Gilson Uehara Antunes
AMÉRICO JACOMINO "CANHOTO" E O DESENVOLVIMENTO DA ARTE
SOLÍSTICA DO VIOLÃO EM SÃO PAULO.
Dissertação apresentada ao Departamento de
Música da Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo, como exigência
Parcial para obtenção do título de
Mestre em Musicologia.
Orientadora:
Prof. Dra. Flavia Camargo Toni
São Paulo
2002
Canhoto.
Nome do diabo, um dos mais populares, e ligado, na maioria dos casos,
aos acontecimentos amorosos, seduções, bastardias. Seria Canhoto uma réplica católica
do Asmodeu. Apesar do nome, canhoto, esquerdo, desastrado, é um demônio hábil na
sua especialidade conquistadora. Luis Edmundo (O Rio de Janeiro no Tempo dos ViceReis, 340, Rio de Janeiro, 1932): "O Canhoto ! Monstro com o dom de transforma-se
em cavalheiro capaz de seduzir a melhor dama, mas sem poder dissimular dois pés de
pato, amplos e feios, duende explosivo que arrebentava, em cacos, diante de qualquer
cruz, deixando, com o estampido muito grande, uma nuvem azulada e um cheirinho de
enxofre".
Câmara Cascudo: Dicionário do Folclore Brasileiro, Ediouro, 9.ª Edição.
AGRADECIMENTOS
Antonio de Barros Leite
Cláudia Batista das Neves
Cláudio Arone
Daniel Barreiro
Edelton Gloeden
Flávia Camargo Toni
Luís Américo Jacomino
Márcio de Souza
Maurício Orosco
Maurício Zamith
Ricardo Cardim
Ricardo Marui
Ronoel Simões
Selma Gimenes Garcia
Teresinha Prada
Resumo
Esta pesquisa visa estudar o período correspondente ao início do desenvolvimento da
arte solística do violão brasileiro, com ênfase na cidade de São Paulo, além de resgatar a
obra do maior violonista do período, o paulistano Américo Jacomino "Canhoto".
Abstract
This research intends to study the beginning of the development of the guitar in Brazil,
mainly in the city of São Paulo, besides to bring up the life and works from Américo
Jacomino "Canhoto", the brazilian greatest guitarist in the first quarter of twentieth
century.
SUMÁRIO
001 - Introdução
007 - Capítulo I – Informações sobre a utilização do violão no Brasil entre os séculos
XVI e XIX
007 - I.1 – Primeiras manifestações do violão no Brasil
008 - I.2 – O novo ambiente violonístico em São Paulo com os estudantes da
Faculdade de Direito do Largo São Francisco
014 - I.3 – O ambiente violonístico em São Paulo – 1900 – 1930
032 - I.4 – Agustín Barrios em São Paulo – 1917/1929
038 - I.5 – Josefina Robledo: Uma mulher violonista no Brasil – 1917/1922
047 - Capítulo II – Américo Jacomino – 1889/1928
047 - II.1 – Nascimento de Américo Jacomino
049 - II.2 – Primeira gravação de Américo Jacomino – 1912
052 - II.3 – Em 1916, o primeiro grande recital de Américo Jacomino. A mudança de
opinião da crítica em São Paulo
061 - II.4 – Casamento de Américo Jacomino e mudança para São Carlos
066 - II.5 – Em 1925, Américo Jacomino retorna à capital paulista
071 - II.6 – O concurso “O que é nosso” – 1927
084 - Capítulo III – Panorama do violão em São Paulo – 1904/1928
084 - III.1 – Os violonistas nas salas de concerto: Canhoto, Barrios, Robledo e outros
088 - III.2 – Os violonistas nos estúdios das gravadoras: Canhoto, Levino Albano,
Rogério Guimarães e outros
096 - Capítulo IV – O violonista Américo Jacomino: O músico, a obra, o professor e
seu instrumento
096 - IV.1 – Aspectos técnico-interpretativos e recursos violonísticos empregados
101 - IV.2 - Manuscritos e partituras impressas de Américo Jacomino
116 - IV.3 – Lacunas no repertório de Américo Jacomino
117 - IV.4 – O Método de violão de Américo Jacomino
120 - IV.5 – Comentários a respeito do violão que pertenceu a Américo Jacomino
utilizado para a gravação do CD anexo
123 - IV.6 – Considerações sobre a gravação do CD anexo
128 - Conclusão
131 - Bibliografia
Anexo I – Tabela de gravações realizadas por violonistas entre 1902 e 1928
Anexo II – O repertório dos violonistas e as salas de concerto em que se apresentaram
Anexo III – Transcrição de obras de violonistas-compositores do início do século vinte
Introdução
Com a abertura dos cursos de pós-graduação nas universidades brasileiras,
amplia-se, aos poucos, o quadro para se escrever, no futuro, a história do violão no
Brasil, bem como seu repertório e intérpretes mais destacados. Ainda não se tem,
contudo, bibliografia volumosa, sendo necessário realizar pesquisa aprofundada em
fonte primária. Isso de fato se evidenciou na pesquisa feita em torno do violonista
Américo Jacomino, cujo nome, embora não fosse desconhecido, ainda não merecera
trabalho que o focalizasse de forma privilegiada; intérprete e compositor destacado do
início do século vinte, Américo Jacomino cumpriu, com efeito, um papel de relevo na
divulgação e introdução do violão em vários ambientes do Estado de São Paulo e do Rio
de Janeiro.
A presente dissertação busca situar o início do desenvolvimento da arte solística
do violão no Brasil, especificamente na cidade de São Paulo, nos idos de 1900 a 1930.
Se o foco do trabalho é Américo Jacomino, foi necessário, não obstante, situá-lo frente a
outros nomes do violão que comparecem nos palcos no mesmo momento, para se ter
uma visão mais precisa e abrangente do desenvolvimento dessa arte. “Canhoto” , como
o apelido indica, tocava violão invertendo a posição do instrumento e mantendo, no
entanto, a mesma afinação e ordem das cordas. Tomou para si a responsabilidade de se
“profissionalizar”, conforme seu próprio depoimento, e firmar o instrumento no meio
musical brasileiro. Como será visto, Américo realiza grande número de gravações,
apresenta-se em inúmeros recitais divulgados pela imprensa, compõe obras que
marcarão o repertório do instrumento no período, bem como faz dos meios de
divulgação disponíveis – rádio e discos – aliados na difusão de seu trabalho. Além
disso, suas composições apresentam aspectos técnico-musicais que ampliam recursos
que vinham sendo usados por seus contemporâneos brasileiros.
Assim, no intuito de determinarmos o panorama no qual Américo Jacomino
despontará foi importante retroagir no tempo para se recolherem as notícias sobre o uso
do instrumento no país. O foco, sem dúvida, é a cidade de São Paulo.
Ao tratarmos do violão no Brasil não nos debruçamos sobre Heitor Villa-Lobos
por entender que sua esfera de ação como violonista participando de grupos de choro se
circunscreveu à cidade do Rio de Janeiro. À época, suas composições não tiveram
papel preponderante na arte solística do instrumento, pois a primeira gravação comercial
de seu Choros n.º 1, embora escrito em 1921, data de 1940. As demais obras do
maestro carioca foram editadas na década de 1950, sendo cultuadas até então por
violonistas que fogem do âmbito do presente trabalho.
Aqui contemplamos os
violonistas compositores que gravaram discos, realizaram recitais e marcaram presença
no espaço do violão solista.
O trabalho divide-se em quatro capítulos. No primeiro acolhemos notícias sobre
a presença do instrumento apontando para a intrincada questão do que ora é chamado de
viola, ora de guitarra, ou mesmo de violão. O nome do instrumento só começa a se
firmar com a fundação da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo,
em 1828, quando o movimento estudantil faz uso do instrumento, cenário para ser
anunciada, pela primeira vez, a venda de um método de violão, trabalho escrito pelo
italiano Francesco Molino. É o momento em que se anuncia, também, a apresentação
de um violonista conhecido apenas como Senhor Lisboa, executando as Variações
Sobre Temas da Traviata, de Giuseppe Verdi. Infelizmente não é possível saber se tais
variações foram escritas pelo espanhol Francisco Tárrega, ou por um contemporâneo
seu, o também espanhol Julian Arcas.
O movimento violonístico da capital entre 1900 e 1930 foi analisado
separadamente, tendo em vista destacar os papéis relevantes do paraguaio Agustín
Barrios e da espanhola Josefina Robledo.
No segundo capítulo a vida de Américo Jacomino é focalizada, tendo em vista a
recuperação de dados de sua biografia, bem como seu currículo artístico. As gravações e
recitais, a mudança para São Carlos, a volta a São Paulo e o concurso O Que É Nosso,
no Rio de Janeiro, fazem parte de um quadro no qual o violonista se destaca como
compositor, intérprete e professor.
No terceiro capítulo, um panorama do violão na cidade de São Paulo, reunimos
as carreiras dos violonistas atuantes nas salas de concerto, bem como nos estúdios de
gravação. As datas-limite são 1904 e 1928; a primeira assinala o mais antigo recital de
violonista após o nascimento de Canhoto e a outra registra a morte dele. No período foi
interessante para a pesquisa analisar o repertório e as salas de concerto mais utilizadas
pelos violonistas, bem como as gravações das quais participaram.
O quarto e último capítulo focaliza em separado o músico Américo Jacomino,
sua obra e a atividade de professor. É o espaço oportuno para descrever e analisar
também o violão modelo carioca usado por ele em concerto. Frente ao levantamento do
repertório de Canhoto divulgado pelos jornais e tendo em vista também as gravações
que realizou, é possível conhecer certos recursos técnico-interpretativos empregados
pelo violonista, tais como trêmulos, pizzicati, efeitos de fala no violão, harmônicos,
rasqueados etc. Para tanto foi necessário percorrer vasto repertório, desde obras de sua
autoria bem como de outros compositores, panorama ampliado pelas informações de
seu método para violão. Vale dizer que o Método de Violão, editado na década de 1920,
é tido ainda hoje como de interesse.
No intuito de melhor conhecermos o repertório e os recursos técnicos de
Canhoto, gravamos um CD, anexo, no qual experimentamos um violão utilizado pelo
violonista, gentilmente cedido pelos seus herdeiros para o trabalho em estúdio de
gravação.
Anexo apresentamos dados complementares sobre os quais nos pautamos para as
análises. No primeiro, a relação das gravações dos violonistas no período de 1902 a
1928.
No seguinte, a relação do repertório dos violonistas e as salas em que se
apresentaram.
Finalmente, as transcrições de alguns compositores, violonistas que
escreveram para o instrumento, mas que não foram contemplados com edições. Nesse
sentido, cabe antecipar que Canhoto era músico de formação amadora, não grafando
suas composições, ou seja, não tendo visto, em vida, suas partituras editadas. Dele
transcrevemos somente as obras para violão solista, não nos atendo àquelas em que ele
participa de duos ou formações maiores. Entre os autores contemplados estão: Glauco
Vianna (com a peça Pertinho de Meu Bem), Levino Albano da Conceição (com
Saudades do Rio Grande), Mário Pinheiro (com Petita) e José Augusto de Freitas
(Soluços). Coube também anexar a partitura publicada da valsa Gotas de Lágrimas, de
Mozart Bicalho, um sucesso editorial da década de 1960 (quando de sua publicação); o
maxixe Cruzeiro, de Theotônio Corrêa, na transcrição de Attílio Bernardini, que se
pautou na gravação para três violões do trio Os Três Sustenidos; a transcrição da gavota
Edith, de João Avelino de Camargo – um dos integrantes daquele trio, a partir da cópia
manuscrita sem indicação de autor; finalmente, o manuscrito autógrafo do cateretê
Festa na Fazenda, de Antonio Giacomino, o único documento original encontrado
durante as pesquisas para esta dissertação1.
O violão foi, de fato, um dos principais instrumentos musicais utilizados para o
acompanhamento das canções, participando desde o primeiro registro comercial de que
se tem notícia, em 1902, a gravação da canção Ave Maria, na voz de Bahiano, e com
violonista não identificado. Curioso é notar que rapidamente, com o início do século
1
Estes dois documentos fazem parte do acervo do colecionador Ronoel Simões, a quem agradecemos as
cópias cedidas.
vinte, o instrumento passa a ser muito requisitado, contrastando com as parcas notícias
que se têm dele até então. Um dos motivos plausíveis poderia ter sido o de seu emprego
nos estúdios de gravações em substituição ao piano, hipótese que não nos coube
destacar.
Após a leitura da literatura disponível, passamos à consulta sistemática dos
jornais de época, acervo do Arquivo do Estado de São Paulo. Esta etapa da pesquisa,
notadamente sobre o jornal O Estado de São Paulo, fez parte de um projeto
compartilhado anteriormente com Paulo Castagna e Eduardo Fleury. Projeto de fôlego,
compreendeu a pesquisa sistemática em jornais para se recolherem as notícias sobre o
instrumento entre os anos de 1900 e 1930. Os resultados colhidos chegaram a ser
divulgados em artigo de 19942.
Numa terceira etapa, desta vez trabalho individual, foi consultado o repertório
disponível a partir das gravações dos próprios compositores-violonistas do início do
século vinte, entre eles Mário Pinheiro, João Pernambuco, Levino Albano da Conceição
e outros.
Só então focamos o olhar para o paulistano Américo Jacomino, devido à
relevância de citações a seu respeito. Até 1958, as poucas informações sobre Jacomino
residiam na série de quatro artigos escritos por Ronoel Simões no jornal A Gazeta,
quando dos 30 anos da morte do violonista, crônicas estas inseridas no texto de 1978
que acompanha o livro de J. L. Ferrete e Juvenal Fernandes, obra que traz um valioso
catálogo de peças de Canhoto. Além desses textos, servimo-nos do que o próprio
Ronoel Simões publicaria na revista Violão e Mestres de 1964, em dois números, outra
biografia do violonista, na qual muitas das informações teriam sido obtidas por meio de
entrevistas com o cantor Roque Ricciardi, o Paraguaçu, conforme atestou o próprio
Simões em depoimento ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo em 1981. De
Paraguaçu foi utilizada também uma entrevista histórica concedida ao Museu da
Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974, com muitas histórias e informações sobre
Canhoto e o período em questão, especialmente sobre a São Paulo de inícios do século
vinte.
De grande valia foi a investigação feita por Henrique Foréis, o Almirante, por
ocasião dos quatro programas especiais de rádio, em 1954, para a comemoração do
quarto centenário da fundação da cidade de São Paulo, cujo material se encontra no
arquivo escrito do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Segundo Luís
2
CASTAGNA, Paulo & ANTUNES, Gilson. 1916, O Violão Brasileiro já é uma Arte. Revista Vozes.
Editora Vozes, n.º 1, p. 18, 1994.
Américo, filho de Canhoto, Almirante teria tido muito contato com várias figuras
próximas a seu pai, além de ter feito várias entrevistas com a viúva do violonista. Foram
utilizadas também algumas entrevistas feitas com Luís Américo, que cedeu material de
grande valia para a dissertação. O farmacêutico Antônio de Barros Leite também
forneceu fotocópias de várias cartas de Américo Jacomino a seu pai, dados de interesse
para os biógrafos dos dois violonistas.
Também auxiliaram na pesquisa matérias divulgadas em 1978, cinqüentenário
da morte de Canhoto, textos publicados em jornais por ocasião de um disco no qual
doze músicos gravaram peças de sua autoria, aí incluindo seu próprio filho Luís
Américo. Ainda de 1978 há o documentário da TV Cultura, de São Paulo, um debate
no qual Ronoel Simões, J.L. Ferrete e Juvenal Fernandes analisam certos aspectos
históricos e musicais de Américo Jacomino. De lá para cá pouco foi escrito sobre o
violonista e compositor, apesar de sua mais famosa composição, Abismo de Rosas,
continuar como uma peça muito procurada pelos intérpretes e orquestras.
Mais recentemente o violonista Giácomo Bartoloni, professor de violão da
Universidade Estadual Paulista (UNESP), realizou uma pesquisa analisando aspectos
sociais sobre o violão brasileiro, incluindo o período estudado.
Entre os principais locais pesquisados devemos citar ainda:
- Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro: Jornais e revistas da época em que viveu
Américo Jacomino, notadamente números do jornal Correio da Manhã, que organizou o
concurso O Que é Nosso, do qual tomou parte o violonista.
- Centro Cultural São Paulo: Foram utilizados inúmeros livros para a bibliografia geral
da dissertação, além de partituras raras do violonista publicadas para piano. Na pasta
que reúne matérias sobre o artista há poucos recortes de jornais. Na discoteca Oneyda
Alvarenga existem três discos com músicas do violonista, por Paulinho Nogueira,
Waldir Azevedo e o próprio Américo Jacomino (1 disco de 78 rotações).
- Biblioteca da Universidade de São Paulo (USP): Livros e teses para a bibliografia
geral, em especial a Discografia Musical Brasileira em 78 RPM, editada pela
FUNARTE em 1978.
- Arquivo particular de Gilson Antunes: Vários artigos de jornais, fotos, livros em geral
para a bibliografia (sobre a história do violão, história da música brasileira e da cidade
de São Paulo), gravações de Américo Jacomino e partituras particulares transcritas dos
discos de 78 RPM. Vários desses itens foram, desde 1988, adquiridos do arquivo
particular do colecionador Ronoel Simões.
I – INFORMAÇÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DO VIOLÃO NO BRASIL
ENTRE OS SÉCULOS XVI E XIX
I.1 – Primeiras manifestações do violão no Brasil
Podemos considerar que a literatura com referência ao uso do violão no Brasil
data de c. 1549, coincidindo com a chegada dos jesuítas no país, e suas respectivas
citações em cartas e escritos gerais3.
3
TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo, Ed. 34, 1998, p.
41; DUDEQUE, Norton. História do Violão. Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 1994, p.101.
No século dezesseis, entre os principais instrumentos musicais cordofones em
uso na Europa estão o alaúde, em todo o continente, e a vihuela, na Península Ibérica.
Este último designa instrumentos musicais cordofones de três tipos diferentes: a vihuela
de arco, a vihuela de peñola (tocada com plectro) e a vihuela de mano (pulsada com os
dedos).
Este instrumento possui seis cordas duplas (as chamadas "ordens"), com
afinação variável em altura (em geral, afina-se até que as cordas estejam esticadas o
bastante para não romperem), mas sempre com os mesmos intervalos, sendo eles, por
exemplo e por convenção quando da interpretação das músicas no violão moderno, misi-fa#-re-la-mi.
Outro instrumento utilizado pelo povo, exclusivamente para acompanhamento
de canções, é a pequena guitarra, que possui quatro pares de cordas. Este instrumento
varia de nome conforme a região. Na França, por exemplo, é chamado de guiterne ou
guiterre, na Inglaterra, guitar e, na Itália, chitarrino. O nome etimologicamente provém
da kytara grega (de origem caldéia-assíria).
Sendo a vihuela, pois, o instrumento cultivado em Portugal – com o nome
aportuguesado de viola - e existindo também a guitarra de 4 ordens no país, tocado em
geral pelas pessoas de uma classe inferior, e que esta geraria variantes locais com o
decorrer do tempo, é de se supor que seriam os mesmos instrumentos trazidos ao Brasil
junto com a navegação. Pelas informações dos primeiros viajantes, existem também
nesta época o uso e a construção de instrumentos diversos pelos índios guarani nas
Reduções Jesuíticas do Paraguai, território que compreenderia hoje a Argentina, Brasil,
Uruguai e Paraguai4.
No século dezessete, a vihuela interrompe seu rumo de desenvolvimento
juntamente com seus intérpretes espanhóis, passando a pequena guitarra, agora com
cinco cordas duplas, a assumir seu papel de instrumento cordofônico mais praticado.
Por ter vários cultores na Espanha, começa a ser designada pelo nome de guitarra
espanhola.
O nome de Gregório de Matos Guerra (1633 / 1696) aparecerá posteriormente
como o primeiro grande nome da literatura brasileira, e com ele um papel bastante
difundido sobre o violão durante os séculos, o do boêmio violonista. Neste caso, o
poeta é apenas o continuador da tradição dos escudeiros trovadores quinhentistas de
Portugal, verdadeiros antecessores dos seresteiros, que se acompanharão ao violão.
4
REVISTA ASSOVIO. Associação Gaúcha do Violão, ano 1, n.º 4, Porto Alegre, maio de 2000, p. 08.
Depois disso, já na segunda metade do século dezoito, com a mudança do estilo
musical europeu como o rococó e o clássico, haverá mudanças significativas no violão
(inicialmente com seis ordens, posteriormente com seis cordas simples), sendo chamado
então no velho mundo de guitarra clássica. E é justamente quando os termos viola e
violão enfrentarão no Brasil os maiores equívocos, confundindo-se de tal maneira que
será difícil reconhecer quando da citação de um e de outro na literatura dos séculos
dezoito e dezenove5.
I.2 - O Novo Ambiente Violonístico em São Paulo com os Estudantes da Faculdade
de Direito do Largo São Francisco
Há vários documentos atestando a prática musical brasileira no século dezenove,
principalmente dos viajantes que aqui estiveram. As notícias sobre violão demonstram
que o instrumento é praticado em São Paulo e restante do Brasil. Já em 1813 o viajante
sueco Gustavo Beyer escreve que "canto e música são talentos comuns, que elas (as
paulistas) revelam com a mesma graça e facilidade. O primeiro consiste nas conhecidas
modinhas e os instrumentos mais freqüentes são o piano, a harpa, a guitarra e o órgão,
dos quais a guitarra é o mais comum e tocado até entre o povo do campo"6. Entre
outros escritores que atestam o uso do instrumento estão Levy Rocha, Auguste-Emílio
Zaluar, Spix e Martius.
Luiz D'Alincourt7publica em 1818 o livro Memória sobre a Viagem do Porto de
Santos à Cidade de Cuiabá8, no qual escreve a respeito da cidade de São Paulo: "Tem
esta cidade todas as proporções para o estabelecimento de uma Universidade; o baixo
preço dos gêneros, a abundância deles, a salubridade do ar, a temperatura do clima, as
poucas distrações, que se oferecem, finalmente tudo parece conspirar a preferir este a
outro qualquer sítio para a cultura de letras. [...].
Os paulistas são trabalhadores,
espirituosos, robustos, afáveis, generosos e bastantemente polidos; são dotados de
talentos próprios para grandes coisas, assim os pudessem cultivar".
5
Sobre esta questão, colocamos como “violão” todo o instrumento que se refere ao instrumento atual que
recebe esta denominação, incluindo instrumentos correlatos dos séculos dezoito e dezenove, como a viola
(guitarra de cinco ordens) e a própria guitarra (guitarra espanhola).
6
BEYER, Gustavo. Ligeiras notas de viagem do Rio de Janeiro à capitania de São Paulo. Revista do
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, v. XII, p. 289, 1908.
7
Nascido em Oeiras, Portugal, em 17 de fevereiro de 1787, D’Alincourt foi oficial de engenheiros, tendo
numerosas e importantes comissões. Seu livro em questão foi publicado em1825.
8
D’ALINCOURT, Luiz. Viagem do Porto de Santos à Cidade de Cuiabá (1818). São Paulo, Livraria
Martins Editora S.A., 1980, pp. 34 e 35.
No dia primeiro de março de 1828, dez anos após a publicação do livro de
D’Alincourt, é instituído o curso de Direito no prédio do Largo São Francisco em São
Paulo, sendo de fundamental importância para o desenvolvimento cultural da cidade, até
então bastante tímida.
Talvez o mais importante livro sobre esta faculdade, no qual são narrados vários
acontecimentos musicais e notícias importantes sobre a prática do violão, foi o escrito
por Carlos Penteado de Rezende em 1954, intitulado Tradições Musicais da Faculdade
de Direito de São Paulo9. O escritor observa o seguinte panorama da capital quando da
vinda dos estudantes em 182810: "1- Existência de dois teatros, um popular e sempre em
uso, outro por assim dizer aristocrático e raramente aberto. 2- representação de peças
musicadas, como óperas e operetas, com acompanhamento rudimentar. 3- Gosto das
mulheres paulistas de cantar em serões e saraus e de dançar nos bailes. 4- Preferência
geral pelas modinhas, ‘inteiramente ao gosto do público’. 5- Conhecimento das obras de
Marcos Portugal, provando comunicação artística entre Côrte e Província. 6- Existência
na capital de pianos, harpas, órgãos e guitarras e notícia de ser a guitarra, ou violão,
instrumento popular. 7- Apuro em música sacra executada nas igrejas. 8- Desempenho
musical de bandas marciais. 9- hábito de serenatas na vizinha localidade de Santo
Amaro e possivelmente em São Paulo. 10- manifestações musicais de caráter
folclórico".
Vários estudantes poetas se utilizam do violão para acompanharem suas
composições. O primeiro poema acadêmico, por exemplo, escrito pelo estudante
mineiro Antonio Augusto de Queiroga, em 1834, possui acompanhamento deste
instrumento musical. Vários outros estudantes podem ser citados, como Augusto
Teixeira de Freitas, João Ribeiro Mendes e Batista Caetano de Almeida Nogueira.
Na página 42 do livro, em que evidencia o trabalho estatístico do Marechal
Daniel Pedro Müller, relativo ao ano de 1836, figuram na tabela número 15 do cadastro
das profissões (capital), além de 21 músicos, 6 violeiros. Este termo violeiro aplica-se,
a fabricantes ou vendedores de viola. Porém, sobre o violão solista utilizado por
virtuoses europeus, na página 83 o autor escreve: "O instrumento preferido pelos
acadêmicos prosseguia sendo o violão.
Tanto que o Correio Paulistano andou
anunciando para vender em sua tipografia um Método de Violão, de Francesco Molino,
9
PENTEADO, Carlos Rezende. Tradições Musicais da Faculdade de Direito de São Paulo. São Paulo,
Edição Saraiva, 1954.
10
Idem, ibidem, p. 25.
que é, daquela época, a única referência didática musical que possuímos. Aliás, ainda
não se imprimiam músicas em São Paulo. No máximo haveria copistas, talvez entre os
funcionários da Sé Catedral. Tudo vinha de fora, da Corte ou da Europa, quer fossem
livros, compêndios, partituras ou simples resmas de papel pautado".
No mesmo livro escreve-se, a respeito da situação musical paulista na segunda
metade do século dezenove, "Os professores de música eram poucos e mal habilitados.
Os instrumentos e composições oferecidos à venda não primavam pela qualidade ou
bom gosto. Nenhuma casa especializada no ramo se abrira ainda na cidade. E quando se
realizava um concerto, o fato assumia aspectos de novidade sensacional. O público
ignorante nada exigia, contentando-se com ouvir os seus trechos preferidos, geralmente
tirados de óperas. Considere-se, também, que outrora os músicos não desfrutavam de
prestígio social, nem tinham forças para combater o velho e arraigado preconceito de
que o artista é um ser ocioso, inútil. Tudo, pois, contribuía para o marasmo geral"11
Havia, porém, conforme anúncios do jornal Correio Paulistano, vários professores de
piano e canto, o que iria contra a afirmação de que o violão era o único instrumento
estudado com esmero. E com relação aos compositores de modinhas e lundus, se faz
difícil um maior aprofundamento, pois a maioria ficou no anonimato por não ter suas
peças impressas e pelo fato de o gênero ser muito transmitido em tradição oral.
O ambiente musical paulista começa a mudar quando o imigrante israelita
francês Henrique Luís Levy inicia a venda de partituras musicais em sua loja de jóias,
situada na Rua da Imperatriz, no centro da capital. Outra figura de destaque na segunda
metade do século é a do professor francês Gabriel Giraudon, que passará à posteridade
musical paulista como professor de Henrique Oswald, Luís Levy, Alexandre Levy,
Antonieta Rudge e Magdalena Tagliaferro, todos pianistas.
Ainda no livro de Penteado, na página 209, um daguerreótipo apresenta o
período da mudança de um violão de modelo clássico para um modelo mais moderno,
sendo este segurado por Luís Levy. A mudança é significativa, quando se observa a
mão do instrumento (mais arredondada no caso do modelo antigo) e o cavalete (sem o
detalhe da ornamentação, no caso do modelo moderno). Na figura, Luís Levy aponta
para a palavra “cynismo” escrita na parede, cujo significado remete ao “spleen” – tédio,
monotonia - tão em voga entre os estudantes da Faculdade de Direito desde a sua
11
Idem, ibidem, p. 81.
fundação, principalmente entre poetas que lá passaram, como Álvares de Azevedo e
Bernardo Guimarães12.
Na década de 1860 São Paulo possui cinco teatros, sendo eles o Teatro da Ópera
(no Pátio do Colégio), Teatro do Palácio do Governo (também situado no Pátio do
Colégio), "Teatrinho alemão do Dr. Rath"13 (situado no bairro da Glória, com
capacidade para 500 pessoas, construído pelo engenheiro de mesmo nome), Batuíra
(situado na Rua da Cruz Preta) e, o mais importante de todos, Teatro São José, situado
no Largo de São Gonçalo. Este teatro, inaugurado em 1864 e destruído em 1898 por
um incêndio, tornou-se um verdadeiro difusor de cultura para a capital. Em seu palco
passariam nomes como o do músico Gottschalk e da atriz Sarah Bernhardt.
Na década seguinte aparecem os primeiros ecos do progresso, com as
conseqüências da imigração e da criação da estrada de ferro, apesar de não serem
alterados os hábitos da população nem a fisionomia da cidade no decênio de 1860187014. Surgem novos professores de música, quase todos de piano e canto, nenhum
conhecido de violão, não obstante afirmar-se que "de acordo com o costume da época, a
música fazia parte obrigatória da educação feminina (...). Como as moças quase não
12
Essa palavra era própria da gíria acadêmica, não tendo relação com a desfaçatez ou impudência.
Escrito desta maneira no livro de Penteado.
14
Idem, ibidem, p. 177.
13
saíam de casa, enchiam o tempo com os afazeres domésticos e divertiam-se dedilhando
piano e violão e cantando"15.
Ainda com relação ao instrumento, o jornal Correio Paulistano de 11 de maio de
1864 publica um artigo sobre um sarau em que participaram o professor de piano
Emílio do Lago e “um certo professor Lisboa”, que “executando trechos da Norma e da
Traviata conseguiu extrair das cordas do seu violão os mais harmoniosos e suaves sons,
que jamais violão algum poderá imitar”16. Há duas versões para esta peça de Verdi, a
Fantasia sobre temas da Traviata, escrita pelo espanhol Francisco Tárrega, ou as
mesmas variações, escritas por seu conterrâneo Julian Arcas. A de Norma é uma
incógnita, pois não se conhecem variações ou fantasias sobre trechos dessa ópera no
repertório violonístico. Apesar disso, durante todo esse decênio, não é registrado
nenhum outro recital de violão.
Na década seguinte começa a transformação da cidade de São Paulo em vários
aspectos, citando-se como exemplo a inauguração do serviço de iluminação a gás, os
bondes puxados por burros e o arruamento em redor da capital, além de intensificaremse a leva de imigrantes na capital. Em 1873 são fundadas algumas sociedades musicais,
Henrique Levy amplia ainda mais sua loja e em agosto é inaugurado o Teatro
Provisório, que abrirá caminho para o Lírico no ano seguinte. É nesse contexto de
mudanças que o advento da ópera se torna um marco na história artística da cidade.
Ainda em 1873 nasce em Porto Feliz, Estado de São Paulo, um dos mais antigos
violonistas a gravar discos no Brasil (em 1930), José Martins Duarte de Melo,
conhecido como Melinho de Piracicaba. Este violonista fará parte do trio “Os Três
Sustenidos” juntamente com os pioneiros Theotônio Corrêa e João Avelino de
Camargo.
Melinho começa a estudar violão no interior, pelo método de Matteo
Carcassi sob orientação do professor Luiz Dutra, passando em seguida ao método de
Dionísio Aguado com o português Alberto Baltar na capital paulista em 1898. Baltar é
um dos mais antigos professores de violão erudito da cidade de São Paulo de que se tem
notícia17. Sobre este, escreve Domingo Prat em seu Diccionario de Guitarristas18:
“Alberto Baltar, violonista e compositor português, radicado na cidade do Rio de
Janeiro, Brasil. Goza de grande popularidade e é apreciado por seus méritos de
intérprete e compositor. Publicadas na revista A Voz do Violão, se lhe conhecem
15
Idem, ibidem, p. 187.
Idem, ibidem, p. 190.
17
VIOLÃO E MESTRES, n.º 7, 1967, p. 25.
18
PRAT, Domingo. Diccionario de guitarrista., Casa Romero y Fernandez, Buenos Ayres, 1934, p. 38.
16
algumas peças originais, e pela Violão, outras. Possui uma grande quantidade de temas
folclóricos do Brasil adaptados ao violão, os quais vieram à luz pelas citadas
publicações”.
Como coincidência, Melinho de Piracicaba começa seus estudos de violão em
1889, ano da proclamação da República e data de nascimento do principal violonista do
início do desenvolvimento da arte do violão solista no Brasil, o paulistano Américo
Jacomino “Canhoto”.
As décadas de 1860, 1870 e 1890 marcam a data de nascimento de três
migrantes nordestinos ao Rio de Janeiro que terão fundamental importância para a
prática do violão solista no Brasil: Sátiro Bilhar (1860/1927), Joaquim Francisco dos
Santos (1883/1935), conhecido como Quincas Laranjeiras, e João Teixeira Guimarães
(1883/1947), mais conhecido como João Pernambuco.
Este último fará várias
apresentações em São Paulo, primeiramente com seu Grupo de Caxangá e
posteriormente com os Oito Batutas, seminal grupo de choro do qual farão parte
também Pixinguinha e Donga. Dos três violonistas citados, apenas João Pernambuco
deixará registrado seu trabalho em discos, sendo ainda um dos poucos violonistas do
período a se manter no repertório.
Com esses nomes, o violão atingirá a maturidade necessária para o início de seu
desenvolvimento em princípios do novo século, sendo beneficiado pela era das
gravações e pelo ambiente musical do choro, no Rio de Janeiro, e das serestas, em São
Paulo.
I.3 – O ambiente violonístico em São Paulo – 1900/1930
No primeiro decênio do século vinte, entre 1903 e 1908, o violonista cubano Gil
Orosco leciona na capital paulista, sendo um dos mais antigos violonistas estrangeiros a
passar pela cidade. Em 1904 Orosco realiza um recital no Teatro Santana, apresentando
“obras clássicas, zarzuelas espanholas e uma Fantasia Original, de sua própria
autoria”19.
19
VIOLÃO E MESTRES, São Paulo, ano II, n.º 07 p. 25.
Já na década seguinte, em 13 de julho de 1911 o guitarrista espanhol Manuel
Gomes, "recém-chegado a esta capital"20, apresenta um recital aos representantes da
imprensa, na Casa Bevilacqua. A crítica assim se refere ao recital21:
“É, com efeito, um artista de valor o violonista espanhol Manuel Gomes, que
ontem à noite, no salão da Casa Bevilacqua, ofereceu uma audição aos representantes da
imprensa.
“Na música pura como nas mais ligeiras composições o instrumento, nas mãos
do Sr. Manuel Gomes, é de uma docilidade veludosa e as suas notas espalham-se pelo
ambiente com uma limpidez de cristal.
“No tango americano e nas jotas aragonezas o executante soube graduar as
vibrações, dando-nos efeitos imprevistos, reduzindo-os a uma expressão quase
imperceptível.
“O auditório premiou com calorosas palmas todos os números executados.
“O sr. Manuel Gomes deve-se apresentar ao público por estes dias”.
O primeiro recital aberto ao público acontece no dia 14 de agosto, no Salão
Nobre do Centro Espanhol. A crítica no dia seguinte escreve que o salão estava “repleto
de exmas. Famílias e cavalheiros que com entusiasmo aplaudiram o Sr. Gomes, que
executou com perícia”. O programa apresentou as seguintes peças:
Primeira Parte:
- Julian Arcas: Aires Andaluzas
a) Petenera; b) Granadina; c) Malaguenha
- Veiga: Gallegada
- Verdi: Miserere “do Trovador”
-
:Sítio de Bilbao
- Gomes: Serenata
Segunda Parte:
- Vinhas: Fantasia Brilhante
20
“Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 37, coluna Artes e Artistas, 13 de julho de 1911, p.
06.
21
“Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 37, coluna Artes e Artistas, 14 de julho de 1911,
p.05.
- Damas: Tango Americano
- Arcas: Bolero
Gran Jota
As obras demonstram uma formação erudita-popular do violonista, com tendências
a uma música de inspiração popular espanhola, como as de Vinhas e Damas. Julian
Arcas por sua vez teria sido o principal violonista espanhol do período anterior a
Francisco Tárrega, de quem é provável a autoria da última música apresentada, a Gran
Jota, cuja execução seria realizada muitas outras vezes no Brasil por outros violonistas,
assim como a transcrição do Miserere da ópera Trovatore, de Verdi, que também
figurou no programa.
Este será o único violonista a aparecer na época em São Paulo com a divulgação
da imprensa. Manuel Gomes não figura no Diccionario de Guitarristas, de Domingo
Prat, nem em outros dicionários posteriores, o que dificulta a obtenção de dados
expressivos para sua biografia.
Já em 1914, no dia 22 de fevereiro, o violonista e luthier Francisco Pistoresi,
realiza recital de violão apresentando um instrumento de seu invento denominado
diamenofone, no qual se flagra um aberto ataque de preconceito ao violão. O jornal O
Estado de São Paulo escreve22:
“Com seleta assistência, composta de representantes da imprensa, artistas e
professores, realizou-se ontem, no salão nobre do Conservatório, a experiência do
interessante invento do Sr. Francisco Pistoresi. Esse invento consiste num pequeno
aparelho, muito simples, destinado a ser aplicado a todos os instrumentos de corda,
tanto de arco como de teclado para a produção de nota contínua ou prolongada.
“Ouvimos a execução de um pequeno repertório ao violoncelo e ao violão, sobre
os quais está aplicado o referido aparelho, e a impressão que nos causou foi excelente.
O violoncelo executado sem arco, com perfeição emitia notas muito agradáveis e de
grande intensidade.
“O violão, que atualmente é um instrumento vulgar e, por isso, sem valor, por
intermédio desse aparelho fica completamente transformado e adquire uma dignidade
superior.
22
“Um interessante invento”. O Estado de S.Paulo, ano 40, coluna Artes e Artistas, 22 de fevereiro de
1914, p. 03.
“Tal instrumento, executado com a nota contínua, assemelha-se perfeitamente a
um poderoso orgão ou harmônio.
“Estas são as aplicações atuais e iniciais do invento. Porém onde ele produzirá
melhor resultado será no piano e na harpa, conforme pretende fazer mais tarde o
inventor.
“A audição a que assistimos convenceu-nos completamente do grande valor
artístico do invento e do brilhante futuro que lhe está reservado.
“Consideramos, somente pelo que tivemos ocasião de ouvir, que a arte musical
ficará transformada com esse invento.
“Foi o seguinte o programa a que obedeceu a audição:
- C. Gounod: Ave-Maria
- R. Schumann: Traumerei
- E. Dunkler: Reverie
- G. B. Pergolesi: Sicilienne
- A. Stradella: Preghiera
“Para finalizar a experiência, o sr. Francisco Pistoresi executou ao violão a
Traumerei de Schumann, tendo sido acompanhado ao violoncelo pelo professor
Simoncelli.
“Enfim, tratando-se de um invento muito recente é impossível dizer-se desde já,
em uma simples notícia, as vantagens de suas aplicações”.
