Gilson Uehara Antunes AMÉRICO JACOMINO "CANHOTO" E O DESENVOLVIMENTO DA ARTE SOLÍSTICA DO VIOLÃO EM SÃO PAULO. Dissertação apresentada ao Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como exigência Parcial para obtenção do título de Mestre em Musicologia. Orientadora: Prof. Dra. Flavia Camargo Toni São Paulo 2002 Canhoto. Nome do diabo, um dos mais populares, e ligado, na maioria dos casos, aos acontecimentos amorosos, seduções, bastardias. Seria Canhoto uma réplica católica do Asmodeu. Apesar do nome, canhoto, esquerdo, desastrado, é um demônio hábil na sua especialidade conquistadora. Luis Edmundo (O Rio de Janeiro no Tempo dos ViceReis, 340, Rio de Janeiro, 1932): "O Canhoto ! Monstro com o dom de transforma-se em cavalheiro capaz de seduzir a melhor dama, mas sem poder dissimular dois pés de pato, amplos e feios, duende explosivo que arrebentava, em cacos, diante de qualquer cruz, deixando, com o estampido muito grande, uma nuvem azulada e um cheirinho de enxofre". Câmara Cascudo: Dicionário do Folclore Brasileiro, Ediouro, 9.ª Edição. AGRADECIMENTOS Antonio de Barros Leite Cláudia Batista das Neves Cláudio Arone Daniel Barreiro Edelton Gloeden Flávia Camargo Toni Luís Américo Jacomino Márcio de Souza Maurício Orosco Maurício Zamith Ricardo Cardim Ricardo Marui Ronoel Simões Selma Gimenes Garcia Teresinha Prada Resumo Esta pesquisa visa estudar o período correspondente ao início do desenvolvimento da arte solística do violão brasileiro, com ênfase na cidade de São Paulo, além de resgatar a obra do maior violonista do período, o paulistano Américo Jacomino "Canhoto". Abstract This research intends to study the beginning of the development of the guitar in Brazil, mainly in the city of São Paulo, besides to bring up the life and works from Américo Jacomino "Canhoto", the brazilian greatest guitarist in the first quarter of twentieth century. SUMÁRIO 001 - Introdução 007 - Capítulo I – Informações sobre a utilização do violão no Brasil entre os séculos XVI e XIX 007 - I.1 – Primeiras manifestações do violão no Brasil 008 - I.2 – O novo ambiente violonístico em São Paulo com os estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco 014 - I.3 – O ambiente violonístico em São Paulo – 1900 – 1930 032 - I.4 – Agustín Barrios em São Paulo – 1917/1929 038 - I.5 – Josefina Robledo: Uma mulher violonista no Brasil – 1917/1922 047 - Capítulo II – Américo Jacomino – 1889/1928 047 - II.1 – Nascimento de Américo Jacomino 049 - II.2 – Primeira gravação de Américo Jacomino – 1912 052 - II.3 – Em 1916, o primeiro grande recital de Américo Jacomino. A mudança de opinião da crítica em São Paulo 061 - II.4 – Casamento de Américo Jacomino e mudança para São Carlos 066 - II.5 – Em 1925, Américo Jacomino retorna à capital paulista 071 - II.6 – O concurso “O que é nosso” – 1927 084 - Capítulo III – Panorama do violão em São Paulo – 1904/1928 084 - III.1 – Os violonistas nas salas de concerto: Canhoto, Barrios, Robledo e outros 088 - III.2 – Os violonistas nos estúdios das gravadoras: Canhoto, Levino Albano, Rogério Guimarães e outros 096 - Capítulo IV – O violonista Américo Jacomino: O músico, a obra, o professor e seu instrumento 096 - IV.1 – Aspectos técnico-interpretativos e recursos violonísticos empregados 101 - IV.2 - Manuscritos e partituras impressas de Américo Jacomino 116 - IV.3 – Lacunas no repertório de Américo Jacomino 117 - IV.4 – O Método de violão de Américo Jacomino 120 - IV.5 – Comentários a respeito do violão que pertenceu a Américo Jacomino utilizado para a gravação do CD anexo 123 - IV.6 – Considerações sobre a gravação do CD anexo 128 - Conclusão 131 - Bibliografia Anexo I – Tabela de gravações realizadas por violonistas entre 1902 e 1928 Anexo II – O repertório dos violonistas e as salas de concerto em que se apresentaram Anexo III – Transcrição de obras de violonistas-compositores do início do século vinte Introdução Com a abertura dos cursos de pós-graduação nas universidades brasileiras, amplia-se, aos poucos, o quadro para se escrever, no futuro, a história do violão no Brasil, bem como seu repertório e intérpretes mais destacados. Ainda não se tem, contudo, bibliografia volumosa, sendo necessário realizar pesquisa aprofundada em fonte primária. Isso de fato se evidenciou na pesquisa feita em torno do violonista Américo Jacomino, cujo nome, embora não fosse desconhecido, ainda não merecera trabalho que o focalizasse de forma privilegiada; intérprete e compositor destacado do início do século vinte, Américo Jacomino cumpriu, com efeito, um papel de relevo na divulgação e introdução do violão em vários ambientes do Estado de São Paulo e do Rio de Janeiro. A presente dissertação busca situar o início do desenvolvimento da arte solística do violão no Brasil, especificamente na cidade de São Paulo, nos idos de 1900 a 1930. Se o foco do trabalho é Américo Jacomino, foi necessário, não obstante, situá-lo frente a outros nomes do violão que comparecem nos palcos no mesmo momento, para se ter uma visão mais precisa e abrangente do desenvolvimento dessa arte. “Canhoto” , como o apelido indica, tocava violão invertendo a posição do instrumento e mantendo, no entanto, a mesma afinação e ordem das cordas. Tomou para si a responsabilidade de se “profissionalizar”, conforme seu próprio depoimento, e firmar o instrumento no meio musical brasileiro. Como será visto, Américo realiza grande número de gravações, apresenta-se em inúmeros recitais divulgados pela imprensa, compõe obras que marcarão o repertório do instrumento no período, bem como faz dos meios de divulgação disponíveis – rádio e discos – aliados na difusão de seu trabalho. Além disso, suas composições apresentam aspectos técnico-musicais que ampliam recursos que vinham sendo usados por seus contemporâneos brasileiros. Assim, no intuito de determinarmos o panorama no qual Américo Jacomino despontará foi importante retroagir no tempo para se recolherem as notícias sobre o uso do instrumento no país. O foco, sem dúvida, é a cidade de São Paulo. Ao tratarmos do violão no Brasil não nos debruçamos sobre Heitor Villa-Lobos por entender que sua esfera de ação como violonista participando de grupos de choro se circunscreveu à cidade do Rio de Janeiro. À época, suas composições não tiveram papel preponderante na arte solística do instrumento, pois a primeira gravação comercial de seu Choros n.º 1, embora escrito em 1921, data de 1940. As demais obras do maestro carioca foram editadas na década de 1950, sendo cultuadas até então por violonistas que fogem do âmbito do presente trabalho. Aqui contemplamos os violonistas compositores que gravaram discos, realizaram recitais e marcaram presença no espaço do violão solista. O trabalho divide-se em quatro capítulos. No primeiro acolhemos notícias sobre a presença do instrumento apontando para a intrincada questão do que ora é chamado de viola, ora de guitarra, ou mesmo de violão. O nome do instrumento só começa a se firmar com a fundação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, em 1828, quando o movimento estudantil faz uso do instrumento, cenário para ser anunciada, pela primeira vez, a venda de um método de violão, trabalho escrito pelo italiano Francesco Molino. É o momento em que se anuncia, também, a apresentação de um violonista conhecido apenas como Senhor Lisboa, executando as Variações Sobre Temas da Traviata, de Giuseppe Verdi. Infelizmente não é possível saber se tais variações foram escritas pelo espanhol Francisco Tárrega, ou por um contemporâneo seu, o também espanhol Julian Arcas. O movimento violonístico da capital entre 1900 e 1930 foi analisado separadamente, tendo em vista destacar os papéis relevantes do paraguaio Agustín Barrios e da espanhola Josefina Robledo. No segundo capítulo a vida de Américo Jacomino é focalizada, tendo em vista a recuperação de dados de sua biografia, bem como seu currículo artístico. As gravações e recitais, a mudança para São Carlos, a volta a São Paulo e o concurso O Que É Nosso, no Rio de Janeiro, fazem parte de um quadro no qual o violonista se destaca como compositor, intérprete e professor. No terceiro capítulo, um panorama do violão na cidade de São Paulo, reunimos as carreiras dos violonistas atuantes nas salas de concerto, bem como nos estúdios de gravação. As datas-limite são 1904 e 1928; a primeira assinala o mais antigo recital de violonista após o nascimento de Canhoto e a outra registra a morte dele. No período foi interessante para a pesquisa analisar o repertório e as salas de concerto mais utilizadas pelos violonistas, bem como as gravações das quais participaram. O quarto e último capítulo focaliza em separado o músico Américo Jacomino, sua obra e a atividade de professor. É o espaço oportuno para descrever e analisar também o violão modelo carioca usado por ele em concerto. Frente ao levantamento do repertório de Canhoto divulgado pelos jornais e tendo em vista também as gravações que realizou, é possível conhecer certos recursos técnico-interpretativos empregados pelo violonista, tais como trêmulos, pizzicati, efeitos de fala no violão, harmônicos, rasqueados etc. Para tanto foi necessário percorrer vasto repertório, desde obras de sua autoria bem como de outros compositores, panorama ampliado pelas informações de seu método para violão. Vale dizer que o Método de Violão, editado na década de 1920, é tido ainda hoje como de interesse. No intuito de melhor conhecermos o repertório e os recursos técnicos de Canhoto, gravamos um CD, anexo, no qual experimentamos um violão utilizado pelo violonista, gentilmente cedido pelos seus herdeiros para o trabalho em estúdio de gravação. Anexo apresentamos dados complementares sobre os quais nos pautamos para as análises. No primeiro, a relação das gravações dos violonistas no período de 1902 a 1928. No seguinte, a relação do repertório dos violonistas e as salas em que se apresentaram. Finalmente, as transcrições de alguns compositores, violonistas que escreveram para o instrumento, mas que não foram contemplados com edições. Nesse sentido, cabe antecipar que Canhoto era músico de formação amadora, não grafando suas composições, ou seja, não tendo visto, em vida, suas partituras editadas. Dele transcrevemos somente as obras para violão solista, não nos atendo àquelas em que ele participa de duos ou formações maiores. Entre os autores contemplados estão: Glauco Vianna (com a peça Pertinho de Meu Bem), Levino Albano da Conceição (com Saudades do Rio Grande), Mário Pinheiro (com Petita) e José Augusto de Freitas (Soluços). Coube também anexar a partitura publicada da valsa Gotas de Lágrimas, de Mozart Bicalho, um sucesso editorial da década de 1960 (quando de sua publicação); o maxixe Cruzeiro, de Theotônio Corrêa, na transcrição de Attílio Bernardini, que se pautou na gravação para três violões do trio Os Três Sustenidos; a transcrição da gavota Edith, de João Avelino de Camargo – um dos integrantes daquele trio, a partir da cópia manuscrita sem indicação de autor; finalmente, o manuscrito autógrafo do cateretê Festa na Fazenda, de Antonio Giacomino, o único documento original encontrado durante as pesquisas para esta dissertação1. O violão foi, de fato, um dos principais instrumentos musicais utilizados para o acompanhamento das canções, participando desde o primeiro registro comercial de que se tem notícia, em 1902, a gravação da canção Ave Maria, na voz de Bahiano, e com violonista não identificado. Curioso é notar que rapidamente, com o início do século 1 Estes dois documentos fazem parte do acervo do colecionador Ronoel Simões, a quem agradecemos as cópias cedidas. vinte, o instrumento passa a ser muito requisitado, contrastando com as parcas notícias que se têm dele até então. Um dos motivos plausíveis poderia ter sido o de seu emprego nos estúdios de gravações em substituição ao piano, hipótese que não nos coube destacar. Após a leitura da literatura disponível, passamos à consulta sistemática dos jornais de época, acervo do Arquivo do Estado de São Paulo. Esta etapa da pesquisa, notadamente sobre o jornal O Estado de São Paulo, fez parte de um projeto compartilhado anteriormente com Paulo Castagna e Eduardo Fleury. Projeto de fôlego, compreendeu a pesquisa sistemática em jornais para se recolherem as notícias sobre o instrumento entre os anos de 1900 e 1930. Os resultados colhidos chegaram a ser divulgados em artigo de 19942. Numa terceira etapa, desta vez trabalho individual, foi consultado o repertório disponível a partir das gravações dos próprios compositores-violonistas do início do século vinte, entre eles Mário Pinheiro, João Pernambuco, Levino Albano da Conceição e outros. Só então focamos o olhar para o paulistano Américo Jacomino, devido à relevância de citações a seu respeito. Até 1958, as poucas informações sobre Jacomino residiam na série de quatro artigos escritos por Ronoel Simões no jornal A Gazeta, quando dos 30 anos da morte do violonista, crônicas estas inseridas no texto de 1978 que acompanha o livro de J. L. Ferrete e Juvenal Fernandes, obra que traz um valioso catálogo de peças de Canhoto. Além desses textos, servimo-nos do que o próprio Ronoel Simões publicaria na revista Violão e Mestres de 1964, em dois números, outra biografia do violonista, na qual muitas das informações teriam sido obtidas por meio de entrevistas com o cantor Roque Ricciardi, o Paraguaçu, conforme atestou o próprio Simões em depoimento ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo em 1981. De Paraguaçu foi utilizada também uma entrevista histórica concedida ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974, com muitas histórias e informações sobre Canhoto e o período em questão, especialmente sobre a São Paulo de inícios do século vinte. De grande valia foi a investigação feita por Henrique Foréis, o Almirante, por ocasião dos quatro programas especiais de rádio, em 1954, para a comemoração do quarto centenário da fundação da cidade de São Paulo, cujo material se encontra no arquivo escrito do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Segundo Luís 2 CASTAGNA, Paulo & ANTUNES, Gilson. 1916, O Violão Brasileiro já é uma Arte. Revista Vozes. Editora Vozes, n.º 1, p. 18, 1994. Américo, filho de Canhoto, Almirante teria tido muito contato com várias figuras próximas a seu pai, além de ter feito várias entrevistas com a viúva do violonista. Foram utilizadas também algumas entrevistas feitas com Luís Américo, que cedeu material de grande valia para a dissertação. O farmacêutico Antônio de Barros Leite também forneceu fotocópias de várias cartas de Américo Jacomino a seu pai, dados de interesse para os biógrafos dos dois violonistas. Também auxiliaram na pesquisa matérias divulgadas em 1978, cinqüentenário da morte de Canhoto, textos publicados em jornais por ocasião de um disco no qual doze músicos gravaram peças de sua autoria, aí incluindo seu próprio filho Luís Américo. Ainda de 1978 há o documentário da TV Cultura, de São Paulo, um debate no qual Ronoel Simões, J.L. Ferrete e Juvenal Fernandes analisam certos aspectos históricos e musicais de Américo Jacomino. De lá para cá pouco foi escrito sobre o violonista e compositor, apesar de sua mais famosa composição, Abismo de Rosas, continuar como uma peça muito procurada pelos intérpretes e orquestras. Mais recentemente o violonista Giácomo Bartoloni, professor de violão da Universidade Estadual Paulista (UNESP), realizou uma pesquisa analisando aspectos sociais sobre o violão brasileiro, incluindo o período estudado. Entre os principais locais pesquisados devemos citar ainda: - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: Jornais e revistas da época em que viveu Américo Jacomino, notadamente números do jornal Correio da Manhã, que organizou o concurso O Que é Nosso, do qual tomou parte o violonista. - Centro Cultural São Paulo: Foram utilizados inúmeros livros para a bibliografia geral da dissertação, além de partituras raras do violonista publicadas para piano. Na pasta que reúne matérias sobre o artista há poucos recortes de jornais. Na discoteca Oneyda Alvarenga existem três discos com músicas do violonista, por Paulinho Nogueira, Waldir Azevedo e o próprio Américo Jacomino (1 disco de 78 rotações). - Biblioteca da Universidade de São Paulo (USP): Livros e teses para a bibliografia geral, em especial a Discografia Musical Brasileira em 78 RPM, editada pela FUNARTE em 1978. - Arquivo particular de Gilson Antunes: Vários artigos de jornais, fotos, livros em geral para a bibliografia (sobre a história do violão, história da música brasileira e da cidade de São Paulo), gravações de Américo Jacomino e partituras particulares transcritas dos discos de 78 RPM. Vários desses itens foram, desde 1988, adquiridos do arquivo particular do colecionador Ronoel Simões. I – INFORMAÇÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DO VIOLÃO NO BRASIL ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX I.1 – Primeiras manifestações do violão no Brasil Podemos considerar que a literatura com referência ao uso do violão no Brasil data de c. 1549, coincidindo com a chegada dos jesuítas no país, e suas respectivas citações em cartas e escritos gerais3. 3 TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo, Ed. 34, 1998, p. 41; DUDEQUE, Norton. História do Violão. Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 1994, p.101. No século dezesseis, entre os principais instrumentos musicais cordofones em uso na Europa estão o alaúde, em todo o continente, e a vihuela, na Península Ibérica. Este último designa instrumentos musicais cordofones de três tipos diferentes: a vihuela de arco, a vihuela de peñola (tocada com plectro) e a vihuela de mano (pulsada com os dedos). Este instrumento possui seis cordas duplas (as chamadas "ordens"), com afinação variável em altura (em geral, afina-se até que as cordas estejam esticadas o bastante para não romperem), mas sempre com os mesmos intervalos, sendo eles, por exemplo e por convenção quando da interpretação das músicas no violão moderno, misi-fa#-re-la-mi. Outro instrumento utilizado pelo povo, exclusivamente para acompanhamento de canções, é a pequena guitarra, que possui quatro pares de cordas. Este instrumento varia de nome conforme a região. Na França, por exemplo, é chamado de guiterne ou guiterre, na Inglaterra, guitar e, na Itália, chitarrino. O nome etimologicamente provém da kytara grega (de origem caldéia-assíria). Sendo a vihuela, pois, o instrumento cultivado em Portugal – com o nome aportuguesado de viola - e existindo também a guitarra de 4 ordens no país, tocado em geral pelas pessoas de uma classe inferior, e que esta geraria variantes locais com o decorrer do tempo, é de se supor que seriam os mesmos instrumentos trazidos ao Brasil junto com a navegação. Pelas informações dos primeiros viajantes, existem também nesta época o uso e a construção de instrumentos diversos pelos índios guarani nas Reduções Jesuíticas do Paraguai, território que compreenderia hoje a Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai4. No século dezessete, a vihuela interrompe seu rumo de desenvolvimento juntamente com seus intérpretes espanhóis, passando a pequena guitarra, agora com cinco cordas duplas, a assumir seu papel de instrumento cordofônico mais praticado. Por ter vários cultores na Espanha, começa a ser designada pelo nome de guitarra espanhola. O nome de Gregório de Matos Guerra (1633 / 1696) aparecerá posteriormente como o primeiro grande nome da literatura brasileira, e com ele um papel bastante difundido sobre o violão durante os séculos, o do boêmio violonista. Neste caso, o poeta é apenas o continuador da tradição dos escudeiros trovadores quinhentistas de Portugal, verdadeiros antecessores dos seresteiros, que se acompanharão ao violão. 4 REVISTA ASSOVIO. Associação Gaúcha do Violão, ano 1, n.º 4, Porto Alegre, maio de 2000, p. 08. Depois disso, já na segunda metade do século dezoito, com a mudança do estilo musical europeu como o rococó e o clássico, haverá mudanças significativas no violão (inicialmente com seis ordens, posteriormente com seis cordas simples), sendo chamado então no velho mundo de guitarra clássica. E é justamente quando os termos viola e violão enfrentarão no Brasil os maiores equívocos, confundindo-se de tal maneira que será difícil reconhecer quando da citação de um e de outro na literatura dos séculos dezoito e dezenove5. I.2 - O Novo Ambiente Violonístico em São Paulo com os Estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco Há vários documentos atestando a prática musical brasileira no século dezenove, principalmente dos viajantes que aqui estiveram. As notícias sobre violão demonstram que o instrumento é praticado em São Paulo e restante do Brasil. Já em 1813 o viajante sueco Gustavo Beyer escreve que "canto e música são talentos comuns, que elas (as paulistas) revelam com a mesma graça e facilidade. O primeiro consiste nas conhecidas modinhas e os instrumentos mais freqüentes são o piano, a harpa, a guitarra e o órgão, dos quais a guitarra é o mais comum e tocado até entre o povo do campo"6. Entre outros escritores que atestam o uso do instrumento estão Levy Rocha, Auguste-Emílio Zaluar, Spix e Martius. Luiz D'Alincourt7publica em 1818 o livro Memória sobre a Viagem do Porto de Santos à Cidade de Cuiabá8, no qual escreve a respeito da cidade de São Paulo: "Tem esta cidade todas as proporções para o estabelecimento de uma Universidade; o baixo preço dos gêneros, a abundância deles, a salubridade do ar, a temperatura do clima, as poucas distrações, que se oferecem, finalmente tudo parece conspirar a preferir este a outro qualquer sítio para a cultura de letras. [...]. Os paulistas são trabalhadores, espirituosos, robustos, afáveis, generosos e bastantemente polidos; são dotados de talentos próprios para grandes coisas, assim os pudessem cultivar". 5 Sobre esta questão, colocamos como “violão” todo o instrumento que se refere ao instrumento atual que recebe esta denominação, incluindo instrumentos correlatos dos séculos dezoito e dezenove, como a viola (guitarra de cinco ordens) e a própria guitarra (guitarra espanhola). 6 BEYER, Gustavo. Ligeiras notas de viagem do Rio de Janeiro à capitania de São Paulo. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, v. XII, p. 289, 1908. 7 Nascido em Oeiras, Portugal, em 17 de fevereiro de 1787, D’Alincourt foi oficial de engenheiros, tendo numerosas e importantes comissões. Seu livro em questão foi publicado em1825. 8 D’ALINCOURT, Luiz. Viagem do Porto de Santos à Cidade de Cuiabá (1818). São Paulo, Livraria Martins Editora S.A., 1980, pp. 34 e 35. No dia primeiro de março de 1828, dez anos após a publicação do livro de D’Alincourt, é instituído o curso de Direito no prédio do Largo São Francisco em São Paulo, sendo de fundamental importância para o desenvolvimento cultural da cidade, até então bastante tímida. Talvez o mais importante livro sobre esta faculdade, no qual são narrados vários acontecimentos musicais e notícias importantes sobre a prática do violão, foi o escrito por Carlos Penteado de Rezende em 1954, intitulado Tradições Musicais da Faculdade de Direito de São Paulo9. O escritor observa o seguinte panorama da capital quando da vinda dos estudantes em 182810: "1- Existência de dois teatros, um popular e sempre em uso, outro por assim dizer aristocrático e raramente aberto. 2- representação de peças musicadas, como óperas e operetas, com acompanhamento rudimentar. 3- Gosto das mulheres paulistas de cantar em serões e saraus e de dançar nos bailes. 4- Preferência geral pelas modinhas, ‘inteiramente ao gosto do público’. 5- Conhecimento das obras de Marcos Portugal, provando comunicação artística entre Côrte e Província. 6- Existência na capital de pianos, harpas, órgãos e guitarras e notícia de ser a guitarra, ou violão, instrumento popular. 7- Apuro em música sacra executada nas igrejas. 8- Desempenho musical de bandas marciais. 9- hábito de serenatas na vizinha localidade de Santo Amaro e possivelmente em São Paulo. 10- manifestações musicais de caráter folclórico". Vários estudantes poetas se utilizam do violão para acompanharem suas composições. O primeiro poema acadêmico, por exemplo, escrito pelo estudante mineiro Antonio Augusto de Queiroga, em 1834, possui acompanhamento deste instrumento musical. Vários outros estudantes podem ser citados, como Augusto Teixeira de Freitas, João Ribeiro Mendes e Batista Caetano de Almeida Nogueira. Na página 42 do livro, em que evidencia o trabalho estatístico do Marechal Daniel Pedro Müller, relativo ao ano de 1836, figuram na tabela número 15 do cadastro das profissões (capital), além de 21 músicos, 6 violeiros. Este termo violeiro aplica-se, a fabricantes ou vendedores de viola. Porém, sobre o violão solista utilizado por virtuoses europeus, na página 83 o autor escreve: "O instrumento preferido pelos acadêmicos prosseguia sendo o violão. Tanto que o Correio Paulistano andou anunciando para vender em sua tipografia um Método de Violão, de Francesco Molino, 9 PENTEADO, Carlos Rezende. Tradições Musicais da Faculdade de Direito de São Paulo. São Paulo, Edição Saraiva, 1954. 10 Idem, ibidem, p. 25. que é, daquela época, a única referência didática musical que possuímos. Aliás, ainda não se imprimiam músicas em São Paulo. No máximo haveria copistas, talvez entre os funcionários da Sé Catedral. Tudo vinha de fora, da Corte ou da Europa, quer fossem livros, compêndios, partituras ou simples resmas de papel pautado". No mesmo livro escreve-se, a respeito da situação musical paulista na segunda metade do século dezenove, "Os professores de música eram poucos e mal habilitados. Os instrumentos e composições oferecidos à venda não primavam pela qualidade ou bom gosto. Nenhuma casa especializada no ramo se abrira ainda na cidade. E quando se realizava um concerto, o fato assumia aspectos de novidade sensacional. O público ignorante nada exigia, contentando-se com ouvir os seus trechos preferidos, geralmente tirados de óperas. Considere-se, também, que outrora os músicos não desfrutavam de prestígio social, nem tinham forças para combater o velho e arraigado preconceito de que o artista é um ser ocioso, inútil. Tudo, pois, contribuía para o marasmo geral"11 Havia, porém, conforme anúncios do jornal Correio Paulistano, vários professores de piano e canto, o que iria contra a afirmação de que o violão era o único instrumento estudado com esmero. E com relação aos compositores de modinhas e lundus, se faz difícil um maior aprofundamento, pois a maioria ficou no anonimato por não ter suas peças impressas e pelo fato de o gênero ser muito transmitido em tradição oral. O ambiente musical paulista começa a mudar quando o imigrante israelita francês Henrique Luís Levy inicia a venda de partituras musicais em sua loja de jóias, situada na Rua da Imperatriz, no centro da capital. Outra figura de destaque na segunda metade do século é a do professor francês Gabriel Giraudon, que passará à posteridade musical paulista como professor de Henrique Oswald, Luís Levy, Alexandre Levy, Antonieta Rudge e Magdalena Tagliaferro, todos pianistas. Ainda no livro de Penteado, na página 209, um daguerreótipo apresenta o período da mudança de um violão de modelo clássico para um modelo mais moderno, sendo este segurado por Luís Levy. A mudança é significativa, quando se observa a mão do instrumento (mais arredondada no caso do modelo antigo) e o cavalete (sem o detalhe da ornamentação, no caso do modelo moderno). Na figura, Luís Levy aponta para a palavra “cynismo” escrita na parede, cujo significado remete ao “spleen” – tédio, monotonia - tão em voga entre os estudantes da Faculdade de Direito desde a sua 11 Idem, ibidem, p. 81. fundação, principalmente entre poetas que lá passaram, como Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães12. Na década de 1860 São Paulo possui cinco teatros, sendo eles o Teatro da Ópera (no Pátio do Colégio), Teatro do Palácio do Governo (também situado no Pátio do Colégio), "Teatrinho alemão do Dr. Rath"13 (situado no bairro da Glória, com capacidade para 500 pessoas, construído pelo engenheiro de mesmo nome), Batuíra (situado na Rua da Cruz Preta) e, o mais importante de todos, Teatro São José, situado no Largo de São Gonçalo. Este teatro, inaugurado em 1864 e destruído em 1898 por um incêndio, tornou-se um verdadeiro difusor de cultura para a capital. Em seu palco passariam nomes como o do músico Gottschalk e da atriz Sarah Bernhardt. Na década seguinte aparecem os primeiros ecos do progresso, com as conseqüências da imigração e da criação da estrada de ferro, apesar de não serem alterados os hábitos da população nem a fisionomia da cidade no decênio de 1860187014. Surgem novos professores de música, quase todos de piano e canto, nenhum conhecido de violão, não obstante afirmar-se que "de acordo com o costume da época, a música fazia parte obrigatória da educação feminina (...). Como as moças quase não 12 Essa palavra era própria da gíria acadêmica, não tendo relação com a desfaçatez ou impudência. Escrito desta maneira no livro de Penteado. 14 Idem, ibidem, p. 177. 13 saíam de casa, enchiam o tempo com os afazeres domésticos e divertiam-se dedilhando piano e violão e cantando"15. Ainda com relação ao instrumento, o jornal Correio Paulistano de 11 de maio de 1864 publica um artigo sobre um sarau em que participaram o professor de piano Emílio do Lago e “um certo professor Lisboa”, que “executando trechos da Norma e da Traviata conseguiu extrair das cordas do seu violão os mais harmoniosos e suaves sons, que jamais violão algum poderá imitar”16. Há duas versões para esta peça de Verdi, a Fantasia sobre temas da Traviata, escrita pelo espanhol Francisco Tárrega, ou as mesmas variações, escritas por seu conterrâneo Julian Arcas. A de Norma é uma incógnita, pois não se conhecem variações ou fantasias sobre trechos dessa ópera no repertório violonístico. Apesar disso, durante todo esse decênio, não é registrado nenhum outro recital de violão. Na década seguinte começa a transformação da cidade de São Paulo em vários aspectos, citando-se como exemplo a inauguração do serviço de iluminação a gás, os bondes puxados por burros e o arruamento em redor da capital, além de intensificaremse a leva de imigrantes na capital. Em 1873 são fundadas algumas sociedades musicais, Henrique Levy amplia ainda mais sua loja e em agosto é inaugurado o Teatro Provisório, que abrirá caminho para o Lírico no ano seguinte. É nesse contexto de mudanças que o advento da ópera se torna um marco na história artística da cidade. Ainda em 1873 nasce em Porto Feliz, Estado de São Paulo, um dos mais antigos violonistas a gravar discos no Brasil (em 1930), José Martins Duarte de Melo, conhecido como Melinho de Piracicaba. Este violonista fará parte do trio “Os Três Sustenidos” juntamente com os pioneiros Theotônio Corrêa e João Avelino de Camargo. Melinho começa a estudar violão no interior, pelo método de Matteo Carcassi sob orientação do professor Luiz Dutra, passando em seguida ao método de Dionísio Aguado com o português Alberto Baltar na capital paulista em 1898. Baltar é um dos mais antigos professores de violão erudito da cidade de São Paulo de que se tem notícia17. Sobre este, escreve Domingo Prat em seu Diccionario de Guitarristas18: “Alberto Baltar, violonista e compositor português, radicado na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Goza de grande popularidade e é apreciado por seus méritos de intérprete e compositor. Publicadas na revista A Voz do Violão, se lhe conhecem 15 Idem, ibidem, p. 187. Idem, ibidem, p. 190. 17 VIOLÃO E MESTRES, n.º 7, 1967, p. 25. 18 PRAT, Domingo. Diccionario de guitarrista., Casa Romero y Fernandez, Buenos Ayres, 1934, p. 38. 16 algumas peças originais, e pela Violão, outras. Possui uma grande quantidade de temas folclóricos do Brasil adaptados ao violão, os quais vieram à luz pelas citadas publicações”. Como coincidência, Melinho de Piracicaba começa seus estudos de violão em 1889, ano da proclamação da República e data de nascimento do principal violonista do início do desenvolvimento da arte do violão solista no Brasil, o paulistano Américo Jacomino “Canhoto”. As décadas de 1860, 1870 e 1890 marcam a data de nascimento de três migrantes nordestinos ao Rio de Janeiro que terão fundamental importância para a prática do violão solista no Brasil: Sátiro Bilhar (1860/1927), Joaquim Francisco dos Santos (1883/1935), conhecido como Quincas Laranjeiras, e João Teixeira Guimarães (1883/1947), mais conhecido como João Pernambuco. Este último fará várias apresentações em São Paulo, primeiramente com seu Grupo de Caxangá e posteriormente com os Oito Batutas, seminal grupo de choro do qual farão parte também Pixinguinha e Donga. Dos três violonistas citados, apenas João Pernambuco deixará registrado seu trabalho em discos, sendo ainda um dos poucos violonistas do período a se manter no repertório. Com esses nomes, o violão atingirá a maturidade necessária para o início de seu desenvolvimento em princípios do novo século, sendo beneficiado pela era das gravações e pelo ambiente musical do choro, no Rio de Janeiro, e das serestas, em São Paulo. I.3 – O ambiente violonístico em São Paulo – 1900/1930 No primeiro decênio do século vinte, entre 1903 e 1908, o violonista cubano Gil Orosco leciona na capital paulista, sendo um dos mais antigos violonistas estrangeiros a passar pela cidade. Em 1904 Orosco realiza um recital no Teatro Santana, apresentando “obras clássicas, zarzuelas espanholas e uma Fantasia Original, de sua própria autoria”19. 19 VIOLÃO E MESTRES, São Paulo, ano II, n.º 07 p. 25. Já na década seguinte, em 13 de julho de 1911 o guitarrista espanhol Manuel Gomes, "recém-chegado a esta capital"20, apresenta um recital aos representantes da imprensa, na Casa Bevilacqua. A crítica assim se refere ao recital21: “É, com efeito, um artista de valor o violonista espanhol Manuel Gomes, que ontem à noite, no salão da Casa Bevilacqua, ofereceu uma audição aos representantes da imprensa. “Na música pura como nas mais ligeiras composições o instrumento, nas mãos do Sr. Manuel Gomes, é de uma docilidade veludosa e as suas notas espalham-se pelo ambiente com uma limpidez de cristal. “No tango americano e nas jotas aragonezas o executante soube graduar as vibrações, dando-nos efeitos imprevistos, reduzindo-os a uma expressão quase imperceptível. “O auditório premiou com calorosas palmas todos os números executados. “O sr. Manuel Gomes deve-se apresentar ao público por estes dias”. O primeiro recital aberto ao público acontece no dia 14 de agosto, no Salão Nobre do Centro Espanhol. A crítica no dia seguinte escreve que o salão estava “repleto de exmas. Famílias e cavalheiros que com entusiasmo aplaudiram o Sr. Gomes, que executou com perícia”. O programa apresentou as seguintes peças: Primeira Parte: - Julian Arcas: Aires Andaluzas a) Petenera; b) Granadina; c) Malaguenha - Veiga: Gallegada - Verdi: Miserere “do Trovador” - :Sítio de Bilbao - Gomes: Serenata Segunda Parte: - Vinhas: Fantasia Brilhante 20 “Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 37, coluna Artes e Artistas, 13 de julho de 1911, p. 06. 21 “Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 37, coluna Artes e Artistas, 14 de julho de 1911, p.05. - Damas: Tango Americano - Arcas: Bolero Gran Jota As obras demonstram uma formação erudita-popular do violonista, com tendências a uma música de inspiração popular espanhola, como as de Vinhas e Damas. Julian Arcas por sua vez teria sido o principal violonista espanhol do período anterior a Francisco Tárrega, de quem é provável a autoria da última música apresentada, a Gran Jota, cuja execução seria realizada muitas outras vezes no Brasil por outros violonistas, assim como a transcrição do Miserere da ópera Trovatore, de Verdi, que também figurou no programa. Este será o único violonista a aparecer na época em São Paulo com a divulgação da imprensa. Manuel Gomes não figura no Diccionario de Guitarristas, de Domingo Prat, nem em outros dicionários posteriores, o que dificulta a obtenção de dados expressivos para sua biografia. Já em 1914, no dia 22 de fevereiro, o violonista e luthier Francisco Pistoresi, realiza recital de violão apresentando um instrumento de seu invento denominado diamenofone, no qual se flagra um aberto ataque de preconceito ao violão. O jornal O Estado de São Paulo escreve22: “Com seleta assistência, composta de representantes da imprensa, artistas e professores, realizou-se ontem, no salão nobre do Conservatório, a experiência do interessante invento do Sr. Francisco Pistoresi. Esse invento consiste num pequeno aparelho, muito simples, destinado a ser aplicado a todos os instrumentos de corda, tanto de arco como de teclado para a produção de nota contínua ou prolongada. “Ouvimos a execução de um pequeno repertório ao violoncelo e ao violão, sobre os quais está aplicado o referido aparelho, e a impressão que nos causou foi excelente. O violoncelo executado sem arco, com perfeição emitia notas muito agradáveis e de grande intensidade. “O violão, que atualmente é um instrumento vulgar e, por isso, sem valor, por intermédio desse aparelho fica completamente transformado e adquire uma dignidade superior. 