ISSN 2176-6983 DINÂMICA DA PRODUÇÃO DE SERRAPILHEIRA EM ECOSSISTEMAS DE MATA ABERTA NO PARQUE NACIONAL SERRA DE ITABAIANA Benjamin Leonardo Alves White Biólogo, Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe, laboratório GEOPLAN / UFS - [email protected] Tulio Vinícius Paes Dantas. Biólogo, Doutorando em Botânica pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, laboratório BIOSE / UFS – [email protected] Adauto de Souza Ribeiro Biólogo, Prof. Dr. do departamento de Biologia da Universidade Federal de Sergipe, laboratório BIOSE / UFS – [email protected] Eixo Temático 5: Cenários territoriais da conservação ambiental. Resumo Este estudo foi desenvolvido no Parque Nacional Serra de Itabaiana entre outubro de 2006 a outubro de 2007. O principal objetivo foi quantificar a produção de serapilheira nos habitat de mata aberta de floresta esclerofila, com solo predominante de areia quartzosa ou areias brancas. Trinta coletores de 0.25 m2 foram usados para quantificar a serapilheira. A produção total de serapilheira foi xxx ton.ha-1 em 11 meses, dos quais xxx% de folhas. Uma correlação significante foi observada entre a queda de folhas e a precipitação. Palavras - Chave: Liteira, precipitação, ciclagem de nutrientes. Introdução A serrapilheira ou liteira é formada por todo material biológico depositado sobre o solo, sendo composto principalmente por folhas, cascas, ramos, e estruturas reprodutivas. A decomposição deste material e a conseqüente incorporação no solo constituem um dos processos mais importantes na ciclagem dos nutrientes e na manutenção de florestas. De acordo com Proctor (1984), os estudos da produção de serrapilheira e do fluxo de nutrientes minerais associados são de fundamental importância para a 1 ISSN 2176-6983 compreensão dos aspectos dinâmicos dos ecossistemas; motivo pelo qual sua quantificação vem sendo realizada em diversas partes do mundo. Utilizando-se de uma metodologia simples, de baixo custo e relativamente padronizada, tais estudos têm como objetivos fornecer índices de produção da serrapilheira (PROCTOR, 1983), caracterizando-se como uma ferramenta indicadora do grau de fragilidade e do nível de perturbação dos ecossistemas florestais, em face da crescente ocupação destes ambientes naturais pelo homem. A produção de serrapilheira controla diretamente a quantidade de nutrientes que retornam ao solo e por esta razão constitui um importante processo de controle da ciclagem de nutrientes. Este material é absorvido pelas raízes das plantas e é usado em uma grande variedade de funções fisiológicas, como crescimento e manutenção dos tecidos, proporcionando o desenvolvimento dos vegetais e, conseqüentemente, de todo ecossistema (BARNES et al., 1997). Além disso, a serrapilheira, sobre o solo, produz sombra e retém umidade, criando condições microclimáticas que influem na germinação de sementes e estabelecimento de plântulas (MORAES et al., 1998). Em uma comunidade florestal existe uma interação intensa entre a vegetação e o solo que ela ocupa, que se expressa no processo cíclico de entrada e saída de matéria do solo: a ciclagem de nutrientes minerais (QUEIROZ, 1999). Neste contexto, a serrapilheira depositada sobre o solo das florestas tem papel fundamental na dinâmica desses ecossistemas, fornecendo bases para um manejo adequado e para a avaliação de impactos decorrentes da atividade antrópica (CÉSAR, 1993). A ciclagem de nutrientes em florestas pode ser analisada através da compartimentalização da biomassa acumulada nos diferentes estratos e a quantificação das taxas de nutrientes que se movimentam entre seus compartimentos, através da produção de serrapilheira, sua decomposição, lixiviação e outros. Além disso, sabe-se que a forma e a velocidade de ciclagem dos nutrientes estão intimamente ligadas às condições climáticas e fenológicas, sendo que cada ecossistema tem sua forma característica de armazenar e de reciclar os nutrientes entre seus compartimentos. De acordo com Bray & Gorhan (1974), a quantidade de material depositado ao longo de um ano, em um determinado ecossistema, está relacionada principalmente com as condições climáticas, sendo menor nas regiões frias e maior nas regiões equatoriais quentes e úmidas. 