PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO SUBSECRETARIA DE ENSINO COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ... Que já têm a forma do nosso corpo ... E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ... É o tempo da travessia ... E se não ousarmos fazê-la ... Teremos ficado ... para sempre ... À margem de nós mesmos... Fernando Pessoa Língua Portuguesa – Questões de Provas e Descritores 5º e 9º anos - 2011 1 PREFEITURA DA CIDADE DO RIO JANEIRO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO Prezado(a) Professor(a) regente, Coordenador(a) Pedagógico(a) A Secretaria Municipal de Educação, por meio de sua Coordenadoria de Educação, lançou em 2009 uma proposta pedagógica com o objetivo de desenvolver, de forma substancial, o aprendizado dos estudantes que compõem as escolas de nossa rede. Para impulsionar este objetivo, ao longo de sua gestão, a Secretária Municipal de Educação, Profª. Claudia Costin, envidou esforços para promover, bimestralmente, a confecção de um material didático de Língua Portuguesa e de Matemática, por ano de escolaridade, visando ao desenvolvimento das competências específicas de cada disciplina. Em 2011, pode-se afirmar que este esforço está consolidado como uma política pública de educação, com vistas ao compromisso de desenvolvimento da educação de nosso município. Hoje, esta política pública está concretizada na confecção do material didático permanente para todas as disciplinas que compõem a orientação curricular da Rede Municipal. A par desse material didático, no fim de cada bimestre, foi proporcionada uma avaliação de desempenho dos estudantes, considerando o elenco de descritores de habilidades, à luz daqueles que compõem a matriz de referência das avaliações do ensino básico: Prova Brasil e SAEB. Em decorrência dessa política pública, a Secretaria Municipal de Educação conta, atualmente, com um acervo de cerca de 30 cadernos pedagógicos (de Língua Portuguesa e de Matemática), contendo as mais diferentes estratégias que contemplam as Orientações Curriculares. Além disso, está formando um banco de itens que já conta com cerca de 1.500 (mil e quinhentos) itens inéditos de Língua Portuguesa, distribuídos pelos anos de escolaridade, além dos itens específicos de Matemática. Em novembro de 2011 será aplicada a Prova Brasil, cujo objetivo é avaliar competências construídas e habilidades desenvolvidas. Seus resultados permitem uma análise com vistas a possíveis mudanças de paradigmas de educação, considerando as dificuldades de aprendizado detectadas. 2 Acredita-se que nossa rede Municipal se antecipou ao criar estas estratégias de desenvolvimento do conhecimento. Temos certeza de estarmos contribuindo para o desenvolvimento da competência discursiva, por intermédio dessas publicações apresentadas ao longo desses anos. O material que ora lhe apresentamos emana desse esforço. Foram selecionados itens de leitura que compreendem as provas do 5º e 9º anos de escolaridade. Procedemos à análise pedagógica dos itens apresentados, considerando os descritores de habilidade. Deve ser ressaltado que o inusitado desse material é o fato de ele ter sido construído a partir do acervo da SME, pelos professores de Língua Portuguesa do 1º e 2º segmento do Ensino Fundamental, que compõem a equipe de elaboradores do material didático e das provas bimestrais. Deseja-se com este material específico de Língua Portuguesa levar ao professor(a) mais uma alternativa pedagógica para o desenvolvimento das competências de leitura e de escrita previstos para o Ensino Fundamental. O êxito deste trabalho permitirá aos estudantes desta Rede Municipal de Ensino obterem resultados significativos na Prova Brasil, avaliação denominada Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC) – (Prova Brasil), aplicada somente a estudantes do 5º ano e 9º ano de escolas de rede pública de ensino com mais de 20 estudantes matriculados por série alvo da avaliação. Deve-se lembrar que a Prova Brasil avalia as habilidades em Língua Portuguesa (foco na leitura) e em Matemática (foco na resolução de problemas). Para alcançar estes objetivos, o material está assim dividido: I - Diferença entre matriz curricular e matriz de referência em Língua Portuguesa II - O texto: base fundamental do ensino de Língua Portuguesa III - Os aspectos que evidencia uma prova de língua portuguesa, com foco em leitura a) os descritores de habilidade do 5º e 9º ano de escolaridade IV - As estratégias de perguntas de avaliação em leitura V - Análise de itens de prova do 5º ano de escolaridade/SME e comentários pedagógicos VI - Análise de itens de prova do 9º ano de escolaridade/SME e comentários pedagógicos 3 Por fim, queremos agradecer a você, professor(a), cujo compromisso e prática pedagógica têm sido fundamentais para que os objetivos delineados para a educação no Município estejam sendo conquistados. Deixamos registrado, também, o agradecimento a cada membro da equipe de elaboração dos cadernos de Língua Portuguesa e das provas, bem como aos professores e a todos os membros da CED envolvidos no processo de concretização deste planejamento – o material didático que chega aos estudantes. Obrigada, MARIA TERESA TEDESCO Consultora de Língua Portuguesa da SME 4 1 I. Matriz Curricular e Matriz de Referência: Diferenças Uma dúvida muito comum nas discussões sobre Avaliação é acerca da diferença entre o que se denomina Matriz Curricular, ou seja, currículo de uma disciplina, dentro do Projeto Pedagógico de uma instituição de ensino, e Matriz de Referência, elenco de habilidades e competências definidas em unidades denominadas descritores, agrupadas em tópicos que compõem a matriz de uma dada disciplina em avaliações de rede, dos tipos Prova Brasil e SAEB. Primeiramente, deve-se reforçar a ideia de que não se podem construir os instrumentos de avaliação denominados de larga escala, sem que nos reportemos à experiência da disciplina em sala de aula. Portanto, não se pode pensar em avaliação de Língua Portuguesa na área de leitura, sem que levemos em consideração um fazer pedagógico (aqui denominado curricular) comum e necessário nas aulas de língua materna. Em sala de aula, todos os métodos e estratégias pedagógicas devem ser utilizados para o desenvolvimento cognitivo (intelectual) dos estudantes. Assim, em uma matriz curricular, o(a) professor(a) há de se ater ao princípio da flexibilidade, que deve prever uma consciência em relação à diversidade/heterogeneidade do conhecimento discente, tanto no que se refere ao conhecimento que o estudante traz (seu conhecimento de mundo) quanto aos seus interesses e expectativas em relação ao aprendizado de sua língua materna, aliado ao que nós, especialistas, entendemos por aprender - ensinar a Língua Portuguesa. Portanto, este processo de aprendizagem da língua diz respeito, necessariamente, a três áreas fundamentais, interligadas: leitura, escrita e gramática. Ao se pensar em uma matriz curricular, de forma atualizada, cada instituição de ensino, junto ao seu corpo docente, deve pensar em uma educação linguística, voltada para a autonomia, o protagonismo, a participação cidadã e a qualificação continuada, inclusive, para o mundo do trabalho, educação linguística que deve ser norteada para 1 Texto produzido, originalmente, para o encontro de coordenadores (AILP – Atividades integradas para o ensino de língua portuguesa: Formação docente) realizado em março 2010. 5 a) domínio do uso da língua materna, nas suas manifestações orais e escritas, tanto para a recepção de textos quanto para a sua produção. b) reflexão analítica e crítica sobre a linguagem como fenômeno social, histórico, cultural, político etc. c) visão crítica dos fenômenos linguísticos no uso dos recursos gramaticais a serviço dos propósitos comunicativos do produtor do texto, inclusive os seus. A matriz de referência de Língua Portuguesa para as avaliações Prova Brasil e SAEB tem um foco específico em Leitura, o que de per si já ratifica o que afirmamos em relação à matriz curricular. Neste caso, a matriz hoje em vigor faz um recorte do ensino, avaliando uma das áreas fundamentais que compõem o ensino de língua materna: avalia-se a capacidade de leitura do estudante. Portanto, essa avaliação ultrapassa a visão de leitura e escrita como forma de decodificação do código linguístico, de junção de sílabas e palavras, de um estudo da língua realizado de forma descontextualizada. O sujeito competente no domínio da linguagem é capaz de compreender (e produzir) textos orais e escritos, adequados às situações de comunicação em que atua, de se posicionar criticamente diante do que lê e ouve, de ler (e escrever) produzindo sentidos, entendendo o propósito comunicativo do produtor do texto, formulando hipóteses de leitura e articulando respostas significativas em variadas situações de comunicação. Esta visão traz em seu cerne que a leitura e a compreensão constituem-se em um ato social e não em uma atividade individual. Neste sentido, talvez seja a maior contribuição que a matriz de referência pode oferecer à matriz curricular e ao nosso fazer em sala de aula. Ou seja, não aprendemos a Língua Portuguesa na escola para cumprir uma necessidade individual. Aprendemos a ler e a escrever, porque estamos inseridos em um grupo social, entendendo que a língua só se realiza, efetivamente, na interação entre sujeitos. Nossa função na escola, portanto, é trazer para a sala de aula este olhar para a leitura e a escrita, de forma contextualizada, pressupondo interlocutores, autores que têm propósitos comunicativos para dizer o que querem dizer. 6 II. O texto: base fundamental do ensino de Língua Portuguesa Nossa experiência como falante nos leva a entender que a comunicação linguística não se dá em unidades isoladas, tais como meros sons, palavras soltas, sílabas ou, simplesmente, sinais. Para que, efetivamente, a situação de comunicação exista, nossa prática discursiva se dá por meio de textos, unidades maiores de significação. Portanto, podemos entender o TEXTO como uma unidade de significação que pressupõe, necessariamente, um contexto, um evento comunicativo para se realizar, com a presença de interlocutores a que denominamos produtor do texto e leitor (ou ouvinte). Sabe-se, entretanto, que não nos comunicamos, apenas, por palavras. Por isso, dizemos que o texto pode ser verbal (com palavras) e não verbal (com imagens, expressões fisionômicas, sinais, símbolos, cores, traços). Tudo aquilo que tem significação se constitui texto. O texto é a forma com que nós, falantes, conseguimos materializar a comunicação. A efetiva construção da linguagem, da comunicação, depende de quem fala, de que lugar (posição) se fala e com que intenção este texto oral ou escrito é produzido: seus usos sociais. O texto é essa materialização da língua. E, ao nos comunicarmos, o fazemos utilizando textos que atendem a nossos objetivos específicos naquele ato comunicativo. Portanto, afirma-se que os textos se constituem, nessa materialização, em gêneros discursivos: ainda que seja um vasto assunto na área e longe de desejar reduzir sua complexidade a uma definição, o conceito de gênero pode ser entendido como uma estratégia comum que identifica ou pode classificar os textos em diferentes conjuntos. Assim, podemos identificar uma lenda e uma fábula, por exemplo, como um tipo de texto narrativo, por sequenciar as ações dos personagens, por haver a presença da sequência temporal dos fatos, da sucessão dos fatos. Entretanto, são gêneros diferentes, porque têm características estruturais diferentes. A fábula é protagonizada por animais que vivenciam as qualidades e os defeitos dos humanos, revelando a natureza humana, trazendo sempre um fundo moral. Já a lenda é uma explicação não científica para fatos reais, demonstrando a presença contundente da tradição oral. Nas reflexões que estamos propondo, vamos entender gêneros discursivos como a materialização dos textos que encontramos na nossa prática comunicativa diária, 7 socialmente situada e ilimitada, pois a cada nova necessidade comunicativa, novos gêneros vão surgindo. Pode-se citar o bate-papo pelo computador (Chats, Blogs, Emails), por exemplo, em detrimento do telégrafo tão utilizado no início do século XIX, quando não existia ao nosso dispor esta parafernália comunicativa da atualidade. Cabe, ainda, ressaltar que o domínio de diferentes gêneros discursivos, ao longo da vida, o entendimento de sua estrutura, suas marcas peculiares, objetivos e propósitos comunicativos e seu uso nas diferentes situações de comunicação são fundamentais na formação do leitor competente. Diante disso, pode-se afirmar que constitui função fundamental da escola o estudo da Língua Portuguesa por meio dos mais diferentes (e ilimitados) gêneros discursivos, em todos os anos de escolarização. Por conseguinte, é inviável a construção e realização de qualquer atividade de reflexão e aprendizado em Língua Portuguesa sem a presença e o estudo dos gêneros discursivos. Por fim, afirma-se que não é possível formar um leitor proficiente sem que esteja exposto a uma ampla diversidade textual. Cabe, nas aulas de Língua Portuguesa, propiciar o conhecimento das especificidades dos textos, reconhecendo os recursos da língua utilizados, que sempre estão presentes de forma explícita ou implícita em qualquer texto, e de que forma contribuem para as construção de sentidos dos textos. intenções comunicativas e a As Orientações Curriculares têm seus pilares construídos nessa concepção, indicando, ao longo dos diferentes níveis de escolarização os gêneros a serem apresentados aos estudantes. III. Aspectos que evidenciam uma prova de língua Portuguesa, com foco em leitura A avaliação em Língua Portuguesa e em Matemática, como se sabe, é um programa nacional do MEC-INEP, que se destina a avaliar a proficiência dos estudantes em fase final de escolarização (níveis fundamental e médio) nas duas áreas específicas. Em termos de Língua Portuguesa, a aferição da competência leitora, como dito no item dois, ocorre a partir da matriz de referência cuja concepção pedagógica segue uma visão discursiva. Esta característica representa um avanço, ao considerarmos o entendimento do que seja aprender Língua Portuguesa, ou melhor, ser proficiente na língua materna. É esta matriz que norteia a confecção dos itens que compõem a Prova Brasil e o SAEB. 8 Estas provas evidenciam três pilares fundamentais: a presença do texto, que provoca a situação-problema a ser resolvida; os descritores, reunidos em seis tópicos, que apresentam as habilidades de leitura a serem avaliadas; as estratégias de perguntas que compõem o item da prova de leitura. a) Os descritores de habilidade do 5º e 9º ano de escolaridade A matriz de referência (com foco em leitura) apresenta um conjunto de descritores de habilidades de leitura que atende ao enfoque dado à prova para avaliar um conjunto de procedimentos cognitivos, de capacidades de leitura do estudante em fase final de escolarização. A matriz de referência de Língua Portuguesa está estruturada em duas dimensões. Na primeira dimensão, denominada “objeto de conhecimento”, são elencados seis macrotópicos, relacionados a habilidades desenvolvidas pelos estudantes; na segunda dimensão, apresentam-se os descritores de habilidades selecionados para esta forma de avaliação. Vamos entender em que se constituem esses seis macrotópicos. A) Tópico I - Procedimento de leitura Diz respeito a procedimentos fundamentais do ato de ler no que tange às informações explícitas e implícitas do texto, desde a localização, entendimento de palavra ou expressão e compreensão global da informação até o resgate de informação nas entrelinhas do texto (as