Vol. 1, No. 1,
Outubro-Dezembro de 2011
ARTIGO ORIGINAL
ESTUDO DA EXTRAÇÃO E AVALIAÇÃO DO
RENDIMENTO DE ÓLEO DE BARU
*Lizandra Carla Pereira de Oliveira1, Marcell Duarte Wanderley1,
Alexandre Gonçalves Porto2, Fabrício Schwanz da Silva2,
Flávio Teles Carvalho da Silva2 e Etney Neves3,4
¹ Acadêmica do Curso de Engenharia de Alimentos, UNEMAT - Universidade do Estado de Mato
Grosso, Campus Barra do Bugres – MT, Brasil. Rua Florianópolis, JD Elite II, CEP 78390000.
2
Professor do Departamento de Engenharia de Produção Agroindustrial, UNEMAT.- Universidade do
Estado de Mato Grosso, Campus Barra do Bugres – MT;
3
Professor Visitante do Departamento de Engenharia de Alimentos, UNEMAT.- Universidade do Estado
de Mato Grosso, Campus Barra do Bugres - MT
4
Pesquisador Associado a Associação Nacional Instituto Hestia de Ciência e Tecnologia, HESTIA.Brasil.
Resumo
A biodiversidade brasileira reserva muitas oportunidades, por exemplo, a possibilidade
de obtenção de novos insumos e materiais. Frutos de árvores nativas do cerrado
brasileiro, constituem uma gigantesca variedade de espécies. O baru, Dipteryx alata, foi
selecionado como palmeira de interesse para estudos. Uma revisão foi inicialmente
realizada, indicando que o óleo extraído do baru é muito fino, sua composição apresenta
α-tocoferol e elevado teor de lipídios insaturados. A utilização deste óleo tem aplicações
medicinais e industriais consolidadas (produtos). Este trabalho é o primeiro passo de um
novo grupo de pesquisa, que busca entender o baru, a extração de seu óleo e que tem
como meta, inovar conceitualmente através da modificação da estrutura do óleo natural.
Palavras-chaves: óleo de baru, dipteryx alata, extração.1
1. Introdução
A biodiversidade brasileira reserva muitas possibilidades, para estudos e
desenvolvimento de novos insumos, materiais e oportunidades. Frutos de árvores
nativas da região cerrado, ecossistema característico do centro-oeste do Brasil, por si só,
constituem uma gigantesca variedade de espécies para observações e desenvolvimento
de novos produtos inovadores conceitualmente.
O baru, Dipteryx alata, também conhecido como barujó, cumaru, cumbaru,
castanha-de-ferro, coco-feijão, cumarurana, cumbary, emburena-brava, feijão-coco,
pau-cumaru, meriparajé1, é uma árvore pertencente à família Leguminosae, com altura
média de 15 m, podendo alcançar mais de 25 m em solos férteis. Sua floração ocorre de
* e-mail: [email protected]
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novembro a fevereiro, sendo que a formação dos frutos inicia-se em dezembro. ² O fruto
se constitui por amêndoa e polpa, comestíveis, ricas em carboidratos, proteína e óleo
possuindo assim um alto valor nutricional. 1,2,3 Em cada fruto há apenas uma semente,
de comprimento e largura variando de 1,0 a 3,5 cm e de 0,9 a 1,3 cm, respectivamente. 4
O óleo extraído do baru é muito fino, possuindo em sua composição α-tocoferol
e 81 % de lipídios insaturados, se comparado com o azeite de oliva. 2,4 O óleo extraído é
muito utilizado em fins medicinais e industriais como: anti-reumático, regulador de
menstruação, lubrificante para equipamentos e cosméticos. 2
Existem vários métodos para extração do azeite de vegetais. Os principais são
por prensagem mecânica, fermentação, extração por Soxhlet e Goldfish. A extração por
prensagem é a mais comum, sendo seguida por extrações com solventes. 5 Estas duas
vias são utilizadas, por exemplo, em conjunto na produção do azeite de oliva. O azeite
extravirgem é originário da primeira extração, por prensagem mecânica, originando um
produto com acidez mínima. Um azeite com maior acidez é, posteriormente, obtido da
torta de prensagem utilizando solventes.