22 “Um interessante invento”. O Estado de S.Paulo, ano 40, coluna Artes e Artistas, 22 de fevereiro de 1914, p. 03. “Tal instrumento, executado com a nota contínua, assemelha-se perfeitamente a um poderoso orgão ou harmônio. “Estas são as aplicações atuais e iniciais do invento. Porém onde ele produzirá melhor resultado será no piano e na harpa, conforme pretende fazer mais tarde o inventor. “A audição a que assistimos convenceu-nos completamente do grande valor artístico do invento e do brilhante futuro que lhe está reservado. “Consideramos, somente pelo que tivemos ocasião de ouvir, que a arte musical ficará transformada com esse invento. “Foi o seguinte o programa a que obedeceu a audição: - C. Gounod: Ave-Maria - R. Schumann: Traumerei - E. Dunkler: Reverie - G. B. Pergolesi: Sicilienne - A. Stradella: Preghiera “Para finalizar a experiência, o sr. Francisco Pistoresi executou ao violão a Traumerei de Schumann, tendo sido acompanhado ao violoncelo pelo professor Simoncelli. “Enfim, tratando-se de um invento muito recente é impossível dizer-se desde já, em uma simples notícia, as vantagens de suas aplicações”. Os termos utilizados para o violão, como sendo "vulgar, e por isso sem valor", demonstram como ele é visto por pelo menos uma parte da sociedade. Mas Alfredo Pistoresi apresenta em julho do mesmo ano seu invento para o público, com divulgação da imprensa, antes de tentar seu sucesso na Europa. Sobre a audição escreve o jornal O Estado de São Paulo23: “Conservatório Dramático e Musical - Amanhã, no salão deste estabelecimento realiza-se um concerto em que será posto à prova um invento do fabricante de instrumentos de música, sr. Alfredo Pistoresi. “Trata-se de dar a dois instrumentos de corda o som contínuo, coisa até hoje desconhecida. Pelo invento do sr. Pistoresi, esses dois instrumentos produzirão em 23 “Concerto”. O Estado de S. Paulo, ano 40, coluna Artes e Artistas, 04 de julho de 1914, p. 05. força, sonoridade, harmonia e intensidade, uma riqueza musical que dez instrumentos juntos não produziriam. “O sr. Pistoresi vai partir para a Europa, a fim de apresentar o seu invento, que se chama ‘Diamenofone’ ao Centro Musical de Milão. “No concerto de amanhã, às 20 horas, será observado o seguinte programa: Primeira Parte - Godard: Berceuse de Jocelin - Schumann: Traumerei - Gounod: Ave Maria - M. Giuliani: Gavotta (solo para guitarra) - Becker: Scherzo Segunda Parte - Rossini: Stabat Mater (cujus animan) - Handel: Largo Celebre - Boccherini: Minuetto - Dunkler: L'Absence - Wagner: Tannhauser – Marcha “Tomam parte nesta audição os srs. Professores Savério R. Simoncelli e Floriano Steffan. “Os bilhetes acham-se à venda em todas as casas de música”. É a última notícia sobre o diamenofone, que pelo visto não alcançaria a pretensão desejada por Pistoresi. Em 5 de fevereiro de 1915, Affonso Arinos realiza uma conferência na Sociedade Cultura Artística em São Paulo, com o título Lendas e Tradições Brasileiras. É quando aparece em São Paulo um conjunto de nome Grupo de Caxangá, embrião de um seminal grupo de choro posteriormente denominado Os Oito Batutas, que tinha em sua liderança o violonista pernambucano João Teixeira Guimarães, residente no Rio de Janeiro, com nome artístico de João Pernambuco. Affonso Arinos continua suas conferências acompanhadas de sarau na mesma Sociedade de Cultura Artística, versando ora sobre “O Rio S. Francisco e suas lendas”, ora sobre “A Serra das Esmeraldas”, ou ainda sobre “As principais bandeiras”. Nesta ocasião o poeta e cantor Catullo da Paixão Cearense cantaria "várias trovas populares", acompanhando-se ele mesmo ao violão. Ainda em 1915, no início de março ocorre o recital do guitarrista (guitarra portuguesa) Martinho Gouveia de Vasconcellos, que se fez acompanhar pelo jovem violonista Oswaldo Soares, futuro aluno da espanhola Josefina Robledo e correspondente paulista da revista carioca A Voz do Violão, que circularia entre 1929 e 1930. Soares executa como peça solo o Capricho Árabe, de Tárrega. Deste momento até o fim da década de vinte, São Paulo verá a passagem dos três principais nomes que ajudaram no desenvolvimento do violão como instrumento solista no Brasil, sendo eles o paraguaio Agustín Barrios, a espanhola Josefina Robledo e o paulistano Américo Jacomino, os quais, pela importância, serão tratados em itens separados. Já em 1920, no dia 20 de novembro, em Campinas ocorre um recital do violonista Jorge Aleman Moreira e seu filho Oscar Marcello Aleman, de nove anos de idade. A notícia também é única, sem programa. Em 14 de fevereiro de 1921 o violonista Benedicto Soares Capelo apresenta-se na redação da revista A Cigarra, com um interessante programa que consiste nas seguintes peças: Primeira Parte - Napoleão Coste: Estudo em lá maior - Emílio Pujol: Canção do Berço - H. Montey: Valsa de Concerto - Mendelssohn: Romanza sem Palavras, arranjo de Tárrega Segunda Parte - Verdi: Miserere da ópera Trovador - Beethoven: Adagio da Sonata Patética, arranjo de Tárrega - Chopin: Noturno n.º 2 op. 9, arranjo de Tárrega Não foram encontradas maiores informações sobre este violonista. Pelo programa podemos perceber que ele talvez tivesse mantido contato com Josefina Robledo, tal a quantidade de arranjos de Tárrega, além da peça de Emílio Pujol, também interpretada pela violonista espanhola quando de seus recitais em São Paulo. Poucos dias depois, na Folha da Noite de 19 de fevereiro aparece a notícia de que no salão do Correio Paulistano haverá uma audição dos Oito Batutas, com a observação de que o grupo estaria sendo “dirigido pelo violonista Américo Jacomino”. É a única informação encontrada deste evento, pouco divulgado entre artigos sobre Jacomino e os Batutas. O ano de 1922 é pouco produtivo para o violão em São Paulo. Apenas em novembro novamente João Pernambuco aparece na capital paulista, desta vez com um novo grupo, os Turunas Pernambucanos. Assim escreve o Jornal O Estado de São Paulo de 14 de novembro de 192224: "O apreciado folclorista Cornélio Pires, que acaba de realizar no Rio, com sucesso, a ‘Semana sertaneja’, acha-se de novo nesta capital, onde organizou, com o concurso dos Turunas Pernambucanos, uma série de festas nacionalistas intituladas ‘Noites Sertanejas’. “A primeira dessas festas, a que está destinado, sem dúvida alguma, merecido êxito, será no dia 18 do corrente, no Teatro Brasil, que se vai seguramente encher de uma assistência elegante e distinta. “Fazem parte do grupo dos Turunas: Pernambuco (Violão); Piquá (chocalho); Jararaca (violão e cantos sertanejos característicos); Sapequinha (cavaquinho); Caxangá (violão); Cobrinha (pandeiro); Pirajá (réco-réco) e Ratinho (saxophone). “Cornélio Pires falará sobre: Caipiras; sua educação, resistência, desconfiança e docilidade; casos jocosos de sua simplicidade; presença de espírito; vida roceira. “Intercalados nas pilhérias, estes números dos Turunas: I - Vamos pra Caxangá (choro do Norte); II - Passarinho Verde (toada do sertão); III - Sambinha de viola; IV A espingarda (canto sertanejo); V - Bamo simbor Maria (canção sertaneja); VI Variações de saxofone, pelo Ratinho. “Como se vê, o programa de estréia é magnífico. “Sexta-feira será oferecida uma audição à imprensa”. 24 Noites Sertanejas. O Estado de S. Paulo, ano 48, col. A Sociedade, 14 de novembro de 1922, p.4. No mesmo ano, dia 17 de novembro o jornal publica artigo com os verdadeiros nomes dos Turunas, sendo eles Severino Rangel (Ratinho), João Teixeira Guimarães (Pernambuco), José Calazans (Jararaca), Cypiano Silva (Pirana), Robinson, Florêncio (Sapequinha), Aldemaro Adour (Cobrinha), Abrantes Pinheiro (Jandaia) e José Villela (Cariry). A crítica do dia 19 é bastante favorável, tendo obtido o teatro boa assistência, o mesmo ocorrendo nos dias dos recitais seguintes (entre 20 de novembro e 1 de dezembro), no Teatro Brasil, Teatro Municipal (por ocasião da “Tarde da Criança” em benefício do “Asilo da Sagrada Família”), Cine-Teatro República e Teatro São Pedro. Já em 15 de dezembro o jornal O Estado de São Paulo anuncia a audição à imprensa da “Troupe Regional dos Oito Turunas Paulistas” no salão nobre do Correio Paulistano, o que ajuda a demonstrar a grande rapidez com que os sucessos eram assimilados. Passando para 1924, a primeira notícia de apresentação de um violonista acontece em 29 de abril, na conferência mensal da Associação dos Ex-alunos Salesianos, com o professor Leopoldo Silva tocando a Fantasia sobre temas do Guarani, de Carlos Gomes, peça gravada por Jacomino e constantemente apresentada em público. Enquanto isto, inaugura-se no Parque D. Pedro I o Palácio da Agricultura e da Indústria, que seria a futura sede da Rádio Bandeirantes, e a Sociedade Rádio Educadora dirige uma circular a todas as Câmaras Municipais do interior, solicitando apoio para o desenvolvimento da Radio-Telefonia em São Paulo, "com intuitos meramente educativos" 25 . Instalavam-se também microfones para a irradiação de recitais como o da pianista Magdalena Tagliaferro. Os primeiros lugares a serem contemplados foram o Teatro Municipal de São Paulo, o Teatro Santana e o Salão do Conservatório Dramático e Musical. As irradiações ocorriam às terças, quintas e sábados, das 21 horas em diante. Em 15 de maio do mesmo ano, no Salão do Conservatório Dramático e Musical o violonista Domingos Anastácio da Silva realiza um interessante recital, com peças originais e de outros autores, cumprindo o seguinte programa: Primeira Parte -Francisco Manoel da Silva: Hino Nacional 25 4. Sociedade Rádio Educadora Paulista. O Estado de S.Paulo, São Paulo, ano 50, 09 de maio de 1924, p. - Verdi: Miserere da ópera Trovador -Domingos da Silva: Fantasia da Solidão -Domingos da Silva: Noite de Estrelas - J. Machado: Tempestade (tarantela) -Domingos Silva: Valsa Segunda Parte - Levino Conceição: Alvorada - Carlos Gomes: Fantasia do Guarani - Domingos Silva: Alice - Domingos Silva: Eu Quero Ver - Domingos Silva: Combate Irresistível - Barrios: Bicho Feio É interessante notar que novamente a Fantasia do Guarani estava presente, além de uma peça do violonista cego Levino Albano da Conceição e a música Bicho Feio, de Barrios, número infelizmente perdido e jamais publicado. O mesmo Domingos Anastácio da Silva se apresenta em Campinas em 24 de setembro, sendo chamado pela Gazeta de Campinas de “verdadeiro rival de Barrios”: Primeira Parte - Francisco Manoel da Silva: Hino Nacional - Domingos A. Silva: Amor Eterno (polca) - S. Machado: Bolero (Sonhando) - Noite de Estrelas (valsa) – dedicada á exímia escritora gaúcha, mme. Andradina de Oliveira. - S. Machado: Tempestade (tarantela) - Domingos A. Silva: Eu quero Ver (tango) – (a execução é feita com o violão nas costas) Segunda parte - Levino Albano: Alvorada Brilhante –– marcha com variações e funções harmoniosas - Giuseppe Verdi: Miserere, da ópera Trovador - Carlos Gomes: Fantasia, da ópera O Guarani - Domingos A. Silva: Marina Correa (valsa) –– dedicada à menina Marina Correa Lino - Barrios: Bicho Feio (tango) - Domingos A. da Silva: Combate Irresistível (dobrado) - Grande sucesso em São Paulo e Rio de Janeiro, com imitação de descargas de fuzil e metralha, troar de canhão, toque de cornetas e rufos de tambores. Na crítica do dia seguinte, o mesmo jornal escreve que “o programa organizado teve bom desempenho, tendo o professor Domingos Anastácio recebido grande salva de palmas”26. O ano de 1925 começa com Aristodemo Pistoresi (filho de Francisco Pistoresi) se apresentando no dia 2 de janeiro, sendo este o primeiro concerto de violão erudito transmitido pela Rádio em São Paulo. Infelizmente não é publicado o programa desta apresentação. Em 20 de fevereiro Pistoresi toca a Marietta e Recuerdos de Alhambra, de Tárrega, e um Noturno de Chopin, na União Católica Santo Agostinho, sendo talvez algumas das mesmas músicas apresentadas no rádio no mês anterior. Na Rádio Club, no dia 19 de maio do mesmo ano, o violonista Francisco Lerosa apresenta a Tarantela de Levino Albano. Canhoto dá novamente um sarau no Conservatório Dramático, desta vez com a participação de Roque Ricciardi e Santino Gianatasio, com acompanhamento de piano. No final do mês, dia 28, quem aparece para tocar é o violonista João Avelino de Camargo, integrante do trio "Os Três Sustenidos", executando suas peças Gavotte, Choro Paulista e A Lágrima, no salão nobre da União Católica Santo Agostinho. O mesmo violonista se apresenta no dia 27 de agosto em outro sarau promovido pela mesma União Católica, apresentando Recuerdos de Alhambra, de Tárrega, e mais três números extras; e ainda no dia 12 de outubro com as músicas A Lágrima, de Sagreras, Choro Paulista e Recordação Saudosa, ambas de sua autoria. Ainda em 1925, na coluna Notícias Teatrais do jornal O Estado de São Paulo de 3 de junho aparece a notícia de que o jovem Aristodemo Pistoresi havia dado uma audição à imprensa no salão do Correio Paulistano, executando peças de Chopin, Albeniz, Tárrega, Paderewsky, Mendelssohn, Schumman e Barrios. Foi a prévia de seu concerto do dia 10, que seria irradiado pela Sociedade Rádio Educadora Paulista. A 26 “Concerto de Violão”. Gazeta de Campinas, ano 23, 25 de setembro de 1924, coluna Artes e Artistas, p.1. crítica é boa, afirmando que "a assistência foi escolhida e avultada, aplaudindo calorosamente o distinto artista que na execução do bem escolhido programa confirmou o conceito que merecera na sua exibição à imprensa, mostrando-se possuidor de boa escola e dotado de fino temperamento. Ao seu domínio do instrumento corresponde bem a sua versatilidade de interpretação, o que o faz, atualmente, um artista digno de atenção, prometendo ainda melhores e maiores realizações para o futuro”27. Dia 27 de novembro novamente Aristodemo Pistoresi apresenta uma parte de violão em outro recital promovido pela Associação de ex-alunos Salesianos, situada na Alameda Nothmann. O violonista toca Mathilde (mazurca), de C. Garcia; Adágio, de Beethoven; Sonho, de Tárrega; Canção do Berço, de Pujol; Tua Imagem, de Barrios; Ontem ao Luar, de Alcântara; Granada, de Albeniz; Miserere da ópera Trovador, de Verdi; Noturno op. 9 n.º 2, de Chopin; e Capricho Árabe, de Tárrega. Este concerto não é irradiado, mas Pistoresi, "conhecido artista paulistano, filho de conhecido industrial, fabricante de instrumentos de cordas"28, acompanha os recitais do violonista paraguaio Pablo Escobar no salão do Conservatório Dramático e Musical, em 14 de dezembro. As poucas notícias existentes sobre o violonista falam que Pablo Escobar Cáceres havia nascido em 22 de junho de 1900 em San Jose de los Arroyos, mudando-se para Assunção para estudar violão e solfejo no Instituto Paraguaio, sendo orientado por Dionísio Basualdo. O violonista apresentou-se como solista no ato artístico “La Peregrinacioón de Caacupé”, organizado pelo irmão de Agustín Barrios, Martin. Apresentou-se também com sucesso no Salão da Sociedade Italiana em Assunção, partindo em seguida para a apresentação em São Paulo. A notícia sobre o recital do Conservatório será publicada desta forma no Estado de São Paulo29: "São Paulo conta inúmeros apreciadores de violão. Por isso é natural que, hoje à noite, a sala do Conservatório Dramático e Musical reúna um público numeroso. É que ali se realizará, como temos anunciado, o concerto do violonista paraguaio sr. Pablo Escobar, com o gracioso concurso do sr. Aristodemo Pistoresi, um dos mais distintos artistas de violão em nossa capital. 27 “Festival do Violonista Aristodemo Pistoresi”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 51, coluna Palcos e Circos, 11 de junho de 1925, p. 6. 28 “Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 51, coluna Artes e Artistas, 14 de dezembro de 1925, p. 3. 29 “Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 51, Coluna Artes e Artistas, 16 de dezembro de 1925, p. 2. “Essa hora de arte despertou desde logo muitas simpatias, pois o artista que agora nos visita veio em companhia dos escoteiros paraguaios e, nas festas oferecidas àqueles rapazes, teve oportunidade de se fazer ouvir, recebendo justos aplausos. O programa desta noite, carinhosamente escolhido, conta uma linda composição do violonista paraguaio. Primeira Parte - Dr. Pinho: Marcha Paraguaia - Iparraguirre: El Huerfano - Escobar: Recuerdos de Zavala - Barrios: Jha! Che Valle Segunda Parte - Barrios: Madrigal - Garcia: Meditation - Tarrega: Capricho Árabe - Barrios: Valsa n.º 4 Terceira Parte Dois violões, pelos srs. Pablo Escobar e Aristodemo Pistoresi. - Garcia: Mathilde - Alcântara: Ontem ao Luar - Sinópoli: Vidalita - Tárrega: Recuerdos de Alhambra” A crítica do dia seguinte será bastante favorável ao concerto, irradiado nesta ocasião pela Sociedade Rádio Educadora Paulista. Escobar ainda tocará alguns números na rádio em 15 de dezembro, em especial peças de seu conterrâneo Agustín Barrios, e um recital no salão do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo no dia seguinte, tocando a Marcha Paraguaia, El Huerfano e Recuerdos de Zavala, de sua autoria, Jha! Che Valle e Madrigal, de Barrios, Meditation, de Garcia, Capricho Árabe, de Tarrega e Valsa n.º 4, de Barrios. Foi o último grande acontecimento violonístico do ano de 1925. Uma interessante notícia será a da apresentação de João Pernambuco acompanhando o poeta Catullo da Paixão Cearense, no Teatro Apollo. Os dois acabariam anos depois envolvendo-se numa disputa histórica por causa da canção Luar do Sertão, terminando na justiça para provar de quem era a música, persistindo até hoje uma polêmica quanto ao assunto. Em 1926, no final do ano, quem mais se apresenta ao violão é Francisco Larosa Sobrinho, tocando em dezembro nos dias 4, 11, 18 e 25, em geral, peças de sua própria autoria. Já em 1927, no dia 5 de março, no salão da SREP apresenta-se o Grupo dos Turunas, formado por João de Lucca, Juca, Carlos Fernandes, Moacyr Pini, José e Zeca, composto de violinos, violões, cavaquinho e clarinete. No mesmo programa, Dormeville de Camargo, Luiz Buono e Aristodemo Pistoresi, este tocando a Vidalita, de Sinópoli, El Huerfano, de Pistoresi, Miserere da ópera Travador, de Verdi (arranjo de Sagreras) e Capricho Árabe, de Tárrega. Estes violonistas começam cada vez mais a aparecer em apresentações pela capital, em geral no rádio. Outro violonista a se apresentar é Benedito Chaves, com o seguinte programa para a Sociedade Rádio Educadora Paulista: - E. Campos: Ave-Maria - Firpo: Sentimento Crioulo - tango - Chaves: Marcha Militar - Cachafaz: Tango - Chaves: Lágrimas de mãe - valsa Madrugando - maxixe - Toselli: Rimpianto - serenata Na rádio em 2 de abril de 1927 apresenta-se o violonista Antônio Giacomino que nenhum parentesco possui com Canhoto - tocando a Canção do Berço, de Pujol; Reverie, de Schumann; e Uma Lágrima, de Sagreras. No mesmo dia, Dormeville de Camargo e Luiz Buono, este tocando Abismo de Rosas, Cateretê Paulista e Gavotta. Dia 10 do mesmo mês estréiam no Teatro Apollo, na capital, os Turunas da Mauricéia, tendo entre seus integrantes o cantor Augusto Calheiros e o violonista Manuel Lima "Manuelito", ambos premiados no concurso O que é Nosso, do Rio de Janeiro. No ano de 1928, a Congregação Mariana de Santa Efigênia realiza em 12 de fevereiro uma apresentação em que participa o violonista João Avelino de Camargo, que integra o primeiro trio de violões de São Paulo, chamado Trio Os Três Sustenidos. No programa o violonista apresenta as peças Organito de la Tarde, Edith (gavota) e Lágrima (Garpar Sagreras). A próxima notícia importante para o meio violonístico em 1928 será a apresentação do argentino Juan M. Rodrigues no salão do Conservatório Dramático e Musical, em 24 de outubro. O programa consta das seguintes peças: Primeira Parte - F. Sor: Allegretto de la Sonata op. 22 Gran Andante em lá maior Cantabile Andantino Minueto (andante expressivo) Segunda Parte - J. A Rodrigues: Esitylo Classico Coral del Norte Chacarera (Gota de Água) - Souto Rodrigues: Maxixe - J. A Rodrigues: Minuet Federal (Época de Rosas, 1840) Terceira Parte - Porcel: Solitário (Mazurca Bouquet de Salão) Canção de Hilanderas (Serenata Mexicana) Danza Oriental (Valle de las Odaliscas) Divertissement op. 16 Célebre Minueto (Allegro Cantabile) O jornal O Estado de São Paulo assim se manifestaria30: "Realizou-se ontem, às 21 horas, no salão do Conservatório, o concerto de violão do notável artista argentino sr. Juan A. Rodrigues. O programa organizado para esse recital incluía diversas peças clássicas, que tiveram magnífica interpretação por parte do 30 2. “Juan A Rodrigues”. O Estado de S. Paulo, ano 54, Coluna Artes e Artistas, 25 de outubro de 1928, p. distinto violonista, tendo o público seleto que acorreu ao recital aplaudido calorosamente todos os números do programa. “Foram especialmente apreciados, ademais, o Coral del Norte, de autoria do concertista, e o Maxixe, de Eduardo Souto". Juan Rodrigues volta a se apresentar no Teatro Santa Helena em 17 de novembro, enquanto Benedito Chaves se apresenta em 23 do mesmo mês, tocando entre outros compositores Chopin e Carlos Gomes. Até 1930 ocorrem recitais esparsos de violão, como em 20 de abril de 1929, quando o trio Os Três Sustenidos, formado por João Avelino de Camargo, José Martins de Mello e Theotonio Corrêa se apresentam no salão do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. No mesmo dia Carlos Alberto Collet e Silva se apresenta na sede da Congregação Mariana, interpretando o Capricho Árabe e Recuerdos de Alhambra, de Tárrega; uma Valsa de Chopin; e o Miserere da ópera Trovador, de Verdi. Juan Rodrigues volta a se apresentar em 16 de maio de 1929 no Teatro Apollo, sem crítica impressa. Um grande evento ocorre em 15 e 22 de junho de 1929, quando o então jovem violonista Regino Sainz de la Maza se apresenta no Teatro Municipal. Será mais um dos virtuoses a se apresentar no Brasil, contribuindo para a consolidação do instrumento na cidade e no país. La Maza nasceu em Burgos, em 7 de setembro de 1897, iniciandose ao violão em 1910. Radicou-se na Argentina em 1913, retornando a Madrid para estudar com Daniel Fortea. Em 1939 o compositor Joaquin Rodrigo lhe dedicaria o conhecido Concierto de Aranjuez, tendo o mesmo violonista sido dedicatário de outra importante obra para violão nos anos 30, a Sonata, de Antonio José. Assim se manifesta o jornal O Estado de São Paulo, quando de seu primeiro concerto na capital paulista31: "A Espanha criou uma verdadeira escola de violão que tem elevado esse instrumento, em verdade pobre, a ponto de formar verdadeiros ‘virtuosi’ de concerto. Entre eles ocupa lugar de destaque o sr. Sainz de la Maza. “Quem o ouvisse ontem, no Municipal, conpreenderia facilmente a razão desse prestígio. 31 Sainz de la Maza. O Estado de S. Paulo, ano 55, Coluna Artes e Artistas, 16 de junho de 1929, p. 4. “O grande violonista espanhol é realmente, no seu gênero, um artista notável. Reúne a uma técnica que se afigura inexcedível, uma bela sonoridade, raro senso de ritmo e grande musicalidade. “O programa de ontem, muito bem organizado, teve execução admirável. Sainz de la Maza que interpretou a Bourrée, de Bach, numa linha impecável, foi vibrante e característico no esplêndido choro (sic) de Villa-Lobos, bem como no Fandanguillo, de Turina, e no Vito e Zambra, de sua autoria. “O sr. Sainz de la Maza dará o seu segundo concerto na próxima quinta-feira e terá necessariamente numeroso público a aplaudi-lo”. Sainz de La Maza aproveitaria sua passagem pelo Brasil para gravar no dia 26 de junho 3 discos pela Odeon, compreendendo os números 10431 (El Vito e Mazurca), 10432 (Motivo Andaluz e Scherzo Gavota) e 10433 (Reverie, de Tárrega e Boureé, de Bach), sendo todos lançados no mês de agosto do mesmo ano. Outro evento será o recital dos alaudistas do Quarteto Aguilar, formado pelos irmãos Ezequiel, José, Elisa e Francisco. Infelizmente não é publicado o programa do concerto, nem matéria específica, como ocorre em 1933 quando da volta do quarteto em São Paulo em crítica de Mário de Andrade32. Não foi publicado no Estado de São Paulo o programa de despedida de Barrios, realizado em 25 de outubro. Duas notícias aparecem na Gazeta de São Paulo de 2 e 6 de setembro, sobre a música regionalista: “Música Regional Brasileira. Dentro de alguns dias ouviremos em São Paulo um excelente grupo de músicos regionalistas, entende-se especializados nesse gênero, porém, constituídos de distintos moços da sociedade carioca. São eles os srs. Renato Murce (foto), cantor e diretor do grupo; Oswaldo Lopes, violão; Mozart Bicalho, canto e violão; Francisco Netto, bandolim; e Arlindo Vasquez, violão. “A música regional brasileira, como dissemos, é o gênero a que se dedicam e no qual se têm feito ouvir com apreciável êxito no Rio de Janeiro. Canções do norte e do sul, sambas, choros e toda a sorte de tipos da nossa música constituem o seu repertório, 32 Diário de S. Paulo, São Paulo, 2 de julho de 1933. e dão-nos, dentro desse feitio, audições que tanto primam pela sua legitimidade como pela sua corretíssima execução. “Música Regional Brasileira. Conforme noticiamos realizar-se-á no próximo dia 16, no Teatro Municipal, uma audição de música regional brasileira, a cargo de um grupo de amadores cariocas, pertencentes à sociedade do Rio e que vêm precedidos das melhores referências da imprensa daquela Capital. “Trata-se de Renato Murce (canto), Oswaldo Lopes (violão), Mozart Bicalho (violão e canto), Francisco Netto (bandolim) e Arlindo Vasquez (violão), todos amadores cheios de entusiasmo e cujo principal escopo é fazer a propaganda da nossa música, visando colocá-la no plano que, de justiça, lhe compete. “Os recitalistas destinarão parte da renda líquida à Cruz Azul. “Renato Murce e seus companheiros darão uma audição à imprensa, no próximo dia 14, no salão do Correio Paulistano. “Chamamos a atenção dos nossos leitores para o interessante espetáculo do dia 16, do qual oportunamente publicaremos detalhes”. Quando da publicação do programa, observamos que Mozart Bicalho interpretou suas peças Uma Festa em Itambé, Sonhos de Nazareth, A Cabrocha do Fundão (toada sertaneja), Dança das Pulgas (imitação de quadrilha na roça), Desafio de Bacatuba e Sabiá (Catullo) e Divagações (valsa). Em 1930 os violonistas que mais se apresentam são os do trio Os Três Sustenidos, mas jovens violonistas começam a despontar, como Rogério Guimarães e Diogo Piazza. O violonista Garoto inicia suas apresentações, como na Rádio Sociedade Record em 16 de maio, quando, juntamente com Armandinho, acompanha o flautista Canário. Aristodemo Pistoresi também apresenta recitais esporádicos como em 11 de setembro, em que toca Canção dos Alpes, de Sinópoli, Astúrias, de Albeniz, Adágio, da Sonata Patética, de Beethoven; e Gran Jota Aragoneza de Tárrega, e como o recital ocorrido na sede do Collegio Stafford em 30 de julho, quando apresenta peças de Albeniz, Beethoven e Tárrega. Mas o grande violonista a dar um recital será o cego Levino Albano da Conceição, autor da peça Tarantella, gravada por Barrios e interpretada por Canhoto e outros violonistas. A primeira apresentação ocorre para a imprensa no dia 18 de setembro, na sede do Correio Paulistano. Outros recitais ocorrem no Teatro Municipal em 5 de dezembro, com peças de Chopin, Albeniz, Beethoven e do próprio Levino, e no dia 20 do mesmo mês no salão nobre do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento. No dia 11 de outubro, o jornal A Gazeta de São Paulo publica o seguinte comunicado: “Recital de Violão “Comunicado: “Está marcado para o próximo dia 25, no Teatro Municipal, o recital de violão do prof. Levino Albano da Conceição. O festejado violonista patrício é merecedor do melhor aplauso pelo que tem feito em todos os Estados, tornando conhecidos os grandes benefícios que aos cegos prestam os institutos existentes no Brasil e que merecem ser olhados com carinho pelos nossos homens públicos. “Ocupando um lugar de destaque entre os nossos violonistas, o prof. Levino deverá ter um grande público a aplaudi-lo, no excelente programa que está organizado. “E muito justo será todo e qualquer apoio que seja dado ao ‘cego iluminado’, que pretende muito em breve seguir para a Europa, a fim de se aperfeiçoar na sua arte”. O recital acaba ocorrendo em 5 de dezembro, com o violonista tocando, entre outras peças, Grande Fantasia (capricho em sol maior), Tocata em ré maior (estudo n.º 5), Símbolo do Bem, Romance sem Palavras e Grande Estudo em Si menor; ChopinLevino: Marcha Fúnebre op. 35; Albeniz-Segóvia: Legenda; Beethoven-Barrios: Minuetto; e Levino: Tarantella (estudo n.º 2 em lá menor). I.4 - Agustin Barrios em São Paulo 1917/1929 Em inícios de abril de 1917 são marcados dois recitais do violonista paraguaio Agustín Barrios, que já havia realizado dois concertos no Rio de Janeiro, com destaque. A audição à imprensa acontece no salão do Correio Paulistano, e é documentada em jornal33: “Iremos ouvi-lo e estamos certos de que, da anunciada audição, só excelente impressão haveremos de colher, tanto mais por se tratar de um artista, cujo nome está de há muito consagrado por toda a imprensa sul-americana”. A crítica publicada é de interesse por vários motivos. Primeiramente por se tratar do primeiro recital de um violonista estrangeiro de renome em São Paulo, sendo 33 “Audição de Violão”. O Estado de S.Paulo, ano 43, coluna Artes e Artistas, 26 de abril de 1917. que o programa realizado refletia um repertório diferenciado do que se fazia na Europa em termos de violão erudito, a se julgar pelos recitais apresentados pela violonista espanhola Josefina Robledo, que em breve tocaria na capital. Depois, porque o evento em si poderia influenciar uma provável ascendência de estudantes de violão em São Paulo, os quais tinham assistido apenas a Américo Jacomino como solista de destaque na imprensa. Agustín Barrios nasce em San Juan Batista de las Missiones, estudando com Gustavo Sosa Escalada num ambiente isolado de qualquer tradição violonística. Viaja muito, tendo contato maior justamente com o Brasil, onde conquista muitos amigos e onde posteriormente se casa com uma carioca. Assim se refere o jornal O Estado de São Paulo sobre o recital de Barrios no salão do Correio Paulistano34: “Realizou-se ontem à noite, numa das salas do Correio Paulistano, a audição de violão, oferecida à imprensa e mais convidados pelo professor e compositor paraguaio, sr. Augusto de Barrios (sic). “Foi observado o seguinte programa: -Garcia Tolosa: Meditação – Noturno Marcha Heróica – Giuliani -Barrios: Recuerdos del Pacífico – valsa de concerto -Barrios: Tarantela – Souvenir Napolitano -Barrios: Rapsódia Americana – poemas americanos -Chopin: Noturno op. 9 n.o. 2 -Barrios: Tango Humorístico – Bicho Feio -Barrios: Jota Aragonesa – 16 variações -Francisco Manuel da Silva: Hino Brasileiro. “Logo na Meditação o auditório compreendeu que tinha na sua frente um autêntico ‘virtuose’. “Com efeito, o Noturno de Garcia Tolosa é uma composição com ensanchas a permitir que um artista consagrado afirme todas as suas aptidões. 34 “Audição de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14001, coluna Artes e Artistas, 27 de abril de 1917, p. 04. “Barrios executou-o com uma delicadeza de técnica que, ora revelava uma familiaridade absoluta com o seu instrumento, ora uma interpretação que conferia a todo esse trabalho as belezas melódicas de que é feito. “As maiores dificuldades de som o bravo artista as venceu com uma galhardia que jamais nos foi dado apreciar. À maneira que os valores da escala se multiplicavam, as ‘mãos preciosas’ do executante, agora mais ágeis e dominadoras, obtinham dos bordões e das toeiras a soma exata de acuidade e nitidez. “É um virtuose galhardo fugindo a toda espécie de atordoamento e mantendo sempre uma execução calma e preciosa. “Em todo o programa em que, aliás, havia composições em que a técnica se complica e parece não caber dentro daquelas seis cordas Barrios foi sempre o mesmo soberano artista, consciente do seu trabalho, que é, com efeito, límpido e impecável. “Para se aferir do respeito com que o professor paraguaio tem pela sua arte, é bastante observar a inteligência com que ele interpreta a tarantella Souvenir de um grande sabor napolitano. “Qualquer outro artista menos consciencioso teria exagerado a execução. Ele não. Realizou-a com um escrúpulo inexcedível, esmaltando uma por uma todas as gradações que, em conjunto, dão a tarantela um caráter vivaz e enternecedor. “No tango humorístico – Bicho Feio – original do executante, as primas e segundas estabelecem diálogos, falam, vindo por fim os bordões numa ressonância sóbria que mais evidencia o fino humor da composição. “Enfim, a audição rematou com o Hino Brasileiro, esplendidamente executado, e que todos os assistentes ouviram de pé. “Barrios, seria desnecessário dizê-lo, foi fartamente aplaudido. “Bem merecidas as palmas que lhe ofertaram. É realmente, um artista admirável, no violão”. O programa apresentado demonstra uma predominância de repertório próprio do violonista. O noturno Meditação é uma composição de Garcia Tolsa, e não Tolosa, como foi impresso. O Noturno de Chopin já havia tido uma transcrição de Francisco Tárrega, bastante divulgada pelos violonistas europeus, assim como as variações sobre a Jota Aragoneza, que é uma das peças mais executadas por violonistas desse período. O violonista se apresenta em seguida no Teatro Municipal de São Paulo nos dias 5 e 9 de maio, ainda no ano de 1917, sendo estes os primeiros recitais do gênero no principal teatro da capital paulista. Em artigo, o jornal O Estado de São Paulo35 escreve que o violão possui um poder de sonoridade pequeno e a “circunstância agravante de ter um único timbre” e que “obedecia a uma execução da mais difícil técnica e era tão aristocrático quanto o violino e o violoncelo, apesar de ser um instrumento melodioso e com uma “suavidade e uma variedade de sons que falam a alma”. Escreve também erroneamente que o violão descende do alaúde árabe. O programa executado por Barrios no Teatro Municipal é bastante diferente do primeiro: Primeira Parte - Giuliani: Marcha Heróica - Mendelsshon: Chanson du Printemps - Barrios: Recuerdos del Pacífico – valsa de concerto - Aguado: Rondó Brilhante - Tolsa: Meditação Segunda Parte - Chopin: Nocturno op. 9 n.º 2 - Verdi /Arcas: La Traviata (fantasia) - Espinosa: Moraima, capricho mourisco - Coste: a) Estudo para a mão esquerda - Barrios: b) Bicho Feio: tango humorístico Rapsódia Americana, poema popular – idem Jota Aragoneza (variações) – idem A crítica mais uma vez é interessante para sabermos como o violão é recebido nestes primeiros recitais de maior importância36: “Ontem à noite, no Teatro Municipal, realizou-se o primeiro dos anunciados concertos do notável violonista paraguaio Agustín de Barrios (sic). “Pouca gente. Uma verdadeira desolação. E foi pena. Foi pena, porque numa capital, como a nossa, de quinhentos mil habitantes, muitos dos quais cultivando a 35 Concerto de Violão. