Recebido em 15/10/2013 Aprovado em 12/08/2013 V14N1 Padrão Facial e Indicação de Cirurgia Ortognática Facial Pattern and Indication for Orthognathic Surgery Gregório Antônio Soares MartinsI| Eider Guimarães Bastos II|Érika Bárbara Abreu Fonseca Thomaz II| Márvio Martins Dias III | Thalisson Saymo de Oliveira SilvaIV| Carmem Dolores Vilarinho Soares de MouraV| Walter Leal de MouraV RESUMO Objetivo: Classificar os indivíduos quanto ao padrão facial e às relações dentárias, associando-os à indicação de cirurgia ortognática como opção terapêutica. Métodos: Trata-se de um estudo transversal analítico no qual dois examinadores previamente calibrados avaliaram documentações ortodônticas quanto ao padrão facial, às relações dentárias e à indicação de tratamento ortodôntico cirúrgico. Foram excluídas as documentações incompletas, as pertencentes a pacientes que haviam realizado tratamento ortodôntico ou cirurgias faciais prévias, além dos que se apresentavam em fase de dentição decídua e mista. Resultados: A amostra foi composta por 841 documentações. O gênero não demonstrou qualquer influência nas demais variáveis do estudo. O Padrão I apresentou maior prevalência, seguido do II, III, Face Longa e Curta. Indicou-se cirurgia em 228 casos, sendo os Padrões III, Face Longa e Curta os de maiores taxas. A relação dentária de maior prevalência foi classe I. Houve forte tendência de relações dentárias seguirem o padrão facial, principalmente entre os indivíduos Padrão II e a classe II e entre o Padrão III e a classe III. Conclusão: O Padrão I foi o mais prevalente. Cerca de um terço dos indivíduos teve indicação de tratamento ortodôntico-cirúrgico. Descritores: Face; Má oclusão; Cirurgia ortognática. ABSTRACT Objective: Classify the subjects according to standard facial and dental relations, associating them with the indication of orthognathic surgery as a treatment option.Methods: This was a cross-sectional analytical study in which two calibrated examiners evaluated orthodontic records as the standard facial and dental relations indication of surgical orthodontic treatment.Exclusion criteria were incomplete documentation, the pertaining to patients who had undergone orthodontic treatment or previous facial surgeries, and those presented in the phase of deciduous and mixed dentition. Results : The sample comprised 841 documentation. Gender did not show any influence over other study variables. The standard I was the most prevalent, followed by II, III, Face Long and Short. Surgery was indicated in 228 cases, and standards III, Face Long and Short of the higher rates. The higher prevalence of dental relation was Class I. There was strong trend of dental relations follow the facial pattern, especially among individuals Standard II and class II and Pattern III and class III. Conclusion: The Pattern I was the most prevalent. There was a strong tendency of dental relations following the facial pattern. About one third of individuals were referred for orthodontic-surgical treatment. Descriptors: Face; Malocclusion; Orthognathic surgery. I. Mestre em Odontologia pela Universidade Federal do Maranhão. II. Professor do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Maranhão. III. Professor do Curso de Especialização da Associação Brasileira de Odontologia secção Maranhão. IV. Aluno do Programa de Pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal do Piauí. V. Professor do programa de Pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal do Piauí. ISSN 1679-5458 (versão impressa) ISSN 1808-5210 (versão online) Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.14, n.1, p. 75-82 , jan./mar. 2014 75 martins et al. INTRODUÇÃO à indicação de cirurgia ortognática ou não como As más oclusões têm como um dos fatores etiológicos primários o padrão de crescimento facial, definido como um conjunto de regras que MATERIAIS E MÉTODOS atuam no crescimento e desenvolvimento da face, O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de preservando características específicas, determina- Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ma- das geneticamente, sofrendo pouca ou nenhuma ranhão, sob o protocolo nº 23115-006274/2011- influência do meio ambiente . 