Os termos utilizados para o violão, como sendo "vulgar, e por isso sem valor",
demonstram como ele é visto por pelo menos uma parte da sociedade. Mas Alfredo
Pistoresi apresenta em julho do mesmo ano seu invento para o público, com divulgação
da imprensa, antes de tentar seu sucesso na Europa. Sobre a audição escreve o jornal O
Estado de São Paulo23:
“Conservatório Dramático e Musical - Amanhã, no salão deste estabelecimento
realiza-se um concerto em que será posto à prova um invento do fabricante de
instrumentos de música, sr. Alfredo Pistoresi.
“Trata-se de dar a dois instrumentos de corda o som contínuo, coisa até hoje
desconhecida. Pelo invento do sr. Pistoresi, esses dois instrumentos produzirão em
23
“Concerto”. O Estado de S. Paulo, ano 40, coluna Artes e Artistas, 04 de julho de 1914, p. 05.
força, sonoridade, harmonia e intensidade, uma riqueza musical que dez instrumentos
juntos não produziriam.
“O sr. Pistoresi vai partir para a Europa, a fim de apresentar o seu invento, que
se chama ‘Diamenofone’ ao Centro Musical de Milão.
“No concerto de amanhã, às 20 horas, será observado o seguinte programa:
Primeira Parte
- Godard: Berceuse de Jocelin
- Schumann: Traumerei
- Gounod: Ave Maria
- M. Giuliani: Gavotta (solo para guitarra)
- Becker: Scherzo
Segunda Parte
- Rossini: Stabat Mater (cujus animan)
- Handel: Largo Celebre
- Boccherini: Minuetto
- Dunkler: L'Absence
- Wagner: Tannhauser – Marcha
“Tomam parte nesta audição os srs. Professores Savério R. Simoncelli e Floriano
Steffan.
“Os bilhetes acham-se à venda em todas as casas de música”.
É a última notícia sobre o diamenofone, que pelo visto não alcançaria a
pretensão desejada por Pistoresi.
Em 5 de fevereiro de 1915, Affonso Arinos realiza uma conferência na
Sociedade Cultura Artística em São Paulo, com o título Lendas e Tradições Brasileiras.
É quando aparece em São Paulo um conjunto de nome Grupo de Caxangá, embrião de
um seminal grupo de choro posteriormente denominado Os Oito Batutas, que tinha em
sua liderança o violonista pernambucano João Teixeira Guimarães, residente no Rio de
Janeiro, com nome artístico de João Pernambuco.
Affonso Arinos continua suas conferências acompanhadas de sarau na mesma
Sociedade de Cultura Artística, versando ora sobre “O Rio S. Francisco e suas lendas”,
ora sobre “A Serra das Esmeraldas”, ou ainda sobre “As principais bandeiras”. Nesta
ocasião o poeta e cantor Catullo da Paixão Cearense cantaria "várias trovas populares",
acompanhando-se ele mesmo ao violão.
Ainda em 1915, no início de março ocorre o recital do guitarrista (guitarra
portuguesa) Martinho Gouveia de Vasconcellos, que se fez acompanhar pelo jovem
violonista Oswaldo Soares, futuro aluno da espanhola Josefina Robledo e
correspondente paulista da revista carioca A Voz do Violão, que circularia entre 1929 e
1930. Soares executa como peça solo o Capricho Árabe, de Tárrega.
Deste momento até o fim da década de vinte, São Paulo verá a passagem dos três
principais nomes que ajudaram no desenvolvimento do violão como instrumento solista
no Brasil, sendo eles o paraguaio Agustín Barrios, a espanhola Josefina Robledo e o
paulistano Américo Jacomino, os quais, pela importância, serão tratados em itens
separados.
Já em 1920, no dia 20 de novembro, em Campinas ocorre um recital do
violonista Jorge Aleman Moreira e seu filho Oscar Marcello Aleman, de nove anos de
idade. A notícia também é única, sem programa.
Em 14 de fevereiro de 1921 o violonista Benedicto Soares Capelo apresenta-se
na redação da revista A Cigarra, com um interessante programa que consiste nas
seguintes peças:
Primeira Parte
- Napoleão Coste: Estudo em lá maior
- Emílio Pujol: Canção do Berço
- H. Montey: Valsa de Concerto
- Mendelssohn: Romanza sem Palavras, arranjo de Tárrega
Segunda Parte
- Verdi: Miserere da ópera Trovador
- Beethoven: Adagio da Sonata Patética, arranjo de Tárrega
- Chopin: Noturno n.º 2 op. 9, arranjo de Tárrega
Não foram encontradas maiores informações sobre este violonista.
Pelo
programa podemos perceber que ele talvez tivesse mantido contato com Josefina
Robledo, tal a quantidade de arranjos de Tárrega, além da peça de Emílio Pujol, também
interpretada pela violonista espanhola quando de seus recitais em São Paulo.
Poucos dias depois, na Folha da Noite de 19 de fevereiro aparece a notícia de
que no salão do Correio Paulistano haverá uma audição dos Oito Batutas, com a
observação de que o grupo estaria sendo “dirigido pelo violonista Américo Jacomino”.
É a única informação encontrada deste evento, pouco divulgado entre artigos sobre
Jacomino e os Batutas.
O ano de 1922 é pouco produtivo para o violão em São Paulo. Apenas em
novembro novamente João Pernambuco aparece na capital paulista, desta vez com um
novo grupo, os Turunas Pernambucanos. Assim escreve o Jornal O Estado de São
Paulo de 14 de novembro de 192224:
"O apreciado folclorista Cornélio Pires, que acaba de realizar no Rio, com
sucesso, a ‘Semana sertaneja’, acha-se de novo nesta capital, onde organizou, com o
concurso dos Turunas Pernambucanos, uma série de festas nacionalistas intituladas
‘Noites Sertanejas’.
“A primeira dessas festas, a que está destinado, sem dúvida alguma, merecido
êxito, será no dia 18 do corrente, no Teatro Brasil, que se vai seguramente encher de
uma assistência elegante e distinta.
“Fazem parte do grupo dos Turunas: Pernambuco (Violão); Piquá (chocalho);
Jararaca (violão e cantos sertanejos característicos); Sapequinha (cavaquinho); Caxangá
(violão); Cobrinha (pandeiro); Pirajá (réco-réco) e Ratinho (saxophone).
“Cornélio Pires falará sobre: Caipiras; sua educação, resistência, desconfiança e
docilidade; casos jocosos de sua simplicidade; presença de espírito; vida roceira.
“Intercalados nas pilhérias, estes números dos Turunas: I - Vamos pra Caxangá
(choro do Norte); II - Passarinho Verde (toada do sertão); III - Sambinha de viola; IV A espingarda (canto sertanejo); V - Bamo simbor Maria (canção sertaneja); VI Variações de saxofone, pelo Ratinho.
“Como se vê, o programa de estréia é magnífico.
“Sexta-feira será oferecida uma audição à imprensa”.
24
Noites Sertanejas. O Estado de S. Paulo, ano 48, col. A Sociedade, 14 de novembro de 1922, p.4.
No mesmo ano, dia 17 de novembro o jornal publica artigo com os verdadeiros
nomes dos Turunas, sendo eles Severino Rangel (Ratinho), João Teixeira Guimarães
(Pernambuco), José Calazans (Jararaca), Cypiano Silva (Pirana), Robinson, Florêncio
(Sapequinha), Aldemaro Adour (Cobrinha), Abrantes Pinheiro (Jandaia) e José Villela
(Cariry). A crítica do dia 19 é bastante favorável, tendo obtido o teatro boa assistência,
o mesmo ocorrendo nos dias dos recitais seguintes (entre 20 de novembro e 1 de
dezembro), no Teatro Brasil, Teatro Municipal (por ocasião da “Tarde da Criança” em
benefício do “Asilo da Sagrada Família”), Cine-Teatro República e Teatro São Pedro.
Já em 15 de dezembro o jornal O Estado de São Paulo anuncia a audição à
imprensa da “Troupe Regional dos Oito Turunas Paulistas” no salão nobre do Correio
Paulistano, o que ajuda a demonstrar a grande rapidez com que os sucessos eram
assimilados.
Passando para 1924, a primeira notícia de apresentação de um violonista
acontece em 29 de abril, na conferência mensal da Associação dos Ex-alunos
Salesianos, com o professor Leopoldo Silva tocando a Fantasia sobre temas do
Guarani, de Carlos Gomes, peça gravada por Jacomino e constantemente apresentada
em público.
Enquanto isto, inaugura-se no Parque D. Pedro I o Palácio da Agricultura e da
Indústria, que seria a futura sede da Rádio Bandeirantes, e a Sociedade Rádio
Educadora dirige uma circular a todas as Câmaras Municipais do interior, solicitando
apoio para o desenvolvimento da Radio-Telefonia em São Paulo, "com intuitos
meramente educativos"
25
.
Instalavam-se também microfones para a irradiação de
recitais como o da pianista Magdalena Tagliaferro. Os primeiros lugares a serem
contemplados foram o Teatro Municipal de São Paulo, o Teatro Santana e o Salão do
Conservatório Dramático e Musical.
As irradiações ocorriam às terças, quintas e
sábados, das 21 horas em diante.
Em 15 de maio do mesmo ano, no Salão do Conservatório Dramático e Musical
o violonista Domingos Anastácio da Silva realiza um interessante recital, com peças
originais e de outros autores, cumprindo o seguinte programa:
Primeira Parte
-Francisco Manoel da Silva: Hino Nacional
25
4.
Sociedade Rádio Educadora Paulista. O Estado de S.Paulo, São Paulo, ano 50, 09 de maio de 1924, p.
- Verdi: Miserere da ópera Trovador
-Domingos da Silva: Fantasia da Solidão
-Domingos da Silva: Noite de Estrelas
- J. Machado: Tempestade (tarantela)
-Domingos Silva: Valsa
Segunda Parte
- Levino Conceição: Alvorada
- Carlos Gomes: Fantasia do Guarani
- Domingos Silva: Alice
- Domingos Silva: Eu Quero Ver
- Domingos Silva: Combate Irresistível
- Barrios: Bicho Feio
É interessante notar que novamente a Fantasia do Guarani estava presente, além
de uma peça do violonista cego Levino Albano da Conceição e a música Bicho Feio, de
Barrios, número infelizmente perdido e jamais publicado.
O mesmo Domingos Anastácio da Silva se apresenta em Campinas em 24 de
setembro, sendo chamado pela Gazeta de Campinas de “verdadeiro rival de Barrios”:
Primeira Parte
- Francisco Manoel da Silva: Hino Nacional
- Domingos A. Silva: Amor Eterno (polca)
- S. Machado: Bolero (Sonhando)
-
Noite de Estrelas (valsa) – dedicada á exímia escritora gaúcha, mme.
Andradina de Oliveira.
- S. Machado: Tempestade (tarantela)
- Domingos A. Silva: Eu quero Ver (tango) – (a execução é feita com o violão nas
costas)
Segunda parte
- Levino Albano: Alvorada Brilhante –– marcha com variações e funções harmoniosas
- Giuseppe Verdi: Miserere, da ópera Trovador
- Carlos Gomes: Fantasia, da ópera O Guarani
- Domingos A. Silva: Marina Correa (valsa) –– dedicada à menina Marina Correa
Lino
- Barrios: Bicho Feio (tango)
- Domingos A. da Silva: Combate Irresistível (dobrado) - Grande sucesso em São
Paulo e Rio de Janeiro, com imitação de descargas de fuzil e metralha, troar de canhão,
toque de cornetas e rufos de tambores.
Na crítica do dia seguinte, o mesmo jornal escreve que “o programa organizado
teve bom desempenho, tendo o professor Domingos Anastácio recebido grande salva de
palmas”26.
O ano de 1925 começa com Aristodemo Pistoresi (filho de Francisco Pistoresi)
se apresentando no dia 2 de janeiro, sendo este o primeiro concerto de violão erudito
transmitido pela Rádio em São Paulo. Infelizmente não é publicado o programa desta
apresentação. Em 20 de fevereiro Pistoresi toca a Marietta e Recuerdos de Alhambra,
de Tárrega, e um Noturno de Chopin, na União Católica Santo Agostinho, sendo talvez
algumas das mesmas músicas apresentadas no rádio no mês anterior.
Na Rádio Club, no dia 19 de maio do mesmo ano, o violonista Francisco Lerosa
apresenta a Tarantela de Levino Albano.
Canhoto dá novamente um sarau no
Conservatório Dramático, desta vez com a participação de Roque Ricciardi e Santino
Gianatasio, com acompanhamento de piano. No final do mês, dia 28, quem aparece
para tocar é o violonista João Avelino de Camargo, integrante do trio "Os Três
Sustenidos", executando suas peças Gavotte, Choro Paulista e A Lágrima, no salão
nobre da União Católica Santo Agostinho. O mesmo violonista se apresenta no dia 27
de agosto em outro sarau promovido pela mesma União Católica, apresentando
Recuerdos de Alhambra, de Tárrega, e mais três números extras; e ainda no dia 12 de
outubro com as músicas A Lágrima, de Sagreras, Choro Paulista e Recordação
Saudosa, ambas de sua autoria.
Ainda em 1925, na coluna Notícias Teatrais do jornal O Estado de São Paulo de
3 de junho aparece a notícia de que o jovem Aristodemo Pistoresi havia dado uma
audição à imprensa no salão do Correio Paulistano, executando peças de Chopin,
Albeniz, Tárrega, Paderewsky, Mendelssohn, Schumman e Barrios. Foi a prévia de seu
concerto do dia 10, que seria irradiado pela Sociedade Rádio Educadora Paulista. A
26
“Concerto de Violão”. Gazeta de Campinas, ano 23, 25 de setembro de 1924, coluna Artes e Artistas,
p.1.
crítica é boa, afirmando que "a assistência foi escolhida e avultada, aplaudindo
calorosamente o distinto artista que na execução do bem escolhido programa confirmou
o conceito que merecera na sua exibição à imprensa, mostrando-se possuidor de boa
escola e dotado de fino temperamento. Ao seu domínio do instrumento corresponde
bem a sua versatilidade de interpretação, o que o faz, atualmente, um artista digno de
atenção, prometendo ainda melhores e maiores realizações para o futuro”27.
Dia 27 de novembro novamente Aristodemo Pistoresi apresenta uma parte de
violão em outro recital promovido pela Associação de ex-alunos Salesianos, situada na
Alameda Nothmann. O violonista toca Mathilde (mazurca), de C. Garcia; Adágio, de
Beethoven; Sonho, de Tárrega; Canção do Berço, de Pujol; Tua Imagem, de Barrios;
Ontem ao Luar, de Alcântara; Granada, de Albeniz; Miserere da ópera Trovador, de
Verdi; Noturno op. 9 n.º 2, de Chopin; e Capricho Árabe, de Tárrega.
Este concerto não é irradiado, mas Pistoresi, "conhecido artista paulistano, filho
de conhecido industrial, fabricante de instrumentos de cordas"28, acompanha os recitais
do violonista paraguaio Pablo Escobar no salão do Conservatório Dramático e Musical,
em 14 de dezembro. As poucas notícias existentes sobre o violonista falam que Pablo
Escobar Cáceres havia nascido em 22 de junho de 1900 em San Jose de los Arroyos,
mudando-se para Assunção para estudar violão e solfejo no Instituto Paraguaio, sendo
orientado por Dionísio Basualdo.
O violonista apresentou-se como solista no ato
artístico “La Peregrinacioón de Caacupé”, organizado pelo irmão de Agustín Barrios,
Martin.
Apresentou-se também com sucesso no Salão da Sociedade Italiana em
Assunção, partindo em seguida para a apresentação em São Paulo.
A notícia sobre o recital do Conservatório será publicada desta forma no Estado
de São Paulo29:
"São Paulo conta inúmeros apreciadores de violão. Por isso é natural que, hoje à
noite, a sala do Conservatório Dramático e Musical reúna um público numeroso. É que
ali se realizará, como temos anunciado, o concerto do violonista paraguaio sr. Pablo
Escobar, com o gracioso concurso do sr. Aristodemo Pistoresi, um dos mais distintos
artistas de violão em nossa capital.
27
“Festival do Violonista Aristodemo Pistoresi”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 51, coluna Palcos
e Circos, 11 de junho de 1925, p. 6.
28
“Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 51, coluna Artes e Artistas, 14 de
dezembro de 1925, p. 3.
29
“Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, ano 51, Coluna Artes e Artistas, 16 de
dezembro de 1925, p. 2.
“Essa hora de arte despertou desde logo muitas simpatias, pois o artista que
agora nos visita veio em companhia dos escoteiros paraguaios e, nas festas oferecidas
àqueles rapazes, teve oportunidade de se fazer ouvir, recebendo justos aplausos. O
programa desta noite, carinhosamente escolhido, conta uma linda composição do
violonista paraguaio.
Primeira Parte
- Dr. Pinho: Marcha Paraguaia
- Iparraguirre: El Huerfano
- Escobar: Recuerdos de Zavala
- Barrios: Jha! Che Valle
Segunda Parte
- Barrios: Madrigal
- Garcia: Meditation
- Tarrega: Capricho Árabe
- Barrios: Valsa n.º 4
Terceira Parte
Dois violões, pelos srs. Pablo Escobar e Aristodemo Pistoresi.
- Garcia: Mathilde
- Alcântara: Ontem ao Luar
- Sinópoli: Vidalita
- Tárrega: Recuerdos de Alhambra”
A crítica do dia seguinte será bastante favorável ao concerto, irradiado nesta
ocasião pela Sociedade Rádio Educadora Paulista. Escobar ainda tocará alguns números
na rádio em 15 de dezembro, em especial peças de seu conterrâneo Agustín Barrios, e
um recital no salão do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo no dia seguinte,
tocando a Marcha Paraguaia, El Huerfano e Recuerdos de Zavala, de sua autoria, Jha!
Che Valle e Madrigal, de Barrios, Meditation, de Garcia, Capricho Árabe, de Tarrega e
Valsa n.º 4, de Barrios. Foi o último grande acontecimento violonístico do ano de 1925.
Uma interessante notícia será a da apresentação de João Pernambuco
acompanhando o poeta Catullo da Paixão Cearense, no Teatro Apollo.
Os dois
acabariam anos depois envolvendo-se numa disputa histórica por causa da canção Luar
do Sertão, terminando na justiça para provar de quem era a música, persistindo até hoje
uma polêmica quanto ao assunto.
Em 1926, no final do ano, quem mais se apresenta ao violão é Francisco Larosa
Sobrinho, tocando em dezembro nos dias 4, 11, 18 e 25, em geral, peças de sua própria
autoria.
Já em 1927, no dia 5 de março, no salão da SREP apresenta-se o Grupo dos
Turunas, formado por João de Lucca, Juca, Carlos Fernandes, Moacyr Pini, José e Zeca,
composto de violinos, violões, cavaquinho e clarinete.
No mesmo programa,
Dormeville de Camargo, Luiz Buono e Aristodemo Pistoresi, este tocando a Vidalita, de
Sinópoli, El Huerfano, de Pistoresi, Miserere da ópera Travador, de Verdi (arranjo de
Sagreras) e Capricho Árabe, de Tárrega. Estes violonistas começam cada vez mais a
aparecer em apresentações pela capital, em geral no rádio.
Outro violonista a se apresentar é Benedito Chaves, com o seguinte programa
para a Sociedade Rádio Educadora Paulista:
- E. Campos: Ave-Maria
- Firpo: Sentimento Crioulo - tango
- Chaves: Marcha Militar
- Cachafaz: Tango
- Chaves: Lágrimas de mãe - valsa
Madrugando - maxixe
- Toselli: Rimpianto - serenata
Na rádio em 2 de abril de 1927 apresenta-se o violonista Antônio Giacomino que nenhum parentesco possui com Canhoto - tocando a Canção do Berço, de Pujol;
Reverie, de Schumann; e Uma Lágrima, de Sagreras. No mesmo dia, Dormeville de
Camargo e Luiz Buono, este tocando Abismo de Rosas, Cateretê Paulista e Gavotta.
Dia 10 do mesmo mês estréiam no Teatro Apollo, na capital, os Turunas da
Mauricéia, tendo entre seus integrantes o cantor Augusto Calheiros e o violonista
Manuel Lima "Manuelito", ambos premiados no concurso O que é Nosso, do Rio de
Janeiro.
No ano de 1928, a Congregação Mariana de Santa Efigênia realiza em 12 de
fevereiro uma apresentação em que participa o violonista João Avelino de Camargo,
que integra o primeiro trio de violões de São Paulo, chamado Trio Os Três Sustenidos.
No programa o violonista apresenta as peças Organito de la Tarde, Edith (gavota) e
Lágrima (Garpar Sagreras).
A próxima notícia importante para o meio violonístico em 1928 será a
apresentação do argentino Juan M. Rodrigues no salão do Conservatório Dramático e
Musical, em 24 de outubro. O programa consta das seguintes peças:
Primeira Parte
- F. Sor: Allegretto de la Sonata op. 22
Gran Andante em lá maior
Cantabile
Andantino
Minueto (andante expressivo)
Segunda Parte
- J. A Rodrigues: Esitylo Classico
Coral del Norte
Chacarera (Gota de Água)
- Souto Rodrigues: Maxixe
- J. A Rodrigues: Minuet Federal (Época de Rosas, 1840)
Terceira Parte
- Porcel: Solitário (Mazurca Bouquet de Salão)
Canção de Hilanderas (Serenata Mexicana)
Danza Oriental (Valle de las Odaliscas)
Divertissement op. 16
Célebre Minueto (Allegro Cantabile)
O jornal O Estado de São Paulo assim se manifestaria30:
"Realizou-se ontem, às 21 horas, no salão do Conservatório, o concerto de violão
do notável artista argentino sr. Juan A. Rodrigues. O programa organizado para esse
recital incluía diversas peças clássicas, que tiveram magnífica interpretação por parte do
30
2.
“Juan A Rodrigues”. O Estado de S. Paulo, ano 54, Coluna Artes e Artistas, 25 de outubro de 1928, p.
distinto violonista, tendo o público seleto que acorreu ao recital aplaudido
calorosamente todos os números do programa.
“Foram especialmente apreciados, ademais, o Coral del Norte, de autoria do
concertista, e o Maxixe, de Eduardo Souto".
Juan Rodrigues volta a se apresentar no Teatro Santa Helena em 17 de
novembro, enquanto Benedito Chaves se apresenta em 23 do mesmo mês, tocando entre
outros compositores Chopin e Carlos Gomes.
Até 1930 ocorrem recitais esparsos de violão, como em 20 de abril de 1929,
quando o trio Os Três Sustenidos, formado por João Avelino de Camargo, José Martins
de Mello e Theotonio Corrêa se apresentam no salão do Conservatório Dramático e
Musical de São Paulo. No mesmo dia Carlos Alberto Collet e Silva se apresenta na
sede da Congregação Mariana, interpretando o Capricho Árabe e Recuerdos de
Alhambra, de Tárrega; uma Valsa de Chopin; e o Miserere da ópera Trovador, de
Verdi. Juan Rodrigues volta a se apresentar em 16 de maio de 1929 no Teatro Apollo,
sem crítica impressa.
Um grande evento ocorre em 15 e 22 de junho de 1929, quando o então jovem
violonista Regino Sainz de la Maza se apresenta no Teatro Municipal. Será mais um
dos virtuoses a se apresentar no Brasil, contribuindo para a consolidação do instrumento
na cidade e no país. La Maza nasceu em Burgos, em 7 de setembro de 1897, iniciandose ao violão em 1910. Radicou-se na Argentina em 1913, retornando a Madrid para
estudar com Daniel Fortea. Em 1939 o compositor Joaquin Rodrigo lhe dedicaria o
conhecido Concierto de Aranjuez, tendo o mesmo violonista sido dedicatário de outra
importante obra para violão nos anos 30, a Sonata, de Antonio José.
Assim se manifesta o jornal O Estado de São Paulo, quando de seu primeiro
concerto na capital paulista31:
"A Espanha criou uma verdadeira escola de violão que tem elevado esse
instrumento, em verdade pobre, a ponto de formar verdadeiros ‘virtuosi’ de concerto.
Entre eles ocupa lugar de destaque o sr. Sainz de la Maza.
“Quem o ouvisse ontem, no Municipal, conpreenderia facilmente a razão desse
prestígio.
31
Sainz de la Maza. O Estado de S. Paulo, ano 55, Coluna Artes e Artistas, 16 de junho de 1929, p. 4.
“O grande violonista espanhol é realmente, no seu gênero, um artista notável.
Reúne a uma técnica que se afigura inexcedível, uma bela sonoridade, raro senso de
ritmo e grande musicalidade.
“O programa de ontem, muito bem organizado, teve execução admirável. Sainz
de la Maza que interpretou a Bourrée, de Bach, numa linha impecável, foi vibrante e
característico no esplêndido choro (sic) de Villa-Lobos, bem como no Fandanguillo, de
Turina, e no Vito e Zambra, de sua autoria.
“O sr. Sainz de la Maza dará o seu segundo concerto na próxima quinta-feira e
terá necessariamente numeroso público a aplaudi-lo”.
Sainz de La Maza aproveitaria sua passagem pelo Brasil para gravar no dia 26
de junho 3 discos pela Odeon, compreendendo os números 10431 (El Vito e Mazurca),
10432 (Motivo Andaluz e Scherzo Gavota) e 10433 (Reverie, de Tárrega e Boureé, de
Bach), sendo todos lançados no mês de agosto do mesmo ano.
Outro evento será o recital dos alaudistas do Quarteto Aguilar, formado pelos
irmãos Ezequiel, José, Elisa e Francisco. Infelizmente não é publicado o programa do
concerto, nem matéria específica, como ocorre em 1933 quando da volta do quarteto em
São Paulo em crítica de Mário de Andrade32.
Não foi publicado no Estado de São Paulo o programa de despedida de Barrios,
realizado em 25 de outubro.
Duas notícias aparecem na Gazeta de São Paulo de 2 e 6 de setembro, sobre a
música regionalista:
“Música Regional Brasileira. Dentro de alguns dias ouviremos em São Paulo um
excelente grupo de músicos regionalistas, entende-se especializados nesse gênero,
porém, constituídos de distintos moços da sociedade carioca. São eles os srs. Renato
Murce (foto), cantor e diretor do grupo; Oswaldo Lopes, violão; Mozart Bicalho, canto
e violão; Francisco Netto, bandolim; e Arlindo Vasquez, violão.
“A música regional brasileira, como dissemos, é o gênero a que se dedicam e no
qual se têm feito ouvir com apreciável êxito no Rio de Janeiro. Canções do norte e do
sul, sambas, choros e toda a sorte de tipos da nossa música constituem o seu repertório,
32
Diário de S. Paulo, São Paulo, 2 de julho de 1933.
e dão-nos, dentro desse feitio, audições que tanto primam pela sua legitimidade como
pela sua corretíssima execução.
“Música Regional Brasileira. Conforme noticiamos realizar-se-á no próximo dia
16, no Teatro Municipal, uma audição de música regional brasileira, a cargo de um
grupo de amadores cariocas, pertencentes à sociedade do Rio e que vêm precedidos das
melhores referências da imprensa daquela Capital.
“Trata-se de Renato Murce (canto), Oswaldo Lopes (violão), Mozart Bicalho
(violão e canto), Francisco Netto (bandolim) e Arlindo Vasquez (violão), todos
amadores cheios de entusiasmo e cujo principal escopo é fazer a propaganda da nossa
música, visando colocá-la no plano que, de justiça, lhe compete.
“Os recitalistas destinarão parte da renda líquida à Cruz Azul.
“Renato Murce e seus companheiros darão uma audição à imprensa, no próximo
dia 14, no salão do Correio Paulistano.
“Chamamos a atenção dos nossos leitores para o interessante espetáculo do dia
16, do qual oportunamente publicaremos detalhes”.
Quando da publicação do programa, observamos que Mozart Bicalho interpretou
suas peças Uma Festa em Itambé, Sonhos de Nazareth, A Cabrocha do Fundão (toada
sertaneja), Dança das Pulgas (imitação de quadrilha na roça), Desafio de Bacatuba e
Sabiá (Catullo) e Divagações (valsa).
Em 1930 os violonistas que mais se apresentam são os do trio Os Três
Sustenidos, mas jovens violonistas começam a despontar, como Rogério Guimarães e
Diogo Piazza. O violonista Garoto inicia suas apresentações, como na Rádio Sociedade
Record em 16 de maio, quando, juntamente com Armandinho, acompanha o flautista
Canário. Aristodemo Pistoresi também apresenta recitais esporádicos como em 11 de
setembro, em que toca Canção dos Alpes, de Sinópoli, Astúrias, de Albeniz, Adágio, da
Sonata Patética, de Beethoven; e Gran Jota Aragoneza de Tárrega, e como o recital
ocorrido na sede do Collegio Stafford em 30 de julho, quando apresenta peças de
Albeniz, Beethoven e Tárrega. Mas o grande violonista a dar um recital será o cego
Levino Albano da Conceição, autor da peça Tarantella, gravada por Barrios e
interpretada por Canhoto e outros violonistas.
A primeira apresentação ocorre para a imprensa no dia 18 de setembro, na sede
do Correio Paulistano.
Outros recitais ocorrem no Teatro Municipal em 5 de
dezembro, com peças de Chopin, Albeniz, Beethoven e do próprio Levino, e no dia 20
do mesmo mês no salão nobre do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento.
No dia 11 de outubro, o jornal A Gazeta de São Paulo publica o seguinte
comunicado:
“Recital de Violão
“Comunicado:
“Está marcado para o próximo dia 25, no Teatro Municipal, o recital de violão
do prof. Levino Albano da Conceição. O festejado violonista patrício é merecedor do
melhor aplauso pelo que tem feito em todos os Estados, tornando conhecidos os grandes
benefícios que aos cegos prestam os institutos existentes no Brasil e que merecem ser
olhados com carinho pelos nossos homens públicos.
“Ocupando um lugar de destaque entre os nossos violonistas, o prof. Levino
deverá ter um grande público a aplaudi-lo, no excelente programa que está organizado.
“E muito justo será todo e qualquer apoio que seja dado ao ‘cego iluminado’,
que pretende muito em breve seguir para a Europa, a fim de se aperfeiçoar na sua arte”.
O recital acaba ocorrendo em 5 de dezembro, com o violonista tocando, entre
outras peças, Grande Fantasia (capricho em sol maior), Tocata em ré maior (estudo n.º
5), Símbolo do Bem, Romance sem Palavras e Grande Estudo em Si menor; ChopinLevino: Marcha Fúnebre op. 35; Albeniz-Segóvia: Legenda; Beethoven-Barrios:
Minuetto; e Levino: Tarantella (estudo n.º 2 em lá menor).
I.4 - Agustin Barrios em São Paulo 1917/1929
Em inícios de abril de 1917 são marcados dois recitais do violonista paraguaio
Agustín Barrios, que já havia realizado dois concertos no Rio de Janeiro, com destaque.
A audição à imprensa acontece no salão do Correio Paulistano, e é documentada em
jornal33: “Iremos ouvi-lo e estamos certos de que, da anunciada audição, só excelente
impressão haveremos de colher, tanto mais por se tratar de um artista, cujo nome está de
há muito consagrado por toda a imprensa sul-americana”.
A crítica publicada é de interesse por vários motivos. Primeiramente por se
tratar do primeiro recital de um violonista estrangeiro de renome em São Paulo, sendo
33
“Audição de Violão”. O Estado de S.Paulo, ano 43, coluna Artes e Artistas, 26 de abril de 1917.
que o programa realizado refletia um repertório diferenciado do que se fazia na Europa
em termos de violão erudito, a se julgar pelos recitais apresentados pela violonista
espanhola Josefina Robledo, que em breve tocaria na capital. Depois, porque o evento
em si poderia influenciar uma provável ascendência de estudantes de violão em São
Paulo, os quais tinham assistido apenas a Américo Jacomino como solista de destaque
na imprensa.
Agustín Barrios nasce em San Juan Batista de las Missiones, estudando com
Gustavo Sosa Escalada num ambiente isolado de qualquer tradição violonística. Viaja
muito, tendo contato maior justamente com o Brasil, onde conquista muitos amigos e
onde posteriormente se casa com uma carioca.
Assim se refere o jornal O Estado de São Paulo sobre o recital de Barrios no
salão do Correio Paulistano34:
“Realizou-se ontem à noite, numa das salas do Correio Paulistano, a audição de
violão, oferecida à imprensa e mais convidados pelo professor e compositor paraguaio,
sr. Augusto de Barrios (sic).
“Foi observado o seguinte programa:
-Garcia Tolosa: Meditação – Noturno
Marcha Heróica – Giuliani
-Barrios: Recuerdos del Pacífico – valsa de concerto
-Barrios: Tarantela – Souvenir Napolitano
-Barrios: Rapsódia Americana – poemas americanos
-Chopin: Noturno op. 9 n.o. 2
-Barrios: Tango Humorístico – Bicho Feio
-Barrios: Jota Aragonesa – 16 variações
-Francisco Manuel da Silva: Hino Brasileiro.
“Logo na Meditação o auditório compreendeu que tinha na sua frente um
autêntico ‘virtuose’.
“Com efeito, o Noturno de Garcia Tolosa é uma composição com ensanchas a
permitir que um artista consagrado afirme todas as suas aptidões.
34
“Audição de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14001, coluna Artes e Artistas, 27 de abril de
1917, p. 04.
“Barrios executou-o com uma delicadeza de técnica que, ora revelava uma
familiaridade absoluta com o seu instrumento, ora uma interpretação que conferia a todo
esse trabalho as belezas melódicas de que é feito.
“As maiores dificuldades de som o bravo artista as venceu com uma galhardia
que jamais nos foi dado apreciar. À maneira que os valores da escala se multiplicavam,
as ‘mãos preciosas’ do executante, agora mais ágeis e dominadoras, obtinham dos
bordões e das toeiras a soma exata de acuidade e nitidez.
“É um virtuose galhardo fugindo a toda espécie de atordoamento e mantendo
sempre uma execução calma e preciosa.
“Em todo o programa em que, aliás, havia composições em que a técnica se
complica e parece não caber dentro daquelas seis cordas Barrios foi sempre o mesmo
soberano artista, consciente do seu trabalho, que é, com efeito, límpido e impecável.
“Para se aferir do respeito com que o professor paraguaio tem pela sua arte, é
bastante observar a inteligência com que ele interpreta a tarantella Souvenir de um
grande sabor napolitano.
“Qualquer outro artista menos consciencioso teria exagerado a execução. Ele
não. Realizou-a com um escrúpulo inexcedível, esmaltando uma por uma todas as
gradações que, em conjunto, dão a tarantela um caráter vivaz e enternecedor.
“No tango humorístico – Bicho Feio – original do executante, as primas e
segundas estabelecem diálogos, falam, vindo por fim os bordões numa ressonância
sóbria que mais evidencia o fino humor da composição.
“Enfim, a audição rematou com o Hino Brasileiro, esplendidamente executado,
e que todos os assistentes ouviram de pé.
“Barrios, seria desnecessário dizê-lo, foi fartamente aplaudido.
“Bem merecidas as palmas que lhe ofertaram. É realmente, um artista admirável,
no violão”.
O programa apresentado demonstra uma predominância de repertório próprio do
violonista. O noturno Meditação é uma composição de Garcia Tolsa, e não Tolosa,
como foi impresso. O Noturno de Chopin já havia tido uma transcrição de Francisco
Tárrega, bastante divulgada pelos violonistas europeus, assim como as variações sobre a
Jota Aragoneza, que é uma das peças mais executadas por violonistas desse período.
O violonista se apresenta em seguida no Teatro Municipal de São Paulo nos dias
5 e 9 de maio, ainda no ano de 1917, sendo estes os primeiros recitais do gênero no
principal teatro da capital paulista. Em artigo, o jornal O Estado de São Paulo35 escreve
que o violão possui um poder de sonoridade pequeno e a “circunstância agravante de ter
um único timbre” e que “obedecia a uma execução da mais difícil técnica e era tão
aristocrático quanto o violino e o violoncelo, apesar de ser um instrumento melodioso e
com uma “suavidade e uma variedade de sons que falam a alma”. Escreve também
erroneamente que o violão descende do alaúde árabe.
O programa executado por Barrios no Teatro Municipal é bastante diferente do
primeiro:
Primeira Parte
- Giuliani: Marcha Heróica
- Mendelsshon: Chanson du Printemps
- Barrios: Recuerdos del Pacífico – valsa de concerto
- Aguado: Rondó Brilhante
- Tolsa: Meditação
Segunda Parte
- Chopin: Nocturno op. 9 n.º 2
- Verdi /Arcas: La Traviata (fantasia)
- Espinosa: Moraima, capricho mourisco
- Coste: a) Estudo para a mão esquerda
- Barrios: b) Bicho Feio: tango humorístico
Rapsódia Americana, poema popular – idem
Jota Aragoneza (variações) – idem
A crítica mais uma vez é interessante para sabermos como o violão é recebido
nestes primeiros recitais de maior importância36:
“Ontem à noite, no Teatro Municipal, realizou-se o primeiro dos anunciados
concertos do notável violonista paraguaio Agustín de Barrios (sic).
“Pouca gente. Uma verdadeira desolação. E foi pena. Foi pena, porque numa
capital, como a nossa, de quinhentos mil habitantes, muitos dos quais cultivando a
35
Concerto de Violão. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14005, coluna Artes e Artistas, 1 de maio de
1917, p. 02
36
“Concerto de Violão”. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14010, coluna Artes e Artistas, 6 de maio de
1917, p. 03.
música e muitíssimos sabendo apreciá-la até a comoção, havia o direito de esperar, já
não diremos os mil e quinhentos assistentes que no Teatro Solis, do Uruguai, renderam
cativante homenagem ao artista, mais uma parcela numérica que ao menos pudesse
corresponder à importância de S. Paulo como centro de cultura artística.
“Ainda assim, os que assistiram ao concerto do professor paraguaio souberam
resgatar a falta dos que lá não foram, aplaudindo com calor e entusiasmo os números do
programa.
“Barrios foi em todos eles um artista de execução impecável.
Na Marcha
Heróica de Giuliani, Chanson du Printemps, de Mendelssohn; Recuerdos Del Pacifico,
de sua composição no Rondó Brilhante de Aguado; na Meditação de Tolsa e na
Fantasia de Concerto de Arcas, o seu mecanismo é de uma técnica riquíssima, realçada
por uma nitidez sem igual.
“A mão direita de Barrios não tem, como a de todos os executantes o necessário
apoio no instrumento. Ela se desarticula toda, e a maneira que desenvolve a execução,
vê-se que do punho à extremidade dos dedos o exercício do tato obedece ao sentido
rítmico do executante e que é como uma alma recebendo da (sic) do artista todos os
efeitos musicais.
“Claro, brilhante, imprevisto com delicadezas de frase que dão ao seu estilo um
colorido quente, Barrios interessa, entusiasma e comove, consoante o gênero de música
que aparece ao auditório.
“Na segunda parte do programa em que, além do seu tango humorístico Bicho
Feio, bisado por entre acclamações geraes, da Raspódia americana e Jota Aragonesa
havia trechos de Chopin, de Espinosa e um estudo de Corte (sic) para a mão esquerda, o
professor paraguaio evidenciou-se um verdadeiro mestre.
“Essa segunda parte do programa foi talvez a mais interessante e agradável, a
julgar pelo calor das palmas com que a assistência acolheu quase todos os números.
“Em resumo, foi uma verdadeira festa de arte, ontem à noite, no Municipal.