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14005, coluna Artes e Artistas, 1 de maio de 1917, p. 02 36 “Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14010, coluna Artes e Artistas, 6 de maio de 1917, p. 03. música e muitíssimos sabendo apreciá-la até a comoção, havia o direito de esperar, já não diremos os mil e quinhentos assistentes que no Teatro Solis, do Uruguai, renderam cativante homenagem ao artista, mais uma parcela numérica que ao menos pudesse corresponder à importância de S. Paulo como centro de cultura artística. “Ainda assim, os que assistiram ao concerto do professor paraguaio souberam resgatar a falta dos que lá não foram, aplaudindo com calor e entusiasmo os números do programa. “Barrios foi em todos eles um artista de execução impecável. Na Marcha Heróica de Giuliani, Chanson du Printemps, de Mendelssohn; Recuerdos Del Pacifico, de sua composição no Rondó Brilhante de Aguado; na Meditação de Tolsa e na Fantasia de Concerto de Arcas, o seu mecanismo é de uma técnica riquíssima, realçada por uma nitidez sem igual. “A mão direita de Barrios não tem, como a de todos os executantes o necessário apoio no instrumento. Ela se desarticula toda, e a maneira que desenvolve a execução, vê-se que do punho à extremidade dos dedos o exercício do tato obedece ao sentido rítmico do executante e que é como uma alma recebendo da (sic) do artista todos os efeitos musicais. “Claro, brilhante, imprevisto com delicadezas de frase que dão ao seu estilo um colorido quente, Barrios interessa, entusiasma e comove, consoante o gênero de música que aparece ao auditório. “Na segunda parte do programa em que, além do seu tango humorístico Bicho Feio, bisado por entre acclamações geraes, da Raspódia americana e Jota Aragonesa havia trechos de Chopin, de Espinosa e um estudo de Corte (sic) para a mão esquerda, o professor paraguaio evidenciou-se um verdadeiro mestre. “Essa segunda parte do programa foi talvez a mais interessante e agradável, a julgar pelo calor das palmas com que a assistência acolheu quase todos os números. “Em resumo, foi uma verdadeira festa de arte, ontem à noite, no Municipal. Resta ver se agora no segundo concerto, o público se torna mais acessível e enche o teatro, como é justo”. Com relação ao primeiro recital, há interesse em saber que no recital do Uruguai havia um público de mil e quinhentas pessoas (diferente do recital em São Paulo) ou saber que o violonista utilizava a técnica “sem apoio”37, que daria sonoridade diferenciada da técnica “com apoio”, ao contrário da “escola” de Francisco Tárrega (considerada a mais moderna de então)38. Barrios tem o costume de usar cordas de aço, ao contrário dos violonistas europeus, que utilizam cordas de tripa. Porém, para abafar um pouco o som e deixar menos metálico, o violonista coloca pedaços de borracha na pestana do cavalete39. O programa do segundo recital de Barrios causa interesse, a começar que o violonista mais uma vez demonstra possuir um repertório considerável, pois apresenta um terceiro programa inédito. Desta vez com peças mais variadas, em que se destacam as árias de óperas, transcrições de compositores consagrados, composições próprias e, o mais interessante, uma peça de um compositor brasileiro, a Tarantela, de Levino Albano da Conceição, apresentada sob o título de Souvenir Napolitain. Esta peça será gravada por Barrios duas vezes, com pequenas alterações entre elas, e será publicada como sendo de sua autoria. Entre outros violonistas que interpretam a peça estão também Américo Jacomino. Barrios fará sua última apresentação no interior de São Paulo, em Campinas, no dia 8 de 1917. Nesta mesma ocasião uma outra figura importante do meio musical violonístico estaria para aportar no Brasil, a espanhola Josefina Robledo, discípula direta daquele que já era considerado o introdutor de uma moderna escola violonística, Francisco Tárrega. Junto aos recitais de Américo Jacomino e Agustin Barrios, quase ao mesmo tempo, a presença de Josefina Robledo constituirá o tripé necessário para o definitivo estabelecimento do violão em nossa sociedade, ainda mais em se tratando de uma mulher violonista e virtuose, algo absolutamente inédito para o Brasil. Barrios volta a se apresentar em São Paulo apenas em 1929, numa série de três recitais noTeatro Municipal de São Paulo. Os programas são os seguintes: Primeiro Concerto, 13 de outubro de 1929: I - Barrios: 1- Serenata Mourisca; 2 - La Catedral a) andante religioso; b) allegro; 3 - madrigal; 4 - Capricho Hespanhol 37 Esta técnica consiste em tocar uma corda do violão repousando o mesmo dedo na corda superior, dando sonoridade específica e diferente da técnica “sem apoio”, segundo a qual não se apóia o dedo na corda superior. 38 Tárrega nunca teve uma escola propriamente dita, mas seus ensinamentos foram passados adiante por seus vários discípulos, notadamente Emílio Pujol, que em 1934 escreveu sua Escola Razonada de la Guitarra, em 4 volumes, inspirado nos ensinamentos de seu mestre. 39 BARTOLONI, Giácomo. O violão na cidade de São Paulo no período de 1900 a 1950. Dissertação de mestrado / UNESP. São Paulo, 1995, p. 188. II - Bach: 5 - Prelude; 6 - Loure Beethoven: 7 - Minueto Mozart-Sors: 8 - Tema variado; Chopin: 9 - Noturno III - Albeniz: 10 - Sevilla Barrios: 11 - Souvenir d'un rêve; 12 - Harmonias de America; 13 Alvorada Histórica Paraguaia Segundo Concerto, 18 de outubro de 1929: I - Barrios: 1 - Confissão; 2 - Mazurca Apassionata; 3 - Valsa n.º 3; 4 - Allegro Brilhante II - Bach: 5 - Courante e 6 - Gavotte Chopin: 7 - Mazurka Granados: 8 - Danza Arcas: 9 - Concerto em lá maior III- A Napoleão: 10 - Romance Barrios: 11- Cueca Chilena; 12 - Contemplação e 13 - Grande Jota Aragonesa Não é publicado no Estado de São Paulo o programa de despedida de Barrios, realizado em 25 de outubro. I.5 - Josefina Robledo: Uma mulher violonista no Brasil – 1917/1922 A biografia de Josefina Robledo é ainda hoje pouco conhecida. Segundo o Diccionario de Guitarristas, de Domingos Pratt, Robledo (Josefina Robledo Gallego) nasce na capital de Valência, Espanha, em 10 de maio de 1897, estudando com Tárrega a partir dos 7 anos de idade, terminando em 1909, com a morte do professor. Estuda harmonia e história da música com Peña Roja, tendo dado seu primeiro recital em 1907. Em 1914 visita pela primeira vez a América do Sul, com apresentações na Argentina. Sua fama provavelmente não ultrapassou o tempo pelo fato de a violonista não ter registrado sua arte em discos, e alguns conhecem seu nome apenas pela partitura da Sonata n.º 2, de Eduardo Lopes Chavarri, que dedicou a obra à violonista. Robledo vem ao Brasil acompanhada de seu marido, Fernando Molina (segundo Pratt, um violoncelista medíocre), após recitais em Montevidéu e Buenos Aires. Como de praxe, sua primeira audição é um evento fechado à imprensa, no dia 23 de julho de 1917, na “Rotisserie Sportsman”. O jornal O Estado de São Paulo assim descreve o evento40: “Trouxemos da audição de ontem à tarde na ‘Rotisserie Sportsman’ uma impressão excelente. “A sra. Josefina Robledo é, em verdade, uma artista de talento, uma executante que reúne a profundos conhecimentos de técnica uma sensibilidade comovente e encantadora. “Sóbria no estilo, segura no frasear, tirando das cordas do violão os máximos efeitos, a sra. Robledo sabe elevar esse rebelde instrumento à categoria dos que, num concerto público, exercem sobre o auditório a maior impressão de encanto. “O violão, como aqui já uma vez dissemos, é um instrumento que teve no seu longínquo passado um grande esplendor. Caiu mais tarde, maltratado pelas mãos mercenárias de quem lhe não conhecia a estrutura, a alma, nem a capacidade de produção. Modernamente, começa a reabilitar os seus créditos, já interessa os círculos artísticos e documenta nos grandes salões as suas qualidades de instrumento aristocrático. É claro que, para isso, só tendo ao seu serviço, dentro de uma esfera superior de arte, cultores da envergadura de Tárrega, que é o violonista mais maravilhoso que há hoje em Espanha, ou Barrios, o professor paraguaio que ainda não há muito sensibilizou o nosso público ou ainda Josefina Robledo, que ontem à tarde, na audição especial que ofereceu à imprensa, afirmou exuberantemente as suas altas qualidades de ‘virtuose’, provando ao mesmo tempo como esse instrumento, dominado por mãos autorizadas, pode interpretar os grandes clássicos. “Na audição de ontem, a sra. Josefina Robledo deu-nos uma página romântica de Chopin, outra de Schumann, interpretando também Beethoven e Bach. Isto bastaria para lhe pôr em relevo as características da sua técnica. Mas depois interpretou a Jota Aragonesa e La Mariposa, de Tárrega. Essa última composição é cheia de arpejos, que Robledo só com a mão direita, os seus cinco dedos em constante movimento, dando-nos a fina ressonância de um bater de asas nalgum pombal distante. 40 Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14089, coluna Artes e Artistas, 24 de julho de 1917, p. 04. “Pertencem-lhe essa especialidade de efeitos, e só vendo a artista é que se pode fazer uma idéia exata da superioridade com que ela os consegue tirar das cordas do seu instrumento. “Em Jota Aragoneza a execução de Robledo obedece a um estilo profundamente sentimental. Sente-se bem através daqueles sons a alma de uma região singular com as suas canções abeberadas de melancolia, que os dedos da artista e o seu espírito enamorado traduzem com suavíssima ternura. “Em resumo, a sra. Robledo é, no violão, uma artista finíssima, que o público vai apreciar, dentro em breve, num dos nossos primeiros salões. “Quanto ao sr. Fernando Molina, diremos que é um violoncelista de grandes recursos, fraseando com sentimento, executando com segurança, evidenciando, enfim, temperamento e arte”. A estréia oficial de Robledo acontece no dia 29 de julho de 1917, domingo, no salão do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. O programa apresenta as seguintes músicas: Primeira Parte Josefina Robledo - Albeniz: Serenata Espanhola Waltz – Godard Trêmolo – Gottschalk Jota Aragoneza – Tarrega Segunda Parte Violoncello e violão – Molina e Robledo - Squire: Priére - Pergolese: Nina - Godard: Sur lê Lac - Glazounov: Serenata Espanhola Terceira Parte Josefina Robledo - Albeniz: Granada - Bach: Bourré - Chopin: Noturno op. 9 n.º 2 - Paganini: Carnaval de Veneza Analisando o programa, observamos alguma semelhança com o repertório de Agustín Barrios como transcrições de peças de autores consagrados (Chopin, Bach), peças originais de autores contemporâneos (Tárrega) e peças de autores da própria nacionalidade da artista (Albeniz, no caso de Robledo, em provável transcrição de seu mestre Francisco Tárrega). A crítica do dia posterior ao recital, 30 de julho, é também um importante documento sobre este início de apresentações do violão solo no Brasil41: “Nesta seção já temos feito várias referências ao excepcional valor da concertista Josefina Robledo, que ontem deu a sua primeira audição pública de violão, no salão do Conservatório. “Foi, por isso, com alguma surpresa que verificamos não corresponder o número de pessoas presentes ao acontecimento artístico que devia ser, como foi, o concerto de Josefina Robledo. Não seria difícil, entretanto, encontrar vários motivos que explicassem razoavelmente a diminuta concorrência; a maioria deles, porém, escapam à nossa esfera de ação e interessam apenas ao empresário. “Há uma circunstância que, de algum modo, justifica a pouca curiosidade do público pelas execuções de violão. Esse instrumento vulgar muito raramente encontra quem o eleve da sua condição de simples acompanhador de cantos e danças populares, para que, fora de seu meio habitual, possa interessar a uma platéia educada. É natural, pois, certa desconfiança com que se recebem os violonistas, máxime (sic) num momento em que toda gente hesita diante da mais insignificante despesa... “Mas Josefina Robledo é um caso de exceção. Nesta admirável ‘virtuose’ reúnese, num conjunto incomparável, uma técnica de escol. Na execução, de uma nitidez fora do comum, dispõe de recursos assombrosos que lhe asseguram o domínio completo de seu instrumento e lhe permitem realçar todo o seu talento de intérprete vibrátil e finamente sensível, mas conscienciosamente e de uma rara probidade artística”. 41 Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14095, coluna Artes e Artistas, 30 de julho de 1917, p. 03. “O seu concerto de ontem foi um triunfo. O programa prestava-se igualmente à exibição de técnica e à revelação das suas qualidades de intérprete. Desde o trêmolo de Gottschalk até o Noturno op. 9 n.º 2 de Chopin e a Bourré de Bach, com escalas pelas Jotas Aragonezas e outras peças características. Não se pode destacar nenhuma delas, pois que em todas a sra. Robledo pôde ostentar qualidades extraordinárias. “Também tomou parte no concerto o sr. Fernando Molina, distinto violoncelista, de boa escola e de execução correta e sóbria, que se ouve com o máximo prazer. “Estamos certos de que num segundo concerto o público paulista saberá corresponder ao extraordinário valor da violonista sra. Josefina Robledo, que é, sem nenhum favor, uma autêntica notabilidade”. O segundo concerto de Robledo dá-se no primeiro dia de agosto de 1917. Novamente para a chamada da apresentação o jornal enaltece o violão como instrumento de concerto e as qualidades da violonista como uma musicista superior42: “[...] Também não é possível que o fato de se tratar de um concerto de violão não despertasse em alguns espíritos o necessário interesse. Diga-se, porém, desde já, que se os cultores da boa música e os que a amam pelo que ela tem de beleza e bondade houvessem assistido ao festival de domingo, não sairiam dali menos impressionados e menos satisfeitos que quando assistiram aos concertos das notabilidades que se têm apresentado ao nosso público no piano, no violino e no violoncelo”. E continua: “É preciso insistir neste ponto: o instrumento da sra. Robledo não se parece em coisa nenhuma com o violão popular, das serenatas e troças, dos bailaricos e ‘assustados’. Para todas as coisas deste mundo se estabelecem uma hierarquia e não há um só recanto da vida onde se não possa encontrá-la . No que respeita ao mundo musical bastará dizer que o ‘virtuosismo’ achou no violão uma alma e conseguiu elevá-la ao nível em que se acham hoje as dos mais aristocráticos instrumentos. E de como o domínio absoluto desse instrumento é tanto ou mais difícil que o do piano, violino ou violoncelo, di-lo eloqüentemente o limitadíssimo número dos seus executantes”. Com o sucesso alcançado, a Sociedade de Cultura Artística resolve reiniciar suas reuniões, com outro recital de Robledo e poesias recitadas por Martins Fontes, presentes em seu livro Verão. No programa, a única novidade é a inclusão de uma das 12 Danças Espanholas, de Granados, escritas originalmente para piano, além do fato de seu marido 42 Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14096, coluna Artes e Artistas, 31 de julho de 1917, p. 04. Francisco Molina ser acompanhado pelo renomado pianista Agostino Cantú, um dos mais importantes nomes da sociedade musical paulista, sendo professor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e lecionando para, entre outros, Mário de Andrade e Francisco Mignone. Mas desta vez a assistência é bem mais numerosa, a ponto de todos os lugares estarem ocupados e muitos sócios terem de ficar de fora da apresentação, o que ocasiona um novo esquema de limitação de números de entradas para os não-sócios da Sociedade. Com a saída de Robledo da capital, após alguns recitais, o paraguaio Agustin Barrios retorna para outros concertos, inclusive em cidades do interior como Ribeirão Preto em 8 de outubro de 1917, no Teatro Carlos Gomes, onde apresenta dois recitais que estavam marcados e mais dois extras a preços populares, dado o sucesso alcançado. Adiante-se que, no fim de 1917, também Américo Jacomino retorna à capital. Dois anos depois, em 25 de maio de 1919 Josefina Robledo apresenta o que inicialmente será seu recital de despedida em São Paulo, pois regressaria para a Espanha logo em seguida, o que, no entanto, não acontece. A audição se dá no Conservatório e tem como novidade no programa a apresentação de duas Danças Espanholas, de Enrique Granados (as de número 10 e 11), e a Canção do Berço, de Emílio Pujol, outro ex-aluno de Tárrega. Assim se manifestou a crítica43: “O concerto desta notável violonista, realizado ontem no salão do Conservatório, teve uma esplêndida concorrência, e deu ensejo a uma entusiástica manifestação do auditório à simpática artista. “Devemos a d. Josefina Robledo a primeira audição de 2 peças de Granados, o ilustre compositor espanhol, cujo nome, já célebre pelas suas produções, ganhou ainda maior notoriedade pelo desgraçado fim do artista. Como é sabido, Granados em viagem para Nova York, onde devia dirigir a representação de sua última ópera, Goyescas, morreu no naufrágio do paquete ‘Sussex’, torpedeado pelos Alemães. “As suas duas composições que ontem ouvimos foram as Danças Espanholas, n.º 10 e 11. Ambas muito belas, especialmente a segunda, não só como inspiração mas também como técnica de composição. 43 Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 45, n.º 14754, coluna Artes e Artistas, 27 de maio de 1919, p. 02. “O resto do programa, que ontem publicamos, foi executado magistralmente pela sra. Robledo, que teve no sr. Molina um colaborador eficaz e consciencioso, cuja parte foi desempenhada com bastante emoção e louvável probidade. “Não nos parece demais insistir no valor excepcional da sra. Robledo, como ‘virtuose’ do violão, porquanto não vimos ontem no salão do Conservatório muitos dos nossos ‘habitués’ das audições musicais e só pudemos registrar a presença de limitado número dos nossos musicistas. O violão, de fato, não é instrumento de concerto que ordinariamente desperte grande interesse. Mas, já o dissemos aqui e não nos cansaremos de repetir, nas mãos da sra. Robledo ele apresenta modalidades tais que o elevam a uma altura nunca atingida. De certo muitos dos nossos entendidos em assuntos musicais sorriram ao ver no programa da sra. Robledo a Bourré de Bach; outros talvez se indignassem, considerando um sacrilégio. Nem uns, nem outros têm razão. Se tivessem ouvido a exímia violonista como os que a ouviram ontem, como estes a teriam aplaudido com o melhor do seu entusiasmo, pois o grande mestre alemão foi interpretado com o rigoroso respeito e de forma a realçar todas as belezas de sua música, por meio de recursos técnicos de efeitos surpreendentes no violão. Convém acrescentar que a sra. Robledo toca em violão autêntico de cordas de tripa e que a sua execução obedece aos melhores preceitos da técnica do seu instrumento, sem truques, nem artifícios para impressionar o público. “Por isso cada concerto é para essa extraordinária violonista um novo triunfo e para a maior parte dos seus ouvintes uma revelação. Assim foi ontem, tanto que muitos dos presentes insistiram com os dois simpáticos artistas para que dêem mais uma audição em S. Paulo. “Apesar de terem a sua partida marcada, ambos acederam, fixando seu segundo e verdadeiramente último concerto para o dia 11 de junho, no Conservatório”. Este "último" concerto ocorre com bastante público e uma grande novidade: a inclusão da versão para violão solo do Minueto e Gavota da ópera O Contratador de Diamantes, de Francisco Braga. Esta partitura está, infelizmente, perdida. Robledo apresenta em seguida recitais no Automóvel Club e na Associação da Câmara Portuguesa de Comércio, depois ruma para Santos, onde toca no salão do Real Centro Português no dia 2 de setembro, seguindo para o Rio de Janeiro. A violonista aparecerá novamente na capital apenas em 1923, para recital no Conservatório Dramático e Musical. O programa não apresentará nenhuma novidade em relação a seus recitais anteriores, apesar da violonista não se apresentar mais com seu esposo Molina. Outra diferença é que os recitais serão agora em duas partes: Primeira Parte - Tarrega: Capricho Árabe - Serenata - Mendelssohn: Romanza n.º 6 e 12 - Tarrega: Dois Estudos - Albeniz: Granada - Serenata - Pujol: Canção do Berço - Tárrega: Sueño - Trêmulo Segunda Parte - Albeniz: Cadiz - Beethoven: Minueto del septimino - Bach: Loure - Chopin-Robledo: Vals op. 34 n.º 2 - Chopin: Nocturno op. 9 n.º 2 - Tarrega: Jota Aragoneza A crítica para este concerto em 1923, no jornal O Estado de São Paulo se reporta às audições de 191944 "[...] Não se pode afirmar que tenha progredido, nestes últimos tempos, a sra. Josefina Robledo. Quando se apresentou em São Paulo, a sua interpretação já era admirável, e insuperável a sua técnica. Ainda hoje, é a mesma artista completa e inexcedível." Em fevereiro de 1922, vésperas dos festivais da semana de arte moderna, enquanto músicos, críticos e público preparam-se para ouvir a música de Villa-Lobos no Teatro Municipal, Robledo se apresenta novamente no Cine Teatro República, a 1.º de fevereiro, e no Salão Germânia, no dia 7 do mesmo mês. A principal notícia ocorre no dia 8 de maio, quando o Estado de São Paulo anuncia que “A notável violonista Josefina Robledo, que o nosso público tem várias vezes aplaudido como um dos maiores ‘virtuosi’ do violão, resolveu definitivamente fixar-se em São Paulo, onde se dedicará também ao ensino do instrumento com o qual tem conquistado tantos triunfos”. 44 Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 49, n.º 16073, coluna Artes e Artistas, 25 de janeiro de 1923, p. 03. Josefina Robledo, na verdade, muda-se para Mar del Plata logo em seguida, sendo nomeada no ano seguinte professora do Conservatório Willians, regressando então para a Europa, onde não se apresentava havia 10 anos. Molina, o violoncelista casado com Robledo, acaba por impedi-la de se apresentar. Domingo Prat, expressando certa revolta pela ausência da violonista nos palcos, assim termina seu verbete a ela dedicado: “O Amor, dominante e egoísta, privou-a do contato com o público. Desde esse momento, não tivemos mais oportunidade de escutá-la. A arte de Robledo era nobre e sóbria; sua execução, delicada e arrogante, maravilhava o auditório. Dos discípulos que se seguiram ao maestro Tárrega, ao deixar de pulsar com gema-unha, vantajosamente quanto essa que nos ocupa. ninguém se sobressaiu tão Como compositora, não se conhece nenhuma obra original publicada. Seu repertório foi eclético, abundante e do melhor, dominando as transcrições. A dor de perdê-la, vivendo, é muito para quem admirou a arte de Josefina Robledo, ainda mais havendo chegado à altura dos maiores instrumentistas que já temos conhecido”. Capítulo II - Américo Jacomino – 1889/1930 II.1 - Nascimento de Américo Jacomino Américo Jacomino nasce em São Paulo em 12 de fevereiro de 188945, na Rua do Carmo, sendo o terceiro filho do casal Crescêncio Jacomino e Vicência46 Gargiula 45 Tomamos como referência as informações de Luís Américo Jacomino, filho de Canhoto, pois, segundo sua certidão de nascimento, Jacomino teria nascido na Itália e, segundo sua carteira de identidade, no ano de 1890. Ainda segundo seu atestado de óbito, o violonista teria falecido aos 38 anos de idade, e não aos 39, que seria o correto. 46 Segundo o atestado de óbito de Jacomino, o nome de sua mãe está grafado como Vicenta. Jacomino, imigrantes vindos de Nápoles na década de 1880. Antes dele teriam nascido, em Nápoles, Ernesto e Edoardo, sem referência de datas, além de Amadeu (1983). Alfredo, o caçula, nasce em São Paulo, em 1901. Crescencio trabalha em diversos empregos, como ourives e, principalmente, decorador e pintor paisagista de casas antigas, além de ser professor de primeiras letras, sendo responsável pela educação formal de todos os filhos. Em Nápoles teve uma grande fábrica de jóias, tendo saído do país devido a uma doença de coração da esposa, aproveitando o forte movimento imigratório de então. São Paulo foi o lugar ideal escolhido, pelo bom clima da cidade na época e pelas crescentes opções de trabalho. Américo Jacomino não vai a escola e estuda com o pai e o irmão mais velho Ernesto. Esta educação informal talvez explique os erros de gramática do violonista, comprovados pelas cartas enviadas a seus amigos no futuro. Como é canhoto, os pais tudo fazem para que ele aprenda a usar a mão direita, pois na Itália os canhotos são tidos como pessoas mal educadas. Não se sabe ao certo sobre a formação musical da família Jacomino, mas as indicações sobre o início do aprendizado no violão são de que Américo tem o primeiro contato com o instrumento por volta de 1901, através do irmão Ernesto, que também lhe ensina bandolim. Este irmão compra um violão por 3 ou 4 mil réis, que o pai chega a quebrar para que os filhos não levem a sério o aprendizado do instrumento. Américo então conserta o violão e tenta estudar escondido dos pais. Aos 14 anos de idade, ainda a morar na Rua do Carmo, Américo Jacomino vê o irmão Ernesto tocar violão e bandolim e lhe pede para que o ensine. Este, achando que como canhoto seu irmão não pode aprender, desencoraja-o. Américo fala fluentemente o italiano, e canta nesta língua canções napolitanas aprendidas com os pais. Segundo a revista Violão e Mestres47, em 1904 tem Américo suas primeiras experiências como violonista profissional, dando seu primeiro recital no Cinema Guarani, em Campinas. Por volta de 1905, com 16 anos, tem contato com o cavaquinho, que passa a estudar seriamente. Nesta época, Américo já está trabalhando como pintor e jornaleiro. Com o dinheiro compra seu primeiro violão. Em 1907 adquire um violão fabricado por Di Giorgio, e com este violão Jacomino faz suas primeiras e importantes gravações, até 1917, quando adquire um violão fabricado por Tranquillo Giannini, até hoje em posse de seu filho Luís Américo. 47 VIOLÃO E MESTRES, São Paulo, Violões Giannini S. A, n.º 1, 1964, pp. 4-8. Em 1908 morre sua mãe. A família muda-se, então, para a Rua Santo Amaro, número 39, ainda no centro da cidade, não longe do local da antiga moradia. Um ano depois é que vem a conhecer seu mais famoso parceiro de serestas, o cantor Roque Ricciardi, que mais tarde assumiria o nome artístico de Paraguaçu. Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974, o cantor assim descreveu o encontro: “Conheci Canhoto numa serenata na Mooca, na Rua Taquari. Numa festa de aniversário, perto do final, lá pelas duas e meia da noite, estávamos indo a pé para o Cascata, que era um bar que ficava aberto dia e noite. Perto da Rua Borges Figueiredo Canhoto e sua turma, que tinha o Belchior da Silveira, um gaúcho, fizeram uma serenata para dizerem que eram melhores que nós. Eu vi um tocando violão com as cordas ao contrário, um violão bonito tachado com madrepérolas. Perguntei sobre quem era o violonista e o Domingo Rubiero disse: ‘Mas esse é o famoso Canhoto!’. Eu só o conhecia de nome, e quando ele terminou de tocar eu fui cumprimentá-lo, nos abraçamos e nos tornamos amigos dessa noite até a sua morte. Fui eu quem levou o caixão para o cemitério”. Segundo Paraguaçu, cada bairro tinha seu conjunto de serestas, com um respectivo chefe. Ele teria sido o chefe do conjunto do Brás, e Canhoto teria sido o chefe do conjunto da Bela Vista. Pelas informações concedidas a Henrique Fôreis, o Almirante, em 1954, existem algumas mudanças quanto aos dados deste encontro. O cantor teria dito que estava cantando com seu grupo na Rua da Mooca e Canhoto vinha de uma serenata. Quando teria acabado, o violonista teria continuado a música, mas sem solar. Jacomino logo monta um pequeno grupo instrumental com o nome Grupo do Canhoto, que o acompanharia muito nesses primeiros anos de atividade, em concertos e, principalmente, em gravações. Ainda com Paraguaçu, em 1907, Jacomino começa a se apresentar em cinemas como o Bresser, Braz-Bijou e o Éden, onde os ingressos custam 300 réis48, e em teatros, circos e restaurantes como o Cascata, na esquina da Senador Feijó com a Quintino Bocaiúva. Essas apresentações são fundamentais pelos contatos que o violonista vai estabelecendo, além da prática em se apresentar em público. Isto sem dizer do futuro 48 Idem, ibidem. contrato que o violonista teria na Odeon, que apareceria como conseqüência dessas primeiras apresentações. Outro aspecto a ser ressaltado é que o violonista vai adquirindo prática como compositor, pois em suas primeiras gravações predominam músicas de sua própria autoria. II.2 - Primeiras gravações de Américo Jacomino – 1912 A Discografia Brasileira em 78 RPM, editada em 5 volumes pela FUNARTE em 1978, apresenta como prováveis primeiras gravações de Canhoto músicas com seu conjunto (Grupo do Canhoto), e em solo de violão, lançadas pela gravadora Odeon, compreendidas na série 120.000, entre 1912 e 1913, em sistema mecânico de uma face apenas. As músicas executadas com seu conjunto foram, com respectivos números, a polca Saci, de João Batista do Nascimento (120.589), a valsa do mesmo autor, intitulada Saudades de Iguape (120.590); a valsa Suplication de W.J. Peans (120.591); a valsa de Antonio Picucci, Tuim-Tuim (120.592); a mazurca Amores Noturnos (120.593) e a polca Babi (120.594), ambas sem indicação de autor. Como gravações solo estão a valsa Belo Horizonte (120.595); a polca Pisando na Mala (120.596); o dobrado Campos Sales (120.597) e a mazurca Devaneio (120.598), todas de autoria de Américo Jacomino. A pequena gravadora Gaúcho, do sul do país, na série 4.000 (lançada entre 1912 e 1920) iria lançar duas gravações, sendo a primeira com música de Américo Jacomino e a segunda de autoria incerta, ambas interpretadas pelo grupo Os Geraldos (V. Geraldo e G. Magalhães), compreendendo os sambas Nhá Maruca Foi s'imbora (4.042-A) e Nhá Moça (4.042-B). Na mesma época, entre 1912 e 1913, pela gravadora paulista Phoenix (filial da Odeon em São Paulo), Américo Jacomino lança uma série de discos de uma face, ainda no sistema mecânico. A primeira gravação é a valsa Saudades de minha Aurora (número 70.786), de sua própria autoria, interpretada ao violão solo, e a segunda é a valsa Saudade de São Bernardo (número 70.790), de Antonio Picucci, interpretada pelo Grupo do Canhoto. O equívoco com relação ao primeiro registro fonográfico do violonista acontece justamente pelas datas coincidirem quanto ao lançamento dos discos, sendo que a numeração não corresponde exatamente à ordem gravada pelos músicos, e sim uma ordem de organização da gravadora. O que é certo é que estas são as primeiras gravações do violonista, hoje raríssimas de serem encontradas. Outro fator a ser salientado é que a Odeon era coordenada por Frederico Figner e a Phoenix por seu irmão Gustavo Figner, o que possibilitava a ambos utilizar os mesmos artistas. Tomando-se como exemplo as gravações de Nhá Maruca Foi S’imbora, Nhá Moça e Saudades de Minha Aurora, podemos avaliar a técnica do violonista naquele momento, a partir de seu eclético repertório musical, executando com habilidade obras de gêneros diversos (valsas, sambas, polcas, mazurcas e dobrados). Apesar de serem gravações antigas, nota-se a obtenção de timbres diversos no violão, como no dobrado Campos Sales, em que Canhoto se utilizará pela primeira vez do rufo, efeito que imita caixa-clara, como nas bandas marciais. Este curioso efeito seria retomado em uma de suas peças mais interpretadas, a Marcha Triunfal Brasileira. Em 1914, aparece a primeira referência à venda de discos de Canhoto. Trata-se de um anúncio da Casa Edson, sobre “grandes novidades paulistas gravadas” pelos grupos Tupinambá, Veríssimo, Excêntrico, do Choroso, do Canhoto, do Phoenix, e sobre o repertório do Jaime Redondo e os duetos de Pepe & Oterito, “cantando pela primeira vez para gramophones”49. Em 27 de dezembro de 1915 o jornal O Estado de São Paulo publica a primeira notícia sobre recital de Américo Jacomino: “High-Life: Na tela serão exibidos doze filmes escolhidos. No palco grande estréia do trio brasileiro - Caramurú, Américo, o canhoto, e Edú Gomes”. Estas apresentações continuam nos dias 28, 29 e 30 do mesmo mês. No decorrer do ano de 1916, em 17 de abril, o barítono Luiz de Freitas organiza um espetáculo em benefício de um amigo enfermo, Ramiro Freire. Entre os artistas que participam estão “várias senhoritas do bairro da Consolação” e Américo Jacomino. Será a preparação do violonista para sua estréia definitiva, o que virá a acontecer precisamente no dia 23 de abril, conforme pequeno anúncio do Jornal O Estado de São Paulo50. Este escreve: “Estréia do aplaudido violinista (sic) da casa Edson”, com apenas o apelido de “Canhoto”, no Teatro Colombo, no bairro do Brás, sendo que na ocasião estreará também o já citado barítono Luiz de Freitas. O mesmo anúncio aparece no dia 29 do mesmo mês. Antes, porém, no dia 25, uma nota maior aparece na coluna 49 ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, Ed. Perspectiva, coleção debates n.º 163, p. 324. 50 O Estado de S. Paulo, 23 de abril de 1916, p. 16. Palcos e Circos, responsável pela divulgação dos eventos culturais da cidade. Esta diz51: "Colombo - Esta confortável Casa anuncia para hoje em ‘Soirée’ popular, os comoventes dramas – ‘Nunca Mais...’, ‘Os Fugitivos’ e ‘Justiça da Montanha’. No palco, teremos dois interessantes números de variedades: diversas execuções pelo aplaudido violonista da Casa Edson – Canhoto, e pelo barítono brasileiro Luiz de Freitas, da Academia Nacional de Música, de Roma. Como se vê, o programa é bastante convidativo”. No dia 16 de maio de 1916 novamente o violonista João Pernambuco, cada vez mais conhecido no Rio de Janeiro – onde mora - aparece em São Paulo com um novo grupo, ou “troupe” sertaneja. João Pernambuco dará concertos até o final do mês, quando ruma para Santos e cidades do interior paulista. Não há notícias de que Américo Jacomino tenha assistido a essas apresentações, mas não é difícil imaginar afirmativamente. A Protofonia do Guarani, apresentada pelo “sexteto”, é uma das obras que Canhoto grava em disco, numa versão para violão solo. E ambos, Pernambuco e Canhoto, são justamente os dois violonistas brasileiros que mais fama atingem neste primeiro quarto do século vinte. II.3 – Em 1916, o primeiro grande recital de Américo Jacomino. A mudança de opinião da crítica em São Paulo No anúncio de 12 de julho de 1916 o jornal O Estado de São Paulo escreve52: “Deve seguir hoje para o interior, visitando Descalvado e Amparo, onde pretende realizar concertos, o hábil violonista sr. Américo Jacomino (canhoto) sobre o qual a imprensa de São Paulo tem feito as mais encomiásticas referências”. Sobre os dois concertos em Descalvado, no Ideal Cinema, a crítica diz que “Canhoto, que organizará excelente programa para ambos os festivais, soube conquistar no seu violão, com a execução simplesmente arrebatadora de cada número, os mais sinceros e frenéticos aplausos da grande e seleta assistência que teve a ventura de o ouvir”. E, terminando a 51 CINEMATÓGRAFOS. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13636, coluna Palcos e Circos, 25 de abril de 1916, p. 02. 52 AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13714, coluna Palcos e Circos, 12 de julho de 1916, p. 02. notícia, “consta que Canhoto virá em breve a esta cidade realizando então mais um concerto”. E é justamente o que acontece em notícia do dia 30 de agosto53: “Em 5 de setembro próximo, às 20 horas e meia no Salão do Conservatório Dramático, este professor de violão dará um concerto cujo programa foi confeccionado com muito bom gosto. “Já nesta folha tivemos a ocasião de pôr em relevo os dotes artísticos do simpático moço. Depois disso ele fez-se ouvir no Automóvel Club, no Trianon, no Conservatório Dramático e em alguns dos mais elegantes salões da capital, colhendo largo prêmio da sua fina execução. “A festa abrirá por uma conferência sobre instrumentos, escrita expressamente pelo nosso companheiro Manuel Leiroz e que, com sua gentileza com o violonista, será lida pelo Sr. Danton Vampré. “Durante a conferência, Américo Jacomino executará as composições Suplicando Amor, Magia de Olhar, Tango da Agarra, etc. “Na Segunda parte do concerto – parte exclusivamente musical – serão executados a protofonia do Guarani, Cateretê, imitação da vila caipira; dobrado Campos Sales e as valsas Medrosa e Sonhando. “É de se esperar que o público encha o salão, dadas as qualidades de Américo Jacomino, que é um tocador exímio e um artista cheio de sentimento”. Causa vivo interesse realmente o recital de Canhoto, pois nos dias posteriores vários artigos foram publicados enfatizando as qualidades do violonista e também a conferência, que “reabilitaria o instrumento”54. Do ponto de vista histórico o fato interessa sobremaneira para o instrumento em São Paulo, pois pela primeira vez se falou de forma mais “séria” sobre as possibilidades reais que o violão poderia atingir. É justamente sobre isto que o jornal O Estado de São Paulo dedica seu artigo do dia 2 de setembro de 191655: 53 AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13763, coluna Artes e Artistas, 30 de agosto de 1916, p. 04. 54 AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13766, coluna Artes e Artistas, 2 de setembro de 1916, p. 02. 