DEPOIS DO DILÚVIO A BONANÇA: O MOVIMENTO POLÍTICO-RELIGIOSO EM BELO HORIZONTE NA DÉCADA DE 1970 Prof. Dr. Mauro Passos Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) [email protected] Religião e Política na Modernidade Aprendi que sem tempo não há movimento. Jorge Luiz Borge A década de 1960 pode ser dividida em duas fases. A primeira antecedeu ao regime militar autoritário e corresponde aos quatro primeiros anos. A segunda teve sua marca inicial em 1964 e corresponde à implantação desse regime. No seu conjunto, foi um período complexo, caracterizado pelo cultivo de diferentes utopias, como também pela frustração de projetos que animaram inúmeros segmentos da sociedade civil. Este estudo pretende analisar o movimento do catolicismo em Belo Horizonte, especialmente sua integração nas questões políticas e sociais. O envolvimento do catolicismo nas questões sociais contribuiu para renovar sua própria prática. As conquistas alcançadas foram antecipadas por lutas e desafios a serem respondidos. O novo lugar que, progressivamente, o catolicismo foi ocupando na sociedade, neste período, modificou seu perfil. Foi ocorrendo, assim, uma metamorfose na compreensão de si mesmo. O seu perfil institucional foi sendo alterado. A instituição eclesiástica começava a abrir novos horizontes em sua práxis. A articulação com o universo social é um aspecto importante para a compreensão da história religiosa. Com esse procedimento, é possível analisar de forma crítica esse período. Como um exercício de interpretação, compreensão do seu movimento e articulação com os acontecimentos católicos, em nível nacional e internacional. Trata-se de um período bastante ambíguo, pois a realidade que circunda o catolicismo intriga seu percurso no contexto brasileiro. Como se situar frente às incertezas 2 do presente e avizinhar-se de temas e situações que bradam por justiça, liberdade, participação? Como articular experiência de fé e compromisso social? 1. As imagens primeiras: caminhos e propostas O desenho do catolicismo brasileiro comporta uma diversidade de atos e atores. Sua atuação nesse período é vista a partir de reelaborações que ultrapassam a visão ultramontana, como um aspecto ativo e operante no mundo social, capaz de oferecer a este e às suas representações importantes momentos de interação, segundo Lowy 1. Nesse período, percebe-se um movimento no quadro religioso, no sentido de maior aproximação junto às camadas populares e aos grupos que se empenhavam por transformações sociais. O envolvimento e a militância de alguns membros do catolicismo em diversas áreas da sociedade contribuíram grandemente para essa mudança. Com isso, a mediação das relações não se dá, somente, em nível institucional, como nos períodos anteriores, mas na própria realidade social. Com efeito, as propostas e as novas formas proclamadas não se situam em nível de toda a Igreja, são próprias de alguns setores mais avançados de grupos de leigos, padres e bispos que procuravam outros passos, favorecendo um diálogo maior com a história, buscando uma maior participação de seus membros, em vista da construção de uma comunidade livre, justa, solidária e fraterna. A Igreja Católica não é um bloco homogêneo. A partir de 1950, sob a influência do pensamento de Jacques Maritain, dos teólogos europeus, como Lubac, Chenu, Congar e do movimento de Economia e Humanismo do Pe. Lebret, a Ação Católica ganha nova orientação. Além disso, a nomeação do Pe. Hélder Câmara, futuro bispo, como assistente nacional favorecerá toda essa evolução e inserção dos militantes na realidade. Mais do que idéias, conceitos e normas, foi-se definindo também um novo tipo de relação da Igreja com o mundo social, político, cultural e artístico. As mudanças que foram ocorrendo e a irrupção dos problemas sociais e políticos colocavam novas questões para o catolicismo. Como viver a fé no relacionamento com grupos populares? Com intelectuais progressistas? Na luta sindical? Nos movimentos populares? O esforço era imprimir uma linha que tivesse uma ação apostólica mais concreta 1 LOWY, Michael. Redenção e utopia. Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p. 16. 3 e histórica. Assim, começaram a surgir revistas, boletins, jornais, semanas de estudo, cursos para formar líderes mais atuantes e dinâmicos na região industrial de Belo Horizonte, como também junto aos estudantes universitários. É de se notar o empenho e o estímulo de alguns padres. Entre outros, muito significativo foi o pensamento do Pe. Henrique C. de Lima Vaz, com sua reflexão sobre consciência histórica dos tempos modernos e cristianismo 2, como de Frei Mateus Rocha. Sob a orientação desses religiosos foi-se formando um,a geração de jovens que ingressava na universidade da capital mineira. É bom lembrar, ainda, os nomes de Herbert José de Souza (Betinho), Vinícius Caldeira Brant, presidente da UNE em 1962, Henrique Novaes. O diálogo entre teologia e pastoral com as ciências sociais passou a dar a tônica nos trabalhos. A prática da solidariedade estabelece vínculos com o grupo social na periferia de Belo Horizonte. Estudantes, psicólogos, professores, assistentes sociais, padres, seminaristas marcam sua presença na periferia de Belo Horizonte. A consciência de pertencer ao mundo e a presença de conflitos, que surgiam em vários bairros da Cidade Industrial, marcavam essa prática e diálogo entre catolicismo e sociedade. A intersecção entre fé e política possibilitou a formação de um campo de forças para concretizar essa solidariedade. Assim, evidenciou-se na capital mineira uma presença significativa de religiosos e militantes políticos 3. Alimentou projetos significativos junto aos trabalhadores na área industrial. Há-de se destacar a militância político-religiosa no município de Ibirité na década de 1970. Inspirados na metodologia da Ação Católica (Ver – Julgar – Agir), na práxis sócio-política das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), na Teologia da Libertação, na metodologia de Paulo Freire, esse grupo dinamizou práticas sociais, organizações de resistência e transformação social, animados pela consciência cristã, pela leitura da Bíblia, através dos Círculos Bíblicos. Com isso, foram criados, na região, vários núcleos e instrumentos de trabalho, tais como: o Folheto Dominical ―Caminhando‖ para as paróquias da região industrial; a Seara do Senhor – espaço para reuniões, assembléias do clero, leigos e trabalhadores, formação bíblica e reuniões de Associações de Bairros; Grupo 2 A reflexão desse grande pensador sobre cristianismo e mundo moderno está, particularmente, em: VAZ, Henrique C. de Lima. Escritos de filosofia: problemas de fronteira. São Paulo: Loyola, 1986, 141-156; —, Raízes da modernidade. São Paulo: Loyola, 2002, 11-93. 3 A popósito, lembro os estudos de Antoniazzi, Passos, Neves (2002). 4 de Estudo e Trabalho e Educação Comunitária (GETEC); Centro de Estudos do Trabalho (CET); Jornal dos Bairros, Movimento de Luta contra a Carestia. É importante lembrar, ainda, que em 1972 houve o encontro de El Escorial, no qual a metodologia da Teologia da Libertação foi lançada ao mundo europeu. Começou a ser o foco de atenções. Depois houve encontros no México (1975), Detroit (1975), Dar es Salaan (1976). A discussão travou-se em ordem à preparação da III Conferência do Episcopado Latino-americano em Puebla (1979). Outro fato significante é a crescente influência da Teologia da Libertação sobre os documentos oficiais de muitas dioceses. Apesar de a maioria do episcopado brasileiro não ser de mentalidade socialmente aberta, os