ANO 3 - Nº 28 • Edição Mensal - Agosto/2015 O Jornal de Santa Rosa de Lima - A Capital da Agroecologia. Gravado no município, curta-metragem Nuvem estréia em Santa Rosa de Lima Pág. 27 PATRIMÔNIO Seu Remi, o “Nono” do Pé da Serra Pág. 13 2 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio REPORTAGEM Mariza Vandesen Agricultura familiar e os serviços ecossistêmicos Quanto vale o ar que respiramos, a água que bebemos, o trabalho do agricultor familiar que provê o alimento de cada dia e ainda cuida a natureza? A sociedade e o governo devem pagar para preservar as matas, as nascentes, a fauna, a biodiversidade do planeta? Como é possível garantir a oferta de serviços ambientais e de comida, elementos essenciais a existência da vida, quando cientistas dizem que a agricultura convencional é a maior ameaça para o ecossistema? Estes são alguns questionamentos que pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Vermont, na Califórnia e Universidade de Twente, na Holanda querem responder com a ajuda de agricultores familiares de Santa Rosa de Lima. Para isso desenvolvem um projeto piloto sobre PSA (Pagamento por serviços ambientais). A pesquisa é realizada com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e conta com a parceria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Administração Municipal e da Epagri. O primeiro dia de campo para discutir a efetiva aplicação do projeto foi realizado no dia 07 de julho, na comunidade Mata Verde. Cerca de 40 agricultores participaram, destes, 26 eram jovens. Agricultores participaram da palestra sobre PSA, na Comunidade Mata Verde. “A proposta é desenhar um programa para pagamento de Serviços Ambientais para usos agrícolas renovadores”, diz o professor pesquisador da UFSC, Abdon Schmidt Filho. “É voltado para a agricultura menos impactante, mais regeneradora. É onde entra o sistema silvipastoril com as matas ciliares e multifuncionais e a transição dos agricultores para a produção agroecológica”. O foco também é trabalhar com público jovem. Como o projeto precisa definir uma área física específica, Adbon sinaliza, “a proposta é começar na Micro bacia do Rio dos Índios, que é uma das maiores produtoras de leite no município”. O professor destacou a importância de relembrar o histórico do projeto de produção de leite a base de pasto, “que iniciou em Santa Rosa de Lima, em 1998 e que hoje resulta neste novo projeto piloto”. Destacou, o que para ele são “peculiaridades” do município. “É a Capital Catarinense da Agroecologia; está localizado na região produtora de leite que mais cresceu no Brasil nos últimos dez anos; é uma região importante e estratégica que tem um trabalho com agroecologia, o que acontece aqui as pessoas procuram saber e copiar”. O desafio Relembrando as fases do projeto, o professor relata, “em 1998, quando começamos a trabalhar aqui, a produção de leite passava por uma crise, o agricultor estava descapitalizado, abandonando a produção. Era uma angústia. Então o professor Wilson [Schmidt] disse ‘vamos levar a produção de leite a pasto para SRL’. Foi um projeto entre UFSC, Agreco e Prefeitura Municipal. A ideia era repensar o modelo de produção de leite. Tudo foi realizado de forma participativa, com projetos de campo envolvendo acadêmicos e agricultores”. na região Sul. Desde então, a produção a base de pasto realmente se popularizou. A Epagri institucionalizou para todo o estado este programa que começou aqui em SRL, com um grupo pequeno”. Resultado Os resultados deste primeiro experimento, um deles realizado na propriedade do agricultor João Herdt, são relatados por Abdon. “Em dois anos, a propriedade passou de uma produção média de 50 litros de leite por dia, para 120 litros. De sete vacas passou para 12. Gastava oito quilos de silagem, passou a gastar quatro. Ganhava R$14,00 por dia e passou a ganhar R$36,00”. O professor diz que, no começo, “a ideia era tachada de louca. ‘Aqueles cabeludos vão acabar com a propriedade do João’. Dois anos depois o João estava dando palestra. Foi um êxito porque a gente terminou em 2000, com quatro projetos pilotos e provou-se aqui que a produção de leite a base de pasto deixou de ser impossível”. O professor destacou ainda, “o que deve ser sempre lembrado, no início dos anos 2000, o laticínio Geração, aqui de Santa Rosa de Lima, foi o primeiro laticínio com certificação orgânica no Brasil”. Pastoreio Voisin com Ilhas O professor relata que no final de 2007, surgiu a ideia de trabalhar também a recuperação de matas ciliares. “A gente fez um questionário com os produtores de leite e todos eles mencionaram a falta de sombra como o principal problema no pastoreio. 90% responderam que plantariam árvores nativas nos piquetes. Aí iniciamos o projeto Pastoreio Voisin com Ilhas, onde a meta era sombrear pelo menos 20% da pastagem em dois anos, com plantas nativas que geram renda extra e provêm por serviços ambientais. Implantar 50 núcleos de árvores por hectare, 30% com palmeira Jussara, 10% banana e 60% mata nativa. Para Abdon, são três as vantagens do projeto, sombra em dois anos, renda extra e aumento da produção de serviços ambientais. Começou aqui e virou programa na Epagri Em 2004, a Epagri passou a apoiar de forma institucional o projeto de produção de leite a base de pasto. Rememora Abdon, “o presidente da Epagri era pai de um estudante e tinha visto o filho implantar o sistema na propriedade. Ele sugeriu que aplicássemos o programa O desafio atual Abdon diz que o foco agora está “na questão da provisão por serviços ambientais. Se o agricultor vai proteger a mata ciliar, se o agricultor vai ter o sistema silvipastoril que vai sombrear a vaca, mas também vai produzir o fruto, aumentar a biodiversidade, vai sequestrar o carbono, isso são serviços ambientais, então queremos encontrar formas para que o agricultor seja remunerado por isso”. Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio 3 Os benefícios são para todos, mas quem vai pagar? Joshua Farley é professor na Universidade de Vermont e prevê um cenário drástico para o ecossistema se o modelo de produção continuar sendo de forma convencional. “A ONU prevê que a demanda e o preço por comida vão aumentar. Vai diminuir a produção e quem vai sofrer são as pessoas mais pobres. O mercado da comida é para quem paga mais, não importa se as pessoas estão passando fome, importa se as pessoas podem pagar”. Ao mesmo tempo, diz ele, o código florestal restaura a mata nativa em lugar de produzir comida. O Economista avalia, “vamos supor que no país todos os agricultores cumpram o código florestal, vai resultar em muitos benefícios, mas quem vai pagar esta conta? São os agricultores, que tem que sacrificar a renda deles. Mas Isso não é justo, quando os benefícios são para todos”, enfatiza. Para Joshua existem muitas maneiras de restaurar os serviços ambientais e a agricultura agroecológica familiar é uma delas, “você convive com mais ser- viços ambientais, reduz os insumos, aumenta a produção de comida, que é bem mais saudável e os agricultores também ficam mais saudáveis, e as pessoas estão se dando conta que aquele a comida cheia de agrotóxicos é menos saudável, causa problemas sérios com os hormônios das crianças e mexe realmente de uma maneira muito séria”. Após a palestra Joshua falou, com exclusividade, a reportagem do Ronco do Bugio. tóxicos. Aqui se cria uma agricultura que para mim é rara encontrar, quando se acha ganho/ganho, os dois lados, meio ambiente e agricultura. Eu admiro a coragem dos agricultores que apostaram e ganharam. ” O Ronco – Quais suas expectativas com relação ao projeto ser implantado aqui em Santa Rosa de Lima? Joshua Farley – É a terceira vez que estou aqui e estou muito impressionado de ver os jovens. Em geral, no mundo inteiro o agricultor está ficando mais e mais velho e os jovens não querem ficar, então é ótimo que aqui eles continuam. Aqui eu vejo que as pessoas estão adotado sistema agroecológicos que são melhores para o meio ambiente, e também estão aumentando a renda e melhorando a qualidade de vida, pois não usam agro- O Ronco – Você sempre fala na crise por comida. Que o modelo de agricultura convencional é a pior ameaça para o ecossistema. Joshua Farley – Para mim, o problema mais sério que o mundo enfrenta é o valor marginal da comida, 100 calorias para quem está morrendo de fome é imensurável e, ao mesmo tempo, se diz que a pior ameaça ao meio ambiente é a agricultura, ameaça para a biodiversidade, usa mais agua doce, emite mais nitrogênio. Os cientistas estão dizendo que o excesso de nitrogênio e até mais prejudi- Depoimentos gostei muito quando vi que SRL é a capital da Agroecologia de SC. Uma coisa muito boa. Em Cuba, nós estamos tratando que a produção agropecuária seja agroecológica. Nos anos 60, 70 era muito insumo, agricultura da revolução verde com muito dano ao meio ambiente. Agora estamos preconizando que a agricultura seja agroecológica e me sinto muito feliz quando Jesus Iglesias Gomes, da Estação experimental Índio Hatuey, da Universidade Matanzas, em Cuba, faz pós-doutorado na UFSC, participou do encontro e falou a reportagem do Rondo do Bugio. “Eu Ético e legal O pesquisador diz que os serviços ecossistêmicos devem ser garantidos, em primeiro lugar, eticamente, “é uma obrigação do agricultor pensar em si, nos filhos e netos, nos vizinhos, no bem-estar do ser humano”. Em segundo lugar, ele aponta para a legalidade, “tem que ter a obrigação do beneficiário de compartilhar os custos. Uma maneira cooperativa, onde os dois lados contribuem para soluções e compartilham os custos. Não é justo só o agricultor pagar pelos benefícios que são para todos”. Joshua resume, “estes serviços ambientais devem ser pagos aos provedores, ajudando agricultores a adotar sistemas agroecológicos que cumprem com o código florestal. A ideia é ter mais comida saudável e produzir mais serviços ecossistêmicos, aumentado a área de APP da propriedade”. Para melhorar a vida “O PSA poderia ser uma ajuda para pesquisa técnica e investimento sem risco para o agricultor. Se não deu certo, ele não pode perder. O risco deve ser compartilhado. Outra questão é criar um fundo rotativo que empresta o dinheiro para o agricultor implementar o sistema. Quando o sistema começa a render, ele paga o fundo e este recurso vai para outro agricultor ou para ele mesmo.” Joshua diz que a meta é desenhar um sistema em que os beneficiários dos serviços ecossistêmicos que são governos, ONGs, empresas, donos de hidrelétrica, possam contribuir. SRL seria um projeto piloto excelente, é a capital da agroecologia e se a política funciona e os agricultores quiserem vai ser muito bom”. cial que o carbono. Então a agricultura é a pior ameaça para o ecossistema e os serviços ecossistêmicos são essenciais, não se sobrevive sem eles, mas também não se sobrevive sem a agricultura. Com a agricultura convencional, o mercado não pensa em quem fornece serviços ecossistêmicos. Joshua Farley. Produção agroecológica O pesquisador avalia que os governos do Brasil, EUA e Europa estão investindo muito dinheiro para a produção de alimentos de forma convencional, “e conseguiram aumentar radicalmente as colheitas, mas ninguém investiu muito na produção agroecológica. Precisa investir e investir nas ideias, nas técnicas, aprender e aplicar. Aplicando você melhora para os agricultores e são eles que vão dizer o que funcionou e porquê. Se você investe em Jussara precisa de sete anos para produzir”. Joshua resume, “o problema com a produção agroecológica é que tem pouco dinheiro investido na pesquisa, no desenvolvimento e na aplicação”. O Ronco – E tem um prazo para isso se concretizar? Joshua Farley – Eu vejo aqui uma ci- dadezinha que está indo em frente, procurando soluções, vão tentar, vão falhar, vão aprender e vão melhorar. Porque para mim não tem opção, o sistema atual é totalmente falido. No curto prazo, vai ter comida, mas no longo prazo, quando você acaba com os serviços ecossistêmicos, acaba com a agricultura também. Aqui estão procurando uma solução antes que a crise realmente pegue. Temos que procurar soluções, então eu estou muito animado e fazer deste projeto grande para minhas pesquisas. É uma área que está procurando soluções. Estamos indo em frente. Agora também mais pessoas estão vindo e se interessando nisso, tem um grupo da Universidade de Michigam, já temos uma bolsista aqui trabalhando, o projeto deve ter bolsas de doutorado dos EUA para aqui também. visito um lugar onde as pessoas também estão muito interessadas em agroecologia. Este clima que existe de colaboração, intercâmbio entre diferentes instituições, EUA, Cuba, Espanha, Brasil, muito bom para o desenvolvimento da agricultora não só deste município, mas também para o país e para o mundo”. Jesus destacou também a participação dos jovens, “eu aprendi muita coisa com os produtores, como eles se envolvem, ver rapazes de 15 anos que falaram muito bonito quando expuseram. Gostei muito do encontro. Em Cuba também passamos por este processo que os jovens foram para cidade. Agora existe uma nova reforma agrária, o governo está oferecendo terra em usufruto e como a produção agrícola O Ronco – Qual seria a saída? Joshua Farley – Agora a gente tem uma solução. Essa compensação por Serviços ecossistêmicos. Ela não precisa ser monetária, mas tem que ser uma maneira de compensar, de melhorar a vida do agricultor que fornece os serviços ecossistêmicos. segue Diretor: Sebastião Vanderlinde Diretora: Mariza Vandresen Estrada Geral Águas Mornas, s/n. CEP 88763-000 Santa Rosa de Lima - SC. Redação: (48) 9621-5497 Comercial: (48) 9944-6161 E-mail: [email protected] Fundado em 10 de maio de 2013, dia do 51º aniversário de Santa Rosa de Lima Jornalista Responsável e Editora: Mariza Vandresen Diretor-executivo (Circulação, Comercial, Financeiro, Publicidade e Planejamento): Sebastião Vanderlinde Colaborador (voluntário): Wilson (Feijão) Schmidt O Ronco do Bugio é uma publicação mensal da Editora O ronco do bugio. Só têm autorização para falar em nome do O Ronco do Bugio os responsáveis pela Editora que constam deste expediente. Diagramação e Arte: Qi NetCom - Anselmo Dandolini Distribuição: Editora O Ronco do Bugio Tiragem desta edição: 1000 exemplares Circulação: Santa Rosa de Lima (entrega gratuita em domicílio). Dirigida, também, a prefeituras, câmaras e veículos de comunicação do Território das Encostas da Serra Geral e a órgãos do Executivo e Legislativo estadual e federal. 