PALEOANTROPOLOGIA PARA INICIANTES UM CURSO ILUSTRADO SOBRE A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA HUMANA Por Euder Monteiro (revisão e edição por Fernando Bilharinho) Ardi (Ardipithecus ramidus) e Lucy (Australopithecus afarensis), duas damas do passado. Fonte: Revista Veja PALEOANTROPOLOGIA PARA INICIANTES: Um curso ilustrado sobre a evolução biológica humana ÍNDICE: Introdução Capítulo1: O surgimento do Homo sapiens Capítulo 2: Homo neanderthalensis Capítulo 3: Homo sapiens X Homo neanderthalensis: hibridismo Capítulo 4: Homo floresiensis Capítulo 5: Homo erectus Capítulo 6: Gigantopithecus, os maiores primatas de todos os tempos Capítulo 7: Homo ergaster Capítulo 8: Homo rudolfensis e Homo habilis Capítulo 9: O mundo há 2 milhões de anos Capítulo 10: Outras Espécies do Gênero Homo Capítulo 11: O Polegar Opositor Capítulo 12: Importantes Marcos Pré-Históricos Capítulo 13: O gênero Australopithecus Capítulo 14: Berço da Humanidade Capítulo 15: Australopithecus afarensis: um velho conhecido Capítulo 16: Australopithecus afarensis: outro velho conhecido Capítulo 17: Australopithecus gahri: quase Homo? Capítulo 18: Australopithecus sediba: uma descoberta recente Capítulo 19: Australopithecus anamensis: o mais antigo Capítulo 20: Curiosidades sobre os Australopithecus Capítulo 21: Paranthropus: um gênero paralelo aos humanos Capítulo 22: O início da expansão cerebral Capítulo 23: Homossexualidade Capítulo 24: Os grandes antropóides antigos Capítulo 25: Bipedalismo Capítulo 26: Parto de um chimpanzé (descrição) em relação ao parto humano Capítulo 27: Kenyanthropus platyops: um bípede misterioso Capítulo 28: Por que você não tem rabo? Capítulo 29: Teorias heterodoxas APÊNDICES: 1. Lista de espécies humanas e pré-humanas 2. Classificações completas de alguns primatas 3. Algumas observações sobre a classificação dos primatas 4. Sugestões de leitura 5. Sugestões de Livros 6. Para conversar com o autor Introdução: A Paleoantropologia estuda, em suma, a evolução das espécies pré-humanas e das espécies do gênero Homo, incluindo nossa própria espécie: Homo sapiens. A Paleoantropopologia (“Paleo”, do grego, significa antigo, indicando que se trata do estudo da Antropologia antiga, ou pré-histórica) é uma junção de ramos científicos importante: a Paleontologia e a Antropologia. A Paleoantropologia realiza estudos antropológicos de todas as características físicas, modos de vida, interações sociais e outros aspectos dos pré-humanos e dos humanos, além das relações de parentesco entre as espécies. A Paleontologia é bastante utilizada pelos Paleoantropólogos, como, por exemplo, quando fósseis de animais pré-históricos auxiliam ou complementam os outros métodos de datação dos sítios arqueológicos, tendo em vista que é possível saber em que época determinados paleoanimais viveram. Fonte das imagens: http://humanorigins.si.edu A Paleoantropologia também pode valer-se de ciências afins, como a Genética, a Arqueologia, a Geologia, e muitas outras. Quando são encontrados fósseis acompanhados de animais pré-históricos e/ou ferramentas e/ou vestígios de fogueira, por exemplo, é possível fazer uma análise muito mais completa do sítio arqueológico quando os conhecimentos de todas essas ciências em conjunto forem utilizados. Os vestígios de ferramentas são fundamentais e, naturalmente, é possível saber de que material as mesmas foram feitas. A Geologia informa qual o grau de dureza de determinado material, se mais maleável como o marfim ou o mármore, ou mais rígido como o minério de ferro. A Geologia é capaz de fornecer detalhes espantosos sobre as pedras e rochas, como a idade delas (o que também ajuda na datação dos fósseis). Recentemente, a Genética promoveu uma significativa colaboração aos estudos paleoantropológicos, tendo em vista que foi possível extrair amostras de DNA de alguns fósseis mais recentes. No entanto, a principal fonte de conhecimentos da Paleoantropologia são os ossos fossilizados de humanos e pré-humanos, que, sozinhos, fornecem uma fonte gigantesca de informações, principalmente a partir dos anos 1990, quando algumas características não-métricas dos ossos começaram a receber tratamento estatístico mais elaborado. Neste curso, serão estudadas cada uma das espécies do nosso gênero (Homo) e dos gêneros ancestrais, o paleoambiente onde viviam e os caminhos evolutivos totalmente aleatórios e casuais (mas obedecendo as leis da Evolução) pelos quais passaram. Capítulo 1: O surgimento do Homo sapiens A maioria dos paleoantropólogos acredita que o Homo sapiens surgiu na África (na parte oriental ou no sul do continente) entre 150.000 e 200.000 anos atrás. O fóssil mais antigo de Homo sapiens foi apelidado de "Herto", tem entre 150.000 e 160.000 anos de idade, e ainda exibe algumas características arcaicas, como ligeiras protuberâncias supra-oculares. Essa protuberâncias são um tipo de viseira óssea sobre os olhos que aparece em todos os hominídeos, exceto nos Homo sapiens tardios. Sua função, segundo o paleoantropólogo Richard Klein, no livro "O Despertar da Cultura", seria impedir que a face se partisse em duas com as forças causadas pelos músculos das mandíbulas durante a mastigação. Nossa testa alta e escarpada faria as vezes dessa protuberância, distribuindo e absorvendo tais forças. Aliás, alguns povos atuais, como os aborígines australianos, os pigmeus asiáticos e alguns povos africanos ainda exibem muitos traços anatômicos primitivos. Os aborígines ainda possuem resquícios dessa protuberância supra-orbital, além de alguns outros povos e pessoas isoladas. Ao longo deste curso, falaremos mais sobre esses aspectos anatômicos. Apesar de ter surgido há aproximadamente 200 mil anos, apenas há 50.000 anos o Homo sapiens começou a imprimir aperfeiçoamentos constantes à sua tecnologia, sendo também nessa época o início do pensamento abstrato e simbólico, conforme explicou Klein em seu livro “O Despertar da Cultura”. Alguns autores, inclusive Klein, consideram que houve uma mutação genética que teria aumentado o número de sinapses cerebrais dos sapiens há 50.000 anos, tendo em vista que não houve nenhuma alteração física ou morfológica nesse período. Outros autores defendem que a capacidade de pensamento abstrato surgiu com o Homo sapiens há quase 200.000 anos, mas apenas há 50.000 anos encontrou condições de desenvolvimento. Atualmente, há cada vez mais evidências arqueológicas indicando essa última possibilidade e mais, são encontradas evidências cada vez mais antigas do pensamento abstrato/simbólico. Pessoalmente, acredito que o potencial para o pensamento simbólico surgiu com a nossa espécie e desenvolveu-se mais tarde, quando as condições climáticas na Terra se mostraram mais favoráveis. Robert Foley, da Universidade de Cambridge, e autor de vários livros (entre eles: "Os Humanos Antes da Humanidade") também pensa assim. Ou seja, a partir de 50.000 anos, ou antes, o clima na África (berço da cultura simbólica) teria permitido um significativo aumento populacional (conforme se verá adiante), impulsionando também o desenvolvimento cognitivo humano. Quando surgiu, nossa espécie dividia o planeta com o Homo neanderthalensis, com o Homo floresiensis, com o Homo erectus e com uma espécie ainda não identificada, cujo único fóssil é conhecido como "Mulher X". Ao longo do curso, vamos falar mais sobre essas espécies. Como vimos, na literatura paleoantropológica há duas hipóteses principais para o relativamente repentino surgimento da cultura simbólica há 50.000 anos (lembrando que apenas há 30.000 anos a revolução espalhou-se pelo mundo), a saber: 1ª. O Homo sapiens, quando surgiu, com seu cérebro reconfigurado em relação às outras espécies Homo, já era capaz de pensamentos simbólicos e de imprimir constante e acelerado aperfeiçoamento à sua indústria. No entanto, essa capacidade permaneceu inerte até que o clima da Terra permitiu um aumento populacional razoável e condições menos duras de sobrevivência; 2ª. Há 50.000, na África, houve uma mutação genética em uma das tribos humanas que, ao longo dos muitos milênios seguintes, espalhou-se por todas as populações. Essa mutação conferiu um aumento significativo na quantidade de sinapses ou uma reconfiguração nos neurônios, permitindo o desenvolvimento de atividades que até então nenhuma espécie havia alcançado, principalmente o pensamento por meio de símbolos. Apesar de a revolução cultural ter ocorrido há tanto tempo, apenas há 6.000 anos (mais ou menos) proto-civilizações surgiram no planeta, em três pontos separados do globo (Egito, Mesopotâmia e China). Com elas vieram a agricultura, as cidades, as profissões, etc. Antes disso, vivíamos como nômades, caçando animas e coletando frutas, sem muita expressão cultural, em comunidades pequenas e espalhadas. Alguns autores chegam a afirmar que umas 2.000 pessoas constituíam toda a espécie humana, e a maioria acredita que éramos, no máximo, 30.000 ou 50.000 indivíduos, divididos em aldeias de mais ou menos 200 habitantes cada. Veja a gravura abaixo, onde se pode perceber com facilidade a evolução da população humana ao longo dos últimos 200.000 anos: Fonte: Revista Veja (edição 2.059, 07/05/2008) Em seu livro “O Despertar da Cultura” (páginas 195 a 197), Craig Stanford, descreve da seguinte maneira o grande despertar humano: "Deixando de lado rótulos e datas precisas, o aspecto básico é que as populações da Idade da Pedra Posterior e do Paleolítico Superior [após o despertar] são as primeiras a que podemos atribuir a capacidade plenamente moderna de produzir cultura, ou talvez, com maior precisão, a aptidão completamente moderna de inovar. Foi com certeza essa capacidade que permitiu que os povos da Idade da Pedra Posterior e do Paleolítico Superior se dispersassem à custa dos seus contemporâneos mais primitivos, começando entre 50.000 e 40.000 anos atrás. As inovações incluíram casas construídas solidamente, roupas costuradas, fogueiras mais eficientes e uma nova tecnologia de caça que permitiu aos Cro-Magnons do Paleolítico Superior deslocar seus predecessores, ajudando-os também a colonizar as partes mais continentais e inóspitas da Eurásia, onde ninguém havia vivido antes." Não há dúvidas de que o despertar não fez surgir apenas pinturas rupestres, mas revolucionou o modo de vida dos humanos. 1.1. Teorias sobre o surgimento do Homo sapiens Existem duas teorias básicas sobre o surgimento do Homo sapiens, que, de forma resumida, podem ser explicadas assim: a. Teoria do Berço Africano, também conhecida como "Out of Africa" (África para fora) ou Arca de Noé; b. Teoria Multirregional, também conhecida por "Candelabro". A primeira teoria, mais aceita atualmente, dispõe que os primeiros Homo sapiens surgiram na África, provavelmente na África Oriental (ou no sul do continente) e, de lá, se espalharam pelo Oriente Médio, Ásia, Oceania, Europa e Américas (nessa ordem). Além de muitos fósseis darem a entender que essa teoria está correta, agora a Genética também a corrobora. Estudos genéticos apontam claramente a África como origem de todos os humanos atuais. Primeiro os fósseis: na África, foram encontrados diversos fósseis que indicam claramente a tendência evolutiva em direção ao Homo sapiens. O Homo erectus africano, conhecido como Homo ergaster (homem trabalhador, em latim) possui uma morfologia muito mais parecida com a nossa do que o Homo erectus da Ásia. Aliás, muitos paleoantropólogos, como G. J. Sawyer e Victor Deak, autores de "The Last Human – A Guide to Twenty-Two Species of Extinct Human" (um dos livros mais atuais sobre o tema, ainda sem edição em português) e também Richard Klein, defendem a existência de 2 espécies de Homo erectus asiáticos, a encontrada na China e a outra da Indonésia. Realmente há diferenças pequenas entre as duas morfologias, principalmente no formato da parte superior do crânio. Os fósseis mostram que o Homo ergaster é o mais provável ancestral humano, anterior ao Homo heidelbergensis. Além disso, formas claramente ancestrais, como o Homo heidelbergensis (homem de Heidelberg, uma cidade alemã) e o Homo sapiens idaltu (idaltu significa mais antigo, em uma língua africana da região de Afar, também conhecido como “Herto”, descobertos por Tim White em 2003), são encontrados na Europa e África, respectivamente. Tais fósseis demonstram que o Homo sapiens desenvolveu-se paralelamente ao Homo neanderthalensis e distinguiu-se das outras espécies enquanto estava em seu berço africano. A Genética também confirma a origem africana, baseada em análises do DNA mitocondrial e no próprio DNA nuclear. Sobre esse aspecto, para maiores informações, sugiro o livro "Genes, Povos e Línguas" de Cavalli-Sforza, um grande especialista no assunto. Em relação à teoria multirregional: seus defensores acreditam que o Homo sapiens surgiu concomitantemente na África e na Ásia (e talvez em outras regiões como a Oceania e Europa). Argumentam, dentre outras coisas, que um surgimento isolado na África dependeria de uma ampla substituição posterior de espécies. Ou seja, o Homo sapiens teria que substituir, inteiramente, os Neandertais na Europa e o Homo erectus na Ásia e na Oceania, o que seria difícil de ocorrer. Para isso, deveria haver uma constante troca de genes entre as populações para manter todas elas unidas em uma mesma espécie. Essa teoria, hoje em dia, está sofrendo severos ataques, principalmente oriundos da Genética. É que todas as diferenças étnicas são causadas por mutações genéticas recentes na história evolutiva, indicando que as mesmas ocorreram muito tempo depois do surgimento da espécie. Há cada vez mais indícios de que o Homo sapiens hibridizou-se (em pequena escala) com populações nativas de outras espécies humanas (como o Homo neanderthalensis) em diversas partes do mundo. Mas isso não é suficiente para fortalecer a hipótese multirregional. 1.2. Questões interessantes sobre o gênero humano: 1.2.1. Alguma outra espécie de humanos conseguiu desenvolver a cultura abstrata/simbólica? O único humano, além dos Homo sapiens, de que se tem alguma evidência de uma mudança cultural foi o Homem de Neandertal. Esse humano experimentou, por 270 mil anos, a cultura Mousteriense e, só então, vivenciou as culturas Chatelperronense, Aurignaciana, e Gravettiana, possivelmente através de contatos com o Homo sapiens. Atualmente, há evidências de que os Homo neanderthalensis tardios conseguiram, sem a ajuda dos Homo sapiens, aperfeiçoar sua tecnologia de fabricação de ferramentas (Livro “O Colar do Neandertal” – ver referências no final). 1.2.2. Por que o Homo sapiens demorou tanto para desenvolver sua civilização? Na Era do Gelo havia caça abundante. Bastava que as populações acompanhassem as manadas em movimento para ter comida fácil. Depois, a megafauna desapareceu, junto com as contínuas e vastas estepes eurasianas e americanas. Tornou-se necessário permanecer próximo a vales de rios ou à beira do mar, tentando aprender a produzir alimento, que deixou de ser fácil de obter. E fazer isso só era possível se os humanos se agrupassem em sociedades maiores, divididas por categorias ou classes, dedicando-se, cada uma, a funções especializadas. 1.2.3. Até quando o Homo sapiens conviveu com os outros humanos? Até mais ou menos 16 mil anos atrás, na Ilha de Flores (atual Indonésia), ainda havia Homo floresiensis. Até hoje, há lendas nativas sobre a existência de seres conhecidos como “Ebu Gogo”, na ilha. Houve também uma convivência com os Neandertais, principalmente na Europa e no Oriente Médio até uns 30.000 anos atrás. Além disso, há evidências de convivência com os Homo erectus, na Ásia, até uns 45.000 anos atrás. Adiante, estudaremos mais sobre tais espécies. 1.2.4. É verdade que o povo basco pode ser descendente direto dos Cro-Magnon? Essa informação pode ser encontrada no livro "Genes, Povos de Línguas" de Luigi Luca Cavalli-Sforza. É mesmo possível que os atuais bascos, que hoje habitam o norte da Espanha e o sul da França, possam ser descentes dos primeiros Homo sapiens que habitaram a Europa, conhecidos como Cro-Magnons. Sforza baseou-se em evidências genéticas e protéicas, e também na língua falada por eles. É um estudo muito interessante. 1.2.5. Por que alguns fósseis humanos antigos são chamados de Cro-Magnon? Os primeiros Homo sapiens já se dividiam em etnias. Além dos Cro-Magnons, temos os Grimaldi (de características negróides), os Chancelade (parecidos com os CroMagnons, porém mais baixos) e muitas outras. Além disso, alguns autores subdividem nossa espécie em subespécies: Homo sapiens pressapiens, Homo sapiens fossilis (divididos em Cro-Magnons e outras etnias já citadas), Homo sapiens idaltu, etc. 1.2.6. Quanto maior o cérebro, mais inteligente é a espécie? O volume cerebral não é, por si só, um bom indicador de inteligência. Se não fosse assim, as baleias, com cérebros de 30kg seriam imbatíveis no xadrez. Nem mesmo o tamanho relativo do cérebro é um indicador confiável, porque os ratos, por exemplo, têm um cérebro maior do que o nosso, em termos relativos (em relação ao tamanho do corpo). Tampouco podemos considerar o índice de encefalização como um indicador confiável. Esse índice mede o tamanho esperado do cérebro em relação ao corpo, mas não leva em consideração aspectos da arquitetura cerebral. Vale a configuração do encéfalo: o número de neurônios, o número de sinapses e a forma como estão distribuídos nas diversas regiões encefálicas. O autor Robert Foley, em seu livro "Os Humanos Antes da Humanidade", páginas 202 e seguintes, discorre à exaustão sobre isso. A comparação de cérebros é algo muito complexo, mesmo se compararmos indivíduos de uma mesma espécie. Pessoas com cérebros pequenos, como Santos Dumont, podem ser gênios com intelecto muito poderoso e outras, com grandes cérebros, podem ser medianamente inteligentes. A inteligência pode assumir muitas manifestações (inteligência emocional, esportiva, matemática, etc.), o que complica ainda mais as comparações. O que é necessário ficar claro é que a inteligência não está diretamente relacionada ao tamanho do cérebro. Fatores como a arquitetura cerebral são importantes. Por exemplo: os Neandertais tinham um cérebro maior do que o nosso, mas o córtex frontal deles era menos desenvolvido. O cérebro deles era voltado para trás e não para cima, como o nosso. Outro exemplo: os Australopithecus tinham um cérebro um pouco maior do que o de um chimpanzé atual, no entanto, esse último tem um corpo mais volumoso, o que dá a entender que o índice de encefalização australopitecíneo era bem maior. Mamíferos, em geral, têm cérebros maiores e mais desenvolvidos. No entanto, dentre os mamíferos, os primatas são imbatíveis quanto ao número de neurônios por massa encefálica. Comparando, por exemplo, uma capivara e um macaco de tamanho semelhante, pode-se identificar, claramente, um volume encefálico aproximado entre essas espécies, porém uma enorme diferença no número de neurônios. Fonte: http://www.suzanaherculanohouzel.com/herculano-houzel-et-al-2007-pn Isso se deve, em parte, à longa história de vida em grupo dos primatas, o que gera interações complexas entre os indivíduos. Outras explicações aceitas são relacionadas à busca por comida, a necessidade de fugir de muitos predadores, etc. 1.2.7. Quais as principais forças evolutivas? O que leva ao surgimento de novas espécies ou a extinção de espécies antigas? Vejam o que nos informa o livro “Genes, Povos e Línguas” (página 65): "Desde os primórdios da genética moderna, quatro forças evolutivas foram identificadas: a mutação, que produz novos tipos genéticos; a seleção natural, o mecanismo que seleciona automaticamente os tipos mutados mais bem adaptados a determinado ambiente; a deriva genética, que consiste na oscilação aleatória das freqüências gênicas em populações; e a migração, às vezes chamada de fluxo gênico. A deriva genética é a mais abstrata delas, embora nada mais seja do que a oscilação aleatória da freqüência gênica ao longo de várias gerações." Fatores como mudanças climáticas, que alteram o ambiente ao qual a espécie está adaptada, também são importantes motores evolutivos. Outros fatores como as mudanças nas placas tectônicas (que alteram o tamanho e a configuração dos continentes), ciclos climáticos do planeta, interações entre espécies diferentes, e outros, também contribuem significativamente na evolução e extinção das espécies. O livro “Human Evolution: An Illustrated Introduction” discute à exaustão todos os motores da evolução e da extinção. Na verdade, pequenas variações topográficas que podem isolar membros de uma espécie podem levar ao surgimento de uma nova espécie (especiação). 