O PANORAMA ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Autor: Marcia Magalhães Nazareth1 Orientadora: Professora Doutora Rachel S. Nunes Universidade Estácio de Sá/RJ. [email protected] / [email protected] RESUMO Este trabalho se propõe a analisar o panorama atual do ensino superior no Brasil, com destaque a expansão das instituições e o aumento expressivo do ingresso de alunos às universidades públicas e privadas. Pretende refletir sobre as modalidades presenciais e, sobretudo, a distância, moldes e eficácia. Objetiva ainda promover um debate sobre as teorias e práticas de avaliação e didática no ensino superior. Palavras-chave: ensino superior no Brasil, expansão do EAD, avaliação. Abstract: this study aims to analyze the current situation of higher education in Brazil, especially the expansion of institutions and the significant increase in the admission of students to public and private universities. It aims to reflect on the face modalities, and especially the distance, molds and effectiveness. It also aims at promoting a debate on the theories and evaluation practices of assessment and teaching in higher education. Keywords: higher education in Brazil, expansion of distance education, evaluation. 1 Licencianda em Letras (Português/Literaturas) pela Universidade Estácio de Sá/RJ. E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO As dimensões continentais do Brasil e o desafio de se democratizar o ensino superior no país, certamente, têm sido motivos de reflexões, inúmeros debates e esforços para a implementação. Nos últimos anos, houve a expansão do ensino superior público e privado no país com o aumento expressivo do número de universidades e entidades naquele segmento. Houve também a necessidade das pessoas prosseguirem além das fronteiras do ensino médio. Embora a concentração maior ainda seja nas grandes capitais e no litoral, muitos estudantes de outras regiões começaram a ingressar no universo acadêmico graças à interiorização das universidades que facilitou este movimento rumo à educação superior. Neste artigo, pretende-se analisar o panorama atual do ensino superior no Brasil, destacar a expansão das instituições e o aumento significante do ingresso de alunos às universidades públicas e privadas. Visa destacar ainda, o que tem acontecido em termos de EAD no ensino de graduação no Brasil e no mundo, refletir sobre as modalidades, formato e eficácia presenciais e a distância. Neste sentido, o artigo não tem a pretensão de ser completo ou de trazer em seu bojo todos os inúmeros aspectos do ensino a distância e presencial. METODOLOGIA Dentro da estrutura do presente trabalho, procura-se com base nos teóricos: CHAVES, DEMO, FAGUNDES, FRANCO, VALENTE e GIOLO conceituar ensino a distância. Em seguida, busca-se descrever brevemente o panorama da graduação EAD e presencial no Brasil, nos países emergentes e desenvolvidos, por meios tradicionais e através da internet. Procura-se refletir ainda, a respeito da eficácia do ensino a distância na atualidade e também dos métodos avaliativos aplicados nas instituições que estão trabalhando com o EAD e presencial. O PANORAMA ATUAL DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL Segundo CHAVES (1999, p.2), o ensino, em sua essência, é uma atividade que envolve três componentes: o sujeito que ensina, aquele a quem se ensina e o conteúdo que se aplica. O autor define ensino a distância como "uma forma de utilizar a tecnologia na promoção da educação". Já o termo distância, conforme o mesmo autor, pode também ser usado para se referir ao tempo. O ensino a distância ocorre, no entanto, quando o professor que ensina está separado do aluno que aprende, seja física ou temporalmente. Os termos “educação a distância” ou “aprendizagem a distância” já se popularizaram, embora alguns autores não concordem com tais denominações. CHAVES (ibidem) coloca sua visão a respeito quando aborda sobre os termos “aprendizagem” ou “educação” e o uso inadequado dos mesmos. A educação e a aprendizagem são processos que acontecem dentro da pessoa -- não há como possam ser realizados a distância. Tanto a educação como a aprendizagem (com a qual a educação está conceitualmente vinculada) acontecem onde quer que esteja o indivíduo que está se educando ou aprendendo. (CHAVES, 1999, p.2). Atualmente, o ensino a distância é utilizado em mais de 80 países, frente às demandas