4 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio REPORTAGEM segue Mariza Vandesen em Cuba é muito rentável, para os jovens é uma boa oportunidade de ganhar mais dinheiro e existe um movimento de muitos jovens que estão voltado para a roça”. José Luiz Roecker Herdt tem 16 anos, é filho dos agricultores Dauri Herdt e Cláudia Roecker Herdt, estuda no Ensino Médio e mostra-se bastante atento ao assunto. Nas plenárias, durante o dia de campo, José apresentou as discussões com argumentos bem consistentes. Pro- curado pela reportagem, José Luiz enfatizou, “este projeto piloto visa reforçar o projeto de manter a mata ciliar nos arredores das nascentes, córregos, rios, e reforçar os sistemas de pastoreio voisin com núcleos de matas nativas. Favorecendo assim, sombra para os animais e oferta de serviços ecossistêmicos”. Sobre o dia de campo, o jovem agricultor avalia, “tivemos uma palestra sobre o CAR (Cadastro Ambiental Rural) que foi bastante esclarecedora, infelizmente os gráficos mostram que o Estado de SC tem o menor índice no momento, menos de 30% dos agricultores e pecuaristas fizeram o cadastro”. Segundo o jovem, “o foco maior do dia de campo foi reunir os agricultores, que divididos em grupos menores discutiram várias questões ligadas a mata ciliar, a biodiversidade, aos serviços ecossistêmicos e a implantação do projeto piloto. Para nós foi muito bom, pois o pensamento que tínhamos sobre isso ficou mais claro e pudemos ouvir as diversas opiniões. Alguns agricultores são a favor, pois a mata ciliar vai ajudar a manter o nosso ar mais puro, melhorar a biodiversidade e aumentar os serviços ecossistêmicos. Outros agricultores são resistentes a ideia, pois muitas propriedades são cortadas por rios e córregos, e se o agricultor respeitar a distância disposta na Lei, ele perde entre 10% e 30% de sua área produtiva”. política de transferência de renda. Apesar do nome ser “pagamento” por serviços ambientais, não necessariamente há uma relação econômica. Na relação entre o usuário e o provedor, o importante é que há algum tipo de compensação pela provisão do serviço ambiental, podendo ser melhorias nas propriedades, insumos, cercas, mudas, benefícios fiscais e diversos, qualquer outro tipo de troca. Um PSA pode ser comparado a um seguro de vida, em que há um valor simbólico pela vida, que nunca chegará ao que uma vida realmente vale. Assim, o valor do serviço ambiental nunca chegará ao que realmente vale. A SDS pretende fomentar a criação de relações de PSA locais e regionais, governamentais e privadas, auxiliando técnica e financeiramente a estruturação. Em resumo, um usuário interessado em implementar um PSA procura a SDS e esta, o auxilia em sua estruturação e na busca de novas parcerias técnicas e financeiras. do Estado? Daniel Casarin – Não há dificuldades de expandir as ações de PSA em Santa Catarina desde que haja a figura do usuário que irá ser o principal responsável pela implementação. Com esta estratégia de implementação da Política de PSA temos a possibilidade de atingir todas as regiões do Estado. Políticas Públicas A Lei n° 15.133, de 2010, institui a Política Estadual de Serviços Ambientais e regulamenta o Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais no Estado de Santa Catarina (Pepsa). Segundo a lei, 2% dos recursos para financiamento do Programa são oriundos do Fundo Especial do Petróleo e o Chefe do Executivo fica autorizado a promover as adequações no Plano Plurianual e remanejar as dotações orçamentárias necessárias à implementação da Lei. Embora no Estado o pagamento por serviços ambientais já esteja previsto por lei, as iniciativas de financiamento público ainda são bastante acanhadas. A primeira delas foi assinada em 1º de abril deste ano. Trata-se do projeto Corredores Ecológicos do programa SC Rural, onde agricultores recebem uma ajuda de custo para preservar florestas nativas e recuperar áreas degradadas em suas propriedades. Para saber mais detalhes de como o programa é desenvolvido no Estado, a reportagem do Ronco do Bugio, encaminhou entrevista, via e-mail, a assessoria do Secretário de Desenvolvimento Sustentável do Estado, e obteve a resposta do Diretor de Mudanças Climáticas da SDS, Daniel Casarin Ribeiro. O Ronco – Quais foram os órgãos/ entidades envolvidos para delinear a Política Estadual de Serviços Ambientais Programa? Daniel Casarin – O início da discussão sobre a Política de Pagamento por Serviços Ambientais foi por volta de 2008 envolvendo diversas instituições como as Secretarias de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS), da Agricultura e Pesca (SAR) e da Fazenda (SEF), além da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Polícia Militar Ambiental, Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), entre outras. A Lei nº 15.133 foi instituída em 2010. O Ronco – De onde surgiu a ideia de criar o Pepsa e como ele foi construído? Daniel Casarin – O objetivo maior de executar uma Política de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é promover a conservação de áreas naturais e sua biodiversidade em diferentes regiões do Estado de Santa Catarina, por meio de alguma compensação (técnica, financeira, ou outro tipo de incentivo) à quem desenvolve ações de preservação, conservação e restauração florestal. Há diversas experiências de sucesso no mundo, como na Costa Rica, México e França, e estamos adequando para que o programa tenha sucesso também em Santa Catarina. A Diretoria de Mudanças Climáticas da SDS reuniu parceiros com experiência consolidada em ações de PSA, como a Fundação Grupo O Boticário, para avaliar a Lei e propor as ações necessárias para sua implementação. Foi realizada uma audiência pública por um período de 45 dias e incorporadas as contribuições. O próximo passo é encaminhar estas alterações para a Assembleia Legislativa, para aprovação. O Ronco – Quais são as experiências concretas já financiadas pelo Governo do Estado em relação a pagamento por serviços ambientais? Daniel Casarin – Em Santa Catarina há algumas ações já em desenvolvimento, com destaque para as experiências de: São Bento do Sul, Balneário Camboriú, e a experiência dos Corredores Ecológicos Timbó e Chapecó, em que o serviço ambiental é a biodiversidade. Neste último exemplo, três produtores rurais de Passos Maia, no Oeste catarinense, e outros três de Bela Vista do Toldo, no Planalto Norte, receberam pagamentos pela conservação de suas áreas. Com a alteração proposta da Lei nº 15.133/2010, a intenção é fazer o Governo do Estado, por meio da SDS, ser o orientador metodológico destas ações e, por meio do Fundo Estadual de PSA, aportar recursos de suporte das experiências em curso e para a criação de novas experiências, principalmente ao que se refere à estruturação da execução. O Ronco – Como funciona este pagamento aos agricultores ou preservadores? O que é preciso para participar do programa? Daniel Casarin – Em primeiro lugar é importante ressaltar que PSA não é uma O Ronco – Quanto o governo investe (R$) neste programa? De onde vem os recursos? Daniel Casarin – Estamos aguardando a regulamentação da Lei. Por enquanto, trabalhamos com os usuários interessados e os auxiliamos com mapeamentos, metodologias e busca de parceiros técnicos e financeiros. O Ronco – Quais as dificuldades para efetivar o programa para outras regiões O Ronco – Que estratégia o governo pretende utilizar para atingir cada vez mais agricultores? Daniel Casarin – Como mencionado anteriormente, o PSA é uma Política de conservação ambiental, portanto não atinge apenas agricultores, mas também todo proprietário de terra que possua uma área natural em estágio avançado em sucessão e que seja indispensável sua preservação. Com a proposta de fomentar usuários de serviços ambientais se pretende atingir o maior número de áreas naturais em Santa Catarina com ações por todas as regiões. O Ronco – Quais as perspectivas, expectativas e prazos para o programa ser verdadeiramente consolidado? Daniel Casarin – As ações de PSA já iniciaram no Estado, como mencionado anteriormente. É uma das metas da Diretoria de Mudanças Climáticas continuar dando o suporte necessário às ações de PSA já existentes e auxiliando àqueles usuários que nos procuram para estruturar tecnicamente suas ações. Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio 5 6 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio política Mariza Vandesen Para que consultar o povo? Na Sessão Legislativa do dia 14 de julho, os vereadores da bancada PP/PT apresentaram o um requerimento solicitando a realização de uma Audiência Pública para discutir com gestores municipais e comunidade, o local mais apropriado para a construção da garagem municipal para a frota de veículos, máquinas e demais implementos das secretárias de Transporte e Obras e de Agricultura”. O objetivo dos vereadores era levar a discussão a público. “A administração tem a intenção de construir uma garagem municipal, uma obra necessária e que conta com o apoio de todos os vereadores. Porém, nós acreditamos que o local de construção da garagem não é o melhor, pois fica ao lado de onde está sendo construída a nova Unidade de Saúde”. Os vereadores argumentaram, “como o município possui um terreno no final da rua Henrique Heidemann, afastado da região central, isso tiraria o barulho e o movimento de máquinas ao lado da nova Unidade de Saúde”. Salvo melhor juízo A praxe é colocar o requerimento em votação ou encaminhá-los para as comissões, mas não foi esta a ação do Presidente Claudiomir Mendes (Boneco). “O entendimento que a gente tem é que a comissão deveria ter marcado esta audiência pública”. Boneco pediu ajuda a assessoria jurídica da Casa, para que fizesse uma explanação “da parte legal de aceitar ou não o requerimento”. O advogado da Câmara, Laurimar Gross acatou o pedido, “no capítulo [do Regimento Interno] em relação a audiência pública, a competência para realiza-la é das comissões permanentes e não das bancadas”. O advogado também argumentou, “a realização das audiências públicas, infelizmente, o regimento interno condiciona para as entidades civis e filantrópicas. Ela não condiciona outras entidades ou comunidade em geral”. Por fim, concluiu, “a matéria não observa os requisitos constantes no regimento, salvo melhor juízo, senhor presidente”. Liberdade a prefeita O líder de bancada de situação, Leonízio Laurindo (Zolho) manifestou-se, “eu peço que coloque em votação e peço aos vereadores da minha bancada que votem contra. Porque em outras vezes se passou vista grossa, então tem que dar liberdade a prefeita. Cabe a prefeita construir onde ela acha melhor”. Participar da discussão O vereador Salésio Wiemes argumentou, “é uma sugestão que a gente traz para discussão. E o requerimento não tem nenhuma ilegalidade com relação ao Regimento Interno, ele é apresentado e a mesa tem que colocar em votação ou encaminhar para as comissões. A gente não quer briga, a gente quer participar da discussão. Ninguém é contra, pois sabe- Local onde a prefeitura pretende construir a garagem municipal fica ao lado da futura Unidade de Saúde. mos que é uma obra importante, a gente está dando apenas uma sugestão que, na nossa opinião, poderia ser a melhor. Confiança no jurídico O debate ficou bastante acalorado, o presidente cortou os pronunciamentos e concluiu. “Eu não vou aceitar o requerimento. Eu tenho que seguir o jurídico, tenho que ter confiança nele”. E argumentou, “Hoje de manhã, conversado com a prefeita, naquela área [no final da rua Henrique Heidemann], ela tem intenção de fazer habitação popular. Então vai ser difícil mudar, eu não vou dizer que é o melhor local para a garagem, mas não tem outro terreno”. Jeitinho de barrar O vereador Salésio lamentou a maneira como o assunto foi tratado. “Respeito a decisão, mas esperava que fosse colo- cado em votação ou encaminhado para as comissões. Não é primeira vez que isso acontece, quando o assunto é polêmico. Não sei se é medo, eu penso que não há motivos para ter medo, mas sempre se dá um jeitinho de barrar”. Por fim, o vereador solicitou parecer jurídico por escrito, os motivos pelo quais o requerimento pedido a audiência pública não foi colocado em deliberação. “Como da outra vez, eu pedi e não recebi, eu gostaria de uma justificativa, pois isso é coisa que a gente não consegue entender”. Opinião pública A reportagem do Ronco do Bugio foi às ruas para ouvir a opinião das pessoas sobre garagem ser a construída ao lado da nova Unidade de Saúde. Apesar de ninguém querer a identidade revelada no jornal, as respostas foram unânimes, “vai ser ruim por causa do barulho”, “muito movimento de caminhões e máquinas pesadas”, “ainda mais que terão salas para internação na Unidade”, “vai faltar local para estacionamento”, uma saída ou entrada de emergência pode complicar a agilidade de operação dos profissionais de saúde”. Facebook Na tentativa de realizar uma enquete, via rede social, apenas três santarosalimenses opinaram sobre o assunto. Outra tentativa e mais cinco pessoas comentaram o assunto. Num total de dez, nove manifestaram-se favoráveis a construção da garagem no final da Rua Henrique Heidemann e um [morador da Rua Henrique Heidemann] apoiou a construção ao lado da Unidade de Saúde. Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio 7 Poder Público A decisão está com a Prefeita Na manhã do dia 31 de julho, a reportagem do Ronco do Bugio realizou uma entrevista com a prefeita Dilcei Heidemann. Em seu gabinete, a Chefe do Executivo respondeu aos questionamentos sobre o tema. O Ronco – Os vereadores de oposição apresentaram, em meados de julho, um requerimento, negado, solicitando a realização de uma audiência pública para discutir o melhor local para a construção da garagem municipal. A senhora foi citada naquela Casa Legislativa, que esta decisão era sua. Qual sua decisão sobre este assunto? Dilcei Heidemann – Eu não tenho conhecimento desta audiência. Não posso te falar sobre isso. Referente a construção nós temos um projeto para construir a garagem, onde era a antiga garagem. O Ronco – A senhora acha que isso pode atrapalhar o silêncio e os trabalhos na UBS? Dilcei Heidemann – O que que eu vou te dizer? Vamos construir para ver. Não tenho ideia se vai atrapalhar ou não vai atrapalhar. Hoje estamos buscando o recurso através do Badesc e nós temos prazo, nós temos que protocolar hoje, se não é um recurso que não vai acontecer. E o projeto tem que estar pronto. O Ronco – Os vereadores sugeriram o terreno na Rua Henrique Heidemann, afastado da área Central? Dilcei Heidemann – Também pensei, mas neste momento é o que nós temos pronto, que nós podemos buscar é o que está pronto. O que não está pronto, infelizmente não vai acontecer neste momento. Porque tudo é prazo. O Ronco – Numa pesquisa informal a maioria das pessoas avaliam que seria melhor construir a garagem fora da área central. Não daria para readaptar o projeto? Dilcei Heidemann – Não vou dizer que está contemplado. Não temos nada afirmado. Nós temos um projeto e nós queremos buscar este recurso. Vamos apostar que dê certo. Pode atrapalhar e pode não atrapalhar. É só fazendo para saber o que vai acontecer. O Ronco – Mas existindo o risco de atrapalhar... Dilcei Heidemann – Hoje eu não vou dizer se vamos fazer ou não fazer, porque não temos o recurso. Se for contemplado será construído ali e se não tiver aprovação nada vai acontecer. Lá em cima nós não temos espaço. Foi cedido uma parte para um, uma parte para outro. A parte de baixo, tem a oficina do Wando e no lado de cima, a madeireira, então ele não contempla uma garagem. Nós não temos em um espaço adequado para fazer uma garagem. Também para habitação, tem só aquela rua, cabe só umas cinco casas. Prefeita Dilcei Heidemann. O Ronco – Então a intenção é fazer habitação social naquela área? Dilcei Heidemann – E tenho vontade, mas fazer e vontade... Tem que ter projeto também. Tu sabes como funciona. No governo federal, tudo parado. É pensamento, mas não está acontecendo. Hoje foi pensado em fazer a garagem lá, mas o terreno, o espaço, tudo isso é preocupante. O Ronco – Em termos de espaço, a área na Henrique Heidemann é maior. Dilcei Heidemann – Mas isso precisa todo o projeto de infraestrutura. Precisa projeto e nós não temos. Não vou dizer que não poderia ser contemplado lá, mas nós não temos projeto, então não tem. E é interesse buscar este recurso agora e nós temos que buscar onde tem projeto. O Ronco – Mesmo podendo ser problema para a população. Dilcei Heidemann – Eu não vejo como problema, eu vejo como uma solução. Mas aqui dentro [da prefeitura] também é o mesmo problema, isso já foi discutido. Nem todo mundo é a favor. Foi discutido muito, muito, mas neste momento é o que nós temos para trabalhar. A gente está bastante preocupado em fazer as coisas de um modo que a saída das máquinas não seja do lado. Tem que ter o espaço. Trabalhar da melhor fora para uma [edificação] não atrapalhar a outra. O Ronco – Numa pesquisa rápida que a reportagem deste jornal fez, a maioria da população é contrária a ideia. E se fosse ouvir a população em Audiência Pública? Dilcei Heidemann – Neste momento eu estou preocupada em buscar o recurso. Nós fizemos vário debates, conversamos com os vereadores, já conversamos bastantes vezes, eles veem que o momento de buscar o recurso é agora. E quem que disse que a maioria não quer? Nós vamos esperar acontecer, se vier. Eu quero o melhor para o município. Ninguém me falou isso, que é o pior, eu quero ouvir da população. O Ronco – Eu, como repórter, ouvi a população e como cidadã Santarosalimense também tenho minha opinião formada sobre o assunto. Dilcei Heidemann – Tu não representas a população e eu tenho bastante contato com a população. Eu estou preocupada com o município (...). Eu vou fazer o que o povo quer, se o povo falar para mim que não quer, eu vou ouvir o povo. Ninguém veio me dizer, ‘Dilcei não faz’! 