PUBL I C A Ç Õ E S D A F U N D A Ç ÃO R O B INSO N Para a história da Fundação Towards the History of the Foundation ISSN 0874-8470? PUBL I CAÇÕ E S D A F U N D AÇÃO R O B I N S O N Para a história da Fundação Towards the History of the Foundation 0 PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON N.º 0 ROBINSON FOUNDATION PUBLICATIONS No. 0 Para a história da Fundação Towards the History of the Foundation Portalegre, Setembro de 2007 Portalegre, September 2007 Fundação Robinson Robinson Foundation CONSELHO DE CURADORES COUNCIL OF CURATORS José Fernando da Mata Cáceres (Presidente) (Chair), António Fernando Biscainho, Carlos Melancia, Jaime Azedo, Hemetério Cruz, Nuno Oliveira, Luís Calado, Ana Pestana, António Ventura, Filipe Themudo Barata CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRATIVE COUNCIL José Polainas (Presidente) (Chair), Helena Nabais, Ana Manteiga, João Adolfo Geraldes, Joaquim Leal Martins CONSELHO FISCAL FISCAL COUNCIL António de Azevedo Coutinho (Presidente) (Chair), José Escarameia de Sousa, António Escarameia Mariquito ADMINISTRADORA DELEGADA ASSISTANT ADMINISTRATOR Alexandra Carrilho Barata A correspondência relativa a colaboração, permuta e oferta de publicações deverá ser dirigida a All correspondence to be addressed to Fundação Robinson Robinson Foundation Apartado 137 7300-901 Portalegre Tel. 245 307 463 [email protected] DESIGN DESIGN TVM designers / Luís Moreira COORDENAÇÃO COORDINATED BY António Camões Gouveia COORDENAÇÃO EDITORIAL EDITORIAL COORDINATION Há Cultura Lda. TRADUÇÃO TRANSLATED BY Publicações da Fundação Robinson Robinson Foundation Publications CONSELHO CONSULTIVO EDITORIAL BOARD Amélia Polónia, António Camões Gouveia, António Filipe Pimentel, António Ventura, João Carlos Brigola, José Heitor Dias Patrão, Luísa Tavares Moreira, Maria João Mogarro, Mário Freire, Rui Cardoso Martins DIRECTOR EDITOR António Camões Gouveia ADMINISTRAÇÃO DAS PUBLICAÇÕES PUBLICATIONS ADMINISTRATOR Alexandra Carrilho Barata SECRETARIADO DE EDIÇÃO PUBLICATION SECRETARY Ana Bicho (Câmara Municipal de Portalegre Portalegre Town Hall) Mónica Varese Andrade (inglês) (english) Pedro Santa María de Abreu (espanhol) (spanish) REVISÃO EDITING Alexandra Xisto Pinto, António Camões Gouveia, Célia Gonçalves Tavares, Jorge Maroco Alberto, Nuno Miguel Lima IMPRESSÃO PRINTED BY Gráfica Maiadouro DEP. LEGAL 332 007/11 ISSN 1646-7116 Na capa, fotografia de Cover photograph by António Cunha, 2006 4 Sonhar o futuro com o passado A dream of the future through the lens of the past Soñar el futuro con el pasado Presidente do Conselho de Curadores | Chair, The Council of Curators 8 Para uma cronologia da Fábrica Robinson (1848–1966) Towards a chronology of the Robinson Factory (1848–1966) Para una cronología de la Fábrica Robinson António Ventura 24 Documentos: os testamentos dos primeiros Robinson Documents: the first Robinsons’ last wills Documentos: los testamentos de los primeros Robinson Alexandra Xisto Pinto, Célia Gonçalves Tavares, Jorge Maroco Alberto, Nuno Miguel Lima 42 Estatutos, actividades e factos relevantes da constituição e funcionamento da Fundação Robinson Statutes, activities and facts relevant to the setting up and running of the Robinson Foundation Estatutos, actividades y hechos relevantes en la constitución y funcionamiento de la Fundación Robinson Alexandra Carrilho 56 Estatutos da Fundação Robinson Robinson Foundation Statutes Estatutos de la Fundación Robinson 68 Espaço Robinson. Do passado para o futuro The Robinson Space: from past to future Espacio Robinson – desde el pasado, hacia el futuro Eduardo Souto de Moura, Graça Correia 82 O logótipo da Fundação Robinson The Robinson Foundation logo El logotipo de la Fundación Robinson Eduardo Souto de Moura, Graça Correia, António Queirós 86 O design nas Publicações da Fundação Robinson Design for the Robinson Foundation Publications El diseño en las Publicaciones de la Fundación Robinson Luís Moreira 100 Como a cortiça, a cultura “vem sempre ao de cima”. Traços de um esboço de programação de cultura Like Cork, culture always ‘bobs to the surface’. Traces of a draft of culture programming Como el corcho, la cultura “siempre viene arriba”. Trazos de un boceto de programación de cultura. António Camões Gouveia 120 Síntese: resumos e palavras-chave Abstracts and key-words Resúmenes y palabras clave 128 Normas das Publicações Submission Guidelines Normas para la presentación de artículos Sonhar o futuro com o passado A dream of the future through the lens of the past José Fernando da Mata Cáceres PRESIDENTE DO CONSELHO DE CURADORES CHAIR OF THE COUNCIL OF CURATORS Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 4-7, ISSN 1646-7116 Tendo a convicção de que o passado faz parte da nossa história e deve ser encarado como tal, delineámos o nosso percurso procurando valorizar os factores que nos distinguem, que traçam o nosso carácter, que nos identificam e nos diferenciam dos demais. Em pleno Alentejo, somos diferentes porque somos do Norte, e nesta transição com a Beira congregamos o melhor de duas regiões. A nossa diferença sente-se ao nível das nossas especificidades: dos vinhos, dos queijos, da salsicharia, do clima, dos temperamentos, da cultura e das culturas, da orografia própria dos contrafortes da Serra de S. Mamede… Somos feitos de fragmentos do passado, aglomerados de experiências e espíritos forjados por tradições e legados diversos. Também na cortiça e nos seus processos de laboração se forma a nossa história. Foi assim desde sempre, e os ingleses souberam aproveitar este saber-fazer para criar uma fábrica neste que foi em tempos um dos maiores centros geográficos da cortiça ibérica. A Fábrica Robinson é uma herança de Portalegre, faz parte da vida que corre pelas ruas da cidade. Queremos preservar a memória de um lugar vivo e cheio de vida, o património arqueológico e industrial, a memória de muitas centenas de pessoas que por ali passaram e que ali viveram parte da vida. O maior tributo que podemos prestar a este lugar é vivê-lo, abrir as portas da fábrica à cidade e mostrar às pessoas a riqueza dos seus 170 anos. Admiramos a tenacidade e o empenho de quem tanto trabalhou para manter em laboração a fábrica, para não a deixar morrer, para preservar os trabalhadores e a sua invulgar capacidade de trabalho. A aposta na salvaguarda e valorização deste espaço, com um projecto inovador, associado à qualidade prestigiada do 5 Firmly believing that the past is part of our history and should be engaged as such, we plotted our progression, seeking to valorize the features which distinguish us, which make up our character, identify us and differentiate us from everybody else. Right in the middle of the Alentejo, we are different because we are from the North, and in this transition with Beira, we merge the best of two regions. Our difference can be seen in our specificity: our wines, cheeses, sausages, climate, temperament, culture and cultures, the orography specific to the buttresses of São Mamede Mountain. We are made up of fragments of the past, an agglomerate of experiences and minds wrought by differing traditions and legacies. Also part of our history is cork and its processing. It has always been like this, and the British were well able to avail themselves of this “knowing-how-to-do”, to create a factory in this erstwhile major geographical centre of the Iberian cork lands. The Robinson Factory is a legacy for Portalegre, it is part of the life that courses through the streets of the town. We want to keep the memory of a living and bustling place, our archeological and industrial heritage, the memory of many hundreds of people who passed through it and spent part of their lives there. The greatest tribute we can pay this place is to lend it life, to open the doors of the factory to the town and show people the riches of its 170 years. We admire the tenacity and the commitment of all those who laboured to keep the factory operating, not to let it die, to keep the workers and their uncommon capacity for work. The commitment to safeguard and valorize this space through an innovative project, associated with the presti- Arquitecto Souto Moura é mais uma prova de que a parceria entre a Câmara Municipal de Portalegre e a Fundação Robinson é uma mais valia para a região. A requalificação daqueles 7 ha e de alguns dos edifícios adjacentes, prevê a criação de uma área de lazer que engloba, de forma integrada e sustentável, as áreas cultural, tecnológica, associativa, educacional e escolar, habitacional e urbanística, paisagística e ecológica. Sem nunca esquecer a sua origem e perfeitamente integrado no tecido histórico da cidade, o Espaço Robinson recorda o prestígio da velhinha Fábrica da Rolha ao mesmo tempo que cria novas dinâmicas, graças à articulação entre as diferentes áreas e às numerosas iniciativas locais que vão potenciar a vivência, a animação e o desenvolvimento de Portalegre. Assim sonhamos o futuro, assente naquilo que nos orgulhamos de ter sido o nosso passado. É este o rumo que queremos seguir para que Portalegre se possa distinguir por boas práticas, fortalecendo a sua posição no panorama internacional. gius architect Souto Moura, is further proof that the partnership between the Portalegre Town Hall and the Robinson Foundation is added value for the town. The regeneration of these 7 hectares and of some of the adjoining buildings forms part of a plan for a leisure area which, in an integrated and sustainable way, embraces the areas of culture, technology, associations, education and schools, housing and urban planning, landscaping and ecology. Never forgetting its origin and perfectly woven into the historical fabric of the town, the Robinson Space evokes the prestige of the old Cork Factory, at the same time giving rise to new dynamics, thanks to the articulation of the different areas and to the numerous local initiatives which will potentialize the experience of living, energizing and development of Portalegre. This is how we dream of the future, grounded on what we are proud to call our past. This is the course we wish to follow so that Portalegre can stand out by means of best practice, strengthening its position on the international stage. 6 7 Para uma cronologia da Fábrica Robinson 1848 –1966 Towards a chronology of the Robinson Factory 1848–1966 António Ventura PROFESSOR CATEDRÁTICO DA FACULDADE DE LETRAS DE LISBOA. DIRECTOR DO CENTRO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA. ACADÉMICO CORRESPONDENTE DA ACADEMIA PORTUGUESA DA HISTÓRIA. FULL PROFESSOR AT FACULDADE DE LETRAS, UNIVERSITY OF LISBON. DIRECTOR OF THE HISTORY CENTRE OF THE UNIVERSITY OF LISBON. ACADEMIC CORRESPONDENT OF THE PORTUGUESE HISTORICAL ACADEMY. Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 8-23, ISSN 1646-7116 Quando Thomas Reynolds (Sénior) morreu na Nova Zelândia, em 1867, estava longe de imaginar que a pequena oficina de preparação de cortiça que vendera, alguns anos antes, a um seu compatriota, George Robinson, na cidade de Portalegre, se iria converter numa referência na história da indústria portuguesa. A Fábrica de Cortiça Robinson foi durante século e meio um caso invulgar no panorama industrial português. Fundada pelo empresário inglês George Robinson, manteve ao longo do tempo uma laboração sem interrupções, sabendo sempre renovar-se mau grado as naturais dificuldades conjunturais. A sua história confunde-se com a história de Portalegre, do Norte Alentejano e da Indústria Corticeira Nacional. Essa história consubstancia-se num importantíssimo património histórico, com destaque para um rico espólio no campo da arqueologia industrial. A empresa conservou numerosas estruturas e equipamentos do século XIX, alguns em perfeito estado de funcionamento, apesar das renovações tecnológicas periódicas. Para além do seu interesse museológico, esse material tem uma valiosa dimensão pedagógica. Mas a história da Robinson não se reduz a essa componente material. Há que In 1867, when Thomas Reynolds Senior lay dying in New Zealand, the furthermost thought in his mind must have been that the small cork-processing factory in Portalegre, which he had sold some time before to his fellow-Briton, George Robinson, would become a major reference in Portuguese industrial history. For 150 years, the Robinson Cork Factory was an important development in the Portuguese industrial landscape. Founded by the British entrepeneur, George Robinson, it remained a functioning enterprise over the years, always aware of how to change and adjust, despite the predictable difficulties of each moment in time. Its history is inextricably enmeshed with that of Portalegre, Northern Alentejo and the Portuguese cork industry. This history is embodied in a historical legacy of the greatest significance, of which the most important is the rich patrimony in the area of industrial archeology. The Company retained numerous nineteenth-century structures and equipment (some of which in perfect working order), notwithstanding the regular technological renovations. In addition to its interest as Museum exhibits, this material offers valuable learning tools. However, Publicidade à Sociedade Corticeira Robinson Bros. Lda., sobre cortiça. Robinson Bros.’s history does not reside merely in this Advertisement for Robinson Bros. material content. To the Company’s archives must be Cork Processing Co., on cork. added other documentary sources scattered among public and private archives, both in Lisbon and in Portalegre, an iconography comprising mainly photographs and post-cards, and a legacy of life histories of many employees who are still alive, as also a sum total of social and cultural experiences which made of this Company an outstanding, one might almost say, a unique example in the Portuguese industrial landscape of the past 150 years. Associated to the Company there were charity and 9 acrescentar ao arquivo da empresa outros acervos documentais espalhados por arquivos públicos e privados, tanto em Lisboa como em Portalegre, uma iconografia que compreende essencialmente fotografias e postais e também um património de histórias de vida de muitos operários ainda vivos, que têm toda uma vivência social e cultural que fizeram desta empresa um caso invulgar, diríamos quase ímpar, no panorama industrial luso dos últimos cento e cinquenta anos. A ela estiveram associadas organizações de beneficência e de instrução, corporações de bombeiros, iniciativas culturais do educational institutions, fire stations, cultural initiatives of major influence which helped make the region what it is today. The history of the factory is inextricably linked to that of Portalegre. The ripples of the Company’s existence in the life of Portalegre went far beyond the merely economic sphere, affecting the social, cultural and even mental strata. It is possible to state that the cork-processing activities moulded Portalegre’s society over a period of 150 years, and that the factory’s chimneys, although built at a late date, became, together with Fachada da Fábrica Robinson e Largo do Jardim do Operário com neve. Robinson Factory façade and Largo do Jardim do Operário after a snowfall. 10 maior alcance que ajudaram a fazer com que esta região seja o que é hoje. A história da fábrica confunde-se com a história de Portalegre. Os reflexos da vida da empresa na sociedade local ultrapassaram em muito os aspectos meramente económicos, projectando-se nos domínios do social, do cultural e até do mental. Podemos dizer que a actividade corticeira moldou a sociedade portalegrense ao longo de cento e cinquenta anos e que as chaminés da fábrica, embora edificadas numa fase tardia, se converteram, juntamente com a inconfundível silhueta da Sé Catedral, num ex-libris da cidade. O caso de George Robinson não é inédito entre nós. Já no século XVIII se assinalam diversos industriais ingleses que se fixam em Portugal, o que continua a ocorrer na centúria seguinte, em especial no sector dos vinhos do Porto e da Madeira, havendo neste último caso diversos estudos sobre a influência inglesa na economia e na sociedade madeirense. Mas só no século XIX alguns britânicos se interessaram por um sector tradicional, mas ainda longe da expansão que alcançará em meados de oitocentos – o corticeiro – como sucedeu com os Reynolds e depois com George Robinson. Apresentamos a seguir uma breve cronologia da história da Fábrica de Cortiça Robinson. É um pálido reflexo de uma vivência mais que secular, mas ilustrativo da sua importância no passado, no presente e no futuro. George William Robinson nasceu em Wakefield, condado de York, Inglaterra, em 1815. A sua família tinha interesses ligados à importação de cortiça portuguesa, que era transformada em fábricas britânicas. George Robinson veio a Portugal para contactar directamente com o comércio corticeiro local, visitando diversas localidades do litoral – Moita, Setúbal, Sintra – dirigindo-se depois a Portalegre. Aqui, um seu compatriota, Thomas Reynolds, fundara em 1837 uma pequena oficina para transformação de 11 the unmistakable silhouette of the Cathedral, an ex-libris of the town. The case of George Robinson is not unusual in Portugal. As far back as the eighteenth century, mention is made of several British men of industry who took up residence in Portugal. This would again occur in the century that followed, especially in the Port and Madeira wine industries; in the latter case, there are several studies of British influence in the Madeiran economy and its society in general. It was, however, only in the nineteenth century that several Britons took an interest in a traditional sector, although by no means as extensive as that achieved in the mid-1800s. – the cork industry – as was the case of the Reynolds and later of George Robinson. The following is a brief chronology of the history of the Robinson Cork Factory. It is but a pale reflection of more than a century’s activities but it illustrates its importance in the past, the present and the future. George William Robinson was born in 1815 in Wakefield, Yorkshire, Britain. His family had ties with importing Portuguese cork which was processed in Britain. George Robinson travelled to Portugal for in loco contact with the cork trade and visited several localities of the coastal region – Moita, Setubal, Sintra, ending in Portalegre. Here, a fellow Briton, Thomas Reynolds, had set up a small cork processing factory, in part of what had been the Franciscan convent, uninhabited after the dissolution of the religious orders carried out by the Liberals (victorious in 1834) and which inaugurated a new function for the Convent of St. Francis, the oldest of the town, having been founded in the thirteenth century. 1848 – George Robinson settled in Portalegre, eventually buying Thomas Reynolds’s small factory. This was the cortiça numa parte do extinto convento de São Francisco, que ficara devoluto após a extinção das ordens religiosas decretada pelos liberais triunfantes em 1834 e que traçou um novo destino para o Convento de São Francisco, o mais antigo da cidade, uma vez que a sua fundação data do século XIII. 1848 – George Robinson instalou-se em definitivo em Portalegre, acabando por adquirir a pequena fábrica de George William Robinson (1813-1895). George William Robinson (1813-1895). beginning of a Company which in time slowly but surely would become the largest factory in the town. George Robinson had everything he needed to succeed: factory-workers with the necessary expertise, a region which provided the raw material and above all, good contacts in Britain. He would also benefit from the soaring rise in the export of cork. If, in 1797, Portugal had exported 115,182 gross in bottle corks and 1,331 tonnes of plank cork, after a drop in exports resulting from the French invasions and the Civil War, exports never stopped rising after the middle of the eighteenth century. In 1880, exports had risen to over 2,000 “contos de reis”. It should be said that the UK market accounted for more than 50% of the trade. A Família Robinson (em cima, da esquerda para a direita, George Wheelhouse Robinson, Mary Chadwick Robinson e John Álvaro; em baixo, George William Robinson e sua esposa, Sarah Ann Robinson). The Robinson Family (Top, left to right: George Wheelhouse Robinson, Mary At first, the Robinson Factory dealt mostly in pressed plank cork, the production of bottle corks, notice boards 12 Chadwick Robinson and John Álvaro; below: George William Robinson and his wife, Sarah Ann Robinson). Thomas Reynolds. Era o início de uma empresa que, começando lenta mas seguramente, se converteria na maior unidade fabril da cidade. George Robinson possuía todas as condições para triunfar: um estabelecimento fabril com trabalhadores dotados de um know-how, uma região produtora de matéria-prima e, sobretudo, bons contactos em Inglaterra. Iria beneficiar, também, do aumento vertiginoso das exportações de cortiça. Se em 1797 Portugal exportara 115 182 grosas de rolhas e 1 331 toneladas de cortiça em prancha, após uma quebra decorrente das Invasões Francesas e da Guerra Civil, a partir de meados do século XIX as exportações não mais pararam de subir, ascendendo em 1880 a mais de 2 000 contos de réis. Ora a Grã-Bretanha absorvia mais de 50% desse volume. No início da actividade, a Fábrica Robinson dedicou-se sobretudo à preparação de prancha enfardada, fabricação de rolhas, quadros e bóias. Nos anos cinquenta do século XIX tinha um total de 210 operários na área produtiva e 50 na extracção de cortiça no campo. 1854 – Neste ano iniciou a aquisição de terrenos e moradas de casas no lugar da Boavista, local onde viria a instalar a sua habitação principal e um dos principais núcleos de fabricação de rolhas. 1857 – George Wheelhouse Robinson nasceu em Portalegre, a 17 de Setembro. 1868 – George William Robinson adquiriu em hasta pública parte da propriedade do extinto Convento de São Francisco, que então pertencia à Fazenda Nacional. Neste ano faliram as três fábricas de lanifícios da cidade: Larcher & Cunhados, Andrade & Larcher e a Companhia da Fábrica Nacional de Lanifícios de Portalegre, lançando no desemprego seis centenas de trabalhadores. A Fábrica Robinson assume-se como a grande empregadora, uma vez que os lanifícios só recupe13 and buoys. In the 1850s, it had a total of 210 workers in the production area and 50 extracting the bark in the fields. 1854 – He began to buy land and housing in Boavista, where he would eventually set up residence and one of the main centres for the production of corks. 1857 – George Wheelhouse Robinson was born in Portalegre on 17 September. 1868 – George William Robinson acquired at public auction part of the land of the dissolved Convent of St. Francis, which had until then belonged to the Exchequer. In this year, the three woollen textile factories of the town went bankrupt: Larcher & Cunhados; Andrade & Larcher; and the Portalegre National Woollen Textiles Factory, making 600 workers unemployed. Robinson Factory took on the role of the major employer, since the woollen textiles industry would only recover in part around 1880, although without regaining its old supremacy, which would only happen in the twentieth century with Francisco de Sales Fino. 1872 – This year was highlighted by the purchase of a 30 hp steam engine, a piece of equipment that allowed for the acquisition of new production equipment. Within this framework, a significant increase in production and the hiring of further workers is to be noted. Electricity had until then been supplied by the Fábrica da Horta das Bolas, also known as the Factory of Light. 1877 – George Robinson purchased Casillas Farm in Albuquerque (Spain) from Doña Mercedes Garcia Vallecillas. This was the beginning of the purchasing or renting of numerous rural buildings, with a twofold objective – that of extracting cork and that of farming. 1880 – The Representation addressed to the Members of the Portuguese Parliament on 20 March 1880 (Portalegre, 1880) states that the Robinson Factory employed 680 workers (260 men and 420 women), with the remaining factories, four of which woollen textile mills, one tannery Fábrica Robinson, no edifício do extinto Convento de São Francisco. Robinson Factory, on the site of the dissolved Convent of St. Francis. and one pasta producer, jointly employing a total of 463. In 1880, George Robinson acquired a residential property and surrounding land in Corredoura de Cima (now George Robinson Avenue), where his son George Wheelhouse took up residence after his marriage. Also at that time, he acquired another residential property to which a theatre was attached and where he set up an Evangelical church. This was the Robinson family’s religious denomination and it gained a significant following among the working class in the town. This religious rarão parcialmente por volta de 1880, mas sem recuperarem o antigo protagonismo, o que só sucederá no século XX, com Francisco de Sales Fino. 1872 – Este ano foi marcado pela compra de uma Máquina a Vapor de 30 cavalos de força, equipamento este que irá permitir a aquisição de novos equipamentos produtivos. Neste quadro observam-se significativos incrementos de produção e o alargamento do quadro de pessoal. O abastecimento energético era antes executado pela Fábrica da Horta das Bolas, também conhecida por Fábrica da Luz. 1877 – George Robinson adquire a Herdade de Casillas, Alburquerque (Espanha) a D. Mercedes Garcia Vallecillos. Foi o início da compra ou arrendamento de numerosos prédios rústicos com um duplo objectivo – a extracção de cortiça e a exploração agrícola. 1880 – Na Representação dirigida aos Senhores Deputados da nação Portuguesa pelos Representantes de todas as Fábricas de Portalegre em 20 de Março de 1880 (Portalegre, 1880), consta que a Fábrica Robinson possuía 680 operários (260 homens e 420 mulheres), enquanto as restantes, 4 de lanifí- component is key to our understanding of the humanitarian and altruistic dimensions of the Robinson family activity, which found an outlet in its assistance to worker associations and the education of the people involved. Recuerdo. Caçada real em Casillas (Espanha), 26 de Março de 1907. George Wheelhouse Robinson com o rei D.Carlos. Recuerdo [Souvenir]. Royal shooting party in Casillas (Spain), 26 March 1907. George Wheelhouse Robinson with King Carlos of Portugal. 14 George Wheelhouse Robinson (1857-1932) com sua esposa, Fanny Isabella Milner Robinson (1858-1942). George Wheelhouse Robinson (1857-1932) with his wife, Fanny Isabella Milner Robinson (1858-1942). cios, uma de curtumes e uma de massas tinham, no seu conjunto, 463. Neste ano, George Robinson comprou uma morada de casas e terrenos circundantes na Corredoura de Cima (hoje Av. George Robinson), local onde o seu filho George Wheelhouse se irá instalar após o casamento. Ainda nessa época comprou outra morada de casas com teatro anexo, na Rua dos Canastreiros, onde fundou uma igreja do culto evangélico, religião professada pela família Robinson e que ganhou um notável incremento entre a população operária da cidade. Essa componente religiosa é fundamental para se compreender a dimensão humanitária e altruísta dos Robinson, materializada na ajuda ao associativismo e à instrução dos operários. 1881 – No Inquérito Industrial de 1881 constam numerosas alusões e elementos quantitativos relativos à fábrica, a qual, ainda com o principal núcleo de actividade situado na Boavista, contava com 560 operários. No Inquérito rendia-se homenagem ao industrial: «Activo, inteligente, foi ampliando de ano para ano a fábrica, e adestrando e disciplinando, sob regulamentos severos o pessoal de que se servia, elevou a tal grau de prosperidade o seu estabelecimento, que não somente se constituiu o principal da província neste género de indústria, mas habilitou o seu possuidor a tornar-se um dos mais opulentos proprietários de prédios rústicos destes sítios». Neste ano, George Robinson confiou a gestão dos seus negócios a seu filho, George Wheelhouse Robinson, o qual nascera em Portalegre em 1857, estudara em Inglaterra (Doncaster) e acabara de regressar a Portugal. George Wheelhouse casa a 19 de Janeiro de 1881, em Inglaterra, com Miss Fanny Isabella Milner. A 15 de Novembro nasce George Milner Robinson, filho de George Wheelhouse. 15 1881 – In the Industrial Survey of 1881 there are numerous references to and quantitative elements regarding the factory, which, still centred in Boavista, employed 560 workers. The Survey rendered hommage to the businessman: “Energetic, intelligent, from year to year he has increased the factory in size, and, through training and discipline within the framework of strict adherence to regulations governing his work force, he has raised his business to such a level of prosperity that it has become not only the main such business in the Province but has made of its proprietor one of the wealthiest owners of rural buildings in the area.” In this year, George Robinson handed over the management of his business interests to his son, George Wheel- 1883 – Aquisição de Olival nas traseiras do Convento de São Francisco, para onde posteriormente se viriam a expandir diversas linhas de produção. 1888 – George Wheelhouse, que será coadjuvado durante alguns anos por seu tio Thomas Frederik Robinson, deu passos decisivos no sentido de diversificar a actividade da família, comprando novas propriedades rústicas e arrendando outras para extracção de cortiça. A 28 de Fevereiro adquiriu uma importante fábrica de rolhas – La Actividad – na vila de S. Vicente de Alcântara (Espanha). 1889 – A 28 de Fevereiro, George Wheelhouse adquiriu outra fábrica de rolhas em S. Vicente de Alcântara. 1890 – O Inquérito Industrial de 1890 é omisso quanto à Fábrica Robinson. A Comissão Concelhia de Portalegre explica as razões dessa omissão e fornece as informações possíveis: «No concelho de Portalegre é hoje a principal indústria a fabricação de rolhas e preparação de cortiça para exportação para o estrangeiro. É proprietário da mais importante fábrica desse género Jorge Robinson, súbdito inglês, que se negou não só a preencher o questionário, mas até a dar quaisquer informações sobre a sua indústria. Mas ainda assim podemos afirmar que esta fábrica, denominada de cortiça, e situada na Descortiçamento de um sobreiro. Debarking of a cork oak. house Robinson, born in Portalegre in 1857 and who studied in Britain (Doncaster) and had just returned to Portugal. George Wheelhouse married Miss Fanny Isabella Milner in Britain on 19 January 1881. On 15 November, George Wheelhouse’s son, George Milner Robinson, was born. 1883 – The Robinsons acquired Olival, situated behind the Convent of St. Francis, where, at a later date, Fachada da Fábrica Robinson several production lines would be developed. e Largo do Jardim do Operário. 1888 – George Wheelhouse, closely assisted for some years by his uncle, Thomas Frederick Robinson, took significant steps to diversify the family’s activity through the acquisition of further rural properties, renting others for the extraction of cork. On 28 February he acquired a major cork factory – La Actividad – in the small town of S. Vicente de Alcantara (Spain). 1889 – On 28 February, George Wheelhouse acquired another cork factory in S. Vicente de Alcantara. 16 Robinson Factory façade and Largo do Jardim do Operário. Boa Vista, que em 1881 ocupava na sua laboração 560 pessoas, ocupa hoje mais do dobro». 1891 – A 4 de Junho, ainda em S. Vicente de Alcântara, adquiriu a fábrica de rolhas de Henry Bucknall & Sons. A 12 de Novembro comprou na mesma localidade extremenha uma fábrica de farinhas pertencente a três sócios. Estas aquisições permitiam-lhe transformar toda a cortiça da região e a permuta de operários dos dois lados da fronteira quando a situação assim o exigia. 1892 – A 12 de Abril, George Wheelhouse comprou outra fábrica de rolhas em S. Vicente de Alcântara a Henry Bucknall & Sons. 1895 – A 30 de Abril, George William Robinson morre em Portalegre, com 80 anos de idade. O filho, George Wheelhouse Robinson, sucedeu-lhe na responsabilidade plena de direcção dos negócios. 1896 – Foi fundada a Sociedade União Operária Portalegrense, a primeira associação operária de Portalegre a ultrapassar o mutualismo, uma vez que inscrevia como objectivos a «ilustração e instrução» dos seus associados. Apesar de ser industrial, George Wheelhouse Robinson foi um dos fundadores. 1897 – A 1 de Abril, George Wheelhouse comprou a Fábrica de Lanifícios (dita Fábrica Pequena) pondo termo a uma longa crise vivida sem solução aparente, que colocava em risco os postos de trabalho de dezenas de operários. Esta aquisição, que ascendeu a 21.608$000 reis, deveu-se fundamentalmente a propósitos filantrópicos, cedendo ao pedido das famílias dos trabalhadores ameaçados. Neste ano, na fábrica de cortiça de Portalegre trabalhavam mais de 500 operários e operárias espanhóis provenientes de uma das fábricas de S. Vicente de Alcântara, que acabara por encerrar por falta de matéria-prima. Mais tarde esta fábrica vol17 1890 – The Industrial Survey of 1890 makes no mention of the Robinson Factory. The Portalegre Council Commission explained the reasons for this ommission and supplied possible reasons for it: “At the present time, in Portalegre, the main industry is the production of corks and the processing of cork for export. The proprietor of the main factory of its kind is Jorge [sic] Robinson, a British subject, who declined not only to fill in the questionnaire but also to supply any data regarding his industry. Even so, it can be stated that the factory concerned, titled Cork Factory and located in Boa Vista, which employed 560 persons in 1881, now employs more than twice that number.” 1891 – On 4 June, also in S. Vicente de Alcantara, George Robinson acquired the cork factory, Henry Bucknall & Sons. On 12 November, he acquired, again in the same area of Extremadura, a flour factory owned by three partners. These acquisitions allowed him to transform all the cork production of the area and worker circulation on both sides of the frontier, as the need arose. 1892 – On 12 April, George Wheelhouse bought another cork factory from Henry Bucknall & Sons, in S. Vicente de Alcantara. 1895 – On 30 April, George William Robinson died in Portalegre, aged 80. His son, George Wheelhouse Robinson, took over full responsibility for the running of the business. 1896 – The Workers’ Union Society of Portalegre was founded. This was the first Workers’ Association of Portalegre which went beyond mutualism, since it declared its aims as being the “enlightenment and instruction” of its members. Although an industrialist himself, George Wheelhouse Robinson was one of its founding members. taria a laborar, recebendo George Wheelhouse fortes manifestações de reconhecimento por parte da população espanhola. Fechada desde 1882, a antiga Real Fábrica de Lanifícios, popularmente conhecida como «Fábrica Grande», foi adquirida a 26 de Agosto de 1897 por George Wheelhouse Robinson. 1898 – Foi criada a Associação Comercial e Industrial de Portalegre. George Wheelhouse Robinson foi um dos fundadores e depois seu presidente. 1898 – A 28 de Julho ocorreu na Fábrica Robinson um pavoroso incêndio, apesar de, em Fevereiro daquele ano, ela ter sido dotada de um novo sistema contra incêndios inventado por Grimell Srinker, representado em Portugal por John Harker. 1899 – Segundo dados oficiais (v. o jornal A Plebe, de 139-1901), Portalegre exportava para fora do concelho 100 000 toneladas de rolhas e 300 toneladas de cortiça em prancha, raspada e cozida, que, na sua grande maioria, eram produzidas na Fábrica Robinson. 1903 – Arranca o projecto da Creche Baptista Rolo, junto à fábrica, em terreno cedido por George Wheelhouse Robin- 1897 – On 1st April, George Wheelhouse acquired the woollen textiles factory (known as the Small Factory), putting an end to a long drawn out crisis for which there appeared to be no solution and which jeopardized the jobs of dozens of workers. This acquisition, costing 21,608$000 “reis”, was grounded mainly on philanthropic reasons, with Robinson acceding to the requests of the families of the workers whose jobs were at risk. In this year, the Portalegre cork factory employed more than 500 Spanish men and women, who had come from one of the factories in S. Vicente de Alcantara, shut down for want of raw materials. Later, this factory would again begin production, for which George Wheelhouse would receive multiple expressions of gratitude on the part of the Spanish population. Closed down since 1882, the former Royal Woollen Textiles Factory, commonly known as “The Big Factory”, was acquired on 26 August by George Wheelhouse Robinson. 1898 – This year saw the creation of the Industrial and Commercial Association of Portalegre. George Wheelhouse Robinson was one of its founding members and later became its President. 1898 – On 28 June, there was a fearful fire at the Robinson Factory, despite the fact that, in February, the premises had been endowed with a new fire-protection system invented by Grimell Srinker, represented in Portugal by John Harker. 1899 – According to official data (see A Plebe newspaper, edition of 13/9/1901), Portalegre exported 100,000 tonnes of corks and 300 tonnes of plank cork, planed and cooked, most of which produced by the Robinson Factory. Interior das instalações da Fábrica Robinson. Interior of the Robinson Factory premises. 18 son e com o seu contributo financeiro. Também oferece água para abastecer o futuro sanatório. A Câmara Municipal de Portalegre encomenda ao pintor Benvindo Ceia um retrato de George Wheelhouse Robinson, para ser colocado na sala das sessões. Encontra-se actualmente no Museu Municipal. A 10 de Janeiro daquele ano, George Wheelhouse ofereceu a todos os seus operários um jantar no edifício da Fábrica Real, num total superior a 2000 pessoas, solenizando assim a entrada do seu filho primogénito na maioridade e seguindo uma tradição inglesa. Este, convalescendo de grave doença, foi levado numa cadeira de rodas para assistir à festa em sua honra. A 1 de Maio foi fundado o Teatro dos Muros (Teatro Recreio Operário), localizado na Rua dos Muros de Baixo. Era o salão de festas dos operários rolheiros, construído e patrocinado pelos Robinson. A 20 de Novembro morre em Mayville, Doncaster, Inglaterra, Thomas Frederick Robinson. 1905 – Aquisição de um Gerador de Vapor Aquo-Tubular Babcock & Wilcox, ainda hoje existente na sua localização original. É inaugurada a Creche Baptista Rolo. 1907 – George Wheelhouse Robinson é agraciado com a medalha de ouro de Mérito Industrial, atribuída por El-Rei D. Carlos I. 1908 – Por iniciativa de George Wheelhouse, foi fundado o Corpo de Bombeiros Voluntários Privativos da Robinson. A principal missão era fazer face aos riscos decorrentes da actividade da fábrica, nomeadamente aos frequentes incêndios. Hoje existe, num Museu improvisado na Robinson, um espólio muito interessante proveniente dessa corporação, incluindo 4 carros originais de combate a incêndios e diferentes tipos de acessórios da época. 19 1903 – Work began on the Baptista Rolo Nursery, adjoining the Factory, on land bestowed by George Robinson and with his financial backing. He also offered to provide water for the future Sanatorium. The Portalegre Municipal Council commissioned a portrait of George Wheelhouse Robinson from the painter Benvindo Ceia, to be hung in its sessions chamber. The portrait is at present to be found in the Municipal Museum. On 10 January, George Wheelhouse invited his workers to a dinner party in the Royal Factory building. The number of guests exceeded 2,000, thus commemorating the coming of age of his first-born son and following a British custom. His son, convalescing after a serious illness, was taken in a wheel-chair to attend the party in his honour. On 1st May, the Muros Theatre (Workers’ Theatre) was founded in Rua dos Muros de Baixo. It was the partyholding hall of the cork workers, built and sponsored by the Robinsons. On 20 November, Thomas Frederick Robinson died in Mayville, Doncaster, Britain. 1905 – Acquisition of a Babcock & Wilcox Aquo-Tubular Vapour Generator, still to be found in its original site. The Baptista Rolo Nursery opened its doors. 1907 – George Wheelhouse Robinson was decorated with the Gold Medal of Individual Merit by the Portuguese King, Charles I. 1908 – George Wheelhouse moved to found the Robinson Volunteer Fire Brigade. Its main mission was to counter the risks arising from the factory’s activity, especially the frequent fires that occurred. In an informal Museum at Robinson’s, today’s visitor will see a very interesting collection of items from that Fire Brigade, Convite de George Milner Robinson a Palmira Esperança Abreu, para participar numa festa de caridade. Abril de 1915. Invitation sent by George Milner Robinson to Palmira Esperança Abreu, to attend a charity event. April 1915. Corpo dos Bombeiros Voluntários Robinson. The Robinson Volunteer Fire Brigade. 1915 – Em 15 de Julho foi lavrada a escritura de constituição de companhia anónima, intitulada “Robinson Bros. Cork Growers Limited”. A sociedade ficou constituída por George Wheelhouse Robinson, Sarah Ann Robinson, Fanny Isabella Robinson, Thomas Frederick Robinson, Herbert Robinson, Arthur Robinson e James Young Turner. A sede desta empresa era em Halifax, Inglaterra. 1918 – George Milner Robinson faleceu, a 22 de Outubro, em Cambridge. 1920 – A actividade da fábrica expande-se para a área dos aglomerados para revestimentos e emprega nesta década um grande número de funcionários: mais de 1000. Constroem-se os primeiros fornos para cozimento dos aglomerados de cortiça, na área onde ainda hoje está instalado o Aglomerado Branco. É adquirida uma nova Caldeira Aquo-Tubular de Vapor, da Babcock & Wilcox (entretanto desaparecida). including four original fire engines and different types of accessory dating back to that time. 1915 – On 15 July, the deeds were signed for the Company formed as Robinson Bros. Cork Growers Ltd. The company members were George Wheelhouse Robinson, Sarah Ann Robinson, Fanny Isabella Robinson, Thomas Frederick Robinson, Herbert Robinson, Arthur Robinson and James Young Taylor. The head office of this company was in Halifax, Britain. 1918 – George Milner Robinson died on 22 October in Cambridge. 1920 – The factory’s activity branched out into agglomerate cork for linings, and, during this decade, it employed a large number of staff: 1,000 The first ovens to cook the cork agglomerate were built on the site where the White Agglomerate still stands. A further Babcock & Wilcox Aquo-Tubular Steam Boiler was purchased. It is now gone. 20 1923 – Inicia-se a montagem da rede de Sprinklers (sistema anti-incêndio) que rapidamente se viria a estender a todo o perímetro fabril. Em 5 de Junho, a Corporação de Bombeiros Privativos Robinson foi agraciada com a Medalha de Cobre da Cidade. 1924 – Aquisição de um segundo gerador de vapor Aquo-Tubular, Babcock & Wilcox, ainda existente na localização original. 1928 – Descrição de alguns equipamentos existentes e considerados «muito modernos» efectuada por um repórter do jornal O Volante, que visitou neste ano a fábrica Robinson: «operações iniciais: cozedura, limpeza, secagem, aplanagem, etc... pranchas cortadas... em dezenas de bancadas com serras mecânicas... vários modelos de maquinas para cortar rolhas, …maquinas produzem aos milhares discos que vedam garrafas. A calibragem faz-se mecanicamente num aparelho... que distribui a fila de rolhas por caixas diversas. A escolha realiza-se numa sala ampla... onde trabalham dezenas de mulheres. Numa central motriz, a energia é fornecida a todas as instalações por motores de gás pobre produzindo mais de 100 HP... oficina mecânica para concertos, fabrico de peças, etc. com equipamento moderno, ...uma potentíssima serra para cortar ferro... única em Portugal.» A Fábrica Robinson continua trabalhando só três dias por semana. Tinha então 515 operários. 1931 – Em 24 de Março deste ano é constituída a Sociedade Robinson Bros., Lda., sendo seus accionistas George Wheelhouse Robinson (50.000$), William Henry Frazer (20.000$), Ellen Mary Frazer (20.000$) e George Frazer Shannon (5.000$). 1932 – A 16 de Janeiro de 1932, morre George Wheelhouse Robinson. A Corporação de Bombeiros Robinson foi agraciada com o Grau de Oficial da Ordem Militar de Cristo. 21 1923 – The Company began to install anti-fire sprinklers, which would soon cover the whole of the factory perimeter. On 5 June, the Robinson Private Fire Brigade was awarded the City Copper Medal. 