de opinião entre
produtores rurais e técnicos no que diz respeito ao desempenho das atividades administrativas
numa empresa rural. O trabalho mostra a falta de sintonia entre técnicos e produtores sobre a
importância e a operacionalização de atividades ligadas à gestão rural. Isto se reflete na ênfase
que os cursos técnicos dão a aspectos produtivos e na menor atenção dada à capacitação.
Rezende e Zylbersztajn (1999), realizaram um estudo de caso com produtores
agropecuários de Goiás, onde verificaram que a utilização rotineira de instrumentos de gestão
(aspectos comerciais e contábeis, planilhas de resultados) era exceção no conjunto das
propriedades analisadas, contudo era mais freqüente no grandes produtores. E ainda, destacase que as ferramentas de gestão citadas foram somente àquelas relacionadas com aspectos
financeiros e econômicos, não envolvendo gestão de informação e mercados.
Em estudo realizado em Araraquara e São Carlos, no estado de São Paulo, Queiroz e
Batalha (2003) verificaram a fragilidade na gestão das pequenas propriedades agrícolas
familiares. O estudo analisou 33 propriedades com área média de 16,5 hectares. Como não
podem competir em escala, resta para estes produtores exploração de atividades onde a escala
de produção não seja atributo essencial de competitividade. São exemplos destas atividades as
culturas consorciadas de hortaliças e leite, aves e hortaliças, bem como milho e hortaliças, ou
apenas hortaliças..
Com base nos casos apresentados, verifica-se que pouco vem sendo realizado para a
consolidação de sistemas de gestão rural, em especial focado na realidade da agricultura
familiar. E que somente com o desenvolvimento de ferramentas gerenciais especificas para a
realidade em estudo, e com a capacitação dos técnicos que atuam diretamente no setor será
possível termos uma agricultura familiar competitiva e sustentada.
3 MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho é parte de um Projeto de Extensão Universitária desenvolvido no
município de Santa Rosa/RS, distante aproximadamente 500 km da capital do estado (Figura
1). Sua população estimada em 2007 pelo IBGE é de 64.113 habitantes. Possui uma área de
488,42 km².
4
Figura 1- Localização do município de Santa Rosa no RS
Fonte: www.metalurgicajama.com.br/images/mapa.jpg
Sendo uma cidade pólo da região Noroeste do Estado, Santa Rosa/RS foi o primeiro
município do Rio Grande do Sul a cultivar a soja, no ano de 1923. Na Linha 15 de Novembro,
onde atualmente foi construído o Memorial da Soja, ficando o município conhecido como o
Berço Nacional da Soja, onde destaca-se o evento Fenasoja (Feira Nacional da Soja). Essa
pesquisa é parte do Projeto de Desenvolvimento Rural desenvolvido pela parceria firmado
entre a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Prefeitura Municipal de Santa
Rosa/RS, desde 2007. Esta parceria busca a integração do ensino teórico-prático da disciplina
de Extensão Rural para os estudantes de graduação dos cursos do Centro de Ciências Rurais
(Agronomia, Engenharia Florestal, Medicina Veterinária e Zootecnia) e os estudantes de pósgraduação do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural nos cursos de Mestrado e
Doutorado. Foram aplicados formulários para coleta de dados, estes constam de uma
entrevista semi-estruturada com um roteiro pré-estabelecido. A pesquisa de campo foi
realizada com 283 produtores rurais do município de Santa Rosa-RS em 2008 e 2009. Os
dados obtidos foram tabulados e analisados através do software SPSS.
Complementarmente, em 2009, foi realizado um estudo de caso através de uma
entrevista presencial, por meio de questionário semi-estruturado numa propriedade.
Selecionou-se este produtor rural por produzir alimentos orgânicos. De modo geral, o estudo
de caso é aplicável quando se deseja obter generalizações analíticas e não estatísticas que
possam contribuir para certo referencial teórico. A pesquisa por meio de estudos de caso tem
sido enquadrada no grupo de métodos denominados qualitativos, que se caracteriza por um
maior foco na compreensão dos fatos do que propriamente na sua mensuração. Dessa forma,
contrasta-se com os métodos quantitativos, que se preocupam mais em mensurar fenômenos e
são aplicados a amostras mais extensas (LAZZARINI, 1997).