Uma revisão da literatura foi realizada. Frutos foram colhidos como amostras e
as morfologias avaliadas. As partes dos frutos foram separadas para o estudo
experimental. A literatura e os resultados experimentais são comparados e comentados.
O mesocarpo com a semente e a semente isolada, foram avaliados em seus teores de
óleo. Dois tipos de solventes foram utilizados e as eficiências discutidas
comparativamente.
2. Óleos Vegetais
Os óleos vegetais são constituídos em sua maioria de triglicerídeos. 4,5
Geralmente os óleos vegetais são obtidos por sementes oleaginosas, de polpa de frutas e
germe de cereais. A extração dos óleos ocorre principalmente por destilação e extração
por solventes. 5
Os óleos vegetais são alternativas naturais e renováveis. Eles podem ser
utilizados na produção de resinas, plastificantes, produção de combustíveis, entre outros
insumos e produtos. 4
2.1. O Óleo de Baru
A polpa do baru produz óleo, mas é na amêndoa que se encontra uma quantidade
significativa do mesmo. 4 O óleo extraído da amêndoa é fino, possui um elevado grau de
insaturação, alto teor de ácido oléico e linoléico. 2
O óleo de baru é utilizado nas áreas medicinais e industriais como: antireumático e regulador de menstruação. Devido ao ácido oléico presente no óleo, o
mesmo é utilizado como lubrificante para equipamentos, cosméticos e intermediários
químicos.
2.2. Extrações de óleos por Sohxlet
O extrator de Soxhlet é usado para extração de substâncias sólidas por solventes
quentes. 6 Nessa extração, o sistema permite que certa quantidade de solvente, puro,
passe várias vezes na amostra formando um ciclo. Cada ciclo corresponde a uma
lavagem, teoricamente total da amostra sólida. A vantagem desse extrator, é que as
substâncias da amostra entram em contato com o solvente a elevada temperatura. A
temperatura do processo na câmara de extração é constante e, dependente das
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propriedades do solvente. 7 Este método é muito utilizado para extrair óleos vegetais em
pesquisas científicas.
Os lipídeos são biomoléculas composta principalmente por carbono, hidrogênio
e oxigênio. São normalmente insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos. 8,9
Dentre os solventes utilizados para extração de óleos, podem ser citados os éteres, pois
são pouco reativos. 6,8 O éter de petróleo e éter etílico são, geralmente, os solventes
usados nas práticas de extração com Soxhlet.
O éter de petróleo é uma mistura de diversos hidrocarbonetos, dentre eles o
pentano, que é o composto mais apolar com ponto de ebulição de 65-70°C. 10 Neste
solvente, os carboidratos são insolúveis, sendo possível a extração dos lipídeos e da
clorofila. 8
O éter etílico ou etoxi-etano é usado como solventes de resinas e óleos (são
pouco polares) e na extração de óleos, gorduras e essências. Na extração de óleos
vegetais o éter etílico é eficaz, mas sua venda e seu uso são controlados rigorosamente
por ser muito volátil e inflamável. 9
Figura 1. Ilustração do equipamento Extrator Soxhlet, destacando
o ponto de posicionamento da amostra e os três pontos principais
do fluxo do solvente.
3. Extração Experimental do Óleo de Baru
Os frutos do Baru são classificados como do tipo dupra, com comprimento
aproximado de 4,5 cm. Os frutos foram divididos nas frações mesocarpo, endocarpo e
semente. O endocarpo é lenhoso e uma retífica, com disco cerâmico de corte, foi
utilizada para liberar a semente. As sementes são elipsóides e tinham aproximadamente
2,3 cm de comprimento. Mesocarpos e sementes foram cominuídos, misturados e
homogeneizados (MS), formando a massa para o experimento de extração de óleo,
Tabela 1.