55 Idem, ibidem. “... Far-se-á a reabilitação desse instrumento, despoetisado (sic) por mãos inábeis, mas reivindicado por tradições românticas, em que figuram ‘los hermosos’ da velha Espanha, os famosos Scarpins da poética Itália, os alegres e espirituosos boêmios da França de Luís XVI.” E, mais adiante, prossegue o artigo: “E provar-se-á que o violão, a que o plebeísmo do nosso povo deu irreverentemente a classificação de ‘pinho’, é um instrumento que tem tanto de aristocrático e de fino quanto o violino e o violoncelo, ambos da mesma família, e que a canção e os cantores populares, antes de subirem das ruas para os palcos e salões, fizeram o encanto dos ambientes rústicos e alcançaram a glória depois de uma fatigante existência. “Além da conferência haverá cantos expressivos do sertão brasileiro assim como um cateretê em que as cordas do violão de Jacomino farão evocar ao auditório um ‘batuque’ do mais característico efeito coreográfico. “Vai ser um festival de magníficas impressões”. No grande dia do concerto, 5 de setembro de 1916, novamente o jornal O Estado de São Paulo publica artigo a respeito, mas desta vez com mais ênfase ainda na palestra que será proferida por Manuel Leiroz. O artigo publicado no jornal, apesar de não ser o formato definitivo, constitui documento mais próximo do que poderá vir a ser a palestra, importantíssima para a história do violão brasileiro, por ser um dos primeiros grandes artigos a exaltar as qualidades do instrumento56: “É hoje à noite que se realiza o concerto de violão organizado por este simpático artista com o concurso do sr. Danton Vampré, que lerá a conferência do nosso companheiro Manuel Leiroz, do sr. Trajano Vaz, que cantará lindas canções do Brasil, entre as quais o ‘Marroeiro’, e do sr. Silvério Gaudêncio, que acompanhará ao violão. “O festival será iniciado com a conferência sobre instrumentos. Seguindo o pensamento de Miguel Zamacois, o conferente porá em relevo a função e préstimo de vários instrumentos”. “Depois, reivindicará para o violão o crédito que ele, na antigüidade, sempre gozou, mostrando que em Portugal, nos séculos heróicos das viagens e das batalhas, 56 AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13769, coluna Artes e Artistas, 5 de setembro de 1916, p. 05. esse instrumento acompanhava trovadores e troveiros na sua vida amorosa e de aventuras, conhecera desde os paços dos reis às vielas da mouraria e embarcara com mais de cinco mil violas para os areiares da África, onde testemunhou a derrota de Alcácer Kibir. O violão exerceu a ditadura nas salas mais elegantes, figurou nos teatros, perturbou e endoideceu uma legião de mulheres e obrigou muitos escritores estrangeiros a render homenagem ao seu domínio encantador”. “O seu papel saliente nos ‘minuetos’ da cidade e da corte, nos ‘fandangos’, no ‘arrepia’, no ‘oitavado’, no ‘arromba’ e outras danças, jamais poderá ser esquecido. D. João V, que era um rei folgazão, considerava-o um instrumento precioso para aligeirar o fardo da vida. “Em França, no primeiro império, na devassidão dissolvente do segundo, sob a restauração, o violão entrou no gosto do público, juntamente com as primeiras ‘troupes’ vindas da Itália, tomou parte num concerto de cães, inventado para divertir Luís XI, deliciou epicuristas do bairro latino, os cabarés de Montmartre, deu serenatas às mais aristocráticas mulheres e foi a causa, um dia, de Margarida de Escócia, esposa de Luís XI, ao ver a dormir o normando Alain Chartier, beijar-lhe a ‘preciosa boca’, de onde tinham saído as palavras de um madrigal feiticeiro. “O violão acompanhou os cantos de Ninon, nas poesias folgazans de Chaulieu e nas coplas ferinas de João Batista Rousseau. E nos bailes de máscaras introduzidos em França, em 1716, esteve ao serviço da princesa de Valois e do Duque de Modena, seu noivo, encantando os ‘cavalheiros de indústria’, que sempre os acompanhavam. “Em Espanha, no século XVII, pontifica nas reuniões elegantes e nas alfurjas das mancebas. Desce com escala ruidosa e despreocupação de vida de Madri até Sevilha; faz-se ouvir na Triana e na Torre del Cro, atrai os eirados de tijolo, cobertos de flores as chiquetas de olhos negros e camélias no penteado, as donas de bloco escuro, os espadachins de manto negro e bravura truculenta. Mistura-se com ciganas de face morena e grandes brincos nos lobulos das orelhas e chega a impor-se ao gosto estético e moral dos mouros enamorados. Toma parte nos concertos, espetáculos de estudantes de La Picola Escuela e dos Hidalgos Hermosos e no corro assombrado em que se exibia foi muita vez coberto pelo frêmito de aplausos e de gritos das ‘niñas’ entusiasmadas. “Na Itália o violão inspirou árias, villotas e villancellas, fez parte de uma orquestra no palácio de Joanna de Aragão, deu concepções às melodias de Gesualdo, príncipe de Venosa, concorreu para a restauração da música pagã. Introduziu-se nas academias, acordou as águas de Veneza em serenatas de gelfos e escarpins. Serviu o amor num período em que a música fazia a paixão da época e concorreu com os filarmônicos de Verona, instituídos por Alberto Lavezzola. “Nos Países Baixos, quando ainda no estado de uma só corda – ‘a tromba marinha’, e depois em transformações sucessivas, já com trinta e seis cordas alcançou ruidoso sucesso em Bruxelas num concerto de gatos verdadeiros, que os Belgas ofereceram a Felipe II de Espanha. Finalmente em quase todos os países da Europa, o violão acompanhou a natureza das tradições e a disposição psicológica dos respectivos povos. “Como se vê, o programa da festa é atraente e porque o preço do ingresso é reduzido, é de se esperar que hoje à noite não haja um lugar no Conservatório Dramático”. Na quarta-feira, dia 6 de setembro, a crítica do primeiro grande recital de violão de um instrumentista brasileiro em São Paulo será publicada no jornal O Estado de São Paulo. Será a primeira de uma série que Américo Jacomino receberá durante toda sua carreira, até seu falecimento em 192857: “Realizou-se ontem, como estava anunciado, o concerto deste simpático artista, que teve o concurso dos srs. Danton Vampré, Trajano Vaz e Álvaro Gaudêncio. “O sr. Danton Vampré apresentou ao auditório que enchia o salão por completo, o artista Jacomino e seus companheiros, pondo em relevo as excelentes qualidades daquele violonista, a segurança da sua técnica e o senso estético que predomina em toda a execução das suas peças. “Também encareceu os méritos dos srs. Trajano Vaz e Álvaro Gaudêncio considerando cada um no seu gênero. Foi, ao terminar o seu elegante discurso, muitíssimo aplaudido. “Passou-se depois à conferência do nosso companheiro Manuel Leiroz de que ontem demos o resumo. O auditório recebeu-a com vivo agrado, a julgar pelo entusiasmo dos aplausos com que premiou a leitura do sr. Danton Vampré. “Jacomino, na primeira parte da conferência, executou as valsas Súplica de Amor, Serenata Árabe, Cigarra na ponta e Magia de olhar. Como era de se esperar, afirmou uma grande beleza de expressão, ainda com calor, visando a Cigarra na Ponta. 57 AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13770, coluna Artes e Artistas, 6 de setembro de 1916, p. 05. “O sr. Trajano Vaz fez a caricatura de Jacomino, e cantou a Choça do Monte, com uma voz que, falemos com franqueza, já não o ajuda a vencer as dificuldades da vocalização. Foi, porém, muito interessante, no Marroeiro, de Catulo da Paixão Cearense. “Recitou com expressão, com relevo, com graça. A sala ofertou-lhe uma vibrante salva de palmas. “A segunda parte do programa teve uma execução rigorosa. Jacomino, Trajano e Álvaro Gaudêncio continuaram a merecer dos assistentes as palmas mais entusiásticas. “O festival terminou com a valsa Sonhando, que Américo Jacomino executou ao violão em diversas posições difíceis. O público, entusiasmado, fez-lhe uma verdadeira ovação”. Paralelamente, na cidade de São Paulo, no ano seguinte, 1917, dois outros recitais de violão darão impulso para a consolidação do instrumento nos palcos paulistas e brasileiros, com as apresentações do paraguaio Agustín Barrios e da espanhola Josefina Robledo. Chega 1919. Em janeiro Canhoto sai em turnê artística juntamente com o ator Alves Júnior pelo norte do Estado de São Paulo. Outra vez Agustín Barrios se apresentará na capital, iniciando turnê pelo Teatro São Pedro, passando em seguida pelo Royal, Pathê Palácio e Coliseu Campos Elísios. O violonista se despedirá definitivamente do público paulista no dia 8 de abril de 1919 no Salão do Conservatório Dramático e Musical, em apresentação em três partes na forma de sarau literário, com a participação de poetas. Em maio, enquanto a violonista espanhola Josefina Robledo apresenta-se em Campinas com boa crítica (“técnica admirável, sentimento natural, delicado e uma afinação impecável...”) e assistência pequena (“... o violão não era conhecido como instrumento de concerto, próprio para músicas sérias. Daí, certamente, o não ter sido avultada a assistência, como deveria ser e merece a notável artista...”) , Canhoto faz a primeira participação de um trio caipira que marcará época na história da música sertaneja, infelizmente não registrado em disco. A apresentação ocorre no Royal Teatro, na rua Sebastião Pereira. Em 6 de maio de 1919 o jornal O Estado de São Paulo assim escreve58: 58 NOTÍCIAS DO CANHOTO. O Estado de S. Paulo, ano 45, n.º 14730, coluna Palcos e Circos, 6 de maio de 1919, p. 02. " Uma soirée interessante será a desta noite no Royal Teatro. Interessante pelo assunto, interessante pela maneira porque foi organizado o respectivo programa. “É que Viterbo de Azevedo, festejado imitador, escondendo-se num perfeito Jeca Tatu, conforme denominou o teu tipo, vai produzir as cenas que provocaram no Rio o mais ruidoso sucesso pela veracidade com que observa e conduz o nosso caboclo. Viterbo, que é paulista e que melhor do que ninguém apanhou os costumes do caipira de S. Paulo, apresentará ao público do Royal o tipo perfeito do Jeca Tatu - essa criação de Monteiro Lobato, com que as suas anedotas ingênuas, episódios de caça, mentiras de mutirões rompantes, alardes de valentia, etc, de modo a fazer rir. “Tomará parte do festival o conhecido violonista Jacomino - o Canhoto, que dará um concerto de violão, executando criações suas, principalmente sertanejas. “Será como se disse um espetáculo interessante ao qual concorrerão certamente os freqüentadores do Royal, dos quais é já avultado o número de pedidos de localidades”. Enquanto isso, o Trio Viterbo-Abgail-Canhoto estréia definitivamente na capital paulista em apresentação no Royal Teatro, em 9 de junho de 1919, com platéia lotada. No dia 13 e 29, estão no Teatro São Paulo (ficando até o dia 10 de julho); dia 14 no Teatro São Pedro; dia 17, no Teatro Brasil e dia 20, no Teatro Avenida, no Largo do Paissandu, para uma série de apresentações. Em julho estão no Teatro América, na Rua da Consolação, entre os dias 11 e 22, e novamente no Teatro Brasil entre 23 e 27. Em agosto, apresentam-se entre 1 e 3 no Colyseu Campos Elíseos, voltam ao Teatro São Paulo entre os dias 4 e 10, sendo este último uma apresentação em homenagem ao trio. O jornal O Estado de São Paulo assim se refere a este recital59: “Conforme noticiamos, está organizado para amanhã, no Teatro S. Paulo, um atraente espetáculo em homenagem aos festejados artistas Viterbo Azevedo, Abigail Gonçalves e Américo Jacomino, que formam o aplaudido trio. “Nessa noite, Viterbo Azevedo narrará novos episódios do ‘Jeca Tatu’, cujas pilhérias têm feito tanto sucesso; a graciosa e inteligente menina Abigail Gonçalves cantará escolhidas canções sertanejas do seu excelente repertório e o Canhoto dará um concerto de violão, instrumento em que é exímio. “Como as récitas do trio têm levado numerosa assistência ao teatro da praça S. Paulo, cuja lotação se tem esgotado, é de supor para amanhã uma enchente, tanto mais 59 TRIO VITERBO-ABGAIL-CANHOTO. O Estado de S. Paulo, ano 45, n.º 14829, coluna Palcos e Circos, 10 de agosto de 1919, p. 04. que o programa vai ser enriquecido com as canções regionais, cantadas gentilmente por Afonsito, e com os bailados clássicos de Mykoff e Vanity, número de sucesso, ora no Cassino”. Pela matéria, fica em dúvida a forma como era conduzido o espetáculo. Seria Viterbo de Azevedo apenas um ator a interpretar o papel do conhecido personagem de Monteiro Lobato e nada mais? Abigail Gonçalves cantava acompanhada apenas de Américo Jacomino ou de mais alguém? E Canhoto, aparecia apenas para apresentação de violão solo, sem maiores contatos com os outros dois? Seria o trio apenas uma forma de juntar diferentes manifestações como parte de um todo, para o espetáculo ficar mais variado? No programa do dia 11 de agosto o jornal escreve, a respeito da apresentação do trio no Teatro São Paulo, que “Viterbo e Abigail exibir-se-ão em novo trabalho, o primeiro no gênero caipira em que é exímio, e a segunda em canções brasileiras. Canhoto, o conhecido violonista paulista, tocará diversas peças do seu repertório em dois violões ao mesmo tempo...”60. As últimas apresentações do trio Viterbo-Abgail-Canhoto se dão neste mesmo mês de agosto. Entre 13 e 15 estão no Royal Teatro, depois no Teatro Melita, para estrearem novamente no Teatro S. Pedro entre 19 e 26. Em seguida, de 27 a 31, partem para o Teatro Avenida para suas últimas aparições antes do fim trágico do trio. Viterbo, durante excursão a Poços de Caldas para um concerto de caridade, será morto acidentalmente com um tiro na testa. Após o incidente, Abgail Gonçalves, agora com o apelido de “a sertanejinha”, estréia inicialmente como cantora solista no Teatro Rio Branco. Traumatizada pelo acontecimento com Viterbo ficará 20 anos sem cantar, e tempos depois mudará seu nome para Abgail Aléssio, dedicando-se ao canto lírico, com o qual chegará a se apresentar no Metropolitan Opera House de Nova York. Américo Jacomino por sua vez é notícia novamente no dia 19 de novembro de 1919, quando de seu sucesso em apresentações no Rio de Janeiro: “Temperamento acentuadamente artístico possuindo como poucos uma técnica acurada, conhecendo todos os recursos e regados do seu instrumento predileto”. Canhoto sairá em nova excursão pelo Brasil em dezembro. Pouco antes, em 2 de setembro, o jornal O Estado de São Paulo, edição noturna, publica a partitura de sua música “Quem não... Vota não... Voga”. 60 Sobre os malabarismos de Jacomino, há uma sessão de fotos tiradas neste ano de 1919, nas quais o violonista aparece tocando com o violão nas costas, na nuca e com dois violões ao mesmo tempo. Em 17 de fevereiro de 1920, último dia de carnaval, Américo Jacomino presencia um episódio que irá resultar na partitura de um de seus maiores sucessos de venda. Uma jovem de nome Ottília Valentini, após sair de um baile de madrugada vestida de Colombina, encontra-se com o namorado Domingos Dalazza na Avenida Celso Garcia, zona leste de São Paulo. Enciumado por tê-la proibido de participar dos festejos, o jovem namorado saca um revólver e mata a garota, e só não se suicida por intervenção de pessoas que estão próximas ao local. Canhoto é uma delas, e compõe a música Triste Carnaval, que recebe letra de Arlindo Leal, sendo difundida por todo o Brasil. Canhoto comporá várias músicas carnavalescas entre 1920 e 1928, sendo que no primeiro ano compõe o tanguinho sertanejo Ai Balbina, novamente com letra de Arlindo Leal. A primeira notícia sobre Américo Jacomino em 1920, que já se apresenta com menos assiduidade na capital, ocorre no jornal O Estado de São Paulo, edição noturna, de 1 de setembro, com participação em recital no Teatro Boa Vista. Luiz Buono, seu parceiro em alguns recitais, organiza, por sua vez, um festival em benefício do Hospital Umberto I, dando um recital de violão. Não há crítica nem programa impresso do evento. Em 18 de setembro de 1920 aparece novamente o nome de Canhoto, com sua “troupe”. Assim descreve o jornal O Estado de São Paulo61: "De regresso da cidade de Santos, onde logrou absoluto êxito, no Teatro Guarany, esta ‘troupe’ entrou agora a trabalhar no Coliseu dos Campos Elíseos, continuando ali a carreira brilhante dos seus sucessos. “Com o repertório melhorado, a ‘troupe’ apresenta-se todas as noites após a exibição dos filmes, sendo os seus componentes os artistas Luís de Freitas, barítono, Maria Mesquita, cançonetista, e Américo Jacomino (canhoto), violonista, todos sob a direção do aplaudido parodista cômico Miguel Max”. No final do ano, dia 15 de dezembro de 1920, Canhoto aparece no Royal Teatro para a “Festa do Retrato”, participando na terceira parte do evento. Na mesma apresentação está o cantor (baixo) Mário Pinheiro, um dos primeiros a gravar um disco de violão solo no Brasil, com a música Petita. Américo Jacomino viria a gravar uma peça muito parecida com esta, o romance Pensamento. 61 Canhoto estará ainda no Notícias Teatrais. O Estado de S. Paulo, ano 47, n.º 15588, coluna Palcos e Circos, 18 de setembro de 1921, p. 05. Conservatório Dramático e Musical entre os dias 14 e 22 de dezembro, junto ao trio Canhoto-Freitas-Altomar. Na Folha da Noite de 19 de fevereiro de 1921 aparece a notícia de que no salão do Correio Paulistano haverá uma audição dos Oito Batutas, sendo o conjunto “dirigido por Américo Jacomino”. Para este ano, Jacomino comporá o tanguinho amoroso Já se Acabô, com o parceiro Arlindo Leal. II.4 - Casamento de Américo Jacomino e mudança para São Carlos em 1922 Em 7 de janeiro de 1922 Américo Jacomino envia ao jornal O Estado de São Paulo a partitura de duas novas músicas, Arrependida (valsa brasileira) e A Gente Se Defende (choro carnavalesco). Em anúncio do mesmo dia no jornal O Estado de São Paulo, edição noturna, a última música aparece como sendo um maxixe. No decorrer do ano de 1922, em março, Américo Jacomino se apresenta no Cinema São José, na pequena cidade de Itapetininga, interior de São Paulo, onde vem a conhecer sua futura esposa. O violonista se casa no dia 12 de setembro com Maria Rita de Moraes (nascida em 25 de agosto de 1893 em Itapetininga), filha de importante político de sua cidade natal, Antonio Vieira de Moraes, conhecido como Nhonho Pereira, e irmã do prefeito da cidade, Ramiro Vieira de Moraes. A esposa é apelidada carinhosamente pelo violonista como Dona Mariquinha. A certidão de casamento é inexplicavelmente confusa, visto a importância de Maria Rita para a cidade. Não houve testemunhas no casamento. O local de nascimento de Jacomino aparece como sendo a Itália (sem especificação da cidade) e não consta também sua data de nascimento. Na profissão de Jacomino está escrito “artista” e na de Maria Rita “prendas domésticas”. Não consta também a maneira como a esposa passaria a assinar seu nome. Por fim, o nome da mãe de Jacomino aparece como sendo Vicência Carjullo e não Vicência Cargiula. O casal se muda para a pequena cidade de São Carlos, interior de São Paulo, onde abrem uma loja de música chamada Casa Carlos Gomes, situada à rua Conde do Pinhal, número 54-A. No cartão da loja se lê: “CASA CARLOS GOMES – AMÉRICO JACOMINO. Métodos completos para piano e violino de todos os autores. Vende-se piano a prestações. Sempre novidades para orquestra e piano semanalmente. Músicas, instrumentos e acessórios. Seção de Discos e Gramofones”.62 Um dos principais amigos e acompanhadores em recitais de Américo Jacomino durante esta fase é, sem dúvida, Antônio de Barros Leite. Nascido em Piracicaba em 3 de junho de 1894, Barros Leite aos 10 anos de idade conheceria na capital paulista um primo que tocava bem violão, Nhô-Zinho, aprendendo rapidamente a tocar o instrumento. Uma vez amigo de Canhoto, teria sido a principal pessoa a convidar o violonista a abrir uma loja de música na cidade. O filho de Canhoto, Luís Américo, diria que na verdade seu pai mudou-se para São Carlos pela facilidade em se locomover para suas excursões, devido ao grande número de recitais que apareciam. Barros Leite é não apenas um simples acompanhador, mas também um fiel amigo, a ponto de emprestar dinheiro para Jacomino, como diz uma carta não datada63: “Amigo Barros, “Como tenho que pagar uma duplicata que se acha no protesto e sendo hoje o último dia peço-te que me faças o favor você fazer um vale no escritório de cinqüenta mil réis e me emprestares para inteirar a importância de 533.000 pois conto com esse favor e por estes dias lhe darei. “Do amigo abraços “A. Jacomino”.64 O jornal São Carlense A Tarde assim escreveria sobre um recital de Jacomino e Antônio de Barros no Teatro São Carlos: “Nota de Arte. Festival Artístico no teatro S. Carlos. Américo Jacomino ‘O Canhoto’ obtém novos sucessos com seu ‘pinho’ mavioso. “Foi uma noitada agradável a de ontem, no teatro S. Carlos, conforme prevíamos esse centro de diversões encontrava-se literalmente ocupado pelo escol de nossa sociedade. 62 Cartão atualmente em posse de Luís Américo Jacomino, filho de Canhoto. Carta em posse do filho de Antonio de Barros Leite, residente em Jundiaí, interior de São Paulo. 64 Para a transcrição das cartas de Canhoto foi atualizada a grafia, mas mantida a ordem gramatical. 63 “Após a focalização do filme Tempestade de um crânio à luz da ribalta surgiu a simpática figura do notável violonista patrício Américo Jacomino, o celebrado ‘Canhoto’ o ‘rei do pinho’, como foi cognominado pela imprensa do país. “Logo previmos que Américo Jacomino obteria novos triunfos, pois em todas as partes onde se exibe é alvo das mais expressivas provas de admiração pelo modo com que sabe tanger o seu ‘pinho’ mavioso, com o dom fascinante que sabe imprimir às cordas desse instrumento. “’O Canhoto’ com o seu concerto de ontem, obteve unânimes e sinceros aplausos, conseguindo prender a atenção dos espectadores durante muito tempo executando músicas populares tais como valsas, sambas, maxixes, marcha, etc., próprias do nosso povo e dos nossos costumes pois em todas as músicas que ontem tivemos o prazer de ouvir, sentimos que nelas palpita o romantismo brasileiro, não dessa brasilidade mistificada que se observa em muitos compositores, mas sim o espontâneo lirismo enternecedor de nossa gente, tão bem sentido por esse admirável artista que é o ‘Canhoto’. “Não é preciso que nós falemos algo que seja sobre o valor do grande violonista. Ele já tem o seu nome feito em todo o Brasil, constantemente é aclamado como o maior artista no gênero que possuímos. “Américo Jacomino é um artista nato, que aliando aos seus dotes de musicista possui também o divino dom de interpretar o nosso sentir espiritual. As suas composições, todas vazadas na escola em tão boa hora criada por Catulo da Paixão Cearense, são as mais apreciadas por todos os amantes da arte de Mozart. “O concerto de ‘Canhoto’ ontem realizado no S. Carlos foi mais uma vitória do ilustre musicista. “Felicitando o rei do violão pelo novo triunfo alcançado, dedicamos-lhe estas linhas, poucas, mas sinceras, que tão bem condizem com os sentimentos dos sancarlenses pelos méritos do insuperável violonista “. Américo Jacomino continua seus recitais pelo interior do Estado. Em 15 de agosto de 1923 organiza no anfiteatro da Escola Normal de São Carlos um sarau artístico e musical, tocando na segunda parte com acompanhamento de seu colega Antônio de Barros Leite. No programa as seguintes peças são apresentadas: Primeira Parte: - Ouverture pela Orquestrinha da Escola - Poesias de A. Nobre e Augusto dos Anjos, por Fernando Vargas - Senhorita Iracema de Arruda Campos – Poesias - Senhorita Sylvia Toledo – Poesias -Senhorita Maria Apparecida (sic) M. Vieira – Poesias - A. Cimino: Guarani, fantasia violino e piano - S. Cimino: Deuse Negre – Caprice – piano - Nair G. Veltri: Madrigale – violino solo Segunda Parte - Ouverture pela Orquestrinha da Escola - Gaspar Sagreras: Uma Lágrima – solo de violão - Souto: Do Sorriso das Mulheres nascem as flores - Verdi: Trovador – Miserere – transcrito para violão - A. Jacomino: Gavota – favorita - A. Jacomino: Valsa para concerto – Lembrança de um Sonho - A. Jacomino: Marcha Militar Brasileira - A. Jacomino: Uma Noite na Roça - cateretê No sábado, dia 8 de setembro deste mesmo ano, novamente no Anfiteatro da Escola Normal de São Carlos, Canhoto se apresenta com Antônio de Barros Leite, desta vez em “Grande Concerto Musical Literario” em benefício da Santa Casa de Misericórdia. Em 17 de setembro de 1923 nasce em São Carlos sua primeira filha, Maria Aparecida, hoje residente em Bebedouro, interior de São Paulo. Canhoto compõe em sua homenagem uma de suas mais belas músicas, a valsa Manhãs de Sol, dedicada a sua esposa. O violonista aguarda nesta época uma nomeação da Prefeitura de São Paulo para trabalhar como lançador de impostos, visto que os negócios no comércio não estavam caminhando bem. Em carta de 20 de setembro a Antônio de Barros Leite o violonista se queixa da vida do interior65: “Meu prezado Amigo Barros 65 Carta em posse do filho de Antonio Barros Leite. “Saúde “Recebi sua carta e muito me comoveu e cada vez mais lhe considero pois tenho a certeza que és um bom amigo e sincero. “Caro Barros. Eu estava até hoje esperando a nimiação (sic) e se essa tal nomeação demorar mais eu mandarei às favas tudo isso farei conforme minha grande vontade a torne (sic) pelo sul. “Você compreende eu não me acostumo com esta vida de estar parado e com o domínio da indolência que é o mal do interior. Já estive em São Paulo e não foi possível realizar um concerto devido a situação atual provavelmente mais tarde realizarei um concerto na Capital. Realizo o meu primeiro concerto em Sorocaba no dia 24 do corrente e já estão passando a casa. “Aceite um abraço do amigo “Américo Jacomino “Queira aceitar recomendações a D. Rosa minhas e de Mariquinha e recomendame também aos bons amigos Arruda. Após o recital em Sorocaba, Jacomino realiza um concerto em Jundiaí em 16 de outubro no Ideal Teatro e dia 19 no Gabinete de Leitura. Em 1924, em São Paulo, inaugura-se no Parque D. Pedro I o Palácio da Agricultura e da Indústria, que será a futura sede da Rádio Bandeirantes, e a Sociedade Rádio Educadora dirige uma circular a todas as Câmaras Municipais do interior solicitando apoio para o desenvolvimento da radiotelefonia em São Paulo, "com intuitos meramente educativos"66. Instalam-se também microfones para a irradiação de recitais como o da pianista Magdalena Tagliaferro. Os lugares escolhidos inicialmente foram o Teatro Municipal de São Paulo, o Teatro Santana e o Salão do Conservatório Dramático e Musical. As irradiações ocorrem às terças, quintas e sábados, das 21 horas em diante. Canhoto, no entanto, está distante. O primeiro programa da Sociedade Rádio Educadora Paulista a incluir uma obra de Américo Jacomino acontece no dia 12 de novembro de 1924, com a peça Se o Telefone Falasse, pelo Trio Rádio-Bandeirante. Próximo ao natal, em 18 de dezembro do mesmo ano, Jacomino escreve novamente a Antônio de Barros Leite67: “Itapetininga, 18-12-924 “Bom e Saudoso Amigo Barros 66 67 Sociedade Rádio Educadora Paulista. O Estado de S. Paulo, ano 50, n.º 16535, 9 de maio de 1924. Cartão em posse do filho de Antônio de Barros Leite. “Sua saúde e de todos de sua família em primeiro lugar o que lhe desejo. “Recebi sua prezada carta e fiquei muito satisfeito em receber notícias do bom amigo que muito considero. “Então continuas nas célebres 24 horas? pois sinto imensamente estares perdendo teu tempo em trabalhar muito e ganhares pouco. “Eu muito breve irei para Espírito Santo do Pinhal e quando for te avisarei e contar-te-ei como foi o concerto de Jundiaí. “Junto te remeto dois jornais que se referem aos meus concertos. “Como é o negócio do Chico Salles? Estou esperando carta dele e conforme me escreveu na sua última. “Eu não quero perder o direito do terreno fale com ele. “Você me faça o favor de falar ao Carlos que me mande o endereço onde ele mora para escrever a ele e minhas lembranças. “Me recomenda aos bons amigos Arruda e um abraço de leve. Aceite o mesmo do teu amigo. “A. Jacomino. “Recomendações minhas e de Mariquinha a Dna. Rosa e parentes”. II.5 – Em 1925, Américo Jacomino retorna à capital paulista. Para o carnaval de 1925, Américo Jacomino compõe a marchinha carnavalesca Ai Momo. Neste mesmo ano o violonista muda-se novamente para a capital paulista, após 3 anos em São Carlos, morando inicialmente na Pensão Mathias na Rua da Conceição, partindo depois para a Rua Bueno de Andrade número 91. Finalmente, em 5 de março Canhoto realiza seu primeiro recital na Sociedade Rádio Educadora Paulista às 21 horas. Foi também a primeira vez que aparece no jornal O Estado de São Paulo um programa em que o violonista acompanha Roque Ricciardi. O programa apresentado constou das seguintes peças: - A Jacomino: Marcha Triunfal Brasileira. - Frontini: Serenata Árabe - A. Jacomino: Abismo de Rosas - valsa - A. Jacomino: Feiticeiro - maxixe de salão - Sagreras: Uma lágrima - delírio. - A.Jacomino:Quando os corações se querem - Calasan: Favorita - gavota -A.Jacomino: Viola, Minha Viola - samba à moda do Norte. O Jornal O Estado de São Paulo publica a seguinte crítica68: "Alcançou inteiro êxito a irradiação do concerto que, gentilmente, realizou ontem, no estúdio da Rádio Educadora, o popular e aplaudido violinista (sic) sr. Américo Jacomino (canhoto). Não só pelo critério que predominou na organização do programa do concerto como pela execução dos números que o compunham, a irradiação de ontem provocou excepcional entusiasmo e despertou vivo agrado, a julgar pelos inúmeros telefonemas de amadores felicitando o conhecido artista do violão, que, a pedido, teve que executar alguns números extra programa, a todos eles dando cabal execução. “Prestou também seu concurso no programa da irradiação da noite de ontem, cantando belas músicas, com acompanhamento de violão pelo Canhoto, o tenor sr. Roque Ricciardi”. Sobre a relação de Canhoto com o rádio sempre foi escrito, sem maiores comprovações, que o violonista inaugurou a transmissão da Rádio Bandeirante, futura Rádio Educadora Paulista, um ano antes, em 1924, juntamente com seu parceiro Paraguaçu, que assim comenta o caso69: “Inauguramos a Rádio Educadora Paulista em 1924, eu, o Canhoto e o Alberto Marino, que foi o primeiro diretor artístico. O estúdio era pequeno, dois e meio por dois e meio metros. Não havia microfone ainda, apenas em 1926 apareceu o microfone de carvão. Eu cantava de costas para não estourar os microfones”. 68 Radiotelefonia / Sociedade Rádio Educadora Paulista. O Estado de S. Paulo, ano 51, n.º 16813, 6 de março de 1925, p. 06. 69 Entrevista ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974. O que é certo é que ambos foram alguns dos primeiros a se utilizarem do rádio, e Canhoto seria certamente um dos mais requisitados violonistas, com várias de suas audições sendo irradiadas até 1927, um ano antes de sua morte. Ainda em 1925, em 23 de março Jacomino se apresenta no Salão do Conservatório em recital em homenagem a Oswaldo Soares e João Avelino de Camargo. No programa: Primeira Parte: - A. Jacomino: Marcha Triunfal Brasileira (inclusive Hino Nacional) acompanhado ao violão pelo sr. Carlos R. Souza - A. Jacomino: Esmeralda – valsa lenta. (ao meu distinto amigo sr. José Ozório Fonseca), acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza - A. Jacomino: Trovador (Miserere) - solo, adaptação ao violão - Sagreras: Uma Lágrima (delírio) - solo - A pedido: Abismo de Rosas, valsa lenta. Acompanhada pelo sr. Carlos R. Souza Segunda Parte: - Carlos Gomes: Protofonia do Guarani – Adaptação para violão, por A. Jacomino, acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza - A.Jacomino: Feiticeiro – tango de salão – solo - Calazans: Favorita – gavota – acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza - A.Jacomino: Quando os corações se querem, fox-trot – acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza. - Frontini: Serenata Árabe –– solo - A. Jacomino: Viola, Minha Viola - cateretê paulista imitando o grito da cabloca. Acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza Já no dia 29 de março, a apresentação de Jacomino no rádio terá o seguinte programa: - S. N. - Padre Nuestro - fox-trot - solo de banjo, com acompanhamento de piano - A. Jacomino: Sudan - fox-trot - banjo e piano -A. Jacomino: Tico-tico assanhado - polca característica - cavaquinho com acompanhamento de violão - G. Verdi: Miserere do Trovador - solo de violão Os acompanhamentos de violão e piano ficaram a cargo de Carlos R. Souza. É a primeira vez que Jacomino faria uma apresentação com banjo e cavaquinho, programa que incluiu uma peça de sua autoria, o maxixe A Gente Se Defende. Ainda no mesmo mês, no dia 30 e em maio, nos dias 3 e 5, Canhoto apresentou-se em novos recitais, dos quais o último apresenta o seguinte programa: - Silvestre: Serenata d'autre fois. - A. Jacomino: Sombras do passado - valsa “Boston” - E. Souto: Do sorriso das mulheres nascem as flores - A. Jacomino: Por que te vuelves a mi ? - tango argentino - Mendelssohn: 3.º Prelúdio - A. Jacomino: Quando os corações se querem - fox-trot. Américo Jacomino acompanha um recital do sanfonista amador Arcangelo Zordo em 8 de agosto. Antes escreve uma carta a Antônio de Barros Leite, falando sobre a atual situação de sua carreira70: “S. Paulo 1-8-925 “Meu bom e prezadíssimo amigo Barros “Em primeiro lugar desejo que esta vá encontrar você e sua Esma. (sic) Família gozando saúde. “Eu e os meus vamos indo bem graças a Deus. “Não te escrevi há mais tempo devido não me encontrar na Capital na ocasião que chegou a sua carta, não imaginas com que prazer recebi notícias tuas que há muito não me escrevias uma de suas saudosas notícias. Aqui em São Paulo é um sucesso e tantos. Alunos que não venço tenho tocado nas principais Casas de São Paulo como Conde Lira Prates em outras o meu nome aqui cada vez se torna mais popular. 70 Carta em posse do filho de Antonio de Barros Leite. “Soube que o Sr. Carlos anunciou um concerto de violão aí e parece-me que o mesmo não chegou a realizar é verdade? Também me disseram que um jornal de São Carlos noticiou que o sr. Carlos era rival de Canhoto se isso é fato é sinal que o crítico desse Jornal não tem a minimíssima competência de crítico porque comparar um simples amador a um concertista é mesmo para ser meu rival deveria se apresentar com um repertório próprio dele e não com músicas minhas que tenho a certeza que são assassinadas digo isso porque tenho certeza enfim se isso for verdade de que o Sr. Carlos anunciou um concerto com o meu programa deu prova de minha desconfiança que há tempos tenho. “Junto te envio o programa de meu último concerto realizado no Salão do Concervatório (sic) é no próximo sábado. Vão irradiar pelo telefone sem fio todos meus concertos têm sido sós e sem acompanhamento. Estou com muita [saudade] de nosso choro e daquelas noites saudosas quando na casinha de músicas fazíamos os nossos choros e também das boas macarronadas que comia em sua casa. “Sem mais aceite um sincero abraço do amigo que sempre te considera e recomendações minhas e de minha esposa a D. Rosa. “Américo Jacomino Canhoto”. Para o amigo Canhoto conta, entre outros sucessos, o de professor muito procurado, fato que será veiculado a 28 de abril, no jornal O Estado de São Paulo: “Américo Jacomino – Canhoto, dá aulas, tem perto de ‘200 alunos da elite paulistana’. Preços: duas lições por semana – mensalidade 100$000, lições avulsas 20$000”. Américo Jacomino é então professor de importantes figuras da sociedade paulista, entre elas a filha do governador do Estado de São Paulo Carlos de Campos, da esposa e da filha de Júlio Prestes e da filha do Dr. Piza Sobrinho71. Mas naquele ano de 1925, a 6 de setembro, ele se apresenta ainda no Teatro Municipal de São Paulo, na Tarde da Criança, juntamente com outros artistas, executando a Marcha Triunfal Brasileira, Abismo de Rosas e Viola Minha Viola. Seriam as mesmas peças apresentadas no Concurso O Que é Nosso, que seria realizado no Rio de Janeiro. Entre um recital e outro, a 26 de janeiro de 1926 nasce o segundo filho de Canhoto, Luís Américo Jacomino, atualmente residente em São Paulo. 71 VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S. A., n.º 1, 1964, p. 06. Américo Jacomino apresenta-se no Conservatório Dramático a 2 de março e volta a se apresentar na Rádio Educadora Paulista em 11 de julho e nos dias 17 e 21 de setembro, este último sendo transferido - como em outras ocasiões - para o dia 20 de outubro, "por motivo de força maior". Pelas constantes mudanças das datas de seus recitais, é provável que a saúde de Jacomino não fosse bem ou que seus compromissos burocráticos lhe tomassem maior tempo. Em dezembro de 1926 são lançados os primeiros discos de Canhoto pelo sistema elétrico, pela Odeon, série 123000, compreendida entre dezembro de 1925 e julho de 1927. Como trata-se da primeira série elétrica, Canhoto, se não inaugurou o sistema, por certo foi um dos pioneiros a se utilizar desta técnica. Não é conhecida a data exata das gravações, mas Jacomino lança, entre outros, os seguintes discos: Marcha dos Marinheiros, A Menina do Sorriso Triste (fox-tango), Reminiscências (valsa) e Alvorada de Estrelas (gavota). II.6 - O Concurso O QUE É NOSSO - 1927 A partir de janeiro de 1927 a imprensa do Rio de Janeiro noticia um concurso musical no qual concorrerão alguns dos maiores nomes do cenário artístico brasileiro, com o patrocínio do jornal Correio da Manhã. O nome do concurso é, muito apropriadamente, O Que é Nosso, com realização prevista para os dias 19 e 20 fevereiro. Em 15 de fevereiro ocorre o sorteio para a apresentação dos concorrentes. Na prova de violão é estabelecida a seguinte ordem: 1) Américo Jacomino; 2) Manoel de Lima; 3) Ivonne Rebello. As provas ocorrerão em 19 de fevereiro, sábado, no Teatro Lírico à 1 hora da tarde. O patrono do prêmio será João Pernambuco. Na capa do Correio da Manhã de 18 de fevereiro aparece, em foto de destaque, Américo Jacomino e Adalbrum Pinto, funcionário do jornal. A nota72: “Vindo de São Paulo especialmente para tomar parte nas provas de violão do concurso promovido por esta folha chegou ontem de manhã o brilhante violonista 72 Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 1927, p. 05. Américo Jacomino. Na gare Pedro II foi recebê-lo pelo Correio da Manhã nosso companheiro Adalbrum Pinto”. Sobre o julgamento é publicada a seguinte nota73: “O julgamento público será feito por aclamação, mediante a fiscalização de uma comissão de arbitramento, presidida pelo diretor-geral do concurso, podendo ser o resultado anunciado imediatamente após a terminação de cada série de provas ou no prazo máximo de 48 horas, com o respectivo parecer. Os números só serão bisados por ordem do diretor-geral. “As provas no Teatro Lírico serão presididas pelos srs. Dr. João Itiberê da Cunha, crítico musical do Correio da Manhã; o festejado barítono Patrício Corbiniano Villaça; e dr. Homero Álvares. A comissão dirá sobre a capacidade dos concorrentes”. No dia seguinte ao concurso, 20 de fevereiro, o jornal Correio da Manhã publica matéria sobre a apresentação74: “O Prestígio do Violão. “Mas o Pinto vem em seguida dar uma novidade, que alenta a alma da platéia, entregando-a a novo frenesi. “Vai entrar na exibição dos violões. “É um outro momento sério do programa, que vai ser aberto pelo inigualável Américo Jacomino (Canhoto), vindo de São Paulo, na véspera, especialmente para esta prova, em homenagem ao Correio da Manhã. “E o anunciador reclama o máximo silêncio. A sala aplaude frenética, enquanto entra em palco a figura simpática de Jacomino. E este se prepara para os primeiros acordes, num assédio de rara curiosidade. Canhoto, a maneira de pegar o violão é ainda mais eloqüente de atração. “Jacomino se impõe logo à platéia com o seu domínio absoluto das cordas do violão, que se transforma em tudo ao contato de seu dedo. Começa pelo Abismo de Rosas, uma valsa esquisitíssima sua, atraente de novidades harmônicas. Depois com o mesmo prestígio, faz o violeir (sic) paulista, cantando às cordas do violão – Viola, Minha Viola. Jacomino agrada e provoca risos, com os seus diálogos nas cordas, em 73 74 Idem, ibidem. