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CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ALTERAÇÕES NOS PARADIGMAS
DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E
TECNOLÓGICA.
Carlos Alberto Rosa Junior, Esp.,
Professor Efetivo Instituto Federal de Mato Grosso, Mdo. em Educação UTCD,
[email protected]
Viviane Cristina Mota e Rosa, MSc,
Professora Titular UNIDEP, Mato Grosso, [email protected]
Luciana dos Santos Magalhães.
Aluna do curso Técnico em Edificações do Instituto Federal de Mato Grosso
RESUMO.
A Educação Profissional e Tecnológica na atualidade se depara com a função de resgatar pessoas
excluídas do mercado de trabalho, através dos programas específicos para a formação de jovens e
adultos. Devido à crescente evasão escolar, e ao desinteresse dos discentes pelos conteúdos
ministrados em sala de aula, buscou-se avaliar junto a discentes de cursos técnicos e tecnológicos
como os mesmos percebem as aulas ministradas por seus docentes, e compreender quais formas se
tornam mais atraentes e produtivas na aprendizagem. A maioria dos discentes entrevistados afirmou
estar descontente com o sistema de ensino e aprendizagem. Precisamos vislumbrar que o aluno é um
ser detentor de vontades e de saberes, quebrando paradigmas e tornando a educação mais dinâmica,
menos conceitual e mais prática. Ao longo do texto apresentamos sugestões visando aumentar o
interesse dos alunos, reduzir a evasão escolar e ampliar o aprendizado, solidificando questões
fundamentais à vida e ao labor.
PALAVRAS-CHAVE: 1. Educação Profissional; 2. Didática; 3. Aprendizagem
1 . Formação e Informação: desafio para o profissional contemporâneo
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A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) é provavelmente a vertente de ensino
mais complexa que existe, pois congrega cumulativamente as funções de formar cidadãos –
função precípua da educação em qualquer nível de escolaridade; formar mão de obra
qualificada e apta para o mercado de trabalho – função exclusiva da EPT e da educação
superior; e na atualidade se depara com a função de resgatar pessoas excluídas do mercado de
trabalho, seja pela baixa escolaridade ou pela ausência de formação profissional adequada,
através dos programas específicos para a formação de jovens e adultos: EJA e PROEJA.
Empiricamente observamos ao longo dos anos, pelos mais diversos fatores, que
variam desde a formação de nossos discentes, que hoje já ingressam no primeiro ano do
ensino fundamental com uma imensa gama de informações advindas de milhares (quem sabe
até milhões) de horas de televisão, até as atuais exigências de nossa sociedade que alterou
consideravelmente seus paradigmas nos últimos 30 anos.
A mudança do perfil da clientela que hoje orbita os bancos escolares vem conduzindo
nossos docentes a uma constante e coerente reflexão sobre: “quais rumos adotar para
ensinar?”
Torna-se evidente que a escola, no modelo cartesiano que conhecemos, necessita de
profundas alterações, mais provavelmente até de uma reconstrução, extirpando as suas bases
que lamentavelmente ainda encontram-se alicerçadas em alunos passivos recebendo
informações de seus Mestres detentores do saber.
De um modo geral, os alunos de hoje não se concentram, não tem prazer em aprender
e são ansiosos. Não se sentem entusiasmados a aprender algo de novo em uma sala de aula.
Devido à crescente evasão escolar, e ao desinteresse dos discentes pelos conteúdos
ministrados em sala de aula, este trabalho buscou avaliar junto aos discentes de cursos
técnicos e tecnológicos ministrados pela UNIDEP (Instituto Unificado de Educação e
Pesquisa), CEPROTEC (Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica de Mato
Grosso), e IFMT (Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso) como
os discentes percebem as aulas ministradas por seus docentes, buscando compreender quais
formas se tornam mais atraentes e mais produtivas na aprendizagem.
2. Aluno x Escola – Confronto Histórico
De um modo geral, os alunos de hoje não se concentram, não tem prazer em aprender
e são ansiosos. Não se sentem entusiasmados a aprender algo de novo em uma sala de aula.
