Tuberculose cutânea em um hospital universitário:
Análise de 2000-2013
Azevedo TP, Oliveira MLW
Serviço de Dermatologia, Curso de Graduação e Pós-Graduação HUCFF-UFRJ,
Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio de Janeiro
INTRODUÇÃO
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
O Brasil é um dos 22 países priorizados pela
OMS que concentram 80% da carga global da
tuberculose (TB). Em 2009, havia 72 000 casos
novos relatados, correspondendo a uma taxa de
incidência de 38/100 000 habitantes. Estes indicadores colocam o Brasil na 19ª posição em relação ao número de casos, e na 104ª posição em
relação a taxa de incidência1. Neste contexto, a
tuberculose é um grave problema de saúde pública , sendo a forma cutânea relativamente rara,
representando 2% dos casos2 . O estudo da TB
cutânea é fundamental, uma vez que pode simular várias outras condições dermatológicas, tornando o diagnóstico um desafio muitas vezes3.
O nosso objetivo é demonstrar a experiência com
tuberculose cutânea em nosso hospital durante
os últimos 14 anos, fornecendo informações sobre esta doença pouco estudada.
A análise dos dados permite observar que 1,19%
dos casos de TB no nosso hospital foram cutâneos. A maioria dos casos foram em mulheres
(69,2%), com 86,7% dos casos de EIB em mulheres, o que é consistente com os dados da literatura3-5. Nenhum dos pacientes com EIB tinha um foco de tuberculose ativa no momento
do diagnóstico, apesar do PPD forte reator, o que
também é consistente com a literatura3-5. 3 pacientes tinham também outras formas de TB associadas, sendo a procura destas importante para
interromper a cadeia de transmissão da doença.
Curiosamente, apenas 1 paciente era HIV positivo (3,84%), enquanto os dados da OMS mostram
que 15% dos casos de tuberculose ocorrem geralmente em pacientes com HIV1. Isto pode ser
explicado pela teoria de que a tuberculose cutânea se manifesta mais frequentemente em pacientes HIV positivos em terapia antirretrovviral,
com recuperação dos níveis de CD4, tal como
ocorreu no caso do paciente. 92,3% dos pacientes tiveram um PPD reator forte, o que destaca a
importância de solicitar este teste na suspeita do
diagnóstico. A diferença no tempo de de acompanhamento pós-tratamento mostra que não está
bem estabelecido quanto tempo esses pacientes
devem ser acompanhados. Nos casos com recidiva, o tempo médio até à recidiva foi de 5 anos,
então o seguimento teria de ser muito longo para
as detectar, e talvez a melhor opção seja orientar
os pacientes a voltarem em caso de aparecimento de novas lesões. A vasculite nodular é um termo muitas vezes usado como sinônimo de EIB,
embora historicamente fossem consideradas entidades diferentes. O EIB tem sido considerado
como uma manifestação de hipersensibilidade à
tuberculina, enquanto a VN representaria a forma não tuberculosa. Acreditamos que os doentes
com recaída do EIB poderiam ao invés, representar VN. Os 3 pacientes tratados empiricamente
com melhora nos fazem lembrar que em pacientes com PPD positivo, mas com histopatológico
duvidoso e cultura negativa, não podemos descartar o diagnóstico de TB, e às vezes um teste terapêutico é válido em regiões endêmicas. É
importante destacar que o manual de notificação
compulsória do Ministério da Saúde do Brasil exige apenas a classificação entre TB pulmonar e
extrapulmonar1, tornando assim difícil obter dados precisos sobre as variantes extrapulmonares.
MÉTODOS
Jovem de 16 anos, com diagnóstico de DD há 3
anos, admitido com erupção vesicular umbilicada
e dolorosa em áreas seborreicas, de início há 5
dias (Figuras a e evolução de todas as vesículas
para crosta no 3ºelacionadas à sua dermatose de
base.
RESUTADOS
No período, 2.185 casos de TB ocorreram, 839
dos quais extrapulmonares. Destes, 26 eram casos de tuberculose cutânea, 18 mulheres e 8 homens, com idade média de 40,5 anos. O eritema
indurado de Bazin (EIB) / vasculite nodular (VN)
foi a forma mais comumente encontrada (15 casos-13 mulheres), seguido por escrofuloderma
(8 casos-5 homens), tubercúlide papulonecrótica (TP) (2 casos) e lúpus vulgaris (2 casos). Um
paciente apresentou simultaneamente EIB e TP.
Foram observados 5 casos de recidiva após uma
média de 5 anos para a ocorrência. Em 13 casos, o diagnóstico histopatológico foi possível,
enquanto em 11 a cultura foi positiva. Ainda, o
PPD foi positivo em 24 pacientes. 3 pacientes
com PPD positivo e eritema nodoso foram tratados empiricamente com RIP (rifampicina, isoniazida e pirazinamida) por 6 meses, com melhora.
Apenas um paciente foi diagnosticado com HIV.
2 pacientes escrofuloderma tiveram também TB
pulmonar e um paciente com a TP também tinha
TB ganglionar. Nenhuma outra comorbidade esteve presente em mais de 2 pacientes. O tempo
médio de acompanhamento pós-tratamento dos
pacientes foi de 23,2 meses, mas este diferiu muito entre os pacientes, e 11 pacientes não tiveram
seguimento pós-tratamento no nosso hospital.
BIBLIOGRAFIA
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância Epidemiológica. Manual de recomendações para o controle da tuberculose
no Brasil. Brasília, Ministério da Saúde, 2011.
2. Azulay RD, Azulay DR, Azulay LA. Dermatologia. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013.
3. Bolognia JL, Jorizzo JL, Schaffer JV. Dermatology. 3 ed. New York: Elsevier; 2012.
4. Frankel A, Penrose C, Emer J. Cutaneous Tuberculosis: A Practical Case Report
and Review for the Dermatologist. J Clin Aesthet Dermatol. 2009; 2(10):19-27.
5. Mascaró JM, Baselga E. Eritema induratum of Bazin. Dermatol Clin. 2008;26:4394-45.
70º Congresso Brasileiro da Sociedade de Dermatologia, 5 a 8 de setembro, São Paulo, SP
Download

Tuberculose cutânea em um hospital universitário