documentos produzidos demonstram uma aguda percepção da situação conflitiva da realidade brasileira. Além disso, tomam posição em prol dos pobres. A propósito, lembro, entre outros, os seguintes documentos: Exigências cristãs de uma ordem política (1977), Subsídios para uma política social (1979), Igreja e problemas da terra (1980). Em Belo Horizonte foram escritas várias cartilhas sobre questões sociais e políticas. Com base nos textos bíblicos, a ala progressista da Igreja Católica foi-se comprometendo com as camadas populares, através de instrumentos, organizações e articulações que acenavam pela criação de uma nova ordem social e política. As sementes da politização dos anos de 1960 abrem novos espaços de atuação. Do ponto de vista social e religioso, há no período de 1960 a 1970 um fervilhar de experiências que germinam um novo modo de ser católico. Uma riqueza de práticas eclesiais germina em várias dioceses brasileiras, como foi o caso de Belo Horizonte. È importante ressaltar que em todo esse processo, o principal agente que se vai operando no interior dessa prática e nova experiência são as camadas populares. São o ―novo sujeito social‖ e o ―novo sujeito eclesial‖, usando uma expressão de Gustavo Gutierrez. Uma senhora de 70 anos, que trabalhava na década de 1970 e, atualmente desenvolve uma atividade na ―Casa da mulher Trabalhadora‖ afirma: A gente não tinha nada aqui no bairro. A estrada existia por causa dos buracos. Era preciso buscar água longe e na mão. As crianças tinham que atravessar uma ponte de madeira e andar mais de meia hora. Tudo começou na igreja. Tinha reunião, círculo bíblico, culto três vezes na semana. Quase todo domingo, a comunidade reunia para a missa e depois tratava dos problemas. 5 Os padres falavam mesmo. Iam com a gente na prefeitura, chamavam os políticos. Com isso, foi formando uma liderança. Tudo que tem aqui hoje foi luta da gente 4 Esse depoimento demonstra o desejo de unir, participar e agir em vista do bem da coletividade. Os laços de solidariedade marcaram seu lugar, ocuparam espaço e se fizeram presentes, por um lado. De outra parte, essas novas formulações do catolicismo resultaram do seu contato e entrosamento com a realidade histórica. Fruto de um exercício de aprendizagem. Convergência de desdobramentos, descobertas e intercâmbios. 2. Religião e sociedade: em busca da interdisciplinaridade Podemos perceber que não é possível compreender o movimento do catolicismo em Belo Horizonte na década de 1970 sem referência ao seu contexto histórico. Diversos organismos, institutos e frentes de trabalho foram também criados, sob a orientação da CNBB, em nível regional e nacional, tais como o Instituto Nacional de Pastoral (INP), o Centro de Formação Intercultural (CENF), com o objetivo de preparar os religiosos estrangeiros que vinham trabalhar na Igreja do Brasil, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (IBRADES), para preparar os agentes de pastoral, com enfoque na realidade sócio-econômica. Nesse período foi criado, também, o Centro de Estatística Religiosa e Investigação Social (CERIS), para orientar as pesquisas e os trabalhos pastorais. Com a eleição de João XXIII, novas contribuições e motivações marcaram o rumo da Igreja no Brasil. Suas encíclicas Mater et Magistra (1961) e Pacem in terris (1963) contribuíram para o compasso do catolicismo. Uma nova retórica estava acontecendo no mundo religioso católico. Os problemas decorrentes do subdesenvolvimento econômico, como também do subdesenvolvimento das instituições sociais e culturais passam a ser um aspecto relevante na pastoral e em alguns movimentos religiosos. Inspirada nos princípios das encíclicas sociais de João XXIII, a Comissão Central da CNBB publicava uma declaração denunciando a situação social: 4 Depoimento de Ana Amaral para o Projeto de Pesquisa: ―Depois do dilúvio a bonança‖?, sob a coordenação do Prof. Mauro Passos, do Mestrado em Ciências da Religião. 