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1927, p. 03. raras proezas de malabarismo musical. A platéia consagra-o, como já havia feito com Calheiros. “E, a este sucede-se Manoel de Lima, o ceguinho, a quem Pinto anuncia como ‘o poeta do violão’. A entrada do ceguinho, que em cena, guiado pelo Pinto, cria um ambiente de ansiedade, dramática, logo transformada em rara admiração. O ceguinho toca com o violão deitado sobre a perna, à maneira de pequena harpa. E a sua música sai toda tecida de uma fina espiritualidade. A platéia reconhece no ceguinho, finalmente, o doce poeta do violão. “Por fim, é um violão mimoso que se faz ouvir. “É a menina Ivone Rebello, de cerca de 10 anos. Mal acaba de chegar. A sua execução era graciosa e fina. Sucedia aos dois com vitoriosa galhardia infantil”. Sobre Manoel de Lima não encontramos maiores informações. Ivonne Rebello já era conhecida no meio violonístico carioca por ser filha de José Rebello da Silva, apelidado de José Cavaquinho, um dos pioneiros no ensino do violão erudito no Rio de Janeiro. A revista O Violão de dezembro de 1928 escreve sobre a violonista75: “Ivone Rebello é um nome consagrado no meio violonístico carioca. A sua educação artística corre à corte de seu pai, o hábil violonista José Rebello. O desembaraço com que Ivone interpreta peças clássicas de responsabilidade faz prever para muito breve a consagração definitiva e justa da pequenina e talentosa violonista”. No dia 22 de fevereiro, o Correio da Manhã publica finalmente a matéria com o resultado do concurso76: “Dos três concorrentes que se apresentaram apenas Ivonne Rebello solou em violão de cordas 1.ª, 2.ª, e 3.ª de tripa, em posição clássica, executando das peças exigidas o Capricho Árabe, de Tárrega. Em se tratando, porém, de um concurso de caráter puramente brasileiro, não seria lícito deixar de ter em conta o que é nosso. Orientando, pois, seu julgamento, segundo a maneira de tocar e o estilo de cada concorrente, a comissão técnica que, por delegação do diretor-geral do concurso presidiu as provas, resolveu apreciá-los separadamente. Aos prêmios instituídos pelo Correio da Manhã foi dado, a cada deles, o nome de um patrono, entre os intérpretes consagrados do violão. O critério adotado na escolha dos patronos foi inspirado justamente na seleção dos estilos para o caso da classificação dos concorrentes. Assim, 75 76 O VIOLÃO. Rio de Janeiro, ano 1, 1928, p. 13. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 1927, p. 05. pois, os srs. Dr. João Itiberê da Cunha, Corbiniano Villaça e dr. Homero Álvares resolveram conferir: “O Prêmio João Pernambuco ao sr. Américo Jacomino (Canhoto), porque satisfazendo o programa, em peças nacionais de sua composição, destacadamente o arranjo intitulado Viola, Minha Viola, fez-o (sic) com brilhantismo; “O Prêmio Joaquim dos Santos à menina Ivone Rebello, pela perfeição técnica que demonstrou além da circunstância de haver executado um dos clássicos do violão, fazendo juz aos louvores da comissão e do público que a aplaudiu; “O Prêmio Levino Conceição, ao sr. Manoel de Lima, artista de excepcional inspiração, cego como o patrono do prêmio, cujo mérito está consagrado e não permite confrontos”. Analisando hoje, vemos que o primeiro concurso de violão do Brasil foi um evento sui generis, com três violonistas distintos e fora do âmbito de qualquer outro tipo de concurso. Havia uma peça de confronto que apenas Ivone Rebello tocou (no caso, o Capricho Árabe, de Tárrega), mas ela era apenas uma menina, não teria talvez maior atração em premia-la em primeiro lugar, além de que poderia ter faltado maior maturidade em sua interpretação, o que só seria possível saber se a violonista tivesse deixado algum registro de sua arte musical. Manoel de Lima tocou com o violão deitado nas pernas, o que também fugiria aos padrões do violão clássico estabelecidos até então, além do fato de ele não ter tocado a peça de confronto. Américo Jacomino já tinha sua fama estabelecida, a única explicação para ele participar do concurso seria uma premiação em dinheiro que ele porventura estivesse precisando ou uma indicação de alguém por saber que ele não tinha concorrentes. Um fato interessante é saber que os dois violonistas tocaram com cordas de aço. A própria participação de Manoel de Lima faz crer que o violonista cego participou porque estava de passagem pelo Rio de Janeiro integrando o grupo pernambucano de música regional Turunas da Mauricéia, que possuía também Augusto Calheiros como cantor, Atilio Grany na flauta e Luperce Miranda no bandolim. E Ivone Rebello talvez fosse o maior trunfo dos cariocas por ser filha de um conhecido professor de violão da cidade, amigo de um dos jurados, o violonista amador Homero Álvares, que nos três números iniciais da revista O Violão publicaria artigos sobre a “Escola” de Tárrega. A decisão dos jurados acabou sendo plausível, tendo em vista que dedicou prêmios adequados a cada concorrente. O principal, Prêmio João Pernambuco, foi dado a Canhoto. Aliás, é provável que Canhoto conhecesse pessoalmente o patrono de seu prêmio, uma vez que ele se apresentara por diversas vezes em São Paulo, tanto como integrante do Grupo de Caxangá como dos Oito Batutas. O prêmio de Manoel de Lima teve como patrono outro violonista carioca, o também cego Levino Albano da Conceição, que estudara no Instituto Benjamin Constant, adquirindo fama crescente em todo o país. Quanto a Ivonne Rebello coubelhe o prêmio Joaquim dos Santos, músico mais conhecido como Quincas Laranjeiras, um dos pilares do violão erudito no Rio de Janeiro, o que explicaria a premiação. Na falta de concorrentes de sua categoria, Américo acaba por ser conhecido como aquele que venceu o concurso sozinho, imagem explorada pelo próprio jornal Correio da Manhã quando das notícias de seu falecimento em 1928. O fato lhe valeria a alcunha de “O Rei do Violão Brasileiro”. Cumpre assinalar que o júri pôde escutar a valsa Abismo de Rosas, que tanto sucesso faria nas décadas seguintes, além da Marcha Triunfal Brasileira e Viola, Minha Viola, talvez as duas obras de maior efeito musical compostas pelo violonista. Passado o Concurso, Jacomino entra no estúdio para gravar novamente, desta vez pelo sistema elétrico de gravação, o que preservaria de modo fiel a maneira como Canhoto interpretava ao violão. Pelas gravações que o violonista faz nesta época, é justo dizer que Jacomino atravessava a melhor fase de sua carreira. Todas as gravações elétricas demonstram um alto nível de aprimoramento técnico-musical, muito por conta das regravações de antigos sucessos como Abismo de Rosas, Marcha Triunfal Brasileira e Arrependida. E pela gravação da peça Viola, Minha Viola, que tanto agradou o público do concurso, em que o violonista utiliza efeitos inusitados para a descrição de uma cena de vida sertaneja, como rasqueados à maneira da viola caipira e um curioso efeito tocado na região da boca do violão, soando como uma fala de caboclo, efeito único no repertório violonístico brasileiro até hoje, não é difícil perceber o porquê de ele ter ganho o prêmio principal. As gravações elétricas também favorecem uma avaliação de como era o violonista na época de O Que é Nosso. Abismo de Rosas e Marcha Triunfal Brasileira mostram aspectos relevantes da técnica alcançada pelo músico. A Marcha demonstra, por exemplo, o violão soando com efeitos de caixa-clara, flautins e trombones, lembrando a formação de uma banda marcial completa. Naquele fevereiro de 1927, aproveitando a estada no Rio de Janeiro, Canhoto se apresenta ainda no Rádio Club do Brasil no dia 24. A outra série de gravações conta com Roque Ricciardi para Berço e Túmulo, Choça do Monte e Aracy. São desta época as lembranças do amigo em relação às primeiras anormalidades na saúde do violonista, que reclama de falta de ar, sendo medicado pelo então jovem estudante de medicina Joubert de Carvalho. Sobre estas que serão as últimas gravações, Paraguaçu assim contou77: “A última gravação que ele fez, já na gravação elétrica em 1927 – que nós viemos de São Paulo para inaugurar a gravação elétrica aqui no Rio – eu tinha musicado uns versos de Casimiro de Abreu, Berço e Túmulo. Então eu gravei o primeiro disco elétrico, com essa música numa faixa e outra de Catullo na outra, A Choça do Monte. (...) O Canhoto falou ‘Arruma outro nome pra música !’ mas eu disse que era poesia do Casimiro de Abreu e não podia. Parecia que ele previa a própria morte. Sentiu-se mal este dia, daí o dia seguinte fomos ao Joubert de Carvalho, que fez um exame e constatou aorta viratada”. No dia 8 de maio de 1927 ocorre no Teatro Municipal de São Paulo a “Noite Brasileira”, organizada por Américo Jacomino. Assim escreve o jornal O Estado de São Paulo78: “Logrou grande sucesso a ‘Noite Brasileira’, organizada pelo artista brasileiro sr. Américo Jacomino, o ‘Canhoto’, com o patrocínio da Liga das Senhoras Católicas e com o concurso dos srs. Arnaldo Pescuma, Roque Ricciardi e o grupo dos ‘Turunas Paulistas’. “Iniciou o festival o sr. Dr. Plínio de Castro Ferraz, com uma interessante conferência sobre os nossos sertões e a nossa gente chã que os habita e os trabalha. “O grupo dos ‘Turunas Paulistas’ executou agradáveis modinhas, choros, sambas e emboladas. Os violões, reco-recos, cavaquinhos e maracaxás emprestaram um cunho forte de regionalismo àquela ‘Noite Brasileira’, que foi brilhantemente encerrada pelos números executados pelo ‘Canhoto’”. O sucesso desta apresentação no Teatro Municipal faz o espetáculo ser reapresentado em 20, 21 e 22 de maio, no Teatro Boa Vista. Para estas apresentações tomam parte, além de Canhoto, Arnaldo Pescuma e Roque Ricciardi; os músicos que formavam os Turunas Paulistas: Manuel dos Santos, em emboladas e sambas; 77 Entrevista ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974. Noite Brasileira. O Estado de S. Paulo, ano 53, n.º 17601, coluna A Sociedade, 10 de maio de 1927, p. 04. 78 Alexandre Carrara, flautista; Francisco Lima, saxofone; José Sampaio, violão; Mário Ramos e José dos Santos, cavaquinho; Cavalheiro Mulato, pandeiro; Domingos Marino, maracaxá e Mario Alvarenga, reco-reco. A cada dia o evento apresenta uma programação diferenciada, sendo que Canhoto apresenta as seguintes músicas em solos de violão: Primeiro dia: Marcha Triunfal Brasileira, Abismo de Rosas, Reminiscências e Viola Mimosa. Segundo Dia: Em Pleno Mar, Feiticeiro, Fluminense e Viola, Minha Viola. Terceiro e último dia: Marcha dos Marinheiros, Foi-se embora Maria, Brasileiro e Viola, Minha Viola. Canhoto e os Turunas Paulistas começam em seguida uma série de noitadas no Cine Teatro Roma. O nome do violonista volta a aparecer em programas de rádio, sem especificações de que Américo Jacomino tenha ido ao estúdio tocar, mas sim que os programas incluem suas interpretações através de novas gravações em disco. As principais são Olhos Feiticeiros, Reminiscências, Marcha dos Marinheiros, Sonsa, Por Que Tu Vuelves a Mi?, Feiticeiro, Viola, Minha Viola e Abismo de Rosas. Apresentações em público ocorrerão ainda em 4, 7, 18, 25 e 27 de outubro, com violão e cavaquinho, no mesmo programa, alternados com Roque Ricciardi. Canhoto recebe finalmente a notícia de que é nomeado lançador de impostos da prefeitura, o que causa protestos de algumas pessoas pelo apadrinhamento político, já que Jacomino fora ajudado pelas boas relações que possuía com importantes personalidades da época, além do fato de ser genro de uma pessoa politicamente bastante influente. Em 15 de novembro de 1927, por ocasião da Proclamação da República, Canhoto aparece no Cine-Teatro Central para um recital com novas composições. Será a última apresentação do violonista neste ano, e também a última de Jacomino anunciado no jornal O Estado de São Paulo até 1928. Já em 1928, em 3 de janeiro, Américo Jacomino se apresenta na Sociedade Rádio Educadora Paulista em programa de música regional, o mesmo ocorrendo em 8 de fevereiro. Em março, Jacomino realiza definitivamente sua última sessão de gravações solo, entre os dias 13 e 16, pela Odeon, série 10000, série que abriga as gravações realizadas entre julho de 1927 e maio de 1933. Os registros de Canhoto receberão os números 10164 e 10165, correspondendo respectivamente às músicas Amor de Argentina (milonga) e Arrependida (Valsa lenta), e Os Teus Olhos (canção) e Pensamento (valsa). Ambos os discos são lançados no mês de maio. No mês anterior, entre 7 e 15 de abril, Américo Jacomino se apresenta novamente em sarau beneficente, desta vez denominado Semana Festiva. O violonista acompanha a cantora Nené Moura Azevedo em Canções Brasileiras. No Conservatório Dramático e Musical, José Sampaio Formozinho e João Batista Ferraz organizam um recital no dia 29 de abril “em benefício de um amigo enfermo”, em que tomam parte apenas funcionários municipais. Canhoto apresenta-se como D. da Receita (sic). É bastante provável que o “amigo enfermo” fosse mesmo Américo Jacomino, que começa a desmarcar alguns recitais sem maiores explicações. É a última notícia do violonista no jornal O Estado de São Paulo antes de sua morte. Em 6 de junho de 1928 o violonista assim escreve a seu amigo Antonio de Barros Leite79: “São Paulo, 6 de junho de 928. “Bom e saudoso Amigo Barros “Saúde “Recebi há dias sua prezadíssima carta e fiquei muito contente em saber notícias suas e de sua Exma Família. Deves estar bem sentido comigo, não? Eu não tenho te escrito mais tempo por não saber de seu novo endereço mas enfim a nossa amizade está acima disso tudo. “Você não pode calcular o quanto tenho trabalhado no meu emprego você compreende de violões para lançador, é um caso sério não é verdade? Mas graças ao bom Deus já estou mais ou menos prático do cargo o meu violão está sempre na atividade todas as noites faço o meu exercício de uma a 2 horas e se tivesse mais tempo mais horas exercitaria. Fiz há cerca de um mês uma nova gravação de discos. Gravei 12 musicas novas estive no Rio de Janeiro um mês. Você quando for em (sic) São Carlos procure esses novos discos. São os seguintes: “Arrependida (valsa); Amor de Argentina (tango argentino); Pensamento (capricho), um solo do melhor que tenho; Delirios (valsa) e outras que na ocasião encontrarás. 79 Carta em posse do filho de Antônio Barros Leite. “Quanto ao convite que me fazes para ir aí sinto imensamente não poder aceitálo pois ainda não tenho direito à licença só depois de um ano é que temos direito a 10 dias e como faltam só 2 meses para completar um ano, acho melhor então esperar mais um pouco e assim irei passar uns 8 dias com o bom amigo e tocaremos violão até dizer chega o meu endereço e cartão que vão junto. “Sem mais outro abraço do amigo que sempre o considera. “Recomendações minhas e de Mariquinha a D. Rosa. “Américo Jacomino “Venha passear um dia em São Paulo e me avise que te espero”. Pela carta pode-se saber a data exata em que o violonista assume o cargo de lançador da Prefeitura: agosto de 1927. Em 9 de julho de 1928, dois meses antes de falecer, Américo Jacomino, em nova carta a Antônio de Barros, escreve sobre seu atual estágio de saúde: “Prezado e bom amigo Barros “Saúde “Com grande prazer recebi o meu belo presente de 6 bons frangos e muito satisfeitos ficamos pois não podia ver presente melhor mais uma vez muito grato. “Quanto a minha ida para aí sinto não poder ser já devido me achar em tratamento e o médico aconselhou-me para não fazer excesso de forma alguma por isso eu acho que devo fazer o que diz o médico e logo que me sentir melhor eu te escrevo e marcando o dia de minha ida para aí. “Sem mais aceite juntamente com D. Rosa nossos agradecimentos e recomendações. “Recomendações ao seu mano e um abraço do Amigo grato. “Américo Jacomino Canhoto. “Quanto à vinda de você e D. Rosa aqui em casa estamos esperando com muito prazer”. Com o estado de saúde agravado, em São Paulo Jacomino é atendido pelo doutor Celestino Borroul, que o aconselha a procurar o doutor Miguel Couto no Rio de Janeiro, o que faz Jacomino quando volta à cidade para uma nova série de gravações. Para isso vai de carro, numa tortuosa viagem que dura três dias, ao lado da esposa e do irmão Amadeu. Ao passar mal Jacomino regressa rapidamente a São Paulo, onde uma ambulância do Instituto Paulista o espera na estação de trem. Será atendido desta vez pelo Dr. José Rubião Meira. A 7 de setembro, uma sexta-feira, Américo Jacomino falece de insuficiência aórtica em São Paulo no Hospital Santa Catarina, na Avenida Paulista, às 17 horas e 30 minutos. O atestado de óbito é assinado pelo doutor Alcides Ribeiro de Abreu. Ainda de acordo com o registro, Jacomino falece aos 38 anos de idade. Entre muitas notícias de seu falecimento, assim se manifesta o Correio da Manhã do Rio de Janeiro80, no qual há um trecho de leitura impossível devido ao fato de o jornal estar rasgado: “Morreu o ‘Rei do Violão’. Jacomino, o ‘Canhoto’, finou-se anteontem em São Paulo. “A música regional acaba de perder um de seus elementos mais brilhantes. Américo Jacomino – ‘Canhoto’ – primeiro prêmio do nosso concurso ‘O Que é Nosso’, o popular ‘Canhoto’, que todos tanto apreciaram e admiraram através da suavidade de sua melodia encantadora, finou-se em São Paulo. “A morte de Américo Jacomino, que ainda há pouco estivera no Rio, não é uma dessas mortes que se perca no simples registro do noticiário fúnebre. Cantor de nossa terra, compositor, como poucos, da música regional cheia de graça e beleza, o autor de Abismo de Rosas foi um desses musicistas que mais se salientaram no cotejo de seus companheiros. Mestre do violão, compositor de um sem número de músicas que, hoje, se espalham pelo país inteiro, ‘Canhoto’ [...] aquele que melhor fazia tanger uma corda, vibrando em sua amplitude a própria alma que ele parecia depositar na nota melancólica e sentida. “Melhor elogio não se pode fazer de Américo Jacomino que o lembrar a sua participação admirável no concurso de músicas regionais, organizado por esta folha, concorrendo ao grande certame de então e competindo com inúmeros adversários de vários Estados da União, todos, cheios de prestígio, ‘Canhoto’ logrou empolgar um júri severíssimo e fazer-se coroar o ‘Rei do Violão’. Se sua fama já vazava os limites de sua modéstia e irradiava por todo o Brasil, essa época marcou, então, sua consagração. Hoje, no Rio, nos Estados, no bulício das cidades ou na tranqüilidade encantadora do sertão, não há quem não lhe saiba o nome. 80 Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1928, p. 06. “Popular, querido pelo seu mérito, ‘Canhoto’ teve uma morte cheia de repercussão e sentimento. Por isso é que, fazendo esse registro à parte, quisemos salientar o fato, um acontecimento de mágoa, para todos e de dor para a música regional”. O coche fúnebre sai às 16 horas de sua residência, rua 13 de Maio, n.º 156, em direção ao cemitério do Araçá, onde é sepultado o violonista. No mês de outubro de 1928 as lojas começam a vender o último disco de Jacomino, com as músicas Mexicana (valsa) e Uma Noite na Roça (cateretê), ambas gravadas naquele 14 de março. Capítulo III – Panorama do violão em São Paulo: 1904 – 1928 III.1 – Os violonistas nas salas de concerto: Canhoto, Barrios, Robledo e outros. Após os primeiros registros em disco de Américo Jacomino, na primeira etapa da carreira artística de Jacomino, a partir de finais de 1915, os jornais começam a noticiar seus recitais. O repertório do violonista é bastante extenso, sendo que várias composições que Canhoto gravou em disco não foram tocadas em público (caso de Quando os Corações se Querem), da mesma forma que outras peças executadas em concerto não foram gravadas em disco (caso de Magia de Olhar e Tango da Agarra). Após 5 de março de 1925, o maior número de apresentações de Jacomino se dá no rádio - o então emergente meio de comunicação -, mais especificamente na Sociedade Rádio Educadora Paulista. As notícias de que o violonista teria inaugurado esta rádio são incertas, já que, por artigos do jornal O Estado de São Paulo, vê-se que o violonista foi um dos primeiros a tocar na rádio, mas não há maiores detalhes sobre o assunto (vide capítulo II). Entre os locais em que o violonista mais se apresentou em toda sua carreira estão (sem incluir as temporadas): Conservatório Dramático e Musical de São Paulo: 14 vezes Teatro São Pedro: 6 vezes Teatro Avenida: 4 vezes Teatro Boa Vista: 4 vezes Teatro São Paulo: 4 vezes Além destes, Jacomino apresentou-se em praticamente todos os palcos principais da cidade de São Paulo, incluindo o Municipal (duas vezes), Teatro Colombo e Teatro Santana, somando-se ao todo mais de trinta e cinco palcos. São várias também as informações sobre turnês pelo interior do Estado de São Paulo, em cidades como Descalvado, Campinas, Santos, Itu, Amparo, Bauru e Jaú, além de outros Estados como Rio de Janeiro. Américo Jacomino esteve tão presente nos noticiários que por várias vezes o jornal O Estado de São Paulo colocou uma coluna intitulada “Notícias do Canhoto”. As informações de outros violonistas são em número muito menor (vide capítulos I e II). No primeiro capítulo reunimos notícias sobre violonistas atuantes na cidade de São Paulo, seus repertórios e locais de atuação, com o intuito de apontarmos o surgimento do nome de Américo Jacomino. Tabulando as datas de atuação, compositores executados, seus intérpretes e locais onde tocavam, é possível esboçar um panorama do instrumento na metrópole, que se desenvolvia rapidamente. A análise dos resultados obtidos (vide anexo I) levará em conta datas que estabelecemos na cronologia da vida e obra de Jacomino: ele nasce em 1889 e grava Belo Horizonte para violão solo, peça de sua autoria, em 1912; a primeira audição do violonista, noticiada pelos jornais, dá-se em 1915, e ele permanece atuante na cidade até 1922, quando se muda para São Carlos após seu casamento; em 1925 ele volta para a capital, onde permanece até a morte, em 1928. Primeiro momento: 1889 a 1912 É de 1904 a primeira notícia de recital de um violonista, F. P. Catton, a apresentar-se no Club Germânia, sem indicação de repertório, no entanto. Mas durante esta primeira década do século vinte, até 1911, Gil Orosco e Manuel Gomes, além do Tercetto Espanhol e da dupla Gil Orosco/Alberto Baltar, apresentam-se no Salão Steinway, nome de uma das salas do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e no Centro Espanhol. Aliás, neste segundo espaço só Manuel Gomes se apresenta. O repertório traz, como compositores da literatura do violão erudito, o nome de Francisco Tárrega e o de Julian Arcas, principalmente. O restante do repertório inclui transcrições de Chopin, Meyerbeer e Verdi, além de peças originais dos próprios violonistas que tocaram (caso de Orozco e de Manuel Gomes). Segundo momento: 1914 a 1922 O segundo momento contempla os recitais de Francisco Pistoresi, que realiza alguns recitais ao violão apresentando seu invento, o diamenofone, uma espécie de amplificador. Todo o repertório deste violonista era composto de transcrições de obras de autores célebres como Wagner e Boccherini, com exceção de uma gavota de Mauro Giuliani, obra original para violão. Em 1916, com a estréia de Américo Jacomino em São Paulo, o movimento violonístico toma um impulso jamais visto até então. O repertório de concerto deste violonista durante o ano é composto exclusivamente de obras de sua autoria. Nos anos subseqüentes, até 1922, o violonista apresentaria peças de autores como Levino Albano da Conceição (Tarantella) e Frontini (Serenata Árabe). Em 1917 ocorrem as estréias de Agustín Barrios e Josefina Robledo na capital paulista. O repertório de Barrios é variado, com muitas obras de sua autoria, peças de compositores paraguaios, como Garcia Tolsa e Alberto Baltar, e transcrições de autores como Beethoven, Chopin e Mendelssohn. Como peças originais Barrios interpreta Tárrega, Giuliani, Aguado, Coste e Regondi. Josefina Robledo não é compositora e, por sua vez, interpreta como peças originais apenas as de seu professor Francisco Tárrega e de seu colega Emílio Pujol. Todo o restante do repertório é composto de transcrições de autores espanhóis como Isaac Albeniz e Enrique Granados, além de compositores consagrados como Bach, Chopin e Paganini. Um terceiro nome se apresenta para o público paulista, o de Benedito S. Capello, que interpreta os mesmos autores que os demais e, a exemplo de Josefina Robledo, inclui uma obra de Emílio Pujol (Canção do Berço). Uma exceção ao padrão de autores escolhidos é a inclusão, em 1919, da transcrição de duas peças (gavota e minueto) da ópera O Contratador de Diamantes de Francisco Braga, transcrições estas que estão perdidas. Esta composição, juntamente com a Fantasia sobre O Guarani, de Carlos Gomes, transcrição a cargo de Américo Jacomino, são as duas únicas obras de compositores eruditos brasileiros executados no período. As salas escolhidas para os recitais se diversificam e o público pode, então, freqüentar o Salão do Correio Paulistano, Teatro Municipal de São Paulo, Salão do Automóvel Clube, Pavilhão Central, Teatro São Pedro e o Salão da revista A Cigarra, embora a mais requisitada seja a sala do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Terceiro momento: 1923 a 1928 Este último momento, que, como dissemos, compreende a volta de Canhoto para a capital até a sua morte, ainda traz apresentações de Josefina Robledo seguindo o mesmo padrão apontado. Américo Jacomino continua interpretando peças de sua autoria, além de peças originais de outros autores como Julian Sagreras (Uma Lágrima), João Pernambuco (Randon) e transcrições de Mendelssohn (3.º Prelúdio) e Verdi (Miserere da ópera O Trovador). Novos violonistas vão surgindo. João Avelino de Camargo, que formaria o primeiro trio de violões brasileiro de que se tem notícia, o trio Os Três Sustenidos, começa a se apresentar em recitais com obras de sua autoria. Domingos Silva aparece interpretando peças próprias e composições do repertório de outros violonistas, como obras de Verdi (Miserere), Carlos Gomes (O Guarani) e Levino Albano da Conceição (Tarantella). Alfredo Pistoresi (filho de Francisco) inicia seus recitais com obras de Tárrega e Chopin, nitidamente inspirado em Josefina Robledo. Esta violonista possui como aluno em São Paulo Osvaldo Soares, que em 1925 realiza seus primeiros recitais, interpretando obras de compositores como Schumann, Albeniz, Tárrega e Pujol, entre outros, a exemplo de sua professora. Em 1925 e 1926 o paraguaio Pablo Escobar apresenta-se com um repertório variado, destacando-se peças de conterrâneos como Barrios e Garcia Tolsa, além de Tárrega, Sinópoli e peças de sua própria autoria. Canhoto, ao voltar à capital paulista, começa a demonstrar suas preferências quanto ao repertório, sendo várias as vezes em que o violonista interpreta a Marcha Triunfal Brasileira, Abismo de Rosas e Viola, Minha Viola, justamente as obras que interpretaria no concurso O Que é Nosso, no Rio de Janeiro. Entre novos nomes que aparecem a partir de 1926 estão Larosa Sobrinho, Luiz Buono, José Navarro, Benedito Chaves, Pedro J. Moraes, Leopoldo Silva Hugo Banzatto, Totó, J. Sebastião Lima e Pedro Cavalheiro, que contemplam em boa parte de seus repertórios, obras de suas autorias. A exceção fica a cargo de Juan Rodrigues, que amplia o repertório, incluindo originais de Fernando Sor e transcrições de Porcel, além de peças de sua própria autoria. Com relação às salas de concerto mais requisitadas neste terceiro momento, os teatros que acolhem as apresentações de violonistas são o salão do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, o Teatro Municipal, a União Católica Santo Agostinho, Associação dos ex-alunos Salesianos e o Teatro Boa Vista. A grande novidade é que na Sociedade Rádio Educadora Paulista começam a ocorrer apresentações dos vários novos violonistas já citados anteriormente. Conforme fica demonstrado, este terceiro momento se caracteriza sobretudo pelo grande número de apresentações de solistas nos palcos de São Paulo, proeminência que se acentua, se considerarmos que o instrumento também passa a ser muito divulgado nas rádios que vão surgindo. III.2 – Os violonistas nos estúdios das gravadoras: Rogério Guimarães e outros. Canhoto, Levino Albano, Através de uma listagem com os discos gravados entre 1902 (vide anexo II), quando se registra o primeiro disco comercial no Brasil, até o final da década de 1920, quando da morte de Américo Jacomino, é possível obter dados expressivos sobre a atuação dos violonistas neste início do desenvolvimento da arte solística do violão no Brasil. A fase mecânica dura aproximadamente de 1902 a 1927, com cerca de 7000 discos, dos quais mais da metade são registrados pela Casa Edson. Fred Figner, o diretor desta empresa, passa a prensar suas chapas no Brasil em 1913, com a instalação da Fábrica de Discos Odeon. A fase da gravação elétrica de 78 RPM no Brasil inaugura-se em julho de 1927, totalizando 28000 discos, sendo editados de 1927 a 1964, quando o sistema cai em desuso. Entre os primeiros registros de violão solo no Brasil há uma gravação do cantor lírico Mário Pinheiro com a música Petita, de sua própria autoria, gravada em 1910, em disco de uma face apenas, e há um disco gravado pela Columbia entre 1908 e 1912, de duas faces, com a gavota Jaci e o batuque Sertanejo, compostas e interpretadas por João Pernambuco. Com relação a Canhoto e demais violonistas do período, é provável que Jacomino agradasse por suas composições, pelo repertório e pela qualidade de seu trabalho, uma vez que foi o violonista que mais discos gravou, como comprova a Discografia Brasileira em 78 RPM. Até meados de 1940, ou seja, 12 anos após a sua morte, ele aparece como o nome mais expressivo nas gravadoras: Américo Jacomino: 47 discos com violão, 5 com cavaquinho e 40 com seu grupo. Mozart Bicalho: 9 discos Glauco Vianna: 11 discos Levino Albano da Conceição: 8 discos João Pernambuco: 10 discos Rogério Guimarães: 15 discos José Augusto de Freitas: 4 discos Benedito Chaves: 7 discos Henrique Brito: 9 discos Antônio Giacomino: 2 discos Trio Os Três Sustenidos: 4 discos Tal panorama começaria a mudar quando outra geração de violonistas entra no estúdio para gravar, caso de Aníbal Augusto Sardinha (em 1930), mais conhecido como Garoto - que foi aluno de Canhoto -, Dilermando Reis (em 1941), Laurindo de Almeida (em 1938) e o próprio Heitor Villa-Lobos, que gravaria seu Choros n.º 1 comercialmente no dia 25 de abril de 1940, sendo lançado em abril do ano seguinte. O colecionador Ronoel Simões possui ainda uma gravação do tango argentino Se Acabaram Los Otários, disco matriz não citado na Discografia Brasileira em 78 RPM. Uma curiosidade é que o nome da música é o nome do primeiro filme sonoro brasileiro, do qual participa seu companheiro Roque Ricciardi, o Paraguaçu. O filme foi lançado comercialmente em 1929, um ano após o falecimento de Américo Jacomino, portanto é provável que, caso a vida lhe tivesse fornecido mais tempo, ele também tivesse participado do filme. A Odeon era a que mais gravava o instrumento, seguida da Victor Records, Favorite Records e Columbia. A Zon-o-Phone teve uma participação expressiva no início das gravações em 1902, sendo, porém, um caso isolado. Canhoto trabalharia para duas companhias, a Odeon e a Phoenix, sendo que seu nome sairia também pela pequena gravadora Gaúcho através de uma gravação do grupo Os Geraldos, interpretando duas músicas de sua autoria. O nome de Canhoto foi o único que figurou nos catálogos dessas gravadoras entre 1912 e 1933, cinco anos após sua morte. Relacionamos, a seguir, as gravadoras para as quais os violonistas trabalharam: ZON-O-PHONE: Os primeiros discos brasileiros foram os da gravadora Zono-Phone, séries 10000 e x-100 (gravadas no Brasil e fabricadas na Alemanha pela International Zonophone Co.), respectivamente, de discos de 7 e 10 polegadas de diâmetro. Como as séries são simultâneas, tanto o 10.001 (Isto é bom) como o x-1001 (Ave Maria) poderiam ser considerados os primeiros discos brasileiros, gravados em 1902 ou, alguns, em 1901. A Zon-o-Phone prensa os discos em duas faces, ao contrário das demais. Os cantores Bahiano e Cadete registram inúmeros discos acompanhados ao violão, sendo que a contagem geral dos catálogos desta empresa se aproxima de 200 gravações. Não há nenhum solo de violão registrado pela Zon-o-Phone.. ODEON: -1.ª Série Brasileira – 40000 (1904/1907): Os discos com acompanhamento de violão registrados nesta série somam 39. Há, por um lado, várias gravações sem indicação de acompanhamento. Por outro lado, há indicações mostrando que muitos foram acompanhados pelo cantor e violonista Mário Pinheiro. Os discos são todos de duas faces. -Série 10000 (1907/1913): Nesta série são registrados 17 discos com acompanhamento de violão, sendo que vários não possuem indicação de acompanhamento. O cantor Mário Pinheiro novamente acompanha a maior parte das gravações. Dois grupos possuem violão em sua formação: Grupo da Casa Edson e Grupo Novo Cordão. -Série 108000 (1907/1912): Nesta série são registrados 33 discos com acompanhamento de violão. Bahiano, Cadete e Eduardo das Neves acompanham a maior parte das gravações. -Série 70500 (1908/1912): Há várias gravações com Mário Pinheiro. Não se sabe ao certo se há algum solo de violão, mas o instrumento é utilizado para grande número de acompanhamentos. -Série 137000 (1912/1914): Esta série teve pouca duração e poucos discos foram lançados. -Série 120000 (1912/1915): Nesta série aparecem os primeiros registros fonográficos de Américo Jacomino, o Canhoto. Este violonista lançou a maior parte das gravações em solos de violão até a metade do século vinte, fato comprovado pela listagem de gravações até o período. Há ainda vários discos de Cadete, Bahiano e Eduardo das Neves. -Série 121000 (1915/1921): Nesta série são registrados 4 discos com acompanhamento de flauta, cavaquinho e violão, 4 com flauta e violão, 1 com violão e piano, 2 com violão e bandolim, 72 com violão e cavaquinho, e 13 com violão. Américo Jacomino aparece acompanhando o cantor Bahiano em 2 discos. Existem também vários registros com Canhoto, Eduardo das Neves, Bahiano e Mário Pinheiro, certificando que, nesta época, o violão era o instrumento que mais acompanhava os cantores. Mais ou menos 28 grupos que gravaram discos possuíam violão em sua formação. -Série 122000 (1921/1926): Há nesta série várias gravações do cantor Bahiano, sem, contudo, haver uma certeza de quantos são acompanhados de violão. O grupo Turunas Pernambucanos é formado de 3 violões, 1 cavaquinho e 1 saxofone, e grava 4 discos. Há ainda algumas gravações de Canhoto, Levino Albano da Conceição, entre outros. -Série 123000 (dez. 1925/ jul. 1927): Cada face desta série possui uma numeração distinta. Aqui aparecem várias gravações de João Pernambuco com acompanhamento de Rogério Guimarães. Há também curiosas gravações de Américo Jacomino tocando cavaquinho e até cantando. -Série 10000 (julho 27/ maio 33): A importância artística desta série é incomparável. Há inúmeras gravações com acompanhamento de violão solo ou com outros instrumentos, com intérpretes como Rogério Guimarães, Mozart Bicalho, Canhoto e Sainz de la Maza. Vários cantores de importância gravaram nesta série, entre eles a cantora e violonista Olga Praguer Coelho. Há também gravações de Francisco Alves tocando violão e sendo acompanhado por Canhoto. Somando-se o número de acompanhamentos de violão solo ou com outros instrumentos, chega-se a mais ou menos 70 gravações, considerando ainda o fato de que muitas músicas aparecem sem indicação de acompanhamento. -Série 11000 (maio 33/ julho 41): Há mais ou menos 78 músicas com acompanhamento de violão nesta série, a maioria por Rogério Guimarães. Há duas curiosas gravações de Ari Barroso tocando piano e sendo acompanhado por Laurindo de Almeida e Garoto em agosto de 39. O Regional de Laurindo (de Almeida) e Garoto grava 7 discos. Rogério Guimarães grava 18 discos com acompanhamento de violão solo, além daqueles com outros instrumentos. ODONETE: (1.