1924 – A second Babcock & Wilcox Aquo-Tubular Vapour Generator was acquired and can still be seen at its original site. 1928 – A reporter from O Volante, who visited the Robinson Factory in this year, provides a description of some of the existing equipment, which he considers to be “very modern”: “initial operations: – cooking, cleaning, drying, planing, etc. ... plank cork cut ... with power saws on dozens of work benches ... several types of machine for cutting bottle corks, ... machines produce thousands of discs to seal bottles. Callibration effected mechanically by a piece of equipment ... which distributes the line of corks into different boxes. Selection is carried out in an ample room ... where dozens of women work. In a central supply unit, energy is supplied to the entire premises by producer gas engines turning out in excess of 100 hp ... a mechanicmanned work-shop for repairs, spare parts production, etc., endowed with modern equipment ... a most potent saw to cut iron ... the only one in Portugal.” The Robinson Factory continued to operate a three-day week. At the time it had 515 workers. 1931 – On 24 March, Sociedade Robinson Bros Ltd. was set up, its shareholders being George Wheelhouse Robinson (50,000$), William Henry Frazer (20,000$), Ellen Mary Frazer (20,000$) and George Frazer Shannon (5,000$). 1932 – Death of George Wheelhouse Robinson on 16 January. The Robinson Fire Brigade was decorated with the Grau Oficial da Ordem Militar de Cristo. 1934 – Aquisição de um novo Gerador de Vapor AquoTubular, Babcock & Wilcox, também existente na sua localização original. 1941 – Em 12 de Fevereiro deste ano foi constituída a Sociedade Corticeira Robinson Bros., Lda., substituindo a anterior, com os seguintes accionistas: - Elias Frederico Abecassis (10.000$) - Ellen Mary Frazer (10.000$) - Tomaz de Azevedo e Silva (10.000$) - Nelson Girdwood Hather (20.000$) 1942 – Aquisição de um gerador eléctrico a diesel, com 130 cv (ainda existente). A 12 de Outubro morre Fanny Isabella Robinson. 1946 – Em 1 de Junho deste ano, procedeu-se à elevação do capital social da empresa e à alteração da distribuição de quotas pelos accionistas, do seguinte modo: - Manuel Pinto de Azevedo (1.000.000$) - Manuel Pinto de Azevedo Júnior (600.000$) - Eng.º Luís Delgado Santos (1.000.000$) - Eng.º Alberto Augusto Mendonça (500.000$) - Eng.º Cipriano Ribeiro Calleya (550.000$) - Eng.º António Ventura Santos Fernandes (200.000$) - Maria Carmina Ventura Santos Fernandes Calleya (200.000$) - Maria Cecília Ventura Santos Fernandes (200.000$) - Pedro Vítor Pinto Vicente (875.000$) - Tomás de Azevedo e Silva (875.000$) 1947(?) – Nesta época foi construída uma nova chaminé com cerca de 45 m. de altura, que segundo registos da época levou cerca de 20.000 tijolos. Neste período é acrescentada a “velha” chaminé que ficaria com 38 m. 1948 – Início da fabricação de um novo produto: o aglomerado puro de cortiça, vulgo aglomerado negro. Para tal foram instaladas 12 autoclaves/prensas e uma linha completa 1934 – A new Babcock & Wilcox Aquo-Tubular Vapour Generator was acquired and can still be seen on its original site. 1941 – On 12 February the Sociedade Corticeira Robinson Bros., Ltd. was constituted, replacing the former entity, with the following shareholders: Elias Frederico Abecassis (10,000$) Ellen Mary Frazer (10,000$) Tomaz de Azevedo e Silva (10,000$) Nelson Girdwood Hather (20,000$) 1942 – Acquisition of a 130 hp diesel-powered electric generator (still in existence). On 12 October, Fanny Isabella Robinson died. 1946 – On 1st July, the Company’s capital was increased and shares changed among the shareholders, as follows: Manuel Pinto de Azevedo (1,000,000$) Manuel Pinto de Azevedo, Jr. (600,000$) Luis Delgado Santos (1,000,000$) Alberto Augusto Mendonça (500,000$) Cipriano Ribeiro Calleya (550,000$) Antonio Ventura Santos Fernandes (200,000$) Maria Carmina Ventura Santos Fernandes Calleya (200,000$) Maria Cecilia Ventura Santos Fernandes (200,000$) Pedro Vitor Pinto Vicente (875,000$) Tomas de Azevedo e Silva (875,000$) 1947 (?) – A new chimney, of about 45 m. in height was built, which, according to contemporary records, comprised 20,000 bricks. Also at this time, the “old” chimney was added, standing at 38 m. 1948 – A new product was initiated: pure cork agglomerate, commonly known as black cork agglomerate. To this 22 Carta de George William Robinson à firma Júlio Petit y Hermanos, de Arroyo del Puerco, Cáceres, Espanha. 17 de Julho de 1874. Letter from George William Robinson to the firm of Júlio Petit y Hermanos, de Arroyo del Puerco, in Cáceres, Spain, dated 17 July 1874. Carta de George Wheelhouse Robinson a Joaquim José de Abreu, 26 de Abril de 1916. Letter from George Wheelhouse Robinson to Joaquim José de Abreu, dated 26 April 1916. de serras para dimensionamento do produto. Adquirida uma Bomba a Vapor que fazia os accionamentos dos autoclaves, ainda hoje em perfeito estado funcional. Fracções do processo e equipamento foram alvo de registo de patente, do qual se conserva a versão original. Todo este equipamento se encontra ainda instalado no edifício fronteiro da Sociedade Corticeira Robinson. 1960 (?) – Início da construção do Laboratório de Controlo de Qualidade Robinson. 1966 – A chaminé que foi acrescentada em 1947 até aos 38 m de altura é novamente elevada até aos 50 m. São estas as Chaminés que ainda podem ser vistas na actualidade. 23 end, 12 autoclaves/presses were installed, as was a complete assembly line of saws for dimensioning. The Company also acquired a steam pump, still in perfect working order. Certain parts of the processes and equipment used were patented, with the original patents still extant. All of this equipment still stands in the building opposite Sociedade Corticeira Robinson. 1960 (?) – Building work began on the Robinson Quality Control Laboratory. 1966 – The 38 m. chimney added on in 1947 was now built up to 50m. These are the chimneys which can still be seen at the present time. Documentos: os testamentos dos primeiros Robinson 1 Documents: the first Robinson’s last wills1 Alexandra Xisto Pinto Célia Gonçalves Tavares Jorge Maroco Alberto Nuno Miguel Lima INVESTIGADORES DO PROJECTO POC - ARQROB POC - ARQROB PROJECT RESEARCHES Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 24-41, ISSN 1646-7116 1. Introdução A família Robinson deixou a Portalegre um importante legado que merece ser valorizado e relembrado. A Fundação Robinson pretende recuperar essa memória e, nesse sentido, através do Projecto ArqRob, visa fixar corpos documentais relativos ao percurso da família Robinson e da sua fábrica de cortiça. Por conseguinte, vários corpos documentais estão a ser consultados em busca de informações precisas sobre os Robinson. O Arquivo Distrital de Portalegre é um dos locais de pesquisa, uma vez que aí se encontra depositado o fundo dos Cartórios Notariais dos vários concelhos do distrito, que através dos livros de notas dos tabeliães nos fornecem um alargado conjunto de documentos para a constituição do arquivo electrónico da Fundação Robinson. As escrituras emitidas pelos tabeliães de notas revestemse de fins probatórios, decorrendo daí a necessidade de as conservar adequadamente em livros e não em folhas soltas dados os prejuízos que daí poderiam advir, o que se encontra, desde logo, preconizado pelo primeiro regimento dos tabeliães, no reinado de D. Dinis2. Essa preocupação perpassa através dos tempos, surgindo reforçada no século XIX com a necessidade de numerar, rubricar e encerrar pelo juiz territorial os livros de notas3, de modo a garantir a autenticidade e assegurar a inviolabilidade dos actos neles contidos. Nesta época, as competências dos tabeliães de notas, vulgar designação dos notários nessa época, passavam pela realização de actos de natureza diversa. À cabeça destes encontravam-se procedimentos reguladores de actividades económicas, como contratos de arrendamento, de sublocação, de compra e venda, crédito, empréstimo, hipoteca, expropriação, e outros relativos a sociedades comerciais. Por outro lado, eram também frequentes os actos de natureza mais particular, predominantemente respeitantes à vida familiar, 25 1. Introduction The Robinson family bequeathed to Portalegre an important legacy which is worthy of being valued and remembered. The Robinson Foundation has as its goal the recovery of this memory and, to that end, through the ArqRob Project aims to preserve documentary corpuses linked to the trajectory of the Robinson family and its cork factory. Thus, several sets of documents are being consulted in a search for precise information regarding the Robinsons. The District Archive of Portalegre is one of the sites for research, since it houses the register of the Notaries public of the different boroughs of the district. It is through the documents of the tabellions that we will garner an extensive set of documents allowing for the electronic archive of the Robinson Foundation. The deeds issuing from the tabellions have probatory purposes, which makes it necessary adequately to preserve them in book form and not in the form of loose sheets, given the damage that might ensue. Measures to this effect were, in fact, put in place by the first Regulation of the tabellions, during the reign of Dinis I2. This same concern pervades the intervening centuries, having been re-inforced in the nineteenth century with the need to number, initial and close the ledgers by the territorial Judge3, in order to guarantee authenticity and ensure the inviolability of the Notarial Acts they comprise. The duties of the tabellions, the common designation for the Notaries of the time, consisted of Acts of divers nature. Foremost among these were regulamentory procedures of economic activity, such as contracts concerning leasing, subleasing, buying and selling, credit, loans, mortgaging and others relating to business companies. On the other hand, there was frequent need for Acts of a more private nature, mostly with regard to familial life, such as bequests or endowments, divisions of estates, last wills and testaments, pre-nuptial como é o caso das doações, partilhas, testamentos, contratos ante-nupciais, legitimações, perfilhações e autorizações maritais. Os tabeliães de notas tinham também a seu cargo a oficialização de procurações4. Nos livros de notas dos cartórios notariais de Portalegre foram encontrados, até ao momento, os testamentos de George William Robinson e da sua mulher, Sarah Ann Robinson. A partir destes foi possível aceder ao testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira, filha de George e Sarah. Pela importância dos testadores para a história de Portalegre, torna-se relevante publicar estes testamentos na íntegra, verificar a sua tipologia, as suas cláusulas, quem são os testamentários, a quem legam os testadores os seus bens e qual a relevância histórica destes documentos. agreements, legitimization, adoption and marital authorizations. The tabellions were also responsible for legalizing powers of attorney4. The ledgers of the Portalegre Notaries public have, to date, rendered the last will and testaments of George William Robinson and that of his wife, Sarah Ann Robinson. These led to locating the will of Mary Chadwick Robinson da Silveira, George and Sarah’s daughter. The importance of the testators in regard to the history of Portalegre makes it relevant to publish these wills in full, check their typology, clauses, the identity of the testators, the beneficiaries of the wills and the historical relevance of the documents concerned. 2. The Portalegre Notaries Public 2. Os Notários de Portalegre e os Robinson No concelho de Portalegre, até à vitória liberal em 1834, existia apenas um ofício notarial, do qual subsiste, no Arquivo Distrital de Portalegre, documentação desde 1601. A implantação do novo regime e o esforço de codificação que o acompanhou deu origem ao aparecimento quase simultâneo de quatro outros ofícios, estando já todos estabelecidos em 1845. A actividade industrial e comercial da família Robinson foi bastante intensa na segunda metade do século XIX. O recurso aos tabeliães como forma de oficializar e validar contratos era, por isso, premente. Durante esta época, estavam em actividade todos os cinco ofícios que, com excepção do primeiro, cuja extinção ocorreu em 18675, ainda permaneciam em exercício no início do século XX. Nos livros de notas dos tabeliães da cidade de Portalegre deste período, os Robinson, e sobretudo George William Robinson, realizaram diversos tipos de escrituras. Estas and the Robinsons Until the Liberal victory of 1834, Portalegre had only one Notary public registry, housing documents dating back to 1601, surviving in the Portalegre District Archive. The arrival of the new regime and the accompanying endeavours to codify gave rise to the almost simultaneous creation of four other such Registries, all of them established by 1845. The Robinson family’s industrial and commercial activities in the second half of the nineteenth century was very extensive. Recourse to the tabellions as a means of legalizing and validating contracts was thus pressing. At this time, all five registries were operating and still were, with one exception, fully functional at the beginning of the twentieth century. The one exception was the first Notary public, which was dissolved in 18675. During this period, in the ledgers of Portalegre’s tabellions, the Robinsons, and above all, George William Robinson, effected several types of deed. Overall, these consisted of 26 Testamento público de George William Robinson, 9 de Março de 1895. Arquivo Distrital de Portalegre, Cartórios Notariais de Portalegre, 4.º Ofício, cx. 156, lv. 40, fl. 20v., fl. 21. Public will of George William Robinson, 9 March 1895. Portalegre District Archive, Portalegre Notary Public Offices, 4th Letter, box 156, book 40, pg. 20 verso, pg 21. Testamento de Sarah Ann Robinson, 9 de Março de 1895. Arquivo Distrital de Portalegre, Cartórios Notariais de Portalegre, 4.º Ofício, cx. 156, lv. 40, fl. 21v., fl. 22 Last Will of Sarah Ann Robinson, 9 March 1895. Portalegre District Archive, Portalegre Notary Public Offices, 4th Letter, box 156, book 40, pg. 21 verso, pg 22. 27 consistem, grosso modo, em contratos de compra e venda e em contratos de arrendamento, mas existem também, por exemplo, licenças de exploração de minas ou escrituras de formação de sociedade. George William Robinson, em pessoa ou nomeando um procurador (por vezes um funcionário da fábrica ou o seu filho George Wheelhouse Robinson), comprou e arrendou pedreiras, propriedades e casas, mas são os contratos de compra e arrendamento de sobreiros para extracção de cortiça os mais comuns, o que se relaciona com a sua principal actividade – a indústria corticeira. É no 2.º Cartório Notarial da cidade que foi registado, até ao momento, o maior número de escrituras relativas à família Robinson. Deste Cartório constam os livros de notas dos tabeliães Pedro Manuel Coelho Machado e João Frederico Teles Mexia. A maioria dos documentos celebrados entre George William Robinson e os respectivos arrendatários e/ ou vendedores foram celebrados pelo primeiro tabelião, que exerceu actividade neste Cartório entre 1845 e 1881. O primeiro documento de compra/arrendamento de cortiça efectuado por George Robinson em Portalegre, consultado no referido Cartório, data de 16 de Julho de 18556. No documento é possível fixar o tipo de cláusulas mais comuns celebradas nestes contratos: a sua duração; o preço total do negócio efectuado; e as obrigações e restrições a que ambos os intervenientes estão sujeitos. No âmbito desta pesquisa foram também encontrados os testamentos de George William Robinson7 e da sua mulher, Sarah Ann Robinson8. A partir destes testamentos e tentando aferir dados biográficos e cronologias, realizou-se uma incursão ao fundo da Administração do Concelho de Portalegre, nomeadamente ao registo de testamentos, onde foi possível recolher também o testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira9, filha de George e Sarah. buying and selling contracts and leasing contracts, but there are, for example, also permits for mining rights or deeds for the setting up of companies. Either George William Robinson himself or a person holding a power of attorney (sometimes a senior member of the Factory staff or his son, George Wheelhouse Robinson), bought and sold quarries, properties and houses, but the most frequent such documents are contracts for the purchase and leasing of cork oaks for the extraction of cork, more directly concerned with his main activity – the cork-production industry. Up to that time, the largest number of deeds relating to the Robinson family are to be found in the Second Notary Public Registry of the town. This houses the ledgers of the tabellions, Pedro Manuel Coelho Machado and João Frederico Teles Mexia. Most of the documents established between George William Robinson and the lessees and/or buyers were executed by the former tabellion, who worked at the Registry concerned between 1845 and 1881. Examined at the above mentioned Registry, the first document covering the leasing of cork by George Robinson in Portalegre is dated 16 July 18556. The document allows us to establish the type of clauses which were in most common use in this type of contract: its duration; the sum total of the transaction; and the obligations and restrictions to which both parties were subject. While researching the above, the wills of George William Robinson7 and his wife, Sarah Ann Robinson8 were also found. With these wills as a starting point, and in an attempt to collate biographical and chronological data, further research was initiated into the core of the Portalegre District Administration, most particularly the record of wills, where it was also possible to find the will of Mary Chadwick Robinson da Silveira9, George and Sarah’s daughter. 28 3. Os testamentos dos Robinson Os dois primeiros testamentos foram redigidos em acto contínuo na mesma data, 9 de Março de 1895, sendo ambos em forma pública. São quase integralmente cópias um do outro, constituindo-se mais como um único documento de transmissão da Casa Robinson. A sua estrutura revela um evidente pragmatismo, muito distante da prática usual dos testadores de final do século XIX em Portugal. Esta simplicidade será produto, presumivelmente, da conjugação entre os traços culturais britânicos da família e a utilização da fórmula de testamento público, menos prestável a escritos memorialistas como o eram, sobretudo, os testamentos cerrados, onde o testador procurava construir a perpétua imagem pretendida. Para essa simplicidade também concorreu, certamente, a realização prévia de duas escrituras de doação de bens no mesmo dia em que os testamentos foram lavrados. A primeira destinou-se à repartição dos bens pelos dois filhos do casal, George Wheelhouse Robinson e Mary Chadwick Robinson, à altura ainda no estado de solteira. A segunda visou premiar o desempenho de dois empregados da fábrica, José Lúcio do Monte Pegado e Silvestre da Cruz Ceia10. Nos testamentos omitiram-se quaisquer informações biográficas dos testadores. Regra geral, a filiação, a naturalidade e a data de nascimento, ou, na falta desta, a idade ao momento da feitura do testamento, eram elementos presentes na introdução às últimas vontades dos testadores. No caso presente, apenas foi declarada a residência dos Robinson, a profissão do marido e, como em todos os actos notariais recolhidos, a nacionalidade inglesa de George e Sarah Robinson. Após a identificação do local de realização dos testamentos, no n.º 3 do Largo da Boavista, onde residia a família Robinson, seguiu-se a indicação das disposições testamentárias do(a) testador(a). A primeira estipulou os procedimentos funerários, em observância ao “uso e costume da sua 29 3. The Robinsons’ Wills The first two wills were drawn up one after the other on the same day, 9 March 1895, both being public. They are practically copies one of the other, rather more a single document willing the Robinson assets. The structure of the wills reveals a clear pragmatism, far removed from the usual practice of late nineteenth century Portuguese wills. Such simplicity is, presumably, to be attributed to the confluence of the family’s British cultural traits and the use of the public will formula, which was less amenable to memoir writing, a feature, above all of sealed wills, where the testator set out to construct his/her targetted image for posterity. This simplicity will no doubt have been improved by two prior endowment deeds signed on the same day the wills were drawn up. The first deed bestowed the couple’s estate on their children, George Wheelhouse Robinson and Mary Chadwick Robinson, who was still single at the time. The second deed rewarded the services rendered by two of the factory’s employees, José Lúcio do Monte Pegado and Silvestre da Cruz Ceia10. The wills omit all and any biographical details of the testators. As a general rule, the names of parents, place and date of birth and date of birth, or, in the absence of the latter, the person’s age when making the will, featured in the introduction to the last wills of the testators. In this case, the only data provided were the Robinson’s residential address, the husband’s occupation and, as in all Notary Acts, the British nationality of George and Sarah Robinson. After identifying the place where the wills had been drawn up – 3, Largo da Boavista, the Robinson residence – there followed the dispositions of the testators. The first set out the funeral arrangements, in accordance with the “use and custom of his (her) faith”11. The couple went on to specify their religião”11. Depois, no único traço divergente dos testamentos, George Robinson concedeu aos operários da fábrica de cortiça três dias de luto pelo seu falecimento e a remuneração salarial de seis dias pelo período de nojo consignado. De seguida, o casal especificou as heranças dos filhos. Na respectiva escritura de doação haviam determinado que a componente industrial do património caberia a George Wheelhouse Robinson, enquanto a componente agrícola seria entregue à filha. Agora, especificavam o que na doação ficara omisso. Nomearam o filho como herdeiro universal, deixando-lhe “todos os contractos a longo praso de arrendamento ou compra de cortiça em Portugal – e bem assim todos os moveis, semoventes, immoveis, direitos e acções, incluindo os contractos de compra e arrendamento de cortiça, (…) no Reino de Hespanha”12. Quanto à filha, Mary Chadwick Robinson, ficou reservado “o arrendamento a longo praso da Penha d’Aguia e tapada do Escrivão, situados na freguezia da Urra”13. A terminar indicaram como testamenteiro o herdeiro, George Wheelhouse Robinson. Extremamente elementares, estes testamentos vincam variadas características determinantes ao conhecimento da família Robinson. Desde logo, o âmbito restrito de relações patente na inexistência de referências a outras pessoas fora da célula familiar, não fosse a escritura de doação de bens em favor de José Lúcio do Monte Pegado e Silvestre da Cruz Ceia. O universo Robinson correspondia ao modelo de família conjugal ou nuclear que, segundo Peter Laslett, existia em Inglaterra desde o século XVI, e que Jorge Dias identificou nas regiões a Sul do Tejo14. Ainda que “residente(s) nesta cidade de Portalegre ha muitos annos”15, o casal não deixou qualquer legado a algum amigo particular, tão comum na prática testamentária da época, limitando-se a reconhecer noutro acto notarial o desempenho de dois empregados da fábrica de responsabilidades mais elevadas. Esta reserva social será tal- children’s inheritance. The relevant endowment deed had determined that the industrial portion of the estate would go to George Wheelhouse Robinson, while the agricultural portion would be left to their daughter. Now they specified what had been omitted in the endowment deed. They named their son as universal heir, bequeathing to him “all long-term contracts covering the leasing or purchase of cork in Portugal – and also all the movable, semi-movable, non-movable assets, rights and shares, including contracts for the purchase and leasing of cork, (...) in the Kingdom of Spain”12. Their daughter, Mary Chadwick Robinson, was the recipient of “the long-term leasing of Penha d’Aguia and the preserve at Escrivão, located in the parish of Urra”13. They ended by designating George Wheelhouse Robinson as their executor and heir. Extremely elementary as they are, these wills offer up several features which determine our knowledge of the Robinson Family. Strikingly, the restricted scope of relationships which can be seen in the lack of references to persons beyond the family nucleus, with the exception of the endowment deed benefitting José Lúcio do Monte Pegado and Silvestre da Cruz Ceia. The Robinson universe followed the conjugal or nuclear family model which, according to Peter Laslett, had been the norm in Britain since the sixteenth century, and which Jorge Dias identified in the area south of the Tagus14. Despite having “resided in this town of Portalegre for many years”15, the couple left no bequest to a close friend, a practice much favoured at the time, merely acknowledging in another notarial act the services of two of the factory’s employees entrusted with more important responsibilities. This social reserve may be explained, again, by the British ancestry of the couple; also as a feature of the religious moderation visible in the last wishes of George and Sarah Robinson. Members of the Evangelical denomination, they did not evince the expansive religious 30 vez justificável, uma vez mais, pela ascendência britânica. Carácter também extensível à moderação religiosa patente nas derradeiras vontades de George e Sarah Robinson. Devotos da confissão evangélica, neles não se revelaram os expansivos sentimentos religiosos, tão usuais num momento em que se procurava a salvação e pacificação da alma. Outra nota relevante destes dois documentos respeita à posição de marido e mulher no seio da família Robinson. Aos dois pertenciam os contratos e “todos os moveis, semoventes, immoveis, direitos e acções”16 que deixaram a seu filho, equiparando homem e mulher na posse da Casa familiar. Mas quanto à administração, era competência exclusiva de George Robinson, atentando a que apenas ele determinou o cumprimento de luto e a bonificação aos operários da fábrica. A similitude estrutural dos dois testamentos certamente poderá justificar a expressa determinação da transmissão da herança pelos dois testadores. Mas, porque essa herança se determina nos dois casos, ao contrário das disposições face aos operários, realça-se uma separação entre a economia familiar, na qual a esposa tem mais do que um mero papel de reguladora da actividade doméstica, e a gerência dos negócios, determinada pelo pulso e presença do marido na fábrica. A derradeira característica dos testamentos de George e Sarah Robinson refere-se à estratégia de sucessão e herança por eles empregue. Partindo do modelo definido por Georges Augustin, e aplicado por Margarida Durães na sociedade camponesa minhota, poderemos enquadrar a estratégia dos Robinson como promotora de uma sucessão única e uma herança preciputária, ou universal17. Sucessão e herança são conceitos distintos, reportando-se o primeiro à componente imaterial do agregado familiar, como seja o nome de família ou a cadeia de relações sociais que este garante, ao passo que a herança se compõe de todos os bens partilháveis pelos descendentes. No caso dos Robinson, a sucessão única determina que coube 31 sentiments which were so widespread at a time when salvation and the serenity of the soul were sought. Another relevant feature of these two documents regards the relationship of husband and wife within the Robinson family. Both were owners of the contracts and “all the movables, semi-movables, real estate, bonds and shares”16 which they bequeathed to their son, lending equal weight to both man and wife as partners in the ownership of the family household. However, administration was George Robinson’s exclusive domain; it was he, and he alone, who set out the provisions for mourning and the monies to be paid to his factory workers. The structural similarity between the two wills may very well underpin the over-riding determination of the passing down of the estate by the two testators. However, because this estate is the subject of both wills, in contradistinction to the provisions made regarding the workers, a difference is high-lighted, that between the familial economy, where the wife is more than a mere manager of the household, and that of the running of the business, underscored by the husband’s management of and presence at the factory. The remaining feature of George and Sarah Robinson’s wills is that of the strategy for succession and inheritance utilized by them. Taking as a starting point the model defined by Georges Augustin, and applied by Margarida Durães to the peasant society of the Portuguese province of Minho in the north of Portugal, we can define the Robinsons’ strategy as promoting a simple succession and sole heir inheritance17. Succession and inheritance are different concepts, the former relating to the immaterial component of the family unit, such as the family name or the network of social relationships this implies, whereas inheritance entails all the assets to be divided among the descendents. In the case of the Robinsons, the sole succession determined that the son ao filho passar a representar o patronímico Robinson, a que acresceu o benefício na herança, prosseguindo a exploração familiar. À filha, tal como o referido modelo propõe, destinouse um quinhão, composto pelos bens que recebeu pela escritura de doação e pelo disposto nos testamentos de seus pais, e com o qual entrou no contrato pré-nupcial celebrado a 4 de Junho de 1895 e que antecedeu o seu casamento com Pedro de Castro da Silveira. Como a própria refere no seu testamento, a sua parte na herança visava a constituição do dote. O testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira, redigido a 9 de Julho de 189618, é fortemente marcado pelo ainda recente consórcio com Pedro de Castro da Silveira como se percebe quer pela alteração de cláusulas do contrato pré-nupcial, quer pelas diversas hipóteses de herança que estabeleceu. Embora tenha optado por lavrar um testamento cerrado, ao contrário dos pais, também ela limitou ao essencial o conteúdo do seu “testamento e disposição da ultima vontade”19. Sem referência a dados biográficos, as determinações testamentárias são encabeçadas, novamente, pelos procedimentos do funeral, declarando ser “Christã, seguindo o rito da Reforma, e segundo elle quero que se faça o meu enterramento”20. O casamento, antecedido por contrato pré-nupcial, foi celebrado segundo o regime dotal com comunhão de adquiridos. Em função deste contrato, a testadora definiu, em primeiro lugar, o destino dos bens que pertenciam ao seu dote e, depois, o destino dos que lhe caberiam na meação dos bens adquiridos. Mary Chadwick Robinson da Silveira separou os bens dotais em dois grupos. O primeiro era constituído por um grupo de propriedades no sítio de Vale de Lobo, concelho de Castelo de Vide, e pelos currais de Monte Andreu, devendo ser herdado pelo seu marido. Desta forma, revogava uma parte do contrato pré-nupcial, segundo a qual, o marido teria apenas o usufruto vitalício destas propriedades, com cláusula was charged with representing the Robinson patronymic, to which accrued the benefit of the inheritance, in pursuit of the family business. The daughter, as set forth in the above mentioned model, received a portion, comprising the assets she received under the endowment deed and by the directions of her parents’ wills, which formed part of the pre-nuptial agreement signed on 4 June 1895, prior to her marriage to Pedro de Castro da Silveira. As she herself mentions in her will, her part of the inheritance had been designed to make up her dowry. Mary Chadwick Robinson da Silveira’s will, drawn up on 9 July 189618 is strongly influenced by her still recent nuptials to Pedro de Castro da Silveira, as can be gleaned both from the alterations to the clauses in the pre-nuptial agreement and from the different hypotheses of legacy she instituted. Although, contrary to her parents, she opted for drawing up a sealed will, she too kept the contents of her “last will and testament”19 to a minimum. Omitting biographical details, the will’s dispositions are, again, headed by arrangements for her funeral, declaring herself a “Christian, following the Reformed Church and according to the latter do I wish to be buried”20. The marriage, preceded by a pre-nuptial agreement, was effected under the dowry regime with communion of assets acquired along the marriage. Further to this contract, the testatrix first of all defined to whom she was leaving the assets pertaining to her dowry, followed by to whom she was leaving the assets which would revert to her in the division of assets acquired along the marriage. Mary Chadwick Robinson da Silveira separated her dowry assets into two parts. The first comprised a series of properties in Vale do Lobo, Castelo de Vide, as well as livestock pens in Monte Andreu, which would be inherited by her husband. She thus revoked part of her pre-nuptial agreement, accord- 32 de reversão para a testadora ou, na sua falta, para seus sobrinhos, filhos de George Wheelhouse Robinson. Estes seriam os beneficiários do segundo grupo dos bens dotais, ficando porém sob reserva ao usufruto vitalício de Pedro de Castro da Silveira. Quanto aos bens adquiridos, não foram identificados quaisquer bens que integrariam a meação, limitandose a testadora a dispor genericamente em favor do marido. No entanto, a execução das deixas de Mary Chadwick Robinson da Silveira ficavam condicionadas à existência de descendência à data da sua morte. Nesta circunstância, tanto os bens dotais como os adquiridos deveriam passar “para essa (...) descendencia, com re // reserva do usufructo a favor de meu marido” 21. À morte da testadora, a 10 de Outubro de 1918, competiu ao marido dar execução a todas as formalidades inerentes aos testamentos cerrados, realizando-se no dia seguinte o auto de apresentação, abertura e publicação do mesmo. O acto teve lugar na Boavista, em Portalegre, na casa de residência do casal, estando nele presentes Pedro de Castro da Silveira, o apresentante, as entidades competentes (administrador do concelho e seu secretário) e duas testemunhas (José Augusto dos Santos e Silva, ministro evangélico, e António de Sousa Ramos, comerciante)22. ing to which her husband would merely have usufruct of these properties in his life-time, with a reversion clause in favour of the testatrix, or, if deceased, of the issue of her brother, George Wheelhouse Robinson. These became the beneficiaries of the second part of the dowry assets, with Pedro de Castro da Silveira having usufruct of same in his life-time. As for the assets acquired along the marriage, none were identified which would enter into the division. The testatrix generically left all of these assets to her husband. However, Mary Chadwick Robinson da Silveira’s will was made conditional on her having issue at the time of her death. Should there be issue, both the dowry assets and the assets acquired along the marriage would go to “such issue, with the exception of the usufruct in favour of my husband” 21. When the testatrix died on 10 October 1918, it was her husband’s task to execute all the formalities inherent to the sealed will, the latter having been presented, unsealed and read out on the following day. This took place in Boavista, Portalegre, in the couple’s home. Pedro de Castro da Silveira and the presenter were in attendance, as were the competent authorities (the District Administrator and his Secretary) and two witnesses (José Augusto dos Santos e Silva, Evangelical minister, and António de Sousa Ramos, tradesman22. 4. Conclusão Com esta breve abordagem ao universo documental da recolha para a constituição do arquivo electrónico da Fundação Robinson, pretendeu-se consciencializar a comunidade para as potencialidades de realizações académicas que o seu acervo permitirá. O alargado campo temático disponível à exploração dos investigadores e o contributo para a preservação, conhecimento e afirmação do património cultural e material portalegrense são testemunho da pertinência do projecto desenvolvido. 33 4. Conclusion This brief overview of the documentary universe garnered for the setting up of the Robinson Foundation electronic archive aimed at spreading awareness among the community of the potential for academic research which it has opened up. The broader thematic field at the disposal of researchers and the contribution towards preserving, making known and affirmation of Portalegre’s cultural and material patrimony are witnesses to the pertinence of the project Apêndice 1 Testamento de George William Robinson “Testamento que faz o Illustríssimo George Robinson, casado, industrial e proprietario, de Portalegre, em 9 março 1895. Saibam os que este publico instrumento de testamento virem, que no anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos noventa e cinco, aos nove dias do mez de março, no Largo da Boa Vista e casa numero tres, aonde eu tabellião vim, aqui perante mim tabellião e as cinco testemunhas idoneas adeante nomeadas e no final assignadas, compareceu o Illustríssimo George Robinson, casado, industrial e proprietario, subdito inglez, mas residente nesta cidade de Portalegre há muitos annos, que falla e entende perfeitamente a lingua portugueza: - é pelas mesmas testemunhas e por mim tabellião reconhecido. pelo proprio e em seu perfeito juizo e livre de qualquer coacção: E logo pelo dito Illustríssimo George Robinson na presença das mesmas testemunhas foi dito que de sua livre vontade tinha resolvido fazer o seu testamento e passou a dispôr pela forma seguinte: - Quer enterro modesto e segundo o uso e costume da sua religião; o seu corpo será encerrado em caixão de chumbo e este noutro de madeira, sendo sepultado no jazigo de familia. Os operarios < e empregados > da fabrica de cortiça tomarão luto por tres dias e a cada um serão pagos seis dias de trabalho alem dos tres do luto em que deixarão de ir á fabrica, digo, trabalho por esses tres dias de luto. Deixa a seu filho George Wheelhouse Robinson todos os contractos a longo praso de arrendamento ou compra de cortiça em Portugal – e bem assim todos os moveis, semoventes, immoveis, direitos e acções, incluindo os contractos de compra e arrendamento de cortiça, que possue no Reino de Hespanha e alli existão ao tempo da sua morte = Deixa a sua filha D. Mary Chadwick Robinson o arrendamento a longo praso da Penha d’Aguia e tapada do Escrivão situados na freguezia da Urra. E por esta for/ma tinha concluido o seu testamento que queria se cumprisse como nelle se contem e por este revoga outros anteriormente feitos. Que nomeia seu testamentario no dito seu filho George Wheelhouse Robinson. A tudo foram testemunhas presentes – José Lucio do Monte Pegado – Silvestre da Cruz Ceia, casados, empregados no commercio – Antonio Maria Guapo, viuvo, proprietario – Domingos Antunes Dias, casado, e Manoel da Rosa Cardoso, solteiro, ambos operarios, e todos maiores, cidadãos portuguezes, residentes nesta cidade que vão assignar depois de com o testador ratificarem o contheudo neste testamento que em voz alta e intelligivel foi lido perante todos por mim tabellião, tendo advertido ao testador de que o podia ler, o que não quiz, e posto por fé o Appendix 1 Last will and testament of George William Robinson “Last Will of the Illustrious George Robinson, married, industrialist and land-owner, of Portalegre, on 9 March 1895” That it be known to those who read this public will that, in the year of the birth of Our Lord Jesus Christ, eighteen hundred and ninety six, on the ninth day of the month of March, at number 3 of Largo da Boavista, where I, tabellion, have come and here before myself, tabellion, and the five upright witnesses mentioned hereafter and who at the end sign, the presence was registered of the Illustrious George Robinson, married, industrialist and land-owner, English [sic] subject, however having resided in Portalegre for many years, and fluently speaking and perfectly understanding Portuguese: - he is recognized by the afore-said witnesses and by myself, tabellion, by himself, being sound of mind and of his free will: and then the Illustrious George Robinson, in the presence of said witnesses, declared that of his own free will he had decided to make his last will and testament and went on to dispose in the following manner: - He wishes for a plain and simple funeral in accordance with the use and custom of his faith; his body shall be encased in a lead coffin and the latter in another made of wood, to be buried in the family vault. The workers < and employees > of the cork factory shall take three days of mourning and each one shall be paid six days’ wages besides the three days’ mourning during which they will not go to the factory, that is to say, work during those three days’ mourning. He leaves to his son George Wheelhouse Robinson all the long term contracts regarding the leasing or purchasing of cork in Portugal – as well as all the movables, semi-movables, real estate, bonds and shares, including the contracts for the purchase or leasing of cork, of which he is the owner in the Kingdom of Spain and which shall there exist at the time of his death = He wills to his daughter Miss Mary Chadwick Robinson the long term lease of Penha d’Àguia and Tapada do Escrivão, borough of Urra. And in this way he had concluded his will which he wished to be carried out as is contained in it and which present will revokes any other prior ones. That he appoints as his executor, his said son George Wheelhouse Robinson. All of which witnessed by those present – José Lúcio do Monte Pegado – Silvestre da Cruz Ceia, both married, employed in trade – António Maria Guapo, widower, proprietor – Domingos Antunes Dias, married, and Manoel da Rosa Cardoso, single, both workers and all of whom of age, Portuguese citizens, residing in this town, who will sign after ratifying with the testator the contents of this will which has been read out loud and clearly in the presence of all present by myself, tabellion, having advised the testator that he could read it, which he declined, and accepted that which was uttered and that this Notarial Act had proceeded without interruption. I validate 34 expressado e que este acto foi praticado sem interrupção. Resalvo numa entrelinha que diz «e empregados». No final será sellado e inutilisado sello de dois mil reis devido por este testamento. Antonio Andrade Rebello Costa Junior, tabellião o escrevi e em publico e raso assigno. the insertion which adds “and employees”. To conclude, a stamp shall be affixed and a stamp of two thousand reis shall be cancelled, owed for this will. I, Antonio Andrade Rebello Costa Junior, tabellion, did write this and in public do I sign it. signed by: a) George Robinson a) José Lucio do Monte Pegado a) Silvestre da Cruz Ceia a) Antonio Maria Guapo a) Domingos Antunes Dias a) Manoel da Roza Cardozo George Robinson José Lucio do Monte Pegado Silvestre da Cruz Ceia Antonio Maria Guapo Domingos Antunes Dias Manoel da Roza Cardozo Em testemunho [sinal do tabelião] de verdade a) Antonio A. Rebello Costa J. [selo no valor de 2000 Reis] 9 março 1895 cinco”²¹ Apêndice 2 Testamento de Sarah Ann Robinson “Testamento de D. Sarah Ann Robinson, casada, residente nesta cidade, em 9 de março 1895. / Saibam os que este publico instrumento de testamento virem, que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos noventa e cinco, aos nove dias do mez de março , na cidade de Portalegre, Largo da Boa Vista e Casa numero tres, aonde eu tabellião vim, aqui perante mim tabellião e as cinco testemunhas idoneas adeante nomeadas e no final assignadas e minhas conhecidas, compareceu a Excellentissima D. Sarah Ann Robinson, casada, de nação ingleza, mas ha muitos annos residente com seu marido em Portugal e por isso fallando e entendendo perfeitamente a lingua portugueza; é reconhecida pela propria de mim tabellião e das ditas testemunhas e todos nos certificamos de que a testadora está em seu perfeito juizo e livre de qualquer coacção. E logo pela dita testadora D. Sarah Ann Robinson foi dito que de sua livre vontade tinha resolvido fazer o seu testamento e passou a dispôr como segue: - Quer que o seu enterro seja modesto e à vontade da sua familia, sendo o seu corpo encerrado em caixão de chumbo, este noutro de madeira e depositado no jazigo de familia que tem nesta cidade. Deixa a seu filho George Wheelhouse Robinson a parte que ella outorgante possa ter nos contractos a longo praso de arrendamento ou compra de cor35 Testifying [mark of tabellion] to the truth signed by: Antonio A. Rebello Costa J. [stamp to the value of 2,000 reis] 9 March 1895 five”²¹ Appendix 2 Last Will and Testament of Sarah Ann Robinson “Last Will of Mrs. Sarah Ann Robinson, married, residing in this town, on 9 March 1895” That it be known to those who see this public will that, in the year of