Artigo Original CANCELAMENTO DE CIRURGIAS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO: CAUSAS E TEMPO DE ESPERA PARA NOVO PROCEDIMENTO SURGERY CANCELLATIONS AT A UNIVERSITY HOSPITAL: CAUSES AND WAITING TIME FOR A NEW PROCEDURE CANCELACIÓN DE CIRUGÍAS EN UN HOSPITAL UNIVERSITARIO: CAUSAS Y TIEMPO DE ESPERA PARA NUEVO PROCEDIMIENTO Macedo, Jaziele Magella; KANO, Juliana Akemi; BRAGA, Eliana Mara; GARCIA, Marla Andréia; CALDEIRA, Silvia Maria. Resumo: O objetivo deste estudo foi identificar a ocorrência de cancelamentos de cirurgias no Centro Cirúrgico (CC) de um hospital universitário, identificando as especialidades cirúrgicas, os responsáveis, as causas, a faixa etária dos pacientes, bem como o período decorrido entre o cancelamento e a realização do novo procedimento cirúrgico. Estudo quantitativo, retrospectivo, com análise documental de 1449 cirurgias canceladas. Os responsáveis pelo cancelamento foram: o cirurgião, o anestesiologista e o enfermeiro, respectivamente. As especialidades cirúrgicas que apresentaram as maiores frequências de cancelamento foram: ortopedia, gastrocirurgia, oftalmologia e otorrinolaringologia. Em relação ao tempo de espera 46,5% dos usuários não tiveram sua cirurgia reprogramada e/ou realizada. Os motivos mais frequentes de cancelamento cirúrgico foram: não internação do usuário, mudança de conduta do cirurgião, horário eletivo ultrapassado, e paciente com condições clínicas desfavoráveis. Os resultados deste estudo apontaram pouco envolvimento dos profissionais, excesso de agendamento e desistência do usuário por recusa ou não comparecimento. Palavras-Chave: Enfermagem de centro cirúrgico; Procedimentos cirúrgicos operatórios; Enfermagem 26 Rev. SOBECC, São Paulo. jan./mar. 2013; 18(1): 26-34. perioperatória; Comunicação. Abstract: This study aimed at identifying the occurrence of surgery cancellations in the operating room of a university hospital, including the specialties involved, the individuals responsible and causes for cancellation, the age range of patients involved as well as the period of time elapsed between cancellation and performance of a new surgical procedure. It is a quantitative, retrospective study with documental analysis of 1449 cancelled surgeries. The professionals responsible for cancellation were: the surgeon, the anesthesiologist and the nurse, respectively. The surgical specialties showing the highest cancellation frequencies were: orthopedic surgery, gastric surgery, eye surgery and otorhinolaryngologic surgery. As regards waiting time, 46.51% of users did not have their surgeries re-scheduled and/or performed. The most frequent reasons for surgery cancellation were: user’s non-hospitalization, change in surgeon’s conduct, elective time running out and unfavorable patient’s clinical conditions. The results in this study showed little involvement by professionals, in addition to excessive scheduling and user’s giving up by not reporting to the hospital or refusing to undergo surgery. Key words: Surgery nursing; Operative surgical procedures; Perioperative nursing; Communication. Resumen: El objetivo del estudio fue identificar la ocurrencia de cancelaciones de cirugías en el quirófano de un hospital universitario, identificando las especialidades involucradas, los responsables, las causas de la cancelación, la edad de los pacientes, así como el período entre la cancelación y la realización del nuevo procedimiento quirúrgico. Se trata de un estudio cuantitativo, retrospectivo con análisis documental. Se incluyeron 1449 cirugías canceladas. Los responsables por la cancelación fueron: el cirujano, anestesiólogo y el enfermero, respectivamente. Las especialidades quirúrgicas que presentaron las mayores frecuencias de cancelación fueron: ortopedia, gastrocirugía, oftalmología y otorrinolaringología. En relación con el tiempo de espera, el 46,51 % de los usuarios no tuvieron su cirugía reprogramada o realizada. Los motivos más frecuentes de cancelación quirúrgica fueron: no ingreso del usuario, cambio de conducta del cirujano, ultrapasado el horario