O SURGIMENTO DO MITO DO DRAGÃO NA EUROPA MEDIEVAL E
SUA PERMANÊNCIA NA SOCIEDADE CONTEMPORANÊA
COSTA, Daniel Lula (UEM)
Introdução
(...) Mito, história, narrativa sobre deuses e espíritos, sobre ação desses
poderes no céu, na terra e no mundo dos mortos. Estes fatos míticos situados
fora da realidade temporal, narrados como fatos reais, visam a fundamentar a
realidade intra-temporal através de suas repetições no culto e fazê-la remontar
a ações divinas (...)
(BECKER, p.190, 2007)
A busca pela explicação de fenômenos naturais e a necessidade de descobrir o
desconhecido, fascina a humanidade desde a antiguidade. Fatos inexplicáveis ocorriam
constantemente, a tentativa de satisfazer o pensamento humano com uma explicação tentadora
e compreensiva estimulou o surgimento daquilo que conhecemos como “mito”. Este se
mobilizou durante a antiguidade e adentrou o período medieval por meio das culturas antigas
gregas, romanas, celtas, nórdicas e persas em conjunto com o imaginário, a religião e o medo
que as pessoas possuíam de enfrentar o desconhecido. Uma das figuras de toda a mitologia que
mais fascinou e persistiu durante muitas eras foi o Dragão. O período medieval foi o que mais
marcou a figura deste mito, devido à insistência na composição de um cavaleiro e a figura de
um monstro aterrorizante que desafiava a Igreja e até as pequenas aldeias. Este símbolo ainda
persiste e contempla a contemporaneidade por meio de filmes e livros fictícios. Discutiremos
neste artigo como essa figura foi construída em alguns locais da Europa, e a influência que ela
proporcionou para a contemporaneidade na formação de alguns personagens religiosos, e na
produção de um monstro mitológico que marcou profundamente a História por meio de livros
fictícios como “O Hobbit”.
É necessário que entendamos o contexto histórico inserido na Europa durante a Idade
Média, assim poderemos compreender a composição cultural e mitológica de alguns reinos que
existiram na Escandinávia, região que abriga a Dinamarca, Noruega, Suécia e Islândia, os quais
possibilitaram a dominação e agregação de vários territórios durante o medievo.
0
Todo o continente europeu passava por fortes transformações culturais, religiosas,
sociais e políticas. Em 476 d.C Roma encontrava-se num estágio de grande fragilidade, devido
muitas invasões e algumas crises, que acabaram proporcionando a queda deste grande Império,
que de acordo com Legoff,
(...) As invasões bárbaras constituíram um dos elementos essenciais da crise
do século III. Os imperadores gauleses e ilírios do fim daquele século
afastaram o perigo por um tempo. Mas – para ficar apenas na parte ocidental
do império – o grande reide dos Alamanos, Francos e outros povos
germânicos que em 276 devastou a Gália, a Espanha e a Itália do norte
prefigurou a grande incursão do século V. 9(...) Do mesmo modo, no Oriente
apareciam os Godos, bárbaros que abriram o caminho aos demais e
desempenharam papel capital no Ocidente.(...)
(LE GOFF, p.21-22, 2005)
Os povos que provinham dos mares do Norte e da futura Inglaterra iniciaram uma
expansão por todo leste europeu, estas civilizações foram conhecidas, pelos romanos, como
bárbaras. Este nome explicitava um conjunto de pessoas com crenças e estilos de vida distintos
dos romanos, os bárbaros não formavam um único povo, todas as civilizações que cercavam
Roma foram denominadas dessa maneira, mas por meio de estudos históricos foi possível
inserir a denominação de cada um dos reinos invasores. Os Godos provinham de áreas como a
Dinamarca, Suécia e Noruega, com a ocupação da Península Ibérica e o Norte da França eles
foram divididos e receberam nomes diferentes, aqueles que ocupavam grande parte do ocidente
foram conhecidos como Visigodos, já os inseridos no Oriente foram denominados Ostrogodos.
