GIL PUJOL, Xavier. La historia política de la Edad Moderna europea, hoy: Progresos y minimalismo In: BARROS, Carlos (Coord.). Historia a debate: actas del Congreso Internacional "A historia a debate". Santiago de Compostela: Historia a Debate, 1995. O objeto de nossa análise integra o terceiro de quatro volumes dos anais do “I Congreso Internacional Historia a Debate”, realizado entre 7 e 11 de julho de 1993 na Universidade de Santiago de Compostela, publicado em 1995 sob a coordenação do Prof. Carlos Barros Guimerans. O congresso reuniu centenas de historiadores de diversas partes do mundo e teve como objetivo proporcionar reflexões e debates sobre metodologia e epistemologia da História, dinamizando alternativas, descobrindo novos paradigmas e consensos que orientassem o ofício do historiador no início do século XXI. Atualmente, o congresso está em sua quarta edição (2010). Em “La historia política de la Edad Moderna europea, hoy: Progresos y minimalismo”, Francisco Xavier Gil Pujol1 analisa o estado atual (1993) da História Política e se pergunta até que ponto o modo como se faz História Política ultrapassa os limites da situação nacional para refletir a situação historiográfica como um todo. Segundo ele, “Historia a Debate” ofereceu a oportunidade de prosseguir com a reflexão iniciada em 1983, quando publicou um artigo sobre o objeto de estudo da História Política, ou seja, o poder e suas múltiplas manifestações. Entretanto, Pujol de imediato esclarece que sua proposta de reflexão para o Congresso se limitaria a História Política propriamente dita, já que, segundo ele, a biografia, o sujeito e a narrativa se tratariam de recortes mais específicos durante o congresso. Assim, Xavier Pujol apresenta uma visão panorâmica sobre as produções mais recentes, objetos de estudo e tendências de reflexão que, segundo ele, caracterizariam a situação atual (1993) da História Política. Antes de prosseguir em sua reflexão, Pujol apresenta sua concepção de minimalismo. Segundo ele, analisando as produções dos últimos anos, pode-se perceber que muitas vezes os resultados foram posições cautelosas e respostas menores, apesar do progresso conseguido em uma variedade crescente de campos e em uma diversidade de perspectivas. 1 O Prof. Dr. Francisco Xavier Gil Pujol é diretor do Departamento de História Moderna da Universidade de Barcelona; autor de livros como: “Tiempo de política: perspectivas historiográficas sobre la Europa Moderna” (2006), “Información de los sucesos del reino de Aragón em los anos de 1590 y 1591” (1991), “Recepción de la Escuela de Annales em la historia social anglosajona” (1983); sua tese de dourado tratou tema “De las alteraciones a la estabilidad corona, fueros y politica em el reino de Aragón 1585-1648” (1989). Pujol também é autor de vários artigos, como: “Els nous materials com a motor de progrés a Catalunya” (2009), “Concepto y práctica de república en la España moderna. Las tradiciones castellana y catalano-aragonesa” (2008), “Sobre la noción actual de hecho histórico: entre contingencia y construcción” (2008), “El temps historiogràfic d' "El temps del Quixot" (2005), dentre outras publicações na área da História Politica. Gil Pujol entende que os progressos conseguidos se devem a nova tendência de enfatizar aspectos políticos de fenômenos históricos que normalmente ficariam longe das preocupações da História Política tradicional (BARROS, 1995, P. 195). Para ele, o campo da História Política tem se expandido em todas as direções, se trata de uma História Política mais abrangente cujo o objetivo, afirma Pujol citando Patrick Collinson, é explorar a profundidade da política social, buscando sinais da vida política em áreas anteriormente ignoradas. Assim a nova História Política se trata de uma História Social com contornos políticos e uma exposição dos processos políticos que é também social, tornando-se múltipla, mais completa. Para Xavier Pujol, não faz muito sentido atualmente falar em História Política, História Social e História