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Segundo Cury (2003:58), as causas principais são frutos do sistema social que estimulou de
maneira assustadora os fenômenos que constroem os pensamentos.
Nas entrevistas realizadas junto aos discentes de cursos técnicos e tecnológicos
ministrados pela UNIDEP (Instituto Unificado de Educação e Pesquisa), CEPROTEC (Centro
Estadual de Educação Profissional e Tecnológica de Mato Grosso), e IFMT (Instituto Federal
de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso), a grande maioria dos discentes
entrevistados afirmou que: “não se sentem atraídos pelos assuntos ministrados dentro da sala
de aula, devido esta não ter algo que chame atenção”; outro fato relatado: “a posição das
carteiras enfileiradas, incomoda, pois os alunos acabem atrapalhando a visão do outro colega
que esta atrás, isso ajuda a dispersar o pensamento”. Comentaram também que a grande
maioria dos professores não traz algo para inovar ou enriquecer as aulas, e acrescentaram,
“tem professor que usa o data-show para ministrar aula e pensa que com isso irá estimular o
interesse do aluno porque é um equipamento inovador, e acaba às vezes tornando as aulas
mais chatas”.
O palco da mente dos jovens de hoje é diferente dos jovens do passado. Os fenômenos
que estão nos bastidores da mente deles e que produzem pensamentos são os mesmos, mas os
atores que estão no palco são distintos. A qualidade e a velocidade dos pensamentos
mudaram. Precisamos conhecer alguns papéis da memória e algumas áreas do processo de
construção da inteligência para encontrar as ferramentas necessárias e capazes de dar uma
reviravolta na educação (CURY, A., 2003:58).
O aluno no processo educacional tem que ser visto como um fator essencial para a
construção do conhecimento, e não só como um mero recebedor de conteúdos. A busca pelo
saber não está ligado exclusivamente no ato de ouvir, copiar e fazer exercícios, pois neste
aspecto metodológico os alunos devem permanecer calados e quietos em suas carteiras,
entretanto, é possível realizar vários tipos de propostas que pressupõem a participação ativa
do aluno e não se limitar apenas aos aspectos intelectuais ou a memorização de conteúdos
julgados como relevantes, como enfatizam Reznike e Ayres (1986 apud CANDAU, 1988, p.
121), “Quando falamos em reavaliação crítica, estamos atendendo não só para o processo em
si do ato educativo, mas também para tudo aquilo que os alunos já trazem enquanto vivência,
enquanto formação cultural”.
De acordo com Weisz (2002, p. 53), o professor precisa construir conhecimentos de
diferentes naturezas, que lhe permitam ter claros os seus objetivos, selecionar conteúdos
pertinentes, enxergar na produção de seus alunos o que eles já sabem e construir estratégias
que levam a conquistar novos patamares do conhecimento.
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Portanto não é possível formular receitas prontas para serem aplicadas a qualquer
grupo de alunos: o professor, diante de cada situação, precisará refletir para encontrar suas
próprias soluções e tomar decisões relativas ao encaminhamento mais adequado.
Precisamos vislumbrar, dentre outras coisas, que o aluno é um ser pensante, detentor
de vontades e de saberes, precisamos quebrar este paradigma e tornar a educação mais
dinâmica, menos conceitual e mais prática, onde o aluno seja um elemento participativo,
atuante na construção do seu aprendizado, onde o professor deixe de ser o difusor do saber e
passe a atuar como moderador das potencialidades de seus alunos.
Indubitavelmente tais procedimentos hão de possibilitar aos alunos maior interesse e
conseqüentemente menor evasão escolar e maior aprendizado, solidificando o aprendizado
das questões fundamentais a vida e ao labor.