2 ISSN 2176-6983 A quantidade de serrapilheira depositada também pode variar dentro de um mesmo tipo de vegetação, dependendo dos graus de perturbação das áreas. Áreas com um grau de perturbação maior possuem um número elevado de espécies pioneiras de crescimento rápido, que investem muito em produção de biomassa e acabam produzindo uma quantidade maior de serrapilheira. Situações diferentes das áreas menos perturbadas, pois possuem menor numero de espécies de crescimento rápido e, portanto, apresentam menor produção de biomassa (MORAES et al., 1998). Objetivos Geral: Determinar e quantificar a deposição de serrapilheira em áreas de mata aberta no Parque Nacional Serra de Itabaiana – Sergipe. Específico: Investigar a relação entre condições climáticas de pluviometria e a produção de serrapilheira. Metodologia Caracterização da Área de Estudo O estado de Sergipe possui uma extensão aproximada de 21.994 Km 2. A distribuição espacial obedece ao seguinte zoneamento: formações florestais, que ocupam principalmente a zona úmida costeira, estendendo-se também para o interior do estado; caatinga, ocupando a zona do sertão; e vegetação de agreste, ocorrendo principalmente nas zonas de transição entre as formações florestais e a caatinga (VICENTE, 1999). O Parque Nacional Serra de Itabaiana (Figura 1) está localizada, aproximadamente, há 40 km da costa Atlântica. São reconhecidos dentro dos 7854 mil hectares que há pelo menos seis tipos de vegetações em mosaicos, com o predomínio de campos de gramíneas com elementos rupestres de altitude de 600 a.n.m; vegetação aberta de areias branca e vegetação fechada de matas mesófilas (VICENTE, 1999). 3 ISSN 2176-6983 Figura 1 – Localização da área de estudo – Parque Nacional Serra de Itabaiana, Estado de Sergipe. Os habitates de areias brancas são áreas que chamam atenção pela cor branca e textura arenosa quartzosa do solo. Os solos destes habitates são recobertos por vegetação esclerofila rasteira diversificada, incluindo gramíneas e ciperáceas, agrupadas ou esparsas. Em várias partes deste habitat não há vegetações rasteiras, deixando manchas de areias brancas expostas. Destacam-se, nestes habitats, em ordem decrescente em abundância de indivíduos arbóreos, as famílias Myrtaceae, Clusiaceae, Poligonaceae, e Arecaceae (SANTOS et al., 2005). 4 ISSN 2176-6983 Distribuição das Amostras Foram delimitadas três parcelas fixas de 100 m2, sendo que cada uma delas recebeu 10 coletores de 0,25 m2 (0,50 x 0,50m) distribuídos aleatoriamente, dando um total de 30 coletores. O número necessário de amostras foi calculado de acordo com a metodologia de amostragem seqüencial, com um limite de erro de 10% a um nível de probabilidade de 95%. Determinação da massa e volume da biomassa serrapilheira entre habitats de floresta. Para quantificar a produção de serrapilheira por unidade de área, foram construídos e instalados na área de estudo coletores com fundo de tela de náilon com malha de 1mm, suspensos a 30 cm do solo (Figura 2). A interceptação e a coleta do material decíduo foram feitas a cada 30 dia. O material coletado foi seco ao ar e triado nas frações: folha; cascas e ramos; flores; frutos; sementes. Após a triagem o material foi seco em estufa a 70ºC, por 72 horas. Depois de seco, pesado com a finalidade de avaliar a biomassa produzida mensalmente de cada uma das frações no aporte total do material decíduo. 