Outros povos desta linhagem se expandiram pela Europa, como os Vândalos, Hunos, AngloSaxões e Francos. Os Anglo-Saxões ocuparam a Inglaterra na era conhecida como período da
Migração, entre os séculos IV e VI d.c, vindos do mar do Norte eles rumaram para o oeste e
fixaram suas crenças e práticas pagãs na Inglaterra1.
Alguns embates intensificaram esses conflitos. O Cristianismo adotado como religião
oficial por Constantino em 313 D.C crescera com o proselitismo que provinha do Oriente e se
materializara por todo Império Romano. Mas não foi esta forma de culto que foi pregada pelos
bárbaros que provinham da Escandinávia. Por meio da constante busca para descobrir e
entender a vida, compreender os fenômenos naturais e explicar a existência e formação deste
1
DAVIDSON, H.R. Ellis. “Deuses e Mitos do Norte da Europa”. São Paulo, editora Madras, 2004
1
mundo, os bárbaros passaram a estruturar sua própria religião. Deuses mitológicos foram
criados e adorados por estas civilizações, o politeísmo foi uma de suas principais
características. Não podemos julgar negativamente o mito destas populações, é necessário
compreendermos que estes passavam por um contexto histórico diferente dos quais estamos
penetrados. A crença foi uma maneira encontrada para que eles se mantivessem vivos e prontos
para qualquer desafio, era algo que os impulsionava e de certa forma ajudava-os a estabelecer
seus próprios objetivos de vida social, política e religiosa.
A expansão da religião cristã foi inevitável, os povos germânicos e vikings2 acabaram
adotando este sistema oficialmente no século XI3, isso estrutura um fato importante para o
entendimento do mito do dragão, conhecido tanto pela mitologia dos Povos do Norte, que
ocupavam a Escandinávia, como também pelos povos do oriente e ocidente europeu que
acreditavam neste monstro assombroso. Um dos principais poemas viking conhecido como
Beowulf, caracteriza a composição do dragão, já na religião cristã possuímos o principal livro
cristão, a Bíblia, que em determinadas partes insere este lagarto voador.
O significado do dragão
O imaginário no qual se encontra o dragão nos propõe uma discussão acerca da palavra
“monstro”. O universo compunha um estado de perfeição para tudo aquilo que estava presente
na terra, no ar e na água, mas pela apresentação deste poder inigualável, acabava estimulando o
homem a acreditar em seres jamais vistos e estudados. Dessa forma o monstro começava a
adentrar esse espírito medieval, de acordo com Claude Kappler
(...) Se os minerais e os vegetais refletem e explicam a organização do
universo, o reino animal e o homem, que, na hierarquia universal, ocupam
categoria mais elevada, são espelhos mais ricos ainda e mais sedutores a
decifrar; (...) é o enigma mostrado pelas criaturas que são mostradas, que a
natureza designa como enigmas vivos, contraditórios e que, desde a
Antiguidade, são chamados de monstros. (...)
(KAPPLER, p.15, 1994)
(...) A natureza se diverte: o monstro não constitui, a priori, uma negação ou
um questionamento da ordem por ela instaurada, mas a prova de seu poder
(...)
2
Viking foi a palavra designada para nomear os povos que viviam na Escandinávia e aventuravam-se pelo mar
em busca de comércio, colonização e saques na Europa.
3
DAVIDSON, H.R. Ellis. “Deuses e Mitos do Norte da Europa”. São Paulo, editora Madras, 2004
2
(KAPPLER, p.16, 1994)
O monstro passa a ser analisado como um poder da natureza que é inquestionável, e
desconfiável, podendo formar seres grandiosos e perigosos no seu universo, e é por meio
dessas incertezas que possibilitaram a estruturação do Dragão, que desde a Antiguidade
causava medo e terror no imaginário popular.