º Semestre de 1927) Aparecem apenas um dueto de guitarra e violão e um dueto de violão e cavaquinho. FAVORITE RECORDS: (1910/1913) Nesta gravadora aparecem 33 discos com acompanhamento de violão. Os intérpretes são: Neco, Alberto, Artur Castro, Orestes de Matos, Zeca, Acácio, Pacheco e Serrano. VICTOR RECORD: (1908/1912) A maioria das gravações foi feita com acompanhamento de violão, mais precisamente 80 registros, sendo grande parte a cargo de Mário Pinheiro. Dois conjuntos mantinham violão em sua formação: Quarteto Os Sustenidos e o Quarteto Oriente. COLUMBIA: (1908/1912) Há uma gravação de João Guimarães (Pernambuco) tocando violão. A maioria dos discos desta gravadora – vinte e oito - possuía acompanhamento de violão, muitos desses discos pelo Belchior da Silveira, “Caramuru”, o principal cantor da Columbia. Quatro grupos possuíam violão em sua formação nesta série: Grupo Nicanor, Grupo K. Laranjeira, Grupo Chiquinha Gonzaga e Grupo Lulu o Cavaquinho. BRASIL: (1911/1914) Há apenas a informação de um grupo, o Terceto Paulino, formado por violão, bandolim e bandola. PHOENIX: (1913/1918) Há várias gravações do Grupo do Canhoto e dele próprio tocando violão solo. Há também gravações de vários conjuntos que utilizam o instrumento. São eles: Caravana de São Francisco, Grupo do Louro, Trio Aurora, Grupo dos Descarados, Grupo dos Chorosos, Grupo dos Excêntricos, Grupo dos Fiteiros, Grupo Phoenix, Grupo Diamantino, Grupo Faceiro e Grupo Sulferino. GAÚCHO: (1912 / Início dos anos 20) Há apenas uma gravação do conjunto Os Geraldos interpretando uma música de Américo Jacomino. VICTOR: - Série 33200 (nov. 29/ dez. 35): Nesta série há inúmeras gravações com acompanhamento de violão solo ou com outros instrumentos. Os principais violonistas acompanhadores são Rogério Guimarães, Garoto e Glauco Vianna. - Série 34000 (dez. 35/ set. 42): Nesta série há diversos discos sem indicação de instrumento acompanhador. Na maioria das gravações de música sertaneja os cantores interpretam ao som de viola caipira. O violão está presente como acompanhante em quase todas as gravações, excetuando-se as com orquestra. A cantora Olga Praguer Coelho tinha como violonistas acompanhantes Pereira Filho e Luiz Bittencourt, além de Rogério Guimarães e outros. COLUMBIA: - Série 5000 (fev. 29/ jul. 30): Nesta série há vários discos sem indicação de instrumento acompanhador. O cantor Paraguaçu e a cantora Stefana de Macedo faziamse acompanhar por violonistas. Alguns violonistas que aparecem nesta série são: Benedito Chaves “Guru”, Jararaca (José Luiz Calazans), José Pedroso Camargo, João Pernambuco, Petit (Hudson Gaia) e José Sampaio. Há também alguns solos com Benedito Chaves “Guru” interpretando peças eruditas e várias gravações com João Pernambuco. - Nas séries 20000 (maio 29 /set. 30), 7000 (ago. 30/ out. 30) e 22000 (jan. 31/ nov. 34) não há solos de violão. Aos poucos os acompanhamentos com o instrumento vão diminuindo e as orquestras vão ocupando mais espaço nas gravadoras. - Série 8100 (dez. 34/ out. 38): Há algumas gravações de Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, tocando guitarra havaiana e violão tenor. Vários discos não possuem indicação de acompanhamento. Os conjuntos instrumentais acompanham a maioria dos discos. - Série 55001 (dez. 38/ out. 43): A importância desta série reside no fato que Dilermando Reis grava seu primeiro disco, com a música Noite de Lua. Há algumas poucas gravações com acompanhamento de violão e alguns solos deste instrumento. PARLOPHON: - Série 12801 (ago. 28/ago. 29): Há uma gravação de Guido Santórsola tocando violino. Este iria ser um dos grandes compositores para o violão no século vinte, criando importantes peças para o repertório de grandes violonistas como Abel Carlevaro e Sérgio Abreu. Há também algumas gravações de Rogério Guimarães. Muitos discos não possuem especificação de acompanhamento. Nas notas da Discografia Brasileira em 78 RPM, editada pela FUNARTE, há uma citação sobre Glauco Vianna: “O violonista e compositor Glauco Viana era, então, ‘quase uma criança’, segundo Monoarte. Também muito jovem era o violonista e acompanhante Jaime Florence, um feliz exemplo de longevidade artística, em atividade até os dias atuais”. - Série 13000 (ago. 29/ ago. 32): Nesta série, a última da Parlophon, há mais algumas poucas gravações com violão, com intérpretes como Armando Neves, Tito, Tute e Luperce Miranda, entre outros. Em uma gravação Garoto aparece com o nome Aníbal da Cruz. Há também gravações com Glauco Vianna, Carlos Campos, entre outros. BRUNSWICK: - Série 10000 (dez. 29/ fev 31): Há diversos discos em que o acompanhamento não está especificado. O total soma quatorze. Há gravações do mais antigo trio de violões brasileiro de que se tem notícia, o trio Os Três Sustenidos, formado por Melinho de Piracicaba, João Avelino e Teotônio Corrêa, sendo poucos os registros em solos de violão. ARTE-PHONE: (SP início dos anos 30): Há apenas duas gravações com violão, uma delas com Antonio Giacomino, que não possuía parentesco com Américo Jacomino. Capítulo IV - O violonista Américo Jacomino: A música, a obra, o professor e seu instrumento IV.1 - Aspectos técnico-interpretativos e recursos violonísticos empregados O principal nome do violão durante finais do século dezenove e inícios do século vinte foi o espanhol Francisco Tárrega, cuja aluna Josefina Robledo se apresentou no Brasil durante as décadas de 1910 e 1920 (vide capítulo I), chegando a se instalar por um breve período em São Paulo e Rio de Janeiro. As peças de Tárrega eram as que apresentavam os mais variados recursos timbrísticos no instrumento, e pela coincidência das apresentações de Robledo e Barrios com os primeiros recitais importantes de Américo Jacomino, é provável que o violonista brasileiro tenha neles se inspirado para utilizar alguns desses recursos. Os exemplos mais utilizados por Jacomino são: - Pizzicati: apesar de ser um recurso conhecido e utilizado por compositores desde o período clássico, foi bastante difundido por Tárrega, chegando a apresentar uma nova forma de executar, tocando com a palma da mão sobre a região da roseta do violão, em sua Gran Jota Aragonesa, aliás, uma das peças mais tocadas por Josefina Robledo no Brasil. Américo Jacomino apresenta em Viola, Minha Viola um efeito de fala se utilizando do pizzicato tocado de forma normal (sobre o cavalete), porém com a mão esquerda (ou direita, no caso de Jacomino) tocando na mesma região da roseta do instrumento, apresentando, desta forma, sons indeterminados. Este efeito é inédito até então, e nenhum outro compositor, até onde se saiba, se utilizou do mesmo recurso. - Harmônicos: O efeito de harmônico conhecido no violão é realizado de duas formas: o harmônico natural, obtido com a ressonância das cordas soltas do instrumento, e o harmônico oitavado, obtido com a ajuda da mão esquerda, que prende a nota específica que se quer escutar. Jacomino utilizou principalmente o harmônico natural, que tocava de maneira bastante ressonante e projetada, efeito este facilitado pela própria ressonância de seu violão (como pode ser certificado na gravação do CD anexo à dissertação). Entre as obras em que Jacomino se utiliza deste efeito, estão a gavota Alvorada de Estrelas, as valsas Abismo de Rosas e Luizinha e o tango Por que tu vuelves a mi?. - Trêmulo: Este efeito é obtido tocando-se de forma rápida e seguida três ou mais notas iguais. Normalmente se faz com o polegar pinçando os baixos e indicador, médio e anular pinçando o canto (melodia). É impossível certificar qual a digitação utilizada por Jacomino, mas há a suposição, pela posição da mão quando se toca de forma canhota, que seja o dedo anular para os baixos e o anular, o indicador e o polegar para o canto. Jacomino se utiliza deste efeito para tocar a peça Um Delírio, de Gaspar Sagreras, o noturno Melancolia e a Fantasia sobre O Guarani, de Carlos Gomes. - Rufo: Efeito de tambor, bastante utilizado para músicas de caráter militar. Um dos exemplos mais contundentes está na já citada Gran Jota Aragonesa, de Francisco Tárrega. Jacomino utiliza este efeito em suas marchas de forma bastante eficaz, servindo de referência a outros compositores brasileiros que fizeram peças do mesmo caráter (Benedito Chaves, por exemplo, em sua peça Marcha Colombina). Os principais exemplos de Jacomino são o dobrado Campos Sales e a Marcha Triunfal Brasileira. Na primeira gravação da Marcha dos Marinheiros, Jacomino também se utiliza deste efeito, que foi excluído na segunda gravação da mesma peça, realizada pelo próprio compositor. - Glissandi: Efeito bastante utilizado por Jacomino por facilidade de seu violão, que possuía tensão muito pequena (cordas baixas em relação ao espelho, que é a parte do braço do violão em que apertamos as cordas com os dedos da mão esquerda) e grande vibração da madeira, fato este comprovado também pela gravação do CD anexo para a dissertação. O principal exemplo do uso deste efeito em uma obra de Jacomino está na valsa Burgueta. - Rasqueados: Efeito utilizado desde o período renascentista em instrumentos de cordas dedilhadas. No violão brasileiro foi fundamental como demonstração de músicas de caráter regional, sendo ainda hoje símbolo e recurso principal de músicas de estilo popular, principalmente quando tocado em viola caipira. É o oposto do ponteado, estilo em que o violonista dedilha as cordas. Américo Jacomino se utiliza deste efeito principalmente nas peças Viola, Minha Viola, Marcha dos Marinheiros e Fantasia sobre o Guarani, de Carlos Gomes. As tonalidades preferidas por Jacomino, a julgar pelo número de gravações, foram as de Lá maior e Mi maior, as mais comuns do violão no período. O violonista gravou quase que exclusivamente peças de sua autoria, fazendo exceção aos compositores Donato, Joubert de Carvalho, Canaro, Fresedo e Carlos Gomes. Luís Américo, seu filho, contou81 que, segundo sua mãe lhe dizia, Américo Jacomino estudava praticamente o dia inteiro, e não gostava de ser incomodado para não perder a concentração. Pelos discos é possível conferir que o violonista pouco falhava nas notas, em uma época em que não podiam ser feitos cortes de edição nas gravações. As poucas críticas desfavoráveis a Américo Jacomino partiram de violonistas contemporâneos a ele como Atílio Bernardini82 e da revista O Violão83. Bernardini foi um dos pioneiros do ensino do violão no Brasil, mais especificamente na cidade de São Paulo, tendo estudado teoria musical no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, e foi um dos primeiros a publicar um método de violão com idéias mais modernas no Brasil. Com relação à revista O Violão, a mesma já havia publicado artigos em que elogiava o violonista84. Apesar do ensaio fotográfico feito por Jacomino em 1919, não se conhece, infelizmente, até o momento, fotografias de Américo Jacomino durante uma apresentação, para se ter melhor noção da postura corporal e das noções técnicas do 81 Entrevista de Luís Américo Jacomino a Gilson Antunes em São Paulo, no dia 27 de novembro de 1999. Entrevista de Ronoel Simões a Gilson Antunes em São Paulo, no dia 30 de março de 1994. 83 O Que é Nosso: O “Correio da Manhã” prosseguirá na defesa do nosso patrimônio. O Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 5, pp. 15-16, abr. 1929. 84 “A Cultura do Violão em São Paulo”. O Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 1, p. 17, dez. 1928. 82 violonista, e até que ponto ele aplicava seu método em prática para uso próprio. Ao que parece, não é raro o aparecimento de violonistas canhotos que tocam o instrumento sem inverter as cordas, principalmente entre aqueles que não tiveram acesso a escolas de música. Cita-se como exemplo de violonistas solistas que gravaram discos ou deixaram imagens, Canhoto da Paraíba e Rogério Guimarães. No caso de violonistas cuja técnica se baseia no esquema popular de tocar por cifras, com “batidas” (pulsações) rítmicas da mão direita, verificam-se vários cantores de duplas sertanejas, mas estes são casos específicos, sem relação com o violão solista e com esta monografia. Sobre informações dos dois violonistas citados, Rogério Guimarães nasce em Campinas em 8 de junho de 1898, tendo iniciado sua carreira artística no ano de 1922, gravando dois anos depois seu primeiro disco, com a valsa Martha e o fox-trot Marinetti. Foi um dos primeiros artistas a gravar na Victor com fabricação nacional em 1929, tornando-se diretor artístico desta mesma gravadora por três anos no Rio de Janeiro. Como Jacomino, liderou um conjunto musical que acompanhou vários artistas, o Regional Rogério Guimarães. Em 1954, por ocasião do 4.º Centenário da Cidade de São Paulo, gravou em disco a mais conhecida composição de Américo Jacomino, a valsa Abismo de Rosas, tendo sido acompanhado por uma orquestra. A peça possui originalmente três partes, em Lá maior, Lá menor e Ré maior, sendo que nesta gravação eles não executaram a terceira parte da música. Ao se escutarem algumas gravações deste violonista, percebe-se que possuía uma técnica diversa da de Jacomino. Isso é perceptível por meio dos poucos recursos violonísticos utilizados (pouco ou nada de trêmulos, pizzicati, harmônicos e demais efeitos timbrísticos), além de gravar quase que integralmente com acompanhamento de outro violonista, ao contrário de Jacomino. Do mesmo modo, não é possível perceber que seja um violonista canhoto que esteja tocando e suas peças são bastante passíveis de serem interpretadas a partir da maneira tradicional de pinçar as cordas. Acrescente-se a isto o fato de sua valsa Gotas de Lágrimas ainda permanecer no repertório de violonistas mais antigos. Canhoto da Paraíba é o pseudônimo de Francisco Soares. Em 1959 faz sua primeira apresentação no Rio de Janeiro, ganhando a admiração de pessoas como Radamés Gnattali e Paulinho da Viola. Gravou poucos discos, sendo que o mais conhecido foi registrado em 1977, com produção de Paulinho da Viola para a Marcus Pereira Discos. Felizmente no caso deste violonista é possível ter acesso a análises mais pormenorizadas pelo fato de existirem imagens gravadas em programas de televisão, ao contrário de Jacomino ou Guimarães. Analisando um programa de televisão85, observa-se que o violonista utiliza digitações alternativas de mão esquerda (a que pinça as cordas) e direita (a que marca a posição das notas), tanto para pinçar as cordas quanto para realizar determinados recursos técnico-musicais, como ligados ascendentes e descendentes. Uma questão é mister ser analisada. O fato de os violonistas serem canhotos teria, ao utilizarem uma técnica diferenciada, influência no resultado sonoro, ao contrário dos violonistas destros? Teoricamente sim, pelo fato daqueles se aproveitarem de uma técnica cujo peso dos dedos, ao pinçarem as cordas, é diferente do peso dos dedos utilizados pelos violonistas destros. É certo que isso poderia ser controlado com um estudo sistemático de independência dos dedos, tão comum em métodos de violão. Mas, caso isso não ocorresse, o resultado seria bastante singular. Poder-se-ia pensar na possibilidade de uma digitação base para os violonistas canhotos, com o dedo anular pulsando os bordões e o dedo médio para a terceira corda, o indicador para a segunda e o polegar para a primeira. É óbvio que as variantes seriam muitas, como no caso dos violonistas destros, inclusive um grande número de digitações alternativas, e por que não, o uso do dedo mínimo da mão esquerda, ainda pouco utilizado por violonistas em geral (e, no começo do século vinte, menos ainda). Ao se escutarem os discos de Américo Jacomino e Rogério Guimarães, essa possível diferenciação sonora não é perceptível, comparando-se com violonistas destros. Inclusive, ao ater-se em técnicas intrinsecamente baseadas na mão direita, como no caso do trêmulo, em Américo Jacomino (nas músicas Melancolia e Fantasia sobre o Guarani) não se percebe que o violonista esteja tocando de forma invertida. Para uma digitação base de polegar, indicador, médio e anular, com o dedo anular para os bordões, uma provável mudança para anular, médio, indicador e polegar dos canhotos resultou em sonoridade idêntica. Não se pode afirmar, como Ronoel Simões86, que Américo Jacomino tenha formado uma Escola Violonística. A justificativa de que isso tenha ocorrido pelo simples fato de o violonista tocar da forma que tocava é vaga, se apoiada apenas no fato de que seu Método de Violão é feito para destros; além disso, não se conhece nenhum aluno de Jacomino que tenha servido como referência para gerações futuras, o que 85 “Canhoto da Paraíba”. Projeto Brahma Extra – Grandes Músicos. Fita de VHS, VI – 00508.17. Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. 86 Depoimento de Ronoel Simões ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Fitas n.º 75.1.2 e 75.3.4. acaba por desvalidar a justificativa de Simões. Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, que como foi dito estudou com Américo Jacomino, chegou até mesmo a gravar Abismo de Rosas duas vezes, além de fazer um arranjo “exótico”87 para a Marcha dos Marinheiros, que iria gravar pouco antes de sua morte prematura. Porém, este mesmo violonista passaria para a história como aluno de Atílio Bernardini, o mesmo que fez crítica desfavorável a Américo Jacomino. O Método de Violão de Américo Jacomino, além de ser desenvolvido para pessoas destras, é baseado em suas informações iniciais nos métodos de violonistas do período clássico. O fato de tocar com o dedo mínimo junto ao tampo do instrumento, com o violão na perna esquerda e sem unhas mostra uma ligação direta com a escola do violonista espanhol Fernando Sor88. IV.2 – Manuscritos e partituras impressas de Américo Jacomino Esta relação está feita em ordem alfabética para facilitar sua localização. Ela se baseia em partituras encontradas em arquivo - pessoal e de particulares - além de notícias de jornais e citações do jornalista Juvenal Fernandes no álbum editado pela Fermata, em 1978. Sigla: MS: manuscrito p.: página s.d.: sem data IV.2.1 - As peças publicadas ou presentes em manuscritos de transcritores segundo o gênero musical FOX-TROT 87 Idem. Sor era partidário do uso do toque sem unhas, como escreve em seu Método de Violão, ao contrário de seu amigo e conterrâneo Dionísio Aguado. Ambos marcaram vertentes estéticas diferentes, muito discutidas pelos violonistas da geração dos alunos de Tárrega (primeira metade do século vinte), principalmente por Emílio Pujol, que viria a escrever o livro El Dilema Del Sonido de la Guitarra, especificamente sobre este assunto. 88 Américo Jacomino se utilizou três vezes desse gênero musical. A peça A menina do sorriso triste parece ter servido de modelo para Quando os corações se querem e Sudan (esta a versão cantada da anterior), sendo a primeira parte das peças praticamente idêntica. A MENINA DO SORRISO TRISTE Esta música foi gravada pelo próprio Américo Jacomino pela gravadora Odeon, com número de série 123.199, entre dezembro de 1925 e julho de 1927, sistema mecânico de 1 face apenas. A matriz recebeu o número 1009, sendo lançado em dezembro de 1926. A indicação de gênero aparece como sendo um híbrido fox-tango, sendo as características rítmicas semelhantes às encontradas nesses dois gêneros musicais. A estrutura é uma forma canção A - B, com introdução e repetição. A tonalidade é de Lá (modo menor na parte A e maior na parte B), com as funções harmônicas de T, S, D7, T, S ,T e D7 (parte A, 2 vezes) e T, Dd, D7, T, D, Dd , T, S, T, D7 e T. No compasso 20 aparece um acorde de subdominante com sexta napolitana, muito comum em gêneros como o choro. QUANDO OS CORAÇÕES SE QUEREM Esta música foi gravada pela Odeon, série 10.188, lado B, matriz 1595, lançada em junho de 1928. Ela possui uma versão cantada que virou propaganda de marca de cigarro, chamada Sudan. É uma forma canção A - B, com introdução. A tonalidade é de Lá, com modo menor na primeira parte e maior na segunda. SUDAN Versão cantada de Quando os corações se querem. Segundo seu filho Luís Américo, trata-se de uma espécie de pré-jingle, ou algo que se assemelhe a isso atualmente. Na capa da partitura aparece o dizer “Brinde da premiada fábrica de cigarros Sudan”. Como curiosidade, numa foto em que Américo Jacomino aparece com seu Grupo, a música que está na estante de música é justamente esta. Ao que parece a melodia agradou bastante o compositor, que a utilizou novamente em outras ocasiões, como explicado anteriormente. Os versos são do Duque de Abramonte, e a música é dedicada a Sabbado D’Angelo, que parece ser o proprietário de tal marca de cigarros (na contracapa da partitura aparecem várias caixas do fumo, com o citado nome em destaque na parte central inferior. A letra é bastante sugestiva: “Quando no meu quarto a meditar / No amor /Para sonhar / Fumo o meu cigarro divinal /Ideal /E sem rival / Sudan Sudan que faz sonhar Oh! Que cigarro enlevador /Quanta ventura, que sonho divinal de amor... Foi a fumar que aprendi a amar / Sudan eu te devo o amor consolador Da minha dôr / Meu amigo divinal /O, Sudan, não tem rival... / Fumo Sudan chic que os meus ais / Evola em nuvens vans / E também o bom Sudan Ovaes / E todos os Sudans, / E Sudanita o triunphador / Esse cigarro enlevador / E Sudaneza, Sudan sempre o Sudan Record...”. AMOROSA Esta peça foi publicada para piano pela EMP, sem data, com letra de Luiz de Freitas. Bastante característico, é um fox em forma de canção, com introdução, parte única em Mi maior e refrão (2 vezes), com repetição da capo. A letra é tipicamente romântica e graciosa, e vem aqui reproduzida sem alteração: “Amorosa, És tão gentil e carinhosa/ Da flor tu tens a alma porosa/ Que é luz, vida e esplendor! / Tem o candor da madrugada/ E ameniza o teu amor! / És vibração que o mundo e o céu encheu de vida! / Da inspiração Deus te formou minha querida!/ Tens no falar doces carinhos, Dos passarinhos, Dentro dos ninhos, a pipilar !”. ENTRE DUAS ALMAS Editada para piano com letra de Duque de Abramonte pela Est. Graph. Musical, sem data. A cópia disponível no CCSP vem com a data de doação de 8 de outubro de 1942. O esquema é de canção A (2x) B, sem introdução, com tonalidade de Sol (modo menor na parte A e maior na parte B). "Entre duas almas esplendor feitas de amor e de calor / Fulge luminosa esplendorosa a linda rosa de Thabor / E abre-se azul num céu de luar a enamorar num longo olhar / Almas que são vans almas de flor feitas de amor e de esplendor. Oh! Que ilusão Oh! Que ilusão / Oh! Que luar/ No fundo de cada emoção / Rebrilha refulge um olhar / Oh! Quanto amor / Oh, como é ideal / Que esplendor Oh! Que esperança Descansa /Balança Entre esse amor". SAMBA FECHE A PORTA E LEVE A CHAVE Editada para piano, sem data e sem nome de editora. O arranjo é de Alcebíades Corrêa, com letra e música de Américo Jacomino. O esquema encaixa-se na construção de introdução instrumental, solista (estrofe) e coral (refrão). A tonalidade única é de Lá maior, com 6 letras diferentes, com o tema gracioso e romântico característico. Refrão: “Vem comigo/ Vem comigo brincar / Lá na praia eu te digo / Tudo vou confessar”. SCHOTTISCH FLÔR PAULISTA Editada para piano pela “Campassi & Carmin”, sem data. A adaptação rítmica é de L. Rinaldo. A letra, novamente com o tema romântico e gracioso, não aparece com especificação, julgando-se tratar também de Américo Jacomino. É uma forma canção simples A - B, com pequena introdução e repetição da capo. A tonalidade é de Lá menor. No carimbo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro aparece a data de 1921, sendo esta ao que parece a data de entrada no estabelecimento. SERTANEJA AI! BARBINA!... Música do repertório do Trio Viterbo-Abigail-Canhoto, editada pela C.E.M.B, sem data. Na capa da partitura aparece a música como sendo do repertório da Orchestra Andreozzi do Rio de Janeiro. Pelo carimbo de entrada da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro aparece a data de 1920. A letra é de Arlindo Leal, com quatro estrofes diferentes. O musicólogo Paulo Castagna conseguiu uma cópia editada para canto, violino ou bandolim, julgando-se possuir outras partes da música, sendo provavelmente um arranjo para pequena orquestra. A referida cópia foi encontrada no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, sem código (arquivo 6 - gaveta 3 - pasta 41). A estrutura é de canção simples com introdução e temas A e B, com repetição da capo. A tonalidade é de Fá maior. MAZURCA TEMPO ANTIGO Gravada por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 123.305, com matriz 1119, lançada em maio de 1927. O esquema é de parte A, parte B e A'. A tonalidade é de Lá, com modo menor na parte A e maior na parte B. GAVOTA ALVORADA DE ESTRELAS Gravada por Américo Jacomino pela gravadora Odeon, número de série 123.201, matriz 1010 e lançada em dezembro de 1926. Uma das mais belas músicas gravadas por Canhoto, na tonalidade de Ré maior, utilizando o violonista da scordattura, abaixando em um tom a sexta corda do instrumento, para ganhar em ressonância e extensão. O esquema é de introdução, partes A e B, e coda. Os acordes de Sol menor e Sol menor com sexta da coda dão um caráter todo especial, e a interpretação do violonista em sua gravação, com rubatos propositalmente exagerados reforçam o caráter romântico desejado. ROMANCE PENSAMENTO Esta peça foi gravada por Américo Jacomino na Odeon, série 10.165, lado B, matriz 1615, no dia 16 de março de 1928, e lançada em maio do mesmo ano. Na Discografia Brasileira em 78 RPM, o gênero aparece como sendo valsa. A estrutura é de introdução, parte A em Mi menor, parte B em Lá menor e parte C em Mi maior, seguida da repetição da parte A e uma coda. CATERETÊ NOITE NA ROÇA !! Gravada por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.265, lado B, com Lúcio Chamék ao piano. A matriz é 1604. A data de gravação é 14 de março de 1928, tendo sido lançada em outubro do mesmo ano. Foi editada para piano pela A. Di Franco, sem data, com versos de João do Sul. Na cópia disponível no CCSP, a data de doação é de 3 de outubro de 1942. Segue o esquema de canção, com introdução, parte A, refrão duas vezes, parte B e repetição da capo. A tonalidade é de Fá maior. NHÁ MARUCA FOI S'IMBORA Gravada por Os Geraldos pela gravadora Gaúcho, número de série 4.042, lado A, em sistema elétrico de duas faces, após 1912. Segundo a Discografia Brasileira 78 RPM, o gênero é samba. Na partitura para piano com letra, editada pela A di Franco, de São Paulo, o gênero é a catira. Os versos são do próprio Américo Jacomino. Na capa da partitura a música aparece como sendo um sucesso do “popular humorista, cancionetista e ventríloquo Baptista Júnior”. O esquema é de canção, com introdução, parte A e B, e repetição da capo. A tonalidade é de Lá maior. CHORO OLHOS FEITICEIROS Gravado por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.017, lado A, número da matriz 1223, tendo sido lançado em agosto de 1927. Segundo a Discografia Brasileira 78 RPM, o gênero é o tango. Na partitura editada pela Fermata do Brasil em 1978, com arranjo de Edmar Fenício, o gênero seria o choro maxixe. A estrutura, simples, é de duas partes em Lá menor. NITERÓI Gravado por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.200, lado A, matriz 1596, em 13 de março de 1928. Na Discografia Brasileira 78 RPM aparece como gênero o tango-maxixe. Na partitura editada pela Fermata do Brasil em 1978, com arranjo de Nelson Cruz, o gênero é o choro. A estrutura é de 3 partes, sendo a primeira em Lá maior, a Segunda em Fá sustenido menor (com repetição da capo) e a terceira em Ré maior com repetição da capo ao fim. MENTIROSO Gravado por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.166, lado B, com Lúcio Chamek ao piano. O número da matriz é 1606, tendo sido gravada em 14 de março de 1928 e lançada em maio do mesmo ano. Segundo a Discografia Brasileira 78 RPM, o gênero seria um maxixe. A estrutura é de 3 partes, com A, B, repetição de A e C. A tonalidade é de Lá menor. MAXIXE !! ESSE CACHORRO SÓ FALTA FALAR !! Editado para piano, pela Off. Musical ARS, São Paulo, sem data. Na partitura do CCSP aparece como data de doação 8 de outubro de 1942. Os versos aparecem sem especificação de autor, o que nos faz crer serem do próprio Américo Jacomino. A estrutura é de 3 partes em Lá maior. PONTA GROSSA É BOA TERRA Editado para piano pela Off. Graph. Musical Campassi & Camin, sem especificação de data. O gênero aparece como sendo maxixe carnavalesco. A estrutura é de forma canção A (3 vezes) - B, com introdução e repetição da capo. A tonalidade é de Lá maior. DA BAHIA EU QUERO O CÔCO Editado para piano, com letra de Fernandes de Aguiar pela Est. Graph. Musical U. Della Latta, sem data específica. Na partitura disponível no CCSP, a data de doação é de 8 de outubro de 1942. A estrutura é de parte A com refrão (duas vezes) e repetição da capo. A tonalidade é de Ré maior. A GENTE SE DEFENDE Gravado por Frederico Rocha pelo selo Odeon, número de série 123.227, matriz 1064, sistema mecânico de 1 face, entre dezembro de 1925 e julho de 1927. A estrutura da peça é parte A (duas vezes), parte B e parte C, com repetição da capo. A tonalidade é de Lá maior. Foi editado para violão pela Fermata do Brasil em 1955, com arranjo de Domingos Semenzato. VALSA A valsa foi o gênero musical preferido por Américo Jacomino, que compôs suas mais famosas peças nesse estilo, servindo principalmente para o compositor expressar seu talento melódico nato, ao mesmo tempo que as marchas serviam para o compositor expressar suas idéias timbrísticas no instrumento. Entre as várias peças estão: Abismo de Rosas, Manhã Fatal, Delírios, Recordações de Dalva, Sombras que Vivem, Amor de Argentina, Arrependida e Escuta Minh’Alma. REMINISCÊNCIAS Possui uma introdução, uma parte A na tonalidade de Mi menor, parte B em Sol Maior e um trio em Mi maior. TRISTE CARNAVAL (SONHO DE PIERROT) Valsa lenta. Possui uma introdução em compasso binário composto e três partes na tonalidade de Lá menor (parte C em Lá menor). Na versão impressa para piano possui uma introdução em compasso binário composto e duas partes em Dó menor. A letra da música, na partitura de piano é de Arlindo Leal. Na partitura mais antiga, a instrumentação possui flauta, dois violinos, baixo e violoncelo, com introdução (moderato) parte A duas vezes, parte B duas vezes com da capo para o primeiro tema e trio duas vezes, com nova repetição da capo ao fim. TRISTE PIERROT Valsa impressa como composição de Paraguaçu e Canhoto. Possui uma introdução e duas partes em Lá menor, com um trio em Lá maior. SONHEI, SORRI, AMEI, DESCRI Publicada para piano, com cópia de Clorir Mamede. Possui uma introdução e três partes, sendo A e B em Dó menor e C em Dó maior, com repetição da capo. CHUVA DE PÉROLAS Publicada para piano, possui uma introdução, parte A em Ré maior, B em Lá maior, C em Ré maior e trio em Sol Maior, com repetição da capo e coda em Ré maior. ROSAS DESFOLHADAS Valsa gravada duas vezes pelo compositor. Possui introdução parte A em Lá maior e B em Lá menor, com repetição da capo e coda. LAMENTOS Peça em Lá Maior. O esquema da peça, bastante simples, é de uma introdução bastante rítmica e de três partes, A, B e C. MARCHA MARCHA DOS MARINHEIROS A obra possui duas partes e um trio. Composta, segundo aparenta, para homenagear os voluntários brasileiros por ocasião da Primeira Guerra Mundial. A força interpretativa e a invenção melódica e rítmica fazem desta peça uma das mais conhecidas do violonista entre os intérpretes do instrumento. MARCHA TRIUNFAL BRASILEIRA A obra possui apenas duas partes A e B, com uma intervenção em rufo na parte central. Jacomino queria, como na Marcha dos Marinheiros, mas até mais que esta, fazer com que o violão soasse como uma banda marcial, com todos os efeitos característicos a que se propõe. A força com que se apresenta a obra, os efeitos de sopros (metais e flautins) e de caixa clara e a energia interpretativa do violonista fazem com que a peça se destaque das gravações da época. AI MARGARIDA... AI MARGARIDA!... Impressa como "marchinha carnavalesca à rag-time" com letra de Juca Meu Nego. O esquema é de introdução, parte A com quatro letras e estribilho tocado duas vezes. Possui instrumentação e coral. TANGO JÁ SE ACABÔ... Impressa para piano como tanguinho sertanejo, com letra de Arlindo Leal. Possui uma introdução e duas partes, com A em Sol menor e B em Si bemol maior e Sol menor, com repetição da capo. CAPRICHOSO Possui uma parte A em Lá maior e parte B em Fá # menor com repetição da capo. IV.2.2 – Arranjos para violão de Domingos Semenzato A Gente Se Defende (maxixe); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata do Brasil, 1955, 2p., violão. A Gente Se Defende (maxixe); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1965. 2 p., violão. Alvorada de Estrelas (gavota); arranjo de Domingos Semenzato. Manuscrito, coleção Ronoel Simões, 3 p., violão. Amor de Argentina (tango milonga); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1962. violão. Amor de Argentina (tango-milonga); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 18-19, violão. Arrependida (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1955. Violão. Arrependida (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1965. Violão. Arrependida (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 21-23. Burguêta . Transcrição de Domingos Semenzato. MS coleção Ronel Simões, 4 p., violão. Brasilerita (tango argentino); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1962, violão. Brasilerita (tango canção) ; arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1963, 2 p., violão. Brasilerita (tango argentino); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, FB-2859, s.d, pp. 24-26. Caprichoso (tango); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Ed. Del Vecchio, s.d., n.º 19.337, 1 p., violão. Delírios (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel Simões, 3 p., violão. Escuta Minh'Alma (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1962, violão. Guitarra de Mi Tierra (tango); arranjo de Domingos Semenzato. MS: por Isidoro Geraldo. Coleção de Ronoel Simões, 2 p.. Manhã Fatal (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel Simões, 3 p., violão. Marcha dos Marinheiros (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. (São Paulo, Ed. Del Vecchio?), s.d., n.º 2.474, 3 p., violão. Marcha dos Marinheiros (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Bandeirante Editora Musical, 1964, 3 p., violão. Marcha dos Marinheiros (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, FM-2859, s.d. , p p. 34-37, violão. MarchaTtriunfal Brasileira (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1962, violão. MarchaTriunfal Brasileira (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 38-43, violão. Mentiroso (choro); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel Simões, 3 p., violão. Pensamento (romance); arranjo de Domingos Semenzato . MS: coleção de Ronoel Simões, 4 p.. Quando Os Corações Se Querem (fox-trot); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Ed. Del Vecchio? , n.º 19.336, 2 p., violão. Recordações de Dalva (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1962, violão. Reminiscências (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, c. 19633, 2 p., violão. Reminiscências (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d. , FB-2859, pp. 51-53. Reminiscências (valsa lenta); arranjo para violão de Domingos Semenzato. São Pauo, Fermata, c. 1963, 3 p., violão. Tempo Antigo (mazurca); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel Simões. 2 p. Triste Carnaval (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, RJ, Cembra Ltda., 1952, Violão. Triste Carnaval (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 54-56. IV.2.3 – Arranjos para violão de outros autores Abismo de Rosas (valsa lenta); arranjo de Isaías Sávio. São Paulo e Rio de Janeiro, Cembra Ltda., 1944 e 1955. Violão. Abismo de Rosas (valsa lenta); arranjo para violão de Isaías Sávio; letra de João do Sul. São Paulo, Cembra, 1952. 3 p.. Abismo de Rosas (valsa ); versão de Garoto; transcrição de “Rubinho” (jan. 1987 ). MS coleção Ronoel Simões. 