1.3. Outras Informações Importantes sobre o Surgimento do Homo sapiens As informações abaixo foram retiradas e compiladas do livro "The Last Human", pelo Dr. Fernando Bilharinho: “1. O nome Homo sapiens apareceu pela primeira vez na décima edição de Systemae Naturae de Carl Linnaeus publicada em 1758; 2. Não existe consenso sobre o que é um Homo sapiens moderno. Os mais antigos fósseis indubitavelmente creditados como Homo sapiens moderno datam de 94 mil AP (Antes do Presente) e foram encontrados em Israel. Há muitos fósseis que apresentam pequenas variações que devem ser consideradas aceitas dentro de uma espécie. Mesmo entre Homo sapiens atuais, há diferenças importantes: os !Kung San (o ponto de exclamação no início do nome indica que o leitor deve estalar a língua nos dentes) da Namíbia, por exemplo, não possuem um queixo considerado moderno. Assim, ampliando o espectro, podemos chegar a Homo sapiens modernos já há 260 mil anos na África do Sul e 270 mil anos no Quênia. 3. A tendência atual é considerar o Homo sapiens como descendente do Homo heidelbergensis. Como o heidelbergensis é muito mais parecido com o neanderthalensis do que conosco, é provável que o Homo sapiens primitivo, ou outro nome que venha a receber, tenha surgido a partir dessa espécie há 600 mil anos." Acrescento a seguinte informação: o autor Craig Stanford, autor do livro "O Despertar da Cultura", também argumenta, na página 181 do livro supracitado, que até mesmo os aborígines australianos têm supercílios relativamente salientes o que, a rigor, é um detalhe não moderno de suas anatomias. Concluindo, o autor afirma que a modernidade anatômica do Homo sapiens ainda é uma questão polêmica dentro da Paleoantropologia. É possível reduzi-la a tal ponto que teríamos que excluir alguns povos atuais (!), ou ampliá-la a tal ponto que poderíamos até incluir os Neandertais nessa classificação (!). Cor da pele do Homo sapiens (distribuição geográfica original) 1.4. Ilustrações para estudo: Percebam nas figuras, especialmente, os seguintes detalhes anatômicos: a. Protuberância supra-ocular; b. Presença ou ausência do queixo (neanderthalensis não tinham queixo); c. Formato do crânio (testa baixa e recuada dos neandertais; e alta e escarpada nos sapiens). Homo sapiens idaltu (Photo © 2001 David L. Brill Brill Atlanta) Capítulo 2: Homo neanderthalensis Há apenas 30.000 anos, Neandertais ainda perambulavam pela Europa. Seu último refúgio foi a Península Ibérica, mas, no auge, o povo neandertal ocupou quase toda a Europa, grande parte do Oriente Médio (principalmente nas imediações de Israel) e também grande parte do restante da Ásia. Os fósseis dessa espécie são encontrados desde o século XIX, e, hoje, são milhares já catalogados, alguns em excelente estado de conservação, sendo possível, inclusive, estudar seu genoma, que já foi quase inteiramente mapeado. Os primeiros fósseis foram encontrados no vale do rio Neander, na Alemanha, daí a origem do nome. Em alemão, Neanderthal escrevia-se com "th", hoje, após reformas, escrevese "Neandertal", com o "h" abolido. No entanto, o nome da espécie latinizado mantém o "th", sendo que as duas formas são aceitas hoje em dia para se referir coloquialmente à espécie. O Homo neanderthalensis é a espécie humana mais bem conhecida, além da nossa, é claro. Existe uma ampla literatura específica sobre o tema. Sugiro, para o leigo que desejar conhecer um pouco mais sobre o assunto, a leitura do livro "O Colar do Neandertal", escrito por Juan Luis Arsuaga, espanhol, especialista em Neandertais. Homo neanderthalensis (Fonte: Coleção de Thomas van deer Laan – Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP) 2.1. Convivendo com Neandertais: Com toda certeza, os primeiros sapiens a chegarem aos domínios neandertais, principalmente no Oriente Médio e sul da Europa, mantiveram um contato profundo com eles. Os paleoantropólogos já aceitavam a existência de troca cultural, tendo em vista que a cultura neandertal, conhecida como Mousteriense, aparentemente pode ter sofrido influência das primeiras culturas sapiens (principalmente a Chatelperronense). É bom que tenhamos uma pequena noção sobre essas culturas antigas. Vejam o resumo abaixo, retirado da Wikipedia: "Esta cultura técnica, atribuída aos Neandertais, designada como Mousteriense, consistia na produção de ferramentas de pedra lascada produzidas através do desbastamento em leque de um bloco lítico inicial (ou núcleo), de que se formavam lascas a partir das quais se encadeava a produção de instrumentos diversos, como machados manuais para tarefas específicas, bifaces, raspadeiras, furadores e lanças. Muitas dessas ferramentas eram bastante afiadas. No Paleolítico Superior desenvolveram uma cultura material mais evoluída de talhe da pedra, designada de Chatelperronense, caracterizada pelo desdobramento do núcleo lítico em peças menores e mais manuseáveis." (Fonte: Wikipedia.com) A tecnologia Mousteriense produzia cerca de 20 tipos diferentes de ferramentas, como machados de mão. A Chatelperronense produzia mais de 60 tipos de ferramentas, com um acabamento ligeiramente superior. É possível que essa superioridade tecnológica do Homo sapiens tenha contribuído para a extinção dos Neandertais. No entanto, as últimas descobertas genéticas, conduzidas pelo geneticista sueco Svant Päabo, indicam o que muitos já esperavam: houve cruzamentos entre as espécies sapiens e neanderthalensis, e isso ficou marcado no genoma de nossa espécie até hoje. Porém, tais cruzamentos foram raros, como se verá adiante. 2.2. A aparência dos Neandertais: Os Neandertais tinham um corpo muito adaptado a climas frios, por isso eram mais largos e mais baixos, em média, do que os sapiens arcaicos, que evoluíram em regiões quentes da África. Fonte: Jornal Folha de São Paulo Outras diferenças anatômicas poderiam ser facilmente notadas: ausência de queixo, testa baixa, crânio voltado para trás, pernas arqueadas, dedos grossos e fortes, músculos muito desenvolvidos, espaço retromolar (espaço entre o último dente molar e a mandíbula), rosto projetado para frente, cérebro relativamente maior, que poderia atingir 1.700 centímetros cúbicos (os sapiens têm, em média, 1.400 cm3), e algumas outras pequenas diferenças. A figura abaixo foi retirada do livro “O Despertar da Cultura” de Richard G. Klein e Blake Edgar (figura 6.4). Segundo os autores, a ilustração foi desenhada por Kathryn Cruz-Uribe a partir de modelos: 2.3. Curiosidades sobre os Neandertais: 2.3.1. Por terem evoluído em um clima muito frio, durante o Pleistoceno europeu, a pele deles certamente era muito clara e, segundo indícios fósseis, seus cabelos, quase sempre eram ruivos. 2.3.2. Alguns grupos étnicos atuais de Homo sapiens têm características semelhantes aos Neandertais. Por exemplo: os inuítes (que não gostam de ser chamados de "esquimós", termo considerado pejorativo por eles) também têm corpos muito robustos e atarracados, porque residem há milênios em terras muito frias. Os aborígines australianos, como já dito aqui, têm pequenas protuberâncias supra oculares e, aliás, apesar de negros, são os povos mais distantes geneticamente dos africanos. A cor da pele deles convergiu para negra após nova adaptação ao ambiente da Oceania. 2.3.3. Estudando os ossos da boca, principalmente o hióide, é possível concluir que, se os Neandertais falavam, a voz deles deveria ser extremamente anasalada, gutural e seccionada. Alguns pesquisadores simularam a voz dos Neandertais e disponibilizaram isso na internet: http://www.acemprol.com/viewtopic.php? f=16&t=245. Fonte: Jornal Folha de São Paulo 2.4. Extinção dos Neandertais: Quase todas as hipóteses sobre a extinção dos Neandertais passam pela competição com os sapiens, que, além de possuírem uma tecnologia superior, eram capazes de raciocínios estratégicos sofisticados (como, por exemplo, criar táticas de guerra). Juan Luis Arsuaga, em seu livro "O Colar do Neandertal", desenvolveu uma teoria muito interessante e complexa, para explicar a extinção dessa espécie. Baseado em vários sítios fósseis em que foram encontrados grupos inteiros de indivíduos, o autor conclui que a média de vida dos Neandertais era menor do que a dos primeiros sapiens (por causa de seu estilo de vida baseado na caça de grandes animais, o que era perigoso) e, além disso, o índice de natalidade da espécie era também menor. Com isso, o crescimento da população era muito pequeno e bastou o contato com os sapiens (que trouxeram novas doenças e novas mortes em combate) para que esse delicado equilíbrio fosse rompido. Em um curto espaço de tempo, provavelmente 20.000 anos, todos os Neandertais foram eliminados. 2.5. Questões interessantes sobre os Neandertais: 2.5.1. Por que a baixa estatura e a robustez são adaptações a ambientes frios? Em que tais características ajudam? Essas características ajudam na conservação do calor dentro do corpo. Um corpo mais largo, mais robusto, com mais gordura, naturalmente retém mais o calor. É que, nesse caso, o corpo se aproxima do formato de uma esfera, que é o sólido que possui a menor área de superfície em relação ao seu volume. Um corpo magro e esguio, como o dos africanos equatoriais, tende a reter menos calor, facilitando a sobrevivência em ambientes quentes, tendo em vista que têm uma maior área de pele, em relação ao volume do corpo. 2.5.2- O contato com os Neandertais deixou alguma marca na cultura sapiens? Algum aspecto, atividade ou tecnologia foram estimulados ou desestimulados por esse contato? O contato, como demonstraram as últimas pesquisas, deixou marcas no genoma dos povos não-africanos. Em termos culturais, é possível afirmar que a cultura neandertal, conhecida como Mousteriense, muito provavelmente sofreu influência de uma das primeiras culturas dos sapiens, conhecidas como Acheuliana ou Chatelperronense. Após os contatos, os artefatos Mousterienses passaram a ter um refinamento parecido com os da indústria Acheuliana. Atualmente, há pesquisadores que criticam esse raciocínio, indicando evidências de que a cultura neandertal desenvolveu-se sozinha. Portanto, a maioria das evidências indicam que, se houve troca de tecnologia, foram os sapiens que a transferiu para os Neandertais. 2.5.3. Qual foi a motivação para essas grandes migrações de sapiens rumo aos territórios neandertais? Busca de novos recursos? Os sapiens, segundo as últimas pesquisas, surgiram na África. Os Neandertais surgiram no Oriente Médio ou na Europa. Para sair da África em direção a outras paragens, era obrigatório para os sapiens atravessar os domínios dos Neandertais, no Oriente Médio. Portanto, o contato foi inevitável. Como os primeiros sapiens viviam da caça e da coleta, à medida que a população crescia (e crescia muitíssimo devagar) e à medida que os recursos iam se escasseando, a colonização de outros continentes tornou-se imperiosa. Além disso, muitas vezes, os primeiros sapiens pareciam ampliar seus domínios por mera curiosidade, atingindo até o sul da América do Sul e mais, se houvesse mais. Parece que eles queriam ver o que havia atrás da próxima montanha, como afirmou o Dr. Walter Alves Neves em seu livro “O Povo de Luzia”. 2.6. A proximidade genética entre sapiens, Neandertais e chimpanzés: A diferença entre o DNA humano e o DNA do chimpanzé pode variar de 4% a 1%, dependendo do trecho do DNA em comparação. Comparar DNAs é uma tarefa muitíssimo complicada. Apesar de termos apenas uns 25.000 genes (antes pensávamos que eram uns 100.000: grande engano!), temos bilhões de pares de bases de nucleotídeos que não codificam genes e podem ser igualmente relevantes. A tarefa mais complicada é sequenciá-los (deve-se sequenciar uma hélice da molécula para sabermos com exatidão a composição da outra hélice; a hélice do DNA tem 4 tipos de nucleotídeos que se combinam aos pares entre eles), depois separar os que formam genes dos que não formam (essas sequências que não forma genes, que antes se pensava que eram uma espécie de lixo genético, são muito importantes no funcionamento dos próprios genes), depois montar os cromossomos. Além dos chimpanzés terem menos cromossomos (o que eu entendo como uma diferença mais significativa do que ter 1 ou 4% dos genes diferentes, porque dificulta severamente uma tentativa de cruzamento entre as espécies, sendo esse um dos motivos das falhas nas controvertidas tentativas), esse "de 1% a 4%" de diferenças está concentrado em genes importantes de formação cerebral, fala, morfologia do punho, etc. No caso dos Neandertais, a situação é bem diferente! O pesquisador sueco Svant Pääbo, que sequenciou os genes dos Neandertais, comparou o genoma neandertal com o genoma humano e com o genoma dos chimpanzés. Segundo ele, a diferença encontrada entre os sapiens e os Neandertais é semelhante à de um homem atual e seu próprio tataravô (apesar do tataravô estar muito mais próximo de nós do que um Neandertal há 80.000 anos). Muitos seres humanos atuais têm Nandertais como um de seus antepassados e isso foi encontrado baseado em rastros genéticos. "Em vários casos, quando há uma diferença entre o genoma de um africano e o de um não-africano, a versão das populações que não são originárias da África bate com a dos Neandertais", diz Pääbo. "O único jeito de explicar esses dados é por cruzamento", continua. Note, portanto, que os genes neandertais estão concentrados na parte diferente do genoma dos africanos em relação aos não-africanos. E qual seria essa parte diferente: questões de imunidade, cor da pele, etc. Por que isso ocorre? Simples: o DNA do Neandertal era muito parecido com o nosso DNA, porque nosso ancestral comum viveu há apenas 600.000 anos. É interessante notar também que não foram encontradas marcas neandertais no DNA mitocondrial humano. Esse tipo de DNA (mitocondrial) é originário apenas da mãe, sem sofrer o cruzamento com o DNA paterno, da mesma forma que todo o cromossomo Y é recebido apenas pelos pais. Svant Pääbo decifrou o Genoma nuclear dos Neandertais. O DNA mitocondrial deles já era conhecido. A ausência de genes neandertais em nosso DNA mitocondrial pode indicar que os cruzamentos entre homens neandertais e mulheres sapiens tiveram mais sucesso. Pode ser que os cruzamentos entre homens sapiens e mulheres neandertais não tenham gerado descendentes ou que os descendentes gerados não tenham sido férteis. Sabe-se que, em uma invasão, os homens invasores tendem a raptar as mulheres dos povos invadidos. Nesse caso, seria muito mais provável que os cruzamentos interespécies tenham ocorrido entre homens sapiens e mulheres neandertais, sem deixar descendentes. Esse fato poderia explicar o fato a baixíssima incidência de genes neandertais nos povos não africanos, tendo em vista que teriam que ser originários de cruzamentos entre homens neandertais e mulheres sapiens. O leitor poderá visualizar melhor essa situação, por meio da ilustração abaixo. Ilustração: Paulo Mason É necessário, no entanto, explicar outro aspecto: Uma coisa é você dizer que de 1 a 4% dos genes de pessoas não-africanas são oriundos de Neandertais. Esses genes são oriundos de uma espécie-irmã. Os Neandertais eram tão diferentes dos chimpanzés quanto nós. Outra coisa é afirmar que temos de 1 a 4% de diferenças genéticas em relação aos chimpanzés. Pensemos da seguinte forma: é preferível ter 4% dos genes oriundos de Neandertais do que 4% de genes oriundos dos chimpanzés. E, é bom frisar, não temos genes oriundos dos chimpanzés. Ou seja, após a separação das espécies, não houve cruzamentos posteriores, como ocorreu entre os sapiens e os Neandertais. Ou seja, após a separação com os chimpanzés, há 6.000.000 anos, nossos ancestrais e os ancestrais dos Neandertais pararam de receber genes oriundos dos ancestrais dos chimpanzés e vice-versa. Começou então a saga diferenciadora das espécies, atingindo até 4% do DNA humano atual, em relação ao DNA chimpanzé. Fonte: Livro “Eu, Primata” Ocorre que há 600.000 anos, começou outra saga diferenciadora, entre humanos e Neandertais. No entanto, esse período de tempo é muito curto para criar grandes diferenças genéticas, mas é suficiente para gerar genes específicos em cada espécie. Então, há 80.000 anos, as duas espécies voltam a se encontrar e tais genes específicos são trocados, em uma proporção de 1 a 4%. É importante termos em mente que, quando duas espécies se divergem, elas continuam compatíveis/intercruzantes durante algum tempo, até que as diferenças genéticas sejam significativas, principalmente em termos cromossômicos. Hoje em dia, por exemplo, o principal impedimento de cruzamentos férteis entre chimpanzés e sapiens é a diferença no número de cromossomos. Comparação de pés e mãos dos primatas, inclusive o homem, um grande macaco, segundo Prof. Dr. Walter Alves Neves. Capítulo 3: Homo sapiens X Homo neanderthalensis: hibridismo Muito recentemente, comprovou-se, após mapeamento do genoma do Homo neanderthalensis, que o Homo sapiens possui de 1% a 4% de seu genoma semelhante ao genoma neandertal. No entanto, isso só ocorre em povos não africanos, indicando que os Homo sapiens que saíram da África e encontraram-se com os Neandertais (que viviam no Oriente Médio e na Europa) cruzaram-se! Tais cruzamentos, no entanto, foram relativamente raros. Homo sapiens x Homo neanderthalensis (Por hairymuseummatt) Vale lembrar que nosso ancestral comum com o Homo neanderthalensis, conhecido como Homo heidelbergensis, viveu há mais ou menos 600.000 anos e, portanto, é natural que mantivéssemos o potencial intercruzante, apesar de sermos espécies separadas. A título de ilustração, informo (baseado no livro "Eu, Primata", de Frans de Waal) que os chimpanzés (Pan troglodytes) e os bonobos ou chimpanzés pigmeus (Pan paniscus) tiveram um ancestral comum que viveu há nada menos do que 2,5 milhões de anos e ainda hoje as duas espécies são potencialmente intercruzantes. O