Revista Brasileira de FisiologiaVegetal, 10(3):191-196, 1998.. PADRÃO DE AMADURECIMENTO E CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA DE FRUTOS DE TOMATEIRO, EM FUNÇÃO DAS DIFERENTES CONSTITUIÇÕES GENOTÍPICAS NO LOCO ALCOBAÇA 1 Joelson André de Freitas2, Wilson Roberto Maluf3, Luiz Antônio Augusto Gomes2, Ana Cláudia Barneche de Oliveira4, Valdeir da Silva Martins5 e Renato de Souza Braga5. Depto de Agricultura, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, 37.200-000. RESUMO - Plantas de tomateiro TOM-559 alc/alc, Flora-Dade alc+/alc+ (quase isogênicas, à exceção do loco alcobaça), da linhagem BPX-336C#0502-bulk alc + /alc + e do híbrido F1(BPX-336C#0502xTOM-559) alc+/alc, foram cultivadas para comparar os padrões de amadurecimento de seus frutos a partir da colheita. Os frutos foram colhidos no estádio verde-maduro e armazenados em câmara fria a 13,6 oC e 60,3% de umidade relativa. Os frutos de TOM-559 alc/alc comparados aos de Flora-Dade alc+/alc+ foram mais firmes neste estudo, e tiveram retardamento na coloração, de 5, 14, 22 e 25 dias, respectivamente, para atingir os estádios de coloração verde-maduro, rosa, vermelho-pálido e vermelho. Os frutos do híbrido F1 alc+/alc comparados aos do parental normal alc+/alc+, apresentaram leve retardamento na coloração, de 2 dias para atingirem o estádio verde-maduro e 3 dias para os demais estádios. Os frutos híbridos de constituição genotípica alc+/alc, comparados aos da testemunha Flora-Dade alc+/alc+, de frutos firmes, atrasaram em 2 dias o aparecimento da firmeza crítica de 0,2x105 N/m2. Em comparação com os frutos do parental normal alc+/alc+, de frutos pouco firmes, os frutos híbridos alc+/alc, estenderam em 5 dias o surgimento do patamar crítico. Uma aparente ausência de efeitos do alelo alc sobre a altura de inserção de cacho, número de anteses/planta e massa média de fruto comercial parece prevalecer. A ação gênica de dominância parcial do alelo alc explicaria os resultados obtidos para tamanho de cicatriz peduncular, coloração e firmeza de frutos. Os resultados indicaram a viabilidade do uso comercial de híbridos alc+/alc (heterozigotos no loco alcobaça) para o aumento da vida pós-colheita dos frutos. Termos adicionais para indexação: coloração, firmeza, Lycopersicon esculentum, mutante de amadurecimento, qualidade pós-colheita. RIPENING AND POSTHARVEST SHELF LIFE OF TOMATO GENOTYPES WITH DIFFERENT GENOTYPIC CONSTITUTIONS IN THE ALCOBAÇA LOCUS ABSTRACT - Tomato plants of lines TOM-559 alc/alc, Flora-Dade alc+/alc+ (near isogenic lines, with exception of the alcobaça locus), BPX-336C#0502-bulk alc +/alc +, and of the hybrid F 1 (BPX336B#0502xTOM-559) - alc+/alc were grown to compare their postharvest fruit ripening patterns. Fruits were harvested at the mature-green stage, and stored in a chamber at 13,6 oC and 60,3% relative humidity. TOM-559 alc/alc fruit were firmer than those of Flora-Dade alc+/alc+, and took 5, 14, 22 and 25 days longer to reach the mature-green, pink, pale-red and red stages, respectively. F1 hybrid fruit alc+/alc took 2 days longer than normal alc+/alc+ fruit to reach mature-green stage, and 3 days more to reach the later stages. Hybrid alc+/alc fruit took 2 and 5 days longer, respectively, than Flora-Dade (firm fruited alc+/ alc+) and BPX-336C#0502-bulk (soft fruited alc+/alc+) to reach the critical firmness level of 0.2x10 5 N/m2. There is little or no effect of alc allele on either the height of the first truss, number of antheses per plant or mean fruit mass. We conclude that alc+/alc hybrids are a commercially viable option to promote increased postharvest shelf-life of tomato fruit. Additional index terms: color, fruit firmness, quality, postharvest, ripening mutant, shelf-life. 1 Recebido em 10/01/98 e aceito em 14/01/1998. 