X Encontro Nacional de Educação Matemática
Educação Matemática, Cultura e Diversidade
Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010
LICENCIATURA EM MATEMÁTICA E ESCOLA ESTADUAL: PARCERIAS EM
TORNO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DE ALUNOS DO ENSINO
MÉDIO
Luzia Aparecida de Souza1
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul- UFMS
Universidade Estadual Paulista - UNESP
[email protected]
Resumo: A proposta desse relato de experiências é comunicar ações e circunstâncias nas
quais estudantes e professores da Licenciatura em Matemática da UFMS, campus de
Paranaíba, e da Escola Estadual José Garcia Leal desta cidade têm se envolvido. Tais ações
são possibilitadas pelo apoio financeiro e objetivos gerais traçados pelo PIBID- Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência da CAPES. Este texto delineia o modo
como tem ocorrido a interação entre essas duas instituições de ensino e uma primeira
mobilização da comunidade escolar em torno dos projetos realizados.
Palavras-chave: Formação de Professores; Ensino de Matemática; Parceria.
Sobre o PIBID
O PIBID- Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, financiado pela
CAPES, tem por objetivos incentivar a formação de professores para o ensino básico e
melhorar a qualidade desse nível de ensino por meio de parcerias entre a universidade e a
escola pública. Esse duplo interesse evidencia a preocupação de que os trabalhos
desenvolvidos dentro dessa proposta não se privem do cuidado com a formação de todas as
partes envolvidas.
Ao estimular parcerias entre o ensino superior e o ensino básico, o PIBID valoriza
as instituições de ensino como espaços para ações investigativas, envolvendo professores e
alunos em atividades diferenciadas de método e prática docente.
Internamente à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, são vários os campus
e projetos ligados ao PIBID.
No campus de Paranaíba, este projeto é vinculado ao curso de MatemáticaLicenciatura e é desenvolvido junto à Escola Estadual José Garcia Leal. Essa escola,
fundada em 1933, possui 1558 alunos e, apesar de estar localizada no centro da cidade,
atende alunos de todos os bairros de Paranaíba.
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Professora do Departamento de Matemática da UFMS, câmpus de Campo Grande, doutoranda na Pós
Graduação em Educação Matemática da UNESP, câmpus de Rio Claro. [email protected]
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São bolsistas desse projeto específico 2 seis alunos da graduação3, uma professora
(supervisora) da Escola José Garcia 4 e uma professora (coordenadora do projeto) da
Licenciatura em Matemática, UFMS-CPAR5. As bolsas concedidas pelo PIBID levam a
uma dedicação de vinte horas semanais ao projeto, distribuídas entre preparação de
material didático, trabalho com os alunos e professores na escola e reuniões semanais para
avaliação e planejamento das atividades.
O projeto é desenvolvido, diretamente, junto a nove salas do Ensino Médio, todas
tendo como professora de matemática a supervisora Zenaide Aparecida da Silva.
Indiretamente, as atividades desenvolvidas pelo grupo pretendem atingir esta e outras
escolas do município de Paranaíba.
As ações desenvolvidas por esse grupo estruturam-se em quatro frentes principais:
uma voltada ao acompanhamento de alunos com dificuldades em matemática (envolvendo
a busca por métodos e recursos diferenciados de ensino), uma voltada à estruturação de um
grupo de estudos em matemática (junto àqueles que mostram interesse em explorar o
raciocínio matemático), uma voltada à discussão e “resgate” de valores junto a professores
e alunos da escola envolvida e uma voltada à formação continuada de professores de
matemática da rede pública (cujo método de trabalho prevê a estruturação de módulos e,
dentro destes, a elaboração de mini-cursos nas temáticas informática, geometria e funções).
Essas frentes foram elaboradas a partir do esboço de um primeiro cenário,
possibilitado por conversas com a coordenação, alunos e professores da escola envolvida.
Alunos desmotivados, situações de indisciplina, dificuldade de acompanhar as aulas de
matemática, nivelamento e seus prejuízos aos alunos que apresentam facilidade na
aprendizagem de matemática, dificuldade dos professores frente à “imposição” do uso
didático da sala de informática na escola, desmotivação do licenciando quanto ao ingresso
na profissão docente tendo em vista essas dificuldades são algumas das marcas deste
cenário.
