ANO 3 - Nº 28 • Edição Mensal - Agosto/2015
O Jornal de Santa Rosa de Lima - A Capital da Agroecologia.
Gravado no município, curta-metragem
Nuvem estréia em Santa Rosa de Lima
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PATRIMÔNIO
Seu Remi, o “Nono”
do Pé da Serra
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Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
REPORTAGEM
Mariza Vandesen
Agricultura familiar e os serviços ecossistêmicos
Quanto vale o ar que respiramos, a água que bebemos, o trabalho do agricultor familiar que provê o alimento de cada
dia e ainda cuida a natureza? A sociedade e o governo devem pagar para preservar as matas, as nascentes, a fauna, a
biodiversidade do planeta? Como é possível garantir a oferta de serviços ambientais e de comida, elementos essenciais a
existência da vida, quando cientistas dizem que a agricultura convencional é a maior ameaça para o ecossistema? Estes
são alguns questionamentos que pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de São
Paulo (USP), Universidade de Vermont, na Califórnia e Universidade de Twente, na Holanda querem responder com a ajuda
de agricultores familiares de Santa Rosa de Lima. Para isso desenvolvem um projeto piloto sobre PSA (Pagamento por
serviços ambientais). A pesquisa é realizada com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), e conta com a parceria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Administração Municipal e
da Epagri. O primeiro dia de campo para discutir a efetiva aplicação do projeto foi realizado no dia 07 de julho, na comunidade
Mata Verde. Cerca de 40 agricultores participaram, destes, 26 eram jovens.
Agricultores participaram da palestra sobre PSA, na Comunidade Mata Verde.
“A proposta é desenhar um programa para pagamento de Serviços Ambientais para usos agrícolas renovadores”, diz o professor pesquisador da UFSC, Abdon Schmidt Filho. “É voltado para a agricultura menos
impactante, mais regeneradora. É onde entra o sistema
silvipastoril com as matas ciliares e multifuncionais e
a transição dos agricultores para a produção agroecológica”. O foco também é trabalhar com público jovem.
Como o projeto precisa definir uma área física específica, Adbon sinaliza, “a proposta é começar na Micro bacia do Rio dos Índios, que é uma das maiores produtoras de leite no município”.
O professor destacou a importância de relembrar o
histórico do projeto de produção de leite a base de pasto, “que iniciou em Santa Rosa de Lima, em 1998 e que
hoje resulta neste novo projeto piloto”. Destacou, o que
para ele são “peculiaridades” do município. “É a Capital
Catarinense da Agroecologia; está localizado na região
produtora de leite que mais cresceu no Brasil nos últimos dez anos; é uma região importante e estratégica
que tem um trabalho com agroecologia, o que acontece
aqui as pessoas procuram saber e copiar”.
O desafio
Relembrando as fases do projeto, o professor relata, “em 1998, quando começamos a trabalhar aqui, a
produção de leite passava por uma crise, o agricultor
estava descapitalizado, abandonando a produção. Era
uma angústia. Então o professor Wilson [Schmidt] disse
‘vamos levar a produção de leite a pasto para SRL’. Foi
um projeto entre UFSC, Agreco e Prefeitura Municipal. A
ideia era repensar o modelo de produção de leite. Tudo
foi realizado de forma participativa, com projetos de
campo envolvendo acadêmicos e agricultores”.
na região Sul. Desde então, a produção a base de pasto realmente se popularizou. A Epagri institucionalizou
para todo o estado este programa que começou aqui
em SRL, com um grupo pequeno”.
Resultado
Os resultados deste primeiro experimento, um deles
realizado na propriedade do agricultor João Herdt, são
relatados por Abdon. “Em dois anos, a propriedade passou de uma produção média de 50 litros de leite por dia,
para 120 litros. De sete vacas passou para 12. Gastava
oito quilos de silagem, passou a gastar quatro. Ganhava
R$14,00 por dia e passou a ganhar R$36,00”. O professor diz que, no começo, “a ideia era tachada de louca.
‘Aqueles cabeludos vão acabar com a propriedade do
João’. Dois anos depois o João estava dando palestra.
Foi um êxito porque a gente terminou em 2000, com
quatro projetos pilotos e provou-se aqui que a produção
de leite a base de pasto deixou de ser impossível”. O professor destacou ainda, “o que deve ser sempre lembrado, no início dos anos 2000, o laticínio Geração, aqui de
Santa Rosa de Lima, foi o primeiro laticínio com certificação orgânica no Brasil”.
Pastoreio Voisin com Ilhas
O professor relata que no final de 2007, surgiu a ideia
de trabalhar também a recuperação de matas ciliares.
“A gente fez um questionário com os produtores de leite
e todos eles mencionaram a falta de sombra como o
principal problema no pastoreio. 90% responderam que
plantariam árvores nativas nos piquetes. Aí iniciamos
o projeto Pastoreio Voisin com Ilhas, onde a meta era
sombrear pelo menos 20% da pastagem em dois anos,
com plantas nativas que geram renda extra e provêm
por serviços ambientais. Implantar 50 núcleos de árvores por hectare, 30% com palmeira Jussara, 10% banana
e 60% mata nativa. Para Abdon, são três as vantagens
do projeto, sombra em dois anos, renda extra e aumento
da produção de serviços ambientais.
Começou aqui e virou programa na Epagri
Em 2004, a Epagri passou a apoiar de forma institucional o projeto de produção de leite a base de pasto.
Rememora Abdon, “o presidente da Epagri era pai de um
estudante e tinha visto o filho implantar o sistema na
propriedade. Ele sugeriu que aplicássemos o programa
O desafio atual
Abdon diz que o foco agora está “na questão da
provisão por serviços ambientais. Se o agricultor vai
proteger a mata ciliar, se o agricultor vai ter o sistema
silvipastoril que vai sombrear a vaca, mas também vai
produzir o fruto, aumentar a biodiversidade, vai sequestrar o carbono, isso são serviços ambientais, então queremos encontrar formas para que o agricultor seja remunerado por isso”.
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
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Os benefícios são para todos, mas quem vai pagar?
Joshua Farley é professor na Universidade de Vermont e prevê um cenário
drástico para o ecossistema se o modelo de produção continuar sendo de
forma convencional. “A ONU prevê que a
demanda e o preço por comida vão aumentar. Vai diminuir a produção e quem
vai sofrer são as pessoas mais pobres.
O mercado da comida é para quem paga
mais, não importa se as pessoas estão
passando fome, importa se as pessoas
podem pagar”.
Ao mesmo tempo, diz ele, o código
florestal restaura a mata nativa em lugar
de produzir comida. O Economista avalia,
“vamos supor que no país todos os agricultores cumpram o código florestal, vai
resultar em muitos benefícios, mas quem
vai pagar esta conta? São os agricultores,
que tem que sacrificar a renda deles. Mas
Isso não é justo, quando os benefícios
são para todos”, enfatiza.
Para Joshua existem muitas maneiras de restaurar os serviços ambientais
e a agricultura agroecológica familiar é
uma delas, “você convive com mais ser-
viços ambientais, reduz os insumos, aumenta a produção de comida, que é bem
mais saudável e os agricultores também
ficam mais saudáveis, e as pessoas estão se dando conta que aquele a comida
cheia de agrotóxicos é menos saudável,
causa problemas sérios com os hormônios das crianças e mexe realmente de
uma maneira muito séria”.
Após a palestra Joshua
falou, com exclusividade,
a reportagem do Ronco
do Bugio.
tóxicos. Aqui se cria uma agricultura que
para mim é rara encontrar, quando se
acha ganho/ganho, os dois lados, meio
ambiente e agricultura. Eu admiro a coragem dos agricultores que apostaram e
ganharam. ”
O Ronco – Quais suas expectativas
com relação ao projeto ser implantado
aqui em Santa Rosa de Lima?
Joshua Farley – É a terceira vez que
estou aqui e estou muito impressionado
de ver os jovens. Em geral, no mundo
inteiro o agricultor está ficando mais e
mais velho e os jovens não querem ficar,
então é ótimo que aqui eles continuam.
Aqui eu vejo que as pessoas estão adotado sistema agroecológicos que são melhores para o meio ambiente, e também
estão aumentando a renda e melhorando
a qualidade de vida, pois não usam agro-
O Ronco – Você sempre fala na crise
por comida. Que o modelo de agricultura convencional é a pior ameaça para o
ecossistema.
Joshua Farley – Para mim, o problema mais sério que o mundo enfrenta é
o valor marginal da comida, 100 calorias
para quem está morrendo de fome é
imensurável e, ao mesmo tempo, se diz
que a pior ameaça ao meio ambiente é a
agricultura, ameaça para a biodiversidade, usa mais agua doce, emite mais nitrogênio. Os cientistas estão dizendo que o
excesso de nitrogênio e até mais prejudi-
Depoimentos
gostei muito quando vi que SRL é a capital
da Agroecologia de SC. Uma coisa muito
boa. Em Cuba, nós estamos tratando que
a produção agropecuária seja agroecológica. Nos anos 60, 70 era muito insumo,
agricultura da revolução verde com muito
dano ao meio ambiente. Agora estamos
preconizando que a agricultura seja agroecológica e me sinto muito feliz quando
Jesus Iglesias Gomes, da Estação
experimental Índio Hatuey, da Universidade Matanzas, em Cuba, faz pós-doutorado na UFSC, participou do encontro e falou a reportagem do Rondo do Bugio. “Eu
Ético e legal
O pesquisador diz que os serviços
ecossistêmicos devem ser garantidos,
em primeiro lugar, eticamente, “é uma
obrigação do agricultor pensar em si, nos
filhos e netos, nos vizinhos, no bem-estar do ser humano”. Em segundo lugar,
ele aponta para a legalidade, “tem que
ter a obrigação do beneficiário de compartilhar os custos. Uma maneira cooperativa, onde os dois lados contribuem
para soluções e compartilham os custos.
Não é justo só o agricultor pagar pelos
benefícios que são para todos”. Joshua
resume, “estes serviços ambientais devem ser pagos aos provedores, ajudando
agricultores a adotar sistemas agroecológicos que cumprem com o código florestal. A ideia é ter mais comida saudável
e produzir mais serviços ecossistêmicos,
aumentado a área de APP da propriedade”.
Para melhorar a vida
“O PSA poderia ser uma ajuda para
pesquisa técnica e investimento sem
risco para o agricultor. Se não deu certo, ele não pode perder. O risco deve ser
compartilhado. Outra questão é criar um
fundo rotativo que empresta o dinheiro
para o agricultor implementar o sistema.
Quando o sistema começa a render, ele
paga o fundo e este recurso vai para outro agricultor ou para ele mesmo.”
Joshua diz que a meta é desenhar um
sistema em que os beneficiários dos serviços ecossistêmicos que são governos,
ONGs, empresas, donos de hidrelétrica,
possam contribuir. SRL seria um projeto
piloto excelente, é a capital da agroecologia e se a política funciona e os agricultores quiserem vai ser muito bom”.
cial que o carbono. Então a agricultura é
a pior ameaça para o ecossistema e os
serviços ecossistêmicos são essenciais,
não se sobrevive sem eles, mas também
não se sobrevive sem a agricultura. Com
a agricultura convencional, o mercado
não pensa em quem fornece serviços
ecossistêmicos.
Joshua Farley.
Produção agroecológica
O pesquisador avalia que os governos
do Brasil, EUA e Europa estão investindo
muito dinheiro para a produção de alimentos de forma convencional, “e conseguiram aumentar radicalmente as colheitas, mas ninguém investiu muito na
produção agroecológica. Precisa investir
e investir nas ideias, nas técnicas, aprender e aplicar. Aplicando você melhora
para os agricultores e são eles que vão
dizer o que funcionou e porquê. Se você
investe em Jussara precisa de sete anos
para produzir”. Joshua resume, “o problema com a produção agroecológica é que
tem pouco dinheiro investido na pesquisa, no desenvolvimento e na aplicação”.
O Ronco – E tem um prazo para isso
se concretizar?
Joshua Farley – Eu vejo aqui uma ci-
dadezinha que está indo em frente, procurando soluções, vão tentar, vão falhar,
vão aprender e vão melhorar. Porque para
mim não tem opção, o sistema atual é totalmente falido. No curto prazo, vai ter comida, mas no longo prazo, quando você
acaba com os serviços ecossistêmicos,
acaba com a agricultura também. Aqui
estão procurando uma solução antes
que a crise realmente pegue.
Temos que procurar soluções, então
eu estou muito animado e fazer deste
projeto grande para minhas pesquisas. É
uma área que está procurando soluções.
Estamos indo em frente. Agora também
mais pessoas estão vindo e se interessando nisso, tem um grupo da Universidade de Michigam, já temos uma bolsista aqui trabalhando, o projeto deve ter
bolsas de doutorado dos EUA para aqui
também.
visito um lugar onde as pessoas também
estão muito interessadas em agroecologia. Este clima que existe de colaboração,
intercâmbio entre diferentes instituições,
EUA, Cuba, Espanha, Brasil, muito bom
para o desenvolvimento da agricultora
não só deste município, mas também
para o país e para o mundo”. Jesus destacou também a participação dos jovens,
“eu aprendi muita coisa com os produtores, como eles se envolvem, ver rapazes
de 15 anos que falaram muito bonito
quando expuseram. Gostei muito do encontro. Em Cuba também passamos por
este processo que os jovens foram para
cidade. Agora existe uma nova reforma
agrária, o governo está oferecendo terra
em usufruto e como a produção agrícola
O Ronco – Qual seria a saída?
Joshua Farley – Agora a gente tem
uma solução. Essa compensação por
Serviços ecossistêmicos. Ela não precisa
ser monetária, mas tem que ser uma maneira de compensar, de melhorar a vida
do agricultor que fornece os serviços
ecossistêmicos.
segue
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de Santa Rosa de Lima
Jornalista Responsável e Editora: Mariza Vandresen
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O Ronco do Bugio é uma publicação mensal da Editora O ronco
do bugio. Só têm autorização para falar em nome do O Ronco do
Bugio os responsáveis pela Editora que constam deste expediente.
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Tiragem desta edição: 1000 exemplares
Circulação: Santa Rosa de Lima (entrega gratuita em domicílio). Dirigida, também, a prefeituras, câmaras e veículos de comunicação
do Território das Encostas da Serra Geral e a órgãos do Executivo e
Legislativo estadual e federal.
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Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
REPORTAGEM
segue
Mariza Vandesen
em Cuba é muito rentável, para os jovens
é uma boa oportunidade de ganhar mais
dinheiro e existe um movimento de muitos jovens que estão voltado para a roça”.
José Luiz Roecker Herdt tem 16
anos, é filho dos agricultores Dauri Herdt
e Cláudia Roecker Herdt, estuda no Ensino Médio e mostra-se bastante atento ao
assunto. Nas plenárias, durante o dia de
campo, José apresentou as discussões
com argumentos bem consistentes. Pro-
curado pela reportagem, José Luiz enfatizou, “este projeto piloto visa reforçar o
projeto de manter a mata ciliar nos arredores das nascentes, córregos, rios, e
reforçar os sistemas de pastoreio voisin
com núcleos de matas nativas. Favorecendo assim, sombra para os animais e
oferta de serviços ecossistêmicos”.
Sobre o dia de campo, o jovem agricultor avalia, “tivemos uma palestra sobre
o CAR (Cadastro Ambiental Rural) que foi
bastante esclarecedora, infelizmente os
gráficos mostram que o Estado de SC
tem o menor índice no momento, menos
de 30% dos agricultores e pecuaristas fizeram o cadastro”.
Segundo o jovem, “o foco maior do dia
de campo foi reunir os agricultores, que
divididos em grupos menores discutiram
várias questões ligadas a mata ciliar, a
biodiversidade, aos serviços ecossistêmicos e a implantação do projeto piloto. Para nós foi muito bom, pois o pensamento que tínhamos sobre isso ficou
mais claro e pudemos ouvir as diversas
opiniões. Alguns agricultores são a favor,
pois a mata ciliar vai ajudar a manter o
nosso ar mais puro, melhorar a biodiversidade e aumentar os serviços ecossistêmicos. Outros agricultores são resistentes a ideia, pois muitas propriedades
são cortadas por rios e córregos, e se o
agricultor respeitar a distância disposta
na Lei, ele perde entre 10% e 30% de sua
área produtiva”.
política de transferência de renda. Apesar do nome ser “pagamento” por serviços ambientais, não necessariamente há
uma relação econômica. Na relação entre o usuário e o provedor, o importante é
que há algum tipo de compensação pela
provisão do serviço ambiental, podendo
ser melhorias nas propriedades, insumos, cercas, mudas, benefícios fiscais
e diversos, qualquer outro tipo de troca.
Um PSA pode ser comparado a um seguro de vida, em que há um valor simbólico
pela vida, que nunca chegará ao que uma
vida realmente vale. Assim, o valor do
serviço ambiental nunca chegará ao que
realmente vale.