implicitudes do texto). B) Tópico II - Implicações do suporte, do gênero, e/ ou do enunciador na compreensão de texto. O tópico II diz respeito à “embalagem” em que o texto aparece, ou seja, sua estrutura, seu suporte, a forma em que é veiculado, o que o caracteriza em um dado gênero discursivo, que é a forma em que os textos aparecem na realidade. (cf. 3) C) Tópico III - Relação entre textos Este tópico diz respeito à intertextualidade, ou seja, a comunhão entre textos quer na forma, quer no conteúdo. É o conjunto de relações explícitas (ou implícitas) que um texto mantém com o outro. Neste caso específico, requer a comparação entre textos de mesmo tema. 9 D) Tópico IV - Coerência e coesão no processamento do texto Diz respeito às ligações de sentidos, tanto em nível micro quanto em nível macrotextual, ou seja, de que forma os recursos gramaticais estabelecem, por exemplo, as relações de continuidade do texto. A palavra de ordem neste tópico é o estabelecimento de relações semânticas, ou seja, relações de sentido no texto. E) Tópico V - Relação entre recursos expressivos e efeitos de sentido Este tópico diz respeito ao uso de recursos quer lexicais (vocabulário), quer fonológicos (da relação entre letra e som), quer nocionais (de pontuação e de outros sinais gráficos) e o efeito de seu uso, de sua escolha no texto. F) Tópico VI - Variação Linguística Considerando a heterogeneidade da língua (as diferenças que cada falante apresenta no uso da língua) e partindo de uma concepção de língua que varia no tempo, no espaço, socialmente e nas diferentes formas de falar das pessoas, homens, mulheres, crianças, idosos, este tópico visa à identificação das marcas que caracterizam os interlocutores do texto. À primeira vista, pode-se afirmar que os seis tópicos que abrigam os descritores do Ensino Fundamental apresentam as situações de uso da Língua Portuguesa de uma perspectiva do texto e de seu processo de uso e não de uma perspectiva de um conteúdo gramatical específico, recorrendo à mera identificação e classificação de palavras. É esta a peculiaridade de uma matriz que avalia a competência leitora de um sujeito. Os tópicos que aglutinam os diferentes descritores de habilidades apresentam as condições necessárias para um adequado processamento da leitura pelo sujeito. O leitor proficiente é capaz de reconstruir diferentes situações, eventos, ações, personagens, léxico (vocabulário) e expressões para chegar à compreensão do texto, utilizando para isto muitas operações linguísticas, que não devem ser teorizadas em sala de aula, mas devem ser permanentemente estimuladas nas aulas de Língua Portuguesa, sempre em situações de uso da língua, partindo da leitura de diferentes gêneros discursivos. É interessante observar, ainda, que os três primeiros tópicos que compõem a matriz de referência de todos os anos de escolaridade estão ligados ao texto em sua 10 “estruturação arquitetônica”; os três últimos, à sua constituição formal, ou seja, os recursos linguísticos que contribuem, em diferentes perspectivas, para a construção do texto. Para atender aos objetivos deste texto, propomos uma descrição detalhada dos descritores que compõem a matriz de referência da quarta série (atual quinto ano de escolarização) e da 8ª série (atual 9º ano de escolaridade). Cada tópico reúne um grupo de descritores que visa à avaliação de diferentes habilidades do leitor. O que diferencia as habilidades nas diferentes séries é o grau de complexidade do texto e da tarefa linguística proposta. Passemos à análise dos descritores. Tópico I - Procedimento de leitura Constituem este tópico cinco descritores de habilidades. D1- Localizar informações explícitas do texto Esta é uma habilidade básica na compreensão leitora do texto: a identificação de informações que estão claramente apresentadas na superfície textual. Trata-se de localização de informação explícita, claramente identificável, o que permite avaliar se o estudante é capaz de localizar a informação, sem o auxílio de informação concorrente no texto. D3 – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão O grau de familiaridade com uma palavra depende da frequência de convivência com ela, que, por sua vez, está ligada à intimidade com a leitura, de um modo geral, e, por conseguinte, à frequência da leitura de diferentes gêneros discursivos. Por isso, a capacidade de inferir o significado de palavras – depreensão do que está nas entrelinhas do texto, do que não está explícito – evita o sério problema que se constitui quando o leitor se depara com um número grande de palavras cujo significado desconhece, o que interfere na leitura fluente do texto. Assim, a inferência lexical – recobrir o sentido de algo que não está claro no texto – depende, para haver compreensão, de outros fatores, tais como: contexto e pistas linguísticas. 11 D4 – Inferir uma informação implícita em um texto Da mesma forma que se depreende o sentido implícito de uma expressão, há uma complexidade maior quando se pensa em inferência de informações. Este descritor requer do leitor uma capacidade de construir a informação que está subjacente ao texto, partindo do contexto e das pistas linguísticas que este oferece. Trata-se, na verdade, do desvendamento do que está subjacente, porque deve haver um balanceamento entre as informações de superfície do texto e aquelas que serão resgatadas em suas entrelinhas. Não é possível explicitar 100% as informações, sejam elas quais forem. Por isso, podese dizer que existem graus diferentes de implicitudes. D6 - Identificar o tema de um texto Constitui-se em habilidade básica na compreensão do texto, pois trata do reconhecimento do tópico global do texto, ou seja, precisa transformar os elementos dispostos localmente em um todo coerente, considerando as relações entre as informações do texto. É preciso reconhecer a informação central: sobre o que versa o texto? D11 - Distinguir um fato da opinião relativa a este fato Dois conceitos são importantes neste descritor: fato e opinião relativa ao fato. O primeiro – Fato –, algo que aconteceu (acontece) –, está relacionado a algo real, quer no mundo “extra-textual”, quer no mundo textual. Já a opinião é algo subjetivo, quer no mundo real, quer no mundo textual, que impõe, necessariamente, uma posição do locutor do texto. Este é um descritor bastante importante, porque indica uma proficiência crítica em relação à leitura: a de diferenciar informação de uma opinião sobre algo. Como se pode verificar, trata-se de procedimentos básicos de leitura comuns a qualquer leitor, em qualquer nível de escolaridade e a qualquer gênero discursivo. Do desenvolvimento dessas habilidades de leitura depende o progresso na competência de leitura de diferentes estudantes. 12 Tópico II - Implicações do suporte, do gênero, e/ ou do enunciador na compreensão de texto São dois os descritores deste tópico para ambos os anos de escolaridade D5 - Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto etc.) Considera-se parte constitutiva da capacidade de leitura a construção da estrutura textual e de que forma esta estrutura traz implicações na compreensão do texto. Por isso, entende-se que este descritor requer a construção de uma “armação” sustentadora do assunto, ligada ao texto. Neste caso, o material gráfico pode levar o leitor a entender as relações mais abstratas. A informação focada no material gráfico pode preparar para a leitura do verbal do texto. Entretanto, é, sem dúvida, necessária uma intimidade com este tipo de linguagem, que visa à articulação dessas duas formas. Portanto, história em quadrinhos, charges, gráficos, tabelas e outros gêneros que aliam a linguagem verbal e a não verbal são importantes para o desenvolvimento dessa habilidade. D9 - Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros Este é um descritor em nível macrotextual, que visa à identificação da forma, ou seja, de que gênero é este texto, mas também visa ao reconhecimento de sua finalidade, seu propósito comunicativo. Cabe esclarecer que os gêneros discursivos são os textos que encontramos em nossa vida diária, que apresentam padrões sociocomunicativos característicos, definidos por objetivos enunciativos, concretamente realizados na integração entre os sujeitos da comunicação. Os gêneros discursivos constituem-se na forma com que a língua se concretiza. Tópico III - Relação entre texto Há, apenas, um descritor de habilidade neste tópico para o 5º ano de escolaridade. D15 - Reconhecer diferentes formas de tratar a informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido 13 Neste descritor, a palavra-chave é a intertextualidade, que se constitui nas diversas maneiras pelas quais a produção/recepção de um determinado texto depende de conhecimento de outros textos por parte dos interlocutores. Neste sentido, está inscrita na concepção do descritor a relação de interação que se estabelece entre os interlocutores. Isto pressupõe entender de que forma o texto é produzido e como ele é recebido. Trata-se de uma condição de existência dos textos. Neste sentido, admite-se a ideia de polifonia, ou seja, da existência de muitas vozes no texto, o que constitui um princípio que trata o texto como uma comunhão de discursos e não como algo isolado. Neste tópico, a ideia central é a ampliação do mundo textual. Assim, quanto mais conhecimento de textos o leitor tiver, mais ele poderá reconhecer as outras vozes do texto. Para o processo de compreensão e produção de sentido, esse conhecimento é de fundamental necessidade. Para o 9º ano, este descritor é o D20. Há, neste objeto de conhecimento, para o 9º ano de escolaridade mais um descritor, a saber: D21 – Reconhecer posições distintas entre as duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema Este é um descritor de habilidade especifica do último ano de escolaridade do Ensino Fundamental. Trata-se, necessariamente, da relação entre textos, por isso a concepção de intertextualidade é importante, já que pressupõe que, no processo de produção de sentidos – leitura e escrita –, sempre constituímos um texto recorrendo a outro, explícita ou implicitamente. Nesse caso específico, o texto argumentativo é por excelência considerado, já que a habilidade indica reconhecimento de posições distintas entre duas (ou mais) opiniões sobre o mesmo fato (ou tema). É importante, portanto, para o desenvolvimento dessa habilidade contrastar pontos de vista diferentes. Tópico IV - Coerência e coesão no processamento do texto Compõem este tópico quatro descritores para o 5º ano de escolaridade e sete descritores para o 9º ano de escolaridade. 14 D2 - Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto Trata-se de uma habilidade fundamental para o entendimento do texto: relacionar as partes de um texto, tanto nas relações entre parágrafos quanto naquelas que ocorrem dentro do parágrafo. Embora requeira do leitor um conhecimento gramatical das funções que um sintagma nominal e um pronome, por exemplo, podem exercer na frase, não se trata, é importante enfatizar, de uma identificação de palavras, mas de identificação de relações semânticas (relações de sentidos) com as quais se pode atribuir coerência dentro do texto. D7- Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa Neste descritor, vamos nos ater mais especificamente ao tipo de texto – narrativo - e seus componentes fundamentais. Portanto, diz respeito à construção da coerência entre os elementos da narrativa em relação ao conflito que gera o enredo da história. D8 - Estabelecer relação de causa/consequência entre partes e elementos do texto A coesão sequencial diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do texto, diversos tipos de relações semânticas, responsáveis por fazer o texto progredir. Neste caso específico, a relação é de causa/ consequência: a busca dos porquês nas relações textuais. Deve-se entender que as relações de causa e consequência se constituem em um contínuo semântico, com uma mútua relação. Por isso, não se trata de conhecimento relativo estritamente à conjunção e às orações subordinadas. Trata-se do entendimento de que é natural que muitos nomes e verbos circulem nas duas áreas semânticas: - Consequência: efeito/produto/decorrência; - Causa: causa, origem, fatores. 15 D12 - Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios etc. De forma mais ampla, este descritor visa à ampliação dos descritores anteriores no que tange à função que as diferentes palavras exercem nos diferentes contextos. Trata-se de relação de coesão, ou seja, de ligação entre partes do texto, mas de outras palavras que podem assumir esta função, como, por exemplo, os advérbios e as conjunções. Aqui está um bom exemplo da diferença entre uma abordagem textual e um conteúdo em sala de aula. Neste caso, não basta o estudante reconhecer o advérbio de tempo, modo ou lugar, por exemplo, mas entender como este advérbio une um parágrafo ao outro, ou que relação de sentido estabelece entre uma ideia e outra no parágrafo ou entre parágrafos. Para o 9º ano, estão elencados mais três descritores de habilidades, a saber: D7 - Identificar a tese de um texto Um dos aspectos importantes a considerar, quando se lê um texto argumentativo, é que, em princípio, quem o produz está interessado em convencer o leitor sobre alguma coisa. Dessa forma, no texto argumentativo importa o ponto de vista defendido (a tese) acerca de um tema polêmico, com vistas ao convencimento. Este texto se desenvolve em torno de um tema (assunto) ao qual se agregam argumentos, que culminam numa tese (ideia passível de discussão). Esta habilidade requer do leitor a identificação do ponto de vista defendido com vistas ao convencimento e à persuasão. D8 – Estabelecer a relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-las Na produção do texto argumentativo, a formulação dos argumentos é a argumentação propriamente dita: é o momento do texto em que o autor apresenta as provas (argumentos) para o ponto de vista defendido (a tese). Neste sentido, deve-se lembrar que somente os fatos provam o que queremos defender. Portanto, exemplos, 16 estatísticas, ilustração, comparação, descrições e narração, que apresentam relevância e autenticidade, constituem os argumentos que sustentam a tese. A habilidade requer do leitor justamente o estabelecimento das relações de sentido entre tese e argumento, de forma coerente e coesa. D9 – Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto Uma habilidade importante na proficiência de leitura é a capacidade de diferenciação entre o que é principal e secundário em um texto. Neste sentido, não só o texto como um todo, mas seus diferentes parágrafos são construídos em partes: principal (tópico, frases, ideia) – núcleo; secundárias, o desenvolvimento, as especificações pormenorizadas. A habilidade em tela visa à diferenciação entre estas partes que, em nível micro, constroem o parágrafo e, em nível macro, o texto. Tópico V - Relação entre recursos expressivos e efeitos de sentido Há dois descritores de habilidades neste tópico para o 5º ano de escolaridade e quatro para o 9º ano de escolaridade D13 - Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados A proficiência leitora requer do leitor a capacidade de perceber os envolvidos no texto, como também suas intenções. Neste sentido, o uso de determinadas palavras e expressões se constituem em pistas linguísticas que levam o leitor a perceber, por exemplo, um traço de humor do texto. Neste descritor, o leitor proficiente deve perceber o efeito que a palavra, a expressão ou a construção de uma ideia, de forma irônica ou humorística, podem causar no texto. D14 – Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e outras notações Este