Resta ver se agora no segundo concerto, o público se torna mais acessível e enche o
teatro, como é justo”.
Com relação ao primeiro recital, há interesse em saber que no recital do Uruguai
havia um público de mil e quinhentas pessoas (diferente do recital em São Paulo) ou
saber que o violonista utilizava a técnica “sem apoio”37, que daria sonoridade
diferenciada da técnica “com apoio”, ao contrário da “escola” de Francisco Tárrega
(considerada a mais moderna de então)38. Barrios tem o costume de usar cordas de aço,
ao contrário dos violonistas europeus, que utilizam cordas de tripa. Porém, para abafar
um pouco o som e deixar menos metálico, o violonista coloca pedaços de borracha na
pestana do cavalete39.
O programa do segundo recital de Barrios causa interesse, a começar que o
violonista mais uma vez demonstra possuir um repertório considerável, pois apresenta
um terceiro programa inédito. Desta vez com peças mais variadas, em que se destacam
as árias de óperas, transcrições de compositores consagrados, composições próprias e, o
mais interessante, uma peça de um compositor brasileiro, a Tarantela, de Levino
Albano da Conceição, apresentada sob o título de Souvenir Napolitain. Esta peça será
gravada por Barrios duas vezes, com pequenas alterações entre elas, e será publicada
como sendo de sua autoria. Entre outros violonistas que interpretam a peça estão
também Américo Jacomino.
Barrios fará sua última apresentação no interior de São Paulo, em Campinas, no
dia 8 de 1917. Nesta mesma ocasião uma outra figura importante do meio musical
violonístico estaria para aportar no Brasil, a espanhola Josefina Robledo, discípula
direta daquele que já era considerado o introdutor de uma moderna escola violonística,
Francisco Tárrega. Junto aos recitais de Américo Jacomino e Agustin Barrios, quase ao
mesmo tempo, a presença de Josefina Robledo constituirá o tripé necessário para o
definitivo estabelecimento do violão em nossa sociedade, ainda mais em se tratando de
uma mulher violonista e virtuose, algo absolutamente inédito para o Brasil.
Barrios volta a se apresentar em São Paulo apenas em 1929, numa série de três
recitais noTeatro Municipal de São Paulo. Os programas são os seguintes:
Primeiro Concerto, 13 de outubro de 1929:
I - Barrios: 1- Serenata Mourisca; 2 - La Catedral a) andante religioso; b)
allegro; 3 - madrigal; 4 - Capricho Hespanhol
37
Esta técnica consiste em tocar uma corda do violão repousando o mesmo dedo na corda superior, dando
sonoridade específica e diferente da técnica “sem apoio”, segundo a qual não se apóia o dedo na corda
superior.
38
Tárrega nunca teve uma escola propriamente dita, mas seus ensinamentos foram passados adiante por
seus vários discípulos, notadamente Emílio Pujol, que em 1934 escreveu sua Escola Razonada de la
Guitarra, em 4 volumes, inspirado nos ensinamentos de seu mestre.
39
BARTOLONI, Giácomo. O violão na cidade de São Paulo no período de 1900 a 1950. Dissertação de
mestrado / UNESP. São Paulo, 1995, p. 188.
II - Bach: 5 - Prelude; 6 - Loure
Beethoven: 7 - Minueto
Mozart-Sors: 8 - Tema variado; Chopin: 9 - Noturno
III - Albeniz: 10 - Sevilla
Barrios: 11 - Souvenir d'un rêve; 12 - Harmonias de America; 13 Alvorada Histórica Paraguaia
Segundo Concerto, 18 de outubro de 1929:
I - Barrios: 1 - Confissão; 2 - Mazurca Apassionata; 3 - Valsa n.º 3; 4 - Allegro
Brilhante
II - Bach: 5 - Courante e 6 - Gavotte
Chopin: 7 - Mazurka
Granados: 8 - Danza
Arcas: 9 - Concerto em lá maior
III- A Napoleão: 10 - Romance
Barrios: 11- Cueca Chilena; 12 - Contemplação e 13 - Grande Jota
Aragonesa
Não é publicado no Estado de São Paulo o programa de despedida de Barrios,
realizado em 25 de outubro.
I.5 - Josefina Robledo: Uma mulher violonista no Brasil –
1917/1922
A biografia de Josefina Robledo é ainda hoje pouco conhecida. Segundo o
Diccionario de Guitarristas, de Domingos Pratt, Robledo (Josefina Robledo Gallego)
nasce na capital de Valência, Espanha, em 10 de maio de 1897, estudando com Tárrega
a partir dos 7 anos de idade, terminando em 1909, com a morte do professor. Estuda
harmonia e história da música com Peña Roja, tendo dado seu primeiro recital em 1907.
Em 1914 visita pela primeira vez a América do Sul, com apresentações na Argentina.
Sua fama provavelmente não ultrapassou o tempo pelo fato de a violonista não ter
registrado sua arte em discos, e alguns conhecem seu nome apenas pela partitura da
Sonata n.º 2, de Eduardo Lopes Chavarri, que dedicou a obra à violonista.
Robledo vem ao Brasil acompanhada de seu marido, Fernando Molina (segundo
Pratt, um violoncelista medíocre), após recitais em Montevidéu e Buenos Aires. Como
de praxe, sua primeira audição é um evento fechado à imprensa, no dia 23 de julho de
1917, na “Rotisserie Sportsman”. O jornal O Estado de São Paulo assim descreve o
evento40:
“Trouxemos da audição de ontem à tarde na ‘Rotisserie Sportsman’ uma
impressão excelente.
“A sra. Josefina Robledo é, em verdade, uma artista de talento, uma executante
que reúne a profundos conhecimentos de técnica uma sensibilidade comovente e
encantadora.
“Sóbria no estilo, segura no frasear, tirando das cordas do violão os máximos
efeitos, a sra. Robledo sabe elevar esse rebelde instrumento à categoria dos que, num
concerto público, exercem sobre o auditório a maior impressão de encanto.
“O violão, como aqui já uma vez dissemos, é um instrumento que teve no seu
longínquo passado um grande esplendor. Caiu mais tarde, maltratado pelas mãos
mercenárias de quem lhe não conhecia a estrutura, a alma, nem a capacidade de
produção. Modernamente, começa a reabilitar os seus créditos, já interessa os círculos
artísticos e documenta nos grandes salões as suas qualidades de instrumento
aristocrático. É claro que, para isso, só tendo ao seu serviço, dentro de uma esfera
superior de arte, cultores da envergadura de Tárrega, que é o violonista mais
maravilhoso que há hoje em Espanha, ou Barrios, o professor paraguaio que ainda não
há muito sensibilizou o nosso público ou ainda Josefina Robledo, que ontem à tarde, na
audição especial que ofereceu à imprensa, afirmou exuberantemente as suas altas
qualidades de ‘virtuose’, provando ao mesmo tempo como esse instrumento, dominado
por mãos autorizadas, pode interpretar os grandes clássicos.
“Na audição de ontem, a sra. Josefina Robledo deu-nos uma página romântica de
Chopin, outra de Schumann, interpretando também Beethoven e Bach. Isto bastaria
para lhe pôr em relevo as características da sua técnica. Mas depois interpretou a Jota
Aragonesa e La Mariposa, de Tárrega. Essa última composição é cheia de arpejos, que
Robledo só com a mão direita, os seus cinco dedos em constante movimento, dando-nos
a fina ressonância de um bater de asas nalgum pombal distante.
40
Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14089, coluna Artes e Artistas, 24 de julho de
1917, p. 04.
“Pertencem-lhe essa especialidade de efeitos, e só vendo a artista é que se pode
fazer uma idéia exata da superioridade com que ela os consegue tirar das cordas do seu
instrumento.
“Em Jota Aragoneza a execução de Robledo obedece a um estilo profundamente
sentimental. Sente-se bem através daqueles sons a alma de uma região singular com as
suas canções abeberadas de melancolia, que os dedos da artista e o seu espírito
enamorado traduzem com suavíssima ternura.
“Em resumo, a sra. Robledo é, no violão, uma artista finíssima, que o público vai
apreciar, dentro em breve, num dos nossos primeiros salões.
“Quanto ao sr. Fernando Molina, diremos que é um violoncelista de grandes
recursos, fraseando com sentimento, executando com segurança, evidenciando, enfim,
temperamento e arte”.
A estréia oficial de Robledo acontece no dia 29 de julho de 1917, domingo, no
salão do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. O programa apresenta as
seguintes músicas:
Primeira Parte
Josefina Robledo
- Albeniz: Serenata Espanhola
Waltz – Godard
Trêmolo – Gottschalk
Jota Aragoneza – Tarrega
Segunda Parte
Violoncello e violão – Molina e Robledo
- Squire: Priére
- Pergolese: Nina
- Godard: Sur lê Lac
- Glazounov: Serenata Espanhola
Terceira Parte
Josefina Robledo
- Albeniz: Granada
- Bach: Bourré
- Chopin: Noturno op. 9 n.º 2
- Paganini: Carnaval de Veneza
Analisando o programa, observamos alguma semelhança com o repertório de
Agustín
Barrios como transcrições de peças de autores consagrados (Chopin, Bach), peças
originais de autores contemporâneos (Tárrega) e peças de autores da própria
nacionalidade da artista (Albeniz, no caso de Robledo, em provável transcrição de seu
mestre Francisco Tárrega).
A crítica do dia posterior ao recital, 30 de julho, é também um importante
documento sobre este início de apresentações do violão solo no Brasil41:
“Nesta seção já temos feito várias referências ao excepcional valor da concertista
Josefina Robledo, que ontem deu a sua primeira audição pública de violão, no salão do
Conservatório.
“Foi, por isso, com alguma surpresa que verificamos não corresponder o número
de pessoas presentes ao acontecimento artístico que devia ser, como foi, o concerto de
Josefina Robledo.
Não seria difícil, entretanto, encontrar vários motivos que
explicassem razoavelmente a diminuta concorrência; a maioria deles, porém, escapam à
nossa esfera de ação e interessam apenas ao empresário.
“Há uma circunstância que, de algum modo, justifica a pouca curiosidade do
público pelas execuções de violão. Esse instrumento vulgar muito raramente encontra
quem o eleve da sua condição de simples acompanhador de cantos e danças populares,
para que, fora de seu meio habitual, possa interessar a uma platéia educada. É natural,
pois, certa desconfiança com que se recebem os violonistas, máxime (sic) num
momento em que toda gente hesita diante da mais insignificante despesa...
“Mas Josefina Robledo é um caso de exceção. Nesta admirável ‘virtuose’ reúnese, num conjunto incomparável, uma técnica de escol. Na execução, de uma nitidez fora
do comum, dispõe de recursos assombrosos que lhe asseguram o domínio completo de
seu instrumento e lhe permitem realçar todo o seu talento de intérprete vibrátil e
finamente sensível, mas conscienciosamente e de uma rara probidade artística”.
41
Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14095, coluna Artes e Artistas, 30 de julho de
1917, p. 03.
“O seu concerto de ontem foi um triunfo. O programa prestava-se igualmente à
exibição de técnica e à revelação das suas qualidades de intérprete. Desde o trêmolo de
Gottschalk até o Noturno op. 9 n.º 2 de Chopin e a Bourré de Bach, com escalas pelas
Jotas Aragonezas e outras peças características. Não se pode destacar nenhuma delas,
pois que em todas a sra. Robledo pôde ostentar qualidades extraordinárias.
“Também tomou parte no concerto o sr. Fernando Molina, distinto violoncelista,
de boa escola e de execução correta e sóbria, que se ouve com o máximo prazer.
“Estamos certos de que num segundo concerto o público paulista saberá
corresponder ao extraordinário valor da violonista sra. Josefina Robledo, que é, sem
nenhum favor, uma autêntica notabilidade”.
O segundo concerto de Robledo dá-se no primeiro dia de agosto de 1917.
Novamente para a chamada da apresentação o jornal enaltece o violão como
instrumento de concerto e as qualidades da violonista como uma musicista superior42:
“[...] Também não é possível que o fato de se tratar de um concerto de violão
não despertasse em alguns espíritos o necessário interesse. Diga-se, porém, desde já,
que se os cultores da boa música e os que a amam pelo que ela tem de beleza e bondade
houvessem assistido ao festival de domingo, não sairiam dali menos impressionados e
menos satisfeitos que quando assistiram aos concertos das notabilidades que se têm
apresentado ao nosso público no piano, no violino e no violoncelo”. E continua: “É
preciso insistir neste ponto: o instrumento da sra. Robledo não se parece em coisa
nenhuma com o violão popular, das serenatas e troças, dos bailaricos e ‘assustados’.
Para todas as coisas deste mundo se estabelecem uma hierarquia e não há um só recanto
da vida onde se não possa encontrá-la . No que respeita ao mundo musical bastará dizer
que o ‘virtuosismo’ achou no violão uma alma e conseguiu elevá-la ao nível em que se
acham hoje as dos mais aristocráticos instrumentos. E de como o domínio absoluto
desse instrumento é tanto ou mais difícil que o do piano, violino ou violoncelo, di-lo
eloqüentemente o limitadíssimo número dos seus executantes”.
Com o sucesso alcançado, a Sociedade de Cultura Artística resolve reiniciar suas
reuniões, com outro recital de Robledo e poesias recitadas por Martins Fontes, presentes
em seu livro Verão. No programa, a única novidade é a inclusão de uma das 12 Danças
Espanholas, de Granados, escritas originalmente para piano, além do fato de seu marido
42
Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 43, n.º 14096, coluna Artes e Artistas, 31 de julho de
1917, p. 04.
Francisco Molina ser acompanhado pelo renomado pianista Agostino Cantú, um dos
mais importantes nomes da sociedade musical paulista, sendo professor do
Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e lecionando para, entre outros, Mário
de Andrade e Francisco Mignone. Mas desta vez a assistência é bem mais numerosa, a
ponto de todos os lugares estarem ocupados e muitos sócios terem de ficar de fora da
apresentação, o que ocasiona um novo esquema de limitação de números de entradas
para os não-sócios da Sociedade.
Com a saída de Robledo da capital, após alguns recitais, o paraguaio Agustin
Barrios retorna para outros concertos, inclusive em cidades do interior como Ribeirão
Preto em 8 de outubro de 1917, no Teatro Carlos Gomes, onde apresenta dois recitais
que estavam marcados e mais dois extras a preços populares, dado o sucesso alcançado.
Adiante-se que, no fim de 1917, também Américo Jacomino retorna à capital.
Dois anos depois, em 25 de maio de 1919 Josefina Robledo apresenta o que
inicialmente será seu recital de despedida em São Paulo, pois regressaria para a Espanha
logo em seguida, o que, no entanto, não acontece. A audição se dá no Conservatório e
tem como novidade no programa a apresentação de duas Danças Espanholas, de
Enrique Granados (as de número 10 e 11), e a Canção do Berço, de Emílio Pujol, outro
ex-aluno de Tárrega. Assim se manifestou a crítica43:
“O concerto desta notável violonista, realizado ontem no salão do Conservatório,
teve uma esplêndida concorrência, e deu ensejo a uma entusiástica manifestação do
auditório à simpática artista.
“Devemos a d. Josefina Robledo a primeira audição de 2 peças de Granados, o
ilustre compositor espanhol, cujo nome, já célebre pelas suas produções, ganhou ainda
maior notoriedade pelo desgraçado fim do artista. Como é sabido, Granados em viagem
para Nova York, onde devia dirigir a representação de sua última ópera, Goyescas,
morreu no naufrágio do paquete ‘Sussex’, torpedeado pelos Alemães.
“As suas duas composições que ontem ouvimos foram as Danças Espanholas,
n.º 10 e 11. Ambas muito belas, especialmente a segunda, não só como inspiração mas
também como técnica de composição.
43
Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 45, n.º 14754, coluna Artes e Artistas, 27 de maio de
1919, p. 02.
“O resto do programa, que ontem publicamos, foi executado magistralmente
pela sra. Robledo, que teve no sr. Molina um colaborador eficaz e consciencioso, cuja
parte foi desempenhada com bastante emoção e louvável probidade.
“Não nos parece demais insistir no valor excepcional da sra. Robledo, como
‘virtuose’ do violão, porquanto não vimos ontem no salão do Conservatório muitos dos
nossos ‘habitués’ das audições musicais e só pudemos registrar a presença de limitado
número dos nossos musicistas. O violão, de fato, não é instrumento de concerto que
ordinariamente desperte grande interesse.
Mas, já o dissemos aqui e não nos
cansaremos de repetir, nas mãos da sra. Robledo ele apresenta modalidades tais que o
elevam a uma altura nunca atingida.
De certo muitos dos nossos entendidos em
assuntos musicais sorriram ao ver no programa da sra. Robledo a Bourré de Bach;
outros talvez se indignassem, considerando um sacrilégio. Nem uns, nem outros têm
razão. Se tivessem ouvido a exímia violonista como os que a ouviram ontem, como
estes a teriam aplaudido com o melhor do seu entusiasmo, pois o grande mestre alemão
foi interpretado com o rigoroso respeito e de forma a realçar todas as belezas de sua
música, por meio de recursos técnicos de efeitos surpreendentes no violão. Convém
acrescentar que a sra. Robledo toca em violão autêntico de cordas de tripa e que a sua
execução obedece aos melhores preceitos da técnica do seu instrumento, sem truques,
nem artifícios para impressionar o público.
“Por isso cada concerto é para essa extraordinária violonista um novo triunfo e
para a maior parte dos seus ouvintes uma revelação. Assim foi ontem, tanto que muitos
dos presentes insistiram com os dois simpáticos artistas para que dêem mais uma
audição em S. Paulo.
“Apesar de terem a sua partida marcada, ambos acederam, fixando seu segundo
e verdadeiramente último concerto para o dia 11 de junho, no Conservatório”.
Este "último" concerto ocorre com bastante público e uma grande novidade: a
inclusão da versão para violão solo do Minueto e Gavota da ópera O Contratador de
Diamantes, de Francisco Braga. Esta partitura está, infelizmente, perdida.
Robledo apresenta em seguida recitais no Automóvel Club e na Associação da
Câmara Portuguesa de Comércio, depois ruma para Santos, onde toca no salão do Real
Centro Português no dia 2 de setembro, seguindo para o Rio de Janeiro.
A violonista aparecerá novamente na capital apenas em 1923, para recital no
Conservatório Dramático e Musical. O programa não apresentará nenhuma novidade
em relação a seus recitais anteriores, apesar da violonista não se apresentar mais com
seu esposo Molina. Outra diferença é que os recitais serão agora em duas partes:
Primeira Parte
- Tarrega: Capricho Árabe - Serenata
- Mendelssohn: Romanza n.º 6 e 12
- Tarrega: Dois Estudos
- Albeniz: Granada - Serenata
- Pujol: Canção do Berço
- Tárrega: Sueño - Trêmulo
Segunda Parte
- Albeniz: Cadiz
- Beethoven: Minueto del septimino
- Bach: Loure
- Chopin-Robledo: Vals op. 34 n.º 2
- Chopin: Nocturno op. 9 n.º 2
- Tarrega: Jota Aragoneza
A crítica para este concerto em 1923, no jornal O Estado de São Paulo se
reporta às audições de 191944 "[...] Não se pode afirmar que tenha progredido, nestes
últimos tempos, a sra. Josefina Robledo. Quando se apresentou em São Paulo, a sua
interpretação já era admirável, e insuperável a sua técnica. Ainda hoje, é a mesma
artista completa e inexcedível."
Em fevereiro de 1922, vésperas dos festivais da semana de arte moderna,
enquanto músicos, críticos e público preparam-se para ouvir a música de Villa-Lobos no
Teatro Municipal, Robledo se apresenta novamente no Cine Teatro República, a 1.º de
fevereiro, e no Salão Germânia, no dia 7 do mesmo mês. A principal notícia ocorre no
dia 8 de maio, quando o Estado de São Paulo anuncia que “A notável violonista
Josefina Robledo, que o nosso público tem várias vezes aplaudido como um dos
maiores ‘virtuosi’ do violão, resolveu definitivamente fixar-se em São Paulo, onde se
dedicará também ao ensino do instrumento com o qual tem conquistado tantos triunfos”.
44
Josefina Robledo. O Estado de S. Paulo, ano 49, n.º 16073, coluna Artes e Artistas, 25 de janeiro de
1923, p. 03.
Josefina Robledo, na verdade, muda-se para Mar del Plata logo em seguida,
sendo nomeada no ano seguinte professora do Conservatório Willians, regressando
então para a Europa, onde não se apresentava havia 10 anos.
Molina, o violoncelista casado com Robledo, acaba por impedi-la de se
apresentar. Domingo Prat, expressando certa revolta pela ausência da violonista nos
palcos, assim termina seu verbete a ela dedicado: “O Amor, dominante e egoísta,
privou-a do contato com o público.
Desde esse momento, não tivemos mais
oportunidade de escutá-la. A arte de Robledo era nobre e sóbria; sua execução,
delicada e arrogante, maravilhava o auditório. Dos discípulos que se seguiram ao
maestro Tárrega, ao deixar de pulsar com gema-unha,
vantajosamente quanto essa que nos ocupa.
ninguém se sobressaiu tão
Como compositora, não se conhece
nenhuma obra original publicada. Seu repertório foi eclético, abundante e do melhor,
dominando as transcrições. A dor de perdê-la, vivendo, é muito para quem admirou a
arte de Josefina Robledo, ainda mais havendo chegado à altura dos maiores
instrumentistas que já temos conhecido”.
Capítulo II - Américo Jacomino – 1889/1930
II.1 - Nascimento de Américo Jacomino
Américo Jacomino nasce em São Paulo em 12 de fevereiro de 188945, na Rua do
Carmo, sendo o terceiro filho do casal Crescêncio Jacomino e Vicência46 Gargiula
45
Tomamos como referência as informações de Luís Américo Jacomino, filho de Canhoto, pois, segundo
sua certidão de nascimento, Jacomino teria nascido na Itália e, segundo sua carteira de identidade, no ano
de 1890. Ainda segundo seu atestado de óbito, o violonista teria falecido aos 38 anos de idade, e não aos
39, que seria o correto.
46
Segundo o atestado de óbito de Jacomino, o nome de sua mãe está grafado como Vicenta.
Jacomino, imigrantes vindos de Nápoles na década de 1880. Antes dele teriam nascido,
em Nápoles, Ernesto e Edoardo, sem referência de datas, além de Amadeu (1983).
Alfredo, o caçula, nasce em São Paulo, em 1901.
Crescencio trabalha em diversos empregos, como ourives e, principalmente,
decorador e pintor paisagista de casas antigas, além de ser professor de primeiras letras,
sendo responsável pela educação formal de todos os filhos. Em Nápoles teve uma
grande fábrica de jóias, tendo saído do país devido a uma doença de coração da esposa,
aproveitando o forte movimento imigratório de então. São Paulo foi o lugar ideal
escolhido, pelo bom clima da cidade na época e pelas crescentes opções de trabalho.
Américo Jacomino não vai a escola e estuda com o pai e o irmão mais velho
Ernesto. Esta educação informal talvez explique os erros de gramática do violonista,
comprovados pelas cartas enviadas a seus amigos no futuro. Como é canhoto, os pais
tudo fazem para que ele aprenda a usar a mão direita, pois na Itália os canhotos são tidos
como pessoas mal educadas.
Não se sabe ao certo sobre a formação musical da família Jacomino, mas as
indicações sobre o início do aprendizado no violão são de que Américo tem o primeiro
contato com o instrumento por volta de 1901, através do irmão Ernesto, que também lhe
ensina bandolim. Este irmão compra um violão por 3 ou 4 mil réis, que o pai chega a
quebrar para que os filhos não levem a sério o aprendizado do instrumento. Américo
então conserta o violão e tenta estudar escondido dos pais.
Aos 14 anos de idade, ainda a morar na Rua do Carmo, Américo Jacomino vê o
irmão Ernesto tocar violão e bandolim e lhe pede para que o ensine. Este, achando que
como canhoto seu irmão não pode aprender, desencoraja-o. Américo fala fluentemente
o italiano, e canta nesta língua canções napolitanas aprendidas com os pais. Segundo a
revista Violão e Mestres47, em 1904 tem Américo suas primeiras experiências como
violonista profissional, dando seu primeiro recital no Cinema Guarani, em Campinas.
Por volta de 1905, com 16 anos, tem contato com o cavaquinho, que passa a
estudar seriamente. Nesta época, Américo já está trabalhando como pintor e jornaleiro.
Com o dinheiro compra seu primeiro violão.
Em 1907 adquire um violão fabricado por Di Giorgio, e com este violão
Jacomino faz suas primeiras e importantes gravações, até 1917, quando adquire um
violão fabricado por Tranquillo Giannini, até hoje em posse de seu filho Luís Américo.
47
VIOLÃO E MESTRES, São Paulo, Violões Giannini S. A, n.º 1, 1964, pp. 4-8.
Em 1908 morre sua mãe. A família muda-se, então, para a Rua Santo Amaro,
número 39, ainda no centro da cidade, não longe do local da antiga moradia.
Um ano depois é que vem a conhecer seu mais famoso parceiro de serestas, o
cantor Roque Ricciardi, que mais tarde assumiria o nome artístico de Paraguaçu. Em
depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974, o cantor assim
descreveu o encontro:
“Conheci Canhoto numa serenata na Mooca, na Rua Taquari. Numa festa de
aniversário, perto do final, lá pelas duas e meia da noite, estávamos indo a pé para o
Cascata, que era um bar que ficava aberto dia e noite. Perto da Rua Borges Figueiredo
Canhoto e sua turma, que tinha o Belchior da Silveira, um gaúcho, fizeram uma serenata
para dizerem que eram melhores que nós. Eu vi um tocando violão com as cordas ao
contrário, um violão bonito tachado com madrepérolas. Perguntei sobre quem era o
violonista e o Domingo Rubiero disse: ‘Mas esse é o famoso Canhoto!’. Eu só o
conhecia de nome, e quando ele terminou de tocar eu fui cumprimentá-lo, nos
abraçamos e nos tornamos amigos dessa noite até a sua morte. Fui eu quem levou o
caixão para o cemitério”.
Segundo Paraguaçu, cada bairro tinha seu conjunto de serestas, com um
respectivo chefe. Ele teria sido o chefe do conjunto do Brás, e Canhoto teria sido o
chefe do conjunto da Bela Vista.
Pelas informações concedidas a Henrique Fôreis, o
Almirante, em 1954, existem algumas mudanças quanto aos dados deste encontro. O
cantor teria dito que estava cantando com seu grupo na Rua da Mooca e Canhoto vinha
de uma serenata. Quando teria acabado, o violonista teria continuado a música, mas
sem solar.
Jacomino logo monta um pequeno grupo instrumental com o nome Grupo do
Canhoto, que o acompanharia muito nesses primeiros anos de atividade, em concertos e,
principalmente, em gravações.
Ainda com Paraguaçu, em 1907, Jacomino começa a se apresentar em cinemas
como o Bresser, Braz-Bijou e o Éden, onde os ingressos custam 300 réis48, e em teatros,
circos e restaurantes como o Cascata, na esquina da Senador Feijó com a Quintino
Bocaiúva. Essas apresentações são fundamentais pelos contatos que o violonista vai
estabelecendo, além da prática em se apresentar em público. Isto sem dizer do futuro
48
Idem, ibidem.
contrato que o violonista teria na Odeon, que apareceria como conseqüência dessas
primeiras apresentações.
Outro aspecto a ser ressaltado é que o violonista vai
adquirindo prática como compositor, pois em suas primeiras gravações predominam
músicas de sua própria autoria.
II.2 - Primeiras gravações de Américo Jacomino – 1912
A Discografia Brasileira em 78 RPM, editada em 5 volumes pela FUNARTE
em 1978, apresenta como prováveis primeiras gravações de Canhoto músicas com seu
conjunto (Grupo do Canhoto), e em solo de violão, lançadas pela gravadora Odeon,
compreendidas na série 120.000, entre 1912 e 1913, em sistema mecânico de uma face
apenas. As músicas executadas com seu conjunto foram, com respectivos números, a
polca Saci, de João Batista do Nascimento
(120.589), a valsa do mesmo autor,
intitulada Saudades de Iguape (120.590); a valsa Suplication de W.J. Peans (120.591); a
valsa de Antonio Picucci, Tuim-Tuim (120.592); a mazurca Amores Noturnos (120.593)
e a polca Babi (120.594), ambas sem indicação de autor. Como gravações solo estão a
valsa Belo Horizonte (120.595); a polca Pisando na Mala (120.596); o dobrado Campos
Sales (120.597) e a mazurca Devaneio (120.598), todas de autoria de Américo
Jacomino.
A pequena gravadora Gaúcho, do sul do país, na série 4.000 (lançada entre 1912
e 1920) iria lançar duas gravações, sendo a primeira com música de Américo Jacomino
e a segunda de autoria incerta, ambas interpretadas pelo grupo Os Geraldos (V. Geraldo
e G. Magalhães), compreendendo os sambas Nhá Maruca Foi s'imbora (4.042-A) e Nhá
Moça (4.042-B).
Na mesma época, entre 1912 e 1913, pela gravadora paulista Phoenix (filial da
Odeon em São Paulo), Américo Jacomino lança uma série de discos de uma face, ainda
no sistema mecânico.
A primeira gravação é a valsa Saudades de minha Aurora
(número 70.786), de sua própria autoria, interpretada ao violão solo, e a segunda é a
valsa Saudade de São Bernardo (número 70.790), de Antonio Picucci, interpretada pelo
Grupo do Canhoto.
O equívoco com relação ao primeiro registro fonográfico do violonista acontece
justamente pelas datas coincidirem quanto ao lançamento dos discos, sendo que a
numeração não corresponde exatamente à ordem gravada pelos músicos, e sim uma
ordem de organização da gravadora. O que é certo é que estas são as primeiras
gravações do violonista, hoje raríssimas de serem encontradas. Outro fator a ser
salientado é que a Odeon era coordenada por Frederico Figner e a Phoenix por seu
irmão Gustavo Figner, o que possibilitava a ambos utilizar os mesmos artistas.
Tomando-se como exemplo as gravações de Nhá Maruca Foi S’imbora, Nhá
Moça e Saudades de Minha Aurora, podemos avaliar a técnica do violonista naquele
momento, a partir de seu eclético repertório musical, executando com habilidade obras
de gêneros diversos (valsas, sambas, polcas, mazurcas e dobrados). Apesar de serem
gravações antigas, nota-se a obtenção de timbres diversos no violão, como no dobrado
Campos Sales, em que Canhoto se utilizará pela primeira vez do rufo, efeito que imita
caixa-clara, como nas bandas marciais. Este curioso efeito seria retomado em uma de
suas peças mais interpretadas, a Marcha Triunfal Brasileira.
Em 1914, aparece a primeira referência à venda de discos de Canhoto. Trata-se
de um anúncio da Casa Edson, sobre “grandes novidades paulistas gravadas” pelos
grupos Tupinambá, Veríssimo, Excêntrico, do Choroso, do Canhoto, do Phoenix, e
sobre o repertório do Jaime Redondo e os duetos de Pepe & Oterito, “cantando pela
primeira vez para gramophones”49.
Em 27 de dezembro de 1915 o jornal O Estado de São Paulo publica a primeira
notícia sobre recital de Américo Jacomino: “High-Life: Na tela serão exibidos doze
filmes escolhidos. No palco grande estréia do trio brasileiro - Caramurú, Américo, o
canhoto, e Edú Gomes”.
Estas apresentações continuam nos dias 28, 29 e 30 do
mesmo mês.
No decorrer do ano de 1916, em 17 de abril, o barítono Luiz de Freitas organiza
um espetáculo em benefício de um amigo enfermo, Ramiro Freire. Entre os artistas que
participam estão “várias senhoritas do bairro da Consolação” e Américo Jacomino.
Será a preparação do violonista para sua estréia definitiva, o que virá a acontecer
precisamente no dia 23 de abril, conforme pequeno anúncio do Jornal O Estado de São
Paulo50. Este escreve: “Estréia do aplaudido violinista (sic) da casa Edson”, com
apenas o apelido de “Canhoto”, no Teatro Colombo, no bairro do Brás, sendo que na
ocasião estreará também o já citado barítono Luiz de Freitas. O mesmo anúncio aparece
no dia 29 do mesmo mês. Antes, porém, no dia 25, uma nota maior aparece na coluna
49
ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, Ed. Perspectiva, coleção debates
n.º 163, p. 324.
50
O Estado de S. Paulo, 23 de abril de 1916, p. 16.
Palcos e Circos, responsável pela divulgação dos eventos culturais da cidade. Esta
diz51:
"Colombo - Esta confortável Casa anuncia para hoje em ‘Soirée’ popular, os
comoventes dramas – ‘Nunca Mais...’, ‘Os Fugitivos’ e ‘Justiça da Montanha’. No
palco, teremos dois interessantes números de variedades: diversas execuções pelo
aplaudido violonista da Casa Edson – Canhoto, e pelo barítono brasileiro Luiz de
Freitas, da Academia Nacional de Música, de Roma. Como se vê, o programa é
bastante convidativo”.
No dia 16 de maio de 1916 novamente o violonista João Pernambuco, cada vez
mais conhecido no Rio de Janeiro – onde mora - aparece em São Paulo com um novo
grupo, ou “troupe” sertaneja. João Pernambuco dará concertos até o final do mês,
quando ruma para Santos e cidades do interior paulista.
Não há notícias de que
Américo Jacomino tenha assistido a essas apresentações, mas não é difícil imaginar
afirmativamente. A Protofonia do Guarani, apresentada pelo “sexteto”, é uma das
obras que Canhoto grava em disco, numa versão para violão solo.
E ambos,
Pernambuco e Canhoto, são justamente os dois violonistas brasileiros que mais fama
atingem neste primeiro quarto do século vinte.
II.3 – Em 1916, o primeiro grande recital de Américo Jacomino. A mudança de
opinião da crítica em São Paulo
No anúncio de 12 de julho de 1916 o jornal O Estado de São Paulo escreve52:
“Deve seguir hoje para o interior, visitando Descalvado e Amparo, onde pretende
realizar concertos, o hábil violonista sr. Américo Jacomino (canhoto) sobre o qual a
imprensa de São Paulo tem feito as mais encomiásticas referências”. Sobre os dois
concertos em Descalvado, no Ideal Cinema, a crítica diz que “Canhoto, que organizará
excelente programa para ambos os festivais, soube conquistar no seu violão, com a
execução simplesmente arrebatadora de cada número, os mais sinceros e frenéticos
aplausos da grande e seleta assistência que teve a ventura de o ouvir”. E, terminando a
51
CINEMATÓGRAFOS. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13636, coluna Palcos e Circos, 25 de abril
de 1916, p. 02.
52
AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13714, coluna Palcos e Circos, 12 de julho
de 1916, p. 02.
notícia, “consta que Canhoto virá em breve a esta cidade realizando então mais um
concerto”. E é justamente o que acontece em notícia do dia 30 de agosto53:
“Em 5 de setembro próximo, às 20 horas e meia no Salão do Conservatório
Dramático, este professor de violão dará um concerto cujo programa foi confeccionado
com muito bom gosto.
“Já nesta folha tivemos a ocasião de pôr em relevo os dotes artísticos do
simpático moço. Depois disso ele fez-se ouvir no Automóvel Club, no Trianon, no
Conservatório Dramático e em alguns dos mais elegantes salões da capital, colhendo
largo prêmio da sua fina execução.
“A festa abrirá por uma conferência sobre instrumentos, escrita expressamente
pelo nosso companheiro Manuel Leiroz e que, com sua gentileza com o violonista, será
lida pelo Sr. Danton Vampré.
“Durante a conferência, Américo Jacomino executará as composições
Suplicando Amor, Magia de Olhar, Tango da Agarra, etc.
“Na Segunda parte do concerto – parte exclusivamente musical – serão
executados a protofonia do Guarani, Cateretê, imitação da vila caipira; dobrado
Campos Sales e as valsas Medrosa e Sonhando.
“É de se esperar que o público encha o salão, dadas as qualidades de Américo
Jacomino, que é um tocador exímio e um artista cheio de sentimento”.
Causa vivo interesse realmente o recital de Canhoto, pois nos dias posteriores
vários artigos foram publicados enfatizando as qualidades do violonista e também a
conferência, que “reabilitaria o instrumento”54. Do ponto de vista histórico o fato
interessa sobremaneira para o instrumento em São Paulo, pois pela primeira vez se falou
de forma mais “séria” sobre as possibilidades reais que o violão poderia atingir. É
justamente sobre isto que o jornal O Estado de São Paulo dedica seu artigo do dia 2 de
setembro de 191655:
53
AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13763, coluna Artes e Artistas, 30 de
agosto de 1916, p. 04.
54
AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13766, coluna Artes e Artistas, 2 de
setembro de 1916, p. 02.
55
Idem, ibidem.
“... Far-se-á a reabilitação desse instrumento, despoetisado (sic) por mãos
inábeis, mas reivindicado por tradições românticas, em que figuram ‘los hermosos’ da
velha Espanha, os famosos Scarpins da poética Itália, os alegres e espirituosos boêmios
da França de Luís XVI.”
E, mais adiante, prossegue o artigo:
“E provar-se-á que o violão, a que o plebeísmo do nosso povo deu
irreverentemente a classificação de ‘pinho’, é um instrumento que tem tanto de
aristocrático e de fino quanto o violino e o violoncelo, ambos da mesma família, e que a
canção e os cantores populares, antes de subirem das ruas para os palcos e salões,
fizeram o encanto dos ambientes rústicos e alcançaram a glória depois de uma fatigante
existência.
“Além da conferência haverá cantos expressivos do sertão brasileiro assim como
um cateretê em que as cordas do violão de Jacomino farão evocar ao auditório um
‘batuque’ do mais característico efeito coreográfico.
“Vai ser um festival de magníficas impressões”.
No grande dia do concerto, 5 de setembro de 1916, novamente o jornal O Estado
de São Paulo publica artigo a respeito, mas desta vez com mais ênfase ainda na palestra
que será proferida por Manuel Leiroz. O artigo publicado no jornal, apesar de não ser o
formato definitivo, constitui documento mais próximo do que poderá vir a ser a palestra,
importantíssima para a história do violão brasileiro, por ser um dos primeiros grandes
artigos a exaltar as qualidades do instrumento56:
“É hoje à noite que se realiza o concerto de violão organizado por este simpático
artista com o concurso do sr. Danton Vampré, que lerá a conferência do nosso
companheiro Manuel Leiroz, do sr. Trajano Vaz, que cantará lindas canções do Brasil,
entre as quais o ‘Marroeiro’, e do sr. Silvério Gaudêncio, que acompanhará ao violão.
“O festival será iniciado com a conferência sobre instrumentos. Seguindo o
pensamento de Miguel Zamacois, o conferente porá em relevo a função e préstimo de
vários instrumentos”.
“Depois, reivindicará para o violão o crédito que ele, na antigüidade, sempre
gozou, mostrando que em Portugal, nos séculos heróicos das viagens e das batalhas,
56
AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13769, coluna Artes e Artistas, 5 de
setembro de 1916, p. 05.
esse instrumento acompanhava trovadores e troveiros na sua vida amorosa e de
aventuras, conhecera desde os paços dos reis às vielas da mouraria e embarcara com
mais de cinco mil violas para os areiares da África, onde testemunhou a derrota de
Alcácer Kibir. O violão exerceu a ditadura nas salas mais elegantes, figurou nos teatros,
perturbou e endoideceu uma legião de mulheres e obrigou muitos escritores estrangeiros
a render homenagem ao seu domínio encantador”.
