UNIVERSIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA: A EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL DE UMA INCUBADORA DE EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS Rosely Jung Pisicchio1 – UEL – PR Grupo de Trabalho – Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Nas últimas décadas a Economia Solidária vem crescendo e se desenvolvendo como forma alternativa de geração trabalho e renda, principalmente para os que estão excluídos do mercado formal de trabalho. A Economia Solidária destaca-se como um movimento que possui princípios amparados nos valores de cooperação, de democracia participativa, de autogestão visando o bem estar individual, comunitário, social e ambiental. Para o desenvolvimento da Economia Solidária, alguns fatores foram sendo envolvidos. Em 1998 foi criado o PRONINC – Programa Nacional de Incubadoras e Cooperativas Populares que concebeu a ideia de que Universidades podem criar espaços pedagógicos/projetos com uma equipe de docentes e discentes com intuito de assessorar e de disseminar a Economia Solidária. Assim as Universidades através das Incubadoras auxiliam grupos de trabalhadores com base na Economia solidária a gerar renda e a se incluírem no mercado com uma forma alternativa de trabalho. Esse processo evoca instrumentos, diálogo e planejamento com princípios diferentes do modelo capitalista vigente. O acompanhamento e a assessoria prestada entre trabalhadores e equipe das incubadoras envolve um sistema sócio educativo que é tema da pesquisa em questão. Para isto a pesquisa aproximou-se das cinco principais universidades do Paraná – localizadas em Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Curitiba e Foz do Iguaçu, com o objetivo de analisar o trabalho das incubadoras e entender quais os sentidos educacionais relacionados às atividades que executam. Através das entrevistas junto aos coordenadores das Incubadoras e também de trabalhadores assessorados evidenciou-se pontos importantes desta relação. O sentido educacional existe, no entanto precisa ser aprimorado e a equipe envolvida pode investir em linguagens, técnicas e recursos que possam transmitir com maior clareza a formação em Economia Solidária. Cabe ainda um alerta para as Universidades no sentido de criar espaços educacionais realmente formadores em Economia Solidária e assim colaborar com a consolidação desta alternativa de trabalho. Professora Doutora pela Unicamp – Universidade Estadual de Campinas – São Paulo, no progrma de Educação e Políticas Públicas. Professora Adjunta da Universidade Estadual de Londrina – Londrina Pr. (UEL –Pr). Atualmente coordena o Projeto de pesquisa: Incubadora de Empreendimentos Solidários: Um estudo exploratório acerca da relação de assessoria entre a Equipe Técnica e os trabalhaoes dos Empreendimentos sob o n. 099/2012 – CONEP 5231) email: [email protected] 1 ISSN 2176-1396 18752 Palavras-chave: Universidade. Economia Solidária. Aprendizagem. Processo socioeducativo. Introdução O tema central desse trabalho é problematizar pontos importantes da relação Universidade e Economia Solidária. O modelo desenvolvido através das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCpc) 2, implantados a partir dos anos 90, representam um programa com atividades de ensino, pesquisa e extensão aproximando-se de comunidades e auxiliando na construção de um novo campo teórico apoiado pela prática de Economia Solidária. Sabe-se que a Economia Solidária tem sido objeto de diversos trabalhos e pesquisas acadêmicas no Brasil. Multiplicam-se estudos junto a docentes e discentes, no intuito de realizar ações e atividades junto a diversas comunidades carentes e um aumento de interesse por esta alternativa de trabalho, surgem cursos de pós-graduação com a temática, além da criação de centros de pesquisas em instituições privadas e publicas atuantes nesse campo. Gaiger (2012,p. 314) confirma esta reflexão: indicadores do crescimento da produção acadêmica sobre a Economia Solidária, tais como a evolução temática dos Grupos de Pesquisa no Diretório do CNPq (entre 2009 e 2011, o número de grupos vinculados à economia Solidária elevou-se de 92 para 130) ou o banco de currículo Lattes (5.508 pesquisadores declinam o tema, dos quais 1708 são doutores e 196, bolsistas de Produtividade – dados de março/2012). O mais sugestivo, no