the birth of Our Lord Jesus Christ, eighteen hundred and ninety six, on the ninth day of the month of March, at number three, Largo da Boavista, where I, tabellion, have come and before myself, tabellion, and the five upright witnesses mentioned hereafter and who at the finish shall sign, the presence was registered of Mrs. Sarah Ann Robinson, married of English [sic] nationality but who has for many years lived with her husband in Portugal and therefore speaks and understands the Portuguese language perfectly; she is recognized by myself, tabellion, and by said witnesses and we have all ascertained that the testatrix is of sound mind and acts of her own volition. And said testatrix, Mrs. Sarah Ann Robinson declared that of her own free will she had decided to make her will and made the following dispositions: - She wishes her funeral to be plain and simple and in accordance with her family’s wishes, her body to be encased in a lead coffin, the latter being placed within a wood coffin and placed in the family vault in this town. She bequeathes to her son George Wheelhouse Robinson the share she may have in the long term contracts covering the leasing or purchasing of cork in Portugal, as well as in all the movable, semi-movable or immovable assets, also includ- tiça em Portugal, e bem assim todos os moveis, semoventes e immoveis, incluindo tambem os contractos de compra e arrendamento de cortiça, que possuir em Hespanha ao tempo de seu fallecimento, com todos os direitos e acções. Deixa a sua filha D. Mary Chadwick Robinson o arrendamento a longo praso das Tapadas da Penha d’Aguia e Escrivão, na freguezia da Urra. Que por esta forma tem concluido o seu testamento, pelo qual revoga outros anteriores e para seu testamentario nomeia o indicado seu filho. A tudo foram testemunhas presentes José Lucio do Monte Pegado e Silvestre da Cruz Ceia, casado, empregados no commercio – Antonio Maria Guapo / viuvo, proprietario – Domingos Antunes Dias, casado e Manoel da Rosa Cardoso, solteiro, ambos operarios, e todos maiores, cidadãos portuguezes, residentes nesta cidade, que vão assignar depois de com a testadora ratificarem o contheudo neste testamento que em voz alta e intelligivel foi lido a todos por mim tabellião tendo advertido a testadora de que o podia ler o que não quiz e posto por fé o expressado e que todo este acto foi praticado sem interrupção. No final será collado com sello da taxa. de dois mil reis. Antonio Andrade Rebello Costa Junior, tabellião o escrevi e em publico raso assigno. ing the contracts for leasing or purchasing of cork which she may own in Spain at the time of her death, with all bonds and shares. To her daughter, Miss Mary Chadwick Robinson, she bequeathes the long term lease of Tapadas da Penha d’Àguia and Escrivão, in the parish of Urra. This hereby terminates her will, which revokes any other which may have been made in the past, and she appoints her said son as executor. The following were all witnesses to the proceedings: José Lúcio do Monte Pegado and Silvestre da Cruz Ceia, both married, employed in trade – Antonio Maria Guapo, widower, proprietor – Domingos Antunes Dias, married, and Manoel da Rosa Cardoso, single, both factory workers, and all of age, Portuguese citizens, residing in this town, who shall shortly sign after ratifying with the testatrix the contents of this will which was read out by me, tabellion, aloud and clearly to all those present, having advised the testatrix that she could read the will, which she declined to do, and having accepted that which was uttered and that this Notarial Act had been carried out with no interruptions. At the end, a stamp shall be affixed to the value of 2,000 reis. Antonio Andrade Rebello Costa Junior, tabellion, wrote this and in public affix my signature. signed by: a) Sarah Ann Robinson a) José Lucio do Monte Pegado a) Silvestre da Cruz Ceia a) Antonio Maria Guapo a) Domingos Antunes Dias a) Manoel da Roza Cardozo Sarah Ann Robinson José Lucio do Monte Pegado Silvestre da Cruz Ceia Antonio Maria Guapo Domingos Antunes Dias Manoel da Roza Cardozo Em testemunho [sinal do tabelião] de verdade a) Antonio A. Rebello Costa J. [selo no valor de 2000 Reis] 9 março 1895 cinco”²² Apêndice 3 Testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira Testifying [mark of tabellion] to the truth signed by: Antonio A. Rebellho Costa J. [stamp to the value of 2,000 reis] 9 March 1895 five”²² Appendix 3 Last Will and Testament of Mary Chadwick Robinson da Silveira “Registo do testamento de D. Mary Chadivick Robinson da Silveira, falecida na casa de sua residencia sita na Bôa Vista freguezia da Sé desta cidade e concelho de Portalegre, pelas 22 horas do dia 10 de Outubro de 1918 _ Eu Mary Chadwick / Robinson da Silveira, declaro que sou Christã, seguindo o rito da Reforma, e segundo elle quero que se faça o meu enterramento = Declaro mais, que tendo casado com o Senhor Pedro de Castro da Silveira, com elle celebrei contrato “Record of the will of Mrs. Mary Chadivick [sic] Robinson da Silveira, deceased at her home in Boa Vista, parish of Sé in this town and District of Portalegre, at 22 hours of 10 October 1918_ I, Mary Chadwick / Robinson da Silveira, declare that I am a Christian, following the rites of the Reformed Church, according to which I wish to be buried = I further declare that, having married Pedro de Castro da Silveira, 36 antenupcial, nas notas do tabellião da cidade de Portalegre, Antonio Andrade Rebello da Costa Junior, em quatro de Junho de mil oitocentos noventa e cinco, na qual, estipulando o regimen dotal para os bens, com que entrei para o casal, e me tinham sido doados por meu fallecido Pai, em escriptura de nove de Março d’esse anno, lavrada nas mesmas notas, e em que se comprehende o arrendamento a longo praso, que me foi deixado, em testamento, tambem por meu Pai, separei desses bens um grupo de propriedades no sitio de Valle de Lobo, no concelho de Castello de Vide, descripto na respectiva conservatória sob os numeros cento vinte cinco e cento vinte seis (supprimida Conservatoria de Castello de Vide (mil quatrocentos e nove / a mil quatrocentos e dez e mil quatrocentos onze a < quatro > mil quinhentos e seis (conservatoria da Comarca) de cujo usofruto vitalicio, fiz doação ao dito meu marido, com a clausula de reversão para mim, e, na minha falta, para meus sobrinhos, filhos de meu irmão, o Senhor George Wheelhouse Robinson, e dispondo agora desses bens, como tenho direito a fazel-o deixo-os em propriedade ao referido meu marido, bem como os curraes de Monte Andreu egualmente doados por meu falecido Pai, na escriptura de nove de Março, a que já me referi, ficando portanto sem efeito algum aquella clausula de reversão. = Dos outros bens, que constituem o meu dote, disponho d’elles a favor de meus sobrinhos, filhos do mensionado meu irmão, com reserva, porem, do usufructo vitalicio, do qual disponho a favor do dito meu marido: isto porem no caso de eu fallecer sem descencia [sic]; porque, no caso contrario, todos esses bens, que constituem o meu dote, passarão para essa minha descendencia, com / reserva do usufructo a favor de meu marido, nos termos decla<ra>dos no codigo civil Portuguez = Na meição que me compete nos adquiridos disponho a favor do dito meu marido, caso venha a morrer sem descendência. = E assim tenho por concluido o meu testamento e disposição da ultima vontade, que quero se cumpra. = Lisbôa, nove de Julho de mil oitocentos noventa e seis = Mary Chadivick Robinson da Silveira. = Saibam quantos virem este auto de approvação de testamento cerrado, que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos noventa e seis, aos nove dias do mês de Julho nesta cidade de Lisbôa na rua do crucifixo numero cincoenta no meu escriptorio perante mim tabellião Jorge Filippe Cosmelis, e as cinco testemunhas que me declararam ser idoneas adiante nomeadas e assignadas compareceu a Excelentissima Dona Mary Chadivick / Robinson da Silveira, casada com Pedro Castro da Silveira moradora em Portalegre, e temporariamente nesta cidade no hotel Central, estabelecido no Caes do Sodré hoje denominado praça do Duque da Terceira, a quem conhecemos pela propria e que nos certificamos de que está em seu perfeito juiso e livre de toda e qualquer coacção = E 37 Esquire, with him I reached a pre-nuptial agreement in the Documents of the tabellion of the town of Portalegre, Antonio Andrade Rebello da Costa Junior, on 4 July eighteen hundred ninety five, in which, stipulating the dowry regime for the assets I brought into the marriage, which had been bequeathed to me by my deceased Father, as per deed of 9 March of that year, consigned in those self-same Documents, and which encompass the long term leasing, which was left to me also by my Father’s last will and testament, I separated from those assets a series of properties in Valle de Lobo, Castello de Vide, detailed in the said Registry under numbers one hundred twenty five and one hundred twenty six (the former Registry of Castello de Vide (one thousand four hundred and nine / to one thousand four hundred and ten, and one thousand four hundred and eleven to < four > one thousand five hundred and six (Registry of the Judicial District) of which I willed to my said husband life-long usufruct, with the provisions of their reverting to myself, and, if deceased, to the issue of my brother, George Wheelhouse Robinson, Esquire, and being now in possession of these assets, as is my right to do so, I will them as property to my husband, as well as the animal pens of Monte Andreu, also bequeathed to me by my deceased Father, in the deed dated ninth March, already mentioned, any reversal clause therefore being completely null and void. = Of the other assets making up my dowry, I hereby dispose of them in favour of the issue of my said brother, with the reservation, however, of life-long usufruct which I will to my said husband: this, however, if I die without issue; because, should I have issue, all these assets, which make up my dowry, will be passed on to such issue, with the / reservation of the usufruct in favour of my husband, in the terms laid down by the Portuguese Civil Code = In the division to which I am entitled regarding the assets acquired along the marriage, I will these to my husband, should I die without issue = And thus I hold as concluded my last will and testament, which I wish to see carried out. = Lisbon, ninth July, eighteen hundred and ninety six = Mary Chadivick [sic] Robinson da Silveira. – Let it be known to those who witness this Document of approval of a sealed will that in the year of the Birth of Our Lord Jesus Christ, eighteen hundred and ninety six, on the ninth day of the month of July, in this city of Lisbon, at number fifty, Rua do Crucifixo, in my office, before me, tabellion Jorge Filippe Cosmelis, and the five witnesses, who declared themselves to be upright citizens, below mentioned and whose signatures are affixed, there was present Mrs. Mary Chadivick [sic] / Robinson da Silveira, married to Pedro Castro da Silveira, residing in Portalegre and temporarily in this city, loged at Hotel Central, located in Caes do Sodré, now termed Praça do Duque da Terceira, whom we know to be who she claims to be and whom we acknowledge to be of sound mind and in full use of her own free will = por ella me foi apresentado em presença das mesmas testemunhas este testamento e disposições declarando como elle é a sua ultima vontade, o qual testamento que eu vi sem o ler, é escripto e assignado pela testadora, contem duas paginas, menos cinco linhas, está rubricado pela mesma testadora e não tem borrão algum, emenda, nota marginal, ou entrelinha, alem da que está feita entre as linhas vigessima terceira, e vigessima quarta da primeira pagina – e que diz =de= E em testemunho de verdade lavrei este auto que principiei logo em seguida à assignatura do testamento em / continuo sem interrupção sendo a tudo testemunhas presentes desde o principio até ao fim o Doutor Jayme Cariolano Henrique Leça da Veiga, advogado nesta cidade, casado, morador na rua de São Francisco de Paula numero oitenta e quatro terceiro andar freguezia de Santos o Velho, Carlos Sampaio Effrem, solteiro, de maior idade empregado publico morador com a testemunha antecedente, António < Amaro > Conde, casado, proprietario morador na rua do Olival numero cento e quatorze freguezia de Santos o Velho, Apolinario da Fonseca, solteiro, de maior idade empregado na Camara Municipal desta cidade morador na rua de Santo Antão numero cento e nove primeiro andar freguezia de Santa Justa e Rufina, e Diogo Antonio Barroso da Veiga, solteiro de maior idade, empregado na dita Camara morador com a primeira testemunha, os quaes todos assignam este auto comigo tabellião e com a tes/tadora depois de ser por mim escripto e lido em voz alta na presença das mesmas testemunhas e da testadora porque esta sendo por mim advertida de que o podia ler não o quiz fazer. = Foram praticadas em acto continuo todas estas formalidades de cujo cumprimento dou fé, e á testadora hei de entregar este testamento depois de ser por mim cosido e lacrado em presença das mesmas testemunhas e depois de lacrado na face externa da folha que servir de involucro uma nota com a declaração de que pertence à dita testadora. = Adiante será pago por estampilha o sello de mil reis devido por este auto. = Eu Jorge Filippe Cosmelis Tabellião publico de notas nesta cidade e Comarca de Lisbôa o escrevi e assigno em publico e raso = Deste mil e duzentos reis = Mary Chadivick Robinson da Silveira = Jayme Cariolano Henrique Leça Veiga = Carlos Sampaio Efrem = Antonio Amaral Conde = Apolinario da Fonseca = Diogo Antonio Barroso da Veiga = Jorge Filippe / Cosmelis _ esta assinatura inutilisa duas estampilhas, uma das quaes do imposto do sêlo da taxa de mil reis e outra de contribuição industrial do valor de noventa reis = Testamento da Excelentissima Senhora Dona Mary Chadivick Robinson da Silveira, approvado nesta cidade de Lisbôa aos nove de Julho de mil oitocentos noventa e seis perante mim tabellião Jorge Filippe Cosmelis = Encontram-se coladas e inutilisadas em cada uma das folhas do testamento uma estampilha fiscal de quinze centavos = And she presented to me, in the presence of said witnesses, this will and provisions, declaring that it was her last will and testament, which I saw without reading it. It is written and signed by the testatrix, consists of two pages, minus five lines, is initialed by said testatrix and has no smudges, corrections, margin notes or additions between the lines, besides that which was made between the twenty third and twenty fourth lines of the first page – and which consists of = of = And testifying to the truth I drew up this Document which I began immediately upon signature of the will without pause or interruption, all of which witnessed in the presence of all from start to finish by Jayme Cariolano Henrique Leça da Veiga, Esquire, a lawyer in this city, married, residing at number eighty four, third floor, parish of Santos o Velho, Carlos Sampaio Efrem, single, of age, civil servant, residing at the same address as the previous witness, António < Amaro > Conde, married, proprietor, residing at number one hundred and fourteen, Rua do Olival, parish of Santos o Velho, Apolinario da Fonseca, single, of age, employed by the Municipal Council of this city, residing at number one hundred and nine, first floor, Rua de Santo Antão, parish of Santa Justa and Rufina, and Diogo Antonio Barroso da Veiga, single and of age, employed by said Council, residing at the same address as the first witness, all of whom signed this Document with me, tabellion, and with the tes/tatrix, after having been read by me and read aloud in the presence of said witnesses and of the testatrix, because, having told her she could read it, she did not wish to do so = All these formalities were carried out by me without pause, to which I attest, and shall hand the testatrix this will after having sewn up and sealed said will in the presence of said witnesses and after affixing sealing wax on the outer surface of the sheet which shall serve as involucre I shall add a note declaring that it belongs to said testatrix. = A stamp of 1,000 reis shall be paid presently in payment of this Document = I, Jorge Filippe Cosmelis, Tabellion public in this city and district of Lisbon, wrote it down and sign publicly = Of this one thousand and two hundred reis = Mary Chadivick [sic] Robinson da Silveira = Jayme Cariolano Henrique Leça Veiga = Carlos Sampaio Efrem = Antonio Amaral Conde = Apolinario da Fonseca = Diogo Antonio Barroso da Veiga = Jorge Filippe / Cosmellis_ this signature cancels two stamps, one of which pertaining to stamp duty to the amount of one thousand reis and another pertaining to Industrial tax to the amount of ninety reis = Last Will and Testament of Mrs. Mary Chadivick [sic] Robinson da Silveira, approved in this city of Lisbon on the ninth of July, eighteen hundred and ninety six before me, tabellion, Jorge Filippe Cosmelis = affixed and cancelled on each page of the will a fiscal stamp of fifteen centavos = Stamp paid to the amount of twelve escudos in the form of four fiscal stamps amounting to three escudos each, affixed to each page of the will and 38 Pagou de selo doze escudos em quatro estampilhas fiscais de tres escudos cada uma coladas em cada uma das folhas do testamento, devidamente inutilisadas. = Registe-se. = Portalegre onze do decimo de mil novecentos e desoito. = O Administrador M. G. Monteiro – alferes. = Aos onze dias do mez de Outubro de mil novecentos e dezoito, digo, - Auto de apresentação abertura e publicação do testamento cer/rado de D. Mary Chadivick Robinson da Silveira, casada, maior, proprietaria falecida às vinte e duas horas e quarenta minutos de dez de Outubro de mil novecentos e dezoito na sua propria morada sita na Bôa Vista, freguezia da Sé, desta cidade e concelho de Portalegre. _ Aos onze dias do mez de Outubro de mil novecentos e dezoito nesta cidade de Portalegre e casas de morada do Excelentissimo Senhor Pedro de Castro da Silveira, sitas na Bôa Vista, freguezia da Sé desta cidade e concelho de Portalegre, onde estava presente o Excelentissimo Senhor Manoel Gonçalves Monteiro, Administrador deste concelho, comigo Luiz de Souza Gomes, secretario do seu cargo, para este efeito previamente chamados e sendo treze horas pelo Excelentissimo Senhor Pedro de Castro da Silveira, casado, proprietario, residente nesta cidade foi apresentado um testamento cerrado, cosido e lacrado e declarando que tendo falecido sua esposa Dona Mary Chadivick Robinson da Silveira, pelas vinte e / duas horas e quarenta minutos do dia dez de Outubro do corrente ano o vinha apresentar afim de sêr aberto, lido e publicado nos termos e para os efeitos do artigo mil novecentos e trinta e tres do codigo Civil Portuguez, declaração esta que foi feita na presença das testemunhas para este efeito chamadas Excelentissimos Senhores José Augusto dos Santos e Silva, casado, ministro Evangelico < residente > na travessa de Santo Antonio, vinte e um, Segundo, às Janelas Verdes – Lisbôa e Antonio de Souza Ramos, casado, comerciante, residente na travessa da Oliveira nº 19 r/c - direito - à Estrela em Lisbôa. = Em seguida o Excelentissimo Senhor Administrador deste concelho recebendo das mãos do apresentante o testamento, o examinou e fez ver e examinar às pessoas presentes que se achava lacrado cosido, e fechado sem signal algum de ter sido aberto ou violado. = E logo em acto continuo o Excelentissimo Senhor Administrador deste concelho / o abriu, leu e publicou, verificando que se achava escripto sem razuras, borrões emendas ou notas marginais ou qualquer outro vicio que possa prejudicar a sua validade. = Tinha é certo uma entrelinha que diz “-de-” mas que se encontra ressalvada no respectivo acto de aprovação = E para constar e devidos < efeitos > me foi ordenado pelo mesmo magistrado administrador que lavrasse o presente auto de abertura, leitura e publicação de testamento cerrado que eu Luiz de Souza Gomes, secretario do seu cargo, escrevi, li em voz alta e depois de todos dizerem estar conforme vai ser assignado pelo Excelentissimo 39 duly cancelled. To be recorded. = Portalegre eleventh of the tenth of nineteen hundred and eighteen. The Administrator M. G. Monteiro – sub-Lieutenant. On the eleventh day of the month of October, nineteen hundred and eighteen, I declare, - Document of presentation opening and making public of the sealed will of Mrs. Mary Chadivick [sic] Robinson da Silveira, married, of age, proprietor, deceased at twenty two hours and forty minutes of the tenth of October of nineteen hundred and eighteen in her own home located at Boa Vista, parish of Sé, in this town and district of Portalegre. _ On the eleventh day of the month of October nineteen hundred and eighteen in this town of Portalegre and in the residence of Pedro de Castro da Silveira, Esquire, located at Boa Vista, parish of Sé, in this town and district of Portalegre, in the presence of Manoel Gonçalves Monteiro, Esquire, Administrator of this district, accompanied by Luiz de Souza Gomes, secretary, to this end previously summoned, at thirteen hours, by Pedro de Castro da Silveira, married, proprietor, residing in this town, a sealed, sewn will was presented, and declaring that, his wife, Mrs. Mary Chadivick [sic] Robinson da Silveira had passed away at twenty / two hours and forty minutes of the tenth day of October of this year, he had come to present said will so that it could be opened, read out and made public in accordance with the dispositions and to the effect of article one thousand nine hundred and thirty three of the Portuguese Civil Code, which declaration was uttered in the presence of the witnesses summoned to this end, called José Augusto dos Santos e Silva, Esquire, married, Evangelical minister < residing > at twenty one, second floor, Travessa de Santo Antonio, at Janelas Verdes – Lisbon and Antonio de Souza Ramos, married, tradesman, residing at number 19 r/c-right, Travessa da Oliveira, at Estrela, Lisbon = Then, his Excellency the Administrator of this district, upon receiving the will from the presenter, examined it and had it examined by those present, whereby it was witnessed as being sealed, sewn and closed, showing no sign of having been opened or tampered with = And then, without pausing, his Excellency the Administrator of this district / opened, read out and made its contents public, noting that it was written without erasures, smudges, corrections or notes in the margins or any other defect which might jeopardize its validity. = It did, however, include an insertion consisting of “- of –“ but which is confirmed in the document of approval concerned = And that it be known and for the relevant < purposes >, I was commanded by said Administrative magistrate to draw up this Document of opening, reading out and making public of the sealed will which I, Luiz de Souza Gomez, secretary, wrote and read out and, after agreement by those present that it was in conformity, will be signed at the end by his Excellency the District Administrator, the presenter, witnesses and by myself. = This document will Senhor Administrador deste concelho, apresentante, testemunhas e por mim no final. = Vão sêr colados e inutilisados, digo, colados e devidamente inutilisados sêlos fiscais na importancia de um escudo e cincoenta centavos de taxa fixa e dito de um centavo e meio pelo respectivo recibo dos emolumentos = E eu Luiz de Souza Gomes secretario que o escrevi, subscrevi, autentico e assino / O administrador do concelho = Manoel Gonçalves Monteiro, alferes do S. A. M. Esta assinatura inutilisa tres estampilhas fiscaes do valor de cincoenta centavos cada uma. = O apresentante = Pedro de Castro da Silveira = As testemunhas = José Augusto dos Santos e Silva = Antonio de Souza Ramos = O Secretario. = Luiz de Souza Gomes. = Conta: Auto - $50 = Exmo. Administrador = 1$20 = Secretario = $50 = Sêlos do auto – 1$50 = Sêlo do livro - $15 = Soma 3$95 = Soma três escudos e noventa e cinco centavos = Industrial paga por guia relativa ao mês corrente e calculada pelo factor 0,21 = O secretario – Luiz de Souza Gomes – esta assinatura inutilisa devidamente duas estampilhas fiscais do valor total de um e meio centavo = E nada mais se contem em o referido testamento cerrado e termo de abertura do que o que fica transcripto à vista dos próprios a que me reporto. Não teve cousa que duvida faça não validar validar [sic] as emendas a folhas oito verso e linhas vinte e uma que diz: a Cosmelio, a folhas nove verso e linhas seis que diz: [...], na folha / nove verso e linhas vinte e um que diz: “Diogo”; a folhas seis e linhas dezassete que diz: “Cornelio”; a folhas seis verso e linhas um que diz: “Cornelio”; e as entrelinhas a folhas nove verso e linhas e linhas (sic) doze que diz: “Amaro”; a folhas 11 verso e linhas onze que diz: “residente”; a folhas doze e linhas oito que diz “efeitos”. Vae por mim conferido com o Exmo. [Sr.] Manuel Gonçalves Monteiro, administrador deste concelho. Conta: registo 1$80. Selo do livro: $90. Somma 2$70. Somma dois escudos e setenta centavos Industrial calculado pelo factor 0,21 e pago por guia relativa ao mez corrente. Secretaria da Administração do Concelho de Portalegre 25 de Outubro de 1918. Conferimos: O Administrador do Concelho a) Manoel Gonçalves Monteiro have affixed to it and cancelled, correction, duly cancelled, fiscal stamps to the amount of one escudo and fifty centavos in fixed duty and same in the amount of one centavo fifty due in fees. = And I, Luiz de Sousa Gomez, secretary, who wrote, signed it, hereby authenticate and sign it The / District Administrator = Manoel Gonçalves Monteiro, sub-Lieutenant in S.A.M. This signature cancels three fiscal stamps to the mount of fifty centavos each. = The presenter = Pedro de Castro da Silveira = The witnesses = José Augusto dos Santos e Silva = Antonio de Souza Ramos = The Secretary. = Luiz de Souza Gomez. = Bill: Document - $50 = his Excellency the Administrator = 1$20 = the Secretary = $50 =Stamps used on the Document – 1$50 = Ledger stamp - $15 = Total 3$95 = Total three escudos and ninety five centavos = Industrial tax paid as per document relating to the current month and calculated on the basis of 0.12 = The Secretary – Luiz de Souza Gomez – this signature duly cancels two fiscal stamps totalling one and a half centavos. And there is nothing further in said sealed will and act of opening it than that which has been transcribed in the presence of the witnesses whom I mention. There was nothing to cast doubt on the validity validity [sic] of the corrections on the reverse of page eight, line twenty one which states: to Cosmelio, on the reverse of page nine, line six which states: [...], on the reverse of page / nine, line twenty one which states: “Diogo”; on page six, line seventeen, which states: “Cornelio”; on the reverse of page six, line one which states: “Cornelio”; and between the lines of the reverse of page nine, line and line [sic] twelve which states: “Amaro”; the reverse of page eleven, line eleven which states “residing”; on page twelve, line eight which states: “purposes”. This document has been examined by me together with Manuel Gonçalves Monteiro, Esquire, administrator of this district. Bill: registering 1$80. Ledger stamp: $90 Total 2$70. Total: two escudos and seventy centavos Industrial duty calculated on the basis of 0.21 and paid by receipt relating to the current month. Portalegre Administrative Secretariat 25 October 1918. Checked: The District Administrator signed by: Manoel Gonçalves Monteiro The Secretary: signed by: Luiz de Souza Gomes O Secretario: a) Luiz de Souza Gomes” [stamp to the amount of one escudo and fifty centavos; stamp to [selo no valor um de escudo e cinquenta centavos; selo no valor de um centavo e meio] ²³ the amount of one and a half centavos]²³ 40 notas notes ¹ 1 ² ³ 4 5 6 7 8 9 ¹0 ¹¹ ¹² ¹³ ¹4 ¹5 ¹6 ¹7 ¹8 ¹9 ²0 ²¹ ²² ²³ ²4 ²5 41 Este trabalho resulta da recolha documental preliminar realizada no decurso do ano de 2006. Cfr. Maria José Azevedo Santos, “A evolução da língua e da escrita”, in Nova História de Portugal, dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, volume III, Portugal em definição de fronteiras (1096-1325): do Condado Portucalense à crise do século XIV, coord. Maria Helena da Cruz Coelho, Armando Luís de Carvalho Homem, Lisboa, Presença, 1996, pp. 604-634. Veja-se Portaria de 11 de Março de 1811. Cfr. Tavares de Carvalho, Actos dos Notários, Lisboa, Antiga Casa Bertrand – José Bastos, 1897. Esta extinção coincidiu com a introdução do novo Código Civil, publicado no mesmo ano. Arquivo Distrital de Portalegre, Cartórios Notariais de Portalegre, 2.º Ofício, cx. 20, lv. 6, fl. 39v.-40. Veja-se Apêndice 1 – Testamento de George William Robinson, p. 8. Veja-se Apêndice 2 – Testamento de Sarah Ann Robinson, p. 10. Veja-se Apêndice 3 – Testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira, p. 12. As referidas escrituras de doação de bens não serão neste texto analisadas, reservando-se o seu estudo para uma posterior abordagem à evolução da estrutura patrimonial da família Robinson durante a sua permanência em Portalegre. Veja-se Apêndice 1 – Testamento de George William Robinson, p. 8. Idem. Idem. Sobre os modelos de estruturação familiar, veja-se Margarida Durães, Herança e Sucessão [Texto policopiado]. Leis, Práticas e Costumes no Termo de Braga (Séculos XVIII-XIX), 3 volumes, Braga, Universidade do Minho – Instituto de Ciências Sociais, 2000. Veja-se Apêndice 1 – Testamento de George William Robinson, p. 8. Veja-se Apêndice 1 – Testamento de George William Robinson, p. 8. Cfr. Margarida Durães, op. cit., volume II, pp. 315-402. O testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira foi aprovado nesta data, no escritório do tabelião Jorge Filipe Cosmelis, em Lisboa. Tanto o testamento, como o auto de aprovação, encontram-se reproduzidos no auto de apresentação e abertura do mesmo, realizado na casa de residência do casal, em Portalegre, a 11 de Outubro de 1918, dia seguinte ao falecimento da testadora. Veja-se Apêndice 3 – Testamento de Mary Chadwick Robinson da Silveira, p. 12. Idem. Idem. Cf. Inocência de Sousa Duarte, Tratado prático dos testamentos. Directório dos testadores e dos testamenteiros, conforme a legislação em vigor, Lisboa, Livraria Portuguesa e Francesa, 1880, p. 42. Arquivo Distrital de Portalegre, Cartórios Notariais de Portalegre, 4.º Ofício, cx. 156, lv. 40, fl. 20v.-21. Arquivo Distrital de Portalegre, Cartórios Notariais de Portalegre, 4.º Ofício, cx. 156, lv. 40, fl. 21-22. Arquivo Distrital de Portalegre, Fundo da Administração do Concelho de Portalegre, Registo de Testamentos, Livro 92, fl. 7-13. The work presented in this article issues from preliminary document recovery carried out during 2006. 2 Cf. Maria José Azevedo Santos, “A evolução da lingua e da escrita” [The Evolution of the Language and of Writing] in Nova história de Portugal, Joel Serrão and A.H. de Oliveira Marques, eds., volume III, Portugal em definição de fronteiras (10961325): do Condado Portucalense à crise do século XIV, Maria Helena da Cruz Coelho and Armando Luis de Carvalho Homem, eds., Lisbon, Presença, 1996, pg. 604/634. 3 See Decree of 11 March 1811. 4 Cf. Tavares de Carvalho, Actos dos Notários [Notary Public Documents], Lisbon, Antiga Casa Bertrand – José Bastos, 1897 5 This dissolution coincided with the adoption of the new Civil Code, published in that same year. 6 Portalegre District Archive, Cartórios Notariais de Portalegre [Portalegre Notary Public Registries] 2nd Ofício, box 20, ledger 6, pg 39-reverse/40. 7 See Appendix 1 – will of George William Robinson, pg [?]. 8 See Appendix 2 – will of Sarah Ann Robinson, pg [?]. 9 See Appendix 3 – will of Mary Chadwick Robinson da Silveira, page [?]. 10 The endowment deeds concerned are not further considered in this article. They will be analysed in a forthcoming article addressing the evolution of the Robinson Family’s patrimonial structure during their term of residence in Portalegre. 11 See Appendix 1 – will of George William Robinson, pg [?] 12 Ibid. 13 Ibid. 14 On the models of family structuring, see Margarida Durães, Herança e sucessão [Inheritance and Succession] [photocopied text. Leis, práticas e costumes no termo de Braga (séculos XVIII e XIX), 3 volumes, Braga, Minho University – Institute for Social Sciences, 2000 15 See Appendix 1 – will of George William Robinson, pg [?]. 16 Ibid. 17 Cf. Margarida Durães, op. cit., volume III, pg 315/402. 18 The will of Many Chadwick Robinson da Silveira was approved on this date, in the offices of the tabellion Jorge Filipe Cosmelis, Lisbon. Both the will and the document of approval are reproduced in the document of presentation and opening of same, which took place at the couple’s home in Portalegre, on 11 October 1918, the day after the testatrix’s death. 19 See Appendix 3 – will of Mary Chadwick Robinson da Silveira, pg [?]. 20 Ibid. 21 Ibid. 22 Cf. Inocência de Sousa Duarte, Tratado prático dos testamentos. Directório dos testadores e dos testamenteiros, conforme a legislação em vigor [Practical Treatise of Last Wills and Testaments. Directory of Testators and Executors, According to Currently Applicable Legislation], Lisbon, Livraria portuguesa e francesa, 1880, pg. 42. 23 Portalegre District Archive, Portalegre Notary Public Registries, 4th ofício, box 156, 24 Portalegre District Archive, Portalegre Notary Public Registries, 4th ofício, box 156, 25 Portalegre District Archive, Centre for the Administration of the District of Por- ledger 40, pg 20-reverse/21. ledger 40, pg 21/22. talegre, Registry of Wills, ledger 92, pg 7/13. Estatutos, actividades e factos relevantes da constituição e funcionamento da Fundação Robinson Statutes, activities and facts relevant to the setting up and running of the Robinson Foundation Alexandra Carrilho ADMINISTRADORA DELEGADA, FUNDAÇÃO ROBINSON DELEGATED ADMINISTRATOR, ROBINSON FOUNDATION Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 42-55, ISSN 1646-7116 Interrogado sobre a diferença existente entre os homens cultos e os incultos, disse: “A mesma diferença que existe entre os vivos e os mortos.” Asked about the difference between the learned and Aristóteles, citado em Diógenes Laércio, Vidas dos Filósofos Lives of the Philosophers Foi-me possível, por via das funções que, na altura, desempenhava, acompanhar o reconhecimento da Fundação Robinson. Desde logo, pelos objectivos e documentação anexa, julguei ser um projecto merecedor de apoio e carinho, por ser inovador e se localizar numa área de Portugal que merece ser conhecida e possuir pontos de interesse cultural e turístico que a tornem mais rica, possibilitando o desenvolvimento da região e do seu povo, através da cultura. É sempre muito gratificante verificar que a sociedade civil tem primazia sobre o Estado em projectos culturais. Os protagonistas da cultura são a população, os artistas e criadores, as associações de cidadãos que não tenham por objectivo o lucro, tendo as iniciativas culturais estado tradicionalmente, a cargo de instituições privadas. Recentemente, em meu entender, como autarca que também sou, responsável do pelouro da Cultura, o Estado, em que têm um papel principal as Autarquias, chamou a si, alguns aspectos da política cultural, não para a determinar, dirigir ou controlar, mas para que possa influenciá-la, satisfazendo as necessidades da população para que esta entenda que, tal como o aumento do nível económico, material e educativo, deverá haver um melhoramento do nível cultural, para que a cultura deixe de ser um privilégio de alguns, mas antes um direito e uma necessidade de todos. Na Fundação Robinson, em que tive a possibilidade de cooperar para levar a bom termo o seu reconhecimento, existe a colaboração de entidades privadas e públicas que tiveram a 43 the ignorant, Aristotle said: “the same as between the living and the dead.” quoted in Diogenes Laertius, By virtue of the work I was then doing, I was able to follow the recognition of the Robinson Foundation. From the very beginning, given its goals and attached documentation, I believed it to be a project warranting support and cherishing, since it was innovative and sited in an area of Portugal where cultural and tourist landmarks are to be found. These make the area richer, enabling, through cultural activities, the development of the region and its people. It is always very gratifying to see that civil society has primacy over the State in cultural projects. The main players of culture are the population, the artists and creators, non-profit citizens’ associations, cultural initiatives having traditionally been the preserve of private institutions. Recently, as I see it, also working as I do in local government – with responsibility for cultural affairs – the State – in which local government plays a major role – has undertaken to carry out a number of cultural policy initiatives, not to determine, conduct or control, but so that it can exert its influence, meeting the needs of the population. It has done so to ensure the latter understands that, just as there has been progress in economic, material and educational terms, there must be an improvement at cultural level, for culture to cease being the privilege of the few and start, rather, to be a right and need of the many. In the Robinson Foundation – where I was able to cooperate in its successful recognition – we find private and public entities working together. These enjoyed the liberdade e a criatividade para apresentar um projecto de âmbito cultural de grande interesse, preservando uma área industrial local, que, sem a existência do projecto desapareceria, e despoletar as sinergias necessárias para que a autarquia a apoiasse, dando relevância ao sector. Desejo e espero que a equipa que se dispõe a construir os projectos da Fundação nunca perca a esperança e a coragem para levar adiante um projecto lindo, que nos faz crer que “o sonho comanda a vida”. freedom and creativity to present a cultural project of great interest, conserving a local industrial site – which, were it not for this project, would have vanished – and triggering the synergies necessary for Town Hall support, thus lending relevance to the sector. I hope that the team which is setting out to build the Foundation’s projects will never lose hope or the courage to move forward with this wonderful project, which makes us believe that “dreams rule our lives”. Natália Cunha Natália Cunha Dirigente da Secretaria Geral do MAI Forewoman of the Ministry for Internal Affairs Secretary Y Y Esta história começa com a tomada de consciência da Corticeira Robinson do potencial patrimonial de memória histórica local, propriedade da Fábrica ou ali depositado. Foi assim que a empresa avançou com a ideia de criação de uma Fundação, capaz de ser uma fiel guardiã de memórias e de uma história que é comum a toda a cidade. A esta proposta acedeu de bom grado a Câmara Municipal de Portalegre, por alcançar a magnitude de um projecto desta natureza no Concelho, entendendo esta iniciativa como uma forma de cooperação, envolvimento e motivação das pessoas que, de alguma forma, estiveram ligadas à Fábrica, garantido a preservação da memória local e salvaguardando a continuidade da empresa. A Fundação, enquanto organização destinada a prosseguir um fim duradouro ao qual esteja afecto um património, pretende complementar e/ou cooperar com as entidades públicas na realização efectiva das tarefas de interesse geral que se impõem nas diferentes áreas da sociedade civil, como This story begins with the Robinson Cork Factory’s full realization of the potential heritage factor of local historical memory, whether owned by the Factory or in its safekeeping. Thus it was that the Company moved forward with the idea of creating a Foundation capable of being a custodian of memories and of a history which are held in common by the entire town. This proposal was willingly greeted by the Town Council of Portalegre, since it represented a project of this magnitude in the District. The project was appreciated as a form of cooperation and engaging with and motivating people who in some way had links to the Factory, ensuring that the local collective memory would be preserved and safeguarding the continuity of the Company. As an organization designed to endure and which will hold cultural heritage items, the Foundation has set itself the task of complementing and/or cooperating with public bodies in effectively carrying out tasks which are of general 44 a educação, a cultura humanista, as belas artes, a pesquisa científica e tantas outras. Daí advém a importância social de instituições desta natureza. O momento de dificuldade atravessado pela Corticeira, à semelhança de outros sectores industriais portugueses, motivou uma situação de afirmação económica por parte da Câmara Municipal de Portalegre que foi aceite pela administração da Fábrica como uma oportunidade para a preservação do seu espólio e da memória do seu nome. A deslocação da Fábrica Robinson para a zona industrial de Portalegre, inserida numa política de transferência de indústrias e oficinas localizadas no centro da cidade para este Parque Industrial agora requalificado, deixa disponível enorme área de terreno situada numa importante zona de desenvolvimento da cidade. Trata-se de um significativo espaço construído, composto maioritariamente por hangares, armazéns e oficinas, para além do edifício principal que define a grande frente do Largo Jardim do Operário. O nascimento da Fundação surge, assim, inserido numa complexa iniciativa para travar a dispersão da periferia da cidade, através de um programa de reabilitação das instalações da Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A. Para além de recuperar a sua ligação histórica à cidade, a Câmara Municipal de Portalegre, juntamente com os parceiros constituintes da Fundação Robinson, sugere redefinir as funções dos diversos edifícios que constituíam as instalações da antiga Fábrica, aproveitando assim esta grande superfície de construção existente para receber os equipamentos culturais de que a cidade necessita. A Robinson foi testemunho e, ao mesmo tempo, motor do desenvolvimento industrial, social e corporativo que teve lugar em Portalegre desde meados de Oitocentos. Apesar da actual aparência obsoleta da sua área, ocupada quase aleatoriamente 45 interest and which are necessary in the different areas of civil society, such as education, humanist culture, the fine arts, scientific research and so many others. This is what renders such institutions so important at a social level. The difficult times visited upon the Cork Factory, similar to those which affected other Portuguese industrial sectors, gave rise to a desire for affirmative economic action on the part of the Town Council of Portalegre, which was accepted by the Factory’s management as an opportunity to preserve its equipment and the memory of its name. Re-locating the Robinson Factory to the industrial Estate of Portalegre, a strategy inset within a policy of transferring industries and workshops hitherto sited in the town centre to this now upgraded area, leaves behind a vast area of land lying in a part of town under major development. The land on which stood the old Cork Factory consists of a significant built-up space, in the main housing hangars, warehouses and work-shops, besides the main building which takes up the entirety of the façade giving onto the Largo Jardim do Operário. The birth of the Foundation thus heralds a complex initiative to curb the urban sprawl of the town’s outskirts. It does so by means of a programme to rehabilitate the premises of Robinson Bros. Cork Factory. In addition to reclaiming its historical links with the town, the Town Hall of Portalegre, working in unison with the Robinson Foundation’s constituting partners, advocates redefining the purposes of the different buildings of the old Factory, thus putting this large building to use for housing the cultural equipment which the town needs. Robinson’s was a witness to and at the same time the driving force behind the industrial, social and corporative development which Portalegre experienced from the mid- 46 por toda a espécie de armazéns e edifícios fabris, que é resultante simultaneamente de uma invasão e de uma articulação com esse mesmo espaço, a sua presença está bem marcada no desenho da cidade e na memória da comunidade local. Este aspecto é curioso, já que interessa realçar não só a parte estática, mas também o contexto histórico. Neste sentido, entende-se que a Fábrica Robinson ocupa não só um lugar histórico ou de natureza potencialmente cultural, mas também político-industrial e sociologicamente reconhecido, que no futuro poderá ser uma âncora no desenho urbano de Portalegre. É assim que começa o curriculum da jovem Fundação Robinson, com a sua instituição, por escritura pública celebrada a 12 de Agosto de 2003. Eram instituidores a Sociedade Corticeira Robinson, S.A., a Região de Turismo de S. Mamede, o Instituto Politécnico de Portalegre e a Câmara Municipal de Portalegre. Mais tarde, a 16 Outubro 2003, é feita a entrega de documentação no Governo Civil de Portalegre, para solicitação do seu reconhecimento a Sua Excelência, o Ministro da Administração Interna. Numa 1.