4 p.. Dia de Folia. São Paulo, Fermata do Brasil, 1977: violão. Escuta Minh'Alma (valsa). In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 27-30. Violão. Lamentos (valsa); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1978. Violão. Lamentos (valsa); arranjo de Nelson Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, FB 2859, pp. 31-33, violão. Método de Violão; s.l., s.ed., s.d., 28 p. ( existem 2 outras edições ). Niterói (choro); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1976, violão. Niterói (choro); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1978, violão. Niterói (choro); arranjo de Nelson Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 44-45. Olhos Feiticeiros (choro-maxixe); arranjo de Edmar Fenício. São Paulo, Fermata, 1978. Violão. Olhos Feiticeiros (choro-maxixe); arranjo de Edmar Fenício. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 46-47. Primeiras Rosas (valsa); arranjo de Nelson da Cruz. São Paulo, Fermata, 1969, violão. Primeiras Rosas (valsa); arranjo de Nelson da Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 48-50. Rosas Desfolhadas (valsa); transcrição de Isidoro Geraldo. MS: coleção de Ronoel Simões, 3 p., violão. Sombras Que Vivem (valsa); arranjo de Paulo Barreiros. São Paulo e Rio de Janeiro, Irmãos Vitale, 1929, n.º 56, 4 p., ( com biografia de Américo Jacomino ). Triste Pierrot (valsa); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1969. Violão. Triste Pierrot (valsa); arranjo de Nelson Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., p. FB-2859, pp. 57-60. IV.2.4 – Arranjos para piano A Gente Se Defende (maxixe). São Paulo, Pedro Tommasi, s.d., 3 p., piano. A Gente Se Defende (maxixe). São Paulo, Casa Editora “Ars” ou EMPG, s.d. n.º 1.012: piano. Abismo de Rosas (valsa); Cembra. 3p., piano. Amor Sertanejo (tango). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano. Amores na Praia (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano. Arrependida (valsa) . São Paulo, EMP ou Oficinas Musicais “ARS”, n.º 1.014, piano. Chuva de Pérolas (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano. Depois do Beijo (schottisch). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano. Feche a Porta e Leve a Chave (samba carnavalesco); arranjo para piano de Alcebíades Corrêa, s.n.t., 3 p., piano. O Gato Comeu o Pato (samba). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano. Já Se Acabou (tango). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano. Manhã fatal (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano. Manhoso. Edição EGMP, piano. Olhar de Deusa (valsa ). São Paulo, E. Bevilacqua, piano. Ponta Grossa é Boa Terra (maxixe carnavalesco). Ponta Grossa, Casa Progresso, s.d., 3 p. piano. Sonho de Primavera (valsa); São Paulo, Bevilacqua, s.d., 3 p., piano. Triste Carnaval (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano. IV.2.5 – Arranjos para piano e canto Ai! Barbina! (canção sertaneja). São Paulo, CEMB, Campassi & Vamin, n.º 725, canto e piano. Ai Margarida . . . Ai Margarida (marchinha carnavalesca à ragtime); letra de Juca Meu Nego. São Paulo, Irmãos Vitale, s. d., n.º 324, piano e canto. Deixe Meu Bem de Tolice (tango carnavalesco). São Paulo, Bevilacqua, s.d., 3 p., piano e canto. Foi-Se Embora Maria (marcha-rancho); versos de Guilherme Fontana. Rio de Janeiro, OGEM, s.d., 3 p., n.º 66, piano e canto. Já Se Acabô . . . (tanguinho sertanejo); letra de Arlindo Leal. São Paulo, Campassi, s.d., 3 p., piano e canto. IV.2.6 – Arranjos para outros instrumentos A Gente Se Defende (maxixe). Genève, Europe Continenal by International Melodies, 1965, acordeon Abismo de Rosas (valsa); S. Paulo, A. Di Franco, piano, canto e pequena orquestra. Amorosa (fox-trot); letra de Luiz de Freitas. São Paulo, EMP ou Oficinas Musicais “ARS”, s.d., n.º 1; piano e canto; n.º 1.001: piano e septeto. Da Bahia Eu Quero o Côco (maxixe); letra de Fernandes Aguiar. São Paulo, Casa Editora Ars, s.d., n.º 307: piano e canto; n.º 1.168 : piano e 8 instrumentos. Entre Duas Almas (fox-tot); letra de Duque de Abramonte. São Paulo, Oficinas Musicais Ars, n.º 303: piano e canto; n.º 1174 : piano e orquestra. Esse Cachorro Só Falta Falar (maxixe). São Paulo, Editora Ars, n.º 214 : piano; n.º1.106 : piano e orquestra. Flor Paulista (schottisch); adaptação rítmica de L. Rinaldo. São Paulo, CEMB, Campassi & Camin, n.º 775: piano e canto; n.º 20178: piano e orquestra. Longe de Quem Adoro (valsa). São Paulo, Ars ou EGMP, n.º 1038: piano e orquestra. Nhá Maruca (maxixe). São Paulo, A. Di Franco, piano, canto e pequena orquestra. Noite na Roça (cateretê); versos de João do Sul. São Paulo, A. Di Franco, piano, canto e pequena orquestra. Se o Telefone Falasse (maxixe). São Paulo, Ars ou EGMP. n.º 1.034: piano e septeto. Suplicando Amor. São Paulo, A. Di Franco, piano, canto e pequena orquestra. IV.2.7 - Obras editadas pela Casa Bevilacqua, São Paulo, com autoria provável de Américo Jacomino: piano Aparece na Segunda-Feira (tango) Deu-Se A Melodia (tango) Me Arranca O Cavanhaque (samba) Mi Deixa A Tartaruga ! (samba) Não Pega Na Gente (samba) Que Muié Impossível... (tango) Teu Bigode Me Cotuca! (tango) IV.3 – Lacunas no repertório de Américo Jacomino Várias composições de Américo Jacomino foram citadas no jornal O Estado de São Paulo por ocasião de seus recitais, mas não foram gravadas ou encontradas em partituras. O mesmo ocorre em relação ao catálogo do pesquisador Juvenal Fernandes, listado na contracapa do álbum da Editora Fermata sobre o violonista Américo Jacomino, editado em 1977, por ocasião do cinqüentenário da morte de Canhoto. Nestes casos é impossível ter-se uma noção de como seriam estas peças e até o momento haveria de se aguardar o aparecimento destas músicas por meio de colecionadores particulares de partituras ou discos, apesar de, no caso destes últimos, ser pouco provável que se encontre algo novo, já que os catálogos de gravação de Américo Jacomino são bastante precisos. Entre as peças não encontradas que constam do catálogo de Juvenal Fernandes estão: Acordes do Coração (valsa), O Beijinho Que Te Dei (marcha), Lembranças de Lina (valsa), Mamãe Me Leve (marchinha carnavalesca), Ondas Desertas (mazurca), Pagando Dívidas (polca), Queixumes de Amor (valsa), Saci (polca) e Tudo Mexe (polca). A estas, acrescente-se as obras citadas em programas veiculados pelo jornal O Estado de São Paulo como Alucinação (gavota / valsa concerto), Alucinação de Um Sonho (valsa de concerto / fantasia), Argentina (chótis), Argonautas (tango característico), Brasileiro (tango), Cateretê Paulista (imitação da viola caipira), A Cigarra na Ponta (tango), Esmeralda (valsa lenta), Falena (valsa), Feiticeiro (maxixe de salão / tanguinho / tango brasileiro), Favorita (gavota), Hasta Luego (tango argentino), Luzita (tango argentino), Medrosa (valsa), Prelúdio em Mi Maior (estudo), Samba do Norte (samba humorístico), Solidão (valsa), Sombras do Passado (valsaboston), Sonhando (valsa), Sonho de Amor (valsa) e Tico-Tico assanhado (polca característica). Além destas, duas outras são citadas, tanto no jornal quanto no catálogo de Juvenal Fernandes: Ai Momo (marchinha carnavalesca) e De Quem São Os Teus Olhos (valsa). Mas em relação a elas é possível supor que seus nomes tenham sido alterados, apesar de não haver documentos comprobatórios. É possível supor que algumas dentre as obras não localizadas tenham sido rebatizadas em algum momento, como por exemplo a valsa Acordes do Coração, que poderia ter sido originalmente Acordes do Violão, e que, por sua vez, é o embrião daquela que seria Abismo de Rosas. Também é provável que Alucinação e Alucinação de Um Sonho sejam a mesma música, o mesmo ocorrendo com Brasileiro e Brasilerita, pois ambas são tangos. Caso diverso é o do Cateretê Paulista, que por alusão talvez se trate de Uma Noite no Sertão, pois ambas as peças aparecem com o subtítulo “imitação da viola caipira”, ou ainda Noite na Roça e até mesmo Uma Noite na Roça. IV. 4 - O Método de Violão, de Américo Jacomino À primeira vista o Método de Violão de Américo Jacomino parece bastante elementar. É provável que o professor, mestre bastante procurado no meio musical paulistano tenha editado a obra na segunda metade da década de 1920, pensando em seus alunos. O empenho na edição do volume pode ter valido a pena, já que no ano de 1928, vésperas de seu falecimento, um anúncio do jornal O Estado de São Paulo informava que Canhoto tinha mais de 200 alunos da alta sociedade. As edições mais antigas do manual não ajudam a esclarecer o fato. Segundo a coleção de Ronoel Simões, existem três versões base, sendo que duas delas não especificam datas de edição. A outra apresenta uma provável data de 1945. São elas89: 1) methodo pratico para violão por Américo Jacomino (Canhoto). Sem data, sem edição, 28 páginas. 89 Para o título dos métodos utilizou-se a grafia original. 2) methodo pratico para violão por Américo Jacomino. (São Paulo), Casa Del Vecchio, sem data (c. 1945). 27 páginas. 3) metodo de violão (prático) (Canhoto) Américo Jacomino, contendo todas as tonalidades e acompanhado com sete acordes em cada tom. São Paulo, Casa Manon S.A., sem data, 32 páginas. A edição escolhida para análise é a da Casa Manon, ainda hoje editada. Apesar da maneira como Américo Jacomino tocava, seu método é destinado a pessoas destras, e não a canhotos (comprovado pelos círculos brancos onde se devem pinçar as cordas com o dedo polegar). O autor mostra as posições maiores e menores com suas antigas variantes (1.ª, 2.ª , 3.ª de Dó etc.), apresentadas pela ordem dos graus da escala e com seus cromatismos. Ou seja, na posição de Dó maior, a primeira é a fundamental, a segunda corresponde ao quinto grau com sétima (Sol com sétima), a terceira correspondendo ao Fá maior etc.. No final, todas as posições são novamente apresentadas de formas diferentes das anteriores, isso sem dúvida para uma maior variedade quando do acompanhamento de outros instrumentos ou cantores. A grande curiosidade do método está no prefácio. Primeiramente ensina-se a afinar o violão da maneira tradicional, pelas relações de som entre uma corda e outra (o ré na quinta casa da quinta corda corresponde à quarta corda solta etc.). Porém, como sempre acontece neste caso, é difícil supor que os leigos em música obtivessem um resultado satisfatório para esta explicação de afinação, o que necessitaria obviamente de uma orientação inicial ou mesmo de maior prática. Em seguida, o autor ensina a postura corporal para se tocar violão: “Para bem suster o violão é preciso o executante sentar-se numa cadeira ou banco e pousar o pé esquerdo sobre um tamborete com 20 centímetros de altura, mais ou menos. Recua-se um pouco o pé direito, conservando-se a perna esquerda na posição natural. O corpo deve ficar levemente inclinado para a frente de modo que o seu peso recaia sobre a perna esquerda e o violão põe-se transversalmente sobre a coxa esquerda – A posição acima descrita é preferida a outra qualquer, visto como oferece três pontos de apoio ao violão e este ficará em equilíbrio sem que as mãos sejam forçadas a mantê-lo”. Como se observa, nada parecido com a posição corporal na qual, por vezes, ele se exibiu para sessão de fotos em que aparece tocando o instrumento de costas ou com o violão deitado sobre uma mesa, posições que poderiam inspirar nos alunos a idéia de certo malabarismo ao tocar. Note-se, ainda, que o texto é redigido de forma clara, o que faz supor o auxílio de alguém, visto que nas cartas endereçadas a seus amigos percebe-se que Canhoto não dominava bem a língua portuguesa. Outro fato que chama atenção é que a posição recomendada é muito próxima àquela convencionada até então pelos violonistas de repertório erudito, se considerarmos que até aquele momento os violonistas amadores e populares costumavam tocar com a perna cruzada, como se observa até hoje. Após esta introdução o autor do método escreve pormenorizadamente sobre como colocar as mãos no instrumento. Vários detalhes chamam a atenção; em primeiro lugar, o cuidado com relação ao movimento do pulso e polegar da mão esquerda para se atingir as cordas graves. Com relação à mão direita, o autor pede para se pousar o dedo mínimo (mindinho) no tampo do instrumento - como na técnica do período clássico - “a pouca distância do cavalete”. O polegar deverá pousar sobre um dos bordões e os outros dedos deverão conservar-se “sobre as três cordas de tripa”. No parágrafo intitulado, o “modo de ferir as cordas”, o que mais chama atenção é o fato de o autor pedir para se tocar sem unhas, ou seja, com as extremidades dos dedos. O polegar serviria para se tocarem os bordões, e o indicador e médio para as demais cordas. O anular seria apenas para os casos de tocar acordes e arpejos de 4, 5 e 6 cordas. Pelo último parágrafo, percebe-se a preocupação do autor com a variedade, escrevendo que o dedo polegar poderá pinçar até as 2.ª e 3.ª cordas, e os dedos indicador e médio as 4.ª e 5.ª cordas para acordes, arpejos, passagens de terceiras, sextas e oitavas, “e ainda nas frases cantantes”. No subcapítulo “instruções” tem-se a impressão de um equívoco do autor quando afirma que se devem pinçar as três primeiras cordas com os dedos médio, anular e indicador, respectivamente, pois pela disposição normal da mão seria o dedo anular para a primeira corda, médio para a segunda e indicador para a terceira. Em seguida escreve sobre os sinais convencionais para as posições, como um sinal para a pestana e círculos brancos para o polegar e pretos para os demais dedos da mão direita. No final, numa observação, o autor escreve sobre a realização do vibrato: “Para se conseguir as vibrações é necessário colocar o dedo na corda desejada e balancear com toda a rapidez a mão, e firmar bem o dedo na corda”. Cabe um parêntese a este respeito, uma vez que se criou uma lenda a respeito da morte de Américo Jacomino, afirmando-se que a intensidade despendida para a realização de um vibrato de tal natureza poderia ter ocasionado o problema cardíaco do qual ele veio a falecer em 1928. Concluindo, Canhoto escreve sobre os sons harmônicos “nos trastes 5, 7 e 12”, “podendo ser feitos nas 6 cordas de uma em uma”. Pôde ser observado que o violonista demonstrou cuidado e perspicácia na elaboração de um manual para os alunos, voltado basicamente para o acompanhamento, mas com informações úteis para os compositores e uma visão essencialmente inspirada nos métodos clássicos para violão então disponíveis, sabendo-se que o Método de Violão do violonista italiano Francesco Molino já havia sido editado em meados do século dezenove em São Paulo (vide capítulo II). IV. 5 - Comentários a respeito do violão que pertenceu a Américo Jacomino, utilizado para a gravação do CD anexo Em agosto de 2002, Luís Américo Jacomino nos emprestou um instrumento que pertenceu a seu pai para que pudéssemos registrar algumas peças em estúdio. No entanto não é possível afirmar que este tenha sido o mesmo instrumento utilizado por Canhoto nas gravações e recitais que realizou. O exame de fotografias de Américo empunhando um instrumento apontam diferenças em relação àquele instrumento emprestado, o que indicaria a existência de dois violões, pelo menos. A suposição maior de que não tenha sido o violão principal utilizado pelo violonista reside no fato de que na maioria das fotografias ele aparece com um violão específico, bastante parecido com o utilizado na gravação, porém com o ornamento da faixa lateral e da roseta diferentes. Não é improvável que o violão tenha sido modificado através de todas as restaurações, porém no caso da roseta é difícil que se faça uma mudança radical, pois era talhada na própria madeira do tampo. Caso seja realmente o mesmo violão, é, dessa forma, certeza que o tampo tenha sido trocado. Porém, outra questão ocorre, relacionada à mão do instrumento – região onde ficam as cravelhas -, que também é diferente da observada nas fotografias. O instrumento utilizado para as presentes gravações é o chamado “modelo carioca”, com as seguintes medidas e madeiras utilizadas: - Escala Maior: 66,5 cm. - Aro ou lateral: 6,5 cm. No fundo possui 67 cm. - Cintura: Parte larga: 67 cm. Cintura: 24 cm. Cintura menor: 28 cm. - Tampo: Abeto europeu. - Fundo e lateral: Jacarandá da Bahia. Talvez tenham sido utilizadas duas madeiras distintas, mas não podemos afirmar com exatidão, o que demandaria uma análise mais aprofundada. - Espelho: Este foi nitidamente modificado, pois o braço do instrumento afundou com a ação do tempo. O novo é de jacarandá da Bahia. Dentro do violão há um cartão de 5,5 por 9,0 cm no qual está escrito: “Construído especialmente para Américo Jacomino (Canhoto) em 1907 conforme atestado em nosso Poder Romeu Di Giorgio90 ‘Romeu Di Giogio’ (ass.) Rua Venâncio Ayres, 309 S. Paulo” A etiqueta acima refere-se a instrumento fabricado na empresa fundada por Tranquillo Giannini, um italiano pintor de carros alegóricos que imigrou para o Brasil entre 1895 e 1900. Inicialmente a fábrica ficava na então Rua São João, número 84, lá permanecendo até 1912. Com o crescimento das atividades, o estabelecimento mudouse para a Rua General Osório, ali permanecendo até 1924. Após este período construíram uma fábrica com recursos próprios na Rua dos Gusmões, números 64 e 66 e, posteriormente, na Alameda Olga, número 84 (atualmente número 414 / 420), na Rua Carlos Weber e na cidade de Salto, no interior paulista. A inauguração da primeira fábrica foi a 15 de novembro de 1900. Inicialmente possuía 100 metros quadrados, duplicando suas instalações quando da mudança para a Rua General Osório em 1924. É interessante observar que a construção de violões da fábrica Di Giorgio está diretamente ligada à de Giannini, já que o mesmo foi casado 90 Etiqueta impressa, grifada “Romeu Di Giorgio” e assinada pelo mesmo. com uma viúva que possuía 4 filhos, que eram os Di Giorgio. Entre eles estava Romeu, que trabalhou com o padrasto até montar um negócio paralelo. O principal ramo de lutherias em larga escala do Brasil no século vinte foi criado, então, por famílias de mesma origem. Em entrevista ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo é informado que até 1930 teriam sido fabricados 600 violões por mês, saltando para 800 unidades na década de 1910, número praticamente triplicado na década de 1920, quando a fabricação atingiu a marca de 2200 violões por mês. No entanto, a etiqueta que está dentro do instrumento cedido por Luís Américo Jacomino traz o endereço da Rua Venâncio Ayres. Logo, este teria sido fabricado pelo próprio Romeu, quando estabelecido em outra empresa? A indicação da existência de um outro instrumento se deve ao depoimento de Ronoel Simões para o mesmo Museu da Imagem e do Som de São Paulo, em que diz ter ouvido de Paraguaçu que Barrios e Jacomino tocavam na fábrica de Romeu Di Giorgio, instalada na Rua Rangel Pestana, próximo ao Ministério da Fazenda, na praça da Sé, a partir das 16 horas até o fechamento do estabelecimento. A dúvida se impõe porque, pelo relato, a prática se dava durante o ano de 1916 e o endereço de Romeu Di Giorgio é o da Rua Venâncio Ayres. Resta a possibilidade de que o cartão assinado pelo luthier fornecesse seu endereço particular enquanto funcionário de Tranquillo Gianinni. Assim, não parece improvável que o violão tenha sido construído pelo próprio Romeu Di Giorgio, já que na época os violões eram fabricados de forma mais ou menos artesanal. Que o instrumento utilizado para esta gravação pertenceu de fato a Américo Jacomino é endossado pelo depoimento de seu filho, Luís Américo, bem como pelo cartão em seu interior. O instrumento foi construído há quase cem anos, o que compromete sua afinação, que, como se sabe, é muito afetada pelo deslocamento do braço do instrumento em decorrência de sua antiguidade. Além disso, é preciso considerar que possivelmente ele foi modificado por luthiers ou pela ação do próprio tempo. IV.6 - Considerações sobre a gravação do CD anexo Para a gravação do CD anexo foram escolhidas 20 músicas representativas de compositores-violonistas do início do século vinte. A maior quantidade de músicas de Américo Jacomino explica-se por ser o objeto principal da dissertação e por ser o violonista com maior quantidade de gravações dentre todos do mesmo período. As gravações foram feitas no dia 11 de agosto de 2001 no Estúdio GTR, em Mairiporã, especializado em gravações de violão. Na tentativa de resgatar ao máximo a sonoridade da época foram escolhidas cordas de tripa por serem bastante usadas pelos violonistas no período. Estas foram preferidas ao aço, para a gravação, por se entender que o som metálico do aço não corresponderia à sonoridade escutada nos discos de 78 RPM, quando interpretadas em CD nos equipamentos modernos. Foram usadas, então, a primeira, segunda e terceira cordas de tripa e os bordões de aço não-recentes (ou, mais especificamente, "não-novos"). Esta prática, ou seja, o emprego de bordões “amaciados” era freqüente no início do século vinte. Porém, houve problemas relacionados à durabilidade das cordas de tripa, principalmente com a primeira, Mi, a qual foi se desgastando durante a gravação. No final, teve-se, então, que se utilizar a primeira corda de um material equivalente à tripa e que possui praticamente o mesmo som, chamado nail-gut, muito utilizado atualmente por intérpretes de instrumentos de cordas dedilhadas antigas (guitarras barroca, clássica etc.). Assim sendo, a primeira parte do CD, com obras de Américo Jacomino foram inteiramente interpretadas com as primeiras cordas de tripa, com exceção das duas marchas (Marcha Triunfal Brasileira e Marcha dos Marinheiros). Em todo o restante do CD a primeira corda é de nail-gut. A seleção do repertório – 20 peças, no total, - contemplou principalmente a obra de Américo Jacomino, além de certos compositores, como veremos a seguir. De um lado, buscou-se a variedade de estilos e obras gravadas pelos intérpretes do período. De Américo Jacomino foram gravadas duas marchas que, além do caráter patriótico apontam ainda riqueza de recursos timbrísticos. São elas a Marcha Triunfal Brasileira e a Marcha dos Marinheiros. Olhos Feiticeiros, um choro, interessa tanto pelo gênero quanto pelo fato de ter uma escrita cômoda para o intérprete, favorecendo a sonoridade do instrumento; também um choro, Niterói foi gravado pelo próprio Canhoto. Com o intuito de apontar a variedade de gêneros, foram selecionadas também duas valsas, Abismo de Rosas – uma de suas composições mais famosas –, Reminiscências, peça muito divulgada, bem como uma terceira peça desse gênero, Arrependida, que ainda apresenta a curiosidade de ter sido muito divulgada como canção por Paraguaçu. Em relação a ele, conta-se também que este mesmo cantor teria declarado a grande felicidade por ter cantado a peça com acompanhamento de Canhoto. Alvorada de Estrelas, uma gavota, apresenta um gênero erudito empregado por Canhoto em escrita que pede a scordattura do instrumento. Mas, dentre os gêneros preferidos pelo compositor e violonista, está o tango, que o CD contempla com as faixas Caprichoso, obra cuja melodia se desenvolve na região grave do instrumento, Guitarra de Mi Tierra e Amor de Argentina, respectivamente um tango argentino e um tango-milonga. Dentre as obras divulgadas com mais de uma versão, foram escolhidos o foxtrot Quando os Corações se Querem, publicado três vezes com nomes diferentes e A Menina do Sorriso Triste, um fox-tango que também é versão de Quando Os Corações se Querem. Os compositores que completam a relação do repertório são contemporâneos de Américo Jacomino, caso de Levino Albano da Conceição, Glauco Vianna, Mozart Bicalho, José Augusto de Freitas, Antonio Giacomino e Theotônio Corrêa. No caso deste último, apresenta ainda o interesse de ter participado do primeiro trio de violões de que se tem notícia no Brasil – Os Três Sustenidos – e de ter gravado junto a esse Trio o maxixe Cruzeiro. Outro compositor gravado, Mário Pinheiro, é cronologicamente anterior, porém foi o primeiro a entrar em estúdio e fazer uma gravação de violão solo no Brasil, com o romance Petita. O CD apresenta a seguinte ordem de faixas: Américo Jacomino 1- Marcha Triunfal Brasileira 2- Abismo de Rosas (valsa) 3- Nictheroy (choro) 4- Caprichoso (tango) 5- Quando Os Corações Se Querem (fox-trot) 6- Reminiscências (valsa) 7- Olhos Feiticeiros (choro) 8- Arrependida (valsa) 9- Guitarra de Mi Tierra (tango argentino) 10- Amor de Argentina (tango-milonga) 11- Alvorada de Estrelas (gavota) 12- Marcha dos Marinheiros 13- A Menina do Sorriso Triste (fox-tango) Levino Albano da Conceição 14- Saudades do Rio Grande (valsa-serenata) Glauco Vianna 15- Pertinho de Meu Bem (polca-choro) Mozart Bicalho 16- Gotas de Lágrimas (valsa) Mário Pinheiro 17- Petita (romance) Theotônio Corrêa 18- Cruzeiro (maxixe) José Augusto de Freitas 19- Soluços (valsa) Antonio Giacomino 20- Festa na Fazendo (cateretê) Para gravarmos o CD, escutamos as obras em discos de 78 rotações e transcrevemos as peças aqui apresentadas no anexo III. Da audição das obras surgiu a questão se deveriam ou não ser interpretadas de maneira idêntica à conferida por seus autores e intérpretes originais. A solução não foi uniforme, uma vez que, como foi dito, adotamos a pesquisa pela sonoridade da época, mas no caso da interpretação, não quisemos correr o risco de caricaturizá-las utilizando a interpretação antiga. A escolha das músicas também obedeceu ao critério relacionado às características mais marcantes de cada compositor. O maior número de valsas, no caso de Américo Jacomino, deveu-se, portanto à maior quantidade de peças neste estilo interpretadas pelo violonista. A inclusão das duas marchas foi em função do sucesso alcançado por essas peças durante a vida do violonista e a longevidade que ainda obtêm no repertório violonístico brasileiro. No caso de Levino Albano da Conceição, o violonista viveu um tempo no sul do país, e esta música lhe era especial, sendo uma das editadas pelo compositor em vida. De Glauco Vianna, a polca-choro Pertinho de Meu Bem é adequada para se ter uma idéia dos recursos técnicos do violonista. A valsa Gotas de Lágrimas, de Mozart Bicalho, foi a peça de maior resposta comercial do violonista e representa uma das poucas obras do período a entrar no repertório de alguns violonistas durante o século. Essa peça foi gravada originalmente em dois violões, nitidamente com cordas de aço. O romance Petita, de Mário Pinheiro, foi incluído por se tratar da peça mais antiga a ser gravada em violão solo no Brasil, no ano de 1910. O maxixe Cruzeiro, de Theotônio Corrêa, foi originalmente gravado em três violões com o trio Os Três Sustenidos, o mais antigo trio de violões a gravar discos no Brasil, tendo entre seus integrantes um dos mais antigos violonistas solistas que se conhece no país, João Avelino de Camargo, o Melinho de Piracicaba. A valsa Soluços, de José Augusto de Freitas, é uma boa referência de como interpretava e compunha o violonista. Por fim, o cateretê Festa na Fazenda nos mostra um curioso violonista paulista com sobrenome igual ao de Canhoto, Antonio Giacomino. Para esta gravação foi utilizado o manuscrito do próprio compositor, o único encontrado nesta pesquisa dentre todos os textos dos violonistas apresentados neste CD. Conclusão Ainda que as primeiras notícias sobre o uso do violão no Brasil sejam esparsas e um tanto incertas quanto ao tipo de instrumento usado até o início do século vinte, é claro que o instrumento esteve presente desde o início da colonização portuguesa no país. A partir das primeiras notícias do violão na vida musical especificamente paulista, percebe-se sua importância como acompanhante de canções ou manifestações populares diversas, em festas folclóricas, embora não se tenha certeza de sua prática solista anterior à segunda metade do século dezenove. No que tange à história do violão em São Paulo, as notícias de relevo são as que datam da fundação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. São valiosas as notícias sobre a venda do Método para Violão, de Francesco Molino, bem como sobre a participação de um certo Professor Lisboa apresentando-se em recital em São Paulo, violonista que executou ao instrumento as Variações sobre Temas da Traviata. Não se sabe se estas variações foram escritas por Francisco Tárrega ou Julian Arcas. Com o início da comercialização de discos no Brasil, percebe-se que o violão está presente em muitas gravações, embora como instrumento acompanhador dos principais cantores do período, Bahiano, Cadete e Eduardo das Neves. Somente em 1910 o instrumento é gravado em solo no Brasil, por Mário Pinheiro, um baixo, justamente mais conhecido como cantor de ópera. No mesmo período Agustín Barrios também entra em estúdio, no Paraguai, fato que coloca os dois paises cronologicamente como os pioneiros das gravações de violão solo em todo o mundo. Em São Paulo, por volta de 1915, o nome de Américo Jacomino começa a se firmar com prestígio nas salas de concerto e nos jornais, posto que manterá até sua morte prematura aos 38 anos de idade. Atestam sua popularidade as informações veiculadas no jornal O Estado de São Paulo, que chegou a publicar uma coluna não oficial intitulada “Notícias do Canhoto”. Ficou demonstrado que foi ele quem mais discos gravou e quem mais se apresentou em público e no rádio, pelo menos na capital paulista. No final de sua vida a repercussão de seu nome recebeu ainda o impulso do prêmio O Que é Nosso, do Rio de Janeiro, valendo-lhe o título de “O Rei do Violão Brasileiro”. Com a morte de Jacomino outros violonistas surgem, também solistas, mas que na falta de uma escola oficial para o instrumento tocavam principalmente de cor e dedicavam-se ao repertório popular. Apesar da notícia no início do século de recitais do cubano Gil Orozco, da informação de que havia professores de violão erudito no Brasil, da vinda de Agustin Barrios e Josefina Robledo para o país na década de 1910 e Sanz de La Maza e Juan Rodrigues na década de 1920, trazendo consigo as mais recentes informações sobre o violão erudito na Europa, o Brasil demoraria a assimilar de forma mais contundente esta prática instrumental, mesmo com o respaldo da pioneira revista carioca O Violão, que possuía um correspondente paulista de nome Osvaldo Soares, discípulo da mesma Josefina Robledo, e o respaldo de figuras como Quincas Laranjeiras, que possuía uma associação de violão erudito no Rio de Janeiro. Isso iria sistematicamente acontecer apenas na década de 1940, quando do estabelecimento no Brasil do uruguaio Isaías Sávio, abrindo caminho para um maior estudo do violão erudito e o início definitivo de uma nova era do violão no país. Isso demonstrou também uma certa incongruência, no caso de Américo Jacomino, pois o local em que o violonista mais se apresentou foi o salão do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, justamente o lugar que abriria a primeira cadeira de violão erudito no Brasil, mas apenas quase duas décadas após a sua morte. Retrospectivamente podemos apontar para uma primeira geração de violonistas solistas que passaram pelos palcos de São Paulo ou que aqui nasceram e que deixaram registros em discos: Américo Jacomino, Antonio Giacomino, Mozart Bicalho, Rogério Guimarães, Henrique Brito, Levino Albano da Conceição, Henrique Xavier Pinheiro, Glauco Vianna, José Augusto de Freitas, Theotônio Corrêa e João Avelino de Camargo. Outro ponto em comum foi o fato de terem explorado o instrumento de forma solista, não apenas como instrumento acompanhador, aqui não importando se os repertórios veiculados eram de caráter erudito ou popular. Chama a atenção, também, a atividade intensa de Américo Jacomino, o que deve ter colaborado bastante para sua popularização. Assim como soube absorver e utilizar todos os meios de comunicação emergentes, desde as gravações em discos de 78 RPM, no sistema mecânico e, posteriormente, no sistema elétrico, até o rádio, também valeuse da imprensa escrita e das apresentações em teatros por todo o Brasil, em especial nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O violonista também concorreu em concursos de música carnavalesca, publicando várias destas músicas em partituras para piano, supostamente porque eram mais fáceis de serem vendidas, o que demonstra mais um talento para a auto-publicidade. A esse respeito, não foi encontrada nenhuma partitura publicada para violão por Américo Jacomino até sua morte. Isso poderia mostrar que havia poucos violonistas familiarizados com a escrita em partitura musical para que se compensasse a edição das mesmas para violão solo. Um outro aspecto a ser destacado é que Canhoto se mantivesse atualizado a respeito de seu instrumento, considerando-se o depoimento de Paraguaçu, segundo o qual Agustin Barrios e Canhoto freqüentavam juntos a oficina de Romeu Di Giorgio. Assim, naturalmente, deve ter comparecido também a algum recital de Josefina Robledo, já que os ambos estiveram em São Paulo na mesma época em plena atividade, a partir do que se poderá deduzir uma possível influência da intérprete espanhola na sua maneira de tocar ou de compor. Apesar de autodidata, os efeitos utilizados por esse violonista eram os mesmos praticados pelos violonistas eruditos citados. Com relação à sua técnica instrumental, embora específica (por ser canhoto), não demonstrava diferenciação sonora se comparada à técnica dos violonistas citados, e as gravações existentes comprovam isso. O fato de tocar com a mão esquerda sem inverter a ordem das cordas não alterou a sonoridade das músicas. O marco principal deste período em São Paulo é o ano de 1916, por ocasião do recital de Américo Jacomino, e 1917, por ocasião dos recitais de Agustín Barrios e Josefina Robledo, a partir dos quais o violão passa então a ser considerado de outra forma pela imprensa escrita, com muito menos preconceito e muito mais admiração. As informações do jornal O Estado de São Paulo contidas antes e após o ano de 1916 demonstram claramente o fato. Pelas informações subseqüentes ao nascimento de Américo Jacomino em 1889 e posteriores à sua morte em 1928, pode-se concluir que o período que percorre a carreira artística do violonista corresponde ao início definitivo do desenvolvimento da arte solística do violão no Brasil. BIBLIOGRAFIA 1. LIVROS ALALEONA, Domingos. História da Música, desde a antiguidade até nossos dias. 14.ª ed., São Paulo. Ricordi, 1984. ALMEIDA, Renato. História da Música Brasileira. 1.ª ed., Rio de Janeiro. F. Briguiet & Comp., 1927. ANDRADE, Mário de. Aspectos da Música Brasileira. São Paulo, Livraria Martins Editora, 1965. ___________________. Dicionário Musical Brasileiro. Coord. Oneyda Alvarenga e Flávia Camargo Toni. Belo Horizonte, Itatiaia; Brasília, Ministério da Cultura; São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, EDUSP, 1989. ___________________. Modinhas Imperiais. São Paulo, Livraria Martins Editora, 1964. ___________________. Músic,. 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São Paulo, Duas Cidades, 1983. 2. MÉTODOS E SIMILARES AGUADO, Dionísio. Méthode Complète pour la guitare. Paris. Richaut, 1827 3. MONOGRAFIAS E DISSERTAÇÕES ANTUNES, Gilson. Edelton Gloeden, monografia escrita para a disciplina História da Música Brasileira, ministrada pelo professor Alberto Ikeda durante o curso de bacharelado em música pela UNESP, São Paulo, 1993. BARTOLONI, Giácomo. Compositores paulistas na literatura violonística. Dissertação de Mestrado em História, São Paulo, UNESP, 1990. BARTOLONI, Giácomo. Violão: A imagem que fez Escola. São Paulo 1900 - 1960. Tese de doutorado em História, Assis, UNESP, 2000. CASTAGNA, Paulo e SCHWARTZ, Werner. Uma Bibliografia do Violão Brasileiro 1916-1990. Monografia Independente, São Paulo,1989. CASTAGNA, Paulo & PEREIRA, Alexander & CARDIM, Ricardo. Índice Onomástico do Violão no Brasil (1927-1991). Monografia Independente, São Paulo, 1995. ESTEPHAN, Sérgio. O Violão Instrumental brasileiro: 1884-1924. 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O Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 1, dez. 1928, p. 17. À SOMBRA de Pixinguinha ( mas tão bons quanto eles) . Jornal da Tarde, São Paulo, 12 jul. 1979. AIMORÉ (José Alves da Silva). In:Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica, popular. São Paulo, Art. Ed. , 1977. V. 1, p. 8. ALMEIDA, Sérgio Pinto de. Um violão tocado ao avesso. Folha de São Paulo, Ilustrada, ano 57, n.º 18.165, p. 35, Quarta-feira, 27 dez. 1978. AMÉRICO JACOMINO - O trespasse do conhecido violonista brasileiro. Folha da Noite, São Paulo, ano 8, n.º 2.392, sábado, 08 set. 1928 , p. 5. ARMANDINHO (Armando Neves ). In: Enciclopédia da música brasileira. Op. Cit., v. 1, p. 47. ARMANDO Neves: o violão no tempo de Canhoto; o conhecido compositor Armandinho fala da época de ouro das serenatas. Violão e Mestres, São Paulo, v. 1, p. 20-23. CANHOTO (Américo Jacomino). In: Enciclopédia da música brasileira; erudita, folclórica, popular. São Paulo, art Ed. , 1977. V. 1, p. 139. “CANHOTO” ( Américo Jacomino). In: IAFELICE, Carlos. Gênios da música: biografia de compositores célebres; origem e dados completos sobre instrumentos musicais. São Paulo, Livraria Trio Editora Ltda. , 1974. P 28- 34. (CANHOTO). Jornal de Jundiai . 