“O seu papel saliente nos ‘minuetos’ da cidade e da corte, nos ‘fandangos’, no
‘arrepia’, no ‘oitavado’, no ‘arromba’ e outras danças, jamais poderá ser esquecido. D.
João V, que era um rei folgazão, considerava-o um instrumento precioso para aligeirar o
fardo da vida.
“Em França, no primeiro império, na devassidão dissolvente do segundo, sob a
restauração, o violão entrou no gosto do público, juntamente com as primeiras ‘troupes’
vindas da Itália, tomou parte num concerto de cães, inventado para divertir Luís XI,
deliciou epicuristas do bairro latino, os cabarés de Montmartre, deu serenatas às mais
aristocráticas mulheres e foi a causa, um dia, de Margarida de Escócia, esposa de Luís
XI, ao ver a dormir o normando Alain Chartier, beijar-lhe a ‘preciosa boca’, de onde
tinham saído as palavras de um madrigal feiticeiro.
“O violão acompanhou os cantos de Ninon, nas poesias folgazans de Chaulieu e
nas coplas ferinas de João Batista Rousseau. E nos bailes de máscaras introduzidos em
França, em 1716, esteve ao serviço da princesa de Valois e do Duque de Modena, seu
noivo, encantando os ‘cavalheiros de indústria’, que sempre os acompanhavam.
“Em Espanha, no século XVII, pontifica nas reuniões elegantes e nas alfurjas
das mancebas. Desce com escala ruidosa e despreocupação de vida de Madri até
Sevilha; faz-se ouvir na Triana e na Torre del Cro, atrai os eirados de tijolo, cobertos de
flores as chiquetas de olhos negros e camélias no penteado, as donas de bloco escuro, os
espadachins de manto negro e bravura truculenta. Mistura-se com ciganas de face
morena e grandes brincos nos lobulos das orelhas e chega a impor-se ao gosto estético e
moral dos mouros enamorados. Toma parte nos concertos, espetáculos de estudantes de
La Picola Escuela e dos Hidalgos Hermosos e no corro assombrado em que se exibia foi
muita vez coberto pelo frêmito de aplausos e de gritos das ‘niñas’ entusiasmadas.
“Na Itália o violão inspirou árias, villotas e villancellas, fez parte de uma
orquestra no palácio de Joanna de Aragão, deu concepções às melodias de Gesualdo,
príncipe de Venosa, concorreu para a restauração da música pagã. Introduziu-se nas
academias, acordou as águas de Veneza em serenatas de gelfos e escarpins. Serviu o
amor num período em que a música fazia a paixão da época e concorreu com os
filarmônicos de Verona, instituídos por Alberto Lavezzola.
“Nos Países Baixos, quando ainda no estado de uma só corda – ‘a tromba
marinha’, e depois em transformações sucessivas, já com trinta e seis cordas alcançou
ruidoso sucesso em Bruxelas num concerto de gatos verdadeiros, que os Belgas
ofereceram a Felipe II de Espanha. Finalmente em quase todos os países da Europa, o
violão acompanhou a natureza das tradições e a disposição psicológica dos respectivos
povos.
“Como se vê, o programa da festa é atraente e porque o preço do ingresso é
reduzido, é de se esperar que hoje à noite não haja um lugar no Conservatório
Dramático”.
Na quarta-feira, dia 6 de setembro, a crítica do primeiro grande recital de violão
de um instrumentista brasileiro em São Paulo será publicada no jornal O Estado de São
Paulo. Será a primeira de uma série que Américo Jacomino receberá durante toda sua
carreira, até seu falecimento em 192857:
“Realizou-se ontem, como estava anunciado, o concerto deste simpático artista,
que teve o concurso dos srs. Danton Vampré, Trajano Vaz e Álvaro Gaudêncio.
“O sr. Danton Vampré apresentou ao auditório que enchia o salão por completo,
o artista Jacomino e seus companheiros, pondo em relevo as excelentes qualidades
daquele violonista, a segurança da sua técnica e o senso estético que predomina em toda
a execução das suas peças.
“Também encareceu os méritos dos srs. Trajano Vaz e Álvaro Gaudêncio
considerando cada um no seu gênero.
Foi, ao terminar o seu elegante discurso,
muitíssimo aplaudido.
“Passou-se depois à conferência do nosso companheiro Manuel Leiroz de que
ontem demos o resumo.
O auditório recebeu-a com vivo agrado, a julgar pelo
entusiasmo dos aplausos com que premiou a leitura do sr. Danton Vampré.
“Jacomino, na primeira parte da conferência, executou as valsas Súplica de
Amor, Serenata Árabe, Cigarra na ponta e Magia de olhar. Como era de se esperar,
afirmou uma grande beleza de expressão, ainda com calor, visando a Cigarra na Ponta.
57
AMÉRICO JACOMINO. O Estado de S. Paulo, ano 42, n.º 13770, coluna Artes e Artistas, 6 de
setembro de 1916, p. 05.
“O sr. Trajano Vaz fez a caricatura de Jacomino, e cantou a Choça do Monte,
com uma voz que, falemos com franqueza, já não o ajuda a vencer as dificuldades da
vocalização.
Foi, porém, muito interessante, no Marroeiro, de Catulo da Paixão
Cearense.
“Recitou com expressão, com relevo, com graça.
A sala ofertou-lhe uma
vibrante salva de palmas.
“A segunda parte do programa teve uma execução rigorosa. Jacomino, Trajano e
Álvaro Gaudêncio continuaram a merecer dos assistentes as palmas mais entusiásticas.
“O festival terminou com a valsa Sonhando, que Américo Jacomino executou ao
violão em diversas posições difíceis. O público, entusiasmado, fez-lhe uma verdadeira
ovação”.
Paralelamente, na cidade de São Paulo, no ano seguinte, 1917, dois outros
recitais de violão darão impulso para a consolidação do instrumento nos palcos paulistas
e brasileiros, com as apresentações do paraguaio Agustín Barrios e da espanhola
Josefina Robledo.
Chega 1919. Em janeiro Canhoto sai em turnê artística juntamente com o ator
Alves Júnior pelo norte do Estado de São Paulo.
Outra vez Agustín Barrios se
apresentará na capital, iniciando turnê pelo Teatro São Pedro, passando em seguida pelo
Royal, Pathê Palácio e Coliseu Campos Elísios.
O violonista se despedirá
definitivamente do público paulista no dia 8 de abril de 1919 no Salão do Conservatório
Dramático e Musical, em apresentação em três partes na forma de sarau literário, com a
participação de poetas.
Em maio, enquanto a violonista espanhola Josefina Robledo apresenta-se em
Campinas com boa crítica (“técnica admirável, sentimento natural, delicado e uma
afinação impecável...”) e assistência pequena (“... o violão não era conhecido como
instrumento de concerto, próprio para músicas sérias. Daí, certamente, o não ter sido
avultada a assistência, como deveria ser e merece a notável artista...”) , Canhoto faz a
primeira participação de um trio caipira que marcará época na história da música
sertaneja, infelizmente não registrado em disco.
A apresentação ocorre no Royal
Teatro, na rua Sebastião Pereira.
Em 6 de maio de 1919 o jornal O Estado de São Paulo assim escreve58:
58
NOTÍCIAS DO CANHOTO. O Estado de S. Paulo, ano 45, n.º 14730, coluna Palcos e Circos, 6 de
maio de 1919, p. 02.
" Uma soirée interessante será a desta noite no Royal Teatro. Interessante pelo
assunto, interessante pela maneira porque foi organizado o respectivo programa.
“É que Viterbo de Azevedo, festejado imitador, escondendo-se num perfeito
Jeca Tatu, conforme denominou o teu tipo, vai produzir as cenas que provocaram no
Rio o mais ruidoso sucesso pela veracidade com que observa e conduz o nosso caboclo.
Viterbo, que é paulista e que melhor do que ninguém apanhou os costumes do caipira de
S. Paulo, apresentará ao público do Royal o tipo perfeito do Jeca Tatu - essa criação de
Monteiro Lobato, com que as suas anedotas ingênuas, episódios de caça, mentiras de
mutirões rompantes, alardes de valentia, etc, de modo a fazer rir.
“Tomará parte do festival o conhecido violonista Jacomino - o Canhoto, que
dará um concerto de violão, executando criações suas, principalmente sertanejas.
“Será como se disse um espetáculo interessante ao qual concorrerão certamente
os freqüentadores do Royal, dos quais é já avultado o número de pedidos de
localidades”.
Enquanto isso, o Trio Viterbo-Abgail-Canhoto estréia definitivamente na capital
paulista em apresentação no Royal Teatro, em 9 de junho de 1919, com platéia lotada.
No dia 13 e 29, estão no Teatro São Paulo (ficando até o dia 10 de julho); dia 14 no
Teatro São Pedro; dia 17, no Teatro Brasil e dia 20, no Teatro Avenida, no Largo do
Paissandu, para uma série de apresentações. Em julho estão no Teatro América, na Rua
da Consolação, entre os dias 11 e 22, e novamente no Teatro Brasil entre 23 e 27. Em
agosto, apresentam-se entre 1 e 3 no Colyseu Campos Elíseos, voltam ao Teatro São
Paulo entre os dias 4 e 10, sendo este último uma apresentação em homenagem ao trio.
O jornal O Estado de São Paulo assim se refere a este recital59:
“Conforme noticiamos, está organizado para amanhã, no Teatro S. Paulo, um
atraente espetáculo em homenagem aos festejados artistas Viterbo Azevedo, Abigail
Gonçalves e Américo Jacomino, que formam o aplaudido trio.
“Nessa noite, Viterbo Azevedo narrará novos episódios do ‘Jeca Tatu’, cujas
pilhérias têm feito tanto sucesso; a graciosa e inteligente menina Abigail Gonçalves
cantará escolhidas canções sertanejas do seu excelente repertório e o Canhoto dará um
concerto de violão, instrumento em que é exímio.
“Como as récitas do trio têm levado numerosa assistência ao teatro da praça S.
Paulo, cuja lotação se tem esgotado, é de supor para amanhã uma enchente, tanto mais
59
TRIO VITERBO-ABGAIL-CANHOTO. O Estado de S. Paulo, ano 45, n.º 14829, coluna Palcos e
Circos, 10 de agosto de 1919, p. 04.
que o programa vai ser enriquecido com as canções regionais, cantadas gentilmente por
Afonsito, e com os bailados clássicos de Mykoff e Vanity, número de sucesso, ora no
Cassino”.
Pela matéria, fica em dúvida a forma como era conduzido o espetáculo. Seria
Viterbo de Azevedo apenas um ator a interpretar o papel do conhecido personagem de
Monteiro Lobato e nada mais? Abigail Gonçalves cantava acompanhada apenas de
Américo Jacomino ou de mais alguém? E Canhoto, aparecia apenas para apresentação
de violão solo, sem maiores contatos com os outros dois? Seria o trio apenas uma
forma de juntar diferentes manifestações como parte de um todo, para o espetáculo ficar
mais variado?
No programa do dia 11 de agosto o jornal escreve, a respeito da
apresentação do trio no Teatro São Paulo, que “Viterbo e Abigail exibir-se-ão em novo
trabalho, o primeiro no gênero caipira em que é exímio, e a segunda em canções
brasileiras. Canhoto, o conhecido violonista paulista, tocará diversas peças do seu
repertório em dois violões ao mesmo tempo...”60.
As últimas apresentações do trio Viterbo-Abgail-Canhoto se dão neste mesmo
mês de agosto. Entre 13 e 15 estão no Royal Teatro, depois no Teatro Melita, para
estrearem novamente no Teatro S. Pedro entre 19 e 26. Em seguida, de 27 a 31, partem
para o Teatro Avenida para suas últimas aparições antes do fim trágico do trio. Viterbo,
durante excursão a Poços de Caldas para um concerto de caridade, será morto
acidentalmente com um tiro na testa.
Após o incidente, Abgail Gonçalves, agora com o apelido de “a sertanejinha”,
estréia inicialmente como cantora solista no Teatro Rio Branco. Traumatizada pelo
acontecimento com Viterbo ficará 20 anos sem cantar, e tempos depois mudará seu
nome para Abgail Aléssio, dedicando-se ao canto lírico, com o qual chegará a se
apresentar no Metropolitan Opera House de Nova York.
Américo Jacomino por sua vez é notícia novamente no dia 19 de novembro de
1919, quando de seu sucesso em apresentações no Rio de Janeiro: “Temperamento
acentuadamente artístico possuindo como poucos uma técnica acurada, conhecendo
todos os recursos e regados do seu instrumento predileto”. Canhoto sairá em nova
excursão pelo Brasil em dezembro. Pouco antes, em 2 de setembro, o jornal O Estado
de São Paulo, edição noturna, publica a partitura de sua música “Quem não... Vota
não... Voga”.
60
Sobre os malabarismos de Jacomino, há uma sessão de fotos tiradas neste ano de 1919, nas quais o
violonista aparece tocando com o violão nas costas, na nuca e com dois violões ao mesmo tempo.
Em 17 de fevereiro de 1920, último dia de carnaval, Américo Jacomino
presencia um episódio que irá resultar na partitura de um de seus maiores sucessos de
venda. Uma jovem de nome Ottília Valentini, após sair de um baile de madrugada
vestida de Colombina, encontra-se com o namorado Domingos Dalazza na Avenida
Celso Garcia, zona leste de São Paulo. Enciumado por tê-la proibido de participar dos
festejos, o jovem namorado saca um revólver e mata a garota, e só não se suicida por
intervenção de pessoas que estão próximas ao local. Canhoto é uma delas, e compõe a
música Triste Carnaval, que recebe letra de Arlindo Leal, sendo difundida por todo o
Brasil. Canhoto comporá várias músicas carnavalescas entre 1920 e 1928, sendo que no
primeiro ano compõe o tanguinho sertanejo Ai Balbina, novamente com letra de Arlindo
Leal.
A primeira notícia sobre Américo Jacomino em 1920, que já se apresenta com
menos assiduidade na capital, ocorre no jornal O Estado de São Paulo, edição noturna,
de 1 de setembro, com participação em recital no Teatro Boa Vista. Luiz Buono, seu
parceiro em alguns recitais, organiza, por sua vez, um festival em benefício do Hospital
Umberto I, dando um recital de violão. Não há crítica nem programa impresso do
evento. Em 18 de setembro de 1920 aparece novamente o nome de Canhoto, com sua
“troupe”. Assim descreve o jornal O Estado de São Paulo61:
"De regresso da cidade de Santos, onde logrou absoluto êxito, no Teatro
Guarany, esta ‘troupe’ entrou agora a trabalhar no Coliseu dos Campos Elíseos,
continuando ali a carreira brilhante dos seus sucessos.
“Com o repertório melhorado, a ‘troupe’ apresenta-se todas as noites após a
exibição dos filmes, sendo os seus componentes os artistas Luís de Freitas, barítono,
Maria Mesquita, cançonetista, e Américo Jacomino (canhoto), violonista, todos sob a
direção do aplaudido parodista cômico Miguel Max”.
No final do ano, dia 15 de dezembro de 1920, Canhoto aparece no Royal Teatro
para a “Festa do Retrato”, participando na terceira parte do evento.
Na mesma
apresentação está o cantor (baixo) Mário Pinheiro, um dos primeiros a gravar um disco
de violão solo no Brasil, com a música Petita. Américo Jacomino viria a gravar uma
peça muito parecida com esta, o romance Pensamento.
61
Canhoto estará ainda no
Notícias Teatrais. O Estado de S. Paulo, ano 47, n.º 15588, coluna Palcos e Circos, 18 de setembro de
1921, p. 05.
Conservatório Dramático e Musical entre os dias 14 e 22 de dezembro, junto ao trio
Canhoto-Freitas-Altomar.
Na Folha da Noite de 19 de fevereiro de 1921 aparece a notícia de que no salão
do Correio Paulistano haverá uma audição dos Oito Batutas, sendo o conjunto “dirigido
por Américo Jacomino”. Para este ano, Jacomino comporá o tanguinho amoroso Já se
Acabô, com o parceiro Arlindo Leal.
II.4 - Casamento de Américo Jacomino e mudança para São Carlos em 1922
Em 7 de janeiro de 1922 Américo Jacomino envia ao jornal O Estado de São
Paulo a partitura de duas novas músicas, Arrependida (valsa brasileira) e A Gente Se
Defende (choro carnavalesco). Em anúncio do mesmo dia no jornal O Estado de São
Paulo, edição noturna, a última música aparece como sendo um maxixe.
No decorrer do ano de 1922, em março, Américo Jacomino se apresenta no
Cinema São José, na pequena cidade de Itapetininga, interior de São Paulo, onde vem a
conhecer sua futura esposa.
O violonista se casa no dia 12 de setembro com Maria Rita de Moraes (nascida
em 25 de agosto de 1893 em Itapetininga), filha de importante político de sua cidade
natal, Antonio Vieira de Moraes, conhecido como Nhonho Pereira, e irmã do prefeito da
cidade, Ramiro Vieira de Moraes. A esposa é apelidada carinhosamente pelo violonista
como Dona Mariquinha. A certidão de casamento é inexplicavelmente confusa, visto a
importância de Maria Rita para a cidade. Não houve testemunhas no casamento. O
local de nascimento de Jacomino aparece como sendo a Itália (sem especificação da
cidade) e não consta também sua data de nascimento. Na profissão de Jacomino está
escrito “artista” e na de Maria Rita “prendas domésticas”. Não consta também a
maneira como a esposa passaria a assinar seu nome. Por fim, o nome da mãe de
Jacomino aparece como sendo Vicência Carjullo e não Vicência Cargiula.
O casal se muda para a pequena cidade de São Carlos, interior de São Paulo,
onde abrem uma loja de música chamada Casa Carlos Gomes, situada à rua Conde do
Pinhal, número 54-A. No cartão da loja se lê:
“CASA CARLOS GOMES – AMÉRICO JACOMINO. Métodos completos para
piano e violino de todos os autores. Vende-se piano a prestações. Sempre novidades
para orquestra e piano semanalmente. Músicas, instrumentos e acessórios. Seção de
Discos e Gramofones”.62
Um dos principais amigos e acompanhadores em recitais de Américo Jacomino
durante esta fase é, sem dúvida, Antônio de Barros Leite. Nascido em Piracicaba em 3
de junho de 1894, Barros Leite aos 10 anos de idade conheceria na capital paulista um
primo que tocava bem violão, Nhô-Zinho, aprendendo rapidamente a tocar o
instrumento. Uma vez amigo de Canhoto, teria sido a principal pessoa a convidar o
violonista a abrir uma loja de música na cidade. O filho de Canhoto, Luís Américo,
diria que na verdade seu pai mudou-se para São Carlos pela facilidade em se locomover
para suas excursões, devido ao grande número de recitais que apareciam. Barros Leite é
não apenas um simples acompanhador, mas também um fiel amigo, a ponto de
emprestar dinheiro para Jacomino, como diz uma carta não datada63:
“Amigo Barros,
“Como tenho que pagar uma duplicata que se acha no protesto e sendo hoje o
último dia peço-te que me faças o favor você fazer um vale no escritório de cinqüenta
mil réis e me emprestares para inteirar a importância de 533.000 pois conto com esse
favor e por estes dias lhe darei.
“Do amigo abraços
“A. Jacomino”.64
O jornal São Carlense A Tarde assim escreveria sobre um recital de Jacomino e
Antônio de Barros no Teatro São Carlos:
“Nota de Arte. Festival Artístico no teatro S. Carlos. Américo Jacomino ‘O
Canhoto’ obtém novos sucessos com seu ‘pinho’ mavioso.
“Foi uma noitada agradável a de ontem, no teatro S. Carlos, conforme prevíamos
esse centro de diversões encontrava-se literalmente ocupado pelo escol de nossa
sociedade.
62
Cartão atualmente em posse de Luís Américo Jacomino, filho de Canhoto.
Carta em posse do filho de Antonio de Barros Leite, residente em Jundiaí, interior de São Paulo.
64
Para a transcrição das cartas de Canhoto foi atualizada a grafia, mas mantida a ordem gramatical.
63
“Após a focalização do filme Tempestade de um crânio à luz da ribalta surgiu a
simpática figura do notável violonista patrício Américo Jacomino, o celebrado
‘Canhoto’ o ‘rei do pinho’, como foi cognominado pela imprensa do país.
“Logo previmos que Américo Jacomino obteria novos triunfos, pois em todas as
partes onde se exibe é alvo das mais expressivas provas de admiração pelo modo com
que sabe tanger o seu ‘pinho’ mavioso, com o dom fascinante que sabe imprimir às
cordas desse instrumento.
“’O Canhoto’ com o seu concerto de ontem, obteve unânimes e sinceros
aplausos, conseguindo prender a atenção dos espectadores durante muito tempo
executando músicas populares tais como valsas, sambas, maxixes, marcha, etc., próprias
do nosso povo e dos nossos costumes pois em todas as músicas que ontem tivemos o
prazer de ouvir, sentimos que nelas palpita o romantismo brasileiro, não dessa
brasilidade mistificada que se observa em muitos compositores, mas sim o espontâneo
lirismo enternecedor de nossa gente, tão bem sentido por esse admirável artista que é o
‘Canhoto’.
“Não é preciso que nós falemos algo que seja sobre o valor do grande violonista.
Ele já tem o seu nome feito em todo o Brasil, constantemente é aclamado como o maior
artista no gênero que possuímos.
“Américo Jacomino é um artista nato, que aliando aos seus dotes de musicista
possui também o divino dom de interpretar o nosso sentir espiritual.
As suas
composições, todas vazadas na escola em tão boa hora criada por Catulo da Paixão
Cearense, são as mais apreciadas por todos os amantes da arte de Mozart.
“O concerto de ‘Canhoto’ ontem realizado no S. Carlos foi mais uma vitória do
ilustre musicista.
“Felicitando o rei do violão pelo novo triunfo alcançado, dedicamos-lhe estas
linhas, poucas, mas sinceras, que tão bem condizem com os sentimentos dos
sancarlenses pelos méritos do insuperável violonista “.
Américo Jacomino continua seus recitais pelo interior do Estado. Em 15 de
agosto de 1923 organiza no anfiteatro da Escola Normal de São Carlos um sarau
artístico e musical, tocando na segunda parte com acompanhamento de seu colega
Antônio de Barros Leite. No programa as seguintes peças são apresentadas:
Primeira Parte:
- Ouverture pela Orquestrinha da Escola
- Poesias de A. Nobre e Augusto dos Anjos, por Fernando Vargas
- Senhorita Iracema de Arruda Campos – Poesias
- Senhorita Sylvia Toledo – Poesias
-Senhorita Maria Apparecida (sic) M. Vieira – Poesias
- A. Cimino: Guarani, fantasia violino e piano
- S. Cimino: Deuse Negre – Caprice – piano
- Nair G. Veltri: Madrigale – violino solo
Segunda Parte
- Ouverture pela Orquestrinha da Escola
- Gaspar Sagreras: Uma Lágrima – solo de violão
- Souto: Do Sorriso das Mulheres nascem as flores
- Verdi: Trovador – Miserere – transcrito para violão
- A. Jacomino: Gavota – favorita
- A. Jacomino: Valsa para concerto – Lembrança de um Sonho
- A. Jacomino: Marcha Militar Brasileira
- A. Jacomino: Uma Noite na Roça - cateretê
No sábado, dia 8 de setembro deste mesmo ano, novamente no Anfiteatro da
Escola Normal de São Carlos, Canhoto se apresenta com Antônio de Barros Leite, desta
vez em “Grande Concerto Musical Literario” em benefício da Santa Casa de
Misericórdia.
Em 17 de setembro de 1923 nasce em São Carlos sua primeira filha, Maria
Aparecida, hoje residente em Bebedouro, interior de São Paulo. Canhoto compõe em
sua homenagem uma de suas mais belas músicas, a valsa Manhãs de Sol, dedicada a sua
esposa. O violonista aguarda nesta época uma nomeação da Prefeitura de São Paulo
para trabalhar como lançador de impostos, visto que os negócios no comércio não
estavam caminhando bem. Em carta de 20 de setembro a Antônio de Barros Leite o
violonista se queixa da vida do interior65:
“Meu prezado Amigo Barros
65
Carta em posse do filho de Antonio Barros Leite.
“Saúde
“Recebi sua carta e muito me comoveu e cada vez mais lhe considero pois tenho
a certeza que és um bom amigo e sincero.
“Caro Barros. Eu estava até hoje esperando a nimiação (sic) e se essa tal
nomeação demorar mais eu mandarei às favas tudo isso farei conforme minha grande
vontade a torne (sic) pelo sul.
“Você compreende eu não me acostumo com esta vida de estar parado e com o
domínio da indolência que é o mal do interior. Já estive em São Paulo e não foi
possível realizar um concerto devido a situação atual provavelmente mais tarde
realizarei um concerto na Capital. Realizo o meu primeiro concerto em Sorocaba no dia
24 do corrente e já estão passando a casa.
“Aceite um abraço do amigo
“Américo Jacomino
“Queira aceitar recomendações a D. Rosa minhas e de Mariquinha e recomendame também aos bons amigos Arruda.
Após o recital em Sorocaba, Jacomino realiza um concerto em Jundiaí em 16 de
outubro no Ideal Teatro e dia 19 no Gabinete de Leitura.
Em 1924, em São Paulo, inaugura-se no Parque D. Pedro I o Palácio da
Agricultura e da Indústria, que será a futura sede da Rádio Bandeirantes, e a Sociedade
Rádio Educadora dirige uma circular a todas as Câmaras Municipais do interior
solicitando apoio para o desenvolvimento da radiotelefonia em São Paulo, "com intuitos
meramente educativos"66. Instalam-se também microfones para a irradiação de recitais
como o da pianista Magdalena Tagliaferro. Os lugares escolhidos inicialmente foram o
Teatro Municipal de São Paulo, o Teatro Santana e o Salão do Conservatório Dramático
e Musical. As irradiações ocorrem às terças, quintas e sábados, das 21 horas em diante.
Canhoto, no entanto, está distante. O primeiro programa da Sociedade Rádio Educadora
Paulista a incluir uma obra de Américo Jacomino acontece no dia 12 de novembro de
1924, com a peça Se o Telefone Falasse, pelo Trio Rádio-Bandeirante.
Próximo ao natal, em 18 de dezembro do mesmo ano, Jacomino escreve
novamente a Antônio de Barros Leite67:
“Itapetininga, 18-12-924
“Bom e Saudoso Amigo Barros
66
67
Sociedade Rádio Educadora Paulista. O Estado de S. Paulo, ano 50, n.º 16535, 9 de maio de 1924.
Cartão em posse do filho de Antônio de Barros Leite.
“Sua saúde e de todos de sua família em primeiro lugar o que lhe desejo.
“Recebi sua prezada carta e fiquei muito satisfeito em receber notícias do bom
amigo que muito considero.
“Então continuas nas célebres 24 horas?
pois sinto imensamente estares
perdendo teu tempo em trabalhar muito e ganhares pouco.
“Eu muito breve irei para Espírito Santo do Pinhal e quando for te avisarei e
contar-te-ei como foi o concerto de Jundiaí.
“Junto te remeto dois jornais que se referem aos meus concertos.
“Como é o negócio do Chico Salles? Estou esperando carta dele e conforme me
escreveu na sua última.
“Eu não quero perder o direito do terreno fale com ele.
“Você me faça o favor de falar ao Carlos que me mande o endereço onde ele
mora para escrever a ele e minhas lembranças.
“Me recomenda aos bons amigos Arruda e um abraço de leve. Aceite o mesmo
do teu amigo.
“A. Jacomino.
“Recomendações minhas e de Mariquinha a Dna. Rosa e parentes”.
II.5 – Em 1925, Américo Jacomino retorna à capital paulista.
Para o carnaval de 1925, Américo Jacomino compõe a marchinha carnavalesca
Ai Momo. Neste mesmo ano o violonista muda-se novamente para a capital paulista,
após 3 anos em São Carlos, morando inicialmente na Pensão Mathias na Rua da
Conceição, partindo depois para a Rua Bueno de Andrade número 91.
Finalmente, em 5 de março Canhoto realiza seu primeiro recital na Sociedade
Rádio Educadora Paulista às 21 horas. Foi também a primeira vez que aparece no jornal
O Estado de São Paulo um programa em que o violonista acompanha Roque Ricciardi.
O programa apresentado constou das seguintes peças:
- A Jacomino: Marcha Triunfal Brasileira.
- Frontini: Serenata Árabe
- A. Jacomino: Abismo de Rosas - valsa
- A. Jacomino: Feiticeiro - maxixe de salão
- Sagreras: Uma lágrima - delírio.
- A.Jacomino:Quando os corações se querem
- Calasan: Favorita - gavota
-A.Jacomino: Viola, Minha Viola - samba à moda do Norte.
O Jornal O Estado de São Paulo publica a seguinte crítica68:
"Alcançou inteiro êxito a irradiação do concerto que, gentilmente, realizou
ontem, no estúdio da Rádio Educadora, o popular e aplaudido violinista (sic) sr.
Américo Jacomino (canhoto). Não só pelo critério que predominou na organização do
programa do concerto como pela execução dos números que o compunham, a irradiação
de ontem provocou excepcional entusiasmo e despertou vivo agrado, a julgar pelos
inúmeros telefonemas de amadores felicitando o conhecido artista do violão, que, a
pedido, teve que executar alguns números extra programa, a todos eles dando cabal
execução.
“Prestou também seu concurso no programa da irradiação da noite de ontem,
cantando belas músicas, com acompanhamento de violão pelo Canhoto, o tenor sr.
Roque Ricciardi”.
Sobre a relação de Canhoto com o rádio sempre foi escrito, sem maiores
comprovações, que o violonista inaugurou a transmissão da Rádio Bandeirante, futura
Rádio Educadora Paulista, um ano antes, em 1924, juntamente com seu parceiro
Paraguaçu, que assim comenta o caso69:
“Inauguramos a Rádio Educadora Paulista em 1924, eu, o Canhoto e o Alberto
Marino, que foi o primeiro diretor artístico. O estúdio era pequeno, dois e meio por dois
e meio metros. Não havia microfone ainda, apenas em 1926 apareceu o microfone de
carvão. Eu cantava de costas para não estourar os microfones”.
68
Radiotelefonia / Sociedade Rádio Educadora Paulista. O Estado de S. Paulo, ano 51, n.º 16813, 6 de
março de 1925, p. 06.
69
Entrevista ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974.
O que é certo é que ambos foram alguns dos primeiros a se utilizarem do rádio, e
Canhoto seria certamente um dos mais requisitados violonistas, com várias de suas
audições sendo irradiadas até 1927, um ano antes de sua morte.
Ainda em 1925, em 23 de março Jacomino se apresenta no Salão do
Conservatório em recital em homenagem a Oswaldo Soares e João Avelino de
Camargo. No programa:
Primeira Parte:
- A. Jacomino: Marcha Triunfal Brasileira (inclusive Hino Nacional) acompanhado ao violão pelo sr. Carlos R. Souza
- A. Jacomino: Esmeralda – valsa lenta. (ao meu distinto amigo sr. José Ozório
Fonseca), acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza
- A. Jacomino: Trovador (Miserere) - solo, adaptação ao violão
- Sagreras: Uma Lágrima (delírio) - solo
- A pedido: Abismo de Rosas, valsa lenta. Acompanhada pelo sr. Carlos R.
Souza
Segunda Parte:
- Carlos Gomes: Protofonia do Guarani – Adaptação para violão, por A.
Jacomino, acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza
- A.Jacomino: Feiticeiro – tango de salão – solo
- Calazans: Favorita – gavota – acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza
- A.Jacomino: Quando os corações se querem, fox-trot – acompanhado pelo sr.
Carlos R. Souza.
- Frontini: Serenata Árabe –– solo
- A. Jacomino: Viola, Minha Viola - cateretê paulista imitando o grito da
cabloca. Acompanhado pelo sr. Carlos R. Souza
Já no dia 29 de março, a apresentação de Jacomino no rádio terá o seguinte
programa:
- S. N. - Padre Nuestro - fox-trot - solo de banjo, com acompanhamento de
piano
- A. Jacomino: Sudan - fox-trot - banjo e piano
-A. Jacomino: Tico-tico assanhado - polca característica - cavaquinho com
acompanhamento de violão
- G. Verdi: Miserere do Trovador - solo de violão
Os acompanhamentos de violão e piano ficaram a cargo de Carlos R. Souza. É a
primeira vez que Jacomino faria uma apresentação com banjo e cavaquinho, programa
que incluiu uma peça de sua autoria, o maxixe A Gente Se Defende. Ainda no mesmo
mês, no dia 30 e em maio, nos dias 3 e 5, Canhoto apresentou-se em novos recitais, dos
quais o último apresenta o seguinte programa:
- Silvestre: Serenata d'autre fois.
- A. Jacomino: Sombras do passado - valsa “Boston”
- E. Souto: Do sorriso das mulheres nascem as flores
- A. Jacomino: Por que te vuelves a mi ? - tango argentino
- Mendelssohn: 3.º Prelúdio
- A. Jacomino: Quando os corações se querem - fox-trot.
Américo Jacomino acompanha um recital do sanfonista amador Arcangelo
Zordo em 8 de agosto. Antes escreve uma carta a Antônio de Barros Leite, falando
sobre a atual situação de sua carreira70:
“S. Paulo 1-8-925
“Meu bom e prezadíssimo amigo Barros
“Em primeiro lugar desejo que esta vá encontrar você e sua Esma. (sic) Família
gozando saúde.
“Eu e os meus vamos indo bem graças a Deus.
“Não te escrevi há mais tempo devido não me encontrar na Capital na ocasião
que chegou a sua carta, não imaginas com que prazer recebi notícias tuas que há muito
não me escrevias uma de suas saudosas notícias. Aqui em São Paulo é um sucesso e
tantos. Alunos que não venço tenho tocado nas principais Casas de São Paulo como
Conde Lira Prates em outras o meu nome aqui cada vez se torna mais popular.
70
Carta em posse do filho de Antonio de Barros Leite.
“Soube que o Sr. Carlos anunciou um concerto de violão aí e parece-me que o
mesmo não chegou a realizar é verdade? Também me disseram que um jornal de São
Carlos noticiou que o sr. Carlos era rival de Canhoto se isso é fato é sinal que o crítico
desse Jornal não tem a minimíssima competência de crítico porque comparar um
simples amador a um concertista é mesmo para ser meu rival deveria se apresentar com
um repertório próprio dele e não com músicas minhas que tenho a certeza que são
assassinadas digo isso porque tenho certeza enfim se isso for verdade de que o Sr.
Carlos anunciou um concerto com o meu programa deu prova de minha desconfiança
que há tempos tenho.
“Junto te envio o programa de meu último concerto realizado no Salão do
Concervatório (sic) é no próximo sábado. Vão irradiar pelo telefone sem fio todos
meus concertos têm sido sós e sem acompanhamento. Estou com muita [saudade] de
nosso choro e daquelas noites saudosas quando na casinha de músicas fazíamos os
nossos choros e também das boas macarronadas que comia em sua casa.
“Sem mais aceite um sincero abraço do amigo que sempre te considera e
recomendações minhas e de minha esposa a D. Rosa.
“Américo Jacomino Canhoto”.
Para o amigo Canhoto conta, entre outros sucessos, o de professor muito
procurado, fato que será veiculado a 28 de abril, no jornal O Estado de São Paulo:
“Américo Jacomino – Canhoto, dá aulas, tem perto de ‘200 alunos da elite
paulistana’. Preços: duas lições por semana – mensalidade 100$000, lições avulsas
20$000”. Américo Jacomino é então professor de importantes figuras da sociedade
paulista, entre elas a filha do governador do Estado de São Paulo Carlos de Campos, da
esposa e da filha de Júlio Prestes e da filha do Dr. Piza Sobrinho71.
Mas naquele ano de 1925, a 6 de setembro, ele se apresenta ainda no Teatro
Municipal de São Paulo, na Tarde da Criança, juntamente com outros artistas,
executando a Marcha Triunfal Brasileira, Abismo de Rosas e Viola Minha Viola.
Seriam as mesmas peças apresentadas no Concurso O Que é Nosso, que seria realizado
no Rio de Janeiro.
Entre um recital e outro, a 26 de janeiro de 1926 nasce o segundo filho de
Canhoto, Luís Américo Jacomino, atualmente residente em São Paulo.
71
VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S. A., n.º 1, 1964, p. 06.
Américo Jacomino apresenta-se no Conservatório Dramático a 2 de março e
volta a se apresentar na Rádio Educadora Paulista em 11 de julho e nos dias 17 e 21 de
setembro, este último sendo transferido - como em outras ocasiões - para o dia 20 de
outubro, "por motivo de força maior".
Pelas constantes mudanças das datas de seus recitais, é provável que a saúde de
Jacomino não fosse bem ou que seus compromissos burocráticos lhe tomassem maior
tempo.
Em dezembro de 1926 são lançados os primeiros discos de Canhoto pelo sistema
elétrico, pela Odeon, série 123000, compreendida entre dezembro de 1925 e julho de
1927. Como trata-se da primeira série elétrica, Canhoto, se não inaugurou o sistema,
por certo foi um dos pioneiros a se utilizar desta técnica. Não é conhecida a data exata
das gravações, mas Jacomino lança, entre outros, os seguintes discos: Marcha dos
Marinheiros, A Menina do Sorriso Triste (fox-tango), Reminiscências (valsa) e
Alvorada de Estrelas (gavota).
II.6 - O Concurso O QUE É NOSSO - 1927
A partir de janeiro de 1927 a imprensa do Rio de Janeiro noticia um concurso
musical no qual concorrerão alguns dos maiores nomes do cenário artístico brasileiro,
com o patrocínio do jornal Correio da Manhã.
O nome do concurso é, muito
apropriadamente, O Que é Nosso, com realização prevista para os dias 19 e 20
fevereiro.
Em 15 de fevereiro ocorre o sorteio para a apresentação dos concorrentes. Na
prova de violão é estabelecida a seguinte ordem: 1) Américo Jacomino; 2) Manoel de
Lima; 3) Ivonne Rebello. As provas ocorrerão em 19 de fevereiro, sábado, no Teatro
Lírico à 1 hora da tarde. O patrono do prêmio será João Pernambuco.
Na capa do Correio da Manhã de 18 de fevereiro aparece, em foto de destaque,
Américo Jacomino e Adalbrum Pinto, funcionário do jornal. A nota72:
“Vindo de São Paulo especialmente para tomar parte nas provas de violão do
concurso promovido por esta folha chegou ontem de manhã o brilhante violonista
72
Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 1927, p. 05.
Américo Jacomino. Na gare Pedro II foi recebê-lo pelo Correio da Manhã nosso
companheiro Adalbrum Pinto”.
Sobre o julgamento é publicada a seguinte nota73:
“O julgamento público será feito por aclamação, mediante a fiscalização de uma
comissão de arbitramento, presidida pelo diretor-geral do concurso, podendo ser o
resultado anunciado imediatamente após a terminação de cada série de provas ou no
prazo máximo de 48 horas, com o respectivo parecer. Os números só serão bisados por
ordem do diretor-geral.
“As provas no Teatro Lírico serão presididas pelos srs. Dr. João Itiberê da
Cunha, crítico musical do Correio da Manhã; o festejado barítono Patrício Corbiniano
Villaça; e dr. Homero Álvares. A comissão dirá sobre a capacidade dos concorrentes”.