5 ISSN 2176-6983 Figura 2 – Coletor de 0,25m2 instalado na área de mata fechada. (Foto: O Autor) Resultados e Discussão Foram coletadas 1370,31g de serrapilheira, equivalente a 1827,08 Kg.Ha-1, sendo a fração “Folhas” 1083,37g (79%), seguida pela “Cascas e Ramos” 193,34g (14%) as mais significativas (Tabela 1). As categorias “flores”, “frutos” e “sementes”, juntas, contribuíram apenas com 93,6g do aporte total da serrapilheira, equivalente a 7% do todo. Tabela 1 – Quantidade total de serrapilheira coletada durante os 11 meses de estudo. Fol has Cascas e Ramos F lores 108 Total 3,37g Desvio Padrão Percent rutos 3 193,34g 9,54g ±12 2,23g 2 ± 14% 27, 71g ± 2,43g 3 Se mentes 6,35g ±12,232g 5,19g 79 F ±6, 37g 2 2% 6 ISSN 2176-6983 ual % % % A quantidade total de serrapilheira de cada mês foi correlacionada com a quantidade de chuva no respectivo mês (Figura 3), indicando uma correlação negativa e significativa r= -0,62 (t0,05(2)9 = 2,37; p < 0,05). Entretanto, levando-se em consideração os aportes individualmente, verificou-se que nem todos tiveram a mesma resposta. As folhas e os frutos tiveram correlação negativa e significativa, enquanto que os ramos, flores e sementes não responderam significativamente às mudanças do volume de precipitação mensal (Tabela 2). Serrapilheira Pluviosidade 450 300 400 250 350 200 250 g 150 200 150 100 100 50 50 0 0 out/06 nov dez jan/07 fev mar abr mai jun julh ago Figura 3 – Quantidade de Serrapilheira produzida e a Pluviosidade total nos respectivos meses. Tabela 2 – Correlação entre o total mensal de serrapilheira coletada e seus respectivos aportes versus a precipitação mensal. F olhas Casca e Ramos F lores Correlação (r) 0,664 0,107 2 Teste Student (t) Nível Significância (p) ,660 de 0,825 0,640 ,320 ,380 0 0,540 ,750 ,002 S emente - 0 0 ,026 rutos - 0,210 F T otal 0 ,310 4 0,620 0 ,980 0 ,350 - 2 ,370 0 0 ,040 7 mm 300 ISSN 2176-6983 As folhas aumentam a demanda da planta por água, portanto, livrar-se delas durante a estação seca aparenta ser uma boa estratégia para reduzir a necessidade de água durante o período de déficit hídrico (BARBOSA; FARIA, 2006). Além deste fator, as folhas podem cair em resposta a danos físicos ou baixas temperaturas (CHABOT; HICKS, 1982). Todos estes fatores podem causar desordem na atividade celular que induz à senescência, apesar de que, uma variação natural nos níveis de hormônio da planta, também poderá induzir à queda de folhas. Embora as frutas também aumentem a necessidade da planta por água, maior biomassa coletada durante os meses mais secos se deve ao padrão característico de reprodução das espécies vegetais encontradas no hábitats de mata aberta. Maiores estudos devem ser realizado para verificar se o padrão não se deve a uma adaptação da planta ao regime de chuvas da região. Interessante observar também que no mês de Fevereiro ocorreu uma maior deposição dos aportes “flores” e “sementes” (Tabela 3). Tal característica também se deve aos padrões reprodutivos das espécies na área de estudo. Tabela 3 – Serrapilheira coletada mensalmente separada nos aportes. P eríodo F olhas O ut./06 N ov. D ez. J an./07 F ev. M R amos F lores F rutos S ementes T otal 3 6 3 1 0, 4 1,5 ,3 ,36 ,3 17 2,63 1 1 4 4 0, 1 51,54 9,42 ,34 ,05 29 79,64 4 9 1 6 0, 4 06,05 ,85 ,4 ,49 17 23,96 2 2 1 5 0, 2 39,31 8,63 0,6 ,59 26 84,39 5 4 1 1 2 1 4,8 0,21 6,21 ,04 1,51 33,77 2 4 1 5 3, 3 8 ISSN 2176-6983 ar. A br. M ai. J un. J ul. A go. 3,58 ,98 ,66 ,22 55 8,99 3 4 0 0 0, 9 9,42 8,87 ,97 ,4 51 0,17 2 3 0 0, 3 6,39 ,76 ,05 0 08 0,28 3 8 0 0 0, 4 8,37 ,36 ,27 ,51 37 7,88 2 1 0 0 0, 4 8,84 3,39 ,61 ,42 35 3,61 4 9 0 1 0, 5 3,57 ,57 ,07 ,33 45 4,99 Os resultados obtidos estão de acordo com a maioria dos trabalhos realizados no Brasil, que afirmam que os períodos de maior produção de serrapilheira estão freqüentemente relacionados à diminuição do fotoperíodo e/ou a períodos de deficiência hídrica (Bray; Gorham, 1964; BARBOSA; FARIA, 2006; MENEZES et al. 