Para dar conta de algumas dessas questões, essas frentes foram vinculadas ao eixo
“formação” (de professores, licenciandos e alunos do ensino médio envolvidos) e tem
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[email protected]
Ana Carolina Garcia, Edílson Guedes da Silva, Elaine Cristina Luiz, Luciene Ramos da Silva, Meirilaine
Jesus Borges Duarte e Vinicius Sanches Tizzo.
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Zenaide Aparecida da Silva.
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Luzia Aparecida de Souza.
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contribuído para uma alteração significativa da dinâmica escolar da E. E. José Garcia Leal
e da atuação dos licenciandos nessa escola.
Frentes de trabalho: objetivos e ações
O projeto “Fazer-compreender” dedica-se a um trabalho com alunos que
apresentam dificuldades de aprendizagem em matemática. Os seis bolsistas do projeto
dividem-se entre as nove salas participantes, voltando-se à preparação de atividades
diferenciadas para a abordagem dos conteúdos vistos, paralelamente, em sala de aula, junto
à professora supervisora do PIBID.
Este projeto articula a busca pela alteração do cenário encontrado na escola com a
qual temos parceria e o envolvimento dos licenciandos com situações de ensino marcadas
pela dificuldade de aprendizagem e pela discussão de métodos como resolução de
problemas e recursos como história da matemática.
O envolvimento dos licenciandos nessas atividades pode levá-lo à percepção de
que, isoladamente, esses alunos (em vários casos considerados problemáticos em sala)
mostram interesse pelo aprendizado. Um interesse nem sempre possível de ser identificado
em situações cotidianas de ensino.
O projeto “Saber-crescer”, por sua vez, objetiva constituir um grupo de estudos em
matemática junto a alunos que mostram facilidade na aprendizagem de matemática.
Geralmente deixados de lado nos projetos de intervenção nas escolas, por não
serem identificados como “parte do problema no ensino”, esses alunos têm encontrado
neste projeto uma forma de aprofundar seus estudos em matemática para além dos
conteúdos previstos e efetivamente trabalhados em sala de aula.
Esse grupo de estudos tem focado atividades ligadas às Olimpíadas de Matemática
e ao ENEM e tem alterado, de certa forma, o cenário percebido pelos bolsistas em
situações de estágio supervisionado. Este projeto coloca os licenciandos frente a grupos de
alunos estruturados mediante o interesse de aprender mais sobre Matemática.
O projeto “Ser (verbo) Humano” dedica-se a resgatar e discutir valores junto aos
alunos e professores (de diversas áreas) das salas participantes. Esse resgate e discussão
foram feitos, em 2009, por meio de filmes que retratam histórias reais. Ressalta-se que
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cada filme é pensado especificamente para uma determinada sala, embora todas assistam a
todos os filmes. Junto à professora da classe, esse levantamento foi feito de modo a
identificar os maiores problemas daquela sala (discriminação, falta de motivação, drogas,
entre outros).
Assim, foram selecionados dois ou três alunos de cada sala (ao menos um sendo
representante de um grupo caracterizado pela problemática levantada, ou seja, se na sala A
há problemas de discriminação, um dos alunos do grupo que exerce essa prática deveria ser
indicado). Todos os alunos selecionados pela professora supervisora passaram a trabalhar
com a equipe do PIBID, de forma a assistir previamente cada filme e ajudar na elaboração
de roteiros de discussão, bem como no estabelecimento de um eixo central e de uma
abordagem a ser implementada em cada sala. A cada sessão de filme com as salas, esse
grupo colaborador do PIBID intervém no momento das discussões buscando colocar-se
e/ou estimular as colocações dos colegas.
Considera-se este exercício primordial ao desenvolvimento dos alunos e à sua
receptividade ao projeto. Em acordo com Lins (1999), o processo comunicativo tem suas
complexidades e as situações de diálogo são fundamentais para uma maior aproximação
entre o dito e o entendido.
Skovsmose, por sua vez, assinala para a importância de colocar os alunos em
atividades, sendo por elas responsáveis.
Um primeiro exercício, nessa direção, permitiu a realização, no final de 2009, da I
Mostra Cultural da Escola Estadual José Garcia. O evento, organizado e apresentado pelos
alunos, abordou atividades como teatro, palestras, dança, música (canto e instrumental),
coletânea de mensagens de alunos e professores participantes do projeto, realização de
entrevistas, produção de vídeos (sobre dependência química e violência na família),
exposição de desenhos e pinturas. Essas atividades, por sua vez, tratavam de questões
discutidas durante os debates organizados nas sessões de cinema, quais sejam, dependência
química, importância da amizade, respeito pelo outro (suas crenças e opções),
determinação, esforço, família, entre outros.