No dia seguinte ao concurso, 20 de fevereiro, o jornal Correio da Manhã publica
matéria sobre a apresentação74:
“O Prestígio do Violão.
“Mas o Pinto vem em seguida dar uma novidade, que alenta a alma da platéia,
entregando-a a novo frenesi.
“Vai entrar na exibição dos violões.
“É um outro momento sério do programa, que vai ser aberto pelo inigualável
Américo Jacomino (Canhoto), vindo de São Paulo, na véspera, especialmente para esta
prova, em homenagem ao Correio da Manhã.
“E o anunciador reclama o máximo silêncio. A sala aplaude frenética, enquanto
entra em palco a figura simpática de Jacomino. E este se prepara para os primeiros
acordes, num assédio de rara curiosidade. Canhoto, a maneira de pegar o violão é ainda
mais eloqüente de atração.
“Jacomino se impõe logo à platéia com o seu domínio absoluto das cordas do
violão, que se transforma em tudo ao contato de seu dedo. Começa pelo Abismo de
Rosas, uma valsa esquisitíssima sua, atraente de novidades harmônicas. Depois com o
mesmo prestígio, faz o violeir (sic) paulista, cantando às cordas do violão – Viola,
Minha Viola. Jacomino agrada e provoca risos, com os seus diálogos nas cordas, em
73
74
Idem, ibidem.
Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1927, p. 03.
raras proezas de malabarismo musical. A platéia consagra-o, como já havia feito com
Calheiros.
“E, a este sucede-se Manoel de Lima, o ceguinho, a quem Pinto anuncia como ‘o
poeta do violão’. A entrada do ceguinho, que em cena, guiado pelo Pinto, cria um
ambiente de ansiedade, dramática, logo transformada em rara admiração. O ceguinho
toca com o violão deitado sobre a perna, à maneira de pequena harpa. E a sua música
sai toda tecida de uma fina espiritualidade.
A platéia reconhece no ceguinho,
finalmente, o doce poeta do violão.
“Por fim, é um violão mimoso que se faz ouvir.
“É a menina Ivone Rebello, de cerca de 10 anos. Mal acaba de chegar. A sua
execução era graciosa e fina. Sucedia aos dois com vitoriosa galhardia infantil”.
Sobre Manoel de Lima não encontramos maiores informações. Ivonne Rebello
já era conhecida no meio violonístico carioca por ser filha de José Rebello da Silva,
apelidado de José Cavaquinho, um dos pioneiros no ensino do violão erudito no Rio de
Janeiro. A revista O Violão de dezembro de 1928 escreve sobre a violonista75: “Ivone
Rebello é um nome consagrado no meio violonístico carioca. A sua educação artística
corre à corte de seu pai, o hábil violonista José Rebello. O desembaraço com que Ivone
interpreta peças clássicas de responsabilidade faz prever para muito breve a consagração
definitiva e justa da pequenina e talentosa violonista”.
No dia 22 de fevereiro, o Correio da Manhã publica finalmente a matéria com o
resultado do concurso76:
“Dos três concorrentes que se apresentaram apenas Ivonne Rebello solou em
violão de cordas 1.ª, 2.ª, e 3.ª de tripa, em posição clássica, executando das peças
exigidas o Capricho Árabe, de Tárrega. Em se tratando, porém, de um concurso de
caráter puramente brasileiro, não seria lícito deixar de ter em conta o que é nosso.
Orientando, pois, seu julgamento, segundo a maneira de tocar e o estilo de cada
concorrente, a comissão técnica que, por delegação do diretor-geral do concurso
presidiu as provas, resolveu apreciá-los separadamente. Aos prêmios instituídos pelo
Correio da Manhã foi dado, a cada deles, o nome de um patrono, entre os intérpretes
consagrados do violão.
O critério adotado na escolha dos patronos foi inspirado
justamente na seleção dos estilos para o caso da classificação dos concorrentes. Assim,
75
76
O VIOLÃO. Rio de Janeiro, ano 1, 1928, p. 13.
Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 1927, p. 05.
pois, os srs. Dr. João Itiberê da Cunha, Corbiniano Villaça e dr. Homero Álvares
resolveram conferir:
“O Prêmio João Pernambuco ao sr. Américo Jacomino (Canhoto), porque
satisfazendo o programa, em peças nacionais de sua composição, destacadamente o
arranjo intitulado Viola, Minha Viola, fez-o (sic) com brilhantismo;
“O Prêmio Joaquim dos Santos à menina Ivone Rebello, pela perfeição técnica
que demonstrou além da circunstância de haver executado um dos clássicos do violão,
fazendo juz aos louvores da comissão e do público que a aplaudiu;
“O Prêmio Levino Conceição, ao sr. Manoel de Lima, artista de excepcional
inspiração, cego como o patrono do prêmio, cujo mérito está consagrado e não permite
confrontos”.
Analisando hoje, vemos que o primeiro concurso de violão do Brasil foi um
evento sui generis, com três violonistas distintos e fora do âmbito de qualquer outro tipo
de concurso. Havia uma peça de confronto que apenas Ivone Rebello tocou (no caso, o
Capricho Árabe, de Tárrega), mas ela era apenas uma menina, não teria talvez maior
atração em premia-la em primeiro lugar, além de que poderia ter faltado maior
maturidade em sua interpretação, o que só seria possível saber se a violonista tivesse
deixado algum registro de sua arte musical. Manoel de Lima tocou com o violão
deitado nas pernas, o que também fugiria aos padrões do violão clássico estabelecidos
até então, além do fato de ele não ter tocado a peça de confronto. Américo Jacomino já
tinha sua fama estabelecida, a única explicação para ele participar do concurso seria
uma premiação em dinheiro que ele porventura estivesse precisando ou uma indicação
de alguém por saber que ele não tinha concorrentes. Um fato interessante é saber que os
dois violonistas tocaram com cordas de aço. A própria participação de Manoel de Lima
faz crer que o violonista cego participou porque estava de passagem pelo Rio de Janeiro
integrando o grupo pernambucano de música regional Turunas da Mauricéia, que
possuía também Augusto Calheiros como cantor, Atilio Grany na flauta e Luperce
Miranda no bandolim. E Ivone Rebello talvez fosse o maior trunfo dos cariocas por ser
filha de um conhecido professor de violão da cidade, amigo de um dos jurados, o
violonista amador Homero Álvares, que nos três números iniciais da revista O Violão
publicaria artigos sobre a “Escola” de Tárrega. A decisão dos jurados acabou sendo
plausível, tendo em vista que dedicou prêmios adequados a cada concorrente.
O
principal, Prêmio João Pernambuco, foi dado a Canhoto. Aliás, é provável que Canhoto
conhecesse pessoalmente o patrono de seu prêmio, uma vez que ele se apresentara por
diversas vezes em São Paulo, tanto como integrante do Grupo de Caxangá como dos
Oito Batutas. O prêmio de Manoel de Lima teve como patrono outro violonista carioca,
o também cego Levino Albano da Conceição, que estudara no Instituto Benjamin
Constant, adquirindo fama crescente em todo o país. Quanto a Ivonne Rebello coubelhe o prêmio Joaquim dos Santos, músico mais conhecido como Quincas Laranjeiras,
um dos pilares do violão erudito no Rio de Janeiro, o que explicaria a premiação.
Na falta de concorrentes de sua categoria, Américo acaba por ser conhecido
como aquele que venceu o concurso sozinho, imagem explorada pelo próprio jornal
Correio da Manhã quando das notícias de seu falecimento em 1928. O fato lhe valeria
a alcunha de “O Rei do Violão Brasileiro”.
Cumpre assinalar que o júri pôde escutar a valsa Abismo de Rosas, que tanto
sucesso faria nas décadas seguintes, além da Marcha Triunfal Brasileira e Viola, Minha
Viola, talvez as duas obras de maior efeito musical compostas pelo violonista.
Passado o Concurso, Jacomino entra no estúdio para gravar novamente, desta
vez pelo sistema elétrico de gravação, o que preservaria de modo fiel a maneira como
Canhoto interpretava ao violão. Pelas gravações que o violonista faz nesta época, é
justo dizer que Jacomino atravessava a melhor fase de sua carreira. Todas as gravações
elétricas demonstram um alto nível de aprimoramento técnico-musical, muito por conta
das regravações de antigos sucessos como Abismo de Rosas, Marcha Triunfal
Brasileira e Arrependida. E pela gravação da peça Viola, Minha Viola, que tanto
agradou o público do concurso, em que o violonista utiliza efeitos inusitados para a
descrição de uma cena de vida sertaneja, como rasqueados à maneira da viola caipira e
um curioso efeito tocado na região da boca do violão, soando como uma fala de
caboclo, efeito único no repertório violonístico brasileiro até hoje, não é difícil perceber
o porquê de ele ter ganho o prêmio principal. As gravações elétricas também favorecem
uma avaliação de como era o violonista na época de O Que é Nosso. Abismo de Rosas e
Marcha Triunfal Brasileira mostram aspectos relevantes da técnica alcançada pelo
músico. A Marcha demonstra, por exemplo, o violão soando com efeitos de caixa-clara,
flautins e trombones, lembrando a formação de uma banda marcial completa. Naquele
fevereiro de 1927, aproveitando a estada no Rio de Janeiro, Canhoto se apresenta ainda
no Rádio Club do Brasil no dia 24.
A outra série de gravações conta com Roque Ricciardi para Berço e
Túmulo, Choça do Monte e Aracy. São desta época as lembranças do amigo em relação
às primeiras anormalidades na saúde do violonista, que reclama de falta de ar, sendo
medicado pelo então jovem estudante de medicina Joubert de Carvalho. Sobre estas que
serão as últimas gravações, Paraguaçu assim contou77:
“A última gravação que ele fez, já na gravação elétrica em 1927 – que nós
viemos de São Paulo para inaugurar a gravação elétrica aqui no Rio – eu tinha musicado
uns versos de Casimiro de Abreu, Berço e Túmulo. Então eu gravei o primeiro disco
elétrico, com essa música numa faixa e outra de Catullo na outra, A Choça do Monte.
(...) O Canhoto falou ‘Arruma outro nome pra música !’ mas eu disse que era poesia do
Casimiro de Abreu e não podia. Parecia que ele previa a própria morte. Sentiu-se mal
este dia, daí o dia seguinte fomos ao Joubert de Carvalho, que fez um exame e constatou
aorta viratada”.
No dia 8 de maio de 1927 ocorre no Teatro Municipal de São Paulo a “Noite
Brasileira”, organizada por Américo Jacomino. Assim escreve o jornal O Estado de
São Paulo78:
“Logrou grande sucesso a ‘Noite Brasileira’, organizada pelo artista brasileiro sr.
Américo Jacomino, o ‘Canhoto’, com o patrocínio da Liga das Senhoras Católicas e
com o concurso dos srs. Arnaldo Pescuma, Roque Ricciardi e o grupo dos ‘Turunas
Paulistas’.
“Iniciou o festival o sr. Dr. Plínio de Castro Ferraz, com uma interessante
conferência sobre os nossos sertões e a nossa gente chã que os habita e os trabalha.
“O grupo dos ‘Turunas Paulistas’ executou agradáveis modinhas, choros,
sambas e emboladas. Os violões, reco-recos, cavaquinhos e maracaxás emprestaram um
cunho forte de regionalismo àquela ‘Noite Brasileira’, que foi brilhantemente encerrada
pelos números executados pelo ‘Canhoto’”.
O sucesso desta apresentação no Teatro Municipal faz o espetáculo ser
reapresentado em 20, 21 e 22 de maio, no Teatro Boa Vista. Para estas apresentações
tomam parte, além de Canhoto, Arnaldo Pescuma e Roque Ricciardi; os músicos que
formavam os Turunas Paulistas: Manuel dos Santos, em emboladas e sambas;
77
Entrevista ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1974.
Noite Brasileira. O Estado de S. Paulo, ano 53, n.º 17601, coluna A Sociedade, 10 de maio de 1927, p.
04.
78
Alexandre Carrara, flautista; Francisco Lima, saxofone; José Sampaio, violão; Mário
Ramos e José dos Santos, cavaquinho; Cavalheiro Mulato, pandeiro; Domingos Marino,
maracaxá e Mario Alvarenga, reco-reco. A cada dia o evento apresenta uma
programação diferenciada, sendo que Canhoto apresenta as seguintes músicas em solos
de violão:
Primeiro dia: Marcha Triunfal Brasileira, Abismo de Rosas, Reminiscências e
Viola Mimosa.
Segundo Dia: Em Pleno Mar, Feiticeiro, Fluminense e Viola, Minha Viola.
Terceiro e último dia:
Marcha dos Marinheiros, Foi-se embora Maria,
Brasileiro e Viola, Minha Viola.
Canhoto e os Turunas Paulistas começam em seguida uma série de noitadas no
Cine Teatro Roma. O nome do violonista volta a aparecer em programas de rádio, sem
especificações de que Américo Jacomino tenha ido ao estúdio tocar, mas sim que os
programas incluem suas interpretações através de novas gravações em disco.
As
principais são Olhos Feiticeiros, Reminiscências, Marcha dos Marinheiros, Sonsa, Por
Que Tu Vuelves a Mi?, Feiticeiro, Viola, Minha Viola e Abismo de Rosas.
Apresentações em público ocorrerão ainda em 4, 7, 18, 25 e 27 de outubro, com violão e
cavaquinho, no mesmo programa, alternados com Roque Ricciardi.
Canhoto recebe finalmente a notícia de que é nomeado lançador de impostos da
prefeitura, o que causa protestos de algumas pessoas pelo apadrinhamento político, já
que Jacomino fora ajudado pelas boas relações que possuía com importantes
personalidades da época, além do fato de ser genro de uma pessoa politicamente
bastante influente.
Em 15 de novembro de 1927, por ocasião da Proclamação da República,
Canhoto aparece no Cine-Teatro Central para um recital com novas composições. Será
a última apresentação do violonista neste ano, e também a última de Jacomino
anunciado no jornal O Estado de São Paulo até 1928.
Já em 1928, em 3 de janeiro, Américo Jacomino se apresenta na Sociedade
Rádio Educadora Paulista em programa de música regional, o mesmo ocorrendo em 8
de fevereiro.
Em março, Jacomino realiza definitivamente sua última sessão de gravações
solo, entre os dias 13 e 16, pela Odeon, série 10000, série que abriga as gravações
realizadas entre julho de 1927 e maio de 1933. Os registros de Canhoto receberão os
números 10164 e 10165, correspondendo respectivamente às músicas Amor de
Argentina (milonga) e Arrependida (Valsa lenta), e Os Teus Olhos (canção) e
Pensamento (valsa). Ambos os discos são lançados no mês de maio. No mês anterior,
entre 7 e 15 de abril, Américo Jacomino se apresenta novamente em sarau beneficente,
desta vez denominado Semana Festiva. O violonista acompanha a cantora Nené Moura
Azevedo em Canções Brasileiras.
No Conservatório Dramático e Musical, José
Sampaio Formozinho e João Batista Ferraz organizam um recital no dia 29 de abril “em
benefício de um amigo enfermo”, em que tomam parte apenas funcionários municipais.
Canhoto apresenta-se como D. da Receita (sic). É bastante provável que o “amigo
enfermo” fosse mesmo Américo Jacomino, que começa a desmarcar alguns recitais sem
maiores explicações. É a última notícia do violonista no jornal O Estado de São Paulo
antes de sua morte.
Em 6 de junho de 1928 o violonista assim escreve a seu amigo Antonio de
Barros Leite79:
“São Paulo, 6 de junho de 928.
“Bom e saudoso Amigo Barros
“Saúde
“Recebi há dias sua prezadíssima carta e fiquei muito contente em saber notícias
suas e de sua Exma Família. Deves estar bem sentido comigo, não? Eu não tenho te
escrito mais tempo por não saber de seu novo endereço mas enfim a nossa amizade está
acima disso tudo.
“Você não pode calcular o quanto tenho trabalhado no meu emprego você
compreende de violões para lançador, é um caso sério não é verdade? Mas graças ao
bom Deus já estou mais ou menos prático do cargo o meu violão está sempre na
atividade todas as noites faço o meu exercício de uma a 2 horas e se tivesse mais tempo
mais horas exercitaria. Fiz há cerca de um mês uma nova gravação de discos. Gravei
12 musicas novas estive no Rio de Janeiro um mês. Você quando for em (sic) São
Carlos procure esses novos discos. São os seguintes:
“Arrependida (valsa); Amor de Argentina (tango argentino); Pensamento
(capricho), um solo do melhor que tenho; Delirios (valsa) e outras que na ocasião
encontrarás.
79
Carta em posse do filho de Antônio Barros Leite.
“Quanto ao convite que me fazes para ir aí sinto imensamente não poder aceitálo pois ainda não tenho direito à licença só depois de um ano é que temos direito a 10
dias e como faltam só 2 meses para completar um ano, acho melhor então esperar mais
um pouco e assim irei passar uns 8 dias com o bom amigo e tocaremos violão até dizer
chega o meu endereço e cartão que vão junto.
“Sem mais outro abraço do amigo que sempre o considera.
“Recomendações minhas e de Mariquinha a D. Rosa.
“Américo Jacomino
“Venha passear um dia em São Paulo e me avise que te espero”.
Pela carta pode-se saber a data exata em que o violonista assume o cargo de
lançador da Prefeitura: agosto de 1927.
Em 9 de julho de 1928, dois meses antes de falecer, Américo Jacomino, em nova
carta a Antônio de Barros, escreve sobre seu atual estágio de saúde:
“Prezado e bom amigo Barros
“Saúde
“Com grande prazer recebi o meu belo presente de 6 bons frangos e muito
satisfeitos ficamos pois não podia ver presente melhor mais uma vez muito grato.
“Quanto a minha ida para aí sinto não poder ser já devido me achar em
tratamento e o médico aconselhou-me para não fazer excesso de forma alguma por isso
eu acho que devo fazer o que diz o médico e logo que me sentir melhor eu te escrevo e
marcando o dia de minha ida para aí.
“Sem mais aceite juntamente com D. Rosa nossos agradecimentos e
recomendações.
“Recomendações ao seu mano e um abraço do Amigo grato.
“Américo Jacomino Canhoto.
“Quanto à vinda de você e D. Rosa aqui em casa estamos esperando com muito
prazer”.
Com o estado de saúde agravado, em São Paulo Jacomino é atendido pelo doutor
Celestino Borroul, que o aconselha a procurar o doutor Miguel Couto no Rio de Janeiro,
o que faz Jacomino quando volta à cidade para uma nova série de gravações. Para isso
vai de carro, numa tortuosa viagem que dura três dias, ao lado da esposa e do irmão
Amadeu. Ao passar mal Jacomino regressa rapidamente a São Paulo, onde uma
ambulância do Instituto Paulista o espera na estação de trem. Será atendido desta vez
pelo Dr. José Rubião Meira.
A 7 de setembro, uma sexta-feira, Américo Jacomino falece de insuficiência
aórtica em São Paulo no Hospital Santa Catarina, na Avenida Paulista, às 17 horas e 30
minutos. O atestado de óbito é assinado pelo doutor Alcides Ribeiro de Abreu. Ainda
de acordo com o registro, Jacomino falece aos 38 anos de idade. Entre muitas notícias
de seu falecimento, assim se manifesta o Correio da Manhã do Rio de Janeiro80, no qual
há um trecho de leitura impossível devido ao fato de o jornal estar rasgado:
“Morreu o ‘Rei do Violão’. Jacomino, o ‘Canhoto’, finou-se anteontem em São
Paulo.
“A música regional acaba de perder um de seus elementos mais brilhantes.
Américo Jacomino – ‘Canhoto’ – primeiro prêmio do nosso concurso ‘O Que é Nosso’,
o popular ‘Canhoto’, que todos tanto apreciaram e admiraram através da suavidade de
sua melodia encantadora, finou-se em São Paulo.
“A morte de Américo Jacomino, que ainda há pouco estivera no Rio, não é uma
dessas mortes que se perca no simples registro do noticiário fúnebre. Cantor de nossa
terra, compositor, como poucos, da música regional cheia de graça e beleza, o autor de
Abismo de Rosas foi um desses musicistas que mais se salientaram no cotejo de seus
companheiros. Mestre do violão, compositor de um sem número de músicas que, hoje,
se espalham pelo país inteiro, ‘Canhoto’ [...] aquele que melhor fazia tanger uma corda,
vibrando em sua amplitude a própria alma que ele parecia depositar na nota melancólica
e sentida.
“Melhor elogio não se pode fazer de Américo Jacomino que o lembrar a sua
participação admirável no concurso de músicas regionais, organizado por esta folha,
concorrendo ao grande certame de então e competindo com inúmeros adversários de
vários Estados da União, todos, cheios de prestígio, ‘Canhoto’ logrou empolgar um júri
severíssimo e fazer-se coroar o ‘Rei do Violão’. Se sua fama já vazava os limites de sua
modéstia e irradiava por todo o Brasil, essa época marcou, então, sua consagração.
Hoje, no Rio, nos Estados, no bulício das cidades ou na tranqüilidade encantadora do
sertão, não há quem não lhe saiba o nome.
80
Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1928, p. 06.
“Popular, querido pelo seu mérito, ‘Canhoto’ teve uma morte cheia de
repercussão e sentimento. Por isso é que, fazendo esse registro à parte, quisemos
salientar o fato, um acontecimento de mágoa, para todos e de dor para a música
regional”.
O coche fúnebre sai às 16 horas de sua residência, rua 13 de Maio, n.º 156, em
direção ao cemitério do Araçá, onde é sepultado o violonista.
No mês de outubro de 1928 as lojas começam a vender o último disco de
Jacomino, com as músicas Mexicana (valsa) e Uma Noite na Roça (cateretê), ambas
gravadas naquele 14 de março.
Capítulo III – Panorama do violão em São Paulo: 1904 –
1928
III.1 – Os violonistas nas salas de concerto: Canhoto, Barrios, Robledo e outros.
Após os primeiros registros em disco de Américo Jacomino, na primeira etapa
da carreira artística de Jacomino, a partir de finais de 1915, os jornais começam a
noticiar seus recitais. O repertório do violonista é bastante extenso, sendo que várias
composições que Canhoto gravou em disco não foram tocadas em público (caso de
Quando os Corações se Querem), da mesma forma que outras peças executadas em
concerto não foram gravadas em disco (caso de Magia de Olhar e Tango da Agarra).
Após 5 de março de 1925, o maior número de apresentações de Jacomino se dá
no rádio - o então emergente meio de comunicação -, mais especificamente na
Sociedade Rádio Educadora Paulista. As notícias de que o violonista teria inaugurado
esta rádio são incertas, já que, por artigos do jornal O Estado de São Paulo, vê-se que o
violonista foi um dos primeiros a tocar na rádio, mas não há maiores detalhes sobre o
assunto (vide capítulo II).
Entre os locais em que o violonista mais se apresentou em toda sua carreira estão
(sem incluir as temporadas):
Conservatório Dramático e Musical de São Paulo: 14 vezes
Teatro São Pedro: 6 vezes
Teatro Avenida: 4 vezes
Teatro Boa Vista: 4 vezes
Teatro São Paulo: 4 vezes
Além destes, Jacomino apresentou-se em praticamente todos os palcos principais
da cidade de São Paulo, incluindo o Municipal (duas vezes), Teatro Colombo e Teatro
Santana, somando-se ao todo mais de trinta e cinco palcos. São várias também as
informações sobre turnês pelo interior do Estado de São Paulo, em cidades como
Descalvado, Campinas, Santos, Itu, Amparo, Bauru e Jaú, além de outros Estados como
Rio de Janeiro.
Américo Jacomino esteve tão presente nos noticiários que por várias vezes o
jornal O Estado de São Paulo colocou uma coluna intitulada “Notícias do Canhoto”.
As informações de outros violonistas são em número muito menor (vide capítulos I e
II).
No primeiro capítulo reunimos notícias sobre violonistas atuantes na cidade de
São Paulo, seus repertórios e locais de atuação, com o intuito de apontarmos o
surgimento do nome de Américo Jacomino.
Tabulando as datas de atuação,
compositores executados, seus intérpretes e locais onde tocavam, é possível esboçar um
panorama do instrumento na metrópole, que se desenvolvia rapidamente.
A análise dos resultados obtidos (vide anexo I) levará em conta datas que
estabelecemos na cronologia da vida e obra de Jacomino: ele nasce em 1889 e grava
Belo Horizonte para violão solo, peça de sua autoria, em 1912; a primeira audição do
violonista, noticiada pelos jornais, dá-se em 1915, e ele permanece atuante na cidade até
1922, quando se muda para São Carlos após seu casamento; em 1925 ele volta para a
capital, onde permanece até a morte, em 1928.
Primeiro momento: 1889 a 1912
É de 1904 a primeira notícia de recital de um violonista, F. P. Catton, a
apresentar-se no Club Germânia, sem indicação de repertório, no entanto. Mas durante
esta primeira década do século vinte, até 1911, Gil Orosco e Manuel Gomes, além do
Tercetto Espanhol e da dupla Gil Orosco/Alberto Baltar,
apresentam-se no Salão
Steinway, nome de uma das salas do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e
no Centro Espanhol. Aliás, neste segundo espaço só Manuel Gomes se apresenta. O
repertório traz, como compositores da literatura do violão erudito, o nome de Francisco
Tárrega e o de Julian Arcas, principalmente. O restante do repertório inclui transcrições
de Chopin, Meyerbeer e Verdi, além de peças originais dos próprios violonistas que
tocaram (caso de Orozco e de Manuel Gomes).
Segundo momento: 1914 a 1922
O segundo momento contempla os recitais de Francisco Pistoresi, que realiza
alguns recitais ao violão apresentando seu invento, o diamenofone, uma espécie de
amplificador. Todo o repertório deste violonista era composto de transcrições de obras
de autores célebres como Wagner e Boccherini, com exceção de uma gavota de Mauro
Giuliani, obra original para violão.
Em 1916, com a estréia de Américo Jacomino em São Paulo, o movimento
violonístico toma um impulso jamais visto até então. O repertório de concerto deste
violonista durante o ano é composto exclusivamente de obras de sua autoria. Nos anos
subseqüentes, até 1922, o violonista apresentaria peças de autores como Levino Albano
da Conceição (Tarantella) e Frontini (Serenata Árabe).
Em 1917 ocorrem as estréias de Agustín Barrios e Josefina Robledo na capital
paulista. O repertório de Barrios é variado, com muitas obras de sua autoria, peças de
compositores paraguaios, como Garcia Tolsa e Alberto Baltar, e transcrições de autores
como Beethoven, Chopin e Mendelssohn. Como peças originais Barrios interpreta
Tárrega, Giuliani, Aguado, Coste e Regondi. Josefina Robledo não é compositora e,
por sua vez, interpreta como peças originais apenas as de seu professor Francisco
Tárrega e de seu colega Emílio Pujol. Todo o restante do repertório é composto de
transcrições de autores espanhóis como Isaac Albeniz e Enrique Granados, além de
compositores consagrados como Bach, Chopin e Paganini.
Um terceiro nome se
apresenta para o público paulista, o de Benedito S. Capello, que interpreta os mesmos
autores que os demais e, a exemplo de Josefina Robledo, inclui uma obra de Emílio
Pujol (Canção do Berço). Uma exceção ao padrão de autores escolhidos é a inclusão,
em 1919, da transcrição de duas peças (gavota e minueto) da ópera O Contratador de
Diamantes de Francisco Braga, transcrições estas que estão perdidas. Esta composição,
juntamente com a Fantasia sobre O Guarani, de Carlos Gomes, transcrição a cargo de
Américo Jacomino, são as duas únicas obras de compositores eruditos brasileiros
executados no período.
As salas escolhidas para os recitais se diversificam e o público pode, então,
freqüentar o Salão do Correio Paulistano, Teatro Municipal de São Paulo, Salão do
Automóvel Clube, Pavilhão Central, Teatro São Pedro e o Salão da revista A Cigarra,
embora a mais requisitada seja a sala do Conservatório Dramático e Musical de São
Paulo.
Terceiro momento: 1923 a 1928
Este último momento, que, como dissemos, compreende a volta de Canhoto para
a capital até a sua morte, ainda traz apresentações de Josefina Robledo seguindo o
mesmo padrão apontado.
Américo Jacomino continua interpretando peças de sua
autoria, além de peças originais de outros autores como Julian Sagreras (Uma Lágrima),
João Pernambuco (Randon) e transcrições de Mendelssohn (3.º Prelúdio) e Verdi
(Miserere da ópera O Trovador).
Novos violonistas vão surgindo. João Avelino de Camargo, que formaria o
primeiro trio de violões brasileiro de que se tem notícia, o trio Os Três Sustenidos,
começa a se apresentar em recitais com obras de sua autoria. Domingos Silva aparece
interpretando peças próprias e composições do repertório de outros violonistas, como
obras de Verdi (Miserere), Carlos Gomes (O Guarani) e Levino Albano da Conceição
(Tarantella). Alfredo Pistoresi (filho de Francisco) inicia seus recitais com obras de
Tárrega e Chopin, nitidamente inspirado em Josefina Robledo. Esta violonista possui
como aluno em São Paulo Osvaldo Soares, que em 1925 realiza seus primeiros recitais,
interpretando obras de compositores como Schumann, Albeniz, Tárrega e Pujol, entre
outros, a exemplo de sua professora.
Em 1925 e 1926 o paraguaio Pablo Escobar apresenta-se com um repertório
variado, destacando-se peças de conterrâneos como Barrios e Garcia Tolsa, além de
Tárrega, Sinópoli e peças de sua própria autoria. Canhoto, ao voltar à capital paulista,
começa a demonstrar suas preferências quanto ao repertório, sendo várias as vezes em
que o violonista interpreta a Marcha Triunfal Brasileira, Abismo de Rosas e Viola,
Minha Viola, justamente as obras que interpretaria no concurso O Que é Nosso, no Rio
de Janeiro.
Entre novos nomes que aparecem a partir de 1926 estão Larosa Sobrinho, Luiz
Buono, José Navarro, Benedito Chaves, Pedro J. Moraes, Leopoldo Silva Hugo
Banzatto, Totó, J. Sebastião Lima e Pedro Cavalheiro, que contemplam em boa parte de
seus repertórios, obras de suas autorias. A exceção fica a cargo de Juan Rodrigues, que
amplia o repertório, incluindo originais de Fernando Sor e transcrições de Porcel, além
de peças de sua própria autoria.
Com relação às salas de concerto mais requisitadas neste terceiro momento, os
teatros que acolhem as apresentações de violonistas são o salão do Conservatório
Dramático e Musical de São Paulo, o Teatro Municipal, a União Católica Santo
Agostinho, Associação dos ex-alunos Salesianos e o Teatro Boa Vista.
A grande
novidade é que na Sociedade Rádio Educadora Paulista começam a ocorrer
apresentações dos vários novos violonistas já citados anteriormente.
Conforme fica demonstrado, este terceiro momento se caracteriza sobretudo pelo
grande número de apresentações de solistas nos palcos de São Paulo, proeminência que
se acentua, se considerarmos que o instrumento também passa a ser muito divulgado
nas rádios que vão surgindo.
III.2 – Os violonistas nos estúdios das gravadoras:
Rogério Guimarães e outros.
Canhoto, Levino Albano,
Através de uma listagem com os discos gravados entre 1902 (vide anexo II),
quando se registra o primeiro disco comercial no Brasil, até o final da década de 1920,
quando da morte de Américo Jacomino, é possível obter dados expressivos sobre a
atuação dos violonistas neste início do desenvolvimento da arte solística do violão no
Brasil.
A fase mecânica dura aproximadamente de 1902 a 1927, com cerca de 7000
discos, dos quais mais da metade são registrados pela Casa Edson. Fred Figner, o
diretor desta empresa, passa a prensar suas chapas no Brasil em 1913, com a instalação
da Fábrica de Discos Odeon.
A fase da gravação elétrica de 78 RPM no Brasil inaugura-se em julho de 1927,
totalizando 28000 discos, sendo editados de 1927 a 1964, quando o sistema cai em
desuso.
Entre os primeiros registros de violão solo no Brasil há uma gravação do cantor
lírico Mário Pinheiro com a música Petita, de sua própria autoria, gravada em 1910, em
disco de uma face apenas, e há um disco gravado pela Columbia entre 1908 e 1912, de
duas faces, com a gavota Jaci e o batuque Sertanejo, compostas e interpretadas por João
Pernambuco.
Com relação a Canhoto e demais violonistas do período, é provável que
Jacomino agradasse por suas composições, pelo repertório e pela qualidade de seu
trabalho, uma vez que foi o violonista que mais discos gravou, como comprova a
Discografia Brasileira em 78 RPM. Até meados de 1940, ou seja, 12 anos após a sua
morte, ele aparece como o nome mais expressivo nas gravadoras:
Américo Jacomino: 47 discos com violão, 5 com cavaquinho e 40 com seu grupo.
Mozart Bicalho: 9 discos
Glauco Vianna: 11 discos
Levino Albano da Conceição: 8 discos
João Pernambuco: 10 discos
Rogério Guimarães: 15 discos
José Augusto de Freitas: 4 discos
Benedito Chaves: 7 discos
Henrique Brito: 9 discos
Antônio Giacomino: 2 discos
Trio Os Três Sustenidos: 4 discos
Tal panorama começaria a mudar quando outra geração de violonistas entra no
estúdio para gravar, caso de Aníbal Augusto Sardinha (em 1930), mais conhecido como
Garoto - que foi aluno de Canhoto -, Dilermando Reis (em 1941), Laurindo de Almeida
(em 1938) e o próprio Heitor Villa-Lobos, que gravaria seu Choros n.º 1
comercialmente no dia 25 de abril de 1940, sendo lançado em abril do ano seguinte.
O colecionador Ronoel Simões possui ainda uma gravação do tango argentino Se
Acabaram Los Otários, disco matriz não citado na Discografia Brasileira em 78 RPM.
Uma curiosidade é que o nome da música é o nome do primeiro filme sonoro brasileiro,
do qual participa seu companheiro Roque Ricciardi, o Paraguaçu. O filme foi lançado
comercialmente em 1929, um ano após o falecimento de Américo Jacomino, portanto é
provável que, caso a vida lhe tivesse fornecido mais tempo, ele também tivesse
participado do filme.
A Odeon era a que mais gravava o instrumento, seguida da Victor Records,
Favorite Records e Columbia. A Zon-o-Phone teve uma participação expressiva no
início das gravações em 1902, sendo, porém, um caso isolado. Canhoto trabalharia para
duas companhias, a Odeon e a Phoenix, sendo que seu nome sairia também pela
pequena gravadora Gaúcho através de uma gravação do grupo Os Geraldos,
interpretando duas músicas de sua autoria. O nome de Canhoto foi o único que figurou
nos catálogos dessas gravadoras entre 1912 e 1933, cinco anos após sua morte.
Relacionamos, a seguir, as gravadoras para as quais os violonistas trabalharam:
ZON-O-PHONE: Os primeiros discos brasileiros foram os da gravadora Zono-Phone, séries 10000 e x-100 (gravadas no Brasil e fabricadas na Alemanha pela
International Zonophone Co.), respectivamente, de discos de 7 e 10 polegadas de
diâmetro. Como as séries são simultâneas, tanto o 10.001 (Isto é bom) como o x-1001
(Ave Maria) poderiam ser considerados os primeiros discos brasileiros, gravados em
1902 ou, alguns, em 1901. A Zon-o-Phone prensa os discos em duas faces, ao contrário
das demais. Os cantores Bahiano e Cadete registram inúmeros discos acompanhados ao
violão, sendo que a contagem geral dos catálogos desta empresa se aproxima de 200
gravações. Não há nenhum solo de violão registrado pela Zon-o-Phone..
ODEON:
-1.ª Série Brasileira – 40000 (1904/1907): Os discos com acompanhamento de
violão registrados nesta série somam 39.
Há, por um lado, várias gravações sem
indicação de acompanhamento. Por outro lado, há indicações mostrando que muitos
foram acompanhados pelo cantor e violonista Mário Pinheiro. Os discos são todos de
duas faces.
-Série 10000 (1907/1913): Nesta série são registrados 17 discos com
acompanhamento de violão, sendo que vários não possuem indicação de
acompanhamento. O cantor Mário Pinheiro novamente acompanha a maior parte das
gravações. Dois grupos possuem violão em sua formação: Grupo da Casa Edson e
Grupo Novo Cordão.
-Série 108000 (1907/1912): Nesta série são registrados 33 discos com
acompanhamento de violão. Bahiano, Cadete e Eduardo das Neves acompanham a
maior parte das gravações.
-Série 70500 (1908/1912): Há várias gravações com Mário Pinheiro. Não se
sabe ao certo se há algum solo de violão, mas o instrumento é utilizado para grande
número de acompanhamentos.
-Série 137000 (1912/1914): Esta série teve pouca duração e poucos discos foram
lançados.
-Série 120000 (1912/1915): Nesta série aparecem os primeiros registros
fonográficos de Américo Jacomino, o Canhoto. Este violonista lançou a maior parte das
gravações em solos de violão até a metade do século vinte, fato comprovado pela
listagem de gravações até o período. Há ainda vários discos de Cadete, Bahiano e
Eduardo das Neves.
-Série 121000 (1915/1921): Nesta série são registrados 4 discos com
acompanhamento de flauta, cavaquinho e violão, 4 com flauta e violão, 1 com violão e
piano, 2 com violão e bandolim, 72 com violão e cavaquinho, e 13 com violão.
Américo Jacomino aparece acompanhando o cantor Bahiano em 2 discos. Existem
também vários registros com Canhoto, Eduardo das Neves, Bahiano e Mário Pinheiro,
certificando que, nesta época, o violão era o instrumento que mais acompanhava os
cantores. Mais ou menos 28 grupos que gravaram discos possuíam violão em sua
formação.
-Série 122000 (1921/1926): Há nesta série várias gravações do cantor Bahiano,
sem, contudo, haver uma certeza de quantos são acompanhados de violão. O grupo
Turunas Pernambucanos é formado de 3 violões, 1 cavaquinho e 1 saxofone, e grava 4
discos. Há ainda algumas gravações de Canhoto, Levino Albano da Conceição, entre
outros.
-Série 123000 (dez. 1925/ jul. 1927): Cada face desta série possui uma
numeração distinta.
Aqui aparecem várias gravações de João Pernambuco com
acompanhamento de Rogério Guimarães. Há também curiosas gravações de Américo
Jacomino tocando cavaquinho e até cantando.
-Série 10000 (julho 27/ maio 33): A importância artística desta série é
incomparável. Há inúmeras gravações com acompanhamento de violão solo ou com
outros instrumentos, com intérpretes como Rogério Guimarães, Mozart Bicalho,
Canhoto e Sainz de la Maza. Vários cantores de importância gravaram nesta série, entre
eles a cantora e violonista Olga Praguer Coelho. Há também gravações de Francisco
Alves tocando violão e sendo acompanhado por Canhoto. Somando-se o número de
acompanhamentos de violão solo ou com outros instrumentos, chega-se a mais ou
menos 70 gravações, considerando ainda o fato de que muitas músicas aparecem sem
indicação de acompanhamento.
-Série 11000 (maio 33/ julho 41): Há mais ou menos 78 músicas com
acompanhamento de violão nesta série, a maioria por Rogério Guimarães. Há duas
curiosas gravações de Ari Barroso tocando piano e sendo acompanhado por Laurindo de
Almeida e Garoto em agosto de 39. O Regional de Laurindo (de Almeida) e Garoto
grava 7 discos. Rogério Guimarães grava 18 discos com acompanhamento de violão
solo, além daqueles com outros instrumentos.