mesmo ocorre com as duas espécies de gorilas e as duas espécies de orangotangos. Ou seja, primatas e muitos outros mamíferos têm essa característica, mantém a capacidade de intercruzarem-se, mesmo após milhões de anos de especiação. Sobre os híbridos entre chimpanzés e bonobos, infelizmente, há poucos relatos científicos sobre eles porque nenhum zoológico poderia promover o cruzamento entre duas espécies sob risco de extinção. Veja o que afirma o autor Frans de Waal no livro supracitado: "Pouco sabemos sobre o comportamento de híbridos reais, mas eles são biologicamente possíveis e existem de fato. Nenhum zoológico que se preze promoveria intencionalmente o cruzamento de dois primatas ameaçados de extinção, mas existe um relato sobre um pequeno circo itinerante francês que possui grandes primatas com vozes curiosas. Pensava-se que eram chimpanzés, só que para os ouvidos dos especialistas seus chamados são tão agudos quanto os dos bonobos. Acontece que o circo, sem saber, adquiriu tempos atrás um macho bonobo, batizado de Congo. O treinador logo notou o insaciável apetite sexual desse macho, e o explorou recompensando os melhores desempenhos de Congo no picadeiro com encontros com fêmeas primatas do circo, todas chimpanzés. A prole resultante — que talvez pudéssemos chamar de "bonanzés" ou "chimpobos" — anda ereta com notável facilidade e causa admiração por sua brandura e sensibilidade." (página 290). Capítulo 4: Homo floresiensis Em nossa árvore evolutiva, o Homo floresiensis foi a última espécie de nosso gênero a ser extinta. Essa espécie foi descoberta recentemente na ilha de Flores, na Indonésia (daí o seu nome). Os fósseis têm entre 12.000 e 74.000 anos de idade, ou seja, essa espécie quase atingiu períodos históricos! Homo floresiensis – comparação de altura (fonte: Jornal Folha de São Paulo) O Homo floresiensis era baixo, apenas 1 metro de altura quando adultos (como uma criança sapiens de 3 anos de idade). A título de comparação, os pigmeus africanos atingem até 1,50m. A altura reduzida pode ser resultado de um processo de redução, conhecido como nanismo das ilhas. Espécies maiores que um coelho tendem a ficar menores. Espécies menores que um coelho tendem a crescer. Por meio de fósseis, é possível comprovar a existência de elefantes pigmeus e ratos gigantescos em Flores, que foram extintos. Os pequenos elefantes eram inclusive caçados pelos floresiensis, conforme comprovam os fósseis encontrados. O Homo sapiens colonizou a ilha entre 35.000 e 55.000 anos atrás e, portanto, com certeza, conviveu com os floresiensis por milhares de anos. Ainda hoje há relatos de seres estranhos na ilha de Flores, conhecidos como “Ebu Gogo” (o leitor poderá ler mais sobre isso na internet: http://en.wikipedia.org/wiki/Ebu_Gogo ou, em português: http://www.fernandosantiago.com.br/anaohom.htm ). Homo floresiensis X Homo sapiens (Fonte: http://www.talkorigins.org/faqs/homs/flores.html) Foram encontradas ferramentas produzidas no estilo da tecnologia de Olduvai (pedra lascada) produzidas pelo Homo floresiensis, em estilo parecido com as ferramentas produzidas pelo Homo erectus clássico da Indonésia. Homo floresiensis – cérebro – comparação O tamanho reduzido do crânio (abaixo dos 400 centímetros cúbicos), menores que os crânios do gênero Pan, dos chimpanzés e bonobos, e outros detalhes anatômicos só encontrados nos Australopithecus, levaram muitos paleoantropólogos à dúvida: seriam os floresiensis realmente pertencentes ao gênero Homo? Muitos cientistas duvidam e alguns chegam a sugerir um gênero novo para a espécie. De qualquer forma, o Homo floresiensis parece ser uma espécie cujo ancestral comum conosco deve remontar, certamente, há tempos muito remotos, talvez superiores há 1 milhão de anos. Atualmente, considera-se o floresiensis uma espécie descendente das formas antigas do Homo erectus asiático. No entanto, não se sabe ao certo a posição do mesmo em nossa árvore genealógica. Detalhes como a anatomia dos pés e das mãos sugerem um ligação estreita com os Australopithecus, que extinguiram-se há nada menos do que 2,5 milhões de anos. Homo floresiensis (crânio). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Homo_floresiensis.jpg Apesar disso e do tamanho reduzido do crânio, a forma e o molde interno do mesmo (que revela as curvaturas do tecido mole cerebral) indicam claramente uma morfologia do gênero Homo. Além disso, as ferramentas encontradas vinculadas aos fósseis indicam um nível de inteligência comparável à do Homo erectus (cujo crânio alcançava 1.000 centímetros cúbicos - o Homo sapiens tem uma média de 1.400 centímetros cúbicos de volume cerebral). Tudo isso fortalece a teoria de eles também pertenciam ao gênero Homo. Espera-se para os próximos anos que o Instituo alemão Max Planck consiga codificar o DNA do Homo floresiensis. Eles conseguiram extrair uma amostra de um dente molar. Com esse DNA codificado, teremos como saber a origem deles. Mais informações em: http://afarensis99.wordpress.com/2011/01/06/ancient-dnafrom-homo-floresiensis-redux/ 4.1. Efeito Ilha A imagem abaixo ilustra perfeitamente o efeito ilha. O Homo floresiensis, até o momento, é o único hominídeo que parece ter passado por esse efeito de redução. No caso de criaturas maiores que um coelho, a redução ocorre para garantir a sobrevivência com menos alimento, tendo em vista os recursos reduzidos de uma ilha. No caso de criaturas menores, como o rato, por exemplo, o aumento de tamanho ocorre pelo mesmo motivo. É que existe uma proporção entre a área da pele e o volume corporal que garante uma melhor retenção do calor e da energia. Animais muito pequenos acabam tendo um área externa de pele muito grande em relação ao volume de todo o corpo, o que acarreta uma perda excessiva de calor. Feito Ilha. Fonte: Revista Scientific American Brasil Capítulo 5: Homo erectus O Homo erectus, homem ereto, inicialmente conhecimento como Pithecanthropus erectus, é uma das mais complexas e duradouras espécies do gênero Homo. Há fosseis que podem ter quase 2 milhões de anos, mas a maioria dos pesquisadores acredita que o Homo erectus surgiu há mais ou menos 1,5 milhão de anos. Seu ancestral direto e comum com os sapiens pode ser o Homo habilis ou outra espécie ainda não identificada. Fonte: http://historiacolegiao.files.wordpress.com/2010/03/homo_erectus_72dpi1.jpg Richard Klein, Arsuaga e muitos outros paleoantropólogos consideram o Homo ergaster (uma espécie de Homo erectus africano, mais antigo) o ancestral direto do H. erectus, sendo o H. habilis, o ancestral do H. ergaster. O Homo erectus, depois dos Neandertais, é a espécie mais conhecida e estudada. Na Paleoantropologia há esqueletos quase completos dessa espécie, quase tão completos quanto os esqueletos de Neandertais e dos Australopithecus. Os fósseis de erectus vêm sendo estudados desde o final do século XIX e milhares já foram encontrados. Só na ilha de Java foram encontrados quase 30.000 fósseis! Em seu auge, o Homo erectus dominou quase toda a Ásia e muitas ilhas da Oceania. 5.1. Homo erectus – complexidade Os autores Klein e Blake Edgar encontraram pequenas diferenças nos crânios do Homo erectus clássico da Indonésia e do Homo erectus clássico da China. Tais diferenças, apesar de discretas, são perceptíveis até para um leigo. A principal diferença está na testa. No erectus da Indonésia, a testa é mais baixa e recuada, no chinês, a testa também é recuada, mas ligeiramente mais alta. Os outros detalhes anatômicos são muito parecidos: grande arcada supraciliar em forma de saia, curvatura craniana baixa e comprida para trás, ausência de queixo, mandíbulas projetadas para frente e parte posterior do crânio composta de dois planos encontrando-se em ângulo. Portanto, é possível que os fósseis que hoje são todos classificados como Homo erectus sejam, na verdade, fósseis de duas ou mais espécies distintas, porém, próximas. A figura da próxima página foi retirada do livro “O Despertar da Cultura” de Richard G. Klein e Blake Edgar (figura 4.8). Segundo os autores a ilustração foi redesenhada parcialmente por Kathryn Cruz-Uribe a partir de originais de Janies Cirulis, in W. W. Howels, Mankind in the Making, Nova York, Doublebay, 1997, pag. 156 a 159. 5.2. Homo erectus - aparência e tecnologia O corpo do Homo erectus era quase tão moderno quanto o nosso. Praticamente a mesma altura, as mesmas proporções corporais, poucos pêlos no corpo. No entanto, o crânio era muito diferente. Com um volume craniano que podia chegar a 1.000 centímetros cúbicos, o erectus tinha um cérebro menor do que o nosso, mas maior do que todas as outras espécies humanas anteriores. Alguns autores, no entanto, acreditam que o volume cerebral do erectus era proporcionalmente semelhante ao do Homo habilis, que possuía um cérebro menor, mas um corpo também menor. O cérebro, como em quase todas as espécies do gênero era voltado para trás, com grandes protuberâncias supra-oculares, talvez as maiores de todo o gênero Homo. O erectus era capaz de produzir ferramentas no estilo Acheuliano (pedra polida). Desde seu surgimento, há evidências de um avanço sobre a tecnologia de Olduvai (pedra lascada). No entanto, ele nunca imprimiu um ritmo de aperfeiçoamento constante às suas ferramentas. É possível distinguir pequenos aperfeiçoamentos entre a tecnologia acheuliana antiga (1,5 milhão de anos antes do presente - AP) e a mais recente (600.000 anos AP), mas nada muito perceptível. A verdade é que, ao longo de quase 1 milhão de anos, o erectus não conseguiu aperfeiçoar muito a sua tecnologia. Parece que o cérebro do erectus foi capaz de criar as mais sofisticadas ferramentas de pedra até então produzidas, mas não foi capaz de ir além disso. Distribuição geográfica do Homo erectus (fonte: “Human Evolution – An Illustrated Introduction”) O mapa acima foi retirado do livro "Human Evolution - An Illustrated Introduction" de Roger Lewin, um dos maiores paleoantropólogos do mundo. Os fósseis encontrados na África são considerados pertencentes ao Homo ergaster e não ao Homo erectus asiático. Muitos paleoantropólogos consideram o Homo ergaster uma subespécie de Homo erectus ou vice-versa, inclusive Lewin. Os fósseis de Dnamisi (na atual Geórgia) estão sendo considerados como pertencentes a uma nova espécie (Homo georgicus), tendo em vista sua grande antiguidade (tão antigo quanto o Homo ergaster). 5.3. Homo erectus - convivência com os sapiens e extinção: Atualmente, a comunidade paleoantropológica tende a considerar que todas as formas de Homo erectus asiáticas foram extintas sem deixarem descendentes. Isso ocorre porque os fósseis demonstram claramente que as características das formas asiáticas não são encontradas em nenhuma espécie posterior, a não ser no Homo floresiensis. A espécie erectus desapareceu completamente há apenas 30 mil anos e, certamente, conviveu com o Homo sapiens por milhares de anos, principalmente na atual Indonésia. As formas africanas, muito próximas ao erectus, mas pertencentes a outra espécie chamada Homo ergaster, evoluíram para formas mais recentes de espécies do gênero Homo. O Homo ergaster teria evoluído para o Homo heidelbergensis (pronuncia-se “Raidelberguensis”), que constitui uma espécie muito parecida com o Homo neanderthalensis. O Homo heidelbergensis, por sua vez, evolui para o Homo neanderthalensis e para o Homo sapiens, diretamente, ou passando por espécies intermediárias. Esse é o pensamento dominante atualmente. 5.4. O Homo erectus e o fogo: As análises dos sítios têm demonstrado que quanto mais recuamos no tempo, os sítios arqueológicos contêm menos vestígios de utilização do fogo. Não se sabe ao certo quando se começou a usá-lo, mas os indícios apontam para o Homo erectus, há, pelo menos, 500.000 anos, como o pioneiro em sua utilização. Alguns afirmam que os indícios encontrados nos sítios dos erectus não comprovam que essa espécie dominava o fogo inteiramente, mas apenas o utilizava de maneira esporádica. O Livro "Pegando Fogo" de Richard Wrangham (não confundir com o livro homônimo de Mag Cabot, que é um romance), traz muitas informações sobre a utilização do fogo e sobre como os cientistas analisam os sítios arqueológicos. Basicamente, fogueiras mais elaboradas deixam vestígios inequívocos de controle do fogo (área pequena), utilizam material combustível mais apropriado, deixam muitos vestígios de ossos assados de animais no entorno, etc. Segundo o Dr. Fernando Bilharinho, comentando o livro supracitado, “se, por um lado o salto de habilis para erectus (que o autor propõe que seja devido à introdução de alimentos cozidos na dieta) parece realmente ter sido mais importante do que o de erectus para heidelbergensis, por outro lado, os indícios de controle do fogo mais antigos são de 790 mil anos, exatamente quando surgiu o Homo heidelbergensis! Aliás, a hipótese de domínio do fogo pelo heidelbergensis é defendida por outros autores e citada por Wrangham. O autor acha impossível o Homo erectus ter se espalhado pelo mundo sem dominar o fogo, bem com ter escapado dos predadores e empreendido a caça.” Também acredito que o mais provável é que o fogo tenha sido dominado pelo Homo heidelbergensis, ou, no máximo, pelos mais recentes Homo erectus. Nesse caso, o cozimento, que, segundo Wrangham, aumenta muito o aproveitamento energético dos alimentos, influiu no segundo aumento do volume cerebral (de erectus para heidelbergensis). O aumento do volume cerebral dos Australopithecus para os habilinos e depois para o ergaster/erectus teria sido conseqüência da mera introdução de carne crua à dieta desses pré-humanos. 5.5. Questões interessantes sobre o Homo erectus 5.5.1. Há algum traço de influência cultural de sapiens sobre erectus e vice versa? Não. O Homo erectus não foi capaz de produzir muita coisa além de ferramentas de pedra polida. É difícil imaginar como poderiam ter sido os encontros de Homo sapiens e Homo erectus. Com uma tecnologia extremamente mais sofisticada, principalmente nos encontros mais recentes, os sapiens seriam capazes de exterminar com facilidade todos os erectus que encontrassem. Ou, se possível, assimilando-os por meio de cruzamentos interespécies. No entanto, não acredito que tenha sido possível uma transferência de tecnologia, tendo em vista a limitada capacidade dos erectus. 5.5.2. Foram os sapiens que extinguiram os erectus? A maioria dos paleoantropólogos acredita que sim. Que houve uma substituição sistemática ao longo de milhares de anos. Segundo a teoria dominante, os sapiens surgiram na África a partir do Homo ergaster (Homo erectus africano) e, de lá, colonizou o mundo, substituindo as outras espécies que encontravam pelo caminho. Outros cientistas, a minoria, acreditam em um surgimento multirregional dos sapiens. Segundo esses últimos, os erectus asiáticos evoluíram para sapiens de forma convergente, mantendo cruzamentos esporádicos com o Homo ergaster que evoluía na mesma direção na África. As recentes descobertas de que os sapiens cruzaramse com neandertalensis deu força a essa teoria, provando que eram possíveis os cruzamentos, pelo menos com os Neandertais. 5.5.3. O Homo erectus foi o primeiro hominídeo a andar ereto, como nós? Não. O gênero Australopithecus (ou, talvez, o gênero Ardipithecus, mais antigo) produziu os primeiros hominídeos bípedes. Veremos isso nos próximos capítulos. O nome Homo erectus tem um fator histórico. No século XIX, o primeiro paleoantropólogo de todos os tempos, o holandês Eugène Dubois encontrou os primeiros fósseis da espécie e batizou-a de Pithecanthropus erectus. Na época, conhecia-se apenas o Neandertal (também descoberto no século XIX). Mais tarde, a espécie foi incluída no gênero Homo e o gênero Pithecanthropus foi abolido. Isso ocorreu porque a espécie, nitidamente, é muito parecida com as demais do gênero Homo. O nome da espécie (erectus) foi mantido em homenagem ao descobridor e não porque foi a primeira a andar de forma ereta. Os primeiros Australopithecus (existiam muitas espécies desse gênero) foram descobertos na década de 1960 e causaram um grande estardalhaço na comunidade paleoantropológica, porque eram, evidentemente, uma forma intermediária entre chimpanzés e humanos (com crânios muito simiescos e corpos muito humanos). Recentemente (2008, divulgado em 2010), descobriram uma nova espécie australopitecínea (Australopithecus sediba) já com muitas características do gênero Homo, que também causou espanto na comunidade. Parece trata-se de uma espécie de "elo perdido" entre Homo e Australopithecus. 