2 Eng. Agr., M.Sc., Genética e Melhoramento de Plantas - DBI/ UFLA. 3 Prof. Titular, Ph.D., Melhoramento de Hortaliças - DAG/UFLA. 4 Eng. Agr., M.Sc., Fitotecnia - DAG/UFLA. 5 Graduandos em Agronomia - DAG/UFLA. 191 Freitas et al. 192 INTRODUÇÃO O amadurecimento de frutos do tomateiro é um processo bastante complexo pois envolve inúmeros passos metabólicos, dentre os quais se destacam, aumento da produção de etileno, degradação do epicarpo e endocarpo pela ação das enzimas poligalacturonase e pectinometilesterase, bem como o amaciamento do fruto pela perda de água. Em alguns países costuma-se colher os frutos com coloração verde para completar o amadurecimento com a aplicação exógena de etileno, o que é viável apenas quando os frutos tenham atingido a maturidade fisiológica, estádio denominado de verde-maduro. No entanto, o uso do mutante alcobaça têm sido uma alternativa viável para estender a vida de prateleira dos tomates (Araújo, 1997). O alelo alcobaça (alc) diminui a taxa de amadurecimento do fruto entre o estádio verde-maduro e vermelho, aumentando a vida pós-colheita em 5 e 26 dias, respectivamente, nos frutos alc+/alc e alc+/alc+, comparados aos frutos normais alc+/alc+ (Mutschler, et al.,1992). Tigchelaar et al. (1978) sugeriram que este alelo produz menos enzima poligalacturonase, requerida para condicionar as células do fruto a sofrer mudanças subsequentes associadas com o processo de amadurecimento. Souza (1995) e Freitas (1996) não encontraram efeitos desse alelo na relação comprimento/largura de fruto e na massa de matéria fresca de fruto, e Freitas (1996), no número de cachos por planta, número de frutos comerciáveis por cacho, produção de frutos comerciáveis e produção total de frutos. A ausência desses efeitos parece ser devido ao tipo de herança e ação gênica envolvida, onde se acredita que todos esses caracteres sejam governados por mais de um gene com ação predominantemente aditiva. Efeitos pleiotrópicos do alelo alc, no sentido de reduzir o tamanho da cicatriz peduncular (Freitas, 1996) e a perda de massa dos tomates (Araújo, 1997), explicam em parte a maior firmeza dos frutos alc+/alc, comparada àquelas dos frutos alc+/alc+ onde o tamanho de cicatriz peduncular foi maior. Lobo (1981) e Mutschler et al. (1992) mostraram que o genótipo alc+/alc confere firmeza intermediária aos parentais de constituição genotípica alc+/alc+ e alc/alc, e Souza (1995), apresentou resultados que indicaram tratar-se de ação gênica de dominância parcial do alelo alc na condição heterozigótica, fato verificado também por Freitas (1996). Em virtude do efeito deletério do genótipo alc/alc sobre a coloração dos frutos, constatado por Lobo (1981) e Souza (1995), fica evidente a inviabilidade comercial de linhas fixadas para o gene alcobaça. No entanto Mutschler (1981) relatou que o genótipo heterozigoto alc+/ alc demorou 20 dias para atingir a coloração vermelha, enquanto que o parental normal alc+/alc+ gastou apenas 10 dias, sendo que a coloração final dos tomates de ambos os genótipos foi semelhante. Frutos de híbridos alc+/alc, testados por Souza (1995), adquiriram coloração vermelha a 12 dias após colhidos no estádio verde-maduro. A variação na porcentagem de superfície vermelha dos tomates, bem como na firmeza destes, pode ser função dos diferentes backgrounds genéticos utilizados como progenitor, independentemente do emprego ou não de genes mutantes de