3. O Aluno como Construtor do seu Conhecimento: Experiências em sala de aulas.
Certo dia foi ministrar aula em uma turma onde o assunto era contração e relaxamento
muscular, para aplicar o conteúdo utilizei alguns desenhos contidos em livros, ao final da aula
percebi que os desenhos, apesar de tecnicamente estarem corretos, não estavam expressando
por inteiro o processo de contração e o relaxamento muscular, e que provavelmente os alunos
não teriam conseguido compreender o conteúdo no todo.
Fiquei vários dias refletindo sobre o que fazer para melhorar aquela aula, e como gosto
de desenhar resolvi criar meu próprio croqui esquemático para representar todas as etapas da
contração e do relaxamento muscular.
E pude observar que a aprendizagem do conteúdo se deu de forma mais rápida e
adequada às necessidades do curso.
Em outra ocasião ministrei o conteúdo com o desenho criado por mim, ao final da aula
pedi para que os alunos se organizassem em grupos, e utilizassem sua criatividade,
empregando isopor, cartolina, papel cartão, tinta, e/ou qualquer outro elemento que
considerassem adequado, para representar as etapas de contração e relaxamento muscular, e
na aula seguinte apresentassem o material produzido em sala de aulas para os demais colegas.
O resultado dessa experiência foi fantástico, pois os alunos usaram a imaginação e
criaram estruturas extremamente interessantes, e capazes de transmitir o conhecimento
adquirido.
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Eles organizaram teatro, criaram estruturas que continham movimentos, e criaram
cartazes ilustrativos com esquemas e outros artifícios didáticos, com os quais, de forma até
então considerada inusitada expressaram de forma clara e coerente o conteúdo efetivamente
aprendido.
Ou seja, torna-se imperioso, que em sala de aula o professor seja capaz de propiciar ao
educando condições de torná-lo protagonista de seu aprendizado, e assim, conseqüentemente,
e principalmente ser o protagonista de sua inclusão social na perspectiva da cidadania.
Elevar o grau de escolaridade visando o desenvolvimento humano, o exercício da
cidadania, a qualificação profissional, e o desenvolvimento de experiências construtivas de
conhecimento e de participação cidadã são o alvo a ser atingido, mas como fazê-lo?
Segundo Gadotti (1999), o educador para pôr em prática o diálogo com o aluno, não
deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem
não sabe tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais
importante: o da vida.
Desta maneira, o aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente
competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo aprender
não é uma atividade que surge espontaneamente nos alunos, pois, não é uma tarefa que
cumprem com satisfação, sendo em alguns casos encarada como obrigação. Para que isto
possa ser melhor cultivado, o professor deve despertar a curiosidade dos alunos,
acompanhando suas ações no desenvolver das atividades.
O professor não deve preocupar-se somente com o conhecimento através da absorção
de informações, mas também pelo processo de construção da cidadania do aluno. Apesar de
tal, para que isto ocorra, é necessária a conscientização do professor de que seu papel é de
facilitador de aprendizagem, aberto às novas experiências, procurando compreender, numa
relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tentar levá-los à
auto-realização.
De modo concreto, não podemos pensar que a construção do conhecimento é
entendida como individual. O conhecimento é produto da atividade e do conhecimento
humano marcado social e culturalmente. O papel do professor consiste em agir com
intermediário entre os conteúdos da aprendizagem e a atividade construtiva para assimilação.
O trabalho do professor em sala de aula, seu relacionamento com os alunos é expresso
pela relação que ele tem com a sociedade e com cultura.
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Segundo Freire (1996), “o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o
aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não
uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as
idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”.
De acordo com o exposto, faz-se a seguinte interrogação: Como a didática pode
contribuir para que a Escola possa ser geradora e transformadora e não repetidora de
conhecimentos?
