Br eve história do Bre pensamento teórico em finanças Mudanças na gestão de negócios e nas finanças corporativas são o caminho para as empresas se manterem competitivas Poucos temas, na área permeada pela Economia, Administração e Finanças, experimentaram crescimento e impacto reais tão fantásticos no mundo dos negócios quanto o dos conceitos e modelos de determinação do preço de ativos. Esses novos modelos mudaram a abordagem das finanças corporativas, transformandoas, a partir de uma versão eminentemente descritiva, em uma outra voltada ao rigor analítico e à incorporação de características dos investidores e do mercado. O modelo conhecido como CAPM (Capital Asset Pricing Model) gerou proposições testáveis empiricamente e tornou possível a utilização de diversas ferramentas quantitativas nos bancos de dados financeiros disponíveis. Posterior extensão do CAPM revelou sua robustez teórica e, nas questões práticas, o modelo apresentou versatilidade ao ser aplicado na avaliação de ações, na determinação do custo de capital, na avaliação de empresas, em fusões e aquisições e em muitas outras. Finanças Corporativas Emilio Araújo Menezes As melhores decisões O conceito de Finanças, na sua acepção moderna, nasceu nos anos de 1950. Desde então, esta área tem ultrapassado muitas outras das mais tradicionais da Economia, em número de estudantes, professores e, principalmente, na quantidade e qualidade da produção científica. Constata-se que a maioria dos professores de Finanças leciona em cursos de Administração, em que a abordagem característica é normativa, isto é, um tomador de decisão, seja um investidor individual ou gerente empresarial, busca maximizar uma função-objetivo, seja em utilidade ou em retorno esperado, 48 r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .4, dez. 2002 ou agregar valor para o acionista, para um dado preço de título obtido no mercado. Em outras palavras, em escolas de Administração de Empresas se ensina como tomar as melhores decisões. Nestes últimos anos, um artigo normal em periódicos de Finanças costuma ter duas seções principais: a primeira apresentando um modelo e a segunda mostrando a aplicação empírica do modelo com os dados do mundo real. Sem pretender traçar uma visão completa da área, e aproveitando a visão de Merton Miller sobre alguns dos pontos fortes da história das Finanças destas últimas décadas, destacamos: Markowitz e a teoria da seleção de carteira (1952) Existe consenso entre os estudiosos em Finanças que o artigo de Harry Markowitz (Portfolio Selection, de 1952) foi o precursor da moderna teoria de Finanças, ao apresentar de maneira precisa, pela primeira vez, os conceitos de risco e retorno. Essa identificação de retorno e risco através de média e variância tão usada por profissionais de finanças hoje em dia não era tão óbvia naqueles dias! Essa façanha de Markowitz tornou possível a utilização da poderosa álgebra de matemática estatística nos estudos de seleção de carteiras. William Sharpe e o CAPM (1964) Alguns anos depois, Sharpe e outros iniciam a criação do seu modelo, imaginando um mundo no qual todo o investidor utiliza a teoria da seleção de carteiras de Markowitz através da média e variância. Sharpe supõe também que os investidores compartilham dos mesmos retornos esperados, variâncias e covariâncias. Mas ele não assume que todo investidor possui o mesmo grau de aversão ao risco. Assim, os investidores sempre vão poder reduzir o grau de risco, à medida que sejam tomadores de parcelas maiores de ativos livres de risco, junto com a combinação de carteiras de ativo de risco. O realismo ou a falta de realismo das suposições subjacentes ao CAPM não foi objeto de debates, pois se adotou a visão positivista de Friedman: o que conta não é a precisão das suposições mas as predições do modelo! E as predições deste modelo ainda são as melhores, apesar de todas as suas limitações. O CAPM implica que a distribuição dos retornos esperados de todos os ativos de risco é uma função linear do risco dos títulos, isto é, de sua covariância com a carteira de mercado ou o conhecido Beta. O CAPM não só ofereceu novos e poderosos argumentos na natureza do risco, mas permitiu uma investigação empírica necessária para o atual desenvolvimento de finanças. O modelo da média e variância de Markowitz e o CAPM de Sharpe e outros foram contribuições que tiveram seu valor científico reconhecido pelo comitê do prêmio Nobel de 1990. O CAPM não só ofereceu novos e poderosos argumentos na natureza do risco, mas permitiu uma investigação empírica necessária para o atual desenvolvimento de finanças A hipótese da eficiência de mercado Esta teoria, intimamente ligada ao modelo anterior, se refere à hipótese de mercados eficientes. Afirma-se que não há uma simples regra, baseada nos dados e informações publicamente disponíveis, que possa gerar ganhos extraordinários aos investidores; e que os preços das ações se comportam aleatoriamente (randon walk). Proposição de Modigliani e Miller Outro dos pilares sobre os quais as teorias de Finanças se baseiam são as proposições de Modigliani e Miller (M&M) sobre a estrutura de capital, com a publicação do seu primeiro artigo sobre custo de capital, finanças corporativas e teoria de investimentos. Tanto as proposições de M&M como o CAPM e a hipótese de eficiência de mercado tratam do equilíbrio no mercado de capitais e de quais forças atuam quando este equilíbrio é perturbado. Derivativos e Opções Estudos recentes em Finanças, também reconhecidos pelo Comitê do Prêmio Nobel, se situam no campo das Opções e de Derivativos, cujos pioneiros foram Merton e Scholes, seguidos de perto por Fischer Black. Contrato derivativo é um contrato cujo valor deriva do valor de uma taxa de referência, do valor de um título (ou de uma commodity) ou de um índice. A opção, por sua vez, é um instrumento que dá ... 