amadurecimento. Assim, cultivares com frutos multiloculares de padrão normal de maturação podem ser firmes, a exemplo da cultivar Flora-Dade, ou menos firmes, como os híbridos Ogata Fukuju, Sunjay e outras cultivares de polinização aberta como Manalucie e Ponderosa. Uma implicação deste fato leva a duas estratégias independentes e não mutuamente exclusivas para o aumento da firmeza de frutos dos tomateiros comerciais: a utilização de backgrounds genéticos com frutos firmes, e o emprego dos genes mutantes de amadurecimento em heterozigose, i.e., em híbridos F1. O objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial para conservação pós-colheita do emprego do alelo alc em híbridos obtidos do cruzamento de linhagens de backgrounds contrastantes para firmeza, e determinar se o emprego do alelo mutante poderá contrabalançar os efeitos negativos de um background genético de frutos pouco firmes, utilizado como progenitor do híbrido considerado. MATERIAL E MÉTODOS Material genético Foram estudados 4 genótipos: TOM-559 (alc/alc), Flora-Dade (alc+/alc+), BPX-336C#0502-bulk (alc+/alc+) e F1[BPX-336C#0502xTOM-559] (alc+/alc). Flora-Dade e TOM-559 são linhagens quase isogênicas, que diferem apenas na constituição genotípica no loco alcobaça. Ambas correspondem a um background genético com frutos considerados firmes. BPX-336C#0502-bulk é uma linhagem normal (alc+/alc+), de frutos pouco firmes, obtida a partir da autofecundação do híbrido comercial Sunjay. O híbrido F 1 (BPX-336C#0502xTOM-559) é heterozigoto no loco alc (alc+/alc) e corresponde ao cruzamento de linhagens de background contrastantes em firmeza de frutos. As plantas de todos os genótipos tem hábito de crescimento determinado. Instalação do experimento Sementes dos genótipos TOM-559 ( alc/alc), FloraDade (alc+/alc+), BPX-336C#0502-bulk (alc+/alc+) e do híbrido F1[BPX-336C#0502xTOM-559] (alc+/alc), foram semeadas em 10-05-96 e as mudas transplantadas em 20-06-96 para covas espaçadas de 0,5m x 0,60m (fila dupla), sendo cada planta conduzida com 2 hastes iniciais e 4 terminais, em sistema de cultivo no campo no município de Ijaci, MG, com irrigação por sulco. Os botões florais de 50 plantas de cada genótipo foram marcados no dia da antese, a intervalos de um dia, durante o período de 30 dias, de maneira a se conhecer a idade dos frutos no estádio de coloração verde-maduro, por ocasião da colheita. Características estudadas Foram estudadas as alturas de inserção do 1o e 3o cachos de 25 plantas, bem como o número de anteses por planta, ocorridas em cada genótipo. Foram conside- R. Bras. Fisiol. Veg., 10(3):191-196, 1998. Padrão de amadurecimento e conservação pós-colheita de frutos de tomateiro . . . radas as anteses ocorridas num período de 11 dias contados do início desta avaliação. A massa de matéria fresca média de frutos comerciais foi avaliada em três épocas (início, pico e final de colheita), amostrando-se 10, 50 e 20 frutos por época, colhidos por ocasião da quebra da coloração esverdeada do fruto e pelo aparecimento de listras ou manchas avermelhadas (Filgueiras, 1996). Os 10 primeiros frutos corresponderam a colheitas efetuadas no 1o cacho; os 50 posteriores, a frutos colhidos no 2o e/ou 3o cachos das plantas; e os 20 últimos, a frutos do 4o cacho ou posterior. O maior tamanho da cicatriz peduncular foi avaliado em sessenta frutos de cada genótipo, tomando-se esta medida com um paquímetro. Sessenta frutos de cada genótipo foram colhidos no estádio verde-maduro e armazenados em câmara fria a 13,6 oC e 60,3% de umidade relativa do ar (UR), durante o período das avaliações de coloração e firmeza. Dez frutos