A SDS pretende fomentar a criação de
relações de PSA locais e regionais, governamentais e privadas, auxiliando técnica
e financeiramente a estruturação. Em
resumo, um usuário interessado em implementar um PSA procura a SDS e esta,
o auxilia em sua estruturação e na busca
de novas parcerias técnicas e financeiras.
do Estado?
Daniel Casarin – Não há dificuldades
de expandir as ações de PSA em Santa
Catarina desde que haja a figura do usuário que irá ser o principal responsável
pela implementação. Com esta estratégia de implementação da Política de PSA
temos a possibilidade de atingir todas as
regiões do Estado.
Políticas Públicas
A Lei n° 15.133, de 2010, institui a Política Estadual de Serviços Ambientais e
regulamenta o Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais no Estado de Santa Catarina (Pepsa). Segundo
a lei, 2% dos recursos para financiamento
do Programa são oriundos do Fundo Especial do Petróleo e o Chefe do Executivo
fica autorizado a promover as adequações no Plano Plurianual e remanejar as
dotações orçamentárias necessárias à
implementação da Lei.
Embora no Estado o pagamento por
serviços ambientais já esteja previsto por
lei, as iniciativas de financiamento público ainda são bastante acanhadas. A primeira delas foi assinada em 1º de abril
deste ano. Trata-se do projeto Corredores
Ecológicos do programa SC Rural, onde
agricultores recebem uma ajuda de custo
para preservar florestas nativas e recuperar áreas degradadas em suas propriedades.
Para saber mais detalhes de como o
programa é desenvolvido no Estado, a
reportagem do Ronco do Bugio, encaminhou entrevista, via e-mail, a assessoria
do Secretário de Desenvolvimento Sustentável do Estado, e obteve a resposta
do Diretor de Mudanças Climáticas da
SDS, Daniel Casarin Ribeiro.
O Ronco – Quais foram os órgãos/
entidades envolvidos para delinear a Política Estadual de Serviços Ambientais
Programa?
Daniel Casarin – O início da discussão sobre a Política de Pagamento por
Serviços Ambientais foi por volta de 2008
envolvendo diversas instituições como
as Secretarias de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS), da
Agricultura e Pesca (SAR) e da Fazenda
(SEF), além da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), da Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa
Catarina (Epagri), Polícia Militar Ambiental, Organização das Cooperativas do
Estado de Santa Catarina (Ocesc), entre
outras. A Lei nº 15.133 foi instituída em
2010.
O Ronco – De onde surgiu a ideia de
criar o Pepsa e como ele foi construído?
Daniel Casarin – O objetivo maior de
executar uma Política de Pagamento por
Serviços Ambientais (PSA) é promover a
conservação de áreas naturais e sua biodiversidade em diferentes regiões do Estado de Santa Catarina, por meio de alguma compensação (técnica, financeira, ou
outro tipo de incentivo) à quem desenvolve ações de preservação, conservação e
restauração florestal. Há diversas experiências de sucesso no mundo, como na
Costa Rica, México e França, e estamos
adequando para que o programa tenha
sucesso também em Santa Catarina.
A Diretoria de Mudanças Climáticas da
SDS reuniu parceiros com experiência
consolidada em ações de PSA, como a
Fundação Grupo O Boticário, para avaliar
a Lei e propor as ações necessárias para
sua implementação. Foi realizada uma
audiência pública por um período de 45
dias e incorporadas as contribuições. O
próximo passo é encaminhar estas alterações para a Assembleia Legislativa,
para aprovação.
O Ronco – Quais são as experiências
concretas já financiadas pelo Governo do
Estado em relação a pagamento por serviços ambientais?
Daniel Casarin – Em Santa Catarina
há algumas ações já em desenvolvimento, com destaque para as experiências
de: São Bento do Sul, Balneário Camboriú, e a experiência dos Corredores Ecológicos Timbó e Chapecó, em que o serviço ambiental é a biodiversidade. Neste
último exemplo, três produtores rurais
de Passos Maia, no Oeste catarinense, e
outros três de Bela Vista do Toldo, no Planalto Norte, receberam pagamentos pela
conservação de suas áreas.
Com a alteração proposta da Lei nº
15.133/2010, a intenção é fazer o Governo do Estado, por meio da SDS, ser o
orientador metodológico destas ações
e, por meio do Fundo Estadual de PSA,
aportar recursos de suporte das experiências em curso e para a criação de novas experiências, principalmente ao que
se refere à estruturação da execução.
O Ronco – Como funciona este pagamento aos agricultores ou preservadores? O que é preciso para participar do
programa?
Daniel Casarin – Em primeiro lugar é
importante ressaltar que PSA não é uma
O Ronco – Quanto o governo investe
(R$) neste programa? De onde vem os
recursos?
Daniel Casarin – Estamos aguardando a regulamentação da Lei. Por enquanto, trabalhamos com os usuários
interessados e os auxiliamos com mapeamentos, metodologias e busca de parceiros técnicos e financeiros.
O Ronco – Quais as dificuldades para
efetivar o programa para outras regiões
O Ronco – Que estratégia o governo
pretende utilizar para atingir cada vez
mais agricultores?
Daniel Casarin – Como mencionado anteriormente, o PSA é uma Política
de conservação ambiental, portanto não
atinge apenas agricultores, mas também
todo proprietário de terra que possua
uma área natural em estágio avançado
em sucessão e que seja indispensável
sua preservação. Com a proposta de fomentar usuários de serviços ambientais
se pretende atingir o maior número de
áreas naturais em Santa Catarina com
ações por todas as regiões.
O Ronco – Quais as perspectivas, expectativas e prazos para o programa ser
verdadeiramente consolidado?
Daniel Casarin – As ações de PSA já
iniciaram no Estado, como mencionado
anteriormente. É uma das metas da Diretoria de Mudanças Climáticas continuar
dando o suporte necessário às ações de
PSA já existentes e auxiliando àqueles
usuários que nos procuram para estruturar tecnicamente suas ações.
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
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Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
política
Mariza Vandesen
Para que consultar o povo?
Na Sessão Legislativa do dia 14 de julho, os vereadores da bancada PP/PT apresentaram o
um requerimento solicitando a realização de uma Audiência Pública para discutir com gestores
municipais e comunidade, o local mais apropriado para a construção da garagem municipal
para a frota de veículos, máquinas e demais implementos das secretárias de Transporte e Obras
e de Agricultura”.
O objetivo dos vereadores era levar a discussão a público. “A administração tem a intenção de
construir uma garagem municipal, uma obra necessária e que conta com o apoio de todos os
vereadores. Porém, nós acreditamos que o local de construção da garagem não é o melhor, pois fica
ao lado de onde está sendo construída a nova Unidade de Saúde”. Os vereadores argumentaram,
“como o município possui um terreno no final da rua Henrique Heidemann, afastado da região
central, isso tiraria o barulho e o movimento de máquinas ao lado da nova Unidade de Saúde”.
Salvo melhor juízo
A praxe é colocar o requerimento
em votação ou encaminhá-los para as
comissões, mas não foi esta a ação do
Presidente Claudiomir Mendes (Boneco).
“O entendimento que a gente tem é que
a comissão deveria ter marcado esta
audiência pública”. Boneco pediu ajuda
a assessoria jurídica da Casa, para que
fizesse uma explanação “da parte legal
de aceitar ou não o requerimento”. O advogado da Câmara, Laurimar Gross acatou o pedido, “no capítulo [do Regimento
Interno] em relação a audiência pública, a
competência para realiza-la é das comissões permanentes e não das bancadas”.
O advogado também argumentou, “a
realização das audiências públicas, infelizmente, o regimento interno condiciona
para as entidades civis e filantrópicas. Ela
não condiciona outras entidades ou comunidade em geral”.
Por fim, concluiu, “a matéria não observa os requisitos constantes no regimento, salvo melhor juízo, senhor presidente”.
Liberdade a prefeita
O líder de bancada de situação, Leonízio Laurindo (Zolho) manifestou-se, “eu
peço que coloque em votação e peço aos
vereadores da minha bancada que votem
contra. Porque em outras vezes se passou vista grossa, então tem que dar liberdade a prefeita. Cabe a prefeita construir
onde ela acha melhor”.
Participar da discussão
O vereador Salésio Wiemes argumentou, “é uma sugestão que a gente traz
para discussão. E o requerimento não
tem nenhuma ilegalidade com relação ao
Regimento Interno, ele é apresentado e
a mesa tem que colocar em votação ou
encaminhar para as comissões. A gente
não quer briga, a gente quer participar da
discussão. Ninguém é contra, pois sabe-
Local onde a prefeitura pretende construir a garagem municipal fica ao lado da futura Unidade de Saúde.
mos que é uma obra importante, a gente
está dando apenas uma sugestão que,
na nossa opinião, poderia ser a melhor.
Confiança no jurídico
O debate ficou bastante acalorado, o
presidente cortou os pronunciamentos
e concluiu. “Eu não vou aceitar o requerimento. Eu tenho que seguir o jurídico,
tenho que ter confiança nele”. E argumentou, “Hoje de manhã, conversado
com a prefeita, naquela área [no final da
rua Henrique Heidemann], ela tem intenção de fazer habitação popular. Então vai
ser difícil mudar, eu não vou dizer que é
o melhor local para a garagem, mas não
tem outro terreno”.
Jeitinho de barrar
O vereador Salésio lamentou a maneira como o assunto foi tratado. “Respeito
a decisão, mas esperava que fosse colo-
cado em votação ou encaminhado para
as comissões. Não é primeira vez que
isso acontece, quando o assunto é polêmico. Não sei se é medo, eu penso que
não há motivos para ter medo, mas sempre se dá um jeitinho de barrar”.
Por fim, o vereador solicitou parecer
jurídico por escrito, os motivos pelo quais
o requerimento pedido a audiência pública não foi colocado em deliberação.
“Como da outra vez, eu pedi e não recebi, eu gostaria de uma justificativa, pois
isso é coisa que a gente não consegue
entender”.
Opinião pública
A reportagem do Ronco do Bugio foi
às ruas para ouvir a opinião das pessoas sobre garagem ser a construída ao
lado da nova Unidade de Saúde. Apesar
de ninguém querer a identidade revelada
no jornal, as respostas foram unânimes,
“vai ser ruim por causa do barulho”, “muito movimento de caminhões e máquinas
pesadas”, “ainda mais que terão salas
para internação na Unidade”, “vai faltar local para estacionamento”, uma saída ou
entrada de emergência pode complicar a
agilidade de operação dos profissionais
de saúde”.
Facebook
Na tentativa de realizar uma enquete,
via rede social, apenas três santarosalimenses opinaram sobre o assunto.
Outra tentativa e mais cinco pessoas comentaram o assunto. Num total de
dez, nove manifestaram-se favoráveis a
construção da garagem no final da Rua
Henrique Heidemann e um [morador da
Rua Henrique Heidemann] apoiou a construção ao lado da Unidade de Saúde.
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
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Poder Público
A decisão está com a Prefeita
Na manhã do dia 31 de julho, a reportagem do Ronco do Bugio realizou uma entrevista com a prefeita Dilcei Heidemann.
Em seu gabinete, a Chefe do Executivo respondeu aos questionamentos sobre o tema.
O Ronco – Os vereadores de oposição apresentaram, em meados de julho,
um requerimento, negado, solicitando a
realização de uma audiência pública para
discutir o melhor local para a construção
da garagem municipal. A senhora foi citada naquela Casa Legislativa, que esta
decisão era sua. Qual sua decisão sobre
este assunto?
Dilcei Heidemann – Eu não tenho conhecimento desta audiência. Não posso
te falar sobre isso. Referente a construção nós temos um projeto para construir
a garagem, onde era a antiga garagem.
O Ronco – A senhora acha que isso
pode atrapalhar o silêncio e os trabalhos
na UBS?
Dilcei Heidemann – O que que eu vou
te dizer? Vamos construir para ver. Não
tenho ideia se vai atrapalhar ou não vai
atrapalhar. Hoje estamos buscando o
recurso através do Badesc e nós temos
prazo, nós temos que protocolar hoje, se
não é um recurso que não vai acontecer.
E o projeto tem que estar pronto.
O Ronco – Os vereadores sugeriram
o terreno na Rua Henrique Heidemann,
afastado da área Central?
Dilcei Heidemann – Também pensei,
mas neste momento é o que nós temos
pronto, que nós podemos buscar é o que
está pronto. O que não está pronto, infelizmente não vai acontecer neste momento. Porque tudo é prazo.
O Ronco – Numa pesquisa informal
a maioria das pessoas avaliam que seria
melhor construir a garagem fora da área
central. Não daria para readaptar o projeto?
Dilcei Heidemann – Não vou dizer
que está contemplado. Não temos nada
afirmado. Nós temos um projeto e nós
queremos buscar este recurso. Vamos
apostar que dê certo. Pode atrapalhar e
pode não atrapalhar. É só fazendo para
saber o que vai acontecer.
O Ronco – Mas existindo o risco de
atrapalhar...
Dilcei Heidemann – Hoje eu não vou
dizer se vamos fazer ou não fazer, porque
não temos o recurso. Se for contemplado
será construído ali e se não tiver aprovação nada vai acontecer. Lá em cima nós
não temos espaço. Foi cedido uma parte
para um, uma parte para outro. A parte de
baixo, tem a oficina do Wando e no lado
de cima, a madeireira, então ele não contempla uma garagem. Nós não temos
em um espaço adequado para fazer uma
garagem.
Também para habitação, tem só
aquela rua, cabe só umas cinco casas.
Prefeita Dilcei Heidemann.
O Ronco – Então a intenção é fazer
habitação social naquela área?
Dilcei Heidemann – E tenho vontade,
mas fazer e vontade... Tem que ter projeto também. Tu sabes como funciona. No
governo federal, tudo parado. É pensamento, mas não está acontecendo. Hoje
foi pensado em fazer a garagem lá, mas
o terreno, o espaço, tudo isso é preocupante.
O Ronco – Em termos de espaço, a
área na Henrique Heidemann é maior.
Dilcei Heidemann – Mas isso precisa
todo o projeto de infraestrutura. Precisa
projeto e nós não temos. Não vou dizer
que não poderia ser contemplado lá, mas
nós não temos projeto, então não tem. E
é interesse buscar este recurso agora e
nós temos que buscar onde tem projeto.
O Ronco – Mesmo podendo ser problema para a população.
Dilcei Heidemann – Eu não vejo como
problema, eu vejo como uma solução.
Mas aqui dentro [da prefeitura] também é o mesmo problema, isso já foi
discutido. Nem todo mundo é a favor. Foi
discutido muito, muito, mas neste momento é o que nós temos para trabalhar.
A gente está bastante preocupado em
fazer as coisas de um modo que a saída
das máquinas não seja do lado. Tem que
ter o espaço. Trabalhar da melhor fora
para uma [edificação] não atrapalhar a
outra.
O Ronco – Numa pesquisa rápida que
a reportagem deste jornal fez, a maioria
da população é contrária a ideia. E se
fosse ouvir a população em Audiência
Pública?
Dilcei Heidemann – Neste momento
eu estou preocupada em buscar o recurso. Nós fizemos vário debates, conversamos com os vereadores, já conversamos bastantes vezes, eles veem que o
momento de buscar o recurso é agora.
E quem que disse que a maioria não
quer? Nós vamos esperar acontecer, se
vier. Eu quero o melhor para o município.
Ninguém me falou isso, que é o pior, eu
quero ouvir da população.
O Ronco – Eu, como repórter, ouvi a
população e como cidadã Santarosalimense também tenho minha opinião formada sobre o assunto.
Dilcei Heidemann – Tu não representas a população e eu tenho bastante contato com a população. Eu estou preocupada com o município (...). Eu vou fazer
o que o povo quer, se o povo falar para
mim que não quer, eu vou ouvir o povo.
Ninguém veio me dizer, ‘Dilcei não faz’!
8
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
Meine Meinung Minha Opinião
Wilson Feijão Schmidt
Onde é a ilha?
Meus leitores devem ter percebido que me distanciei um tanto de Santa Rosa de Lima e de suas questões locais.
Meu trabalho me fez e me faz permanecer cada menos tempo na Capital da Agroecologia; e cada vez mais na Capital do Estado e na Ilha de Santa Catarina.
Isso me levou à pergunta que dá o título a essa nota. Leio os jornais daqui (Florianópolis e São José) e o que vejo
são manchetes como: “Prefeituras enforcadas”; “Prefeituras cortam gastos e cargos para driblar queda na arrecadação”; “Florianópolis enfrentando a crise”; “Prefeita pode demitir”; “Prefeita arrocha”; “Capital já perdeu 50 milhões de
arrecadação”.