O dragão no período contemporâneo é visto como um lagarto voador, com grande porte
que varia no peso e no tamanho podendo chegar a uns doze metros ou até mais dependendo da
história ou mitologia em que este se encontra. Quando falamos em dragão imediatamente um
monstro que deriva dos répteis adentra nossa mente, com chifres, uma cauda gigante, grande
par de asas, dentes afiados e cuspidor de fogo, essa imagem muitas vezes provém de filmes
televisivos ou até mesmo desenhos animados que trabalham com este ser. Mas não podemos
deixar de afirmar que este ser mitológico deriva do imaginário dos povos celtas, nórdicos e
medievais, os quais de acordo com seu momento histórico acreditavam fielmente neste grande
réptil voador.
Segundo Udo Becker em seu livro “Dicionário de Símbolos” este animal é analisado de
diferentes maneiras, ele pode tanto guardar um tesouro, uma princesa ou rainha que foi raptada,
possibilitando o surgimento dos famosos cavaleiros existente nos quadrinhos, desenhos
animados ou filmes. Segundo Becker o dragão é um:
(...) Ser hibrido presente na imaginação mitológica de muitos povos,
freqüentemente com varias cabeças. Em muitas religiões o dragão encarna
(muitas vezes relacionado com a serpente) poderes primordiais hostis a Deus,
que precisam ser vencidos. (...) em sagas e lendas o dragão aparece muitas
vezes como guarda de um tesouro ou de uma filha do rei raptada, e assim
encarna as dificuldades que precisam ser superadas para alcançar um objetivo
elevado (...).
(BECKER, p.89, 2007)
Por meio dessa analogia podemos compreender que este mito se fortaleceu na Idade
Média e ainda sobrevive nos dias de hoje. Na época medieval o dragão, muitas vezes, era
assimilado com um demônio, ou até mesmo era sinônimo do próprio Diabo. Desta forma por
meio de crenças cristãs como a de São Jorge ou do Dragão de São Marcelo4, a Igreja ganhava
fiéis, de acordo com esta analogia somente entregando a vida a Deus e possuindo fé que
4
LE GOFF, Jaques. “Cultura Eclesiástica e Cultura Folclórica na Idade Média: S. Marcelo de Paris e o Dragão”. In:
“Para um Novo conceito de Idade Média: Tempo, Trabalho e Cultura no Ocidente”. Lisboa, Estampa, 1993.
3
poderiam escapar deste terrível monstro. Nesta época o número de cavaleiros aumentou, e as
histórias de grandes heróis que salvavam pessoas ou até mesmo vilas dos grandes ataques de
Dragões percorreram a mitologia popular medieval. Esse mito não provém somente da bíblia,
mas adquiri vida na mitologia dos povos nórdicos que ocupavam a Escandinávia e acreditavam
em diversos demônios e monstros que ameaçavam a vida de sua civilização e deviam ser
combatidos.
De acordo com o historiador Bruno Gonçalves Álvaro, a história de São Jorge analisada
por meio da Legenda Áurea, escrita no século XIII por Jacopo de Varazze, mostra um
ideologia de cavaleiro durante a história, tornando-se extrema no momento em que o santo se
direciona a determinado local destinado a sacrifícios e salva uma princesa das garras de um
Dragão. Deste modo analisamos outro interesse, além do ato de salvar a garota, São Jorge
mostra que para matar o dragão é necessária a propagação da fé cristã,
(...) O dragão nos parece ser uma figura presente na narrativa para convencer
os pagãos a se converterem à fé cristã e demonstrar o heroísmo perfeito do
beato Jorge. Isto fica claro quando o mesmo mostra ao povo por quem e para
quê foi enviado e informa que se passassem a crer em Cristo e recebessem o
batismo o dragão seria morto(...)
(ÁlVARO, p.81, 2006)
Podemos analisar que de acordo com personagens bíblicos, o dragão é uma espécie de
personificação do demônio, a análise de que este ser só pode ser combatido por meio de
pessoas crentes na fé cristã, mostra que o lagarto voador era usado de forma proselitista pela
Igreja. O lagarto existia na mitologia popular dos povos medievais e por isso a Igreja se
atentava a utilizar este “medo da morte” para afirmar a religião Cristã.