6 Ninguém desconhece os clamores das massas, que, martirizadas pelo espectro da fome, vão chegando, aqui e acolá, às raias do desespero. [...] O rolo compressor de certos grupos insaciáveis, pela dinâmica do lucro exorbitante, pela ganância incontrolável e ilimitada, tem causado o agravamento da situação política, econômica e social do País. Não nos referimos, evidentemente, às pequenas e médias empresas, nem à classe média sempre mais sacrificada e rarefeita. Referimo-nos aos que, a pretexto de combaterem o comunismo com medo de perderem seus privilégios, alimentam paradoxalmente a propaganda das idéias subversivas e esgotam a paciência dos pobres (CNBB, 1963: 627, 628 ). Aqui vale destacar a mudança de linguagem do documento. Em nível de discurso, o texto articula a questão da classe social com o sistema constituído. As palavras estruturamse em uma totalidade significativa. Há uma preocupação maior do que simplesmente informar ou explicar. Não se trata de uma palavra ou frase dita às camadas populares ou às classes dominantes. É uma nova entidade que estabelece relação com o que está acontecendo no nível político, econômico, social e suas conseqüências para a vida humana, tanto pessoal quanto coletiva. Portanto, o discurso não constitui um fim em si mesmo, nem pretende, apenas, veicular mensagens e valores religiosos, mas possui um objetivo maior interagir socialmente. Esse fragmento de texto chama a atenção para questões vitais - a fome em muitas regiões e o excesso de lucro de vários grupos, a pobreza como conseqüência da má distribuição de renda - e a condenação daqueles grupos que se sentiam incomodados com a ação pastoral da Igreja, denominando-a de comunista. Todo esse esforço requer um diálogo com as partes e com os vários eventos. Isso permite uma aproximação e integração com a totalidade desse período. O pensamento religioso não evolui sozinho. Ele interage com outras formas de pensamento e outras esferas de organização social, política e cultural. Ele comporta diferentes temporalidades e outros ensaios em sua lógica. É necessário entendê-lo como projeto (proiectus, us, do latim: lançado para adiante, intento, ação de estender-se, extensão). Cada acontecimento e cada movimento projetado contribuíram para que a história deste horizonte religioso se ampliasse. Trata-se de um movimento dialético e não linear. Esforço para romper com a experiência anterior e provocar mudanças. No entanto, a mudança nem sempre é pura. Vem rastreada de marcas, contradição. O Concílio respondeu ao que estava em caminho no catolicismo brasileiro. Afirmou na Constituição Pastoral "A Igreja no mundo de hoje" (Gaudium et spes) que "as alegrias e 7 as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo, dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e angústias dos discípulos de Cristo" (CONCÍLIO VATICANO II, 1968: 143). O catolicismo em Belo Horizonte não será diferente. Em 1962, sediará o I Congresso de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas Brasileiros. Representantes do catolicismo participarão do evento, inclusive de outras regiões do estado. O movimento grevista dos operários de Contagem, em 1967 e 1978, teve uma participação dos grupos comunitários – CEBs, Padres do Trabalho, Associação de Bairros e da Juventude Operária Católica (JOC). Em 1968 ocorre a prisão de um grupo de padres franceses que trabalhavam no Bairro Horto, religiosos da Ordem Assuncionista. Tinham uma ligação com a JOC. As reações da Igreja logo se fizeram sentir, pois foram considerados pelas autoridades militares inimigos internos. Naquele período, comemorava-se o Jubileu