descritor visa ao reconhecimento discursivo do uso dos sinais de pontuação, ou seja, que efeito o sinal de pontuação provoca no texto, indicando uma pista linguística para entender a intenção comunicativa. Aqui se faz necessário pontuar a diferença entre o que é gramatical: usar os sinais de pontuação, e o que é discursivo: 17 saber avaliar o efeito decorrente do uso em dado contexto. Esta é outra contribuição importante da matriz de referência: não basta o estudante conhecer as funções gramaticais. É fundamental que o estudante saiba relacionar o uso dos recursos gramaticais ao contexto discursivo. É neste sentido que vimos enfatizando que a matriz de referência apresenta um cunho textual, olhando, efetivamente, o processo das informações a partir dos recursos disponíveis na língua. D18 - Reconhecer o efeito de sentidos decorrentes da escolha de uma determinada palavra ou expressão Este descritor de habilidade prioriza fundamentalmente a linguagem verbal, enfatizando o reconhecimento do efeito de sentido, ou seja, a (re)construção do significado, considerando a expressividade de uma palavra ou expressão em um dado contexto. Mais uma vez fica clara a perspectiva discursiva de uso dos recursos linguísticos. D19 - Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticas Nesse caso específico, o reconhecimento da (re)construção dos sentidos ocorre não em nível de palavra, mas da exploração tanto dos recursos ortográficos, de forma, quanto dos recursos morfossintáticos, ou seja, da intersecção entre a seleção e a combinação dos recursos linguísticos nos diferentes contextos, reconhecendo que as alternâncias das estruturas morfossintáticas e das seleções lexicais assumem funções discursivas nas relações interlocutivas, mediadas pelo texto. Tópico VI - Variação Linguística Há, apenas, um descritor de habilidade neste tópico D10 - Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto Partindo de uma concepção dialógica do texto, o descritor 10 visa à identificação das marcas que podem caracterizar os interlocutores, em diferentes momentos, espaços etc., já que sabemos que usamos os recursos da língua, mas os usamos de formas diferentes, quer pelas nossas próprias características (estilo), quer 18 pelo nosso nível de escolaridade, da informalidade ou formalidade do que dizemos e de como queremos dizer, além dos regionalismos, típicos de uma cultura heterogênea como a nossa. Não se pode esquecer que os parâmetros da variação são diversos. Entretanto, estão imbricados, pois, no ato de interagir verbalmente, o falante acionará a variante linguística relativa ao contexto em que está inserido, de acordo com as intenções do ato de comunicação. IV - Estratégias de perguntas de avaliação em leitura Uma característica fundamental de uma avaliação é a presença do item, em que a situação–problema é apresentada para ser respondida pelos estudantes. Dadas as características da avaliação sobre a qual estamos conversando, constitui-se como uma característica peculiar da prova de leitura um item elaborado, contendo, necessariamente, as seguintes partes: o texto, o enunciado e as alternativas. Passemos à caracterização de cada uma das partes fundamentais. A) Texto (ou fragmento de texto): A presença de texto, em geral de curta extensão, porém com um “recorte coerente”, é condição primeira para a organização do item de leitura. Isto ocorre porque não se entende a língua de forma isolada. A comunicação só acontece em um dado contexto, na interação entre sujeitos. A forma como entendemos a materialização do pensamento é a sua concretização por meio do texto em seus diferentes gêneros. O texto selecionado para compor o item de leitura deve servir como estímulo para a reflexão da situação-problema a ser resolvida. Por isso, essa escolha é tão importante. Outra característica fundamental é que o texto seja escolhido em função da habilidade de leitura que se quer verificar. Ou seja: o texto deve ser escolhido em função do descritor de habilidade a ser avaliado. O contrário, ou seja, a escolha do texto e a posterior verificação, por exemplo, de que descritor se “encaixa” nele, corre o indesejável risco de ter um texto como pretexto para a elaboração de item de leitura, o que não é positivo em uma avaliação. Certamente, isto não ocorre com a Prova Brasil/SAEB. Deve-se lembrar que, na construção de um item, faz-se necessário contemplar, apenas, as operações cognitivas (mentais) pertinentes ao descritor que se deseja avaliar. Para cada descritor de habilidade, mede-se apenas uma habilidade. 19 B) Comando do item (ou enunciado): é a pergunta para a qual se quer resposta. Deve ser clara, para que o estudante possa buscar a resposta adequada no elenco de alternativas. Não é positivo que o comando do item contenha as palavras e expressões do descritor de habilidade, mas deve ser construído de forma a solicitar, objetivamente, a operação cognitiva desejada. Este enunciado é o desafio de leitura que se apresenta ao leitor. Por isso, deve ser instigante, claro e calcado no texto que serviu de estímulo para a pergunta. É interessante observar, ainda, que o grau de complexidade do item é crescente de acordo com o nível de proficiência em que o item pode ser alocado. Por isso, a forma como se pergunta é fundamental para se caracterizar a proficiência do estudante. Por conseguinte, existe uma intrínseca relação entre a pergunta feita, a competência a ser medida e o nível de proficiência leitora. C) Alternativas: elenco de quatro possíveis respostas, plausíveis ao texto-base, ou seja, que não devem fugir do texto proposto, que sejam possíveis, mas com, apenas, uma resposta correta ao comando solicitado. As alternativas, também, não devem fazer afirmações descabidas, totalmente contraditórias ao texto, ou até mesmo fora do texto, pois estas são facilmente descartadas pelo estudante, não auxiliando na avaliação do domínio do conhecimento efetivo do estudante. As alternativas trazem uma resposta certa (gabarito); as outras, que não são as corretas, mas são plausíveis em relação ao texto-base e à habilidade desejada, são denominadas distratores. A característica peculiar destes distratores é que devem, necessariamente, estar circunscritos ao texto-base, embora não possam ser considerados corretos em relação ao comando proposto. Estas opções de resposta devem ser independentes, por isso, em geral, são marcadas pelo ponto final. Devem, entretanto, constituir um encadeamento coerente com o enunciado, para que o estudante possa formar um todo coerente ― enunciado e cada alternativa ―, podendo o estudante escolher a resposta adequada, sem haver interferências de uma má escrita em termos formais. É importante registrar, mais uma vez, que as aulas de Língua Portuguesa não podem se restringir a estes descritores, já que devemos, também, desenvolver a proficiência de escrita dos estudantes. Portanto, os descritores sobre os quais estamos 20 falando são, apenas, uma parte daquilo que é imprescindível para o desenvolvimento da proficiência discursiva do estudante. Fundamental é entender que devemos abranger as relações de leitura/escrita/análise linguística, para estudar os efeitos do uso desta ou daquela opção linguística que o sujeito faz para atingir o seu propósito comunicativo. Como já dito anteriormente, os descritores de habilidades representam um continuum e podem ser desenvolvidos ao longo dos anos de escolarização. Não se trata, portanto, de conteúdos específicos. Abaixo apresentamos o quadro comparativo de descritores de habilidades, específicos da prova de leitura para os anos de escolaridade avaliados. V – Quadro Comparativo 5º ano de escolaridade 9º ano de escolaridade Tópico I - Procedimentos de leitura Tópico I - Procedimentos de leitura D1 – Localizar informações explícitas em um texto D1 – Localizar informações explícitas em um texto D3 – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão D3 – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão D4 – Inferir uma informação implícita em um D4 – Inferir uma informação implícita em um texto texto D6 – Identificar o tema de um texto D6 – Identificar o tema de um texto D11 – Distinguir um fato da opinião relativa a esse D11 – Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato fato Tópico II – Implicações do Suporte, do Gênero Tópico II – Implicações do Suporte, do Gênero e / ou do Enunciado na Compreensão do Texto e / ou do Enunciado na Compreensão do Texto D5 – Interpretar texto com auxílio de material D5 – Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propaganda, quadrinhos, foto, gráfico diverso (propaganda, quadrinhos, foto, etc.) etc.) D9 – Identificar a finalidade de textos de D12 – Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros diferentes gêneros D15 – Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de texto que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido. 21 Tópico III – Relação entre textos Tópico III – Relação entre textos D15 – Reconhecer diferentes formas de tratar uma D20 – Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido. foi produzido e daquelas em que será recebido. D21 – Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema. Tópico IV – Coerência e Coesão no Tópico IV – Coerência e Coesão no Processamento do Texto Processamento do Texto D2 – Estabelecer relações entre partes de um texto, D2 – Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto contribuem para a continuidade de um texto D7 – Identificar o conflito gerador do enredo e os D7 – Identificar a tese de um texto elementos que constroem a narrativa D8 – Estabelecer relações entre a tese e os D8 – Estabelecer relações causa/consequência argumentos oferecidos para sustentá-la entre partes e elementos do texto. D9 – Diferenciar as partes principais das D12 – Estabelecer relações lógico-discursivas secundárias em texto. presentes no texto, marcadas por conjunções, D10 – Identificar o conflito gerador do enredo e os advérbios, etc. elementos que constroem a narrativa D11 – Estabelecer relação causa/consequência entre partes e elementos do texto. D15 – Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc. Tópico V – Relações entre Recursos Tópico V – Relações entre Recursos Expressivos e Efeitos de Sentido Expressivos e Efeitos de Sentido D13 – Identificar efeitos de ironia ou humor em D16 – Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados textos variados D14 – Identificar o efeito de sentido decorrente do D17 – Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações. uso da pontuação e de outras notações. 22 D18 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão. D19 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos. Tópico VI – Variação linguística Tópico VI – Variação linguística D10 – Identificar as marcas linguísticas que D13 – Identificar as marcas linguísticas que evidenciem o locutor e o interlocutor de um texto. evidenciem o locutor e o interlocutor de um texto Para melhor entendimento dos descritores apresentados, selecionamos um exemplo para cada um deles do banco de itens da SME. Trata-se de itens de provas aplicadas ao longo desses três anos em que viemos desenvolvendo este trabalho de subsidiar a prática pedagógica do professor da Rede Municipal nos diferentes anos de escolaridade. Nas páginas seguintes, você encontrará o item elaborado (texto–base, enunciado, alternativas e gabarito) com um comentário pedagógico do referido item e uma ou outra sugestão de procedimento com vistas à contribuição para o desenvolvimento da proficiência leitora dos estudantes. É importante esclarecer que estas estratégias podem ser utilizadas em qualquer ano de escolaridade. 23 V – Análise de item de prova do 5º de escolaridade / SME e comentários pedagógicos. Esta análise foi feita em conjunto com a equipe de elaboradores do material pedagógico e dos itens de Língua Portuguesa. DESCRITOR Nº 1 - Localizar informações explícitas em um texto. ITEM 1 Texto-base A pedra, o papel, a tesoura A pedra, o papel e a tesoura formaram um grupo para o último grande trabalho de ciências do ano. A pedra esboçou a ideia do trabalho. O papel reuniu os diagramas, gráficos e ilustrações. A tesoura fez a pesquisa e a apresentação. O trabalho não era muito bom, e eles também não deram muito duro para fazê-lo; tiraram uma nota baixa. – Você devia ter pesquisado mais – disse a pedra – batendo na tesoura. – Você devia ter arranjado mais ilustrações – disse a tesoura – cortando o papel. – Você devia ter tido uma ideia melhor – disse o papel – embrulhando a pedra. Moral da história: A culpa nunca é de ninguém! FONTE: Fábula de autoria desconhecida. Coleção Voo Mágico – Ed. Escala Educacional. Enunciado Quem fez a pesquisa e a apresentação do trabalho foi Alternativas (A) a pedra. (B) o papel. (C) a tesoura. (D) o grupo. Gabarito: C 24 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO O texto – uma fábula de autoria desconhecida – de estrutura linear, cujas frases estão em ordem direta – é iniciado com a apresentação dos três personagens que participam da ação narrativa, formando o cenário inicial do texto. A seguir, para cada personagem é destacada sua função na tarefa que compõe a trama narrativa. É um item de leitura bastante apropriado para o ano de escolaridade, atendendo com pertinência à habilidade – localizar informação explícita do texto. Torna-se um item de nível baixo de dificuldade, já que as informações necessárias para a solução da situação–problema apresentada no enunciado encontra-se no início do texto, 4º parágrafo. Os parágrafos se caracterizam por períodos simples e curtos, em ordem direta. É uma importante habilidade a ser desenvolvida nas atividades em sala de aula, visto que implica em reconhecimento das informações – expostas na superfície textual, aquelas que estão apresentadas de forma clara. Por isso, constitui-se em uma habilidade básica dos procedimentos de leitura. 25 DESCRITOR Nº 12 - Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios etc. ITEM 2 Texto–base Sempre alerta Ferreira Gullar O gato é bonzinho mas bobo não é. A qualquer barulhinho, está de orelha em pé. Parece que dorme com um olho só. Com o outro vigia o que ocorre ao redor. Em ninguém, na verdade, o gato confia. E dizem que é devido a essa qualidade que ele sobrevive desde a Antiguidade. FONTE: ???????????? Enunciado No texto “O gato é bonzinho / mas bobo não é” (linhas 1 e 2), a palavra destacada estabelece, com a qualidade “bonzinho”, uma relação de Alternativas (A) tempo. (B) oposição. (C) lugar. (D) consequência. Gabarito: B 26 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Esta habilidade avalia a capacidade do leitor para a identificação das relações estabelecidas no texto, a partir do uso de palavras ou expressões responsáveis pela ligação das ideias, o que constrói a ligação entre as diferentes partes do texto. A situação–problema proposta aponta para a oposição entre ser bonzinho x não ser bobo, opção que é o tema do texto. Neste caso, é importante que o leitor compreenda a relação semântica que se estabelece entre os dois adjetivos: bonzinho/bobo, unidos pela palavra de ligação mas, que indica oposição. O enunciado do item retoma os dois primeiros versos do poema cujo título é Sempre alerta. Os estudantes que responderam corretamente compreenderam que a expressão selecionada reúne duas características opostas, o que justifica, inclusive, o título do poema. Para o desenvolvimento da habilidade em diferentes textos cabe ao professor ressaltar junto aos estudantes os diferentes elementos que expressam as relações lógico– discursivas, tais como tempo, lugar, explicação, finalidade, marcadas não só pelas palavras de ligação, as conjunções, mas também, por advérbios. Por isso, nosso procedimento pedagógico em sala de aula não pode ser a simples identificação das classes de palavras, por exemplo. Devem-se sempre estudar os recursos linguísticos na perspectiva textual do uso e da funcionalidade da língua, o que, sem dúvida, contribuirá para o desenvolvimento da capacidade leitora do estudante. 