Gil (1991) destaca que a entrevista é um método inserido no estudo de caso e que
apresenta vantagens pelo fato de ser a mais adequada para a obtenção das respostas em
profundidade. Entretanto, as limitações dessa técnica envolvem custos altos, além da
5
necessidade de ter pessoas treinadas para desenvolvê-la. Outra limitação refere-se às
deformações informativas provocadas pelo entrevistador.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Dados socioeconômicos do município
Com base na análise dos dados coletados em onze localidades do município de Santa
Rosa-RS, verificou-se que a idade média dos produtores rurais é de 53,6 anos, tendo em
média 37,8 anos de atividade agrícola. Na realidade da agricultura familiar brasileira, estas
idades médias são normais, sendo que em diversos trabalhos realizados com produtores
familiares em regiões distintas foram encontrados resultados semelhantes. Este indicador
demonstra como as populações rurais vêm envelhecendo, resultado principalmente do fato
que os jovens acabam deixando o campo em busca de melhores condições de vida.
Nas localidades analisadas, 25,4% possuem gerenciamento contábil dos processos de
compra e venda e 74,6% destas propriedades não possuem nenhum tipo de gerenciamento
contábil. Neste quesito destacam-se algumas localidades, como: Candeia Baixa, Linha Dr.
Flores, Linha Capim e Tarumã, onde nenhuma das propriedades visitadas possui
gerenciamento contábil. Esses dados representam uma maioria das propriedades de
agropecuária familiares onde não existe qualquer tipo de gerenciamento o que dificulta aos
produtores um melhor controle de seus custos, por exemplo.
Na realidade brasileira, ainda não é comum a prática de gerenciamento rural nas
propriedades familiares. Mesmo o gerenciamento de forma mais simples, sem o uso de
técnicas ou mecanismos mais avançados ainda não vem sendo utilizando com freqüência. Nas
propriedades familiares onde se pratica cultivos de produtos de menor valor agregado como
milho, soja, entre outros, essa realidade é ainda mais marcante. Já nas propriedades, mesmo
familiares, onde se tem a pluratividade agrícola, a gestão rural é realizada com maior
freqüência e de forma sistemática.
A renda média anual das propriedades rurais visitadas foi de R$ 32.752,79. Contudo
existem grandes diferenças de renda entre as localidades visitadas, conforme mostra a figura
2. Estas grandes diferenças de renda estão ligadas principalmente ao grau de diversificação de
culturas existentes nas propriedades. Assim, nas propriedades onde se tem predomínio de
monocultura, principalmente de soja, a renda média é menor que nas propriedades onde se
tem uma maior diversificação, como é o caso de propriedades onde são produzidos grãos para
serem usados na alimentação de vacas leiteiras e de suínos. Ao considerar o fato que nas
propriedades mais diversificadas a renda é maior, torna-se mais prioritário o uso de práticas
de gestão, tendo em vista a maior complexidade da produção e do gerenciamento dos
insumos, da produção e da comercialização. O que não torna menor a necessidade desse
gerenciamento nas demais propriedades.
6
Figura 2 – Renda média (em Reais) dos produtores rurais do município de Santa Rosa/RS
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação ao sistema de gestão das propriedades, este é realizado em sua grande
maioria pela própria família. Assim, 81,7% têm sistema de gestão familiar, 16,7% têm
sistema de gestão realizado pela cooperativa e apenas 1,6% das propriedades possuem sistema
de gestão empresarial, conforme mostra a figura 3.
Figura 3 – Sistemas de gestão utilizados nas propriedades rurais familiares de Santa Rosa
7
Fonte: Dados da pesquisa
Nas propriedades analisadas, apenas 32,7% recebem assistência técnica, e 67,3% não
recebem nenhum tipo de assistência técnica. Constatou-se nas propriedades que contam com
assistência técnica uma maior renda média anual, sendo que esta é 20,89% maior nas
propriedades que contam com algum tipo de assistência técnica. Além disso, verificou-se que
a maior parte das propriedades conta com o serviço de assistência técnica oferecido pela
EMATER, seguido pela assistência particular e pelas cooperativas, respectivamente. Um
ponto importante a destacar, é o fato que mesmo nas propriedades atendidas por algum tipo de
assistência técnica, a gestão não é uma prática comum. Esta não ligação entre os dois
parâmetros nos faz supor que a assistência técnica não prioriza o gerenciamento rural,
provavelmente por terem outros elementos como mais necessários aos produtores familiares.
5 ESTUDO DE CASO
Caracterização da propriedade
A propriedade da família localiza-se na localidade de Candeia Baixa e caracteriza-se,
principalmente, pela pluriatividade e pelo cultivo de alimentos orgânicos. Possui um total de
7,5 hectares e emprega somente mão de obra familiar. Receberam destaque neste estudo,
questões como segurança alimentar, produção de hortifrutigranjeiros orgânicos e
compostagem. Na propriedade, existe uma vertente e um riacho e sabe-se que abaixo passa
um lençol d' água. Observou-se que há pouca mata ciliar, onde o limite necessário não é
respeitado. O relevo é ondulado e não há afloramentos rochosos. Na região a fertilidade é
baixa e o solo é ácido, a textura é argilosa e a profundidade alta.
