ARTIGO ORIGINAL == Padrões eletrocardiográficos na cardiomiopatia dilatada Electrocardiographic pa1terns in dilafed cardiomyopathy José Barbosa Filho, Francisco M. Albanesi Filho, Paulo Roberto B. Barbosa, Renato C. Lacerda, Paulo Ginefra duas das derivações precordiais direitas, Destes 44 (73,3%) tinham zona de transição tardia com ondas R, em Vs e Vô, de amplitude normal, baixa ou aumentada. Nestes mesmos pacientes, bloqueio BRE do 1? grau foi visto em 16 casos (25%), ondas Q patológicas em 22 (34%), baixa voltagem (BV), em derivações periféricas, em 24 (37,5%), sobrecarga atrial esquerda (SAE) em 36 (56%), sobrecarga atrial direita (SAD) em dois (3%) e fibrilação (FA) em 10 (16%). f\: os 22 pacientes pertencentes ao grupo 11 (BCRE)seis (27%) tinham SAE, dois (9%) SAD e seis (27%) FA Trabalho realizado no Serviço de Cardio!agia do Hospital Universitário Pedra Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ~ HUPE - UERJ. Endereço para correspondência: José Barbosa Filho. Serviço de Cardiologia. Hospital Universitário Pedra Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ. Rev, SOCERJ 3: 17-22, 1990 Resumo Os autores estudaram as alterações eletrocardiográficas em 90 pacientes com cardiomiopatia dilatada (CD). Os pacientes foram divididos em três grupos: pertenciam ao grupo! os pacientes com padrão eletrocardiográfico de sobrecarga ventricular esquerda (SVE), ao grupo II os com padrão de bloqueio completo de ramo esquerdo (BCDE) e ao grupo II1 os com bloqueio de ramo direito (BRDl. Faziam parte do grupo I 64 pacientes (71%), do grupo II 22 (24,6%) e do grupo III quatro (4,4%l. Setenta e dois casos (80%) apresentaram arritrnias, sendo do tipo fibrilação atrial (FA) em 20 (28%), taquicardia supraventricular (TSV) em dois (3%), bloqueio atrioventricular, do 1? e 2? graus, ern.ouc-ü'l %-), êx-=_----1~r;:!~-C'~r~·""~,,'t '''' ventriculares (EV) em 63 (87,5 %) e extra-sístoles supraventriculares (ESV) em 42 (58%). Dos 64 pacientes com padrão de SVE 60 (93,75%) apresentaram ondas S profundas em pelo menos -- ---------- Nos quatro doentes do grupo 111 (BRD) observamos que dois (50%) tinham a forma incompleta de BRD, dois 150%) a forma completa e todos apresentavam FA. introdução I A cardiomiopatia dilatada (CD) é a mais freqüente das cardiomiopatias e, ao contrário das demais, apresenta as cavidades vontriculáros grandemente dilatadas e difusamente hipocinéticas. Estudos anatomopatológicos têm demonstrado que as paredes ventriculares são pouco espessas, há cé_!uias c2~c:acas normais, hipertrofiadas, riqueza de células em fase de degeneração e tecido fibroso de cicatrização. O eletrocardiograma IECG) é método não invasivo, de grande valor para o diagnóstico e orientação diagnóstica das diversas afecções do _._--------- --- aparelho cardiovascular. A simplicidade da feitura aliada ao baixo custo operacional, faz do ECG instrumento indispensável ao exame cardiológico sendo, não raro, dado decisivo para o diagnóstico final. O presente trabalho analisa as várias alterações eletrocardiográficas encontradas na CD e procura evidenciar o padrão que melhor define esta entidade. Material e métodos Foram estudados 90 pacientes com CD Não foram incluídos, em nossa casufstica. os pacientes que apresentavam descompensação cardíaca periparto, história de infecção, que poderia justificar miocardite, hipertensão arterial, doença de Chagas e os que faziam usp abusivo de bebidas alcoólicas. Doença eoronariana foi afastada por dados cinecoronariográficos, que