Eis que surge Chassot (2003) com uma sugestão para este problema, apoiando a
prática da “rodinha da novidade”, a qual daria o livre arbítrio aos alunos e alunas para que
contassem aquilo que foi significante nas suas descobertas, tais como o comentário dos filmes
que assistiram, os livros que leram, os sites que visitam com freqüência e que merecem
destaque por seu valor educacional. Dessa forma, professores e professoras tornam-se os
mediadores, reforçando as sugestões que parecem ser as mais relevantes, abolindo a ditadura
do livro-texto como a fonte do conhecimento quase exclusiva, buscando outros
abastecimentos mais atualizados e mais pertinentes de conhecimento para a construção da
cidadania crítica, uma vez que, hoje, o que está em jogo é nossa capacidade de transmitir a
informação e a seleção desta para com ela fazer formação e transformar a educação num ato
político.
Para modernizar a educação, os educadores precisam usar novos conhecimentos das
ciências do homem, não bastando equipar as salas de aula com tecnologia física moderna,
uma vez que esta pode se mostrar mais prejudicial que benéfica se mal utilizada. Precisamos
informar para formar, apresentar aos nossos discentes os conhecimentos para a vida e para o
seu labor, encadeando seu saber, formando conceitos que acima de tudo antes de formar
profissionais, forme cidadãos.
A construção do conhecimento, ou o despertar para esta construção, constituem-se em
metas para educadores preocupados com o desenvolvimento de pessoas mais críticas, que
consigam entender o que acontece ao seu redor, utilizando teorias para auxiliá-los.
Segundo Cury (2003), os alunos “aprendem a resolver problemas matemáticos, mas
não sabem resolver seus conflitos existenciais. São treinados para fazer cálculos e acertá-los,
mas a vida é cheia de contradições, as questões emocionais não podem ser calculadas, nem
têm conta exata”. Entretanto, construir conhecimentos científicos, através de teorias, e utilizálos para explicar fatos e experiências é um processo longo e complicado.
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4. A escola construindo conhecimento.
A escola que conhecemos, como vimos anteriormente, não vem se mostrando capaz de
atender as necessidades de sua clientela, nem sequer capaz de conter a evasão. Daí urge a
indagação: Como proceder?
Ao longo das pesquisas realizadas percebeu-se que os alunos gostam das disciplinas e
dos docentes que valorizam suas emoções, sensibilidades, seus saberes, e expressões
culturais, daí observamos ser muito produtiva a realização de uma anamnese junto aos nossos
discentes, não só para a confecção de nossas aulas, mas desde o embrião, que é a formação de
um currículo escolar, que tem que ser um currículo integrado, e integrador, e que seja capaz
de atender as necessidades prementes e complementares de nosso público alvo.
Precisamos desenvolver currículos que sejam integrados, interdisciplinares e
interdimensionais, capazes de promover a inclusão social no contexto do desenvolvimento
humano, de suas potencialidades, e dos direitos a cidadania em sua plenitude, promovendo o
educando como um sujeito participativo, interagindo com direitos e deveres, agindo em uma
gama de ocupações, que integrem ações comunitárias, culturais, esportivas, e de lazer.
O trabalho interdisciplinar consiste, primordialmente, em lançar uma ponte para
religar as fronteiras que haviam sido estabelecidas anteriormente entre as disciplinas com o
objetivo preciso de assegurar a cada uma seu caráter propriamente positivo, segundo modos
particulares e com resultados específicos (JAPIASSU, 1975, p.75).
Assim de acordo com Fazenda (2005) o trabalho interdisciplinar não se ensina, nem se
aprende, ou seja, vivencia-se, e constrói-se, pois o que caracteriza um trabalho interdisciplinar
é a busca, a pesquisa e a ousadia em romper os limites das fronteiras estabelecidas entre as
várias áreas de conhecimento, entretanto, respeitado cada área onde na construção
interdisciplinar estes campos de conhecimentos não se anulam, nem somem, contudo
estabelecem um diálogo dialético respeitado a especificidade do estatuto epistemológico de
cada área do saber. O projeto interdisciplinar nasce espontaneamente, no suceder diário e não
imposto a partir de uma proposição ou prescrição do currículo, pois o fazer interdisciplinar
parte de uma construção coletiva em prol de um novo conhecimento despojado dos conceitos
pré-concebidos e arraigados no consciente.