electivo y condiciones clínicas desfavorables del paciente. Los resultados de este estudio revelaron poco comprometimiento de los profesionales, exceso de cirugías marcadas y la recusa del usuario y no comparecimiento. Palabras clave: Enfermería de quirófano; Procedimientos quirúrgicos; Enfermería Perioperatória; Comunicación. INTRODUÇÃO A realização de uma cirurgia depende do trabalho da equipe cirúrgica e, neste contexto, o enfermeiro é o elemento que pode pressupor a emoção que o paciente deve sentir, ao apresentar um temor real, o qual se estende até os membros da família. Como elemento chave na unidade de Centro Cirúrgico (CC), o enfermeiro tem condições de contribuir para que as cirurgias programadas sejam realizadas na data marcada e dentro de todas as condições de segurança requeridas1. O trabalho da equipe cirúrgica para que o procedimento aconteça e o seu cancelamento podem ser consideradas condições desse planejamento2. É um evento que deve ser analisado, considerando-se as repercussões que envolvem o usuário e as consequências que causam para a instituição de saúde3. Para o paciente, a realização de uma cirurgia tem importante significado a ponto de provocar um comportamento com a mesma proporção de qualquer outra situação traumática. A intervenção cirúrgica requer preparo prévio do paciente e da família, pois envolve aceitação da cirurgia, preparo físico e psicológico, interferência no estilo de vida, alterações socioeconômicas pelo afastamento no trabalho, além da situação de estresse gerada pelo medo do desconhecido1. As repercussões do cancelamento cirúrgico incidem, desfavoravelmente, não apenas sobre o usuário, que tem seu vínculo de confiança rompido em relação à instituição, como também sobre a equipe de enfermagem (operacionalização do trabalho, consumo de tempo e recursos materiais, diminuição da qualidade da assistência) e demais profissionais de saúde3. O impacto emocional e os custos podem ser menores se o cancelamento ocorrer antes do afastamento de suas atividades e da internação. As cirurgias que são canceladas no dia agendado e após a admissão do paciente no CC levam ao aumento de custos hospitalares e à perda de horário de sala cirúrgica3. O não comparecimento dos usuários3-5 e as suas condições desfavoráveis à cirurgia6 se constituem nas principais causas de cancelamento de procedimentos cirúrgicos4-5, considerando as causas relacionadas aos usuários, enquanto as causas organizacionais relativas às instituições de saúde Rev. SOBECC, São Paulo. jan./mar. 2013; 18(1): 26-34. 27 são: falta de leitos7-8, equipe médica indisponível8 e erros de agendamento9. O cancelamento de cirurgias programadas, aparentemente, não causa grande inquietação à equipe multiprofissional dos serviços de saúde e os aspectos relativos à importância desse acontecimento para o paciente, parecem estar esquecidos. As equipes médica e de enfermagem encaram esse acontecimento como rotineiro, inerente à estrutura organizacional e funcional da instituição4-5. Em estudo realizado em um hospital universitário do interior paulista sobre a comunicação dos cancelamentos cirúrgicos em cirurgias pediátricas, as autoras consideram que as informações fornecidas às mães e/ou aos familiares são incompletas e superficiais, deixando dúvidas e lacunas na comunicação, além de sentimentos como ansiedade, medo, insegurança e angústia10. Considerando as repercussões que o cancelamento cirúrgico traz para os usuários, pretendemos investigar os motivos do cancelamento de cirurgias em um hospital público de ensino, além de conhecer o tempo que o usuário esperou para a realização do procedimento cirúrgico. OBJETIVO Identificar a ocorrência de cancelamentos de cirurgias no Centro Cirúrgico de um hospital universitário conhecendo: as especialidades cirúrgicas envolvidas, os responsáveis pelos cancelamentos cirúrgicos, as causas dos cancelamentos cirúrgicos, a faixa etária dos pacientes, período decorrido entre o cancelamento e a realização do novo procedimento cirúrgico. MÉTODO Tipo de estudo Trata-se de um estudo quantitativo, retrospectivo, 