27 DESCRITOR Nº 14 - Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações. ITEM 3 Texto-base Enunciado Os sinais de pontuação na fala do menino (UM BEBÊ?!?), no terceiro quadrinho, reforçam Alternativas (A) a reação de alegria do menino. (B) a desobediência do menino às ordens da mãe. (C) a falta de educação do tigre. (D) a reação de questionamento do menino. Gabarito D COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Esta habilidade visa ao reconhecimento discursivo do uso dos sinais de pontuação e de outras notações, tais como o uso de negrito, itálico, tamanho da fonte, dentre outros, etc., ou seja, tem-se o objetivo de verificar o efeito que essas marcas provocam no texto, indicando uma pista linguística para atender ao propósito comunicativo do produtor do texto. Discursivamente, estas notações, bem como os sinais de pontuação podem acumular outras funções como aquelas ligadas à ênfase, à reformulação ou à 28 justificação de certos segmentos. Aqui se faz necessário marcar a diferença entre o que é gramatical: saber usar os sinais de pontuação e o que é discursivo: saber avaliar o efeito decorrente do uso em um dado contexto. No item apresentado, o aluno deve demonstrar o domínio dessa habilidade por meio do reconhecimento dos efeitos provocados pelo emprego dos recursos de pontuação ou de outras formas de notação. O leitor deve identificar o efeito da junção do ponto de interrogação e exclamação que aparecem na fala do personagem. Os sinais de pontuação colaboram para a construção do sentido global do texto, não se restringindo ao aspecto puramente gramatical de seu uso. Para tanto, o leitor proficiente deve reconhecer o referido uso em consonância com a expressão do personagem, no texto que serve de base para o item. Ao longo do processo de leitura, podemos oferecer aos nossos alunos contato com diversos gêneros textuais, como propagandas, reportagens, quadrinhos, entre outros, orientando-os a perceber e a analisar os efeitos de sentido dos sinais de pontuação, bem como de notações (itálico, negrito, caixa alta, entre outros) como elementos significativos para a construção de sentidos dos textos. 29 DESCRITOR Nº 6 Identificar o tema de um texto. ITEM 4 Tópico: Texto-base FONTE: ??????????????????????? Enunciado O assunto da propaganda acima é Alternativas (A) a venda de bicicleta. (B) a corrida de bicicleta. (C) a informação da preservação do ambiente. (D) o anúncio do dia mundial sem carro. Gabarito D 30 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Esta habilidade – identificar o tema do texto - constitui-se em competência básica na compreensão do texto verbal e não verbal, pois trata do reconhecimento do tópico global do texto, ou seja, o leitor precisa transformar os elementos dispostos localmente em um todo coerente, relacionando neste caso, para a resolução desse item, a linguagem verbal e não verbal. A tarefa solicitada ao aluno é que identifique o assunto principal na propaganda, o que requer que leia o texto integralmente e perceba a interação entre as imagens e o texto escrito. A partir da interação entre o conteúdo verbal e o não verbal, o aluno constrói um sentido global que permite definir o tema do texto. Trata-se de uma tarefa que procura mobilizar uma capacidade que, certamente, não requer, apenas, a localização de uma informação. A habilidade que está sendo avaliada refere-se ao reconhecimento do assunto principal do texto, ou seja, a identificação do que trata o texto, em uma perspectiva global do texto. A observação do vocábulo “bicicletada” com a imagem da bicicleta e a placa de carro proibido juntam-se ao texto verbal “Dia mundial sem carro”, o que constitui pistas para o desvendamento do tema do texto. Para desenvolver melhor essa habilidade, devem-se oferecer aos estudantes textos de diferentes gêneros, solicitando que sejam identificadas as ideias secundárias, as principais, estimulando-o para o entendimento global do texto. 31 DESCRITOR Nº 9 - Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros ITEM 5 Texto-base FONTE: http://www.jblog.com.br/quadrinhos.php?blogid=84&archive=2009-01 Enunciado O texto acima tem a finalidade de Alternativas ( A ) apresentar o mundo dos heróis. ( B ) divulgar histórias em quadrinhos. ( C ) fazer propaganda de um shopping. ( D ) convidar para o lançamento de um livro. Gabarito: D 32 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO A habilidade do item diz respeito ao reconhecimento, por parte do leitor, do gênero que “empacota” o texto. Neste caso, o leitor deve identificar o objetivo do texto que é convidar o leitor para o lançamento do livro História do Brasil em quadrinhos. O leitor deve não só ler a palavra convite, mas relacioná-la às outras informações que caracterizaram este universo textual: a expressão “Lançamento do livro”, a data, o local e o horário. Convite é um gênero textual com o qual o estudante, em geral, tem familiaridade, pois é muito trabalhado em diferentes atividades didáticas. Como todo texto, este também possui finalidades específicas. A característica interessante do texto que serve de base para a situação-problema do enunciado é a originalidade do convite, aliando a seu propósito – explicitamente apresentado em linguagem clara, objetiva e direta, a imagem histórica de um dos ilustres personagens da nossa história, o que contextualiza a obra a ser lançada. É importante que o/a professor/a trabalhe em sala de aula com textos de gênero variados: notícias, avisos, cartas, artigos, entre outros, evidenciando não só o assunto do texto, mas a sua finalidade, mostrando e explorando, textualmente, as interseções que podem ser feitas na criação de um texto, caracterizando que os gêneros textuais não são únicos. 33 DESCRITOR Nº 4 - Inferir uma informação implícita em um texto ITEM 6 Texto-base Novelas paulistanas – Quantos minutos ainda? – Oito. Biagio alcançou a bola. Aí, Biagio! Foi levando, foi levando. Assim, Biagio! Driblou um. Isso! Fugiu de outro. Isso! Avançava para a vitória. Salame nele, Biagio. Arremeteu. Chute agora! Parou. Disparou. Parou. Aí! Reparou. Hesitou. Biagio! Biagio! Calculou. Agora! Preparou-se. Olha o Rocco! É agora. Aí! Olha o Rocco! Caiu. – CA – VA – LO! Prrrrii! – Pênalti! Fonte: Antônio de Alcântara Machado. Novelas paulistanas. 7ª. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. p.33 Enunciado “Novelas Paulistanas” faz a narração de Alternativas (A) uma perseguição. (B) uma corrida de automóveis. (C) uma partida de futebol. (D) um jogo de queimado. Gabarito C COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Este descritor exige do leitor uma capacidade de entender o que está nas entrelinhas do texto, partindo do contexto e das pistas linguísticas. É o processo de busca do entendimento do que está nas entrelinhas do texto. Para tanto, o leitor deve 34 verificar as informações que “ancoram” as informações implícitas. No texto que serve de base para a construção do item, o leitor deve entender que há uma sequência de ações narradas, especialmente, no 3º parágrafo . As informações que “ancoram” a informação implícita – uma partida de futebol – estão centradas na seleção lexical, expressões ligadas ao “futebol”: – “driblou” – “arremeteu” – “chute” - “pênalti”. Portanto, é muito importante que o professor, ao estudar os textos com os estudantes, chame a atenção para as valiosas pistas linguísticas construídas ao longo do texto, que permitem ao leitor levantar hipóteses para a compreensão dos mesmos. As aulas de Língua Portuguesa devem, em qualquer nível de escolaridade, explorar estes recursos presentes no texto. Por isso, afirma-se que é necessário mais do que a mera identificação do gênero, das classes de palavras, por exemplo. Faz-se necessário reconhecer a funcionalidade dos recursos selecionados e utilizados pelo produtor do texto para a construção de sentidos do texto. 35 DESCRITOR Nº 15 - Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação, na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que eles foram produzidos e daquelas em que serão recebidos ITEM 7 Texto I Jacaré lava o pé (Fragmento) Eloí Elizabet Bocheco O jacaré esfrega o pé com água e sabão Enxágua e repete trinta vezes a operação Se acha uma craquinha, começa tudo outra vez. Imagine a conta d'água no fim do mês! (http://www.revista.agulha.com.br) Texto II Um minicrocodilo, uma grande descoberta (Fragmento) Se comparado aos seus parentes atuais, ele é pequeno. Porém, para os cientistas que estudam animais pré-históricos, saber que ele viveu há 90 milhões de anos onde hoje está o Brasil é uma grande descoberta. Sabe de quem estamos falando? Do Adamantinasuchus navae, um crocodilo terrestre muito diferente das espécies préhistóricas desse tipo de réptil descobertas até hoje. Seus fósseis foram apresentados nesta semana à imprensa. (http://www.cienciahoje.uol.com.br) Enunciado A leitura dos textos permite concluir que 36 Alternativas (A) O texto I discute sobre a fome do jacaré. O texto II questiona os estudos dos animais pré-históricos. (B) O texto I descreve poeticamente a vida do jacaré. O texto II analisa a extinção de um famoso réptil. (C) O texto I escreve em versos, bem-humorados, o banho do jacaré. O texto II informa sobre a descoberta de um pequeno crocodilo. (D) O texto I informa em estrofes, bem-animadas, o calor do jacaré. O texto II afirma com certeza o fim das pesquisas pré-históricas. Gabarito C COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Este descritor de habilidade exige que os textos sejam vistos na relação de uns com os outros, isto é, podem ser comparados e confrontados, com diferentes objetivos. É comum que se faça a relação de textos que tratam do mesmo tema, para procurar perceber a convergência de ideias ou de formas e de pontos de vista acerca do tema. O enunciado do item permite que o leitor compare os dois textos sobre um mesmo tema, fazendo com que construa autonomia para analisar e se posicionar criticamente sobre os argumentos utilizados nos textos. O item propõe a comparação entre dois textos de gêneros diferentes que tratam do mesmo tema - os répteis. Para responder corretamente ao solicitado no enunciado, o leitor precisa identificar a semelhança do tema “répteis”. No 1º texto, os versos são bem humorados sobre o banho do jacaré e no 2º, há informação sobre a descoberta de um pequeno crocodilo. Ambos, o jacaré e o crocodilo, répteis. O professor poderá usar diferentes gêneros textuais para comparar as ideias neles apresentadas, como música e conto, poema e texto científico. É importante ressaltar que as alternativas que compõem o item devem trazer esta perspectiva de contraste de características dos textos, tanto na forma quanto no conteúdo. 37 DESCRITOR Nº 2 - Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto. ITEM 8 Texto-base Infância Eu tenho oito anos e já sei ler e escrever. Por isso, ganhei de presente a história de Peter Pan. As aventuras dele com o Capitão Gancho e o jacaré que engoliu um relógio até que são engraçadas. Mas achei uma bobagem aquela mania do Peter Pan de querer ficar sempre menino. Já imaginaram se todos quisessem ficar sempre pequenos e nunca mais crescer? Aí quem ia cuidar da gente? Fazer comida, passar pito, mandar tomar banho, dizer que é hora de ir pra cama? Sarar a gente da dor de barriga e da dor de dente? FONTE: Henriqueta Lisboa et allii.Varal de Poesia.1ed.São Paulo: Ática,2003.p.35 Enunciado No trecho “As aventuras dele com o Capitão Gancho.” (linhas 2 e 3), a palavra sublinhada refere-se ao Alternativas (A) jacaré. (B) menino. (C) Peter Pan. (D) relógio. Gabarito: C 38 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Esta habilidade diz respeito à capacidade do leitor em estabelecer relações entre as partes do texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para sua continuidade. Trata-se de uma substituição localizada. Para tanto, o leitor deve reler o texto e observar a relação coesiva de união entre o pronome dele (linha 2) com o nome (substantivo próprio) imediatamente anterior. Esta referenciação permite uma estreita ligação entre o 1º período (“Por isso, ganhei de presente a história de Peter Pan”) e o 2º período (“as aventuras dele com o Capitão Gancho”), contribuindo para a continuidade do texto, evitando, nesse caso, uma repetição desnecessária. Cabe salientar que as alternativas apresentam substantivos masculinos, mantendo coerência de gênero com o pronome dele, objeto da análise. Entretanto, os distratores (A,B e C) não guardam relação semântica, considerando o fragmento que serve de texto–base. Somente com o entendimento da relação semântica que se estabelece entre os dois primeiros períodos do texto é que se pode escolher o gabarito do item. É importante, no estudo de texto em sala de aula, que o leitor entenda estas relações semânticas entre as partes menores do texto – dentro do parágrafo e entre parágrafos, a fim de ampliar a compreensão do texto, bem como desenvolver sua proficiência leitora. Deseja-se ressaltar, por fim, que este descritor de habilidade descreve, exatamente, o uso discursivo de um elemento gramatical, no caso, a relação nome – pronome, o que ratifica a visão de uso da língua, a qual nós, professores, devemos ter na abordagem de um texto em qualquer nível de escolaridade. 39 DESCRITOR Nº 1 - Inferir sentido de uma palavra ou expressão ITEM 9 16/07/07 - 12h47 - Atualizado em 16/07/07 - 12h53 “Cachorro com mancha de coração me trouxe sorte”, diz dona. Filhote da raça Chihuahua virou celebridade no Japão. Proprietária diz que já recebeu inúmeras propostas para vender o animal. Do G1, com informações da Reuters Um filhote da raça Chihuahua se tornou o mais recente namorado do Japão, depois de ter nascido com uma mancha em forma de coração no pelo. O cachorro, chamado de "Coração-kun", nasceu em 18 de maio, em uma loja de animais, no norte de Odate. A proprietária do local, Emiko Sakurada, que cria cerca de mil filhotes, acredita que a marca incomum lhe trouxe sorte. "Desde que Coração-kun nasceu, não apenas eu, mas também muitas pessoas que o viram estão tendo mais sorte", disse Sakurada. O filhote se tornou uma celebridade, depois que uma emissora de TV local levou imagens dele ao ar. Desde então, Sakurada tem recebido uma série de ligações de pessoas querendo comprá-lo, mas ela se recusa a vendê-lo. FONTE: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL70884-5602,00 CACHORRO +COM +MANCHA+DE+CORACAO+ME+TROUXE+SORTE+DIZ+DONA.html#foto Enunciado No trecho “Filhote da raça Chihuahua virou celebridade no Japão”, a palavra destacada dá a entender que o cachorro se tornou 40 Alternativas (A) meigo. (B) bonito. (C) famoso. (D) dengoso. Gabarito B COMENTÁRIO PEDAGÓGICO A habilidade avaliada neste item é a de inferência de sentido de uma palavra ou expressão. O texto – base é um texto informativo, de tema bastante agradável e afeito ao público infantil. Temos de ter em mente que inferir o sentido de uma palavra não é adivinhar o sentido dela. Mesmo que o leitor não saiba, literalmente, o sentido de uma palavra, podem-se utilizar estratégias de leitura, ou seja, uma instrução global para cada escolha a ser feita na ação, no ato de ler, tomando como base o contexto (o ambiente textual). No texto – base que compõe o item de prova, o campo semântico do texto aponta para uma relação semântica positiva “cachorro me trouxe sorte” “inúmeras propostas para vender o animal” “celebridade” “depois que a TV local levou imagens ao ar”. O leitor, ao ler um texto, conscientemente ou não, simula vários passos interpretativos, orientados pela seleção de vocábulos que estruturam o texto, por exemplo. Além disso, de forma rápida, aciona seu conhecimento de mundo, a fim de elaborar suas hipóteses de interpretação do que está sendo lido. Em sala de aula, é bastante produtiva a estratégia de explicitude desse processamento, mostrando aos leitores que o ato de ler não se constitui em adivinhação, mas um permanente trabalho de construção de sentido do texto, aliado ao conhecimento linguístico e ao conhecimento discursivo, desenvolvido nas habilidades de leitura. 