As seis massas MS foram utilizadas separadamente, Tabela 2. As colunas de
extração receberam dois tipos de solventes. Três colunas do extrator Soxhlet foram
preparadas, com o solvente éter etílico e as outras três com éter de petróleo. As amostras
foram lavadas em ciclos contínuos por 8 horas. O rendimento de óleo das misturas MS é
apresentado na Tabela 2. Durante o experimento de extração, constatou-se uma
mudança de cor dos solventes, devido à formação de uma mistura homogênea solventeóleo. A mudança dos líquidos, de incolor para amarelo, foi mais intensa nas amostras 4,
5 e 6. Isso se deve a uma reação mais eficiente de extração do éter etílico, em função de
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Tabela 1. Massas dos frutos do baru e das frações respectivas do mesocarpo, endocarpo,
semente e mistura MS.
Fruto
Massa
total*
(gramas)
Endocarpo
Endocarpo
+
Semente
Mesocarpo
Massa da semente
1
24,3
9,8
10,6
13,5
0,9
2
20,7
9,7
11,1
9,4
1,4
3
26,4
11,6
11.6
14,7
1,1
4
27,8
11,7
12,9
14,7
1,2
5
17,6
7,7
8,8
8,6
1,1
6
22,3
8,3
9,5
12,7
1,2
9,8
 1,6
10,7
 1,5
12,3
 2,6
1,1
 0,2
23,2
 3,8
*
Massa em gramas.
Média
Desvio Padrão
sua reatividade superior para liberação de substâncias, comparativamente ao éter de
petróleo.
Após as 8 horas de ciclo e lavagem contínua das amostras, as misturas líquidas
resultantes foram levadas a uma estufa, com temperatura de aproximadamente 60°C,
para uma remoção total do solvente e separação dos óleos.
Tabela 2. Massas das amostras MS, com rendimentos da extração de óleo
respectivos para cada amostra, em função do tipo de solvente.
Amostras
Amostras
Utilizadas (MS)*
Rendimento
do Óleo
Solventes
Utilizados
1
11,929
0,109
Éter de Petróleo
2
9,987
0,107
Éter de Petróleo
3
10,014
0,062
Éter de Petróleo
4
12,14
0,189
Éter Etílico
5
9,706
0,169
Éter Etílico
6
11,295
0,121
Éter Etílico
*Massa em gramas.
O rendimento de cada amostra de óleo e o desvio padrão foram calculados, logo
após as amostras terem resfriado em dessecador (Tabela 3). A extração do óleo,
utilizando o éter de petróleo como solvente, foi 29,5% menos eficiente que com éter
etílico.
É necessário considerar que este resultado, é para um mesmo tempo de extração
para ambos os solventes (padrão = 8 horas). Em uma primeira análise, duas hipóteses
são consideradas como responsáveis por esta diferença: (a) cinética de extração das
substâncias diferentes para cada solvente; (b) seletividade do solvente na remoção de
espécies químicas.
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Tabela 3. Rendimento e desvio padrão do óleo em função da natureza do solvente.
Solventes
(%)
Média
Desvio Padrão
Éter Petróleo
0,91
1,07
1,1
1,03
0,10
Éter de Etílico
1,74
1,56
1,07
1,46
0,35
4. Conclusão
A massa média de um fruto Baru, com comprimento aproximado de 4,5 cm, é de
23,2  3,8 gramas.
Segundo a literatura, o óleo extraído do baru deve ser rico em α-tocoferol e
possuir elevados teores de lipídios insaturados.
Quantidades de óleos diferentes foram obtidas, em função do tipo de solvente
utilizado, com tempo de extração padrão de 8 horas para ambos os solventes.
A extração do óleo, utilizando o éter de petróleo como solvente, foi 29,5%
menos eficiente que com éter etílico. Duas hipóteses foram propostas como
responsáveis por este resultado: (a) cinética de extração diferente dos solventes; (b)
maior seletividade do éter de petróleo, na remoção de espécies químicas.
5. Referências bibliográficas
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Acesso 10/08/2011.
Vol. 1, No. 1, outubro-dezembro 2011, Página 32
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