Como em Santa Rosa de Lima, tudo parece continuar normal na administração pública, pelo jeito – e felizmente
– a ilha de prosperidade, no Brasil, está nesse pequeno município rural situado nas Encostas da Serra Geral.
dimento aos munícipes.
São José: a ordem também é
cortar gastos
A administração municipal
de São José afirma, da mesma
forma, que está vivendo uma
grave crise financeira. Segundo
a prefeitura, a arrecadação vem
caindo R$ 4 milhões por mês. A
prefeita já mandou suspender
a “avalanche de horas extras”
e economizar em xerox, combustível e, até, energia elétrica.
“A crise está chegando a São
José”, disse o secretário municipal da fazenda.
Jornais da Grande Florianópolis apontam crise financeira e “cortes”
nas prefeituras.
Floripa: projeção de queda na
arrecadação e as medidas tomadas
A Prefeitura de Florianópolis
afirma que está diante de um
cenário econômico cada vez
mais preocupante, com queda
global de arrecadação, contingenciamento dos investimentos
e secamento das fontes de repasses. Por isso, tomou medidas, como realizar uma reforma
administrativa, exigir o controle
“da frota” e, de forma geral, de
gastos, efetuar a revisão dos
contratos em vigor, promover o
corte de horas-extras e “a indução ao consumo controlado”. O
prefeito afirma que se prepara
para um cenário em que o município perderá 12% da arrecadação nos próximos doze meses.
No caso de Florianópolis, isso
corresponde a R$ 100 milhões.
Nesse quadro, o prefeito Cesar
Souza Junior tem o objetivo
de economizar R$ 10 milhões
por mês nesse mesmo período
de um ano. Segundo ele, isso é
possível sem prejudicar o aten-
Semelhanças ou diferenças
É interessante comparar os
números dessas duas prefeituras com aqueles de Santa Rosa
de Lima. Para isso, fiz uma consulta no Portal das Transferências constitucionais de Santa
Catarina (disponível em http://
receitas.fecam.org.br).
Em Florianópolis, de 1 de
janeiro a 31 de julho, comparando-se 2014 e 2015, a arrecadação total caiu 3,7%. São nove
milhões (R$ 9.085.753,22) a
menos. Em São José, caiu 1,3%.
O que corresponde a menos um
milhão e oitocentos mil reais
(R$ 1.831.359,93). Em Santa
Rosa de Lima, cresceu 3,3%. Ou
seja, esse ano, o município recebeu quase cento e noventa mil
(R$189.607,96) a mais que no
mesmo período de 2014. Será
que esses números, dadas as
proporções dos orçamentos,
são tão diferentes assim?
Mais perguntas
Sempre guardando as devidas proporções, é preciso
perguntar se essas diferenças
são suficientes para explicar
as disparidades nas posturas
das administrações municipais.
Seriam as prefeituras de Florianópolis e São José alarmistas?
Estariam elas escondendo suas
incompetências ou improbidades com esse argumento de
crise futura de arrecadação? Ou
seria a prefeitura de Santa Rosa
de Lima que não está prevendo
o que vem pela frente e está
sendo descuidada ou imprudente? Os leilões de veículos e equipamentos ditos “inservíveis”, realizados pela prefeitura, teriam
dado tanto fôlego assim para as
contas municipais? São apenas
perguntas.
(Des)orientação?
Não custa mencionar o lembrete que a Confederação Nacional do Municípios (CNM) fez aos
prefeitos, em relação ao Fundo
de Participação dos Municípios
(FPM). Diz a CNM que, historicamente, até o mês de maio
de cada ano, o FPM apresenta
crescimento. Porém, de junho
até outubro esse repasse é sempre menor. É bom recordar também que o FPM representa dois
terços da arrecadação de Santa
Rosa de Lima. A orientação da
CNM é que os prefeitos, dado o
cenário atual, controlem ainda
mais as despesas para enfrentar esses meses que virão.
Podemos, entretanto, estar
vivendo, de fato, numa “bolha”.
Imunes ao quadro nacional. Tomara!
Resistir...
Deste debate fica uma pergunta também para o colunista.
Tem sentido continuar escrevendo uma coluna n’O Ronco?
O que me interessou, por exemplo, a olhar esses dados de arrecadação e analisar a postura
das prefeituras foi pensar se a
administração pública de Santa
Rosa de Lima vai continuar sustentando “jornais” e “jornalistas”
de outros municípios, para que
eles escrevam só o que uma
certa pessoa quer e gosta. Um
gasto público, que poderia ser
usado melhor. Um gasto que é
feito para confrontar um jornal
produzido no município. O que
incomoda certos interesses é
que esse é um jornal que não se
vende. E não apenas no sentido
de que é entregue “de graça” aos
habitantes de Santa Rosa de
Lima.
... ao mal
Por isso, apesar de ter vários
motivos para desistir de usar
este espaço nobre para resistir ao mal, persistirei mais um
tempo. Entenda-se o mal como
o ataque feito, dia a dia, à cidadania e à coisa pública. O pior
mal que se pode cometer contra
uma população é, de forma contínua e fingida, fazer as pessoas
pensarem que recebem favores
de servidores públicos. E esse
mal precisa de resistência. Os
munícipes têm direito aos serviços públicos e é dever dos servidores – inclusive do prefeito
e dos secretários – assegurar
esses direitos.
Não sei quantos leitores tenho e nem quantos deles chegam até a essa altura de uma
coluna minha. Não escrevo
aqui para “aparecer”, como dizem alguns. Nem para ser “um
de fora, que caga regras”, para
usar a expressão “delicada” de
outro. Também não escrevo por
simples gosto de fazê-lo. Dado
o comportamento geral, é claro
que me pergunto se vale mesmo a pena.
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
9
Família SRL
Adolfo Wiemes
COMUNIDADE
RIO DO MEIO
Neste mês de agosto, que é o mês vocacional, seguimos neste espaço
relatando a história da primeira família cristã, formada por Adão e Eva.
Lembramos na última edição como eles foram expulsos do paraíso terrestre para este mundo. Pela desobediência a Deus pai, pecaram e não
podiam continuar mais lá, pois se tornaram impuros. Sofreram para trabalhar o solo. Plantar, cuidar, colher e comer para sobreviver, enquanto
que no Paraíso Terrestre estava tudo na mão, bastava colher e comer. Lá
viviam tão felizes. E neste mundo, existe aquele sofrimento. Mas, apesar
do sofrimento, se soubermos viver bem, também podemos ser felizes.
Adão se uniu a Eva
Com a ajuda de Javé Eva deu à luz a um filho homem, que chamaram de Caim. Mais tarde, Eva deu à
luz a outro filho, que chamaram de Abel. Abel tornouse pastor de ovelhas e Caim cultivava o solo.
Caim e Abel
Certo tempo depois, os dois irmãos resolveram
doar um pouco dos seus produtos a Deus, como
penitência. Caim ofereceu alguns dos produtos que
tirava da terra e Abel ofereceu uma de suas melhores
ovelhas.
Deus se agradou muito da oferta de Abel, que era
um homem bom e justo. Por outro lado, não gostou
da oferta de Caim, pois ele era um homem injusto e
ruim que, na maioria das vezes, queria saber de fazer
maldades. Com isso, Caim ficou com raiva de seu irmão Abel.
A vingança a Deus pertence
Tempos depois, Caim convidou Abel para dar
uma volta no campo e Abel aceitou. Afastados de todos, Caim se laçou sobre Abel e o matou. E saiu dali
muito triste.
Deus então perguntou: - Caim, onde está seu irmão Abel? Caim respondeu: - Pois sou eu, guarda do
meu irmão? E completou: Quem me encontrar se vingará de mim. Então Deus disse: - Ninguém se vingará
de ti, pois é a mim que pertence a vingança.
Na conta de Deus
Por isso, quando alguém nos faz mal, não devemos nos vingar dele, devemos perdoar e deixar a vingança na conta de Deus. Ele sabe melhor o que fazer.
Nesta história, Caim foi o primeiro criminoso e
Abel o primeiro homem a morrer.
Somos todos filhos de Adão e Eva
Mais tarde, Adão e Eva tiveram muitos filhos e filhas que se espalharam pelo mundo afora. Nós todos
somos filhos de Adão e Eva e somos também filhos
de Deus, nosso pai criador, pois somos imagem d’Ele.
Por isso, gostaria de deixar minha mensagem
para este mês vocacional, vamos viver bem, de acordo com a vontade de Deus e sempre.
Um bom mês e até a próxima edição.
COMUNIDADE
RIO SANTO ANTÔNIO
Mariléia Torquato | Carol Rodrigues
Nesta edição queremos homenagear os nossos colonos e colonas e lembrar de uma data muito importante, 25 de julho, quando festejamos com muita alegria o dia deles. Estes trabalhadores que enfrentam de tudo para produzir nosso alimento e esperam ansiosos por uma colheita farta.
Mesmo que muitas vezes, as chuvas ou os períodos de seca atrapalhem seu trabalho, eles não desanimam e todos os dias enfrentam a lida do campo.
Mesmo que nos dias de hoje, as tecnologias se
façam muito presentes no campo, com máquinas e
produtos que facilitam o trabalho dos colonos, o contato que se tem com a terra e a vida tranquila que se
tem aqui faz destes trabalhadores muito felizes.
Colonos felizes
Os colonos daqui são trabalhadores felizes, assim como tantos outros. Desenvolvem as lavouras
com todo amor e carinho.
Feliz dia do colono
Fica aqui as nossas felicitações pelo dia 25 de julho e também o nosso agradecimento especial aos
agricultores a e agricultoras, que desempenham uma
função tão importante na sociedade e muitas vezes
ainda são desvalorizados mediante outras profissões.
Ana Beatriz Kulkamp | Diana Kulkamp | Karine Neckel
“Se o campo não planta, a cidade não janta!”
Como neste mês comemoramos o dia do agricultor, não poderíamos deixar data tão importante passar em branco. Queremos prestar nossa homenagem
a essas grandes pessoas e para isso, fomos as roças
e quintais e colhemos um pouco do ponto de vista
das pessoas sobre a aquilo que é ser agricultor e viver da agrocultura.
“Hoje em dia, permanecer na roça esta cada vez
mais difícil. Falta muito apoio para os agricultores em
nossa região, por isso as pessoas estão abandonando o campo e indo para as cidades.
O agricultor tem pouco reconhecimento e geralmente, são lembrados apenas quando falta alguma
coisa na mesa. Hoje em dia não mexo muito com
a agricultura, não busco ajuda, sei apenas que tem
certo apoio, mas não sei explicar de onde vem, como
funciona e como realmente está. Mas a agricultura
é fundamental, pois se não plantarmos, as pessoas
que moram na cidade não terão nada para comer. Se
não for os agricultores o que será do desenvolvimento do país?”
Wilson Roecker
“Ser agricultor é gostar de mexer na terra, plantar
e acreditar que terá uma boa colheita. No dia-a-dia
passamos por dias difíceis, outros mais tranquilos.
Poucos são os que dão valor ao agricultor, mais nem
por isso desistimos do que fazemos. Quando acaba
uma colheita, já estamos planejando o próximo plantio. Sem agricultura ninguém vive, se todo mundo
abandonar a agricultura e for para a cidade, do que
viverão todas essas pessoas? Não terão o que comer,
se não tiver os agricultores para plantar. Em Santa
Rosa de Lima ainda temos um certo apoio, talvez, se
tivesse mais, muitos deles não estariam abandonando a profissão”.
Adriano Nack
“Comparado com antigamente ser agricultor mudou muito, a mão de obra diminuiu e está mais fácil
o trabalho do agricultor. Se ganha mais pelos produtos, mais ao mesmo tempo, gastamos cada vez mais
para produzi-los.
Na minha opinião ninguém valoriza os agricultores, a falta de apoio na agricultura é um dos principais
motivos. Espero que futuramente sejamos mais valorizados, para que ainda se tenha agricultores trabalhando nas comunidades”.
Antônio Adelino Loch.
Nossa singela mensagem aos agricultores
Eles trabalham em silêncio. Lutam sem parar por
melhorias, desde o preparo do solo até a colheita.
Muitos são responsáveis pela geração de emprego
e renda, construindo a grandeza do nosso povo. São
vários profissionais em um só, pois plantam, empreendem, inovam e administram. São a força no batente desde o amanhecer até o entardecer.
São corajosos, se revelam na tradição, cultura e
história. São guerreiros, enfrentam as dificuldades
climáticas, pragas e doenças. São inteligentes, não
se cansam de aprender, buscando sempre mais e
mais conhecimento. São alegres e divertidos. Problemas? Eles não se abatem por causa deles. Na realidade, eles os veem como desafios. São heróis. São
exemplo de vida. São o celeiro do mundo! Parabéns,
agricultores! Obrigado pelo pão nosso de cada dia.”
Texto - Ariádine Morgan.
10
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
MEIO AMBIENTE
Observação de Aves,
um potencial adormecido
Observação de Aves – Quem conhece preserva – foi o tema do minicurso ministrado pelo fotógrafo amador e especialistas em aves, Carlos E. Nascimento, da Associação Florianopolitana de Observadores de Aves – AFOA. Realizado nos dias
25 e 26 de julho na Pousada Doce Encanto, o evento teve como parceiros e realizadores a Editora o Roco do Bugio, a AFOA,
a Acolhida na Colônia, o Centro de Formação e Agroecologia Jean Yves Griot e a Pousada Doce Encanto. “A palestra foi realizada com o objetivo de apresentar a comunidade como o segmento de turismo relacionado a observação de aves vem
crescendo e as potencialidades que o município apresenta para a prática desta atividade”, diz Mariza Vandresen, jornalista
responsável pela Editora. Outro objetivo é mais concreto e já rende resultados, diz a jornalista, “com a vinda de Carlos Nascimento, estamos registrando e identificando as aves e locais onde elas são avistadas nas bordas e matas de SRL”.
Em bandos
Apesar da chuva que não deu trégua,
no sábado foi realizada uma saída a campo bastante produtiva na avaliação dos
participantes. Bandos de saíras de diversas espécies coloriram o dia, sabiás laranjeira e sabiás de coleira cantavam nas
árvores, beija flores sugavam néctar de
flores, gralha azul, sabiá-cica, um festival
de aves. Foi possível identificar mais de
vinte espécies apenas nos arredores da
Pousada. Para Carlos, “o local tem potencial enorme para desenvolver a atividade.
Tem pássaros aqui, que eu sei de observadores que atravessariam o mundo para
ver. É uma região que está em bom estágio de regeneração florestal, com trechos
de mata primária, Mata Atlântica, cuja
avifauna inclui mais de 600 espécies, das
quais cerca de 160 são endêmicas, isto
é, não existem em nenhum outro tipo de
ambiente no mundo”.
Primeiros registros
No wikiaves, a maior enciclopédia virtual sobre aves do Brasil, Santa Rosa de
Lima registra apenas duas observadoras
cadastradas até o momento. A cearense
Jane Crispim Smith, que reside no município há pouco mais de três anos, é uma
delas. Cadastrada no site desde julho
deste ano, Jane já registrou cerca de 30
espécies diferentes de aves.
Para ela a observação de aves é uma
surpresa a cada dia. “Quando você sai
para observar aves, você não sabe o que
vai encontrar, claro que tem as espécies
que são frequentes, mas a cada dia você
descobre uma espécie nova e este é o
encanto e o espetáculo que isso me proporciona”.
Turismo sustentável
No site, até agora, em Santa Rosa de
Lima foram registradas mais de 50 es-
pécies. Para Jane este número mostra
como o assunto é novo e precisa de uma
atenção especial, “principalmente para
os empreendedoras em Turismo, que
precisam encontrar atrativos para o turista ocupar de maneira mais legal o tempo
que passa em Santa Rosa de Lima. São
muitas espécies diferentes, eu tenho visto muitas delas”. Jane estuda a possibilidade de tornar seu hobby em negócio.
Pretende primeiro adquirir conhecimento
sobre as espécies remanescentes destas matas e futuramente, “quem sabe”
diz ela, “ser guia para observadores que
queiram observar aves aqui”.
Por: Jane C. Smith e Mariza Vandesen
A partir deste mês vamos dedicar este espaço para
publicar uma galeria de fotos das aves que habitam em
Santa Rosa de Lima ou que por aqui passam em distintas estações e correntes migratórias. Publicaremos espécies que já foram avistadas e registradas na enciclopédia digital sobre aves brasileiras, wikiaves. Esperamos
com isso, que nossos leitores possam conhecer mais
sobre nossa avifauna e nos ajudar a proteger estas espécies, registrá-las e identificá-las.
Quem conhece, preserva!
Nosso objetivo é conscientizar as pessoas de que as
aves soltas e vivas valem muito. Além do valor estético
da plumagem e do canto elas são muito importantes
para o equilíbrio da natureza.