em todos os níveis de ensino, com destaque ao ensino superior no Brasil, que se expandiu de forma relevante até os anos noventa devendo muito ao segmento privado. Segundo dados da ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância, mais de sete milhões de estudantes que ingressaram no ensino superior no último ano, ¾ estão nas universidades privadas. Outro fato inegável é que expandir não só requer qualidade das novas instituições, mas também o aprimoramento da qualidade daquelas já existentes. É uma falsa premissa dizer que todas as universidades públicas são boas e que as particulares não são boas. A qualidade está, sobretudo, no compromisso com a busca da mesma. Há que se pontuar que o movimento mundial atualmente é de expansão do ensino superior, tese que foi de encontro ao que se pensava em outrora no Brasil. Acreditava-se na importância do investimento preferencialmente no ensino técnico, e, na verdade, esta mesma corrente mundial trouxe à baila não somente a necessidade de se investir na educação superior tecnológica, mas também na tradicional e na disseminação da educação a distância. É relevante destacar que uma fatia importante das universidades no Brasil não é pública e esse dado fornecido pelo Ministério da Educação (MEC) chama a atenção quando comparado a outras realidades como Europa, por exemplo, onde quase todas as instituições de ensino superior são mantidas com recursos do governo. Além disso, em países desenvolvidos, como o Canadá, a modalidade EAD é uma realidade que atende à necessidade de levar o ensino para regiões distantes em um território de grande extensão como o Brasil. Seguindo essa mesma tendência, em países emergentes como a China, Índia e África, podemos observar este cenário de forte expansão das instituições privadas e do EAD. O Brasil se insere nesse panorama mundial em decorrência da semelhança do contexto social, político e econômico. Diante desse cenário, foram necessárias ações no sentido de garantir este crescimento com qualidade. O MEC ao criar o SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior e o ENADE – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes passa a avaliar de perto estas instituições e alunos. O objetivo, em linhas gerais, é a melhoria da qualidade da educação superior e a orientação da expansão da sua oferta. Deste sistema de avaliação resulta um macro relatório da estrutura de cada entidade e ele é objeto não só de controle da qualidade da educação, como também, objeto de concessão de políticas públicas de incentivo ao ingresso do estudante ao ensino superior. As universidades, de modo geral, vêm abrindo um verdadeiro leque de opções de cursos a distância tornando-se um nicho de mercado galopante na área da educação. Com o notório avanço das tecnologias, a popularização da internet e as redes sociais, estudar sem as barreiras de espaço/tempo se tornou uma realidade factível. O senso realizado pela Associação Brasileira de Ensino a Distância (ABED), em 2012, demonstra que a EAD continua crescendo no Brasil, e confirma a adoção plena dessa modalidade de aprendizagem. Dados levantados pelo INEP sobre a graduação a distância apontam que em 2003 eram 52 cursos para 50 mil alunos e em 2013, portanto apenas uma década depois, já havia 1,2 mil cursos regulares de graduação em instituições chanceladas pelo MEC e 1,1 milhão de estudantes matriculados. Isto é uma constatação do acelerado crescimento da educação a distância no Brasil. De acordo com as diretrizes do MEC, orienta-se que 20% das aulas presenciais sejam feitas na modalidade online, porém, nem sempre esta orientação é seguida. Muitas vezes os cursos abrangem grande parte de suas disciplinas via Web. Diante desse fato gostaríamos de propor uma breve reflexão a respeito da qualidade do ensino oferecido. Trazendo a qualidade para a lente de nossa modesta análise, perguntas são fatalmente associadas: o EAD como uma nova e irrevogável realidade de ensino está cumprindo seu propósito maior – promover a aprendizagem? Até que ponto seria dispensável o contato e percepção do professor sobre o aluno? A modalidade EAD diminui as possibilidades de respostas do docente às necessidades do discente? Segundo CHAVES (1999, p.9): A escola, como a conhecemos, representa um modelo de promoção da educação calcado no ensino, que foi criado para a sociedade industrial (em que a produção em massa