demonstram coronárias sem processo obstrutivo aterosclerótico. As idades de nossos pacientes variaram de 5 a 68 anos (média = 46 anos), 72 (80%) eram do sexo masculino e 60 (66%) eram não brancos. Com base nos achados eletrocardiográficos os pacientes foram divididos em três grupos: pertenciam ao grupo I os que apresentavam sinais de sobrecarga ventricular esquerda (SVE), ao grupo 11 os com bloqueio completo de ramo esquerdo (BCRE) e ao grupo 111 os pacientes com bloqueio de ramo direito (BRD). Os ECGS foram realizados em repouso, com os pacientes deitados em decúbito dorsal, empregando-se ----_._._._._------------------- 18 Revista da SOCERJ - Vol. 111 - N? 1 - Janeiro, Fevereiro, Março, 1990 aparelho de um canal e registrando-se as 12 derivações clássicas, na velocidade de 25 mm/seg_ e com a padronização de 1 mV correspondendo aJO mm de papel. O critério para o diagnóstico de SVE foi o de Romhilt e Estes e o de sobrecarga atrial esquerda (SAE) foi o índice de Morris. As demais alterações do traçado foram interpretadas à luz dos critérios convencionais. O diagnóstico clínico foi confirmado pelo cateterismo cardíaco, incluindo ventriculoqrafia e coronariografia. Em todos os pacientes encontramos pressão sistólica (PS) normal no ventrículo esquerdo (VE) com pressões diastólicas (PD) elevadas, em especial a PD final (pd2l. O VE mostrou-se sempre com cavidade aumentada, fração de ejeção (FE) inferior a 40%, coronárias sem lesões obstrutivas e a massa muscular do VE variou de 280 g/cm2 a 180 g/cm2 com a média de 240 .± 29 g/cm2 Bll••iiil; .' n % ECG 11 64 22 71 24 SVE BCRE 111 4 4 BRD Grupo '. Fig. 1. Traçado eletrocardiográfico de três pacientes com cardiomiopatia dilatada. No caso A observe-se extra-sístoles ventriculares, no B blo- TABELA 11 Arritmias observadas (n = 72) n Arritmia FA I = Arritmia cardíaca foi registrada em 72 (80%) casos, sendo do tipo fibrilação atrial (FA) em 20 (28%), extra-sístoles ventriculares (EV) em 63 (87,5%), supraventriculares (ESV) em 42 (58%), taquicardia supraventricuG-r-(T~V+-e-rn cJ;--·is pacientes (3%) bem como bloqueios atrioventriculares (BAV), do 1? e 2° graus, em oito (11%) (tabela II e figo 1). Nos 64 pacientes do grupo I foram observados BRE do 1? gau em 16 casos (25%), ondas O patológicas em 22 (34%), sendo 12 da parede anterior e 10 inferior, baixa voltagem em derivações periféricas em 24 fibrilação atrial; EV % 20 63 28 87,5 42 58 8 2 11 3 = extra-sístole ventricular, TABELA 11I Principais alterações do ECG do grupo I (n = do 2.0 grau, do tipo Mobitz 2, e no C taquicardia oeroxística supraventricular. queio atrioventricular tes deste grupo evidenciaram-se ondas S profundas em pelo menos duas das derivações de V 1 a V 4. Destes, 44 (73%), a zona de transição, nas derivações precordiais, era tardia, com crescimento pobre das ondas R, sendo elas em 24 (54,5%) amplas em V5 e V6 e 20 (45,5%) as ondas R eram normais ou de baixa voltagem (figs. e 6) Todos os 22 pacientes do grupo II apresentavamn ORS com duração superior a 0,12 sego SAE foi registrada em seis (27%), direita em dois (9%) e FA em seis (27%) (tabela 4l. - No grupo 111podemos verificar duração de ORS normal em dois (50%) e de 0,12.nos demais e FA em todos os quatro casos (tabela 5l. 5 esv '" extra-sístole supraventricular; BAV = bloqueio atrioventricular; TSV = taquicardia supraventricular. SVE = sobrecarga vebtricular esquerda; BCRE = bloqueio completo de ramo esquerdo; BRO = bloqueio de ramo direito. .