28 Rev. SOBECC, São Paulo. jan./mar. 2013; 18(1): 26-34. com análise documental dos registros arquivados na unidade de CC. A pesquisa quantitativa considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas. A pesquisa documental se utiliza de fontes documentais, isto é, fontes de dados secundários11. Cenário de estudo O estudo foi realizado em um Hospital Público Universitário situado no interior paulista, que conta com 415 leitos. O CC da instituição é constituído por 11 salas operatórias que atendem cirurgias portes I, II, III e IV de diversas especialidades, de acordo com o horário semanal estabelecido para cada equipe. Nove salas de cirurgias são destinadas aos procedimentos eletivos, que acontecem de segunda a sexta-feira, além de uma sala destinada às cirurgias de urgência e uma às de emergência. As cirurgias têm início às 7h e as últimas cirurgias devem ser iniciadas até as 16h30. De acordo com o regulamento interno, as cirurgias eletivas que não iniciam até as 16h30 são canceladas. Após esse horário, são atendidas as cirurgias de urgência, que podem, também, ser realizadas durante todo o período, quando há sala operatória disponível. O enfermeiro é responsável pela organização do programa cirúrgico que é realizado no dia que antecede a cirurgia. Para isso, é necessário que a equipe envie o aviso cirúrgico até as 15h do dia anterior. As informações do aviso cirúrgico são digitadas no banco de dados para posterior preparação destas cirurgias (equipe de anestesia, enfermagem, cirurgiões, laboratórios, central de material e esterilização e hemocentro). Os responsáveis pelo cancelamento podem ser os cirurgiões (mudança de conduta, paciente mais grave para ser operado, cirurgião não disponível, entre outros), os anestesiologistas (falta de exames, alteração clínica, infecções, etc), os enfermeiros (falta de materiais, pessoal ou quando o horário ultrapassa o pré-estabelecido) ou o próprio paciente, quando este desiste da cirurgia. Procedimentos de coleta de dados A pesquisa obedeceu a Resolução 196/96 sobre Aspectos Éticos da Pesquisa envolvendo Seres Humanos, a qual implica aos indivíduos-alvo autonomia com aplicação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), comprometimento com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos; vantagens significativas e minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis, além da garantia de que danos previsíveis serão evitados12. Assim, após parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) sob ofício 330/2009-CEP, a coleta dos dados foi realizada por meio da busca dos avisos de cirurgias canceladas e pesquisa em banco de dados do CC, tendo como referência o ano de 2009. Posteriormente, essas informações foram digitadas numa planilha do Excel. Ressalta-se que não foi necessária a utilização do TCLE, por ser um estudo de análise documental. Análise e tratamento dos dados Os dados foram analisados por meio da estatística descritiva, frequência e percentagem das variáveis que estão no estudo, e apresentadas em formas de tabelas. O programa utilizado foi o SAS for Windows versão 9.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO No período estudado, foram agendadas 9.490 cirurgias, 7.847 foram realizadas e 1.643 canceladas. A taxa de cancelamento cirúrgico foi de 17,3%. Para compor o estudo, foram incluídas 1.449 cirurgias canceladas, porque 194 avisos cirúrgicos não foram encontrados nos arquivos. As cirurgias canceladas foram 1.173 (80,9%) eletivas, 257 (17,7%) de urgência e 19 (1,3%) de emergência. Os responsáveis pelo cancelamento foram o cirurgião (39,7%), seguido pelo anestesiologista (22,0%) e pelo enfermeiro (4,6%). Cabe ressaltar que em 33,6% das cirurgias canceladas não estava especificado o nome e/ou a função do responsável pelo cancelamento. Tabela 1 - Distribuição das frequências das cirurgias canceladas por especialidade no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP). ESPECIALIDADE FREQUÊNCIA Número Percentagem Ortopedia 267 18,4% Gastrocirurgia 232 16,1% Oftalmologia 154 10,6% Otorrinolaringologia 147 