8 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio Meine Meinung Minha Opinião Wilson Feijão Schmidt Onde é a ilha? Meus leitores devem ter percebido que me distanciei um tanto de Santa Rosa de Lima e de suas questões locais. Meu trabalho me fez e me faz permanecer cada menos tempo na Capital da Agroecologia; e cada vez mais na Capital do Estado e na Ilha de Santa Catarina. Isso me levou à pergunta que dá o título a essa nota. Leio os jornais daqui (Florianópolis e São José) e o que vejo são manchetes como: “Prefeituras enforcadas”; “Prefeituras cortam gastos e cargos para driblar queda na arrecadação”; “Florianópolis enfrentando a crise”; “Prefeita pode demitir”; “Prefeita arrocha”; “Capital já perdeu 50 milhões de arrecadação”. Como em Santa Rosa de Lima, tudo parece continuar normal na administração pública, pelo jeito – e felizmente – a ilha de prosperidade, no Brasil, está nesse pequeno município rural situado nas Encostas da Serra Geral. dimento aos munícipes. São José: a ordem também é cortar gastos A administração municipal de São José afirma, da mesma forma, que está vivendo uma grave crise financeira. Segundo a prefeitura, a arrecadação vem caindo R$ 4 milhões por mês. A prefeita já mandou suspender a “avalanche de horas extras” e economizar em xerox, combustível e, até, energia elétrica. “A crise está chegando a São José”, disse o secretário municipal da fazenda. Jornais da Grande Florianópolis apontam crise financeira e “cortes” nas prefeituras. Floripa: projeção de queda na arrecadação e as medidas tomadas A Prefeitura de Florianópolis afirma que está diante de um cenário econômico cada vez mais preocupante, com queda global de arrecadação, contingenciamento dos investimentos e secamento das fontes de repasses. Por isso, tomou medidas, como realizar uma reforma administrativa, exigir o controle “da frota” e, de forma geral, de gastos, efetuar a revisão dos contratos em vigor, promover o corte de horas-extras e “a indução ao consumo controlado”. O prefeito afirma que se prepara para um cenário em que o município perderá 12% da arrecadação nos próximos doze meses. No caso de Florianópolis, isso corresponde a R$ 100 milhões. Nesse quadro, o prefeito Cesar Souza Junior tem o objetivo de economizar R$ 10 milhões por mês nesse mesmo período de um ano. Segundo ele, isso é possível sem prejudicar o aten- Semelhanças ou diferenças É interessante comparar os números dessas duas prefeituras com aqueles de Santa Rosa de Lima. Para isso, fiz uma consulta no Portal das Transferências constitucionais de Santa Catarina (disponível em http:// receitas.fecam.org.br). Em Florianópolis, de 1 de janeiro a 31 de julho, comparando-se 2014 e 2015, a arrecadação total caiu 3,7%. São nove milhões (R$ 9.085.753,22) a menos. Em São José, caiu 1,3%. O que corresponde a menos um milhão e oitocentos mil reais (R$ 1.831.359,93). Em Santa Rosa de Lima, cresceu 3,3%. Ou seja, esse ano, o município recebeu quase cento e noventa mil (R$189.607,96) a mais que no mesmo período de 2014. Será que esses números, dadas as proporções dos orçamentos, são tão diferentes assim? Mais perguntas Sempre guardando as devidas proporções, é preciso perguntar se essas diferenças são suficientes para explicar as disparidades nas posturas das administrações municipais. Seriam as prefeituras de Florianópolis e São José alarmistas? Estariam elas escondendo suas incompetências ou improbidades com esse argumento de crise futura de arrecadação? Ou seria a prefeitura de Santa Rosa de Lima que não está prevendo o que vem pela frente e está sendo descuidada ou imprudente? Os leilões de veículos e equipamentos ditos “inservíveis”, realizados pela prefeitura, teriam dado tanto fôlego assim para as contas municipais? São apenas perguntas. (Des)orientação? Não custa mencionar o lembrete que a Confederação Nacional do Municípios (CNM) fez aos prefeitos, em relação ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Diz a CNM que, historicamente, até o mês de maio de cada ano, o FPM apresenta crescimento. Porém, de junho até outubro esse repasse é sempre menor. É bom recordar também que o FPM representa dois terços da arrecadação de Santa Rosa de Lima. A orientação da CNM é que os prefeitos, dado o cenário atual, controlem ainda mais as despesas para enfrentar esses meses que virão. Podemos, entretanto, estar vivendo, de fato, numa “bolha”. Imunes ao quadro nacional. Tomara! Resistir... Deste debate fica uma pergunta também para o colunista. Tem sentido continuar escrevendo uma coluna n’O Ronco? O que me interessou, por exemplo, a olhar esses dados de arrecadação e analisar a postura das prefeituras foi pensar se a administração pública de Santa Rosa de Lima vai continuar sustentando “jornais” e “jornalistas” de outros municípios, para que eles escrevam só o que uma certa pessoa quer e gosta. Um gasto público, que poderia ser usado melhor. Um gasto que é feito para confrontar um jornal produzido no município. O que incomoda certos interesses é que esse é um jornal que não se vende. E não apenas no sentido de que é entregue “de graça” aos habitantes de Santa Rosa de Lima. ... ao mal Por isso, apesar de ter vários motivos para desistir de usar este espaço nobre para resistir ao mal, persistirei mais um tempo. Entenda-se o mal como o ataque feito, dia a dia, à cidadania e à coisa pública. O pior mal que se pode cometer contra uma população é, de forma contínua e fingida, fazer as pessoas pensarem que recebem favores de servidores públicos. E esse mal precisa de resistência. Os munícipes têm direito aos serviços públicos e é dever dos servidores – inclusive do prefeito e dos secretários – assegurar esses direitos. Não sei quantos leitores tenho e nem quantos deles chegam até a essa altura de uma coluna minha. Não escrevo aqui para “aparecer”, como dizem alguns. Nem para ser “um de fora, que caga regras”, para usar a expressão “delicada” de outro. Também não escrevo por simples gosto de fazê-lo. Dado o comportamento geral, é claro que me pergunto se vale mesmo a pena. Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio 9 Família SRL Adolfo Wiemes COMUNIDADE RIO DO MEIO Neste mês de agosto, que é o mês vocacional, seguimos neste espaço relatando a história da primeira família cristã, formada por Adão e Eva. Lembramos na última edição como eles foram expulsos do paraíso terrestre para este mundo. Pela desobediência a Deus pai, pecaram e não podiam continuar mais lá, pois se tornaram impuros. Sofreram para trabalhar o solo. Plantar, cuidar, colher e comer para sobreviver, enquanto que no Paraíso Terrestre estava tudo na mão, bastava colher e comer. Lá viviam tão felizes. E neste mundo, existe aquele sofrimento. Mas, apesar do sofrimento, se soubermos viver bem, também podemos ser felizes. Adão se uniu a Eva Com a ajuda de Javé Eva deu à luz a um filho homem, que chamaram de Caim. Mais tarde, Eva deu à luz a outro filho, que chamaram de Abel. Abel tornouse pastor de ovelhas e Caim cultivava o solo. Caim e Abel Certo tempo depois, os dois irmãos resolveram doar um pouco dos seus produtos a Deus, como penitência. Caim ofereceu alguns dos produtos que tirava da terra e Abel ofereceu uma de suas melhores ovelhas. Deus se agradou muito da oferta de Abel, que era um homem bom e justo. Por outro lado, não gostou da oferta de Caim, pois ele era um homem injusto e ruim que, na maioria das vezes, queria saber de fazer maldades. Com isso, Caim ficou com raiva de seu irmão Abel. A vingança a Deus pertence Tempos depois, Caim convidou Abel para dar uma volta no campo e Abel aceitou. Afastados de todos, Caim se laçou sobre Abel e o matou. E saiu dali muito triste. Deus então perguntou: - Caim, onde está seu irmão Abel? Caim respondeu: - Pois sou eu, guarda do meu irmão? E completou: Quem me encontrar se vingará de mim. Então Deus disse: - Ninguém se vingará de ti, pois é a mim que pertence a vingança. Na conta de Deus Por isso, quando alguém nos faz mal, não devemos nos vingar dele, devemos perdoar e deixar a vingança na conta de Deus. Ele sabe melhor o que fazer. Nesta história, Caim foi o primeiro criminoso e Abel o primeiro homem a morrer. Somos todos filhos de Adão e Eva Mais tarde, Adão e Eva tiveram muitos filhos e filhas que se espalharam pelo mundo afora. Nós todos somos filhos de Adão e Eva e somos também filhos de Deus, nosso pai criador, pois somos imagem d’Ele. Por isso, gostaria de deixar minha mensagem para este mês vocacional, vamos viver bem, de acordo com a vontade de Deus e sempre. Um bom mês e até a próxima edição. COMUNIDADE RIO SANTO ANTÔNIO Mariléia Torquato | Carol Rodrigues Nesta edição queremos homenagear os nossos colonos e colonas e lembrar de uma data muito importante, 25 de julho, quando festejamos com muita alegria o dia deles. Estes trabalhadores que enfrentam de tudo para produzir nosso alimento e esperam ansiosos por uma colheita farta. Mesmo que muitas vezes, as chuvas ou os períodos de seca atrapalhem seu trabalho, eles não desanimam e todos os dias enfrentam a lida do campo. Mesmo que nos dias de hoje, as tecnologias se façam muito presentes no campo, com máquinas e produtos que facilitam o trabalho dos colonos, o contato que se tem com a terra e a vida tranquila que se tem aqui faz destes trabalhadores muito felizes. Colonos felizes Os colonos daqui são trabalhadores felizes, assim como tantos outros. Desenvolvem as lavouras com todo amor e carinho. Feliz dia do colono Fica aqui as nossas felicitações pelo dia 25 de julho e também o nosso agradecimento especial aos agricultores a e agricultoras, que desempenham uma função tão importante na sociedade e muitas vezes ainda são desvalorizados mediante outras profissões. Ana Beatriz Kulkamp | Diana Kulkamp | Karine Neckel “Se o campo não planta, a cidade não janta!” Como neste mês comemoramos o dia do agricultor, não poderíamos deixar data tão importante passar em branco. Queremos prestar nossa homenagem a essas grandes pessoas e para isso, fomos as roças e quintais e colhemos um pouco do ponto de vista das pessoas sobre a aquilo que é ser agricultor e viver da agrocultura. “Hoje em dia, permanecer na roça esta cada vez mais difícil. Falta muito apoio para os agricultores em nossa região, por isso as pessoas estão abandonando o campo e indo para as cidades. O agricultor tem pouco reconhecimento e geralmente, são lembrados apenas quando falta alguma coisa na mesa. Hoje em dia não mexo muito com a agricultura, não busco ajuda, sei apenas que tem certo apoio, mas não sei explicar de onde vem, como funciona e como realmente está. Mas a agricultura é fundamental, pois se não plantarmos, as pessoas que moram na cidade não terão nada para comer. Se não for os agricultores o que será do desenvolvimento do país?” Wilson Roecker “Ser agricultor é gostar de mexer na terra, plantar e acreditar que terá uma boa colheita. No dia-a-dia passamos por dias difíceis, outros mais tranquilos. Poucos são os que dão valor ao agricultor, mais nem por isso desistimos do que fazemos. Quando acaba uma colheita, já estamos planejando o próximo plantio. Sem agricultura ninguém vive, se todo mundo abandonar a agricultura e for para a cidade, do que viverão todas essas pessoas? Não terão o que comer, se não tiver os agricultores para plantar. Em Santa Rosa de Lima ainda temos um certo apoio, talvez, se tivesse mais, muitos deles não estariam abandonando a profissão”. Adriano Nack “Comparado com antigamente ser agricultor mudou muito, a mão de obra diminuiu e está mais fácil o trabalho do agricultor. Se ganha mais pelos produtos, mais ao mesmo tempo, gastamos cada vez mais para produzi-los. Na minha opinião ninguém valoriza os agricultores, a falta de apoio na agricultura é um dos principais motivos. Espero que futuramente sejamos mais valorizados, para que ainda se tenha agricultores trabalhando nas comunidades”. Antônio Adelino Loch. Nossa singela mensagem aos agricultores Eles trabalham em silêncio. Lutam sem parar por melhorias, desde o preparo do solo até a colheita. Muitos são responsáveis pela geração de emprego e renda, construindo a grandeza do nosso povo. São vários profissionais em um só, pois plantam, empreendem, inovam e administram. São a força no batente desde o amanhecer até o entardecer. São corajosos, se revelam na tradição, cultura e história. São guerreiros, enfrentam as dificuldades climáticas, pragas e doenças. São inteligentes, não se cansam de aprender, buscando sempre mais e mais conhecimento. São alegres e divertidos. Problemas? Eles não se abatem por causa deles. Na realidade, eles os veem como desafios. São heróis. São exemplo de vida. São o celeiro do mundo! Parabéns, agricultores! Obrigado pelo pão nosso de cada dia.” Texto - Ariádine Morgan. 