5.6. Homo erectus – subespécies O Homo erectus pertence a uma das mais bem sucedidas e duradouras espécies do gênero Homo (durou mais de 1 milhão de anos!). É geralmente considerada a espécie que deu origem a um grande número de espécies descendentes e subespécies. Pelo fato de ter sido uma espécie duradoura, há muitas variações nos fósseis encontrados, principalmente entre as formas mais antigas e as mais recentes. As principais subespécies sugeridas são: Homo erectus yuanmouensis (identificada no vilarejo de Danawu no Condado de Yuanmou, na China, em 1965 por Fang Qian - fósseis de 1,7 milhão de anos) – O nome significa “homem ereto de Yuanmou”. Homo erectus lantianensis (o primeiro registro fóssil do homem ereto de Lantian ocorreu em 1963 e descrito por J.K. Woo em 1964. Os restos encontrados foram achados no Condado de Lantian, na província de Shaanxi, no noroeste da China) – com capacidade craniana de 780 cm3 viveu entre 530 mil a 1 milhão de anos atrás. Homo erectus wushanensis (o fóssil do homem de Wushan foi primeiramente descoberto em Longgupo, no vilarejo Zhenlongping, Condado de Wushan, província de Chongqing -China- em 1985). Viveu há 2 milhões de anos. Homo erectus pekinensis (foi descoberto durante escavações nos anos de 1923 a 1927, em um local próximo a Pequim, capital da China. O material arqueológico encontrado foi datado entre 250.000 a 400.000 anos, no Pleistoceno. Mas, segundo estudos recentes, descobriu-se que ele poderia ter vivido há 800.000 anos) – O homem ereto de Pequim ou de Beijing, foi chamado inicialmente de Sinanthropus pekinensis. Homo erectus soloensis (Ilha de Java - Indonésia) - Homem ereto do Rio Bengawan Solo (Java) - estudos mais rigorosos concluíram que, enquanto muitas subespécies de H. erectus desapareceram do registro fóssil bruscamente 400.000 anos atrás, o Homo erectus soloensis persistiu até 50.000 anos atrás na região de Java e foi possivelmente absorvida por uma população local de H. sapiens na época de seu declínio. Outras subespécies: Homo erectus palaeojavanensis; H. e. nankinensis; H. e. hexianensis; H. e. mauritanicus; H. e. palaeojavanicus; Fonte: http://sasquatchresearch.net/hominoids.html Capítulo 6: Gigantopithecus, os maiores primatas de todos os tempos Gigantopithecus é um gênero de primatas gigantescos, os maiores que já existiram na face da Terra, extintos há milhares de anos. Esse gênero é muito próximo do gênero dos orangotangos, que vivem na Ásia, e ambos podem ter um ancestral comum recente. Especula-se que tais primatas gigantes podem ter dado origem a lendas como a do Pé Grande. Gigantopithecus – representação artística Os Gigantopithecus eram seres curiosos: podiam chegar a até 3 metros de altura (!) e pesar até 600 Kg (a título de comparação, um gorila atual chega a 2 metros de altura). Essas informações podem ser encontradas no livro “Human Evolution – An Illustrated Introduction” do autor Roger Lewin (5ª edição, página 107). As fêmeas tinham metade do tamanho do macho, o que indica que, talvez, viviam em "haréns", como os gorilas. Possuíam braços fortes e compridos, comiam bambus e outros vegetais e se locomoviam, provavelmente, sobre os nós dos dedos. Alguns o consideram um bípede (!), mas a verdade é que não há muita evidência fóssil que indique a forma de sua locomoção. A maioria dos Gigantopithecus foi extinta pelo H. erectus há uns 300.000 anos. No entanto, alguns sobreviveram até uns 100.000 anos atrás (G. blacki) e foram mortos pelos H. sapiens ou pela competição com os ursos panda (que também se alimentam de bambus). Existiram 3 espécies do gênero Gigantopithecus: Gigantopithecus blacki, Gigantopithecus bilaspurensis e Gigantopithecus giganteus. Todas viveram na Ásia (Índia e China, principalmente), conforme pode-se ler na Wikipedia. São primatas classificados como pertencentes à família Hominidae (a mesma dos humanos), subfamília Ponginae (a mesma dos orangotangos). Portanto, não eram tão próximos de nós como os chimpanzés ou os gorilas, que pertencem à mesma subfamília dos humanos (Homininae), mas eram incrivelmente semelhantes fisicamente à nossa espécie. : Gigantopithecus – comparações. Fonte: Wikipedia Capítulo 7: Homo ergaster Na década de 1990, na África, perto do desfiladeiro de Olduvai, foi descoberto um esqueleto quase completo do famoso Homo erectus africano, reclassificado como Homo ergaster. O H. ergaster é mais antigo do que o H. erectus e tem proporções corporais ainda mais semelhantes ao H. Sapiens. Viveu na África do Sul e na África Oriental. Eram basicamente como nós. A principal diferença estava no volume craniano, que não passava de 900 centímetros cúbicos (pouco menor do que o volume craniano do erectus, que tinha, em média, 1.000 cm3 e muito menor que o nosso, de 1.400 cm3 em média). Entretanto, há fósseis mais antigos de ergaster com volume craniano de apenas 508 a 582 cm3. O famoso Menino de Nariokotome (esqueleto quase completo de ergaster, descoberto na década de 1990) tem esse volume encefálico. Os autores do livro "The Last Human" consideram o bipedalismo do H. ergaster inquestionável, mas com base em características da cintura escapular acreditam que as crianças ergaster poderiam demorar mais tempo para andar (uma criança humana anda por volta dos 12 meses, os ergaster, talvez demorassem 16 ou mais meses). O Homo ergaster era capaz de produzir ferramentas de pedra polida (estilo acheuliano), mas não tinha uma inteligência muito superior à do chimpanzé. Se ainda vivessem, seriam considerados uma espécie estúpida (com pouca inteligência) de humanos, mas, sem dúvida, tendo em vista suas evidentes características físicas, seriam considerados humanos. 7.1. A convivência com o ergaster: Os sapiens não conviveram com ergaster porque estes últimos viveram há, mais ou menos, 1,5 milhão de anos, portanto, muito tempo antes do surgimento dos sapiens, que ocorreu há apenas 200.000 anos. Os pesquisadores entendem que o ergaster deu origem ao erectus e ao heidelbergensis. O heidelbergensis deu origem ao neandertalensis e ao sapiens, talvez passando por espécies intermediárias. Apesar de não ter convivido conosco, o ergaster conviveu, em um mesmo habitat (!!!), com o Homo habilis (espécie ainda mais antiga, de mais de 2 milhões de anos) e o Homo rudolfensis (que parecia como o habilis, mas era maior). Além disso, o Homo ergaster também conviveu com uma espécie australopitecínea recente, chamada de Paranthropus boisei, também em um mesmo habitat. Em suma, havia, pelo menos, três espécies humanas e uma australopitecínea convivendo em uma mesma paisagem há 1,5 milhão de anos. A revista Scientific American Brasil produziu uma interessantíssima matéria de 8 páginas sobre essa fascinante convivência (edição especial nº 2 - Novo Olhar Sobre a Evolução Humana). Recomendo. 7.2. Corpo moderno e cérebro primitivo: O ergaster foi o primeiro Homo a ter o nariz proeminente, como o nosso. As espécies anteriores, inclusive o Homo habilis e o Homo rudofensis tinham o nariz parecido com o dos gorilas atuais, embutido no rosto. Os Australopithecus tinham um nariz semelhante ao do chimpanzé (Pan troglodytes) e bonobos (Pan paniscus), exceto o Australopithecus sediba, que já possuía um nariz relativamente projetado. O ergaster também foi o primeiro a ter menos quantidade de pêlos pelo corpo (uma adaptação ao clima, que ficou mais quente há 1,8 milhão de anos atrás ou uma adaptação a longas caminhadas e a necessidade de suar para manter estável a temperatura corporal). Suas proporções corporais, vale repetir, eram semelhantes à nossa. Foi a primeira espécie humana a ter o braço menor que as pernas, indicando o total abandono da vida arbórea, passando para uma locomoção tipicamente terrestre. Para aumentar o volume do pulmão e permitir caminhadas mais longas, o tórax teve de se expandir, surgindo um tronco em forma de barril como o nosso (e não afunilado, como veremos nos Australopithecus e no habilis). Houve um estreitamento da pélvis (para facilitar as caminhadas), o que reduziu a passagem dos bebês (do útero à luz) e, consequentemente, aumentou a dependência do recém-nascido após o nascimento. É que os cérebros tiveram que ficar menores antes do nascimento e começar a crescer depois, por causa do estreitamento da pélvis. O Homo ergaster, uma das espécies mais bem conhecidas pelos Paleoantropólogos, visto de longe, poderia ser confundido com um ser humano atual, indicando que nosso corpo (da maneira que é hoje) surgiu há quase 2 milhões de anos. Nosso cérebro, da maneira que é hoje, surgiu há 200.000 anos, e nosso comportamento, da maneira que é hoje (com capacidade simbólica e abstrata) surgiu (ou, pelo menos, expandiu-se) há 50.000 anos. Fonte: http://wiki.kkc.school.nz/index.php/Homo_ergaster 7.3. Sobre a perda dos pêlos: Segundo Richard G. Kelin, a partir do Homo ergaster (após o Homo habilis), há mais ou menos 1,8 milhão de anos, os pêlos começaram a ficar menores no gênero Homo: "Já que o ergaster foi feito para um clima quente e seco, podemos especular que ele foi também a primeira espécie humana a possuir pele nua, quase sem pêlos. Se tivesse pêlos cobrindo o corpo, como os macacos, não poderia suar de maneira adequada, e o suor é o meio mais importante que os seres humanos - e o cérebro - têm para evitar o superaquecimento do corpo." (página 86 do livro "O Despertar da Cultura"). Robert Foley, no livro "Os Humanos Antes da Humanidade", concorda. No entanto, como esse livro foi escrito há mais tempo, o autor não conseguiu determinar a partir de qual espécie teria surgido: "O atributo-chave provavelmente foi a perda de pêlo. Estritamente falando, os humanos não são 'pelados', mas apresentam uma pelagem extremamente miniaturizada, cobrindo a maior parte do corpo, embora haja variações drásticas, dependendo do sexo e de região geográfica." (página 181 do livro supracitado). O autor, depois dessa introdução, fala sobre as teorias históricas sobre a perda de pêlos, dentre as quais, a famosa e totalmente descartada "fase aquática" dos hominídeos. Depois, conclui: "Os humanos modernos, pelo menos, trazem em sua anatomia e em sua fisiologia as marcas de uma espécie que evoluiu no contexto de estresse térmico extremo. É impossível determinar com precisão quando esse estresse ocorreu, mas como o bipedalismo se desenvolveu muito cedo, e talvez ele próprio esteja relacionado ao estresse térmico, pode ter acontecido que, durante os estágios formativos da linhagem humana, alguma coisa que os hominídeos vinham fazendo resultava em que eles sentissem muito calor. Caminhar através de vastas extensões em busca de alimento foi de importância crítica, tanto para a evolução da fisiologia térmica como da anatomia locomotora dos humanos, e é também uma estratégia comportamental de importância crucial." (página 182 do livro "Os Humanos Antes da Humanidade"). Portanto, os pêlos podem ter caído quando o Homo ergaster, há 1,8 milhão de anos, começou a vasculhar grandes extensões do planeta, segundo Klein. Ou, na teoria de Foley, os pêlos podem ter caído pelos mesmos motivos que levaram os grandes antropóides antigos a se tornarem bípedes (grandes caminhadas), e, se for assim, a perda de pêlos teria acontecido nos últimos Australopithecus. O melhor livro sobre o assunto, no entanto, é “O Macaco Nu”, de Desmond Morris, um ilustre zoólogo inglês. Esse último autor, em várias páginas de seu livro supracitado, comenta, exaustivamente, as várias hipóteses que tentam explicar a perda de pêlos (fase aquática, parasitas de pele, sujeiras inevitáveis nos pêlos, hipótese sexual, etc.). No entanto, o autor concorda com Klein e afirma que a hipótese mais provável é o fato das grandes caminhadas efetuadas pelos primeiros exemplares do gênero Homo, o que exigia um equipamento de resfriamento corporal muito eficiente. Por isso, as glândulas sudoríparas fariam esse papel de forma mais eficaz caso o corpo não estivesse coberto de pêlos. Possíveis peles fossilizadas do Australopithecus sediba foram encontradas em Malapa (África do Sul) em 2008. Se a descoberta se confirmar, será possível analisar a quantidade de glândulas sudoríparas que possuíam, podendo-se, a partir daí, estimar a quantidade de pêlos que possuíam. O A. sediba é um dos australopitecíneos mais recentes (1,8 milhão de anos) e um dos prováveis ancestrais do Homo erectus. Para saber mais sobre isso, recomendo a edição de agosto de 2011 da revista National Geographic Brasil. Capítulo 8: Homo rudolfensis e Homo habilis (“Habilinos”) Provavelmente, o Homo rudolfensis ou o Homo habilis foram as duas primeiras espécies do gênero Homo. Há indícios de que as duas espécies surgiram há mais de 2 milhões de anos. Temos, portanto, um marco importante: 2 milhões de anos – surgimento do gênero Homo. Alguns autores chamam essas primeiras espécies do gênero Homo de “habilinos”. Essa nomenclatura pode facilitar muito as coisas, quando nos referimos a tais espécies de uma forma genérica. Nessa época, há um ligeiro aumento do volume craniano. De apenas 450 a 500 centímetros cúbicos nos Australopithecus, o volume atingiu até 752 centímetros cúbicos no rudolfensis e 687 centímetros cúbicos no habilis. Apesar do volume cerebral do habilis ser menor, deve-se levar em consideração que seu corpo também era menor. Portanto, pode-se concluir que ambos tiveram um grau de inteligência semelhante. Eram capazes de produzir muitas ferramentas de pedra lascada, no estilo de Olduvai. Foram os primeiros a construir ferramentas de pedra nesse estilo. Os chimpanzés, apesar de serem capazes de utilizar ferramentas prontas (como gravetos e pedras), não são capazes de modificar pedras deliberadamente para que funcionem como ferramentas mais sofisticadas. Na verdade, é necessário uma mão mais habilidosas das que as dos chimpanzés para lascar pedras de maneira adequada. As espécies australopitecíneas coexistiram com as primeiras espécies Homo por muitos milhares de anos, talvez até por meio de milhão de anos. Essas espécies australopitecíneas mais recentes são incluídas no gênero Paranthropus (antropóide paralelo ao homem) e serão estudadas mais adiante. 8.1. Habilis / Rudolfensis: características físicas Tanto o habilis quanto os rudolfensis possuíam muitas características primitivas, que lembravam os Australopithecus: pés sem o arco característico, braços longos, mandíbula avantajada, protuberâncias ósseas supra-oculares, muitos pêlos pelo corpo, atingiam no máximo 1,40m de altura e 45Kg, tórax afunilado, pélvis relativamente larga, etc. No entanto, a maioria dos paleoantropólogos insiste em classificá-los como Homo, tendo em vista seu maior volume cerebral, sua pélvis relativamente mais estreita em relação aos Australopithecus e um prognatismo (projeção das mandíbulas para frente - focinho) relativamente menor, também em relação aos Australopithecus. Aliás, algumas etnias atuais de Homo sapiens ainda possuem um relativo prognatismo, como resquício evolutivo. O Australopithecus sediba, recém encontrado, talvez seja Homo também, por conter quase tantas características desse gênero quanto o habilis ou o rudolfensis. No entanto, seu descobridor classificou-o como Australopithecus, tendo em vista que características importantes, como o volume craniano, eram mais semelhantes às das espécies australopitecíneas. A Figura acima foi retirada do livro “O Despertar da Cultura” de Richard G. Klein e Blake Edgar, fig. 3.7. Conforme o livro, a ilustração foi desenhada segundo F.C. Howel, em Evolution of African Mammals, Harvard University Press, Cambridge, 1978, fig. 10.9. Homo habilis – reconstituição a partir de fósseis (Fonte: humordarwinista.blogspot.com) Capítulo 9: O mundo há 2 milhões de anos Nessa época (2,5 a 2,0 milhões de anos atrás), várias espécies da nossa subfamília dividiram as paisagens africanas, como o Australopithecus africanus, o Australopitecus garhi, o Paranthropus aethiopicus, o Homo habilis, o Homo rudolfensis e outras espécies. Há muitos outros fósseis que não podem ser claramente classificados. Podem pertencer a outras espécies ainda não identificadas ou fazerem parte de alguma espécie já conhecida, mas, por variações anatômicas, ainda não foi possível identificá-la. Espécies que viveram há mais ou menos 2 milhões de anos (2,5 a 1,5 milhão de anos): Australopithecus africanus - com mais ou menos 2,5 milhões de anos (África do Sul); Paranthropus robustus - 2,0 a 1,75 milhão de anos (África do Sul); Australopithecus sediba - 1,8 milhão de anos (África do Sul); Homo georgicus - 1,75 a ? milhão de anos (atual Geórgia – Ásia); Australopithecus gahri - 2,5 a ? milhões de anos (atual Etiópia); Paranthropus boisei - 1,7 a 1,6 milhão de anos (atuais Etiópia e Tanzânia); Homo rudolfensis - 2,5 a 1,9 milhão de anos (atual Quênia); Homo habilis - 1,9 a 1,6 milhão de anos (atual Tanzânia); Paranthropus aethiopicus - 2,5 milhões de anos a ? (atual Quênia); Homo ergaster - 1,8 a 1,5 milhão de anos (África Oriental). Capítulo 10: Outras Espécies do Gênero Homo: Terminamos aqui o estudo do gênero Homo. Como devem ter percebido, não esgotamos o assunto. Não estudamos, em detalhes, outras espécies do gênero, como, por exemplo: Fonte: http://humanorigins.si.edu 10.1. Homo georgicus (espécie intermediária entre o habilis e o erectus asiático); 10.2. Homo cepranensis (espécie que viveu na atual Itália há mais ou menos 850 mil anos); 10.3. Homo antecessor (espécie muito parecida com o Homo sapiens, porém, ligeiramente mais antiga, que também viveu na atual Itália). Segundo o Dr. Fernando Bilharinho, “a maioria dos fósseis do H. antecessor foi encontrada na Sierra de Atapuerca (Espanha), mas há fósseis encontrados no norte da Argélia que também parecem pertencer ao H. antecessor. Um terceiro grupo de fósseis encontrado em Daka (Etiópia) provavelmente pertencem ao H. antecessor, mas há dúvidas, porque foram encontrados há mais de 3.000km de distância dos demais. Se os fósseis da Argélia forem realmente do H. antecessor e não do H. heidelbergensis, o nome do H. antecessor teria que ser mudado para Homo mauritanicus (homem da Mauritânia), nome que os fósseis da Argélia receberam em 1954. Os primeiros fósseis da Espanha foram encontrados apenas em 1994, e o "batismo" aconteceu em 1997. De acordo com as regras internacionais de nomenclatura o primeiro nome recebido pela espécie deve prevalecer”; 10.4. Homo rhodesiensis (espécie que viveu nas atuais Zâmbia e Tanzânia). Homo georgicus. Fonte: http://erroridistumpa.blogspot.com/2009/10/sunday-mixture-10042009.html Capítulo 11: O Polegar Opositor O polegar opositor não surgiu com o gênero Homo. Praticamente todas as espécies primatas têm o polegar opositor, não apenas nas mãos, mas também nos pés. Os gorilas, os chimpanzés, os bonobos, os orangotangos, os macacos do novo mundo, todos os primatas têm polegares opositores nas mãos e nos pés. Atualmente, apenas o homem não tem polegares opositores nos pés. Essa adaptação (pés sem polegares opositores) surgiu, com certeza, com os Australopithecus, tendo em vista que os Ardipithecus (gênero que antecedeu aos Australopithecus) ainda tinham polegares opositores nos pés. No caso específico do gênero Homo, é possível concluir que desde o Homo habilis, o polegar opositor tornou-se mais sofisticado nas mãos, tendo em vista que essa espécie foi uma das primeiras a construir ferramentas de pedra lascada (estilo de Olduvai). Conforme testes em laboratório (vide livro "Eu, Primata", de Frans de Waal) os chimpanzés não conseguem um grau de controle tão aprimorado dos polegares. Por isso, eles não conseguem produzir ferramentas no estilo de Olduvai, apesar de conseguirem manipular pedras, gravetos e outros objetos. As ferramentas mais elaboradas de pedra polida (estilo acheuliano) surgiram muitos milhares de anos depois (600.000 anos atrás), quando as espécies humanas já possuíam um volume craniano ligeiramente maior. Portanto, pode ser que o habilis já tivesse mãos capazes de produzir ferramentas mais elaboradas, mas não tivesse inteligência suficiente para tanto. As limitações anatômicas do chimpanzé podem ser explicadas também pelo fato deles andarem sobre os nós dos dedos, como outros grandes primatas. Vale lembrar que apenas o Homo sapiens é bípede, atualmente, dentre os primatas, deixando as mãos totalmente especializadas para outras funções. Isso faz com que os chimpanzés não disponham de músculos e nervos mais adequados para funções superiores das mãos. O andar sobre os nós dos dedos (nodelismo) exige adaptações específicas, como músculos que travam o pulso, dificultando o manuseio de objetos. Retrocedendo no tempo, sabe-se que o ancestral comum entre os pré-humanos e os pré-chimpanzés remonta há mais ou menos 6 milhões de anos. Com certeza, nosso ancestral comum com os chimpanzés não tinha mãos tão adaptadas ao trabalho manual. Não se sabe se esse ancestral era mais parecido com os Australopithecus ou com os chimpanzés atuais. Sabe-se apenas que, muito provavelmente, ele não era bípede. O Ardipithecus ramidus, com 4 milhões de anos, e o Sahelanthropus tchadensis, são as espécies mais próximas que chegamos desse ancestral comum. Capítulo 12: Importantes marcos pré-históricos (Fonte: Resumo do texto "Gerações" de minha autoria, disponível, na íntegra, em www.paleoantropologia.com.br) 1 geração – 25 anos de duração – Convenção que usaremos neste texto; 4 gerações – 100 anos ou pouco mais – Tempo máximo de existência de uma pessoa; 8 gerações – 200 anos atrás (a.a.) – Limite de tempo em que, geralmente, é possível identificar nossos ancestrais; 40 gerações - 1.000 a.a. – Idade Média na Europa; 80 gerações – 2.000 a.a. – Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo; 240 gerações – 6.000 a.a. – Início da civilização: surgimento de cidades, agricultura, escrita, etc.; 680 gerações – 17.000 a.a. – Extinção do Homo floresiensis: espécie humana de apenas 1 metro de altura, que viveu na Ilha de Flores, pertencente à atual Indonésia; 1.200 gerações – 30.000 a.a. – Extinção do Homo