Produção
A família produz para comercialização diversas variedades de frutas: pêssego (90 pés),
caqui (30 pés), figo (200 pés), bergamota, uva, banana, laranja e limão, ameixa, melancia,
romã e fruta do conde. Dentre os legumes e verduras destaca-se: tomate, alface, pepino, alho,
cebolinha, salsa, rúcula, radite, pepino para conserva, pimentão. Também produz na
propriedade: batata, milho para pipoca, ervilha, amendoim, nozes, milho, abóbora, soja,
mandioca, e derivados de leite. Ressalta-se que todos os produtos citados acima são
orgânicos. A produção não-orgânica ocorre por parte das abelhas, pois o produtor não
consegue controlar o local de onde elas retiram o néctar das flores. Ele comercializa o mel, o
própolis e a geléia real. A produção de mel é de, aproximadamente, 1.000 Kg por ano,
provenientes de 80 colméias.
Comercialização
A produção é comercializada em três feiras distintas, a saber: Mercado Público do
município três vezes por semana, na feira em Tuparendi uma vez por semana, e numa terceira
feira mensal. O proprietário não possui contratos de venda. Os produtos são pagos á vista
pelos consumidores. Destaca-se ainda que nem as vendas nem os custos sejam registrados.
Ele acredita que a receita bruta de sua propriedade, em função do queijo e dos leitões, seja de
aproximadamente R$ 4000,00 mensais. Descontando-se as despesas, os ganhos seriam de R$
1300,00 mensais. Finalmente, os preços de seus produtos são formados tendo em vista a
valorização da produção orgânica e não com base no preço dos outros feirantes.
Transporte
O transporte é feito com veículo pessoal pelo produtor. A distância até o Mercado
Público é de cerca de 12 km com freqüência semanal. Os gastos mensais com transporte
8
totalizam R$ 150,00. Os produtos são transportados em caixas próprias e diferenciados por
tipo de produto (não é feito a granel).
Tomada de decisões
A tomada de decisões na propriedade é feita pelo proprietário. A família não possui
nenhum tipo de assistência técnica, pois o proprietário afirma que a EMATER não valoriza
propriedades que produzem exclusivamente alimentos orgânicos. Ele ressalta a falta de
assistência técnica especializada, principalmente para o gado, que seja de cunho
agroecológico e orgânico.
Até o presente momento, ninguém da família fez cursos para comercializar os
produtos. Também não há inspeção dos produtos vendidos no Mercado Público do município,
pois a Prefeitura Municipal realiza pesquisas com o público consumidor regularmente para
conferir qualidade aos produtos. O proprietário prefere que seus produtos não recebam
certificação, pois acredita que produto de qualidade é o produto natural. As normas da
certificação orgânica não garantem que, realmente, os alimentos que estão à venda nos
mercados estejam livres de agrotóxicos.
Controles de custos
Não existem controles sobre os custos de produção e de comercialização. Pouco é
guardado no sentido explícito de reposição de ativos, isto é, não se considera a depreciação e
seus efeitos sobre a propriedade e a produção.
6 CONCLUSÕES
A gestão de agronegócios é complexa, em especial no caso da agricultura familiar, isto
porque envolvem diversas áreas, muitas delas as quais os produtores familiares não têm
conhecimento específico, o que acaba por afetar a produção e os resultados financeiros. Os
mecanismos de gestão utilizados acabam afetando os resultados obtidos.
Com base nos resultados da pesquisa realizada destaca-se que é preciso melhorar o
gerenciamento rural, em especial utilizando técnicas adaptadas às realidades dos agricultores
familiares. Além disso, é preciso aumentar o comprometimento da assistência técnica com a
questão da gestão rural nas propriedades familiares.
Destaca-se também que na realidade estudada, a pluratividade agrícola é um fator que
contribui para uma maior renda, contudo, quanto maior a complexidade da produção mais
eficiente devem ser os mecanismos de gestão, pois os fatores produtivos e as relações de
mercado tornam-se mais complexas. Desta forma, a capacidade de se administrar de forma
eficiente as propriedades familiares é fundamental para o progresso do agronegócio brasileiro,
contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, para a fixação do homem no campo e para
o desenvolvimento regional sustentável.
Com base nos estudos realizados, sugere-se que seja analisado em profundidade porque
a assistência técnica oferecida não prioriza a gestão rural, levando em consideração sua
importância para uma produção e organização mais eficiente. Além disso, é preciso estudar
como pode ser melhorada assistência voltada ao gerenciamento rural, de forma que esta seja
adaptada a realidade econômica e cultural das populações em questão.
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