4.1 O mito do Currículo.
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Não podemos jamais esquecer que um currículo deve contribuir para a finalidade
última da educação, que é a felicidade integral da pessoa. O currículo deve ter na devida conta
os problemas e legítimas aspirações individuais e também os problemas e aspirações sociais.
O ponto de encontro é necessariamente a comunidade, que se constrói na relação entre
educadores e educadores, entre educadores e educandos e entre os educandos entre si.
Os conhecimentos curriculares estão contidos nos temas curriculares que, por sua vez,
devem ser organizados valorizando a Ética e Cidadania, a Ciência Integrada – que implicará
no
desenvolvimento
dos
conhecimentos
técnico-profissionais
necessários
para
o
desenvolvimento e exercício de uma profissão, e a Comunicação interpessoal.
Assim torna-se evidente que o educando pode – e deve - intervir ativamente na
realidade: penetrando-a e desvendando-a, afetando-a e deixando-se afetar por ela,
retroalimentando o sistema e transformando-o para melhor. Ainda permitindo ao educando
comunicar aos seus semelhantes os conhecimentos adquiridos juntamente com o amor
interveniente nas iniciativas transformadoras.
Nesse sentido a escola como elementos deste cenário social precisam romper com as
amarras do modelo educacional que não possibilita o pleno desenvolvimento do ser humano.
Aqui entendemos e acreditamos que este novo ser humano onde as escolas por meio do seu
papel social da formação contribuam para que este sujeito possa exercer o papel de ator social
reflexivo e crítico fazendo parte das relações sociais por ele tecida compreendendo-se como
ser único e múltiplo.
Construir ou buscar uma atitude que rompa ou saia dessa perspectiva de currículo
fragmentado, do tipo coleção (BERNSTEIN, 1988) implica não somente um desejo, mas uma
vontade política que vá além do discurso, redimensionando velhos paradigmas ou concepções
que muitas vezes estão arraigados em nossa formação, acreditando no novo, porque na
construção de uma proposta curricular não podemos negligenciar que “[...] é preciso levar em
consideração que existem diferentes classes de conhecimento e que cada uma delas é reflexo
de determinados propósitos, perspectivas, experiências e valores humanos” (SANTOMÉ,
1988, p.100).
Pensar nestas possibilidades implica uma mudança de concepção, crenças e posturas
do professor, estudantes como também da própria organização do trabalho pedagógico como
um todo.
4.1. Currículo Integrado.
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Como vimos o currículo torna-se fator preponderante para a consecução dos objetivos
anteriormente elencados, porém, como poderíamos definir efetivamente o que é ou como deve
ser um currículo?
O currículo como cerne de qualquer sistema educativo na sua qualidade de proposta de
ensino aprendizagem, tendo como referente a sua natureza e âmbito, deve ser estudado a
partir dos aspectos substantivos, sócio-políticos e técnico profissionalizantes que o compõem
Devem ser analisados os seus elementos nucleares, as metodologias aplicadas, os
modos de operacionalização e a abrangência das decisões que o definem, ao questionarmos
sobre o que se ensina ou se aprende? Como se organiza o conteúdo? Como se avalia tal
ensino ou aprendizagem? Quem são os intervenientes nas decisões de trabalhar certos valores
ou interesses, certos fins ou meios educativos, assim como, os conhecimentos especializados,
requisitos técnicos e competências necessárias para a execução, construção e avaliação do
currículo neste espaço tão prático e da prática, como é a educação (ALVES, 2000).
O Ministério da Educação no Manual do Educador do programa Pro-Jovem Urbano
enfatiza que pedagogicamente, ao longo da história, a palavra currículo teve diferentes
significados, sendo numa perspectiva mais tradicional definido como a “lista de conteúdos de
um curso”, já na ‘Escola Nova’ entendia-se currículo como sendo “o conjunto das
experiências vividas pelo aluno sob a orientação da escola”, já sob a ótica Tecnicista
reportava-se aos “arranjos necessários para compatibilizar os objetivos com os conteúdos e as
atividades do processo de escolarização”.