10 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio MEIO AMBIENTE Observação de Aves, um potencial adormecido Observação de Aves – Quem conhece preserva – foi o tema do minicurso ministrado pelo fotógrafo amador e especialistas em aves, Carlos E. Nascimento, da Associação Florianopolitana de Observadores de Aves – AFOA. Realizado nos dias 25 e 26 de julho na Pousada Doce Encanto, o evento teve como parceiros e realizadores a Editora o Roco do Bugio, a AFOA, a Acolhida na Colônia, o Centro de Formação e Agroecologia Jean Yves Griot e a Pousada Doce Encanto. “A palestra foi realizada com o objetivo de apresentar a comunidade como o segmento de turismo relacionado a observação de aves vem crescendo e as potencialidades que o município apresenta para a prática desta atividade”, diz Mariza Vandresen, jornalista responsável pela Editora. Outro objetivo é mais concreto e já rende resultados, diz a jornalista, “com a vinda de Carlos Nascimento, estamos registrando e identificando as aves e locais onde elas são avistadas nas bordas e matas de SRL”. Em bandos Apesar da chuva que não deu trégua, no sábado foi realizada uma saída a campo bastante produtiva na avaliação dos participantes. Bandos de saíras de diversas espécies coloriram o dia, sabiás laranjeira e sabiás de coleira cantavam nas árvores, beija flores sugavam néctar de flores, gralha azul, sabiá-cica, um festival de aves. Foi possível identificar mais de vinte espécies apenas nos arredores da Pousada. Para Carlos, “o local tem potencial enorme para desenvolver a atividade. Tem pássaros aqui, que eu sei de observadores que atravessariam o mundo para ver. É uma região que está em bom estágio de regeneração florestal, com trechos de mata primária, Mata Atlântica, cuja avifauna inclui mais de 600 espécies, das quais cerca de 160 são endêmicas, isto é, não existem em nenhum outro tipo de ambiente no mundo”. Primeiros registros No wikiaves, a maior enciclopédia virtual sobre aves do Brasil, Santa Rosa de Lima registra apenas duas observadoras cadastradas até o momento. A cearense Jane Crispim Smith, que reside no município há pouco mais de três anos, é uma delas. Cadastrada no site desde julho deste ano, Jane já registrou cerca de 30 espécies diferentes de aves. Para ela a observação de aves é uma surpresa a cada dia. “Quando você sai para observar aves, você não sabe o que vai encontrar, claro que tem as espécies que são frequentes, mas a cada dia você descobre uma espécie nova e este é o encanto e o espetáculo que isso me proporciona”. Turismo sustentável No site, até agora, em Santa Rosa de Lima foram registradas mais de 50 es- pécies. Para Jane este número mostra como o assunto é novo e precisa de uma atenção especial, “principalmente para os empreendedoras em Turismo, que precisam encontrar atrativos para o turista ocupar de maneira mais legal o tempo que passa em Santa Rosa de Lima. São muitas espécies diferentes, eu tenho visto muitas delas”. Jane estuda a possibilidade de tornar seu hobby em negócio. Pretende primeiro adquirir conhecimento sobre as espécies remanescentes destas matas e futuramente, “quem sabe” diz ela, “ser guia para observadores que queiram observar aves aqui”. Por: Jane C. Smith e Mariza Vandesen A partir deste mês vamos dedicar este espaço para publicar uma galeria de fotos das aves que habitam em Santa Rosa de Lima ou que por aqui passam em distintas estações e correntes migratórias. Publicaremos espécies que já foram avistadas e registradas na enciclopédia digital sobre aves brasileiras, wikiaves. Esperamos com isso, que nossos leitores possam conhecer mais sobre nossa avifauna e nos ajudar a proteger estas espécies, registrá-las e identificá-las. Quem conhece, preserva! Nosso objetivo é conscientizar as pessoas de que as aves soltas e vivas valem muito. Além do valor estético da plumagem e do canto elas são muito importantes para o equilíbrio da natureza. Muitas são responsáveis pela dispersão das plantas, outras têm papel destacado na polinização de flores e elas ainda equilibram a cadeia alimentar, como presas e predadoras. Venha passarinhar Quem quiser enviar um registro para esta coluna, pode fazê-lo pelo e-mail: [email protected], ou cadastrar-se diretamente no site www.wikiaves.com.br. Lá podem ser postados e registrados imagens ou sons. Mesmo que você não saiba identificar as aves, os passarinheiros de plantão farão isso para você. Cadastre-se e venha passarinhar. Quiriquiri Corocochó Tangará É o menor dos falcões e uma das menores aves de rapina do Brasil. Ele captura cobras, lagartos, roedores, morcegos, pardais e filhotes de pombos, ajudando a controlar a população de alguns animais que, na ausência de predadores, podem se tornar pragas indesejáveis em áreas rurais e urbanas. Espécie incomum e endêmica do Brasil. Encontrado exclusivamente do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul. Especialmente em áreas de Mata Atlântica. Habita palmitais e as proximidades da copa. Vive solitário no interior da floresta, sendo mais ouvido do que observado. Também conhecido como tangará-dançarino e dançador. Seu principal hábito é a típica dança pré-nupcial, onde os machos se revelam verdadeiros acrobatas, enfileirando-se vários deles num galho e exibindo-se ante a fêmea, um de cada vez. Depois de executarem o rito, cada um, volta ao fim da fila e espera a vez de exibir-se novamente. 12 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio 13 PATRIMÔNIO SANTAROSALIMENSE Seu Remi, o “Nono” do Pé da Serra São 83 anos de convívio com a paisagem do “Paredão da Serra”. Remi Bonetti, com som fechado no ‘e’ e com dois ‘t’ no final, como ele faz questão de alertar. Esse é o nome do “Nono”, como carinhosamente os italianos “tutti buona gente” se referem ao avô. Ele já completou 89 anos e diz que vai longe. O que é importante porque ele é uma memória viva de Santa Rosa de Lima e, especialmente, da localidade em que mora há 83 anos, hoje conhecida como Santa Bárbara. E ele nos ajuda a explicar o porquê. Esse quase nonagenário, além de ter uma boa memória, é um ótimo contador de histórias e de “causos”. Vamos recuperar algumas delas. Evitaremos, de propósito, os “causos” mais conhecidos. Como o da jararaca que deu uma “bocada” no dedo dele. Ou, o da mulher “possuída”. Escolhemos registrar aquelas histórias que ajudam melhor a conhecer e a entender os meios e os modos de vida dos nossos ancestrais. No tempo em que nós viemos para cá [Por volta de 1933], era quase tudo mato. Já tinha alguns moradores. Era tudo italiano que morava aqui. Tinha cinco irmãos do meu pai vivendo aqui. Meu pai veio depois. Nós saímos lá do Rio Coral, das bandas de Azambuja. Eu nasci lá... Que é para lá de Urussanga. Vim para cá com cinco para seis anos. Viemos andando. Tudo por picadas. Era um “barral”... Atolava e só passava um animal. Ficamos uma semanada na casa de um irmão do pai. Ela ficava bem debaixo da Serra. Depois viemos para cá. Para um rancho de madeira rachada e encostada, coberto de palha. Quando era no inverno, era aquele frio. Mas, primeiro, tinha que fazer o desmatado para fazer as lavouras. O mato era derrubado a machado e o roçado feito a foice. Três polentas por dia. E caça! O fogão era feito com quatro forcas plantadas no chão. Botava uns varões de dois metros, cruzados. Depois, fazia como uma tela e botava um carreiro de pedra para a terra não rolar. Ali, quase no meio, é que fazia o fogo. Os caldeirões eram pendurados em uma corrente, com um gancho. Naquele tempo a italianada comia três polentas por dia. De manhã, de tarde e de noite. Era com leite, com queijo, com porco criado... E com caça: jacu, jacutinga, tatú, porco do mato, paca... De tudo! Caça dava fácil. E quem não tinha uma espingarda... Tinha duas! Tudo a cartucho. Mas a munição era cara. Por isso, em Inhambu, o pai não queria que atirasse. Quando a gente ia para a roça, levava as espingardas. Porque era de tudo: quati, paca, macuco... Nós fazíamos que nem os bugres: caçávamos para comer. Não era para bonito, para guardar... Nada! Era para comer! Quem casa, quer casa As famílias eram grandes e tinham muitos rapazes novos. Quando terminavam as roças, esses rapazes serravam madeira a braço. Para vender para quem precisava construir. E para casar! Eu, meu irmão Reneu e minha irmã Angélica éramos os mais velhos e já estávamos meio grandinhos. E tínhamos vontade de casar num dia só. O pai disse: ‘Mas é bastante... Aí, como é que faz?’ Aí, ele trouxe um primo que também sabia serrar. Pegamos a serra e o topeador. E fizemos um estaleiro provisório. Só para eu e o Reneu aprendermos a serrar. Botamos um cedrinho. Eu fui em cima. Nós ficamos olhando como eles faziam. Tinha que puxar a serra encostar na tora e o debaixo puxar. O de cima prumava a serra e ela dava uma bocada bonita na madeira. Nós demos uma olhada e pegamos num já. E nos metemos na luta. Nós tínhamos um matão bonito no lado da estrada. Fizemos um estaleiro lá. Cober- to de palha, para poder trabalhar com chuva. Trazíamos as toras de Canela, com boi. E serrávamos. Em trinta dias, serramos trinta e uma toras. Tudo em tábuas de dois metros e meio. Faz mais de 65 anos e as madeiras ainda estão ali. Então, só faltava comprar os pregos. Porque o pai era um carpinteiro bom. Daqueles de fazer casas, igrejas e salões [veja “Rodolfo Bonetti; o carpinteiro de igrejas”, na página 16 da Edição 24, de abril de 2015]. E podíamos construir em cima das terras dele. Primeiro, fizemos a casa para o meu irmão, lá no outro lado, onde tinha água boa. Deixamos prontas a casa, a varanda e a cozinha. No ano seguinte, aqui, porque também tinha uma vertente boa, pudemos fazer a minha. Foi só a casa e a cozinha. Foi assim. Uma casa por ano. Porque construir tinha que ser depois da lavoura. A da Angélica foi o noivo, o Paulinho Beckauser, que teve que se virar. [risos] Aí, nós pudemos casar. No dia 20 de junho de 1950, foi feito o casamento de nós três. O topeador e a serra. À época, instrumentos fundamentais para trabalhar “a braço” a madeira. segue 14 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio PATRIMÔNIO SANTAROSALIMENSE segue O casamento triplo do Seu Remi, mais um irmão e uma irmã. A esposa O primeiro alemão que veio morar no meio da italianada foi o Antônio Loch. Comprou uma área do Pedro Zapelinni e veio. Ele tinha quatro filhos. A Almerinda, que foi a minha patroa, era pequeninha quando eles chegaram aqui. Ela era minha vizinha. E eu a vi crescer... Até ela ficar meio grandinha. Ia numa igreja aqui. Ia numa igreja ali. Por uma brincadeira, a gente ia junto numas alturas [do caminho]. Assim foi. Começamos a nos gostar, deu certo e nós ‘se coloquemos’. E como o sogro morava no terreno ao lado, era perto para ir namorar. [risos] Namoramos quase dois anos e depois casamos. A Almerinda foi mulher de muita luta. Depois da roçada, eu dava uns talhos na madeira embaixo e como a madeira ‘puxava’, tinha que entrar com topeador. E topeador tem que ser puxado em dois. E era ela quem me ajudava nessas derrubadas. O começo Eu não tinha terra e no meu quintal já eram as terras do Pedro Zapelinni. Da- qui para cima era bem dizer tudo dele. Eu me interessei em saber como era para comprar. O pai trabalhava fora e nós que tínhamos que dar contas das roças dele. Derrubar mato, roçar capoeiras e outras coisas... Então, eu engordava uns porcos e fazia um dinheirinho. Quando nós casamos o pai foi morar no Rio dos Índios. E depois, logo, foi para o Paraná. Quando eu casei, a patroa já trouxe uma novilha e outras coisas. E eu já tinha umas novilhas e mais outras coisas. Tudo de vender papagaio. [risos] O casal Remi e Almerinda na cerimônia de Bodas de Ouro. “Eu era papagaieiro” Naquele tempo, tinha bando com mais de cem, duzentos papagaios. Que vinham da Serra, depois do pinhão. Tinha que achar os ninhos dos papagaios. Éramos eu e meu irmão que achávamos os ninhos, tirávamos os filhotes e vendíamos lá em Criciúma. Tudo à meia. Quando vendia, repartia o dinheiro. Isso dava um dinheiro bom! Vendia a 10 contos cada papagaio. Comprava-se uma novilha por 40 ou 50 contos. Cada vez que ia vender, tinha que levar bastante. No ano em que mais tiramos, foram 35 papagaios. Mais cem passarinhos verdes: baitaca, tiriva e periquito. Esses eu vendia aqui. Na Santa Rosa, tinha um cara que me comprava. Tinha uns papagaios que eu também vendia por aqui. Mas, a maioria era em Criciúma. Pegar... Para quem entendia dele, o papagaio era fácil. Porque tinha que achar os ninhos dos papagaios. Eles fazem o ninho nos ocos das madeiras [árvores]. Pode ser bem no alto... O papagaio vai, acha um lugar meio podre e rói e faz o lugarzinho em que a papagaia vai chocar os ovos. O papagaio vai buscar o trato para ela. Então, se eu vejo um papagaio que voa sozinho... Ele vem de longe e vai baixando, baixando e faz uma volta – quéo, quéo, quéo, quéo, chamando a papa- gaia... Aí, ela vai encontrar com ele, para receber o trato que ele trouxe. Depois que a papagaia comeu, ela vai certinho onde é o ninho. É nessa hora que a gente via onde ela ia. Aí olhava para a madeira para ver onde estava o oco. Na vez seguinte, via direitinho onde ela entrava. Depois, era só esperar os filhotes ficarem mais grandinhos. Mas, antes deles voarem. Eles já estão meio brabos, mas muito novinho também não é bom! Nós costumávamos tirar papagaios na época do Natal. ... cuidar... Depois, trazia para casa. No começo, dá trabalho. Porque tem que tratar ele na colher, três vezes ao dia, com um mingauzinho, feito de farinha de milho e água quente. Ela se ‘forma’ ligeiro. E fica mansinho. Nós fazíamos um balaio de taquara de mais ou menos um metro por um metro e com uma altura pequena, de uns 25 centímetros. Em cima, a gente trançava com umas taquaras, que quase dava para os papagaios botarem a cabeça. Com um serrote cortava fatias de um daqueles xaxins grossos que tinha no mato e forrava o balaio. Botava 10, 12, 15, conforme cabia. Quando arriava o balaio, você via a papagaiada tudo ali dentro. ... e vender Nós pegávamos sempre o caminhão que levava carga daqui para Criciúma. Pousava lá num hotelzinho de uma mulher, que dava lugar para nós dormir e outro para deixar os papagaios. No outro dia, ela esquentava água para nós prepararmos o trato deles, para depois Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio ir vender. Nós não sabíamos muito bem vender papagaio. O bom era pegar um papagaio de cada vez e sair pela praça, pela cidade. Mas como a gente não conhecia bem a praça e a cidade, a gente já levou os dois balaios. E vendia cada um a dez reais daquele tempo. Veio um comprador. Daqui a pouco, mais outro. E outro... Olha, nós ficamos acocorados ali, vendendo. Era só nós entregarmos o papagaio, receber o dinheiro e enfiar no bolso. O povo ali era tanto que veio um homem pedir para a gente mudar de lugar, porque nós estávamos atrapalhando o trânsito. Ficamos ali, até vender o último. Mas foi um já. Acho que tinha gente que ia na sapataria pedir caixa para botar o papagaio dentro. [risos] Deveria negociar cada papagaio Olha, teve um homem que comprou uma baitaca, como papagaio serrano. Saiu e logo em frente vendeu e veio de volta. Ele pediu: ‘Ei, você tem outro daqueles papagaios serranos?’ ‘T’aqui’, eu disse. E ele falou: ‘Então me dá. Porque eu vendi aquele, compro esse aqui e tenho mais dinheiro do que tinha antes’. Se ele soubesse que tinha levado uma baitaca [por papagaio], não tinha gozado de nós. [risos] Mas, ele mostrou que a gente devia negociar papagaio por papagaio, um de cada vez. 15 Quanto vale Teve uma época que um papagaio valia um salário [mínimo]. E hoje em dia nem se pode mais pegar. Também, porque hoje quase não tem. Naquele tempo, tinha muito. Hoje não se vê mais uma mata virgem, com pau que nunca foi tirado. Não tem os paus para eles fazer ninho. Mas também tem pouco papagaio. Às vezes passam alguns. Dá saudades daqueles tempos. Era bonito! Comunidade de Santa Bárbara Numerosa e religiosa A comunidade chegou a ter 24 famílias. E naquele tempo em que quem não tinha dez filhos, é porque tinha doze. Quando era os domingos, mesmo vindo por picadas e estradas ruins, podia se dizer: ‘Olha, está faltando um daquela casa lá’. E podia contar que ele estava doente. Senão estava todo mundo na nossa igrejinha pequena e [com madeira] serrada a braço. Porque Santa Bárbara Quem fez vir essa Santa Bárbara aqui para nós foi o meu tio Domingo Bonetti. Ele morava bem debaixo da Serra. Num pasto grande. Aqui, no tempo quente dos meses de janeiro, quando a trovoada descia brava da Serra e roncava, era relâmpago e raio para tudo quanto era lado! Num domingo de tarde, o tio Domingos deixou em casa toda a família grande que ele tinha e foi na casa do tio Paulo. A casa desse irmão era perto, ficava no mesmo pasto. E veio uma trovada daquelas... Lá, eles viram que tinha caído um raio perto. O Tio Domingos esperou a chuva dar uma acalmada e já foi para casa dele. Quando chegou, viu a família toda espalhada pelo chão da cozinha. Eles estavam em torno do fogo para se esquentar e o raio desceu pela corrente que segura a panela, bateu em cima do fogão e ... Todos eles sentiram o choque. Era um queimado cá, um queimado lá, tição por aqui, brasa por ali. O tio foi atendendo um, atendendo outro. E não faleceu ninguém. Escaparamse todos. Então, ele quis saber qual era a imagem que protegia de raios. Falou com o padre, se interessou e descobriu que era a Santa Bárbara. Ele fez vir a imagem e pagou. É aquela que está na nossa igreja até hoje. Aí, em todo 4 de novembro, dia de Santa Bárbara, passou a ter festa na comunidade. A gente pegava os animais com jacá com capim e ia na Forcadinha [hoje, Ayurê] buscar as garrafas de gasosa para a gurizada. Não tinha nem a chave para abrir as garrafas. Então a gente botava um prego no cepo e deixava a cabeça dele de fora, para servir de abridor. A gasosa quente, era ‘pof’... E se ia a tampa lá em cima. Metade do líquido já se ia embora. [risos] Para os homens, pinga não faltava. Porque a italianada era boa de “uca”, como