OS SEIS PERÍODOS GERAIS DA HISTÓRIA DA IGREJA
Antes de nos adentrarmos no estudo minucioso dos dezenove séculos em que a igreja de
Cristo tem estado em atividade, situemo-nos mentalmente sobre o monte da visão, e
contemplemos toda a paisagem, todo o campo que, passo a passo, teremos de percorrer.
De nosso ponto de observação, neste assombroso século vinte, lançando o olhar para o
passado, veremos elevarem-se aqui e ali, sobre as planícies do tempo, quais sucessivos
montes, os grandes acontecimentos da História Cristã, os quais servem como pontos divisórios, e cada um deles assinala o término de uma época e o início de outra. Considerando cada
um desses pontos decisivos, seis ao todo, veremos que eles indicam os seis grandes períodos
da História da Igreja. No primeiro capítulo faremos um exame geral desses períodos.
O topo culminante que assinala o ponto de partida da igreja de Cristo é o Monte das
Oliveiras, não muito distante do muro oriental de Jerusalém. Ali, cerca do ano 30 a.D. Jesus
Cristo, que havia ressurgido dentre os mortos, ministrou seus últimos ensinamentos aos
discípulos e logo depois ascendeu ao céu, ao trono celestial.
Um pequeno grupo de judeus crentes no seu Senhor, elevado como Messias-Rei de
Israel, esperou algum tempo em Jerusalém, sem considerar, inicialmente, a existência de uma
igreja fora dos limites do Judaísmo. Contudo, alargaram gradualmente seus conceitos e
ministério, até que sua visão alcançou o mundo inteiro, para ser levado aos pés de Cristo. Sob
a direção de Pedro, Paulo e seus sucessores imediatos, a igreja foi estabelecida no espaço de
tempo de duas gerações, em quase todos os países, desde o Eufrates até ao Tibre, desde o Mar
Negro até ao Nilo. O primeiro período terminou com a morte de João, o último dos doze
apóstolos, que ocorreu, conforme se crê, cerca do ano 100 (a.D). Consideremos, pois, essa
época — "O Período da Era Apostólica".
Durante o período que se seguiu à Era Apostólica, e que durou mais de duzentos anos, a
igreja esteve sob a espada da perseguição. Portanto, durante todo o segundo século, todo o
terceiro e parte do quarto, o império mais poderoso da terra exerceu todo o seu poder e
influência para destruir aquilo a que chamavam "superstição cristã". Durante sete gerações,
um nobre exército de centenas de milhares de mártires conquistou a coroa sob os rigores da
espada, das feras na arena e nas ardentes fogueiras. Contudo, em meio à incessante
perseguição, os seguidores de Cristo aumentaram em número, até alcançar quase metade do
Império Romano. Finalmente, um imperador cristão subiu ao trono e por meio de um decreto
conteve a onda de mortes.
Evidentemente, os cristãos que durante tanto tempo estiveram oprimidos, de forma
rápida e inesperada, por assim dizer, passaram da prisão para o trono. A igreja perseguida
passou a ser a igreja imperial. A Cruz tomou o lugar da águia como símbolo da bandeira da
nação e o Cristianismo converteu-se em religião do Império Romano. Uma capital cristã,
Constantinopla, ergueu-se e ocupou o lugar de Roma. Contudo, Roma, ao aceitar o
Cristianismo, começou a ganhar prestígio como capital da igreja. O Império Romano
Ocidental foi derrotado pelas hordas de bárbaros, porém estes foram conquistados pela igreja,
e fundaram na Europa nações cristãs, em lugar de nações pagãs.
Com a queda do Império Romano Ocidental, iniciou-se o período de mil anos,
conhecido como Idade Média. No início, a Europa era um caos, um continente de tribos sem
governo e sem leis de nenhum poder central. Mas, gradativamente, foram-se organizando em
reinos. Naquela época, o bispo de Roma esforçava-se não só para dominar a igreja, mas
também para dominar o mundo. A religião e o império de Maomé conquistavam todos os
países do Cristianismo primitivo. Encontramos, então, o Sacro Império Romano e seus
inimigos. Observamos, também, o movimento romântico das Cruzadas no vão esforço para
conquistar a Terra Santa que estava em poder dos muçulmanos. A Europa despertava com a
promessa de uma próxima reforma, na nova era. Assim como a História Antiga termina com a
queda de Roma, a História Medieval termina com a queda de Constantinopla.
Depois do século quinze, a Europa despertou; o século dezesseis trouxe a Reforma da
igreja. Encontramos Martinho Lutero afixando suas teses na porta da catedral de Wittemberg.
Para defender-se, compareceu ante o imperador e os nobres da Alemanha, e quebrou os
grilhões das consciências dos homens. Nessa época, vemos a igreja de Roma dividida. Os
povos da Europa setentrional fundaram suas próprias igrejas nacionais, de caráter mais puro.
Encontramos, também, em atividade a Contra-Reforma, iniciada nos países católicos, para
conter o progresso da Reforma. Finalmente, após uma guerra que durou trinta anos, fez-se um
tratado de paz em Westfália, em 1648, traçando-se então linhas permanentes entre as nações
católico-romanas e as nações protestantes.
Estudaremos, adiante, ainda que rapidamente, os grandes movimentos que abalaram as
igrejas e o povo nos últimos três séculos, na Inglaterra, na Europa e na América do Norte.
Mencionaremos os movimentos Puritano, Wesleyano, Racionalista, anglo-católico e os
movimentos missionários atuais que contribuíram para edificação da igreja de nossos dias e
que edificaram, não obstante suas variadas formas e nomes, uma igreja em todo o mundo.
Notaremos, também, a grande mudança que gradualmente transformou o Cristianismo nos
séculos dezenove e vinte em uma poderosa organização não só para glória de Deus, mas
também para servir aos homens por meio de reformas, de elevação social, enfim, de uma série
de esforços ativos para melhorar as condições da humanidade.
Jesse Lyman Hurlbut
Digitalização: Luis Carlos
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