A mostra foi apresentada a professores e alunos da Escola Estadual José Garcia
Leal. Cabe ressaltar que, para além das questões discutidas mediante os filmes, os focos
centrais desse projeto são o envolvimento dos alunos da Escola José Garcia com o grupo
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do PIBID-CPAR (mediante a responsabilidade que lhes foi atribuída) e a geração de
espaços em que estes alunos possam se colocar.
Priorizou-se nas discussões relacionadas aos aspectos dos filmes, o envolvimento
dos alunos, no sentido de que estes focassem os elementos contidos no filme que tivessem
alguma relação com sua vida. Buscou-se valorizar a fala dos estudantes. Os filmes
selecionados possuem a característica de provocar nos alunos a reflexão sobre sua maneira
de ser (verbo) humano.
Cabe ressaltar que este projeto, iniciado com o resgate e discussão de alguns valores
a partir do cinema, deve continuar a partir de um movimento para construção de uma
versão histórica sobre a E.E. José Garcia, valorizando a tradição oral, os arquivos escolares
e o resgate da idéia de “velhice em aproximação com a experiência e a sabedoria”.
O grupo de Paranaíba ligado ao PIBID tem ganho espaço cada vez maior na escola
onde atua, de forma que os professores de matemática, ali atuantes, foram buscar neste
referência para sua formação continuada. De modo mais específico, esses profissionais
recorreram ao grupo mediante ao interesse (e necessidade, diante de exigências da escola)
em aprender sobre o uso da informática no ensino da matemática.
Esta procura estruturou o projeto “Em FormAção” que tem orientado a organização
de mini-cursos sobre Cabri Geomètre, Logo e Geogebra. Essa atividade tem envolvido
alunos do 3o ano da Licenciatura em Matemática, de forma que estes colaborem analisando
os mini-cursos (que lhes são ofertados previamente na disciplina de Prática de Ensino de
Matemática) quanto a atividades, linguagem e clareza. Essas atividades instauram uma
prática que pretende ser contínua, envolvendo outras temáticas levantadas junto aos
professores da rede pública de Paranaíba (como sólidos geométricos, funções e
trigonometria), bem como outras escolas do município durante 2010, para quando estão
previstas as atividades de capacitação de professores no município.
Os projetos desenvolvidos na escola permitem a articulação entre as teorias
estudadas na faculdade (sobre práticas de ensino, comunicação, pesquisa, análise de erros,
entre outras) e a dinâmica escolar, promovendo espaços de planejamento e regulação das
ações a serem implementadas.
A busca por um trabalho junto aos professores, traçando, de forma conjunta, novas
possibilidades para situações de ensino, reflete o exercício de uma necessária parceria.
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Cabe ressaltar que, inicialmente, o grupo PIBID-Paranaíba encontrou algumas
resistências por parte de docentes da Escola Estadual José Garcia Leal. Um dos motivos
identificados é a comum experiência desses professores com projetos de curta duração.
Pessoas, estranhas à escola, que se aproximam desta, aplicam um conjunto de atividades,
coletam dados para análise e, em seguida, se afastam. Assim, parte da confiança
conquistada, é atribuída à continuidade do trabalho realizado, ao interesse em conhecer a
dinâmica escolar planejando intervenções a partir das demandas apresentadas pela escola.
O trabalho que vem sendo desenvolvido visa, para além da condução de projetos
específicos, a busca por novas questões e encaminhamentos JUNTO a alunos e professores
a partir de uma maior conhecimento de suas atividades e cultura.
Dessa forma, como sugerido em D’Ambrósio (1996), a proposta é desenvolver
posturas, atitudes que permitam que alunos e professores (neste caso, do Ensino Médio e
Superior) problematizem suas práticas e, assim, movimentem-se em novas direções.
Referências
D’AMBRÓSIO, U. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas, SP: Papirus,
1996.
LINS, R. C. Por que discutir teoria do conhecimento é relevante para a Educação
Matemática. In.: BICUDO, M.A.V. Pesquisa em Educação Matemática: concepções e
perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1999. pp. 75-96.
SKOVSMOSE, O.; PENTEADO, M. G. Trabalho com Projetos na educação matemática.
Disponível
em:
http://www.sbem.com.br/files/ix_enem/Comunicacao_Cientifica/Trabalhos/CC232384518
71T.doc. Acesso em: Janeiro/2010.
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