- +. FA EV ESV BAV TSV TABELA I Classificação (n = 90) H- +, H Resultados Faziam parte do grupo I, 64 pacientes (71 %), do grupo 1122 (24%) e do grupo III quatro (4%) (tabela Il. • -=- ! -, 72) Alteração n % Discussão BRE 1° 16 25 Q 22 34 O ECG tem demonstrado ser um método do maior valor para o diag- SAE SAD 36 2 FA ALT. T 10 56 3 16 64 100 BRE 1° '" Bloqueio de ramo esquerdo" grau; Q = ondas Q patológicas; SAE = sobrecarga atrial esquerda; SAD '" sobrecárga atrial direita; FA = fibrilação atrial; ALT. T = alterações da onda T. (37,5%), SAE em 36 (56%), SAD em dois (3%), FA em 10 (16%) e alteração da repolarização em todos (tabela 111).Em 60 (94%) pacien- TABELA IV Principais alteracões do ECG do grupo 11(n = 22) Alteração SAE SAD FA n % 2 27 9 6 27 6 SAE = sobrecarga atrial esquerda; SAD '" sobrecarga atrial direita; FA ~ fibrilação atriaí. Barbosa Filho e cal. - ECG na cardiomiopatia dilatada 19 t' 1I I' !~ !I! "t,i li :n1~tJ-Pl~·~~~ttU~: ~~Gj~frt;~~~~r~ 01. 02 i. . --..., r'- -~r--., 03 'R "';""'-l "'-r, .. \..:: "",l--. 3' f 8 L-..,("'- -. --''-V:--' .I • 5 ':" "r;! .J~J~- }/'-~I~f: -1;, __ .•..•...... I I ! { Fig. 2. Eletrocardiograma de dois pacientes do grupo I. No traçado A observa-se complexos ORS de baixa voltagem nas derivações periféricas, sobrecarga biatrial, ondas R de baixa voltagem em Vs e V6, zona de transição tardia nas derivações precordiais direitas, com mortologia OS de VI a V4 e padrão de necrose da parede inferior. No traçado B, ctiema atenção o padrão da necrose da parede inferior, queda da amplitude de R de V3 para V4• ondas R amplas em Vs e V6 e zona de transição deslocada para a esquerda. Fig. 4. Eletrocardiograma de dois pacientes do grupo I. Notar que nos dois traçados as ondas R são de amplitude aumentada em Vs e V6, normal nas derivações periféricas e a zona de transição está desloca da para a esquerda. No traçado B as ondas R são de pequena amplitude de V I a V4 e no A observa-se importante sobrecarga atrial esquerda ~:!: I: i,;;;'!' 'I,i :'! 'I ! ri~ ! i" "L': i·i .:r,!''']; ~:~::J:.:[·Ht J:~V; L<í-l j:::.• Fig. 3. Padrão eletrocardiográfico de dois pacientes do grupo. I. - Observar que ambos apresentam zonas de transição deslocadas para esquerda, mortologia OS de VI a V3, ondas R de amplitude normal em V5 e V6 e complexos lJRS de baixa amplitude em derivações periféricas. TABELA V Principais alterações do ECG do grupo 111(n = 4) Alteração n % BIRO BeRO FA 2 2 50 50 4 100 BIRO = bloqueio incompleto de ramo direito; BeRO = bloqueio completo de ramo direito; FA = fibrilação atrial. L.:::!:;:!,~:.I; Fig. 5. Aspectos evolutivos de dois casos de cardiomiopatia dilatada. Em A observa-se a evolução do padrão de bloqueio incompleto de ramo esquerdo para a forma completa e em B de ritmo sinusal para fibrilação atrial. nóstico ou orientação diagnóstica das várias formas de cardiopatias(1-71 Em trabalho prévio'!' tivemos a oportunidade de demonstrar que es- Fig. 6. Típicos padrões eletrocardiográficos de dois pacientes com cardiomiopatia dilatada dos grupos I e /I. te método não invasivo é de grande importância no reconhecimento da cardiopatia hipertrófica (CH), permitindo, com margem de segurança aceitável, o reconhecimento da parede ventricular mais intensamente afetada pelo crescimento desordenado das células cardíacas. Pela análise dos nossos resultados podemos verificar que o valor do ECG foi semelhante ao encontrado na CH e através dele podemos dividir os pacientes com CO em três grupos básicos: grupo I pacientes com padrão eletrocardiográfico de SVE, grupo 