neanderthalensis: espécie humana, com cérebro maior do que o nosso, que conviveu com o Homo sapiens na atual Europa e no atual Oriente Médio por vários milênios; 1.800 gerações – 45.000 a.a. – Explosão criativa do Homo sapiens: pensamento abstrato e simbólico. Tecnologia sapiens entra em constante aperfeiçoamento; 8.000 gerações – 200.000 a.a. – Surgimento do Homo sapiens na África; 20.000 gerações – 500.000 a.a. – Época em que viveu, no Oriente Médio, o ancestral comum entre os sapiens e os neanderthalensis, conhecido como Homo heildelbergensis; 40.000 gerações – 1.000.000 a.a. – Surgimento de espécies do gênero Homo com maior volume cerebral (ergaster/erectus) e início da tecnologia Acheuliana (pedra polida); 80.000 gerações – 2.000.000 a.a. – Surgimento do gênero Homo, representado pelo Homo habilis e outras espécies, na África (atual Somália, Quênia e Tanzânia). Início da tecnologia de Olduvai (pedra lascada). Capítulo 13: O gênero Australopithecus 13.1. Informações Básicas: No período de mais ou menos 4 milhões de anos atrás até, mais ou menos, 1,5 milhão de anos atrás, existiam primatas bípedes muito interessantes: os Australopithecus. Seus primeiros fósseis começaram a ser encontrados no início do século XX, todos na África (África Oriental e África do Sul). Australopithecus significa Macaco do Sul. Receberam esse nome porque seus primeiros exemplares foram encontrados na África do Sul, em 1924, pelo Professor de anatomia da Universidade de Witwatersrand (em Johanesburgo), Raymond Dart, um inglês que havia chegado recentemente para ensinar anatomia na Universidade. Na África Oriental (principalmente Tanzânia, onde fica o desfiladeiro de Olduvai), Louis Leakey e Mary Leakey começaram as mais importantes escavações, descobrindo centenas de fósseis, desde a década de 1930. O trabalho foi seguido pelo filho do casal Richard Leakey e por dezenas de outros paleoantropólogos famosos, como Donald Johanson, Tim White, Yves Coppens. De lá para cá, milhares de fósseis novos foram sendo desenterrados. Para sorte dos paleoantropólogos, foram desenterrados também alguns esqueletos quase completos. Tais esqueletos deram aos cientistas uma noção muito boa do corpo, dos hábitos e da capacidade cerebral dessas criaturas. Algumas espécies, como o A. afarensis, têm quase todos os seus ossos (até mesmo os menores) conhecidos. Os Australopithecus desceram das árvores, mas seu corpo ainda manteve muitas adaptações para a vida arbórea, como os longos braços. Veja a ilustração retirada do livro “Human Evolution”, de Roger Lewin: Fonte: Livro “Human Evolution – An illustrated Introduction” 13.2. O corpo dos Australopithecus: Os Australopithecus tinham um corpo que, na maioria das vezes, era pequeno, com no máximo 1,20m. No ano de 2010, foi publicado um estudo em que se constatou a existência de alguns espécimes maiores, com até 1,50m, mas, a grande maioria dos achados demonstra claramente um tamanho menor. O corpo australopitecíneo era incrivelmente semelhante ao nosso, por isso, vou relacionar aqui apenas as principais diferenças: 13.2.1. O tórax era afunilado para cima, tendo em vista que o osso da pélvis era ligeiramente mais largo, parecido com o dos chimpanzés atuais; 13.2.2. Os braços eram mais compridos, bem como os dedos das mãos (que também eram mais curvos), o que indicava claramente um compleição corpórea ainda voltada para a vida arborícola. Para que se tenha ideia do tamanho dos braços, as mãos quase chegavam à altura dos joelhos; 13.2.3. Havia algumas diferenças na articulação do ombro em algumas espécies mais antigas, permitindo aos braços um giro quase completo sobre a cabeça, ainda uma adaptação à locomoção braquial, nas árvores; 13.2.4. Os ossos da pélvis e das pernas indicam claramente uma locomoção bipedal, não apenas pela posição dos desgastes naturais, como também pelos ângulos de encaixe das articulações e pelo formato característico das extremidades (principalmente da tíbia); 13.2.5. A coluna vertebral demonstra clara, mas não completamente, adaptação ao bipedalismo, como principal meio de locomoção. As espécies mais recentes demonstram mais claramente essa adaptação ao bipedalismo; 13.2.6. Os pés já possuíam os polegares na mesma posição dos outros dedos, no entanto, eram ligeiramente diferentes dos nossos, porque, na maioria das espécies, não havia o arco típico do gênero Homo; Enfim, para que se tenha uma boa noção, uma boa imagem mental dessas espécies, tente imaginar um chimpanzé totalmente bípede e terá visualizado algo muito parecido com um Australopitecíneo. 13.3: Australopithecus: corpo quase humano e cabeça de macaco: Como se pode notar, o corpo dos Australopitecos (aportuguesando a forma latina do nome) era quase humano. As diferenças quase não podiam ser notadas por um leigo. No entanto, a cabeça era incrivelmente diferente: 13.3.1. O que mais chamou atenção dos paleoantropólogos foi a posição de um aspecto anatômico muitíssimo interessante: a abertura do forame magno. O forame é um orifício que fica embaixo do crânio, por onde se encaixa a coluna cervical no crânio. A posição desse orifício era muito parecida com a posição encontrada no gênero Homo. Isso indica claramente o bipedalismo. A cabeça ficava na mesma posição ereta, dificultando muito uma locomoção sobre os nós dos dedos, como os chimpanzés; Fonte da imagem: http://frontiersofzoology.blogspot.com/2011/04/muhalululu-and-ngoogounogounmbar.html 13.3.2. O segundo aspecto que mais impressionou foi o tamanho reduzido do cérebro. Os Australopitecos tinham cérebros realmente pequenos, menores do que 500 cm3. Em algumas espécies, encontramos cérebros menores do que os do chimpanzé. Mesmo levando em consideração o tamanho do corpo (pequeno), o cérebro deles, em proporção, equivaleria a menos da metade do nosso; Fonte da imagem: http://ideonexus.com/2008/10/19/american-natural-history-museum-hall-of-human-origins 13.3.3 O tamanho das mandíbulas, em praticamente todas as espécies, era grande, com forte prognatismo (focinho avantajado); 13.3.4. O tamanho dos dentes variava muito em função da espécie. Algumas espécies tinham dentes pequenos semelhantes aos nossos, mas sempre com os caninos ligeiramente mais avantajados. A exceção ficava com os Paranthropus, gênero mais recente, também conhecidos com megadônticos, que tinha dentes molares gigantescos (uma adaptação à alimentação herbácia); 13.4. Ainda sobre o crânio dos Australopithecus: 13.4.1 As mandíbulas tinham um formato nítido de "U", enquanto que no gênero Homo, o formato era mais aberto, formando uma espécie de curvatura parabólica (mais ou menos em “V” [ver figura no item 20.5]); 13.4.2 Em praticamente todas as espécies, havia protuberâncias supraoculares bastante realçadas, mas o formato das mesmas variava conforme a espécie; 13.4.3. O esfenóide, um osso na base do cérebro, era muito mais plano do que o nosso, permitindo que as mandíbulas ficassem bem avantajadas e reduzindo o espaço disponível para o cérebro; 13.4.4. O nariz era bastante semelhante ao do chimpanzé atual (Pan troglodytes), exceto o do Australopithecus sediba, já proeminente; 13.4.5. As espécies mais recentes (Paranthropus), tendo em vista seus gigantescos molares, possuíam uma grande e característica crista sagital sobre o crânio. Essa crista servia para prender os grandes músculos das mandíbulas. Tendo em vista a pelagem, não ficavam à mostra quando vivos, mas, nos crânios fósseis, são espetaculares; 13.4.6. O formato da face variava muito conforme a espécie. Temos faces arredondadas, ovaladas, curtas, compridas, etc. Os Paranthropus tinham, geralmente, uma face mais arredondada enquanto que os Australopitecos mais antigos tinham uma face bastante proeminente (prognatismo). Alguns, como o gahri, tinham um focinho bastante proeminente; 13.4.7. A testa era muito baixa e inclinada para trás. O formato do cérebro era parecido com as primeiras espécies do gênero Homo, ou seja, voltado para trás; 13.4.8. Nenhuma espécie apresentava queixo proeminente, encontrado apenas nos sapiens recentes. 13.5. Evolução do crânio: Não é correto falar em "formas de transição", porque cada espécie tem sua importância própria. Cada espécie criou seus próprios mecanismos para enfrentar a vida e era a mais adaptada ao seu meio. A Evolução seleciona os indivíduos mais adaptados ao meio ambiente utilizando-se de mutações aleatórias e outros mecanismos já comentados. No entanto, podemos visualizar, por exemplo, o crescimento cerebral desde os Australopithecus ao sapiens de forma bem detalhada, com milhares de fósseis intermediários. Comparação de volumes cranianos. Fonte: http://www.mahjoob.com/en/forums/showthread.php?t=249696 Não há, nem de longe, uma espécie de pré-programação ou algo do tipo no que se refere a esse aumento paulatino do cérebro. A Evolução seguiu um rumo absolutamente aleatório. A tendência de aumento no volume cerebral seguiu pressões evolutivas que podem ser identificadas e serão estudadas mais adiante, em um capítulo a parte. Fonte: http://www.mahjoob.com/en/forums/showthread.php?t=249696 13.6. Prognatismo: Não vamos estudar aqui o prognatismo mandibular, que se trata de uma má formação, geralmente, congênita. Estudaremos aqui o prognatismo como uma característica anatômica de uma espécie. Veja que o dicionário traz duas acepções para a palavra: Prognatismo: [1] acentuada projeção do maxilar inferior para a frente; [2] disposição da face na qual a linha do perfil, indo da fronte à parte mais saliente dos maxilares, forma um ângulo agudo em relação ao plano horizontal do crânio. A maioria dos Australopithecus possuía mandíbulas avantajadas. Algumas espécies possuíam mandíbulas muito projetadas para frente. A boca era projetada para frente mais ou menos como no chimpanzé atual. O queixo é outra parte da anatomia que fica abaixo das mandíbulas. Apenas o Homo sapiens tem o queixo mais proeminente, apesar de não ter mandíbulas projetadas. Percebam a diferença entre ter um queixo proeminente, como na maioria de nós, e ter as mandíbulas salientes, como na maioria dos Australopithecus. O Australopithecus sediba foi o primeiro a apresentar um nariz proeminente, e não mais embutido dentro do rosto: Fonte: John Gurge Capítulo 14: Berço da Humanidade A África do Sul é chamada por muitos de "Berço da Humanidade". Na verdade, ela disputa esse título com os países da África Oriental (Quênia, Tanzânia, Etiópia, etc.). A grande maioria dos Australopithecus e das primeiras espécies do gênero Homo são encontradas nesses locais. Recentemente, o magnífico Australopithecus sediba, já com muitas características do gênero Homo, foi encontrado lá, perto de Johanesburgo. Se colocarmos todas as espécies de Australopithecus e todas as espécies Homo uma ao lado da outra, poderemos perceber a Evolução, em cada detalhe anatômico: 1. Aumento gradual do cérebro; 2. Mudança gradual das articulações do ombro, da pélvis e dos joelhos; 3. Adaptação gradual dos pés à locomoção bípede; 4. Adaptação gradual do tórax; 5. Adaptação gradual da forma da coluna; 6. Adaptação gradual do comprimento dos braços; 7. Adaptação gradual das extremidades da tíbia. 14.1. Sequência evolutiva mais provável: Australopithecus africanus Australopithecus sediba Homo habilis Homo ergaster Homo heidelbergensis Homo sapiens (Cro-Magno) Fonte das imagens: http://skullduggery.com/extinct.htm 14.2. Os Australopithecus são nossos avós! Grande parte das espécies de Australopitecos foram extintas, outras evoluíram para espécies mais recentes (Paranthropus), outras evoluíram para o gênero Homo. Não há dúvidas de que os singelos Australopitecos eram nossos ancestrais. Além de ser possível verificar a convergência evolutiva para o gênero Homo em algumas espécies australopitecíneas, todas as espécies viveram nos mesmos ambientes em que surgiram as primeiras espécies Homo. A escalada de mudanças morfológicas começou nos membros inferiores (adaptações na tíbia para o andar bípede, há 4 milhões de anos), passou para a pélvis (estreitamento da pélvis, para facilitar longas caminhadas), depois para o tórax (formato de barril, consequência da mudança na pélvis, há 2,5 milhões de anos), depois para os braços (braços menores há 2 milhões de anos), depois para o rosto (rosto mais humano há 1,5 milhão de anos) e, por fim, atingiu dramaticamente o cérebro (constante crescimento a partir de 2 milhões de anos, com grande salto há 600.000 anos, provavelmente com o Homo heidelbergensis). Capítulo 15: Australopithecus afarensis: um velho conhecido Afarensis significa "da região de Afar", na Etiópia, onde foram encontrados. Viveram entre 3 a 4,1 milhões de anos nas atuais Etiópia e Tanzânia. Os fósseis dessa espécie tão conhecida são encontrados desde 1935 pela família Leakey, mas recebeu esse nome apenas em 1978, após ajustes na classificação. Fonte: Foto – Museu de História Natural de Nova York – EUA Sabemos muita coisa sobre essa espécie e inclusive temos pegadas fósseis dela: as pegadas de Laetoli, datadas da época em que o afarensis habitava aquelas paragens. Tais pegadas sugerem que ele andava a maior parte do tempo sobre duas patas. Temos centenas de fósseis e alguns esqueletos completos, cujo mais famoso é conhecido pelo nome de "Lucy", em homenagem a uma canção dos Beatles, e outro esqueleto conhecido como “O Filho de Lucy” ou Selan (que significa esperança na língua local), um bebê Australopithecus, um pouco mais antigo. Na verdade, temos centenas de fósseis dessa espécie, muitos ainda não catalogados. Esses esqueletos quase completos trouxeram muitas informações adicionais sobre a espécie, como, por exemplo, o padrão de crescimento dos filhotes, as proporções corporais, a posição das articulações, etc. Temos um modelo interno do cérebro, muitas informações sobre os pés, as mãos e outros ossos importantes para determinar o bipedalismo (tíbia, bacia, vértebras, etc.). Aliás, o bipedalismo dos Australopithecus é indiscutível e extraordinariamente evidente. Há muitas semelhanças entre alguns fósseis de afarensis e o orangotango atual, o que confunde os pesquisadores até hoje, mas as semelhanças com os demais Australopithecus é avassaladora. No entanto, parece ter havido uma convergência evolutiva com os orangotangos em alguns pontos do esqueleto, principalmente nos braços. Seu corpo tinha o mesmo tamanho de um bonobo atual (Pan paniscus). Era pequeno, talvez o menor dos Australopithecus. É bom lembrar que quase todos os Australopithecus não tinham caninos avantajados e, portanto, não tinham mecanismos de defesa eficientes (eram pequenos, fracos, sem caninos fortes...). Porém, pode-se presumir que eram muito espertos, porque sobreviveram em uma região cheia de predadores e com escassez de comida e água. "As características anatômicas do afarensis também são vistas em macacos e não são exclusivas de bípedes. Os membros inferiores, por exemplo, são semelhantes aos dos babuínos (macaco com hábitos terrestres), diferentes dos macacos escaladores. As características dos dedos das mãos são semelhantes às do homem e do gorila" (informações retiradas pelo Dr. Fernando Bilharinho do Livro "The Last Human"). No entanto, o cérebro do anamensis não ultrapassa os 550 centímetros cúbicos. Na verdade, na média, ficava bem abaixo disso, talvez menos do que 400 cc. Vale lembrar que o tamanho do cérebro, às vezes, não diz muita coisa sobre a inteligência da espécie. Capítulo 16: Australopithecus africanus: outro velho conhecido Africanus significa africano, evidentemente. Essa espécie viveu há, mais ou menos, 2,5 milhões de anos na África do Sul. A linha evolutiva mais aceita não inclui o A. africanus dentre nossos ancestrais diretos. A linha mais aceita atualmente é a seguinte: anamensis > afarensis > habilis > ergaster > heidelbergensis > sapiens. O A. afarensis é o mais provável ancestral do Homo habilis. Portanto, o africanus pode ter sido um beco sem saída evolutivo, ou ser um ancestral do Australopithecus sediba (que também viveu na África do Sul), ou ainda pode ser um ancestral do habilis (apesar da longa distância entre os habitats, há indícios de espécies do gênero Homo na África do Sul). Nesse último caso, teríamos o africanus e não o afarensis como nosso ancestral. Também nesse último caso, poderíamos ter o sediba como um intermediário entre o afarensis e o habilis. Da mesma forma que o afarensis, temos muitos fósseis, centenas, dessa espécie. Alguns pesquisadores sugerem dividi-los em duas ou mais espécies separadas, tendo em vista sutis diferenças encontradas. Vou postar abaixo um trecho do livro "The Last Human", gentilmente traduzido pelo Dr. Fernando Bilharinho, sobre o Australopithecus africanus. O livro é escrito por Esteban Sarmiento, com colaboração de G. J. Sawyer e Richard Milner. Ainda não há edição em português. O texto está resumido e descreve o Australopithecus africanus: "Crânio e dentes com muitas características parecidas com as dos homens: (1) face relativamente plana e disposta verticalmente; (2) mandíbula relativamente curta; (3) musculatura do pescoço com inserção bem baixa no crânio; (4) forame magno posicionado mais adiante e orientado mais para baixo do que nos macacos, indicando bipedalismo; (5) volume craniano parecido com o dos grandes macacos africanos, 400cc. Peso de 25 a 30kg. (6) O pé do A. africanus é muito mais móvel, não possui arcos fixos como os humanos e possui um grau elevado de divergência do hálux (dedo grande do pé, conhecido também como primeiro pododáctilo) em relação ao pé humano. A coluna lombar aparentemente não apresentava a lordose lombar característica do nosso andar bípede. (7) Viveu há 2,5 a 3,5 milhões de anos. Há um fóssil com possibilidade de 4,0 milhões de anos [a datação na África do Sul é muito menos precisa do que no Grande Vale da Fenda, conhecido como desfiladeiro de Olduvai, pela raridade de vulcões na região]." Fonte: Jornal Folha de São Paulo Capítulo 17: Australopithecus gahri: Quase Homo? Não vou descrever aqui todos as espécies de Australopithecus, porque senão perderíamos o foco, por isso não falarei sobre o Australopithecus bahrelghazali, e outros. No entanto, vale a pena descrevermos o Australopithecus gahri. “Gahri” significa “surpresa” em um língua africana. Ele viveu por volta de 2,5 a 2,6 milhões de anos de na Etiópia. O fóssil mais famoso da espécie é conhecido como "Crânio Negro". Esse macaco bípede viveu em uma época em que começavam a surgir o gênero Homo e o gênero Paranthropus, portanto, em uma época crucial para o entendimento de nossa origem. De novo, vou recorrer ao grande livro "The Last Human", traduzido pelo Dr. Fernando Bilharinho, para descrever o gahri: “(1) O volume encefálico foi estimado em 450 centímetros cúbicos; (2) Os ossos da cintura escapular apresentam mais características humanas do que os do Australopithecus afarensis; (3) O dedo maior do pé (hálux) sugere que o A. garhi se locomovia predominantemente no solo, mas persiste a dúvida quanto ao tempo em que andava sobre duas ou quatro patas, porque, a princípio, todos os grandes macacos andam ocasionalmente sobre duas patas; (4) Apesar da longa distância entre os sítios, o garhi se parece muito com o africanus da África do Sul, sugerindo algum grau de parentesco; (5) Ferramentas: Não foram