10,1% Cirurgia vascular 132 9,1% Urologia 97 6,7% Cirurgia pediátrica 93 6,4% Cirurgia plástica 87 6,0% Cirurgia torácica 74 5,1% Neurocirurgia 68 4,7% Ginecologia 36 2,5% Cirurgia cardíaca 36 2,5% Outras 26 1,7% 1449 100,0% TOTAL A Tabela 1 refere-se às especialidades cirúrgicas que apresentaram as maiores frequências de cancelamento cirúrgico: ortopedia (18,4%), seguida pela gastrocirurgia (16,1%), oftalmologia (10,6%) e otorrinolaringologia (10,1%). Os procedimentos cirúrgicos que apresentaram as maiores frequências de cancelamento foram: tratamento cirúrgico de fratura em membros superiores ou inferiores (10,0%), seguidos pela facetomia para implante de lente (5,1%) e herniorrafia (4,6%). Vale ressaltar que 130 (9,0%) avisos cirúrgicos cancelados não tinham especificado o procedimento que seria realizado. Rev. SOBECC, São Paulo. jan./mar. 2013; 18(1): 26-34. 29 Estudo nacional realizado em hospital universitário avaliou 872 programações cirúrgicas durante um me e revelou que o índice de cancelamento foi de 24,5% (214 procedimentos) e as especialidades médicas que tiveram a maior frequência foram a gastrocirurgia (21,3%), seguida pela cirurgia geral (14,8%), clínica cirúrgica e otorrinolaringologia (14,4%)13. Outro estudo nacional que avaliou 7.938 cirurgias mostrou que a taxa de cancelamento foi de 16% e que 41% das cirurgias não deveriam ter sido agendadas. O estudo propõe alterações nos sistema de gerenciamento da unidade para melhoria desse indicador14. Tabela 2 - Distribuição dos motivos do cancelamento cirúrgico no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP). motivo Número Percentagem Usuário não internou 268 18,5% Mudança de conduta 250 17,3% Ultrapassou horário eletivo 239 16,5% Condições clínicas desfavoráveis à cirurgia 162 11,2% Não especificado 100 6,8% Cirurgião indisponível 97 6,7% Falta de exames/preparo 74 5,1% Recusou cirurgia 47 3,3% Para realizar cirurgia de urgência/emergência 43 3,0% Usuário alimentou-se 41 2,4% Material/equipamento 35 2,4% Antecipada cirurgia 27 1,9% Enfermagem indisponível 25 1,7% Falta de leito 12 0,8% Outros motivos 29 2,0% 1449 100,0% TOTAL 30 FREQUÊNCIA Rev. SOBECC, São Paulo. jan./mar. 2013; 18(1): 26-34. A Tabela 2 refere-se aos principais motivos para o cancelamento cirúrgico. A não internação do usuário (268 ou 18,5%) é um motivo que merece uma melhor investigação, já que não se sabe o motivo do não comparecimento. Algumas cirurgias são agendadas com bastante antecedência e não existe um serviço de busca ativa para confirmar a presença do usuário na cirurgia. Estudo realizado em hospital universitário da capital paulista, avaliando 60 cancelamentos cirúrgicos em consequência do absenteísmo do usuário, revela que 11 usuários não compareceram à cirurgia devido ao desconhecimento da data2, o que revela uma falha na comunicação entre usuários e instituição/profissionais. Em estudo realizado em hospital universitário no interior paulista sobre a comunicação dos cancelamentos cirúrgicos em cirurgias pediátricas, as autoras consideram que as informações fornecidas pelos profissionais às mães e/ou aos familiares são incompletas e superficiais, deixando dúvidas e lacunas na comunicação, além de sentimentos como ansiedade, medo, insegurança e angústia10. Acreditamos que falhas na comunicação também devam ocorrer em relação à data da cirurgia, o que deve favorecer o absenteísmo do usuário. Estudo realizado em dois hospitais universitários, nos Estados Unidos e na Noruega, difere do presente estudo no que se refere às principais causas de cancelamento cirúrgico, relacionado a problemas referentes à instituição, que foi a falta de leitos ou de profissionais. Já quanto aos motivos relacionados aos pacientes, a principal causa foi a mesma do presente estudo, ou seja, condições clínicas desfavoráveis à realização cirúrgica6. Observouse (Tabela 2) que 11,2% (162) das cirurgias não aconteceram, já que o agendamento no CC ocorre antes da avaliação pré-anestésica. Neste caso, alguns pacientes foram operados em cirurgias de urgência. A implantação de visita pré-ambulatorial