41 DESCRITOR Nº 7 - Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa. ITEM 10 Texto–base O Conselho dos ratos Esopo Os ratos resolveram organizar um conselho para decidir qual seria a melhor alternativa para que eles pudessem saber, com antecedência, quando o inimigo deles, o gato, estava por perto. .Dentre as muitas ideias apresentadas, uma delas, que logo foi aprovada por todos, considerava que um sino deveria ser pendurado no pescoço do gato. Assim, ao escutarem o tilintar do mesmo, todos poderiam correr a tempo para seus buracos. Além de gostarem do plano, todos ficaram extasiados com tão criativa solução. E um velho rato, então, questionou: "Meus amigos, percebo que o plano é realmente muito bom. Mas, quem dentre nós prenderá o sino no pescoço do gato?" E nenhum voluntário se fez presente. Moral da história: Dizer o que deve ser feito é uma coisa. Fazê-la, entretanto, é "coisa" bastante diferente. FONTE: Histórias que fazem bem/Daniel Colombo/V&R Editoras/São Paulo Enunciado O trecho que identifica o clímax (ponto culminante) da história é Alternativas (A) “Os ratos resolveram organizar um conselho para decidir qual seria a melhor alternativa para que eles pudessem saber, com antecedência, quando o inimigo deles, o gato, estava por perto.” (B) “Dentre as muitas ideias apresentadas, uma delas, que logo foi aprovada por todos, considerada que um sino deveria ser pendurado no pescoço do gato.” (C) “Assim, ao escutarem o tilintar do mesmo, todos poderiam correr a tempo para seus buracos. Além de gostarem do plano, todos ficaram extasiados com a criativa solução.” (D) “Meus amigos, percebo que o plano é realmente muito bom. Mas quem dentre nós prenderá o sino no pescoço do gato?” Gabarito: D 42 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO A narrativa obedece a um esquema de construção, de organização que compreende as seguintes partes: introdução ou apresentação, complicação, tentativa de solução do problema, clímax e desfecho. O item apresentado refere-se à compreensão da estrutura da narrativa, com o objetivo de identificar um desses elementos da estrutura da narrativa. É importante compreender que o texto está dividido em partes e que cada uma das partes está relacionada a uma unidade semântica. Portanto, diz respeito à construção da coerência entre os elementos da narrativa em relação ao conflito gerador. Para trabalhar essa habilidade, deve-se oferecer a leitura de diferentes textos narrativos, para que o leitor possa relacionar os elementos que constroem a narrativa de forma mais evidente, explorando as diferentes partes do texto e atribuindo-lhes coerência. A habilidade concernente ao item de prova visa à identificação de um desses elementos que compõem a narrativa. Portanto, trata-se de um item que se refere à compreensão da estrutura narrativa, verificando a coerência entre as partes do texto. Neste caso específico, identificando o ponto culminante da história. Para tanto, o leitor necessita entender a organização das partes da fábula “O conselho dos Ratos”: Parágrafos 1 e 2 Contextualização da história, apresentando o problema: pensar em alternativas para evitar o inimigo; e os personagens – os ratos preocupados. Parágrafo 3 e parte do parágrafo 4 Clímax – questionamento que porá à prova a sugestão feita. Final do parágrafo 4 Conclusão – desfecho da situação inicial apresentada, com possível solução do caso. Nesse gênero, há a presença da Moral, a fim de trazer um ensinamento e fazer um alerta para os leitores. A abordagem, em sala de aula, considerando elementos que constroem a narrativa é uma estratégia importante para o desenvolvimento da capacidade de leitura. 43 DESCRITOR Nº 10 - Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto ITEM 11 Texto-base As três peneiras de Sócrates Certa vez, um homem chegou até o grande sábio Sócrates e disse: – Escuta, tenho que contar-te algo importante a respeito de teu amigo! – Espera um pouco! – interrompeu o sábio. – Fizeste passar aquilo que queres contar pelas três peneiras? – Que três peneiras? – Então, escuta bem! A primeira é a peneira da VERDADE. Estás convicto de que tudo o que queres dizer-me é verdade? – Não exatamente, somente o ouvi dos outros. – Mas, então, certamente o fizeste passar pela segunda peneira? Trata-se da peneira da BONDADE. O homem ficou ruborizado e respondeu: – Devo confessar que não. – E pensaste na terceira peneira, vendo se me seria útil o que queres falar-me a respeito do meu amigo? Seria esta a peneira da UTILIDADE. – Útil? Na verdade, não. – Vês? – disse-lhe o sábio. – Se aquilo que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que guardes somente para ti. Moral da história: Calar-se é uma atitude mais sábia do que falar futilmente. FONTE: Adaptação www.armazem de sonhos.com.br Enunciado O trecho do texto que apresenta exemplo de linguagem que indica certa informalidade e intimidade é Alternativas (A) “Espera um pouco!” (B) “Fizeste passar aquilo que queres contar pelas três peneiras?” (C) “Estás convicto de que tudo o que queres dizer-me é verdade?” (D) “... vendo se me seria útil o que queres falar-me a respeito do meu amigo?” 44 Gabarito A COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Trata-se de um importante descritor de habilidade que considera as possibilidades heterogêneas de uso da língua, na identificação de marcas que caracterizam os interlocutores em diferentes espaços, com maior ou menor grau de formalidade. Nesse item, é interessante observar o contraste existente na estrutura do registro escolhido, pois, por ser um texto que retrata uma situação vivenciada na antiguidade clássica, uma conversa entre o filósofo Sócrates e um amigo, a linguagem predominante é a formal, marcada pela ordem da frase e o uso do verbo na 2ª pessoa do singular. Entretanto, por exatamente tratar de uma conversa entre amigos, um interlocutor – o filósofo Sócrates utiliza a expressão “Espera em pouco” que denota uma intervenção mais abrupta, indicando um grau maior de informalidade na conversa. Nesse item, ainda é interessante ressaltar que os fragmentos do texto dispostos nas alternativas exemplificam a predominância do registro formal do texto (distratores B,C e D) em contraste com o registro informal da fala específica (Gabarito A). Na abordagem do texto, em sala de aula, é muito importante caracterizar a linguagem predominante nos diferentes textos lidos, mostrando que se constitui em um recurso importante para a contextualização dos personagens e a caracterização do ambiente, dentre outros elementos que determinam um dado universo textual. 45 DESCRITOR Nº11 - Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato ITEM 12 Texto-base FONTE: Adaptação - O diário de Susie - Aidan Mac Farlane e Ann Mc Pherson. Editora:340 Enunciado O trecho que expressa uma opinião é Alternativas (A) “minha mãe e meu pai tiveram uma briga...” (B) “...ir acampar no verão com a vovó”. (C) “...papai mandou eu parar de ouvir a conversa...” (D) “Hoje de manhã parecia que estava tudo bem...” Gabarito D 46 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO O descritor solicita que o aluno diferencie fato (algo que aconteceu/acontece) de uma opinião (um ponto de vista presente no texto). Nessa habilidade, os procedimentos de leitura dizem respeito ao contraste entre referencial informativo (fato) e o subjetivo (opinião). O item solicita que o leitor identifique a opinião sobre o fato ocorrido e narrado no texto. O leitor necessita identificar a parte que expressa a visão, o ponto de vista do narrador, neste caso, a análise de Susie sobre a situação vivenciada por seus pais. Trata-se de uma habilidade de alto nível de complexidade. Por isso, é importante a leitura de textos de diversos gêneros, em que possa ser distinguido, quando houver, o fato e a opinião relativa ao fato. 47 DESCRITOR Nº 8 - Estabelecer relação causa/conseqüência entre partes e elementos do texto. ITEM 13 Texto-base O cão e a carne Era uma vez um cão que ia atravessando um rio, levando na boca um suculento pedaço de carne. Porém, viu na água do rio a sombra da carne, que era muito maior. Prontamente, ele largou seu pedaço de carne e mergulhou no rio para pegar o maior. Nadou, nadou e não achou nada, e ainda perdeu o pedaço que levava. Moral da história: Nunca deixe o certo pelo duvidoso. De todas as fraquezas humanas, a cobiça é a mais comum, e é, todavia, a mais castigada. Christiane Angelotti, adaptação da fábula de Esopo http://www.qdivertido.com.br/verconto.php?codigo=3 Enunciado O cão largou a carne que carregava na boca, porque Alternativas (A) estava com pouca fome. (B) pensou em comê-la no dia seguinte. (C) cansou de carregar a carne na boca. (D) desejou a carne maior que viu refletida no rio. Gabarito D 48 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Por meio do descritor, pode-se avaliar a habilidade de o aluno reconhecer os motivos pelos quais os fatos são apresentados no texto: sua organização e seu resultado. No texto O cão e a carne, o leitor deve atentar para o que ocorreu num tempo anterior e o que ocorreu depois: a ação do cão em largar a carne que carregava na boca ocorre depois do desejo de ter a carne maior que viu refletida no rio. É importante ressaltar as relações de causa e efeito, problema e solução, objetivo e ação, entre outros. É a busca dos porquês na relação textual que não pode ser esquecida a cada leitura. Trata-se de importante habilidade, pois diz respeito às relações semânticas de causa e consequência que se constituem os extremos de uma cadeia semântica em mútua relação. 49 DESCRITOR Nº 13 Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados. ITEM 14 Texto–base Fonte: historiaeculturas.wordpress.com Enunciado O humor desta história em quadrinhos está Alternativas (A) na cena em que os pais da personagem dormem. (B) na hora marcada no relógio de parede. (C) na sequência de atitudes da personagem Mafalda. (D) na entrada da personagem Mafalda no quarto dos pais. Gabarito C 50 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Este descritor tem por finalidade avaliar a capacidade de o aluno perceber os efeitos de ironia ou humor dos textos quer no uso de palavras e expressões, quer na sequência de ações. No quadrinho, a sequência mostra a personagem adiantando o relógio. Sua atitude permite inferir que ela adianta o relógio do quarto dos pais (3º quadrinho), para que eles acordem mais cedo que o normal. O traço de humor não só está na sequência de ações da personagem Mafalda, como também na inversão de funções características de uma filha e dos pais, bem como no sentido literal, denotativo que o provérbio popular assume no texto. Nas atividades didáticas, é importante depreender os traços de humor e ironia, já que estes caracterizam um uso mais conotativo da linguagem. Esta habilidade, também se revela com alto grau de dificuldade, devendo ser consideradas estratégias de leitura de diferentes textos, a fim de levar os estudantes ao desenvolvimento da mesma. 51 DESCRITOR Nº 5 Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, fotos, etc.) ITEM 15 Texto–base O Rio de Janeiro é, hoje, uma das capitais com maior geração de lixo público do país Fonte: http://comlurb.rio.rj.gov.br/lixometro Enunciado Esta é a tabela do histórico de recolhimento do lixo público de alguns bairros do município do Rio de Janeiro. Os bairros que apresentam o maior e o menor índice de lixo referente ao mês de maio são, respectivamente: 52 Alternativas (A) Ilha do Governador e Centro. (B) Madureira e Lagoa. (C) Méier e Barra da Tijuca. (D) Campo Grande e Lagoa Gabarito: D COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Este descritor busca avaliar a capacidade de o leitor reconhecer a utilização dos elementos gráficos como apoio na construção do sentido, interpretando textos que utilizam a linguagem verbal e não verbal. O item apresentado refere-se à compreensão dos dados de uma tabela, com vistas ao contraste de informação. Para responder ao item, o estudante deve analisar a tabela e perceber quais bairros, no mês de maio (05), apresentam o maior e o menor índice de geração do lixo público. Para o desenvolvimento dessa habilidade de leitura, devem-se oferecer diferentes gêneros textuais, que se caracterizam por uma interseção entre o verbal e o não verbal, tais como gráficos e tabelas. Os itens que se seguem compuseram as provas aplicadas do 9º ano de escolaridade. Passe à análise dos mesmos, considerando seus respectivos descritores de habilidade e lembrando que são comuns aos descritores do 5º ano. Espera-se que os professores, leitores desse material, atestem que a diferença da tarefa está no maior grau de dificuldade relativa ao texto, na sua organização e na sua temática. VI – Análise de itens de Prova do 9º ano de escolaridade/SME e comentários pedagógicos 53 DESCRITOR Nº - D1 – Localizar informações explícitas em um texto. ITEM 1 Texto–base O custo da ignorância Imagine que você esteja perdido em Pequim, na China, onde é muito difícil encontrar alguém que fale outra língua que não o chinês. Suponha que você esteja passando mal e precise ir a um hospital. Quanto mais o tempo passa, mais a dor aumenta. E mais difícil se torna sua comunicação com as pessoas em volta. Você olha as placas, mas não entende nada. Procura uma lista telefônica e entende menos ainda. Já pensou se tivesse de trabalhar nesse lugar? Terrível, não? Essa sensação de insegurança ajuda a entender uma imensa parcela da população brasileira. Um analfabeto ou semianalfabeto comporta-se, na prática, da mesma forma como você se comportaria se estivesse perdido numa rua de Pequim. Esse exemplo ajuda a entender mais sobre a mortalidade infantil e o círculo vicioso da miséria. Confuso? Afinal, o que o analfabetismo tem a ver com a mortalidade infantil? É simples. O nível de instrução da mãe é um elemento vital para que a família perceba a necessidade de higiene e de saneamento básico. Números do Unicef mostram que a taxa de mortalidade infantil chega ao seu ponto máximo nas famílias em que a mãe é analfabeta. E vai baixando à medida que a instrução aumenta. A morte de crianças pequenas entre filhos de mulheres que frequentam a escola por menos de um ano é cerca de três vezes maior do que em famílias nas quais a mãe estudou por mais de oito anos.