de cada genótipo foram destinados para medidas de firmeza enquanto cinqüenta foram utilizados nas avaliações de coloração, sendo que o desenvolvimento da cor foi acompanhado da colheita até a máxima pigmentação. Foi computado o número de dias decorridos entre a antese e a colheita dos tomates verde-maduro, bem como, até os subsequentes estádios de coloração (rosa, vermelho-pálido e vermelho), conforme escala de coloração externa dos frutos, apresentada por Filgueiras (1996). Também foram feitas avaliações da coloração através da escala de notas a saber: 1= frutos no estádio verde-maduro (poucas listras ou manchas de coloração vermelha); 2= frutos com 20% a 40% da superfície com coloração vermelha; 3= frutos com 40% a 60% da superfície com coloração vermelha; 4= frutos com 60% a 80% da superfície com coloração vermelha; 5= frutos com mais de 80% da superfície com coloração vermelha. Todos os frutos dos quatro genótipos ainda foram classificados de acordo com a escala de cores de Munsell (Nickerson, 1957), ao atingirem a máxima pigmentação. A firmeza dos frutos foi avaliada pelo método de aplanação de Calbo & Nery (1995), em dez frutos de cada genótipo, com oito avaliações a intervalos de um dia. 193 Modelos não lineares foram empregados para o ajuste da marcha de evolução da coloração de frutos, bem como da marcha da perda de firmeza dos frutos ao longo do tempo. No primeiro caso, o modelo ajustado foi Y = [A . e +BX]+ C , onde X= no de dias após o verdemaduro; Y= coloração dos frutos (medida em notas de 1 a 5); A, B, C = constantes do modelo. No segundo caso, o modelo ajustado foi Y = [A . e -BX]+ C, onde X= no de dias após verde-maduro; Y= firmeza de frutos, expressa em N/m2; A, B, C = constantes do modelo. As curvas foram ajustadas com o recurso ao pacote estatístico SAS (Statistical Analysis System ). RESULTADOS E DISCUSSÃO Precocidade de produção, massa da matéria fresca e tamanho de cicatriz peduncular de frutos As comparações envolvendo os genótipos isogênicos TOM-559 (alc/alc) e Flora-Dade (alc+/alc+) refletem os efeitos do alelo alc em homozigose. A altura de inserção do 1o e do 3o cacho de TOM-559 (alc/alc) foi menor em relação à Flora-Dade (alc+/alc+). Esta diferença, no entanto, só foi significativa para altura de inserção de 1 o cacho (Tabela 1). Os valores de heterose em relação a média dos pais, para altura de inserção do 1o e 3o cacho (+7,7% e +5,7%) indicam um aumento na medida desta característica. Resende (1996), estimou valores de heterose que variaram de -9.39% a +9.43% para altura de inserção de 1o cacho e de -2.92% a +15.53% para 3o cacho. A manifestação da baixa heterose para altura de cacho, devido à pouca diversidade genética do germoplasma utilizado neste estudo, suporta a idéia de que outros genes possam estar envolvidos no controle desse caráter, uma vez que Resende (1996), embora não tendo testado o gene em apreço, encontrou ainda assim algum efeito de heterose. O reduzido valor de heterose no sentido de aumentar o número de anteses por planta (+4.3%), sugere ação gênica aditiva envolvida no controle deste caráter. As correlações entre número de anteses por planta vs. altura de 1o cacho e número de anteses por planta vs. altura de 3o cacho, foram, respectivamente, -0,91 e -0,95. A massa da matéria fresca de frutos comerciais da linha BPX-336C#0502-bulk alc+/alc+ foi superior aos dos TABELA 1- Altura de inserção de cachos, número de anteses/planta, massa da matéria fresca de frutos comerciais e tamanho de cicatriz peduncular em tomate. Altura de inserção (cm) Tratamentos: Genótipos: BPX - 336c#0502-bulk BPX - 336c#0502XTOM-559 