Em verdade devemos ter em mente que estes significados não se anulam, pelo
contrário, se complementam, e permanecem no imaginário dos educadores mesmo que de
forma inconsciente, o que nos obriga a refletir sob a sua influência na prática pedagógica, e
principalmente na sua capacidade de promover a efetiva atratividade, interação democrática, e
a retroalimentação anteriormente propagada
4.2 Currículo e Inclusão.
Segundo Oliveira e Mañas: (2004, p. 132), o termo exclusão tende a levar ao
raciocínio de estar fora, assim como o termo inclusão – seu antônimo – dá a idéia de estar
dentro. A visão dualista do termo exclusão todavia é bastante complexa, pois usualmente
ninguém está totalmente fora ou totalmente dentro, são múltiplas as possibilidades.
De qualquer forma tentar isolar um indivíduo ou grupo, é um tipo de exclusão e, com
efeito, para obtermos êxito, devemos encontrar uma maneira de buscar o entendimento de
determinadas situações, e ao mesmo tempo delimitar a possibilidade de uma compreensão
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dinâmica do que é ou não é exclusão, bem como de que forma esta ‘exclusão’ tem implicação
no processo sócio-educativo.
Oliveira e Mañas reconhecem ainda que não há uma separação entre os que estão
dentro e os que estão fora, e afirmam que “a exclusão seria imóvel,na acepção de estados de
privação”.
Assim torna-se evidente que a inclusão social no processo educativo não pode ser vista
como algo tão restrito como a igualdade de renda, trabalho, direitos ou deveres, muito menos
isolada em questões religiosas, políticas, étnicas, raciais ou culturais, devemos buscar as
interfaces, a união e intersecção entre estes elementos, objetivando gerar um currículo que
seja capaz de integrar todos os elementos de uma sociedade, respeitando e valorizando suas
semelhanças, e diferenças, sobrelevando outrossim, que independente de juízo de valores os
conceitos de certo e de errado sempre existirão, e estarão presentes na sociedade.
4.3. Currículo Virtual.
É importante ter ainda noção da existência de determinados elementos, que mesmo
não previstos no currículo acabam por contribuir sobremaneira na formação do aluno.
Dentre estes os que mais se destacam são: o ‘Currículo Oculto”, que pode ser definido
tudo aquilo que se ensina ou se aprende mesmo que não seja explicitado ou planejado, tais
fatos usualmente decorrem da convivência quotidiana, e da cultura escolar, ou seja, neste
ponto é importante salientar que a gestão institucional se torna perceptível e implicará na
formação deste aluno. Gestão por conflitos, brigas entre áreas, departamentos, e profissionais;
nepotismo, promoções sem mérito, e desvios de conduta de um modo geral usualmente são
percebidas e podem vir a nortear a formação de nossos discentes. Motivo pelo qual a escola
deve ser um modelo, e este modelo de primar pela lisura, ética e moral desde a sua gestão.
Existe também o “Currículo Nulo”, que pode ser definido como aquilo que é omitido
no processo de ensino e aprendizagem. Usualmente esta omissão não se dá de forma
intencional mas também é perceptível pela comunidade acadêmica e pode influir no currículo
formal, e principalmente na formação do discente.
4.4 Curriculo nunca está feito, se faz!
Acolher as diferenças étnicas, raciais, culturais, sociais, religiosas, físicas e mentais, entre
outras, é o papel fundamental do currículo. Não podemos conceber que, neste momento histórico,
o currículo ocupe-se em segregar e ignorar o diferente. O paradigma inclusivo aponta claramente,
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esta nova visão: de que cada um pode, dentro de suas possibilidades e potencialidades, contribuir
para a construção do outro.