encontradas ferramentas associadas ao A. garhi. Entretanto, ossos de antílopes com marcas de cortes e quebrados para retirada de tutano foram encontrados no mesmo depósito dos fósseis do garhi. É provável então que, ao invés do Homo habilis, o A. gahri tenha sido o primeiro a fabricar ferramentas no estilo de Olduvai; (6) Animais e habitat: Os animais encontrados sugerem habitat aberto com grama e arbustos e longas estações secas. Florestas estreitas e clareiras gramadas devem ter existido próximas a lagos e cursos de riachos.” Capítulo 18: Australopithecus sediba – uma descoberta recente Sobre o Australopithecus sediba, podemos dizer: 18.1. Os esqueletos encontrados estão muito bem conservados, sendo que existe a possibilidade de ter sido preservada um pedaço da pele no topo de um dos crânios (da criança, o que possibilitaria a análise do couro cabeludo) e um trecho da pele da mandíbula (no crânio da fêmea, o que possibilitaria a análise da quantidade de glândulas sudoríparas, uma quantidade alta é imprescindível para a existência de cérebros grandes); Australopithecus sediba (o mais novo membro da família, encontrado em 2008) 18.2. Foram preservados pequenos ossos das mãos e dos pés, indicando que: a. As mãos são relativamente modernas, semelhante às dos habilinos, permitindo a construção de ferramentas; b. Os pés têm características modernas e arcaicas: tornozelo moderno, mas com calcanhares primitivos (mais primitivos do que os do A. afarensis, que é 1 milhão de anos mais antigo); c. Cérebro pequeno (mais ou menos 420 centímetros cúbicos, média dos Australopitecos primevos), porém, com uma característica moderna: lobos frontais assimétricos, com o hemisfério esquerdo maior (como nos humanos atuais), além de existir uma protuberância na Área de Broca (relacionada à fala); d. Pélvis moderna, indicando bipedalismo completo; e. Dentes e músculos de mastigação relativamente pequenos, o que também o aproxima do gênero Homo; f. Nariz projetado para frente (atenção: essa característica só era encontrada no Homo ergaster, muito mais recente do que o A. Sediba!). Capítulo 19: Australopithecus anamensis: o mais antigo Anamensis significado "do lago" (“Anan”, em um língua loca africana, significa “lago”), essa espécie viveu há mais ou menos 4,2 milhões de anos na atual Etiópia e no atual Quênia. Trata-se da mais antiga espécie australopitecínea conhecida. Não está absolutamente claro se essa espécie já era bípede, mas há muitos indícios fósseis para se chegar a essa conclusão. Os membros superiores do anamensis parecem manter as características de animais capazes de se moverem com destreza dependurados em galhos e se moverem no chão sobre os nós dos dedos ("nodelismo", ou "andar sobre as juntas"), como os chimpanzés. Para ser franco, apesar do anamensis já possuir diversas características que o fazem um Australopithecus verdadeiro, ele mais parecia um grande macaco, um antropóide antigo (estudaremos mais adiante os grandes antropóides antigos). O anamensis parece ser uma espécie de "elo perdido" entre os grandes antropóides antigos e os Australopithecus mais recentes. Muito provavelmente é o ancestral de todos os Australopithecus posteriores. Capítulo 20: Curiosidades sobre os Australopithecus 20.1. O ancestral comum entre os pré-chimpanzés e os pré-humanos (como também podem ser chamados os Australopithecus), conforme os últimos estudos genéticos (confirmados, em alguma medida, pelos fósseis) remonta há mais ou menos 6 milhões de anos, 2 milhões de anos antes dos primeiros Australopithecus; 20.2. O ancestral comum entre o pré-humano-chimpanzé e o pré-gorila, viveu há 10.000.000 de anos; 20.3. É importante que saibamos uma informação sobre essa relação homemchimpanzé-gorila: o chimpanzé é mais próximo geneticamente de nós do que dos gorilas; 20.4. O ancestral comum entre o pré-humano-chimpanzé-gorila e o pré-orangotango remonta há 15.000.000 de anos. 20.5. Gravuras sobre os Australopithecus: Comparação de mandíbulas. Fonte: http://australianmuseum.net.au/Shorter-jaws-with-smaller-teeth Australopithecus africanus. Fonte: http://psicologiapratodos.blogspot.com/2010/04/veja-imagens-realistas-da-face-dos.html Australopithecus afarensis. Fonte: http://redepsicologia.com/faces-da-evolucao-imagens-realistas-dos-antepassadoshumanos/australopithecus-afarensis A. africanus (crânio). Fonte das imagens dos crânios: http://skullduggery.com/extinct.htm A. afarensis (crânio). Fonte das imagens dos crânios: http://skullduggery.com/extinct.htm Forame magno (orifício embaixo do crânio por onde entra a coluna cervical) - quanto mais próximo do centro do crânio, mais bípede é a espécie. Fonte: http://scienceblogs.com/afarensis/2006/12/18/australopithecus_afarensis_and/ . Criança de Taung: molde natural do crânio de um bebê AustralopitecoFonte: arquivo pessoal. Foto de uma réplica do Museu de História Natural da UFMG Capítulo 21: Paranthropus: um gênero paralelo aos humanos O nome Paranthropus significa antropóide paralelo, porque esse gênero viveu paralelamente ao gênero Homo. Há 2,5 milhão de anos viviam o Paranthropus aethiopicus, o Australopithecus africanus e as primeiras espécies do gênero Homo. Todos eles podem ser descendentes do Australopithecus afarensis ou de outra espécie parecida. O Paranthopus aethiopicus provavelmente evoluiu para duas formas paralelas interessantes: o Paranthropus boisei (mais recente) e o Paranthropus robustus, também conhecido como Paranthropus crassidens. Os Paranthropus eram muito parecidos com os primeiros Homo, e também eram totalmente bípedes. Os paleoantropólogos costumam confundir os ossos de Paranthropus com os dos primeiros Homo, devido à incrível semelhança. Na verdade, na prática, apenas os dentes e o crânio são diferentes. Com a grande seca que atingiu a África há mais ou menos 2 milhões de anos, ficou muito difícil conseguir alimento. Então, alguns Australopithecus evoluíram para formas adaptadas à alimentação exclusivamente herbácea gerando os Paranthropus. Qualquer tipo de vegetação poderia servir de comida para eles, inclusive grama (em 2010, um grupo da Universidade de Utah - EUA, encabeçado pelo pesquisador Thure E. Cerling, analisou o carbono presente no esmalte de 24 dentes de 22 indivíduos que viveram no leste africano entre 1,4 milhão a 1,9 milhão de anos atrás, descobrindo que eles também comiam grama). Por isso, eles tinham um intestino maior, para facilitar a digestão, e mais: possuíam os maiores dentes molares de toda a história dos hominídeos bípedes. Tais dentes, gigantescos, eram de 3 a 4 vezes maiores que nos nossos! Esses enormes dentes ficavam em mandíbulas igualmente gigantescas, que dependiam de enormes músculos mastigatórios. Tais músculos precisavam de uma crista óssea sobre o crânio (crista sagital) para prendê-los. Estas eram as principais características dos Paranthropus, também conhecidos como megadônticos ou como australopitecos robustos: a – Enormes dentes molares; b – Enormes mandíbulas; c – Crista óssea sobre o crânio, maiores que a crista dos atuais gorilas; d – Grande intestino (barriga avantajada), devido à digestão mais difícil dos alimentos; e – Totalmente bípedes; f – Volume craniano semelhante ao dos Australopithecus mais graciosos. 21.1. Paranthropus aethiopicus O Paranthropus aethiopicus era uma espécie australopitecínea posterior. Aethiopicus (pronuncia-se etiópicus) significia “da Etiópia”. É mais provável que o Paranthropus aethiopicus tenha evoluído a partir do Australopithecus afarensis. Também é extremamente provável que o aethiopicus tenha evoluído para o P. boisei e para o P. robustus. Ou seja, seria um ancestral comum dessas duas espécies. O aethiopicus ainda possuía muitos traços semelhantes ao afarensis antes de evoluir para as duas espécies supracitadas. No entanto, já era um Paranthropus verdadeiro, porque já possuía uma grande sutura (crista) sagital sobre o crânio, seus dentes já eram ligeiramente maiores e suas mandíbulas também. Sua dieta era muito volumosa e pobre em nutrientes: verduras, hortaliças, forragem, raízes, tubérculos e, quando disponíveis, frutas (sabemos disso por meio de análise de seus dentes). Por muito tempo se pensou que o Homo habilis tivesse sido a primeira espécie a construir ferramentas no estilo de Olduvai, mas fósseis do P. aethiopicus foram encontrados associados a ossos que parecem ter sido processados com a ajuda de ferramentas. Gravura retirada do livro “Human Evolution” de Roger Lewin. Note a enorme crista sagital no topo do crânio do Paranthropus aethiopicus. 21.2 Paranthropus robustus / crassidens: Crassidens vem do latim e significa grosso. O nome foi escolhido por Broom devido aos dentes e mandíbula largos da espécie, mas são também chamados de robustus (de robustez mesmo). São os maiores Paranthropus. Mas, ao contrário dos outros, viveram na África do Sul. O esqueleto pós-craniano (sem a cabeça) é muitíssimo parecido com o esqueleto dos primeiros Homo. Os robustus podem ter vivido até há 1 milhão de anos, paralelamente ao Homo habilis e ao Homo ergaster. 21.3 Paranthropus boisei: Essa espécie ganhou esse nome "boisei" (pronuncia-se “boiseai”) em homenagem a um dos patrocinadores da equipe Louis Leakey e Mary Leakey, Charles Boise. O primeiro fóssil atribuído ao boisei teria sido encontrado por Louis Leakey em 1955, na Tanzânia. Mas não é certo que o canino e o molar de leite encontrados sejam dele. O primeiro fóssil indubitavelmente pertencente ao boisei foi encontrado por Mary Leakey em 1959. Nesse mesmo ano ele recebeu o nome de Zinjanthropus boisei num artigo de Louis publicado na revista científica “Nature”. Obs.: A família Leakey (Louis, sua esposa Mary e o filho do casal, Richard) contribuiu com um grande número de achados durante quase todo o século XX. Eles encontraram diversas espécies australopitecíneas e Homo. Além disso, eles foram os primeiros a mapear com grande exatidão os sítios arqueológicos, permitindo classificar com mais segurança os fósseis e os artefatos, e, com isso, melhorar a datação dos mesmos. Os artigos e os livros publicados por eles ainda hoje são referências de estudo. Segundo o livro “The Last Human", os fósseis atribuídos ao P. boisei foram encontrados da Etiópia (ao norte) à Tanzânia (ao sul), passando por vários sítios no Quênia. A idade dos fósseis varia entre 1,4 e 2,3 MA. O boisei conviveu com o Homo habilis por milhares de anos. O esqueleto póscraniano do boisei é muito parecido com o do habilis, as diferenças mais significativas estão no crânio (dentes e mandíbulas muito maiores, crista sagital, etc.). Há muitos ossos encontrados na mesma estratificação cronológica do terreno, tornando impossível distinguir o que é boisei e o que é habilis. Os paleoantropólogos acreditam que essa longa convivência tenha sido na maioria das vezes pacífica, tendo em vista as diferenças na alimentação. Porém, não descartam a possibilidade dos habilis terem atacado os boisei para se alimentar da carne deles. Com efeito, o Homo habilis comia qualquer coisa que encontrasse pela frente, principalmente outros animais, inclusive insetos, plantas menos fibrosas, frutas, etc. Vale dizer que o gorila atual mantém uma dieta semelhante à dos Paranthropus, por isso, ele também possui algumas características parecidas, como a crista sagital. Mas os gorilas não são descendentes dos Paranthropus, porque, além desses últimos terem sido bípedes, eles viveram em áreas distantes dos atuais gorilas. Além disso, os ancestrais dos gorilas divergiram dos nossos ancestrais há 10 milhões de anos. Os Paranthropus têm um ancestral comum bem mais recente conosco, datando de, mais ou menos, 2,5 milhões de anos. Capítulo 22. O início da expansão cerebral Uma parte dos Australopithecus graciosos (mais antigos) evoluíram então para Paranthropus. Outra parte deles evoluiu para Homo. Outra parte foi extinta sem deixar descendentes. A partir de 2,5 milhões de anos atrás, a situação ficou muito difícil para os pobres Australopithecus graciosos. Havia grande escassez de comida na África. Grandes secas, temperaturas elevadas, enorme quantidade de predadores, número reduzido de indivíduos de cada espécie australopitecínea. A natureza forçava a ação da seleção natural em um nível de extrema crueldade. Por isso, a solução encontrada por algumas espécies australopitecíneas foi se especializar em comidas altamente fibrosas, que estavam fartamente disponíveis, mas eram de difícil digestão. Começaram a surgir então os Paranthropus. As últimas espécies de Paranthropus estavam super-adaptadas a essa dieta, por isso, às vezes, o Parantrhopus boisei (um dos últimos do gênero) é chamado de Paranthropus hiper-robusto, por ter características super-acentuadas desse gênero. Por outro lado, outros australopitecíneos continuaram a procurar outros tipos de comida, principalmente carne. A fome era grande, a pressão era muito forte. Era necessário andar quilômetros e quilômetros para encontrar alguma coisa para comer. Esse tipo de pressão exigiu uma organização maior dos grupos de indivíduos, com auxílio mútuo na caça e até na localização de árvores frutíferas (mapa mental primitivo). Tais australopitecíneos evoluíram para as primeiras espécies do gênero Homo e, logo de início, ocorreu um ligeiro aumento no volume cerebral (de 450 a 500 centímetros cúbicos nos últimos Australopithecus, para 590 a 680 cc nos primeiros Homo - Homo habilis). Enquanto os Paranthropus ficavam sentados em meio a arbustos comendo fartamente, as espécies do gênero Homo continuaram suas grandes jornadas em busca de comida, tendo que sobrepujar todo tipo de obstáculos. Esse foi o primeiro desafio que fez disparar a expansão cerebral, que, depois, continuou por outros motivos, que veremos depois. 22.1. Primatas são mais inteligentes: Os primatas, desde os antropóides antigos, já possuíam tendência a uma maior encefalização. Na verdade, comparando um primata com outro mamífero de mesmo porte, como uma capivara, por exemplo, pode-se constatar que o primata, geralmente, terá um maior volume cerebral relativo. Além disso, a configuração neuronal dos primatas demonstra uma sofisticação maior em relação aos outros mamíferos. Isso ocorre porque os primatas vivem em grupos, com complexas relações sociais (com hierarquias, com machos alfa, por exemplo), além de terem a aptidão de fazerem atividades em grupos, como a caça (que exige coordenação de cada integrante e um planejamento prévio). Por fim, muitos primatas têm a capacidade de elaborar mapas mentais, lembrando-se de onde está a comida e criando meios de evitar os muitos predadores. Os Australopithecus eram primatas como quaisquer outros. O cérebro deles era semelhante ao de um chimpanzé atual. A única característica especial que tinham era a forma de locomoção (bípede). Quando começou a ficar difícil encontrar comida, a mortandade começou a aumentar, as tensões internas do grupo aumentaram (com maior disputa pela comida encontrada), mas, ao mesmo tempo, era necessária uma maior cooperação para o êxito das caçadas (os chimpanzés também cooperam em caçadas). Os predadores, sem alternativas, também começaram a dificultar mais a vida dos Australopithecus. A seleção natural começou a agir. O mais apto para se relacionar dentro do grupo, naturalmente, obtinha uma maior número de descendentes. Ou seja, os mais espertos procriavam mais. Todos os indivíduos continuam procriando, porém, o mais adaptado às novas condições procriam mais e, aos poucos (ao longo de centenas de milhares de anos), tendem a substituir os indivíduos menos aptos. Portanto, a escassez de comida funcionou como um poderoso motor para a seleção natural. Robert Foley considera que o aumento da inteligência dos Australopithecus, em direção ao gênero Homo, está diretamente relacionado à vida social. Ou seja, na medida em que ficou mais importante a interação entre os membros do grupo, para proteger os filhotes, para facilitar a caça, para fugir dos predadores, começou a pesar mais a capacidade de convivência. É sabido que, entre os primatas, nem sempre o mais forte é o líder. Muitas vezes, o mais inteligente lidera, até mesmo entre chimpanzés. Há um relato bem exemplificativo (livro "Eu, Primata"), em que um chimpanzé que ocupava a mais baixa hierarquia em seu grupo conseguiu achar uma lata brilhante. O chimpanzé começou a bater na lata com um pedaço de pedra, produzindo muito barulho. Imediatamente, ele passou a ser o macho dominante, sobrepujando, pelo medo, os outros machos mais fortes. Portanto, uma pequena vantagem na capacidade de lidar com as coisas do mundo fazem uma grande diferença no relacionamento dentro do grupo e no número de descendentes que o indivíduo vai deixar. Não é à toa que os primeiros representantes do gênero Homo eram habilidosos com ferramentas de pedra. Quem dominasse as técnicas da pedra lascada conseguia um meio de defesa imbatível (machados de mão), que também servia para retirar a carne da caça e para muitas outras atividades. Aquele que construísse a ferramenta mais eficaz poderia ser mais respeitado dentro do grupo e, consequentemente, ter mais descendentes. No entanto, um cérebro maior exige mais alimentos para mantê-lo, em um aparente paradoxo. O cérebro de um primata pode consumir até 20%, ou mais, da energia produzida pelo corpo. Para manter cérebros grandes, talvez tenha sido imprescindível comer mais carne. E, talvez por isso, as ferramentas de pedra ganharam importância crucial. Pode ter sido uma espécie de círculo virtuoso: a interação social cada vez mais complexa e necessária selecionava indivíduos mais espertos e, com cérebros cada vez maiores, as exigências nutritivas também cresciam, exigindo uma maior interação social para conseguir comida. A melhor explicação para o primeiro aumento cerebral está no livro "Os Humanos Antes da Humanidade" de Robert Foley (páginas 210 e seguintes). Apesar da primeira parte do livro estar desatualizada, sua tese sobre o primeiro aumento cerebral, que leva em consideração o aumento da complexidade das interações sociais é a mais aceita hoje em dia. Capítulo 23: Homossexualidade Meus estudos são mais voltados para lado biológico, morfológico e cultural da evolução humana. Tenho pouco material sobre aspectos sociológicos da préhistória. No entanto, já que estamos falando de interações sociais, vale a pena falar um pouco sobre um tema polêmico: a homossexualidade. Sobre a homossexualidade (termos mais adequado do que homossexualismo, que remete a uma disfunção ou doença), há relatos de ocorrência em várias espécies. Nos primatas, os chimpanzés e bonobos são os mais evidentes nesse aspecto. Alguns machos bonobos praticam a esgrima peniana (ato de esfregar os pênis) e as fêmeas fazem a mesma coisa com seus órgãos sexuais. Isso abre a possibilidade do homossexualismo ter existido nos pré-humanos, pelo menos desde o ancestral comum entre as espécies homo/australopithecus e pan (há 6 milhões de anos). Devemos encarar a homossexualidade como algo sempre presente nas sociedades humanas, pré-humanas e primatas. Mas é possível afirmar, com 100% de segurança, que o aparecimento desse comportamento é muito anterior ao surgimento do próprio Homo sapiens. Capítulo 24: Os grandes antropóides antigos Agora vou relacionar os antigos antropóides principais, que habitaram todo o mundo em uma diversidade fascinante. Somente na África já foram identificados 14 gêneros. Viveram entre 22 milhões de anos atrás até 6 milhões de anos (fonte: revista Scientific American Brasil - Edição Especial n.