entanto, é o crescimento exponencial das teses e dissertações registradas pela CAPES com referência à economia Solidária: de 36, no quinquênio 1996-2000, passaram a 195 no período posterior, até 2005, e a 404, nos últimos cinco anos (2006-2011). Assim com todo esse interesse, e com vários projetos em andamento; as Universidades vêm implantando e aproximando-se dessa experiência com intuito de organizar coletivamente grupos de trabalhadores em ações cooperativas e de inclusão produtiva. Cabe aqui o conceito extensionista, tão implementado nas Universidades e que se reflete no conhecimento e na transmissão do saber, transformando o pensar daqueles que ¨sabem pouco¨ para que possam igualmente ¨saber mais¨. Na extensão está a reflexão, a visão de mundo daqueles que a levam, que se superpõe à daqueles que recebem, não pacificamente, mas contando com a presença do sujeito face ao mundo que lhe é apresentado, entendendo a realidade e transformando-a. Segundo Freire, P. 2 As ITCPs foram criadas em importantes universidades públicas e privadas. Envolve projetos de universitários de ensino ,pesquisa e extensão. Hoje existem em torno de 100 universidades que possuem suas respectivas incubadoras conforme dados do SIES – Sistema de Informações da Secretaria Nacional de economia Solidária. 18753 (1977,p.7) ¨(...) é como sujeito e somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer, por isso mesmo é que no processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido¨. A Universidade busca criar espaços de atendimento da sociedade auxiliando no processo de sustentabilidade e autonomia visando o desenvolvimento desta sociedade. Para tanto a universidade conta com todo aparelho estrutural e científico que dispõe, abrindo seus espaços e portas para que a troca efetiva e diversificada possa acontecer nos diferentes segmentos da sociedade, esta é pois, uma das funções da universidade. E segundo Figueiredo et al, (2000, p. 43) que coloca: as iniciativas oriundas das atuais políticas universitárias se fundam sobre uma concepção ampliada da responsabilidade social da universidade que, por sua vez, baseia-se em uma intervenção reformista nos problemas sociais, assim como sobre a valorização das lutas das classes populares para a construção de uma sociedade mais justa. Nesse sentido a Economia Solidária e o trabalho das incubadoras podem proporcionar espaços para que trabalhadores excluídos do mercado formal possam experimentar ciência e a tecnologia transmitida pela universidade através deste tipo de projeto. Para tanto é importante definir Economia Solidária como um sistema socieconômico aberto, que tem com base os valores de cooperação e de solidariedade no intuito de gerar renda, mediante mecanismos de democracia participativa, visando emancipação e o bem estar individual, comunitário, social e ambiental. Ao participar da economia solidária trabalhadores passam a se organizar coletivamente de forma a se apoiarem. Santos (2010, p. 2) confirma esta reflexão: ás iniciativas de Economia Solidária empenham-se em construir alternativas socieconômicas sustentáveis, assumindo um compromisso com um modelo de desenvolvimento que consiga integrar sustentabilidade econômica, social, ambiental e cultural, contribuindo assim para o aprimoramento do próprio ser humano, ganhando na riqueza dos relacionamentos e no convívio social comunitário. A Economia Solidária é formada por um conjunto de organizações econômicas, caracterizados pela propriedade coletiva dos meios de produção, isto é, todos são donos de seu negócio e participam por meio de mecanismos de tomada coletiva de decisões. A unidade mais simples da Economia Solidária são os empreendimentos econômicos solidários, que podem ser uma cooperativa, uma associação ou um grupo informal. Existe uma diversidade e pluralidade de sentidos relacionados à Economia Solidária, este tema caminha muitas vezes entre os economicistas, sociólogos e os olhares 18754 antropológicos. No entanto, ao estudá-lo fica claro que ele é um projeto de sociedade centrado no trabalho e no humano. Nesse texto, não pretendo esgotar todos os conceitos e os diferentes olhares dos autores da Economia Solidária, no entanto, não posso deixar de citar Paul Singer, fundador e idealizador teórico da Economia Solidária no Brasil, que coloca que esta é uma alternativa