ODONETE: (1.º Semestre de 1927)
Aparecem apenas um dueto de guitarra e violão e um dueto de violão e
cavaquinho.
FAVORITE RECORDS: (1910/1913)
Nesta gravadora aparecem 33 discos com acompanhamento de violão. Os
intérpretes são: Neco, Alberto, Artur Castro, Orestes de Matos, Zeca, Acácio, Pacheco e
Serrano.
VICTOR RECORD: (1908/1912)
A maioria das gravações foi feita com acompanhamento de violão, mais
precisamente 80 registros, sendo grande parte a cargo de Mário Pinheiro.
Dois
conjuntos mantinham violão em sua formação: Quarteto Os Sustenidos e o Quarteto
Oriente.
COLUMBIA: (1908/1912)
Há uma gravação de João Guimarães (Pernambuco) tocando violão. A maioria
dos discos desta gravadora – vinte e oito - possuía acompanhamento de violão, muitos
desses discos pelo Belchior da Silveira, “Caramuru”, o principal cantor da Columbia.
Quatro grupos possuíam violão em sua formação nesta série: Grupo Nicanor, Grupo K.
Laranjeira, Grupo Chiquinha Gonzaga e Grupo Lulu o Cavaquinho.
BRASIL: (1911/1914)
Há apenas a informação de um grupo, o Terceto Paulino, formado por violão,
bandolim e bandola.
PHOENIX: (1913/1918)
Há várias gravações do Grupo do Canhoto e dele próprio tocando violão solo.
Há também gravações de vários conjuntos que utilizam o instrumento.
São eles:
Caravana de São Francisco, Grupo do Louro, Trio Aurora, Grupo dos Descarados,
Grupo dos Chorosos, Grupo dos Excêntricos, Grupo dos Fiteiros, Grupo Phoenix,
Grupo Diamantino, Grupo Faceiro e Grupo Sulferino.
GAÚCHO: (1912 / Início dos anos 20)
Há apenas uma gravação do conjunto Os Geraldos interpretando uma música de
Américo Jacomino.
VICTOR:
- Série 33200 (nov. 29/ dez. 35): Nesta série há inúmeras gravações com
acompanhamento de violão solo ou com outros instrumentos. Os principais violonistas
acompanhadores são Rogério Guimarães, Garoto e Glauco Vianna.
- Série 34000 (dez. 35/ set. 42): Nesta série há diversos discos sem indicação de
instrumento acompanhador. Na maioria das gravações de música sertaneja os cantores
interpretam ao som de viola caipira. O violão está presente como acompanhante em
quase todas as gravações, excetuando-se as com orquestra. A cantora Olga Praguer
Coelho tinha como violonistas acompanhantes Pereira Filho e Luiz Bittencourt, além de
Rogério Guimarães e outros.
COLUMBIA:
- Série 5000 (fev. 29/ jul. 30): Nesta série há vários discos sem indicação de
instrumento acompanhador. O cantor Paraguaçu e a cantora Stefana de Macedo faziamse acompanhar por violonistas.
Alguns violonistas que aparecem nesta série são:
Benedito Chaves “Guru”, Jararaca (José Luiz Calazans), José Pedroso Camargo, João
Pernambuco, Petit (Hudson Gaia) e José Sampaio.
Há também alguns solos com
Benedito Chaves “Guru” interpretando peças eruditas e várias gravações com João
Pernambuco.
- Nas séries 20000 (maio 29 /set. 30), 7000 (ago. 30/ out. 30) e 22000 (jan. 31/
nov. 34) não há solos de violão. Aos poucos os acompanhamentos com o instrumento
vão diminuindo e as orquestras vão ocupando mais espaço nas gravadoras.
- Série 8100 (dez. 34/ out. 38): Há algumas gravações de Aníbal Augusto
Sardinha, o Garoto, tocando guitarra havaiana e violão tenor.
Vários discos não
possuem indicação de acompanhamento. Os conjuntos instrumentais acompanham a
maioria dos discos.
- Série 55001 (dez. 38/ out. 43): A importância desta série reside no fato que
Dilermando Reis grava seu primeiro disco, com a música Noite de Lua. Há algumas
poucas gravações com acompanhamento de violão e alguns solos deste instrumento.
PARLOPHON:
- Série 12801 (ago. 28/ago. 29): Há uma gravação de Guido Santórsola tocando
violino. Este iria ser um dos grandes compositores para o violão no século vinte,
criando importantes peças para o repertório de grandes violonistas como Abel Carlevaro
e Sérgio Abreu. Há também algumas gravações de Rogério Guimarães. Muitos discos
não possuem especificação de acompanhamento. Nas notas da Discografia Brasileira
em 78 RPM, editada pela FUNARTE, há uma citação sobre Glauco Vianna: “O
violonista e compositor Glauco Viana era, então,
‘quase uma criança’, segundo
Monoarte. Também muito jovem era o violonista e acompanhante Jaime Florence, um
feliz exemplo de longevidade artística, em atividade até os dias atuais”.
- Série 13000 (ago. 29/ ago. 32): Nesta série, a última da Parlophon, há mais
algumas poucas gravações com violão, com intérpretes como Armando Neves, Tito,
Tute e Luperce Miranda, entre outros. Em uma gravação Garoto aparece com o nome
Aníbal da Cruz. Há também gravações com Glauco Vianna, Carlos Campos, entre
outros.
BRUNSWICK:
- Série 10000 (dez. 29/ fev 31): Há diversos discos em que o acompanhamento
não está especificado. O total soma quatorze. Há gravações do mais antigo trio de
violões brasileiro de que se tem notícia, o trio Os Três Sustenidos, formado por Melinho
de Piracicaba, João Avelino e Teotônio Corrêa, sendo poucos os registros em solos de
violão.
ARTE-PHONE: (SP início dos anos 30): Há apenas duas gravações com violão, uma
delas com Antonio Giacomino, que não possuía parentesco com Américo Jacomino.
Capítulo IV - O violonista Américo Jacomino: A música, a obra, o professor e seu
instrumento
IV.1 - Aspectos técnico-interpretativos e recursos violonísticos empregados
O principal nome do violão durante finais do século dezenove e inícios do
século vinte foi o espanhol Francisco Tárrega, cuja aluna Josefina Robledo se
apresentou no Brasil durante as décadas de 1910 e 1920 (vide capítulo I), chegando a se
instalar por um breve período em São Paulo e Rio de Janeiro. As peças de Tárrega
eram as que apresentavam os mais variados recursos timbrísticos no instrumento, e pela
coincidência das apresentações de Robledo e Barrios com os primeiros recitais
importantes de Américo Jacomino, é provável que o violonista brasileiro tenha neles se
inspirado para utilizar alguns desses recursos.
Os exemplos mais utilizados por
Jacomino são:
- Pizzicati: apesar de ser um recurso conhecido e utilizado por compositores desde o
período clássico, foi bastante difundido por Tárrega, chegando a apresentar uma nova
forma de executar, tocando com a palma da mão sobre a região da roseta do violão, em
sua Gran Jota Aragonesa, aliás, uma das peças mais tocadas por Josefina Robledo no
Brasil.
Américo Jacomino apresenta em Viola, Minha Viola um efeito de fala se
utilizando do pizzicato tocado de forma normal (sobre o cavalete), porém com a mão
esquerda (ou direita, no caso de Jacomino) tocando na mesma região da roseta do
instrumento, apresentando, desta forma, sons indeterminados. Este efeito é inédito até
então, e nenhum outro compositor, até onde se saiba, se utilizou do mesmo recurso.
- Harmônicos: O efeito de harmônico conhecido no violão é realizado de duas formas: o
harmônico natural, obtido com a ressonância das cordas soltas do instrumento, e o
harmônico oitavado, obtido com a ajuda da mão esquerda, que prende a nota específica
que se quer escutar. Jacomino utilizou principalmente o harmônico natural, que tocava
de maneira bastante ressonante e projetada, efeito este facilitado pela própria
ressonância de seu violão (como pode ser certificado na gravação do CD anexo à
dissertação). Entre as obras em que Jacomino se utiliza deste efeito, estão a gavota
Alvorada de Estrelas, as valsas Abismo de Rosas e Luizinha e o tango Por que tu
vuelves a mi?.
- Trêmulo: Este efeito é obtido tocando-se de forma rápida e seguida três ou mais notas
iguais. Normalmente se faz com o polegar pinçando os baixos e indicador, médio e
anular pinçando o canto (melodia). É impossível certificar qual a digitação utilizada por
Jacomino, mas há a suposição, pela posição da mão quando se toca de forma canhota,
que seja o dedo anular para os baixos e o anular, o indicador e o polegar para o canto.
Jacomino se utiliza deste efeito para tocar a peça Um Delírio, de Gaspar Sagreras, o
noturno Melancolia e a Fantasia sobre O Guarani, de Carlos Gomes.
- Rufo: Efeito de tambor, bastante utilizado para músicas de caráter militar. Um dos
exemplos mais contundentes está na já citada Gran Jota Aragonesa, de Francisco
Tárrega.
Jacomino utiliza este efeito em suas marchas de forma bastante eficaz,
servindo de referência a outros compositores brasileiros que fizeram peças do mesmo
caráter (Benedito Chaves, por exemplo, em sua peça Marcha Colombina).
Os
principais exemplos de Jacomino são o dobrado Campos Sales e a Marcha Triunfal
Brasileira. Na primeira gravação da Marcha dos Marinheiros, Jacomino também se
utiliza deste efeito, que foi excluído na segunda gravação da mesma peça, realizada pelo
próprio compositor.
- Glissandi: Efeito bastante utilizado por Jacomino por facilidade de seu violão, que
possuía tensão muito pequena (cordas baixas em relação ao espelho, que é a parte do
braço do violão em que apertamos as cordas com os dedos da mão esquerda) e grande
vibração da madeira, fato este comprovado também pela gravação do CD anexo para a
dissertação. O principal exemplo do uso deste efeito em uma obra de Jacomino está na
valsa Burgueta.
- Rasqueados: Efeito utilizado desde o período renascentista em instrumentos de cordas
dedilhadas. No violão brasileiro foi fundamental como demonstração de músicas de
caráter regional, sendo ainda hoje símbolo e recurso principal de músicas de estilo
popular, principalmente quando tocado em viola caipira. É o oposto do ponteado, estilo
em que o violonista dedilha as cordas.
Américo Jacomino se utiliza deste efeito
principalmente nas peças Viola, Minha Viola, Marcha dos Marinheiros e Fantasia
sobre o Guarani, de Carlos Gomes.
As tonalidades preferidas por Jacomino, a julgar pelo número de gravações,
foram as de Lá maior e Mi maior, as mais comuns do violão no período. O violonista
gravou quase que exclusivamente peças de sua autoria, fazendo exceção aos
compositores Donato, Joubert de Carvalho, Canaro, Fresedo e Carlos Gomes.
Luís Américo, seu filho, contou81 que, segundo sua mãe lhe dizia, Américo
Jacomino estudava praticamente o dia inteiro, e não gostava de ser incomodado para
não perder a concentração. Pelos discos é possível conferir que o violonista pouco
falhava nas notas, em uma época em que não podiam ser feitos cortes de edição nas
gravações.
As poucas críticas desfavoráveis a Américo Jacomino partiram de violonistas
contemporâneos a ele como Atílio Bernardini82 e da revista O Violão83. Bernardini foi
um dos pioneiros do ensino do violão no Brasil, mais especificamente na cidade de São
Paulo, tendo estudado teoria musical no Conservatório Dramático e Musical de São
Paulo, e foi um dos primeiros a publicar um método de violão com idéias mais
modernas no Brasil. Com relação à revista O Violão, a mesma já havia publicado
artigos em que elogiava o violonista84.
Apesar do ensaio fotográfico feito por Jacomino em 1919, não se conhece,
infelizmente, até o momento, fotografias de Américo Jacomino durante uma
apresentação, para se ter melhor noção da postura corporal e das noções técnicas do
81
Entrevista de Luís Américo Jacomino a Gilson Antunes em São Paulo, no dia 27 de novembro de 1999.
Entrevista de Ronoel Simões a Gilson Antunes em São Paulo, no dia 30 de março de 1994.
83
O Que é Nosso: O “Correio da Manhã” prosseguirá na defesa do nosso patrimônio. O Violão, Rio de
Janeiro, ano 1, n.º 5, pp. 15-16, abr. 1929.
84
“A Cultura do Violão em São Paulo”. O Violão, Rio de Janeiro, ano 1, n.º 1, p. 17, dez. 1928.
82
violonista, e até que ponto ele aplicava seu método em prática para uso próprio. Ao que
parece, não é raro o aparecimento de violonistas canhotos que tocam o instrumento sem
inverter as cordas, principalmente entre aqueles que não tiveram acesso a escolas de
música. Cita-se como exemplo de violonistas solistas que gravaram discos ou deixaram
imagens, Canhoto da Paraíba e Rogério Guimarães. No caso de violonistas cuja técnica
se baseia no esquema popular de tocar por cifras, com “batidas” (pulsações) rítmicas da
mão direita, verificam-se vários cantores de duplas sertanejas, mas estes são casos
específicos, sem relação com o violão solista e com esta monografia.
Sobre informações dos dois violonistas citados, Rogério Guimarães nasce em
Campinas em 8 de junho de 1898, tendo iniciado sua carreira artística no ano de 1922,
gravando dois anos depois seu primeiro disco, com a valsa Martha e o fox-trot
Marinetti. Foi um dos primeiros artistas a gravar na Victor com fabricação nacional em
1929, tornando-se diretor artístico desta mesma gravadora por três anos no Rio de
Janeiro. Como Jacomino, liderou um conjunto musical que acompanhou vários artistas,
o Regional Rogério Guimarães. Em 1954, por ocasião do 4.º Centenário da Cidade de
São Paulo, gravou em disco a mais conhecida composição de Américo Jacomino, a
valsa Abismo de Rosas, tendo sido acompanhado por uma orquestra. A peça possui
originalmente três partes, em Lá maior, Lá menor e Ré maior, sendo que nesta gravação
eles não executaram a terceira parte da música.
Ao se escutarem algumas gravações deste violonista, percebe-se que possuía
uma técnica diversa da de Jacomino. Isso é perceptível por meio dos poucos recursos
violonísticos utilizados (pouco ou nada de trêmulos, pizzicati, harmônicos e demais
efeitos timbrísticos), além de gravar quase que integralmente com acompanhamento de
outro violonista, ao contrário de Jacomino. Do mesmo modo, não é possível perceber
que seja um violonista canhoto que esteja tocando e suas peças são bastante passíveis de
serem interpretadas a partir da maneira tradicional de pinçar as cordas. Acrescente-se a
isto o fato de sua valsa Gotas de Lágrimas ainda permanecer no repertório de
violonistas mais antigos.
Canhoto da Paraíba é o pseudônimo de Francisco Soares. Em 1959 faz sua
primeira apresentação no Rio de Janeiro, ganhando a admiração de pessoas como
Radamés Gnattali e Paulinho da Viola. Gravou poucos discos, sendo que o mais
conhecido foi registrado em 1977, com produção de Paulinho da Viola para a Marcus
Pereira Discos.
Felizmente no caso deste violonista é possível ter acesso a análises
mais pormenorizadas pelo fato de existirem imagens gravadas em programas de
televisão, ao contrário de Jacomino ou Guimarães. Analisando um programa de
televisão85, observa-se que o violonista utiliza digitações alternativas de mão esquerda
(a que pinça as cordas) e direita (a que marca a posição das notas), tanto para pinçar as
cordas quanto para realizar determinados recursos técnico-musicais, como ligados
ascendentes e descendentes.
Uma questão é mister ser analisada. O fato de os violonistas serem canhotos
teria, ao utilizarem uma técnica diferenciada, influência no resultado sonoro, ao
contrário dos violonistas destros? Teoricamente sim, pelo fato daqueles se aproveitarem
de uma técnica cujo peso dos dedos, ao pinçarem as cordas, é diferente do peso dos
dedos utilizados pelos violonistas destros. É certo que isso poderia ser controlado com
um estudo sistemático de independência dos dedos, tão comum em métodos de violão.
Mas, caso isso não ocorresse, o resultado seria bastante singular. Poder-se-ia pensar na
possibilidade de uma digitação base para os violonistas canhotos, com o dedo anular
pulsando os bordões e o dedo médio para a terceira corda, o indicador para a segunda e
o polegar para a primeira. É óbvio que as variantes seriam muitas, como no caso dos
violonistas destros, inclusive um grande número de digitações alternativas, e por que
não, o uso do dedo mínimo da mão esquerda, ainda pouco utilizado por violonistas em
geral (e, no começo do século vinte, menos ainda).
Ao se escutarem os discos de Américo Jacomino e Rogério Guimarães, essa
possível diferenciação sonora não é perceptível, comparando-se com violonistas destros.
Inclusive, ao ater-se em técnicas intrinsecamente baseadas na mão direita, como no caso
do trêmulo, em Américo Jacomino (nas músicas Melancolia e Fantasia sobre o
Guarani) não se percebe que o violonista esteja tocando de forma invertida. Para uma
digitação base de polegar, indicador, médio e anular, com o dedo anular para os
bordões, uma provável mudança para anular, médio, indicador e polegar dos canhotos
resultou em sonoridade idêntica.
Não se pode afirmar, como Ronoel Simões86, que Américo Jacomino tenha
formado uma Escola Violonística. A justificativa de que isso tenha ocorrido pelo
simples fato de o violonista tocar da forma que tocava é vaga, se apoiada apenas no fato
de que seu Método de Violão é feito para destros; além disso, não se conhece nenhum
aluno de Jacomino que tenha servido como referência para gerações futuras, o que
85
“Canhoto da Paraíba”. Projeto Brahma Extra – Grandes Músicos. Fita de VHS, VI – 00508.17.
Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.
86
Depoimento de Ronoel Simões ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Fitas n.º 75.1.2 e 75.3.4.
acaba por desvalidar a justificativa de Simões. Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, que
como foi dito estudou com Américo Jacomino, chegou até mesmo a gravar Abismo de
Rosas duas vezes, além de fazer um arranjo “exótico”87 para a Marcha dos Marinheiros,
que iria gravar pouco antes de sua morte prematura. Porém, este mesmo violonista
passaria para a história como aluno de Atílio Bernardini, o mesmo que fez crítica
desfavorável a Américo Jacomino. O Método de Violão de Américo Jacomino, além de
ser desenvolvido para pessoas destras, é baseado em suas informações iniciais nos
métodos de violonistas do período clássico. O fato de tocar com o dedo mínimo junto
ao tampo do instrumento, com o violão na perna esquerda e sem unhas mostra uma
ligação direta com a escola do violonista espanhol Fernando Sor88.
IV.2 – Manuscritos e partituras impressas de Américo
Jacomino
Esta relação está feita em ordem alfabética para facilitar sua localização. Ela se
baseia em partituras encontradas em arquivo - pessoal e de particulares - além de
notícias de jornais e citações do jornalista Juvenal Fernandes no álbum editado pela
Fermata, em 1978.
Sigla:
MS: manuscrito
p.: página
s.d.: sem data
IV.2.1 - As peças publicadas ou presentes em manuscritos
de transcritores segundo o gênero musical
FOX-TROT
87
Idem.
Sor era partidário do uso do toque sem unhas, como escreve em seu Método de Violão, ao contrário de
seu amigo e conterrâneo Dionísio Aguado. Ambos marcaram vertentes estéticas diferentes, muito
discutidas pelos violonistas da geração dos alunos de Tárrega (primeira metade do século vinte),
principalmente por Emílio Pujol, que viria a escrever o livro El Dilema Del Sonido de la Guitarra,
especificamente sobre este assunto.
88
Américo Jacomino se utilizou três vezes desse gênero musical.
A peça A
menina do sorriso triste parece ter servido de modelo para Quando os corações se
querem e Sudan (esta a versão cantada da anterior), sendo a primeira parte das peças
praticamente idêntica.
A MENINA DO SORRISO TRISTE
Esta música foi gravada pelo próprio Américo Jacomino pela gravadora Odeon,
com número de série 123.199, entre dezembro de 1925 e julho de 1927, sistema
mecânico de 1 face apenas. A matriz recebeu o número 1009, sendo lançado em
dezembro de 1926. A indicação de gênero aparece como sendo um híbrido fox-tango,
sendo as características rítmicas semelhantes às encontradas nesses dois gêneros
musicais. A estrutura é uma forma canção A - B, com introdução e repetição. A
tonalidade é de Lá (modo menor na parte A e maior na parte B), com as funções
harmônicas de T, S, D7, T, S ,T e D7 (parte A, 2 vezes) e T, Dd, D7, T, D, Dd , T, S, T,
D7 e T. No compasso 20 aparece um acorde de subdominante com sexta napolitana,
muito comum em gêneros como o choro.
QUANDO OS CORAÇÕES SE QUEREM
Esta música foi gravada pela Odeon, série 10.188, lado B, matriz 1595, lançada
em junho de 1928. Ela possui uma versão cantada que virou propaganda de marca de
cigarro, chamada Sudan. É uma forma canção A - B, com introdução. A tonalidade é
de Lá, com modo menor na primeira parte e maior na segunda.
SUDAN
Versão cantada de Quando os corações se querem. Segundo seu filho Luís
Américo, trata-se de uma espécie de pré-jingle, ou algo que se assemelhe a isso
atualmente. Na capa da partitura aparece o dizer “Brinde da premiada fábrica de
cigarros Sudan”. Como curiosidade, numa foto em que Américo Jacomino aparece com
seu Grupo, a música que está na estante de música é justamente esta. Ao que parece a
melodia agradou bastante o compositor, que a utilizou novamente em outras ocasiões,
como explicado anteriormente. Os versos são do Duque de Abramonte, e a música é
dedicada a Sabbado D’Angelo, que parece ser o proprietário de tal marca de cigarros
(na contracapa da partitura aparecem várias caixas do fumo, com o citado nome em
destaque na parte central inferior. A letra é bastante sugestiva: “Quando no meu quarto
a meditar / No amor /Para sonhar / Fumo o meu cigarro divinal /Ideal /E sem rival /
Sudan Sudan que faz sonhar Oh! Que cigarro enlevador /Quanta ventura, que sonho
divinal de amor... Foi a fumar que aprendi a amar / Sudan eu te devo o amor consolador
Da minha dôr / Meu amigo divinal /O, Sudan, não tem rival... / Fumo Sudan chic que os
meus ais / Evola em nuvens vans / E também o bom Sudan Ovaes / E todos os Sudans, /
E Sudanita o triunphador / Esse cigarro enlevador / E Sudaneza, Sudan sempre o Sudan
Record...”.
AMOROSA
Esta peça foi publicada para piano pela EMP, sem data, com letra de Luiz de
Freitas. Bastante característico, é um fox em forma de canção, com introdução, parte
única em Mi maior e refrão (2 vezes), com repetição da capo. A letra é tipicamente
romântica e graciosa, e vem aqui reproduzida sem alteração: “Amorosa, És tão gentil e
carinhosa/ Da flor tu tens a alma porosa/ Que é luz, vida e esplendor! / Tem o candor da
madrugada/ E ameniza o teu amor! / És vibração que o mundo e o céu encheu de vida! /
Da inspiração Deus te formou minha querida!/ Tens no falar doces carinhos, Dos
passarinhos, Dentro dos ninhos, a pipilar !”.
ENTRE DUAS ALMAS
Editada para piano com letra de Duque de Abramonte pela Est. Graph. Musical,
sem data. A cópia disponível no CCSP vem com a data de doação de 8 de outubro de
1942. O esquema é de canção A (2x) B, sem introdução, com tonalidade de Sol (modo
menor na parte A e maior na parte B). "Entre duas almas esplendor feitas de amor e de
calor / Fulge luminosa esplendorosa a linda rosa de Thabor / E abre-se azul num céu de
luar a enamorar num longo olhar / Almas que são vans almas de flor feitas de amor e de
esplendor. Oh! Que ilusão Oh! Que ilusão / Oh! Que luar/ No fundo de cada emoção /
Rebrilha refulge um olhar / Oh! Quanto amor / Oh, como é ideal / Que esplendor Oh!
Que esperança Descansa /Balança Entre esse amor".
SAMBA
FECHE A PORTA E LEVE A CHAVE
Editada para piano, sem data e sem nome de editora. O arranjo é de Alcebíades
Corrêa, com letra e música de Américo Jacomino. O esquema encaixa-se na construção
de introdução instrumental, solista (estrofe) e coral (refrão). A tonalidade única é de Lá
maior, com 6 letras diferentes, com o tema gracioso e romântico característico. Refrão:
“Vem comigo/ Vem comigo brincar / Lá na praia eu te digo / Tudo vou confessar”.
SCHOTTISCH
FLÔR PAULISTA
Editada para piano pela “Campassi & Carmin”, sem data. A adaptação rítmica é
de L. Rinaldo. A letra, novamente com o tema romântico e gracioso, não aparece com
especificação, julgando-se tratar também de Américo Jacomino. É uma forma canção
simples A - B, com pequena introdução e repetição da capo. A tonalidade é de Lá
menor. No carimbo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro aparece a data de 1921,
sendo esta ao que parece a data de entrada no estabelecimento.
SERTANEJA
AI! BARBINA!...
Música do repertório do Trio Viterbo-Abigail-Canhoto, editada pela C.E.M.B,
sem data. Na capa da partitura aparece a música como sendo do repertório da Orchestra
Andreozzi do Rio de Janeiro. Pelo carimbo de entrada da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro aparece a data de 1920.
A letra é de Arlindo Leal, com quatro estrofes
diferentes. O musicólogo Paulo Castagna conseguiu uma cópia editada para canto,
violino ou bandolim, julgando-se possuir outras partes da música, sendo provavelmente
um arranjo para pequena orquestra.
A referida cópia foi encontrada no Arquivo
Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, sem código (arquivo 6 - gaveta 3 - pasta 41).
A estrutura é de canção simples com introdução e temas A e B, com repetição da capo.
A tonalidade é de Fá maior.
MAZURCA
TEMPO ANTIGO
Gravada por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 123.305, com
matriz 1119, lançada em maio de 1927. O esquema é de parte A, parte B e A'. A
tonalidade é de Lá, com modo menor na parte A e maior na parte B.
GAVOTA
ALVORADA DE ESTRELAS
Gravada por Américo Jacomino pela gravadora Odeon, número de série
123.201, matriz 1010 e lançada em dezembro de 1926. Uma das mais belas músicas
gravadas por Canhoto, na tonalidade de Ré maior, utilizando o violonista da scordattura,
abaixando em um tom a sexta corda do instrumento, para ganhar em ressonância e
extensão. O esquema é de introdução, partes A e B, e coda. Os acordes de Sol menor e
Sol menor com sexta da coda dão um caráter todo especial, e a interpretação do
violonista em sua gravação, com rubatos propositalmente exagerados reforçam o caráter
romântico desejado.
ROMANCE
PENSAMENTO
Esta peça foi gravada por Américo Jacomino na Odeon, série 10.165, lado B,
matriz 1615, no dia 16 de março de 1928, e lançada em maio do mesmo ano. Na
Discografia Brasileira em 78 RPM, o gênero aparece como sendo valsa. A estrutura é
de introdução, parte A em Mi menor, parte B em Lá menor e parte C em Mi maior,
seguida da repetição da parte A e uma coda.
CATERETÊ
NOITE NA ROÇA !!
Gravada por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.265, lado B,
com Lúcio Chamék ao piano. A matriz é 1604. A data de gravação é 14 de março de
1928, tendo sido lançada em outubro do mesmo ano. Foi editada para piano pela A. Di
Franco, sem data, com versos de João do Sul. Na cópia disponível no CCSP, a data de
doação é de 3 de outubro de 1942. Segue o esquema de canção, com introdução, parte
A, refrão duas vezes, parte B e repetição da capo. A tonalidade é de Fá maior.
NHÁ MARUCA FOI S'IMBORA
Gravada por Os Geraldos pela gravadora Gaúcho, número de série 4.042, lado
A, em sistema elétrico de duas faces, após 1912. Segundo a Discografia Brasileira 78
RPM, o gênero é samba. Na partitura para piano com letra, editada pela A di Franco, de
São Paulo, o gênero é a catira. Os versos são do próprio Américo Jacomino. Na capa
da partitura a música aparece como sendo um sucesso do “popular humorista,
cancionetista e ventríloquo Baptista Júnior”. O esquema é de canção, com introdução,
parte A e B, e repetição da capo. A tonalidade é de Lá maior.
CHORO
OLHOS FEITICEIROS
Gravado por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.017, lado A,
número da matriz 1223, tendo sido lançado em agosto de 1927. Segundo a Discografia
Brasileira 78 RPM, o gênero é o tango. Na partitura editada pela Fermata do Brasil em
1978, com arranjo de Edmar Fenício, o gênero seria o choro maxixe. A estrutura,
simples, é de duas partes em Lá menor.
NITERÓI
Gravado por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.200, lado A,
matriz 1596, em 13 de março de 1928. Na Discografia Brasileira 78 RPM aparece
como gênero o tango-maxixe. Na partitura editada pela Fermata do Brasil em 1978,
com arranjo de Nelson Cruz, o gênero é o choro. A estrutura é de 3 partes, sendo a
primeira em Lá maior, a Segunda em Fá sustenido menor (com repetição da capo) e a
terceira em Ré maior com repetição da capo ao fim.
MENTIROSO
Gravado por Américo Jacomino pela Odeon, número de série 10.166, lado B,
com Lúcio Chamek ao piano. O número da matriz é 1606, tendo sido gravada em 14 de
março de 1928 e lançada em maio do mesmo ano. Segundo a Discografia Brasileira 78
RPM, o gênero seria um maxixe. A estrutura é de 3 partes, com A, B, repetição de A e
C. A tonalidade é de Lá menor.
MAXIXE
!! ESSE CACHORRO SÓ FALTA FALAR !!
Editado para piano, pela Off. Musical ARS, São Paulo, sem data. Na partitura
do CCSP aparece como data de doação 8 de outubro de 1942. Os versos aparecem sem
especificação de autor, o que nos faz crer serem do próprio Américo Jacomino. A
estrutura é de 3 partes em Lá maior.
PONTA GROSSA É BOA TERRA
Editado para piano pela Off. Graph. Musical Campassi & Camin, sem
especificação de data. O gênero aparece como sendo maxixe carnavalesco. A estrutura
é de forma canção A (3 vezes) - B, com introdução e repetição da capo. A tonalidade é
de Lá maior.
DA BAHIA EU QUERO O CÔCO
Editado para piano, com letra de Fernandes de Aguiar pela Est. Graph. Musical
U. Della Latta, sem data específica. Na partitura disponível no CCSP, a data de doação
é de 8 de outubro de 1942. A estrutura é de parte A com refrão (duas vezes) e repetição
da capo. A tonalidade é de Ré maior.
A GENTE SE DEFENDE
Gravado por Frederico Rocha pelo selo Odeon, número de série 123.227, matriz
1064, sistema mecânico de 1 face, entre dezembro de 1925 e julho de 1927. A estrutura
da peça é parte A (duas vezes), parte B e parte C, com repetição da capo. A tonalidade
é de Lá maior. Foi editado para violão pela Fermata do Brasil em 1955, com arranjo de
Domingos Semenzato.
VALSA
A valsa foi o gênero musical preferido por Américo Jacomino, que compôs suas
mais famosas peças nesse estilo, servindo principalmente para o compositor expressar
seu talento melódico nato, ao mesmo tempo que as marchas serviam para o compositor
expressar suas idéias timbrísticas no instrumento. Entre as várias peças estão: Abismo
de Rosas, Manhã Fatal, Delírios, Recordações de Dalva, Sombras que Vivem, Amor de
Argentina, Arrependida e Escuta Minh’Alma.
REMINISCÊNCIAS
Possui uma introdução, uma parte A na tonalidade de Mi menor, parte B em Sol Maior
e um trio em Mi maior.
TRISTE CARNAVAL (SONHO DE PIERROT)
Valsa lenta. Possui uma introdução em compasso binário composto e três partes
na tonalidade de Lá menor (parte C em Lá menor). Na versão impressa para piano
possui uma introdução em compasso binário composto e duas partes em Dó menor. A
letra da música, na partitura de piano é de Arlindo Leal.
Na partitura mais antiga, a instrumentação possui flauta, dois violinos, baixo e
violoncelo, com introdução (moderato) parte A duas vezes, parte B duas vezes com da
capo para o primeiro tema e trio duas vezes, com nova repetição da capo ao fim.
TRISTE PIERROT
Valsa impressa como composição de Paraguaçu e Canhoto.
Possui uma
introdução e duas partes em Lá menor, com um trio em Lá maior.
SONHEI, SORRI, AMEI, DESCRI
Publicada para piano, com cópia de Clorir Mamede. Possui uma introdução e
três partes, sendo A e B em Dó menor e C em Dó maior, com repetição da capo.
CHUVA DE PÉROLAS
Publicada para piano, possui uma introdução, parte A em Ré maior, B em Lá
maior, C em Ré maior e trio em Sol Maior, com repetição da capo e coda em Ré maior.
ROSAS DESFOLHADAS
Valsa gravada duas vezes pelo compositor. Possui introdução parte A em Lá
maior e B em Lá menor, com repetição da capo e coda.
LAMENTOS
Peça em Lá Maior. O esquema da peça, bastante simples, é de uma introdução
bastante rítmica e de três partes, A, B e C.
MARCHA
MARCHA DOS MARINHEIROS
A obra possui duas partes e um trio.
Composta, segundo aparenta, para
homenagear os voluntários brasileiros por ocasião da Primeira Guerra Mundial. A força
interpretativa e a invenção melódica e rítmica fazem desta peça uma das mais
conhecidas do violonista entre os intérpretes do instrumento.
MARCHA TRIUNFAL BRASILEIRA
A obra possui apenas duas partes A e B, com uma intervenção em rufo na parte
central. Jacomino queria, como na Marcha dos Marinheiros, mas até mais que esta,
fazer com que o violão soasse como uma banda marcial, com todos os efeitos
característicos a que se propõe. A força com que se apresenta a obra, os efeitos de
sopros (metais e flautins) e de caixa clara e a energia interpretativa do violonista fazem
com que a peça se destaque das gravações da época.
AI MARGARIDA... AI MARGARIDA!...
Impressa como "marchinha carnavalesca à rag-time" com letra de Juca Meu
Nego. O esquema é de introdução, parte A com quatro letras e estribilho tocado duas
vezes. Possui instrumentação e coral.
TANGO
JÁ SE ACABÔ...
Impressa para piano como tanguinho sertanejo, com letra de Arlindo Leal.
Possui uma introdução e duas partes, com A em Sol menor e B em Si bemol maior e Sol
menor, com repetição da capo.
CAPRICHOSO
Possui uma parte A em Lá maior e parte B em Fá # menor com repetição da
capo.
IV.2.2 – Arranjos para violão de Domingos Semenzato
A Gente Se Defende (maxixe); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata do
Brasil, 1955, 2p., violão.
A Gente Se Defende (maxixe); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata,
1965. 2 p., violão.
Alvorada de Estrelas (gavota); arranjo de Domingos Semenzato. Manuscrito, coleção
Ronoel Simões, 3 p., violão.
Amor de Argentina (tango milonga); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo,
Fermata, 1962. violão.
Amor de Argentina (tango-milonga); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo
Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 18-19, violão.
Arrependida (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1955.
Violão.
Arrependida (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1965.
Violão.
Arrependida (valsa);
arranjo de Domingos Semenzato.
In: Américo Jacomino
Canhoto.
São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 21-23.
Burguêta . Transcrição de Domingos Semenzato. MS coleção Ronel Simões, 4 p.,
violão.
Brasilerita (tango argentino); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata,
1962, violão.
Brasilerita (tango canção) ; arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata,
1963, 2 p., violão.
Brasilerita (tango argentino); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino
Canhoto. São Paulo, Fermata, FB-2859, s.d, pp. 24-26.
Caprichoso (tango); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Ed. Del Vecchio,
s.d., n.º 19.337, 1 p., violão.
Delírios (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel Simões, 3 p.,
violão.
Escuta Minh'Alma (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata, 1962,
violão.
Guitarra de Mi Tierra (tango); arranjo de Domingos Semenzato. MS: por Isidoro
Geraldo.
Coleção de Ronoel Simões, 2 p..
Manhã Fatal (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel Simões,
3 p., violão.
Marcha dos Marinheiros (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. (São Paulo, Ed.
Del Vecchio?), s.d., n.º 2.474, 3 p., violão.
Marcha dos Marinheiros (marcha); arranjo de Domingos Semenzato.
São Paulo,
Bandeirante Editora Musical, 1964, 3 p., violão.
Marcha dos Marinheiros (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo
Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, FM-2859, s.d. , p p. 34-37, violão.
MarchaTtriunfal Brasileira (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo,
Fermata, 1962, violão.
MarchaTriunfal Brasileira (marcha); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo
Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 38-43, violão.
Mentiroso (choro); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel Simões,
3 p., violão.
Pensamento (romance); arranjo de Domingos Semenzato . MS: coleção de Ronoel
Simões, 4 p..
Quando Os Corações Se Querem (fox-trot); arranjo de Domingos Semenzato. São
Paulo, Ed. Del Vecchio? , n.º 19.336, 2 p., violão.
Recordações de Dalva (valsa); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, Fermata,
1962, violão.
Reminiscências (valsa); arranjo de Domingos Semenzato.
São Paulo, Fermata, c.
19633, 2 p., violão.
Reminiscências (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino
Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d. , FB-2859, pp. 51-53.
Reminiscências (valsa lenta); arranjo para violão de Domingos Semenzato. São Pauo,
Fermata, c. 1963, 3 p., violão.
Tempo Antigo (mazurca); arranjo de Domingos Semenzato. MS: coleção de Ronoel
Simões. 2 p.
Triste Carnaval (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. São Paulo, RJ, Cembra
Ltda., 1952, Violão.
Triste Carnaval (valsa lenta); arranjo de Domingos Semenzato. In: Américo Jacomino
Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 54-56.
IV.2.3 – Arranjos para violão de outros autores
Abismo de Rosas (valsa lenta); arranjo de Isaías Sávio. São Paulo e Rio de Janeiro,
Cembra Ltda., 1944 e 1955. Violão.
Abismo de Rosas (valsa lenta); arranjo para violão de Isaías Sávio; letra de João do Sul.
São Paulo, Cembra, 1952. 3 p..
Abismo de Rosas (valsa ); versão de Garoto; transcrição de “Rubinho” (jan. 1987 ).
MS
coleção Ronoel Simões. 4 p..
Dia de Folia. São Paulo, Fermata do Brasil, 1977: violão.
Escuta Minh'Alma (valsa). In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d.,
FB-2859, pp. 27-30. Violão.
Lamentos (valsa); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1978. Violão.
Lamentos (valsa); arranjo de Nelson Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo,
Fermata, FB 2859, pp. 31-33, violão.
Método de Violão; s.l., s.ed., s.d., 28 p. ( existem 2 outras edições ).
Niterói (choro); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1976, violão.
Niterói (choro); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1978, violão.
Niterói (choro); arranjo de Nelson Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto. São Paulo,
Fermata, s.d., FB-2859, pp. 44-45.
Olhos Feiticeiros (choro-maxixe); arranjo de Edmar Fenício.
São Paulo, Fermata,
1978. Violão.
Olhos Feiticeiros (choro-maxixe); arranjo de Edmar Fenício. In: Américo Jacomino
Canhoto. São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 46-47.