76, o qual seguiu seus requisitos e solicitações. 1 Seguindo esse conceito, classificam-se os indi- Realizou-se um estudo transversal analítico no víduos em 5 tipos: Padrão I, Padrão II, Padrão III, qual foram avaliadas as documentações ortodôn- Padrão Face Longa e Padrão Face Curta. Devido ticas dos pacientes atendidos no Curso de Espe- às limitações numéricas para expressar forma ou cialização em Ortodontia da Associação Brasileira normalidade facial, a avaliação deve ser baseada de Odontologia (ABO), Secção do Maranhão e nos aspectos morfológicos da face, avaliados dire- em consultórios particulares na tamente no paciente, além de fotos, telerradiografia Luís – MA, no período de janeiro de 2006 a janeiro de perfil e oclusão . de 2012. 1 76 opção terapêutica. cidade de São A estética facial é importante fator motivacional As documentações eram compostas por três para a procura do tratamento ortodôntico. Uma fotos de face (frontal em repouso, frontal sorrindo face dentro dos padrões estéticos proporciona bem- e perfil), cinco fotos intrabucais (frontal, lateral estar psicológico e social . Entretanto, o diagnóstico direita, lateral esquerda, oclusal superior e oclusal não se esgota na avaliação da face. É necessário se inferior), um modelo de gesso das arcadas dentárias entender como a oclusão se estabelece dentro de (superior e inferior) e duas radiografias (Panorâmica cada Padrão para que um planejamento adequado e Telerradiografia de Perfil). As fotos e radiografias seja realizado. Deve ser meta terapêutica a asso- foram realizadas em posição natural de cabeça com ciação entre face agradável e oclusão funcional3. lábios em repouso. 2 Discrepâncias esqueléticas que impossibilitem Os critérios de exclusão foram: documentações a correção apenas pelo tratamento ortodôntico tor- ortodônticas incompletas e mal executadas que nam necessário o reposicionamento cirúrgico das impossibilitaram avaliação; documentação bases ósseas, estabelecendo um equilíbrio estético pacientes que já tinham iniciado ou realizado algum e funcional . As deformidades dento-faciais têm tratamento ortodôntico e/ou ortopédico prévios ou forte impacto na personalidade, e a maioria dos qualquer cirurgia facial. Foram também excluídos pacientes que se submetem às cirurgias corretivas da amostra pacientes que apresentavam dentição apresentam mudanças positivas, como o aumento decídua e mista. 4 da autoconfiança . de Dois examinadores, previamente calibrados, 5 Para profissionais que tratam grande quanti- com experiência nas áreas de Ortodontia e Cirurgia dade de indivíduos, é importante conhecer como e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial classificaram seu público-alvo se caracteriza, a fim de traçar os indivíduos quanto ao Padrão Facial1, tipo de estratégias de tratamento mais adequadas. Visan- relação dentária6 e indicação da necessidade de do caracterizar essa população, o presente estudo tratamento cirúrgico. Cada avaliador analisou objetivou classificar os indivíduos quanto ao pa- individualmente todos os casos, e os resultados drão facial e às relações dentárias, associando-os conflitantes foram reavaliados em conjunto, para Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.14, n.1, p. 75-82 , jan./mar. 2014 ISSN 1679-5458 (versão impressa) ISSN 1808-5210 (versão online). Duzentos e vinte e oito pacientes (27%) receberam A indicação do tratamento cirúrgico foi relacio- indicação de tratamento ortodôntico cirúrgico. O nada a deformidades esqueléticas com discrepância Teste Exato de Fisher (p<0,001) foi aplicado e deletérias para a face, tornando-a desarmônica apontou associação entre o tipo de tratamento e o e impossibilitando a correção somente com orto- padrão facial, sendo os padrões III, Face Longa e dontia. Para avaliação facial, adotaram-se como