que a sociedade civil tem de se organizar, estabelecer processos emancipatórios e gerar renda por meio de uma alternativa de trabalho diferenciado. Em seu livro Introdução à Economia Solidária (2002); Singer deixa claro a forma como a Economia Solidária trabalha bem como as suas características e princípios. Seu objetivo é esclarecer aos trabalhadores como podem viver da Economia Solidária e organizarse sob um modelo democrático, participativo, em que todos administram conjuntamente as atividades que precisam ser realizadas. Princípios democráticos, autogestão e sustentabilidade regem esta modalidade de trabalho e para o autor o fundamental não está só na geração de trabalho e renda, mas também na formação de conhecimento, melhoria da autoestima, aprendizagem e desenvolvimento da cidadania. Para esta modalidade de relações de trabalho, algumas instituições e políticas foram sendo criadas nestes últimos anos. O Proninc – Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares3 constitui uma das principais ações inscritas na Política Nacional de Economia Solidária empreendida pela SENAES, por meio do Programa Economia Solidária em Desenvolvimento, no Ministério do Trabalho e Emprego. Este programa assume papel primordial no processo de fortalecimento dos que atuam com a Economia Solidária e procura apoiar, discutir temáticas no sentido de auxiliar no desenvolvimento das relações solidárias e cooperativas. Assim nota-se que Economia Solidária e o trabalho das Incubadoras de Empreendimentos Solidários carregam em seu bojo questões importantes no campo educacional. Seu trabalho envolve temas de diversas áreas de estudo, práticas extensionistas e atividades de desenvolvimento humano que faz com que se aproximem de uma atuação importante no sentido de construir a Economia Solidária junto aos trabalhadores, ou seja, dar A Finalidade do Pronic – conforme decreto n.7357 de 17/11/2010 é o fortalecimento dos processos de incubação de empreendimentos solidários com os seguintes objetivos: 1- Geração de trabalho e renda com foco na autogestão; 2- Construção de referencial teórico e metodológico acerca dos processos de incubação; 3Articulação e integração de políticas públicas para a promoção do desenvolvimento local; 4-Formação de discentes universitários em Economia Solidária e 5- Criação de disciplinas, cursos, estágios e outras ações para a disseminação da Economia Solidária nas instituições de Ensino Superior. ( www.finep.com.br ) 3 18755 suporte em diferentes áreas a fim de facilitar o engajamento social e econômico, o desenvolvimento dos negócios, comercialização e sobrevivência dos envolvidos. O processo socioeducativo está presente junto aos trabalhadores e equipe de assessoria das incubadoras, na participação e transmissão dessa Economia Solidária. E como isso acontece? Durante o processo de assessoria em que a equipe da Incubadora se desloca até o local dos trabalhadores, passa-se a transmitir por meio de oficinas/ e ou mini-palestras conceitos voltados para a Economia Solidária. A Universidade, a partir da equipe extensionista passa a ter o papel de educador junto ao grupo de Economia Solidária. Ela participa em situações do cotidiano do grupo, auxiliando no seu desenvolvimento, refletindo sobre as características das situações vividas, problematizando-as e estimulando as pessoas a pensarem em como solucionar os problemas de forma inovadora e em grupo, cooperativamente. Ao pesquisar as Incubadoras de Empreendimentos Solidários do Paraná em minha tese de doutorado e com o projeto de pesquisa atual venho me aproximando destes projetos/instituições universitárias com intuito de entender os sentidos educacionais relacionadas às atividades que executam. O processo de assessoria implica no auxílio ao processo produtivo e na formação/capacitação dos trabalhadores com intuito de gerar trabalho e renda. Este é, portanto, um dos desafios que está colocado as incubadoras universitárias e relaciona-se a Educação, pois as incubadoras passam a ser responsáveis pela transmissão de conhecimentos em diversos níveis para os trabalhadores que se envolvem em projetos de Economia Solidária. Assim o estudo quis responder alguns questionamentos como: As incubadoras reconhecem o seu papel educativo? Qual a visão deste trabalhador em relação às incubadoras? Qual o papel da Universidade? Essas são as questões norteadoras que apresento neste momento, ressaltando que a política de geração de trabalho e renda com base na Economia Solidária é recente em nosso país. As atividades que as incubadoras realizam ainda precisam ser entendidas, seus sentidos e o seu papel podem ser ampliados ao se aproximar mais do universo e da atuação formativa e pedagógica tão importante para os empreendimentos e trabalhadores. As incubadoras universitárias podem estudar e pesquisar como essa relação vem sendo desenvolvida e assim contribuir para o entendimento e disseminação de atividades e ações com gênese na proposta de Economia Solidária. 