Muitas são responsáveis pela dispersão das plantas,
outras têm papel destacado na polinização de flores e
elas ainda equilibram a cadeia alimentar, como presas
e predadoras.
Venha passarinhar
Quem quiser enviar um registro para esta coluna, pode
fazê-lo pelo e-mail: [email protected], ou
cadastrar-se diretamente no site www.wikiaves.com.br.
Lá podem ser postados e registrados imagens ou sons.
Mesmo que você não saiba identificar as aves, os passarinheiros de plantão farão isso para você.
Cadastre-se e venha passarinhar.
Quiriquiri
Corocochó
Tangará
É o menor dos falcões e
uma das menores aves de
rapina do Brasil. Ele captura
cobras, lagartos, roedores,
morcegos, pardais e filhotes
de pombos, ajudando a controlar a população de alguns
animais que, na ausência de
predadores, podem se tornar pragas indesejáveis em
áreas rurais e urbanas.
Espécie incomum e endêmica do Brasil. Encontrado exclusivamente do Espírito Santo ao Rio Grande do
Sul. Especialmente em áreas
de Mata Atlântica.
Habita palmitais e as proximidades da copa. Vive solitário no interior da floresta,
sendo mais ouvido do que
observado.
Também conhecido como
tangará-dançarino e dançador.
Seu principal hábito é a típica
dança pré-nupcial, onde os
machos se revelam verdadeiros acrobatas, enfileirando-se
vários deles num galho e exibindo-se ante a fêmea, um de
cada vez. Depois de executarem o rito, cada um, volta ao
fim da fila e espera a vez de
exibir-se novamente.
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Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
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PATRIMÔNIO SANTAROSALIMENSE
Seu Remi, o “Nono” do Pé da Serra
São 83 anos de convívio com a paisagem do “Paredão da Serra”.
Remi Bonetti, com som fechado no ‘e’ e com
dois ‘t’ no final, como ele faz questão de alertar.
Esse é o nome do “Nono”, como carinhosamente os italianos “tutti buona gente” se referem ao
avô. Ele já completou 89 anos e diz que vai longe. O que é importante porque ele é uma memória viva de Santa Rosa de Lima e, especialmente,
da localidade em que mora há 83 anos, hoje conhecida como Santa Bárbara. E ele nos ajuda a
explicar o porquê.
Esse quase nonagenário, além de ter uma boa
memória, é um ótimo contador de histórias e de
“causos”. Vamos recuperar algumas delas. Evitaremos, de propósito, os “causos” mais conhecidos. Como o da jararaca que deu uma “bocada” no dedo dele. Ou, o da mulher “possuída”.
Escolhemos registrar aquelas histórias que
ajudam melhor a conhecer e a entender os meios
e os modos de vida dos nossos ancestrais.
No tempo em que nós viemos para cá
[Por volta de 1933], era quase tudo mato. Já tinha alguns moradores. Era tudo italiano que morava aqui. Tinha cinco irmãos do meu pai vivendo aqui. Meu pai veio depois. Nós saímos lá do Rio Coral, das bandas de Azambuja. Eu nasci lá... Que
é para lá de Urussanga. Vim para cá com cinco para seis anos. Viemos andando. Tudo por picadas. Era um “barral”... Atolava
e só passava um animal. Ficamos uma semanada na casa de um irmão do pai. Ela ficava bem debaixo da Serra. Depois
viemos para cá. Para um rancho de madeira rachada e encostada, coberto de palha. Quando era no inverno, era aquele frio.
Mas, primeiro, tinha que fazer o desmatado para fazer as lavouras. O mato era derrubado a machado e o roçado feito a foice.
Três polentas por dia. E caça!
O fogão era feito com quatro forcas
plantadas no chão. Botava uns varões
de dois metros, cruzados. Depois, fazia
como uma tela e botava um carreiro de
pedra para a terra não rolar. Ali, quase
no meio, é que fazia o fogo. Os caldeirões eram pendurados em uma corrente, com um gancho.
Naquele tempo a italianada comia
três polentas por dia. De manhã, de tarde e de noite. Era com leite, com queijo,
com porco criado... E com caça: jacu,
jacutinga, tatú, porco do mato, paca...
De tudo! Caça dava fácil. E quem não
tinha uma espingarda... Tinha duas!
Tudo a cartucho. Mas a munição era
cara. Por isso, em Inhambu, o pai não
queria que atirasse. Quando a gente
ia para a roça, levava as espingardas.
Porque era de tudo: quati, paca, macuco... Nós fazíamos que nem os bugres: caçávamos para comer. Não era
para bonito, para guardar... Nada! Era
para comer!
Quem casa, quer casa
As famílias eram grandes e tinham
muitos rapazes novos. Quando terminavam as roças, esses rapazes serravam madeira a braço. Para vender
para quem precisava construir. E para
casar! Eu, meu irmão Reneu e minha
irmã Angélica éramos os mais velhos
e já estávamos meio grandinhos. E tínhamos vontade de casar num dia só.
O pai disse: ‘Mas é bastante... Aí, como
é que faz?’ Aí, ele trouxe um primo que
também sabia serrar. Pegamos a serra e o topeador. E fizemos um estaleiro provisório. Só para eu e o Reneu
aprendermos a serrar. Botamos um
cedrinho. Eu fui em cima. Nós ficamos
olhando como eles faziam. Tinha que
puxar a serra encostar na tora e o debaixo puxar. O de cima prumava a serra
e ela dava uma bocada bonita na madeira. Nós demos uma olhada e pegamos num já.
E nos metemos na luta. Nós tínhamos um matão bonito no lado da estrada. Fizemos um estaleiro lá. Cober-
to de palha, para poder trabalhar com
chuva. Trazíamos as toras de Canela,
com boi. E serrávamos. Em trinta dias,
serramos trinta e uma toras. Tudo em
tábuas de dois metros e meio. Faz
mais de 65 anos e as madeiras ainda
estão ali. Então, só faltava comprar os
pregos. Porque o pai era um carpinteiro bom. Daqueles de fazer casas, igrejas e salões [veja “Rodolfo Bonetti; o
carpinteiro de igrejas”, na página 16 da
Edição 24, de abril de 2015]. E podíamos construir em cima das terras dele.
Primeiro, fizemos a casa para o
meu irmão, lá no outro lado, onde tinha
água boa. Deixamos prontas a casa, a
varanda e a cozinha. No ano seguinte,
aqui, porque também tinha uma vertente boa, pudemos fazer a minha. Foi
só a casa e a cozinha. Foi assim. Uma
casa por ano. Porque construir tinha
que ser depois da lavoura. A da Angélica foi o noivo, o Paulinho Beckauser,
que teve que se virar. [risos] Aí, nós
pudemos casar. No dia 20 de junho de
1950, foi feito o casamento de nós três.
O topeador e a serra. À época, instrumentos fundamentais para trabalhar “a braço” a madeira.
segue
14
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
PATRIMÔNIO SANTAROSALIMENSE
segue
O casamento triplo do Seu Remi, mais um irmão e uma irmã.
A esposa
O primeiro alemão que veio morar no
meio da italianada foi o Antônio Loch.
Comprou uma área do Pedro Zapelinni
e veio. Ele tinha quatro filhos. A Almerinda, que foi a minha patroa, era pequeninha quando eles chegaram aqui. Ela era
minha vizinha. E eu a vi crescer... Até
ela ficar meio grandinha. Ia numa igreja
aqui. Ia numa igreja ali. Por uma brincadeira, a gente ia junto numas alturas [do
caminho]. Assim foi. Começamos a nos
gostar, deu certo e nós ‘se coloquemos’.
E como o sogro morava no terreno ao
lado, era perto para ir namorar. [risos]
Namoramos quase dois anos e depois
casamos.
A Almerinda foi mulher de muita luta.
Depois da roçada, eu dava uns talhos na
madeira embaixo e como a madeira ‘puxava’, tinha que entrar com topeador. E
topeador tem que ser puxado em dois.
E era ela quem me ajudava nessas derrubadas.
O começo
Eu não tinha terra e no meu quintal já
eram as terras do Pedro Zapelinni. Da-
qui para cima era bem dizer tudo dele.
Eu me interessei em saber como era
para comprar. O pai trabalhava fora e
nós que tínhamos que dar contas das
roças dele. Derrubar mato, roçar capoeiras e outras coisas... Então, eu engordava uns porcos e fazia um dinheirinho.
Quando nós casamos o pai foi morar no
Rio dos Índios. E depois, logo, foi para o
Paraná.
Quando eu casei, a patroa já trouxe
uma novilha e outras coisas. E eu já tinha umas novilhas e mais outras coisas. Tudo de vender papagaio. [risos]
O casal Remi e Almerinda na cerimônia
de Bodas de Ouro.
“Eu era papagaieiro”
Naquele tempo, tinha bando com mais de cem, duzentos papagaios. Que vinham da Serra, depois do pinhão. Tinha que
achar os ninhos dos papagaios. Éramos eu e meu irmão que achávamos os ninhos, tirávamos os filhotes e vendíamos lá em
Criciúma. Tudo à meia. Quando vendia, repartia o dinheiro. Isso dava um dinheiro bom! Vendia a 10 contos cada papagaio.
Comprava-se uma novilha por 40 ou 50 contos. Cada vez que ia vender, tinha que levar bastante.
No ano em que mais tiramos, foram 35 papagaios. Mais cem passarinhos verdes: baitaca, tiriva e periquito. Esses eu
vendia aqui. Na Santa Rosa, tinha um cara que me comprava. Tinha uns papagaios que eu também vendia por aqui. Mas, a
maioria era em Criciúma.
Pegar...
Para quem entendia dele, o papagaio
era fácil. Porque tinha que achar os ninhos dos papagaios. Eles fazem o ninho
nos ocos das madeiras [árvores]. Pode
ser bem no alto... O papagaio vai, acha
um lugar meio podre e rói e faz o lugarzinho em que a papagaia vai chocar os
ovos. O papagaio vai buscar o trato para
ela. Então, se eu vejo um papagaio que
voa sozinho... Ele vem de longe e vai baixando, baixando e faz uma volta – quéo,
quéo, quéo, quéo, chamando a papa-
gaia... Aí, ela vai encontrar com ele, para
receber o trato que ele trouxe. Depois que
a papagaia comeu, ela vai certinho onde
é o ninho. É nessa hora que a gente via
onde ela ia. Aí olhava para a madeira para
ver onde estava o oco. Na vez seguinte,
via direitinho onde ela entrava. Depois,
era só esperar os filhotes ficarem mais
grandinhos.
Mas, antes deles voarem. Eles já estão meio brabos, mas muito novinho
também não é bom! Nós costumávamos
tirar papagaios na época do Natal.
... cuidar...
Depois, trazia para casa. No começo, dá trabalho. Porque tem que tratar
ele na colher, três vezes ao dia, com um
mingauzinho, feito de farinha de milho e
água quente. Ela se ‘forma’ ligeiro. E fica
mansinho. Nós fazíamos um balaio de
taquara de mais ou menos um metro por
um metro e com uma altura pequena, de
uns 25 centímetros. Em cima, a gente
trançava com umas taquaras, que quase
dava para os papagaios botarem a cabeça. Com um serrote cortava fatias de
um daqueles xaxins grossos que tinha no
mato e forrava o balaio. Botava 10, 12, 15,
conforme cabia. Quando arriava o balaio,
você via a papagaiada tudo ali dentro.
... e vender
Nós pegávamos sempre o caminhão
que levava carga daqui para Criciúma.
Pousava lá num hotelzinho de uma mulher, que dava lugar para nós dormir e
outro para deixar os papagaios. No outro dia, ela esquentava água para nós
prepararmos o trato deles, para depois
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
ir vender. Nós não sabíamos muito bem
vender papagaio. O bom era pegar um
papagaio de cada vez e sair pela praça,
pela cidade. Mas como a gente não conhecia bem a praça e a cidade, a gente
já levou os dois balaios. E vendia cada
um a dez reais daquele tempo. Veio um
comprador. Daqui a pouco, mais outro.
E outro... Olha, nós ficamos acocorados
ali, vendendo. Era só nós entregarmos o
papagaio, receber o dinheiro e enfiar no
bolso. O povo ali era tanto que veio um
homem pedir para a gente mudar de lugar, porque nós estávamos atrapalhando
o trânsito. Ficamos ali, até vender o último. Mas foi um já. Acho que tinha gente
que ia na sapataria pedir caixa para botar
o papagaio dentro. [risos]
Deveria negociar cada papagaio
Olha, teve um homem que comprou
uma baitaca, como papagaio serrano.
Saiu e logo em frente vendeu e veio de
volta. Ele pediu: ‘Ei, você tem outro daqueles papagaios serranos?’ ‘T’aqui’, eu
disse. E ele falou: ‘Então me dá. Porque
eu vendi aquele, compro esse aqui e tenho mais dinheiro do que tinha antes’. Se
ele soubesse que tinha levado uma baitaca [por papagaio], não tinha gozado de
nós. [risos] Mas, ele mostrou que a gente
devia negociar papagaio por papagaio,
um de cada vez.
15
Quanto vale
Teve uma época que um papagaio
valia um salário [mínimo]. E hoje em dia
nem se pode mais pegar. Também, porque hoje quase não tem. Naquele tempo,
tinha muito. Hoje não se vê mais uma
mata virgem, com pau que nunca foi tirado. Não tem os paus para eles fazer ninho. Mas também tem pouco papagaio.
Às vezes passam alguns. Dá saudades
daqueles tempos. Era bonito!
Comunidade de Santa Bárbara
Numerosa e religiosa
A comunidade chegou a ter 24 famílias. E naquele tempo em que quem
não tinha dez filhos, é porque tinha doze.
Quando era os domingos, mesmo vindo
por picadas e estradas ruins, podia se dizer: ‘Olha, está faltando um daquela casa
lá’. E podia contar que ele estava doente.
Senão estava todo mundo na nossa igrejinha pequena e [com madeira] serrada a
braço.
Porque Santa Bárbara
Quem fez vir essa Santa Bárbara aqui
para nós foi o meu tio Domingo Bonetti.
Ele morava bem debaixo da Serra. Num
pasto grande. Aqui, no tempo quente dos
meses de janeiro, quando a trovoada descia brava da Serra e roncava, era relâmpago e raio para tudo quanto era lado! Num
domingo de tarde, o tio Domingos deixou
em casa toda a família grande que ele
tinha e foi na casa do tio Paulo. A casa
desse irmão era perto, ficava no mesmo
pasto. E veio uma trovada daquelas... Lá,
eles viram que tinha caído um raio perto.
O Tio Domingos esperou a chuva dar uma
acalmada e já foi para casa dele. Quando
chegou, viu a família toda espalhada pelo
chão da cozinha. Eles estavam em torno
do fogo para se esquentar e o raio desceu pela corrente que segura a panela,
bateu em cima do fogão e ... Todos eles
sentiram o choque. Era um queimado cá,
um queimado lá, tição por aqui, brasa por
ali. O tio foi atendendo um, atendendo outro. E não faleceu ninguém. Escaparamse todos.
Então, ele quis saber qual era a imagem que protegia de raios. Falou com o
padre, se interessou e descobriu que era
a Santa Bárbara. Ele fez vir a imagem e
pagou. É aquela que está na nossa igreja
até hoje. Aí, em todo 4 de novembro, dia
de Santa Bárbara, passou a ter festa na
comunidade. A gente pegava os animais
com jacá com capim e ia na Forcadinha
[hoje, Ayurê] buscar as garrafas de gasosa para a gurizada. Não tinha nem a chave para abrir as garrafas. Então a gente
botava um prego no cepo e deixava a cabeça dele de fora, para servir de abridor.
A gasosa quente, era ‘pof’... E se ia a tampa lá em cima. Metade do líquido já se ia
embora. [risos] Para os homens, pinga
não faltava. Porque a italianada era boa
de “uca”, como eles chamavam.
O Santo padroeiro e o nome da comunidade
Tudo tem explicação. Por exemplo,
nós temos ali o Rio Azedo. Quando eles
estavam fazendo, a braço, a estrada, no
que [os trabalhadores] chegaram ali em
cima, onde tem dois arroiozinhos que
se juntam, faltou açúcar para eles. Qual
A imagem que veio por causa de um raio e deu nome à Comunidade de Santa Bárbara.
Santo Antônio. Trocar de padroeiro seria como trocar de sobrenome.
o nome que botaram? Rio Azedo! Ficou
até hoje. Quando chegaram no outro rio,
como a italianada era toda devota de
Santo Antônio, botaram o nome de Rio
Santo Antônio. Até encostar no Rio do
Meio. Nosso padroeiro já era Santo Antônio, com uma igrejinha pequenina, feita
de madeira serrada a braço. Não tinha
nem uma imagem. Era só um quadro.
Mas fizeram uma outra igreja na comunidade do Rio Santo Antônio, também com
o Santo Antônio de padroeiro.