[...] FONTE: DIMENSTEIN. Gilberto. O cidadão de papel. São Paulo: Ática, 2002. Enunciado Segundo o texto, a UNICEF destaca como um dos fatores que interferem no aumento da taxa de mortalidade infantil 54 Alternativas (A) o crescente círculo vicioso da miséria. (B) o aumento do nível de instrução da mãe (C) o grau de analfabetismo da mãe. (D) a sensação de insegurança da população. Gabarito: C COMENTÁRIO PEDAGÓGICO O texto oferecido para a leitura é um artigo de livro paradidático. Esse texto tem como finalidade informar e a questão proposta desafia o aluno a lidar com as várias informações do texto, lançando mão da habilidade de “localizar uma informação explícita”. Desse modo, das várias informações do texto, uma é colocada em destaque pela questão. O aluno deve voltar ao texto e identificar essa informação, que pode estar literalmente citada na questão ou ter sido parafraseada. No caso da questão ora analisada, o aluno tem que relacionar o enunciado da questão principalmente ao 4º parágrafo do texto base. “Números do Unicef mostram que a taxa de mortalidade infantil chega ao seu ponto máximo nas famílias em que a mãe é analfabeta” e à opção de resposta “o grau de analfabetismo da mãe.” Os distratores (A,B e C) são informações plausíveis no texto, mas que não se constituem como verdadeiras frente à situação–problema apresentada no enunciado. Este é um descritor básico para o procedimento de leitura, lembrando ser uma habilidade, também, indicada na matriz de referência do 5º ano. É preciso enfatizar que o item se torna mais difícil, pois a informação explícita está indicada no último parágrafo do texto. Toda abordagem textual, nas aulas de leitura de textos, deve partir das informações explícitas, aquelas que estão na superfície do texto, para que o leitor possa aprofundar e reconhecer as redes significativas das múltiplas formas de organização textual. Dessa forma, estará desenvolvendo sua capacidade de leitura das implicitudes das informações. 55 DESCRITOR Nº 15 – estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios etc. ITEM 2 Texto-base Como água Foi até a entrada do quarto apenas para despedir-se e viu que a filha estava penteando os cabelos, sentada na cama, vendo-se no espelho da parede. A cena o imobilizou. Lembrou da época em que ainda era o responsável por pentear os cabelos de Anita quando a babá não estava em casa para dar conta da tarefa. Quando pequena, ela tinha a noção de que os cabelos deviam ser penteados por horas. “Mais”, dizia quando ele já achava que tinha terminado, os fios correndo tão soltos que davam a impressão de que jamais voltariam a se enroscar. Nunca deixou de ser assim. Adulta, Anita ainda tinha o hábito de pentear os cabelos sem necessidade e por intermináveis períodos. Aos vinte e três anos, era aos olhos do pai uma mulher culta e bonita, porém um pouco introspectiva demais. Ou quem sabe introspecção não fosse o caso dela. Era sociável, não lhe faltavam amigos nem disposição para envolver-se em atividades coletivas. Mas de vez em quando parecia apagar enquanto olhava a vista de uma janela, uma rua, o mar, ou mesmo uma parede. Contemplativa. FONTE: GALERA, Daniel. Cordilheira. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. Enunciado No trecho “Aos vinte e três anos, era aos olhos do pai uma mulher culta e bonita, porém um pouco introspectiva demais.”, a palavra em destaque tem seu sentido contemplado em Alternativas (A) “Era sociável, não lhe faltavam amigos nem disposição para envolver-se em atividades coletivas.” (B) “Mais”, dizia quando ele já achava que tinha terminado, os fios correndo tão soltos [...]” (C) “Adulta, Anita ainda tinha o hábito de pentear os cabelos sem necessidade e por intermináveis períodos.” 56 (D) “Mas de vez em quando parecia apagar enquanto olhava a vista de uma janela, uma rua, o mar [...]” Gabarito: D COMENTÁRIO PEDAGÓGICO O texto–base é um fragmento de romance, em um parágrafo. A habilidade relativa ao item é o estabelecimento de relações lógicos-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios etc. Como se sabe, um texto não é uma sequência de ideias isoladas, mas uma rede estabelecida pela relação entre suas partes. O fundamental é que se perceba que alguns termos explicitam essa relação. Então, conjunções e advérbios, por exemplo, não podem ser compreendidos isoladamente, mas pela relação que instauram entre as partes menores do período e as maiores do texto: os parágrafos. Interessante observar que a relação semântica solicitada está dentro do parágrafo (intraparágrafo). Cabe ao leitor estabelecer a relação de oposição existente entre as duas características indicadas, “Aos olhos do pai” – bonita e culta X introspectiva. A construção do item traz uma peculiaridade interessante, pois cabe ao leitor proceder a uma análise comparativa entre o trecho destacado no enunciado e aqueles destacados nas alternativas. Os distratores trazem relações semânticas diferentes, o que leva ao leitor à necessidade de compreender as diferentes relações apresentadas nos trechos selecionados. Como procedimentos didáticos, é preciso centralizar a necessidade de estudo da língua voltado para o uso dos recursos linguísticos contextualmente, afastando a perspectiva de mera identificação de palavras conjuntivas, bem como a insipiente classificação de frase soltas. Na perspectiva de construção desse item, importa considerar o texto, como unidade de sentido, o contexto e as relações que estas estabelecem na construção do texto. 57 DESCRITOR Nº 18 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão. ITEM 3 Texto-base Igual-desigual [...] Todas as guerras do mundo são iguais. Todas as fomes são iguais. Todos os amores, iguais iguais iguais. Iguais todos os rompimentos. A morte é igualíssima. Todas as criações da natureza são iguais. Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais. Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa. Não é igual a nada. Todo ser humano é um estranho Ímpar. FONTE: ANDRADE,Carlos Drummond de. A paixão medida. Rio de Janeiro: Record, 1998. Enunciado Ao escolher a palavra “ímpar” para compor o último verso, o eu lírico reforça a ideia de Alternativas (A) estranho, esquisito. (B) igual, semelhante. (C) único, diferente. (D) parecido, comum. Gabarito: C 58 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO O texto–base é um poema cuja seleção e combinação de palavras provoca o leitor para que associe elementos vários, sobretudo, de oposição, concretizando a ideia já expressa no título - Igual-desigual. O item leva o leitor à situação–problema: que perceba a utilização do termo destacado com dada intenção comunicativa. A escolha da palavra “ímpar” se une aos versos “Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa./ Não é igual a nada.” para construir o sentido de homem como “único, diferente”. O leitor precisa ser estimulado a entender a leitura não como decodificação, mas sim como construção de sentidos, de alta complexidade, e que se constitui em uma atividade interativa, que se realiza com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na forma como estas são organizadas. Entretanto, requer do leitor um vasto conjunto de saberes acionados no evento comunicativo. Portanto, a palavra não pode ser lida isoladamente, dicionarizada, já que seu sentido é (re)dimensionado no contexto. Nossa atitude como professores de leitura é justamente mostrar aos estudantes que a leitura exige do leitor bem mais que o conhecimento do código linguístico, porque o texto não é um simples produto de decodificações. Cada palavra, desse modo, não pode ser lida isoladamente, pois seu sentido é limitado pelo contexto. A leitura de diferentes propagandas, que costumam se valer da linguagem figurada, pode ajudar no desenvolvimento dessa habilidade. 59 DESCRITOR Nº 12 – Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros. ITEM 4 Texto-base FONTE: Revista Caras, junho de 2010. Enunciado A finalidade do texto é 60 Alternativas (A) identificar quem conhece a paisagem brasileira. (B) informar sobre o paraíso construído pela natureza. (C) incentivar o turismo dos brasileiros no nosso país. (D) determinar que Porto de Galinhas é o paraíso. Gabarito: C COMENTÁRIO PEDAGÓGICO O texto é uma propaganda institucional. O leitor é desafiado a reconhecer o gênero, percebendo a intenção do produtor do texto em persuadir o leitor. No caso, está sendo vendida a ideia da importância de que o brasileiro deve conhecer o seu país através do turismo. O texto pode até identificar / informar / determinar, mas sua finalidade é no campo semântico da persuasão: incentivar. Para trabalhar a habilidade de “identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros”, é fundamental ler diferentes gêneros, levando os leitores ao questionamento sobre o que os define: sua função. A leitura não pode, portanto, ater-se somente às diferenças estruturais características de cada gênero. Deve-se, como procedimento metodológico para o ensino de leitura, considerar uma concepção dialógica (interacional) da língua, o que pressupõe contexto, “ter o que dizer”, finalidades, sujeitos ativos – interlocutores – que constroem os sentidos do texto. 61 DESCRITOR Nº 6 - Identificar o tema de um texto ITEM 5 Texto-base Um pouco de arte Uma das mais terríveis formas de violência é a guerra e, como tal, ela inspirou muitos artistas ao longo da história. Uma das obras mais conhecidas por seu conteúdo de protesto contra essa violência terrível foi realizada pelo grande pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973).[...] Trata-se do grande mural Guernica, pintado em 1937, em que são retratados os efeitos de um bombardeio, na pequena cidade de mesmo nome, durante a Guerra Civil Espanhola, no dia 26 de abril desse ano. A pintura tem um sentido épico, de alcance coletivo, e transformou-se num grito universal contra os horrores da guerra. O quadro parece caótico, como a própria cidade durante o bombardeio, mas aos poucos destacam-se fragmentos que representam a dor e o medo: bocas escancaradas gritando, braços se contorcendo, animais feridos, soldados mortos. O conjunto todo transmite angústia, impotência e sofrimento. FONTE: FERREIRA, Marina & PELLEGRINI, Tania. Redacao, palavra e arte. Sao Paulo: Atual, 2005. Enunciado Pode-se dizer que o tema do texto “Um pouco de arte” é Alternativas (A) angústia, impotência e sofrimento causados pela guerra. (B) a Guerra Civil Espanhola e suas consequências. (C) o grande mural Guernica e o retrato dos efeitos da guerra. (D) Pablo Picasso e sua obra de arte. Gabarito: D 62 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Este item requer do leitor a identificação do tema do texto, ou seja, sua compreensão global, importante habilidade de depreensão do tema em uma perspectiva maior, que deve responder à pergunta: “De que trata o texto?”. Os distratores (A,B e C) trazem perspectivas secundárias – na relação micro do texto, contrapondo-se à perspectiva mais global, introduzida no 1º parágrafo e plenamente desenvolvida no 2º. Pode-se apresentar o seguinte gráfico com as informações do texto. Obra conhecida de Pablo Picasso Guerra Retrata Pintura de efeitos sentido de bombardeio épico Esta é uma habilidade que a todo o momento deve ser ativada na leitura do texto de qualquer gênero, o que muito contribuirá para o desenvolvimento da proficiência leitora dos estudantes. 63 DESCRITOR Nº 2 - Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto. ITEM 6 Texto-base As palavras As palavras, como os seres vivos, nascem de vocábulos anteriores, desenvolvemse e fatalmente morrem. As mais afortunadas reproduzem-se. Há as de índole agreste, cuja simples presença fere e degrada, e outras que de tão amoráveis tudo à sua volta suavizam. Estas iluminam, aquelas confundem. Umas são selvagens, irascíveis, cheiram mal dos pés, fungam e cospem no chão. Outras, logo ao lado, parecem altivas e delicadas orquídeas. [...] Glossário Afortunadas - felizes Índole - temperamento, tendência Amoráveis - ternas, meigas Irascíveis - irritáveis FONTE: AGUALUSA, José Eduardo. Milagrário Pessoal. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2010. Enunciado No trecho “Estas iluminam, aquelas confundem.”, as expressões destacadas referem-se, respectivamente, a Alternativas (A) palavras afortunadas; palavras amoráveis. (B) palavras amoráveis; palavras de índole agreste. (C) palavras de índole agreste; palavras amoráveis. (D) palavras amoráveis; palavras afortunadas. Gabarito: D 64 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO A habilidade em questão trata do reconhecimento de estratégias de coesão do texto, ou seja, de ligação entre partes do texto. Trata-se de uma relação de continuidade do texto em que os sintagmas nominais são retomados por pronomes, que mantêm a ligação entre as partes do fragmento. Nesse caso, a continuidade ocorre dentro do parágrafo. Trata-se, portanto, de uma atividade discursiva, o que leva ao descarte de uma abordagem da língua meramente gramatical. O aluno deve perceber quais termos o pronome está substituindo para evitar a repetição. 65 DESCRITOR Nº 5 - Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto etc.). ITEM 7 Texto-base FONTE: QUINO. Potentes, prepotentes e impotentes. São Paulo, Martins Fontes, 2003. Enunciado No texto, o que justifica a fala do personagem de chapéu é Alternativas (A) a multidão estar muito descontente com ele. (B) alguém na multidão ter solicitado a sua ajuda. (C) um homem estar chamando a atenção da multidão. (D) a pessoa a quem ele se dirige ser diferente das demais. Gabarito: D 66 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO O texto–base do item proposto agrega duas formas de linguagem (verbal e não verbal) na construção de sentido. Trata-se um cartum que exige, obrigatoriamente, a leitura do texto verbal associado aos elementos não verbais. Para entendimento global do texto, o leitor deve atentar para o fato de todos os indivíduos do cartum serem iguais, exceto aquele a quem o personagem que fala se dirige, exigindo documentos do indivíduo diferente dos demais. É fundamental oferecer aos alunos a oportunidade de ler obras que integrem as múltiplas linguagens como forma de expressão de ideias e sentimentos: as tradicionais histórias em quadrinhos, as charges em jornais, os textos publicitários e as tirinhas, entre outros. Estes textos permitem o desenvolvimento da habilidade de interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso, proporcionando aos alunos o contato com os textos de outras disciplinas que incluam mapas, gráficos, tabelas, roteiros. 67 DESCRITOR Nº 11 – Estabelecer relação causa/consequência entre partes e elementos do texto. ITEM 8 Texto-base Pandas ainda correm perigo na China Inverno agrava escassez de bambu provocada pelo terremoto de maio do ano passado O terremoto que matou 70 mil pessoas em maio do ano passado na província de Sichuan, no sudoeste da China, comoveu o mundo também por causa da situação dos pandas. Sichuan é a região onde vive a maior parte desses ursos, em reservas e centros de pesquisa. [...] Quase um ano depois, a escassez de bambu é considerada a maior ameaça à sobrevivência dos pandas. No inverno, os pandas continuam a se alimentar dessa planta. "O impacto destrutivo do terremoto será maior que o de 1983", disse Zhang Hemin, diretor do Centro de Pesquisa e Conservação de Pandas Gigantes de Wolong. Zhang se refere a uma mortandade de 40% da população de pandas, naquele ano, devido a uma praga que devastou as florestas de bambu. André Fontenelle FONTE: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/ - 14/01/2009 Enunciado A mortandade de 40% da população de pandas em 1983 ocorreu por causa Alternativas (A) do terremoto na província de Sichuan, que matou 70 mil pessoas. (B) do grande impacto destrutivo do terremoto ocorrido naquela época. (C) da praga que na época devastou as florestas de bambu. (D) da alimentação dos pandas no inverno continuar a ser bambu. GABARITO: C 68 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Esta habilidade visa ao reconhecimento das relações de causa e consequência, motivação e efeito, presentes no texto. O texto–base é uma notícia de jornal, escrita por André Fontenelle, publicada na revista Época. O item exige a compreensão efetiva da natureza e do sentido da relação causa/consequência presente no último parágrafo, cuja marca linguística é o uso da locução prepositiva “devido a”. A praga que devastou as florestas de bambu provocou a mortandade de 40% da população de pandas (relação de causa e consequência expressa no último parágrafo). A finalidade do texto e a natureza do seu conteúdo temático estão intimamente ligados às relações lógico-discursivas presentes no texto. Ao propor o estudo de gêneros variados, é recomendável analisar criticamente com os alunos/a(s) a(s) causa(s) de determinado fato, fenômeno ou ação e sua(s) consequência(s). É importante explorar os articuladores utilizados para estabelecer essas relações. Para desenvolver a habilidade de estabelecer relação de causa e consequência entre partes e elementos do texto, considera-se necessário que o aluno tenha contato com textos verbais de gêneros variados (contos, fábulas, lendas, textos informativos), a fim de reconhecer as múltiplas relações que contribuem para dar ao texto coerência e coesão. 