18756 Portanto o objetivo geral foi o de analisar o trabalho das Incubadoras de Empreendimentos Solidários do Paraná através do relato de seus coordenadores e trabalhadores relacionando-os ao campo educacional. Tendo ainda como objetivos específicos: - conhecer a percepção dos atores entrevistados em relação a este tipo de projeto; entender o processo de assessoria como um processo educativo e auxiliar na reflexão destes atores sobre o papel das Incubadoras de Empreendimentos Solidários. Metodologia O estudo utilizou-se de metodologia qualitativa, realizando entrevistas junto aos coordenadores das Incubadoras Paranaenses (5) e dos seus trabalhadores (20) assessorados com objetivo de caracterizar seus diferentes trabalhos e evidenciar os aspectos educacionais implícitos neste tipo de trabalho. As Incubadoras universitárias pesquisadas foram: INTES – UEL Londrina, IESOL, Incubadora da Universidade Estadual de Ponta Grossa; Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UFPr; INDIOS – Incubadora de Direitos e Organizações Solidarias da UNIOESTE – Campus Foz do Iguaçu e por fim Incubadora Núcleo Unitrabalho da UEM - Maringa. Os trabalhadores entrevistados fazem parte de uma cooperativa de catadores/reciclagem assessorados pela incubadora de UEM. Foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturado, e as perguntas iniciais referiam-se à dados sobre as atividades e caracterização da forma de trabalho ( histórico, atividades, rotina , tarefas e oficinas aplicadas e como a Economia Solidaria era disseminada ), num segundo momento os aspectos identitários eram questionados ressaltando o papel educacional, universidade e também os sentidos deste trabalho e do processo de assessoria na visão dos próprios trabalhadores. As entrevistas foram realizadas individualmente pelo próprio pesquisador após a aprovação formal do Comitê de Ética em Pesquisa (parecer 099/2012 – registro no CONEP 5231). Após a realização das entrevistas essas foram transcritas integralmente e assim os tópicos foram selecionados. A sistematização se deu por meio da técnica de análise de conteúdo que fornece uma analise criteriosa do processo de comunicação e visa a apreciação objetiva da mensagem. Num primeiro momento as perguntas e respostas foram colocadas em conjunto para obter uma ideia da visão de cada incubadora frente às diferentes questões abordadas e logo após foram sendo delimitados os recorte/trechos e contradições mais significativas para cada pergunta, para este artigo fez-se o recorte de uma das categorias que estão relacionados principalmente com os aspectos educativos aqui enfatizados: 18757 Sentido do trabalho e o Papel da Incubadoras Paranaenses – aborda a visão de Economia Solidária, o sentido de cada incubadora em relação ao trabalho que realizam, seu funcionamento geral e o que pensam em relação ao trabalho que desenvolvem. Resultados e Discussão A pesquisa evidenciou que há uma relação em construção frente às Incubadoras de Empreendimentos Solidários Paranaenses e o tema Economia Solidária que é a base teórica das incubadoras. Todos concordam com a importância da Economia Solidária, mas coordenadores e trabalhadores entrevistados ressaltam diferentes olhares, diversidade de opiniões e sentidos em relação a Economia Solidária tais como: função de ¨transformação¨, ¨apoio¨, ¨geração de renda¨, ¨função educativa e de cidadania¨, ¨alternativa ao desemprego¨. Na pesquisa, muitas responsabilidades das incubadoras foram sendo descritas. Percebem-se várias dimensões deste trabalho, como observado por um dos coordenadores entrevistados: ¨ trabalhar toda a comunidade, a cultura, o território [...] sair das áreas temáticas para fazer algo