eles chamavam. O Santo padroeiro e o nome da comunidade Tudo tem explicação. Por exemplo, nós temos ali o Rio Azedo. Quando eles estavam fazendo, a braço, a estrada, no que [os trabalhadores] chegaram ali em cima, onde tem dois arroiozinhos que se juntam, faltou açúcar para eles. Qual A imagem que veio por causa de um raio e deu nome à Comunidade de Santa Bárbara. Santo Antônio. Trocar de padroeiro seria como trocar de sobrenome. o nome que botaram? Rio Azedo! Ficou até hoje. Quando chegaram no outro rio, como a italianada era toda devota de Santo Antônio, botaram o nome de Rio Santo Antônio. Até encostar no Rio do Meio. Nosso padroeiro já era Santo Antônio, com uma igrejinha pequenina, feita de madeira serrada a braço. Não tinha nem uma imagem. Era só um quadro. Mas fizeram uma outra igreja na comunidade do Rio Santo Antônio, também com o Santo Antônio de padroeiro. Começou a acontecer o seguinte. Quando vinham os folhetos para as missas de domingo, às vezes os nossos iam para lá, às vezes os deles vinham para cá. Porque eram dois Santo Antônio. O Padre Afonso [Schlickmann] veio aqui e eu era da diretoria [da igreja]. Ele disse: ‘Vamos fazer o seguinte. Aqui fica a padroeira Santa Bárbara e Comunidade Santa Bárbara. Lá, padroeiro Santo Antônio e Comunidade Santo Antônio’. Eu disse: ‘Não Padre, eu não concordo. Padroeira Santa Bárbara? Pois eu estou aqui desde cinco para seis anos e sempre o padroeiro foi Santo Antônio. E agora vai trocar? Seria a mesma coisa que trocar meu sobrenome’. E o Padre Afondo replicou: ‘Então vamos fazer assim. Comunidade Santa Bárbara e padroeiro Santo Antônio’. ‘Estou de acordo, Padre’, eu falei. E assim ficou. Até agora. E os folhetos passaram a ir para os lugares certos. “Não se tinha estradas” Antes [até o final dos anos 1940], era só uma picada. Se tinha um pau, era defendido. Naquele tempo era tudo a pé. E para descer por dentro daquele matão, já era de calça arregaçada até os joelhos. Porque atolava mesmo. E animal, se botasse cangalha com jacá ou bruaca, só com burro ou com mula, para se defender. Porque, com cavalo, engalhava. Você vê que aquela estrada daqui, até passar no Favorino, fomos nós que fizemos. Não tinha verba de ninguém! Os pais conversavam e depois lá iam os jovens. De carreta, picareta e enxadão, os rapazes. As moças, de enxada, para puxar a terra. Depois que ultimava os trabalhos nas lavouras de milho, a gente se juntava e trabalhava para abrir a estrada de carro de boi. Tinha rampas com aqueles pés de Canela. A gente cavava por baixo e eles caíam para as grotas. Depois, ainda tinha que cortar os cepos, tudo com machado, para fazer a estrada. Quando chegamos ali por cima da Serrinha, era força de pedras. Meu tio tinha um daquelas brocas de furar pedra. Ele aguentava a broca e eu dava com a marreta de seis quilos. Panc! Panc! E ele torcendo a broca. Fazia um furo. Botava a banana [de dinamite] lá dentro e estourava a pedra. Com aquele material já fazia o aterro por ali. Essa estrada foi toda feita a muque. Até no Favorino! segue 16 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio segue PATRIMÔNIO SANTAROSALIMENSE Divertimento Antes da igreja: bodoque Quando nós éramos mais pequenotes, era caçar de bodoque. Fazia as pelotas, combinava no domingo e saía em turma para caçar. Só depois de tratar as criações e antes de ir para a igreja. O pai era assim, podia ir onde quisesse, mas tinha que ir na igreja. A gente dava uma voltinha de manhã. Tinha muita pombinha, tucano... Mas nós só caçávamos passarinhos grandes. Levava para casa, depenava e tocava na frigideira. Com uma polenta, ô! Eu tinha um primo que nós jogávamos. Botava vinte pelotas no bolso cada um e saía com os bodoques para o mato. Para ver quem voltava com mais caça. A disputa era essa. Mas era força de caça. Depois da igreja: ‘Quelequepe’ Aqui tinha muitas casas. Quando éramos pequenos, a gente se juntava para brincar de ‘quelequepe’. Fincava uma vara no chão, lá no pasto. Um vai ali e tem que fechar os olhos. Ele dizia: ‘Quelequepe’, quantas marrecas tem? A turma respondia 30, ou 50. E ele contava alto até trinta ou cinquenta. Enquanto isso, todos se escondiam. Então, ele tinha que achar um por um. Se ele ia procurar um lá, escondido atrás de um pau, outro podia vir e bater na vara antes do que estava procurando. Esse estava livre de procurar na rodada seguinte. Tinha que se esconder bem e ser bom de corrida. Às vezes, na corrida, até se arrancava a vara. [risos] Depois da igreja: Dança Às vezes, a gente arrumava um gaiterinho que soubesse ‘abrir a gaita’ e fazia uma domingueira. Domingo de tarde, baile na casa de um. Outro domingo, na casa de outro. No dia de São João, escolhia onde tinha um chamado João e a festa era lá. Depois da igreja: Futebol Nós começamos, assim... Depois do terço, iam alguns lá em casa. E nós fizemos uma bola de pano e fomos lá para o pasto. E ia chutando, rolando e brincando. Mas dia de chuva, aquela bola se esbodegava toda. Aí fazia outra. Levou tempo, mas, aí, eu comprei uma bola [de couro] número 2. Daquelas pequenas, né? Mas tinha uns caras que eram de Santa Rosa e sabiam jogar futebol. Eram o “Selmo”, o Raimundo, o Egídio... Os filhos mais velhos do Alberto Loch, que eram parentes do meu sogro, Antônio Loch. Eles vinham na nossa igreja, aqui. Aí, aprendemos. Começamos a botar trave, botar goleiro, escolher os times... Tudo certinho! Nós vínhamos da igreja, almoçávamos bem ligeiro, para ir jogar futebol. Podia ser de chuva; e nós levávamos uma ‘molha’. Podia ser no calor do verão; e se juntava aquela gurizada... A bola subia e quando descia ‘tava’ tudo lá cabeceando... [risos] Mais a ca- beça do outro, do que a bola... [risos] Jogava até de noitezinha. Até a hora de tratar as criações, quando a gente tinha que ir embora. Botava os goleiros e fazia o sorteio de quem escolhia primeiro. Depois, de todo o grupo que estava ali, eles escolhiam os jogadores. Até completar os dois times. E sobrava gente. Eu era sempre escolhido primeiro. Porque não era fácil dar conta de mim. Aqueles dois times jogavam a tarde toda. Era tudo descalço. Só com um calçãozinho e [o uniforme] estava acabado. Era tudo conhecido... Quase ‘Oficial’ Assim, fomos indo, fomos indo e ficamos jogadores bons. Fizemos uma cancha [campo] grande, [compramos] uma bola boa, ‘oficial’. Eu cuidava das bolas. Quando rebentava o couro, costurava, emendava... Se não dava mais, comprava outra. E começamos a jogar contra times de fora. E não era fácil achar time para nos bater. Nós saíamos aqui a cavalo. O que tinha de torcida, tinha que ir a pé. Nós íamos lá no Bernardo Kulkamp, onde tinha o melhor campo de futebol da região. Era bonito jogar lá. Eu lembro que tinha uma bola só e que, embaixo, tinha um caetezal com mais de dois metros de altura. Quando a gente pegava um time meio bom e botava um gol nele e estava meio custoso de botar outro, nós pegávamos a bola e Só faltaram as pelotas para acionar o velho bodoque. já chutávamos para dentro do caeté. Aí tinha que ir lá e achar a bola. E o relógio correndo. [risos] Matava por ali. [risos] Aqui que começou a rodada das 11 horas de domingo Um dia veio um time de Santa Rosa jogar aqui na Santa Bárbara. Eles vieram de caminhão e tinha bastante gente em cima. Era para jogar de tarde. Mas quando chegou antes do meio dia, se armou uma trovoada daquelas lá para os lados da Serra. E se chovesse, o caminhão não saía mais daqui. Então, pediram para nós se dava para jogar ‘já’. Era um solzão coisa de louco. Mas nós estávamos acostumados. Então fomos para o campo. Ganhamos deles. E olha que o time de Santa Rosa tinha o “Negrão”. Aquele que era motorista de ônibus. Esse, tinha que marcar em dois. Mas nós tínhamos um tal de Valentino Leandro, que jogava na defesa e também era muito bom. Comemoração depois do jogo O Zé Schmidt, que ainda mora na Santa Rosa, tinha uma venda. Vinha todo mundo ali. E a venda era pequena. Não cabia todo mundo dentro. Numa vez, tomamos dezessete garrafas de vinho. Para começar... [risos]. Depois, foram mais doze garrafões. Sempre com açúcar, porque o vinho não era suave. O açúcar era pesado naquelas balanças de pratos. Num prato, botava um papel e ia botando o açúcar, até atingir o peso. Depois levava lá fora, onde estava o pessoal. E era só colherada para dentro dos copos. Eu e meu irmão estávamos sentados e chegava vinho por cima dos nossos ombros, que a gente nem sabia de onde. Tudo pago pela torcida. Depois da Sexta-feira Santa: Galinhas com sabor diferente Na Semana Santa, na noite de sexta para sábado, tinha a ‘história’ dos jovens ir roubar galinha. Depois da Aleluia, comiam. Roubavam na casa de todos aqui da comunidade. Era divertido! Depois, convidavam os próprios donos para ir comer as galinhas que tinham sido roubadas deles. [risos] Criação de porco Assim como no restante do município, a engorda de porco Macau era a atividade econômica mais importante no pé da Serra. Peso emprestado Durante onze anos, eu vendi porco para o Nicolau Schueroff. Num ano, peguei 51 porcos, com ele, a peso emprestado. Eram os porcotes que ele tinha em casa. Os bichos estavam magros porque como iam na roça comer o arroz, o Schueroff prendeu eles e tratava só com baraço de batata. Pesamos os 51 porcos e eu os trouxe. Botei os bichos na mangueira e como eu tinha muito milho bom, eles engordaram que foi uma coisa. Tinha que erguer os bichos para eles irem até o cocho comer. Era só banha e carne. Quando os porcos estavam prontos, o Schueroff veio buscar e me pagou o que eles aumentaram em peso. Foi o ano em que eu ‘tirei o pé da bosta’! Não fiquei devendo para mais ninguém. “Engorda” na Serra e “Terminação” embaixo Nós botávamos os porcos na mangueira. Bem tratados com milho, verdura, abóbora... A abobora ajudava o porco a embarrigar. Até 60 dias eles aguentavam. Para poder ainda andar. Porque os porcos saiam tocados daqui. Vendia para aqueles alemães que já tinham roça de batata. Ia aquela tropa de porcos, tocada até o chiqueiro. Até o Rio Bravo. Até o Rio Fortuna. Os bichos chegavam lá cansados. Descansavam uns dias, tocava na batata... A venda de porcos em Grão Pará Quando tinha poucos porcos, a gente botava no chiqueiro. Quando tinha bastante, botava numa mangueira nas roças de batata e de milho. Engordava eles lá e depois trazia para casa. Quando era para vender, tinha que ir lá em cima da Serra, nuns tais Serranos: Joaquim Pessegueiro e Bastião Farias. Eram dois fazendeiros. Aí dizia: Eu quero dez cargueiros de bruaca para o dia tal. Então, ele vinha aqui. Tem uma passagem onde a Serra tem uma que vem aqui e a outra que vai lá. Nessas curvas, tinha uma ‘estrada’ por dentro do mato. Um dia antes, se convidava os vizinhos para vir aqui ajudar a matar os porcos. Matava, tirava o pelo, tirava a cabeça e rachava [a carcaça] ao meio. O Serrano pousava aqui com as mulas. No outro dia bem cedo, logo ao levantar, o serrano ia botando meio porco daqueles em cada bruaca. A mula, era seis arrobas, noventa quilos. Aguentava um porco grande em dois pedaços. Enfiados na bruaca, os quartos sobravam de fora. Depois de ter embruacado todos eles, como o peão já tinha botado a cangalha na mularada, aguentava as bichas no bico, para colocar as bruacas. Montava um rapazinho numa égua com o cincerro no pescoço e saía – balalam, balalam... O Serrano já montava noutra mula, metialhe o relho, e saía junto... Iam parar lá em Grão Pará. Lá, tinha como que um grande forno, em que eles tiravam a banha, que era toda enlatada. E tiravam a carne. De lá ia tudo para São Paulo e Rio. Depois, quando o Serrano vinha embora com as mulas, ele chegava num engenho de farinha e carregava farinha; chegava num engenho de cana e carregava açúcar e melado; passava numa roça de batata doce e carregava batata doce... Então, assim, lá ia ele de volta para a Serra. Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio 17 agreco/cooperagreco O princípio e os princípios do Projeto “Óleos Essenciais Orgânicos” Talvez muitos santarosalimenses ainda se perguntem de onde surgiu esse Projeto de que tanto têm ouvido falar. Os entendimentos são de que a produção de óleos essenciais orgânicos poderá, até, resultar numa linha de cosméticos orgânicos ou de produtos de limpeza orgânicos, todos com a marca Agreco e produzidos aqui em nosso município. Por isso, O Ronco do Bugio procura, nesta edição, recuperar as origens do Projeto “Óleos Essenciais Orgânicos”. Antes de tudo, é importante destacar que ele não foi resultado da vontade de uma ou outra pessoa em particular. É o fruto de um coletivo de pessoas que pretendem relançar iniciativas que resultem em trabalho e renda para quem vive no interior do município e, especialmente, para os jovens agricultores e agricultoras familiares de nossa região. Uma história que pode gerar mais boas histórias Em 2011, o Centro de Formação em Agroecologia foi vencedor do Prêmio Finep de Inovação para a Região Sul. Recebeu com isso o direito de apresentar para a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) um projeto que fosse inovador e que previsse recursos em torno de R$ 500.000,00. Que fique claro: para ser aprovado o Projeto precisava ser inovador. O que significa que precisava propor algo novo para a região. Em fevereiro de 2012, para discutir qual projeto apresentar, foi realizada uma reunião aberta, na Prefeitura Municipal de Santa Rosa de Lima. Estiveram presentes cerca de quinze pessoas. Diversas sugestões foram apresentadas. As instituições que participam do Projeto e suas contribuições CFAE - Centro de Formação em Agroecologia Jean-Yves Griot: Proponente e executor. Com uma equipe de apoio técnico e administrativo de três pessoas contratadas pelo projeto; UFSC: Co-executor. Com uma equipe de três pesquisadores, inclusive o coordenador do projeto, todos pagos pela Universidade e não recebendo qualquer remuneração ou recurso do Projeto; Dirigentes, agricultores e colaboradores recebem o prêmio Finep. Entre elas, destacaram-se a concepção e produção de um jogo pedagógico para o trabalho de formação de agricultores familiares; e o desenvolvimento de uma nova cadeia produtiva de óleos essenciais orgânicos. Ao final, esta última opção teve a preferência unânime dos presentes. O projeto foi então elaborado e apresentado à Finep. Depois de analisado por equipes técnicas e pelo setor jurídico da Financiadora de Estudos e Projetos, o projeto foi aprovado. Em seguida, em julho de 2013, o Centro de Formação em Agroecologia e a Finep Epagri: Participante. Com um técnico local de apoio aos trabalhos de campo do projeto e, ainda, com o apoio de um pesquisador do laboratório especializado da Estação Experimental de Itajaí, todos pagos pela própria Epagri; CooperAgreco: Participante. Com apoio de campo ao projeto quando as ações se dão junto aos seus associados. Principalmente, no que se refere à certificação; Prefeitura Municipal de Santa Rosa de Lima: Participante. Com apoio à infraestrutura rural do projeto, especialmente estradas e terraplanagens. assinaram um convênio (que levou o número 01 13 0189 00). Somente em dezembro de 2013, os recursos foram liberados pela Finep e, finalmente, ficaram disponíveis, em conta específica na agência do Banco do Brasil de Santa Rosa de Lima. De janeiro de 2014 até esta data, o projeto vem sendo executado pelo Centro de Formação em Agroecologia, sempre de acordo com o Plano de Trabalho que faz parte do convênio firmado com a Finep. Seguindo esse Plano de Trabalho, as atividades irão até julho de 2016. O reforço do EcoForte Em 2014, a Agreco foi contemplada com o Projeto EcoForte 14.586 e um convênio foi assinado com a Fundação Banco do Brasil (FBB). Nesse projeto, foram destinados recursos para a construção de uma destilaria de óleos essenciais. A decisão de incluir tal destilaria no apoio