de 20 anos da Paróquia do Horto. Em vista dos fatos que envolviam os padres, a programação foi modificada. Houve também uma grande manifestação estudantil de solidariedade aos religiosos presos. O Arcebispo de Belo Horizonte, Dom João Resende Costa, deu apoio a eles, esclarecendo no jornal ―O Diário Católico‖ os fatos, escreveu uma homilia que foi lida nas paróquias, o que deu ao episódio uma repercussão considerável. Um conflito interno marcou o catolicismo em Belo Horizonte no ano de 1968. Em 28 de março, no Rio de Janeiro, morre baleado pela polícia, o estudante Édson Lima. Em Belo Horizonte, um grupo de 34 padres assina um manifesto contra a repressão policial e em defesa dos estudantes. Na origem do ―manifesto‖5 estavam dois dominicanos, frei André Resende e frei Eliseu Lopes, e um padre diocesano, Frederico Ozanam Pereira. O manifesto criticava, além da violência policial, a ―violência de nossas estruturas que, confrontadas com a Populorum Progressio, seriam qualificadas de opressivas do povo‖. O manifesto revelava também o clima do momento, em que uma parte expressiva do clero se insurgia contra o que lhe parecia ser uma degradação das relações entre sociedade civil e governo, degradação que de fato desembocou no AI-5 e na perda de todas as garantias constitucionais. 5 Publicado como ―Declaração dos Padres‖ em ―O Diário‖, de 30.3.1963. 8 Os acontecimentos de 1968 são amplamente conhecidos e não precisa evocá-los aqui, a não ser sumariamente 6. Em 5 de abril, o Governo proíbe a ―Frente Ampla‖, promovida por Magalhães Pinto e Carlos Lacerda. Em Belo Horizonte, a morte de Edson Luís desencadeia greves estudantis, inclusive no Instituto Central de Filosofia e Teologia, ou seja, entre os seminaristas. Ainda em abril, estoura a greve operária de Contagem. Conflitos entre Estado e Igreja se verificam em São Paulo e São Luís do Maranhão. Em 14 de junho, O Jornal do Rio de Janeiro publica um estudo preliminar do teólogo José Comblin para Medellín, apresentando-o como prova da ―subversão‖ ou ―comunização‖ da Igreja. Poucos dias depois, no Rio, acontece a ―passeata dos 100.000‖, com participação de padres e do Vigário Geral da Arquidiocese. No dia 28 de novembro de 1968, foram presos em Belo Horizonte, na casa paroquial de Bom Jesus do Horto, três padres franceses e um diácono brasileiro, todos Assuncionistas 7. O principal visado era o Pe. Michel Le Ven, assistente da JOC e professor do Instituto Central de Filosofia e Teologia. Mantidos incomunicáveis, foram submetidos a ―longos e penosos‖ interrogatórios 8. A reação da Arquidiocese foi rápida. O Conselho Presbiteral se reuniu no dia 29. No dia seguinte, Dom Serafim determina que uma homilia seja lida em todas as Missas9. Ela denuncia a perseguição contra a Igreja, sem reivindicar privilégios Seguindo os estudos de Hervieu-Léger (1993, 1999), a situação de mobilidade, típica de uma modernidade religiosa tecida pelas experiências pessoais, favorece a emergência de um outro cenário no campo religioso. Foi o que aconteceu com o catolicismo em Belo Horizonte. Esses episódios se inseriam num contexto particularmente problemático para a Igreja no Brasil. Também o ano de 1969 não foi dos mais felizes para Arquidiocese de Belo 6 Para uma ―relação cronológica de fatos, episódios e declarações relevantes‖ sobre A Igreja Católica no Brasil no período de 1950 a 1975, veja o trabalho de Riolando AZZI em ―Religião e Sociedade‖, nº 2, nov. 1977, p. 79-109. 7 A primeira notícia apareceu em ―O Diário‖, 29.11.68, p.8. 8 Cf. Pedido de Hábeas Corpus assinado em 7 de dezembro de 1968 pelos advogados Ariosvaldo de Campos Pires e Gamaliel Herval, e por Dom João e Dom Serafim (arquivo CEDIC), p. 4, última linha. – O texto do ―Habeas Corpus‖ foi publicado também no vol. 1, nº 9, de SEDOC (março de 1969), col.1225-1235. 