Começou a acontecer o seguinte.
Quando vinham os folhetos para as missas de domingo, às vezes os nossos iam
para lá, às vezes os deles vinham para cá.
Porque eram dois Santo Antônio.
O Padre Afonso [Schlickmann] veio
aqui e eu era da diretoria [da igreja]. Ele
disse: ‘Vamos fazer o seguinte. Aqui fica
a padroeira Santa Bárbara e Comunidade
Santa Bárbara. Lá, padroeiro Santo Antônio e Comunidade Santo Antônio’. Eu disse: ‘Não Padre, eu não concordo. Padroeira Santa Bárbara? Pois eu estou aqui
desde cinco para seis anos e sempre o
padroeiro foi Santo Antônio. E agora vai
trocar? Seria a mesma coisa que trocar
meu sobrenome’. E o Padre Afondo replicou: ‘Então vamos fazer assim. Comunidade Santa Bárbara e padroeiro Santo
Antônio’. ‘Estou de acordo, Padre’, eu falei. E assim ficou. Até agora. E os folhetos
passaram a ir para os lugares certos.
“Não se tinha estradas”
Antes [até o final dos anos 1940], era
só uma picada. Se tinha um pau, era defendido. Naquele tempo era tudo a pé. E
para descer por dentro daquele matão, já
era de calça arregaçada até os joelhos.
Porque atolava mesmo. E animal, se botasse cangalha com jacá ou bruaca, só
com burro ou com mula, para se defender. Porque, com cavalo, engalhava.
Você vê que aquela estrada daqui, até
passar no Favorino, fomos nós que fizemos. Não tinha verba de ninguém! Os pais
conversavam e depois lá iam os jovens.
De carreta, picareta e enxadão, os rapazes. As moças, de enxada, para puxar a
terra. Depois que ultimava os trabalhos
nas lavouras de milho, a gente se juntava
e trabalhava para abrir a estrada de carro
de boi. Tinha rampas com aqueles pés de
Canela. A gente cavava por baixo e eles
caíam para as grotas. Depois, ainda tinha
que cortar os cepos, tudo com machado,
para fazer a estrada. Quando chegamos
ali por cima da Serrinha, era força de pedras. Meu tio tinha um daquelas brocas
de furar pedra. Ele aguentava a broca e
eu dava com a marreta de seis quilos.
Panc! Panc! E ele torcendo a broca. Fazia
um furo. Botava a banana [de dinamite]
lá dentro e estourava a pedra. Com aquele material já fazia o aterro por ali. Essa
estrada foi toda feita a muque. Até no Favorino!
segue
16
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
segue
PATRIMÔNIO SANTAROSALIMENSE
Divertimento
Antes da igreja: bodoque
Quando nós éramos mais
pequenotes, era caçar de bodoque. Fazia as pelotas, combinava no domingo e saía em turma
para caçar. Só depois de tratar
as criações e antes de ir para a
igreja. O pai era assim, podia ir
onde quisesse, mas tinha que
ir na igreja. A gente dava uma
voltinha de manhã. Tinha muita
pombinha, tucano... Mas nós só
caçávamos passarinhos grandes. Levava para casa, depenava e tocava na frigideira. Com
uma polenta, ô!
Eu tinha um primo que nós
jogávamos. Botava vinte pelotas
no bolso cada um e saía com os
bodoques para o mato. Para ver
quem voltava com mais caça. A
disputa era essa. Mas era força
de caça.
Depois da igreja: ‘Quelequepe’
Aqui tinha muitas casas.
Quando éramos pequenos, a
gente se juntava para brincar
de ‘quelequepe’. Fincava uma
vara no chão, lá no pasto. Um
vai ali e tem que fechar os olhos.
Ele dizia: ‘Quelequepe’, quantas
marrecas tem? A turma respondia 30, ou 50. E ele contava alto
até trinta ou cinquenta. Enquanto isso, todos se escondiam.
Então, ele tinha que achar um
por um. Se ele ia procurar um
lá, escondido atrás de um pau,
outro podia vir e bater na vara
antes do que estava procurando. Esse estava livre de procurar
na rodada seguinte. Tinha que
se esconder bem e ser bom de
corrida. Às vezes, na corrida, até
se arrancava a vara. [risos]
Depois da igreja: Dança
Às vezes, a gente arrumava
um gaiterinho que soubesse
‘abrir a gaita’ e fazia uma domingueira. Domingo de tarde, baile
na casa de um. Outro domingo,
na casa de outro. No dia de São
João, escolhia onde tinha um
chamado João e a festa era lá.
Depois da igreja: Futebol
Nós começamos, assim...
Depois do terço, iam alguns lá
em casa. E nós fizemos uma
bola de pano e fomos lá para
o pasto. E ia chutando, rolando
e brincando. Mas dia de chuva, aquela bola se esbodegava
toda. Aí fazia outra. Levou tempo, mas, aí, eu comprei uma bola
[de couro] número 2. Daquelas
pequenas, né?
Mas tinha uns caras que
eram de Santa Rosa e sabiam
jogar futebol. Eram o “Selmo”, o
Raimundo, o Egídio... Os filhos
mais velhos do Alberto Loch,
que eram parentes do meu sogro, Antônio Loch. Eles vinham
na nossa igreja, aqui. Aí, aprendemos. Começamos a botar
trave, botar goleiro, escolher os
times... Tudo certinho! Nós vínhamos da igreja, almoçávamos
bem ligeiro, para ir jogar futebol.
Podia ser de chuva; e nós levávamos uma ‘molha’. Podia ser
no calor do verão; e se juntava
aquela gurizada... A bola subia
e quando descia ‘tava’ tudo lá
cabeceando... [risos] Mais a ca-
beça do outro, do que a bola...
[risos] Jogava até de noitezinha.
Até a hora de tratar as criações,
quando a gente tinha que ir embora.
Botava os goleiros e fazia o
sorteio de quem escolhia primeiro. Depois, de todo o grupo
que estava ali, eles escolhiam
os jogadores. Até completar os
dois times. E sobrava gente. Eu
era sempre escolhido primeiro.
Porque não era fácil dar conta de mim. Aqueles dois times
jogavam a tarde toda. Era tudo
descalço. Só com um calçãozinho e [o uniforme] estava acabado. Era tudo conhecido...
Quase ‘Oficial’
Assim, fomos indo, fomos
indo e ficamos jogadores bons.
Fizemos uma cancha [campo]
grande, [compramos] uma bola
boa, ‘oficial’. Eu cuidava das bolas. Quando rebentava o couro,
costurava, emendava... Se não
dava mais, comprava outra.
E começamos a jogar contra times de fora. E não era fácil
achar time para nos bater. Nós
saíamos aqui a cavalo. O que
tinha de torcida, tinha que ir a
pé. Nós íamos lá no Bernardo
Kulkamp, onde tinha o melhor
campo de futebol da região. Era
bonito jogar lá. Eu lembro que
tinha uma bola só e que, embaixo, tinha um caetezal com
mais de dois metros de altura.
Quando a gente pegava um time
meio bom e botava um gol nele
e estava meio custoso de botar
outro, nós pegávamos a bola e
Só faltaram as pelotas para acionar o velho bodoque.
já chutávamos para dentro do
caeté. Aí tinha que ir lá e achar a
bola. E o relógio correndo. [risos]
Matava por ali. [risos]
Aqui que começou a rodada
das 11 horas de domingo
Um dia veio um time de Santa Rosa jogar aqui na Santa Bárbara. Eles vieram de caminhão e
tinha bastante gente em cima.
Era para jogar de tarde. Mas
quando chegou antes do meio
dia, se armou uma trovoada daquelas lá para os lados da Serra.
E se chovesse, o caminhão não
saía mais daqui. Então, pediram
para nós se dava para jogar ‘já’.
Era um solzão coisa de louco.
Mas nós estávamos acostumados. Então fomos para o campo.
Ganhamos deles. E olha que o
time de Santa Rosa tinha o “Negrão”. Aquele que era motorista
de ônibus. Esse, tinha que marcar em dois. Mas nós tínhamos
um tal de Valentino Leandro, que
jogava na defesa e também era
muito bom.
Comemoração depois do jogo
O Zé Schmidt, que ainda
mora na Santa Rosa, tinha uma
venda. Vinha todo mundo ali. E
a venda era pequena. Não cabia
todo mundo dentro. Numa vez,
tomamos dezessete garrafas
de vinho. Para começar... [risos]. Depois, foram mais doze
garrafões. Sempre com açúcar,
porque o vinho não era suave.
O açúcar era pesado naquelas
balanças de pratos. Num prato,
botava um papel e ia botando
o açúcar, até atingir o peso. Depois levava lá fora, onde estava o
pessoal. E era só colherada para
dentro dos copos. Eu e meu irmão estávamos sentados e chegava vinho por cima dos nossos
ombros, que a gente nem sabia
de onde. Tudo pago pela torcida.
Depois da Sexta-feira Santa:
Galinhas com sabor diferente
Na Semana Santa, na noite de sexta para sábado, tinha
a ‘história’ dos jovens ir roubar
galinha. Depois da Aleluia, comiam. Roubavam na casa de
todos aqui da comunidade. Era
divertido!
Depois, convidavam os próprios donos para ir comer as galinhas que tinham sido roubadas
deles. [risos]
Criação de porco
Assim como no restante do município, a engorda de porco Macau era a atividade econômica mais importante no pé
da Serra.
Peso emprestado
Durante onze anos, eu vendi porco
para o Nicolau Schueroff. Num ano, peguei 51 porcos, com ele, a peso emprestado. Eram os porcotes que ele tinha em
casa. Os bichos estavam magros porque como iam na roça comer o arroz, o
Schueroff prendeu eles e tratava só com
baraço de batata. Pesamos os 51 porcos
e eu os trouxe. Botei os bichos na mangueira e como eu tinha muito milho bom,
eles engordaram que foi uma coisa. Tinha que erguer os bichos para eles irem
até o cocho comer. Era só banha e carne.
Quando os porcos estavam prontos, o
Schueroff veio buscar e me pagou o que
eles aumentaram em peso. Foi o ano em
que eu ‘tirei o pé da bosta’! Não fiquei devendo para mais ninguém.
“Engorda” na Serra e “Terminação” embaixo
Nós botávamos os porcos na mangueira. Bem tratados com milho, verdura,
abóbora... A abobora ajudava o porco a
embarrigar. Até 60 dias eles aguentavam.
Para poder ainda andar. Porque os porcos saiam tocados daqui. Vendia para
aqueles alemães que já tinham roça de
batata. Ia aquela tropa de porcos, tocada
até o chiqueiro. Até o Rio Bravo. Até o Rio
Fortuna. Os bichos chegavam lá cansados. Descansavam uns dias, tocava na
batata...
A venda de porcos em Grão Pará
Quando tinha poucos porcos, a gente
botava no chiqueiro. Quando tinha bastante, botava numa mangueira nas roças
de batata e de milho. Engordava eles lá e
depois trazia para casa. Quando era para
vender, tinha que ir lá em cima da Serra,
nuns tais Serranos: Joaquim Pessegueiro e Bastião Farias. Eram dois fazendeiros. Aí dizia: Eu quero dez cargueiros de
bruaca para o dia tal. Então, ele vinha
aqui. Tem uma passagem onde a Serra
tem uma que vem aqui e a outra que vai
lá. Nessas curvas, tinha uma ‘estrada’ por
dentro do mato. Um dia antes, se convidava os vizinhos para vir aqui ajudar a matar os porcos. Matava, tirava o pelo, tirava
a cabeça e rachava [a carcaça] ao meio.
O Serrano pousava aqui com as mulas.
No outro dia bem cedo, logo ao levantar, o serrano ia botando meio porco daqueles em cada bruaca. A mula, era seis
arrobas, noventa quilos. Aguentava um
porco grande em dois pedaços. Enfiados
na bruaca, os quartos sobravam de fora.
Depois de ter embruacado todos eles,
como o peão já tinha botado a cangalha
na mularada, aguentava as bichas no
bico, para colocar as bruacas. Montava
um rapazinho numa égua com o cincerro
no pescoço e saía – balalam, balalam...
O Serrano já montava noutra mula, metialhe o relho, e saía junto... Iam parar lá em
Grão Pará. Lá, tinha como que um grande
forno, em que eles tiravam a banha, que
era toda enlatada. E tiravam a carne. De
lá ia tudo para São Paulo e Rio. Depois,
quando o Serrano vinha embora com as
mulas, ele chegava num engenho de farinha e carregava farinha; chegava num
engenho de cana e carregava açúcar e
melado; passava numa roça de batata
doce e carregava batata doce... Então,
assim, lá ia ele de volta para a Serra.
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
17
agreco/cooperagreco
O princípio e os princípios do Projeto
“Óleos Essenciais Orgânicos”
Talvez muitos santarosalimenses
ainda se perguntem de onde surgiu
esse Projeto de que tanto têm ouvido
falar. Os entendimentos são de que a
produção de óleos essenciais orgânicos poderá, até, resultar numa linha de
cosméticos orgânicos ou de produtos
de limpeza orgânicos, todos com a
marca Agreco e produzidos aqui em
nosso município.
Por isso, O Ronco do Bugio procura,
nesta edição, recuperar as origens do
Projeto “Óleos Essenciais Orgânicos”.
Antes de tudo, é importante destacar
que ele não foi resultado da vontade de
uma ou outra pessoa em particular. É
o fruto de um coletivo de pessoas que
pretendem relançar iniciativas que resultem em trabalho e renda para quem
vive no interior do município e, especialmente, para os jovens agricultores
e agricultoras familiares de nossa região.
Uma história que pode gerar mais boas
histórias
Em 2011, o Centro de Formação em
Agroecologia foi vencedor do Prêmio
Finep de Inovação para a Região Sul.
Recebeu com isso o direito de apresentar para a Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep) um projeto que fosse
inovador e que previsse recursos em
torno de R$ 500.000,00. Que fique claro:
para ser aprovado o Projeto precisava
ser inovador. O que significa que precisava propor algo novo para a região.
Em fevereiro de 2012, para discutir
qual projeto apresentar, foi realizada
uma reunião aberta, na Prefeitura Municipal de Santa Rosa de Lima. Estiveram
presentes cerca de quinze pessoas. Diversas sugestões foram apresentadas.
As instituições que
participam do Projeto e suas
contribuições
CFAE - Centro de Formação em Agroecologia Jean-Yves Griot: Proponente e executor. Com uma equipe de apoio técnico e
administrativo de três pessoas contratadas
pelo projeto;
UFSC: Co-executor. Com uma equipe de
três pesquisadores, inclusive o coordenador
do projeto, todos pagos pela Universidade
e não recebendo qualquer remuneração ou
recurso do Projeto;
Dirigentes, agricultores e colaboradores recebem o prêmio Finep.
Entre elas, destacaram-se a concepção
e produção de um jogo pedagógico
para o trabalho de formação de agricultores familiares; e o desenvolvimento de
uma nova cadeia produtiva de óleos essenciais orgânicos. Ao final, esta última
opção teve a preferência unânime dos
presentes. O projeto foi então elaborado
e apresentado à Finep. Depois de analisado por equipes técnicas e pelo setor
jurídico da Financiadora de Estudos
e Projetos, o projeto foi aprovado. Em
seguida, em julho de 2013, o Centro de
Formação em Agroecologia e a Finep
Epagri: Participante. Com um técnico
local de apoio aos trabalhos de campo do
projeto e, ainda, com o apoio de um pesquisador do laboratório especializado da Estação Experimental de Itajaí, todos pagos pela
própria Epagri;
CooperAgreco: Participante. Com apoio
de campo ao projeto quando as ações se
dão junto aos seus associados. Principalmente, no que se refere à certificação;
Prefeitura Municipal de Santa Rosa de
Lima: Participante. Com apoio à infraestrutura rural do projeto, especialmente estradas e terraplanagens.
assinaram um convênio (que levou o
número 01 13 0189 00). Somente em
dezembro de 2013, os recursos foram
liberados pela Finep e, finalmente, ficaram disponíveis, em conta específica
na agência do Banco do Brasil de Santa
Rosa de Lima. De janeiro de 2014 até
esta data, o projeto vem sendo executado pelo Centro de Formação em Agroecologia, sempre de acordo com o Plano
de Trabalho que faz parte do convênio
firmado com a Finep. Seguindo esse
Plano de Trabalho, as atividades irão até
julho de 2016.
O reforço do EcoForte
Em 2014, a Agreco
foi contemplada com
o Projeto EcoForte
14.586 e um convênio foi assinado com
a Fundação Banco do
Brasil (FBB). Nesse
projeto, foram destinados recursos para
a construção de uma
destilaria de óleos essenciais. A decisão de
incluir tal destilaria no
apoio do Ecoforte foi
tomada em reunião
realizada no Centro
de Formação em
Agroecologia (CFAE),
com a presença de
inúmeras lideranças
da própria Agreco, da
CooperAgreco e do
CFAE. Em seguida, o
projeto arquitetônico
foi elaborado com
apoio da Amurel e
a terraplanagem do
local da construção
com o apoio da Prefeitura
Municipal.