também é objeto de outro estudo, que revelou que havia necessidade de melhoria de um grande nú- mero de pacientes programados para procedimentos cirúrgicos eletivos. A visita pré-ambulatorial tem contribuído para orientação mais eficaz, melhor satisfação do paciente com relação à anestesia e à cirurgia, redução da ansiedade, diminuição das doses de analgésicos e decréscimo nas complicações pós-operatórias. O estudo considerou que 11,9% dos pacientes necessitaram de melhora do estado clínico, quando avaliados na primeira consulta e que, possivelmente, teriam tido o procedimento cirúrgico suspenso e postergado em ambiente hospitalar para a avaliação apropriada14. Estudo nacional, que acompanhou durante cinco anos os indicadores de desempenho após a implantação de uma clínica de avaliação pré-operatória, demonstra que houve diminuição gradual do número total de cirurgias canceladas, principalmente por causas administrativas15. Outros estudos sobre o mesmo objeto, realizado na Irlanda16 e nos EUA17, também demonstraram que a visita pré-anestésica ambulatorial minimiza o cancelamento cirúrgico. Os motivos de cancelamento (Tabela 2), como mudança de conduta do cirurgião (17,3%) e ultrapassar o horário de rotina (16,5%), demonstram falta de organização no planejamento e na rotina cirúrgica. Ocorre um excesso de agendamento, não permitindo a realização de todas as cirurgias. Esse excesso, algumas vezes, se deve ao alto índice de absenteísmo do usuário e à não existência de um serviço de confirmação do usuário para cirurgia eletiva. Observa-se, também, que 6,8% das cirurgias não tiveram o motivo do cancelamento especificado, o que poderia trazer resultados diferentes dos apresentados. Algumas justificativas, como a recusa de uma cirurgia eletiva e alimentar-se no pré-operatório, merecem atenção das equipes envolvidas, demonstrando falhas na orientação dos usuários, o que faz com que eles venham à instituição e desistam horas antes da cirurgia. Em relação à faixa etária, observou-se que o grupo com maior frequência de cancelamento cirúrgico foram os maiores de 60 anos (32,9%), seguidos pelas faixas etárias de 51 a 60 anos (15,3%), 41 a 50 anos (14,1%) e de 0 a 10 anos (11,7%). Os resultados deste estudo diferem da pesquisa realizada em outro hospital universitário do interior paulista, que avaliou 249 cirurgias canceladas num período de três meses e observou um predomínio de cancelamentos na faixa etária de crianças (12,5%) e de pacientes com 51 a 60 (9,7%) e idosos acima de 71 anos (9,2%). Os idosos merecem uma atenção especial no agendamento cirúrgico, já que apresentam doenças prévias que devem ser avaliadas e tratadas antes da cirurgia. Outro fator que pode justificar o alto índice de cancelamento de cirurgias em idosos é a necessidade de um acompanhante para chegar à instituição. Tabela 3 - Distribuição da frequência do tempo de espera para a realização das cirurgias canceladas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucat (UNESP). tempo Mesmo dia do cancelamento FREQUÊNCIA Número Percentagem 51 3,5% 1 a 7 dias 403 27,8% 8 a 14 dias 112 7,7% 15 a 30 dias 70 4,8% Mais de 30 dias 139 9,6% Não realizou 674 46,5% TOTAL 1449 100,0% Em relação ao tempo de espera do usuário que teve sua cirurgia cancelada (Tabela 3), observouse que 46,5% (674) dos pacientes não tiveram sua cirurgia reprogramada, o que leva a outra questão. Qual foi o tratamento que esse usuário recebeu após o cancelamento de sua cirurgia? Entende-se esta questão como uma limitação deste estudo e Rev. SOBECC, São Paulo. jan./mar. 2013; 18(1): 26-34. 