11 com BCRE e grupo 111 com BRD 00 estudo conjunto dos três grupos notamos que o grupo I foi o mais freqüente, com 71 %, seguido do grupo 11, com 24,6% e o grupo 111, com 4,4% (fig. 1). Dentro do grupo I, chamou-nos atenção, pela freqüência (51 %), o padrão eletrocardiográfico caracterizado por ondas S profundas em precordiais diretas, zona de transição tardia, podendo as ondas R. em V5 e V6, serem de amplitude normal, aumentada ou baixa e crescerem um pouco de V1 a V4 (figs. 2, 3 e 4). Os complexos QRS, nas derivações periféricas, mostraram-se com _...l 20 Revista da SOCERJ - Vol. lI! - N? 1 - Janeiro, Fevereiro, Março, 1990 i· voltagem normal ou baixa, contrastando com a alta voltagem das precordiais. Em todos os traçados notamos alterações da repolarização ventricular (figs. 2, 3 e 4l. Frqüentemente as alterações morfológicas do coração, sejam elas primárias ou secundárias, modificam substancialmente o ECG. Estas alterações, na maioria das vezes, estão relacionadas, além das alterações estruturais, a desvios da seqüência normal da ativação elétrica do coração. O padrão observado nos pacientes pertencentes ao grupo I está, a nosso ver, relacionado a dois fatores: aumento da massa global do ventrículo esquerdo, haja visto que todos os pacientes apresentavam valores superiores a 180 g/cm2, e seqüência anormal da sua ativação. O primeiro justificando a SVE e o segundo o padrão morfológico de ORS nas derivações precordiais. Enquanto que o aumento da massa global do VE está relacionado com o crescimento desta câmara, a seqüência anormal da sua ativação está na dependência da magnitude e do local em que o processo de degeneração celular é mais significativo. Analisando os ventriculogramas, em função da gravidade da doença, tem-se observado'ê?' que quanto mais avançada for a doença, mais intensa e mais extensa são as zonas hipo e acinéticas do VE. Observando a distribuição da zona acinética ternos notado'ê' que ela inicia-se pela ponta do coração, atinqe a parede nvre e somente as formas terrninais apresentam as regiões basais comprometidas. Baseado nestes dados anatõmicos é lógico admitir que as modificações de ORS registradas nas precordiais direitas se devam à exacerbação dos vetores da base do VE. Assim, teríamos ondas S profundas de V1 a V3, ou mesmo V4, e, na dependência do grau de comprometimonto da parede livre de VE ondas R de maior ou menor amplitude, A diminuição ou ausência de crescimento de R nas derivações precordiais direitas poderiam estar relacionadas à diminuição das forças parasseptais direitas ou representar sinal indireto de crescimento atrial direit0l10,l1l. Por sua vez os complexos de bai- xa voltagem, nas derivações periféricas, e as alterações de repolarização estariam na dependência, respectivamente, de uma menor difusão da atividade elétrica, para os pontos mais distantes do coração (devido à própria cardiomegalia, derrame das serosas e/ou edernas sistêrnicos) e as lesões graves do endocárdio'!". Os bloqueios de ramo foram observados em 26 dos 90 pacientes com CO correspondendo a 29% da casuística estudada, Destes, 22 (84,6%) correspondiam ao grupo 11 (SCRE) e 4 (15,4%) ao grupo III (BRD), Tem sido objeto de vários estudos o significado do BCRE tanto da população normall13-16l como na portadora de cardiopatia de diversas etiologias(13-15l. Cristiani(16l demonstrou que 30% de seus pacientes com BCRE tinham como doença básica a CO, demonstrando que um contingente significativo de pacientes com BCRE apresentam a forma