XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
DIVERSIDADE E DISPERSÃO DE ESPÉCIES ARBUSTIVOARBÓREAS EM ÁREA DE VEGETAÇÃO DE CAATINGA NO
AGRESTE PERNAMBUCANO
Rosival Barros de Andrade Lima1, Roseane Karla Soares da Silva1, Luiz Carlos Marangon2, Ana Lícia Patriota
Feliciano2 e Joselane Priscila Gomes da Silva3

Introdução
A Caatinga compreende um tipo de vegetação estacional decidual que cobre a maior parte do semiárido da região
nordeste do Brasil, o qual se distribui por uma área de cerca de 800 mil km2 (Prado, 2003). De acordo com Rodal et al.
(2008), a vegetação de caatinga apresenta diversas fisionomias e conjuntos florísticos, cuja distribuição é determinada,
em grande parte, pelo clima, relevo e embasamento geológico que, em suas múltiplas inter-relações, resultam em
ambientes ecológicos bastante distintos. A complexidade e a diversidade dessa região são ampliadas por se tratar da
única ecorregião de floresta tropical seca do mundo cercada por florestas úmidas e semiúmidas (Brasil, 2006).
De acordo com Andrade et al. (2005), o bioma Caatinga vem sofrendo modificações que estão relacionadas a
processos antrópicos, em que, aproximadamente cerca de meio milhão de hectares de Caatinga são desmatados
anualmente (Campello et al., 1999), com algumas espécies sendo comercializadas e ameaçadas de extinção. Cerca de
30% dos produtos florestais extraídos são utilizados como energéticos unicamente na forma de carvão e lenha,
impossibilitando, muitas vezes, a regeneração natural (Campello et al., 1999).
O processo que mais se destaca na regeneração natural de uma floresta é a dispersão de sementes, que pode ser
considerada como um procedimento primário em relação à colonização das florestas, desempenhando papel
fundamental na evolução das espécies florestais. A dispersão de sementes acaba contribuindo no intercâmbio de
materiais genéticos e possibilitando a manutenção da biodiversidade das florestas (Ameida et al., 2008).
Rondon-Neto et al. (2001) afirmaram que o manejo e a recuperação das florestas alteradas dependem da eficiência
dos processos de dispersão dos propágulos e do estabelecimento das espécies de diferentes estágios sucessionais, sendo
importante na manutenção da regeneração natural durante a dinâmica de sucessão da floresta. Aliado a dispersão,
conhecer a diversidade de espécies numa área é fundamental para a compreensão da natureza e, por extensão, para
otimizar o gerenciamento da área em relação a atividades de exploração de baixo impacto, conservação de recursos
naturais ou recuperação de ecossistemas degradados.
Portanto, este trabalho teve como objetivo conhecer a diversidade de espécies e investigar as síndromes de dispersão
em uma área de vegetação de caatinga no Município de Águas Belas, PE, a fim de caracterizar as estratégias de
dispersão das espécies encontradas no levantamento florístico.
Material e métodos
O trabalho foi desenvolvido em vegetação de caatinga as margens do trecho da BR 423 que corta as terras indígenas
Fulni-ô, localizado no município de Águas Belas, o qual dista 313 km da capital do estado. O clima é do tipo AS,
segundo a classificação de Köppen. A temperatura e precipitação média anual estão em torno de 23,4ºC e 647 mm,
respectivamente e altitude de 387m.
A fim de se investigar as síndromes de dispersão das espécies foram instaladas 20 parcelas de forma aleatória de
400m² (20 m x 20 m), totalizando 0,8 ha de área amostrada. Todas as unidades amostrais foram georreferenciadas e os
indivíduos arbustivos arbóreos que apresentaram Circunferência à Altura do Peito – CAP (a 1,30 m do nível do solo) ≥
6,0 cm foram mensurados, sendo também mensurada posteriormente, a 0,30cm do solo, a circunferência na base – CNB
(≥ 5,0cm). As espécies foram agrupadas quanto às síndromes de dispersão, com base na classificação de Pijl (l982), em
três categorias: anemocóricas, zoocóricas e autocóricas. A caracterização das síndromes de dispersão foi baseada em
análises de literatura, incluindo-se apenas os táxons identificados em nível de espécie. A diversidade de espécies
arbustivo-arbóreas foi avaliada pelo índice de Shannon-Weaner (H’) e a equabilidade (J’) da distribuição do número de
indivíduos por espécies de acordo com Pielou (1975) e Magurran (1988), calculadas pelo programa FITOPAC 2.0.
Todos os indivíduos amostrados receberam placas de PVC com numeração crescente e sempre que possível a
determinação das espécies foi realizada in loco pela equipe. As que não puderam ser identificadas no local foram
coletadas para posterior identificação. Para a separação das famílias botânicas foi utilizado o sistema de classificação
Angiosperm Phylogeny Group (APG III, 2009). A correção da grafia e a autoria dos nomes das espécies foram feitas
pelo site do Missori Botanical Garden (http://www.mobot.org).
1
Doutorando em Ecologia e Conservação de Ecossistemas Florestais, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua Dom Manoel de
Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52.171-900. E-mail: [email protected]
Professor Adjunto do Departamento de Ciência Florestal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois
Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900.
3
Graduanda em Engenharia Florestal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE,
CEP 52171-900.
2
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Resultados e Discussão
No levantamento, foram amostrados 545 indivíduos (681 ind.ha-1), pertencentes a 11 famílias botânicas e 22
espécies. Dessas espécies, uma foi identificada apenas em nível de gênero e uma espécie não foi identificada, sendo
denominada como Indeterminada (Tabela 1).
Comparando o número de espécies com outros estudos florísticos em região de caatinga, como os de Araújo et al.