31 também como uma motivação para continuar esta investigação. Outra informação que merece atenção é o fato de 3,5% das cirurgias canceladas acontecerem ainda no mesmo dia. Neste caso, as cirurgias eram eletivas e, após o seu cancelamento, foram realizadas a critério de urgência ou emergência, em decorrência da gravidade do usuário. A instituição estudada não trabalha com o indicador de adiamento cirúrgico; portanto, 46,5% das cirurgias foram realmente canceladas e as demais adiadas e/ou reprogramadas (Tabela 3). Considerando os 674 (100,0%) pacientes que não tiveram sua cirurgia realizada no CC estudado, identificou-se que 10 (1,5%) realizaram a cirurgia em outro local da instituição (cirurgia ambulatorial, centro obstétrico ou centro hemodinâmico) e quatro (0,6%) foram a óbito. Os demais pacientes tiveram as seguintes causas: 179 (25,7%) não internaram, 131 (19,4%) tiveram mudança de conduta pelo cirurgião, 78 (11,6%) apresentavam condições clínicas desfavoráveis à realização da cirurgia, 62 (9,2%) tiveram o horário de rotina cirúrgica já estava encerrado, 41 (6,1%) por falta de exames ou preparo operatório, 40 (5,9%) por falta de equipe médica ou de enfermagem, 39 (5,8%) recusaram o procedimento, 39 (5,8%) não tiveram seus motivos especificados e 51 (7,6%) por outros motivos. O enfermeiro é o responsável pelo planejamento e pelo gerenciamento da rotina do CC e tem, diariamente, que se adaptar às mudanças constantes na programação cirúrgica. Estudo que avaliou as implicações do cancelamento cirúrgico na perspectiva dos enfermeiros mostrou que o profissional sentese responsável e preocupado com os desperdícios decorrentes dos cancelamentos cirúrgicos12. ainda é um grande desafio na instituição estudada. Os resultados apontaram pouco envolvimento dos profissionais envolvidos, já que os procedimentos e as justificativas de cancelamentos não são preenchidos adequadamente, além do excesso de agendamento e da desistência do usuário, por não comparecimento ou recusa. O absenteísmo do usuário também demonstra a necessidade da realização da busca ativa e/ou de modificações no sistema de agendamento. Embora existam diferenças entre as principais causas dos cancelamentos em comparação com estudos em outras instituições, observamos que existem problemas comuns a todas e que os usuários têm grande prejuízo emocional, financeiro e em sua saúde. Os resultados deste estudo também apontam para o fato de que quando a instituição posterga a resolução de um tratamento, esse se torna mais oneroso pela repetição dos trabalhos das equipes de saúde, ociosidade de sala cirúrgica e possíveis complicações, em decorrência do prolongamento das internações dos usuários. A informatização do agendamento cirúrgico poderá implementar a assistência neste setor e colaborar para que não ocorra perda de avisos cirúrgicos, otimizando as atividades. Sugere-se que, na incidência de uma suspensão cirúrgica, quando sua realização ocorre no mesmo dia ou na mesma semana, esta deveria ser considerada adiada e não cancelada; assim, será possível ter índices mais fidedignos de cancelamento cirúrgico e, deste modo, poder atuar efetivamente nas principais causas dos eventos. REFERÊNCIAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo revelou que o cancelamento cirúrgico 32 Rev. SOBECC, São Paulo. jan./mar. 2013; 18(1): 26-34. 1. Cavalcante JB, Pagliuca LMF, Almeida PC. Cancelamento de cirurgias programadas em um hospi- tal-escola: estudo exploratório. Rev Lat Am Enferm. 2000;8(4):59–65. 2. Perroca MG, Jericó MC, Facundin SD. Cancelamento cirúrgico em um hospital escola: implicações sobre o gerenciamento de custos. Rev Lat Am Enferm. 2007;15(5):1018-24. 3. Paschoal MLH, Gatto MAF. 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Juliana Akemi Kano Enfermeira Graduada pelo Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Julio Mesquita Filho” (UNESP). Eliana Mara Braga Enfermeira, Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP), Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da 34 Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Julio Mesquita Filho” (UNESP). E-mail: [email protected]. Marla Andréia Garcia Enfermeira, Especialista em Administração Hospitalar, Mestre em Biotecnologia Médica, Supervisora Técnica da Seção de Centro Cirúrgico e Recuperação Anestésica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Julio Mesquita Filho” (UNESP). E-mail: [email protected]. Silvia Maria Caldeira Professora Assistente da Disciplina de Centro Cirúrgico do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Julio Mesquita Filho” (UNESP).