Aguarda-se, no momento, a liberação de
alguns ajustes pedidos à FBB, para que
se possa iniciar a edificação.
CooperAgreco realiza treinamento
A Cooperativa recebeu, entre os dias
20 e 21 de julho, mais uma visita técnica
da Coopera Contabilidade. O momento
foi de repasse de informações a alinhamento de rotinas.
A equipe da Coopera, representada
pela contadora Micheli Dalla Costa e
duas outras colaboradoras, ministrou
treinamentos exclusivos para os conselhos de Administração e Fiscal e para a
equipe da área administrativa da Cooperativa. A formação abordou instruções,
alertas contábeis, legais, fiscais e tributários. Também foram apresentados os
processos práticos que a contabilidade
desenvolve internamente para cooperativa e a ligação que estes têm com as
rotinas.
De forma clara e objetiva, foram
exibidas as rotinas dos setores de RH
e Fiscal, ilustrando o percurso que os
produtos fazem da terra até a mesa, e
as obrigações fiscais que estes trazem
e a trajetória da relação trabalhista dos
colaboradores na cooperativa, demostrando como as informações são encaminhadas ao fisco.
Foi possível realizar a mesma fala
em três ocasiões adequando o volume e o detalhamento das informações
conforme papel cada grupo dentro dos
processos da Cooperativa. “Este tipo de
contato é muito importante, pois garante que o conhecimento seja repassado
a todos que compõe a CooperAgreco.
Quando permitimos que as informações sejam de fácil acesso, a relação
entre cooperativa e contabilidade tornase mais próxima, garantindo a eficácia
dos processos e a evolução dos resultados”, disse a contadora Micheli Dalla
Costa.
Hoje são encaminhadas anualmente
mais de 90 declarações ao fisco além
de mais de 100 procedimentos rotineiros mensais nas apurações dos impostos e outras tarefas para manter a Cooperativa operando dentro da legalidade.
“Trabalhamos para oferecer à Cooperagreco além do trabalho contábil uma
consultoria permanente, orientando-os
para que não haja distorções do modelo
cooperativo e para que assim possam
usufruir com segurança de todos os benefícios que lhe são possíveis” esclarece a contadora.
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Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
HOMENAGEM PÓSTUMA
¶ 04/05/1961 V 13/07/2015
Luiz Renato Vandresen nasceu em 4 de maio de 1961.
Iniciou sua vida com muitas dificuldades, mas nunca deixou de sonhar e ousar.
Sempre foi sonhador.
Tinha um bom relacionamento na comunidade, onde atuou como Caep,
presidente de APP e clubes de futebol.
Era um grande amante e apoiador do futebol. Torcedor fanático dos idos times e
atletas de Santa Rosa de Lima e do Fluminense.
Gostava muito de ler e estava sempre atualizado, adorava debater assuntos políticos.
Era “polêmico” alguns diziam.
Gostava muito de tocar violão. Nas festas de família sempre arriscava um dedo de
viola. Era fã de Raul Seixas e Zé Ramalho.
Gostava muito de cultivar a terra e fazia isso com grande maestria nos seus quintais.
Deixou muitos amigos nas cidades por onde passou como orientador da Souza Cruz.
Com ousadia, coragem e impulsionado pelo sonho de se suceder bem na vida familiar
e empresarial, com muita luta, iniciou e Santa Rosa de Lima um trabalho pioneiro no
ramo de laticínios.
Passados os anos, não contava que seus planos não pudessem dar certo. Entrou em
uma profunda dependência química ao álcool. Por mais que ele e a família lutassem
contra esta terrível doença, não conseguiu se livrar dela.
Nos últimos tempos interagia muito no ambiente virtual, onde ampliou amigos e
com estes dividia seus sonhos, alegrias e tristezas.
E o que ele tinha de mais verdadeiro e nunca escondia de ninguém, era o amor pelos
filhos e a falta que sentia deles.
Assim era o Nato, um homem bom e muito solitário.
Descanse em paz Nato.
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
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Espaço d’Acolhida
Reunião foi realizada na Pusada Vitória em Santa Rosa de Lima.
Reuniões regionais debatem Federação
A Acolhida na Colônia está realizando
uma rodada de reuniões nas suas regionais para discutir com todos os associados a proposta de criação da Federação
Catarinense das Associações Acolhida
na Colônia. No dia 20 de julho a reunião
foi em Rio do Sul e reuniu os associados
das Regionais de Rio do Sul, Ibirama e
Ituporanga. Participaram da reunião em
torno de 30 associados interessados em
acompanhar de perto a constituição da
Federação. Já a reunião das Encostas
da Serra Geral foi realizada no dia 27 de
julho em Santa Rosa de Lima, na Pousada Vitória (Dida) e contou também com
participação expressiva dos associados.
Participaram associados de Santa Rosa
de Lima, Anitápolis, Rancho Queimado e
São Bonifácio. Ao todo também quase 30
participantes.
A Regional da Serra Catarinense (Urubici) será no mês de agosto. Em cada
uma das reuniões são discutidas as estratégias para constituição da Federação
e a proposta de estatuto social que deverá ser homologado na assembleia de
constituição.
Reunião do Fórum: Mais um passo rumo
à Federação
Na próxima reunião do Fórum das Associações Regionais que acontecerá no
próximo dia 11 de agosto em Vidal Ramos serão discutidos os próximos passos para a constituição da Federação.
A proposta é nesta reunião já seja pré
agendada a data para a constituição da
Federação Catarinense das Associações
Acolhida na Colônia.
As Associações já devem começar
a discutir os nomes dos representantes
de cada Associação Regional que farão
parte das diretorias da nova entidade. De
acordo com as discussões e encaminhamentos que vem sendo tomados, a Federação deverá ser constituída antes do
final do ano.
Para a Coordenadora da Regional das
Encostas da Serra Rosângela Bonetti “A
constituição da Federação será um importante passo na organização e consolidação da Associação nos municípios
onde já atua e amplia a possibilidade de
expansão da Acolhida para outras regiões e até para outros estados do Brasil”.
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Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
cADERNO DE RECEITA
Polenta
Seu Adão inicia o preparo da polenta.
A gente se criou no “mato”
“A gente brincava pouco com
outras crianças, porque a gente
não sabia falar a língua brasileira. A religião de meus pais
era Luterana e eles não iam na
igreja daqui, a gente se criou, pra
dizer, no “mato”. Eu tinha os parentes, vizinhos, eram com eles
que a gente brincava. Ali no Rio
dos índios, no lado de cá do rio,
eu tinha uma amiga que falava
alemão. Às vezes, no Domingo,
eles vinham ali em casa.”
Tempos de Escola
“Aula na escola eu nunca fui.
Mas eu escrevo e leio. Qualquer
letra eu consigo, não tão rápido.
Quando eu era pequena, era magrelinha e meus pais achavam
muito perigoso eu ir na escola,
que era no Rio dos Índios. Para
passar o rio, não tinha ponte,
tinha que passar numa taipa e,
do lado de cima, tinha um açude
fundo e para baixo, um salto de
água. Eles tinham medo de que
eu caísse e disseram que me ensinariam em casa. ”
As aulas
“Quando dava dia de chuva,
a casa era meio pequena, então
eles me botavam o dia inteiro
a escrever e a ler. Por vezes, vinham me ensinar. Quando era
tempo bom, era para eu estudar
também, mas eu escapava. Um
dia a mãe disse, ‘mas tu tem que
escrever um pouco, vem, eu vou
te ajudar’. Eu disse para ela, ‘não
mãe, deixa, eu faço isso quando estou grande’. Aí ela disse,
‘quando tu estiveres grande tu
não vais ter mais tempo e assim
ela foi me ensinando’.
Órfã de pai e mãe
Quando eu tinha 11 anos, minha mãe foi picada de cobra e
faleceu. O pai dizia que sem ela
não dava para viver, não tinha
mais saída. Entrou em depressão e acabou, por fim, enlouquecido.
Num sábado, de manhã, eu
tinha 12 anos e meio, acordamos, o pai não estava. De repete, o filho do vizinho veio e disse
que o pai tinha tomado veneno e
queria se enforcar. Ele foi ali no
cemitério dos Tonn, queria morrer no lado do sepulcro da mãe.
Se o veneno não matava ele ia
se enforcar. Fomos lá, a tia fez
uma sopa boa e ele melhorou.
Na semana seguinte, enlouqueceu de vez. Aí levaram. O louco
era como um criminoso para o
governo, não era tratado como
uma pessoa depressiva. Quatorze dias depois, veio a notícia que
ele tinha falecido. Um telegrama
chegou até Anitápolis. Eles queria trazer ele, mas tinha falecido
há cinco dias quando o telegrama apareceu aqui e não podia
mais mexer. Deixaram enterrado
na conta dos estranhos.
Mais tarde, o meu filho Rodinei, já grande, foi procurar pra
trazer os ossos do avô. Foi, mas
não deu. Tem os documentos,
mas os restos mortais, depois
de 15 anos eles não deixavam
mais retirar.
A tia madrasta
Eu tinha uma tia que era mi-
Em uma homenagem ao dia dos pais, neste mês, quem assina o Caderno de Receita é senhor Adão Pacheco. Enquanto ele preparava uma
apetitosa Polenta em caldeirão de ferro, sua esposa Dona Edith Ilse Tonn
Pacheco, nos contou um pouco da sua vida.
Histórias comoventes foram narradas por esta simpática senhora, que
preserva na fala um agradabilíssimo sotaque alemão.
Infelizmente, não poderemos reproduzir a entrevista completa, tampouco o sabor da deliciosa polenta acompanhada por uma suculenta galinha caipira. Mas, aos leitores, fica um pouco do gostinho da história de
Dona Edith, que é muito interessante.
Dona Edith nasceu no dia 12 de outubro de 1948 na comunidade de
Nova Esparança. Da casa, onde viveu a infância com seus pais, vindos da
Alemanha, restam apenas algumas pedras da chaminé. “Minha mãe veio
pequena, com um ano e meio e meu pai já tinha 16. Eles vieram em épocas diferentes e se conheceram em Anitápolis. Casaram e vieram morar
aqui. Eu tive só um irmão, 12 anos mais velho”.
nha madrinha de batismo. Ela
disse, ‘tu vais morar com nós. Eu
te trato igual filha, quando tu casar eu te dou o enxoval, tem os
diretos, a roupa, a comida, tudo.
Mas depois não foi assim. Nos
sábados, a filha dela limpava
uma sala bem pequena, poucos
móveis, tirava pó e encerava o
chão. Eu tinha que limpar a cozinha, arear a mesa, os bancos,
limpar o fogão, arear as panelas, deixar tudo arrumadinho, e
ainda, tratar a criação. à noite,
tinha uns programas bonitos no
rádio, eles ficavam escutando e
eu tinha que limpar dois quartos,
dobrar uma pilha de roupa, que
lavava na semana ajoelhada nas
pedras. Ela ficava lá sentada,
bordando, escrevendo, costurando, ficava no bem bom. Para
roçar, eu também tinha que ir
junto, os filhos ficavam em casa.
Uma moça de vinte e poucos
anos
Eu ia pouca festa. Se ela via
um moço que estava interessado por mim, ela dizia, ‘eu não
quero que tu fiques com aquele
rapaz’. A filha dela casou. Eu, a
Erica e a Beth, minhas primas, tínhamos umas amigas ali no Rio
dos Bugres que nos convidaram
para o aniversário do pai delas.
Eu disse, ‘tia, tem aniversário lá
nos Beckhauser’. Ela respondeu,
‘tu tens que lavar roupa! ’. A Erica me ajudou, nós ensaboamos,
lavamos, penduramos e quando
estava pronto, eu disse, ‘agora
eu vou tia’. ‘Tu não vai, tens que
aprender, se eu digo não, é não’.
Bateu um banco no chão, fez
um escândalo. Eu não fui. Fui
chorar na casa da Beth.
Por um “verde”
Quando voltei pra casa de
tardezinha, escutei os dois falarem, ‘pois é, ela chorou só por
causa de um verde’. Eu não sabia quem era o verde, mas eu sabia que eles tratavam os brasileiros de verde. No outro dia, a filha
dela estava lá e me disse, ‘bonito
né, a Dona Nena, ali no Rio dos
Índios, pensou em fazer o bem e
contou para a mãe que tem um
Pacheco que quer você’.
Aí eu sabia quem era o verde.
A gente se conhecia das festas,
das domingueiras, dançava junto, mas proposta, nem um, nem
outro. Eu gostava dele há tempo
e depois essa dona Nena, não
sei como soube que o Adão
gostava de mim. Então, no casamento da Beth e do Nereu, eles
nós levaram de testemunhas. Ali
começou o namoro e três anos
depois, nos casamos.
Refazendo a família que perdeu
Viemos morar numa casinha com cozinha e quarto. Dali
começamos nossa vida. Não
era fácil, nem estrada não tinha.
Nós pagamos o Gabriel Schmitz
pra fazer uma estradinha para
carro, do encruzo para cá. Tivemos dois filhos, nossa cama era
com colchão de palha. A caminha dos filhos fizemos de uma
caixa, o colchãozinho era de palha, o travesseirinho de pluma
de mato e a cobertinha de pena
Dona Edith dá o toque final a polenta.
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
21
DIALOGANDO
Marlene Bekhauser de Souza
de ganso. Nós não tínhamos luxo. E
eu sempre fui muito contente, uma
amiga me diz, que eu refiz a família
que eu perdi, dois filhos e o marido e
hoje, já tenho dois netos.
se aparece uma pessoa eu já começo a contar. A maioria me conta um
pouco da sua vida, isso eu gosto de
escutar. Eu sei que eu tenho história,
mas os outros também tem.
Histórias para contar e ouvir
Minhas distrações e ocupações
são o quintal, as flores nos vasos,
tem as lavourinhas, as vaquinhas de
leite. Eu gosto muito de animais, eu
amo animais. Isso é meu trabalho e
eu gosto de lutar. Nós também vamos na hidroginástica, nas águas
termais, eu acho muito bom para a
saúde e bom para a cabeça, encontro amigas, conhecidos, a gente conversa e parece que se esquece do
mundo, feliz no meio da turma. Eu
sou assim, eu arrumo amizade logo,
A maior idade
Eu estou bem e vou tocando o ritmo que dá, mas eu não sei. A gente
escuta, ‘este faleceu com 70 e tantos,
outro com 80’. Mas é o normal da
vida. Nós não soubemos o que nós
espera. Triste é quem cai na cama,
sofrendo. Quem sabe Deus deixa a
gente numa boa. Hoje o idoso tem
a saúde mais bem cuidada, antigamente nem levavam para o hospital,
‘é velho, vai morrer’. Meu avô foi assim, ficou três anos na cama, com
79 anos. Já era velho”.
POLENTA
Ingredientes:
3 litros de água
800 gramas de farinha de milho
Modo de fazer: Preferencialmente em uma panela de ferro, coloque ½
litro de água. Quando estiver fervendo, acrescente a farinha de milho e
mexa rapidamente para criar uma mistura bem homogênea, “sem bolinhas”. O restante da água, vá acrescentando aos poucos. Sempre misturando bem. O segredo de ma boa polenta é mexer diversas vezes durante
o tempo de cozimento, que dura cerca de 1 hora e 30 minutos.
Pedagoga, psicopedagoga clínica e institucional
e mestre em educação.
Por que os avós
são importantes?
Hoje em dia, algumas mães veem as
pessoas mais velhas com maus olhos
quando se trata da educação das crianças. Elas acabam tendo uma necessidade de autoafirmação e recusam o estereótipo da própria mãe, como se aquele
conhecimento fosse algo ultrapassado.
Ao mesmo tempo, existem os avós
que querem poder e não admitem que os
filhos tenham se tornado pais. É muito
difícil largar o poder de mãe, mas nessa
vida não dá para ter sempre o mesmo
papel! E, nesse caso, os avós são coadjuvantes por definição.
Apesar de não serem protagonistas
na educação dos netos, o papel dos avós
é super importante! Eles são sábios e
tem a capacidade de ouvir, algo que as
pessoas, em geral, não conseguem. Os
avós costumam ouvir as crianças mais
do que os pais e, assim, criam uma co-
nexão com os netos. Muitas vezes, para
quem já foi pai e mãe duas vezes, o único
desejo é ficar em casa sossegado e curtindo o parceiro. Mas a gente sabe que
não é assim que funciona e os netos passam muito tempo na casa dos avós. Isso
é normal, mas precisa ter limites! Viajar e
dar uma sumidinha por um tempo é ótimo para se recuperar e curtir essa fase
da vida.