Primeiras Rosas (valsa); arranjo de Nelson da Cruz. São Paulo, Fermata, 1969,
violão.
Primeiras Rosas (valsa); arranjo de Nelson da Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto.
São Paulo, Fermata, s.d., FB-2859, pp. 48-50.
Rosas Desfolhadas (valsa); transcrição de Isidoro Geraldo. MS: coleção de Ronoel
Simões, 3 p., violão.
Sombras Que Vivem (valsa); arranjo de Paulo Barreiros. São Paulo e Rio de Janeiro,
Irmãos Vitale, 1929, n.º 56, 4 p., ( com biografia de Américo Jacomino ).
Triste Pierrot (valsa); arranjo de Nelson Cruz. São Paulo, Fermata, 1969. Violão.
Triste Pierrot (valsa); arranjo de Nelson Cruz. In: Américo Jacomino Canhoto. São
Paulo, Fermata, s.d., p. FB-2859, pp. 57-60.
IV.2.4 – Arranjos para piano
A Gente Se Defende (maxixe). São Paulo, Pedro Tommasi, s.d., 3 p., piano.
A Gente Se Defende (maxixe). São Paulo, Casa Editora “Ars” ou EMPG, s.d. n.º 1.012:
piano.
Abismo de Rosas (valsa); Cembra. 3p., piano.
Amor Sertanejo (tango). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.
Amores na Praia (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.
Arrependida (valsa) . São Paulo, EMP ou Oficinas Musicais “ARS”, n.º 1.014,
piano.
Chuva de Pérolas (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.
Depois do Beijo (schottisch). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.
Feche a Porta e Leve a Chave (samba carnavalesco); arranjo para piano de Alcebíades
Corrêa, s.n.t., 3 p., piano.
O Gato Comeu o Pato (samba). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.
Já Se Acabou (tango). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.
Manhã fatal (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.
Manhoso. Edição EGMP, piano.
Olhar de Deusa (valsa ). São Paulo, E. Bevilacqua, piano.
Ponta Grossa é Boa Terra (maxixe carnavalesco). Ponta Grossa, Casa Progresso, s.d., 3
p. piano.
Sonho de Primavera (valsa); São Paulo, Bevilacqua, s.d., 3 p., piano.
Triste Carnaval (valsa). São Paulo, Casa Bevilacqua, piano.
IV.2.5 – Arranjos para piano e canto
Ai! Barbina! (canção sertaneja). São Paulo, CEMB, Campassi & Vamin, n.º 725,
canto e piano.
Ai Margarida . . .
Ai Margarida (marchinha carnavalesca à ragtime); letra de Juca
Meu
Nego. São Paulo, Irmãos Vitale, s. d., n.º 324, piano e canto.
Deixe Meu Bem de Tolice (tango carnavalesco). São Paulo, Bevilacqua, s.d., 3 p.,
piano e
canto.
Foi-Se Embora Maria (marcha-rancho); versos de Guilherme Fontana. Rio de Janeiro,
OGEM, s.d., 3 p., n.º 66, piano e canto.
Já Se Acabô . . .
(tanguinho sertanejo); letra de Arlindo Leal. São Paulo, Campassi,
s.d.,
3 p., piano e canto.
IV.2.6 – Arranjos para outros instrumentos
A Gente Se Defende (maxixe). Genève, Europe Continenal by International Melodies,
1965, acordeon
Abismo de Rosas (valsa); S. Paulo, A. Di Franco, piano, canto e pequena orquestra.
Amorosa (fox-trot); letra de Luiz de Freitas. São Paulo, EMP ou Oficinas Musicais
“ARS”, s.d., n.º 1; piano e canto; n.º 1.001: piano e septeto.
Da Bahia Eu Quero o Côco (maxixe); letra de Fernandes Aguiar. São Paulo, Casa
Editora Ars, s.d., n.º 307: piano e canto; n.º 1.168 : piano e 8 instrumentos.
Entre Duas Almas (fox-tot); letra de Duque de Abramonte. São Paulo, Oficinas
Musicais
Ars, n.º 303: piano e canto; n.º 1174 : piano e orquestra.
Esse Cachorro Só Falta Falar (maxixe). São Paulo, Editora Ars, n.º 214 : piano;
n.º1.106 : piano e orquestra.
Flor Paulista (schottisch); adaptação rítmica de L. Rinaldo. São Paulo, CEMB,
Campassi & Camin, n.º 775: piano e canto; n.º 20178: piano e orquestra.
Longe de Quem Adoro (valsa). São Paulo, Ars ou EGMP, n.º 1038: piano e orquestra.
Nhá Maruca (maxixe). São Paulo, A. Di Franco, piano, canto e pequena orquestra.
Noite na Roça (cateretê); versos de João do Sul. São Paulo, A. Di Franco, piano,
canto e pequena orquestra.
Se o Telefone Falasse (maxixe). São Paulo, Ars ou EGMP. n.º 1.034: piano e septeto.
Suplicando Amor. São Paulo, A. Di Franco, piano, canto e pequena orquestra.
IV.2.7 - Obras editadas pela Casa Bevilacqua, São Paulo, com autoria provável de
Américo Jacomino: piano
Aparece na Segunda-Feira (tango)
Deu-Se A Melodia (tango)
Me Arranca O Cavanhaque (samba)
Mi Deixa A Tartaruga ! (samba)
Não Pega Na Gente (samba)
Que Muié Impossível... (tango)
Teu Bigode Me Cotuca! (tango)
IV.3 – Lacunas no repertório de Américo Jacomino
Várias composições de Américo Jacomino foram citadas no jornal O Estado de
São Paulo por ocasião de seus recitais, mas não foram gravadas ou encontradas em
partituras. O mesmo ocorre em relação ao catálogo do pesquisador Juvenal Fernandes,
listado na contracapa do álbum da Editora Fermata sobre o violonista Américo
Jacomino, editado em 1977, por ocasião do cinqüentenário da morte de Canhoto.
Nestes casos é impossível ter-se uma noção de como seriam estas peças e até o
momento haveria de se aguardar o aparecimento destas músicas por meio de
colecionadores particulares de partituras ou discos, apesar de, no caso destes últimos,
ser pouco provável que se encontre algo novo, já que os catálogos de gravação de
Américo Jacomino são bastante precisos.
Entre as peças não encontradas que constam do catálogo de Juvenal Fernandes
estão: Acordes do Coração (valsa), O Beijinho Que Te Dei (marcha), Lembranças de
Lina (valsa), Mamãe Me Leve (marchinha carnavalesca), Ondas Desertas (mazurca),
Pagando Dívidas (polca), Queixumes de Amor (valsa), Saci (polca) e Tudo Mexe
(polca).
A estas, acrescente-se as obras citadas em programas veiculados pelo jornal O
Estado de São Paulo como Alucinação (gavota / valsa concerto), Alucinação de Um
Sonho (valsa de concerto / fantasia), Argentina (chótis), Argonautas (tango
característico), Brasileiro (tango), Cateretê Paulista (imitação da viola caipira), A
Cigarra na Ponta (tango), Esmeralda (valsa lenta), Falena (valsa), Feiticeiro (maxixe
de salão / tanguinho / tango brasileiro), Favorita (gavota), Hasta Luego (tango
argentino), Luzita (tango argentino), Medrosa (valsa), Prelúdio em Mi Maior (estudo),
Samba do Norte (samba humorístico), Solidão (valsa), Sombras do Passado (valsaboston), Sonhando (valsa), Sonho de Amor (valsa) e Tico-Tico assanhado (polca
característica).
Além destas, duas outras são citadas, tanto no jornal quanto no catálogo de
Juvenal Fernandes: Ai Momo (marchinha carnavalesca) e De Quem São Os Teus Olhos
(valsa). Mas em relação a elas é possível supor que seus nomes tenham sido alterados,
apesar de não haver documentos comprobatórios.
É possível supor que algumas dentre as obras não localizadas tenham sido
rebatizadas em algum momento, como por exemplo a valsa Acordes do Coração, que
poderia ter sido originalmente Acordes do Violão, e que, por sua vez, é o embrião
daquela que seria Abismo de Rosas. Também é provável que Alucinação e Alucinação
de Um Sonho sejam a mesma música, o mesmo ocorrendo com Brasileiro e Brasilerita,
pois ambas são tangos. Caso diverso é o do Cateretê Paulista, que por alusão talvez se
trate de Uma Noite no Sertão, pois ambas as peças aparecem com o subtítulo “imitação
da viola caipira”, ou ainda Noite na Roça e até mesmo Uma Noite na Roça.
IV. 4 - O Método de Violão, de Américo Jacomino
À primeira vista o Método de Violão de Américo Jacomino parece bastante
elementar. É provável que o professor, mestre bastante procurado no meio musical
paulistano tenha editado a obra na segunda metade da década de 1920, pensando em
seus alunos. O empenho na edição do volume pode ter valido a pena, já que no ano de
1928, vésperas de seu falecimento, um anúncio do jornal O Estado de São Paulo
informava que Canhoto tinha mais de 200 alunos da alta sociedade.
As edições mais antigas do manual não ajudam a esclarecer o fato. Segundo a
coleção de Ronoel Simões, existem três versões base, sendo que duas delas não
especificam datas de edição. A outra apresenta uma provável data de 1945. São elas89:
1) methodo pratico para violão por Américo Jacomino (Canhoto). Sem data,
sem edição, 28 páginas.
89
Para o título dos métodos utilizou-se a grafia original.
2) methodo pratico para violão por Américo Jacomino. (São Paulo), Casa Del
Vecchio, sem data (c. 1945). 27 páginas.
3) metodo de violão (prático) (Canhoto) Américo Jacomino, contendo todas as
tonalidades e acompanhado com sete acordes em cada tom. São Paulo, Casa Manon
S.A., sem data, 32 páginas.
A edição escolhida para análise é a da Casa Manon, ainda hoje editada.
Apesar da maneira como Américo Jacomino tocava, seu método é destinado a
pessoas destras, e não a canhotos (comprovado pelos círculos brancos onde se devem
pinçar as cordas com o dedo polegar). O autor mostra as posições maiores e menores
com suas antigas variantes (1.ª, 2.ª , 3.ª de Dó etc.), apresentadas pela ordem dos graus
da escala e com seus cromatismos. Ou seja, na posição de Dó maior, a primeira é a
fundamental, a segunda corresponde ao quinto grau com sétima (Sol com sétima), a
terceira correspondendo ao Fá maior etc.. No final, todas as posições são novamente
apresentadas de formas diferentes das anteriores, isso sem dúvida para uma maior
variedade quando do acompanhamento de outros instrumentos ou cantores.
A grande curiosidade do método está no prefácio. Primeiramente ensina-se a
afinar o violão da maneira tradicional, pelas relações de som entre uma corda e outra (o
ré na quinta casa da quinta corda corresponde à quarta corda solta etc.). Porém, como
sempre acontece neste caso, é difícil supor que os leigos em música obtivessem um
resultado satisfatório para esta explicação de afinação, o que necessitaria obviamente de
uma orientação inicial ou mesmo de maior prática. Em seguida, o autor ensina a
postura corporal para se tocar violão:
“Para bem suster o violão é preciso o executante sentar-se numa cadeira ou
banco e pousar o pé esquerdo sobre um tamborete com 20 centímetros de
altura, mais ou menos. Recua-se um pouco o pé direito, conservando-se a
perna esquerda na posição natural. O corpo deve ficar levemente inclinado
para a frente de modo que o seu peso recaia sobre a perna esquerda e o violão
põe-se transversalmente sobre a coxa esquerda – A posição acima descrita é
preferida a outra qualquer, visto como oferece três pontos de apoio ao violão e
este ficará em equilíbrio sem que as mãos sejam forçadas a mantê-lo”.
Como se observa, nada parecido com a posição corporal na qual, por vezes,
ele se exibiu para sessão de fotos em que aparece tocando o instrumento de costas
ou com o violão deitado sobre uma mesa, posições que poderiam inspirar nos alunos
a idéia de certo malabarismo ao tocar. Note-se, ainda, que o texto é redigido de
forma clara, o que faz supor o auxílio de alguém, visto que nas cartas endereçadas a
seus amigos percebe-se que Canhoto não dominava bem a língua portuguesa. Outro
fato que chama atenção é que a posição recomendada é muito próxima àquela
convencionada até então pelos violonistas de repertório erudito, se considerarmos
que até aquele momento os violonistas amadores e populares costumavam tocar
com a perna cruzada, como se observa até hoje.
Após esta introdução o autor do método escreve pormenorizadamente sobre
como colocar as mãos no instrumento. Vários detalhes chamam a atenção; em primeiro
lugar, o cuidado com relação ao movimento do pulso e polegar da mão esquerda para se
atingir as cordas graves. Com relação à mão direita, o autor pede para se pousar o dedo
mínimo (mindinho) no tampo do instrumento - como na técnica do período clássico - “a
pouca distância do cavalete”. O polegar deverá pousar sobre um dos bordões e os
outros dedos deverão conservar-se “sobre as três cordas de tripa”.
No parágrafo intitulado, o “modo de ferir as cordas”, o que mais chama atenção
é o fato de o autor pedir para se tocar sem unhas, ou seja, com as extremidades dos
dedos. O polegar serviria para se tocarem os bordões, e o indicador e médio para as
demais cordas. O anular seria apenas para os casos de tocar acordes e arpejos de 4, 5 e
6 cordas. Pelo último parágrafo, percebe-se a preocupação do autor com a variedade,
escrevendo que o dedo polegar poderá pinçar até as 2.ª e 3.ª cordas, e os dedos indicador
e médio as 4.ª e 5.ª cordas para acordes, arpejos, passagens de terceiras, sextas e oitavas,
“e ainda nas frases cantantes”.
No subcapítulo “instruções” tem-se a impressão de um equívoco do autor
quando afirma que se devem pinçar as três primeiras cordas com os dedos médio, anular
e indicador, respectivamente, pois pela disposição normal da mão seria o dedo anular
para a primeira corda, médio para a segunda e indicador para a terceira. Em seguida
escreve sobre os sinais convencionais para as posições, como um sinal para a pestana e
círculos brancos para o polegar e pretos para os demais dedos da mão direita. No final,
numa observação, o autor escreve sobre a realização do vibrato: “Para se conseguir as
vibrações é necessário colocar o dedo na corda desejada e balancear com toda a rapidez
a mão, e firmar bem o dedo na corda”. Cabe um parêntese a este respeito, uma vez que
se criou uma lenda a respeito da morte de Américo Jacomino, afirmando-se que a
intensidade despendida para a realização de um vibrato de tal natureza poderia ter
ocasionado o problema cardíaco do qual ele veio a falecer em 1928.
Concluindo, Canhoto escreve sobre os sons harmônicos “nos trastes 5, 7 e 12”,
“podendo ser feitos nas 6 cordas de uma em uma”.
Pôde ser observado que o violonista demonstrou cuidado e perspicácia na
elaboração de um manual para os alunos, voltado basicamente para o acompanhamento,
mas com informações úteis para os compositores e uma visão essencialmente inspirada
nos métodos clássicos para violão então disponíveis, sabendo-se que o Método de
Violão do violonista italiano Francesco Molino já havia sido editado em meados do
século dezenove em São Paulo (vide capítulo II).
IV. 5 - Comentários a respeito do violão que pertenceu a Américo Jacomino,
utilizado para a gravação do CD anexo
Em agosto de 2002, Luís Américo Jacomino nos emprestou um instrumento que
pertenceu a seu pai para que pudéssemos registrar algumas peças em estúdio. No
entanto não é possível afirmar que este tenha sido o mesmo instrumento utilizado por
Canhoto nas gravações e recitais que realizou. O exame de fotografias de Américo
empunhando um instrumento apontam diferenças em relação àquele instrumento
emprestado, o que indicaria a existência de dois violões, pelo menos. A suposição
maior de que não tenha sido o violão principal utilizado pelo violonista reside no fato de
que na maioria das fotografias ele aparece com um violão específico, bastante parecido
com o utilizado na gravação, porém com o ornamento da faixa lateral e da roseta
diferentes. Não é improvável que o violão tenha sido modificado através de todas as
restaurações, porém no caso da roseta é difícil que se faça uma mudança radical, pois
era talhada na própria madeira do tampo. Caso seja realmente o mesmo violão, é, dessa
forma, certeza que o tampo tenha sido trocado.
Porém, outra questão ocorre,
relacionada à mão do instrumento – região onde ficam as cravelhas -, que também é
diferente da observada nas fotografias.
O instrumento utilizado para as presentes gravações é o chamado “modelo
carioca”, com as seguintes medidas e madeiras utilizadas:
- Escala Maior: 66,5 cm.
- Aro ou lateral: 6,5 cm. No fundo possui 67 cm.
- Cintura: Parte larga: 67 cm.
Cintura: 24 cm.
Cintura menor: 28 cm.
- Tampo: Abeto europeu.
- Fundo e lateral: Jacarandá da Bahia. Talvez tenham sido utilizadas duas madeiras
distintas, mas não podemos afirmar com exatidão, o que demandaria uma análise mais
aprofundada.
- Espelho: Este foi nitidamente modificado, pois o braço do instrumento afundou com a
ação do tempo. O novo é de jacarandá da Bahia.
Dentro do violão há um cartão de 5,5 por 9,0 cm no qual está escrito:
“Construído especialmente para
Américo Jacomino (Canhoto)
em 1907 conforme atestado
em nosso Poder
Romeu Di Giorgio90
‘Romeu Di Giogio’ (ass.)
Rua Venâncio Ayres, 309 S. Paulo”
A etiqueta acima refere-se a instrumento fabricado na empresa fundada por
Tranquillo Giannini, um italiano pintor de carros alegóricos que imigrou para o Brasil
entre 1895 e 1900. Inicialmente a fábrica ficava na então Rua São João, número 84, lá
permanecendo até 1912. Com o crescimento das atividades, o estabelecimento mudouse para a Rua General Osório, ali permanecendo até 1924.
Após este período
construíram uma fábrica com recursos próprios na Rua dos Gusmões, números 64 e 66
e, posteriormente, na Alameda Olga, número 84 (atualmente número 414 / 420), na Rua
Carlos Weber e na cidade de Salto, no interior paulista.
A inauguração da primeira fábrica foi a 15 de novembro de 1900. Inicialmente
possuía 100 metros quadrados, duplicando suas instalações quando da mudança para a
Rua General Osório em 1924. É interessante observar que a construção de violões da
fábrica Di Giorgio está diretamente ligada à de Giannini, já que o mesmo foi casado
90
Etiqueta impressa, grifada “Romeu Di Giorgio” e assinada pelo mesmo.
com uma viúva que possuía 4 filhos, que eram os Di Giorgio. Entre eles estava Romeu,
que trabalhou com o padrasto até montar um negócio paralelo. O principal ramo de
lutherias em larga escala do Brasil no século vinte foi criado, então, por famílias de
mesma origem.
Em entrevista ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo é informado que até
1930 teriam sido fabricados 600 violões por mês, saltando para 800 unidades na década
de 1910, número praticamente triplicado na década de 1920, quando a fabricação
atingiu a marca de 2200 violões por mês.
No entanto, a etiqueta que está dentro do instrumento cedido por Luís Américo
Jacomino traz o endereço da Rua Venâncio Ayres. Logo, este teria sido fabricado pelo
próprio Romeu, quando estabelecido em outra empresa? A indicação da existência de
um outro instrumento se deve ao depoimento de Ronoel Simões para o mesmo Museu
da Imagem e do Som de São Paulo, em que diz ter ouvido de Paraguaçu que Barrios e
Jacomino tocavam na fábrica de Romeu Di Giorgio, instalada na Rua Rangel Pestana,
próximo ao Ministério da Fazenda, na praça da Sé, a partir das 16 horas até o
fechamento do estabelecimento. A dúvida se impõe porque, pelo relato, a prática se
dava durante o ano de 1916 e o endereço de Romeu Di Giorgio é o da Rua Venâncio
Ayres. Resta a possibilidade de que o cartão assinado pelo luthier fornecesse seu
endereço particular enquanto funcionário de Tranquillo Gianinni. Assim, não parece
improvável que o violão tenha sido construído pelo próprio Romeu Di Giorgio, já que
na época os violões eram fabricados de forma mais ou menos artesanal.
Que o instrumento utilizado para esta gravação pertenceu de fato a Américo
Jacomino é endossado pelo depoimento de seu filho, Luís Américo, bem como pelo
cartão em seu interior.
O instrumento foi construído há quase cem anos, o que
compromete sua afinação, que, como se sabe, é muito afetada pelo deslocamento do
braço do instrumento em decorrência de sua antiguidade.
Além disso, é preciso
considerar que possivelmente ele foi modificado por luthiers ou pela ação do próprio
tempo.
IV.6 - Considerações sobre a gravação do CD anexo
Para a gravação do CD anexo foram escolhidas 20 músicas representativas de
compositores-violonistas do início do século vinte. A maior quantidade de músicas de
Américo Jacomino explica-se por ser o objeto principal da dissertação e por ser o
violonista com maior quantidade de gravações dentre todos do mesmo período.
As gravações foram feitas no dia 11 de agosto de 2001 no Estúdio GTR, em
Mairiporã, especializado em gravações de violão. Na tentativa de resgatar ao máximo a
sonoridade da época foram escolhidas cordas de tripa por serem bastante usadas pelos
violonistas no período. Estas foram preferidas ao aço, para a gravação, por se entender
que o som metálico do aço não corresponderia à sonoridade escutada nos discos de 78
RPM, quando interpretadas em CD nos equipamentos modernos.
Foram usadas, então, a primeira, segunda e terceira cordas de tripa e os bordões
de aço não-recentes (ou, mais especificamente, "não-novos"). Esta prática, ou seja, o
emprego de bordões “amaciados” era freqüente no início do século vinte. Porém,
houve problemas relacionados à durabilidade das cordas de tripa, principalmente com a
primeira, Mi, a qual foi se desgastando durante a gravação. No final, teve-se, então, que
se utilizar a primeira corda de um material equivalente à tripa e que possui praticamente
o mesmo som, chamado nail-gut, muito utilizado atualmente por intérpretes de
instrumentos de cordas dedilhadas antigas (guitarras barroca, clássica etc.). Assim
sendo, a primeira parte do CD, com obras de Américo Jacomino foram inteiramente
interpretadas com as primeiras cordas de tripa, com exceção das duas marchas (Marcha
Triunfal Brasileira e Marcha dos Marinheiros). Em todo o restante do CD a primeira
corda é de nail-gut.
A seleção do repertório – 20 peças, no total, - contemplou principalmente a obra
de Américo Jacomino, além de certos compositores, como veremos a seguir. De um
lado, buscou-se a variedade de estilos e obras gravadas pelos intérpretes do período. De
Américo Jacomino foram gravadas duas marchas que, além do caráter patriótico
apontam ainda riqueza de recursos timbrísticos. São elas a Marcha Triunfal Brasileira
e a Marcha dos Marinheiros. Olhos Feiticeiros, um choro, interessa tanto pelo gênero
quanto pelo fato de ter uma escrita cômoda para o intérprete, favorecendo a sonoridade
do instrumento; também um choro, Niterói foi gravado pelo próprio Canhoto. Com o
intuito de apontar a variedade de gêneros, foram selecionadas também duas valsas,
Abismo de Rosas – uma de suas composições mais famosas –, Reminiscências, peça
muito divulgada, bem como uma terceira peça desse gênero, Arrependida, que ainda
apresenta a curiosidade de ter sido muito divulgada como canção por Paraguaçu. Em
relação a ele, conta-se também que este mesmo cantor teria declarado a grande
felicidade por ter cantado a peça com acompanhamento de Canhoto. Alvorada de
Estrelas, uma gavota, apresenta um gênero erudito empregado por Canhoto em escrita
que pede a scordattura do instrumento.
Mas, dentre os gêneros preferidos pelo
compositor e violonista, está o tango, que o CD contempla com as faixas Caprichoso,
obra cuja melodia se desenvolve na região grave do instrumento, Guitarra de Mi Tierra
e Amor de Argentina, respectivamente um tango argentino e um tango-milonga. Dentre
as obras divulgadas com mais de uma versão, foram escolhidos o foxtrot Quando os
Corações se Querem, publicado três vezes com nomes diferentes e A Menina do Sorriso
Triste, um fox-tango que também é versão de Quando Os Corações se Querem.
Os compositores que completam a relação do repertório são contemporâneos de
Américo Jacomino, caso de Levino Albano da Conceição, Glauco Vianna, Mozart
Bicalho, José Augusto de Freitas, Antonio Giacomino e Theotônio Corrêa. No caso
deste último, apresenta ainda o interesse de ter participado do primeiro trio de violões
de que se tem notícia no Brasil – Os Três Sustenidos – e de ter gravado junto a esse Trio
o maxixe Cruzeiro. Outro compositor gravado, Mário Pinheiro, é cronologicamente
anterior, porém foi o primeiro a entrar em estúdio e fazer uma gravação de violão solo
no Brasil, com o romance Petita. O CD apresenta a seguinte ordem de faixas:
Américo Jacomino
1- Marcha Triunfal Brasileira
2- Abismo de Rosas (valsa)
3- Nictheroy (choro)
4- Caprichoso (tango)
5- Quando Os Corações Se Querem (fox-trot)
6- Reminiscências (valsa)
7- Olhos Feiticeiros (choro)
8- Arrependida (valsa)
9- Guitarra de Mi Tierra (tango argentino)
10- Amor de Argentina (tango-milonga)
11- Alvorada de Estrelas (gavota)
12- Marcha dos Marinheiros
13- A Menina do Sorriso Triste (fox-tango)
Levino Albano da Conceição
14- Saudades do Rio Grande (valsa-serenata)
Glauco Vianna
15- Pertinho de Meu Bem (polca-choro)
Mozart Bicalho
16- Gotas de Lágrimas (valsa)
Mário Pinheiro
17- Petita (romance)
Theotônio Corrêa
18- Cruzeiro (maxixe)
José Augusto de Freitas
19- Soluços (valsa)
Antonio Giacomino
20- Festa na Fazendo (cateretê)
Para gravarmos o CD, escutamos as obras em discos de 78 rotações e
transcrevemos as peças aqui apresentadas no anexo III. Da audição das obras surgiu a
questão se deveriam ou não ser interpretadas de maneira idêntica à conferida por seus
autores e intérpretes originais. A solução não foi uniforme, uma vez que, como foi dito,
adotamos a pesquisa pela sonoridade da época, mas no caso da interpretação, não
quisemos correr o risco de caricaturizá-las utilizando a interpretação antiga.
A escolha das músicas também obedeceu ao critério relacionado às
características mais marcantes de cada compositor. O maior número de valsas, no caso
de Américo Jacomino, deveu-se, portanto à maior quantidade de peças neste estilo
interpretadas
pelo
violonista.
A inclusão das duas marchas foi em função do sucesso alcançado por essas peças
durante a vida do violonista e a longevidade que ainda obtêm no repertório violonístico
brasileiro. No caso de Levino Albano da Conceição, o violonista viveu um tempo no
sul do país, e esta música lhe era especial, sendo uma das editadas pelo compositor em
vida. De Glauco Vianna, a polca-choro Pertinho de Meu Bem é adequada para se ter
uma idéia dos recursos técnicos do violonista. A valsa Gotas de Lágrimas, de Mozart
Bicalho, foi a peça de maior resposta comercial do violonista e representa uma das
poucas obras do período a entrar no repertório de alguns violonistas durante o século.
Essa peça foi gravada originalmente em dois violões, nitidamente com cordas de aço. O
romance Petita, de Mário Pinheiro, foi incluído por se tratar da peça mais antiga a ser
gravada em violão solo no Brasil, no ano de 1910. O maxixe Cruzeiro, de Theotônio
Corrêa, foi originalmente gravado em três violões com o trio Os Três Sustenidos, o mais
antigo trio de violões a gravar discos no Brasil, tendo entre seus integrantes um dos
mais antigos violonistas solistas que se conhece no país, João Avelino de Camargo, o
Melinho de Piracicaba.
A valsa Soluços, de José Augusto de Freitas, é uma boa
referência de como interpretava e compunha o violonista. Por fim, o cateretê Festa na
Fazenda nos mostra um curioso violonista paulista com sobrenome igual ao de
Canhoto, Antonio Giacomino. Para esta gravação foi utilizado o manuscrito do próprio
compositor, o único encontrado nesta pesquisa dentre todos os textos dos violonistas
apresentados neste CD.
Conclusão
Ainda que as primeiras notícias sobre o uso do violão no Brasil sejam esparsas e
um tanto incertas quanto ao tipo de instrumento usado até o início do século vinte, é
claro que o instrumento esteve presente desde o início da colonização portuguesa no
país. A partir das primeiras notícias do violão na vida musical especificamente paulista,
percebe-se sua importância como acompanhante de canções ou manifestações populares
diversas, em festas folclóricas, embora não se tenha certeza de sua prática solista
anterior à segunda metade do século dezenove. No que tange à história do violão em
São Paulo, as notícias de relevo são as que datam da fundação da Faculdade de Direito
do Largo São Francisco. São valiosas as notícias sobre a venda do Método para Violão,
de Francesco Molino, bem como sobre a participação de um certo Professor Lisboa
apresentando-se em recital em São Paulo, violonista que executou ao instrumento as
Variações sobre Temas da Traviata. Não se sabe se estas variações foram escritas por
Francisco Tárrega ou Julian Arcas.
Com o início da comercialização de discos no Brasil, percebe-se que o violão
está presente em muitas gravações, embora como instrumento acompanhador dos
principais cantores do período, Bahiano, Cadete e Eduardo das Neves. Somente em
1910 o instrumento é gravado em solo no Brasil, por Mário Pinheiro, um baixo,
justamente mais conhecido como cantor de ópera. No mesmo período Agustín Barrios
também entra em estúdio, no Paraguai, fato que coloca os dois paises cronologicamente
como os pioneiros das gravações de violão solo em todo o mundo.
Em São Paulo, por volta de 1915, o nome de Américo Jacomino começa a se
firmar com prestígio nas salas de concerto e nos jornais, posto que manterá até sua
morte prematura aos 38 anos de idade. Atestam sua popularidade as informações
veiculadas no jornal O Estado de São Paulo, que chegou a publicar uma coluna não
oficial intitulada “Notícias do Canhoto”. Ficou demonstrado que foi ele quem mais
discos gravou e quem mais se apresentou em público e no rádio, pelo menos na capital
paulista. No final de sua vida a repercussão de seu nome recebeu ainda o impulso do
prêmio O Que é Nosso, do Rio de Janeiro, valendo-lhe o título de “O Rei do Violão
Brasileiro”.
Com a morte de Jacomino outros violonistas surgem, também solistas, mas que
na falta de uma escola oficial para o instrumento tocavam principalmente de cor e
dedicavam-se ao repertório popular. Apesar da notícia no início do século de recitais do
cubano Gil Orozco, da informação de que havia professores de violão erudito no Brasil,
da vinda de Agustin Barrios e Josefina Robledo para o país na década de 1910 e Sanz
de La Maza e Juan Rodrigues na década de 1920, trazendo consigo as mais recentes
informações sobre o violão erudito na Europa, o Brasil demoraria a assimilar de forma
mais contundente esta prática instrumental, mesmo com o respaldo da pioneira revista
carioca O Violão, que possuía um correspondente paulista de nome Osvaldo Soares,
discípulo da mesma Josefina Robledo, e o respaldo de figuras como Quincas
Laranjeiras, que possuía uma associação de violão erudito no Rio de Janeiro. Isso iria
sistematicamente acontecer apenas na década de 1940, quando do estabelecimento no
Brasil do uruguaio Isaías Sávio, abrindo caminho para um maior estudo do violão
erudito e o início definitivo de uma nova era do violão no país. Isso demonstrou
também uma certa incongruência, no caso de Américo Jacomino, pois o local em que o
violonista mais se apresentou foi o salão do Conservatório Dramático e Musical de São
Paulo, justamente o lugar que abriria a primeira cadeira de violão erudito no Brasil, mas
apenas quase duas décadas após a sua morte.
Retrospectivamente podemos apontar para uma primeira geração de violonistas
solistas que passaram pelos palcos de São Paulo ou que aqui nasceram e que deixaram
registros em discos: Américo Jacomino, Antonio Giacomino, Mozart Bicalho, Rogério
Guimarães, Henrique Brito, Levino Albano da Conceição, Henrique Xavier Pinheiro,
Glauco Vianna, José Augusto de Freitas, Theotônio Corrêa e João Avelino de Camargo.
Outro ponto em comum foi o fato de terem explorado o instrumento de forma solista,
não apenas como instrumento acompanhador, aqui não importando se os repertórios
veiculados eram de caráter erudito ou popular.
Chama a atenção, também, a atividade intensa de Américo Jacomino, o que deve
ter colaborado bastante para sua popularização. Assim como soube absorver e utilizar
todos os meios de comunicação emergentes, desde as gravações em discos de 78 RPM,
no sistema mecânico e, posteriormente, no sistema elétrico, até o rádio, também valeuse da imprensa escrita e das apresentações em teatros por todo o Brasil, em especial nos
Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O violonista também concorreu em concursos
de música carnavalesca, publicando várias destas músicas em partituras para piano,
supostamente porque eram mais fáceis de serem vendidas, o que demonstra mais um
talento para a auto-publicidade. A esse respeito, não foi encontrada nenhuma partitura
publicada para violão por Américo Jacomino até sua morte. Isso poderia mostrar que
havia poucos violonistas familiarizados com a escrita em partitura musical para que se
compensasse a edição das mesmas para violão solo. Um outro aspecto a ser destacado é
que Canhoto se mantivesse atualizado a respeito de seu instrumento, considerando-se o
depoimento de Paraguaçu, segundo o qual Agustin Barrios e Canhoto freqüentavam
juntos a oficina de Romeu Di Giorgio. Assim, naturalmente, deve ter comparecido
também a algum recital de Josefina Robledo, já que os ambos estiveram em São Paulo
na mesma época em plena atividade, a partir do que se poderá deduzir uma possível
influência da intérprete espanhola na sua maneira de tocar ou de compor. Apesar de
autodidata, os efeitos utilizados por esse violonista eram os mesmos praticados pelos
violonistas eruditos citados. Com relação à sua técnica instrumental, embora específica
(por ser canhoto), não demonstrava diferenciação sonora se comparada à técnica dos
violonistas citados, e as gravações existentes comprovam isso. O fato de tocar com a
mão esquerda sem inverter a ordem das cordas não alterou a sonoridade das músicas.
O marco principal deste período em São Paulo é o ano de 1916, por ocasião do
recital de Américo Jacomino, e 1917, por ocasião dos recitais de Agustín Barrios e
Josefina Robledo, a partir dos quais o violão passa então a ser considerado de outra
forma pela imprensa escrita, com muito menos preconceito e muito mais admiração. As
informações do jornal O Estado de São Paulo contidas antes e após o ano de 1916
demonstram claramente o fato.
Pelas informações subseqüentes ao nascimento de Américo Jacomino em 1889 e
posteriores à sua morte em 1928, pode-se concluir que o período que percorre a carreira
artística do violonista corresponde ao início definitivo do desenvolvimento da arte
solística do violão no Brasil.
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OBRA
COMPOSITOR INTÉRPRETE LOCAL
1904
1904
Noturno em mi bemol
1906
1906
1906
1906
1906
1906
1906
1906
1906
1906
1906
1911
Prelúdio em acordes
Estúdo em harpejos
Valsa em Lá
Cantos de Andaluzia
Dança Cubana
Duas Mazurcas
Prelúdio
Minuetto
Coro de Bispos
Capricho Árabe
Jota Aragonesa
Aires Andaluzas
F. P. Catton
Terceto
Espanhol
Tárrega
Gil Orozco
Tárrega
Gil Orozco
Arcas
Gil Orozco
Arcas / Tobosso Gil Orozco
Tabarez / Orozco Gil Orozco
Soria / Penella
Orozco e Baltar
Tárrega
Gil Orozco
Tárrega
Gil Orozco
Meyerber
Gil Orozco
Tárrega
Gil Orozco
Arcas / Tárrega Gil Orozco
Arcas
Manuel Gomes
1911
Gallegada
Veiga
Manuel Gomes
1911
Miserere do Trovador
Verdi
Manuel Gomes
1911
Sítio de Bilbao
Manuel Gomes
Manuel Gomes
1911
Serenata
Manuel Gomes
Manuel Gomes
1911
Fantasia Brilhante
Vinhas
Manuel Gomes
1911
Tango Americano
Damas
Manuel Gomes
1911
Bolero
Arcas
Manuel Gomes
1911
Gran Jota Aragonesa
Arcas / Tárrega
Manuel Gomes
1914
Ave Maria
Gounod
F. Pistoresi
1914
Traumerei
Schumann
F. Pistoresi
1914
Reverie
Dunkler
F. Pistoresi
1914
Siciliene
Pergolesi
F. Pistoresi
1914
Preghiera
Stradela
F. Pistoresi
1914
Berceuse de Jocelin
Godard
F. Pistoresi
1914
Gavotta
Giuliani
F. Pistoresi
Chopin
Club Germânia
Salão Carlos
Gomes
Salão Steinway
Salão Steinway
Salão Steinway
Salão Steinway
Salão Steinway
Salão Steinway
Salão Steinway
Salão Steinway
Salão Steinway
Salão Steinway
Salão Steinway
Centro
Espanhol
Centro
Espanhol
Centro
Espanhol
Centro
Espanhol
Centro
Espanhol
Centro
Espanhol
Centro
Espanhol
Centro
Espanhol
Centro
Espanhol
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
1914
Scherzo
Becker
F. Pistoresi
1914
Stabat Mater
Rossini
F. Pistoresi
1914
Largo Celebre
Handel
F. Pistoresi
1914
Minueto
Boccherini
F. Pistoresi
1914
L’Absence
Dunkler
F. Pistoresi
1914
Marcha / Tannhauser
Wagner
F. Pistoresi
1916
Suplica de Amor
Canhoto
Canhoto
1916
Serenata Árabe
Canhoto
Canhoto
1916
Cigarra na Ponta
Canhoto
Canhoto
1916
Magia de Olhar
Canhoto
Canhoto
1916
Sonhando
Canhoto
Canhoto
1916
Tango da Agarra
Canhoto
Canhoto
1916
Guarany
Canhoto
Canhoto
1916
Cateretê
Canhoto
Canhoto
1916
Campos Sales
Canhoto
Canhoto
1916
Medrosa
Canhoto
Canhoto
1916
Alucinação de um Sonho Canhoto
Canhoto
1916
Sonho de Amor
Canhoto
Canhoto
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
Meditação
Marcha Eróica
Recuerdos del Pacífico
Tarantella
Nocturno op. 9 n.º 2
Rapsódia Americana
Bicho Feio
Jota Aragoneza
Chanson du Printemps
Rondó Brilhante
Fantasia de Concerto
Fantasia de La Traviata
Moraima
Garcia Tolsa
Giuliani
Barrios
Barrios
Chopin
Barrios
Barrios
Barrios
Mendelsohnn
Aguado
Arcas
Verdi / Arcas
Espinosa
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Correio Paulist.
Correio Paulist.
Correio Paulist.
Correio Paulist.
Correio Paulist.
Correio Paulist.
Correio Paulist.