2010). Entretanto, embora seja minoria, existem estudos que afirmam que não existe um aumento significativo na deposição de serrapilheira durante os meses secos (VIDAL et al. 2007; PEREIRA et al. 2008). Apesar das diferenças, todos eles apresentaram a fração folhas como a mais representativa do aporte total da serrapilheira. Conclusões Os resultados obtidos neste trabalho seguem os padrões encontrado em outros trabalhos realizados no Brasil, onde a deposição de serrapilheira responde significativamente às mudanças no regime pluviométrico da região. Observou-se que apenas as folhas e os frutos correlacionaram significativamente com a chuva, entretanto deu para observar certos padrões, como por exemplo, o da deposição de flores e sementes que foi significativamente maior no mês de fevereiro. Futuros estudos sobre a decomposição da serrapilheira devem ser desenvolvidos para avaliar o fluxo de nutrientes nesse ecossistema. 9 ISSN 2176-6983 Referências Bibliográficas BARBOSA, J. H. C.; FARIA, S. M. Aporte de serapilheira ao solo em estágios sucessionais florestais na reserva biológica de Poço das Antas, RJ, Brasil. Rodriguésia, v. 57, n. 3, p. 461-476, 2006. BARNES, B. V.; ZAK, D. R.; DENTON, S. R.; SPURR, S. H. Forest ecology. Oxford: John Wiley & Sons, 1997. 792 p. BRAY, J. R.; GORHAM, E. Litter production in forests of the world. Advances in Ecology Research, v. 2, n. 1, p. 101-157, 1964. CÉSAR, O. Produção de serrapilheira na mata mesófila semidecídua da fazenda Barreiro Rico, município de Anhembi (SP). Revista Brasileira de Biologia, v. 53, n. 4, p. 671-681, 1993. CHABOT, B. F.; HICKS, D. J. The ecology of leaf life span. Annual Rewiew of Ecology and Systematics, v. 13, n. 1, p. 229-243, 1982. MENEZES, C. E. G. et al. Aporte e decomposição da serapilheira e produção de biomassa radicular em florestas com diferentes estágios sucessionais em Pinheiral, RJ. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 20, n. 3, p. 439-452, 2010. MORAES, R. M.; DELITTI, W. B. C.; RINALDI, M. C. S.; REBELO, C. F. Ciclagem mineral em Matas Atlênticas de encosta e mata sobre restinga, Ilha do Cardoso, SP: nutrientes na serapilheira acumulada. In: SIMPÓSIO DE ECOSSISTEMAS BRASILEIROS, 4., 1998, Águas de Lindóia. Anais... Águas de Lindóia: ACIESP, 1998. p. 71-77. PEREIRA, M. G.; MENESES, L. F. T.; SCHULTZ, N. Aporte e decomposição da serapilheira na Mata Atlântica, ilha de Marambaia, Mangaratiba, RJ. Ciência Florestal, v. 18, n. 4, p. 443-454, 2008. PROCTOR, J. Tropical forest litterfall I – Problems of data comparison. In: SUTTON, S. L.; WHITMORE, S. L.; CHADWICK, T. C. (Eds.). Tropical rain forest: ecology and management. London: Blacckwell Scientific Publications, p. 267-273, 1983. 10 ISSN 2176-6983 PROCTOR, J. Tropical forest litterfall II - The data set. In: SUTTON, S. L.; CHADWICK, A. C. (Eds.). Tropical rain forest: the Leeds Symposium. Leeds Phil. Lit. Soc., Leeds, p.83-l13, 1984. QUEIROZ, A.F. Dinâmica da ciclagem de nutrientes contidos na serrapilheira em um fragmento de mata ciliar no Estado de São Paulo. 1999, 93 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) Universidade Estadual de São Paulo, Botucatu, 1999. SANTOS, C S; RIBEIRO A. S.; DANTAS, T. V. P.; TEIXEIRA, K. C. S. Estrutura e Composição de Moitas de Clusia (Guttiferae) em Restinga do Estado de Sergipe. In: Anais... VII Congresso de Ecologia do Brasil, Caxambu, MG. 2005. 2 p. VIDAL, M.M.; PIVELLO, V.R.; MEIRELLES, S.T.; METZGER, J.P. Produção de serapilheira em floresta Atlântica secundária numa paisagem fragmentada (Ibiúna, SP): importância da borda e tamanho dos fragmentos. Revista Brasileira de Botânica, v. 30, n. 3, p. 521-532, 2007. VICENTE, A. Levantamento florístico de um fragmento florestal na Serra de Itabaiana – Sergipe. 1999, 113 f. Dissertação (Mestrado em Botânica) Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 1999. 11