(2010) e Bessa & Medeiros (2011), verificou-se que a área do presente estudo possui maior número de espécies
amostradas.
De acordo com o índice de diversidade de Shannon-Weaner (H’), a área apresentou baixa diversidade florística, com
valores de 2,20 nat.ind-1. O índice de equabilidade de Pielou (J) resultou em um valor relativamente baixo J = 0,71 na
área amostrada, indicando uniformidade média entre os indivíduos e as espécies.
O índice de Shannon (H’) foi semelhante ao encontrado em outros trabalhos realizados em vegetação de caatinga,
como Oliveira et al. (2009) em pesquisa realizada na Serra do Monte, semiárido paraibano, Ferraz et al. (2006),
estudando a estrutura da vegetação no município de Floresta, semiárido pernambucano e Pereira-Júnior et al. (2013)
estudando a estrutura de um fragmento de Caatinga em Monteiro na Paraíba. Os valores encontrados são superiores aos
registrados por Miranda et al. (2000), estudando duas áreas de caatinga no núcleo de desertificação do Seridó, RN,
onde encontraram valores inferiores do índice de Shannon, 1,79 e 1,86.
O número de espécies autocóricas foi predominante no remanescente estudado (69,91%). Em ordem decrescente, as
espécies anemocóricas foram mais numerosas (13,21%) que as zoocóricas (7,34%). Este tipo de informação é
importante especialmente quando se analisa o potencial das espécies para recuperação de áreas degradadas, sendo que
espécies com síndrome zoocórica apresentam como aspecto positivo o fato de serem atrativas para a fauna nativa,
favorecendo o aporte de propágulos em áreas degradadas (Figura 1).
Referências
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Andrade, L.A.; Pereira, I.M.; Leite, U.T.; Barbosa, M.R.V. Analise da cobertura de duas fitofisionomias de caatinga,
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253- 262, 2005.
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p. 63-70, 2010.
Bessa, M.A.P.; Medeiros, J.F. Levantamento florístico e fitossociológico em fragmentos de Caatinga no município de
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MMA/SBF. 38 p. 2006.
Campello, F.B. et al. Diagnóstico florestal da região Nordeste. Brasília: IBAMA; PNUD, 1999. 20p.
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Mossoró, v. 22, n. 4, p.169-178, 2009.
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Pijl, L.V.D. Principles of dispersal in higher plants. 2 ed., Springer-Verlag, Berlim. 1982.
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Rodal, M.J.N.; Costa, K.C.C.C.; Silva, A.C.B.L. Estrutura da vegetação caducifólia espinhosa (Caatinga) de uma área
do sertão central de Pernambuco. Hoehnea, v. 35, n. 2, p. 209-217, 2008.
Rondon-Neto, R.M.; Watzlawick, L.F.; Caldeira, M.V.W. Diversidade florística e síndromes de dispersão de diásporos
das espécies arbóreas de um fragmento de Floresta Ombrófila Mista. Revista Ciências Exatas e Naturais, v.3, n.2,
p.167-175, 2001.
Silva, M.C.N.A.; Rodal, M.J.N. Padrões das síndromes de dispersão de plantas em áreas com diferentes graus de
pluviosidade, PE, Brasil. Acta Botânica Brasílica, v. 23, n. 4, p. 1040- 1047, 2009.
Tabela 1. Relação das famílias e espécies encontradas na área de caatinga, Águas Belas, PE, em ordem alfabética por família. Número
de indivíduos amostrados (Ni), Síndrome de dispersão (zoo = zoocoria, ane = anemocoria, auto = autocoria e sc = sem caracterização)
e Literaturas consultadas (Referências).
Família
Espécie
Ni
SD
Referências
Anacardiaceae
Myracrodruon urundeuva Allemão
Schinopsis brasiliensis Engl.
Spondias tuberosa Arruda
13
3
1
ane
ane
zoo
Silva & Rodal (2009)
Silva & Rodal (2009)
Luz et al. (2008)
Apocynaceae
Aspidosperma pyrifolium Mart.
39
ane
Luz et al. (2008)
Boraginaceae
Burseraceae
Capparidaceae
Euphorbiaceae
Cordia sp.
Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett
Capparis flexuosa (L.) L.
Jatropha mollissima (Pohl) Baill.
Acacia glomerosa Benth.
Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm.
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan
Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud.
Caesalpinia ferrea Mart.
Caesalpinia pyramidalis Tul.
Chloroleucon dumosum (Benth.) G.P. Lewis
Mimosa ophthalmocentra Mart. ex Benth.
Mimosa tenuiflora Benth.
Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke
Prosopis juliflora (Sw.) DC.
Ziziphus joazeiro Mart.
Indeterminada 1
2
1
32
14
58
2
15
12
12
1
179
1
3
91
48
4
11
3
zoo
zoo
zoo
auto
auto
ane
ane
auto
auto
auto
auto
sc
auto
auto
sc
zoo
auto
sc
Silva & Rodal (2009)
Luz et al. (2008)
Silva & Rodal (2009)
Silva & Rodal (2009)
Silva & Rodal (2009)
Silva & Rodal (2009)
Luz et al. (2008)
Luz et al. (2008)
Luz et al. (2008)
Luz et al. (2008)
Luz et al. (2008)
Silva & Rodal (2009)
Luz et al. (2008)
Luz et al. (2008)
Luz et al. (2008)
-
Fabaceae
Rhamnaceae
Indeterminada 1
Figura 1. Classificação da dispersão das espécies amostradas (%) em área de Caatinga, Águas Belas, PE, em que: Auto –
autocoria, Ane = anemocoria; sc = sem caracterização e zoo = zoocoria.
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