º 17 - A reportagem é do Professor da Universidade de Toronto, Dr. David R. Begun). 24.1. Alguns gêneros de antropóides já descobertos e catalogados: 24.1.1 Procônsul (Quênia): Cônsul era nome mais popular dos chimpanzés de circo no século XIX e início do século XX, segundo Craig Stanford. O Pró, aqui, significaria anterior. Há muitas espécies deste gênero, de 10 Kg até 80Kg. Provável ancestral do Gibão e do Siamang; 24.1.2. Dryopithecus (Europa): Com 19 milhões de anos. Provável ancestral dos antropóides africanos (chimpanzés e gorilas) e dos humanos. Seu cérebro era semelhante ao de um chimpanzé atual. Existiam, pelo menos, quatro espécies deste gênero; 24.1.3. Sivapithecus (Sudeste Asiático): Provável ancestral dos Gigantopithecus e dos Orangotangos (gênero Pongo); 24.1.4. Oreopithecus (Itália): Conhecido desde o século XIX. Mais estudado, dentre os europeus. Não vou colocar todas as informações aqui, mas era grande e de cérebro pequeno. Talvez aparentado ao Dryopithecus; 24.1.5. Ouranopithecus (Grécia): Também pode ser o ancestral comum entre os antropóides africanos, os humanos e os antropóides asiáticos (orangotangos e Gigantopithecus); 24.1.6. Afropithecus (Quênia): Provável ancestral dos Sivapithecus e dos demais antropóides asiáticos, com cerca de 16,5 milhões de anos; 27.1.7. Heliopithecus (Arábia Saudita): Provável ancestral dos Afropithecus; 24.1.8. Griphopithecus (Alemanha e Turquia): Com cerca de 16,5 milhões de anos. 24.1.9. Existiram mais uns 200 gêneros (Limnopithecus, Rangwapithecus, Micropithecus, Kalepithecus, Nyanzopithecus...)! No entanto, parece que apenas os Sivapithecus e os Dryopithecus deixaram descendentes nos dias de hoje. 24.2. De antropóide quadrúpede a Australopithecus bípedes: Desde 20 milhões de anos atrás, o planeta estava então habitado por centenas, talvez milhares, de espécies de antropóides. A grande maioria andava sobre as quatro patas (quadrúpedes), alguns com as mãos espalmadas (palmígrados), outros sobre os nós dos dedos (nodelismo). Outros ainda, de forma braquial (usando muito os braços, como os orangotangos). Enfim, uma diversidade incrível e riquíssima de seres muito parecidos conosco, exceto pelo tamanho reduzido do cérebro, pela forma de locomoção e outros detalhes. Alguns desses antropóides evoluíram para bípedes e passaram a ser chamados de Australopithecus. Mas houve etapas intermediárias. Foram encontrados restos de uma espécie chamada Sahelanthropus tchadensis e outra chamada Orrorin tugenensis. São fortes candidatos a serem os primeiros bípedes. No entanto, o mais forte candidato, e o mais recente (4,4 milhões de anos atrás) é o Ardipithecus ramidus, conhecido apenas como "Ardi". Ardi é o mais famoso bípede antigo, anterior aos Australopithecus (ou pelo menos o mais provável bípede descoberto). Depois de 15 anos de estudos sobre um esqueleto quase completo da espécie, os cientistas divulgaram na revista “Science”, no ano de 2009, um dossiê completo sobre Ardi e as evidências de seu bipedalismo. O Ardipithecus ramidus ou os primeiros Australopithecus foram os primeiros bípedes. Abaixo, as principais mudanças anatômicas pelas quais eles passaram. Naturamente, algumas mudanças só apareceram nos Australopithecus mais recentes, como o afarensis, mas o curso da evolução estava pressionando para o bipedalismo, culminando no Homo erectus, já plenamente adaptado. A seguir, o pensamento de Stanford no livro “Como nos Tornamos Humanos”: "Ao mesmo tempo, em todos os pontos fundamentais, a pelve, a perna e o pé demonstravam a bipedestação. A pelve encurtava-se de cima para baixo e alargava-se da parte dianteira para a traseira, de modo a centralizar o tronco sobre as articulações do quadril e, assim, reduzir a fadiga durante a locomoção bipedal verticalizada. O fêmur se inclinava para dentro em direção ao joelho e formava um ângulo pronunciado (ângulo conhecido como vago) com a tíbia, de forma que o corpo podia se equilibrar numa perna enquanto a outra estivesse fora do chão. E o pé tinha o calcanhar alargado, o arco ascendente e o dedo grande não-divergente (não opositor), características essenciais para que o ser humano pudesse andar. Nos seres humanos cada passo envolve um golpe no calcanhar, seguido pela colocação do pé sobre o arco e, finalmente, por um impulso do dedão. Se ainda houvesse alguma dúvida em relação a essa sequência de movimentos do afarensis, Mary Leakey dirimiu-a com aquilo que para muitos teria sido a descoberta de uma vida. Nas escavações em Laetoli, sua equipe pôs a descoberto uma trilha de 27 metros de comprimento de pegadas, deixadas por dois indivíduos afarensis que caminharam juntos numa superfície mole que endureceu há mais ou menos 3,6 milhões de anos. No que se refere ao golpe de calcanhar, ao arco e ao dedão não-opositor, as pegadas comparam-se às produzidas pelo ser humano hoje, ao andar descalço numa base mole." (pág. 46) Ardipithecus em comparação com os Australopithecus. Note os pés e o tamanho dos braços: Fonte: Revista Veja Ardipithecus ramidus (O primeiro bípede?) Comparação de pés Morotopithecus. Fonte: Wikipedia Sahelanthropus tchadensis, também conhecido como Toumai Orrorin tugenensis Capítulo 25. Bipedalismo: 25.1. Detonadores Falsos do Bipedalismo: No capítulo 6 do livro "Como nos Tornamos Humanos", Craig Stanford desmonta todas as teorias falsas sobre o surgimento do bipedalismo, que ele chama de "detonadores FALSOS do bipedalismo": 25.1.1 Detonador ferramenta (o uso de ferramentas): Descartada logo no início, tendo em vista que as ferramentas foram criadas pelos hominídeos muito tempo depois (há 2,5 milhões de anos) do surgimento do bipedalismo (há 4 milhões de anos ou mais); 25.1.2. Detonador “olhar sobre a relva”: Descartada após as descobertas de que os primeiros bípedes viviam em florestas fechadas. Dispunha que os hominídeos que conseguissem andar em pé na savana possuíam uma vantagem sobre os demais, porque podiam enxergar de longe seus predadores naturais; 25.1.3. Detonador “liberar as mãos”: A marcha sobre as juntas também permite o transporte em grande quantidade de objetos com as mãos, como atestam os chimpanzés e os bonobos. Por isso, esse detonador não parece forte o bastante para ter causado todas as adaptações anatômicas necessárias para possibilitar o bipedalismo; 25.1.4. Detonador “mudanças no habitat” (de florestas para savana): vide "olhar sobre a relva" acima; 25.1.5. Detonador cópula: Os machos eretos demonstrariam para as fêmeas um maior domínio. "Tendo em vista as incríveis mudanças pelas quais o corpo teve que passar e o custo envolvido em termos de sobrevivência, uma pressão evolutiva que atinja igualmente machos e fêmeas é algo muito mais lógico", afirma Stanford. 25.2. Bipedalismo – origem – explicação: O bipedalismo é uma das principais características que definem um hominino. Ou seja, uma característica essencial para definir um antropóide como integrante da linhagem pré-humana. As evidências indicam que talvez o bipedalismo tenha surgido há mais de 4 milhões de anos (com o Ardipithecus ramidus), embora alguns estudiosos afirmarem que, na verdade, o bipedalismo surgiu há não mais do que 3 milhões de anos com o Australopithecus (tais estudiosos alegam que o bipedalismo de Ardi e nos Australopithecus mais antigos não era completo ou não existia). Vimos que no período anterior aos Australopithecus, de 20 a 6 milhões de anos atrás, existiam centenas de espécies de antropóides perambulando pela Terra. Portanto, aqueles que ficaram bípedes eram minoria, com certeza. A maioria, utilizava outros meios de locomoção, como o andar sobre as juntas, quadrupedalismo, quadrupedalismo com as palmas das mãos (palmígrados), dependurado com os braços (braquial), etc. O que nos interessa aqui são os que andavam sobre as juntas. Os chimpanzés atuais ainda se locomovem assim. São fortemente adaptados à escalada, com o polegar opositivo nos pés. Mas também conseguem se locomover muito bem no solo. No entanto, gastam mais energia do que nós, enquanto estão no solo. É que o andar sobre as juntas consome mais energia do que o bipedalismo completo. A esmagadora maioria dos mamíferos é quadrúpede. Andar sobre quatro patas é o meio de locomoção mais óbvio, mais fácil, mais rápido, menos dispendioso em termos calóricos e foi o primeiro meio de locomoção dos tetrápodes (animais com quatro patas) quando saíram da água, há mais ou menos 365 milhões de anos. Ou seja, já na transição dos peixes para animais terrestres poderíamos ter o surgimento do quadrupedalismo. No entanto, quando os primatas surgiram e ocuparam as árvores, ser quadrúpede para eles não continuou sendo tão vantajoso assim. Nas árvores, eram mais eficientes outros meios de locomoção, como braquial (dependurado pelos braços). Aliás, esse meio braquial permite alcançar as pontas dos galhos mais frágeis das árvores, porque o primata pode pendurar-se nele e, mesmo que ele se envergue, não quebrará. Mas para que alcançar a ponta de galhos frágeis? Simples: para pegar frutas mais maduras lá, ou apenas para pular para outra árvore próxima. Então, foi nas árvores que os primatas começaram a experimentar variantes ou alternativas para o quadrupedalismo. Ocorre que os antropóides maiores precisavam, cada vez mais frequentemente, descer das árvores para encontrar comida. Com isso, alguns passaram a ficar cada vez mais tempo no solo do que nas árvores. Para um animal quadrúpede evoluir para o bipedalismo seria, em termos evolutivos, uma estupidez, tendo em vista as vantagens esmagadoras do primeiro sobre o segundo em quase todos os aspectos possíveis. Mas para um animal que utiliza o nodelismo (andar sobre as juntas) já faria algum sentido. Caso esse animal tivesse que caminhar distâncias maiores carregando coisas, o mais lógico seria evoluir para o bipedalismo. Pesquisas recentes (publicados na revista científica americana “PNAS”) mostram que o gasto de energia andando com duas pernas é só um quarto do exibido por chimpanzés, que andam sobre os nós dos dedos. Em um experimento (foto), que imita antigos esquemas simplificados da evolução humana, chimpanzés (em postura quadrúpede e bípede) e uma jovem testam seu metabolismo em uma esteira. Os autores do novo estudo coletaram medidas do metabolismo e dos detalhes do movimento de cinco chimpanzés e quatro humanos adultos. Percorrendo a mesma distância, os humanos usaram um quarto da energia calculada em calorias - consumida pelos chimpanzés deslocando-se sobre quatro patas. Os chimpanzés foram também treinados para caminhar sobre duas patas. Em média, precisaram da mesma quantidade de calorias caminhando em duas ou quatro patas, revelaram os cientistas. Os pesquisadores observaram, no entanto, pequenas variações na quantidade de energia utilizada pelos primatas, de acordo com diferenças na maneira de caminhar e na anatomia. "Conseguimos estabelecer uma relação entre o custo energético da marcha e a anatomia dos chimpanzés", disse David Raichlen. "Também demonstramos porque alguns deles podem caminhar sobre duas patas usando menos calorias que os outros", acrescentou. Modelos biomecânicos mostraram que dar passos curtos ou possuir massa muscular mais ativa faz consumir mais energia. Ao caminhar sobre duas patas, os chimpanzés com pernas mais longas consumiram menos energia, concluíram os cientistas. Os resultados dessas observações foram em seguida comparados com fósseis de ancestrais humanos, para detectar as adaptações sofridas durante a evolução, que permitiram reduzir o consumo de energia, levando-os a se transformar em bípedes. "Descobrimos que essas adaptações, como um ligeiro aumento da longitude da virilha nos primeiros bípedes fósseis, revelaram que o consumo de energia teve papel importante" na transformação do homem em bípede, afirmaram os pesquisadores. Foto: Cary Wolinsky/Divulgação Os bípedes não evoluíram diretamente dos quadrúpedes. Alguns quadrúpedes subiram nas árvores e, lá em cima, começaram a adotar outros meios de locomoção, transformando-se em primatas. Alguns primatas evoluíram para antropóides. Alguns antropóides ficaram relativamente maiores e começaram a descer frequentemente das árvores para procurar comida no solo. Os antropóides do oeste da África permaneceram sempre em regiões muito arborizadas (préchimpanzés e pré-gorilas, por exemplo) e não se especializaram no andar bípede. Quando desciam das árvores adotaram uma postura semi-bípede. Outros antropóides (Australopithecus), dos lados leste e sul da África, precisaram ficar cada vez mais tempo em solo, tendo em vista a escassez cada vez maior de árvores, e acabaram evoluindo para bípedes. É importante destacar que a escassez de árvores, no caso dos Australopithecus, ocorreu depois do surgimento dos primeiros bípedes, como o Ardipithecus ou o Australopithecus anamensis. Portanto, tal escassez, apenas catalizou um processo já iniciado de evolução para o bipedalismo, culminando no gênero Homo, considerado bípede completo. Qual foi então a verdadeira pressão seletiva que levou ao bipedalismo? Com certeza foram as adaptações para a vida arbórea, em que alguns mamíferos começaram a abandonar o jeito quadrúpede tradicional e a experimentar outros meios de locomoção. Quando algumas dessas espécies desceram de novo das árvores, para procurar comida no solo, parte delas assumiu uma postura semiquadrúpede (nodelismo) e outra parte ficou em pé (bipedalismo). Craig Stanford (“Como nos Tornamos Humanos”), no entanto, prefere outra explicação: ainda nas árvores, os primatas precisavam se esticar para colher frutos nos galhos mais distantes. Esse comportamento (e não a busca por comida) teria levado ao bipedalismo. 25.3. Outras consequências do bipedalismo: Stanford também relaciona muitas consequências (não causas) do andar ereto, dentre as quais: a liberação das mãos e o aprimoramento da fala (um bípede não tem sua respiração relacionada com o ato de andar, como nos quadrúpedes, permitindo a emissão de uma gama maior de sons). Stanford também relaciona desvantagens, como o processo de parto. Por isso ele descreveu um parto de chimpanzé (vide próximo item). Em suma, o bipedalismo mudou a configuração do esqueleto e, de certa forma, contribuiu para o aumento do volume cerebral, o que dificultou sobremaneira o parto humano. Além disso, a diferença de altura entre um quadrúpede e um bípede, faz com que o cérebro de um bípede fique mais distante do chão, o que ajudou em seu resfriamento (um cérebro precisa manter-se frio para funcionar direito – sem trocadilhos). A queda dos pêlos contribuiu também para esse processo (páginas 81 e 82). Coloquei de forma resumida os pensamentos de Stanford. Todo o capítulo 3 do seu livro “Como nos Tornamos Humanos”, cuida desse tema de forma detalhada. Capítulo 26: Parto de um chimpanzé (descrição) em relação ao parto humano: Após discorrer sobre as dificuldades dos partos humanos, causados principalmente pelo tamanho do nosso cérebro quando nascemos, Stanford descreve um parto de um chimpanzé: "Para os nossos parentes antropóides, porém, o parto está longe de ser uma provação. Uma fêmea chimpanzé experimenta um desconforto óbvio nos últimos estágios do trabalho de parto. Ela revira o corpo de um lado para o outro, talvez buscando a posição menos dolorosa, mas o momento do nascimento é muito rápido, comparando à experiência humana. A mãe chimpanzé se abaixa, tira o nascituro do canal de nascimento e o aninha em seus braços, tudo em um único movimento. Com os dentes, ela corta o cordão umbilical, e seu filhote está nascido. E tem mais: enquanto o canal de nascimento de todos os outros primatas é uma abertura oval que vai de um lado ao outro no comprimento e alcança diretamente a vagina, o canal do nascimento humano também é oval, mas apenas até estar a meio caminho da vagina. (...). O resultado disso é que a cabeça de um bebê para sair precisa se torcer ao ser empurrada através do canal; sem essas torções, o bebê não conseguirá vir à luz. Um bebê chimpanzé emerge direto e de cara para cima. Isso permite que a mãe veja o filho e resolva problemas inesperados. Ela pode ver se o cordão umbilical está enrolado no pescoço do bebê e removê-lo, bem como tirar o muco da boca e do nariz do recém-nascido. O filhote, por sua vez, pode ajudá-la, esticando os braços para alcançá-la. Um bebê humano, ao contrário, vem à luz de bruços, invisível e inalcançável para a mãe. Ainda que a mãe tivesse os meios, naquele momento, para fazer o bebê sair do canal de nascimento, ela se arriscaria a causar danos à espinha da criança, em função da posição da mesma. A mãe não tem como ver o cordão umbilical nem o rosto do neném." (págs. 78/79 - livro "Como nos Tornamos Humanos). "Uma das maiores autoridades mundiais em Neandertais, Erik Trinkaus, da Washington University em St. Louis, Missouri, analisou ossos pévicos de Neandertais, concluindo que o tempo de gravidez de suas mulheres era de um ano, em lugar dos nove meses de hoje." (pág. 180 do mesmo livro) O parto dos humanos começou a ficar complicado a partir do segundo grande aumento do cérebro, provavelmente, com o Homo heidelbergensis. Esse segundo grande aumento cerebral pode ter sido proporcionado pelo aumento no consumo de carne e, possivelmente, pelo cozimento dos alimentos, após o controle do fogo. Certamente, as mulheres passaram a depender uma das outras na hora do parto e isso deve ter modificado algum padrão de comportamento. Um ato antes simples, passou a ser complexo e a depender de conhecimentos prévios e de amizades. Algumas conclusões, portanto, podem ser relatadas: a. A partir do Homo heidelbergensis, em que o cérebro adulto superou significativamente os 1.000 centímetros cúbicos, começaram a surgir dificuldades para as mulheres na hora do parto; b. Com o surgimento do maior cérebro de todos os tempos, do Homem de Neandertal (com 1.600 centímetros cúbicos, em média, quando adulto), essa dificuldade foi elevada às últimas consequências; c. O Homo sapiens, desde seu surgimento há 200.000 anos, possui ainda um outro complicador: o cérebro é mais arredondado do que o cérebro neandertal e quase do mesmo tamanho (1.400 cc, em média, quando adulto). Capítulo 27: Kenyanthropus platyops: um bípede misterioso O Kenyanthropus platyops conviveu com os Australopithecus e, para muitos, pode ser um ancestral da humanidade, deixando os Australopithecus relegados a um beco sem saída evolutivo. Eram seres muito diferentes dos Australopithecus, mas também eram bípedes. Vejam a descrição de Richard G. Klein, no livro “O Despertar da Cultura: "À medida que a busca de fósseis prosseguir, o garhi provavelmente não será mais a última surpresa. Meave Leakey e sua equipe puderam comprovar tal afirmação em março de 2001, quando descreveram um crânio notavelmente novo, oriundo de depósitos de 3,5 milhões de anos, a oeste do lago Turkana. Antes dessa nova descoberta, a maior parte das autoridades concordava que os fósseis humanos relativamente bem conhecidos de entre quatro e três milhões de anos