era essencial) e que não se adapta bem à sociedade da informação e do conhecimento – na verdade é um obstáculo a ela. O teórico questiona o ensino voltado para o conteúdo em si, criado para atender a uma demanda crescente da sociedade que visava a produção em massa. Hoje temos uma população estudante que busca mais do que conteúdo, busca informação e conhecimento. Segundo MORAN (2009), a EAD no Brasil, encontra-se em franca expansão, consolidação pedagógica e regulação do governo. O ensino a distância é reflexo da evolução tecnológica do mundo virtual, necessitando de diretrizes específicas dentro de uma nova visão pedagógica e organizações específicas. É um mundo relativamente novo onde ainda estamos construindo suas bases. O que vem ocorrendo é que as universidades ao criarem seus modelos de ensino a distância, muitas vezes transferem os moldes da educação presencial e por isso não obtém êxito. Há que se adaptar a educação online a novos modelos pedagógicos. A formação de professores, tutores, ainda está muito condicionada à reprodução dos padrões presenciais; uma palestra presencial, por exemplo, não poderia ser gravada e transformada em online simplesmente. Justamente aí, reside a nossa fraqueza e maior desafio, é preciso buscar inovações tecnológicas e pedagógicas. Chaves (1999) ressalta ainda que a grande tendência é repensarmos a educação voltada para o indivíduo com suas necessidades e individualidades e não para o conteúdo simplesmente. Na verdade, essa maleabilidade reflete características próprias contidas nos avanços das tecnologias atuais, tal como a Web. Segundo TORRES (1994, p.34), o ensino a distância é uma realidade mundial que veio para ficar: Já se admite em vários países do mundo que as universidades tradicionais, em que pese também sua importância, não conseguem ter a mesma agilidade da modalidade de ensino a distância. Neste sentido, FRANCO (1999) ressalta o fato de inúmeros países, como a Espanha, o Canadá, a Austrália, a Índia e a China, usarem largamente esses recursos tradicionais de educação a distância. Provavelmente com a diminuição do custo dessas tecnologias e o uso das atuais, essas possibilidades de EAD possam alcançar no futuro um maior número de pessoas. Podemos acrescentar a todas estas considerações dos teóricos, que o EAD democratiza o ensino pelo fato de poder alcançar um público muito maior e com os mesmos investimentos de um curso presencial. A internet é uma das principais e mais modernas ferramentas nesta democratização, porém, ainda tem seu alcance bastante limitado a um segmento da população de maior poder aquisitivo e acesso às tecnologias. Este fato nos faz crer que, por um bom tempo, ainda teremos os tradicionais meios de educação presencial e a distância por meio de textos, livros, CD’s, rádio etc., devendo marcar presença no projeto pedagógico das universidades que estão no caminho da democratização do ensino através do EAD. Não poderíamos deixar de abrir parênteses para abordar que vários questionamentos emergem da prática docente e um deles é a avaliação da aprendizagem. O desafio de adaptá-la ao contexto atual é muito grande, exige disponibilidade e postura aberta ao diálogo com outros profissionais da educação na condição de avaliadores. Avaliar, segundo o dicionário do Aurélio, significa “determinar o valor” e quando imputamos valor a algo ou alguém, de certa forma, selecionamos. Em outras palavras; avaliar é escolher os mais aptos e isto envolve questões pessoais e culturais de cada docente, implicando, muitas vezes, situações desconfortáveis de comparação, promoção de um em detrimento de outro. O papel do professor é minimizar este incômodo ao máximo, conduzindo a avaliação com foco na aprendizagem do discente. “A avaliação é procedimento fundamental, indispensável e permanente, seja no sentido do diagnóstico sempre atualizado, seja no sentido da intervenção apropriada” (DEMO, 2003 p. 29). Muitos questionamentos de especialistas e da comunidade docente em geral são enfáticos quando o assunto é avaliação. As respostas estão longe de serem conclusivas, mas apontam para um caminho de aprimoramento do ensino-aprendizagem onde o processo de avaliação é feito individualmente respeitando a complexidade e singularidade de cada aluno. No ensino superior a avaliação tem suas peculiaridades, pois envolvem professores cuja atividade docente está voltada para a