Correio Paulist.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
1917
Estudo p/ mão esquerda
Rapsódia Americana
Dança Macabra
Andante
Tanda deValses
Aminha Mãe
Lucia de Lammermoor
Capricho Espanhol
Mazurca
Romance
Serenata Arabe
Tango n.º2
Il Trovatore, Miserere
Gavota Romântica
Fantasia em Mi
Coste
Barrios
Regondi
Haydn
Tolsa
Barrios
Donizetti
Barrios
Chopin
Barrios
Tarrega
Barrios
Verdi
Czibulka
Vinas
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
1917
Impressões de um Conto Baltar
Barrios
1917
Saudades do Rio de Jan. Barrios
Barrios
1917
Página de Álbum
Barrios
Barrios
1917
Minuetto
Beethoven
Barrios
1917
Scherzo Hípico
Barrios
Barrios
1917
Polonaise FAntastique
Arcas
Barrios
1917
Romance sem Palavras
Mendelssohnn
Barrios
1917
Meditação
Tolsa
Barrios
1917
Tango n. 3
Barrios
Barrios
1917
Marcha
Dupuy
Barrios
1917
Serenata Espanhola
Albeniz
Robledo
1917
Valsa
Godard
Robledo
1917
Trêmulo
Gottschalk
Robledo
1917
Jota Aragoneza
Tárrega
Robledo
1917
Priere
Squire
Robledo
1917
Nina
Pergolese
Robledo
1917
Sur lê Lac
Godard
Robledo
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Theatro Mun.
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
1917
Serenata Espanhola
Glazounov
Robledo
1917
Granada
Albeniz
Robledo
1917
Bourré
Bach
Robledo
1917
Nocturno op.9 n.º2
Chopin
Robledo
1917
Carnaval de Veneza
Paganini
Robledo
1917
Capricho Árabe
Tárrega
Robledo
1917
Recuerdos de Alambra
Tárrega
Robledo
1917
Cançonetta
Mendelssohn
Robledo
1917
Carnaval de Veneza
Paganini
Robledo
1917
Berceuse
Godard
Robledo
1917
O Cisne
Saint Saens
Robledo
1917
Era um sonho
Molina
Robledo
1917
Canção Andaluza
Ros
Robledo
1917
Serenata
Malats
Robledo
1917
Loure
Bach
Robledo
1917
Astúrias
Albeniz
Robledo
1917
Air de Ballet
Massenet
Robledo
1917
Dança Espanhola
Granados
Robledo
1917
Sueno
Tárrega
Robledo
1917
Berceuse
Schumann
Robledo
1917
Minuetto de L’Arlesiene Bizet
Robledo
1917
Reverie
Schumann
Robledo
1917
Oriental
Cesar Cui
Robledo
1917
Ave Maria
Schubert
Robledo
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Automóvel
Club
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
1917
Canção e Pavana
Couperin
Robledo
1917
Adágio / Sonata Patética Beethoven
Robledo
1917
Danza Mora
Tárrega
Robledo
1917
Sán Nicolas
Schumann
Robledo
1918
Alucinação de um Sonho Canhoto
Canhoto
1918
Argonautas
Canhoto
Canhoto
1918
Asta Luego
Canhoto
Canhoto
1918
Olhar de Deusa
Canhoto
Canhoto
1918
Em ti Pensando
Canhoto
Canhoto
1918
Alma Portuguesa
Canhoto
Canhoto
1918
Abismo de Rosas
Canhoto
Canhoto
1918
Uma Noite na Roça
Canhoto
Canhoto
1918
Marcha Eróica
Giuliani
Barrios
1918
Chant du Printemps
Mendelssohn
Barrios
1918
Recuerdos del Pacífico
Barrios
Barrios
1918
Meditação (noturno)
Tolsa
Barrios
1918
Rapsódia Espanhola
Barrios
Barrios
1918
Gran Concerto em Lá
Arcas
Barrios
1918
Noturno op.9 n.º 2
Chopin
Barrios
1918
Gavota Romântica
Czibulka
Barrios
1918
Bicho Feio
Barrios
Barrios
1918
Jota Aragoneza
Barrios
Barrios
1918
Fantasia Variada
Sor
Barrios
1918
Adágio
Beethoven
Barrios
1918
Rondó Brilhante
Aguado
Barrios
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Pavilhão
Central
Pavilhão
Central
Pavilhão
Central
Pavilhão
Central
Pavilhão
Central
Pavilhão
Central
Pavilhão
Central
Pavilhão
Central
Pavilhão
Central
Pavilhão
Central
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
1918
Gavotte Madrigal
Barrios
Barrios
1918
Meditação
Tolsa
Barrios
1918
Capricho Árabe
Tárrega
Barrios
1918
Chant du Paysan
Grieg
Barrios
1918
Página de Álbum
Barrios
Barrios
1918
Minuetto em Lá
Bufaleti
Barrios
1918
Gran Jota
Barrios
Barrios
1919
1919
1919
1919
1919
1919
Souvenir d’un Reve
Reverie
Gran Jota
Minueto em Sol
Bourré
Meditação
Barrios
Schumann
Barrios
Beethoven
Bach
Tolsa
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
Barrios
1919
Berceuse
Schumann
Barrios
1919
Marcha Eróica
Giuliani
Barrios
1919
Capricho Árabe
Tarrega
Barrios
1919
Noturno op.9 n.o.2
Chopin
Barrios
1919
Bourre
Bach
Barrios
1919
Altair (valsa)
Barrios
Barrios
1919
Gavota
Czibulka
Barrios
1919
Gran Jota
BArrios
Barrios
1919
Serenata Española
Malats
Robledo
1919
Dança Española n.o. 10
Granados
Robledo
1919
Dança Española n.o. 11
Granados
Robledo
1919
Recuerdos de Alhambra
Tárrega
Robledo
1919
Noturno op.9 n.o. 2
Chopin
Robledo
1919
Canção Andaluz
Ros
Robledo
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Teatro S. Pedro
Teatro S. Pedro
Teatro S. Pedro
Teatro S. Pedro
Teatro S. Pedro
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
1919
O Cisne
Saint Saens
Robledo
1919
Oriental
Cesar Cui
Robledo
1919
Coro de Anjos
Cramer
Robledo
1919
Serenata Espanhola
Glazounov
Robledo
1919
Astúrias
Albeniz
Robledo
1919
Granada
Albeniz
Robledo
1919
Canção do Berço
Pujol
Robledo
1919
Bourré
Bacho
Robledo
1919
Jota Aragonesa
Tárrega
Robledo
1919
Berceuse
Schumann
Robledo
1919
Gavota
Francisco Braga Robledo
1919
Minuetto
Francisco Braga Robledo
1919
Adágio – sonata Patética Beethoven
Robledo
1919
Dança Espanhola n.º 5
Granados
Robledo
1919
Dança Espanhola n.º12
Granados
Robledo
1919
Nina
Pergolesi
Robledo
1919
Elegia
Massenet
Robledo
1919
Era um sonho
Molina
Robledo
1919
Melodia
Rubinstein
Robledo
1919
Coro de Anjos
Cramer
Robledo
1919
Cadiz
Albeniz
Robledo
1919
Minueto
Mozart
Robledo
1919
Loure
Bach
Robledo
1919
Sueno
Tárrega
Robledo
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
1920
Canhoto
Canhoto
1920
Marcha Triunfal
Brasileira
Lês Diamants
Lichne
Canhoto
1920
Serenata Árabe
Frontini
Canhoto
1920
Invejoso
Canhoto
Canhoto
1920
Alucinação de um Sonho Canhoto
Canhoto
1920
Favorita
Joan Aragones
Canhoto
1920
Brasil
Thiers Cardoso
Canhoto
1920
Tarantella
Albano
Canhoto
1920
Samba do Norte
Canhoto
Canhoto
1921
Estudo em Lá maior
Coste
1921
Canção do Berço
Pujol
1921
Valsa de Concerto
H. Montey
1921
Romance sem Palavras
Mendelssohn
1921
Miserere do Trovador
Verdi
1921
Beethoven
1921
Adágio da Sonata
Patética
Noturno op.9 n.º 2
Chopin
1923
Capricho Árabe
Tarrega
Benedito S.
Capello
Benedito S.
Capello
Benedito S.
Capello
Benedito S.
Capello
Benedito S.
Capello
Benedito S.
Capello
Benedito S.
Capello
Robledo
1923
Romanzan. 6 e 12
Mendelssohn
Robledo
1923
Estudos
Tárrega
Robledo
1923
Granada
Albeniz
Robledo
1923
Canção do Berço
Pujol
Robledo
1923
Sueno
Tarrega
Robledo
1923
Cadiz
Albeniz
Robledo
1923
Minueto del Septimino
Beethoven
Robledo
1923
Loure
Bach
Robledo
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
A Cigarra
A Cigarra
A Cigarra
A Cigarra
A Cigarra
A Cigarra
A Cigarra
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
1923
Valsa op. 34 no.2
Chopin
Robledo
1923
Noturno op. 9 n.o. 2
Chopin
Robledo
1923
Jota Aragoneza
Tárrega
Robledo
1924
1924
1924
1924
1924
1924
1924
1924
1924
1924
1924
1924
1924
O Guarany (Fantasia)
Himo Nacional
Miserere
Fantasia da Solidão
Noite de Estrelas
Tempestade
Valsa
Alvorada
Fantasia do Guarany
Alice
Eu Quero Ver
Combate irresistível
O Bicho Feio
Marieta
Carlos Gomes
Verdi
Domingos Silva
Domingos Silva
J. Machado
D. Silva
Levino Albano
Carlos Gomes
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Barrios
Tarrega
Leopoldo Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
Domingos Silva
A Pistoresi
1924
Noturno n.º2
Chopin
A Pistoresi
1924
Recuerdos de Alhambra
Tarrega
A Pistoresi
1925
Marcha Triunf. Brás.
Canhoto
Canhoto
1925
Serenata Árabe
Frontini
Canhoto
1925
Abismo de Rosas
Canhoto
Canhoto
1925
Feiticeiro
Canhoto
Canhoto
1925
Uma Lágrima
Sagreras
Canhoto
1925
Quando os Corações...
Canhoto
Canhoto
1925
Favorita
Calazans
Canhoto
1925
Viola, minha viola
Canhoto
Canhoto
1925
Padre Nuestro (banjo)
S. N.
Canhoto
1925
Sudan (banjo)
Canhoto
Canhoto
1925
Tico Tico Assanhando
(cavaquinho)
Miserere
Canhoto
Canhoto
Verdi
Canhoto
1925
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Ass. Salesianos
Cons. Dram
Cons. Dram
Cons. Dram
Cons. Dram
Cons. Dram
Cons. Dram
Cons. Dram
Cons. Dram
Cons. Dram
Cons. Dram
Cons. Dram
Cons. Dram
União. Cat. S.
Agostinho
União. Cat. S.
Agostinho
União. Cat. S.
Agostinho
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
1925
A Gente se Defende
Canhoto
1925
Madre
1925
Caminico de la Fuente
1925
Los Ojazos de mi negra
1925
Ya canta el gallo
1925
Mi Granada
1925
Serenata
Silvestre
1925
Sombras do Passado
Canhoto
1925
Canhoto
1925
Do Sorriso das
Mulheres...
Por que te vuelves a mi?
Canhoto
1925
3.o. Prelúdio
Mendelssohn
1925
Quando os Corações...
Canhoto
Gavota
J. Avelino de C.
1925
Choro Paulista
J. Avelino de C.
1925
A Lágrima
J. Avelino de C.
1925
Prelúdio em mi
Canhoto
1925
Marcha T. Br.
1925
Alucinação de um sonho
1925
A Flor é a Fonte
Otero
1925
E. Souto
1925
Do sorriso das
mulheres...
Miserere
Verdi
1925
Amor de Argentina
Canhoto
1925
Tarantella
Levino Albano
1925
Serenata Árabe
Frontini
Paul.
Canhoto
Soc. R. Ed.
Paul.
Los Valencias
Soc. R. Ed.
Paul.
Los Valencias
Soc. R. Ed.
Paul.
Los Valencias
Soc. R. Ed.
Paul.
Los Valencias
Soc. R. Ed.
Paul.
Los Valencias
Soc. R. Ed.
Paul.
Canhoto
Soc. R. Ed.
Paul.
Canhoto
Soc. R. Ed.
Paul.
Canhoto
Soc. R. Ed.
Paul.
Canhoto
Soc. R. Ed.
Paul.
Canhoto
Soc. R. Ed.
Paul.
Canhoto
Soc. R. Ed.
Paul.
J. Avelino de C. Um. Cat. S.
Agostinho
J. Avelino de C. Um. Cat. S.
Agostinho
J. Avelino de C. Um. Cat. S.
Agostinho
Canhoto
Cons.
Dramático
Canhoto
Cons.
Dramático
Canhoto
Cons.
Dramático
Canhoto
Cons.
Dramático
Canhoto
Cons.
Dramático
Canhoto
Cons.
Dramático
Canhoto
Cons.
Dramático
Canhoto
Cons.
Dramático
Canhoto
Cons.
Dramático
1925
Uma Noite na Roça
Canhoto
Canhoto
1925
Reverie
Schumann
Osvaldo Soares
1925
Granada
Albeniz
Osvaldo Soares
1925
Gran Vals
Tarrega
Osvaldo Soares
1925
Vidalita
Sinópoli
Osvaldo Soares
1925
Capricho Árabe
Tarrega
Osvaldo Soares
1925
Canção dos Alpes
Sinópoli
Osvaldo Soares
1925
Recuerdos de Alhambra
Tarrega
Osvaldo Soares
1925
Recuerdos de Alhambra
Tarrega
J. Avelino
1925
Marcha Triunfal Bras.
Canhoto
Canhoto
1925
Abismo de Rosas
Canhoto
Canhoto
1925
Viola Minha Viola
Canhoto
Canhoto
1925
1925
1925
1925
A lágrima
Choro Paulista
Recordação Saudosa
Marcha dos Marinheiros
Sagreras
J. Avelino
J. Avelino
Canhoto
J. Avelino
J. Avelino
J. Avelino
Canhoto
1925
Reminiscências
Canhoto
Canhoto
1925
Miserere (Trovador)
Verdi
Canhoto
1925
Rondon (Tango Brás.)
J. Pernambuco
Canhoto
1925
Alucinação
Canhoto
Canhoto
1925
Esmeralda
Canhoto
Canhoto
1925
Julian
Donato
Canhoto
1925
Uma Lágrima
Sagreras
Canhoto
1925
Canhoto
Canhoto
1925
Uma noite em
Copacabana
Serenata Árabe
Frontini
Canhoto
1925
Viola Minha Viola
Canhoto
Canhoto
Cons.
Dramático
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Soc. R. Ed.
Paul.
Un. Cat. S.
Ago.
Teatro Mun.
S.P.
Teatro Mun.
S.P.
Teatro Mun.
S.P.
Um. C. S. Ago.
Um. C. S. Ago.
Um. C. S. Ago.
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
1925
1925
1925
1925
1925
1925
1925
1925
1925
1925
1925
Mathilde
Adágio
Sonho
Canção do Berço
Tua Imagem
Ontem ao Luar
Granada
Miserere (Trovador)
Noturno op. 9 n. 2
Capricho Árabe
Marcha Paraguaia
C. Garcia
Beethoven
Tárrega
Pujol
Barrios
Alcântara
Albeniz
Verdi
Chopin
Tarrega
Dr. Pinho
A Pistoresi
A Pistoresi
A Pistoresi
A Pistoresi
A Pistoresi
A Pistoresi
A Pistoresi
A Pistoresi
A Pistoresi
A Pistoresi
Pablo Escobar
1925
Iparraguirre
El Huerfano
Pablo Escobar
1925
Recuerdos de Zavala
Escobar
Pablo Escobar
1925
Jha! Che valle
Barrios
Pablo Escobar
1925
Madrigal
Barrios
Pablo Escobar
1925
Meditation
Garcia
Pablo Escobar
1925
Capricho Árabe
Tarrega
Pablo Escobar
1925
Valsa n.o. 4
Barrios
Pablo Escobar
1925
Mathilde
Garcia
1925
Ontem ao Luar
Alcantara
1925
Vidalita
Sinópoli
1925
Recuerdos de Alhambra
Tárrega
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
Marcha dos Marinheiros
Desgraciao
Reminiscências
Feiticeiro
Favorita
Luzita
Serenata Árabe
Viola, Minha Viola
Madrigal
Recuerdos de Alhambra
Página de Álbum
Estefania
Valsa n.o. 4
Marcha Paraguaia
Marcha Triunfal Bras.
Canhoto
Benlock
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Frontini
Canhoto
Barrios
Tarrega
Barrios
Czibulka
Barrios
Pablo Escobar
Canhoto
P. Escobar / A
Pistoresi
P. Escobar / A
Pistoresi
P. Escobar / A
Pistoresi
P. Escobar / A
Pistoresi
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Canhoto
Ass. Salesianos
Ass. Salesianos
Ass. Salesianos
Ass. Salesianos
Ass. Salesianos
Ass. Salesianos
Ass. Salesianos
Ass. Salesianos
Ass. Salesianos
Ass. Salesianos
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S R. Ed. Paul.
S R. Ed. Paul.
S R. Ed. Paul.
S R. Ed. Paul.
S R. Ed. Paul.
S R. Ed. Paul.
Cons.
1926
Alucinação de um sonho Canhoto
Canhoto
1926
Desgraciao
Belloch
Canhoto
1926
Serenata Árabe
Frontini
Canhoto
1926
Lábios Roxos
Canhoto
Canhoto
1926
Canhoto
Canhoto
1926
Do Sorriso das
mulheres...
Viola Minha Viola
Canhoto
Canhoto
1926
Natal
Pablo Escobar
Pablo Escobar
1926
El Huerfano
Aieta
Pablo Escobar
1926
Stephania
Cibulka
Pablo Escobar
1926
Vidalita
Sinópoli
Pablo Escobar
1926
Jha! Che Valle
Barrios
Pablo Escobar
1926
Madrigal
Barrios
Pablo Escobar
1926
Página de Álbum
Barrios
Pablo Escobar
1926
Meditação
Garcia
Pablo Escobar
1926
Aires de América
Barrios
Pablo Escobar
1926
Lágrima
Tarrega
Pablo Escobar
1926
Noturno op. 9 n.º 2
Chopin
Pablo Escobar
1926
Valsa n.º 4
Barrios
Pablo Escobar
1926
Recuerdos de Alhambra
Tarrega
Pablo Escobar
1926
Marcha Paraguaia
Dr. Pinho
Pablo Escobar
1926
1926
1926
1926
1926
Marcha Triunfal Brás.
Reminiscências
Sonsa
Uma Lágrima
Uma noite em
Copacabana
Viola minha Viola
Natal
Canhoto
Canhoto
Frontini
Sagreras
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
Canhoto
Pablo Escobar
Canhoto
Pablo Escobar
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
Lágrima
Desgraciao
Capricho Espanhol
Valsa op. 79 n.º 1
Noturno op. 9 n.º1
Astúrias
Choro Brasileiro
Industrian
Estudos Originais
Graciosa
Guarani (abertura)
Lamentos
Tarantella
Marcha Triunfal Brás.
Tarrega
Julian Benlock
A. Sinópoli
Chopin
Chopin
Albeniz
João Reis Santos
Larosa Sobrino
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Carlos Gomes
Larosa Sobrinho
Levino Albano
Canhoto
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Pablo Escobar
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Canhoto
1926
Reminiscências
Canhoto
Canhoto
1926
Serenata Árabe
Frontini
Canhoto
1926
Phalena
Canhoto
Canhoto
1926
Alucinação
Canhoto
Canhoto
1926
Viola Minha Viola
Canhoto
Canhoto
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
Miserere (Trovador)
Valsa Clássica
Casamento na Roça
A caminho da Roça
Recordação
Melodia
Samba
Rosa
Sonhos de Cardeal
Todos Dançam
Sonsa
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
1926
Murmúrios
Julian
Simpatia
Brasil
Passagens da Vida
Padre Nuestro
Fado das Mãos
No vai-vem das ondas
Casamento na Roça
Rosas
Meu Primor
Todos Dançam
Verdi
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Raul de los
Hoyos
Larosa Sobriho
Donato
Larosa Sobrinho
Thiers Cardoso
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
1926
1926
1926
1926
1926
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
Sonho de Cardeal
Até a Volta
Soluçando
Francesita
Rádio Eduacadora
Ilusão que morre
chorão
Queixumes da fonte
Serenata Árabe
Orodisoito
Primavera
Meu violão
Cateretê clássico
São Paulo Chic
Recordações
Samba estilo nortista
Gavota
Sonhando
Vidalita
Aieta
Miserere (Trovador)
Capricho Árabe
Ave Maria
Sentimento Crioulo
Marcha Militar
Tango
Lágrimas de mãe
Madrugando
Rimpianto
Afeição
Marcha Triunfal
Não me Toques
Pout-pourri lírico
Fantasia do Guarany
Noturno op. 9 n.o 2
Céu do Paraná
Abismo de Rosas
Cateretê Paulista
Gavota
Canção do Berço
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
José Navarro
José Navarro
José Navarro
José Navarro
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Sinópoli
Pistoresi
Verdi
Tarrega
E. Campos
Firpo
Chaves
Cachafaz
Chaves
Chaves
Toselle
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Carlos Gomes
Chopin
Leopoldo Silva
Canhoto
1927
Reverie
Schuman
1927
Uma Lágrima
Sagreras
1927
1927
1927
1927
Recordação
Serenata Árabe
Não me Toques
Ave Maria
Pujol
Luiz Buono
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
José Navarro
José Navarro
José Navarro
José Navarro
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
A Pistoresi
A Pistoresi
A Pistoresi
A Pistoresi
Benedito Chaves
Benedito Chaves
Benedito Chaves
Benedito Chaves
Benedito Chaves
Benedito Chaves
Benedito Chaves
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Leopoldo Silva
Leopoldo Silva
Leopoldo Silva
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
A Jacomino/ A
Araújo
A Jacomino/ A
Araújo
A Jacomino/ A
Araújo
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
Marcha Militar
Fado das mãos
Marcha Triunfal Brás.
Abismo de Rosas
Reminiscências
Viola Mimosa
Ave Maria
Hora Fatal
Uma Lágrima
Sonsa
Em pleno mar
Feiticeiro
Fluminense
Viola Minha Vila
Marcha dos Marinheiros
Brasileiro
Viola Minha Viola
Saudades de Iguape
Saudades de Amparo
Granada
Na tarde triste
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
1927
Céu do Paraná
Noturno op. 9 n.º 2
No reino dos sonhos
Langosta
Adoração
Pachá
O polido
Fumando espero
Graciosa
Gavotta
Lamento
Julieta
Casamento na Roça
M<eu Primor
Simpatia
Olhos Feiticeiros
Reminiscências
Sonsa
Por que te vuelves a mi?
Em pleno mar
Feiticeiro
Viola Minha Viola
Abismo de Rosas
O Guarani
Prece da saudade
Escovado
Luiz Buono
Luiz Buono
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Pedro J. Moraes
Pedro J. Moraes
Albeniz
Zequinha de
Abreu
Leopoldo Silva
Chopin
Hugo Banzatto
Filisberto
Hugo Banzatto
Hugo Banzatto
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Carlos Gomes
Levino Albano
Nazareth
Luiz Buono
Luiz Buono
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Benedito Chaves
Benedito Chaves
Benedito Chaves
Benedito Chaves
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Pedro J. Moraes
Pedro J. Moraes
Leopoldo Silva
Leopoldo Silva
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
T. Boa Vista
T. Boa Vista
T. Boa Vista
T. Boa Vista
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
T. Boa Vista
T. Boa Vista
T. Boa Vista
T. Boa Vista
T. Boa Vista
T. Boa Vista
T. Boa Vista
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
Leopoldo Silva
Leopoldo Silva
Hugo Banzatto
Hugo Banzatto
Hugo Banzatto
Hugo Banzatto
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Luiz Buono
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Levino Albano
Levino Albano
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
1927
1928
1928
1928
1928
1928
1928
1928
1928
1928
Melodia Sentimental
Dobrado
Cateretê rebuliço
Colar de Pérolas
Hino Nacional
Amparo
Julia
Arrependido
Hino Nacional
Patrício
1928
Loca
1928
Implorando
1928
1928
1928
1928
1928
Ora vejam só
Julieta
Lamento
Murmúrios
Lágrimas de mãe
1928
Flor do Sertão
1928
Um sururu no terreiro
1928
Allegro da sonata op. 22
1928
1928
Gran Andante em A
Maior
Cantabile
1928
Levino Albano
J. Sebastião
Lima
J. Sebastião
Lima
J. Sebastião
Lima
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Pedro
Cavalheiro
Pedro
Cavalheiro
Pedro
Cavalheiro
Sor
Levino Albano
Totó
Totó
Totó
Totó
Totó
Totó
Totó
Totó
J. Sebastião
Lima
J. Sebastião
Lima
J. Sebastião
Lima
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Larosa Sobrinho
Pedro
Cavalheiro
Pedro
Cavalheiro
Pedro
Cavalheiro
Juan Rodrigues
Sor
Juan Rodrigues
Sor
Juan Rodrigues
Andantino
Sor
Juan Rodrigues
1928
Minueto
Sor
Juan Rodrigues
1928
Estilo clássico
Juan Rodrigues
Juan Rodrigues
1928
Coral Del Norte
Juan Rodrigues
Juan Rodrigues
1928
Chacarera
Juan Rodrigues
Juan Rodrigues
1928
Maxixe
Souto Rodrigues Juan Rodrigues
1928
Solitário
Porcel
Juan Rodrigues
1928
Canção de Filandeiras
Porcel
Juan Rodrigues
1928
Dança Oriental
Porcel
Juan Rodrigues
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
S. R. Ed. Paul.
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
1928
Divertimento op. 16
Porcel
Juan Rodrigues
1928
Célebre Minueto
Porcel
Juan Rodrigues
Cons.
Dramático
Cons.
Dramático
ODEON
Número do
disco
40003
10210
10221
108069
108748
137052
137053
137054
137088
137089
120589
120590
120591
120592
120593
120594
120595
120596
120597
120598
120599
120600
120757
120758
121044
121228
121229
121230
121231
121232
121233
121234
121235
121236
121237
121238
121239
121240
121241
121242
Repertório
Gênero
Número da matriz
Intérpretes
Ter amor não é defeito
Monteiro no sarilho
Violetas
Rato Rato
Os caçadores
Bahiano dengoso
Dorisa
Quindins de Iaiá
Descascando o pessoal
Urubu malandro
Saci
Saudades de Iguape
Suplication
Tuim-Tuim
Amores noturnos
Babi
Belo Horizonte
Pisando na mala
Campos Sales
Devaneio
Seiscentos e vinte e três
Adeus Helena
Mambira
Mimosa
Casa Brancato
Odeon
O Frederico no choro
Nas asas de um anjo
Longe de ti
O último sorriso
Deixe de luxo
Angústias de amor
O Paulista
Amores na praia
Depois do beijo
Pensando em ti
Ida
Ciúmes de amor
Noites de farra
Lembranças de Lima
Modinha
Polca
Choro
Choro
Lundu
Cançoneta
Polca
Polca
Samba
Samba
Polca
Valsa
Valsa
Valsa
Mazurca
Polca
Valsa
Polca
Dobrado
Mazurca
Polca
Valsa
Polca
Chótis
Valsa
One-step
Tango
Valsa
Mazurca
Valsa
Polca
Valsa
Tango
Valsa
Chótis
Valsa
Valsa
Valsa
Polca
Valsa
RX-279
Mário Pinheiro
Cavaquinho, violão e flautim
Flauta, violão e cavaquinho
Casemiro Rondo c/ cavaquinho e violão
Eduardo das Neves Bahiano e Risoleto (violões)
Bahiano
Antonio F. Rabelo (concertina) Artur Moreira (violão)
Antonio F. Rabelo(concertina) Artur Moreira (violão)
Clarinete, cavaquinho e violão
Clarinete, cavaquinho e violão
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Américo Jacomino
Américo Jacomino
Américo Jacomino
Américo Jacomino
Grupo do canhoto
Grupo do Canhoto
Hugo (gaita) Mabilde (violão)
Mabilde (violão)
Banda 52 de caçadores
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
XR-602
XR-1411
SP.3
S.P.4
S.P.5
Autores
Data de lançamento
H.Retinho
D.P.
D.P.
Arranjos de motivos populares
Arranjos de motivos populares
João Batista do Nascimento
João Batista do Nascimento
W. J. Peans
[Antonio Picucci]
Abril/13
Abril/13
Abril/13
Jan/14
Jan/14
[Américo Jacomi no]
[Américo Jacomino]
[Américo Jacomino]
Dez/13
Álvaro Mabilde
Américo Jacomino " Canhoto "
Fred Del Ré
Fred Del Ré
[Antonio A.Lemos]
Fred Del Ré
Fred Del Ré
Américo Jacomino
Américo Jacomino
Fred Del ré
Fred Del Ré
Fred Del Ré
Luiz Argento
121243
121244
121245
121246
121247
121248
121249
121270
121371
121645
121644
Tudo mexe
Beijar depois morrer
Suspirando
Suplicando amor
Sudan
Beijo e lágrimas
Acordes do violão
Olhos que falam
Samaritana (Olhos que
falam)
Madrugando
Recordações de Cotinha
Nhá Maruca foi
s'imbora
Fatalidade de um beijo
Na coeita
122103
122214
122540
Cuzcuz de Sinhá Chica
Triste carnaval
Triste ausência
122541
122924
A Carioca
Saudades do Rio
Grande
Reminiscências
Bahianas
Há quem resista?
El Pasado (Audacioso)
121478
121479
121514
122925
122926
122927
122932
122105
123048
123049
123070
Marcha Triunfal
Brasileira
Abismo de Rosas
Porque te vuelve a mi
Uma noite em
Copacabana
Feche a porta e leve a
chave
Tiá de Junqueiro
Fado do vagabundo
Alzajama
Mimoso
123071
Lágrimas
122933
122934
122935
122937
Polca
Valsa
Mazurca
Valsa
Tango
Valsa
Valsa
Valsa
Canção
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Grupo dos chorosos
Vicente Celestino
Luiz Argento
Luiz Argento
Luiz Argento
Américo Jacomino
Américo Jacomino
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino
Américo Jacomino Inácio Raposo
Tango
Tango
Catira
Américo Jacomino
Américo Jacomino
Grupo O Passo no choro
Américo Jacomino "Canhoto"
Chótis
Canção
Sertaneja
Bahiano (acompanhado de Canhoto ao violão)
Bahiano (acompanhado de Canhoto ao violão)
Valsa
Mazurca
Lírica
P. Tango
Valsa lenta
Bahiano
Vicente Celestino
Levino da Conceição ( violão)
Américo Jacomino "Canhoto"
F.Nascimento Pinto Franc. Ponzio
Sobrinho
João Pernambuco
Canhoto - Arlindo Leal
Levino da Conceição
Levino da Conceição (violão)
Levino da Conceição (violão)
Levino da Conceição
Levino da Conceição
Maxixe
Levino da Conceição (violão)
Levino da Conceição
Maxixe
Tango
Argent.
Marcha
Levino da Conceição ( violão )
Levino da Conceição (violão )
Levino da Conceição
Levino da Conceição
Américo Jacomino
( violão)
Américo Jacomino " Canhoto"
Valsa
Tango
Maxixe
Américo Jacomino (violão)
Américo Jacomino (violão)
Américo Jacomino (violão)
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Sambinha
Paraguaçu
Américo Jacomino "Canhoto"
Samba
Bahiano
Carlos Serra (acomp. de violões e bandolins)
Carlos Serra (acomp. de violões e bandolins)
João Pernambuco (acomp. de Rogério Guimarães ao
violão)
João Pernambuco (acomp. de Rogério Guimarães ao
violão)
João Pernambuco
Motivo popular
Maxixe
Maxixe
João Pernambuco
123076
123077
123162
123163
123164
123165
123198
123199
123200
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123210
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123229
123246
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123248
123242
123281
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123291
123292
123293
123304
123303
123305
ODONETE
114
COLUM
BIA
Martha
Marinetti
Jandaia
"Seu Coutinho pegue o
boi"
Magoado
Sons de Carrilhões
Marcha dos
Marinheiros
A menina do sorriso
triste
Reminiscências
Alvorada de estrelas
O Guarani
Sonsa
Invejoso
Viloa minha viola
Mamãe eu vou com ele!
Só na Bahia é que tem
A gente se defende
Carnaval à noite
"Rosas desfolhadas
"Guitarra de mi terra
Melancolia
Primeiras Rosas
Valsa
Fox-trot
C. Sertanejo
Embolada
Rogério Guimarães (violão)
Rogério Guimarães (violão)
Patrício Teixeira
Patrício Teixeira
Rogério Guimarães
Rogério Guimarães
João Pernambuco
João Pernambuco
Nov/26
Nov/26
Choro
Choro
Marcha
1007
João Pernambuco (violão) Nelson Alves (cavaq.)
João Pernambuco (violão Nelson Alves (cavaq.)
Américo Jacomino "Canhoto" (violão)
João Pernambuco
João Pernambuco
Américo Jacomino "Canhoto"
Dez/26
Dez/26
Dez/26
F.Tango
1009
Américo Jacomino "Canhoto" (violão)
Américo Jacomino "Canhoto"
Dez/26
Valsa lenta
Gavota
Fantasia
Tango
Maxixe
Samba
M.Carnav
Samba
Maxixe
Maxixe
Valsa lenta
Tango
Noturno
Valsa
1008
1010
1031
1013
1012
1014
1053
1025
1064
1065
1011
1017
1015
1029
Américo Jacomino "Canhoto"(violão)
Américo Jacomino "Canhoto"( violão )
Américo Jacomino "Canhoto"(violão)
Américo Jacomino "Canhoto "(violão)
Américo Jacomino "Canhoto"( violão)
Américo Jacomino "Canhoto"( violão)
Frederico Rocha
Américo Jacomino "Canhoto"( violão)
Frederico Rocha
Frederico Rocha
Américo Jacomino "Canhoto" (violão )
Américo Jacomino "Canhoto "( violão)
Américo Jacomino "Canhoto"( violão)
Paraguassu
Dez/26
Dez/26
Só na Bahia tem
"Trepadeira
Foi-se embora Maria
Luizinha
Fluminense-Tango
Tico Tico no farelo
Um noite em Ipanema
Em pleno mar
Fantasia s/ Tango "A
média Luz"
Tempo Antigo
Samba
1137
Francisco Alves
Francisco Alves
Oscar Pereira Gomes
Américo Jacomino "Canhoto"( violão)
Américo Jacomino "Canhoto"( violão )
Américo Jacomino "Canhoto"( violão )
Américo Jacomino "Canhoto"( violão )
Américo Jacomino "Canhoto"( violão )
Américo Jacomino "Canhoto" (violão )
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Carlos Gomes Arr: Canhoto
Fresedo
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto
Américo Jacomino "Canhoto
Américo Jacomino "Canhoto
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino e Roque
Ricciardi
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
Américo Jacomino "Canhoto"
E. Dorato
Maio/27
Maio/27
Américo Jacomino "Canhoto"( violão)
Américo Jacomino "Canhoto"
Maio/27
Dueto guitarra e violão
Dueto cavaq. E violão
Sem indicação
Luperce Miranda
A-Saudade de Portugal
B-Lá vai madeira
Valsa lenta
Tango
Choro
Valsa
Valsa
1103
1104
Mazurca
1119
1118
Abril/27
Abril/27
Äbril/27
Abril/27
B-139
PHOENIX
70786
70790
70796
70797
70799
70802
70803
70804
70805
70806
70814
70815
70815
70817
70818
GAÚCHO
4042
ODEON
10010
10014
0015
10017
10019
10020
10021
O Epifânio brincando
Jaci e Sertanejo
Polca
Gavota e
Batuque
Grupo Honório
João Guimarães ( violão )
Saudades de minha
Aurora
Saudades de São
Bernardo
Tenho pressa
Sempre feliz a teu lado
Nas asas de um anjo
Alda
Belo Horizonte
Uiára
Devaneio
Sempre teu
Onde está Idalina
Tuim,Tuim,Tuim
Amor constante
Pierrota
Não si impressiona
Valsa
Américo Jacomino "Canhoto"( violão )
Américo Jacomino "Canhoto"
Valsa
Grupo do Canhoto
Antonio Picucci
Polca
Mazurca
Valsa
Chótis
Valsa
Polca
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Américo Jacomino "Canhoto"( violão )
Américo Jacomino "Canhoto"( violão)
Américo Jacomino "Canhoto"( violão )
Américo Jacomino "Canhoto"( violão)
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Grupo do Canhoto
Antonio Picucci
J. Rafaille
Antonio A Lemos
Nhá Maruca foi
s'imbora
Nhá moça
Samba
Samba
A-Rosas desfolhadas
B-Viola,minha viola
A-Foi s'imbora Maria
B-Dengoso
A-O coco de Iaiá
B-Santa Terezinha
A-Olhos feiticeiros
B-Burgueto
A-Dengoso
B-Reflexos da mina
alma
A-Marcha T Brasileira
B-Reminiscências
A-Abismo de Rosas
B-Marcha dos
Valsa
Toada
Samba
P.Choro
Maxixe
Valsa
Tango
V
lenta
Toada
Modinha
Polca
Valsa
Valsa
Valsa
Polca
Marcha
Valsa lenta
Valsa lenta
Marcha
1242
1211
1200 1202
1212
1201
1223 1235
Antonio Picucci
Antonio Picucci
Antonio Picucci
Antonio Picucci
Américo Jacomino "Canhoto
Os Geraldos
Américo Jacomino
?
Canhoto ( violão)
Pilé (acompanhamento do grupo do Canhoto)
Pilé
Canhoto(cavaquinho)
Pilé (acompanhamento do grupo do Canhoto)
Canhoto (cavaquinho)
Canhoto ( violão )
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Francisco Alves
Francisco Alves
Francisco Alves c/ Canhoto ( violão )
1243 1231
Canhoto ( violão )
1230
Canhoto ( violão )
1244
Américo Jacomino "Canhoto"
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Canhoto
Julho/27
Agosto/27
Agosto/27
Agosto/27
Anterior aout/1927
10022
10024
10026
10027
10028
10029
10107
10148
Marinheiros
A-Uma noite em
Ipanema
B-Tico tico no farelo
A-Brasilerita
B-Caprichoso
Valsa
Choro
Tango
Argent
Maxixe
A-Berço e Túmulo
Modinha
B-Bebê
V.lenta
A-Choça do monte
Choro
B-Araci
Valsa
A-Luar da minha terra
Canção
B-A Solina voou
Canção
A-Paulista de Taubaté
Toada
B-Vamos embora Maria Embolada
A-Prelúdio de violão
B-Atlântico
Tango
A-Sonho de gaúcho
Canção
B-Campanha do sul
Fox-trot
1236
1237
Canhoto(cavaquinho)
Canhoto
Canhoto
1248 1228
Canhoto ( violão)
Canhoto
Canhoto
1203 1225
Paraguaçu
Canhoto
Catulo Cearense
1210 1213
Paraguaçu acompanhado do grupo do Canhoto
Canhoto(cavaquinho)
Paraguaçu acompanhado do grupo do Canhoto
Canhoto (cavaquinho)
Pilé acompanhado do grupo do Canhoto
1214
Pilé acompanhado do grupo do Canhoto
1204 1234
1451
1553
1224
1452
1558
Setembro/27
Set/27
Rogério Guimarães(violão)
Canhoto
Canhoto
Canhoto
"Jararaca"
Rogério Guimarães
Francisco Alves
Francisco Alves e Rogério Guimarães (violões)
Sinhô
Rogério Guimarães
Março/28
Set/27
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Gilson Antunes - Americo Jacomino