Face Curta os que tiveram maior número de indi- referência, os trabalhos de Capelozza1 e Sarver7. víduos com indicação cirúrgica. martins et al. que pudesse, então, haver um consenso. Uma avaliação dos limites anatômicos do rebordo alveolar, com a finalidade de determinar se a quantidade de movimento ortodôntico necessário poderia ser executada, sem gerar danos ao periodonto de sustentação, também foi realizada8. TABELA 1: Prevalência do padrão facial e indicação de tratamento ortodôntico cirúrgico O teste exato de Fisher foi utilizado para deter- Tratamento TOTAL minar se existia associação entre o Padrão Facial e P<0,001 cirúrgico a indicação de cirurgia. Para determinar se havia diferenças entre a mediana de idade dos indivíduos Padrão facial n % n % Wallis. A existência de relação entre a classificação Padrão I 6 0,7 515 61,24 do Padrão Facial e da oclusão foi avaliada por meio Padrão II 83 9,9 161 19,14 do teste Qui-quadrado de Pearson. Padrão III 76 9,0 87 10,34 Padrão Face Longa 49 5,8 63 7,49 Padrão Face Curta 14 1,7 15 1,78 TOTAL 228 27,1 841 100 e o padrão facial, realizou-se o teste de Kruskal- A influência do gênero na indicação do tratamento foi realizada por meio dos testes do Quiquadrado de Pearson e do teste de homogeneidade de Mantel-Haezenl. Os testes foram realizados no programa estatístico STATA 10.0. Adotou-se nível de significância de 5% como critério para rejeição das hipóteses nulas. Teste exato de Fisher. A tabela 2 representa a mediana da idade em que os pacientes buscaram o tratamento. Nesse RESULTADOS A amostra estudada foi composta por 841 indi- caso, optou-se por utilizá-la como medida de ten- víduos, sendo 321 do gênero masculino (38,17%). dência central devido a uma distribuição anormal Os testes Qui-quadrado de Pearson (p=0,383) e da amostra. Essa medida é a que melhor repre- o de Mantel-Haezenl (p=0,161) demonstraram senta os dados da amostra nesse tipo de avalia- não haver influência do gênero no padrão facial ção. Após a realização do teste de Kruskal-Wallis, e no tipo de tratamento proposto, ou seja, a dis- encontraram-se diferenças estatisticamente signifi- tribuição da amostra ocorreu de forma aleatória, cante (p=0,0001) com relação à época em que os sem nenhuma significância estatística em relação pacientes pertencentes a cada padrão buscaram à variável gênero. o tratamento. O padrão Face longa apresentou A prevalência do padrão facial (tabela 1) mos- mediana de 19 anos, seguido do padrão II: 21,2 trou os seguintes percentuais: I (61,24%), II (19,1%), anos; I:22,2 anos; III:26 anos e Face curta: 31,5 III (10,34%), Face Longa (7,49%) e Curta (1,78%). anos. ISSN 1679-5458 (versão impressa) ISSN 1808-5210 (versão online) Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.14, n.1, p. 75-82 , jan./mar. 2014. 77 martins et al. TABELA 2: Mediana de idade em anos, de acordo com o padrão facial Padrão facial dentárias, de acordo com o padrão facial apenas n M Desvio Interquartil P=0,0001 dos pacientes que seriam submetidos ao tratamento Padrão I 515 22,2 48,4 ortodôntico cirúrgico. Nestes, houve uma prevalên- Padrão II 161 21,2 37,8 cia das relações dentárias de classe II, seguidas de Padrão III 87 26,0 36,2 Padrão face longa 63 19,0 19,4 I e III, respectivamente. Padrão face curta 15 31,5 11,2 TOTAL 841 TABELA 4: Relação entre padrão facial e classe dentária dos pacientes com indicação de cirurgia Relação dentária Teste de Kruskal-Wallis Na tabela 3, o teste Qui-quadrado de Pearson (p<0,0001) evidencia correlações estatisticamente significantes entre o padrão facial e sua relação dentária. O I apresentou relação predominante 78 A tabela 4 representa a prevalência das relações de classe I (53,59%), seguida da II (39.03%) e III (7,38%). Para o Padrão II, a relação predominante Padrão facial Classe I Classe II Classe III Total n % n % n % n % Padrão I 4 66,66 2 33,33 0 0 6 100 Padrão II 25 30,12 56 67,47 2 2,41 83 100 Padrão III 19 25 1 1,32 56 73,68 76 100 Padrão Face Longa 23 46,94 18 36,73 8 16,33 49 100 Padrão