do Ecoforte foi tomada em reunião realizada no Centro de Formação em Agroecologia (CFAE), com a presença de inúmeras lideranças da própria Agreco, da CooperAgreco e do CFAE. Em seguida, o projeto arquitetônico foi elaborado com apoio da Amurel e a terraplanagem do local da construção com o apoio da Prefeitura Municipal. Aguarda-se, no momento, a liberação de alguns ajustes pedidos à FBB, para que se possa iniciar a edificação. CooperAgreco realiza treinamento A Cooperativa recebeu, entre os dias 20 e 21 de julho, mais uma visita técnica da Coopera Contabilidade. O momento foi de repasse de informações a alinhamento de rotinas. A equipe da Coopera, representada pela contadora Micheli Dalla Costa e duas outras colaboradoras, ministrou treinamentos exclusivos para os conselhos de Administração e Fiscal e para a equipe da área administrativa da Cooperativa. A formação abordou instruções, alertas contábeis, legais, fiscais e tributários. Também foram apresentados os processos práticos que a contabilidade desenvolve internamente para cooperativa e a ligação que estes têm com as rotinas. De forma clara e objetiva, foram exibidas as rotinas dos setores de RH e Fiscal, ilustrando o percurso que os produtos fazem da terra até a mesa, e as obrigações fiscais que estes trazem e a trajetória da relação trabalhista dos colaboradores na cooperativa, demostrando como as informações são encaminhadas ao fisco. Foi possível realizar a mesma fala em três ocasiões adequando o volume e o detalhamento das informações conforme papel cada grupo dentro dos processos da Cooperativa. “Este tipo de contato é muito importante, pois garante que o conhecimento seja repassado a todos que compõe a CooperAgreco. Quando permitimos que as informações sejam de fácil acesso, a relação entre cooperativa e contabilidade tornase mais próxima, garantindo a eficácia dos processos e a evolução dos resultados”, disse a contadora Micheli Dalla Costa. Hoje são encaminhadas anualmente mais de 90 declarações ao fisco além de mais de 100 procedimentos rotineiros mensais nas apurações dos impostos e outras tarefas para manter a Cooperativa operando dentro da legalidade. “Trabalhamos para oferecer à Cooperagreco além do trabalho contábil uma consultoria permanente, orientando-os para que não haja distorções do modelo cooperativo e para que assim possam usufruir com segurança de todos os benefícios que lhe são possíveis” esclarece a contadora. 18 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio HOMENAGEM PÓSTUMA ¶ 04/05/1961 V 13/07/2015 Luiz Renato Vandresen nasceu em 4 de maio de 1961. Iniciou sua vida com muitas dificuldades, mas nunca deixou de sonhar e ousar. Sempre foi sonhador. Tinha um bom relacionamento na comunidade, onde atuou como Caep, presidente de APP e clubes de futebol. Era um grande amante e apoiador do futebol. Torcedor fanático dos idos times e atletas de Santa Rosa de Lima e do Fluminense. Gostava muito de ler e estava sempre atualizado, adorava debater assuntos políticos. Era “polêmico” alguns diziam. Gostava muito de tocar violão. Nas festas de família sempre arriscava um dedo de viola. Era fã de Raul Seixas e Zé Ramalho. Gostava muito de cultivar a terra e fazia isso com grande maestria nos seus quintais. Deixou muitos amigos nas cidades por onde passou como orientador da Souza Cruz. Com ousadia, coragem e impulsionado pelo sonho de se suceder bem na vida familiar e empresarial, com muita luta, iniciou e Santa Rosa de Lima um trabalho pioneiro no ramo de laticínios. Passados os anos, não contava que seus planos não pudessem dar certo. Entrou em uma profunda dependência química ao álcool. Por mais que ele e a família lutassem contra esta terrível doença, não conseguiu se livrar dela. Nos últimos tempos interagia muito no ambiente virtual, onde ampliou amigos e com estes dividia seus sonhos, alegrias e tristezas. E o que ele tinha de mais verdadeiro e nunca escondia de ninguém, era o amor pelos filhos e a falta que sentia deles. Assim era o Nato, um homem bom e muito solitário. Descanse em paz Nato. Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio 19 Espaço d’Acolhida Reunião foi realizada na Pusada Vitória em Santa Rosa de Lima. Reuniões regionais debatem Federação A Acolhida na Colônia está realizando uma rodada de reuniões nas suas regionais para discutir com todos os associados a proposta de criação da Federação Catarinense das Associações Acolhida na Colônia. No dia 20 de julho a reunião foi em Rio do Sul e reuniu os associados das Regionais de Rio do Sul, Ibirama e Ituporanga. Participaram da reunião em torno de 30 associados interessados em acompanhar de perto a constituição da Federação. Já a reunião das Encostas da Serra Geral foi realizada no dia 27 de julho em Santa Rosa de Lima, na Pousada Vitória (Dida) e contou também com participação expressiva dos associados. Participaram associados de Santa Rosa de Lima, Anitápolis, Rancho Queimado e São Bonifácio. Ao todo também quase 30 participantes. A Regional da Serra Catarinense (Urubici) será no mês de agosto. Em cada uma das reuniões são discutidas as estratégias para constituição da Federação e a proposta de estatuto social que deverá ser homologado na assembleia de constituição. Reunião do Fórum: Mais um passo rumo à Federação Na próxima reunião do Fórum das Associações Regionais que acontecerá no próximo dia 11 de agosto em Vidal Ramos serão discutidos os próximos passos para a constituição da Federação. A proposta é nesta reunião já seja pré agendada a data para a constituição da Federação Catarinense das Associações Acolhida na Colônia. As Associações já devem começar a discutir os nomes dos representantes de cada Associação Regional que farão parte das diretorias da nova entidade. De acordo com as discussões e encaminhamentos que vem sendo tomados, a Federação deverá ser constituída antes do final do ano. Para a Coordenadora da Regional das Encostas da Serra Rosângela Bonetti “A constituição da Federação será um importante passo na organização e consolidação da Associação nos municípios onde já atua e amplia a possibilidade de expansão da Acolhida para outras regiões e até para outros estados do Brasil”. 20 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio cADERNO DE RECEITA Polenta Seu Adão inicia o preparo da polenta. A gente se criou no “mato” “A gente brincava pouco com outras crianças, porque a gente não sabia falar a língua brasileira. A religião de meus pais era Luterana e eles não iam na igreja daqui, a gente se criou, pra dizer, no “mato”. Eu tinha os parentes, vizinhos, eram com eles que a gente brincava. Ali no Rio dos índios, no lado de cá do rio, eu tinha uma amiga que falava alemão. Às vezes, no Domingo, eles vinham ali em casa.” Tempos de Escola “Aula na escola eu nunca fui. Mas eu escrevo e leio. Qualquer letra eu consigo, não tão rápido. Quando eu era pequena, era magrelinha e meus pais achavam muito perigoso eu ir na escola, que era no Rio dos Índios. Para passar o rio, não tinha ponte, tinha que passar numa taipa e, do lado de cima, tinha um açude fundo e para baixo, um salto de água. Eles tinham medo de que eu caísse e disseram que me ensinariam em casa. ” As aulas “Quando dava dia de chuva, a casa era meio pequena, então eles me botavam o dia inteiro a escrever e a ler. Por vezes, vinham me ensinar. Quando era tempo bom, era para eu estudar também, mas eu escapava. Um dia a mãe disse, ‘mas tu tem que escrever um pouco, vem, eu vou te ajudar’. Eu disse para ela, ‘não mãe, deixa, eu faço isso quando estou grande’. Aí ela disse, ‘quando tu estiveres grande tu não vais ter mais tempo e assim ela foi me ensinando’. Órfã de pai e mãe Quando eu tinha 11 anos, minha mãe foi picada de cobra e faleceu. O pai dizia que sem ela não dava para viver, não tinha mais saída. Entrou em depressão e acabou, por fim, enlouquecido. Num sábado, de manhã, eu tinha 12 anos e meio, acordamos, o pai não estava. De repete, o filho do vizinho veio e disse que o pai tinha tomado veneno e queria se enforcar. Ele foi ali no cemitério dos Tonn, queria morrer no lado do sepulcro da mãe. Se o veneno não matava ele ia se enforcar. Fomos lá, a tia fez uma sopa boa e ele melhorou. Na semana seguinte, enlouqueceu de vez. Aí levaram. O louco era como um criminoso para o governo, não era tratado como uma pessoa depressiva. Quatorze dias depois, veio a notícia que ele tinha falecido. Um telegrama chegou até Anitápolis. Eles queria trazer ele, mas tinha falecido há cinco dias quando o telegrama apareceu aqui e não podia mais mexer. Deixaram enterrado na conta dos estranhos. Mais tarde, o meu filho Rodinei, já grande, foi procurar pra trazer os ossos do avô. Foi, mas não deu. Tem os documentos, mas os restos mortais, depois de 15 anos eles não deixavam mais retirar. A tia madrasta Eu tinha uma tia que era mi- Em uma homenagem ao dia dos pais, neste mês, quem assina o Caderno de Receita é senhor Adão Pacheco. Enquanto ele preparava uma apetitosa Polenta em caldeirão de ferro, sua esposa Dona Edith Ilse Tonn Pacheco, nos contou um pouco da sua vida. Histórias comoventes foram narradas por esta simpática senhora, que preserva na fala um agradabilíssimo sotaque alemão. Infelizmente, não poderemos reproduzir a entrevista completa, tampouco o sabor da deliciosa polenta acompanhada por uma suculenta galinha caipira. Mas, aos leitores, fica um pouco do gostinho da história de Dona Edith, que é muito interessante. Dona Edith nasceu no dia 12 de outubro de 1948 na comunidade de Nova Esparança. Da casa, onde viveu a infância com seus pais, vindos da Alemanha, restam apenas algumas pedras da chaminé. “Minha mãe veio pequena, com um ano e meio e meu pai já tinha 16. Eles vieram em épocas diferentes e se conheceram em Anitápolis. Casaram e vieram morar aqui. Eu tive só um irmão, 12 anos mais velho”. nha madrinha de batismo. Ela disse, ‘tu vais morar com nós. Eu te trato igual filha, quando tu casar eu te dou o enxoval, tem os diretos, a roupa, a comida, tudo. Mas depois não foi assim. Nos sábados, a filha dela limpava uma sala bem pequena, poucos móveis, tirava pó e encerava o chão. Eu tinha que limpar a cozinha, arear a mesa, os bancos, limpar o fogão, arear as panelas, deixar tudo arrumadinho, e ainda, tratar a criação. à noite, tinha uns programas bonitos no rádio, eles ficavam escutando e eu tinha que limpar dois quartos, dobrar uma pilha de roupa, que lavava na semana ajoelhada nas pedras. Ela ficava lá sentada, bordando, escrevendo, costurando, ficava no bem bom. Para roçar, eu também tinha que ir junto, os filhos ficavam em casa. Uma moça de vinte e poucos anos Eu ia pouca festa. Se ela via um moço que estava interessado por mim, ela dizia, ‘eu não quero que tu fiques com aquele rapaz’. A filha dela casou. Eu, a Erica e a Beth, minhas primas, tínhamos umas amigas ali no Rio dos Bugres que nos convidaram para o aniversário do pai delas. Eu disse, ‘tia, tem aniversário lá nos Beckhauser’. Ela respondeu, ‘tu tens que lavar roupa! ’. A Erica me ajudou, nós ensaboamos, lavamos, penduramos e quando estava pronto, eu disse, ‘agora eu vou tia’. ‘Tu não vai, tens que aprender, se eu digo não, é não’. Bateu um banco no chão, fez um escândalo. Eu não fui. Fui chorar na casa da Beth. Por um “verde” Quando voltei pra casa de tardezinha, escutei os dois falarem, ‘pois é, ela chorou só por causa de um verde’. Eu não sabia quem era o verde, mas eu sabia que eles tratavam os brasileiros de verde. No outro dia, a filha dela estava lá e me disse, ‘bonito né, a Dona Nena, ali no Rio dos Índios, pensou em fazer o bem e contou para a mãe que tem um Pacheco que quer você’. Aí eu sabia quem era o verde. A gente se conhecia das festas, das domingueiras, dançava junto, mas proposta, nem um, nem outro. Eu gostava dele há tempo e depois essa dona Nena, não sei como soube que o Adão gostava de mim. Então, no casamento da Beth e do Nereu, eles nós levaram de testemunhas. Ali começou o namoro e três anos depois, nos casamos. Refazendo a família que perdeu Viemos morar numa casinha com cozinha e quarto. Dali começamos nossa vida. Não era fácil, nem estrada não tinha. Nós pagamos o Gabriel Schmitz pra fazer uma estradinha para carro, do encruzo para cá. Tivemos dois filhos, nossa cama era com colchão de palha. A caminha dos filhos fizemos de uma caixa, o colchãozinho era de palha, o travesseirinho de pluma de mato e a cobertinha de pena Dona Edith dá o toque final a polenta. Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio 21 DIALOGANDO Marlene Bekhauser de Souza de ganso. Nós não tínhamos luxo. E eu sempre fui muito contente, uma amiga me diz, que eu refiz a família que eu perdi, dois filhos e o marido e hoje, já tenho dois netos. se aparece uma pessoa eu já começo a contar. A maioria me conta um pouco da sua vida, isso eu gosto de escutar. Eu sei que eu tenho história, mas os outros também tem. Histórias para contar e ouvir Minhas distrações e ocupações são o quintal, as flores nos vasos, tem as lavourinhas, as vaquinhas de leite. Eu gosto muito de animais, eu amo animais. Isso é meu trabalho e eu gosto de lutar. Nós também vamos na hidroginástica, nas águas termais, eu acho muito bom para a saúde e bom para a cabeça, encontro amigas, conhecidos, a gente conversa e parece que se esquece do mundo, feliz no meio da turma. Eu sou assim, eu arrumo amizade logo, A maior idade Eu estou bem e vou tocando o ritmo que dá, mas eu não sei. A gente escuta, ‘este faleceu com 70 e tantos, outro com 80’. Mas é o normal da vida. Nós não soubemos o que nós espera. Triste é quem cai na cama, sofrendo. Quem sabe Deus deixa a gente numa boa. Hoje o idoso tem a saúde mais bem cuidada, antigamente nem levavam para o hospital, ‘é velho, vai morrer’. Meu avô foi assim, ficou três anos na cama, com 79 anos. Já era velho”. POLENTA Ingredientes: 3 litros de água 800 gramas de farinha de milho Modo de fazer: Preferencialmente em uma panela de ferro, coloque ½ litro de água. Quando estiver fervendo, acrescente a farinha de milho e mexa rapidamente para criar uma mistura bem homogênea, “sem bolinhas”. O restante da água, vá acrescentando aos poucos. Sempre misturando bem. O segredo de ma boa polenta é mexer diversas vezes durante o tempo de cozimento, que dura cerca de 1 hora e 30 minutos. Pedagoga, psicopedagoga clínica e institucional e mestre em educação. Por que os avós são importantes? Hoje em dia, algumas mães veem as pessoas mais velhas com maus olhos quando se trata da educação das crianças. Elas acabam tendo uma necessidade de autoafirmação e recusam o estereótipo da própria mãe, como se aquele conhecimento fosse algo ultrapassado. Ao mesmo tempo, existem os avós que querem poder e não admitem que os filhos tenham se tornado pais. É muito difícil largar o poder de mãe, mas nessa vida não dá para ter sempre o mesmo papel! E, nesse caso, os avós são coadjuvantes por definição. Apesar de não serem protagonistas na educação dos netos, o papel dos avós é super importante! Eles são sábios e tem a capacidade de ouvir, algo que as pessoas, em geral, não conseguem. Os avós costumam ouvir as crianças mais do que os pais e, assim, criam uma co- nexão com os netos. Muitas vezes, para quem já foi pai e mãe duas vezes, o único desejo é ficar em casa sossegado e curtindo o parceiro. Mas a gente sabe que não é assim que funciona e os netos passam muito tempo na casa dos avós. Isso é normal, mas precisa ter limites! Viajar e dar uma sumidinha por um tempo é ótimo para se recuperar e curtir essa fase da vida. O avô bem equilibrado ajuda o pai e a mãe a ouvir e traduzir o que a criança quer dizer. Muitas vezes, isso se mostra em atitudes, não adianta falar. O avô faz elo pelo silêncio, uma postura serena, agindo no momento certo. Quando chega esse momento de ser pai ou mãe pela segunda vez, a vida toma outro rumo, as relações mudam e, sempre com bom senso e equilíbrio, essa nova fase pode ser uma delícia! 