dilatada de cardiomiopatia. Se por um lado é significativo o número de pacientes com CD e BCRE, usando como base a própria doença ou o distúrbio da condução, por outro lado o seu significado prognóstico é pouco consistente posto que 23% dos pacientes com CD e BCRE, apresentam área cardíaca normal ou pouco aumentada e 40% podem se encontrar assintomáticos ou em classe funcional 1116l, ainda que, durante a evolução da CO, há uma tendência dos pacientes evoluírem para formas mais avançadas de BRE (fig 5). Em nosso meio os distúrbios de condução têm sido utilizados para o diagnóstico da cardiopatia da doença de Chagas e para o diagnóstico diferencial com as outras formas de cardiomiopatia em especial com a forma primária da Co. Assim enquanto na cardiomiopatia da doença de Chagas, independente da forma, predomina o BRD, com incidência de 65%117,lSl, na CD, pelos nossos dados, ele é de apenas 4,4 %, Quando analisamos, tão-somente, a forma dilatada da cardiomiopatia da doença de Chagas verificamos que o BRO tem uma incidência de 50%, a SVE de 33% e o bloqueio divisional esquerdo anterior de 17%119l, Assim nos pacientes com Co o eletrocardiograma permite, com margem de segurança bastante signifi- . . I cativa, separar os pacientes que merecem uma investigação mai~ específica para a doença de Chagas, Ondas Q anormais são achadas relativamente freqüentes nas ~ardiomiopatias, podendo atingir até 30% na CHll,2l e í5% na C0141. Enquanto na CH a gênese das ondas; Q patológicas está relacionada aosepto interventricular hipertrofiado ' ou a zonas de infarto-", na CD representam a confluência de zonas de necrose microscópicas e/ou fibrose da parede ventricularv?'. Ondas Q, de configuração anormal, foram observadas em 22 pacientes de nossa casuística (24,4%). Em 12 casos localizou-se em V1, V2 e V3, configurando o padrão de necrose da parede ântero-septal, e em 10 da parede inferior com comprometimento de O2, 03 e aVF. Os padrões de sobrecarga atrial, em especial SAE, são com grande freoüência observados nas várias forma~ de cardiorniopatias+". Encontramos este padrão em 46 dos nossos 90 pacientes (51 %), sendo que em ~2 era do tipo SAE e quatro SAo, demonstrando um nítido predomínio da SAE sobre a direita, Se somarmos a estes 45. os 24 com FA notamos que em 24 traçados (26,6%) a despolarização atrial pode se mostrar absolutamente normal. Até os dias atuais não se tem justificativa adequada para explicar as alterações eletrocardiográficas correspondentes à SAE PaíB Josephson e col. (21)as alterações de P, correspondentes a SAE, são devidas a defeito da condução interatriai, podendo corresponder à via de condução mais longa ou à diminuição da velocidade da condução do estímulo. Por outro lado, as alterações hemodinâmicas (elevação da pressão diastólica de VE e média de AE) e aumento do AE, presentes em todos os casos, deixa sem explicação os 24 casos, nos quais não foi observada a SAE. Estes dados nos levam a acreditar que, embora, as alterações de P representem dado sensível para o diagnóstico de aumento e sobrecarga do AE na CD, a presença de ondas P normais não é dado preciso para afastá-I os, Finalmente arritmias, quer do ponto de vista clínico ou eletrocardiográfico, foram evidenciadas, em mais de \11 Barbosa Filho e cal. - ECG na cardiomiopatia dilatada urna ocasrao. em 72 pacientes (80%), sendo as mais freqüentes as EV (87,5%), as ESV (58%) e a fibrilação atrial (28 %). Embora permaneça incerto o mecanismo, que inicia a arritmia na CO, a sua gênese, muito provavelmente, está relacionada.