TOM - 559 FLORA - DADE Média C.V. (a) Heterose (%) alc+/alc+ alc+/alc alc/alc alc+/alc+ 1º cacho 31,0 28,8 22,5 26,6 27,3 C* BC A B 3º cacho nº antese/planta 59,1 B 56,2 B 47,3 A 50,7 A 53,33 1,47 3,28 4,82 4,40 3,49 11,71 10,97 +7,7 +5,7 B AB A A massa da matéria fresca (g) tamanho de cicatriz (mm) 285,6 A 204,3 B 156,6 B 182,2 B 207,2 24,1 A 19,4 B 17,2 C 20,5 B 20,3 39,67 13,04 17,15 +4,3 -7,6 * Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si ao nível de 5% pelo teste de Tukey. (a) Heterose relativa à média dos pais. R. Bras. Fisiol. Veg., 10(3):191-196, 1998. -5,8 Freitas et al. 194 demais genótipos, por ter sido esta linha originada de germoplasma com frutos maiores (Tabela 1). A ausência de efeito do genótipo alc/alc sobre este caráter parece evidente neste estudo. Os frutos do híbrido F1(BPX336C#0502xTOM-559) alc+/alc tiveram matéria fresca próximo à média dos pais (heterose de -7,6%), evidênciando a provável ação gênica predominantemente aditiva para este caráter, ou dominância parcial para menor massa de matéria fresca de frutos. O menor tamanho de cicatriz peduncular determinado para os frutos do genótipo alc/alc, comparado aos do genótipo alc+/alc+ de Flora-Dade (Tabela 1), reflete o efeito do alelo alc em homozigose sobre esta característica. O efeito do alelo alc em heterozigose, no sentido de reduzir o valor desta característica, também pode ser observado comparando-se o tamanho de cicatriz peduncular dos frutos do híbrido BPX-336C#0502xTOM559 alc+/alc (19,4mm) com os dos seus genótipos parentais alc+/alc+ (24.1mm) e alc/alc (17,2mm). A heterose em relação à média dos pais (-5,8%), embora baixa, indica ação gênica aditiva ou de dominância parcial em baixo grau, no sentido de reduzir o valor desta característica, o que é desejável. Segundo Araújo (1997) a redução no tamanho da cicatriz peduncular pode ser um dos fatores envolvidos na menor perda de água dos frutos em pós-colheita, nos genótipos alc/alc e alc+/alc. Coloração de frutos O genótipo TOM-559 alc/alc foi mais tardio em relação ao desenvolvimento da coloração dos frutos que a cultivar testemunha e isogênica Flora-Dade alc+/alc+ (Tabela 2). Um pronunciado efeito do genótipo alc/alc ocorreu, retardando o surgimento da coloração desses frutos, nas diferentes mudanças de estádios (Tabela 3). Para passar dos estádios verde-maduro ao rosa; rosa ao vermelho-pálido; vermelho-pálido ao vermelho e verde-maduro ao vermelho, os frutos da cultivar Flora-Dade alc+/alc+ necessitaram, 2,8 dias, 2,3 dias, 2,3 dias e 7,4 dias, respectivamente. Por outro lado, os frutos da linha isogênica TOM-559 alc/alc precisaram de 11,3 dias, 10,1 dias, 5,5 dias e 26,9 dias, para atingir na respectiva ordem os mesmos estádios de coloração. O número de dias decorridos para que os frutos do híbrido alc+/alc atingissem os quatro estádios de coloração foram levemente superiores àqueles gastos pelo TABELA 2- Número de dias decorridos para que os frutos de tomate atingissem os estádios de coloração verde-maduro, rosa, vermelho-pálido e vermelho. Tratamentos: Genótipos: verde- rosa maduro BPX-336c#0502-bulk alc+/alc + 60 C* 63 C BPX-336c#0502x alc+/alc 62 B 66 B TOM-559 TOM-559 alc/alc 65 A 76 A alc+/alc+ 60 C 62 C FLORA - DADE Média 61 66 C.V. Heterose(%)(a) vermelho- vermelho pálido 66 C 69 C 69 B 87 A 65 C 70 72 B 92 A 67 D 73 4,6 4,2 4,7 4,3 -0,8 -5,0 -9,8 -10,00 * Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si ao nível de 5% pelo teste de Tukey. (a) Heterose relativa à média dos pais. parental normal BPX-336C#0502-bulk alc+/alc+, bem como pela testemunha Flora-Dade alc+/alc+. Este retardamento