ª instância, e para prossecução da análise das diferentes etapas que levam ao reconhecimento de uma fundação, o Ministério da Administração Interna aconselhou algumas rectificações aos estatutos, nomeadamente no que diz respeito à falta de norma habilitante de dois instituidores da Fundação Robinson, o Instituto Politécnico de Portalegre (IPP) e a Região de Turismo do Norte Alentejano (RTNA), bem como o montante da dotação patrimonial da mesma. Estas rectificações foram objecto de deliberação do Executivo Municipal, a 30 de Março de 2004, e de Assembleia Municipal, em 06 de Abril de 2004, tendo-se realizado a escritura de rectificação dos estatutos no dia 3 de Junho de 2004. 47 1800s. Despite the current, apparent obsolescence of its premises, occupied almost at random by all sorts of warehouses and factory buildings – resulting simultaneously from an encroachment and an articulation with that same space – its presences makes itself forcefully felt in the contours of the town and in the local community’s memory. This is particularly intriguing, since it is interesting to highlight not just the stationary part but also the historical context. To this effect, it is felt that the Robinson Factory occupies not just a historical or a potentially cultural site, but also a space of acknowledged political-industrial and sociological importance, which in times to come may become a mainstay in the urban design of Portalegre. Thus begins the curriculum of the youthful Robinson Foundation, which was set up by public deed on 12 August 2003. Its institutors were the Robinson Cork Factory Company, S.A., the Sao Mamede Tourism Board, the Portalegre Polytechnic Institute and the Portalegre Town Hall. Later, on 16 October 2003, the relevant documentation was submitted to the Portalegre Civil Government, with a view to its recognition by the Ministry for Internal Affairs. The first step, and with a view to following the different stages which must be taken towards recognition of a Foundation, the Ministry for Internal Affairs requested a number of corrections to the statutes, namely with regard to the absence of qualification norms on the part of two of the founder-members of the Robinson Foundation, the Portalegre Polytechnic Institute (IPP) and the North Alentejan Tourism Board (RTNA), as also the amount of patrimonial provision for same. The Municipal Executive deliberated on these corrections on 30 March 2004, and the Municipal Assembling conducted its own deliberations on 6 April 2004. The deed covering the correction of the Para o reconhecimento o Ministério da Administração Interna determinou novas alterações (Informação n.º 651/ 2004-DSPE de 30.08) aos últimos estatutos. Esta informação incidiu sobre três grandes não conformidades com o regime jurídico: statutes took place on 3 June 2004. For the purpose of recognition, the Ministry for Internal Affairs stipulated new alterations (Information no. 651/ 2004-DSPE from 30.08 to the latest draft of the statutes. This Information focused on three major points where the wording was not in accordance with legal provisions: 1. Quanto ao património da Fundação a. (…) uma vez instituída a Fundação, o instituidor deve abster-se de governar a mesma. Na verdade, e citando o Prof. Marcello Caetano, “o instituidor nem sempre compreende que, reconhecida a fundação, passou a ser um estranho para ela, e que a sua vontade esgotou o vigor criador e vinculativo no acto da criação. Doravante, se algumas relações o instituidor tiver com a fundação, terão de ser sempre subordinadas aos fins desta e respeitando os seus estatutos”. b. (…) Continua a Procuradoria-Geral da República: “Cri-ando, todavia, a fundação, o fundador fica fora dela. A sua vontade governa a fundação, mas governa-a de fora, mais como ‘legislação’ que de dentro, como ‘orgão”. 1. The Foundation’s patrimony a) (...) once the Foundation is instituted, the institutor must refrain from governing same. In reality, and quoting Prof. Marcello Caetano, “institutors do not always realize that, a Foundation having been recognized, they become strangers in regard to it, and that their will has used up all their creative and linkage vigour in the act of creation. Henceforward, if institutors are to have any relationship with the foundation, this must always be restricted to the foundation’s objectives and institutors must always respect its statutes”. b) (...) The Attorney-General’s Office “Having created the foundation, the founder neverthe- 2. Quanto à estrutura orgânica a. Designar o Conselho Executivo por Conselho de Administração indo ao encontro da terminologia utilizada pela lei. b. Ainda quanto à orgânica da Fundação, verificamos que o Presidente da Câmara Municipal de Portalegre, em representação desta, que é um dos dois Instituidores da Fundação, acumula os cargos de Presidente do Conselho de Fundadores, Presidente do Conselho de Curadores e Presidente do Conselho Executivo. c. Não nos parece ser a solução mais aconselhável, uma vez que, a manter-se, poderia comprometer o funcionamento da Fundação. (…) less stands outside it. The founder governs the foundation but does so from without, more as a ‘legislator’ than from within as an ‘active element’”. 2. The organic structure a) Appointment of the Executive Council as Administrative Council as per the terminology determined by the law. b) Still with regard to the organic functioning of the Foundation, we find that the Chair of the Portalegre Town Hall, representing the latter, and being one of the institutors of the Foundation, cumulates the positions of Chair of the Council of Founders, Chair of the Council of Curators and Chair of the Executive Council. 48 3. Quanto à composição dos órgãos da fundação e respectivas competências a. Desaparecimento do Conselho de Fundadores, pois não faz qualquer sentido que outras entidades que não as instituidoras possam fazer parte do Conselho de Fundadores. Por outro lado, a existência de um Conselho de Fundadores com apenas dois membros não parece admissível, podendo, mesmo, no limite, estar em causa a possibilidade de deliberar, com as consequências que tal situação pode acarretar para o funcionamento ou paralisação da Fundação. b. Estando previsto igualmente um Conselho de Curadores, onde poderiam ter assento representantes dos dois instituidores, poder-se-ia reunir neste as competências daquele, com as vantagens de uma estrutura orgânica menos pesada e, certamente, mais eficaz. c. Prosseguindo na análise das normas estatutárias, compete ao Conselho de Fundadores “deliberar sobre a transformação ou extinção da FUNDAÇÃO sendo que, qualquer uma destas decisões terá que ser sempre o voto favorável da Câmara Municipal de Portalegre, sem prejuízo da competência da autoridade administrativa, em termos legais”. d. (…) Assim sendo, no sentido de obter a necessária observância do que se encontra legalmente consagrado, ou seja, tendo em atenção que só a autoridade administrativa que reconhece a Fundação pode decidir sobre as alterações estatutárias da Fundação, bem como sobre a transformação ou extinção da mesma – o que pode existir por parte da Fundação é uma proposta nesse sentido (sempre fundada nas situações tipificadas na lei), proposta essa que, por sua vez, deverá provir do órgão de administração. e. (…) Entendemos, estarmos novamente perante uma situação que poderá comprometer a interdependência e o bom funcionamento entre os órgãos fundacionais. Na ver49 c) This does not seem to us to be the most judicious situation, since, should it persist, it might compromise the running of the Foundation. (...) 3. The make-up of the Foundation’s bodies and their respective areas of competence. a) Removal of the Council of Founders, since it makes little sense that bodies other than the institutors may be part of the Council of Founders. On the other hand, the existence of a Council of Founders consisting merely of two members does not appear to be acceptable. Ultimately, this may even jeopardize the possibility of deliberation, with consequences for the running of the Foundation or its break-down. b) Since a Council of Curators will be put in place, with positions possibly occupied by representatives of the two institutors, the latter could be invested with the competencies of the former. This would deliver the advantages of a less unwieldy organic structure and certainly of a more efficacious one. c) Continuing the analysis of the statutory norms, it is a function of the Council of Founders to “deliberate on the transformation or extinction of the FOUNDATION. All of these decisions will always have to have the affirmative vote of the Portalegre Town Hall, nonetheless safeguarding the competencies of the administrative authority, as laid down by law”. d) (...) This being so, with a view to conforming to what is enshrined in law, ie., bearing in mind that only the administrative authority which recognizes the Foundation may decide on statutory alterations to the Foundation, as also the transforming or extinction of same – what the Foundation may do is put forward a proposal to that effect dade, tendo o Conselho de Curadores e o Conselho Executivo competências distintas, particularmente as competências deste último poderão ficar comprometidas se todos os seus membros forem curadores. f. Deve ressalvar-se que os membros do Conselho de Curadores que forem escolhidos para integrarem o Conselho Executivo deixam de ter assento no Conselho de Curadores, devendo ser substituídos, sob pena de aquele órgão deixar de ter expressão. g. Quanto à reserva de competência judicial para a extinção de fundações, há que dizer que ela é apenas parcial. No regime actualmente em vigor, a competência para a extinção automática previstas no n.º 1 do art. 192.º, cabe inteiramente à entidade competente para o reconhecimento. (always based on legal provisions). This proposal, in turn, must be issued by the administrative body. e) (...) It is our view that we are again faced with a situation which may compromise the inter-dependence and good functioning of the founding bodies. In fact, the Council of Curators and Executive Council having different areas of competence, those of the latter may be compromised if all its members are Curators. f) It should be emphasized that the members of the Council of Curators who are chosen to sit on the Executive Council cease to sit on the Council of Curators. They are to be replaced, if this body is not to be rendered disabled. g) As for the reservation of judicial competence for the extinction of foundations, it must be said that it is only partial. Under current legislation, the competence for auto- Estas alterações obrigaram a nova deliberação do Executivo, a 21 de Outubro de 2004, e posteriormente, da Assembleia Municipal, na reunião de 02 de Novembro de 2004, tendo sido realizada nova escritura de alteração dos estatutos a 29 de Dezembro de 2004. Finalmente, em 11 de Janeiro de 2005 por Despacho do Ministério da Administração Interna foi reconhecida a Fundação Robinson. Este reconhecimento foi publicado no Diário da República – II série, no dia 31 de Janeiro de 2005 (Portaria 166). Ao realizar-se tal processo adquiriu-se localmente o conceito, e essa ideia transitou para as autoridades nacionais, com a constatação da dimensão patrimonial e de reprodução cultural futura de um espaço rico de dimensão históricosocial e passível de se tornar contemporâneo. Daí a instituição da Fundação: uma realidade espacio-temporal do século XXI, que, de acordo com os seus Estatutos, tem por objectivo promover “acções de ordem cultural, matic extinction, enshrined in nº 1 of Article 192, is entirely dependent on the competent body for recognition. These alterations made it necessary for the Executive to deliberate anew, on 21 October 2004, and later it was the turn of the Municipal Assembly, on 2 November 2004. A new deed, altering the statutes, took place on 29 December 2004. Finally, by official determination of the Ministry for Internal Affairs, dated 11 January 2005, the Robinson Foundation obtained legal recognition. This was published in the [...] on 31 January 2005. Upon completion of the process, the concept was conceived locally, and this idea carried over to the authorities at national level, with the acknowledgement of the heritage dimension and that of the future cultural production of a space rich in historical-social dimensions and capable of becoming contemporary. 50 51 educativa, social e da ciência, podendo actuar também nas áreas do desporto e da filantropia. A Fundação tem como fim específico a preservação de espólios: a) arqueológico-industrial da Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A.; b) de qualquer outro espólio cuja conservação lhe seja confiada.” Hence the institution of the Foundation: a time-space reality for the twenty-first century, which, under its Statutes, has as its goal the promotion of “activities in the cultural, educational, social and scientific fields, able also to act in the areas of sport and philanthropy. The Foundation’s specific goal is to preserve collections, of which the following: a) archeological-industrial equipment held by the Robinson Bros. Cork Factory; Em Novembro de 2006 foi pedida a admissão como membro efectivo do Centro Português de Fundações. Mais do que preservar espólios, a Fundação Robinson quer preservar património, tradições, histórias, vivências, memórias e culturas… A apresentação de um projecto concebido e desenhado pelo Arquitecto Eduardo Souto Moura sublinha todos os elementos e linhas orientadoras da Fundação Robinson: espelha uma reflexão profunda sobre o património, a sua preservação e a sua reintegração no tecido da cidade numa lógica de preservação, valorização e inovação. Esta recuperação intervém também ao nível da qualidade do ambiente urbano, constituindo um factor-chave de atractividade do espaço e da própria cidade. Assim, o espaço Robinson transcende os muros da Fábrica, apostando na associação deste projecto à requalificação da cidade, através da recuperação da sua identidade e preservação da memória. Para tal, mune-se dos alicerces culturais, do respeito pelo ambiente, da utilização das energias renováveis e do uso das novas tecnologias, que coexistindo neste pequeno grande espaço se complementam. No fundo, é uma intervenção transversal que inevitavelmente se vai reflectir na atractibilidade da cidade. Atractibilidade essa que deve ser promovida através de uma política cultural contínua e, essencialmente, baseada na oferta de b) any other collection(s) which may be entrusted to it.” In November 2006 a request was made for admission as a working member of the Portuguese Foundations Centre. More than holding collections, the Robinson Foundation wishes to preserve heritage, traditions, stories, experiences, memories and culture. A project conceived and designed by the architect Eduardo Souto Moura emphasizes all the elements and guiding lines of the Robinson Foundation: it mirrors a profound reflection on heritage, its conservation and its re-integration in the fabric of the town, following a logic of conservation, valorization and innovation. This reclaiming also acts upon the quality of the urban environment, making for a key factor towards rendering the space and the town appealing. Thus, the Robinson Space surpasses the walls of the Factory, setting out to associate this project with the rehabilitation of the town. This is achieved by means of the recovery of its identity and by preserving its memory. To this end, it has recourse to the cultural bedrock, to respect for the environment, to the use of renewable energy and the use of new technologies, which in this small, yet great space complement each other. Essentially, this is a transversal operation which will inevitably impact on the town’s appeal. This latter factor 52 equipamentos e na preservação do seu património cultural, histórico e arquitectónico. Estes equipamentos, associados a um programa específico de actividades culturais tornam as cidades mais atractivas e dinâmicas para cidadãos, empresas, trabalhadores e visitantes. Todas estas acções reforçam a imagem da cidade, o orgulho e o sentimento de identidade da população local. Um dos objectivos primordiais da Fundação é, sem dúvida, o da valorização cultural, que passa obrigatoriamente pelas potencialidades intrínsecas do sector na dinamização das actividades económicas, no que diz respeito sobretudo à valorização dos recursos humanos e na criação de emprego qualificado. Tendo em consideração estas finalidades, em breve será assinado um protocolo com a Câmara Municipal de Portalegre, a Fundação Robinson vai congregar, centralizar, pensar e coordenar as actuações ao nível cultural. Vai ainda criar e implementar uma política cultural coerente, integrada, que se reflicta no quotidiano, que fomente a participação, que proporcione a formação de públicos e a qualificação de profissionais nas diferentes áreas: música, teatro, dança, cinema, arte, arqueologia industrial, restauro e conservação, história local, e tantas outras. Em suma, o objectivo é também melhorar o capital humano, dotar a cidade (e o concelho) de equipamentos, de massa crítica, criar novos recursos, alternativas, gerar novas formas de cultura… Além do mais, a adopção de uma política cultural activa constitui um precioso instrumento para a construção de pontes entre populações de diferentes origens, reforçando a integração no espaço da cidade. Tal como há cerca de 150 anos os ingleses foram desenvolvendo a sua actividade, confundindo-a com a própria vida da cidade aos níveis social, cultural e industrial, onde Portalegre 53 should be promoted through an unflagging cultural policy, grounded on the offer of equipment and the conservation of its cultural, historical and architectural heritage. Such equipment, in association with a specific programme of cultural activities, render towns and cities more attractive and dynamic for their citizens, businesses, workers, and visitors. All these actions strenthen the image of the town and city, the pride and feeling of identity of the local population. One of the Foundation’s essential goals is, beyond doubt, that of cultural valorization, which of necessity engages the potential inherent in the sector in energizing economic activities, above all with regard to the valorization of human resources and the creation of jobs for a qualified work force. With these objectives in mind, a protocol will soon be signed with the Town Hall of Portalegre, and the Robinson Foundation will gather together, centralize, reflect upon and coordinate activities of a cultural nature. It will also create and implement a consistent, integrated cultural policy, to impact on everyday life, to foment participation, to offer the creation of publics and the qualifying of professionals in the following different areas: music, threatre, dance, cinema, art, industrial archeology, restoration and preservation, local history, and so many others. In sum, the objective is also to better the human capital, to endow the town (and the District) with equipment of a critical mass, to create new resources, alternatives, to generate new forms of culture. In addition, adopting an active cultural policy is an invaluable way to build bridges between populations of differing provenances, reinforcing integration in the town space. Just as about 150 years ago the British developed their activity, meshing it with the life of the town itself at social, cultural and industrial levels, when Portalegre was a town era então uma cidade que crescia ao ritmo da sua influência, também a intervenção qualificada da Fundação Robinson pretende transpor as estruturas da Fábrica, constituindo-se como agente promotor e de encontro com a cidade. Hoje, esta intervenção transcende já o espaço intramuros, porque se desenha como um espaço colectivo contemporâneo, articulado com as várias morfologias urbanas da cidade que se quer sustentável, em termos culturais, económicos, geográficos, ecológicos, etc. Neste sentido, a parceria com Cáceres, que começou no início deste projecto, permitiunos galgar fronteiras e ambicionar novas formas de articular diferentes eixos de desenvolvimento. A título de exemplo, refira-se a constituição de um Agrupamento Europeu Territorial que nos vai colocar numa posição mais consistente no contexto europeu, permitindo-nos concretizar processos, projectos e infra-estruturas nas áreas da cultura e do património, sempre na mira do tão desejado alargamento do âmbito territorial. Fazer Fundação é um trabalho de todos os dias, numa actualização e intervenção permanente. No cerne deste nosso trabalho, está uma oportunidade de se fazer cidade sem ter de a expandir. É regenerar o tecido urbano numa localização privilegiada da cidade, num espaço que será sobretudo o palco de vivências e de demonstrações de cultura e de cidadania. Espaço Robinson que se quer integrador de um novo conceito de centralidade, aberto, para utilizar, fruir e viver. growing at the rhythm of their influence, so too the qualified intervention of the Robinson Foundation has set itself the task of going beyond the structures of the Factory, promoting and engaging the town itself. Today, this engagement has already transcended the space within the walls, since it offers itself as a contemporary collective space, articulated with the urban morphologies of the town, which, it is hoped, will be sustainable in cultural, economic, geographical, ecological and other terms. To this end, the partnership with Cáceres, begun when this project first started out, has allowed us to bound over frontiers and aspire to new forms of articulating different developmental axes. An example of this is the constitution of a European Territorial Group which will place us in a more substantial position in the European context, allowing us to bring to fruition processes, projects and infra-structures in the areas of culture and heritage, always targetting territorial expansion, which is much desired. Making a Foundation is an every day task, requiring permanent updating and action-taking. At the heart of this work of ours there is a chance to make a town without having to grow outwards. It means regenerating the urban fabric in a privileged site of the town, in a space which will, above all, become the stage for experiences and cultural and citizenship manifestations. We wish the Robinson Space to become an integrating factor in a new concept of centrality, open to utilization, enjoyment and experience. 54 55 Estatutos da Fundação Robinson Robinson Foundation Statutes Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 56-67, ISSN 1646-7116 ESTATUTOS STATUTES CAPÍTULO I Natureza, duração, sede e fins CHAPTER 1 ARTIGO 1.º Natureza É instituída pela Câmara Municipal de Portalegre e pela Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A., a Fundação Robinson, adiante designada abreviadamente por Fundação, pessoa colectiva de direito privado, que se regerá pelos presentes estatutos e pela lei aplicável. Nature, duration, head-quarters and objectives Article 1 Nature and constitution The Town Council of Portalegre and Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A. hereby set up the Robinson Foundation, hereinafter designated as THE FOUNDATION, collective person in private law, which shall be governed by the Statutes herein established and by any legal provisions which may apply. ARTIGO 2.º Fim e objectivo especifico 1 - A Fundação tem por fim a prossecução de acções de ordem cultural, educativa, social e da ciência, podendo também actuar nas áreas do desporto e da filantropia. 2 - A Fundação tem como fim específico a preservação de espólios: a) do arqueológico-industrial da Sociedade Corticeira Robinson Bros S.A.; b) de qualquer outro espólio cuja preservação lhe seja confiada. Article 2 Specific objectives 1. The Foundation aims to carry out cultural, educational, social, and scientific activities, and may also act within the field of sports and philanthropy. 2. The Foundation has as its specific objective the preservation of estates: a) of the archeological-industrial estate of Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A.; b) of whatever other estates with which it may be ARTIGO 3.º Duração e sede 1 - A Fundação, que tem duração indeterminada, tem a sua sede no Largo do Jardim Operário, 5, freguesia da Sé, concelho de Portalegre. 2 - Sempre que seja considerado necessário ou conveniente para o cumprimento de seus fins, poderá a Fundação constituir delegações ou outras formas de representação. 3 - A acção da Fundação desenvolver-se-á em Portugal, nomeadamente no Norte do Alentejo, mas também no estran- 57 entrusted. Article 3 Duration and head-quarters 1. The Foundation, to which no time limit is attached, has as its head-quarters Largo do Jardim Operário, nº 5, Sé, Portalegre. 2. The Foundation shall, as required or deemed suitable for the furtherance of its objectives, set up subsidiaries or other forms of representation. geiro, nomeadamente na Estremadura espanhola, atenta não só a sua proximidade geográfica mas também a sua importância produtiva, e na Inglaterra, país de origem do fundador da empresa que dá o nome à Fundação. 3. The Foundation’s activities shall take place in Portugal, most especially in Northern Alentejo, as also outside Portugal, namely in the Spanish region of Extremadura. The latter activity derives not only from its geographical proximity, but also from the importance of its production. The Foundation shall also be active in the United Kingdom, the place of birth of the founder of CAPÍTULO II Regime patrimonial e financeiro the Company, and whose name the Foundation bears. ARTIGO 4.º Património 1 - A Câmara Municipal de Portalegre contribui com a quantia de €10.000, bem como os projectos que decidir afectar casuisticamente ao desenvolvimento das actividades da Fundação para prossecução dos respectivos fins. Contribui ainda com o direito de superfície, pelo prazo de, pelo menos, 25 anos, sobre os bens imóveis propriedade do município de Portalegre, identificados no Anexo n.º 1 destes estatutos, que se avalia em €1.246.995. 2 - A Sociedade Corticeira Robinson Bros S.A., contribui com a quantia de €40.000, com o conhecimento e trabalho dos respectivos quadros, para prossecução dos fins previstos no artigo precedente e integrará, no prazo de um ano, a contar do reconhecimento, no respectivo património os bens identificados no Anexo II destes estatutos, bens de interesse arqueológico-industrial, que se revelam essenciais ao desempenho e ao alcance dos objectivos da Fundação e que se avaliam em €925.000. 3 - O património da Fundação poderá ser acrescido com futuras contribuições por parte dos fundadores, as quais poderão ser constituídas por dinheiro, acções, obrigações, quotas em sociedades ou por quaisquer outros títulos, direitos, bens móveis ou imóveis, e poderá integrar quaisquer subsídios, doações, heranças ou legados de pessoas singulares ou entida- Chapter 2 Patrimonial and financial constitution Article 4 Patrimony 1. The Town Council of Portalegre contributes the amount of €10,000, as also the projects which it may decide to entrust, on a case by case basis, to the Foundation’s activities in order to further its stated objectives. For a minimum of 25 years, the Council shall also contribute the right of use of the building owned by the Municipality of Portalegre, identified in Annex I of these Statutes, valued at €1,246,995. 2. Robinson Bros. S.A. contributes the amount of €40,000, together with the knowledge and work of its Staff, in order to further the objectives stated in the preceding article and, within a year of recognition, shall include in the patrimony the items identified in Annex II of these Statutes, items of archeological and industrial interest, which may be deemed essential to the furtherance of the Foundation, and which are valued at €925,000. 3. The Foundation’s patrimony may be augmented by further contributions made by its founding members. Such contributions may take the form of money, bonds, shares, or any other assets and real estate, and may include any subsidies, donations, inherited assets or legacies left by private individ- 58 des públicas ou privadas, portuguesas ou estrangeiras, compatíveis com os fins da Fundação. ARTIGO 5.º Autonomia financeira A Fundação goza de plena autonomia financeira. CAPÍTULO III Organização e funcionamento which are compatible with the aims of the Foundation. Article 5 Financial autonomy The Foundation shall have full financial autonomy. Chapter 3 Organization and running of the Foundation SECÇÃO I Disposição preliminar Section I ARTIGO 6.º Órgãos da Fundação São órgãos da Fundação: a) o Conselho de Curadores; b) o Conselho de Administração; c) o Conselho Consultivo; d) o Conselho Fiscal. Article 6 SECÇÃO II Conselho de Curadores Section II ARTIGO 7.º Constituição e funcionamento 1 - O Conselho de Curadores é composto por 10 membros, tendo um Presidente, cinco Vice-Presidentes e quatro Vogais. 2 - O Presidente do Conselho de Curadores é o Presidente da Câmara Municipal de Portalegre ou pessoa por este indicada, que pode delegar, delegação sempre reversível, total ou parcialmente, em membro do Conselho de Curadores, os seus poderes. 59 uals or public or private bodies, whether Portuguese or British, Preliminary dispositions Bodies constituting the Foundation The Foundation’s bodies are: a) the Council of Curators b) the Administrative Council c) the Consultatory Council d) the Fiscal Council The Council of Curators Article 7 Constitution and running of activities 1. The Council of Curators comprises ten members, with one Chair, five Vice-Chairs, and 4 other members. 2. The Chair of the Council of Curators shall be the Chair of the Town Council of Portalegre or a person appointed by him/ her, who may delegate. The possibility of reversing such delegation of powers shall always be allowed, totally or in part, in favour of a member of the Council of Curators or his/her powers. 60 3 - O Conselho de Curadores terá cinco Vice-Presidentes sendo um indicado pela Câmara Municipal de Portalegre, outro pela Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A., o terceiro Vice-Presidente é o Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Portalegre, o quarto e quinto Vice-Presidentes são indicados pelo Instituto Politécnico de Portalegre e pela Comissão Regional de Turismo de S. Mamede, no caso de o quererem fazer, sendo que não o fazendo são indicados um pela Câmara Municipal de Portalegre e um pela Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A. 4 - A Câmara Municipal de Portalegre indicará dois Vogais e a Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A., indicará os outros dois. 5 - Em caso de vacatura dos Vogais, o membro ou membros do Conselho de Curadores serão escolhidos, preferencialmente, de entre os membros do Conselho Consultivo. 6 - O mandato dos membros do Conselho de Curadores é de cinco anos e a exclusão de qualquer membro só pode realizar-se por decisão do próprio Conselho, tomada por escrutínio secreto, e por maioria de dois terços dos votos expressos, com base em indignidade, falta grave ou manifesto desinteresse pelo exercício das funções. 7 - O Conselho de Curadores reúne, ordinariamente, em cada semestre e, extraordinariamente, sempre que convocado pelo Presidente. 8 - O Conselho de Curadores delibera por maioria simples, tendo o Presidente voto de qualidade sobre as matérias da sua competência desde que esteja presente a maioria dos seus membros. 9 - As funções dos membros do Conselho de Curadores não são remuneradas, tendo, contudo, os Curadores direito a subvenções de presença e ajudas de custo. 61 3. The Council of Curators shall have five Assistant Curators, one appointed by the City Council of Portalegre, another by Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A. The third shall be the Chair of the Municipal Assembly of Portalegre, with the fourth and fifith Assistant Curators being appointed by the Polytechnic Institute of Portalegre and by the Regional Tourist Board of S. Mamede, should they wish to do so. Should this not be the case, the Town Council of Portalegre and Sociedade Corticeira Robinson Bros. shall each appoint one such person. 4. The Town Council of Portalegre shall appoint two voting members and Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A. shall appoint the remaining two. 5. Should the post of voting member fall vacant, the member or members of the Council of Curators shall be chosen preferably from among the members of the Consultatory Council. 6. The mandate of the Council of Curators shall be of five years, and the exclusion of any member shall only be decided upon by the Council itself, by secret ballot, and by a majority vote of two thirds of votes cast. Exclusion will be based on gross misconduct, a serious offense or clear lack of interest in the execution of the member’s duties 7. The Council of Curators shall, under ordinary circumstances, meet once per semester, and, in case of need, whenever a meeting is called by the Chair. 8. The Council of Curators shall adopt decisions by a simple majority of votes, with the Chair having the casting vote on matters whose competence pertains to him/her, provided the majority of members is present. 9. The activities of the members of the Council of Curators shall not be remunerated. The Curators shall, however, be entitled to a presence subsidy and to claim expenses incurred. ARTIGO 8.º Competência do Conselho de Curadores 1 - Ao Conselho de Curadores compete: a) garantir a manutenção dos princípios inspiradores da Fundação; b) escolher os membros do Conselho Fiscal e os membros do Conselho Consultivo; c) fixar o valor das subvenções de presença e ajudas de custo que haja, eventualmente, a pagar aos membros dos órgãos da Fundação; d) dar parecer sobre todos os assuntos que forem postos à sua consideração. e) dar parecer vinculativo às propostas do Conselho de Administração sobre propostas de alteração dos estatutos ou extinção da Fundação, sendo que qualquer uma destas decisões terá que ser sempre aprovada por maioria de três quartos dos votos expressos e ter sempre o voto favorável do Presidente do Conselho de Curadores; f) definir a política geral de funcionamento e as orientações de investimento; g) discutir e aprovar o orçamento, o balanço anual e as contas de cada exercício e o plano de actividades para o ano seguinte, tendo em conta o parecer do Conselho Fiscal e o resultado da auditoria, quando a houver; h) eleger os membros electivos, com as limitações deste estatuto; i) deliberar sobre a remuneração, ou não, dos membros do Conselho de Administração; j) deliberar propor junto dos organismos competentes a extinção da Fundação ou alteração dos seus estatutos. 2 - As deliberações do Conselho de Curadores são tomadas por maioria simples dos votos expressos, tendo o Presidente, ou quem, nos termos estatutários, o substitua, voto de qualidade. Article 8 Area of competence of the Council of Curators 1. The Council of Curators shall: a) guarantee to uphold the principles which underpin the Foundation; b) appoint the members of the Fiscal Council and those of the Consultatory Council; c) determine the amounts which may be payable, as presence subsidies and expenses incurred, to the members of the Foundation’s bodies; d) referee all matters put to their consideration; e) provide the mandatory reports on submissions from the Administrative Council as regards proposals to alter the Statutes or dissolve the Foundation. Any such decision shall always depend on a majority of three- quarters of votes cast and shall always depend on the vote in favour cast by the Chair of the Council of Curators; f) define general running policy and the making of investments; g) discuss and approve the budget, the annual balance and the accounts for each undertaking and the projected activities for the following year, taking into account the report of the Fiscal Council and auditing results, if the latter are applicable: h) elect members, within the parameters of these Statutes; i) deliberate on whether or not to remunerate the members of the Administrative Council; j) deliberate on whether to put forward to the competent bodies the dissolution of the Foundation or alteration(s) to these Statutes. 2. The deliberations of the Council of Curators are decided by a simple majority of votes cast, with the Chair, or person acting for him/her, under the terms of the Statutes, having the casting vote. 62 SECÇÃO III Conselho de Administração 3. The members of the Council of Curators may choose to be represented by another person, provided they address their request in writing to the Chair. ARTIGO 9.º Composição e competência 1 - O Conselho de Administração é composto por cinco membros, não Curadores, sendo um o seu Presidente e quatro Vogais, sendo dois a indicar pela Câmara Municipal de Portalegre e dois pela a Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A. 2 - O Presidente do Conselho de Administração será sempre indicado pelo Presidente do Conselho de Curadores. 3 - O mandato do Conselho de Administração é coincidente com o mandato do Conselho de Curadores. 4 - Ao Conselho de Administração compete, em geral, a administração da Fundação e, em especial: a) definir a organização interna da Fundação, aprovando os regulamentos e criando as estruturas que entender necessárias, assim como preencher os respectivos cargos; b) delegar por tempo determinado, em qualquer dos seus membros, o exercício de alguma ou algumas das suas atribuições; c) elaborar o orçamento e os planos anuais de actividades, bem como o relatório, balanço e contas de exercício; d) adquirir, alienar ou onerar direitos reais ou obrigacionais, bem como bens móveis e ou imóveis; e) aceitar quaisquer doações, heranças ou legados; f) negociar ou contrair empréstimos no quadro de optimização de valorização do seu património e da concretização dos seus fins; g) contratar, despedir e dirigir o pessoal; b) apresentar sugestões quanto ao melhor cumprimento dos objectivos da Fundação. 2 - O Conselho Consultivo reunirá sempre que for convocado pelo seu Presidente. 63 Section III Administrative Council Article 9 Constitution and area of competence 1. The Aministrative Council shall comprise five members, who shall not be Curators. One shall be the Chair, the remaining four voting members being appointed by the Town Council of Portalegre (two) and two by Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A. 2. The Chair of the Administrative Council shall always be appointed by the Chair of the Council of Curators. 3. The mandate of the Administrative Council shall coincide with that of the Council of Curators. 4. The Administrative Council shall, in general, be reponsible for administering the Foundation, with special emphasis on: a) defining the internal organization of the Foundation, approving the regulations and any new structures deemed necessary. It shall also be responsible for filling the necessary posts; b) delegating to any of the members, for a limited period, the execution of one or more of its functions; c) budgetting for and planning the year’s activities, as well as drawing up the report, balance and accounts for the financial year; d) purchasing, selling or charging real or obligational rights, as well as personal estates or real estate; e) accepting all donations, inheritances, or legacies; f) negotiating or taking out loans with a view to enhancing the valuation of the patrimony and to achieving its goals; h) administrar o património da Fundação; i) deliberar propor ao Conselho de Curadores a proposta de extinção da Fundação ou proposta de alteração dos seus estatutos. S6 - A actividade do Conselho de Administração será auditada. g) hiring, firing, and managing staff; h) administering the patrimony of the Foundation; i) deliberating on whether to propose to the Council of Curators the dissolving of the Foundation of alteration(s) to the Statutes. 5. The deliberations of the Administrative Council are ARTIGO 10.º Vinculação da Fundação A Fundação obriga-se pela assinatura conjunta de dois membro do Conselho de Administração, uma das quais é, obrigatoriamente, a do Presidente. SECÇÃO IV Conselho Consultivo arrived at by a simple majority of votes cast. The Chair, or the person representing him/her, under the terms of the Statutes, shall have the casting vote. 6. The activity of the Administrative Council shall be subject to auditing. Article 10 Obligating of the Foundation The Foundation shall obligate itself by means of two joint ARTIGO 11.º Constituição e mandato 1 - O Conselho Consultivo é composto por um máximo de 25 pessoas, sendo 24 escolhidas pelo Conselho de Curadores e a 25.ª, que é o seu Presidente, indicada pela Sociedade Corticeira Robinson Bros, S.A. 2 - O mandato dos membros do Conselho Consultivo é coincidente com o do Conselho de Curadores. signatures, those of two members of the Aministrative Council, ARTIGO 12.º Competência e funcionamento 1 - Ao Conselho Consultivo, órgão de apoio e consulta da Fundação, compete: a) emitir pareceres sobre actividades e projectos da Fundação que lhe sejam solicitados pelo Presidente do Conselho de Curadores; 3 - Os membros do Conselho de Curadores poderão fazer-se representar por outro membro, mediante a comunicação escrita dirigida ao Presidente. 25 persons, twenty-four of whom chosen by the Council of one of which must of necessity be that of the Chair. Section IV Consultatory Council Article 11 Constituion and mandate 1. The Consultatory Council comprises a maximum of Curators. The twenty-fifth, who shall be the Chair, shall be appointed by Sociedade Corticeira Robinson Bros. S.A. 2. The mandate of the members of the Consultatory Council shall coincide with that of the Council of Curators. Article 12 Area of competence and running of activities 1. The Consultatory Council, the body to which the Foundation looks for support and consultation, shall: 64 3 - A convocação do Conselho Consultivo cabe ao seu Presidente, por decisão deste, ou de dois terços dos seus membros, ou a pedido do Presidente do Conselho de Curadores ou de dois terços dos membros do Conselho de Curadores. 4 - O Conselho Consultivo delibera por maioria de votos, tendo o Presidente voto de qualidade. 5 - As funções do Conselho Consultivo não são remuneradas, podendo, contudo, ser atribuídas, aos seus membros, subvenções de presença e ajudas de custo. a) produce consultation papers on the Foundation’s activities and projects, whenever requested to do so by the Council of Curators; b) put forward suggestions to further the achievement of the Foundation’s objectives. 2. The Consultatory Council shall meet whenever requested by its Chair. 3. Responsibility for the calling of meetings of the Consultatory Council falls to the Chair, based on his/her decision, or to two-thirds of its members, or as the result of a request by the SECÇÃO V Conselho Fiscal Council of Curators or of two-thirds of the Council of Curators. 4. The Consultatory Council’s deliberations shall depend on a simple majority of votes, with the Chair having the casting vote. ARTIGO 13.º Conselho fiscal 1 - O Conselho Fiscal é composto por três membros, um dos quais é obrigatoriamente revisor oficial de contas ou sociedade de revisores oficiais de contas, designados pelo Conselho de Curadores. 2 - Compete ao Conselho Fiscal: a) apreciar e dar parecer sobre o relatório de actividades, balanço e contas do resultado do exercício do ano anterior; b) apreciar anualmente o relatório do Conselho de Administração; c) deliberar auditar as contas da Fundação e a actividade do Conselho de Administração e escolher a entidade que, com sede em Portugal, o fará. 5. The activities of the Consultatory Council shall not be remunerated. Presence subsidies and expenses incurred may, however, be paid to its members. Section V Fiscal Council Article 13 Fiscal Council 1. The Fiscal Council comprises three members, one of whom must be a chartered accountant or accountancing firm, designated by the Council of Curators. 2. The Fiscal Council shall: a) consider and respond to the report of activities, balance and accounts of the previous year; b) consider, on an annual basis, the report of the Administrative Council; 8c) deliberate the auditing of the Foundation’s finances and the activity of the Administrative Council, and choose the entity who shall do so and which must be based in Portugal. 66 ARTIGO 14.