49 r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n. 4, dez. 2 0 02 a seu comprador um direito futuro sobre algo, mas não uma obrigação, e ao seu vendedor uma obrigação futura, caso a opção seja exercida pelo comprador. A fórmula de Black-Scholes-Merton diz que o preço de uma opção é função do valor corrente de mercado do título, do preço futuro, do período até o vencimento e da taxa livre de risco, além da variância dos retornos deste título. A legislação, a mídia e a conscientização em relação aos direitos do cidadão e do consumidor têm obrigado as empresas a mudarem suas práticas de relacionamento com os clientes. Como é difícil “encantar o cliente” com empregados insatisfeitos, as organizações estão percebendo a necessidade de uma política adequada de recursos humanos. As práticas administrativas com foco no cliente permitiram que as “carroças brasileiras” se tornassem veículos dotados de Quais seriam as alternativas para novas pesquisas em tecnologia avançada, levando empresas, pertencentes a esta Finanças? Sem grandes especulações, poderíamos dizer que cadeia de valor, a melhorar a qualidade dos produtos e dos ainda há muito a se fazer no Brasil sobre esses temas em sistemas gerenciais. Essa revolução apresenta indiscutíveis impactos na finanças corporativas. Muitas questões não foram totalmente resolvidas, apesar de muitos modelos terem surgido, como formação de pessoal e tem levado as organizações a investir pesadamente em educação a teoria de agência ou governança e treinamento, com a participação corporativa, capital intelectual e A legislação, a mídia e a conscientização dos centros de excelência das intangíveis, finanças pessoais, em relação aos direitos do cidadão finanças comportamentais, universidades brasileiras, com e do consumidor têm obrigado as inteligência artificial e modelos destaque para a Faculdade de empresas a mudarem suas práticas financeiros, custo e estrutura de Administração e Economia (FAE), de relacionamento com os clientes capital. No Brasil parece ser muito que vem obtendo resultados promissora a questão da avaliação amplamente compensadores. dos ativos de renda fixa e seu índice de referência, Navegar nos métodos de ensino a distância é um exercício derivativos e ferramentas para suporte à tomada de decisão. recente, mas com crescente utilização nas suas variadas As tomadas de decisões econômicas por empresas e formas: telecurso, videoconferência, internet, chat... indivíduos são inerentes à vida e são fortemente O início deste novo milênio verá desigualdades nas influenciadas por aquilo que está acontecendo ou virá a populações de diferentes partes do país e do mundo. O acontecer no ambiente macroeconômico. Nesta última futuro será melhor para quem se preparar investindo em década, aconteceu uma verdadeira revolução nas tecnologia, administração e gerência dos seus negócios. As organizações, que estão se transformando para competir economias com menor índice de desemprego e melhor num mercado cada vez mais exigente. distribuição de riqueza são aquelas em que os mercados A gestão profissional é cada vez mais exigida para a dispõem de ferramentas para lidar com o futuro. Posicionasobrevivência e o desenvolvimento das empresas, se melhor o exportador que fixa uma taxa de câmbio, o especialmente com a informatização da comunicação e gestor que protege sua carteira através dos mercados de dos processos de trabalho. Engana-se quem pensa que o índices e opções, o agricultor que pode transferir seus riscos Brasil está fora disso! Só para lembrar um exemplo, o para o mercado e o empresário que investir na capacitação Brasil é hoje um dos poucos países no mundo onde o de seu pessoal. contribuinte faz e envia sua declaração de imposto de renda pela internet. O computador é ferramenta incorporada à vida do cidadão, tanto no interior como nas grandes cidades. Um número crescente de investidores está optando pelo investimento através de home-brokers, que nada mais é do que um sistema de negociação ligado com a Bolsa de Valores de São Paulo, que permite ao usuário dar ordens diretas de compra e venda por meio da internet. Emilio Araújo Menezes é mestre em Engenharia Econômica pela UFSC, O volume de negócios com home-brokers tem crescido doutor em Administração de Empresas pela FGV, professor da UFSC e a taxas expressivas e apresenta vantagem no custo, pois professor convidado da FAE Business School. as taxas cobradas em geral são mais baixas. E-mail: [email protected] Perspectivas futuras Finanças Corporativas Foco no cliente 50 r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .4, dez. 2002