observado no híbrido alc+/alc relativo ao progenitor normal, foi de 2 dias para que os frutos atingissem o estádio verde-maduro, e para os demais estádios este período foi de 3 dias (Tabela 2). A coloração tida como principal critério de colheita de frutos do tomateiro (Carvalho et al., 1984 e Filgueiras, 1996) não foi prejudicada a ponto de inviabilizar o uso de híbridos alc+/alc. Ademais, o retardamento médio de 2 dias no início da pigmentação dos frutos alc+/alc, e consequentemente na colheita, pode ser compensado pela maior firmeza destes, decorrente do efeito pleiotrópico do alelo alc sobre esta característica. Não foram determinadas diferenças significativas entre a coloração dos frutos híbridos alc+/alc e os do parental BPX-336C#0502-bulk alc+/alc+ na passagem dos estádios rosa para vermelhopálido; vermelho-pálido para vermelho e verde-maduro para vermelho (Tabela 3). Estes resultados reforçam a idéia da ausência ou reduzido efeito do alelo alc em heterozigose sobre a coloração dos frutos. Apenas uma exceção foi observada, para os frutos do genótipo híbrido alc+/alc, que necessitaram de um dia a mais em relação aos do parental normal alc+/alc+ para mudarem de verdemaduro para rosa. Os dados sugerem que há maior efeito do alelo alc em heterozigose sobre a coloração inicial dos frutos, contudo, isto não é fator limitante para a colheita de frutos alc+/alc baseada na coloração inicial. TABELA 3 - Número de dias decorridos após a colheita, para que os frutos de tomate mudassem dos estádios de coloração: verdemaduro ao rosa, rosa ao vermelho-pálido, vermelho-pálido ao vermelho e verde-maduro ao vermelho. Nº de dias para mudança de estádios de coloração Tratamentos: Genótipos BPX-336C#0502-bulk BPX-336C#0502xTOM-559 TOM-559 FLORA-DADE Média alc+/alc+ alc+/alc alc/alc alc+/alc+ C.V. Heterose(%)(a) verde maduro -> rosa-> 3,3 C* 4,3 B 11,3 A 2,8 C 4,7 rosa-> vermelhopálido 3,1 B 3,2 B 10,1 A 2,3 C 4,0 vermelhopálido-> vermelho 3,0 B 2,9 BC 5,5 A 2,3 C 3,2 verdemaduro-> vermelho 9,4 B 10,4 B 26,9 A 7,4 C 11,9 35,2 35,4 39,3 17,5 -39,7 -51,5 -32,6 -42,7 * Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si ao nível de 5% pelo teste de Tukey. (a) Heterose relativa à média dos pais. R. Bras. Fisiol. Veg., 10(3):191-196, 1998. Padrão de amadurecimento e conservação pós-colheita de frutos de tomateiro . . . Pela porcentagem de superfície de área do fruto com coloração vermelha, determinou-se um lento desenvolvimento da cor em frutos alc/alc até o 8o dia após a colheita (Figura 1A). A máxima porcentagem de superfície destes frutos com coloração vermelha ou amarelada, foi de 20% a 40%, o que equivale à nota 2. Os frutos do genótipo isogênico Flora-Dade alc+/alc+ atingiram de 80% a 100% de superfície com coloração vermelha, que corresponde à nota 5 (Figura 1D). Os frutos do parental normal alc+/alc+ e do híbrido alc+/alc, também atingiram 90% da superfície com coloração vermelha, em oito dias após a colheita (Figuras 1B e 1C), similarmente ao obtido por Freitas (1996). As curvas indicam um leve retardamento na taxa de amadurecimento dos frutos do genótipo alc+/alc (Figura 1C) relativamente aos dos genótipos alc+/alc+ (Figuras 1B e 1D), sem que, no entanto, a coloração final do fruto híbrido alc+/alc tenha sido prejudicada. Todos os frutos de constituição genotípica alc/alc, de coloração externa essencialmente vermelho-amarelo, receberam ao final das avaliações a sub classificação 2.5YR-6/12 (Nickerson, 1957) de acordo com a escala Munsell. Os frutos híbridos alc+/alc,10 dias após colhidos, foram classificados como vermelho, assim como foram classificados