69 DESCRITOR Nº 17 – Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações. ITEM 9 Texto-base Lisboa: aventuras tomei um expresso cheguei de foguete subi num bonde desci de um elétrico pedi cafezinho serviram-me uma bica quis comprar meias só vendiam peúgas fui dar à descarga disparei um autoclisma gritei “ó cara!” responderam-me “ó pá!” positivamente as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá FONTE: PAES, José Paulo. Melhores poemas. Seleção Davi Arriguci Jr. São Paulo: Gaudí Editorial, 2008. Enunciado O uso das aspas em “Ó cara” e “Ó pá” revela Alternativas (A) o uso formal da linguagem. (B) o emprego de estrangeirismos. (C) a fala direta dos interlocutores. (D) o uso inadequado das palavras. GABARITO: C 70 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Este descritor avalia a habilidade de o aluno reconhecer os efeitos de sentido provocados pelo emprego de recursos de pontuação ou de outras notações no texto. O item explora a habilidade na leitura de um poema, texto estruturado em versos, em que predomina a linguagem literária, predominantemente a linguagem figurada. Para responder ao item proposto, o aluno deverá reconhecer a função das aspas, no décimo primeiro e décimo segundo versos, que indicam a fala direta dos interlocutores. Poema é um exemplo de gênero que utiliza largamente os sinais de pontuação como recurso estilístico. No caso específico, o uso das aspas revela a presença polifônica (múltiplas vozes) do interlocutor, sendo trazida à baila no poema – presença do eu lírico descrevendo suas aventuras em Lisboa. Trata-se, na verdade, de uma estratégia semântica para mostrar as diferenças (de lá – Portugal / de cá – Brasil) de que trata o texto. O uso das aspas no décimo primeiro e décimo segundo versos indicam a fala direta dos interlocutores. Para desenvolver a habilidade de identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações, considera-se importante, no processo de leitura de diferentes gêneros, analisar com os alunos a função dos sinais de pontuação como elementos constitutivos de sentidos. É importante explorar, também, o uso da pontuação em variados contextos, mostrando as possibilidades de significação que pode apresentar, por exemplo, um mesmo sinal combinado com outro. Logo, esta habilidade requer do leitor o entendimento das possíveis expressividades da língua. 71 DESCRITOR Nº 4 – Inferir uma informação implícita em um texto. ITEM 10 Texto-base O surdo O médico atende o paciente idoso e milionário, que estava usando um revolucionário aparelho de audição, e pergunta ao velhinho: – E aí, seu Almeida, está gostando do aparelho? – É muito bom. – E a família gostou? - pergunta o médico. – Não contei para ninguém ainda, mas já mudei meu testamento três vezes. FONTE: http://almanaqueportugues.blogspot.com/ Enunciado Seu Almeida não contou à família sobre o aparelho de audição que estava usando e mudou três vezes seu testamento porque Alternativas (A) era um paciente idoso e milionário. (B) tinha muito medo de morrer. (C) ouvia a família falar mal dele. (D) tinha problemas de audição. Gabarito: C 72 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Este descritor avalia a habilidade do aluno de ler nas entrelinhas, de fazer inferências a partir das marcas que o texto apresenta, de chegar às informações pressupostas, o que exige leitura do texto como um todo. O texto apresenta marcas (a idade, a situação financeira, a perda de audição e o testamento do idoso) que auxiliam o leitor na percepção do que está dito nas entrelinhas, que é o fato de a família falar mal do velhinho. A atitude do personagem permite inferir que, usando o novo aparelho auditivo, o velhinho ouvia, sem a família perceber, o que diziam dele. Trata-se de uma importante habilidade. Considerando que as informações de um texto não estão em sua totalidade explicitamente colocadas em sua superfície, vê-se que o leitor proficiente deve sempre “penetrar” nas entrelinhas do texto. Nossas aulas de língua portuguesa devem primar pelo desenvolvimento dessa habilidade como um procedimento básico do ato de compreensão do texto. 73 DESCRITOR Nº 8 – Estabelecer a relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la. ITEM 11 Texto–base A qualidade de vida na cidade e no campo É de conhecimento geral que a qualidade de vida nas regiões rurais é, em alguns aspectos, superior à da zona urbana, porque no campo inexiste a agitação das grandes metrópoles, há maiores possibilidades de se obterem alimentos adequados e, além do mais, as pessoas dispõem de maior tempo para estabelecer relações humanas mais profundas e duradouras. Ninguém desconhece que o ritmo de trabalho de uma metrópole é intenso. O espírito de concorrência, a busca de se obter uma melhor colocação profissional, enfim, a conquista de novos espaços lança o habitante urbano em meio a um turbilhão de constantes solicitações. Esse ritmo excessivamente intenso torna a vida bastante agitada, ao contrário do que se poderia dizer sobre a vida dos moradores da zona rural. Além disso, nas áreas campestres há maior quantidade de alimentos saudáveis. [...] Ainda convém lembrar a maneira como as pessoas se relacionam nas zonas rurais. Ela difere da convivência habitual estabelecida pelos habitantes metropolitanos. Os moradores das grandes cidades, pelos fatores já expostos, de pouco tempo dispõem para alimentar relações humanas mais profundas. Por isso tudo, entendemos que a zona rural propicia a seus habitantes maiores possibilidades de viver com tranquilidade. Só nos resta esperar que as dificuldades que afligem os habitantes metropolitanos não venham a se agravar com o passar do tempo. FONTE: GRANATIC, Branca. Técnicas básicas de redação. São Paulo: Scipione, 1995. Enunciado Um dos argumentos que sustenta a tese é 74 Alternativas (A) os habitantes das zonas rurais vivem com mais tranquilidade que os das cidades. (B) as pessoas da cidade se relacionam com mais profundidade que as do campo. (C) a vida metropolitana traz muitos benefícios para a saúde dos seus habitantes. (D) a possibilidade de obtenção de um bom trabalho está nas grandes cidades. Gabarito: A COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Este item busca avaliar a habilidade de o aluno reconhecer argumentos que sustentam a ideia central ou tese em textos dissertativos/argumentativos, dando-lhes força persuasiva. O texto apresentado defende a tese de que, em alguns aspectos, a qualidade de vida no campo é superior à da cidade. O autor defende seu ponto de vista com diferentes argumentos: inexistência da agitação própria das grandes metrópoles, acesso a uma alimentação mais adequada e maior tempo para o estabelecimento de relações humanas mais profundas. A tese do texto sustenta-se, dentre outros, pelo argumento de que a vida no campo é mais tranquila que a da cidade. Por isso, a relação entre os argumentos oferecidos e a tese. Para desenvolver essa habilidade, devem ser lidos e analisados diferentes gêneros do modo de organização argumentativa, tais como: editoriais, cartas de leitores e textos de opinião, para que seja reconhecido o ponto de vista (a tese) do produtor do texto e os argumentos que sustentam a tese. 75 DESCRITOR Nº D13 – Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto. ITEM 12 Texto-base Dirija-se ao Cartório Eleitoral da sua cidade até o dia 07 de maio, portando: - Um documento oficial (certidão de nascimento, RG, passaporte ou carteira de trabalho). - Um comprovante de residência. FONTE: Enunciado O fragmento do cartaz que indica a quem se dirige, claramente, a mensagem é Alternativas (A) “Vai ficar em cima do muro?” (B) “Se liga 16 Tire seu título”. (C) “[...] portando um documento oficial”. (D) “[...] um comprovante de residência.” Gabarito: B 76 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Este descritor pretende avaliar a capacidade de o aluno reconhecer variações linguísticas cujas características revelam os interlocutores de um texto, bem como as condições de produção do discurso. A publicidade apresentada dirige-se a um público específico, com uma linguagem apropriada a esse público. A linguagem apresenta marcas que permitem reconhecer a quem se dirige a mensagem. A publicidade é voltada para uma campanha de incentivo à participação política do jovem, a partir dos 16 anos, com o seu registro eleitoral (título de eleitor), e contém em sua mensagem marcas linguísticas que se aproximam da informalidade da linguagem usada pelos jovens. Para desenvolver essa habilidade, pode-se apresentar ao aluno textos que contenham marcas das variantes regionais, sociais e históricas. Deve-se possibilitar ao aluno vivenciar diferentes situações de interação social, levando-o a perceber o uso adequado da língua para cada situação de comunicação. 77 DESCRITOR Nº 21 – Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema. ITEM 13 Texto I O ESPELHO Marcello Migliaccio Falar mal da TV virou moda. É "in” repudiar a baixaria, desancar o onipresente eletrodoméstico. E, num país em que os domicílios sem televisão são cada vez mais raros, o que não falta é especialista no assunto. Se um dia fomos uma pátria de 100 milhões de técnicos de futebol, hoje, mais do que nunca, temos um considerável rebanho de briosos críticos televisivos. [..] Mas, quando os "especialistas" criticam a TV, estão olhando para o próprio umbigo. Feita à nossa imagem e semelhança, ela é resultado do que somos enquanto rebanho globalizado. [...] Aqui e ali, alguns vão argumentar que cultivam pensamentos mais nobres e que não se sentem representados no vídeo. [...] Vocabulário “in” [inglês] – na moda onipresente – que está presente em todos os lugares. brioso – orgulhoso, vaidoso Texto II A influência negativa da televisão para as crianças Jussara de Barros Bem diziam os Titãs, grupo de rock nacional, quando cantavam que “a televisão me deixou burro demais”. A verdade é que, ao pé da letra dessa música, a televisão coloca-nos dentro de jaulas, como animais. Assim, paralisa o desenvolvimento de pensamentos críticos e avaliativos que se desenvolvem em outras formas de diversão, além de influenciar crianças e adolescentes com cenas de violência, maldade, psicopatia e sexo explícito a todo o momento e sem qualquer responsabilidade. 78 FONTE: TEXTO I - Folha de S. Paulo, 19/10/2003 TEXTO II - http://www.meuartigo.brasilescola.com/educacao Enunciado Os textos divergem sobre o mesmo tema: a influência da televisão. A afirmação do texto I que contradiz o texto II é Alternativas (A) “Falar mal da TV virou moda. É "in” repudiar a baixaria, desancar o onipresente eletrodoméstico.” (B) “Feita à nossa imagem e semelhança, ela [a TV] é resultado do que somos [...].” (C) “E, num país em que os domicílios sem televisão são cada vez mais raros, o que não falta é especialista no assunto.” (D) “Aqui e ali, alguns vão argumentar que cultivam pensamentos mais nobres[...].” Gabarito: B COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Este descritor se refere à capacidade de reconhecimento de diferentes opiniões sobre o mesmo tema. O objetivo é desenvolver a capacidade de avaliação crítica dos textos, percebendo o processo de formação de opinião do autor e do leitor, contrastando pontos de vista diferentes. Os textos apresentados abordam o tema da influência da televisão, com pontos de vista divergentes. Enquanto o texto II defende a opinião de que a sociedade é resultado da influência negativa da televisão, o texto I vai no caminho inverso e defende que a televisão é o reflexo dessa mesma sociedade. O item elaborado solicita o trecho em que aparece essa contradição. Para desenvolver essa habilidade, sugerimos que o professor apresente à turma um tema para que os alunos opinem sobre ele, registrando e comentando as diferentes opiniões, agrupando-as de acordo com os diferentes pontos de vista, não deixando de oferecer aos alunos diferentes visões sobre o mesmo tema, por intermédio, da análise dos diferentes gêneros que contribui para este fim. 79 DESCRITOR Nº 11 - Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato. ITEM 14 Texto-base Jornal do Brasil pôs o ovo em pé para falar sobre cultura O Jornal do Brasil deixou de ser impresso neste mês, vítima de sucessivas crises financeiras. Agora só pode ser lido pela internet. Pouca gente poderia imaginar que um dos periódicos mais importantes e influentes da história do País sumiria das bancas. Menos ainda em 15 de setembro, quando em 1960 estreou o seu famoso Caderno B. Idealizado pelo poeta Reynaldo Jardim, a novidade trazia uma forma diferente de falar sobre cultura. A ideia – que hoje parece óbvia, mas que soou revolucionária – era reunir num único caderno as reportagens sobre artes e espetáculos. Os textos tratavam de artes plásticas, música, literatura, cartuns. Por suas páginas, revezaram-se nomes como Drummond, Clarice Lispector, Henfil, Zózimo Barroso do Amaral, Fernando Sabino, Ziraldo. Como resultado, o Caderno B inspirou todos os suplementos culturais que surgiriam dali para frente. “O caderno tornou-se um padrão para o jornalismo brasileiro. Hoje, não há jornal que não tenha o seu Caderno B”, diz o poeta Ferreira Gullar. FONTE: Brasil. Almanaque de cultura popular. Ano 12, setembro de 2010. Enunciado O trecho do texto que expressa uma opinião é Alternativas (A) “Os textos tratavam de artes plásticas, música, literatura, cartuns.” (B) “O caderno tornou-se um padrão para o jornalismo brasileiro”. (C) “O Jornal do Brasil deixou de ser impresso neste mês [...].” (D) “Hoje, não há jornal que não tenha o seu Caderno B [...].” Gabarito: B 80 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Trata-se de um texto jornalístico cuja finalidade é informar ao leitor que o Jornal do Brasil deixou de ser impresso, passando a poder ser lido somente pela internet. O item ressalta sua fundamental importância na cultura do povo, com a criação do caderno B. Por meio deste descritor, pode-se avaliar a habilidade de o aluno identificar, no texto, um fato relatado e diferenciá-lo do comentário que o autor, ou o narrador, ou o personagem fazem sobre esse fato. Neste item, é solicitado ao aluno que identifique, entre as opções, aquela que corresponde a uma opinião. Esta é uma habilidade que requer atenção especial, visto se perceber que boa parte dos estudantes tem dificuldade de distinguir um fato de uma opinião relativa a esse fato. Para o desenvolvimento da habilidade de distinguir fato de opinião, o professor deve recorrer a textos de gêneros variados. Deve levar para a sala de aula, por exemplo, vários jornais, para que os alunos leiam reportagens, fazendo o exercício de diferenciação entre fato e opinião. O professor pode, ainda, criar debates com temas polêmicos, para que os alunos opinem sobre fatos atuais e vivenciem a situação de ter que ouvir opiniões e dar opinião sobre vários assuntos. 