O avô bem equilibrado ajuda o pai e
a mãe a ouvir e traduzir o que a criança
quer dizer. Muitas vezes, isso se mostra
em atitudes, não adianta falar. O avô faz
elo pelo silêncio, uma postura serena,
agindo no momento certo. Quando chega esse momento de ser pai ou mãe pela
segunda vez, a vida toma outro rumo, as
relações mudam e, sempre com bom
senso e equilíbrio, essa nova fase pode
ser uma delícia!
22
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
SABOR E SABER
Wilson Schmidt
O Pantanal, em uma boa viagem
Tive o privilégio de fazer uma excursão de pesca junto com mais onze parceiros das Encostas da Serra Geral. Em uma
caminhonete, Egidio Locks, Lourivaldo Schmitz, Ademir Schlickman e eu. Em outra, Romírio Schueroff e “colonos” de Rio
Fortuna. Em uma terceira, Vilmar Stüpp, Rubens Vandresen, Valdir Antunes e Charles Wiggers. A coordenação foi do Egídio,
com mais alguns “pescadores” que já repetiam a viagem para o Pantanal. Agora, também recebi minha “carteirinha”!
Os organizadores explicaram, desde o início, que a viagem para pesca era só para homens. E, de fato, mulheres não teriam
suportado tanto tempo com tão poucos resultados. Só se pegava peixes pequenos, com porte menor do que aquele que
a lei permite levar embora. Assim, só restava devolver os bichos às águas lamacentas do rio Aquidauana. A frustração dos
pescadores, após manhãs e tardes seguidas dedicadas à pesca com anzol, foi explicada por Seu Antônio Ferreira, dono da
Chalana: “condições, climáticas”, “chuvas fora da época”... Naturalmente, ele nada falou da habilidade dos pescadores...
Uma visita para matar saudades
Antes de embarcar na Chalana, para
cinco dias de pesca, almoçamos um
“porco monteiro do Pantanal”, na casa de
José Locks e Felícia Hermesmeyer.
Recordo aos leitores que esse casal
(sempre santarosalimense) foi um dos
protagonistas na organização e realização da primeira GemüseFest. Depois, foi
trabalhar com a família em Blumenau e
Joinville. Em seguida, foi para a fronteira agrícola, tocando com maestria uma
fazenda nas proximidades de Campo
Grande. Lá, a ligação com as Encostas
da Serra Geral permaneceu. Nas suas
bodas de ouro, celebradas no distante
Mato Grosso, o casal “levou” mais gente
do torrão natal do que de qualquer outro
lugar do país.
Navegando na Chalana
Pelas minhas condições de saúde,
eu não podia sair para a pescaria, que
se dava em três “voadeiras” conduzidas
por “piloteiros”. Então, tive o privilégio de
usufruir de todas as “mordomias” da Chalana. Isso serviu para compensar as duras viagens de “batelão”, nas cabeceiras
do Rio Juruá, no início da minha vida de
professor.
Sentado ao lado do leme, com Seu
Antônio, dono e piloto da Chalana, pude
conversar sobre os problemas enfrentados pelo turismo no Pantanal. Esses
“papos” deixaram claro que é a estupidez
humana que tem provocado alterações
ambientais que tornam as secas mais
severas e as enchentes mais catastróficas. Como consequência, as condições
de procriação dos peixes e dos animais
de melado. Vou mostrá-la a muita gente.
A degustação vai ser em “dedais”.
Pescadores que foram ao Pantanal.
de caça ficam ameaçadas.
Na Chalana, contudo, pudemos desfrutar de ótimos pratos à base de peixe
e de caça (porco monteiro, jacutinga).
Dona Rose, esposa do Seu Antônio, assegurava cuidado e sabor às comidas.
Aquelas refeições tornaram-se momentos inesquecíveis para todos.
Saborosas e produtivas paradas no caminho de retorno
Uma noite de chuva precedeu a volta. Os setenta quilômetros de estradas
de chão viraram um grande desafio. Isso
não inibiu, todavia, nossos bons motoristas. Já no primeiro dia, chegamos a Santo Antônio da Platina, no Norte do Paraná. No seguinte, mesmo tendo passado
por Ponta Grossa e Curitiba, na hora do
almoço, estávamos no Norte de Santa
Catarina. Na beira da BR 101, paramos no
restaurante Grün Wald. Para ir matando
as saudades, nos deliciamos com pratos
típicos alemães. Eu só lembro do eisbein
(joelho de porco), entre tantas outras opções escolhidas pelos parceiros.
Passando por Florianópolis, a vontade de reencontrar as famílias fez com
que todos optassem pelo caminho mais
curto (via BR 282). Eu, com a notícia da
inauguração da Ponte de Laguna, preferi
seguir pela BR 101. Nesse caminho, uma
boa surpresa, ao ver o “Engenho”, na divisa de Paulo Lopes com Imbituba, vendendo produtos coloniais e orgânicos. Além
de uma boa espiga de milho cozida, comprei uma garrafa de cachaça orgânica
muito especial. A marca é Weber Haus.
É produzida em Ivoti, no Rio Grande do
Sul, e certificada pela Ecocert. O preço:
R$ 159,90. Isto mesmo! Paguei 160 reais
por uma garrafa de cachaça orgânica.
Comprei, para mostrar os caminhos de
agregação de valor para nossa cachaça
Aprendizados
Essa experiência com amigos especiais reforça a ideia de que é indispensável um novo olhar sobre o turismo nas
Encostas da Serra Geral. Os debates anteriores (nos quais o Egídio Locks teve
papel destacado) já apontavam para a
necessidade de fazer do turismo uma
alavanca do progresso das Encostas da
Serra Geral. Entendemos que esse processo já começou. Um sinal é a Pousada
Tenfen construir um restaurante típico,
para oferecer pratos com sabor colonial
e orgânico. Prosseguem os desafios do
Paraíso das Águas, do Agroturismo da
Acolhida na Colônia, do Centro de Formação, da CooperAgreco. Todos juntos devem procurar construir a “cumplicidade”
necessária, entre aqueles que moram no
litoral e aqueles que cuidam da água boa
e que produzem alimentos orgânicos e
com sabor colonial. Como entidade que
coordena o desenvolvimento do Território, a Agreco deve formular, através de
um planejamento participativo, propostas em diferentes áreas. E deve demandar uma ação conjunta dos governos
municipais, estadual e federal. O início
óbvio dessa inciativa está na pavimentação das estrada regionais.
O asfaltamento de rodovias, como
as de Anitápolis a Santa Rosa de Lima,
de São Bonifácio a São Martinho, de São
Luís a Aratingaúba, é, hoje, uma condição
básica para o fortalecimento do turismo
nas Encostas da Serra Geral.
Meu tributo à ousadia de um Pioneiro
A participação de Rubens (irmão) e de
Valdir (vizinho) na excursão de pesca, nos
fez sentir, juntos, o choque que provocou
a “despedida” de Luís Renato Vandresen.
Pouco antes de escrever esta coluna,
tive a oportunidade de conhecer o texto
de homenagem da família, lido, na Matriz
de Santa Rosa de Lima, antes do sepultamento. Trata-se um “retrato” mais completo do Nato, que lembra, por exemplo, a
participação destacada dele na comunidade, na CAEP e nas APP.
Faço questão de dizer que não é uma
doença (a adicção ao álcool, em geral
tratada de forma tão preconceituosa)
que apagará a imagem de alguém muito
inteligente e ousado.
Recordo que, incialmente, o Nato trabalhou como instrutor de fumo e que, depois, descobrindo que “o novo nasce do
velho”, tornou-se pioneiro na agregação
de valor ao leite, implantando, em Santa
Rosa de Lima, uma das primeiras pequenas agroindústrias. Fez isso, quando o
“queijo colonial” era apenas um produto
artesanal. Atualmente, as queijarias superam até o beneficiamento de madeira,
como atividades econômica, nas Encostas da Serra Geral.
Nato, pode ser que nem você tenha
se dado conta desse pioneirismo. Você
vai ser, entretanto, muito bem lembrado quando se falar no desenvolvimento
sustentável da região. Por isso, sua trajetória deve ser motivo de orgulho para
seus filhos e para a mãe deles, para seus
irmãos e irmãs. Como já é, segundo o
Valdir Antunes, para seus vizinhos. Um
cumprimento especial a Dona Valda e ao
Seu Roberto, pelo filho que tiveram.
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
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COMUNIDADE MATA VERDE
Kátia Vandresen | Ronaldo Michels
Naquela manhã de segunda feira, no último dia 13 de julho, quando cheguei em casa vindo do meu trabalho
e recebi a notícia de que o Nato - assim Luiz Renato Vandresen era conhecido – fora encontrado morto em
sua residência, eu senti um grande aperto no coração e uma tristeza doída tomou conta de mim.
Em um tributo a sua vida e morte, eu, Ronaldo, gostaria de escrever algumas linhas sobre esta pessoa que
marcou muito minha vida.
“De uma coisa eu tenho certeza, só Deus
muda o meu destino. Eu acredito em tudo que
eu já passei na vida, mais para ele eu sou orgulhoso demais ainda. Mais eu acordo agradeUm grande homem
cendo a ele por tudo que me deu, ele não me
Muitos criticavam o Nato. Os problemas pelos quais tirou, eu só tive mais que precisava. Ele me colevaram a empresa a ser vendida. Conheciam as várias
locou em vários e vários caminhos e só não me
dificuldades que ele enfrentava e as muitas que ele ventirou porque sou bom de coração. Eu não preceu.
Mas tenho certeza, que muitas destas pessoas o ciso pedir, ele me manda fazer o que deve ser
Nato um dia ajudou, de uma maneira ou outra. Mas será feito, ou caso contrário eu já estaria morto há
que estas pessoas tiveram a hombridade de estender muitos anos. Eu tenho uma obrigação, vai de
Visão de empreendedor
uma mão quando ele mais necessitava? Bem poucos!
Era na década de 90, quando surgiu aqui em nossa
Então peço que lembrem dele como um grande ho- humildade até o ponto extremo. E este ponto eu
região o primeiro laticínio. Um grande avanço para a mem que, assim como todos nós, comete acertos e er- ainda não sei. Eu sou filho de deus”.
Ele marcou minha vida
Sabemos que a vida é feita de desafios, de conquistas e de oportunidades, e foi a oportunidade que o empresário Luiz Renato Vandresen me deu que abriu meu
caminho para chegar onde hoje cheguei. Foi o Nato
quem abriu as portas de sua empresa, onde eu tive meu
primeiro emprego. Trabalhei por três anos com ele e ele
sempre me incentivava, “rapaz aproveite bem os momentos, sei que você é inteligente, tem capacidade para
estudar, fazer faculdade, não desista de seus sonhos”.
Estas palavras ele me disse inúmeras vezes. E tenho a
certeza que elas me incentivaram muito.
Lima – foi a primeira que levou o nome de Santa Rosa
de Lima ser conhecido pelo estado de Santa Catarina,
onde em toda grande rede de supermercados estavam
nas prateleiras os seus produtos, derivados do leite.
produção de gato leiteiro na região e o idealizador deste empreendimento foi o Luiz Renato. Anos foram passando, a empresa familiar tocada por ele e a esposa foi
crescendo e ganhando mercado a cada dia. Os produtores rurais começaram a ter oportunidades através da
produção de leite, o município começou a se desenvolver mais com a contribuição desse empreendedor. Acredito que a empresa Lasaroli – Laticínios Santa Rosa de
ros. Com ele não foi diferente e tristemente sabemos
que Nato não foi forte suficiente para derrotar o alcoolismo, esta maldita doença foi mais forte que ele.
Sabias Palavras
As linhas que seguem foram escritas por Nato, em
rede social, dias antes de sua partida para junto de
Deus. Na minha opinião, resumem a sua vida.
Fique com Deus Nato!
Resta-nos agora a saudade, e nos solidarizar com
os familiares e amigos nesse momento de dor que é a
partida de um grande amigo. Nato, fique com Deus, e tenho a certeza de que você marcou positivamente a sua
passagem aqui na terra e que hoje estas descansando
em paz aí no mundo celeste.
LEGISLANDO
Esta coluna é reservada e assinada pela bancada PP e PT composta pelos vereadores Edna Bonetti, Robson Siebert, Salésio Wiemes e Luiz Schmidt. Aqui são apresentados os trabalhos na Câmara Municipal de
SRL. Acompanhe o resumo dos principais ofícios, requerimentos e proposições apresentados aos poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário.
Melhoria de estrada
Salésio Wiemes encaminhou ofício a Prefeita, com
cópia para o Secretário de Obras, para realizar melhorias
na estrada que dá acesso a propriedade do senhor Pedro
Warmling, na localidade de Rio dos Índios. Justifica o vereador, “ele está com dificuldade de entregar leite e até
de levar seu filho para a estrada para pegar o transporte
escolar”.
Para transitar e escoar a produção
O vereador encaminhou mais dois ofícios a Prefeita,
com cópia para o Secretário de Obras. Um deles, solicitando a recuperação da estrada que liga a propriedade
do senhor Sebastião Soares a sua madeireira, localizada
na comunidade de Rio Santo Antônio, e que se encontra
em péssimas condições de trafegabilidade em alguns
trechos.
O outro oficio, solicitava a recuperação da estrada
que liga a comunidade de Rio Santo Antônio à localidade
da Serrinha, que dá acesso à comunidade de Santa Bárbara. “Essas melhorias são de suma importância para
que os proprietários, empresários e moradores possam
transitar e escoar sua produção com normalidade”, enfatizou Salésio.
Iluminação Pública
Por solicitação de moradores, o vereador Salésio
Wiemes encaminhou ofício a Prefeita, para que ela possa
providenciar ao departamento competente, a colocação
de iluminação pública no trecho que compreende a Rua
Henrique Heidemann até o loteamento do Sr. Loreni Philippi. “Muitos munícipes construíram suas residências ali
e vários estudantes passam por ali todas as noites após
as aulas. O trecho se encontra muito escuro e a coloca-
ção de lâmpadas dará mais tranquilidade e segurança a
todos”, justificou o vereador.
Segundo o vereador, os moradores, há algum tempo,
já pagam a taxa de iluminação pública. “Eles solicitam
o que é de dever, até porque eles já pagam serviço de
iluminação pública naquela área”.
Estímulo ao produtor
O vereador Luiz Schmidt encaminhou ofício a prefeita, com cópia para o Secretário da Agricultura, solicitado
a colocação de duas cargas de areão na propriedade do
produtor Volnei Luiz Roecker, na comunidade de Nova Fátima. Luiz justificou, “este agricultor tem uma produção
de dez mil litros de leite por mês, e toda sua produção
é comercializada com nota de produtor rural. Por isso,
a solicitação é bastante urgente e necessária, para dar
melhores condições de trabalho e estímulos a atividade.
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Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
Gut in das Bild
“Josimar, você completa mais um ano de
vida e estamos muito felizes de celebrar
essa data contigo. Feliz aniversário!” São os
votos de sua esposa Simone e dos seus filhos Vinícius e Caio neste dia 7 de agosto.
No dia 05 de agosto a princesa Lavinia Carvalho completará dois aninhos de muita
alegria e felicidade. Feliz aniversário! Que
Deus, em sua infinita bondade, lhe dê tudo
de bom. Que você tenha muita alegria, paz,
saúde e felicidade. Parabéns! São os votos
de seus pais Laudelino e Cristiane e também de seus padrinhos Salésio e Ivone.
Bem na foto
No dia 25 de julho, o gatinho Luiz Fernando
completou mais um ano de vida. “Você é um
presente de Deus para toda a nossa família,
um anjo que encanta a todos, continue essa
criança educada, amorosa e inteligente. Feliz
aniversário!” São os votos de toda a família,
especialmente dos pais e avós.
Emerson Stefens
[email protected]
“Parabéns! Tudo de bom e de melhor hoje e sempre. Muita saúde, paz,
amor e felicidade. Que Deus te abençoe e te proteja sempre. Muitos
anos de vida! Te amo Mãe!” Esses são os votos da Julia Schmidt para
sua mãe Rosalete Schmitz, que soprou velihas no dia 22 de julho.
Parabéns aos alunos e professores regentes das turmas do Terceirão/2015 da Escola Aldo Câmara que no dia 19 de
julho fizeram uma belíssima apresentação na festa julina da escola. Gostaria de dizer que estou muito orgulhoso de vocês
e desejar uma vida abençoada e repleta de sonhos e conquistas. Vocês merecem!
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
Felicitações em dose dupla para o Hélio Torquato e para o Willian José Torquato.
Pai e filho comemoram aniversário em agosto. “Que a vida de vocês seja constantemente presenteada com bons e felizes momentos. Parabéns! ” São os votos de
toda a família e amigos, especialmente da esposa e mãe Adília e também da filha
e irmã Patrícia.