os frutos dos genótipos normais para o gene alcobaça (BPX-336C#0502-bulk e Flora-Dade, ambos de constituição genotípica alc+/alc+). Estes resultados, desconsiderando possíveis efeitos do background genético, foram parcialmente diferentes daqueles relatados por Mutschler (1981), que verificou um período de 20 dias pós-colheita para que os frutos alc+/alc atingissem a máxima pigmentação. Neste estudo foram notadas pequenas variações quanto à tonalidade vermelho entre os frutos do parental BPX-336C#0502-bulk alc+/alc+, e entre os frutos do híbrido F1 alc+/alc. A sub classificação 7.5R-4/11 foi atribuída a 82% dos frutos alc+/alc+ e 18% dos frutos alc+/alc. A sub classificação 10.0R-5/ 11 foi atribuída a 54% dos frutos normais alc+/alc+ e 46% dos frutos híbridos alc+/alc. Os frutos do genótipo FloraDade alc+/alc+, comercialmente aceito, receberam a sub classificação 10.0R-4/9 (60% dos frutos) e 10.0R-5/11 (40% dos frutos). Estes resultados indicam, portanto, a excelente intensidade de coloração vermelha dos frutos híbridos alc+/alc, 46% na subclassificação 10.0R-5/11, comparável aos 40% dos frutos da testemunha FloraDade alc + /alc + , da mesma subclassificação. De semelhante modo Mutschler et al. (1992), não haviam observado diferenças visuais na coloração entre frutos alc+/alc e alc+/alc+. Considerando-se o tempo necessário para a passagem do estádio verde-maduro ao vermelho, houve pronunciada heterose, -42,7%, no tempo gasto para que os frutos do híbrido alc +/alc atingissem o estádio vermelho, indicando a ação gênica de dominância parcial. Firmeza de frutos O efeito do alelo alc em homozigose (Figura 2A) e heterozigose (Figura 2C) incrementou a firmeza dos frutos relativamente aos dos genótipos normais alc+/alc+ (Figuras 2B e 2D). Ocorreu uma estabilização na firmeza dos frutos alc/alc em 0,3x105 N/m2 no 6o dia após colhidos (Figura 2A), enquanto que para os da cultivar isogênica Flora-Dade alc+/alc+, a firmeza foi decrescente ao longo de 14 dias, atingindo no 6o dia um patamar considerado comercialmente crítico de 0,2x105 N/m2 (Figura 2D). Comparando-se ainda estas duas combinações genotípicas constatou-se inicialmente, uma maior firme0,7 0,7 0,6 0,5 0,4 ) ) 0,3 ) ) ) R2=0.95 ) ) ) 0,2 0,1 0 Firmeza (x10E5 N/m2) Firmeza (x10E5 N/m2) Y=[0.2015 e -0.7016X] + 0.2916 A 0 2 4 6 8 10 12 Dias após a colheita ) 0,3 R2 =0.99 ) 0,2 ) ) ) ) 0,1 0 ) C 0 2 4 6 8 10 12 Dias após a colheita 14 Firmeza (x10E5 N/m2) Firmeza (x10E5 N/m2) 0,5) 0,4 0,5 0,4 R2=0.99 0,3 ) 0,2 ) ) ) 0,1 ) ) ) ) B 0 2 4 6 8 10 12 14 Dias após a colheita 0,7 Y=[0.6044 e -0.5144X] + 0.1635 0,6 Y=[0.2314 e -0.1989] + 0.0692 0,6 0 14 0,7 FIGURA 1- Coloração de frutos de quatro genótipos de tomateiro do grupo multilocular, avaliados durante oito dias através de uma escala de notas (1-5). A-TOM-559 (alc/alc). B- BPX336C#0502 (alc+/alc+), C- F1=BPX-336C#0502XTOM-559 (alc+/ alc) e D- Flora-Dade (alc+/alc+). 195 0,6) Y=[1.0760 e -0.8360] + 0.1657 0,5 0,4 R2 =0.98 ) 0,3 ) 0,2 ) ) ) 0,1 0 ) ) D 0 2 4 6 8 10 12 Dias após a colheita 14 FIGURA 2- Firmeza de frutos de quatro genótipos de tomateiro do grupo multilocular, avaliados durante quatorze dias através do método de aplanação. A-TOM-559 (alc/alc). B- BPX336C#0502 (alc+/alc+), C- F1=BPX-336C#0502XTOM-559 (alc+/ alc) e D- Flora-Dade (alc+/alc+). R. Bras. Fisiol. Veg., 10(3):191-196, 1998. 