Cultural de forma excludente, pois, devido principalmente a interdisciplinaridade, os limites entre essas práticas historiográficas estão cada vez mais difíceis de se definir e existem poucas dúvidas de que o diálogo interdisciplinar seja um requisito necessário para se capturar o polimorfismo político de uma realidade social (BARROS, 1995, P. 197). Entretanto, o diálogo interdisciplinar, diz Pujol, está longe de resolver todos os problemas do historiador. Dialogando com Peter Burke e Bartolomé Clavero, Gil Pujol afirma que a importação de problemáticas, técnicas e métodos de abordagem, a expansão experimentada por diversas áreas da história, segundo Burke, tem conduzido a uma crise de identidade, pois, se a política está em todas as partes, já não há necessidade de uma história estritamente política. Entretanto, segundo ele, Clavero continua insistindo numa alteridade radical e afastamento do mundo político do Antigo Regime, situação inapreensível tanto na linguagem quanto no universo político contemporâneo. Por isso, para Pujol a História Política tradicional está longe de dar conta adequadamente do mundo político do Antigo Regime sem uma antropologia política e jurídica. “Todo ello confirma que la transformación y enriquecimiento experimentados por la historia política no há consistido em una simple ampliación de temas, muchos de ellos ahora considerados también politicos. Nos hallamos ante una nueva concepción de lo que era la vida política del Antiguo Régimen y por lo tanto, de la prática historiográfica que debe mostrárnosla” (BARROS, 1995, P. 197). Com as informações acima elencadas, Francisco Xavier Gil Pujol apresenta os propósitos de seu trabalho, distinguindo-os em uma série de enfoques que podem ser divididos em quatro grupos. No primeiro grupo, junto com uma farta produção sobre comportamentos demográficos, está a história da família, ou seja, o papel da família enquanto célula básica de produção e sociabilidade, como base de todo sistema social. Segundo Pujol, investigar o ordenamento social, as vinculações com outros centros de poder, a economia doméstica e as relações de parentesco, bem como conceitos de direito comum e diversas ações e funções no âmbito doméstico contribui para a compreensão dos objetivos das ações e conflitos políticos do Antigo Regime. Para defender este argumento, Pujol dialoga com Leon Battista Alberti e Jean Bodin. Para o segundo grupo, fundamentado em E. P. Thompson e Natalie Davis, Pujol aponta para uma série de trabalhos considerados como a história política “a partir de baixo”, a substituição dos grandes protagonistas por homens e mulheres comuns, o que, segundo ele, caracteriza uma nova maneira de reconhecer a intervenção insubstituível da ação humana na causalidade histórica conduzindo a uma reumanização da História. Pujol atribui a microhistória uma grande contribuição a História Política nessa área. Segundo ele, “Este énfasis en las capacidades de los hombres y mujeres – altos e bajos – por protagonizar, vivir e interpretar su própria historia es probablemente la faceta más característica del presente estado de la historia política, social y cultural. Y es una faceta muy reconfortante ante tanta insistencia en la presente crisis de la Historia. Pero ello no está exento de problemas (...)” (BARROS, 1995, P, 199). Pujol cita a nova História Cultural, com sua ênfase nos discursos, separação entre texto e contexto e concepção de poder como algo plural que permeia todos os aspectos da vida social, como um dos principais incentivos para a ampliação do campo de estudo da História Política, entretanto, segundo ele, paradoxalmente, a nova História Cultural despolitiza a prática deste poder o apresentando como constante e universal, o que, segundo Gil Pujol, simplifica os processos históricos e reduz severamente o papel da ação humana. Assim, ele dialoga com autores como Mientras Turner, Geertz, Foucault, Derrida, Marat, Danton e Mirabeau. Em seguida, Francisco Xavier Gil Pujol fala sobre um terceiro