atrás representavam apenas o desenvolvimento de uma única linhagem - o anamensis e seu descendente imediato, o afarensis. O novo crânio compartilha uma camada grossa de esmalte dentário com ambos e, como todos os crânios de australopitecos, conteve um cérebro pequeno, do tamanho do dos macacos. No entanto, seus dentes molares eram muito menores do que os do afarensis e do anamensis, e seu rosto era muito mais chato, projetando-se menos para a frente. Seus traços individuais podem ser comparados aos das outras espécies australopitecas, mas são combinados de maneira única, e Leakey e seus colegas o designaram como pertencente a um novo gênero e espécie, Kenyanthopus platyops, ou seja, "o homem do rosto chato do Quênia. No seu rosto chato e na forma de sua sobrancelha, o platyops antecipa um crânio de cérebro muito maior, com 1,9 milhão de anos de idade, agora designado com freqüência como Homo rudolfensis. A semelhança facial, no entanto, poderia ser simplesmente uma questão de acaso, e muitos fósseis novos serão necessários para esclarecer as relações entre o platyops, o Homo e os australopitecos. Por enquanto, o platyops é importante porque mostra que, como os macacos, os antílopes e outros grupos de mamíferos, os primeiros seres humanos se diversificaram logo no início em múltiplas formas contemporâneas. Dentro de poucos anos, os antropólogos podem estar se preocupando menos com a razão pela qual a bipedestação foi bem-sucedida e mais como o que pode ter promovido tal proliferação de espécies. Os antropólogos discordam a respeito do tipo de relações estabelecidas entre as espécies australopitecas que existiam antes de 2,5 milhões de anos atrás; e a recente descoberta do Kenyanthropus platyops só conseguiu exacerbar esse debate. Antes da descoberta do platyops, muitas autoridades concordavam que o Australopithecus afarensis era a única espécie humana entre 3,5 e 3 milhões de anos atrás e que constituía o ancestral de todos os seres humanos posteriores. O afarensis pode ser o ancestral mais plausível de muitos ou de todos os seres humanos, mas o platyops fornece uma alternativa que não pode ser posta de lado a priori. Igualmente importante, ele sugere que as novas descobertas só aumentam as escolhas, já que revelam uma espécie adicional e não esperada de australopiteco. Fica claro é que, quando as ferramentas de Oldowan apareceram, por volta de 2,5 milhões de anos atrás, o homem dividia-se entre pelo menos duas linhagens evolutivas. Uma levou ao posterior australopiteco robusto e a outra ao gênero Homo.” Vejam o pensamento de Craig Stanford, no livro “Como nos Tornamos Humanos”, sobre os Kenianthropus: "Em 2000, uma equipe de pesquisadores de fósseis, liderada por Meave Leakey, anunciou a descoberta de mais um troféu para a coleção da família Leakey. Desde 1998, os cientistas vinham desenterrando novos fósseis em um sítio chamado Lomekwi, na margem oeste do Lago Turkana. Tais criaturas haviam vivido bem no interior dos domínios de Lucy, o famoso humano fóssil, e seus confrades. Os ossos dos novos exemplares revelaram um humano dos primórdios, com rosto e dentes que lembravam um representante primitivo do nosso próprio gênero, o Homo. Leakey considerou o novo fóssil diferente o bastante dos descobertos anteriormente para receber não só o nome da nova espécie, mas também o de um gênero totalmente novo - Kenyanthropus platyops (o homem de rosto chato do Quênia). Os Leakeys exultaram diante de seu novo achado, chegando a argumentar que, com seu mosaico de características simiescas e humanas, o Kenyanthropus, e não Lucy, poderia ter sido o pioneiro de todos nós. Além disso, nada lhes poderia ser mais gratificante do que a nova descoberta, dada a rivalidade de longa data existente entre a família Leakey e Donald Johanson, que encontrara Lucy vinte anos antes. Os cientistas, no momento, discutem se a pretensão dos Leakey não seria levemente exagerada, uma vez que o Kenyanthropus pode não passar de uma pequena variante da espécie à qual pertenceu Lucy. Sem dúvida, porém, aquele local estava ficando mais povoado há cerca de quatro milhões de anos, e os fatos indicam uma coisa: assim como gorilas, chimpanzés e bonobos vivem hoje, todos, em uma mesma região da África, muitos tipos de hominídeos arcaicos também viveram ali um dia." (página 85/86) Até o momento, foram descobertos poucos fósseis sobre esse novo gênero. Portanto, o pensamento deste autor é que não há dados suficientes para afirmarmos que o Kenyanthropus foi realmente um ancestral direto da humanidade, desbancando os Australopithecus. No entanto, é possível que, após novas evidências, cheguemos a essa conclusão. Capítulo 28: Por que você não tem rabo? Nossos ancestrais não têm rabo há mais de 18 milhões de anos. Portanto, nossos ancestrais comuns com o chimpanzé (há 6 milhões de anos), com o gorila (há 10 milhões de anos) e com o orangotango (há 15 milhões de anos) já não tinham cauda. Os animais que se locomovem sobre os nós dos dedos possuem fortes adaptações no pulso, nas mãos e nas articulações, que permitem uma locomoção eficiente, sem dor. Um das principais adaptações é um músculo que trava o pulso durante a locomoção e dedos mais resistentes e rígidos. Tais adaptações também reduzem significativamente a capacidade de movimentos finos das mãos e essa talvez tenha sido uma limitação crucial que impediu alguns hominídeos de desenvolverem ferramentas mais sofisticadas. Nos primatas, a principal função do rabo é de facilitar o equilíbrio nas árvores e, naturalmente, ajudar na locomoção, de galho em galho. É mais provável que alguns primatas tenham perdido o rabo quando passaram a andar no solo por um tempo maior. No solo, a cauda dos primatas seria mais um estorvo do que um auxiliador. O senso de equilíbrio dos primatas sem cauda é mais apurado, com alguma adaptação no ouvido interno (labirinto). A ausência do rabo, e outras mudanças importantes na pelve e na coluna, proporcionaram uma locomoção em solo mais eficiente e, mais tarde, um bipedalismo completo, com a coluna no formato atual. A ausência da cauda também fez com que o órgão sexual das fêmeas ficasse mais evidente. Um grande exemplo disso é o chimpanzé atual. Quando excitadas, as fêmeas ficam com um intumescimento característico. Esse talvez tenha sido um catalisador importante da perda da cauda, em conjunto com as adaptações para o andar no solo (nodelismo, principalmente). Capítulo 29: Teorias heterodoxas Na primeira parte deste curso, foi postada uma gravura sobre o crescimento populacional há 50.000 anos, após o fim das grandes secas, que coincide com o "Grande Despertar". O Homo neanderthalensis, conforme as últimas descobertas, parecia também capaz de evoluir para o pensamento abstrato. O surgimento desse tipo de pensamento, desse grande salto, não depende de teorias heterodoxas, como invasão de ETs ou algo do tipo. Seria muito mais plausível uma modificação genética aleatória ter sido selecionada naturalmente (seleção natural). Seria bastante plausível também acreditar que a mutação surgiu com o gênero Homo e só encontrou condições de se desenvolver mais tarde, quando o fim das grandes secas permitiu o desenvolvimento das atividades humanas mais complexas. É importantíssimo que o leitor tenha a consciência de que a ciência trabalha com teorias baseadas em pesquisas empíricas ou teóricas, que levam em consideração o que é mais provável. Com os conhecimentos genéticos desenvolvidos, já é possível concluir que a Evolução não dependeu de um laboratório alienígena. É muito mais provável que a seleção natural tenha agido sobre as mutações aleatórias, selecionando os mais bem adaptados ao longo de milhões de anos. As teorias que tentam explicar o surgimento do pensamento simbólico utilizam os conceitos próprios da Evolução (mutações aleatórias e seleção natural do mais adaptado, principalmente) para tentar explicar esses fenômenos. Não podemos subestimar os poderes da Seleção Natural e das demais leis da Evolução, elas realmente são capazes de criar coisas grandiosas, sem ajuda de outros fatores externos. Se adotarmos a teoria de uma fator exógeno para o aumento da inteligência (como o laboratório alienígena) teríamos que resolver se esse fator começou a agir desde o surgimento do Homo (há milhões de anos), ou se ele nos pegou quase prontos e apenas deu uma forcinha final há 50.000 anos. APÊNDICES: APÊNDICE 1. Lista de espécies humanas e pré-humanas: (Nome da espécie (local encontrado) – significado do nome) Homo sapiens (mundo todo, origem provável na África) - Homem sábio; Homo erectus (África, Oriente Médio, Ásia, Oceania) - Homem ereto; Homo erectus pekinensis – Zhoukoudian (China) – Otto A. Zdansky (1921) 300.000-780.000aa – 1015-1225cc – Homem ereto de Pequim; Homo floresiensis (Ilha de Flores na Indonésia) - Homem da ilha de Flores; Homo neanderthalensis (Europa e Oriente Médio) - Homem do vale do rio Neander (Alemanha); Homo antecessor (Espanha) - Homem ancestral, antecessor; Homo sapiens idaltu (Etiópia) - Homem sábio mais velho, o mais antigo Homo sapiens; Homo cepranensis (Itália, província de Frosinoe) - Homem da cidade de Ceprano; Homo heidelbergensis (Alemanha) – homem de Heidelberg (cidade na Alemanha); Homo rudolfensis (Quênia) – homem de Rudolf (nome anterior do Lago Turkana); Homo rhodesiensis (Zimbábue) – homem da Rodésia (nome anterior do Zimbábue); Homo georgicus (República da Geórgia/Ásia, cidade de Dmanisi) - Homem da Geórgia; Homo ergaster (África) - Homem trabalhador; Homo habilis (África) - Homem hábil; Paranthropus boisei (África Oriental) - Antropóide paralelo de Boisei (Boisei, patrocinador das pesquisas da família Leakey); Paranthropus robustus (África do Sul) - Antropóide paralelo robusto; Paranthropus aethiopicus (pronuncia-se "etiópicus") (Etiópia) - Antropóide paralelo da Etiópia; Australopithecus afarensis (Etiópia e Tanzânia) - Macaco do Sul da região de Afar; Australopithecus anamensis (Etiópia e Quênia)- Macaco do Sul beira lago; Australopithecus africanus (África do Sul) – Macaco do Sul africano; Australopithecus garhi (Etiópia) - Macaco do Sul surpresa; Australopithecus bahrelghazali (Chade) – macaco do sul, de Bahr El Ghazal (um vale no Chade); Kenyanthropus platyops (Quênia) – antropóide do Quênia de rosto plano; Ardipithecus ramidus ramidus (Etiópia) - Macaco de solo, da raiz; Ardipithecus ramidus kadabba (Etiópia) - Macado de solo, da raiz, ancestral basal da família; Orrorin tugenensis (Quênia) - homem original dos Montes Tugen (no Quênia); Sahelanthropus tchadensis (Chade) – antropóide de Sahel (região ao sul do Saara que se estende desde o Oceano Atlântico até o Mar Vermelho) do Chade. Fonte: www.paleoantropologia.com.br APÊNDICE 2. Classificações completas de alguns primatas: 2.1. Espécies: Chimpanzé (Pan troglodytes) e Bonobos (Pan paniscus): Domínio: Eukaryota Reino: Animalia Sub-reino: Eumetazoa Superfilo: Deuterostomia Filo: Chordata Subfilo: Vertebrata Infrafilo: Gnathostomata Superclasse: Tetrapoda Classe: Mammalia Subclasse: Theria Infraclasse: Placentalia Ordem: Primates Subordem: Haplorrhini Infraordem: Simiiformes Parvordem: Catarrhini Superfamília: Hominoidea Família: Hominidae Subfamília: Homininae Tribo: Hominini Subtribo: Panina Género: Pan Espécies do gênero: Pan troglodytes (chimpanzé) e Pan paniscus (bonobo) Idade do ancestral comum das espécies: 2,5 milhões de anos Idade do ancestral comum entre o gênero Pan e o gênero Homo: 6 milhões de anos Volume cerebral médio das espécies: 400 centímetros cúbicos. Tempo de gestação: 8 meses Maturação sexual: 8 a 10 anos Tempo médio de vida em cativeiro: 50 anos Fontes: Wikipédia e livro "Eu, Primata". 2.2. Classificação dos gorilas: Domínio: Eukaryota Reino: Animalia Sub-reino: Eumetazoa Superfilo: Deuterostomia Filo: Chordata Subfilo: Vertebrata Infrafilo: Gnathostomata Superclasse: Tetrapoda Classe: Mammalia Subclasse: Theria Infraclasse: Placentalia Ordem: Primates Subordem: Haplorrhini Infraordem: Simiiformes Parvordem: Catarrhini Superfamília: Hominoidea Família: Hominidae Subfamília: Homininae Tribo: Gorillini Gênero: Gorilla Espécies: Gorilla gorilla gorilla (gorilas do oeste - gorilas da planície ocidental); Gorilla gorilla diehli (gorilas do oeste - gorilas de Cross River); Gorilla beringei beringe (gorilas do leste - gorilas da montanha); Gorilla beringei grauer (gorilas do leste - gorilas da planície oriental). 2.3. Classificação dos orangotangos: Domínio: Eukaryota Reino: Animalia Sub-reino: Eumetazoa Superfilo: Deuterostomia Filo: Chordata Subfilo: Vertebrata Infrafilo: Gnathostomata Superclasse: Tetrapoda Classe: Mammalia Subclasse: Theria Infraclasse: Placentalia Ordem: Primates Subordem: Haplorrhini Infraordem: Simiiformes Parvordem: Catarrhini Superfamília: Hominoidea Família: Hominidae Subfamília: Ponginae Gênero: Pongo Espécies: Pongo pygmaeus - Orangutangos de Bornéu; Pongo pygmaeus pygmaeus - populações do noroeste da Ásia; Pongo pygmaeus morio - populações do leste da Ásia Pongo pygmaeus wurmbii - populações do sudoeste da Ásia; Pongo abelii - orangutangos de Sumatra Obs.: A subfamília Ponginae inclui também os gêneros extintos Gigantopithecus (três espécies) e Sivapithecus. A palavra "orangotango" vem do malaio palavras "orang"(homem) e"(h) utan"(floresta), daí," o homem da floresta ". Fonte: Wikipedia.org 2.4. Classificação dos gibões: Domínio: Eukaryota Reino: Animalia Sub-reino: Eumetazoa Superfilo: Deuterostomia Filo: Chordata Subfilo: Vertebrata Infrafilo: Gnathostomata Superclasse: Tetrapoda Classe: Mammalia Subclasse: Theria Infraclasse: Placentalia Ordem: Primatas Subordem: Haplorrhini Infraordem: Simiiformes Parvordem: Catarrhini Superfamília: Hominoidea Família: Hylobatidae Não localizei subfamílias nem tribos. Gêneros: Hylobates Bunopithecus Nomascus Symphalangus Várias espécies (mais de 30) distribuídas em cada gênero. APÊNDICE 3. Algumas observações sobre a classificação dos primatas: Os Australopithecus estão em uma mesma subtribo (hominina) - apenas os gêneros são diferentes (Homo x Australopithecus); Os chimpanzés estão classificados na mesma tribo do Homo sapiens (hominini), porém em subtribos diferentes (panina X hominina); Os gorilas já estão mais afastados, estão na mesma subfamília (Homininae), porém, em uma tribo diferente (Gorillini); Os orangotangos estão ainda mais afastados, estão na mesma família (Hominidae), porém em uma subfamília específica (Ponginae); Os gibões estão na mesma superfamília (Hominoidea), porém, já não são hominídeos, estão na família dos Hylobatidae. Estou considerando hominídeos os que pertencem à nossa família. Tendo em vista que as espécies do gênero Homo e as espécies australopitecíneas estão em uma mesma subtribo (hominina), conforme entendimento dominante, penso ser mais adequado chamá-las, em conjunto, de hominíneas e não de hominídeas, tendo em vista que isso incluiria um conjunto maior de espécies. Australopithecus e Homo - mesma subtribo: hominina; Australopithecus, chimpanzés e Homo - mesma tribo: hominini; Australopithecus, chimpanzés, Homo e gorilas - mesma subfamília: Homininae Australopithecus, chimpanzés, Homo e orangotangos - mesma família: Hominidae; Australopithecus, chimpanzés, Homo, orangotangos e gibões - mesma superfamília: Hominóidea. APÊNDICE 4. Sugestões de leitura: A revista Scientific American Brasil publicou no mês de março/2010 uma interessante matéria sobre a redução dos pelos na espécie humana: "A Verdade Nua e Crua". Por Nina G. Jablonski. "Descobertas recentes revelam as origens da ausência de pelos nos seres humanos – e indicam que a pele nua foi fator-chave no surgimento de outros caracteres humanos." No mês de julho/2010 a revista (Ano 8, n.º 98) publicou uma reportagem muito boa sobre as últimas descobertas relacionadas ao Homo neanderthalensis. Segundo pesquisas conduzidas por João Zilhão, da University of Bristol, o Homo neanderthalensis era capaz de ter pensamentos simbólicos! Vale a pena dar uma lida. A matéria tem 4 páginas e uma reconstituição incrível do Neandertal. Além disso, a mesma edição trouxe um artigo da Kate Wong sobre o Australopithecus sediba. A revista Scientific American Brasil já publicou diversas edições especiais sobre Evolução Humana, além de diversas reportagens. Abaixo, um pequeno apanhado das edições e reportagens já publicadas: Edição Especial n.º 2 - Novo Olhar Sobre a Evolução Humana; Edição Especial n.º 17 - Como nos Tornamos Humanos; Edição 37 - ano 3 - março de 2005 - Reportagem de capa sobre os Homo floresiensis; Edição 56 - ano 5 - janeiro de 2007 - Reportagem de capa sobre Selam (nome que significa paz, em diversas línguas etíopes), um exemplar de Australopithecus afarensis; Edição 84 - ano 7 - maio de 2009 - Reportagem de capa sobre o estudos genéticos sobre as diferenças entre o homem e os chimpanzés; Edição 88 - ano 8 - setembro de 2009 - Reportagem de capa sobre o Homo neanderthalensis. Edição Especial n.º 37 - A Ascenção do Homem - Com as últimas descobertas, atualizadas até 2010. Edição 98 - Ano 8 - Julho 2010 - Reportagem sobre Neandertais e sobre o A. sediba. Recomendo também a leitura da revista National Geographic Brasil, edição de agosto de 2011. Esta edição trouxe uma reportagem especial, ricamente ilustrada, sobre o Australopithecus sediba. APÊNDICE 5. Sugestões de Livros: ARSUGA, Juan Luis. O Colar do Neandertal: em busca dos primeiros pensadores. São Paulo: Globo, 2005. CAVALLI-SFORZA, Luigi Luca. Genes, Povos e Línguas. São Paulo: Cia. das Letras, 2003. FOLEY, Robert. Os Humanos Antes da Humanidade: uma perspectiva evolucionista. São Paulo: Editora UNESP, 2003. GOLD, Stephen Jay. Dinossauro no Palheiro: reflexões sobre história natural. São Paulo: Cia. das Letras, 1997. KLEIN, Richard G.. (com a colaboração de Blake Edgar). O Despertar da Cultura: a polêmica teoria sobre a origem da criatividade humana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005. LEWIN, Roger. Human Evolution: an illustrated introduction. USA: Blakwell Publish, 2005. STANFORD, Craig B. Como nos Tornamos Humanos: um estudo da evolução da espécie humana. Rio de Janeiro: Elsievier, 2004. WALL, Frans De. Eu, Primata. São Paulo: Cia das Letras, 2005. WRANGHAM, Richard. Pegando Fogo: Por que cozinhar nos tornou humanos . São Paulo: Jorge Zahar, 2010. Original de 2009. 232 pg. APÊNDICE 6. Para conversar com o autor: e-mail: [email protected] Orkut: Comunidade: Paleoantropologia (criada em 2009, com cerca de 400 membros sendo vários atuantes, contendo traduções e comentários sobre diversos livros, revistas, sites, vídeos, etc.). Você será bem-vindo. Site: www.paleoantropologia.com.br (mantido pelo autor e pelo Dr. Fernando Bilharinho) Sobre o autor: Euder Monteiro tem formação em Direito, especializado em Direito Eleitoral. Atualmente, trabalha na Justiça Eleitoral. Há mais de 25 anos o autor estuda a Paleoantropologia de forma independente, já tendo participado de simpósios, palestras e outros eventos sobre o assunto. O autor possui vários livros e revistas sobre Paleoantropologia e, com freqüência quase diária, mantém discussões em sua comunidade no Orkut, chamada Paleoantropologia. Seu “site”, www.paleontropologia.com.br, contém mais textos produzidos pelo autor e pelo coproprietário do mesmo.