Processos Hidrológicos CST 318 / SER 456 Tema 3 –Interceptação ANO 2015 Laura De Simone Borma Camilo Daleles Rennó http://www.dpi.inpe.br/~camilo/prochidr/ Processos hidrológicos Interceptação - definição Interceptação primeiro processo hidrológico pela qual a água passa processo pelo qual a água da chuva é temporariamente retida pela vegetação (folhas, galhos e troncos), sendo, em seguida, redistribuída em: Água que goteja no solo Água que escoa pelo tronco Água que volta à atmosfera por evaporação direta Interceptação - importância Reservatório que retém e devolve para a atmosfera uma importante parcela da precipitação Processo eventual ocorre quando há chuva Áreas de floresta a interceptação pode atingir mais de 30% do total precipitado Interfere no balanço hídrico da bacia hidrográfica: Contribui diretamente para a quantidade de vapor d´água da atmosfera Influencia no comportamento da vazão ao longo do ano: Favorece a infiltração da água no solo Retarda e atenua o pico de cheias Frequentemente negligenciado devido à grande variabilidade e às dificuldades de quantificação A sua não consideração pode induzir a erros na modelagem Interceptação – o processo Uma parte da chuva é retida pela vegetação (interceptação) Outra parte percola através das folhas e troncos, quando a capacidade de armazenamento é superada (precipitação efetiva) Parte da água interceptada evapora depois da chuva Definições Precipitação incidente (P) – quantidade de chuva medida acima do dossel ou em terreno aberto, adjacente à floresta P Precipitação interna ou throughfall (Pi) – chuva que atravessa o dossel florestal, englobando as gotas que passam diretamente pelas aberturas das copas e as gotas que respingam da água retida nas copas Escoamento pelo tronco ou stemflow (Pt) – água de chuva que, após ser retida pela copa, escoa pelo tronco em direção à superfície do terreno Precipitação efetiva Pe = Pi+ Pt Ps Pt Precipitação efetiva e interceptação Precipitação efetiva (Pe) – chuva que efetivamente chega ao solo Pe = Pi + Pt Pe = P – I Onde: I - Interceptação – fração de chuva que é evaporada diretamente da copa, não atingindo o solo, dada por: I=S+E Sendo: S – capacidade de retenção do dossel - quantidade de água que pode ser retida temporariamente na copa, antes do início dos processos de Pi e Pt E – evaporação da água retida na copa Interceptação e armazenamento na folha (S) No início da chuva, ocorre primeiramente o armazenamento de água na folha e no dossel (S) Somente depois de S ter atingido seu ponto máximo, começam os processos de escoamento pelo tronco (Pt) e precipitação interna (Pi) Capacidade de armazenamento (S): Equilíbrio entre a tensão superficial e a gravidade Tensão superficial na folha é função Do tipo de folha (vegetação) Das forças externas (clima) Temperatura: influencia na viscosidade da água Vento: quebra as forças de adesão Intensidade da precipitação: influencia nas forças de adesão Maiores valores de S ocorrem nas seguintes condições Espécies com folhas grandes e rugosas Baixa temperatura do ar Ausência de ventos Baixa intensidade de precipitação Equilíbrio entre tensão superficial e gravidade Foto: Ricardo Espinheira Fatores condicionantes da interceptação Condições meteorológicas Precipitação Altura Duração Intensidade Vento Temperatura Umidade do ar Período do ano Características da vegetação Folha Tamanho Forma Rugosidade Espécie Bioma Interceptação – o processo Horton (1919) um dos primeiros trabalhos notáveis no estudo da interceptação (descrição detalhada do processo) Estabeleceu as primeiras suposições sobre esse processo: O volume das perdas por interceptação é função da capacidade de armazenamento da vegetação (S), da intensidade da chuva e da evaporação durante o evento O percentual das perdas por interceptação decresce com a intensidade de chuva Os volumes de escoamento de tronco são significativos, mas seu percentual em relação à chuva é pequeno A interceptação é maior em coníferas do que em latifoliadas Giglio e Kobiyama (2013) Influência da vegetação Árvores, arbustos, gramíneas e serrapilheira Influenciam, principalmente, a capacidade de armazenamento Folhas mais largas têm maior área de captação, porém conduzem à formação de gotas maiores, que pingam mais facilmente no solo Vegetações perenes têm capacidade de armazenamento mais uniforme do que vegetações do tipo decíduas (caducifólias) Maior densidade de vegetação maior capacidade de armazenamento maior interceptação http://eyesnature.files.wordpress.com/2009/08/chuva-na-mata2-low.jpg Influência da vegetação Richardson (2000) É difícil extrair conclusões gerais sobre a influência de um tipo de floresta nas perdas por interceptação, porque essas dependem também das características da chuva e outras condições meteorológicas As características de uma floresta que influenciam a interceptação não são fáceis de identificar e quantificar Densidade de árvores, inclinação dos galhos, uniformidade da altura da copa, características da casca, forma e inclinação das folhas e índice de área foliar são todas características que influenciam a interceptação Trabalho: Tema 1 – fazer uma revisão dos trabalhos acerca da influência da vegetação sobre a interceptação http://eyesnature.files.wordpress.com/2009/08/chuva-na-mata2-low.jpg Influência do clima Interceptação x precipitação De uma chuva pequena, p.e. 5mm, quase toda água será retida pelas copas e evaporada 100% de “perda Aproximadamente a mesma quantidade de chuva, 5mm, será perdida de uma chuva maior (p.e. 100mm) 5% de perda Kobyama, 2008 Influência da precipitação Kuraji et al (2001): mediram volumes mensais de chuva total, precipitação interna e escoamento pelo tronco Observaram que o percentual de perdas por interceptação foi maior no ano com mais eventos de chuva e menor volume total precipitado Cuartas et al. (2007) Observaram que a maior quantidade interceptada ocorre nos anos mais secos Trabalho: Tema 2 – fazer uma revisão dos trabalhos acerca da influência dos parâmetros do clima sobre a interceptação Alguns locais de medida para o Brasil Giglio e Kobiyama (2013) Alguns valores para o Brasil Oliveira et al., 2008 Alguns valores para o Brasil Trabalho: Tema 3 – fazer uma revisão dos trabalhos acerca dos valores de interceptação identificados para regiões brasileiras Giglio e Kobiyama (2013) Medida da interceptação Métodos empíricos Considera-se um sistema onde: Entrada = chuva total (P) Saída = chuva interna (Pi) e escoamento pelo tronco (Pt) Diferença = interceptação I = P – Pi – Pt medida indireta Variáveis a serem medidas: P - precipitação total (externa) Pi - precipitação interna Pt - escoamento pelo tronco Medida da precipitação interna - Pi Podem ser utilizados pluviômetros comuns (interceptômetros) e/ou calhas Pluviômetros podem conduzir a erros – grande variabilidade espacial da precipitação interna alternativa - vários pluviômetros + relocação periódica dentro da parcela Calhas possuem maior área de captação as chuvas coletadas devem ser conduzidas a um pluviômetro zinco ou plástico/tamanho varia conforme a necessidade Borda dobrada para dentro, para evitar perda por respingos Ideal: Calhas + pluviômetros Medida da precipitação interna - Pi Kobyama, 2008 Medida do escoamento pelo tronco (Pt) Utilização de uma calha bem vedada em torno da árvore (colar) Chapa final de metal ou mangueira cortada ao meio Uso de pregos e cola de silicone Medição pode ser feita individualmente ou em grupo Coleta em um reservatório Floresta com grande número de árvores pequenas – medição é difícil Kobyama, 2008 Medida do escoamento pelo tronco - Ps Em geral, Pt constitui uma fração muito pequena da precipitação incidente, variando de espécie para espécie Espécies de tronco liso – 5 a 8% da precipitação incidente Espécies de casca rugosa – 1 a 2% (ou até menos) da precipitação incidente Medem-se diversas árvores em uma parcela e utilizam-se cerca de 5 a 10 parcelas em uma floresta, distribuídas ao acaso Como é feita a transformação do volume de água coletada em cada árvore para a unidade mm de altura de água? Mede-se Pt em todas as árvores de uma parcela pequena e calculase o volume total em relação à área da parcela [L3/L2) Medida de P, Pi e Pt (1) pluviógrafo medindo chuva externa, (2) Pluviógrafo medindo escoamento de tronco e (3) pluviógrafo medindo chuva líquida coletada pelas calhas Kobyama, 2008 Análise (1) Área de cálculo para escoamento pelo tronco e pelo dossel (2) Pluviômetro para medida da chuva externa (3) Calha para medição da chuva interna (4) Colar para medição do escoamento pelo tronco Primeiro passo: transformar os volumes medidos em mm Pi: dividir o volume de água coletado pela área de coleta da calha, projetada em planta (p.e. m3/m2) Pt: dividir o volume escoado pelo tronco pela área de influência aproximada das copas das árvores (p.e. m3/m2) Kobyiama, 2009 Exemplo de lay-out Santos Junior, 2008 Métodos alternativos Lorenz & Gallard (2000) Método simples Consiste em medir o armazenamento em elementos da vegetação (folhas, galhos, troncos) Extrapolar para uma área a partir da quantificação desses elementos com o uso de fotografias áereas da vegetação, capturadas do solo para cima Czikowsky & Fitzjarrald (2009) Novo método Medições micrometeorológicas de fluxo turbulento Evita erros de medição devido à heterogeneidade da copa Ferramenta útil para alimentação de modelos com infos de interceptação Modelagem – influência de S e E Ponto A - Início da chuva – E representa o componente principal da perda por interceptação Entre A e B – À medida em que a chuva continua, a evaporação tende a diminuir devido à alteração das condições microclimáticas (temperatura, gradiente de pressão de vapor, disponibilidade de energia) enquanto a folha passa a reter mais água Ponto B – S atinge seu máximo e, se a chuva continuar, o aumento de I ocorre devido à continuação da evaporação, porém a taxas menores que as iniciais Hipótese – interceptação cresce exponencialmente com P até o momento em que S atinge seu máximo. A partir daí, a taxa fica constante e equivalente à taxa de evaporação Lima, 2008 Estimativa da interceptação Regressão linear (equação de Horton) I = aPn + b Onde: I – quantidade interceptada (mm) P – precipitação incidente (mm) a,b e n – parâmetros de ajuste Vantagem – pode ser usado com chuvas totais, e não por evento Desvantagem – não leva em conta certas variáveis, como intensidade e duração da chuva Estimativa da interceptação Parâmetros da Equação de Horton Cobertura vegetal a b N Pomar 0,04 0,018 1,00 Carvalho 0,05 0,18 1,00 Maple 0,04 0,18 1,00 Pinus 0,05 0,20 0,50 Arbustos 0,02 0,40 1,00 Exercícios 1. Considerando duas florestas exatamente iguais em tudo, a perda por interceptação (para uma mesma chuva) deve ser maior em Brasília do que em Campos do Jordão. Certo ou errado? Justifique. 2. Florestas de Pinus, em regiões temperadas, apresentam perda média por interceptação de acordo com a seguinte equação: I = 0,1P – 0,1n Sendo: I = perda por interceptação (mm) P = precipitação incidente (mm) n = número de chuvas no ano Calcular a interceptação em dado ano cuja precipitação, em 80 chuvas, atingiu o total de 820mm. Expressar I de forma percentual a P. Lima, 2008