º Mandato do Conselho Fiscal O mandato dos membros do Conselho Fiscal é coincidente com o mandato do Conselho de Curadores. O Revisor Oficial de contas ou a Sociedade será remunerada nos termos da lei, tendo os outros membros do Conselho Fiscal direito a uma subvenção de presença e ajudas de custo. Article 14 The mandate of the Fiscal Council ?????????? The mandate of the member of the Fiscal Council shall coincide with that of the Council of Curators. The chartered accountant or the firm shall be remunerated in accordance with the relevant legal dispositions. The remaining members of the Fiscal Council shall be entitled to presence subsidies and re-imbursement of expenses incurred. CAPÍTULO IV Disposições finais e transitórias Chapter IV Final and transitory dispositions ARTIGO 15.º Extinção 1 - Em caso de extinção, o património da Fundação será entregue: a) à Sociedade Corticeira Robinson Bros, S. A., ou quem legalmente a suceder os bens por esta entregues para integrar o património da Fundação; b) à Câmara de Portalegre para integrar o património do Município de Portalegre todos os outros demais bens da Fundação, designadamente os por este entregues para integrar o património da Fundação. Article 15 1. In the event of the Foundation being dissolved, the patrimony of same shall revert to: a) Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A., or whomsoever is the legal inheritor of said firm. The inheritor shall receive the items handed over by Robinson Bros., S.A. to comprise the patrimony of the Foundation; b) the Town Council of Portalegre with a view to include in the patrimony of the Municipality of Portalegre all the other assets of the Foundation, namely those rendered to form part of the patrimony of the Foundation. ARTIGO 16.º Convocatórias As reuniões dos diversos órgãos são convocadas por escrito, podendo ser usada telecópia, correio electrónico, ou outra forma de entrega da convocatória, e são convocadas com cinco dias de calendário de antecedência, podendo, em caso de urgência, devidamente justificada na convocatória, ser o prazo reduzido para quarenta e oito horas. Article 16 Calling meetings The meetings of the different bodies shall be called in writing, faxes, e-mail, or any other method of delivery may be used. Meetings will be called five calendar days before the event, though, in case of urgent need, this deadline may be reduced to forty-eight hours. The latter situation shall be duly justified when communicating such an occasion. 67 Espaço Robinson – do passado para o futuro The Robinson Space – from Past to Future Eduardo Souto Moura Graça Correia ARQUITECTOS ARCHITECTS Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 68-81, ISSN 1646-7116 Conservar a memória histórica através do seu património construído é alimentar os sinais de identidade de uma cidade que não quer ver anulado o seu papel no panorama do país. Mediante a sua adaptação a novos usos, os edifícios ‘contentores’ do passado configuram novos cenários numa cidade secular que se quer aberta ao futuro. Hoje em dia, no entanto, a noção de património estendeu-se largamente desde os achados pré-históricos até aos edifícios do séc. XX, incluindo as ambiências de valor histórico e ambiental desde a arquitectura vernácula até à arquitectura industrial, mais ou menos erudita. Assim, torna-se necessário intervir nos traçados legados pelo património industrial, como estruturas utilitárias deste século. Esta ideia está imersa num processo de renovação que segue a tendência de recuperação de espaços industriais generalizada na Europa e Estados Unidos nos últimos anos. A reutilização de edifícios existentes começa, porventura, quando determinados artistas baseiam a concepção da sua arte em princípios que insistem em desenhar não só a arte, mas também os seus contentores - os edifícios nos quais ela é experimentada. A importância deste envolvimento entre arte e o seu suporte está particularmente explícita nos escritos e experiências de Donald Judd, que sempre despendeu energia equivalente tanto na criação da obra como na concepção do local onde esta vai ser colocada e insistia especialmente na importância de reutilizar edifícios existentes. Também Dan Flavin se interessa pela reutilização de antigos edifícios, escolhidos criteriosamente para enquadrar a sua obra – surgem assim as “environment installations” nos anos sessenta. Judd escreveu ainda várias vezes artigos contra a proliferação, nos anos 80 de numerosos novos museus ‘sobredesenhados’ – pouco hospitaleiros e 69 Preserving historical memory through its buildings means nurturing the landmarks of identity of a town which does not wish to see its role cancelled in the larger context of the country. By adapting them to different uses, the buildings which hold the past throw open new settings in a centuries-old town which wishes to be open to the future. Nowadays, however, the notion of heritage has been broadened, starting with early history remains and including twentieth century buildings, also covering the sites of historical and environmental value, from more or less erudite vernacular through to industrial architecture. It is, therefore, necessary to intervene in the sites handed down by the industrial heritage, as utilitarian structures of the century. This concept is embedded in a process of regeneration which follows the trend towards recovering industrial sites, widespread in Europe and the US over the past years. However, converting existing buildings to serve other purposes may very well begin when certain artists ground their conception of art on principles which insist on designing not only art, but also that which holds it – the buildings with which it engages. The importance of this involvement between art and its material underpinning is made especially explicit in the writings and experiments of Donald Judd, who always spent equal amounts of energy both in creating his pieces and on the conception of the space these would be placed in and was particularly insistent as to the importance of re-using existing buildings. Dan Flavin, too, is interested in re-utilizing old buildings, carefully chosen to serve as a backdrop for his work -- this was the advent of environment installations in the 1960s. Judd also, and on several occasions, wrote articles against the spread of numerous “over-designed” new muse- 70 insensíveis à arte que ali se iria expor; na sua filosofia, a reutilização de edifícios utilitários preexistentes era pertinente, independentemente de terem sido concebidos como museus ou não, no sentido, não só de aplicar da melhor forma o investimento económico favorecendo a arte e não a sua exposição, mas também por questões morais e ecológicas de renovação e reutilização dos espaços urbanos obsoletos. Relativamente à reabilitação de arquitectura industrial será o processo da obra de Bernd e Hilla Becher que, apoiando-se antes de mais sobre um dado analítico potente - o desaparecimento progressivo da paisagem e do património industrial, composto a maior parte das vezes por objectos arquitectónicos vernáculos – vai contribuir sobretudo para sensibilizar e educar a forma de olhar dos seus contemporâneos. A sua obra, cujas investigações começaram verdadeiramente no início da década de sessenta, teve na Alemanha e em toda a Europa uma dupla influência positiva, tanto no plano político, como no plano cultural. A constatação que estas personagens registam põe em evidência o destino muitas vezes efémero de uma arquitectura funcional, noutro tempo proclamada e tomada como modelo por arquitectos modernistas como Le Corbusier e Walter Gropius. Se esta arquitectura não estivesse nunca destinada a transmitir ideias ou valores para a posteridade, a sua única razão de ser consistiria unicamente na produção, na transformação ou no armazenamento de um produto específico. No entanto, muito para além desta função, estes edifícios, que parecem desafiar o tempo, alcançam às vezes pela sua escala, a dimensão de autenticas catedrais e, exactamente porque não têm uma vocação narrativa, estão disponíveis para albergar novos programas. 71 ums in the 1980s. These he considered to be non-userfriendly and insensitive to the artwork which was to be exhibited there. In his philosophy, the re-utilization of existing utilitarian buildings was pertinent regardless of whether or not they had been built as museums. His philosophy stems from the idea not only of how best to invest the monies set aside for the art object itself and not the way it is displayed, but is also grounded on moral and ecological principles, favouring the regeneration and re-utilization of obsolete urban sites. As regards the regeneration of industrial architecture, the work of Bernd and Hilla Becher, taking as its starting point a potent analytical given – the gradual disappearance of industrial landscape and heritage, mostly comprising vernacular architectural objects – it is their work which above all contributed towards sensitizing and educating the eye of their contemporaries. The influence of their work, essentially beginning at the start of the 1960s, was felt in Germany in a positive and twofold way, both in the political and the cultural arenas. What these persons record highlights the all too often ephemeral fate of functional architecture, in olden days acclaimed and used as models by modernist architects such as Le Corbusier and Walter Gropius. Had this architecture never been designed to convey ideas or values to posterity, its only raison d’être would have been confined to the production, the processing and the warehousing of a specific product. However, well beyond this function, these buildings, which appear to defy time, sometimes, through their sheer scale, attain the dimensions of veritable cathedrals and, precisely because they lack a narrative vocation, are available to house new programmes. Plano de requalificação urbana O Plano de Requalificação e de desenvolvimento refere-se a uma área de cerca de 6,0 ha, ocupada actualmente pelas instalações da Sociedade Corticeira Robinson Bros. S.A. e é limitada pela própria cidade que no seu crescimento urbano acabou por envolvê-la. A noção exacta deste envolvimento será essencial na definição das premissas do plano. Será a criação de unidades de carácter urbano protagonizadas pela abertura de um novo “passeio urbano” e pela introdução de elementos como praças, passeios e equipamentos que permitirá a articulação entre os edifícios da Robinson com o tecido urbano existente, ambos dotados de forte identidade. É ainda fundamental, a consideração dada ao facto da cidade estar a crescer de forma algo descaracterizada a nascente, precisamente o sentido deste “passeio urbano” que se pretende estruturante, de nascente a poente. Esta orientação permitirá ainda organizar sítios quer a norte quer a sul, o que é importante numa cidade de amplitudes térmicas da dimensão das de Portalegre. A nossa proposta parte de um dos melhores exemplos contemporâneos de reabilitação de uma unidade industrial - a transformação da Fábrica Pompéia, em S. Paulo, pela arquitecta Lina Bo Bardi em 1977. Trata-se de um dos mais notáveis sucessos de recuperação e adesão por parte dos utentes de uma grande área desta natureza numa cidade de grande escala; até aos dias de hoje esta área é apelidada de “cidadela cultural” e durante os primeiros anos de funcionamento, a Fábrica da Pompéia constituiu uma grande novidade no cenário cultural brasileiro. Ali levou-se a cabo uma arquitectura do comportamento humano, projectando e interferindo em espaços, criando contextos e provocando vida tendo como suporte do convívio entre os mais diversos utentes da rua - elemento urbano fundamental. Urban Regeneration Plan The Urban Regeneration and Development plan covers an area of about 6.0 hectares, currently occupied by the Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A., and is circumscribed by the town itself, which as a result of urban growth, has developed around it. The precise idea of this development will be of the essence in defining the premises of the plan. It will consist of creating urban units characterized by the opening up of a new “urban promenade” and by creating elements such as squares, paved areas and equipment allowing for the articulation of the Robinson building with the existing urban fabric, both endowed with a strong personality. A further basic need to be considered is the fact that the town is growing in a somewhat heterogenous manner towards the east, precisely the direction of the “urban promenade” – which, it is hoped, will have a structuring impact – from east to west. This directioning will further provide for the organization of sites both to the north and to the south, which is important, given the dimensions of thermic amplitude such as Portalegre’s. Our proposal takes as its inspiration one of the best contemporary examples of the rehabilitation of an industrial unit – the make-over of the Pompeia Factory in São Paulo carried out in 1977 by the architect, Lina Bo Bardi. This is one of the most resounding successes of the regeneration -- and enthusiasm with which visitors greet it -- of a large area of this nature in a major city. To this day, the area is known as the “cultural citadel”. During its first years as a functioning unit, the Pompeia Factory was a major novelty on the Brazilian cultural scene. The architecture carried out there bore human behaviour in mind, projecting into and interfering in spaces, creating contexts and activity grounded on the interaction among the most varied street users – a fundamental urban element. 72 Conceito / Estratégia A estratégia para recuperar esta zona ex-industrial como espaço público fruível fundamenta-se no estabelecimento de vínculos entre os seus edifícios e a cidade, bem como entre as diferentes escalas e momentos de intervenção tentando para isso conferir-lhes carácter urbano actual numa atitude precedente à instalação dos novos usos para os edifícios a reabilitar. Pretende-se deste modo estabelecer uma relação permeável com o meio envolvente e os ambientes característicos de Portalegre, definindo as transparências existentes ou postas em evidência pelas demolições propostas e revelando a lógica interna do conjunto para implantar nele uma configuração contemporânea em diálogo com as actividades que receberá. Este conjunto heterogéneo de naves, corpos oficinais e depósitos terá na frente Largo do Jardim do Operário, o seu elemento de articulação à cidade, protagonizado fisicamente pelo rasgamento na fachada da abertura do “passeio urbano”. Os espaços livres assim desenhados constituirão um importante elemento a reestruturar numa ideia de cidade em que os edifícios e o vazio que os envolve, se completam. Neste primeiro “gesto” do plano ficará, portanto, estabelecido um modelo de ocupação destinado a garantir a sobrevivência do conjunto original em coabitação com as sucessivas reabilitações e necessárias ampliações que se irão levar a cabo, partindo de um princípio aditivo que ordena todo o conjunto industrial formado pelos edifícios já dispostos ao longo de uma espécie de eixo ordenador, configurando agora uma nova relação com a envolvente mediante o seu cuidado desenho e a implantação estratégica do novo edifício da Escola de Hotelaria que contribuirá para a definição clara de um “passeio urbano”. 73 Concept/Strategy The strategy for regeneration of this formerly industrial zone as a public space to be enjoyed is grounded on the setting up of links between its buildings and the town, as also between the differing spatial scales and opportunities for intervening, in an attempt to bestow upon them a contemporary urban feel, as a measure preceding the installing of the new uses to which rehabilitated buildings will be put. The aim is thus to establish a permeable relation with the surrounding areas and the ambiences which are characteristic of Portalegre, by defining the transparencies which already exist or which will be enhanced by the proposed targets for demolition and revealing the internal logic of the whole with a view to lending it a contemporary look in dialogue with the activities it will host. This heterogenous set of naves, work shops and warehouses will be the element, on the front facing Largo do Jardim do Operário, which articulates the whole with the town, physically expressed by the opening up of the “urban promenade” cutting through the façade of the factory. The spaces thus freed will be a major element in the renovated planning of a town whose buildings and the empty spaces surrounding them will complement each other. This first measure of the plan will, therefore, establish a model of occupancy designed to guarantee the survival of the original whole, side by side with ensuing regeneration projects and necessary additions to be undertaken. This will have as its point of departure a principle of additionality marshalling the entire industrial complex which comprises the buildings already in place along a kind of determining axis. It will provide for a new relationship with its surroundings by means of careful design and the strategic implanting of the new Catering School building which A partir deste eixo pode ver-se, nos intervalos dos edifícios, a belíssima paisagem distante, a sul, após a criação de um primeiro plano de frente urbana que impede, juntamente com o maciço de árvores proposto entre esta e a Escola Superior de Hotelaria, a vista menos interessante e mais próxima da envolvente nascente/sul, que apresenta a pior face do desenvolvimento descaracterizado da cidade nos últimos anos. Cada uma das peças adquirirá então sentido na sua relação com as restantes, formando um conjunto de edifícios em cuja articulação e cadência se confiará a urbanidade graças a elementos como rampas, passeios e praças. Se o novo se conjuga com o existente, a sua materialização actual pretende revelar-se de forma inequívoca. Um embasamento proposto de reboco em tom azul correrá os alçados do conjunto libertando a cal branca dos restantes pisos, alternando com o amarelo ocre à semelhança do já existente no local. Como sucede em qualquer lugar de carácter público, o projecto parte da consideração que os usuários reconfiguram constantemente de um espaço como um lugar de encontros, com liberdade de uso que se metamorfoseia através da actividade dos seus participantes. Esta área com 60.000 m2 converte-se, assim, num excepcional lugar de passeio para visitantes e de estar para criadores que se abre a todo o tipo de iniciativas culturais e artísticas, do qual ambos partilham e participam num debate aberto. will contribute towards a clear definition of the “urban promenade”. From this axis, and through the spaces between the buildings, there will be a magnificent view into the distance towards the south, after the creation of a foreground of urban façade, which, together with the stand of trees proposed for the space between the façade and the Catering School, block out the less interesting and closer view towards the south-east, displaying as this does the worst aspects of the town’s soulless development in recent years. Each piece will thus gain in meaning in its relation to the rest, forming a set of buildings to whose articulation and cadence this urban regeneration event will be entrusted, thanks to elements such as ramps, paved areas and squares. When the new is added to that which already exists, their contemporary materialization sets out to be decisive. A basis placed in blue plaster will run the length of the façades of the complex, freeing the white-washed surfaces of the remaining storeys and alternating with ochre similar to that already in place. As is the case with any public place, the project bears in mind that users constantly re-configure a space such as a meeting point with a freedom-to-use which undergoes a metamorphosis by means of the activity of the participants. This area of 60,000 square metres thus becomes an outstanding strolling space for visitors and a habitat for creators open to every type of cultural and artistic initia- Novas valências Um Plano de Requalificação Urbana, ainda que dirigido a uma zona limitada da cidade, não pode ser entendido de forma autista em relação ao seu todo, deve no mínimo, ser capaz de: · clarificar as ligações do centro (entendendo já a Robinson como área central) com a cidade em expansão, estrutu- tives, which both share and take part in an open debate. New Values An Urban Regeneration Plan, albeit covering a small portion of the town, must not be understood in an inward-gazing way in relation to the whole: it must be able to, at least: 74 rando desta forma a cidade para o futuro, valorizando a sua caracterização urbana; · corrigir as situações críticas e revalorizar recursos e potencialidades inerentes, até pela proximidade a Espanha, enriquecendo também desta forma a animação urbano-turística; · recuperação dos valores arquitectónicos da paisagem urbana existente, integrando-os num projecto urbano de referência, associado a novas vias, habitação e equipamentos, reestruturação de praças e à melhoria da qualidade de vida; 75 · clarify the links between the centre (already taking the Robinson factory as its central area) and the town in its process of growth, thus structuring the town with a view to its future, adding value to its urban features. · correct critical situations and revalue inherent resources and potentialities, especially so given its proximity to Spain, thus also enriching urban-tourist traffic. · regenerating of the positive architectural values of the existing urban landscape, integrating them in an urban pro- · integração das diversas vias com os espaços públicos existentes e propostos. No sentido de enquadrar e entender as perspectivas correctas de transformação e sobretudo porque a nossa estratégia de actuação nesta área pós-industrial é precisamente torná-la elemento estruturante da cidade, foi necessário fazer uma análise mais abrangente, quer no tempo, quer na escala de intervenção. Muito apoiada pelo percurso fluvial do Tejo e situandose também na transição entre terras do Norte e terras do Sul, Portalegre, assente a quinhentos metros de altitude, é claramente uma cidade do interior que a Serra de S. Mamede separa de Castela. Localiza-se na concordância de territórios muito diferentes, articulando, numa visão ainda próxima, os espaços característicos de serra e de planície. Implantada a uma cota intermédia que lhe possibilita o estabelecimento de relações fáceis com o seu próprio território, foi claramente penalizada a nível nacional por uma localização periférica e lateral em relação aos principais eixos de desenvolvimento. Deste modo, a cidade tradicional manteve-se íntegra na sua caracterização morfológica durante um longo período de tempo mas, nos últimos anos foi alvo de um crescimento rápido, disperso e sem qualquer tipo de regras ou estratégia. Não interessa enfatizar o tema do centro histórico, mas antes o problema dos fragmentos e partes de cidade nova que, sem qualidade urbana, por razões diversas, participam como sistema urbano ou, simplesmente, como realidade integrável nesta nova expansão claramente identificável. Um plano desta natureza deve ter no mínimo duas qualidades essenciais: sentido e consistência. O sentido tem a ver com a orientação da sua incidência na realidade – geográfica, cultural, histórica, – e a consistência depende da capacidade ject in association with new streets, housing and equipment, restructuring of squares and improved quality of life. · integrating the different streets with the existing and proposed public spaces. With a view to framing and understanding the proper perspectives for the transformation process and above all because our action strategy for this pos-industrial area is precisely that of making it a structuring element of the town, a broader analysis is called for, both in terms of time and of the scale of the restructuring. Bolstered by the river Tagus and located also in the confluence of North and South, and at an altitude of 500 metres, Portalegre is clearly a town of the interior, separated from Castille by the mountain of St. Mamede. It is situated in the confluence of very different types of terrain, displaying, in its environs, features comprising both mountainous and table-land elements. Set in an intermediary point allowing it to establish easy relations with its own territory, it has clearly been penalized at the national level for its peripheral and lateral location as regards the main axes of development. Thus, the old, traditional town remained intact from a morphological point of view for a long time. The past few years have, however, seen Portalegre sprawl haphazardly and without any rules or strategy whatsoever. There is little point in stressing the theme of the historical centre. What needs to be stressed are the fragments and parts of the new town which, lacking urban value, participate, for different reasons, as an urban system or, simply, as a fact of life to be integrated in this new, already identifiable urban growth. A Plan of this nature must have, at the very least, two basic features: it must be meaningful and have substance. Meaning has to do with how it is oriented in a reality – geographical, cultural, historical – 76 da sua estrutura constitutiva para resolver os requisitos que impõe a sua funcionalidade física e económica. Esta dupla face da sua estratégia tem que assumir-se como uma condição básica: a proposta constitui um acto sintético que gera formas genuínas e consistentes através de 77 and the substance depends on how well its structure can resolve the requirements imposed on it by its physical and economic ability to function. This twofold strategy must be taken as a basic requirement: the proposal embodies a synthetic act generating valores que, ainda que subjectivos, tendem a ser universais. Assim, a questão do centro antigo confunde-se com a questão das faixas periféricas e enquadra-se no problema mais abrangente de como deve construir-se a cidade moderna na ponderação do conjunto das heranças históricas e materiais da cidade e do seu belíssimo território. Procurando construir a ponte entre passado e presente, o projecto de um espaço público cruza temáticas diferentes, reporta a uma totalidade – a cidade - e à diversidade quer dos seus quarteirões, quer dos seus fragmentos. É nossa intenção dar corpo a este lugar, com arquitecturas que lhe confiram carácter, vida, ambiente e identidade. Ao nível do solo urbano, cruzar a memória colectiva com os novos elementos, modernos e representativos culturalmente e cruzar ainda o uso colectivo com o individual. “Olhar a cidade é um prazer particular, por mais banal que seja o que se vê. Como um bocado de arquitectura, a cidade é uma construção no espaço, mas numa escala muito vasta, e são necessários longos períodos de tempo para a compreender. A composição urbana é, pois, uma arte que usa o tempo, mas é raro que, aí, se possa recorrer às sequências controladas e limitadas, ao contrário de outras artes baseadas no tempo, como a música. Conforme as circunstâncias e as pessoas, as sequências são invertidas, interrompidas, abandonadas, abreviadas: a cidade vê-se sob todas as iluminações, por todos os tempos” (Kevin Lynch), por isso é tão difícil desenhá-la e se torna tão difícil colher aceitação unânime e pacífica de imediato. As grandes intervenções são normalmente, numa primeira abordagem, polémicas. Em 1852, no âmbito da política de fomento interior levada a cabo pelo Ministério das Obras Públicas, o governo deu preferência à abertura de vias de comunicação e às infra-estruturas de circulação. Deste modo, quando genuine and substantial forms by means of value, which, albeit subjective, tend to be universal. Thus the issue of the old centre enmeshes with that of the outlying areas. It is framed by the broader issue of how to build a modern town, all the while bearing in mind the sum total of the historical and material heritage of the town and its magnificent environs. Attempting to bridge past and present, a project for a public space interacts with different themes, points to a totality – the town – and to the diversity both of its neighbourhood blocks and of its fragments. It is our intention to make this place tangible, with architecture that will confer upon it character, life, ambience and identity. Where the urban ground is concerned, to intertwine the collective memory with the new elements, which are modern and culturally representative and also to intertwine collective use with that of the individual. “To gaze at a city is a special delight, however banal the sight may be. As a piece of architecture, cities are a construction in space, but on a very large scale, and the viewer needs a great deal of time to internalize it. Thus, the urban make-up uses time, but only rarely, in this context, can controlled and limited sequences be made use of, contrary to what occurs in other time-based arts, such as music. Depending on the circumstances and the people, sequences are inverted, interrupted, abandoned, abbreviated: the city is viewed lit up from every angle, for all time.” (Kevin Lynch). This is why it is so difficult to design it and gain unanimous and non-dissenting acceptance at the start. Major building works are usually polemical to begin with. In 1852, within the framework of development of the interior of the country carried out by the Ministry of Public Works, the government gave priority to the upening up of roads and transport infra-structure. Thus, when, in Porto, 78 no Porto se tomou a decisão, em 1854, de atravessar campos e quintas particulares para rasgar a conhecida Avenida da Boavista e estabelecer a relação estratégica entre as zonas Oriental e Ocidental da cidade, ninguém acreditou na inevitabilidade deste “gesto” para a estruturação do desenvolvimento da cidade que este eixo e a rotunda consolidam. Hoje trata-se de um facto reconhecido e de uma das zonas mais valorizadas não só da cidade do Porto, mas também do país. A proposta, inserida num contexto de definição de novas valências para a área de intervenção e envolvente, assume esse risco ao pretender corrigir a situação crítica de desordem no crescimento urbano actual de Portalegre, revalorizando os seus recursos e potencialidades pela consolidação da referida ligação ao centro histórico e rentabilização dessa mesma estratégia. Nesse sentido, propomos a construção de uma frente urbana no limite sul do terreno que englobará edifícios de habitação, comércio e equipamentos. Uma notável caracterização desta zona da cidade ficaria completa e altamente valorizada com a definição e concretização da estratégia de desenvolvimento para a encosta que medeia esta rua e a área de expansão nova, a cota bastante inferior e de qualidades arquitectónica e urbanística medíocres. Assim, prevemos uma segunda fase para a frente urbana que seria a instalar em terrenos camarários (onde se situam actualmente as oficinas da Câmara) e uma terceira fase, já a realizar em terrenos privados, resultantes também da deslocalização das fábricas hoje existentes para a nova Zona Industrial. Na primeira fase, a mais valia da operação seria imediata, uma vez que os terrenos pertencem à Fundação Robinson e, sendo vendidos numa operação de loteamento com um pro79 the decision was made in 1854 to cut across fields and private estates to create Boavista Avenue and set up a strategic juncture between the city’s eastern part and that of the west, nobody believed in the inevitability of this gesture towards the structuring of the city’s development which this axis and the round-about embody. Nowadays, it is an establihsed fact and one of the most valuable areas, not just of the city of Porto, but of the country. This proposal, framed within a context of new values for the area concerned, is willing to run that risk, where it sets out to correct the critical situation of disarray in the current urban growth of Portalegre, by revaluing its resources and potential by means of the above mentioned link-up with the historical urban centre and financial benefits of that same strategy. Towards this goal, we propose to build an urban façade at the very south of the plot of land, which will include residential buildings, shops and equipment. A striking feature of this part of town would be completely and significantly re-valued by means of the defining and putting into place of the development strategy for the slope which interposes this street and the new, growing area with a significantly lower gradient and displaying mediocre architectural and urban features. We thus anticipate a second phase for the urban façade to be situated on council land (where the Council’s workshops are currently located) and a third phase, to be put in place on private land, also resulting from the relocation, to the new Industrial Complex, of existing factories. In the first phase the surplus value would be immediate, since the land belongs to the Robinson Foundation. If sold in the form of lots linked to an approved architectural project, this would guarantee not only the quality of the surroundings but also investment consisting of jecto de qualidade arquitectónica aprovado, garantiam não só qualidade à área envolvente, mas o investimento correspondente à abertura do “passeio urbano” proposto e respectivas infra-estruturas, bem como da praça junto à Escola de Hotelaria, da sua envolvente verde e da praça em frente ao estacionamento, como se pode verificar no Relatório de Sustentabilidade Económica da solução. A Câmara Municipal, numa operação da mesma natureza, teria uma mais-valia notável, valorizando e enquadrando a solução, ao realizar a segunda fase. Por fim, à parte de alguma rentabilidade financeira que traria a operação dos privados nos terrenos da 3.ª fase para a edilidade, seria a vez da cidade ganhar pela qualidade urbana concretizada. Sendo Portalegre uma cidade de meia encosta, são possíveis leituras muito variadas, desde os enfiamentos sobre o Castelo, percorrendo entre árvores a estrada de Monforte, até ao domínio dos diversos pontos de cota alta que a rodeiam, ela vai aparecendo, numa perspectiva variável para quem, vindo de Alpalhão, vai contornando a serra da Penha. No entanto, são as chaminés da Fábrica Robinson que, desde o século XIX, exercem a principal referência visual da cidade. Deste modo, a implantação de um conjunto de edifícios a construir numa última fase e a localizar na área deixada livre pela deslocalização dos edifícios industriais agora existentes, faz a este elemento uma referência directa. Com o objectivo de promover a ligação e transparência físicas entre a cidade tradicional, a cidade contemporânea e o património industrial que agora lhes pertence, considerou-se na estratégia de implantação dos novos edifícios o recurso a este elemento iconográfico desde sempre presente na sua memória comum – a silhueta das chaminés que se destaca no perfil de Portalegre. Se a memória da fábrica foi renovada ao tempo do Estado Novo, as chaminés, emergindo desde sem- the opening up of the proposed “urban promenade” and respective infra-structures, as also the Square bordering the Catering School, its green component and the square facing the parking area, as can be seen in the Report of Economic Sustainability. In a similar move, the Town Hall would have a significant surplus value, revaluing and framing the solution, upon completion of the second phase. Lastly, in addition to some financial benefit which would accrue to the town through the operation involving private land forecast for phase three, the entire town would gain from the urban quality thus achieved. Situated on a slope, with several interpretations being possible, from the direction of the Castle, the trees lining the road to Monforte, to the different points of high gradient surrounding it, Portalegre appears from a variable perspective for anyone approaching it from Alpalhão, having skirted Penha Mountain. However, it is the chimneys of the Robinson Factory which, from the nineteenth century on, have been the main visual reference point of the town. Thus, erecting a series of buildings in a final phase of the project, to be located in the area freed up by the relocation of existing industrial buildings, leads directly to this reference point. With a view to promoting physical linkage and transparency among the traditional and the contemporary parts of the town and the industrial heritage which now belongs to it, the strategy for erecting new buildings took into consideration this iconographic element which has always been present in the collective memory – the silhouette of the chimneys which define Portalegre’s sky-line. Although the Estado Novo (the Salazar regime) renewed the memory of the factory, the chimneys, emerging since ever from the built-up mass, are inextricably linked to the image of Por- 80 pre no maciço construído, são indissolúveis da sua imagem, justificando assim o recurso a este signo simbolicamente tão representativo. A integração da estrutura verde na forma de um Parque Municipal, inexistente em Portalegre, deverá desempenhar um papel fundamental na articulação de sistemas múltiplos e complementares (naturais e culturais). Actuando sobre o conjunto de fragmentos urbanos que se distribuem de forma descontínua, a estrutura verde participará na sua articulação, promovendo a continuidade com os eixos principais estruturantes da cidade e, pela descontinuidade, a articulação e enquadramento paisagístico dos novos fragmentos desordenados e de grande escala existente na parte Sul/Nascente da cidade. A continuidade da estrutura verde, a nível morfológico, é reforçada pelas relações ao denso olival já existente junto ao cemitério, criando uma estrutura coerente incluindo um sistema diversificado de usos e circulações, relacionando os espaços verdes existentes e propostos, nomeadamente através da ligação aos percursos periféricos, pedonais e dos núcleos antigos e, simultaneamente a possibilidade de manter a construção, provavelmente já prevista, marginal às novas vias a sul. 81 talegre, thus justifying the singling out of this symbolically representative sign. Integrating the green zone in the shape of a Municipal Park, currently non-existent in Portalegre, should play an essential role in articulating the multiple and complementary systems (both natural and cultural). Acting upon the totality of the urban fragments, layed out in discontinuous form, the green zone will articulate these, promoting continuity with the main axes structuring the town, and, through discontinuity, will promote articulation and landscape framing of the new, scattered and large-scale fragments located in the south-eastern part of town. At a morphological level, the continuity provided by the green zone is re-inforced by the Olive Grove already in place next to the Cemitery. thus creating a consistent structure, including a diversified system for utilization and transit, linking the existing and the proposed green spaces, especially through linkage with the outlying pedestrian spaces and the old nucleii, and at the same time, the possibility of further building, probably already planned, at the margins of the new roads to the south. O logótipo da Fundação Robinson The Logo for the Robinson Foundation Eduardo Souto Moura* (1) Graça Correia* (1) António Queirós** (2) * ARQUITECTOS ** DESIGNER GRÁFICO * ARCHITECTS ** GRAPHIC DESIGNER Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 82-85, ISSN 1646-7116 1. Numa conjuntura de renovação autárquica em que se pretende atingir um novo patamar de desempenho económico e social, a Fundação Robinson surge com a sua forte presença patrimonial e histórica, que se pretende renovada por uma imagem de modernidade. Pretende-se por isso uma representação gráfica para esta nova entidade – a Fundação – que tem, no entanto, uma identidade secular marcadamente associada à cidade de Portalegre, à construção da sua história e da sua memória. A construção da sua imagem deverá essencialmente contribuir para a sua projecção e qualificação enquanto agente contemporâneo de desenvolvimento, construída através de um diálogo entre a identidade histórica e a sua memória visual. “A memória parece ser um elemento essencial do que se chama identidade social ou colectiva, em cuja procura se ocupam os indivíduos e colectividades hoje em dia. Memória e Identidade parecem ser indissociáveis. A identidade nasce da recordação e ambas constituem um acto de resistência contra o desaparecimento e o esquecimento.” O objectivo de promover a continuidade e abertura físicas entre a cidade tradicional, a cidade contemporânea e o património industrial que agora lhes pertence, considerou o recurso gráfico ao elemento iconográfico desde sempre presente na sua memória comum – a silhueta das chaminés que se destaca no perfil de Portalegre. Se a memória da fábrica foi renovada no tempo do Estado Novo, as chaminés, emergindo desde sempre no maciço construído, são indissolúveis da sua imagem, justificando assim o recurso a este signo simbolicamente tão representativo. O contributo do design tratou de representar graficamente este elemento, desenhando-o com grande economia 83 1. Within the framework of local government renewal which aims at attaining a new level of economic and social performance, the Robinson Foundation appears with its strong patrimonial and historical presence, to be renovated, according to current plans, by an image of modernity. A graphic representation is, therefore, required for this new entity – the Foundation – which, although new, represents a centuries-old involvement with the town of Portalegre and the building of its history and its memory. Building its image must basically contribute to its promotion and to its credentials as a contemporary source for development, grounded on a dialogue between its historical identity and its visual memory. “Memory appears to be an essential component of what we call social or collective identity, which individuals and collective bodies seek after nowadays. Memory and Identity appear to be inextricably linked. Identity springs from remembrance and both constitute an act of resistance against disappearance and oblivion.” The aim of promoting the continuity and physical opening up between the traditional town, the contemporary town and the industrial patrimony which now belongs to them had a bearing on the graphic choice of the iconographic component which has ever been present in the collective memory – the silhouette of the chimneys against the Portalegre sky-line. Although the memory of the factories was renewed during the Estado Novo (the Salazar regime), the chimneys which have always emerged from the built-up agglomerate cannot be extricated from their own image, thus justifying the use of such a symbolical and representative sign. The design aims to represent this component graphi- de meios e elementos, de forma abstracta e não figurativa – recorrendo à regularidade geométrica – perseguindo a eficácia da ideia contemporânea de comunicação. 2. A marca representa a subtracção do elemento mais marcante do edifício ao céu azul de Portalegre. A representação/subtracção destes elementos num quadrado azul com as “peças” a branco é ainda acrescida de uma atitude reveladora da posição do observador, a convergência dos dois elementos num ponto de fuga denunciam a escala e retratam a posição elevada do conjunto arquitectónico. O logótipo (Tipografia) pretende resolver a questão fundamental da legibilidade e também, pelo facto de estar inserida num rectângulo, permite varias possibilidades de “casamento” com a solução da marca. A junção das duas peças rectângulo + quadrado garante, pelo menos, três possibilidades de associação da marca/logótipo, podendo-se ajustar às imposições de proporção dos vários suportes sem perder a identidade, conforme previsto e regulamentado no manual de identidade corporativa. cally, drawing it with great economy of means and component parts, in an abstract and non-figurative way – relying on geometrical regularity – following the efficacy of contemporary notions of communication. 2. The brand represents the isolating of the most eyecatching element of the building outlined against the blue sky of Portalegre. The representing/isolating of these components in a blue square with the “parts” in white is enhanced by a slant representing the viewer’s location. The confluence of the two components in a vanishing point announces the scale and portrays the height of the architectural whole. The logo (Typography) sets out to solve the basic issue of legibility. Furthermore, because it is inserted in a rectangle, it allows for several types of “marriage” with the solution of the brand. Bringing together the two pieces, rectangle and square, guarantees at least three possible types of association for the brand/logo, and being adjustable to requirements of the proportion of the different surfaces, without losing its identity, as per the Corporate Identity manual specifications. 