Face Curta 2 14,28 6 42,86 6 42,86 14 100 TOTAL 73 32,02 83 36,4 72 31,58 228 100 foi de classe II (66,46%), seguida da I (31,68%). Para o Padrão III, a relação de classe III (70,11%) DISCUSSÃO foi predominante em relação a I (27,59%) e II Após a análise facial dos indivíduos estudados (2,3%). Entretanto nos padrões verticais, o Face (tabela 1), 515 apresentaram Padrão I, 161 Padrão Longa apresentou predomínio da classe I (49,21%), II, 87 Padrão III, 63 Face longa e 15 Face curta. seguido da II (36,51%) e III (14,29%). No Face Cur- Esses dados seguem os achados por Reis9, Sieco- ta, encontrou-se maior prevalência das relações de la10, que também encontraram o Padrão I como classe II e III (40%), seguido da I (20%). predominante. Quase dois terços dos indivíduos (61,24%) não apresentaram discrepância esqueléti- TABELA 3: Relação entre o padrão facial e classe ca, com problemas apenas no mau posicionamento dentária. dentário. Relação dentária Padrão facial Classe I p<0,0001 Classe II Classe III Por definição, as más oclusões do Padrão I são Total n % n % n % n % de localização dentoalveolar, respondendo bem aos Padrão I 276 53,59 201 39,03 38 7,38 515 100 tratamentos ortodônticos , com chances maiores de Padrão II 51 31,68 107 66,46 3 1,86 161 100 Padrão III 24 27,59 2 2,3 61 70,11 87 100 Padrão Face Longa 31 49,21 23 36,51 9 14,29 63 100 Padrão Face Curta 3 estabilidade, graças ao seu equilíbrio na forma e no posicionamento adequado das bases ósseas11. Vinte e sete por cento dos indivíduos avaliados, apresentaram indicação do tratamento cirúrgico (tabela 1). Esses dados chamam a atenção para a 20 6 40 Teste Qui-quadrado de Pearson 6 40 15 100 importância do conhecimento do ortodontista na escolha desse tratamento na rotina clínica diária. Ignorá-lo significa tratar de forma inadequada qua- Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.14, n.1, p. 75-82 , jan./mar. 2014 ISSN 1679-5458 (versão impressa) ISSN 1808-5210 (versão online). cessitaram de tratamento cirúrgico. Parte deles tinha uma alta taxa de insucesso. desequilíbrio das bases ósseas e, assim mesmo É importante salientar que nem todos os pa- não tiveram indicação de cirurgia. Nem sempre cientes optam pela terapia com cirurgia conside- uma discrepância óssea e sua magnitude refletem rando um conjunto de fatores, como medo, custo uma desarmonia facial, pois os tecidos moles e financeiro, estado sistêmico, queixa principal, entre os dentes são capazes de compensar e mascarar, outros. Entretanto, profissionais que tratam grande parcialmente, o desequilíbrio. Os pacientes que quantidade de pacientes devem estar alerta para apresentam uma face esteticamente aceitável são esses percentuais, no sentido de orientar e conscien- maioria, e, quando não há comprometimento tizar os indivíduos sobre o problema e as opções da função, poderão ser submetidos somente a terapêuticas, fazendo-os participar da decisão do tratamentos ortodônticos corretivos, associados a tratamento. recursos de outras áreas da estética que resultem Ao avaliarmos o padrão facial e o tratamen- em uma melhora do sorriso15. to proposto, houve um alto grau de associação Quando se avaliou a relação entre a mediana (p<0,001), tendo sido os pacientes Padrão III os de idade e o padrão facial (tabela 2), encontraram- que tiveram maiores indicações de cirurgia, se- se valores estatisticamente significantes (p<0,0001). guidos dos pacientes Face Longa e Curta. Esses Metade dos pacientes Face Longa procurou trata- dados são justificados pelo fato de o Padrão III ser mento ortodôntico até os 19 anos de idade, e o a má oclusão, que causa maiores desconfortos e Curta apresentou a maior mediana de idade quan- 12 queixas aos os pacientes , embora existam relatos do da procura por tratamento (31,5 anos). Esses na literatura, demonstrando que os pacientes com dados demonstram que existe uma relação direta deficiência mandibular apresentem grau de insatis- entre o tipo de deformidade e a época em que o fação e desejo de mudar a aparência