07 jan. 1979. P. 5. CANHOTO e Jundiaí , uma estreita ligação. Jornal de Jundiaí . 07 jan. 1979. p. 1. CANHOTO do violão, 50 anos depois. Folha de São Paulo, 07 SET. 1978. NA CIDADE um rico acervo sobre Américo Jacomino, o Canhoto. Jornal de Jundiaí , 07 jan. 1979. P. 7. CHAGAS, Luiz. A história começou com “Abismo de Rosas “ . Jornal da Tarde, São Paulo, Suplemento Especial, 27 maio 1989, p. 4. FERNANDES, Juvenal. O Cartaz da Semana. (?), 19 SET. 1922 e 1983. FERNANDES, Juvenal. O Cartaz da Semana. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata do Brasil, s. d. p. 13-14. FALECEU o maior violonista brasileiro; “Canhoto” foi o vencedor do concurso “o que é nosso”. Folha da Manhã, São Paulo, 08 SET.1928.. FALLECIMENTO / Fallecimento de um conhecido violonista. A Tribuna, Santos, ano 35, n.º 165, col. São Paulo, sáb.8 set. 1928. p. 1. FALLECIMENTOS - Américo Jacomino. O Estado de S.Paulo, ano 54, n.º 18.026, sábado, 08 set. 1928, p. 2. FALLECIMENTOS - Américo Jacomino. Diário Nacional, São Paulo, ano 2, n.º 363, Domingo, 09 de setembro 1928, p. 10. JACOMINO, Américo “Canhoto”. In: PRAT, Domingo. Diccionario biografico, bibliografico, historico, critico de guitarras ( instrumentos afines), guitarristas ( . . . ) . Buenos Aires, Casa Romero y Fernandes, (1934). P. 167. ( LANCELLOTTI, Sílvio) . Canhoto. In: DENYER, Ralph. Toque; curso completo de violão & guitarra. Rio de janeiro, Rio Gráfica e Editora, Ltda. , 1982. P. 89-91. MAGYAR, Vera. A Musa: aos 93 anos, dona Laura das Dores lembra do tempo em que inspirou o Abismo de Rosas, de Canhoto. Jornal da Tarde, São Paulo, 10 de outubro de 1978. P. 15. NASSIF, Luís. Toque de mestre; um modesto registro da obra do grande Garoto. Veja, São Paulo, n.º 551, mar. 1979, p. 77-78. NECROLOGIA. Diário Popular, São Paulo, ano 44, n.º 14.705, , sábado, 8 de setembro 1928, p. 12. NECROLOGIA - Américo Jacomino. Diário da Noite, São Paulo, ano 41, n.º 62, sábado, 08 set. 1928. p. 2. NOTAS violonísticas. Violão e Mestres, São Paulo, v. 2, n.º 1, dez. 1967, p. 59-61. (NOTÍCIA sem título ). Jornal do Commercio, São Paulo, ano 12, n.º 267, sábado 08 set. 1928, p. 3. NUNES, Olavo Rodrigues. Armandinho, chorão paulista, coração brasileiro. Urubumalandro; Caderno do Clube do Choro de São Paulo, n.º especial, ago 1978. p. 7-11. O QUE é nosso; O “Correio da Manhã” prosseguirá na defesa do nosso patrimônio. O Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 5, abr. 1929. p. 15-16. O VIOLÃO entre nós. O Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 1, dez. 1928, p. 8-9. O VIOLÃO nos estados. A Voz do Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 1, fev. 1931. p. 17-18. OS ASTROS brasileiros do violão. A Voz do Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 2, mar. 1931, p. 11-12. PARAGUAÇU (Roque Ricciardi ). In: Enciclopédia da música brasileira. Op. Cit., v.2, p. 587. REGISTRO - Fallecimentos. Jornal do Commercio, São Paulo, ano 12, n.º 267, sábado, 08 de setembro 1928, p. 3. REGISTRO – Enterros – Americo Jacomino. Jornal do Commercio, São Paulo, ano 12, n.º 268, dom.9 set. 1928, p. 5. RIBEIRO, Rubens & BORGES, Almir. As mãos que souberam dar beleza ao som. Periódico não identificado, c. 1968. SIMÕES, Ronoel. Américo Jacomino “Canhoto”. A Gazeta, São Paulo, série de 4 artigos, dez. 1958. SIMÕES , Ronoel. Américo Jacomino, “Canhoto”. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata do Brasil, s.d. p. 5-9. SIMÕES, Ronoel. Américo Jacomino Canhoto (1887-1928); un grande chitarrista Brasiliano. L’arte chitarristica, Modena, v. 3, n.º 17, p. 3. 1949. SIMÕES, Ronoel. Américo Jacomino, o Canhoto. Violão e Mestres, São Paulo , v. 1, n.º 1, p. 4-8, mar. 1964; v. 1, n.º 2, ago 1964, p. 24-28. THOMÉ, Nadra Michel. O violão de Romeu di Giorgio. Violão: suplemento especial do Jornal da Tarde, São Paulo, 27 de maio 1989, p.7. TIGRE , Bastos. Como os nossos intellectuaes apreciam o violão. A Voz do Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 2, mar. 1931, p. 21-23. ANO OBRA COMPOSITOR INTÉRPRETE LOCAL 1904 1904 Noturno em mi bemol 1906 1906 1906 1906 1906 1906 1906 1906 1906 1906 1906 1911 Prelúdio em acordes Estúdo em harpejos Valsa em Lá Cantos de Andaluzia Dança Cubana Duas Mazurcas Prelúdio Minuetto Coro de Bispos Capricho Árabe Jota Aragonesa Aires Andaluzas F. P. Catton Terceto Espanhol Tárrega Gil Orozco Tárrega Gil Orozco Arcas Gil Orozco Arcas / Tobosso Gil Orozco Tabarez / Orozco Gil Orozco Soria / Penella Orozco e Baltar Tárrega Gil Orozco Tárrega Gil Orozco Meyerber Gil Orozco Tárrega Gil Orozco Arcas / Tárrega Gil Orozco Arcas Manuel Gomes 1911 Gallegada Veiga Manuel Gomes 1911 Miserere do Trovador Verdi Manuel Gomes 1911 Sítio de Bilbao Manuel Gomes Manuel Gomes 1911 Serenata Manuel Gomes Manuel Gomes 1911 Fantasia Brilhante Vinhas Manuel Gomes 1911 Tango Americano Damas Manuel Gomes 1911 Bolero Arcas Manuel Gomes 1911 Gran Jota Aragonesa Arcas / Tárrega Manuel Gomes 1914 Ave Maria Gounod F. Pistoresi 1914 Traumerei Schumann F. Pistoresi 1914 Reverie Dunkler F. Pistoresi 1914 Siciliene Pergolesi F. Pistoresi 1914 Preghiera Stradela F. Pistoresi 1914 Berceuse de Jocelin Godard F. Pistoresi 1914 Gavotta Giuliani F. Pistoresi Chopin Club Germânia Salão Carlos Gomes Salão Steinway Salão Steinway Salão Steinway Salão Steinway Salão Steinway Salão Steinway Salão Steinway Salão Steinway Salão Steinway Salão Steinway Salão Steinway Centro Espanhol Centro Espanhol Centro Espanhol Centro Espanhol Centro Espanhol Centro Espanhol Centro Espanhol Centro Espanhol Centro Espanhol Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático 1914 Scherzo Becker F. Pistoresi 1914 Stabat Mater Rossini F. Pistoresi 1914 Largo Celebre Handel F. Pistoresi 1914 Minueto Boccherini F. Pistoresi 1914 L’Absence Dunkler F. Pistoresi 1914 Marcha / Tannhauser Wagner F. Pistoresi 1916 Suplica de Amor Canhoto Canhoto 1916 Serenata Árabe Canhoto Canhoto 1916 Cigarra na Ponta Canhoto Canhoto 1916 Magia de Olhar Canhoto Canhoto 1916 Sonhando Canhoto Canhoto 1916 Tango da Agarra Canhoto Canhoto 1916 Guarany Canhoto Canhoto 1916 Cateretê Canhoto Canhoto 1916 Campos Sales Canhoto Canhoto 1916 Medrosa Canhoto Canhoto 1916 Alucinação de um Sonho Canhoto Canhoto 1916 Sonho de Amor Canhoto Canhoto 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 Meditação Marcha Eróica Recuerdos del Pacífico Tarantella Nocturno op. 9 n.º 2 Rapsódia Americana Bicho Feio Jota Aragoneza Chanson du Printemps Rondó Brilhante Fantasia de Concerto Fantasia de La Traviata Moraima Garcia Tolsa Giuliani Barrios Barrios Chopin Barrios Barrios Barrios Mendelsohnn Aguado Arcas Verdi / Arcas Espinosa Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Correio Paulist. Correio Paulist. Correio Paulist. Correio Paulist. Correio Paulist. Correio Paulist. Correio Paulist. Correio Paulist. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 1917 Estudo p/ mão esquerda Rapsódia Americana Dança Macabra Andante Tanda deValses Aminha Mãe Lucia de Lammermoor Capricho Espanhol Mazurca Romance Serenata Arabe Tango n.º2 Il Trovatore, Miserere Gavota Romântica Fantasia em Mi Coste Barrios Regondi Haydn Tolsa Barrios Donizetti Barrios Chopin Barrios Tarrega Barrios Verdi Czibulka Vinas Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios 1917 Impressões de um Conto Baltar Barrios 1917 Saudades do Rio de Jan. Barrios Barrios 1917 Página de Álbum Barrios Barrios 1917 Minuetto Beethoven Barrios 1917 Scherzo Hípico Barrios Barrios 1917 Polonaise FAntastique Arcas Barrios 1917 Romance sem Palavras Mendelssohnn Barrios 1917 Meditação Tolsa Barrios 1917 Tango n. 3 Barrios Barrios 1917 Marcha Dupuy Barrios 1917 Serenata Espanhola Albeniz Robledo 1917 Valsa Godard Robledo 1917 Trêmulo Gottschalk Robledo 1917 Jota Aragoneza Tárrega Robledo 1917 Priere Squire Robledo 1917 Nina Pergolese Robledo 1917 Sur lê Lac Godard Robledo Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Theatro Mun. Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. 1917 Serenata Espanhola Glazounov Robledo 1917 Granada Albeniz Robledo 1917 Bourré Bach Robledo 1917 Nocturno op.9 n.º2 Chopin Robledo 1917 Carnaval de Veneza Paganini Robledo 1917 Capricho Árabe Tárrega Robledo 1917 Recuerdos de Alambra Tárrega Robledo 1917 Cançonetta Mendelssohn Robledo 1917 Carnaval de Veneza Paganini Robledo 1917 Berceuse Godard Robledo 1917 O Cisne Saint Saens Robledo 1917 Era um sonho Molina Robledo 1917 Canção Andaluza Ros Robledo 1917 Serenata Malats Robledo 1917 Loure Bach Robledo 1917 Astúrias Albeniz Robledo 1917 Air de Ballet Massenet Robledo 1917 Dança Espanhola Granados Robledo 1917 Sueno Tárrega Robledo 1917 Berceuse Schumann Robledo 1917 Minuetto de L’Arlesiene Bizet Robledo 1917 Reverie Schumann Robledo 1917 Oriental Cesar Cui Robledo 1917 Ave Maria Schubert Robledo Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Automóvel Club Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático 1917 Canção e Pavana Couperin Robledo 1917 Adágio / Sonata Patética Beethoven Robledo 1917 Danza Mora Tárrega Robledo 1917 Sán Nicolas Schumann Robledo 1918 Alucinação de um Sonho Canhoto Canhoto 1918 Argonautas Canhoto Canhoto 1918 Asta Luego Canhoto Canhoto 1918 Olhar de Deusa Canhoto Canhoto 1918 Em ti Pensando Canhoto Canhoto 1918 Alma Portuguesa Canhoto Canhoto 1918 Abismo de Rosas Canhoto Canhoto 1918 Uma Noite na Roça Canhoto Canhoto 1918 Marcha Eróica Giuliani Barrios 1918 Chant du Printemps Mendelssohn Barrios 1918 Recuerdos del Pacífico Barrios Barrios 1918 Meditação (noturno) Tolsa Barrios 1918 Rapsódia Espanhola Barrios Barrios 1918 Gran Concerto em Lá Arcas Barrios 1918 Noturno op.9 n.º 2 Chopin Barrios 1918 Gavota Romântica Czibulka Barrios 1918 Bicho Feio Barrios Barrios 1918 Jota Aragoneza Barrios Barrios 1918 Fantasia Variada Sor Barrios 1918 Adágio Beethoven Barrios 1918 Rondó Brilhante Aguado Barrios Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Pavilhão Central Pavilhão Central Pavilhão Central Pavilhão Central Pavilhão Central Pavilhão Central Pavilhão Central Pavilhão Central Pavilhão Central Pavilhão Central Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. 1918 Gavotte Madrigal Barrios Barrios 1918 Meditação Tolsa Barrios 1918 Capricho Árabe Tárrega Barrios 1918 Chant du Paysan Grieg Barrios 1918 Página de Álbum Barrios Barrios 1918 Minuetto em Lá Bufaleti Barrios 1918 Gran Jota Barrios Barrios 1919 1919 1919 1919 1919 1919 Souvenir d’un Reve Reverie Gran Jota Minueto em Sol Bourré Meditação Barrios Schumann Barrios Beethoven Bach Tolsa Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios Barrios 1919 Berceuse Schumann Barrios 1919 Marcha Eróica Giuliani Barrios 1919 Capricho Árabe Tarrega Barrios 1919 Noturno op.9 n.o.2 Chopin Barrios 1919 Bourre Bach Barrios 1919 Altair (valsa) Barrios Barrios 1919 Gavota Czibulka Barrios 1919 Gran Jota BArrios Barrios 1919 Serenata Española Malats Robledo 1919 Dança Española n.o. 10 Granados Robledo 1919 Dança Española n.o. 11 Granados Robledo 1919 Recuerdos de Alhambra Tárrega Robledo 1919 Noturno op.9 n.o. 2 Chopin Robledo 1919 Canção Andaluz Ros Robledo Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Teatro S. Pedro Teatro S. Pedro Teatro S. Pedro Teatro S. Pedro Teatro S. Pedro Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. 1919 O Cisne Saint Saens Robledo 1919 Oriental Cesar Cui Robledo 1919 Coro de Anjos Cramer Robledo 1919 Serenata Espanhola Glazounov Robledo 1919 Astúrias Albeniz Robledo 1919 Granada Albeniz Robledo 1919 Canção do Berço Pujol Robledo 1919 Bourré Bacho Robledo 1919 Jota Aragonesa Tárrega Robledo 1919 Berceuse Schumann Robledo 1919 Gavota Francisco Braga Robledo 1919 Minuetto Francisco Braga Robledo 1919 Adágio – sonata Patética Beethoven Robledo 1919 Dança Espanhola n.º 5 Granados Robledo 1919 Dança Espanhola n.º12 Granados Robledo 1919 Nina Pergolesi Robledo 1919 Elegia Massenet Robledo 1919 Era um sonho Molina Robledo 1919 Melodia Rubinstein Robledo 1919 Coro de Anjos Cramer Robledo 1919 Cadiz Albeniz Robledo 1919 Minueto Mozart Robledo 1919 Loure Bach Robledo 1919 Sueno Tárrega Robledo Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático 1920 Canhoto Canhoto 1920 Marcha Triunfal Brasileira Lês Diamants Lichne Canhoto 1920 Serenata Árabe Frontini Canhoto 1920 Invejoso Canhoto Canhoto 1920 Alucinação de um Sonho Canhoto Canhoto 1920 Favorita Joan Aragones Canhoto 1920 Brasil Thiers Cardoso Canhoto 1920 Tarantella Albano Canhoto 1920 Samba do Norte Canhoto Canhoto 1921 Estudo em Lá maior Coste 1921 Canção do Berço Pujol 1921 Valsa de Concerto H. Montey 1921 Romance sem Palavras Mendelssohn 1921 Miserere do Trovador Verdi 1921 Beethoven 1921 Adágio da Sonata Patética Noturno op.9 n.º 2 Chopin 1923 Capricho Árabe Tarrega Benedito S. Capello Benedito S. Capello Benedito S. Capello Benedito S. Capello Benedito S. Capello Benedito S. Capello Benedito S. Capello Robledo 1923 Romanzan. 6 e 12 Mendelssohn Robledo 1923 Estudos Tárrega Robledo 1923 Granada Albeniz Robledo 1923 Canção do Berço Pujol Robledo 1923 Sueno Tarrega Robledo 1923 Cadiz Albeniz Robledo 1923 Minueto del Septimino Beethoven Robledo 1923 Loure Bach Robledo Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático A Cigarra A Cigarra A Cigarra A Cigarra A Cigarra A Cigarra A Cigarra Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. 1923 Valsa op. 34 no.2 Chopin Robledo 1923 Noturno op. 9 n.o. 2 Chopin Robledo 1923 Jota Aragoneza Tárrega Robledo 1924 1924 1924 1924 1924 1924 1924 1924 1924 1924 1924 1924 1924 O Guarany (Fantasia) Himo Nacional Miserere Fantasia da Solidão Noite de Estrelas Tempestade Valsa Alvorada Fantasia do Guarany Alice Eu Quero Ver Combate irresistível O Bicho Feio Marieta Carlos Gomes Verdi Domingos Silva Domingos Silva J. Machado D. Silva Levino Albano Carlos Gomes Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva Barrios Tarrega Leopoldo Silva Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva Domingos Silva A Pistoresi 1924 Noturno n.º2 Chopin A Pistoresi 1924 Recuerdos de Alhambra Tarrega A Pistoresi 1925 Marcha Triunf. Brás. Canhoto Canhoto 1925 Serenata Árabe Frontini Canhoto 1925 Abismo de Rosas Canhoto Canhoto 1925 Feiticeiro Canhoto Canhoto 1925 Uma Lágrima Sagreras Canhoto 1925 Quando os Corações... Canhoto Canhoto 1925 Favorita Calazans Canhoto 1925 Viola, minha viola Canhoto Canhoto 1925 Padre Nuestro (banjo) S. N. Canhoto 1925 Sudan (banjo) Canhoto Canhoto 1925 Tico Tico Assanhando (cavaquinho) Miserere Canhoto Canhoto Verdi Canhoto 1925 Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Ass. Salesianos Cons. Dram Cons. Dram Cons. Dram Cons. Dram Cons. Dram Cons. Dram Cons. Dram Cons. Dram Cons. Dram Cons. Dram Cons. Dram Cons. Dram União. Cat. S. Agostinho União. Cat. S. Agostinho União. Cat. S. Agostinho Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. 1925 A Gente se Defende Canhoto 1925 Madre 1925 Caminico de la Fuente 1925 Los Ojazos de mi negra 1925 Ya canta el gallo 1925 Mi Granada 1925 Serenata Silvestre 1925 Sombras do Passado Canhoto 1925 Canhoto 1925 Do Sorriso das Mulheres... Por que te vuelves a mi? Canhoto 1925 3.o. Prelúdio Mendelssohn 1925 Quando os Corações... Canhoto Gavota J. Avelino de C. 1925 Choro Paulista J. Avelino de C. 1925 A Lágrima J. Avelino de C. 1925 Prelúdio em mi Canhoto 1925 Marcha T. Br. 1925 Alucinação de um sonho 1925 A Flor é a Fonte Otero 1925 E. Souto 1925 Do sorriso das mulheres... Miserere Verdi 1925 Amor de Argentina Canhoto 1925 Tarantella Levino Albano 1925 Serenata Árabe Frontini Paul. Canhoto Soc. R. Ed. Paul. Los Valencias Soc. R. Ed. Paul. Los Valencias Soc. R. Ed. Paul. Los Valencias Soc. R. Ed. Paul. Los Valencias Soc. R. Ed. Paul. Los Valencias Soc. R. Ed. Paul. Canhoto Soc. R. Ed. Paul. Canhoto Soc. R. Ed. Paul. Canhoto Soc. R. Ed. Paul. Canhoto Soc. R. Ed. Paul. Canhoto Soc. R. Ed. Paul. Canhoto Soc. R. Ed. Paul. J. Avelino de C. Um. Cat. S. Agostinho J. Avelino de C. Um. Cat. S. Agostinho J. Avelino de C. Um. Cat. S. Agostinho Canhoto Cons. Dramático Canhoto Cons. Dramático Canhoto Cons. Dramático Canhoto Cons. Dramático Canhoto Cons. Dramático Canhoto Cons. Dramático Canhoto Cons. Dramático Canhoto Cons. Dramático Canhoto Cons. Dramático 1925 Uma Noite na Roça Canhoto Canhoto 1925 Reverie Schumann Osvaldo Soares 1925 Granada Albeniz Osvaldo Soares 1925 Gran Vals Tarrega Osvaldo Soares 1925 Vidalita Sinópoli Osvaldo Soares 1925 Capricho Árabe Tarrega Osvaldo Soares 1925 Canção dos Alpes Sinópoli Osvaldo Soares 1925 Recuerdos de Alhambra Tarrega Osvaldo Soares 1925 Recuerdos de Alhambra Tarrega J. Avelino 1925 Marcha Triunfal Bras. Canhoto Canhoto 1925 Abismo de Rosas Canhoto Canhoto 1925 Viola Minha Viola Canhoto Canhoto 1925 1925 1925 1925 A lágrima Choro Paulista Recordação Saudosa Marcha dos Marinheiros Sagreras J. Avelino J. Avelino Canhoto J. Avelino J. Avelino J. Avelino Canhoto 1925 Reminiscências Canhoto Canhoto 1925 Miserere (Trovador) Verdi Canhoto 1925 Rondon (Tango Brás.) J. Pernambuco Canhoto 1925 Alucinação Canhoto Canhoto 1925 Esmeralda Canhoto Canhoto 1925 Julian Donato Canhoto 1925 Uma Lágrima Sagreras Canhoto 1925 Canhoto Canhoto 1925 Uma noite em Copacabana Serenata Árabe Frontini Canhoto 1925 Viola Minha Viola Canhoto Canhoto Cons. Dramático Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Soc. R. Ed. Paul. Un. Cat. S. Ago. Teatro Mun. S.P. Teatro Mun. S.P. Teatro Mun. S.P. Um. C. S. Ago. Um. C. S. Ago. Um. C. S. Ago. Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático 1925 1925 1925 1925 1925 1925 1925 1925 1925 1925 1925 Mathilde Adágio Sonho Canção do Berço Tua Imagem Ontem ao Luar Granada Miserere (Trovador) Noturno op. 9 n. 2 Capricho Árabe Marcha Paraguaia C. Garcia Beethoven Tárrega Pujol Barrios Alcântara Albeniz Verdi Chopin Tarrega Dr. Pinho A Pistoresi A Pistoresi A Pistoresi A Pistoresi A Pistoresi A Pistoresi A Pistoresi A Pistoresi A Pistoresi A Pistoresi Pablo Escobar 1925 Iparraguirre El Huerfano Pablo Escobar 1925 Recuerdos de Zavala Escobar Pablo Escobar 1925 Jha! Che valle Barrios Pablo Escobar 1925 Madrigal Barrios Pablo Escobar 1925 Meditation Garcia Pablo Escobar 1925 Capricho Árabe Tarrega Pablo Escobar 1925 Valsa n.o. 4 Barrios Pablo Escobar 1925 Mathilde Garcia 1925 Ontem ao Luar Alcantara 1925 Vidalita Sinópoli 1925 Recuerdos de Alhambra Tárrega 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 Marcha dos Marinheiros Desgraciao Reminiscências Feiticeiro Favorita Luzita Serenata Árabe Viola, Minha Viola Madrigal Recuerdos de Alhambra Página de Álbum Estefania Valsa n.o. 4 Marcha Paraguaia Marcha Triunfal Bras. Canhoto Benlock Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Frontini Canhoto Barrios Tarrega Barrios Czibulka Barrios Pablo Escobar Canhoto P. Escobar / A Pistoresi P. Escobar / A Pistoresi P. Escobar / A Pistoresi P. Escobar / A Pistoresi Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Pablo Escobar Pablo Escobar Pablo Escobar Pablo Escobar Pablo Escobar Pablo Escobar Canhoto Ass. Salesianos Ass. Salesianos Ass. Salesianos Ass. Salesianos Ass. Salesianos Ass. Salesianos Ass. Salesianos Ass. Salesianos Ass. Salesianos Ass. Salesianos Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S R. Ed. Paul. S R. Ed. Paul. S R. Ed. Paul. S R. Ed. Paul. S R. Ed. Paul. S R. Ed. Paul. Cons. 1926 Alucinação de um sonho Canhoto Canhoto 1926 Desgraciao Belloch Canhoto 1926 Serenata Árabe Frontini Canhoto 1926 Lábios Roxos Canhoto Canhoto 1926 Canhoto Canhoto 1926 Do Sorriso das mulheres... Viola Minha Viola Canhoto Canhoto 1926 Natal Pablo Escobar Pablo Escobar 1926 El Huerfano Aieta Pablo Escobar 1926 Stephania Cibulka Pablo Escobar 1926 Vidalita Sinópoli Pablo Escobar 1926 Jha! Che Valle Barrios Pablo Escobar 1926 Madrigal Barrios Pablo Escobar 1926 Página de Álbum Barrios Pablo Escobar 1926 Meditação Garcia Pablo Escobar 1926 Aires de América Barrios Pablo Escobar 1926 Lágrima Tarrega Pablo Escobar 1926 Noturno op. 9 n.º 2 Chopin Pablo Escobar 1926 Valsa n.º 4 Barrios Pablo Escobar 1926 Recuerdos de Alhambra Tarrega Pablo Escobar 1926 Marcha Paraguaia Dr. Pinho Pablo Escobar 1926 1926 1926 1926 1926 Marcha Triunfal Brás. Reminiscências Sonsa Uma Lágrima Uma noite em Copacabana Viola minha Viola Natal Canhoto Canhoto Frontini Sagreras Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. Canhoto Pablo Escobar Canhoto Pablo Escobar S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 Lágrima Desgraciao Capricho Espanhol Valsa op. 79 n.º 1 Noturno op. 9 n.º1 Astúrias Choro Brasileiro Industrian Estudos Originais Graciosa Guarani (abertura) Lamentos Tarantella Marcha Triunfal Brás. Tarrega Julian Benlock A. Sinópoli Chopin Chopin Albeniz João Reis Santos Larosa Sobrino Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Carlos Gomes Larosa Sobrinho Levino Albano Canhoto Pablo Escobar Pablo Escobar Pablo Escobar Pablo Escobar Pablo Escobar Pablo Escobar Pablo Escobar Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Canhoto 1926 Reminiscências Canhoto Canhoto 1926 Serenata Árabe Frontini Canhoto 1926 Phalena Canhoto Canhoto 1926 Alucinação Canhoto Canhoto 1926 Viola Minha Viola Canhoto Canhoto 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 Miserere (Trovador) Valsa Clássica Casamento na Roça A caminho da Roça Recordação Melodia Samba Rosa Sonhos de Cardeal Todos Dançam Sonsa Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 1926 Murmúrios Julian Simpatia Brasil Passagens da Vida Padre Nuestro Fado das Mãos No vai-vem das ondas Casamento na Roça Rosas Meu Primor Todos Dançam Verdi Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Raul de los Hoyos Larosa Sobriho Donato Larosa Sobrinho Thiers Cardoso Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. 1926 1926 1926 1926 1926 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 Sonho de Cardeal Até a Volta Soluçando Francesita Rádio Eduacadora Ilusão que morre chorão Queixumes da fonte Serenata Árabe Orodisoito Primavera Meu violão Cateretê clássico São Paulo Chic Recordações Samba estilo nortista Gavota Sonhando Vidalita Aieta Miserere (Trovador) Capricho Árabe Ave Maria Sentimento Crioulo Marcha Militar Tango Lágrimas de mãe Madrugando Rimpianto Afeição Marcha Triunfal Não me Toques Pout-pourri lírico Fantasia do Guarany Noturno op. 9 n.o 2 Céu do Paraná Abismo de Rosas Cateretê Paulista Gavota Canção do Berço Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho José Navarro José Navarro José Navarro José Navarro Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Sinópoli Pistoresi Verdi Tarrega E. Campos Firpo Chaves Cachafaz Chaves Chaves Toselle Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Carlos Gomes Chopin Leopoldo Silva Canhoto 1927 Reverie Schuman 1927 Uma Lágrima Sagreras 1927 1927 1927 1927 Recordação Serenata Árabe Não me Toques Ave Maria Pujol Luiz Buono Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho José Navarro José Navarro José Navarro José Navarro Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono A Pistoresi A Pistoresi A Pistoresi A Pistoresi Benedito Chaves Benedito Chaves Benedito Chaves Benedito Chaves Benedito Chaves Benedito Chaves Benedito Chaves Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Leopoldo Silva Leopoldo Silva Leopoldo Silva Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono A Jacomino/ A Araújo A Jacomino/ A Araújo A Jacomino/ A Araújo Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 Marcha Militar Fado das mãos Marcha Triunfal Brás. Abismo de Rosas Reminiscências Viola Mimosa Ave Maria Hora Fatal Uma Lágrima Sonsa Em pleno mar Feiticeiro Fluminense Viola Minha Vila Marcha dos Marinheiros Brasileiro Viola Minha Viola Saudades de Iguape Saudades de Amparo Granada Na tarde triste 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 1927 Céu do Paraná Noturno op. 9 n.º 2 No reino dos sonhos Langosta Adoração Pachá O polido Fumando espero Graciosa Gavotta Lamento Julieta Casamento na Roça M<eu Primor Simpatia Olhos Feiticeiros Reminiscências Sonsa Por que te vuelves a mi? Em pleno mar Feiticeiro Viola Minha Viola Abismo de Rosas O Guarani Prece da saudade Escovado Luiz Buono Luiz Buono Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Pedro J. Moraes Pedro J. Moraes Albeniz Zequinha de Abreu Leopoldo Silva Chopin Hugo Banzatto Filisberto Hugo Banzatto Hugo Banzatto Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Carlos Gomes Levino Albano Nazareth Luiz Buono Luiz Buono Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Benedito Chaves Benedito Chaves Benedito Chaves Benedito Chaves Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Pedro J. Moraes Pedro J. Moraes Leopoldo Silva Leopoldo Silva S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. T. Boa Vista T. Boa Vista T. Boa Vista T. Boa Vista S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. T. Boa Vista T. Boa Vista T. Boa Vista T. Boa Vista T. Boa Vista T. Boa Vista T. Boa Vista S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. Leopoldo Silva Leopoldo Silva Hugo Banzatto Hugo Banzatto Hugo Banzatto Hugo Banzatto Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Luiz Buono Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Levino Albano Levino Albano S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. 1927 1928 1928 1928 1928 1928 1928 1928 1928 1928 Melodia Sentimental Dobrado Cateretê rebuliço Colar de Pérolas Hino Nacional Amparo Julia Arrependido Hino Nacional Patrício 1928 Loca 1928 Implorando 1928 1928 1928 1928 1928 Ora vejam só Julieta Lamento Murmúrios Lágrimas de mãe 1928 Flor do Sertão 1928 Um sururu no terreiro 1928 Allegro da sonata op. 22 1928 1928 Gran Andante em A Maior Cantabile 1928 Levino Albano J. Sebastião Lima J. Sebastião Lima J. Sebastião Lima Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Pedro Cavalheiro Pedro Cavalheiro Pedro Cavalheiro Sor Levino Albano Totó Totó Totó Totó Totó Totó Totó Totó J. Sebastião Lima J. Sebastião Lima J. Sebastião Lima Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Larosa Sobrinho Pedro Cavalheiro Pedro Cavalheiro Pedro Cavalheiro Juan Rodrigues Sor Juan Rodrigues Sor Juan Rodrigues Andantino Sor Juan Rodrigues 1928 Minueto Sor Juan Rodrigues 1928 Estilo clássico Juan Rodrigues Juan Rodrigues 1928 Coral Del Norte Juan Rodrigues Juan Rodrigues 1928 Chacarera Juan Rodrigues Juan Rodrigues 1928 Maxixe Souto Rodrigues Juan Rodrigues 1928 Solitário Porcel Juan Rodrigues 1928 Canção de Filandeiras Porcel Juan Rodrigues 1928 Dança Oriental Porcel Juan Rodrigues S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. S. R. Ed. Paul. Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático Cons. Dramático 1928 Divertimento op. 16 Porcel Juan Rodrigues 1928 Célebre Minueto Porcel Juan Rodrigues Cons. Dramático Cons. Dramático ODEON Número do disco 40003 10210 10221 108069 108748 137052 137053 137054 137088 137089 120589 120590 120591 120592 120593 120594 120595 120596 120597 120598 120599 120600 120757 120758 121044 121228 121229 121230 121231 121232 121233 121234 121235 121236 121237 121238 121239 121240 121241 121242 Repertório Gênero Número da matriz Intérpretes Ter amor não é defeito Monteiro no sarilho Violetas Rato Rato Os caçadores Bahiano dengoso Dorisa Quindins de Iaiá Descascando o pessoal Urubu malandro Saci Saudades de Iguape Suplication Tuim-Tuim Amores noturnos Babi Belo Horizonte Pisando na mala Campos Sales Devaneio Seiscentos e vinte e três Adeus Helena Mambira Mimosa Casa Brancato Odeon O Frederico no choro Nas asas de um anjo Longe de ti O último sorriso Deixe de luxo Angústias de amor O Paulista Amores na praia Depois do beijo Pensando em ti Ida Ciúmes de amor Noites de farra Lembranças de Lima Modinha Polca Choro Choro Lundu Cançoneta Polca Polca Samba Samba Polca Valsa Valsa Valsa Mazurca Polca Valsa Polca Dobrado Mazurca Polca Valsa Polca Chótis Valsa One-step Tango Valsa Mazurca Valsa Polca Valsa Tango Valsa Chótis Valsa Valsa Valsa Polca Valsa RX-279 Mário Pinheiro Cavaquinho, violão e flautim Flauta, violão e cavaquinho Casemiro Rondo c/ cavaquinho e violão Eduardo das Neves Bahiano e Risoleto (violões) Bahiano Antonio F. Rabelo (concertina) Artur Moreira (violão) Antonio F. Rabelo(concertina) Artur Moreira (violão) Clarinete, cavaquinho e violão Clarinete, cavaquinho e violão Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Américo Jacomino Américo Jacomino Américo Jacomino Américo Jacomino Grupo do canhoto Grupo do Canhoto Hugo (gaita) Mabilde (violão) Mabilde (violão) Banda 52 de caçadores Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto XR-602 XR-1411 SP.3 S.P.4 S.P.5 Autores Data de lançamento H.Retinho D.P. D.P. Arranjos de motivos populares Arranjos de motivos populares João Batista do Nascimento João Batista do Nascimento W. J. Peans [Antonio Picucci] Abril/13 Abril/13 Abril/13 Jan/14 Jan/14 [Américo Jacomi no] [Américo Jacomino] [Américo Jacomino] Dez/13 Álvaro Mabilde Américo Jacomino " Canhoto " Fred Del Ré Fred Del Ré [Antonio A.Lemos] Fred Del Ré Fred Del Ré Américo Jacomino Américo Jacomino Fred Del ré Fred Del Ré Fred Del Ré Luiz Argento 121243 121244 121245 121246 121247 121248 121249 121270 121371 121645 121644 Tudo mexe Beijar depois morrer Suspirando Suplicando amor Sudan Beijo e lágrimas Acordes do violão Olhos que falam Samaritana (Olhos que falam) Madrugando Recordações de Cotinha Nhá Maruca foi s'imbora Fatalidade de um beijo Na coeita 122103 122214 122540 Cuzcuz de Sinhá Chica Triste carnaval Triste ausência 122541 122924 A Carioca Saudades do Rio Grande Reminiscências Bahianas Há quem resista? El Pasado (Audacioso) 121478 121479 121514 122925 122926 122927 122932 122105 123048 123049 123070 Marcha Triunfal Brasileira Abismo de Rosas Porque te vuelve a mi Uma noite em Copacabana Feche a porta e leve a chave Tiá de Junqueiro Fado do vagabundo Alzajama Mimoso 123071 Lágrimas 122933 122934 122935 122937 Polca Valsa Mazurca Valsa Tango Valsa Valsa Valsa Canção Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Grupo dos chorosos Vicente Celestino Luiz Argento Luiz Argento Luiz Argento Américo Jacomino Américo Jacomino Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino Américo Jacomino Inácio Raposo Tango Tango Catira Américo Jacomino Américo Jacomino Grupo O Passo no choro Américo Jacomino "Canhoto" Chótis Canção Sertaneja Bahiano (acompanhado de Canhoto ao violão) Bahiano (acompanhado de Canhoto ao violão) Valsa Mazurca Lírica P. Tango Valsa lenta Bahiano Vicente Celestino Levino da Conceição ( violão) Américo Jacomino "Canhoto" F.Nascimento Pinto Franc. Ponzio Sobrinho João Pernambuco Canhoto - Arlindo Leal Levino da Conceição Levino da Conceição (violão) Levino da Conceição (violão) Levino da Conceição Levino da Conceição Maxixe Levino da Conceição (violão) Levino da Conceição Maxixe Tango Argent. Marcha Levino da Conceição ( violão ) Levino da Conceição (violão ) Levino da Conceição Levino da Conceição Américo Jacomino ( violão) Américo Jacomino " Canhoto" Valsa Tango Maxixe Américo Jacomino (violão) Américo Jacomino (violão) Américo Jacomino (violão) Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Sambinha Paraguaçu Américo Jacomino "Canhoto" Samba Bahiano Carlos Serra (acomp. de violões e bandolins) Carlos Serra (acomp. de violões e bandolins) João Pernambuco (acomp. de Rogério Guimarães ao violão) João Pernambuco (acomp. de Rogério Guimarães ao violão) João Pernambuco Motivo popular Maxixe Maxixe João Pernambuco 123076 123077 123162 123163 123164 123165 123198 123199 123200 123201 123210 123211 123212 123213 123225 123226 123227 123229 123246 123247 123248 123242 123281 123282 123289 123290 123291 123292 123293 123304 123303 123305 ODONETE 114 COLUM BIA Martha Marinetti Jandaia "Seu Coutinho pegue o boi" Magoado Sons de Carrilhões Marcha dos Marinheiros A menina do sorriso triste Reminiscências Alvorada de estrelas O Guarani Sonsa Invejoso Viloa minha viola Mamãe eu vou com ele! Só na Bahia é que tem A gente se defende Carnaval à noite "Rosas desfolhadas "Guitarra de mi terra Melancolia Primeiras Rosas Valsa Fox-trot C. Sertanejo Embolada Rogério Guimarães (violão) Rogério Guimarães (violão) Patrício Teixeira Patrício Teixeira Rogério Guimarães Rogério Guimarães João Pernambuco João Pernambuco Nov/26 Nov/26 Choro Choro Marcha 1007 João Pernambuco (violão) Nelson Alves (cavaq.) João Pernambuco (violão Nelson Alves (cavaq.) Américo Jacomino "Canhoto" (violão) João Pernambuco João Pernambuco Américo Jacomino "Canhoto" Dez/26 Dez/26 Dez/26 F.Tango 1009 Américo Jacomino "Canhoto" (violão) Américo Jacomino "Canhoto" Dez/26 Valsa lenta Gavota Fantasia Tango Maxixe Samba M.Carnav Samba Maxixe Maxixe Valsa lenta Tango Noturno Valsa 1008 1010 1031 1013 1012 1014 1053 1025 1064 1065 1011 1017 1015 1029 Américo Jacomino "Canhoto"(violão) Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto"(violão) Américo Jacomino "Canhoto "(violão) Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Frederico Rocha Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Frederico Rocha Frederico Rocha Américo Jacomino "Canhoto" (violão ) Américo Jacomino "Canhoto "( violão) Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Paraguassu Dez/26 Dez/26 Só na Bahia tem "Trepadeira Foi-se embora Maria Luizinha Fluminense-Tango Tico Tico no farelo Um noite em Ipanema Em pleno mar Fantasia s/ Tango "A média Luz" Tempo Antigo Samba 1137 Francisco Alves Francisco Alves Oscar Pereira Gomes Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto" (violão ) Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Carlos Gomes Arr: Canhoto Fresedo Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto Américo Jacomino "Canhoto Américo Jacomino "Canhoto Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino e Roque Ricciardi Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" Américo Jacomino "Canhoto" E. Dorato Maio/27 Maio/27 Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Américo Jacomino "Canhoto" Maio/27 Dueto guitarra e violão Dueto cavaq. E violão Sem indicação Luperce Miranda A-Saudade de Portugal B-Lá vai madeira Valsa lenta Tango Choro Valsa Valsa 1103 1104 Mazurca 1119 1118 Abril/27 Abril/27 Äbril/27 Abril/27 B-139 PHOENIX 70786 70790 70796 70797 70799 70802 70803 70804 70805 70806 70814 70815 70815 70817 70818 GAÚCHO 4042 ODEON 10010 10014 0015 10017 10019 10020 10021 O Epifânio brincando Jaci e Sertanejo Polca Gavota e Batuque Grupo Honório João Guimarães ( violão ) Saudades de minha Aurora Saudades de São Bernardo Tenho pressa Sempre feliz a teu lado Nas asas de um anjo Alda Belo Horizonte Uiára Devaneio Sempre teu Onde está Idalina Tuim,Tuim,Tuim Amor constante Pierrota Não si impressiona Valsa Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto" Valsa Grupo do Canhoto Antonio Picucci Polca Mazurca Valsa Chótis Valsa Polca Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Américo Jacomino "Canhoto"( violão ) Américo Jacomino "Canhoto"( violão) Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Grupo do Canhoto Antonio Picucci J. Rafaille Antonio A Lemos Nhá Maruca foi s'imbora Nhá moça Samba Samba A-Rosas desfolhadas B-Viola,minha viola A-Foi s'imbora Maria B-Dengoso A-O coco de Iaiá B-Santa Terezinha A-Olhos feiticeiros B-Burgueto A-Dengoso B-Reflexos da mina alma A-Marcha T Brasileira B-Reminiscências A-Abismo de Rosas B-Marcha dos Valsa Toada Samba P.Choro Maxixe Valsa Tango V lenta Toada Modinha Polca Valsa Valsa Valsa Polca Marcha Valsa lenta Valsa lenta Marcha 1242 1211 1200 1202 1212 1201 1223 1235 Antonio Picucci Antonio Picucci Antonio Picucci Antonio Picucci Américo Jacomino "Canhoto Os Geraldos Américo Jacomino ? Canhoto ( violão) Pilé (acompanhamento do grupo do Canhoto) Pilé Canhoto(cavaquinho) Pilé (acompanhamento do grupo do Canhoto) Canhoto (cavaquinho) Canhoto ( violão ) Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Francisco Alves Francisco Alves Francisco Alves c/ Canhoto ( violão ) 1243 1231 Canhoto ( violão ) 1230 Canhoto ( violão ) 1244 Américo Jacomino "Canhoto" Canhoto Canhoto Canhoto Canhoto Julho/27 Agosto/27 Agosto/27 Agosto/27 Anterior aout/1927 10022 10024 10026 10027 10028 10029 10107 10148 Marinheiros A-Uma noite em Ipanema B-Tico tico no farelo A-Brasilerita B-Caprichoso Valsa Choro Tango Argent Maxixe A-Berço e Túmulo Modinha B-Bebê V.lenta A-Choça do monte Choro B-Araci Valsa A-Luar da minha terra Canção B-A Solina voou Canção A-Paulista de Taubaté Toada B-Vamos embora Maria Embolada A-Prelúdio de violão B-Atlântico Tango A-Sonho de gaúcho Canção B-Campanha do sul Fox-trot 1236 1237 Canhoto(cavaquinho) Canhoto Canhoto 1248 1228 Canhoto ( violão) Canhoto Canhoto 1203 1225 Paraguaçu Canhoto Catulo Cearense 1210 1213 Paraguaçu acompanhado do grupo do Canhoto Canhoto(cavaquinho) Paraguaçu acompanhado do grupo do Canhoto Canhoto (cavaquinho) Pilé acompanhado do grupo do Canhoto 1214 Pilé acompanhado do grupo do Canhoto 1204 1234 1451 1553 1224 1452 1558 Setembro/27 Set/27 Rogério Guimarães(violão) Canhoto Canhoto Canhoto "Jararaca" Rogério Guimarães Francisco Alves Francisco Alves e Rogério Guimarães (violões) Sinhô Rogério Guimarães Março/28 Set/27