Não somente a história de São Jorge se refere a este monstro, Jaques Le goff analisa a
história de São Marcelo combatente de um dragão, em determinadas analogias feitas pelo autor
chega-se a mesma opinião de ato proselitista cristão. Algumas particularidades físicas do
dragão são colocadas por Le goff,
(...)a corpulência(serpens immanissimus, ingentem beluam, vasta mole) e as
três partes do seu corpo: as curvas sinuosas (...) entre as duas extremidades
nitidamente individualizadas: a cabeça e a cauda, primeiro erguidas e
ameaçadoras, depois baixadas e vencidas (...) O narrador insiste mesmo num
ponto determinado do corpo do monstro, a nuca, porque é neste sítio que se
torna possível a milagrosa domesticação: o santo dominador, após ter batido
com o ceptro, por três vezes, na cabeça do animal, domina-o (...)
(LE GOFF, p.228, 1993)
4
É analisada a versão cerimonial de um ato de domesticação do um animal tão grandioso
e monstruoso. Deste modo podemos compreender o animal dominado por São Marcelo como
uma caracterização do demônio, um monstro que será contido com a fé cristã,
(...) Neste texto, que irá oferecer a imaginação medieval o mais extraordinário
arsenal de símbolos, o dragão recebe, com efeito, a interpretação que se
imporá a cristandade medieval. Este dragão é a serpente da Génese, é o velho
inimigo do homem, é o Diabo, é Satanás (...)
(LE GOFF, p.230, 1993)
(...) Neste contexto, o combate contra o dragão tornava-se naturalmente o
símbolo da vitória contra o paganismo (...)
(LE GOFF, p. 234, 1993)
Essa foi umas das representações dadas para o animal que prevalecia no domínio eclesiástico,
visando à obtenção da expansão da cristandade perante as demais religiões. O dragão é
analisado como um ser que visa destruir e matar, uma caracterização que culmina no adjetivo
“mal”. Mas determinados locais da Europa analisam o dragão de forma um tanto diferente,
como vemos em fontes encontradas na Escandinávia e regiões da Inglaterra.
As principais fontes monumentais que encontramos na Europa Setentrional são as
chamadas runestones5. São monumentos europeus, no qual elaboravam inscrições e desenhos,
eles eram estruturados em rochas verticais ou horizontais, de acordo com Langer
(...) As runestones eram edificadas principalmente para servirem como
monumentos, possuindo caráter funerário, comemorativo, jurídico, definição
de parentesco, pormenores das façanhas de um guerreiro ou motivo religioso
(...)
(LANGER, p.44, 2003)
Nesses monumentos foram encontradas diversas representações de serpentes gigantescas,
muitas demonstradas sem a presença de asas, mas maiores em relação ao ser humano. Langer
analisa as runestones e apresenta algumas relações com o símbolo do dragão
(...) Podemos sintetizar o desenvolvimento morfológico do mito do dragão na
cultura escandinava pela seqüência: serpente (pré-história) serpente-verme
(período de migração) serpente-dragão (período de migração/ Vendel) dragão
tradicional com patas (período Viking). E todos esses animais são ao mesmo
tempo aquáticos e ctônicos, semelhantes às serpentes-dragões registradas na
Irlanda, sendo por isso mesmo mestres da água (vida), da morte e da
regeneração. (...)
(LANGER, p.52, 2003)
5
LANGER, Johnni. “O mito do Dragão na Escandinávia: Primeira Parte: Período Pré-Viking”.
5
Isso possibilita uma análise de diferentes formas de dragões apresentadas com o
decorrer do processo histórico nos povos da Europa Setentrional. Eles encaminham estas
crenças para a Europa Ocidental por meio das invasões que acontecem no “Período da
Migração” adequando as crenças provindas da Antiguidade sobre dragões, para o âmbito
escandinavo e medieval. Esta figura começa a ser representada como uma serpente gigante
muitas vezes compreendida como uma cobra e por isso já temida, e no passar do tempo é
possuidora de patas e mais tarde acrescentan-se asas e o poder do fogo.