81 DESCRITOR Nº 10 - Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa. ITEM 15 Texto-base A outra noite Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas. Uma paisagem irreal. Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um sinal fechado para voltar-se para mim: − O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas tem mesmo luar lá em cima? Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra − pura, perfeita e linda. − Mas, que coisa... Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa. − Ora, sim senhor... E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um “boa noite” e um “muito obrigado ao senhor” tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei. FONTE: BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960. Enunciado O fato que desencadeou a história foi 82 Alternativas (A) a viagem a São Paulo. (B) o mau tempo em São Paulo. (C) o agradecimento do taxista. (D) a conversa ouvida pelo taxista. Gabarito: D COMENTÁRIO PEDAGÓGICO O texto-base é uma crônica, portanto predomina a narração, que se caracteriza pela sequenciação dos fatos. Este descritor deve levar o aluno a identificar um dos elementos constitutivos da estrutura da narrativa, a saber: personagem, tempo, espaço ou enredo (complicação, clímax, desfecho, ambientação). Por meio deste descritor, pode-se perceber a habilidade do entendimento da estrutura organizacional do texto, a compreensão de que cada uma das partes corresponde a um momento da narrativa. Neste item é solicitada ao aluno a leitura e interpretação do texto, identificando o fato que desencadeou a narrativa, bem marcada na história, pois, exatamente, mostra o filosófico diálogo entre o personagem e o motorista. Recorrer a variados textos narrativos é uma forma produtiva para o desenvolvimento dessa habilidade. É importante que o leitor conheça e reconheça os elementos que constroem a trama narrativa. Podem-se levar para a sala de aula inícios de histórias para que os alunos deem continuidade, como também finais de histórias para que os alunos as iniciem. 83 DESCRITOR Nº 16 - Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados. ITEM 16 Texto-base FONTE: Enunciado O que faz a cena do quadrinho ser engraçada é Alternativas (A) Dona Lila não demonstrar ter medo de baratas. (B) Dona Lila não perceber a presença ameaçadora das baratas. (C) as baratas tentarem, mas não conseguirem assustar a Dona Lila. (D) a barata achar que precisa de uma máscara para assustar Dona Lila. Gabarito: D 84 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Trata-se de uma cena de quadrinho que apresenta linguagem verbal e não verbal. Aborda com humor a questão do susto provocado pelas baratas. Por meio deste descritor, pode-se avaliar a habilidade de o aluno compreender o sentido global do texto e reconhecer os efeitos de ironia ou humor. O item, por meio de um texto em quadrinhos, avalia a habilidade do leitor em perceber o fato de que a barata usa uma máscara para provocar susto, quando só sua presença já provocaria isso. Para responder corretamente, o estudante precisa perceber a máscara na imagem da barata, relacionando texto e imagem, que constitui a “arquitetura” desse gênero, que serve de texto–base para o item. Trata-se, também, de um descritor de habilidade que requer especial atenção, visto ser necessário o leitor reconhecer os recursos verbais e não verbais que produzem o efeito de humor nos diferentes textos. 85 DESCRITOR Nº 3 –Inferir o sentido de uma palavra ou expressão. ITEM 17 Texto - base Se achante Era um caranguejo muito se achante. Ele se achava idôneo para flor. Passava por nossa casa Sem nem olhar de lado. Parece que estava montado num coche de princesa. Ia bem devagar Conforme o protocolo A fim de receber aplausos. Muito achante demais. Nem parou para comer goiaba. (Acho que quem anda de coche não come goiaba.) Ia como se fosse tomar posse de deputado. Mas o coche quebrou E o caranguejo voltou a ser idôneo para mangue. (2010 - 4o. Bimestre) FONTE: Barros, Manoel de. Poesia completa .São Paulo: Leya, 2010. Enunciado O título do texto é “se achante”. Essa expressão pode ser substituída, sem alteração de sentido, por 86 Alternativas (A) rapidinho. (B) competente. (C) convencido. (D) apressado Gabarito: C COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Esta habilidade visa à capacidade de inferência do leitor, considerando a palavra em um contexto. É necessário, pois, perceber, entre as várias alternativas apresentadas, qual possui o mesmo sentido daquela contextualmente indicada, a partir do conhecimento de mundo e das informações do texto que levem à construção de um novo sentido. Existem, no texto, pistas que nos levam ao sentido de “se achante” (convencido): “Parece que estava montado num coche de princesa.” “Ia bem devagar a fim de receber aplausos.” “Ia como se fosse tomar posse de deputado.” A oposição apresentada nos versos “Ele se achava idôneo para flor” e “E o caranguejo voltou a ser idôneo para mangue” reforça o sentido de “se achante”, e contribui para excluir os demais significados apresentados nas alternativas. Um desdobramento dessa atividade seria apresentar exemplos em que a mesma palavra/expressão apareça com diferentes sentidos, levando o aluno a perceber as diferenças, por comparação. O desenvolvimento dessa habilidade requer o entendimento de que o sentido da palavra só existe no contexto, concepção que considera não as palavras mas os referentes como construção e reconstrução no interior do próprio discurso, de acordo com nossas crenças, atitudes, ideologias e propósitos comunicativos. 87 DESCRITOR Nº 19 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos ITEM 18 Texto-base Dois e dois são quatro Ferreira Gullar Como dois e dois são quatro Sei que a vida vale a pena Embora o pão seja caro E a liberdade pequena Como teus olhos são claros E a tua pele, morena como é azul o oceano E a lagoa, serena Como um tempo de alegria Por trás do terror me acena E a noite carrega o dia No seu colo de açucena - sei que dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena mesmo que o pão seja caro e a liberdade pequena. FONTE: http://www.pensador.info/autor/Ferreira_Gullar/ Enunciado A repetição da expressão “como dois e dois são quatro” no primeiro verso das estrofes 1 e 4 e no título do poema reforça a ideia de 88 Alternativas (A) certeza absoluta de que vale a pena viver. (B) esperança frente às dificuldades da vida. (C) facilidade para conseguir o pão de cada dia. (D) certeza da necessidade de lutar pela liberdade. Gabarito: A COMENTÁRIO PEDAGÓGICO O item avalia a capacidade de o leitor discernir o efeito de sentido provocado por determinadas escolhas de mecanismos textuais, tais como: inversões, repetições, gradações e diminutivos, entre outros. No texto apresentado, um poema modernista, o autor explora o recurso expressivo da repetição de determinados versos, cuja intenção pode ter sido a de reforçar a ideia de que “a vida vale a pena”. Para tanto, a repetição da expressão que indica algo certo em Matemática (dois e dois são quatro), sobre o qual não resta dúvida, vem seguida do verso “Sei que a vida vale a pena”, mecanismo que reforça a certeza do eu poético, retomando o Poema de Fernando Pessoa , em seu famoso verso “Tudo vale a pena/se a alma não é pequena”. 89 DESCRITOR Nº 20 – Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido. ITEM 19 Texto I A moda e a publicidade Ana Sánchez de la Nieta [...] Se antes os ídolos da juventude eram os desportistas e os atores de cinema, agora são as modelos. [...]. Se, no passado, as mulheres queriam presidir bancos, dirigir empresas ou pilotar aviões, hoje muitas só sonham em desfilar pela passarela e ser capa da "Vogue". A vida de modelo apresenta-se para muitas adolescentes como o cúmulo da felicidade: beleza, fama, êxito e dinheiro. [...] [...] Os aspectos relacionados com o físico são engrandecidos. Esta é uma constante da chamada civilização da imagem, imperante na atualidade. [...] O tipo de atração que hoje impera é o de uma magreza extrema. Esta é a causa principal de uma enfermidade que ganha cada vez mais importância na adolescência: a anorexia, uma perturbação psíquica que leva a uma distorção, a uma falsa percepção de si mesmo. Na maioria dos casos, esta enfermidade costuma começar com o desejo de emagrecer. Se alguém se julga gordo, sente-se rejeitado por esta razão. Pouco a pouco deixa de ingerir alimentos e perde peso. No entanto, a pessoa continua a considerar-se gorda, persiste a insegurança e começa a sentir-se incapaz de comer. Esta enfermidade leva a desequilíbrios psíquicos que podem acompanhar a pessoa para o resto da sua vida e em não raras ocasiões provoca a morte. 90 TEXTO II FONTE: Texto 1 - Fonte: http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo346.shtml Texto 2 - In CEREJA, William Roberto. Português: linguagens, 9º. Ano. São Paulo: Atual, 2006. Enunciado Comparando os dois textos, pode-se dizer que tratam do mesmo tema, porém Alternativas (A) o texto I informa sobre o problema da anorexia e o II, de forma humorística, faz uma crítica à magreza das modelos. (B) o texto I critica as modelos por seguirem a civilização da imagem e o II defende a perspectiva da civilização da imagem. (C) o texto I defende as modelos que sofrem de anorexia e o texto II indica os problemas mais comuns das modelos. (D) o texto I explica os problemas decorrentes da anorexia e o texto II elogia a magreza extrema das modelos. Gabarito: A 91 COMENTÁRIO PEDAGÓGICO Os gêneros que servem de base para a construção do item são diferentes. Trata-se de artigo jornalístico e charge. O item avalia habilidade de o estudante de comparar textos do mesmo gênero ou de gêneros diferentes com a mesma temática e perceber as diferentes abordagens propostas nos dois universos textuais. O tema é o mesmo, sendo que, no primeiro, a abordagem é informativa e, no segundo, faz-se uma crítica bem humorada. O texto jornalístico informa sobre os problemas decorrentes do padrão de beleza exigido atualmente; a charge critica, com humor, esse mesmo padrão. É importante ressaltar que este descritor de habilidade se refere à comparação, entre textos, a fim de verificar a estrutura macro textual e os elementos em nível micro que auxiliam em sua construção de sentido. 92 DESCRITOR Nº 7 – Identificar a tese de um texto ITEM 20 Texto–base A qualidade de vida na cidade e no campo É de conhecimento geral que a qualidade de vida nas regiões rurais é, em alguns aspectos, superior à da zona urbana, porque no campo inexiste a agitação das grandes metrópoles, há maiores possibilidades de se obterem alimentos adequados e, além do mais, as pessoas dispõem de maior tempo para estabelecer relações humanas mais profundas e duradouras. Ninguém desconhece que o ritmo de trabalho de uma metrópole é intenso. O espírito de concorrência, a busca de se obter uma melhor colocação profissional, enfim, a conquista de novos espaços lança o habitante urbano em meio a um turbilhão de constantes solicitações. Esse ritmo excessivamente intenso torna a vida bastante agitada, ao contrário do que se poderia dizer sobre a vida dos moradores da zona rural. Além disso, nas áreas campestres há maior quantidade de alimentos saudáveis. [...] Ainda convém lembrar a maneira como as pessoas se relacionam nas zonas rurais. Ela difere da convivência habitual estabelecida pelos habitantes metropolitanos. Os moradores das grandes cidades, pelos fatores já expostos, de pouco tempo dispõem para alimentar relações humanas mais profundas. Por isso tudo, entendemos que a zona rural propicia a seus habitantes maiores possibilidades de viver com tranquilidade. Só nos resta esperar que as dificuldades que afligem os habitantes metropolitanos não venham a se agravar com o passar do tempo. FONTE: GRANATIC, Branca. Técnicas básicas de redação. São Paulo: Scipione, 1995. Enunciado A tese apresentada no texto é 93 Alternativas (A) o ritmo sempre acelerado de trabalho nas grandes cidades. (B) a qualidade superior da vida no campo em algumas situações. (C) o relacionamento cordial entre as pessoas nas grandes cidades. (D) a diferença na alimentação entre a zona rural e a cidade grande Gabarito: B COMENTÁRIO PEDAGÓGICO O item busca avaliar a habilidade de o leitor reconhecer a ideia central ou tese em textos dissertativos/argumentativos. A tese é o ponto de vista defendido, que se apoia em argumentos para o convencimento do interlocutor. O texto apresentado aborda o assunto vida no campo x vida na cidade, defendendo a tese de que, em alguns aspectos, a qualidade de vida no campo é superior à da cidade. Desenvolvendo argumentos tais como inexistência da agitação própria das grandes metrópoles, acesso a uma alimentação mais adequada e maior tempo para o estabelecimento de relações humanas mais profundas, o autor defende seu ponto de vista. É importante enfatizar que o texto argumentativo é, por excelência, o textobase para o desenvolvimento dessa habilidade. 94 Considerações Finais Ao longo da leitura e da análise desse material, pode surgir uma pergunta: O que diferencia o desenvolvimento da leitura no final da 1ª fase do Ensino Fundamental e no final da 2ª fase do Ensino Fundamental, se os descritores de habilidade guardam grande similaridade entre si? Entende-se que o desenvolvimento das habilidades se constituem em um continuum que se estende desde a fase inicial da escolaridade e vai se desenvolvendo ao longo de nossas vidas, nas múltiplas experiências leitoras que vivenciamos. Por isso, o que muda não são as habilidades, mas a complexidade da tarefa de leitura, que implica na seleção dos textos. O tema de um texto, a profundidade de abordagem de um tema, bem como a sua organização morfossintática determinam a complexidade da tarefa e diferenciam a abordagem textual ao longo dos diferentes anos de escolaridade. O trabalho sistemático de leitura e de escrita, independente do nível de conhecimento de leitura – nível de letramento – de seu aluno, deve ser privilegiado em nosso fazer em sala de aula, consolidado no pilar da explicitação discursiva dos variados processos de construção de significados. Portanto, utilize os textos dos cadernos pedagógicos para aguçar mais e mais o conhecimento dos leitores, desenvolvendo as habilidades de leitura, propiciando pleno desenvolvimento dos estudantes. Esperamos com este material teórico–prático contribuir para o entendimento mais aprofundado das bases teóricas que sustentam a avaliação de leitura proposta pelo MEC / INEP, as quais vem norteando as avaliações parciais realizadas pela SME. Mais uma vez enfatizamos a necessidade de ampliar os descritores de leitura quando se planejam as atividades de nosso dia a dia, considerando outras habilidades pertinentes ao momento vivido em sala de aula, mas lembramos que os descritores aqui sinalizados são essenciais à proficiência leitora dos alunos, muitos deles tendo constituído dificuldade nas avaliações internas e externas. Da mesma forma, é importante que, no dia a dia, as habilidades de escrita de diferentes textos sejam desenvolvidas em atividades variadas, que tenham como ponto central o binômio leitura / escrita e o desenvolvimento da competência discursiva dos estudantes do ensino básico. 95 Enfatizamos, por fim, que a utilização dos diferentes textos apresentados no material pedagógico desenvolvido, ao longo desses anos, em cada ano de escolaridade, minimamente, constitui um vasto e diversificado acervo de textos da literatura brasileira, que, certamente, auxiliarão a cada regente na tarefa de organização de suas aulas de Língua Portuguesa. 96