196 Freitas et al. za dos frutos de Flora-Dade alc+/alc+ em relação aos de TOM-559 alc/alc; isto pode ser explicado pelo fato de os frutos de TOM-559 alc/alc terem tido um leve retardamento na pigmentação inicial exter na (estádio verde-maduro), o que os levou a serem colhidos em estádio efetivamente mais adiantado de maturação. O híbrido estudado compõe-se de duas linhagens com backgrounds contrastantes em firmeza: TOM-559 que é isogênico à cultivar Flora-Dade de frutos firmes, e BPX-336C#0502-bulk genótipo de frutos pouco firmes. Os frutos do híbrido BPX-336C#0502xTOM-559 alc+/alc, do parental BPX-336C#0502-bulk alc+/alc+ e da testemunha Flora-Dade alc+/alc+ necessitaram 9, 4 e 6 dias, respectivamente, para atingir o nível crítico de firmeza de 0,2x105 N/m2 (Figuras 2C, 2B e 2D). A sobrevida em pós-colheita dos frutos do híbrido alc+/alc em relação aos respectivos backgrounds genéticos parentais de constituição alc+/alc+, Flora-Dade e BPX-336C#0502bulk, foi de 3 e 5 dias, respectivamente. O alelo alc teve pouca influência no número de anteses por planta, na altura de inserção do terceiro cacho e na massa da matéria fresca de frutos do tomateiro. Contudo, o genótipo homozigoto alc/alc favoreceu a redução do tamanho da cicatriz peduncular, o aumento da firmeza dos frutos, mas prejudicou sensivelmente a pigmentação final dos frutos. Embora o genótipo alc/ alc tenha contribuído sensivelmente para reduzir a taxa de amadurecimento e a perda de firmeza dos frutos, sua utilização comercial é limitada pelo efeito deletério na coloração final. O híbrido alc+/alc apresentou tamanho de cicatriz peduncular ligeiramente inferior à média dos pais, reflexo do pequeno grau de dominância parcial para o caráter. Os frutos do genótipo alc+/alc mantiveram-se firmes durante um período de tempo de 3 a 5 dias mais longo do que os dos genótipos alc+/alc+, indicando também que o alelo alc não é completamente recessivo quanto aos seus efeitos fenotípicos na firmeza. Assim, o desempenho do alelo alc em reduzir a produção de enzimas que participam do amadurecimento dos frutos, i.e., poligalacturonase e pectinometilesterase, estará assegurado nos frutos híbridos F1. A coloração externa do fruto alc+/alc foi comparável à das linhagens normais alc+/alc+, mas a taxa de amadurecimento foi ligeiramente inferior. O uso de híbridos heterozigotos no loco alcobaça (alc+/alc) é uma alternativa viável para o aumento da vida pós-colheita de frutos de tomateiro, por reduzir a velocidade de amadurecimento, ter efeito na redução da cicatriz peduncular e diminuir a perda de firmeza dos frutos. Todavia, não afeta desfavoravelmente a colora- ção final dos frutos nem as características agronômicas da planta, mesmo quando uma das linhagens componentes do híbrido pertence a um background genético de frutos pouco firmes. AGRADECIMENTOS Os autores manifestam seus agradecimentos pelo apoio recebido às seguintes instituições: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/RHAE); Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG); CAPES/Ministério da Educação e do Desporto; Fundação de Amparo ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FAEPE); Universidade Federal de Lavras (UFLA); HortiAgro Sementes Ltda. REFERÊNCIAS ARAUJO, M.L.de. Interações intra-loco e inter-locos alcobaça , crimson e high pigment sobre características de qualidade e de produção de frutos do tomateiro. Lavras, UFLA, 1997.131p.Tese de Doutorado. CALBO, A.G. & NERY, A.A. Medida de firmeza em hortaliças pela técnica de aplanação. Horticultura Brasileira, 13(1): 14 -18, 1995. CARVALHO, V. D.; SOUZA, S.M.C.; CHITARRA, M.I.F.; CARDOSO, D.A.M. & CHITARRA, A.B. Qualidade de tomates da cultivar gigante Kadá amadurecidos na planta e fora da planta. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 19(4): 489-493, 1984. 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