Essa adequação formaliza um monstro dracônico comum, ou seja, aquele que
conhecemos por meio de filmes e livros fictícios, um ser grandioso, forte, poderoso, com um
par de asas, escamas fortificadas, cauda e cuspidor de fogo. No livro “Bilbo, O Hobbit”6 de
Tolkien, presenciamos o dragão tão qual conhecemos, podemos identificar na mitologia
apresentada neste livro muitos monstros e raças humanóides, que provém do imaginário
medieval e escandinavo. A criação do universo de “Bilbo, O Hobbit” se familiariza com o
universo dos Vikings, apresentando seres fantásticos, mas que no contexto histórico do
medievo realmente faziam parte da mentalidade mistificada.
(Figura retirada do livro “Bilbo, O Hobbit” p.101, 2003)
6
Optei por utilizar a versão em quadrinhos por esta apresentar o Dragão de uma forma ilustrativa, ajudando na
minha análise.
6
A figura acima encontrada na adaptação do livro de Tolkien para os quadrinhos mostra
um dragão gigantesco ao redor de muito ouro e itens de valor inestimável, este monstro possui
chifres que se iniciam na cabeça e percorrem toda sua coluna vertebral, um par de asas
encontrados em suas costas, a cauda é apresentada de forma pontuda, suas patas são curtas,
porém possuem garras mortais e seu nariz está liberando um pouco de fumaça. Esta
representação pode ser analisada com o dragão do imaginário medieval, cuspidor de fogo e
grandioso, também podemos analisar com a mitologia nórdica, na qual este monstro é guardião
de túmulos ou de uma quantidade grandiosa de ouro. Mas na representação literária não há
aproximação do animal com a representação do mal demoníaco caracterizado pela Igreja no
medievo, este ato perdeu forças na contemporaneidade, o dragão é analisado como um
guardião que quando perturbado pode matar o invasor, ou seja, em algumas histórias existem
diferentes tipos de dragões e alguns deles não atacam aqueles que não lhe causam o mal,
diferenciando-se da visão do Diabo caracterizada pelos eclesiásticos na Idade Média, uma
visão fortificada pela tentativa de aproximar as pessoas aflitas, por este monstro, de
encontrarem a segurança e calma perante a Igreja Cristã Medieval, como analisado
anteriormente.
Na versão romanceada de “O Anel dos Nibelungos” 7 encontramos o monstro de asas
novamente, mas por meio de uma transfiguração, uma pessoa que se transforma em dragão.
Nesse contexto é apresentado uma justificativa de um gigante (apresentado no romance) ter
escolhido o dragão para se transformar
(...) Fafner, o gigante, conseguira obter, além deste anel, um elmo mágico, de
que já tivemos noticia também há algum tempo. Um elmo capaz de
metamorfosear o seu dono em muitas coisas. E de, uma vez convertida em
hábito esta mudança, degenerar este ser, definitivamente em outro. Pois
Fafner, à vontade sob a forma hediondamente poderosa de um imenso dragão,
há muito tempo, não se preocupa mais em reverter à forma original. Sim, pois
o que é um gigante, mesmo forte e poderoso, em comparação com a forma
magnificamente aterrorizante de um dragão que verte incessante veneno pela
boca? (...)
(FRANCHINI, SEGANFREDO, p.267, 2007)
7
FRANCHINI, A.S,SEGANFREDO, Carmen. “As melhores Histórias da Mitologia Nórdica”. Artes e ofícios. 7ª
Edição, Porto Alegre RS, 2007. Encontramos uma versão romanceada da obra de Richard Wagner “O Anel dos
Nibelungos”.
7
A criatura possuía a forma de gigante, mas para defender o seu anel ela escolhe se
metamorfosear em dragão, pois este é temido e forte para derrotar a maioria dos inimigos.
Podemos compreender por meio do romance que Fafner se aloja numa grande caverna, um
local propício para o dragão medieval e nórdico, além disso, se transforma em dragão para
proteger um objeto de valor. Isso enaltece a imagem do dragão apresentada no livro “Bilbo, O
Hobbit” no qual este defende um monte grandioso de ouro. Desta forma analisamos que o
dragão no imaginário nórdico e medieval possuía características e funções semelhantes.