84 85 O design nas Publicações da Fundação Robinson Design for the Robinson Foundation Publications Luís Moreira DESIGNER GRÁFICO, PROFESSOR-ADJUNTO NO INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR, CURSO DE DESIGN E TECNOLOGIA DAS ARTES GRÁFICAS GRAPHIC DESIGNER, TEACHER AT THE INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR, CURSO DE DESIGN E TECNOLOGIA DAS ARTES GRÁFICAS Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 86-99, ISSN 1646-7116 Com este texto pretende-se descrever o processo criativo que guiou a execução da pré-maqueta ilustrativa do design gráfico1 da série Publicações da Fundação Robinson. Decorre de uma apresentação pública, sobre o mesmo tema, inserida no Seminário Interreg-Forum, em Portalegre, no dia 20 de Dezembro de 2006. Deve entender-se por pré-maqueta a antecipação física de um produto gráfico, numa fase do trabalho em que os conteú-dos não estão ainda finalizados. No caso de uma publicação é a melhor forma para se ensaiarem as partes fundamentais que a constituem: capa, índice, ficha técnica, artigos, separadores (entre outros). Possibilita a apreciação crítica tanto por parte do designer, como do editor. As decisões mais importantes têm de ser tomadas nesta fase: formato, grelha, tipos de letra, formatação das mais diversas categorias de texto, paleta de cores e o modo como são colocadas as imagens. The purpose of this text is to describe the creative proc- Definição de um formato Qualquer tomada de decisão no desenvolvimento do design de uma publicação resulta da conjugação de dois factores: das características próprias que se pretendem que a obra tenha – que nascem das expectativas e das exigências do editor – e da contribuição da experiência, gosto e bom senso do designer. As Publicações da Fundação Robinson deveriam seguir as seguintes características: aspecto global uniforme e consistente; ter grande versatilidade, de forma a que cada edição pudesse assumir o carácter de revista científica, de catálogo (de uma pequena ou de uma grande exposição) ou de monografia; ser bilingue (português e inglês); poder dar protagonismo à iconografia. O facto de o texto estar escrito em dois idiomas, em simultâneo, implicava um formato tendencialmente grande Format definition 87 ess which led to the pre-mockup illustrating the graphic design1 of the Robinson Foundation Publications series. It results from a public presentation on the same theme in the Interreg-Forum Seminar held on 20 December 2006 in Portalegre. Pre-mockup should be understood as meaning the pre-presentation of a graphic product, at a stage in which contents have not yet been finalized. For publications, it is the best way to try out the basic features which comprise it: cover, table of contents, credits, articles, separators (among others), which enables both the designer and the publisher to give critical appreciation to these features. The most important decisions must be made at this stage: format, grid, fonts, formatting of every single text category, colour palette and how the images are placed. Any decision in the design development for a publication results from the confluence of two factors: the specific features which the work is to display – stemming from the publisher’s expectations and demands – and the designer’s input in terms of experience, taste and common sense. The Robinson Foundation Publications were expected to conform to the following features: a uniform and consistent overall look; great formal versatility so that each issue could take on the features of a scientific review, of a catalogue (of a small or major exhibition) or of a book; its bilingual nature (Portuguese and English); its ability to enhance iconography. The fact that the text appears in two languages at the same time implied a tendentially large format, or at least one that was wide enough to pour in two columns per page, ou, pelo menos, com largura suficiente para poder conter duas colunas por página, uma para cada língua. Resolveria, também, a questão da importância a atribuir às imagens, facilitando a sua inserção em dimensões grandes. Só três formatos se adequam para publicações: rectangular ao alto, rectangular ao baixo e quadrado. Sabendo da importância da iconografia nesta colecção, deve analisar-se a influência que cada um dos formatos pode ter na inserção de imagens. O rectângulo ao alto favorece as imagens com a mesma orientação, do mesmo modo que o rectângulo ao baixo favorece as imagens ao baixo (fig. 1). O quadrado, por outro lado, favorece as duas orientações e, também, as imagens com formato quadrado. Aparentemente o formato quadrado seria o indicado, porém há duas razões que contradizem essa escolha. A primeira, relacionada com a própria forma. Sendo o quadrado uma forma geométrica pura, com altura e largura iguais, torna-se numa superfície demasiado presente e estruturante, pelo que o seu conteúdo – texto e imagem – fica condicionado. O conteúdo deve sempre ser o protagonista, e não a superfície onde ele é apresentado. A segunda razão, prende-se com factores técnicos. Só se consegue um formato quadrado rentável (nas medidas standard de papel) com uma medida entre os 30 e os 32 cm de lado – que implica algum esforço para o seu manuseamento – ou entre os 20 e os 21 cm de lado – um formato pequeno demais para as expectativas das Publicações (fig. 2). one for each language. It would also solve the matter of the importance which images would be given, making it easier to insert them in a larger format. Only three formats are appropriate for publications: portrait, landscape, and square. Knowing how important the iconography is to this collection, analysis must be carried out on the influence each of the formats may have on image inserting. Portrait favours images of the same format, in the same way that landscape favours landscape images (fig.1). The square, on the other hand, favours both orientations, as also square format images. A square format would appear to be desirable; there are, however, two reasons that rule it out. The first has to do with the form itself. The square being a pure geometric form, with identical height and width measurements, it becomes an overly present and structuring surface, so that its contents – text and image – are conditioned. Contents should always be the lead player and not the surface into which it is poured. The second reason has to do with technical factors. A cost-effective square format can only be achieved with a width of between 30 and 32 cm – which implies a certain amount of effort in handling it – or between 20 and 21 cm width – too small a format for the Publications’ expectations (fig. 2). Having taken every fact into account, the appropriate format would have to be a rectangle of similar dimensions Fig 1 Vários formatos de publicação – rectangular ao alto, rectangular ao baixo, quadrado e rectangular ao alto com medidas de altura e largura semelhantes – e a sua relação com a dimensão máxima reproduzível de imagens ao alto e ao baixo. Various publishing formats – portrait, landscape, square and portrait with similar height and width measurements – and their relation to the maximum reproducible dimension of portrait and landscape images. 88 Æ Fig 3 Representação de um caderno de 16 páginas (8 na frente + 8 no verso) numa folha de 100 × 70 cm, com um formato rectangular ao alto, utilizando o papel até ao máximo dos seus limites. Representation of a 16 quire (8 recto and 8 verso) using a 100 x 70 cm sheet, portrait orientation, using the paper to maximum capacity. Considerados todos os pressupostos, o formato indicado teria de ser um rectângulo com proporções próximas do quadrado, em que fosse pequena a diferença entre altura e largura. Seria um formato que não iria comprometer o conteúdo, tecnicamente exequível e que iria respeitar de modo similar a inserção de imagens ao alto ou ao baixo. Tendo em conta que se tratam de edições com carácter científico – e não álbuns fotográficos – o formato ao alto é o mais adequado, tanto pelos hábitos que têm os leitores, como pelo factor ergonómico: ao folhear uma publicação mais larga do que alta teríamos uma largura total exagerada e, portanto, desaconselhada para uma leitura confortável. De um ponto de vista mais técnico, para se definir um formato, tem de se ter em conta as dimensões das folhas de papel com que se imprimem livros em Portugal. De um modo geral, o formato maior de folha mais comum é o 100 × 70 cm. Por isso, e para imprimir cadernos de 16 páginas por folha com formato rectangular ao alto, o máximo de largura que se pode obter sem haver desperdício de papel é de 24 cm (fig. 3). 32 70 32 100 21 21 70 100 to that of the square, where the difference between height and width would be small. It would be a format that would Fig 2 Representações de um caderno de 12 páginas (6 na frente + 6 no verso) e de um caderno de 24 páginas (12 na frente + 12 no verso) numa folha de 100 × 70 cm, com um formato de página quadrado, utilizando o papel até ao máximo dos seus limites. 24 not compromise the contents, technically feasible and that would respect, in a similar fashion, the inserting of images in height and width. Bearing in mind that we are dealing 70 Representations of a 12 quire (6 recto and 6 verso) and of a 24 quire (12 recto and 12 verso) on a 100 x 70 cm sheet, in a square page format, using the paper to maximum capacity. 32 with scientific publications – and not photo albums – the portrait format is the most appropriate, both in terms of our reading habits, and from the ergonomic point of view: leafing through a publication which is wider than it is tall would render a totally exaggerated total width, which would not lend itself to comfortable reading. 100 From a more technical point of view, when defining a format, consideration must be given to the dimensions of the sheets of paper on which books are printed in Portu- 89 Tendo a medida da largura definida – 24 cm – faltava definir a altura. Acrescentar 3,5 cm é o suficiente para distinguir a altura da largura, pelo que se ficou com um formato final de 24 x 27,5 cm. gal. As a rule, the largest, most widely used sheet format is 100 x 70 cm. Thus, and to print 16 page quires in a portrait format, the maximum width that can be obtained without wasting paper is 24 cm (fig. 3). Having defined the maximum width – 24 cm – there As escolhas tipográficas Para um designer a escolha do tipo ou tipos de letra de uma publicação é determinante para a sua qualidade final. Têm, necessariamente, de se fazer muitos testes, analisando todas as categorias de texto que é preciso formatar, desde os títulos às legendas, passando pelo texto principal (texto corrido), subtítulos, notas, nome do autor do texto, entre muitas outras. No caso particular, há a acrescer o facto da publicação ser bilingue. Este foi, precisamente, o ponto de partida para as decisões tipográficas. Sendo esta a particularidade mais condicionadora deste projecto, fazia sentido começar por aqui. Mesmo não estando ainda desenhada a grelha, tomou-se uma decisão fundamental: o português e o inglês tinham de ter tratamento diferenciado. O português é apresentado numa coluna de texto mais larga do que o inglês e consequentemente o seu tamanho de letra – o corpo – é maior. Comparativamente com uma solução em que ambos os idiomas tenham o mesmo tratamento, esta opção tem três vantagens fundamentais: o leitor de um ou de outro idioma identifica muito rapidamente a coluna de texto a ler, a mancha gráfica está dividida em duas colunas desiguais – o que a torna mais dinâmica do que quando coexistem duas colunas iguais – e, por último, as opções para arrumação de imagens tornam-se mais variadas, conforme será descrito mais à frente, quando se explica o desenho da grelha. Quando se fala de texto corrido, e muito embora a questão não seja inteiramente pacífica entre os designers, de um remained the height. Adding 3.5 cm suffices to distinguish the height from the width, so that a final format of 24 x 27.5 cm was arrived at. The typographic choices For a designer, choosing the type for a publication is key to its final quality. Of necessity, many tests have to be undertaken, analysing each category of text to be formatted, from the titles to the captions, through the main text (discursive text), sub-titles, notes, author’s name, among many other tasks. In this particular case, consideration had to be given to the fact that it is a bilingual publication, which was precisely the point of departure for the typographic choices made. This being the project’s single most determining specificity, it made sense to begin at this point. Even before the grid had been designed, a basic decision was made: the Portuguese and the English texts had to be subjected to differentiated treatment. The Portuguese version is presented in a wider text column than the English version, and as a result its font size – the body – is larger. Compared to a solution giving both languages equal treatment, this option offers three basic advantages: readers of either one of the languages very quickly identify the text column they need to read, the text is divided into two different size columns – which makes it more dynamic than if there were a sameness between the two – and lastly, the options for placing images become more varied, as will be described later, where the grid design is explained. 90 Fig 4 Composição de um mesmo texto num tipo de letra sem serifas, o Helvetica, e num tipo de letra com serifas, o Georgia. As serifas contribuem, neste caso, para um grau maior de legibilidade. When discussing discursive text, and even though the issue is not entirely harmonious among designers, as a rule serif fonts, are easier to read. This is the case because serifs function as guides that lead readers’ gaze horizontally, cap- Composition of the same text in a sans-serif font, Helvetica, and in a serif font, Georgia. In this situation, the serifs make for a greater degree of legibility. turing attention to the line being read, which is of major importance for comfortable reading of large portions of text (fig. 4). Within serif fonts there are four major families – Classical Humanist, Transitional, Modern, and Egyptian – whose differences lie in the variation of the thickness of their parts (or stress) within the axis of rounded forms and Fig 5 Diferenças que distinguem as quatro principais categorias de tipos de letra com serifas: humanistas clássicas, de transição, contrastadas e egípcias. Os tipos de letra representados são: Bembo (Francesco Griffo, 1495), Baskerville (John Baskerville, 1750), Bodoni (Giambattista Bodoni, 1787) e Clarendon (Anónimo, 1845). Differences which distinguish the four main serif font families: Classical Humanist, Transitional, Contrasted and Egyptian. The typefaces illustrated are: Bembo (Francesco Griffo, 1495), Baskerville (John Baskerville, 1750), Bodoni (Giambattista Bodoni, 1787) and Clarendon (Anonymous, 1845). modo geral, os tipos de letra com serifas (ou “patilhas”) são mais legíveis. Isto acontece porque as serifas funcionam como guias que orientam o nosso olhar no sentido horizontal, prendendo a atenção na linha de texto que se está a ler, o que é particularmente importante para uma leitura cómoda de grandes quantidades de texto (fig. 4). Dentro das letras com serifas, existem quatro grandes categorias – as humanistas clássicas, as de transição, as contrastadas e as egípcias – cujas diferenças se situam na diferença de espessura das suas partes (ou contraste), no eixo das formas redondas e no desenho das suas serifas (fig. 5). As contrastadas não são indicadas para texto corrido porque as partes mais finas tendem a desaparecer em corpos mais pequenos. Nas restantes categorias, todas elas indicadas para texto corrido, não há nenhuma que se destaque por ser mais legível. As diferenças de grau de legibilidade são mais evidentes entre tipos da mesma categoria do que entre categorias. Tendo em mente estas considerações foi escolhido o tipo de letra Chaparral Pro (fig. 6), desenhado por Carol Twombly em 2000, pertencente à categoria das egípcias. As razões desta escolha foram três: é muito legível em texto corrido; 91 in their serif design (fig. 5). Modern fonts are not appropriate for discursive texts since the more slender strokes tend to disappear in smaller sizes. Of the remaining categories, all of them appropriate for discursive texts, no single one stands out as being easier to read. The differences in degree of legibility become more obvious within the same family types than between families. With all this in mind, the choice made was that of Chaparral Pro (fig. 6), designed by Carol Twombly in 2000 and Humanistas Clássicas Classic Humanist De transição Transitional Contrastadas Modern Egípcias Egyptian Eixo das formas redondas Axis of rounded forms Diferença entre espessuras Stress Desenho das serifas Serif design Fig 6 Tipo de letra Chaparral Pro, nas suas variantes de espessura: light, regular, semibold e bold. A utilização da frase em inglês “The quick brown fox jumps over a lazy dog” é justificada pelo facto de não existir uma frase correspondente em português1. tem um carácter contemporâneo mesmo sendo um tipo serifado; tem desenhos de letra distintos para corpos diferentes de letra. Esta última particularidade (que em inglês se denomina de optical sizes) não é muito comum, ainda, na maioria dos tipos de letra existentes, mas é de uma extrema utilidade quando é usado um único tipo de letra em diversos corpos. Um dos maiores problemas da era digital em que vivemos (mas que começou no tempo da fotocomposição, desde os anos 60 até aos anos 90 do século passado) é que só existe uma matriz para cada letra, independentemente do tamanho, o que significa que o desenho de uma letra a, em Garamond, por exemplo, é igual tanto para o corpo 72 como para o corpo 6, o que difere é apenas a redução ou a ampliação. Os traços mais finos em corpos pequenos causam problemas de legibilidade podendo até, em alguns casos, não ficar registados no Chaparral Pro typeface in its variants: light, regular, semi-bold and bold. Fig 7 Comparação entre o uso de vários corpos de letra do tipo de letra Utopia (Robert Slimbach, 1989) e Utopia Std (Robert Slimbach, 2002), esta última desenhada com optical sizes. belonging to the Egyptian family. There were three reasons for this choice: it is very legible in discursive text; it has a contemporary look to it even though it is a serif font; it comprises different letter designs for different letter bodies. The latter feature (optical size) is not yet very widely used in most existing typefaces, but it is extremely useful when a single font is used in different bodies. One of the greatest problems of the digital era we live in (but which began in the days of photocomposition, from the 1960s to the 1990s) is that there is only one matrix for each letter, regardless of size, which means that the design of the letter a in Garamond, for instance, is the same both 92 Comparison between the use of various Utopia font bodies Utopia (Robert Slimbach, 1989) and Utopia Std (Robert Slimbach, 2002), the latter designed with optical sizes. Fig 8 Comparação dos diferentes desenhos da Utopia Std Regular no mesmo tamanho. A amplitude para utilização da medida do corpo é: display, acima do corpo 24; subhead, entre 14 e 24; text, entre 9 e 13; caption, entre 6 e 8. Comparison of the different Utopia Std Regular designs with the same dimensions. The range of dimension utilization is: display, exceeding 24; subhead, between 14 and 24; text, between 9 and 13; caption, between 6 and 8. Fig 9 A mesma expressão composta num tipo de letra sem serifas e num tipo de letra serifado. A utilização de serifas, neste caso, não favorece a legibilidade. The same wording composed in a sans-serif font and in a serif font. In this situation, the use of serifs does not act in favour of legibility. papel. Por outro lado, em corpos muito grandes, a proporção entre as espessuras das partes da letra pode parecer pouco elegante. No tempo da composição manual (desde Gutenberg) e da composição mecânica (desde finais do século XIX até meados do século XX) o problema não se colocava porque para cada tamanho existia uma matriz diferente, com as espessuras adaptadas à redução e à ampliação. Nos dias de hoje, com os optical sizes consegue resolver-se o problema, uma vez que os tipos de letra com esta característica são redesenhados com quatro ou cinco variantes – independentemente de serem light, regular ou bold – onde os traços mais finos são engrossados à medida que são usados em corpos mais pequenos (figs. 7 e 8). Esta característica é muito útil na utilização de texto em português e em inglês. Uma vez decidido que o inglês teria uma coluna menor e, por consequência, o corpo da letra seria inferior, o texto neste idioma conseguiria, assim, resistir à redução do tamanho, mantendo um nível satisfatório de legibilidade. Existindo uma decisão sobre o tipo de letra para texto corrido, escolheu-se um segundo para outras situações de texto. Optou-se por ter mais do que um tipo de letra, de novo, por três razões. Primeiro porque se conseguiria uma maior variedade de soluções gráficas. Depois, porque as letras com serifas podem conferir um carácter demasiado clássico a uma publicação e a utilização de um segundo tipo de letra, desta vez não serifado, equilibra o clássico com o contemporâneo. Por último, a legibilidade: se as serifas favorecem a leitura em contínuo a falta delas favorece a leitura imediata (fig. 9). Fala-se de leitura imediata quando se está perante palavras soltas, títulos, pequenos textos com duas ou três linhas (subtítulos ou slogans, por exemplo) ou em textos com poucos caracteres por linha (legendas em colunas curtas de texto, 93 for font size 72 as for 6; the only difference is the reduction or amplification. The more slender strokes in small bodies raise issues of legibility which may in certain cases not be recorded on paper. On the other hand, with very large bodies, the proportion between the font thickness may appear as somewhat unpolished. When typecasting was manual (since Gutenberg) and then mechanical (from the late 1800s to the mid-1900s), the problem did not arise, since for each size there was a different matrix, with the thickness adjusted to reduction and amplification. In our time optical sizes solve the problem, given that the features of these letter types have been redesigned with four or five variants – regardless of being light, regular or bold – where the more delicate strokes are thickened as and when they are used in smaller bodies (figs. 7 and 8). This feature is very useful in using Portuguese and English text. When the decision had been made to give the English version a narrower column, thereby calling for a smaller letter body, the text in this language could thus withstand reduction in size, retaining a satisfactory degree of legibility. After a decision had been made regarding the font for discursive texts, a second one was chosen for other text situations. Here again, the option was to have more than one font, for three reasons. Because a greater variety of graphic solutions would be achieved. Then, because serif font can lend a publication too classical a look, and the use of a second font, sans-serif, achieves a balance between the classical and the contemporary. Finally, legibility: if the serifs por exemplo). Se se analisar atentamente o mundo da comunicação, a esmagadora maioria dos tipos de letra utilizados no texto corrido de livros, revistas e jornais são serifados, e a quase totalidade dos tipos utilizados em sinalização ou em publicidade são sem serifas. Dentro das letras sem serifas existem três grandes categorias: as grotescas, as geométricas e as humanistas (fig. 10). Das três, a menos comum é a humanista, mas é a que consegue conciliar num só tipo harmonia formal – que decorre da sua estrutura clássica – com contemporaneidade, devido à falta de serifas e pouco contraste entre as suas espessuras. Foi escolhida a Syntax, desenhada originalmente por Hans Eduard Meier em 1968 e redesenhada pelo próprio em 1989 e em 2000 e que, tal como a Chaparral Pro, é um tipo que não está ainda profusamente utilizado, oferecendo, assim, alguma novidade às Publicações da Fundação Robinson (ver fig. 11). Decididos os tipos de letra, teve de se proceder à formatação das várias situações de texto que se esperavam encontrar. Estas tomadas de decisão são efectuadas quase sempre em simultâneo com o desenho da grelha e é frequente que se volte atrás várias vezes alterando ou a medida de determinada coluna, ou o corpo de determinado tipo de texto ou a medida da entrelinha de um outro. Handgloves Grotescas Grotesque Handgloves Geométricas Geometrical Handgloves Handgloves Fig 10 Diferenças no desenho das três principais categorias de letras sem serifas: grotescas, geométricas e humanistas. Os tipos de letra representados são: Helvetica (Max Miedinger, 1951), Avant Garde (Herb Lubalin e Tom Carnase, 1970) e Gill Sans (Eric Gill, 1932). O último exemplo, a cinzento, é o tipo Garamond, representado para se poder comparar a estrutura do desenho das humanistas clássicas com o das humanistas sem serifas. Humanistas Humanist Clássicas Humanistas Classic Humanist facilitate continuous reading, the lack thereof favours single word reading (fig. 9) Differences in the design of the three main sans-serif font families: Grotesque, Geometric and Humanist. The fonts illustrated are Univers (Adrian Frutiger, 1954), Avant Garde (Herb Lubalin and Tom Carnase, 1970) and Gill Sans (Eric Gill, 1932). The latter example, in grey, is Garamond, included to enable comparison between the Classical Humanist design structure and sans-serif Humanist. Single word reading signifies reading single words, titles, short texts comprising three or four lines (captions or slogans, for instance) or texts with few characters per line (captions in short text columns, for instance). If the world of communication is closely scrutinized, the vast majority of fonts used in the discursive text found in Fig 11 Tipo de letra Syntax, nas suas variantes de espessura: roman, bold, black e ultra black. Syntax typeface, in its variants: Roman, bold, black and ultra black. O desenho da grelha A grelha de uma publicação é a estrutura geométrica, invisível ao leitor, que serve de suporte para a colocação de todos os seus conteúdos gráficos. É a garantia de uma necessária coerência visual entre as suas partes. No caso de se tratar do miolo de uma publicação há que desenhar uma grelha para o par de páginas esquerda/direita (ou par/ímpar, como é geralmente denominado no mundo gráfico). Uma boa grelha deve ser aquela que dá hipótese de se criarem páginas com soluções de 94 books, magazines and newspapers are serif, and the near Fig 12 Medidas da grelha em milímetros. Áreas para colocação de texto e área máxima para inserção de imagens. totality of fonts used in signposting or in advertising are sans-serif. Grid measurements in millimetres. Areas for pouring in text and maximum area for placing images. Sans-serif fonts comprise three major families: the Grotesque, the Geometric and the Humanist (fig. 10). Of the three, the less widely used is the Humanist, but it is the type family which combines in a single typeface formal harmony – deriving from its classical structure – with a contemporary look, given the lack of serifs and negligible contrast between degrees of thickness. The choice went to Syntax, originally designed by Hans Eduard Meier in 1968 and redesigned by Fig 13 Simulação de todas as soluções de inserção de imagens, com formato ao alto (a verde) e ao baixo (a cor-de-rosa), consoante a sua dimensão, numeradas desde a mais estreita até à mais larga. him in 1989 and 2000 and which, like Chaparral Pro, is a font which is not yet widely in use, thus offering some freshness to Robinson Foundation Publications (see fig. 11). Simulation of all the solutions for image insertion, in portrait (green) and width (pink), depending on dimensions, numbered from the narrowest to the widest. Having decided on the fonts, thought had to be given to the formatting of the different text situations which could be expected to occur. This decision-making almost always arises at the same time as the grid design, and the need is often felt to go back several times with a view to altering either the dimension of a given column or body text fonts or the linespacing. The grid design A publication’s grid is the geometric structure, invisible to readers, which supports the placing of all graphic contents. It vouchsafes the necessary visual consistency of its parts. When considering the core of a publication, a grid must be designed for the two pages, lef/right (or odd/ even as it is usually called in the graphic arts). A good grid is that which makes it possible to create pages with diversified pouring in solutions within a clear formal unit. There were a number of fundamental issues when it came to dividing the space available: the 24 x 27.5 cm format. 95 arrumação diversificadas dentro de uma evidente unidade formal. Existiram algumas preocupações de base que estiveram presentes no momento de dividir o espaço disponível: o formato 24 × 27,5 cm. Em primeiro lugar, a gestão do espaço não impresso, que teria de ser muito cuidado de modo a conferir um aspecto desafogado à publicação. Dar especial atenção às áreas brancas significa que se está a dar particular importância às áreas com conteúdo. Simplificando: o vazio valoriza o preenchido. As edições culturais exploram quase sempre este princípio. É também importante que o leitor tenha áreas de descanso visual ao longo da publicação. De seguida, a distribuição das colunas de texto. Tendo já sido decidido que o português teria uma coluna de texto mais larga do que o inglês, desenhou-se ainda uma terceira coluna, mais estreita, que iria servir de base para a colocação de todas as legendas de imagens (fig. 12). To begin with, the management of the print-free areas which have to be very carefully handled so as to lend an uncluttered look to the publication. Giving special attention to the blank areas means that the greatest importance is being given to the content areas. To simplify, what is blank valorizes that which is filled in. Cultural publications almost always exploit this principle. It is equally important that readers have areas of visual respite throughout the publication. Then came the issue of text column design. Having already decided that the Portuguese version would have a wider text column than the English, a third, narrower column was designed, intended to act as a base for placing all the image captions (fig. 12). Even though a classic grid always tends towards symmetry, the option was to place the Portuguese text always Fig 14 Pré-maqueta do miolo. on the left and the English always on the right. It thus Pre-mockup of the core. 96 Muito embora a grelha clássica tenda a ser simétrica, optou-se por colocar o português sempre do lado esquerdo e o inglês sempre do direito. Assim, é mais rápido para o leitor de qualquer dos idiomas encontrar o sítio onde continuar a sua leitura quando muda de página. A coluna para as legendas, sendo autónoma do problema linguístico, já que contém as legendas em ambas as línguas, ficou colocada simetricamente, na parte interior das páginas. As vantagens desta grelha com duas colunas de texto e uma de legendas são claras: por um lado, liberta totalmente as imagens (das suas legendas) permitindo a sua observação autónoma; por outro, cria uma nova alternativa para a colocação e dimensionamento das imagens. A solução encontrada de três colunas desiguais favorece uma variedade de dimensões possíveis de imagens que pode chegar a catorze (fig. 13). Como já foi referido, a grelha é definida em paralelo com a formatação das diversas categorias de texto. Para uma correcta interpretação dos conteúdos das publicações, a construção da pré-maqueta foi feita a partir de originais provisórios do texto e de imagem fornecidos pela Fundação. O resultado foi a paginação da ficha técnica, do índice e do parte de um artigo (fig. 14). becomes easier for readers of either language to find their A capa Para o design da capa, de novo, é preciso entender as expectativas do editor. Esperava-se que as Publicações da Fundação Robinson fossem dotadas de uma identidade própria e com um alto grau de reconhecibilidade. Cedo se tomou a decisão de que qualquer que fosse a extensão de cada número, ele teria sempre o mesmo formato. A maior diferença seria a espessura, o que levaria a que as edições tivessem, ou não, lombada, caso o número de páginas fosse superior ou inferior a 32 páginas. publisher’s expectations. It was hoped that Robinson Foun- place when turning the page. The captions column, being as it is independent as regards the language issue since it contains captions in both languages, was placed symmetrically in the inner area of the pages. The advantages of this grid - bearing two text columns and one caption column – are clear: on the one hand, it frees the images completely, making them easy to look at as independent entities, and on the other hand, it makes for a new alternative when placing the images. The solution chosen, of three columns of unequal dimensions, works in favour of a large variety of image dimensions, which can reach fourteen (fig. 13). As already mentioned, the grid is defined parallel to the formatting of the different text categories. To achieve a proper interpretation of the publication’s contents, the pre-mockup was tested using temporary text and image originals supplied by the Foundation. The result was the layout of the technical credits, of the table of contents and of part of an article (fig. 14). The cover Again, for the cover design the designer has to grasp the 97 dation Publications could be endowed with a striking identity and a high degree of recognizability. Early on the decision was made that, irrespective of each issue’s number of pages, it would always have the same format. The greater difference would be in the thickness of the issue, which would mean that the issues would, or would not, have a spine, depending on whether or not the number of pages exceeded 32 pages. Conveying to the cover the core content features, respecting the print-free areas, it was decided that the Fig 15 Pré-maqueta da capa, com solução para três números. A primeira com fotografia a preto-e-branco e as restantes com fotografia a cores. Pre-mockup of the cover, with solutions for three issues. The first displays a black and white photograph, the second and third a colour photograph. Transportando para a capa a característica do miolo de existir um respeito pelas áreas vazias, decidiu-se que a capa iria ser dividida a meio no sentido horizontal, reservando a metade inferior para iconografia, sem a interferência de qualquer tipo de texto, sendo este colocado na metade superior. Optou-se por utilizar uma cor de fundo para esta área, a mesma para todos os números das Publicações, já que a unidade cromática seria fundamental para conferir um aspecto unificante à série. O cinzento escuro pareceu ser a decisão mais óbvia: porque a sua neutralidade garantia que qualquer contraste cromático com a fotografia da capa seria eficaz, quer a imagem fosse colorida ou a preto-e-branco e, também, por ser uma das duas cores da imagem institucional da Fundação Robinson. Sendo esse cinzento (Pantone 431) um pouco claro para funcionar bem como fundo, escolheu-se um cinzento ligeiramente mais escuro (Pantone 432). Tomou-se a decisão de assinalar a numeração das publicações num corpo assumidamente grande, de modo a simplificar a sua distinção. O único modo de poder ampliar-se muito o número teria de ser compensando o seu grau de contraste lumínico com o fundo. Se compararmos o tamanho do título cover be divided in half horizontally. The lower half would be devoted to iconographic features, completely free of any type of text, with the latter being placed in the upper half. The option was to have a background colour for this area, the same for every one of the Publications’ issues, given that chromatic uniformity would be key to bestowing a unitary look to the series. Dark grey seemed the most obvious choice. Its neutrality guaranteed that any chromatic contrast with the cover photograph would be effective, whether it was a colour or black and white photograph, and also because it is one of the two colours of the Robinson Foundation’s logo. That hue (Pantone 431) being a little too light to act effectively as a background, a slightly darker grey (Pantone 432) was chosen. It was decided to highlight the numbering of the issues in a deliberately large format, so as to simplify its prominence. The only way of significantly amplifying the number would have to be by making up for its degree of luminic contrast with the background. If we compare the size of the publication’s title in Portuguese, 18 points, to that of the 98 em português da publicação, 18 pontos, e o do número, 175 pontos, é quase dez vezes maior. Sendo o título em português de cor branca, contraste máximo com o fundo, conseguiu fazer-se essa compensação pintando o número com um cinzento ligeiramente mais escuro do que o do fundo. Esta solução gráfica para a capa, a par de uma rigorosa selecção da imagem, contribuiria para conferir a individualidade necessária de cada edição dentro da esperada uniformidade do design de uma série de publicações (fig. 15). number, 175 points, it is almost ten times greater. The title Todas as situações que não ficaram retratadas na pré-maqueta, foram naturalmente resolvidas com a edição de cada um dos números. Algumas alterações tiveram de ser feitas tendo em conta os novos dados que foram fornecidos com os conteúdos definitivos. De qualquer modo, aqui fica uma memória descritiva das opções tomadas e que esperamos contribua para que o leitor possa agora ver, de uma nova perspectiva, os pormenores gráficos, não só destas Publicações, mas de todas. All the situations that were not resolved in the pre- in Portuguese being white, the maximum contrast with the background, it was possible to effect the above counterbalance by painting the number in a slightly darker shade of grey than that of the background. This graphic solution for the cover, when added to a rigorous image selection, would contribute towards the needed individuality of each issue within the expected design uniformity of a publication series (fig. 15). mockup were of course solved during the course of publishing the issues. Some changes had to be made on account of new data provided by the finalized contents. In any event, here is a descriptive memory of the solutions opted for and which we hope may be an insight for readers into the graphic details not just of the Robinson Foundation Publications but also of other publications. notas note ¹ 1 ² 99 O design gráfico pode definir-se como a actividade de quem dá forma a uma necessidade de comunicação de uma entidade (pessoal, empresarial ou institucional) escolhendo, criando e dispondo signos visuais e linguísticos num dado suporte, dando origem a um produto gráfico. A frase “The quick brown fox jumps over a lazy dog” é desde há muito utilizada em catálogos de venda de tipos de letra pela simples razão que numa pequena frase consegue mostrar-se a totalidade do desenho de todas as 26 letras do alfabeto anglo-saxónico. É sabido que o sistema operativo Windows da Microsoft, desde a sua primeira versão, tem a sua tradução em português, que é: “A rápida raposa castanha salta em cima do cão lento”. Ela surge cada vez que se pressiona em qualquer ficheiro de fonte. Esta frase não é utilizada neste artigo para mostrar o desenho dos tipos de letra das Publicações da Fundação Robinson, mantendo-se a expressão original em inglês, porque ela é totalmente desadequada: apenas mostra 14 das 23 letras do nosso alfabeto, deixando de fora as letras: b, f, g, j, q, u, v, x e z. Graphic design can be defined as the activity of the person who gives shape to a need for communication on the part of an entity (personal, business, or institutional), choosing, creating and arranging visual and language signs on a given frame, originating a graphic product. Como a cortiça, a cultura “vem sempre ao de cima” Traços de um esboço de programação de cultura Like cork, culture always ‘bobs to the surface’ Traces of a draft of culture programming António Camões Gouveia FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DA U.N.L., COORDENADOR CIENTÍFICO DA FUNDAÇÃO ROBINSON FCSH, UNL, SCIENTIFIC COORDINATOR OF THE ROBINSON FOUNDATION Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 100-119, ISSN 1646-7116 [“ao de cima”, “vir ao de cima”, como o azeite sobre a água, que vem sempre “ao de cima”; forma de dizer de alentejano; dizer que quer dizer, “é assim!”, “tome o tempo que tomar, vem ao de cima!”] [porque é que é assim? compreender e saber explicar porque é que a cultura vem sempre “ao de cima” e o que é o “de cima”, é o que faz deste dizer de alentejano, um dizer de alentejano em “situação” de cultura] [‘Bobs to the surface’, like oil in water, which always ‘bobs to the surface’; an Alentejan saying; meaning ‘that’s the way it is!’, ‘however long it takes, it bobs to the surface!’ [Why does this happen? Understanding and being able to explain why it is that Culture always ‘bobs to the surface’ and the meaning of ‘to the surface’ is what makes of this Alentejan saying a saying by an Alentejan in a culture ‘situation’] Em primeiro lugar, Portalegre Uma História, temporalidades entrecruzadas e, hoje, mais ou menos compreendidas, e uma paisagem, encostas de uma serra em plano alto, olhando as planícies. Como qualquer cidade, senhora de especificidades quer nessa História, quer nesse território-paisagem. Programar com Portalegre Alguns nomes locais, ou inseridos na grandeza local, notabilizaram-se no campo da Cultura. Muitas vezes, na maior parte das vezes, notabilizaram-se mais em obras de índole historiográfica nacional, Histórias da Cultura, da Literatura, da Arte, do que são instrumentos de actuação de memória. Realmente, são mais parte da referida grandeza local, que se quer afirmar e defender, do que da memória local. Entre outros, poucos outros, Cristovão Falcão (1515?,1518?-depois de 1553), Diogo Pereira de Sotto Maior (1550/1560?-1632), 101 First of all, Portalegre A History, criss-crossing temporalities and nowadays more or less understood, and a landscape, slopes of a mountain high above gazing out at the plains. Like any other town, the mistress of specificities both in that History and in that landscape-territory. Programming with Portalegre Some local names, or those which are inserted in the the local notables, carved a place in the field of Culture. Very often, most often, they made their mark rather more in works of national historiography, Histories of Culture, Literature, Art, than becoming instruments of memory acts. In fact they are rather more part of the local notables mentioned earlier, who wish to assert and defend themselves, than of the local memory. Among others, few others, Cristovão Falcão (1515?/1518?-after 1553), Diogo Pereira Mouzinho da Silveira (1780-1849), Benvindo Ceia (18701941), José Régio (1901-1969), João Tavares (1908-1984). Ao programar, ao fazer crescer os nomes de acréscimo à grandeza local temos a veleidade, o desejo, de deixar nela impressos outros nomes, os de George Robinson, George Wheelhouse Robinson, Rui Sequeira ou Eduardo Souto Moura. O tempo, os construtores de história, um dia deles falarão ou deixá-los-ão esquecidos? Por estas razões torna-se imperioso encontrar um dia capaz de fixar atenções sobre as dimensões de desempenho humano próximas da Fundação Robinson. Por um acaso, e o acaso faz parte da História, há um dia que reuniria todas e mais algumas capacidades de ser emblemático e detentor em si de uma dinâmica de Cultura. O dia, 17 de Setembro, corresponde ao dia de nascimento em Portalegre, na Boavista, do primeiro Robinson com dimensão histórica, falamos de George Wheelhouse Robinson, o grande organizador da firma e construtor das realidades fabris potenciadoras de produção de qualidade e de riqueza. Mas o dia 17 de Setembro corresponde ainda ao dia em que, em 1901, nasceu o futuro professor José Maria dos Reis Pereira, o marcante e inultrapassável autor da Toada de Portalegre, José Régio. Há que pensar esta data, fazer deste dia acto de Cultura, juntando nele uma permanência de memória, José Régio, com uma novidade dinâmica, mas não memorial, George Wheelhouse Robinson, os Robinson, a Fábrica, a Fundação Robinson. De seguida, importa reflectir sobre as bases temporais, históricas, do acontecer citadino portalegrense, suas manchas humanas, de povoado, de espaços rurais, seus costumes, os discursos que tudo isto tem possibilitado e aqueles que se têm imposto ou que se têm perdido no passar dos dias, importaria não esquecer o esquecido e percebê-lo, importariam anos e anos, equipas e investigadores individuais a con- de Sotto Maior (1550/1560?