semelhante paciente busca o tratamento. à do Padrão III . Acredita-se que, devido à má oclusão do Padrão 2 Os pacientes classificados como Padrão Face Face Longa marcar a face do paciente na perspec- Longa e Curta têm discrepância de crescimento pre- tiva frontal e não permitir compensação postural, dominante no sentido vertical13. São considerados afetando o sorriso11, isso faz com que os portadores Face Longa os que apresentam desproporção entre identifiquem o problema com maior facilidade e os terços faciais que tornem o selamento labial ou busquem um tratamento precoce. a relação labial normal impossível. Essa discrepân- Os pacientes Face Curta têm características cia é marcante na face, principalmente na visão faciais que remetem a uma face envelhecida e frontal e não permite compensação postural . O tendem a tornar-se mais marcadas com o passar Face Curta, por sua vez, é caracterizado por uma dos anos. Ao contrário dos Face Longa, são es- diminuição desproporcional do terço inferior, o que teticamente aceitáveis quando jovens veem essa ocasiona selamento labial compressivo e sulcos fa- qualidade estética piorar com a idade adulta14. ciais, desproporcionalmente marcados em relação Assim, justifica-se o fato de os indivíduos Face Curta à idade do indivíduo1. Devido ao caráter vertical, buscarem tratamento mais tardio. 11 o tratamento ortodôntico isolado pode trazer pouco Na investigação da relação dentária (tabela benefício à estética facial, sendo necessário trata- 3), foram estudadas as relações sagitais de cani- mento cirúrgico na maioria dos casos . nos permanentes, quando estes estavam ausentes, 14 Setenta e três por cento dos indivíduos não neISSN 1679-5458 (versão impressa) ISSN 1808-5210 (versão online) martins et al. se um terço dos pacientes, o que pode representar observou-se a relação dos pré-molares. Devido ao Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.14, n.1, p. 75-82 , jan./mar. 2014. 79 martins et al. fato de a amostra dos pacientes Face Curta ter sido Esses dados sugerem que as mulheres têm maior pequena, os achados para esse padrão devem ser preocupação com a estética e são, portanto, analisados com reserva, pois podem não representar maioria na busca por tratamentos relacionados corretamente uma amostra mais ampla. a mudanças na estética facial. Embora os valores Do total dos pacientes avaliados, 385 eram clas- absolutos sejam diferentes, a análise estatística se I, 339 II e 117 III. Esses dados estão de acordo apontou não haver qualquer tipo de relação entre com Silva Filho16 que relataram as más oclusões de o gênero e o tratamento cirúrgico (p=0,383) ou classe I como as mais prevalentes, sendo responsá- entre o gênero e o padrão facial na indicação veis por aproximadamente 50% a 55% dos casos. também deste (p=0.161). Assim, acredita-se que a Os dados demonstram uma tendência definitiva distribuição da amostra ocorreu de forma aleatória das relações oclusais acompanharem o padrão 80 para o gênero. facial, principalmente no Padrão II e III, corrobo- O critério primário para a decisão pelo trata- rando Silva Filho3. Entretanto, vale ressaltar que as mento ortodôntico cirúrgico envolve o comprome- relações dentárias devem ser consideradas apenas timento da harmonia facial1,19. Reis19 concluiu que como um fator complementar de diagnóstico, im- os fatores considerados de extrema importância, portante para um bom tratamento e uma finalização na indicação ou não da cirurgia ortognática, em adequada do caso. Não deve ser considerado ordem decrescente, são: assimetria facial, conve- fator etiológico primário, já que as más oclusões xidade do perfil, proporção entre o terço médio e dentárias são apenas um sinal do problema e não o inferior, comprimento da linha queixo-pescoço, sua real etiologia . idade, exposição gengival ao sorrir, projeção ante- 1 O papel coadjuvante das relações dentárias na indicação do tratamento cirúrgico fica claro quan- rior do mento, exposição dos incisivos em repouso e sobressaliência. do