novo [...] cruzar áreas de conhecimento e divulgar todo este trabalho, [...] valorizar as questões regionais, trabalhando as oportunidades numa perspectiva libertadora ¨. Será que é possível atender tantas demandas? Encontrei coordenadores bastante preocupados e envolvidos com esta questão, questionando aquilo que cabe à incubadora desenvolver, relatos que deixam claro que o interesse é potencializar tanto a equipe como os trabalhadores assessorados e que colocam a importância da Economia Solidária e das incubadoras neste jeito diferente de produzir. Esta função de apoio e de levar à Economia Solidária está relacionada ao conceito do Ministério Trabalho e Emprego, que diz: ¨As incubadoras são organizações públicas e/ou privadas que desenvolvem ações as várias modalidades de apoio direto, assessoria, assistência técnica junto aos empreendimentos de Economia Solidária¨ (www.mte.gov.br). Assim, a pesquisa foi trazendo à tona as diferentes ações que as incubadoras executam, as várias atividades que estão voltadas para o marco jurídico, técnico e produtivo4 visando gerar trabalho e renda. Todas essas funções descritas acima, implicam em um serviço educativo que é realizado pela equipe de assessoria quando realiza as visitas, contato com os trabalhadores 4 O código civil brasileiro possui legislação especial sobre a Economia Solidária (Lei 5764/71), sendo que no marco legal são apontadas as características peculiares das cooperativas, estabelecidas no artigo 1094 do mesmo código. Já quanto às questões técnicas e produtivas, não há legislação específica, são delineadas através das atividades e de acordo com cada incubadora e com as necessidades dos grupos assessorados. 18758 da Economia Solidária no sentido de disseminar este conhecimento e auxiliar no processo de geração de trabalho e renda. Já em outra incubadora destaca-se em seu trabalho um conjunto de atividades que visam organizar e assessorar os empreendimentos solidários, dando suporte e tendo à frente a função pedagógica, a função de fortalecimento de sua base teórica: a Economia Solidária. Percebe-se a importância do desenvolvimento de metodologias para ações educativas, em que são gerados instrumentos pedagógicos de gestão e controle aplicados aos empreendimentos solidários, quando o coordenador afirma: ¨a incubadora tem um papel importantíssimo em construir este aporte e não só ficar na geração trabalho e renda, porque se ela ficar na geração do trabalho e renda ela vai ter várias decepções, como nós já tivemos [...]¨(coordenador INTES –UEL), fica implícito que a incubadora necessita avançar em relação às suas atividades estratégicas organizativas e investir em formação cultural, educação e cidadania, além de investir em uma tecnologia social apropriada aos grupos, para assim não se ¨decepcionar¨ e obter o sucesso tão almejado, conforme a própria fala acima. Na pesquisa ficou claro que o processo socioeducativo está mais presente na equipe de assessoria do que nos trabalhadores assessorados. A equipe tem clareza de que seus ensinamentos, diálogo, podem auxiliar no empoderamento do grupo e na conscientização com fins de melhoria na consciência e no exercício de cidadania, como no relato do coordenador abaixo: a gente quer não só que a incubadora tenha uma estrutura forte, mas que os grupos também, que os alunos e discentes saibam o quanto este projeto socioeducativo é importante para os trabalhadores e que isto seja disseminado de forma a auxiliar na consciência do grupo, no desenvolvimento da Economia Solidária, portanto o cuidado com a transmissão dos conhecimentos, com a linguagem, com os recursos e as formas como tudo isso é planejado, se torna imprescindível no projeto incubadora.