às alterações a nível celular e às dilatações das câmaras do coração. Ainda que a maioria dos pacientes com CO morram em insuficiência cardíaca, dentro dos cinco primeiros anos após o diagnóstico!221, temse atribuído aos distúrbios do ritmo cardíaco papel importante tanto na determinação da função do coração como no mecanismo da morte, em especial de morte súbita'<". Assim, num mesmo doente, temos observado que, embora a função ventricular possa manter-se adequadamente equilibrada nos pacientes com FA, o seu aparecimento, quando previamente o doente estava em ritmo sinusal (fig. 5),-determina, inexoravelmente, diminuição da aptidão para desenvolver trabalho físico e não raro, o torna refratário ao tratamento clínico. A outra grande importância da FA é a estase que determina, dentro das cavidades atriais, ou mesmo sistêmica. aumentando o risco de acidentes tromboembólicos, por vezes fatais, tanto sistêmico como pulmonar. Vários estudosl23-251têm confirmado a alta incidência de arritmia ventricular na CO e, na dependência da sua complexidade, têm encontrado um excesso de mortalidade por morte súbita. Estes estudos, até certo ponto, são conflitantes com os de Huang e co1.1261posto , que, somente quatro dos seus 35 pacientes com arritmia ventricular séria morreram de morte súbita nos três primeiros anos de acompanhamento. Parece-nos, no entanto, prudente o reconhecimento e o tratamento das arritmias ventriculares, principalmente as mais complexas, que se fizeram presentes no curso evolutivo da doença. Podemos concluir que, pelos fatos acima assinalados, o ECG é um método de grande valor para o reconhecimento da CD, fornecendo importantes dados para avaliação destes pacientes, sendo o padrão encontrado no grupo loque melhor caracteriza a CO Summary The authors describe the main electrocardiographic features in 90 cases of dilated cardiomyopathy. The patients were devided into three groups: in group I were the patients with electrocardiographic signs of left ventricular hypertrophy, in group li the patients with complete left bundle branch block and in group 111the cases with right bundle branch block. Was held in the group I 64 patients (71 %), in the group 11 22 (24.6%) and in the group III four (4.4%) Seventy two patients (80 %) showed arrhytmias. Atrial fibrilation was observed in 20 patients (28%), supraventricular tachycardia in two (3 %), atrioventricular block, of the 1 and 2 degree, in eight (11%), ventricular arrhytmias in 63 (875%) and supraventricular in 42 (58%). In the 64 patients, with left ventricular hypertrophy, 60 (93.75%) showed very important S waves in. at least. two right precordial leads. Fourty four patients (73.3%) had rS pattern in right precordialleads, from V1 to V4 with the R waves in V5 and V6 with normal, low and high amplitude. A firstdegree left bundle branch block was recorded in 16 patients (25%), a patologic Q waves in 22 (37.5%), low voltage, in limb leads, in 24 (37.5 %), left atrial enlargement in 36 (56%), right atrial enlargement in two (3% ) and atrial fibrilation in 10 (16%). In the 22 patients from the group 11six (27 %) had left atrial enlargement, two (g%) had right atrial enlargement and six (27%) atrial fibrilation. In the four patients from group 111 (50%) had an incomplet right bundle branch block, two (50%) the plet form and ali had atrial fibrilation. Referências bibliográficas 1. Barbosa Filho, J.; Lopes, A. 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