A interação estabelecida no ambiente escolar deve ser reforçada por mecanismos que
possibilitem ao professor, assumir seu papel de mediador do conhecimento. Garcia (1999), nos
diz, numa perspectiva vigotskiana, que: “...é preciso esclarecer que alguém tem dificuldades em
um dado momento de sua vida, por ter se constituído desta forma, mas esta dificuldade não lhe é
inerente. Assim, é possível pensar que este sujeito pode constituir-se de outras formas, a partir de
outras relações”.
Um trabalho integrado da comunidade escolar pode aproximar o currículo da diversidade
e transformá-lo num agente de integração e inclusão.
5. Reflexões finais
A nossa experiência na educação profissional e tecnológica, em especial na educação
de jovens e adultos, combinada com a experiência advinda do trabalho com atividades
interdisciplinares possibilita-nos algumas reflexões acerca deste processo vivenciado por nós
professores e estudantes. Donde devemos em primeiro lugar destacar que a grande maioria
dos docentes concorda sobre a importância de se estabelecer uma relação de diálogo dialética
entre as áreas de conhecimento superando os ranços da fragmentação.Observamos que o
educador deve conhecer os valores, as crenças e as convicções dos alunos, e nunca se
contentar em ser apenas conteudista, transmissor de conhecimentos. Fundamentados nas
idéias de Imre Lakatos, defendemos que as pessoas já possuem um conjunto de
conhecimentos prévios, idéias, valores e crenças, e que só agregam a este conjunto novos
conhecimentos quando eles são devidamente conduzidos e adaptados a esse conjunto préexistente.
Em segundo lugar todos os envolvidos reconhecem a fragilidade na vivência
estabelecida, contudo estão abertos a novas experiências e ao crescimento em grupo, por meio
da parceria em prol da construção de conhecimentos mais significativos para todos os
envolvidos no processo de ensino e de aprendizagens. Em terceiro lugar a reflexão crítica
sobre as experiências construídas possibilitaram um maior amadurecimento para o grupo que
para muitos dos professores que não tiveram a vivência interdisciplinar no processo de
formação e para muitos dos estudantes que não estavam acostumados a serem protagonista da
sua própria aprendizagem.
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Em quinto lugar cabe-nos destacar que a experiência da prática interdisciplinar no
currículo mostrou as possibilidades de um processo de formação com mais sentido e
significado para todos, efetuando mudança de atitudes tanto nos docentes como nos discentes.
Por fim, a nossa expectativa é que as ponderações aqui iniciadas e apresentadas sejam
provocantes e provocadoras de novas reflexões com vistas ao aperfeiçoamento das práticas
interdisciplinares, pois é uma temática que poderá trazer, em discussões futuras, um novo
olhar, uma nova face do mesmo problema ou uma nova abordagem a partir de contextos e
experiências de outros interlocutores.
Não nos esquecendo que estas práticas interdisciplinares devem absorver num
contexto mais amplo questões restritivas e específicas relacionadas a inclusão e a atuação
deste jovem enquanto cidadão e enquanto profissional na sociedade em que se encontra
inserido.
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DP&A Editora, 2000.
FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: definição, projeto, pesquisa. In:
FAZENDA, Ivani C. Arantes (org.). Práticas interdisciplinares na escola. 10. ed. São
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BERNSTEIN, Basil. Clases, códigos y control – hacia uma teoria de lãs transmisiones
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BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de Ensino-Aprendizagem. Petrópolis:
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BRASIL. Programa Nacional de Inclusão de Jovens. Manual do Educador: Orientações
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CURY, Augusto Jorge. Pais Brilhantes, Professores Fascinantes. Rio de Janeiro:
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OLIVEIRA, J. F.; MAÑAS A. V. Tecnologia, Trabalho e Desemprego: um conflito social.
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SOFIA,
disponível
em:
<http://www.projectosofia.com/dnn/SOFIA/Curr%C3%ADculointegrado/tabid/97/Default.as
px>
SANTOMÉ, Jurgo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado.
Trad. Cláudia Schilling. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda., 1998.
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considerações sobre as alterações nos paradigmas didático