sua área de especialidade, somado a isto, cabe ao profissional também observar as determinações da universidade com relação ao modelo de avaliação. Podemos perpassar em poucas linhas, por exemplos mais conhecidos de avaliação onde: a cada duas questões erradas, uma correta é eliminada; avaliações cujo resultado é atribuído a um conceito subjetivo ao invés de um valor numérico exato; mitos onde se crê que o professor que reprova mais é mais competente ou justo e na outra ponta estão aqueles mais permissivos e menos críticos que aprovam sem grandes critérios pedagógicos. Enfim, avaliar é um ato necessário, porém difícil em sua essência, tamanha a complexidade de critérios que necessitam ser levados em consideração. Porém, não se deve perder algo de vista em meio a toda essa engrenagem: o objetivo maior da avaliação – consolidar conhecimentos, conduzir o docente motivando-o sempre. Neste contexto, cabe ainda, nos indagarmos a cerca da formação desses professores. Estão eles capacitados para atuar nas modalidades online e presencial, avaliando com justa medida? Fagundes (2006) traçou um paralelo entre os cursos presenciais e a distância e observou que o aluno formado por meio da modalidade EAD tem melhores condições de atuar na sala de aula no que se refere ao uso das tecnologias, à medida que estas fazem parte do dia a dia. Isto se deve ao fato de que os discentes EAD têm contato direto com a informação de forma privilegiada, atualizada, sem falar no exercício diário da autonomia. Paralelamente, a formação de professores na modalidade EAD entrevê possibilidades de atuação na profissão utilizando o saber docente na sua íntegra, a satisfação contida em sua prática e principalmente no resultado: a aprendizagem - desde que não esteja limitada a métodos conteudistas. Outrossim, há que se primar pelo aperfeiçoamento sempre, buscando o desenvolvimento de competências que possibilitem ao professor desenvolver a sua “marca”, a sua identidade profissional. CONCLUSÃO Podemos concluir que a criação de cursos de graduação a distância no Brasil ainda é bastante principiante, muito embora tenha crescido notoriamente. Inaugural também é a utilização das tecnologias de vanguarda como a internet. Porém, esta é uma realidade consumada e à medida que o número de universidades adeptas for crescendo, proporcional serão os esforços de toda comunidade acadêmica a fim de aprimorar o ensino a distância e sua democratização. Podemos vislumbrar que o futuro da educação no Brasil está intrinsicamente ligado ao EAD, primeiro pela colossal extensão territorial do país, segundo, pelo atual panorama econômico e social com ênfase na precária situação da educação em todos os níveis, não só da graduação. O aprimoramento de práticas pedagógicas e tecnológicas eficientes e eficazes que alcancem o maior número de indivíduos é desafio não menos colossal, porém factível. Para tal, precisamos de iniciativas de apoio ampliadas e aprimoradas para a realidade do nosso país. Contudo, diante desse cenário de avanços tecnológicos, há que se ressaltar o quase óbvio; a figura do professor no ensino a distância, dificilmente ou, a longuíssimo prazo, será substituída. Sempre haverá um professor por trás da engrenagem ensinoaprendizagem, pensando e fazendo educação. A nossa proposta, em tempo algum, foi a de se questionar isto. A questão é: como este educador se adaptará às novas tecnologias, aos novos desafios de uma conduta pedagógica em EAD eficiente em seu propósito. A forma de educar neste país está em franca transformação e uma vez adaptada às novas necessidades e realidades jamais poderá perder de vista a importância da aliança entre o velho e o novo, extraindo o melhor dos dois mundos. Os desafios a enfrentar são inúmeros, entretanto existem sinais que demonstram que avanços importantes também foram feitos, e que um melhor padrão de qualidade é algo a ser alcançado com políticas educacionais eficazes e contínuas. Pudemos concluir também que, com relação aos métodos avaliativos no ensino superior, não há como abrir mão do equilíbrio entre os níveis qualitativos e quantitativos. O docente precisa utilizar várias ferramentas pedagógicas em prol do objetivo maior: promover a aprendizagem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Artigo: Um Panorama do Ensino de Graduação a Distância no Brasil. 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