O dragão conhecido na Idade Média sobreviveu e encontra-se em muitos livros e filmes
atuais. Essa figura fantástica fascina o ser – humano, e além de conhecido como um monstro
aterrorizador e mal, ele passa a ser analisado e muitas vezes comercializado na forma de
estatuetas, representando a força e o poder grandioso de um dragão.
Por meio deste estudo podemos concluir que o mito impulsiona e estimula o homem
antigo e medieval a buscar explicações “coerentes” para o meio no qual ele está envolvido e de
acordo com o contexto histórico deste período. Dessa forma a criação de monstros deixa sua
marca na história medieval, e sobrevive por meio de histórias fictícias, filmes e símbolos. A
criação destes seres abriga a mentalidade do homem medieval devido o desconhecimento que
possuíam da força que a natureza pode realizar, e assim estruturam no seu imaginário seres
monstruosos e grandiosos, os quais passam a habitar locais terrestres, aquáticos e aéreos. Isso
explica o surgimento do dragão medieval, este que foi trazido por meio da mitologia
escandinava e de povos antigos que habitavam a Europa, não como o ser que conhecemos hoje,
mas apenas como serpente, mais tarde a mitologia popular acrescenta asas, labaredas de fogo
que saem pela boca e grandiosos chifres. Os santos foram heróis na Idade Média e batalharam
com estes monstros, afirmando o ato proselitista da Igreja católica na afirmação que quanto
mais contato o homem possui com Deus, mais estes demônios são afastados do homem,
apresentando o dragão como um sinônimo do Diabo. Mas analisamos que nos dias atuais, esta
representação se esfacelou e hoje compreendemos o animal como um ser grandioso, talvez
possa guardar ouro como apresenta Tolkien, um ser que é temido como no “Anel dos
Nibelungos”, mas como um animal mitológico e esplêndido que fascina o homem e sobrevive
para possibilitar que contemos sua história.
8
Referências
ALVARO, Bruno G.A legenda de São Jorge e a santidade cavaleiresca: algumas reflexões.
In: Atas da VI Semana de Estudos Medievais. Rio de Janeiro: Programa de Estudos Medievais,
2006. p.79-85. Disponível em: <http://www.pem.ifcs.ufrj.br/AtasVISem.pdf#page=79> Acesso
em: 14 julho 2009.
BECKER, Udo. Dicionário de Símbolos. 2ª ed. São Paulo: editora Paulus, 2007, 316 p.
DAVIDSON, H.R. Ellis. Deuses e Mitos do Norte da Europa. São Paulo: editora Madras,
2004, 222 p.
FRANCHINI, A.S, SEGANFREDO, Carmen. As melhores Histórias da Mitologia Nórdica.
7ª Ed. Porto Alegre: Editora Artes e ofícios, 2007, 326 p.
KAPPLER, Claude. Monstros, Demônios e Encantamentos no fim da Idade Média. São
Paulo: Martins Fontes, 1994, 497 p.
LANGER, Johnni. O mito do Dragão na Escandinávia: Primeira Parte: Período Pré-Viking.
Brathair, Facipal, Faculdades Integradas de Palmas, PR. v. 3, n. 5, p. 42-64, Jan. 2003.
LE GOFF, Jaques. A Civilização do Ocidente Medieval. São Paulo: Edusc, 2005, 400 p.
LE GOFF, Jaques. Cultura Eclesiástica e Cultura Folclórica na Idade Média: S. Marcelo
de Paris e o Dragão. In: Para um Novo conceito de Idade Média: Tempo, Trabalho e
Cultura no Ocidente. Lisboa: Estampa, 1993.
LE GOFF, Jaques. Cultura Clerical e Tradições Folclóricas na Civilização Merovíngia. In:
Para um Novo conceito de Idade Média: Tempo, Trabalho e Cultura no Ocidente. Lisboa:
Estampa, 1993.
TOLKIEN, J.R.R. Bilbo, O Hobbit. São Paulo: Devir Livraria LTDA, 2003.134 p.
TOLKIEN, J.R.R. O Hobbit.. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 293 p.
9
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