(coordenador da incubadora da UEL) Nesse sentido está à importância da tecnologia social, na forma como se atua na incubadora, se pensa e planeja as estratégias pedagógicas que irão ser apresentadas ao empreendimento e a todos que dele participam. Portanto, é necessário haver uma construção efetiva entre incubadoras e grupos de Economia Solidária, um processo participativo em que opiniões, sugestões e análises são desenvolvidas conjuntamente para fortalecer o processo de produção, esses fatores passam a auxiliar na permanência e na consolidação desta tecnologia social. O importante é considerar o conhecimento popular e interagir com a realidade distinta de cada grupo, ou seja, estar em conexão com a base social da organização do trabalho e as 18759 incubadoras participarem com os seus questionamentos, técnicas, instrumentos e apoio especializado no sentido de propiciar o desenvolvimento desta tecnologia social. Já para os trabalhadores isto não é significativo, porque estes não percebem os detalhes que estão inseridos em cada oficina, ou no planejamento das atividades, ou seja, as visitas são vistas como importantes, no entanto a implicação deste trabalhador varia muito de empreendimento para empreendimento, e muitas vezes o entendimento daquilo que é repassado é lento e demorado. O relato do trabalhador abaixo é esclarecedor: bem tem coisa que eu não entendo, eles vem aqui fazem umas coisas que eu não sei não, eles querem que a gente aprende, mas as vezes a gente não entende... precisa explicar melhor e muitas vezes e lá na produção é que parece que fica melhor pra gente entender, quando eles fazem o trabalho junto também fica bom pra gente entender. (trabalhador da reciclagem) Nesse contexto, percebe-se que há dificuldades no entendimento da proposta da incubadora e que o repertório dos trabalhadores é muito restrito. Sócio educativamente se faz necessário recursos e instrumentos práticos que colaborem com o entendimento, colocar meios e técnicas práticas que o empreendimento possa participar de forma mais efetiva e reter os conteúdos repassados. As incubadoras são responsáveis por assessorias em diferentes áreas; como administrativa, contábeis, jurídicas e comerciais, é importante o desenvolvimento de instrumentos, tecnologia social que possa ser acessada e entendida por estes trabalhadores e assim melhorar o seu potencial produtivo e consequentemente melhorar a renda e sua qualidade de vida. Segundo o relato de um dos coordenadores entrevistados que diz: ¨[...] ela também não pode ficar só no nível acadêmico, só de discussão, então, por isto é uma tecnologia social, nos ainda não alcançamos,estamos buscando formas para construir esta tecnologia social, de fortalecer esta Economia Solidária junto com os grupos e com a nossa equipe ¨. Discutir o tema trabalho, na minha visão, é um ponto importante para recuperar e inserir como forma principal de organizar os trabalhadores na proposta de Economia Solidária e que pode ser aliado com as questões de educação tão citadas durante a pesquisa, não esquecendo que o processo de aprendizagem não é um processo rápido. Ele é lento, e difícil, principalmente pelos aspectos culturais relacionados aos trabalhadores assessorados que possuem altos níveis de exclusão e que tem no seu cotidiano uma realidade difícil de submissão e conformismo. 18760 Portanto, não se pode perder de vista que este é um processo de mudança de valores, de cultura, e nesse sentido as incubadoras pesquisadas em sua maioria, realizam encaminhamentos para a educação formal, para a escola básica e proporcionam ainda minicursos e cursos extensionistas com diversos temas populares com vista a melhorar o nível formativo e cultural dos que participam da Economia Solidária. Por fim coloco que as incubadoras estão submetidas à lógica das universidades. E qual a implicação de tudo isto? A resposta está nas questões voltadas ao calendário, período de férias, regulamentos internos da universidade, linguagem, equipe, que podem atrapalhar o desenvolvimento das atividades e da relação incubadora e trabalhadores da Economia Solidária, implicando o desenvolvimento de tarefas com um tempo que não condiz com as necessidades produtivas dos grupos assessorados. A Universidade tem que ter clareza de que a ciência não é neutra, pois é nisso que se baseia a responsabilidade do cientista social no sentido de elaborar pesquisas/e ou projetos no sentido de superar as condições de exclusão social. A pesquisa mostrou que há um universo ainda a ser explorado nas relações sociais e nos vínculos que se formam entre a equipe de assessoria e os trabalhadores de Economia Solidária, pois muitos dos trabalhadores entrevistados não sabem o que é, e como a universidade pode contribuir com esses trabalhadores, bem como o que faz uma Incubadora. Novamente os aspectos educacionais estão implícitos neste resultado, ou seja, os vínculos, o trabalho, o que é de responsabilidade da incubadora e o que é de