9 Nota de Dom Serafim em ―O Diário‖, 30.11.68, p. 1. O texto da homilia está em SEDOC vol. 1, nº 9, março de 1969, col. 1207-1208, e em ―O Dfiário‖ de 1º.12.1968 (p.4). - ―O Diário‖ do dia 30.11.68 publicava também, na p. 4, um editorial de ―veemente protesto‖; no dia 1º de dezembro publicava outro protesto na primeira página; título: ―Perseguição à Igreja‖. 9 Horizonte. Em setembro, foi forçada a vender o jornal católico O Diário, cuja publicação Dom Cabral iniciara em 6 de fevereiro de 1935 10 . O contexto desses acontecimentos era muito mais amplo que as experiências do catolicismo em Belo Horizonte e no Brasil. Ao mesmo tempo que aqui se desencadeava a repressão policial e a Igreja era tida como suspeita e via sua liberdade limitada, uma crise de transição do catolicismo pós-conciliar estourava em nível mundial. Na década de 1980 um novo projeto de pastoral ganha corpo em Belo Horizonte. Trata-se de um novo projeto de evangelização com o tema ―Construir a esperança‖. Mobilizou todos os movimentos religiosos, as paróquias e instalou novos grupos de evangelização, sob a coordenação do Pe. Alberto Antoniazzi. O projeto provocou um enorme crescimento de grupos de reflexão. A fé refere-se à profundidade de nosso ser e ao sentido de nossa existência humana. O sujeito crente não deixa de ser racional quando crê, mas sua crença não se reduz ao racional. A fé é um ato originário que abre a razão para além de si, apontando-lhe possibilidades, outros horizontes como também limites e dando-lhe um sentido último. Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla que se propõe a reconstituir o campo religioso de Belo Horizonte cujo objetivo é o entendimento de duas tendências recortadas nos períodos de – 1970 e 1990. Ao recuperar a memória desses temas, no catolicismo em Belo Horizonte, novos / antigos questionamentos voltam a balizar a sua história. Como falar em atualização, inserção social e política, opção pelas camadas populares na atual ordem econômica? O problema de ontem é cada vez mais o problema de hoje. Referências bibliográficas ANTONIAZZI, Alberto; NEVES, Lucília de Almeida, PASSOS; Mauro (orgs.). As veredas de João na barca de Pedro. Belo Horizonte: PUC-Minas, 2002. AZZI, Riolando. Presença da Igreja Católica na sociedade brasileira (1921-1979). Rio de Janeiro: Tempo e Presença, 1981. 10 Sobre O Diário, cf. a breve história e análise de suas característica em João Camilo de Oliveira TORRES. A Igreja de Deus em Belo Horizonte. Belo Horizonte, 1972, p. 153-160 e 177-180. 10 BRUNEAU Thomas C. O catolicismo brasileiro em época de transição. São Paulo: Loyola, 1976. COMISSÃO CENTRAL DA CNBB À NAÇÃO BRASILEIRA, apud MESQUITA, Luís José de. As encíclicas sociais de João XXIII - Mater et Magistra - comentários atualizados com a Pacem in Terris. Rio de Janeiro: José Olympio, 1963. CONCÍLIO VATICANO II. Constituições, decretos, declarações. Petrópolis: Vozes, 1968. CONFERÊNCIA NACIONAL DO BISPOS DO BRASIL / REGIONAL NORDESTE II. Manifesto. In: "Paz e Terra". Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, 248. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Declaração da Comissão Central da CNBB, in "Comunicado Mensal da CNBB" 196/198 (1969) 11:15. MAINWARING, Scott. A Igreja católica e a política no Brasil (1916-1985). São Paulo: Brasiliense, 1989. PASSOS, Mauro; DELGADO, Lucília de Almeida Neves. Catolicismo: direitos sociais e direitos humanos (1960-1970). In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves. (orgs.). O Brasil republicano: o tempo da ditadura – regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, v.4, p.94-131. SERBIN, P. Kenneth. Diálogos na sombra: bispos e militares, tortura e justiça social na ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.