Neste mês de agosto, brindam nova idade duas pessoas especiais, Olésia da Silva
Torquato, no dia 13 e Luana Torquato no dia 28. E como é muito bom desejar Feliz
Aniversário, elas recebem a homenagem da família e amigos. Feliz aniversário e
muitos anos de vida!
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Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
cultura
COMUNIDADE
NOVA FÁTIMA
Rafael May | Marieta Oenning Bittencourt
Mês das Vocações
Em 1983, a Igreja Católica comemorou o
Ano das Vocações no Brasil. A partir desta data,
sempre no mês de agosto, comemoramos as
vocações. O objetivo da Igreja é fazer com os fiéis rezem por elas. Na primeira semana do mês,
quando é comemorado o Dia do Padre, as orações são dedicadas a vocação sacerdotal. No
segundo fim de semana, a vocação destacada é
a da família, através do Dia dos Pais. No terceiro,
comemora-se a vocação dos missionários e, no
quarto e último fim de semana, a vocação do catequista e dos leigos que trabalham em função da
evangelização.
Homenagem Dia dos Pais
“Na longa jornada da vida muitos mestres encontramos, alguns seguimos, outros abandonamos, dentre todos, um deles é o que mais amamos. Seu nome é simples e fácil de pronunciar:
Pai”. (Autor desconhecido)
Queremos parabenizar todos os pais, especialmente aqueles da nossa comunidade, os que
aqui nasceram e daqui saíram, mas deixaram um
pouco da sua história. Que Deus ilumine a todos.
Um feliz Dia dos Pais.
Semana da Família
Aqui no Brasil, foi em 1992, que a igreja católica instituiu no seu calendário, a Semana da Família. A comemoração tem como objetivo destacar
a importância da família na sociedade. A família
é o reflexo da sociedade e, por isso, devemos refletir sobre a importância dos princípios e valores
cristãos da família.
Encontro Paroquial de Catequistas
No dia 27 de agosto, comemoramos o Dia
do Catequista. Nossa homenagem vai para todos estes profetizadores da palavra de Deus, em
especial aos catequistas de Nova Fátima. Para
festejar a data, vai acontecer na comunidade de
Nova Fátima, no dia 29 de agosto, ás 9:00 horas
da manhã, o Encontro Paroquial de Catequistas.
Estamos esperando todos para um dia de comemoração e confraternização.
Aos padres com carinho
Queremos também homenagear todos os padres, especialmente aos de nossa paróquia. Obrigado por serem pastores deste rebanho de Deus.
Cinema para as crianças
Alunos do Centro Educacional Santa Rosa de Lima assistem a Mostra de Cinema Infantil.
Pela quarta vez consecutiva, filmes infantis que foram premiados na
Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis são exibidos em Santa Rosa
de Lima, é o Circuito Estadual de Cinema Infantil que, neste ano, conta
com o apoio da Editora o Ronco do
Bugio. A primeiras sessões foram
realizadas no dia 17 de julho para os
estudantes do Centro Educacional
Santa Rosa de Lima.
Para a exibição dos filmes curtas metragens de produção nacional
(veja box), foi fundamental garantir o
‘clima de cinema’, para isso, as janelas do Centro de Convivência (Salão
Velho) receberam proteção. A pipoca
foi deliciosamente feita pelas merendeiras e distribuída pela direção do
Centro Educacional, que apoiou a exi-
bição do Circuito.
Nas sessões em Santa Rosa de
Lima não houve a necessidade de
utilizar as opções audiodescrição e
LIBRAS, mas são dois recursos que
vêm com os DVDs, inserindo o cinema também para portadores de necessidades especiais.
“Além de bastante educativos, os
filmes exibem a diversidade cultural do nosso país e abordam temas
como racismo, preconceitos, dilemas
da infância e adolescência, tudo isso,
com muita aventura e divertimento”,
diz Mariza Vandresen, organizadora
voluntária do Circuito no município.
“Outras sessões serão agendadas
assim que terminar o recesso escolar. Caso os professores queiram trabalhar especificamente com algum
Gratuito e de qualidade
dos temas ilustrados nos curtas, os
DVDs podem ser disponibilizados
também para sala de aula”.
Para a professora do 1º ano,
Marlize Feldhaus Hermesmeyer, “foi
bem válido, os filmes exibidos trataram sobre a questão do racismo, do
preconceito, coisas que a gente tem
presenciado bastante na nossa escola. Os temas foram muito bons e as
crianças também gostaram. Eles se
comportaram melhor do que a gente
esperava.
Na volta do recesso escolar queremos fazer um planejamento e
trabalhar estas questões. Nossas
crianças estão perdendo o respeito e
outros valores, precisamos trabalhar
isso e os filmes podem ser boas ferramentas”.
O Circuito Estadual de Cinema Infantil surgiu da necessidade de ampliar a ação
da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, levando os curtas metragens brasileiros exibidos durante o evento para os outros municípios catarinenses.
Para a diretora da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis e idealizadora do
Circuito, Luiza Lins, além de levar cinema gratuito e de qualidade para todas as
cidades estaduais, “mais do que exibir os filmes, queremos plantar a semente da
transformação não só em cada olhar infantil, mas transformar culturalmente os
municípios”. O desejo de Luiza é que cada criança catarinense seja contemplada
com o projeto e que, com isso, “passe a ter acesso a um cinema diferente daquele
que assiste na televisão ou na sala comercial”.
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
SRL nas telas do cinema
Com as filmagens realizadas em uma propriedade rural, na comunidade de Rio Bravo Alto, “Nuvem” é um curta-metragem dirigido por Vanessa Sandre e será exibido
em Santa Rosa de Lima, no próximo dia 28 de agosto. “É
um filme para todas as idades. Para as crianças traz à
tona um sonho em comum, ter algo mágico e longínquo,
como uma nuvem. Para os adultos traz a mensagem de
que sonhar é essencial, independentemente da idade”, diz
Vanessa.
Outra particularidade do filme relacionado a Santa Rosa de Lima, é que o
elenco conta com a participação dos
irmãos Gustavo e Ricardo Hasse, que
são filhos de agricultores e moram no
Rio do Meio. Gustavo, que na época
tinha 14 anos, interpretou o irmão de
Franciely, Maicon, um menino de onze
anos. Já Ricardo, que tinha doze anos
a época, fez o papel de Felipe, um primo de nove anos “da cidade grande”
que foi visitar a família no interior.
“Nuvem” por aí
O curta-metragem foi o projeto da
estudante de cinema, da Universidade
Federal de Santa Catarina vencedor da
12ª edição do Prêmio Catarinense de
Cinema, na categoria vídeo. Sua es-
treia nacional foi no Festival Primeira
Janela, onde recebeu o prêmio de Melhor Filme, escolhido pelo júri popular.
O filme já foi exibido em festivais
nacionais, como o Ver Cine, em Niterói
e a Mostra de Cinema Infantil, em Florianópolis. Ganhou também aceitação
internacional. “Nuvem está sendo bem
aceito nos festivais internacionais, estamos no Children’s International Film
Festival, em Dubai, no AniFestROZAFA,
na Albânia e no Festival de Cinema de
Girona, na Espanha. Este último, ainda aguardado, pois Nuvem foi o único filme brasileiro selecionado para a
mostra competitiva, concorrendo com
outros 23 filmes de diferentes nacionalidades, complementa Vanessa.
Dia: 28 de agosto de 2015
Local: Centro de Convivência do Idoso (Salão Velho)
Horário: 20h30min.
Resumo do filme
Anos 1990, em um ambiente rural de uma cidade do interior de Santa Catarina, vive Franciely com sua mãe Irene. Ela é uma criança criativa, o oposto de
sua mãe, uma mulher solitária e amargurada, que não mais se permite sonhar.
Em uma visita, tia Rose, muito querida de Franciely, anuncia que vai fazer uma
viagem de avião e pergunta à menina o que ela quer de presente. Franciely, inocentemente, pede um pedaço de nuvem. A criança sonha com a sua nuvem até
o regresso da tia, que lhe traz o presente dos sonhos. Esse gesto, além de trazer
alegria a Franciely, mostra a Irene, sua mãe, como é importante sonhar.
27
COMUNIDADE
RIO BRAVO
Karla Folster | Júnior Alberton | Ana Paula Vanderlinde
A edição é nova,
mas o assunto é velho
Algumas vezes, já tratamos aqui neste espaço dos problemas e reclamações referentes ao transporte escolar dos estudantes da comunidade do Campo do Rio Bravo Alto. Desta vez, o assunto volta à tona, mas o problema em questão,
agora é o transporte dos alunos na Linha geral do Rio Bravo.
Para entendermos melhor a situação, vamos relatar como
funciona por aqui, o transporte escolar. Os alunos da comunidade do Campo do Rio Bravo Alto são transportados até
a Estrada Geral do Rio Bravo Alto em um micro-ônibus do
Programa Caminho da Escola, conduzido por um motorista
da prefeitura. De lá, pegam outro ônibus, o da linha geral do
Rio Bravo, que leva todos os estudantes até as escolas do
centro.
Os problemas
As crianças que residem no Campo,
pegam o ônibus por volta das 06h15mim
e por volta das 06h40min, o micro-ônibus
chega na estrada geral. Lá os estudantes
descem e precisam aguardar entre dez e
quinze minutos pelo outro ônibus. Este
tempo de espera se dá, porque o micro-ônibus precisa buscar uma estudante que
mora na comunidade de Águas Mornas.
Ao embarcarem no ônibus da linha
geral do Rio Bravo Alto, os alunos precisam se “amontoar” de todas as maneiras
para possibilitar que todos caibam dentro
do ônibus. Segundo relatos, teve dias em
que foram contados 56 passageiros. Ao
voltarem da escola, ao meio dia, o descaso com os estudantes da linha do Campo
do Rio Bravo não é diferente. Enquanto o
micro-ônibus leva a estudante da comunidade das Águas Mornas para casa, os
demais estudantes ficam novamente esperando no ponto de ônibus.
Pais e estudantes estão muito incomodados com a situação, pois enquanto
eles estão no ponto de ônibus, quem é o
responsável por estas crianças?
Nossas dúvidas
Como fica a segurança destas crianças? Por que não colocam um ônibus
com capacidade para mais passageiros?
Ou ainda, por que não fazem a distribuição dos alunos em mais turnos. Lembrem-se leitores, que no início do ano,
turmas foram fechadas pelo Secretário
de Educação, que alegava economia aos
cofres públicos. Mais uma pergunta que
não quer calar: por que sempre se economiza na Educação? Por que nunca se
economiza em outros setores, onde se
contratam cada vez mais funcionários?
28
Santa Rosa de Lima, Agosto/2015, O Ronco do Bugio
O Boneco pisou na bola
Em recente sessão da Câmara de
Vereadores, por ocasião da discussão
de um requerimento que pretendia que
a Mesa diretora convocasse uma audiência pública para promover um debate
sobre o local de construção da “garagem
municipal”, este Macau ficou surpreso
com o baixo nível dos debates.
Depois de ter feito muitos elogios
à Mesa Diretora da Casa do Povo, sou
obrigado torcer minha carinha simpática
e apontar a pata traseira para lá. Se me
senti tão decepcionado, imagino os humanos santarosalimenses.
Garagem municipal, sim! Mas, em um
lugar adequado
Todos reconhecem que a construção
de uma garagem municipal, para abrigar
o parque de máquinas e veículos públicos do município, é uma necessidade. Dizem, entretanto, que são poucas as possibilidades de um terreno para realizá-la.
Todo mundo sabe, também, que se mais
pessoas pensarem juntas, menor será o
risco de se “fazer bobagem”.
Pensando que um debate é necessário, também dou meu “pitaco”. Há tempos, a administração municipal afirmou
ter adquirido um terreno na saída da
estrada geral para Anitápolis. Seria para
construir uma escola. Mas eu já falei, então, que aquele lugar não era bom para
uma escola. E sugeri que seria um bom
terreno para construir a garagem municipal. Aquele terreno não existe?
Caminhos tortos
Esse porco banha rolou na lama de
tanto rir com as explicações e os argumentos da mesa diretora e da assessoria
jurídica da Câmara de Vereadores, para
não aceitar o mencionado requerimento.
Quando se quer, se arruma um jeito de
fazer. Quando não se quer, para “enrolar”,
apela-se para “argumentos jurídicos” (e
haja aspas...). Os do douto assessor foram patéticos: “Quem convoca audiências públicas são as comissões, não as
bancadas”. Este humilde e mal instruído
porquinho pergunta: A quem um vereador
ou bancada se reporta numa sessão da
Câmara? Não é a mesa diretora? Quem
faz os encaminhamentos para as comissões? Não é o presidente da mesa?
Como pode um vereador ou uma bancada encaminhar um assunto diretamente
à as comissões permanentes da casa?
Por que o medo de uma reflexão e de
um debate?
Não é de hoje que os debates da Casa
do Povo são mal conduzidos e pouco
fundamentados. Ali, se discutem “perfumarias” e não o que é verdadeiramente
interessante para os santarosalimenses.
Para construir uma garagem municipal,
vai se consumir investimento significativo. E deixar de poder apresentar outros
projetos. Por que ter medo de examinar
as propostas com a participação dos
munícipes? E da totalidade dos vereadores? É no mínimo de se estranhar. Será
que tem “lamas” que esse porco não deve
conhecer?
O Macau alerta e argumenta
Todos em Santa Rosa de Lima têm
sua opinião sobre o melhor e o pior local
para a construção da garagem. Nossa
Câmara, todavia, não deu espaço para
que essas posições fossem manifestadas. E, em outros “canais”, ninguém quer
falar. Para não “se comprometer”. Como
sou um porco sem espírito de porco, vou
apresentar minha opinião. Construir a
garagem onde era a antiga é não pensar
estrategicamente. É não priorizar o que é
melhor para o município. Apresento minhas razões: 1. Uma unidade de saúde
precisa de sossego e de silêncio. Pacientes em observação, crianças, gestantes e
idosos estarão ali, diariamente, para cuidar de sua saúde. 2. Não haverá espaço
para estacionar os carros dos servidores
municipais, das pessoas que buscam
serviços na prefeitura ou na unidade
de saúde e, ainda, os da prefeitura. 3. É
normal, em casos de atendimentos de
emergência, que veículos da saúde cheguem em certa velocidade. A localização
proposta para a garagem aumentará os
riscos de acidente, pois eles poderão se
deparar com máquinas lentas, na rua em
frente à unidade de saúde e à prefeitura.
Baiucas sujas de lama
No meio da discussão dos “nobres”
edis, este Macau captou uma palavra estranha.
O líder da bancada governista, na
falta de argumentos razoáveis para a
discussão, disparou: “... e aquela baiuca que vocês construíram na frente da
prefeitura?” Como esse humilde tipo
banha não é muito esperto, foi procurar
no dicionário. E descobriu que baiuca é
bodega, espelunca, porcaria. Sendo assim, o porco acha que há mais baiucas
no município. Podem ser as quadras do
Rio Bravo. Aquela primeira, que caiu! E a
nova, que seria construída, mas ficou na
tramóia das fundações. Pode ser o britador “novo”, que era usado. E outras baiucas mais. Todas enlameadas.
Nem que a porca torça o rabo
No meio da polêmica sobre o local da
garagem, eis que a mesa diretora da Câmara de Vereadores tira da manga uma
carta: “é necessário elaborar o plano diretor da cidade”. Segundo ela, “isso pode
resolver esses problemas”. Desse jeito,
esse Macau vai passar mal de tanto rir.
Outro dia, ouvi um atento cidadão dizer
que faltam dedos para contar o tempo
que ele ouve falar em plano diretor. E
muitos vereadores são os mesmos. Mas
nada! É só discurso e casuísmo. Quanto
aperta, eles apelam. Mas ninguém tem
coragem e competência para propor a
elaboração participativa de um plano diretor. Se para uma simples audiência pública já se torcem todos para não fazer,
imagina para chamar o povo para debater um plano diretor.
O resto é circo e palhaçada
Macau não vai em festa. Porque pode
virar churrasco... Ele soube, entretanto,
que na celebração do Dia do Colono, todas as máquinas e veículos da frota municipal estavam expostas muito próximos
do local do evento. A ideia era “mostrar”
para a população que tudo foi adquirido
pela atual gestão. Ora, quem viabilizou os
recursos para a aquisição dessa frota foram os Governos Federal (Caminhos da
Escola e PAC2) e Estadual (Fundam). E
a finalidade dessa transferência é servir
à população santarosalimense e não ser
instrumento para que alguns “façam média” com ela. Os veículos e máquinas são
bens públicos, que foram transferidos à
municipalidade pelos poderes públicos
federal e estadual, para servir ao público,
ou seja a população de Santa Rosa de
Lima. O resto...
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Gravado no município, curta-metragem Nuvem estréia em