22 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio SABOR E SABER Wilson Schmidt O Pantanal, em uma boa viagem Tive o privilégio de fazer uma excursão de pesca junto com mais onze parceiros das Encostas da Serra Geral. Em uma caminhonete, Egidio Locks, Lourivaldo Schmitz, Ademir Schlickman e eu. Em outra, Romírio Schueroff e “colonos” de Rio Fortuna. Em uma terceira, Vilmar Stüpp, Rubens Vandresen, Valdir Antunes e Charles Wiggers. A coordenação foi do Egídio, com mais alguns “pescadores” que já repetiam a viagem para o Pantanal. Agora, também recebi minha “carteirinha”! Os organizadores explicaram, desde o início, que a viagem para pesca era só para homens. E, de fato, mulheres não teriam suportado tanto tempo com tão poucos resultados. Só se pegava peixes pequenos, com porte menor do que aquele que a lei permite levar embora. Assim, só restava devolver os bichos às águas lamacentas do rio Aquidauana. A frustração dos pescadores, após manhãs e tardes seguidas dedicadas à pesca com anzol, foi explicada por Seu Antônio Ferreira, dono da Chalana: “condições, climáticas”, “chuvas fora da época”... Naturalmente, ele nada falou da habilidade dos pescadores... Uma visita para matar saudades Antes de embarcar na Chalana, para cinco dias de pesca, almoçamos um “porco monteiro do Pantanal”, na casa de José Locks e Felícia Hermesmeyer. Recordo aos leitores que esse casal (sempre santarosalimense) foi um dos protagonistas na organização e realização da primeira GemüseFest. Depois, foi trabalhar com a família em Blumenau e Joinville. Em seguida, foi para a fronteira agrícola, tocando com maestria uma fazenda nas proximidades de Campo Grande. Lá, a ligação com as Encostas da Serra Geral permaneceu. Nas suas bodas de ouro, celebradas no distante Mato Grosso, o casal “levou” mais gente do torrão natal do que de qualquer outro lugar do país. Navegando na Chalana Pelas minhas condições de saúde, eu não podia sair para a pescaria, que se dava em três “voadeiras” conduzidas por “piloteiros”. Então, tive o privilégio de usufruir de todas as “mordomias” da Chalana. Isso serviu para compensar as duras viagens de “batelão”, nas cabeceiras do Rio Juruá, no início da minha vida de professor. Sentado ao lado do leme, com Seu Antônio, dono e piloto da Chalana, pude conversar sobre os problemas enfrentados pelo turismo no Pantanal. Esses “papos” deixaram claro que é a estupidez humana que tem provocado alterações ambientais que tornam as secas mais severas e as enchentes mais catastróficas. Como consequência, as condições de procriação dos peixes e dos animais de melado. Vou mostrá-la a muita gente. A degustação vai ser em “dedais”. Pescadores que foram ao Pantanal. de caça ficam ameaçadas. Na Chalana, contudo, pudemos desfrutar de ótimos pratos à base de peixe e de caça (porco monteiro, jacutinga). Dona Rose, esposa do Seu Antônio, assegurava cuidado e sabor às comidas. Aquelas refeições tornaram-se momentos inesquecíveis para todos. Saborosas e produtivas paradas no caminho de retorno Uma noite de chuva precedeu a volta. Os setenta quilômetros de estradas de chão viraram um grande desafio. Isso não inibiu, todavia, nossos bons motoristas. Já no primeiro dia, chegamos a Santo Antônio da Platina, no Norte do Paraná. No seguinte, mesmo tendo passado por Ponta Grossa e Curitiba, na hora do almoço, estávamos no Norte de Santa Catarina. Na beira da BR 101, paramos no restaurante Grün Wald. Para ir matando as saudades, nos deliciamos com pratos típicos alemães. Eu só lembro do eisbein (joelho de porco), entre tantas outras opções escolhidas pelos parceiros. Passando por Florianópolis, a vontade de reencontrar as famílias fez com que todos optassem pelo caminho mais curto (via BR 282). Eu, com a notícia da inauguração da Ponte de Laguna, preferi seguir pela BR 101. Nesse caminho, uma boa surpresa, ao ver o “Engenho”, na divisa de Paulo Lopes com Imbituba, vendendo produtos coloniais e orgânicos. Além de uma boa espiga de milho cozida, comprei uma garrafa de cachaça orgânica muito especial. A marca é Weber Haus. É produzida em Ivoti, no Rio Grande do Sul, e certificada pela Ecocert. O preço: R$ 159,90. Isto mesmo! Paguei 160 reais por uma garrafa de cachaça orgânica. Comprei, para mostrar os caminhos de agregação de valor para nossa cachaça Aprendizados Essa experiência com amigos especiais reforça a ideia de que é indispensável um novo olhar sobre o turismo nas Encostas da Serra Geral. Os debates anteriores (nos quais o Egídio Locks teve papel destacado) já apontavam para a necessidade de fazer do turismo uma alavanca do progresso das Encostas da Serra Geral. Entendemos que esse processo já começou. Um sinal é a Pousada Tenfen construir um restaurante típico, para oferecer pratos com sabor colonial e orgânico. Prosseguem os desafios do Paraíso das Águas, do Agroturismo da Acolhida na Colônia, do Centro de Formação, da CooperAgreco. Todos juntos devem procurar construir a “cumplicidade” necessária, entre aqueles que moram no litoral e aqueles que cuidam da água boa e que produzem alimentos orgânicos e com sabor colonial. Como entidade que coordena o desenvolvimento do Território, a Agreco deve formular, através de um planejamento participativo, propostas em diferentes áreas. E deve demandar uma ação conjunta dos governos municipais, estadual e federal. O início óbvio dessa inciativa está na pavimentação das estrada regionais. O asfaltamento de rodovias, como as de Anitápolis a Santa Rosa de Lima, de São Bonifácio a São Martinho, de São Luís a Aratingaúba, é, hoje, uma condição básica para o fortalecimento do turismo nas Encostas da Serra Geral. Meu tributo à ousadia de um Pioneiro A participação de Rubens (irmão) e de Valdir (vizinho) na excursão de pesca, nos fez sentir, juntos, o choque que provocou a “despedida” de Luís Renato Vandresen. Pouco antes de escrever esta coluna, tive a oportunidade de conhecer o texto de homenagem da família, lido, na Matriz de Santa Rosa de Lima, antes do sepultamento. Trata-se um “retrato” mais completo do Nato, que lembra, por exemplo, a participação destacada dele na comunidade, na CAEP e nas APP. Faço questão de dizer que não é uma doença (a adicção ao álcool, em geral tratada de forma tão preconceituosa) que apagará a imagem de alguém muito inteligente e ousado. Recordo que, incialmente, o Nato trabalhou como instrutor de fumo e que, depois, descobrindo que “o novo nasce do velho”, tornou-se pioneiro na agregação de valor ao leite, implantando, em Santa Rosa de Lima, uma das primeiras pequenas agroindústrias. Fez isso, quando o “queijo colonial” era apenas um produto artesanal. Atualmente, as queijarias superam até o beneficiamento de madeira, como atividades econômica, nas Encostas da Serra Geral. Nato, pode ser que nem você tenha se dado conta desse pioneirismo. Você vai ser, entretanto, muito bem lembrado quando se falar no desenvolvimento sustentável da região. Por isso, sua trajetória deve ser motivo de orgulho para seus filhos e para a mãe deles, para seus irmãos e irmãs. Como já é, segundo o Valdir Antunes, para seus vizinhos. Um cumprimento especial a Dona Valda e ao Seu Roberto, pelo filho que tiveram. Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio 23 COMUNIDADE MATA VERDE Kátia Vandresen | Ronaldo Michels Naquela manhã de segunda feira, no último dia 13 de julho, quando cheguei em casa vindo do meu trabalho e recebi a notícia de que o Nato - assim Luiz Renato Vandresen era conhecido – fora encontrado morto em sua residência, eu senti um grande aperto no coração e uma tristeza doída tomou conta de mim. Em um tributo a sua vida e morte, eu, Ronaldo, gostaria de escrever algumas linhas sobre esta pessoa que marcou muito minha vida. “De uma coisa eu tenho certeza, só Deus muda o meu destino. Eu acredito em tudo que eu já passei na vida, mais para ele eu sou orgulhoso demais ainda. Mais eu acordo agradeUm grande homem cendo a ele por tudo que me deu, ele não me Muitos criticavam o Nato. Os problemas pelos quais tirou, eu só tive mais que precisava. Ele me colevaram a empresa a ser vendida. Conheciam as várias locou em vários e vários caminhos e só não me dificuldades que ele enfrentava e as muitas que ele ventirou porque sou bom de coração. Eu não preceu. Mas tenho certeza, que muitas destas pessoas o ciso pedir, ele me manda fazer o que deve ser Nato um dia ajudou, de uma maneira ou outra. Mas será feito, ou caso contrário eu já estaria morto há que estas pessoas tiveram a hombridade de estender muitos anos. Eu tenho uma obrigação, vai de Visão de empreendedor uma mão quando ele mais necessitava? Bem poucos! Era na década de 90, quando surgiu aqui em nossa Então peço que lembrem dele como um grande ho- humildade até o ponto extremo. E este ponto eu região o primeiro laticínio. Um grande avanço para a mem que, assim como todos nós, comete acertos e er- ainda não sei. Eu sou filho de deus”. Ele marcou minha vida Sabemos que a vida é feita de desafios, de conquistas e de oportunidades, e foi a oportunidade que o empresário Luiz Renato Vandresen me deu que abriu meu caminho para chegar onde hoje cheguei. Foi o Nato quem abriu as portas de sua empresa, onde eu tive meu primeiro emprego. Trabalhei por três anos com ele e ele sempre me incentivava, “rapaz aproveite bem os momentos, sei que você é inteligente, tem capacidade para estudar, fazer faculdade, não desista de seus sonhos”. Estas palavras ele me disse inúmeras vezes. E tenho a certeza que elas me incentivaram muito. Lima – foi a primeira que levou o nome de Santa Rosa de Lima ser conhecido pelo estado de Santa Catarina, onde em toda grande rede de supermercados estavam nas prateleiras os seus produtos, derivados do leite. produção de gato leiteiro na região e o idealizador deste empreendimento foi o Luiz Renato. Anos foram passando, a empresa familiar tocada por ele e a esposa foi crescendo e ganhando mercado a cada dia. Os produtores rurais começaram a ter oportunidades através da produção de leite, o município começou a se desenvolver mais com a contribuição desse empreendedor. Acredito que a empresa Lasaroli – Laticínios Santa Rosa de ros. Com ele não foi diferente e tristemente sabemos que Nato não foi forte suficiente para derrotar o alcoolismo, esta maldita doença foi mais forte que ele. Sabias Palavras As linhas que seguem foram escritas por Nato, em rede social, dias antes de sua partida para junto de Deus. Na minha opinião, resumem a sua vida. Fique com Deus Nato! Resta-nos agora a saudade, e nos solidarizar com os familiares e amigos nesse momento de dor que é a partida de um grande amigo. Nato, fique com Deus, e tenho a certeza de que você marcou positivamente a sua passagem aqui na terra e que hoje estas descansando em paz aí no mundo celeste. LEGISLANDO Esta coluna é reservada e assinada pela bancada PP e PT composta pelos vereadores Edna Bonetti, Robson Siebert, Salésio Wiemes e Luiz Schmidt. Aqui são apresentados os trabalhos na Câmara Municipal de SRL. Acompanhe o resumo dos principais ofícios, requerimentos e proposições apresentados aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Melhoria de estrada Salésio Wiemes encaminhou ofício a Prefeita, com cópia para o Secretário de Obras, para realizar melhorias na estrada que dá acesso a propriedade do senhor Pedro Warmling, na localidade de Rio dos Índios. Justifica o vereador, “ele está com dificuldade de entregar leite e até de levar seu filho para a estrada para pegar o transporte escolar”. Para transitar e escoar a produção O vereador encaminhou mais dois ofícios a Prefeita, com cópia para o Secretário de Obras. Um deles, solicitando a recuperação da estrada que liga a propriedade do senhor Sebastião Soares a sua madeireira, localizada na comunidade de Rio Santo Antônio, e que se encontra em péssimas condições de trafegabilidade em alguns trechos. O outro oficio, solicitava a recuperação da estrada que liga a comunidade de Rio Santo Antônio à localidade da Serrinha, que dá acesso à comunidade de Santa Bárbara. “Essas melhorias são de suma importância para que os proprietários, empresários e moradores possam transitar e escoar sua produção com normalidade”, enfatizou Salésio. Iluminação Pública Por solicitação de moradores, o vereador Salésio Wiemes encaminhou ofício a Prefeita, para que ela possa providenciar ao departamento competente, a colocação de iluminação pública no trecho que compreende a Rua Henrique Heidemann até o loteamento do Sr. Loreni Philippi. “Muitos munícipes construíram suas residências ali e vários estudantes passam por ali todas as noites após as aulas. O trecho se encontra muito escuro e a coloca- ção de lâmpadas dará mais tranquilidade e segurança a todos”, justificou o vereador. Segundo o vereador, os moradores, há algum tempo, já pagam a taxa de iluminação pública. “Eles solicitam o que é de dever, até porque eles já pagam serviço de iluminação pública naquela área”. Estímulo ao produtor O vereador Luiz Schmidt encaminhou ofício a prefeita, com cópia para o Secretário da Agricultura, solicitado a colocação de duas cargas de areão na propriedade do produtor Volnei Luiz Roecker, na comunidade de Nova Fátima. Luiz justificou, “este agricultor tem uma produção de dez mil litros de leite por mês, e toda sua produção é comercializada com nota de produtor rural. Por isso, a solicitação é bastante urgente e necessária, para dar melhores condições de trabalho e estímulos a atividade. 24 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio Gut in das Bild “Josimar, você completa mais um ano de vida e estamos muito felizes de celebrar essa data contigo. Feliz aniversário!” São os votos de sua esposa Simone e dos seus filhos Vinícius e Caio neste dia 7 de agosto. No dia 05 de agosto a princesa Lavinia Carvalho completará dois aninhos de muita alegria e felicidade. Feliz aniversário! Que Deus, em sua infinita bondade, lhe dê tudo de bom. Que você tenha muita alegria, paz, saúde e felicidade. Parabéns! São os votos de seus pais Laudelino e Cristiane e também de seus padrinhos Salésio e Ivone. Bem na foto No dia 25 de julho, o gatinho Luiz Fernando completou mais um ano de vida. “Você é um presente de Deus para toda a nossa família, um anjo que encanta a todos, continue essa criança educada, amorosa e inteligente. Feliz aniversário!” São os votos de toda a família, especialmente dos pais e avós. Emerson Stefens [email protected] “Parabéns! Tudo de bom e de melhor hoje e sempre. Muita saúde, paz, amor e felicidade. Que Deus te abençoe e te proteja sempre. Muitos anos de vida! Te amo Mãe!” Esses são os votos da Julia Schmidt para sua mãe Rosalete Schmitz, que soprou velihas no dia 22 de julho. Parabéns aos alunos e professores regentes das turmas do Terceirão/2015 da Escola Aldo Câmara que no dia 19 de julho fizeram uma belíssima apresentação na festa julina da escola. Gostaria de dizer que estou muito orgulhoso de vocês e desejar uma vida abençoada e repleta de sonhos e conquistas. Vocês merecem! Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio Felicitações em dose dupla para o Hélio Torquato e para o Willian José Torquato. Pai e filho comemoram aniversário em agosto. “Que a vida de vocês seja constantemente presenteada com bons e felizes momentos. Parabéns! ” São os votos de toda a família e amigos, especialmente da esposa e mãe Adília e também da filha e irmã Patrícia. Neste mês de agosto, brindam nova idade duas pessoas especiais, Olésia da Silva Torquato, no dia 13 e Luana Torquato no dia 28. E como é muito bom desejar Feliz Aniversário, elas recebem a homenagem da família e amigos. Feliz aniversário e muitos anos de vida! 25 26 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio cultura COMUNIDADE NOVA FÁTIMA Rafael May | Marieta Oenning Bittencourt Mês das Vocações Em 1983, a Igreja Católica comemorou o Ano das Vocações no Brasil. A partir desta data, sempre no mês de agosto, comemoramos as vocações. O objetivo da Igreja é fazer com os fiéis rezem por elas. Na primeira semana do mês, quando é comemorado o Dia do Padre, as orações são dedicadas a vocação sacerdotal. No segundo fim de semana, a vocação destacada é a da família, através do Dia dos Pais. No terceiro, comemora-se a vocação dos missionários e, no quarto e último fim de semana, a vocação do catequista e dos leigos que trabalham em função da evangelização. Homenagem Dia dos Pais “Na longa jornada da vida muitos mestres encontramos, alguns seguimos, outros abandonamos, dentre todos, um deles é o que mais amamos. Seu nome é simples e fácil de pronunciar: Pai”. (Autor desconhecido) Queremos parabenizar todos os pais, especialmente aqueles da nossa comunidade, os que aqui nasceram e daqui saíram, mas deixaram um pouco da sua história. Que Deus ilumine a todos. Um feliz Dia dos Pais. Semana da Família Aqui no Brasil, foi em 1992, que a igreja católica instituiu no seu calendário, a Semana da Família. A comemoração tem como objetivo destacar a importância da família na sociedade. A família é o reflexo da sociedade e, por isso, devemos refletir sobre a importância dos princípios e valores cristãos da família. Encontro Paroquial de Catequistas No dia 27 de agosto, comemoramos o Dia do Catequista. Nossa homenagem vai para todos estes profetizadores da palavra de Deus, em especial aos catequistas de Nova Fátima. Para festejar a data, vai acontecer na comunidade de Nova Fátima, no dia 29 de agosto, ás 9:00 horas da manhã, o Encontro Paroquial de Catequistas. Estamos esperando todos para um dia de comemoração e confraternização. Aos padres com carinho Queremos também homenagear todos os padres, especialmente aos de nossa paróquia. Obrigado por serem pastores deste rebanho de Deus. Cinema para as crianças Alunos do Centro Educacional Santa Rosa de Lima assistem a Mostra de Cinema Infantil. Pela quarta vez consecutiva, filmes infantis que foram premiados na Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis são exibidos em Santa Rosa de Lima, é o Circuito Estadual de Cinema Infantil que, neste ano, conta com o apoio da Editora o Ronco do Bugio. A primeiras sessões foram realizadas no dia 17 de julho para os estudantes do Centro Educacional Santa Rosa de Lima. Para a exibição dos filmes curtas metragens de produção nacional (veja box), foi fundamental garantir o ‘clima de cinema’, para isso, as janelas do Centro de Convivência (Salão Velho) receberam proteção. A pipoca foi deliciosamente feita pelas merendeiras e distribuída pela direção do Centro Educacional, que apoiou a exi- bição do Circuito. Nas sessões em Santa Rosa de Lima não houve a necessidade de utilizar as opções audiodescrição e LIBRAS, mas são dois recursos que vêm com os DVDs, inserindo o cinema também para portadores de necessidades especiais. “Além de bastante educativos, os filmes exibem a diversidade cultural do nosso país e abordam temas como racismo, preconceitos, dilemas da infância e adolescência, tudo isso, com muita aventura e divertimento”, diz Mariza Vandresen, organizadora voluntária do Circuito no município. “Outras sessões serão agendadas assim que terminar o recesso escolar. Caso os professores queiram trabalhar especificamente com algum Gratuito e de qualidade dos temas ilustrados nos curtas, os DVDs podem ser disponibilizados também para sala de aula”. Para a professora do 1º ano, Marlize Feldhaus Hermesmeyer, “foi bem válido, os filmes exibidos trataram sobre a questão do racismo, do preconceito, coisas que a gente tem presenciado bastante na nossa escola. Os temas foram muito bons e as crianças também gostaram. Eles se comportaram melhor do que a gente esperava. Na volta do recesso escolar queremos fazer um planejamento e trabalhar estas questões. Nossas crianças estão perdendo o respeito e outros valores, precisamos trabalhar isso e os filmes podem ser boas ferramentas”. O Circuito Estadual de Cinema Infantil surgiu da necessidade de ampliar a ação da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, levando os curtas metragens brasileiros exibidos durante o evento para os outros municípios catarinenses. Para a diretora da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis e idealizadora do Circuito, Luiza Lins, além de levar cinema gratuito e de qualidade para todas as cidades estaduais, “mais do que exibir os filmes, queremos plantar a semente da transformação não só em cada olhar infantil, mas transformar culturalmente os municípios”. O desejo de Luiza é que cada criança catarinense seja contemplada com o projeto e que, com isso, “passe a ter acesso a um cinema diferente daquele que assiste na televisão ou na sala comercial”. Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio SRL nas telas do cinema Com as filmagens realizadas em uma propriedade rural, na comunidade de Rio Bravo Alto, “Nuvem” é um curta-metragem dirigido por Vanessa Sandre e será exibido em Santa Rosa de Lima, no próximo dia 28 de agosto. “É um filme para todas as idades. Para as crianças traz à tona um sonho em comum, ter algo mágico e longínquo, como uma nuvem. Para os adultos traz a mensagem de que sonhar é essencial, independentemente da idade”, diz Vanessa. Outra particularidade do filme relacionado a Santa Rosa de Lima, é que o elenco conta com a participação dos irmãos Gustavo e Ricardo Hasse, que são filhos de agricultores e moram no Rio do Meio. Gustavo, que na época tinha 14 anos, interpretou o irmão de Franciely, Maicon, um menino de onze anos. Já Ricardo, que tinha doze anos a época, fez o papel de Felipe, um primo de nove anos “da cidade grande” que foi visitar a família no interior. “Nuvem” por aí O curta-metragem foi o projeto da estudante de cinema, da Universidade Federal de Santa Catarina vencedor da 12ª edição do Prêmio Catarinense de Cinema, na categoria vídeo. Sua es- treia nacional foi no Festival Primeira Janela, onde recebeu o prêmio de Melhor Filme, escolhido pelo júri popular. O filme já foi exibido em festivais nacionais, como o Ver Cine, em Niterói e a Mostra de Cinema Infantil, em Florianópolis. Ganhou também aceitação internacional. “Nuvem está sendo bem aceito nos festivais internacionais, estamos no Children’s International Film Festival, em Dubai, no AniFestROZAFA, na Albânia e no Festival de Cinema de Girona, na Espanha. Este último, ainda aguardado, pois Nuvem foi o único filme brasileiro selecionado para a mostra competitiva, concorrendo com outros 23 filmes de diferentes nacionalidades, complementa Vanessa. Dia: 28 de agosto de 2015 Local: Centro de Convivência do Idoso (Salão Velho) Horário: 20h30min. Resumo do filme Anos 1990, em um ambiente rural de uma cidade do interior de Santa Catarina, vive Franciely com sua mãe Irene. Ela é uma criança criativa, o oposto de sua mãe, uma mulher solitária e amargurada, que não mais se permite sonhar. Em uma visita, tia Rose, muito querida de Franciely, anuncia que vai fazer uma viagem de avião e pergunta à menina o que ela quer de presente. Franciely, inocentemente, pede um pedaço de nuvem. A criança sonha com a sua nuvem até o regresso da tia, que lhe traz o presente dos sonhos. Esse gesto, além de trazer alegria a Franciely, mostra a Irene, sua mãe, como é importante sonhar. 27 COMUNIDADE RIO BRAVO Karla Folster | Júnior Alberton | Ana Paula Vanderlinde A edição é nova, mas o assunto é velho Algumas vezes, já tratamos aqui neste espaço dos problemas e reclamações referentes ao transporte escolar dos estudantes da comunidade do Campo do Rio Bravo Alto. Desta vez, o assunto volta à tona, mas o problema em questão, agora é o transporte dos alunos na Linha geral do Rio Bravo. Para entendermos melhor a situação, vamos relatar como funciona por aqui, o transporte escolar. Os alunos da comunidade do Campo do Rio Bravo Alto são transportados até a Estrada Geral do Rio Bravo Alto em um micro-ônibus do Programa Caminho da Escola, conduzido por um motorista da prefeitura. De lá, pegam outro ônibus, o da linha geral do Rio Bravo, que leva todos os estudantes até as escolas do centro. Os problemas As crianças que residem no Campo, pegam o ônibus por volta das 06h15mim e por volta das 06h40min, o micro-ônibus chega na estrada geral. Lá os estudantes descem e precisam aguardar entre dez e quinze minutos pelo outro ônibus. Este tempo de espera se dá, porque o micro-ônibus precisa buscar uma estudante que mora na comunidade de Águas Mornas. Ao embarcarem no ônibus da linha geral do Rio Bravo Alto, os alunos precisam se “amontoar” de todas as maneiras para possibilitar que todos caibam dentro do ônibus. Segundo relatos, teve dias em que foram contados 56 passageiros. Ao voltarem da escola, ao meio dia, o descaso com os estudantes da linha do Campo do Rio Bravo não é diferente. Enquanto o micro-ônibus leva a estudante da comunidade das Águas Mornas para casa, os demais estudantes ficam novamente esperando no ponto de ônibus. Pais e estudantes estão muito incomodados com a situação, pois enquanto eles estão no ponto de ônibus, quem é o responsável por estas crianças? Nossas dúvidas Como fica a segurança destas crianças? Por que não colocam um ônibus com capacidade para mais passageiros? Ou ainda, por que não fazem a distribuição dos alunos em mais turnos. Lembrem-se leitores, que no início do ano, turmas foram fechadas pelo Secretário de Educação, que alegava economia aos cofres públicos. Mais uma pergunta que não quer calar: por que sempre se economiza na Educação? Por que nunca se economiza em outros setores, onde se contratam cada vez mais funcionários? 28 Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio O Boneco pisou na bola Em recente sessão da Câmara de Vereadores, por ocasião da discussão de um requerimento que pretendia que a Mesa diretora convocasse uma audiência pública para promover um debate sobre o local de construção da “garagem municipal”, este Macau ficou surpreso com o baixo nível dos debates. Depois de ter feito muitos elogios à Mesa Diretora da Casa do Povo, sou obrigado torcer minha carinha simpática e apontar a pata traseira para lá. Se me senti tão decepcionado, imagino os humanos santarosalimenses. Garagem municipal, sim! Mas, em um lugar adequado Todos reconhecem que a construção de uma garagem municipal, para abrigar o parque de máquinas e veículos públicos do município, é uma necessidade. Dizem, entretanto, que são poucas as possibilidades de um terreno para realizá-la. Todo mundo sabe, também, que se mais pessoas pensarem juntas, menor será o risco de se “fazer bobagem”. Pensando que um debate é necessário, também dou meu “pitaco”. Há tempos, a administração municipal afirmou ter adquirido um terreno na saída da estrada geral para Anitápolis. Seria para construir uma escola. Mas eu já falei, então, que aquele lugar não era bom para uma escola. E sugeri que seria um bom terreno para construir a garagem municipal. Aquele terreno não existe? Caminhos tortos Esse porco banha rolou na lama de tanto rir com as explicações e os argumentos da mesa diretora e da assessoria jurídica da Câmara de Vereadores, para não aceitar o mencionado requerimento. Quando se quer, se arruma um jeito de fazer. Quando não se quer, para “enrolar”, apela-se para “argumentos jurídicos” (e haja aspas...). Os do douto assessor foram patéticos: “Quem convoca audiências públicas são as comissões, não as bancadas”. Este humilde e mal instruído porquinho pergunta: A quem um vereador ou bancada se reporta numa sessão da Câmara? Não é a mesa diretora? Quem faz os encaminhamentos para as comissões? Não é o presidente da mesa? Como pode um vereador ou uma bancada encaminhar um assunto diretamente à as comissões permanentes da casa? Por que o medo de uma reflexão e de um debate? Não é de hoje que os debates da Casa do Povo são mal conduzidos e pouco fundamentados. Ali, se discutem “perfumarias” e não o que é verdadeiramente interessante para os santarosalimenses. Para construir uma garagem municipal, vai se consumir investimento significativo. E deixar de poder apresentar outros projetos. Por que ter medo de examinar as propostas com a participação dos munícipes? E da totalidade dos vereadores? É no mínimo de se estranhar. Será que tem “lamas” que esse porco não deve conhecer? O Macau alerta e argumenta Todos em Santa Rosa de Lima têm sua opinião sobre o melhor e o pior local para a construção da garagem. Nossa Câmara, todavia, não deu espaço para que essas posições fossem manifestadas. E, em outros “canais”, ninguém quer falar. Para não “se comprometer”. Como sou um porco sem espírito de porco, vou apresentar minha opinião. Construir a garagem onde era a antiga é não pensar estrategicamente. É não priorizar o que é melhor para o município. Apresento minhas razões: 1. Uma unidade de saúde precisa de sossego e de silêncio. Pacientes em observação, crianças, gestantes e idosos estarão ali, diariamente, para cuidar de sua saúde. 2. Não haverá espaço para estacionar os carros dos servidores municipais, das pessoas que buscam serviços na prefeitura ou na unidade de saúde e, ainda, os da prefeitura. 3. É normal, em casos de atendimentos de emergência, que veículos da saúde cheguem em certa velocidade. A localização proposta para a garagem aumentará os riscos de acidente, pois eles poderão se deparar com máquinas lentas, na rua em frente à unidade de saúde e à prefeitura. Baiucas sujas de lama No meio da discussão dos “nobres” edis, este Macau captou uma palavra estranha. O líder da bancada governista, na falta de argumentos razoáveis para a discussão, disparou: “... e aquela baiuca que vocês construíram na frente da prefeitura?” Como esse humilde tipo banha não é muito esperto, foi procurar no dicionário. E descobriu que baiuca é bodega, espelunca, porcaria. Sendo assim, o porco acha que há mais baiucas no município. Podem ser as quadras do Rio Bravo. Aquela primeira, que caiu! E a nova, que seria construída, mas ficou na tramóia das fundações. Pode ser o britador “novo”, que era usado. E outras baiucas mais. Todas enlameadas. Nem que a porca torça o rabo No meio da polêmica sobre o local da garagem, eis que a mesa diretora da Câmara de Vereadores tira da manga uma carta: “é necessário elaborar o plano diretor da cidade”. Segundo ela, “isso pode resolver esses problemas”. Desse jeito, esse Macau vai passar mal de tanto rir. Outro dia, ouvi um atento cidadão dizer que faltam dedos para contar o tempo que ele ouve falar em plano diretor. E muitos vereadores são os mesmos. Mas nada! É só discurso e casuísmo. Quanto aperta, eles apelam. Mas ninguém tem coragem e competência para propor a elaboração participativa de um plano diretor. Se para uma simples audiência pública já se torcem todos para não fazer, imagina para chamar o povo para debater um plano diretor. O resto é circo e palhaçada Macau não vai em festa. Porque pode virar churrasco... Ele soube, entretanto, que na celebração do Dia do Colono, todas as máquinas e veículos da frota municipal estavam expostas muito próximos do local do evento. A ideia era “mostrar” para a população que tudo foi adquirido pela atual gestão. Ora, quem viabilizou os recursos para a aquisição dessa frota foram os Governos Federal (Caminhos da Escola e PAC2) e Estadual (Fundam). E a finalidade dessa transferência é servir à população santarosalimense e não ser instrumento para que alguns “façam média” com ela. Os veículos e máquinas são bens públicos, que foram transferidos à municipalidade pelos poderes públicos federal e estadual, para servir ao público, ou seja a população de Santa Rosa de Lima. O resto...