XI Salão de Iniciação Científica PUCRS O evolucionismo e seu impacto na cristologia brasileira e latinoamericana: retrospectiva e prospectiva Marcelo Carlesso, Prof. Dr. Érico João Hammes (orientador) Faculdade de Teologia, PUCRS Resumo A presente pesquisa visa pesquisar o impacto do evolucionismo na cristologia brasileira e latino-americana a partir do pensamento de Pierre Teilhard de Chardin. Como núcleo motivador desta pesquisa podemos citar as comemorações aos 200 anos do nascimento de Charles Darwin (1809-1882) e os 150 anos da publicação de sua obra fundamental “A origem das espécies”. O legado teórico de Charles Darwin é ainda hoje paradigma no meio científico que vê na sua teoria – a da evolução das espécies e da seleção natural – ponto de apoio para entender o processo pelo qual se deu a origem e o desenvolvimento da vida. Tal teoria mudou a forma de pensar este assunto em inúmeros campos de estudo – da biologia à antropologia – passando inclusive pela Teologia. Nesta última a teoria criacionista, ilustrada nas primeiras páginas da bíblia, começa a ser posta em confronto. No campo teológico encontramos também algumas pessoas que procuraram dialogar com as ciências, realizando um contraponto entre evolucionismo e criacionismo. Mais do que a compreensão de conceitos estão em jogo duas compreensões de mundo, desde a sua origem. O cientista e padre francês Pierre Teilhard de Chardin, partilhando desta visão, procurou aproximar ao ponto de vista científico o teológico. Seus estudos oferecem à teologia um segundo caminho pelo qual se pode entender a ação de Deus no Cosmos sem o ser pelo puro criacionismo, pregado há séculos pela Teologia. Naquilo que muitos definem como a teologia da evolução. Tendo presente esta perspectiva teilhardiana a pesquisa se desenvolverá sobre o aspecto cristológico do pensamento de Chardin procurando verificar o papel que Cristo desempenha no processo evolutivo do Cosmos, tendo por pressuposto que Teilhard de Chardin concebe Cristo como princípio e consumador de toda evolução e para onde tende todo o Cosmo. Num segundo momento, a pesquisa analisará a repercussão da cristologia teilhardiana em escritos XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1792 cristológicos latino-americanos como os de Jon Sobrino, Frei Betto, Francisco Bravo, Leonardo Boff e Urbano Zilles. Espera-se contribuir ainda mais para o diálogo entre ciência e teologia a partir da discussão criacionismo versus evolucionismo. Elucidar, a partir do pensamento de Teilhard de Chardin, o papel de Cristo neste processo de evolução. Por fim, visualizar a influência deste pensador em obras teológicas latino-americanas, especialmente brasileiras. Metodologia A metodologia a ser empregada constitui-se basicamente da leitura e fichamento da literatura teológica brasileira disponível sobre evolucionismo e cristologia. Da pesquisa e fichamento das principais páginas religiosas de internet sobre os assuntos supracitados. Elaboração de uma bibliografia contendo publicações referentes à Teilhard de Chardin em língua portuguesa. Por fim a elaboração de um texto a ser publicado. Resultados e discussão Na elucidação de seu pensamento Chardin desenvolve termos como: processo de complexidade e consciência, noosfera, hominização, ponto alfa e ômega... no qual vai revelando-nos o processo de evolução das coisas desde as simples às complexas até o surgimento da consciência. Entre o início (alfa) até o fim (ômega) encontramos Cristo como tendência do Cosmos, princípio e consumador de toda evolução. Nesta linha, Jesus será enfocado como o “motor” e o “objetivo final” de todo o processo evolutivo. Chardin chama o Cristo de “o Cristo evolutivo”, ou de “ponto-ômega” para o qual tudo converge. Neste processo, a cristificação do universo (tudo em Cristo) é a meta do caminho evolutivo. Cristo, então, seria como que o ápice de uma abóboda, no qual se encerra e completa todo o processo da evolução. No entanto, no decurso desta pesquisa, alguns pontos de questionamento se impõem: Chardin muito fala da evolução do cosmos, mas não se posiciona explicitamente sobre o ato de criação do mesmo. Porque Chardin não se interessa muito por este fato crucial? Quem seria o criador? Porque a Cristo foi dado a tarefa de motor evolutivo? Em que o Pai e o Espírito Santo participam deste processo? Como, na leitura de Chardin, não cair no panteísmo? Teologicamente não seria forçoso demais atribuir a Cristo o papel de agente evolutivo? E a redenção onde se situa na evolução? Esses e outros necessitam ainda de esclarecimentos. XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1793 Conclusão Algumas conclusões podemos ter presente. Em primeiro lugar há uma razoável quantidade de livros escritos por Teilhard de Chardin traduzidos para a língua portuguesa. Embora suas obras componham uma coleção muito maior os principais títulos, aqueles essenciais para entender o pensamento teilhardiano, já estão publicados em língua portuguesa. Em segundo lugar, percebe-se nos últimos anos o grande interesse de pesquisadores nas obras de Chardin, principalmente na área da Filosofia, seguida pela Teologia e até mesmo pelo Direito. Isto demonstra a transversalidade dos escritos teilhardianos e o interesse que geram na comunidade científica. Poucos estudos, porém, referem-se à visão teológico/cristológica de Chardin. Nenhuma trata da sua repercussão na América Latina. Referências ARNOULD, Jacques. Darwin, Teilhard de Chardin e Cia: a Igreja e a evolução. São Paulo: Paulus, 1999. ———. A Teologia depois de Darwin: elementos para uma teologia da criação numa perspectiva evolucionista. São Paulo: Loyola, 2001. BETTO, Frei. Sinfonia universal: a cosmovisão de Teilhard de Chardin. São Paulo: Ática, 1997. BOFF, Leonardo. O evangelho do Cristo cósmico: a realidade de um mito, o mito de uma realidade. São Paulo: Vozes, 1971. CHARDIN, Pierre Teilhard de. Ciência e Cristo. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1974. ———. Itinerário do cosmo ao Omêga. Petrópolis: Vozes, 1968. ———. Mundo, homem e Deus. Textos selecionados e comentados por José Luiz Archanjo. São Paulo: Cultrix, 1978. COLOMER, Eusébio. A evolução segundo Teilhard de Chardin. Tradução de Manuel Versos Figueiredo. Porto: Tavares Martins, 1967 (Coleção Prisma, 4). FREIRE-MAIA, Newton. Criação e evolução: Deus, o acaso e a necessidade. Petrópolis: Vozes, 1986. SOBRINO, Jon. Teilhard de Chardin en sus cartas. Estudios Centroamericanos, v. 20, 1965, El Salvador, p. 223-227. SOUZA, Maria Aparecida de. Criação e evolução: em diálogo com Teilhard de Chardin. Porto Alegre. 144 f. Dissertação (Mestrado em Teologia) - Faculdade de Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2007. ZILLES, Urbano. Criação ou evolução? 2 ed. Porto Alegre: Edipucrs, 1995 (Coleção debates, 1). ———. Pierre Teilhard de Chardin: ciência e fé. Porto Alegre: Edipucrs, 2001. XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1794