Funções na Educação Básica: abordagem significativa preparando para o estudo de Cálculo Lilian Nasser, Marcelo Torraca, Joana Marques, Letícia A. Gomes Projeto Fundão- IM/UFRJ CT- sala C-108 – Ilha do Fundão [email protected] RESUMO Uma análise dos livros textos de Matemática mais usados no Ensino Médio indica que o tópico de funções vem sendo apresentado de várias maneiras: por meio de diagramas de conjuntos e setas, por um conjunto de pares ordenados, como um tipo especial de relação, a partir de um gráfico, por meio de uma definição formal ou com tabelas de valores. Também é muito comum representar uma função como uma máquina, em que a variável livre (elemento do domínio) entra por um lado, sofre a influência da “lei” da função e produz como resultado a variável dependente. Mas será que esses artifícios promovem, de fato, a compreensão do conceito de função? De acordo com [1], o conceito de função está ligado à ideia de correspondência entre dois conjuntos. A função é vista como uma busca da compreensão da Realidade, com suas características fundamentais: a interdependência e a fluência (p. 109). Isto é, surge da necessidade de interpretar fenômenos da natureza, observar a interdependência entre duas grandezas e descrever regularidades. Desse modo, é natural que a ideia de função seja introduzida por meio de exemplos práticos. E não é preciso aguardar a formalização desse conceito no Ensino Médio. Observando exemplos reais e a representação gráfica, é possível conseguir bons resultados com o estudo das funções a partir do segundo segmento do Ensino Fundamental, como é defendido em [6]. Em nossas pesquisas com alunos do Ensino Médio e calouros universitários na disciplina de Cálculo I, observamos que estes esbarram em obstáculos epistemológicos [5], cuja noção está relacionada a algum entrave como causa das dificuldades. Alguns destes são: a concepção ingênua de que o gráfico de uma função não precisa ser exato, a concepção de que apenas relações representáveis por fórmulas analíticas são dignas de serem chamadas de funções e a crença de que o gráfico de uma função é obtido marcando alguns pontos no plano cartesiano e unindo-os por segmentos de retas. Destacamos ainda as dificuldades na transposição da representação verbal (descrição da situação problema) para representações analítica e gráfica de uma função. Recuperando as ideias apresentadas em [1], destacamos algumas recomendações metodológicas para o ensino de funções: - a formalização matemática do conceito de função, por meio de uma definição, deve ser adiada, em favor de uma noção intuitiva, apoiada em exemplos e gráficos; - o ensino de função não deve constituir tema à parte, mas devem ser exploradas situações da resolução de problemas até a interpretação de gráficos; - o conceito de função é concretizado por meio do estudo da variação de grandezas associadas a diferentes fenômenos de interdependência; - é recomendável uma abordagem histórica da definição de função; - o reconhecimento de padrões em sequências de figuras constitui uma boa introdução para o conceito de função; - as progressões devem ser tratadas como funções, cujo domínio é o conjunto dos números naturais; - é importante que o aluno perceba as diferentes maneiras de representar uma função: por meio de uma fórmula analítica, a descrição em palavras e a representação gráfica. Recomenda-se que, conhecendo uma representação, o aluno saiba encontrar outras formas de representar a mesma função. - No traçado de gráficos, incentivamos os alunos a usar transformações a partir de gráficos básicos conhecidos, como mostrado em [2] e [3]. Serão propostas atividades no minicurso enfocando essas dificuldades. Considerações Finais Os alunos da Escola Básica em geral devem ser preparados/estimulados a desenvolver atividades que os levem a um aprendizado significativo. Mas para que esse objetivo possa ser atingido, os professores precisam reformular a sua forma de abordar os conteúdos de Matemática. É preciso que os cursos de formação de professores desenvolvam um trabalho nesse sentido, explorando não apenas os conteúdos matemáticos a serem abordados na Escola Básica, mas também deem subsídios para construir o saber pedagógico do conteúdo [4] dos futuros professores e professores em exercício. Os professores devem ser estimulados a propor atividades que favoreçam a superação dos obstáculos, contribuindo para a construção do conceito de função. Procuramos, através das atividades abordadas no minicurso, seguir as ideias apresentadas por Caraça, com o objetivo de que o aluno possa formalizar o conceito de função, construir e analisar o seu respectivo gráfico, observando a interdependência das grandezas envolvidas. Dessa forma, é possível construir um conhecimento sólido no tratamento de funções, facilitando a transição do Ensino Médio para o Ensino Superior. Palavras-chave: Funções, Obstáculos Epistemológicos, Cálculo Referências [1] CARAÇA, B. DE J. Conceitos Fundamentais da Matemática. Livraria Sá da Costa Editora. Lisboa, Portugal, 1984. [2] NASSER, L. Uma pesquisa sobre o desempenho de alunos de Cálculo no traçado de gráficos. In: Frota, M.C.R. e Nasser, L (org.). Educação Matemática no Ensino Superior: pesquisas e debates, SBEM, 2009, p. 43-58. [ 3 ] NASSER, L., SOUSA, G. & TORRACA, M. Transição do Ensino Médio para o Superior: como minimizar as dificuldades em cálculo? Atas do V Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática (em CD). SBEM: Petrópolis, RJ, Brasil, 2012. [4] SHULMAN, L.S. Those who understand: knowledge growth in teaching. Educational Resarcher, v. 15, n.2, 1986, p. 4-14. [5] SIERPINSKA, A. On understanding the notion of function. In: DUBINSKY, E; HAREL, G (Ed.) The Concept of Function: aspects of epistemology and Pedagogy. MAA Notes, 1992, p.25-58. [6] TINOCO, L. A. A.(coord.) Construindo o Conceito de Função. Projeto Fundão. IMUFRJ, 2009.