grupo de trabalhos preocupados com o estudo das instituições para se compreender o Estado e o absolutismo moderno sem ignorar casos individuais, resultando em uma renovação da história administrativa, onde a prosopografia tem sido utilizada como campo de investigação adotando enfoques mais dinâmicos. Dialogando com Antonio M. Hespanha e Pere Molas, Pujol chama atenção para o fato de que determinadas funções na administração central das monarquias europeias foram exercidas por organismos ou cargos distintos entre si, conforme as circunstâncias e conjunturas politicas específicas ao longo dos séculos XVI e XVII. Entretanto, segundo Xavier Pujol, atualmente (1993) se insiste no fator pessoal, tanto dentro quanto fora das instituições, afirmação que inaugura sua reflexão sobre o quarto grupo. Segundo Francisco Xavier Gil Pujol, o historiador deve se ocupar, por exemplo, com as relações de patronato e clientela – tanto do ponto de vista do patrão quanto do cliente, os intermediários, escravos, libertos, grupos de elite, as redes de influência e todo um mundo de mediações e interesses pessoais entre governantes e governados, capital e territórios. A presença dos organismos oficiais, segundo ele, pode ser detectada através destes múltiplos âmbitos políticos e sociais. A luta política, na corte e fora dela, era fluida e adotava modalidades mais variadas que as estabelecidas pelos organismos oficiais (BARROS, 1995, P. 201-202). Entretanto, estudar a política através de canais informais, bem como, abordar os revisionismos sobre as Revoluções Inglesa e Francesa significa esbarrar na dificuldade da documentação, pois, geralmente produzida pelas instituições, nem sempre proporcionam a informação desejada. Os centros de poder são plurais e as relações entre eles, inclusive as conflitivas, eram múltiplas, cotidianas, muito complexas, e dificilmente davam voz e ouvido as camadas populares (BARROS, 1995, P. 202-203). Caminhando para sua conclusão, Gil Pujol dialoga com Christopher Hill, Ranke, Burkhardt, Keith Thomas, Patrick Collison, Anthony Fletcher, J. G. A. Pocock, J. H. Elliott, G. R. Elnton, Giovanni Levi, Conrad Russel e Lawrence Stone para demonstrar que nos últimos anos se tem encontrado dificuldades para explicação social das Revoluções Inglesa e Francesa. No entendimento de Gil Pujol, os exemplos apresentados em seu artigo são suficientes para ilustrar o clima atual (1993) entre os mais considerados praticantes de História Política. Entretanto, não devem ser observados como declínio da História Política, mas, sim, como resultado de avanços produzidos, do reconhecimento de uma multiplicidade de fatores que envolvem o político, uma discussão que é saudável a qualquer disciplina e, no caso da História Política renovada, a conscientização de sua capacidade e de seus limites. “La prudencia se impone. Así pues, la historia politica no sólo comparte este talante con outras ramas de la disciplina, sino que contribuye a este clima general. Como es sabido, el panorama actual de la historia en su conjunto, tanto en sí misma como en relación con outras ciencias sociales, viene marcado por el retraimiento. En la bonanza de unas décadas atrás, la historia total era un reto admitidamente arduo, pero un reto que la disciplina podía plantearse. Hoy, por el contrario, abundan los testimonios que proclaman el abandono de la búsqueda de grandes procesos y grandes explicaciones, se interrogan sobre las capacidades demostrativas de la historia, y admiten que no hay un consenso claro sobre qué constituye una buena explicación histórica, aunque ciertamente no faltan voces discrepantes ante esse retraimiento” (BARROS, 1995, P. 207). Para Francisco Xavier Gil Pujol, a nova História Política é também social e cultural. O tom minimalista responde, segundo ele, a reumanização da História Política e da história em geral. O que, de certa forma, impulsiona novas investigações e novas reflexões. Neste sentido, diz Pujol, “minimalismo é sinal de um progresso” (BARROS, 1995, P. 208).