responsabilidade dos trabalhadores devem ser mais explorados durante a assessoria. Os trabalhadores entrevistados demonstraram desconhecimento dos objetivos da incubadora e os dados coletados mostraram que o diálogo com a incubadora se restringe muitas vezes ao presidente da cooperativa, conforme o relato abaixo: pra nós aqui o importante é tudo funcionar e obedecer o Presidente da cooperativa, não adianta todo mundo falar o trabalho que tem que fazer, porque eles querem ajudar mas nem todo mundo entendi, sabe como é que é...falta um ajudar o outra, falta liderança , falta organizar direito e a gente as vezes não sabe quem obedecer,não é mesmo? (trabalhador da reciclagem) As visitas aos empreendimentos ocorrem conforme o cronograma de cada incubadora e as atividades em sua maioria podem ser mais ampliadas, pois percebeu-se que estas estão relacionadas principalmente aos aspectos de organização do trabalho, às questões de sobrevivência, fornecendo assim uma imagem restritiva do papel da incubadora. 18761 Observa-se, que esta imagem é repassada durante o processo de assessoria, ou seja, há necessidade de ampliação das funções das incubadoras, pois muitos trabalhadores a vêem como uma ¨entidade de escuta¨, como mostra o seguinte relato: o trabalho da incubadora? ... aqui é bom... sim é bom... ter alguém pra ouvir e nos ajudar nas reclamações... a gente aqui tudo se conhece, é bom, um ajuda o outro, dá uma força um pro outro, nas necessidades, nas dificuldades, um sabe do outro e procura ajudar. Quando eles vem aqui,eles falam com a gente e a gente escuta,né. (trabalhador da cooperativa). Esses grupos de trabalhadores, ao se integrarem, demonstram um sentimento de pertencimento e aceitação social importante e o expressam em seu trabalho. Cada um sabe um pouco das necessidades/dificuldades e anseios uns dos outros e isto deve ser considerado. Não há como negar que nas práticas sociais existem várias dimensões como: gênero, classe, crenças que devem ser discutidas para poder conhecer haver um maior desenvolvimento. Segundo Veronese (2008, p.25), ¨a dimensão social está ligada as emoções, à capacidade de interagir, de ser empático, de ser criativo e não se deve correr o risco de ignorá-las, pois auxiliam na percepção das necessidades de seus atores¨. Entender a Economia Solidária é um esforço intelectual intenso e pode-se afirmar que na incompletude desta pesquisa, há um conhecimento que está lá, está presente nos grupos, nas incubadoras, numa dimensão material e imaterial que precisa ser acessada, ligando outros elementos que possam criar condições de reprodução da Economia Solidária. É importante criar espaços de diálogo entre a Universidade e os trabalhadores assessorados, discutir os receios, as esperanças, os resultados conseguidos, as ajudas e trocas mútuas, os processos realizados em conjunto e as conclusões sobre a viabilidade e importância de sobreviver dignamente. Nesse sentido as incubadoras universitárias atuam estimulando estes relatos e auxiliando nas conclusões de forma a expandir as soluções e melhoria no desenvolvimento do empreendimento. O conhecimento das relações entre incubadoras e trabalhadores perpassa na realidade que os cerca e a pesquisa mostrou que ainda há necessidade de almejar e construir propostas educacionais que norteiem a produção de espaços portadores de Economia Solidária. REFERÊNCIAS FIGUEIREDO, H et all. Articulando Pesquisa e Extensão: buscando o diálogo entre a escola básica e a Universidade. Revista participação. Brasília, v.4, n7, julho 2000. 18762 FREIRE, P. Extensão ou Comunicação. Tradução de Rosisca Darcy de Oliveira. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. GAIGER, L. Por um olhar inverso:prismas e questões de pesquisa sobre a Economia solidária. Revista Sociedade e Estado, v.27, n2, maio/agosto,2012. Ministério do Trabalho e Emprego. Guia das Incubadoras. Brasília,2013. Disponível em <www.mte;gov.br>. Acesso em: 1 Mai 2015. SANTOS, L.M. Economia Solidária: Propostas e Perspectivas. In: Economia Solidária em Londrina. BORENELLI, B. et. All (Orgs). Londrina, UEL, 2010. SIES –Sistema de informação em Economia Solidária. Brasília, MTE. Gov.br. 2007. SINGER, P. Introdução a Economia Solidária. São Paulo: Ed. Perseu Abramo,2002. VERONESE, M. Psicologia Social e Economia Solidária. Aparecida, SP: Idéias e Letras, 2008.