são avaliados, apenas, os pacientes cirúrgicos Dessa forma, é esperado que, para uma amos- (tabela 4). Observou-se que 71 pacientes, quase tra na qual o grau de discrepância esquelética e um terço, eram classe I. Embora estes tivessem desarmonia facial não foi controlado, a variável uma relação oclusal considerada normal do ponto gênero tenha pouca ou nenhuma importância na de vista funcional, tiveram indicação de cirurgia, escolha do tipo de tratamento. pois apresentam desequilíbrio e desarmonia facial. Trabalhos, comparando apenas pacientes li- A boa relação interarcos não foi refletida na face. mítrofes que aceitem tanto o tratamento cirúrgico Portanto, a classificação das relações dentárias, por quanto o compensatório, são mais indicados para si sós, foi imprecisa e genérica, para diagnosticar avaliar a influência do gênero na escolha do tipo as más oclusões de forma satisfatória. de tratamento, pois, nesses casos, as variáveis da Devemos atentar para a necessidade de um magnitude da discrepância esquelética e do pa- diagnóstico detalhado da face juntamente com a drão facial estarão controladas, reduzindo viés de oclusão, analisando as estruturas envolvidas sepa- confundimento. radamente e em conjunto. Um diagnóstico correto A análise facial morfológica é um dos recursos contribui, de forma decisiva, para um tratamento de diagnóstico mais importante para a identificação satisfatório do ponto de vista estético e funcional. das discrepâncias esqueléticas sagitais, verticais e A maior parte da amostra foi composta por in- transversais. A análise morfológica da face, nas divíduos do gênero feminino (61,83%), igualmente vistas frontal e lateral, permite a classificação do como ocorre m outros trabalhos da literatura17,18. padrão facial em I, II, III, Face Longa e Curta, que Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.14, n.1, p. 75-82 , jan./mar. 2014 ISSN 1679-5458 (versão impressa) ISSN 1808-5210 (versão online). 5- Scott AA, Hatch JP, Rugh D, Riviera SM, Hoffman específicos1. Por meio dela, faz-se a qualificação TJ, Dolce C, Bays R. Psychosocial predictors do problema existente e aprecia-se a leitura da har- of high-risk patients undergoing orthognathic monia facial, considerando o tegumento e estruturas surgery.Int J Adult OrthodOrthognath Surg. ósseas15. A preocupação com os tecidos moles é 1999; 14(2); 113-124. pertinente por serem estes os que favorecerão ao indivíduo maior grau de aceitabilidade de sua face4,9. Portanto, trabalhos utilizando esse método de diagnóstico são de grande importância. 6- Andrews LF. The six keys to normal occlusion.Am J Orthod. 1972; 62(3): 296-309. 7- Sarver D, Jacobson RS. The Aesthetic Dentofacial Analysis.Clin Plastic Surg. 2007; 34: 369-94. 8- Handelman CS. The anterior alveolus: its impor- CONCLUSÃO Com base nos dados avaliados, podemos tance in limiting orthodontic treatment and its influence on the occurrence of iatrogenic seque- concluir que 1- O Padrão I apresentou a maior prevalência, seguido do Padrão II, III, Face Longa e Curta; lae. The AngleOrthod. 1996;66(2):95-109. 9- Reis SAB. Análise facial numérica e subjetiva do 2- Houve uma forte tendência de as relações perfil e análise da relação oclusal sagital em dentárias seguirem o padrão facial, principalmente brasileiros, adultos, leucodermas, não tratados entre os indivíduos Padrão II com a classe II e os ortodonticamente. [Dissertação de Mestrado]. indivíduos Padrão III com a classe III; São Bernardo do Campo: UMESP;2001. 3- Cerca de um terço dos indivíduos teve indicação de tratamento ortodôntico cirúrgico, sendo os padrões III, Face Longa e Curta os que apresentam maiores taxas. 10- Siécola GS. Prevalência de Padrão Facial e má oclusão em populações de duas escolas diferentes de ensino fundamental [Dissertação de mestrado]. Bauru: Faculdade de Odontologia de Bauru – Universidade de São Paulo; REFERÊNCIAS 1- Capelozza Filho L. Diagnóstico em Ortodontia. 2007. 11- Capelozza Filho, L. 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