//01 D. Manuel Martins Bispo Emérito de Setúbal A propósito da Canonização de Frei Nuno de Santa Maria Estátua equestre de D. Nuno Alvares Pereira, Batalha. Portugal está a viver um acontecimento de grande importância para a sua história presente e futura. No passado domingo, 26 de Abril, decorreu, em Roma, a canonização do Beato Nuno de Santa Maria (1360-1431), já designado com o epíteto de Santo Condestável. Figura ímpar não apenas para a sociedade do seu tempo mas também para a Igreja, a ele se deve a defesa da nação portuguesa face às incursões espanholas e ao ressurgir de uma Igreja ao serviço dos pobres e dos mais desfavorecidos. Nele se concilia a va- lentia e a coragem, a bondade e a santidade de coração. Neste sentido, publicamos um pequeno artigo de D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, a quem agradecemos a sua disponibilidade para colaborar neste espaço do acaminho. A par desta reflexão, aconselhamos a leitura da nota pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa acerca da vida, das acções e da importância que o Beato Nuno teve para Portugal e para a Igreja do seu e do nosso tempo. //01 D. Manuel Martins Bispo Emérito de Setúbal D. Nuno Alvares Pereira. O nosso Beato Nuno foi finalmente canonizado. Não vamos dar a este acontecimento demasiada importância até porque santo era há muito para a maior parte dos portugueses. Houve quem ficasse espantado e zangado com a representação do País às cerimónias de S. Pedro, acontecida ao mais alto nível. Acalme-se essa boa gente, porque isto faz parte dos protocolos comuns. Espantado e preocupado poderá ficar o melhor de Portugal, pela leitura que será lícito fazermos dessa reacção e do generalizado desinteressa nacional perante este acontecimento. É que neste acontecimento, e pelo seu significado, joga-se um pouco a sorte de Portugal. Explico-me: quem recorda um pouco da história de então, sabe que Portugal estava a morrer, estava a deixar-se “comer” pela voracidade de Castela e poucos davam por isso. Foi Nuno Álvares Pereira que, profun- damente incomodado e inquieto, veio a terreno para salvar a alma de Portugal, para dar Portugal a Portugal. É por isso que julgo ser muito desafiador este acontecimento. É que eu, e tantos como eu, sentimos que Portugal está a fugir de Portugal, não só a nível de comportamento do seu povo, mas também, e sobretudo, por tantas preocupações certamente negativas por parte dos homens do Poder, que muito terão a ver com a dignidade da pessoa humana, os direitos dos cidadãos, os valores em que assenta a nossa civilização. Vamos descobrindo, apreensivos, que aberta ou sub-repticiamente se procuram secar as raízes da civilização que somos. Por outras palavras, veja-se lá por culpa de quem, Portugal anda a fugir de Portugal! Temos que acordar e reagir. Como São Nuno de Santa Maria: Portugal em Portugal.