Viva o Seu Bairro leva diversão segunda Usuário de drogas é morto em VG [email protected] PÁGINA 3 PÁGINA 4 A GAZETA - 1B CUIABÁ, 28 DE MAIO DE 2012 FALSA SEGURANÇA ‘Guardas’ sem procedência e treinamento dominam bairros e chegam a usar o nome da PM para cobrar pelo serviço Clandestinos coagem moradores GLÁUCIO NOGUEIRA DA REDAÇÃO M oradores de vários bairros de Cuiabá e Várzea Grande sentem-se reféns de seguranças de rua. A atividade, não regulamentada, uma vez que o patrulhamento das vias é atribuição da Polícia Militar, está cada vez mais disseminada. Muitas das pessoas que contratam os serviços, por valores que variam entre R$ 50 e R$ 100, sentem-se coagidas a manter o acordo por medo de que, caso parem de pagar, tenham sua rotina repassada a quadrilhas especializadas em roubo de residência. Estima-se que para cada segurança treinado e registrado em empresas regulares, existam 3 clandestinos em Cuiabá. Especialistas apontam que o aumento de pessoas sem treinamento oferecendo os serviços de vigilância é motivado pela ausência do Poder Público, ineficaz em passar para a população a sensação de segurança. Existem diferenças entre o trabalho dos seguranças de rua e das empresas de vigilância patrimonial. Enquanto os primeiros assumem um dever das polícias, as empresas cuidam apenas do patrimônio, lojas, empresas, agências bancárias. As atribuições são definidas por lei federal e regulamentadas por uma portaria do Ministério da Justiça. Nesta semana, policiais da Base Moinho prenderam 3 seguranças de rua que atuavam na região dos bairros Santa Cruz I e II. De acordo com o comandante da base, tenente Luiz Marcelo, diversas denúncias de moradores que eram coagidos a pagar motivaram a ação. Levantamento feito pela PM apontou que, mesmo com o trabalho dos vigilantes, o índice de roubos e furtos em residências era o segundo maior da cidade, perdendo apenas para a região da Grande Morada da Serra, que tem mais de 100 mil habitantes. Os seguranças utilizavam coletes refletores, rádios comunicadores, cassetetes e cintos usados geralmente para o uso de armas de fogo e munição. Um detalhe é que o cartão de visitas usado pelo grupo para vender o serviço continha, irregularmente, a logomarca da Polícia Militar. “Não aguentamos mais. Pagamos porque sentimos medo. Cada dia é uma pessoa diferente, que nunca vi, dizendo que faz a nossa segurança”, afirmou um João Vieira/Arquivo morador ao comandante da base. Para tentar coibir os roubos e furtos, a Base Moinho implantou o projeto “Seja um vizinho camarada”. Com a atuação dos moradores, aliado ao trabalho ostensivo da PM, inclusive contra os seguranças de rua, há 2 meses não é registrado nenhum roubo a residência nos 2 bairros. “A PM não apoia nenhuma empresa de segurança clandestina, que usurpa a função da Polícia Militar, o patrulhamento ostensivo das ruas. A logomarca colocada no cartão é totalmente irregular”. O tenente promete manter o policiamento para coibir a ação dos seguranças irregulares. O delegado chefe da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), Flávio Henrique Stringueta, destaca que a contratação deste tipo de serviço é uma situação bastante temerária. Mas que a atitude dos moradores, em buscar a segurança privada, é justificada pela sensação de insegurança. “Em geral, pagam por medo de serem vítimas da pessoa que oferece o serviço, não é um serviço espontâneo. O ‘segurança’ acaba sabendo a rotina das famílias que ali vivem e pode ser um precioso olheiro para as quadrilhas”. Em outro bairro da cidade, o Jardim Imperial, denúncias de que uma rede semelhante à desmantelada no Santa Cruz II continuam atuando. Eles cobram R$ 60 por mês, e quem não aceita pagar se torna um alvo dos criminosos. Um morador, que não aceitou pagar o pedágio, acabou perdendo todos os móveis. “Levaram fogão, TV, microondas e até mesmo o colchão. Só podiam estar com um caminhão. Lamentavelmente ‘ninguém’ viu nada”, desabafa um morador do bairro que, por medo, não quer ser identificado. Destaca que os seguranças chegam ao cúmulo de nem se darem ao trabalho de comparecer no local para cuidar do patrimônio de quem paga. “Simplesmente chega na data de cobrança e vão lá receber o dinheiro. Um verdadeiro pedágio para sua casa não ser assaltada”. Diretor de uma das maiores empresas de segurança de Mato Grosso e especialista em segurança com 22 anos de experiência, Maurício Alves pontua que ainda que os seguranças de rua busquem oferecer um serviço que de fato cuide do patrimônio, o fato de não serem regulamentados impede, por exemplo, que sejam interpelados judicialmente em caso de roubo. “Quando se contrata um serviço de segurança patrimonial, que só pode fazer em perímetros privados, uma vez que o espaço público é dever exclusivo da PM, há um contrato, uma checagem dos antecedentes dos vigilantes e a fiscalização por parte da Polícia Federal. Como você vai processar o vigilante da rua se sua casa for assaltada? Eles fingem fazer segurança e a população finge que está segura”. Alves lembra que nem todos são informantes de quadrilhas especializadas. Segurança Patrimonial -Atualmente, 39 empresas regulares atuam em Mato Grosso, com cerca de 6,6 mil vigilantes. Além de treinamento e checagem dos antecedentes, os seguranças são fiscalizados pela Polícia Federal, que possui uma delegacia especializada em segurança privada. No entanto, o maior controle não impede a atuação de irregulares. Além dos 6,6 mil na ativa, outros 10 mil possuem o curso para vigilantes, mas atualmente não exercem a função. Alves explica que os seguranças de rua não são uma concorrência desleal ao trabalho feito pelas empresas. “Nós não temos uma linha de atuação nas ruas, até porque isso é proibido”. Mas que por ser especialista na área, fica assustado com o número crescente de pessoas que oferecem este tipo de serviço. Em média, o custo mensal de uma guarita com segurança noturna de 2 vigilantes armados custa R$ 6,5 mil por mês, valor bem superior ao cobrado pelos vigilantes de rua. O valor ajuda a entender que quem paga por este serviço não o faz para ter segurança, mas para não ser alvo destes vigilantes. Segundo a PF, a fiscalização in loco é feita ao menos uma vez por ano. Em Mato Grosso, as visitas acabam ocorrendo com maior frequência. A cidade é dividida em regiões e os agentes da PF são separados em equipe. As ações visam verificar se as empresas cumprem a portaria 387/20069, do Ministério da Justiça, que estabelece os requisitos a serem atendidos para o pleno funcionamento das empresas. onsável as p s e r a é PF pres m e r a z i r o t por au nça a atuar de segura Delegado Flavio Stringuetta explica que moradores aceitam pagar por medo de represálias dos guardas de rua Otmar de Oliveira/Arquivo Seguranças registrados não atuam como vigilantes de rua, função exclusiva dos órgãos de segurança pública