-1632), Mouzinho da Silveira (1780-1849), Benvindo Ceia (1870-1941), José Régio (19011969), João Tavares (1908-1984). In our programming, in lengthening the list of local notables, we feel the whim, the wish to commit other names to print, those of George Robinson, George Wheelhouse Robinson, Rui Sequeira or Eduardo Souto Moura. Will Time, the builders of history, one day speak of them or will they leave them in oblivion? For these reasons, it is of the utmost necessity to find a day that will direct everyone’s attention to the dimensions of human performance close to the Robinson Foundation. By chance, and chance is part of History, there is a day which would bring together all and every capacity for being emblematic and for containing within it a Cultural dynamic. That day, 17 Semptember, is the date of birth – in Portalegre, in Boavista – of the first historically significant Robinson; I refer to George Whellhouse Robinson, the great organiser of the Company and builder of the manufacturing realities with the capacity to trigger quality production and wealth. But 17 September also corresponds to the date of birth, in 1901, of the future teacher, José Maria dos Reis Pereira, the unforgettable, magisterial author of ‘Toada de Portalegre’, José Régio. This date must be pondered, must be made an act of Culture, bringing together a permanence of memory, José Régio, and the dynamic, but not of the memory, news, George Wheelhouse Robinson, the Robinsons, the Factory, the Robinson Foundation. It then becomes necessary to reflect on the temporal, historical foundations of the urban, Portalegre experience, its human traces, of the rural spaces, their customs, the discourse which all of this has made possible and those who have made their mark or who have become lost with the passing of the days; it is important not to forget the forgot- 102 tribuir para a percepção da realidade de construção de Cultura que se denota e que cresce em Portalegre. Hoje temos de saltar mais alto e mais rápido, ser mais explosivos. Possivelmente arriscar-nos a queimar parcelas de obervação ou a perder elementos da construção dos pintores e do quadro. Temos de programar, contando com estruturas e componentes, uns mais aferidos do que os outros mas, ainda que de forma elementar, dar a perceber que temos a noção do arriscado que é aquilo que estamos a fazer. Sem programar, sem percepção do ontem como do hoje, é dificil traçar planos de Cultura que venham a intervir no dia-a-dia de cada um dos que em Portalegre vivem, por ali passam ou aí se esquecem do tempo e agradavelmente permanecem. Mais, é impossível conseguir Cultura, uma vez que esta resulta sempre de movimento, de diferentes ritmos e perspectivas, de aceitações e rejeições e, por isso, tem de ser considerada, aceite, “bem querida”, por qualquer um daqueles, os de Portalegre, os passeantes ou os recém-chegados. De forma mais incisiva, clara e concludente, de tudo isto disse por escrito António Pinto Ribeiro: “Autopreservando-se de um modo mais ou menos aberto, uma programação está a fazer a sua história nos espectáculos e nos reportórios, actualizando e activando os seus artistas, os seus criadores, os seus temas. Estabelece uma relação com o que lhe foi legado — o património —, reactiva-o e propõe o que é imanente no presente e o que, porventura, deixará ao futuro. É uma história imaterial em constituição e em revisão permanentes, mas representa uma das maiores expectativas da comunidade — a que se destina a programação — porque é a vivificação do imaginário quer comum, quer particular.”1 Na realidade na Fundação Robinson programamos estruturas e não actividades, estruturas que geram criação ou 103 ten and understand it; it would take years and years, teams and individual researchers contributing to the perception of the reality of building Culture which can be observed and which grows in Portalegre. Nowadays we must leap higher and more swiftly, be more explosive. Possibly risk burning parts of observation or losing elements of the construction of painters and of the painting. We must programme, counting on structures and components, some more assessed than others but, even if in an elementary fashion, make it known that we are aware of how risky what we are doing is. Without programming, without a sense of yesterday or of today, it is difficult to outline Cultural plans which can intervene in the day-to-day life of each of Portalegre’s inhabitants, those who visit it in passing or those who forget time and pleasurably stay on. More than this, it is impossible to achieve Culture, since this always derives from movement, different rhythms and perspectives, from accepting and rejecting, and has therefore to be considered accepted, ‘nurtured’, by any one of those, Portalegrans, the tourists or the recently arrived. In a more incisive, clear and authoratitave way, António Pinto Ribeiro put all this in writing: ‘Preserving itself in a more or less open way, a programming activity is making its history in the performances and repertoirs, updating and activating its artists, its creators, its themes. It sets up a relation with what has been handed down to it – heritage –, reactivates it and proposes that which is immanent in the present and what it will perchance bequeath to the future. It is an immaterial history in a permanent state of being built and revised, but it represents one of the greatest expectations of the community – the target of programming – because it is the proporcionam meios de produção que conduzem a actividades. A programação que propomos, mais lenta, menos evidente, menos triunfalista, mais contida, pretende ganhar tonalidades de uma política das artes e não de uma política de eventos ou casos, ainda que de Cultura. embodiment of the imaginary, both communal and individual’ 1. Actually, at the Robinson Foundation we programme structures, not activities, structures which generate creation or provide means of production that lead to activities. The programming we propose – slower, less obvious, Auto-conhecimento Portalegre conhece-se mal (desconhece-se?). Tem de se conhecer e de se descobrir. Ora, também aí, a programação da Fundação Robinson pode ajudar. O núcleo central da Fundação, a Fábrica, está na meia encosta do topo da cidade, está a caminho da serra, essa serra do Alentejo tão mal conhecida nas suas imposições identitárias. Se se consolidar o caminho de Cultura, que vamos deixar construir pelo hábito, do interior para o exterior da Fábrica, é possível que os seus utentes tenham vontade de subir mais, de trepar até ao cimo da serra e, assim, começar por aí a passear, deixando-se estar e, depois, procurar conhecer o que se olha, o mesmo é dizer, observar. “Que o português médio conhece mal a sua terra — inclusive aquela que habita e tem por sua em sentido próprio — é um facto que releva de um mais genérico comportamento nacional, o de viver mais a sua existência do que compreendê-la. Descaso de consequências inumeráveis ou desprendimento sublime, herança contemplativa ou simples reflexo de uma urgência vital que nunca deixou muita margem para teoria, esse comportamento é responsável pelo penoso e já antigo sentimento que no século XIX foi quase o lugar-comum dos seus homens mais ilustres, de que estamos ausentes da nossa própria realidade.”2 E por isso, noutro lugar e mais tarde, falando dos portugueses e de Portugal, Eduardo Lourenço há-de escrever, “O encontro com os outros é o verdadeiro encontro connosco.”3 less triumphalist, more contained – aims to gain the tonalities of a politics of the arts and not of a politics of events or cases, albeit of Culture. Self-knowledge Portalegre knows itself insufficiently (does not know itself?). It has to get to know and discover itself. Here too the Robinson Foundation’s programming can help. The central nucleus of the Foundation, the factory, stands on the half slope of the topmost part of the town, it is on its way to the mountain, that Alentejan mountain which is so little known in its identitary impositions. If we consolidate the pathway of Culture, which we will let habit build up, from inside the Factory to the outdoors, it is possible that its users will feel like going further up, climbing to the top of the mountain and thus begin to go for walks there, lingering, and then seek to get to know what meets the gaze, which is the same as saying to observe. ‘That the average Portuguese know their country insufficiently – including that part of it where they live or consider their own in the true sense – is a fact that stems from a more generic national stance, that of living their existence more than understanding it. An inattention which is the outcome of countless consequences or sublime detachment, contemplative legacy or the simple reflex of a vital urgency which has never left much margin for theory, this stance is responsible for the painful and by now old sentiment which 104 As realidades e o conceito de “Espaço Robinson” O “Espaço Robinson” é o resultado de dois vectores temporais: a realidade da cerca do Convento de São Francisco (século XIII,…) e a instalação nela da Fábrica de Cortiça pelo inglês George Robinson (século XIX, …). “A industrialização, como é óbvio, não se explica por si mesma. Efeito de um complexo processus de causas nacionais e internacionais, está, por seu turno, na origem de modificações profundas na economia, na sociedade e na vida cultural de um povo. Para compreendermos capazmente o condicionalismo da industrialização de um país em dada época, deveremos entrar em linha de conta, pelo menos, com os seguintes factores: curvas de preços, balança comercial, mentalidade e apetrechamento técnicos, ideologia económica, acontecimentos políticos e legislativos, e conjuntura internacional.”4 É História, e história ainda por fazer, não é memória. A memória de um espaço pode ser detectada e estudada nas suas realidades de adopção, ou de repúdio, de vivência plena, ou de esquecimento por sobreposição de usos ou de denominação toponímica, por vezes muito arredadas da História da paisagem aí acontecida anteriormente, sobretudo se pensarmos paisagem como um complexo relacionado de homens e actividades, de relação/integração no natural. Como chama a atenção José Matoso, “guardar a memória do agir colectivo, corresponde, portanto, a demonstrar que o grupo existe, isto é que não é um mero agregado de indivíduos, que se pode distinguir de outros grupos, que mantém a sua coerência, que é capaz de vencer ataques externos ou dificuldades internas, e de subsistir como suporte dos indivíduos que o compõem.”5 O “Espaço Robinson” é articulado. A linha de serra que a Fábrica é desce até às muralhas da Rua 31 de Maio, passando por São Francisco, pela manufactura das Tapeçarias (no 105 in the nineteenth century was almost a commonplace of its most illustrious men, that we are absent from our own reality’2. And because of this, in another place, later, speaking of the Portuguese and of Portugal, Eduardo Lourenço would write: ‘The encounter with others is the true encounter with ourselves.’3 The ‘Robinson Space’: the realities and the concept The ‘Robinson Space’ is the result of two temporal vectors: the fact of the enclosure of the Convent of St. Francis (thirteenth century, …) and the installation within it of the Cork Factory by the British George Robinson (nineteenth century, …). ‘It is obvious that industrialisation cannot alone explain itself. The effect of a complex process of national and international causes, it is in turn at the source of deep modifications in the economy, in society and in the cultural life of a people. Properly to understand the conditioning of the industrialisation of a country at a given time, we must take into account at least the following factors: price curves, business balance, the mentality and technical equipment, the economic ideology, political and legislative events, and the international state of affairs.’4 This is History, and a history yet to be written, it is not memory. The memory of a space can be detected and studied in its realities regarding the adoption or rejection, fully lived, or of oblivion due to the super-impostion of uses or toponimical denomination, at times very distant from the History of the landscape which had previously happened in that place, above all if we think of landscape as a complex relation of people and activities, of relation/integration in the natural. As José Matoso has remarked, ‘keeping the memory of collective action therefore corresponds to showing antigo lagar dos Robinson), pela Casa do poeta José Régio, hoje casa-museu, pelo Centro de Artes do Espectáculo, a Praça da República e as suas casas apalaçadas, o Castelo e a Barbacã, o Arquivo Distrital, noutra casa palácio, pela Biblioteca Municipal, outro antigo convento, o Museu Municipal, espaço à sombra do eclesiástico desde a sua origem eclesiástica, o futuro Arquivo Municipal, na antiga Câmara, o largo da Sé, onde irá nascer o Museu do Tesouro da Catedral e onde se situa o Arquivo da Cúria Diocesana, o Museu das Tapeçarias, outra casa apalaçada que como Museu merece ser repensado, as muralhas e, o olhar a espraiar-se para fora da cidade, mais uma vez a olhar planície, deixando em aberto a hipótese do passeio até ao Rossio, ponto de encontro e de cruzamento, sombra dos novos Paços do Concelho, antigo Colégio Jesuíta e Manufactura em tempo de Pombal, que na era de oitocentos também o foi, entre outros, dos Robinson. A leitura histórico-espacial (urbana, peri-urbana e regional) que daqui resulta conduziu a um projecto de Cultura em que se procurará intervir no tecido e nas realidades culturais de Portalegre marcando, quer num caso, quer no outro, pela afirmação da diferença cultural do “ser” e “fazer” contemporâneo. Há já um exemplo claro do fazer em “Espaço Robinson”. Das linhas de um equipamento industrial pré-existente, as tubagens dos topos edificados e de atravessamento dos espaços, a criatividade construtiva dos arquitectos Eduardo Souto Moura e Graça Correia traçaram a originalidade em forma de gestão da “cabeleira” técnica da Escola de Hotelaria. Estamos perante uma “Alta” de Cultura! O resultado que se espera é o de cruzamento a vários níveis e com vários públicos, ou seja, o “Espaço Robinson” é um plural temporal e temático que, em síntese, será caminho imenso de explosões de Cultura. Ora já alguém, Eduardo that the group exists, that is, that it is not a mere grouping of individuals who can be distinguished from other groups, which retains its coherence, can withstand external attacks or internal difficulties and carry on as a support for the individuals who comprise it.’5 The ‘Robinson Space’ is articulated. The mountain line that the Factory is descends to the walls of Rua 31 de Maio, passing St. Francis, the Tapestry factory (in the old Robinson wine-press), the house of the poet José Régio, now a museum, the Performing Arts Centre, Praça da República and its mansions, the Castle and Barbacã, the Municipal Archive – in another mansion –, the Municipal Library – another old convent –, the Municipal Museum – a space in the shadow of the ecclesiastical since its ecclesiastical beginnings –, the future Municipal Archive – in the old Town Hall –, the Cathedral square, where the town will install the Cathedral Treasures Museum and where we find the Archive of the Diocesan Curia, the Tapestry Museum – another mansion which deserves to be pondered anew as a Museum –, the walls and, our gaze spreading out beyond the town, once again looking at the plains, suggesting the possiblity of strolling to Rocio, the meeting point and crossroads, the shadow of the new Paços do Concelho, formerly a Jesuit College and Factory in Pombal’s day, which during the 1800s belonged, it too, to the Robinsons, among others. The historical-spatial reading (urban, peri-urban and regional) stemming from this has led to a Cultural project which will enable us to intervene in Portalegre’s cultural fabric and realities, in both cases drawing the affirmation of the cultural difference between contemporary ‘being’ and ‘doing’. We already have a clear example of doing in the ‘Robinson Space’. Out of the lines of a pre-existing industrial equipment, the tubes of the built tops and of crossing 106 Lourenço, nos escreveu e reescreveu que “em sentido óbvio, toda a humanidade está em relação imediata com a cultura. A cultura pode ser mesmo a definição humana do homem como ser que enraizado na natureza, dela se separa pela criação de símbolos ligados à sua condição de ser falante. (…). O que cedo distinguiu a Europa foi, não apenas uma maneira particular de ser cultura, mas a invenção mesma da atitude e da realidade da Cultura como domínio autónomo. [Os europeus] podem não ter sido nem os mais sábios, nem os mais fortes, nem os mais ricos. Mas foram, e creio que o são ainda, certamente os mais loucos, os mais loucos, precisamente, de Cultura.”6 Esta é a loucura a compreender e a programar para uma constituição plena e praticável de “Espaço Robinson”. A construção deste mundo da Cultura, enquanto configuração de pensadores-investigadores, produtores especializados e fruidores, assenta numa multiplicação de liberdades e de saberes que não só conduzem à integração de projectos globais de desenvolvimento como possibilitam apetências para a criação de riquezas e de bem-estar. Mais do que uma nova área económica a Cultura é uma envolvência, transversal a toda a sociedade e a todos os poderes, e radica num conjunto evidente de despesas e num, pouco evidente, mesmo invisível!, conjunto de situações e realidades lucrativas. No entanto, as práticas de Cultura são um dos factores, senão o factor, que mais pode contribuir para a ultrapassagem ou revisão de modelos económicos com repercussões na vida dos cidadãos. of the spaces, the constructive creativity of the architects Eduardo Souto Moura and Graça Correia have carved originality in management form of the technical ‘hairdo’ of the School of Hospitality. We have before us a Cultural ‘High’! The hoped-for result is that of criss-crossing at various levels and with various publics, that is, the ‘Robinson Space’ is a temporal and thematic plural which, essentially, will be an immense pathway for explosions of Culture. Someone, Eduardo Lourenço has written and re-written for us that ‘in an obvious sense, all of humanity stands in immediate relation to culture. Culture can even be the human definition of humankind as beings who, rooted in nature, depart from it by creating symbols linked to their condition of speaking beings. (…) What distinguished Europe early on was not simply a peculiar way of being culture but the very invention of the attitude and of the reality of Culture as an autonomous domain. [Europeans] may not have been the wisest, nor the strongest, nor the richest. But they were, and I believe still are, certainly the craziest, the craziest precisely about Culture.’6 This is the craziness we must understand and programme for a full and workable consitution of the ‘Robinson Space’. Building this Cultural world, as a configuration of thinkers-researchers, specialised and consumers, rests on a multiplicity of freedoms and knowledge which not only lead to the integration of global development projects but also make it possible to desire the creation of wealth and welfare. A Fábrica A Fábrica é a dimensão definitória da realidade do “Espaço Robinson”. A Fábrica da “rolha”, da “cortiça”, a “corticeira”, a “corticeira Robinson”, a “Robinson”, … Esta Fábrica é alem de conteúdos económicos, empresariais ou laborais, um local 107 More than a new economic area, Culture is an envelopment, transversal to all of society and to all powers, and is rooted in an obvious set of expenses and in one, not very obvious, even invisible!, set of lucrative situations and realities. However, the practices of Culture are one of the factors, if not de vida quotidiana, em que o fabril de décadas criou hábitos, rotinas, atitudes e histórias na História. Uma grande Fábrica, como aquela que pela sua realidade económico-social contribuiu, desde os meados do século XIX, para a construção do “aglomerado” (com desculpas pelo facilitismo da metáfora!) que é a sociedade de Portalegre. O “Espaço Robinson” é como o “aglomerado”. A cortiça não deixa de ser cortiça, os grãos ganham consistência e coesão mas continuam a ser grãos. Quanto à cor que esses grãos podem ganhar, é a cor da fruição e do bem-estar da Cultura. O caminho de Cultura que ligará as fachadas da Igreja e Convento de São Francisco e da Fábrica Robinson ao interior da colina que conduz à serra, por entre claustros, armazéns e espaços de terreno virgem, manterá não só as alternâncias temporais como as formais, a propósito da Cultura que nele se passeia. Paulo Cunha e Silva escreveu, ao fazer um balanço da programação que criou para o Porto 2001. Capital europeia da Cultura, algo que a propósito do “caminho Robinson” se aplica facilmente, mais, que temos como uma das metas de diferença quotidiana que gostaríamos de conseguir comunicar e para ela criar adeptos capazes de proporcionar a sua aplicação. “Uma cidade é sobretudo um local de cruzamentos, não há cidades feitas só com ruas paralelas. As cidades são locais em que as pessoas podem mudar de direcção quando querem e, justamente, quando pretendem chegar a um qualquer lugar. (…). A cidade física cruza-se com a cidade já sedimentada sob o ponto de vista imaginário.”7 A ideia é simples, clara, mas muito forte: “importa, assim, fazer uma revisitação dos espaços previsíveis de uma forma imprevisível.”8 O programador portuense registou a frase como um dos tópicos do projecto, também ele de denominação apetecível, the factor, which contribute the most to surpassing or revising economic models with repercussions in citizens’ lives. The Factory The Factory is the defining dimension of the reality of the ‘Robinson Space’. The Factory of the ‘cork-stopper’, of ‘cork’, the ‘cork factory’, the ‘Robinson cork factory’, ‘Robinson’s’. This Factory is, beyond economic, entrepreneurial or labour contents, a place of everyday life, in which decades of manufacturing created habits, routines, attitudes and stories in History. A great Factory such as the one which, by its socio-economic reality, contributed from the mid-nineteenth century to the construction of the ‘agglomerate’ (with apologies for the play on words) which is Portalegre society. The ‘Robinson Space’ is like ‘agglomerate’. Cork does not stop being cork, the grains gain consistency and cohesion but they carry on being grains. As for the colour these grains may take on, it is the colour of the enjoyment and welfare of Culture. The pathway of Culture which will link the façades of the Church and Convent of Saint Francis and the Robinson Factory to the inner part of the hill leading to the mountain, passing cloisters, warehouses and spaces of untouched land, will keep not only the temporal but also the formal alternating, a propos of the Culture which strolls throughout it. Summing up the programming he created for ‘Porto 2001. European Culture Capital’, Paulo Cunha e Silva wrote a sentiment which applies easily to the ‘Robinson pathway’, even more, that we have as one of the goals of everyday diference which we wish to be able to communicate and create for it admirers capable of applying it. ‘A city is above all a place where paths cross, there are no cities built just with parallel streets. Cities are places where people can re-direct 108 A experiência do lugar. Denominação que nos faz de imediato lembrar frases anteriores sobre a necessidade de Portalegre se “conhecer”, ou talvez “reconhecer”, e por isso ter de ser banhada de atitudes, lazeres, silêncios e ausências, mas também sons e espacialidades que levem os portalegrenses a pôr-se em acto de conhecimento. their steps as they please and precisely when they want to go to a place of their choice. (…) The physical city crosses the city which has already become sedimented from an imaginary viewpoint.’7 The idea is simple, clear, but very compelling: ‘it is thus important to revisit predictable spaces in an unpredictable way.’8 Integrar para proporcionar criação social de Cultura Aportar à cidade de Portalegre evidências de Cultura também significa concretizar a inovação social que se inscreve no projecto da Fundação Robinson. Se na Fábrica trabalham os que lá trabalham, se na Fábrica se criam e multiplicam produtos que a viabilizam e se na Fábrica os produtos se autenticam com uma marca, então na Fundação Robinson, que nasceu de uma Fábrica e numa Fábrica, o seu conceito de política de Património, deverá cobrir estas realidades. Temos aqui três afirmações fundamentais e ricas em conteúdo programável e, mais ainda, com necessidade imperiosa de ser consideradas como vector de um programa de Cultura, que se quer de Património e, por aí, das pessoas. Ao simplificar, por evidência, que “na Fábrica trabalham os que lá trabalham”, conseguimos cobrir toda a equipa de operários que dá corpo à laboração fabril e detém um conjunto de competências, aquelas que permitem abrir a Fábrica e, nesse sentido, aproximam-nos da certeza que “conhecimento é abertura”. Depois, deixa-se escrito que “na Fábrica criam-se e multiplicam-se produtos que a viabilizam”, transforma-se a cortiça, cria-se o museu, o museu transforma ideias, provoca novos empregos e novas formas de subsistência. Por fim “na Fábrica os produtos autenticam-se com uma marca”, tal como as Publicações, ou outra marca exterior da Fundação Robinson, que se quer articulada, inscrita nos mesmos con109 The Porto programmer recorded the phrase as one of the topics of the project, it too appealing, The Experience of Place. This designation immediately makes us think of prior phrases on the need for Portalegre to ‘know’ itself, or perhaps to ‘recognise’ itself, for which reason it must be bathed in attitudes, leisure, silences and absences, but also sounds and spatialities which will lead Portalegrans to place themselves in an act of knowledge. Integrating to enable the social creation of Culture Bringing evidence of Culture to Portalegre also means realising the social innovation embodied in the Robinson Foundation project. If in a Factory there work those who work there, if in a Factory products are created and multiplied which make it a going concern and in a Factory products are authenticated as a brand, then the Robinson Foundation, born of and in a Factory, its concept of heritage policy, should cover these realities. We have here three basic statements, rich in programmable content, and, even more, containing the imperious need to be regarded as vectors of a Culture programme which must belong to Heritage and thus to people. In simplifying that ‘in a Factory there work those who work there’, we succeed in covering all the team of workers which produces factory work and is in posession of a set of competences, those that allow the Factory to be opened and, in ceitos, partilhando da mesma qualidade e intensidade de leitura, uma evidência exterior, uma imagem consolidada em correspondência com a programação e a territorialidade do “Espaço Robinson” e, consequentemente, com implicações de Cultura. Como se percebe de tudo o que se tem vindo a escrever, se percebe e é implícito, todo este plano de construção de realidades de vivência de Cultura, implica uma constante, atempada e muito pormenorizada integração de estruturas. Há que escrever sobre integração de estruturas, sobre a coordenação que tem de ser parcela de peso na programação a realizar. Nem a realidade de Portugal, nem de Portalegre e seus arredores, mesmo que espraiados pela meseta castelhana, permitem que se pense de outro modo. Não pode haver desperdício de meios e de capacidades criativas (como se estas fossem controláveis…) e também não podem acontecer perdas de públicos fruidores, mas sim acumulação de potencialidades nos que nas zonas existem e dos que a ela vão ser conduzidos. that sense, bring us closer to the certainty that ‘knowledge is openness’. Then we commit to writing that ‘in a Factory products are created and multiplied which make it a going concern’, work is transformed, the museum is created, the museum transforms ideas, gives rise to new jobs and new forms of livelihood. Lastly, ‘in a Factory products are authenticated as a brand’, just as the Publications or another external sign of the Robinson Foundation, which aims to be articulated, inscribed in the same concepts, share in the same quality and intensity as regards its reading, an outer sign, an image consolidated in line with a programming and the territoriality of the ‘Robinson Space’ and as a result with Cultural implications. As can be gleaned from all of the above and is implicit in it, all this plan to build realities of experiencing Culture implies a constant, timely and very detailed integration of structures. There is a need to write about integrating structures, about the coordination which must weigh heavily in the programming to be carried out. Neither the reality of Portu- Pólos de um caminho de Cultura O resultado evidente da presença da Fábrica no “Espaço Robinson” vai ser o Museu Robinson. Nele se conterão as formas de existência patrimonial fabril, condensando num mesmo corpo, sob características desenhadas num plano museológico a afinar, e contidas num programa museográfico pedagógico, despojado e integrado no sítio-Museu, um meio de se conseguir dinâmica interpretativa que resultará num contacto informativo e problematizante com os diferentes visitantes. O Museu Robinson, que denominámos sítio-Museu, é todo o complexo de vazios, edificados, equipamentos de solo ou aéreos, armazéns e rampeamentos, portas, janelas, passagens interiores, tubagens e fios, telhados de telha, telhados- gal, nor that of Portalegre and its environs, even if sprawling over the Castilian meseta, allow us to think otherwise. There can be no waste of creative means and capacity (as if these were controllable….), nor can there be a loss in public, rather an accumulation of potentialities in those existing in the area and in those who will be led to it. Poles of a pathway of Culture The visible result of the Factory’s presence in the ‘Robinson Space’ will be the Robinson Museum. This will contain the forms of manufacturing heritage, condensed in a single body, exhibiting features of an as yet to be refined museological plan, and contained in a paedagogic museographic 110 -terraços,… e os saberes da cadeia de produção, e as sociabilidades interiores e exteriores ao elemento humano fabril, e a cortiça, e os seus produtos e utilizações,… Para além de tudo isto, o Museu Robinson terá, pelo menos, um núcleo, o que funcionará na Igreja do Convento de São Francisco, dando um privilégio à base histórico-espacial que foi a cerca conventual. No “Espaço Robinson” poderá instalar-se uma Fábrica de Restauro e uma Reserva Municipal visitável. A recuperação de grandes espaços, limpeza, conservação, restauro e estudo das peças, arqueológicas, arqueológico-industriais, de imaginária religiosa, mobiliário, tecidos, pintura, ou em suporte de papel são alguns dos campos de venda de serviços capazes de suscitar alugueres de oficinas. Por outro lado, conseguir-se-á desta forma uma integração técnica no território que é o “Espaço Robinson” do Alentejo, aquele desenhado pela cartografia dos montados tradicionalmente arrendados pelos Robinson para abastecimento da Fábrica. Outros dois pólos serão o da vida das Associações e o das actividades de intervenção experimental e concretização de linguagens contemporâneas, aqui se situando o estudo e produção em torno da realidade virtual e das artes de galeria ou ligado a sectores já inscritos na cidade através do mundo da tapeçaria, num percurso determinável do desenho do cartão à tecelagem. Não podem esquecer-se, num ambiente de bem-estar de Cultura a oferta de fruição, orientada em vectores tão diversos como o de complemento e estudo cultural e o apoio da sobrevivência do visitante por meio dos restaurantes. Estas ofertas, consideradas necessárias desde o início do projecto, mas que haverá que pensar melhor num futuro de maior apropriação dos edificados têm, ainda, uma função fundamental de rentabilização. Uma grande livraria, a venda seleccionada de produtos das áreas da música, dança, tea111 programme, streamlined and integrated in the Museumplace, a way of achieving an interpretative dynamic which will provide the different visitors with a problematised informative contact. The Robinson Museum, which we have titled Museum-place, consists of the entire complex of empty spaces, built-up spaces, equipment on the ground or in the air, warehouses and ramps, doors, windows, indoor passages, tubing and filaments, tiled roofs, terraced roofs, etc. And the knowledge of the production chain, and the sociabilities both internal and external to the Factory’s human element, and the cork, and its products and uses, etc. In addition to all this, the Robinson Museum will have at least one nucleus, that which will operate in the Church of the Convent of St. Francis, privileging the historico-spatial base that was the convent walls. The ‘Robinson Space’ may come to house a Restoration Factory and a Municipal Reserve, open to the public. Recovering large spaces, cleaning, conservation, restoring and studying the pieces – archeological, industrial-archeological, religious, furniture, fabrics, paintings, some of which on paper – these are some of the marketing fields for services capable of leading to workshop rental. On the other hand, this will be a way to achieve technical integration in the territory which is the Alentejo’s ‘Robinson Space’, that traced by the cartography of the cork growing fields traditionally rented by the Robinsons to supply their Factory. A further two poles will be that of the life of the Associations and that of activities aimed at the experimental intervention and realisation of contemporary idioms. Here will be sited the study and production of virtual reality and of gallery arts or linked to sectors already inscribed in Portalegre through the world of tapestry, in a trajectory from the drawing of the cartoon to the weaving. Proposta esquemática de ocupação do território por grandes actividades, sobre levantamento de Eduardo Souto Moura e Graça Correia. Schematic proposal for occupation of spaces by major activity, as defined by Eduardo Souto Moura and Graça Correia. 112 tro e cinema, restaurantes de oferta variada mas cobrindo as necessidades médias e múltiplas dos visitantes, da cantina, à taberna, ao restaurante gourmet, são situações a contemplar dando resposta às necessidades de acesso aos produtos de Cultura, quer em suportes de aprendizagem descritiva, quer em suporte de qualificada exigência gastronómica. In an atmosphere of Cultural well-being, there can be no neglecting the offer of enjoyment, oriented in vectors as different as the cultural complement and study and catering to visitors’ needs by means of restaurants. These items to be offered, regarded as necessary from the beginning of the project but which will have to be thought out in greater detail in a future when the ‘Robinson Space’ O caminho, a rua, o trânsito, as pessoas e o passeio com ensaios performativos Aos núcleos fundamentais do Museu Robinson, aqueles que traçam a vida da cortiça na Fábrica, com a sua riqueza arqueológico-industrial, e do núcleo desse Museu a funcionar na Igreja do Convento de São Francisco, onde viverá a Colecção Rui Sequeira, mundo de imaginária sacra alto-alentejana, sucedem-se salas de exposição temporária, instalações de arte alternativa, arquivos e gabinetes de estudo da proto-industrialização e industrialização no Portugal interior, núcleos de estudo e exibição das potencialidades da realidade virtual, oficinas de conservação e restauro, Associações e Escolas de Cultura anteriormente dispersas e inadequadamente instaladas pela cidade e a jovem Escola de Hotelaria. Criou-se um caminho, um caminho de Cultura. Na Fábrica constrói-se, elabora-se, ensaia-se, como a cortiça é a terra, o local, o tempo transformado em revestimento de árvore. Também a cultura de cada uma das Associações é local e deixa ver como se constroem os espectáculos, que ali são como são, com os seus erros, enganos e repetições, sem luzes, sem palcos, em ensaio. Quando chegar a estreia, os grupos descem a rua para caminharem para fora da cidade ou para no CAEP dar lugar a espectáculos que aí serão agradáveis de outra forma, melhor, numa outra forma. Um programa como este impõe que se criem condições de trabalho e meios profissionais de aperfeiçoamento passí113 can rely on a larger built area, also serve the fundamental function of rationalisation. A large bookshop, the selective sale of products in the areas of music, dance, the theatre and film, restaurants catering to different tastes and budgets, designed to cover visitors’ medium and multiple needs ranging from the cafeteria to the taverna to the gourmet restaurant – these are situations to be considered in our endeavour to meet the needs of access to the Cultural products, whether in terms of descriptive learning or in terms of gastronomy. The Pathway, the street, the traffic, the people and the promenade with performative acts After the basic nucleii of the Robinson Museum, those that follow the life of the cork in the Factory with its industrial-archeological riches, and the nucleus of the Museum to be on display in the Church of the Convent of St. Francis, where the Rui Sequeira Collection will be installed – a world of High-Alentejan religious imaginary – provision has been made for rooms designed to house temporary exhibitions, installations of alternative art, archives and offices for the study of photo-industrialisation and industrialisation in the interior of Portugal, nucleii for the study and display of the potential of virtual reality, workshops for conserving and restoring, Associations and Culture Schools until now scattered throughout Portalegre in inadequate premises, and veis de ser utilizados e rentabilizados em comum. Tem de se possibilitar muita aprendizagem de dimensão estético-performativa que torne cada uma das Associações, de acordo com o que são e com respeito pelo que querem ser, compatíveis com as exigências que se querem cada vez mais qualificadas e críticas por parte dos fruidores da Cultura e construtores de arte no mundo contemporâneo. Em grito escrito, já em 1965 e republicado em 1993, na sequência de procura da relação directa entre raiz e utopia, António José Saraiva escreveu afirmativamente: “É preciso proclamar o direito à arte como se proclamou o direito à vida, à instrução, etc.”9 the youthful Hospitality School. A pathway has been created, a pathway of Culture. In the Factory we are building, essaying, trying out, how cork is the land, the place, time transformed in the bark of a tree. In the same way, the culture of each of the Associations is local and allows a glimpse of how performances are constructed, which are the way they are there, with their errors, mistakes and repetitions, without lighting, without a stage, in rehearsal. When the first night arrives, groups go out into the street to progress beyond the town or to give rise to performances in CAEP which will be enjoyed differently there; rather, in a very different way. O “Espaço Robinson” é global, melhor, “glocal” O global conduz a práticas identitárias locais que, para serem Cultura e para terem dimensão de intervenção sócio-económica deverão ter um lastro objectivo, mais ou menos histórico, mas de Património programável e conducente a novas fruições de cariz abrangente, de novo, global. A isto chamamos, usando um conceito já internacionalizado e um neologismo, “glocal”. E ser glocal é, nada mais do que aceitar a dimensão local e fazê-la beneficiar, com todas as consequências, da globalização do saber, da investigação, da comparação, da crítica mais e menos objectiva, da divulgação, do acesso aos outros, do “estar em praça pública”, do ser tanto de cada um dos cidadãos locais, como de todos os outros cidadãos do mundo que querem fruir e estar nesse fazer e criar de Cultura de raiz patrimonial. Percebe-se que estas Publicações tenham uma alternância de leitura a dois níveis: aproximação ao mundo da língua castelhana, capacidade de exportação internacional através da língua inglesa. Em afirmação do dito prevê-se que, num futuro próximo, estas mesmas Publicações venham a poder ser colocadas on-line, em formato pdf, para uma mais fácil A programme such as this demands the creation of working conditions and improvement of professional means capable of being used in a cost-effective way by all. Conditions need to be put in place for learning within an aesthetic-performative dimension which will make each of the Associations – according to what they are and respecting what they wish to be – compatible with the demands which, it is hoped, will be ever more qualified and critical on the part of the consumers of Culture and builders of art in the contemporary world. In a written cry, as far back as 1965 and re-published in 1993, following the search for the direct relation between root and Utopia, António José Saraiva stated affirmatively: ‘We must proclaim the right to art, just as we proclaimed the right to life, to education, etc.’9 The ‘Robinson Space’ is global or, better yet, ‘glocal’ The global leads to local identitary practices which, to be Culture and achieve dimensions of socio-economic intervention, must have an objective content, more or less his- 114 discussão da Fundação e, por aí, participação do mundo global da Cultura. Foi este mesmo sentido que norteou a experiência positiva e de qualidade, aferida por institutos centrais do Estado, neste caso o Instituto Nacional de Arquivos/ Torre do Tombo, que foi a constituição de um arquivo electrónico por si mesmo aberto a todas as aportações futuras de documentos, também ele preparado para permitir a sua existência on-line. Por fim, na procura desta internacionalização do local importa vir a criar um sítio web de grande qualidade gráfica, na exteriorização evidente e imediata mas, e também, capacidade ao apelo inter-comunicativo. Este sítio deverá gozar de uma atenção privilegiada contemplando a dimensão de base de dados arquivísticos, da documentação histórica às recolhas de imagens e sons contemporâneos, à informação sobre a vida do dia-a-dia e aos eventos momentâneos que a Fundação organiza ou em que participa. torical but with a programmable heritage conducive to new enjoyment of an, again, global enveloping nature. We call this, using a concept which has become international and is a neologism, ‘glocal’. And being glocal is no more than accepting the local dimension and making it benefit – with every consequence – from the globalisation of knowledge, research, comparison, of more or less objective critiques, of dissemination, of access to others, of ‘being in the public forum’, of the being of each of the local citizens as of all the other citizens of the world who wish to enjoy and be in that making and creating of heritage-rooted Culture. We can perceive that these Publications can be read at two levels: moving closer to the world of the Castilian language, a capacity for international export through the English language. In confirmation of this, we envision that, in the near future, these Publications may be placed online in pdf format. This will provide for an easier debate Em tempo final, Portalegre Portalegre, que são os portalegrenses na sua paisagem, e que o serão cada vez mais, em número e em estar e ser, têm de conseguir ganhar Cultura, vir “ao de cima” como a cortiça! A cortiça, que assim o faz, ganhará razão de ser nas formas que a Fundação Robinson está, como na Fábrica, a tentar transformar fazendo uso do Património e do seu bem-estar de memória no mundo contemporâneo. O objectivo estratégico da Fundação é colocar no centro das atenções de Cultura da cidade o Património que o mesno é dizer as pessoas, os cidadãos. Numa entrevista a Simon Thurley, editada no jornal Público, o Presidente do equivalente ao IPPAR, que na Grã Bretanha recebe a denominação de English Eritage, ao responder à pergunta “o que é que define o património?” é peremptório e não deixa espaço a controvérsias: “As pessoas. Há dois erros comuns no que diz 115 about the Foundation and will ensure the participation of the global world of Culture. It was this same desire that inspired the positive and quality experiment carried out by central State institutions – in this case the National Archive Institute/Torre do Tombo, which set up an electronic archive open to all future incoming documents, it too ready to allow its existence online. Lastly, in the search for this internationalisation of the local it is important to create a website offering great graphic quality in its external, immediate presentation, but also a capacity to appeal to inter-communication. This site will benefit from privileged attention, contemplating the dimension of the archival database of the historical documentation through the gathering of contemporary images and sounds, to information on day-to-day life and the events which the Foundation organises or in which it takes part. respeito ao património. O primeiro é pensar que é sobre edifícios – é sobre as pessoas e o que elas investem nos tijolos. O segundo é pensar que é sobre o passado – é sobre o futuro, o que ficará depois de nós desaparecermos.”10 Por isso, desde o início, fica patente na construção lata da missão estatutária da Fundação a preocupação com três dimensões inclusas na definição de Património: a existência dos objectos; a sua constituição como Património; o viver humano dos Objectos-Património, a presença sempre diversificada e permanente, passada, presente e futura, das pessoas. Os que trabalhavam nas funções mais antagónicas ou complementares, os que dirigiam ou sobreviviam, os que hoje estudam, ou constroem, ou se preparam para aí ir habitar, ou investigam o passado e projectam a programação futura, os que... E foi desta maneira que a Fundação Robinson se começou a constituir. Esse processo de constituição foi local e transitado para as autoridades da Cultura nacional, o que foi fácil desde que perceptível a sua dimensão de Património, como atrás definido, quer dizer, um espaço de reprodução da Cultura futura, rico de dimensão histórico-social e passível de se tornar contemporâneo. Facilmente se percebeu que a Fundação é uma realidade espaço-temporal do século XXI. Mas a esta constatação tem de se juntar a preocupação com a construção de uma programação. Teve de se ganhar uma objectividade criteriosa de investigação aprofundada, sempre em primeiro lugar, e depois, da divulgação dos resultados como dados semi-tratados ou conclusões parciais e do momento. Por isso é tão importante e necessário construir memória. Essa tem sido, e deverá continuar a ser, uma das principais atitudes de Cultura na Fundação. Abordando um possível “naufrágio da memória”, escreveu Vitorino Magalhães Godinho, em resposta à pergunta “Ainda é possível construir uma memória para Portugal e Lastly, Portalegre Portalegre, which is Portalegrans in their landscape, and who will be ever more so, in number and in being, must gain Culture, ‘bob to the surface’ like cork! Cork, which does this, will earn its place through the ways in which the Robinson Foundation is trying to transform – as it is doing in the Factory – using Heritage and the well-being of its memory in the contemporary world. The strategic aim of the Foundation is to place at the centre of Portalegre’s attention to Culture the Heritage which is synonymous with the people, with the citizens. In an interview in O Público newspaper, Simon Thurley, the chair of the equivalent to the IPPAR, which in the UK is known as English Heritage, answered the question: ‘What defines heritage?’ in a peremptory fashion without leaving room for controversies: ‘People. There are two widespread mistakes when considering heritage. The first is to think heritage is about buildings – it is about people and what they invest in the bricks. The second is to think that it is about the past – it is about the future, what will remain after we are gone.’10 Therefore, from the start, the wider construction of the Foundation’s statutes shows a concern with three dimensions included in the definition of Heritage: the existence of the objects; their constitution as Heritage; the human living of the Heritage-Objects, people’s always diversified and permanent – past, present and future – presence. Those who worked in the hardest or complementary functions, those who directed or survived, those who now study, or build, or get ready to go and live there, or research the past and project future programming, those who… And it was thus that the Robinson Foundation began to consitute itself. This latter process was local and handed to the authorities of national Culture, an easy undertaking 116 para os portugueses?”, uma conclusão fundamental. Essa memória é possível mas, para além de europeia e humanista, como corolário “tem de ter como base o espírito científico e a capacidade de criação cultural e artística.”11 Criar hábitos, ciclos de actividades que se cruzarão, enredando tudo o que se for sendo capaz de construir. Este será um ritmo tão simples e diferente como uma cadeira, como se lê no ensaio de António Pinto Ribeiro. No caso “Espaço Robinson”, tão complexo e diferente quanto a multiplicidade fabril, as energias, as máquinas, os equipamentos, os espaços de rua e fabris, as matérias primas, os componentes capazes de transfomar a matéria prima, as operárias, os operários e mais muitos mais operárias e operários, e as suas vidas dentro e fora da Fábrica, na cidade de Portalegre, deixando transpirar cortiça, rolhas, aglomerados, Robinson!, por todo um espaço muito mais alargado do que se pensa (se costumava pensar tenta-nos dizer...). Da cadeira “como objecto pertença da dança, do teatro e da performance” escreveu António Pinto Ribeiro que “não são todas iguais, não assumirão todas as mesmas funções simbólicas e cénicas, mas constituem uma presença metafórica indicativa da relação destas Artes com o seu tempo. O recurso à cadeira supõe a consideração de uma série de acções inequivocamente humanas: os ritos sociais –, como as refeições, as reuniões, as decisões planeadas –, de integração cultural –, como a leitura. Em particular elas definem o homem como ser que, em determinados momentos do seu percurso histórico, necessita de conter a energia das acções e dos movimentos para pensar essa mesma energia. Só o ser humano tem a particularidade de recorrer a este compasso que a cadeira lhe permite, interrompendo, assim, a cadeia de movimentos.”12 Porque não escrever a Fundação no futuro, próximo, dando corpo a ergonomias num verdadeiro jogo e expressão 117 since its dimension as Heritage, as defined earlier, was perceptible, that is to say, a space for the reproduction of future culture, rich in a socio-historical dimension and capable of becoming contemporary. It was easily understood that the Foundation is a temporal-spatial reality of the nineteenth century. But to this must be added a concern with the construction of programming. We had to achieve a selective objectivity in deepening the research undertaken, always at the fore, and then disseminating the results as semi-treated data or partial conclusions of that particular moment. This is why it is so important and necessary to build memory. It has been, and must go on being, one of the Foundation’s main Cultural attitudes. Addressing a possible ‘shipwreck of memory’, Vitorino Magalhães Godinho wrote a basic conclusion, in response to the question, ‘Is it still possible to build a memory for Portugal and for the Portuguese?’ Such a memory is possible but, beyond the European and the humanist, as a corollary ‘it must be grounded in a scientific spirit and the capacity for cultural and artistic creation.’11 Creating habits, cycles of activity which will meet up, linking everthing that we can build. This will be as simple and different a rhythm as a chair, as can be read in the essay by António Pinto Ribeiro. In the case of the ‘Robinson Space’, as complex and different as the manufacturing multiplicity, the energy, the machines, the equipment, the spaces of the streets and of the factory, the raw materials, the components capable of transforming the raw materials, the workers of both sexes and many more workers, and their lives within and outside the Factory in Portalegre, exuding cork, corks, agglomerate, Robinson!, in a far greater space than is thought (we are tempted to say: than used to be thought.) de artes do corpo13, como tempos evidentes da unidade ou ruptura consigo próprio ou, e só, como “presença ao ‘vivo’ do corpo”?14. A proposta é que as máquinas-técnicas e aqueles que as cuidam e conseguem pôr em laboração sejam um campo de objectos passíveis de vir a ser artes, ao transformarem-se em fotografias, contos, aguarelas, documentário, instalações, performances, escrita informativa de jornal, brinquedo de criança, moda de estilista, ficção literária ou ... argumento cinematográfico! ...! Com a Fundação Robinson Portalegre pode vir a melhorar as construções de Cultura que passam pelas sua iniciativas de continuidade. Paralelamente, a Fundação Robinson pode construir uma dinâmica de explosões de cultura, como que ritmos momentâneos e fulgurantes do fazer programado, capazes de gerar afluxos de atenção, interesse diversificado e público alargado. Uma família, os ingleses Robinson, uma Fábrica, a da cortiça em Portalegre. About the chair ‘as an object belonging to dance, to the theatre and to performance’, António Pinto Ribeiro wrote that ‘they are not all the same, they will not all take on the same symbolic and scenic functions, but they constitute a metaphorical presence indicating the relation of these Arts with their time. Using the chair implies considering a series of inequivocally human actions: social rituals – such as meals, meetings, planned decisions –, having to do with cultural integration – such as reading. They especially define humans as beings who, at certain moments in their historical trajectory, need to hold in the energy of actions and movements in order to think of that same energy. Only human beings have this capacity of resorting to this step which the chair allows them, thus interrupting the chain of action.’12 Why not inscribe the Foundation in a near future, embodying ergonomics in a true play and expression of the arts of the body13, as obvious times of unity or rupture within the self or, and no more, as a ‘”live” presence of the body’?14 Our proposal is that the techniques-machines and those who look after them and are able to make them work should be objects capable of becoming different forms of art, as they transform themselves into photographs, stories, watercolours, a documentary, installations, performances, informative newspaper articles, a child’s toy, a clothes designer’s product, literary fiction or … a screenplay! With the Robinson Foundation Portalegre can improve the constructions of Culture which have to do with its initiatives for continuity. In parallel, the Robinson Foundation can build a dynamic of explosions of culture, as moments of brilliant rhythms of programmed action, capable of generating the focus of attention, diversified interest and the wider public. A family, the British Robinsons, a Factory, that of the cork in Portalegre. 118 Proposta de um logótipo de marca para a atitude definitória que são as “explosões de Cultura”. Design gráfico de Tvm Designers. Proposal for a brand logo for the defining attitude which are the ‘explosions of Culture’. Design: TVM Designers. Ingleses?!... e os operários que eles construiram em espaço fabril e com os quais se preocuparam? e os os operários de hoje? e os administradores, mais ou menos conscientes da gestão económica ou do mundo comercial fora de Portalegre, tudo estes não são Robinson? Uma marca de fazer corticeiro. Hoje, uma marca em construção do fazer de Cultura, para fora de Portalegre, que se auto imagina, que se concretiza, que se planeia, que junta em si as realidades económicas tanto quanto as formas de opinar e de discorrer, de pensar e estudar, de discutir e, mais que tudo, de estar e de conversar. British?!... and what of the workers they built up in a manufacturing space and about whom they were concerned? and today’s workers? and the managers, more or less aware of the economic management and of the commercial world outside Portalegre, are these not all Robinson? A brand of cork production. Now a brand under construction of making Culture, beyond Portalegre, which imagines itself, which becomes real, which is planned, which gathers within it the economic realities as well as the ways of thinking and of discourse, of thinking and studying, of debating and above all of being and carrying out a conversation. notas notes ¹ ¹ ² ³ 4 5 6 7 8 9 ¹0 ¹¹ ¹² ¹³ ¹4 119 Ribeiro, António Pinto - Ser feliz é imoral? Ensaios sobre cultura, cidades e distribuição. Lisboa: Cotovia, 2000, p. 61. Lourenço, Eduardo - O labirinto da saudade. Psicanálise mítica do destino português. Lisboa: Dom Quixote, 1982, 2.ª ed., p. 69. Lourenço, Eduardo - O labirinto da saudade. Psicanálise mítica do destino português. Lisboa: Dom Quixote, 1982, 2.ª ed., p. 201. Serrão, Joel - Temas oitocentistas I. Para a história de Portugal no século passado. Ensaios. Lisboa: Livros Horizonte, 1980, 2.ª ed., pp. 83-84. Mattoso, José - A função social da história no mundo de hoje. Lisboa: Associação de Professores de História, 1999, p. 20. Lourenço, Eduardo - Nós e a Europa ou as duas razões. Lisboa: IN-CM, 1990, 3.ª ed., p. 158. Silva, Paulo Cunha e - Cidade e programação cultural. O caso do Porto em 2001. Sociologia. Porto: F.L. da U.P., 2003, n.º 13, p. 131 e 137. Silva, Paulo Cunha e - Cidade e programação cultural. O caso do Porto em 2001. Sociologia. Porto: F.L. da U.P., 2003, n.º 13, p. 135. Saraiva, António José - Ser ou não ser arte. Estudos e ensaios de metaliteratura. Lisboa: Gradiva, 1993, p. 168. Público.Cultura, 28 de Março de 2005. A memória da nação. org. Francisco Bethencourt, Diogo Ramada Curto. Lisboa: Sá da Costa, 1991, pp. 15 e 27. Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do corpo. Lisboa: Cotovia, 1997, p. 12. Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do corpo. Lisboa: Cotovia, 1997. Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do corpo. Lisboa: Cotovia, 1997, p. 10. Ribeiro, António Pinto - Ser feliz é imoral? Ensaios sobre cultura, cidades e distribuição. Lisboa: Cotovia, 2000, p. 61. ² Lourenço, Eduardo - O labirinto da saudade. Psicanálise mítica do destino português. Lisboa: Dom Quixote, 1982, 2nd ed., p. 69. ³ Lourenço, Eduardo - O labirinto da saudade. Psicanálise mítica do destino português. Lisboa: Dom Quixote, 1982, 2nd ed., p. 201. 4 Serrão, Joel - Temas oitocentistas I. Para a história de Portugal no século 5 Mattoso, José - A função social da história no mundo de hoje. Lisboa: Asso- passado. Ensaios. Lisboa: Livros Horizonte, 1980, 2nd ed., pp. 83-84. ciação de Professores de História, 1999, p. 20. 6 Lourenço, Eduardo - Nós e a Europa ou as duas razões. Lisboa: IN-CM, 1990, 3rd ed., p. 158. 7 Silva, Paulo Cunha e - Cidade e programação cultural. O caso do Porto em 2001. Sociologia. Porto: F.L. da U.P., 2003, no. 13, p. 131 and 137. 8 Silva, Paulo Cunha e - Cidade e programação cultural. O caso do Porto em 2001. Sociologia. Porto: F.L. da U.P., 2003, no. 13, p. 135. 9 Saraiva, António José - Ser ou não ser arte. Estudos e ensaios de metaliteratura. Lisboa: Gradiva, 1993, p. 168. ¹0 Público.Cultura, March 28, 2005. ¹¹ A memória da nação. org. Francisco Bethencourt, Diogo Ramada Curto. Lisboa: Sá da Costa, 1991, pp. 15 and 27. ¹² Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do corpo. Lisboa: Cotovia, 1997, p. 12. ¹³ Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do corpo. Lisboa: Cotovia, 1997. ¹4 Ribeiro, António Pinto – Por exemplo a cadeira. Ensaio sobre as artes do corpo. Lisboa: Cotovia, 1997, p. 10. Resumos e palavras-chave Abstracts and key-words Resúmenes y palabras clave Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 120-126, ISSN 1646-7116 PORTUGUÊS Sonhar o futuro com o passado Só podemos marcar a diferença se fizermos aquilo que sabemos fazer melhor. Foi assim com os produtos tradicionais e é assim com a cortiça e com a Robinson. Com a aposta na salvaguarda e valorização deste espaço através de um projecto inovador de qualidade associado ao prestígio do Arquitecto Souto Moura é possível provar que a parceria entre a Câmara Municipal de Portalegre e a Fundação Robinson é uma mais valia para a região. As portas da velhinha Fábrica Robinson abremse à cidade com numerosas iniciativas que visam potenciar a vivência, a animação e o desenvolvimento da região. PALAVRAS-CHAVE Passado / Tradição / Património / Futuro / Qualidade / Inovação / Requalificação / Souto Moura Para uma cronologia da Fábrica Robinson A história da Fábrica Robinson e da família que a tornou um dos estabelecimentos industriais mais prósperos e reconhecidos de Portalegre e da indústria corticeira portuguesa no geral é aqui revista através das datas. Desde a fixação dos Robinson em Portalegre, passando pela fundação da sua fábrica de cortiça, em 1848, são apresentados os momentos mais significativos, não só do empreendedorismo desta família de industriais que colocou constantemente a sua fábrica na vanguarda da inovação no contexto da industrialização em Portugal, mas também da sua intensa actividade filantrópica, para sempre marcante para a cidade. 121 Trata-se do reflexo de uma vivência mais que secular, mas ilustrativo da sua importância no passado e no presente. Estatutos, actividades e factos relevantes da constituição e funcionamento da Fundação Robinson Palavras-Chave Industrialização / Indústria Corticeira / Portalegre / Família Robinson / Fábrica Robinson / Cronologia Fazer Fundação é mais do que criar o enquadramento jurídico adequado. Fazer Fundação é trabalho de todos os dias, numa actualização e intervenção permanente e transversal, com reflexos na preservação do seu património social, cultural, histórico e arquitectónico. Fazer Fundação é criar dinâmicas, congregar vontades, fomentar a atractividade e a vivência daquele a que convencionámos chamar Espaço Robinson. É regenerar o tecido urbano e reforçar a posição geoestratégica da cidade, na mira do tão desejado alargando do âmbito territorial. Documentos: os testamentos dos primeiros Robinson A fim de recuperar a memória dos Robinson em Portalegre, e no âmbito do projecto ArqRob, que visa a constituição de um arquivo electrónico da Fundação, têm sido consultados alguns corpos documentais do Arquivo Distrital da cidade. A intensa actividade industrial e comercial da família Robinson tornava premente o recurso aos tabeliães da cidade como forma de oficializar e validar contratos. Estes eram de natureza diversa mas surgem com maior frequência escrituras de compra e venda e de arrendamento de cortiça. No decorrer da pesquisa ao fundo dos Cartórios Notariais de Portalegre foram encontrados os testamentos públicos de George William Robinson e da sua mulher, Sarah Ann, datados de 9 de Março de 1895, e de carácter bastante pragmático e elementar. No fundo da Administração do Concelho de Portalegre foi encontrado o testamento cerrado de Mary Chadwick Robinson da Silveira, filha de George e de Sarah, redigido a 9 de Julho de 1896. Palavras-chave História Contemporânea / Portalegre / Notários / Arquivo Distrital de Portalegre / Testamentos / Robinson. PALAVRAS-CHAVE Fundação / História / Curriculum / Estatutos / Cultura / Cidade / Espaço / Integração / Dinâmicas / Transfronteiriça Estatutos da Fundação Robinson A Fundação Robinson, instituída pela Câmara Municipal de Portalegre e pela Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A., tem por fim a prossecução de actividades de carácter cultural, educativo, social e científico, podendo também agir nas áreas do desporto e da filantropia. Como objectivo específico, a Fundação visa a preservação do espólio arqueológico-industrial da Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A. e de qualquer outro espólio cuja preservação lhe seja confiada. A sua sede é em Portalegre, no Largo do Jardim do Operário, 5, e a sua acção desenvolver-se-á na região do Norte Alentejano mas também na Estremadura espanhola e no Reino Unido. É definido o regime patrimonial e financeiro da Fundação bem como a composição e as competências dos seus órgãos, que são o Conselho de Curadores, o Conselho de Administração, o Conselho Consultivo e o Conselho Fiscal. Palavras-chave Fundação Robinson / Estatutos / Natureza / Missão / Organograma / Competências / Regime financeiro / Regime patrimonial Espaço Robinson – do passado para o futuro O projecto de requalificação do espaço Robinson visa a conservação da memória histórica de Portalegre através do património construído, conjugando o novo com o antigo, tomando partido da localização geográfica da fábrica e, através da abertura de um novo e estruturante “passeio urbano”, articular o espaço Robinson com a cidade e o meio envolvente. Procura-se dotar o espaço e a cidade de novas valências que tornem o antigo espaço industrial atractivo e aprazível, aberto a todos, e ainda corrigir a desordem que se verifica por várias décadas de crescimento urbano. Em suma, a deslocação da Fábrica Robinson para a zona industrial permitirá a reabilitação das suas instalações, a redefinição das funções dos diversos edifícios existentes e a implantação de novos espaços, como é o caso da escola de hotelaria ou da frente urbana no limite sul. Palavras-Chave Arquitectura / Urbanismo / Portalegre / Património histórico edificado / Fábrica Robinson / Reabilitação / Requalificação / Equipamentos urbanos O logótipo da Fundação Robinson A Fundação Robinson é uma nova entidade que surge associada à memória histórica de Portalegre. Deste modo, a sua imagem é construída através do diálogo entre a identidade histórica e a sua memória visual, contribuindo para a sua projecção e qualificação enquanto agente contemporâneo de desenvolvimento. No sentido de promover a continuidade e abertura física entre a cidade e o património industrial da Robinson recorreu-se ao elemento iconográfico desde sempre presente na sua memória comum – a silhueta das chaminés da fábrica, que se destaca no perfil de Portalegre. O desenho foi elaborado com grande economia de meios e de elementos, de forma abstracta, não figurativa e optando-se pela regularidade geométrica. Trata-se de um quadrado azul, com as “peças” a branco, representadas a partir do ponto de vista do observador, revelando a posição elevada do conjunto arquitectónico. Palavras-Chave Arquitectura / Design gráfico / Portalegre / Fábrica Robinson / Fundação Robinson / Memória e identidade / Logótipo O design nas Publicações da Fundação Robinson O desenvolvimento do design de uma publicação resulta sempre das expectativas do editor e da contribuição da experiência, gosto e bom senso do designer. Pretendeu-se que as Publicações da Fundação Robinson tivessem um aspecto global uniforme e consistente; grande versatilidade para que cada edição possa assumir o carácter de revista científica, de catálogo ou de monografia; fossem bilingues (português e inglês); e dessem protagonismo à iconografia. Neste sentido, foi com bastante reflexão que o formato, as escolhas tipográficas, o desenho da grelha, as cores e a capa destas publicações foram definidas, a fim de dar hipótese de se criarem soluções de arrumação diversificadas dentro de uma evidente unidade formal. Palavras-Chave Fundação Robinson / Publicações da Fundação Robinson / Design / Formato / Escolhas tipográficas / Desenho da grelha / Capa Como a cortiça, a cultura “vem sempre ao de cima”. Traços de um esboço de programação de cultura Em torno de Portalegre, de alguns dos seus elementos de memória de Cultura, esboça-se uma hipótese de Programação a partir de um centro: o Espaço Robinson. Desenhadas algumas das estruturas existentes e aquelas que, com elas vivendo, as podem vivificar e alterar, lenta mas eficazmente, constrói-se uma proposta exequível, do território à paisagem da Fábrica, desta ao Espaço Robinson, e sempre por vias de Património e de criação social de Cultura. PALAVRAS-CHAVE Portalegre / Território / Paisagem da Fábrica / Património /Espaço Robinson / Programação / Criação social de Cultura 122 ENGLISH A Dream of the Future through the Lens of the Past We can only make a difference if we do what we know how to do best. This was the case of traditional products and this is how it is where cork and Robinson’s are concerned. By our commitment to safeguarding and valorizing this space through a quality, innovative project associated with the prestigius architect Souto Moura, it is possible to prove that the partnership between the Town Hall of Portalegre and the Robinson Foundation adds value to the region. The gates of the old Robinson Factory will be opened to the town, with humerous activities designed to potentialize the living experience, energizing and development of the region. KEY WORDS The past / Tradition / Heritage / Future / Quality / Innovation / Regeneration / Souto Moura Towards a Chronology of the Robinson Factory The history of the Robinson Factory and of the family which turned it into one of the most thriving and easily recognizable of Portalegre’s industrial establishments and, in general terms, of the Portuguese cork processing industry is here reviewed in terms of significant dates. Since the Robinsons settled in Portalegre, through the founding of their cork factory in 1848, the most meaningful moments are here presented, not just of the entrepeneurial spirit of this family of industrialists which unfailingly placed its factory at the forefront of innovation in the context of Portuguese industrialization, but also in terms of its intense 123 philanthropic activity, which left an indelible mark on the town. This is the reflection of an experience lasting over a century, but which illustrates its importance in the past and in the present. KEY WORDS Industrialization / Cork industry / Portalegre / Robinson Family / Robinson factory / Chronology Documents: the First Robinsons’ Last Wills In order to recover the memory of the Robinsons in Portalegre, and within the framework of the ArqRob project, whose aim it is to set up an electronic archive for the Foundation, a number of documents were consulted in the town’s District Archive. The Robinson family’s intense industrial and commercial activity made it a pressing matter to turn to the town’s tabellions for the purpose of rendering contracts official and valid. The latter were of varying nature but the most commonly observed are deeds of purchase and sale and of leasing cork. During the course of research into Portalegre’s Notary Public Archives, the public wills of George William Robinson and his wife, Sarah Ann, came to light. These are dated 9 March 1895 and display a markedly pragmatic and elementary approach. In the Archives of the Portalegre District Administration the sealed will, dated 9 July 1896, of Mary Chadwick Robinson da Silveira, George and Sarah’s daughter, was found. KEY WORDS Contemporary history / Portalegre / Notaries Public / Portalegre District Archive / Last wills and testaments / Robinson Statutes, Activities and Facts relevant to the Setting up and Running of the Robinson Foundation Making a Foundation goes beyond setting up the appropriate legal framework. Making a Foundation is a day to day job, which implies updating and taking action permanently and transversally, with an impact on the conservation of its social, cultural, historical and architectural heritage. Making a Foundation means to create dynamics, bring together different volitions, foment the appeal and the experience of what we have come to call the Robinson Space. It means regenerating the urban fabric and re-inforcing the town’s strategic position with a view to a much desired territorial expansion. KEY WORDS Foundation / History / Curriculum / Statutes / Culture / Town / Space / Integrating / Dynamics / Trans-frontier reach Statutes of the Robinson Foundation The Robinson Foundation, set up by the Town Hall of Portalegre and by the cork processing Robinson Bros Cork Factory. has as its objective to conduct cultural, educational, social and scientific activities, also being in a position to act in the areas of sport and philanthropy. As a specific goal, the Foundation aspires to preserve the archeological-industrial collections of the above mentioned Company and of whatever other collections may be entrusted to it. The Foundation is based in Portalegre, at 5, Largo do Jardim Operário, and its activity will be undertaken in the Northern Alentejo area, the Spanish province of Estremadura and the United Kingdom. The Statutes define the Foundation’s patrimonial and financial management, as also the make-up and areas of competence of its bodies, which are the Council of Curators, the Administrative Council, the Consulting Council and the Fiscal Council. / Historical buildings / Robinson Factory / Rehabilitation / Regeneration / Urban equipment KEY WORDS Robinson Foundation / Statutes / Nature / Mission / Organogramme / Areas of Competence / Financial regime / Patrimonial regime The Robinson Foundation is a new entity, with strong ties to the historical memory of Portalegre. Thus its image is formed through a dialogue between a historical identity and its visual memory, contributing towards its prestige and qualification as a contemporary agent for development. Wishing to promote continuity and the physical opening up between the town and the Robinson industrial heritage, use was made of the iconographic feature ever present in the collective memory – the silhouette of the factory’s chimneys, reaching up into the skyline. The logo was designed with great economy of means and features, with an abstract, non-figurative approach, the option having been that of a geometric regularity. It consists of a blue square with the pieces in white, represented from the observer’s viewpoint and displaying the elevated siting of the architectural whole. Robinson Space – from the Past to the Future The project for the regeneration of the Robinson space aims at preserving the historical memory of Portalegre through the factory buildings. It will combine the new with the old, profiting from the factory’s geographical location and, through the opening up of a new, structuring “urban promenade”, it will articulate the Robinson space with the town and the environment surrounding these buildings. We aspire to endow the space and the town with new cogency which will render the old industrial site attractive and appealing, open to all. Another of our goals is to provide a remedy for the urban sprawl which has come into being over several decades of urban growth. In sum, the relocation of the Robinson Factory to the industrial estate will allow for the rehabilitation of its premises, for redefining the purposes to which the several existing buildings are put and for inserting new spaces, such as the Catering School or the urban façade at the southernmost tip of the site. KEY WORDS Architecture / Urban planning / Portalegre The Robinson Foundation Logo KEY WORDS Architecture / Graphic design / Portalegre / Robinson Factory / Robinson Foundation / Memory and identity / Logo Design for the Robinson Foundation Publications Developing the design for a publication always comes as a result of the publisher’s expectations and of the designer’s contribution in terms of expe- rience, taste and common sense. The objective was to achieve a uniform and consistent appearance throughout; great versatility so that each issue can display its nature as a scientific review, catalogue or monograph; that issues be bilingual (Portuguese and English); and that they enhance the iconography. To this end, a great deal of thought was devoted to defining the format, the typographic choices, the design grid, the colours and the cover, with a view to enabling solutions for the diversified placing within a clear-cut formal whole. KEY WORDS Robinson Foundation / Robinson Foundation / Publications / Design / Format / Typographic choices / Design grid / Cover Like cork, culture always ‘bobs to the surface’. Traces of a draft of culture programming A tentative attempt at Programming around Portalegre, involving some of its elements which form part of its Cultural memory, was drawn up around a centre: The Robinson Space. Having designed some of the existing structures and those which, by living alongside them, are able to vitalize and alter them, slowly but effectively, an accomplishable proposal was constructed, from the land to the landscape of the Factory, and from that to the Robinson Space, always through the use of Patrimony and the social creation of Culture. KEY WORDS Portalegre / Land / Factory Landscape / Patrimony / Robinson Space / Programming / Social creation of Culture 124 E S PA Ñ O L Soñar el futuro con el pasado Sólo podemos marcar la diferencia si hacemos lo que sabemos hacer mejor. Es lo que ha ocurrido con los productos tradicionales, con el corcho y con Robinson. Apostando por la salvaguardia y la valoración de este espacio a través de un proyecto innovador de calidad asociado al prestigio del arquitecto Souto Moura, podemos probar que el partenariado entre el Ayuntamiento de Portalegre y la Fundación Robinson es un valor añadido para la región. Las puertas de la vieja Fábrica Robinson se abren a la ciudad con innumerables iniciativas para potenciar la vida, la animación y el desarrollo de la región. PALABRAS CLAVE Pasado / Tradición / Patrimonio / Futuro /Calidad / Innovación / Recalificación / Souto Moura Para una cronología de la Fábrica Robinson Revisemos, a través de las fechas, la historia de la Fábrica Robinson y de la familia que la convirtió en uno de los núcleos industriales más prósperos y reconocidos de Portalegre y de la industria corchera portuguesa en general. Desde que los Robinson se establecieron en Portalegre, pasando por la fundación de su fábrica de corchos, en 1848, se presentan los momentos más significativos. No se trata solamente del emprendimiento de esta familia de industriales que siempre situó a su fábrica en la vanguardia de la innovación en la industrialización portuguesa, sino además su intensa actividad filantrópica, siempre determinante para la ciudad. 125 Se trata del reflejo de unas vivencias que abarcan más que un siglo pero que ilustran su importancia en el pasado y en el presente. PALABRAS CLAVE Industrialización / Industria corchera / Portalegre / Familia Robinson / Fábrica Robinson / Cronología Documentos: los testamentos de los primeros Robinson Con el objetivo de recuperar la memoria de los Robinson en Portalegre, y en el ámbito del proyecto ArqRob para la constitución de un archivo electrónico de la Fundación, hemos consultado algunos cuerpos documentales del Archivo Distrital de la ciudad. La intensa actividad industrial y comercial de la familia Robinson obligaba a recurrir a los tabeliones de la ciudad como forma de oficializar y certificar contratos. Estos eran muy diversos, aunque lo más habitual fueran escrituras de compraventa y de arrendamiento de corcho. Durante la investigación en los fondos de los Registros Notariales de Portalegre se encontraron los testamentos públicos de George William Robinson y su mujer, Sarah Ann, con fecha de 9 de marzo de 1895, con un carácter bastante pragmático y elemental. En los fondos de la Administración del Concelho de Portalegre hallose el testamento cerrado de Mary Chadwick Robinson da Silveira, hija de George y Sarah, redactado el 9 de julio de 1896. PALABRAS CLAVE Historia Contemporánea / Portalegre / Notarios / Archivo Distrital de Portalegre / Testamentos / Robinson Estatutos, actividades y hechos relevantes en la constitución y funcionamiento de la Fundación Robinson Crear una Fundación es más que hallar el marco jurídico adecuado. Crear Fundación es un trabajo diario, con una actualización e intervención permanente y transversal, con reflejos en la preservación de su patrimonio social, histórico y arquitectónico. Crear Fundación es crear dinámicas, congregar voluntades, fomentar el atractivo y las vivencias de ese que hemos acordado llamar Espacio Robinson. Significa regenerar la red urbana y reforzar la ubicación geoestratégica de la ciudad, con vistas al tan deseado ensanchamiento del ámbito territorial. PALABRAS CLAVE Fundación / Historia / Currículum / Estatutos / Cultura / Ciudad / Espacio / Integración / Dinámicas / Transfronteriza Estatutos de la Fundación Robinson La Fundação Robinson, instituida por el Ayuntamiento de Portalegre y por la Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A., tiene como fin la promoción de actividades de carácter cultural, educativo, social y científico, pudiendo asimismo actuar en las áreas del deporte y de la filantropía. Como objetivo específico, la Fundación procura la preservación de los fondos arqueológicos e industriales de la Sociedade Corticeira Robinson Bros., S.A. y de otros fondos cualesquiera cuya preservación le sea confiada. Su sede se ubica en Portalegre, en Largo do Jardim do Operário, 5, y su acción se desarrollará en la región del Norte Alentejano y también en la Extremadura española y en el Reino Unido. Se define el régimen patrimonial y financiero de la Fundación, así como la composición y las competencias de sus órganos, que son el Consejo de Curadores, el Consejo de Administración, el Consejo Consultivo y el Consejo Fiscal. / Rehabilitación / Recalificación / Equipamientos urbanos Palabras Clave Fundação Robinson / Estatutos / Naturaleza / Misión / Organigrama / Competencias / Régimen financiero / Régimen patrimonial La Fundación Robinson es una nueva entidad asociada a la memoria histórica de Portalegre. De este modo, su imagen se construye a través del diálogo entre la identidad histórica y su memoria visual, contribuyendo a su proyección y calificación como agente contemporáneo de desarrollo Con el fin de promover la continuidad y la apertura física entre la ciudad y el patrimonio industrial de Robinson se recurrió al elemento iconográfico presente desde siempre en su memoria común – la silueta de las chimeneas de la fábrica - que se destaca del perfil de Portalegre. Su diseño se elaboró con gran economía de medios y elementos, de forma abstracta, no figurativa, y optando por la regularidad geométrica. Se trata de un cuadrado azul, con las “piezas” en blanco, representadas desde el punto de vista del observador, revelando a posición elevada del conjunto arquitectónico. Espacio Robinson – desde el pasado, hacia el futuro El proyecto de recalificación del espacio Robinson tiene como fin la conservación de la memoria histórica de Portalegre a través del patrimonio construido, conjugando lo nuevo y lo antiguo, aprovechando la localización geográfica de la fábrica y, a través de la apertura de un nuevo y vertebrador “paseo urbano”, articular el espacio Robinson y la ciudad y sus diferentes aspectos. Se intenta dotar al espacio y a la ciudad de nuevos valores que vuelvan atractivo y apacible el antiguo espacio industrial, abierto ya a todos, y corrigiendo además el desorden que se comprueba tras varias décadas de crecimiento urbano. En resumen, el desplazamiento de la Fábrica Robinson a la zona industrial permitirá la rehabilitación de sus instalaciones, la redefinición de las funciones de los varios edificios que existen y la instalación de nuevos espacios, como la escuela de hotelería o el frente urbano al sur. Palabras Clave Arquitectura / Urbanismo / Portalegre / Patrimonio histórico edificado / Fábrica Robinson El logotipo de la Fundación Robinson las Publicaciones de la Fundación Robinson tengan un aspecto global uniforme y consistente; una gran versatilidad, para que cada edición pueda asumir carácter de revista científica, de catálogo o de monografía; que sean bilingües (portugués e inglés) y que den protagonismo a la iconografía. En este sentido, el formato, las opciones tipográficas, el diseño reticular, los colores y la portada de estas publicaciones han sido definidas con el objetivo de crear varias soluciones de encaje, todo ello dentro de una evidente unidad formal. Palabras Clave Fundación Robinson / Publicaciones de la Fundación Robinson / Diseño / Formato / Opciones tipográficas / Diseño reticular / Portada Como el corcho, la cultura “siempre viene arriba”. Trazos de un boceto de programación de cultura” El diseño en las Publicaciones de la Fundación Robinson Enfocando Portalegre y algunos de sus elementos de memoria de la cultura, se diseña una posibilidad de programación en torno a un eje: el Espacio Robinson. Con la configuración de algunas estructuras que ya existen y de otras que en la experiencia cotidiana podrán renovarse, alterándose lenta pero eficazmente, se edifica una propuesta exequible, desde el territorio hasta el paisaje de la fábrica, de ésta al Espacio Robinson, y siempre a través de las vías del patrimonio y de la creación social de cultura. El desarrollo del diseño de una publicación es siempre el resultado de las expectativas del editor y de la contribución de la experiencia, el buen gusto y la sensatez del diseñador. Se ha pretendido que Palabras Clave Portalegre / Territorio / Paisaje de la Fábrica / Patrimonio / Espacio Robinson / Programación / Creación social de Cultura Palabras Clave Arquitectura / Diseño gráfico / Portalegre / Fábrica Robinson / Fundación Robinson / Memoria e identidad / Logotipo 126 PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON Normas para a elaboração e apresentação de textos Submission Guidelines Publicações da Fundação Robinson 0, 2007, p. 128-130, ISSN 1646-7116 1. Todos os artigos solicitados ou propostos para edição nas Publicações da Fundação Robinson devem ser textos originais e ter em conta os seguintes parâmetros: l. Articles requested or proposed for publication must be original texts and follow the guidelines below: a) Submissions a) Envio: t pelo correio, um exemplar em papel acompanhado de CD (formato Word). No caso do artigo incluir figuras, estas deverão ser entregues em ficheiro autónomo com a indicação no texto do local da sua inserção. Publicações da Fundação Robinson Fundação Robinson Apartado 137 7300-901 Portalegre t por correio electrónico para: [email protected] t CZ QPTU POF IBSE DPQZ UPHFUIFS XJUI B $% 8PSE GPSNBU *GUIFBSUJDMFJODMVEFTJNBHFTUIFTFTIPVME CFTVCNJUUFEQFSBVUPOPNPVTGJMFJOEJDBUJOHXIFSF UIFZBSFUPCFJOTFSUFEJOUIFUFYU Robinson Foundation Publications Robinson Foundation Apartado 137 7300-901 Portalegre t CZFNBJMGVOESPC!DNQPSUBMFHSFQU b) Format and length b) Forma e dimensão: t Artigos - até 20 páginas (c. de 70 000 caracteres, com espaços incluídos); - letra 12, Times New Roman - formatação a um espaço e meio (1,5) - as notas ou referências bibliográficas deverão ser inseridas em lista no final - a bibliografia final não deverá exceder uma página - são admitidos subtítulos, não numerados, escritos em linha própria e sem o uso de texto total em maiúsculas t Recensões - até 3 páginas (c. 10 000 de caracteres, com espaços incluídos) - letra 12, Times New Roman - formatação a um espaço (1,5) 129 t "SUJDMFT VQUPQBHFTBCUDIBSBDUFSTJODMVEJOH spaces); GPOU5JNFT/FX3PNBO - line spacing of 1.5; OPUFTPSCJCMJPHSBQIZUPCFMJTUFEBUUIFFOEPG the article; CJCMJPHSBQIZNBZOPUFYDFFEPOFQBHF TVCUJUMFTBSFBDDFQUFE5IFTFBSFUPCFVOOVNCFSFECVUNVTUOPUCFJODPSQPSBUFEJOUIFUFYU and without using upper-case letters for the UPUBMJUZPGUIFTVCUJUMFT t 3FWJFXT VQUPQBHFTBCUDIBSBDUFSTJODMVEJOH spaces); GPOU5JNFT/FX3PNBO - line spacing of 1.5; c) Citações e referências bibliográficas Exemplos: Monografias Apelido, Nome próprio – Título. Local: editora, data, n.º de edição. Artigos de Publicações em Série Apelido, Nome próprio – “Título do artigo”. Título da publicação. Local de publicação: editor, data, série, vol., n.º, p.?-?. D $JUBUJPOTBOECJCMJPHSBQIJDBMSFGFSFODFT Examples Monographs -ñ㥠/ñýõ (JWFO OBNF o Title "EESFTT QVCMJTIFS EBUFFEJUJPO Articles in publication series -ñ㥠/ñýõ (JWFO OBNF o i5JUMF PG "SUJDMFw Title of Publication "EESFTT QVCMJTIFS EBUF TFSJFT WPM OP page. d) Resumo e palavras-chave: Os textos deverão ser acompanhados de resumos, com um máximo de 10 linhas (750 caracteres, com espaços incluídos) e de 6 a 10 palavras-chave apresentadas do geral para o particular. E "CTUSBDUTBOE,FZ8PSET 2. Procedimentos t Será acusada a recepção ao autor no dia da chegada do texto. t Os autores serão informados da decisão de publicar ou não os originais propostos, podendo igualmente sugerir alterações. t O prazo de correcção e revisão dos textos, pelo autor, é de uma semana a partir da data da sua recepção. t Ultrapassado o prazo de revisão, as alterações serão da responsabilidade das Publicações, sendo que o conteúdo do texto permanecerá inalterado. 2. Procedures 5FYUTTIPVMECFTVCNJUUFEXJUIBCTUSBDUTOPUFYDFFEJOH MJOFT DIBSBDUFST JODMVEJOH TQBDFT BOE XJUIUPLFZXPSETMJTUFEGSPNUIFHFOFSBMUPUIF specific. t 8F BDLOPXMFEHF SFDFJQU PG UFYUT PO UIF EBZ PG receipt. t "VUIPSTXJMMCFBEWJTFEBTUPXIFUIFSUIFJSPSJHJOBM UFYUTBSFUPCFQVCMJTIFEPSOPU"MUFSBUJPOTNBZCF suggested. t 5IFEFBEMJOFGPSUIFBVUIPSTDPSSFDUJPOBOEQSPPG reading of the texts is set at one week after receipt of the texts. t 4IPVME UIJT EFBEMJOF OPU CF NFU UIF Publications XJMMUBLFSFTQPOTJCJMJUZGPSBOZBMUFSBUJPOTJOUIFGPSNBMMBZPVUPGUIFUFYU5IFDPOUFOUTPGUIFTBNFXJMM remain unaltered. 130 INTERREG IIIA COFINANCIAMENTO FEDER