UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS- UFGD Faculdade de Comunicação, Artes e Letras - FACALE Curso de Letras Disciplina: Escrita e Ensino Professora: Rute Isabel Simões Conceição Autora: Mara Lucia Chamorro E AGORA, MARIA? No dia vinte e três de dezembro de dois mil, Maria se prepara para o grande dia da sua vida. Como havia agendado para arrumar seus longos e lisos cabelos negros, pela manhã, arruma-se rapidamente e sai. Logo depois, no salão de festas, Maria verificou a decoração, arrumou os enfeites de flores e observou se as bebidas estavam geladas. Tudo perfeito. Sua felicidade era visível. Nada podia dar errado no seu grande dia! Já era tarde, o relógio marcava dezesseis horas, estava quase na hora. De volta a sua casa, Maria pega uma caixa de dentro do seu guarda-roupa e começa a rever antigas fotos e cartas. Seu coração pulsa forte, quase a ponto de rasgar lhe o peito. De sua face, lágrimas de felicidade escorrem ao ler delicadas palavras de amor, trocadas com José. Ela se veste daquele momento mágico! Era como se na boca tivesse um pedaço do céu. Relembra os bons momentos e o quanto sonhou com aquele grande dia. Sozinha no quarto, com o vestido em seu corpo, delicadamente passa as mãos na grinalda de flores. Olha-se no espelho, vira-se de um lado para o outro e sente - se uma verdadeira princesa. Perdida em seus sonhos, Maria sente o momento do casamento se aproximando. Não consegue mais relaxar, a respiração fica ofegante. Seus passos, de um lado para outro, são curtos e inquietos. Um grito ecoou da sala, fazendo-a estremecer: - Vamos! Nós já estamos atrasadas – era sua mãe a chamar. Ao chegar à igreja, de dentro do carro, Maria observa seus familiares a entrar: uns com os passos lentos, outros em disparada. Todos muito elegantes, especialmente arrumados para aquele momento. Ela desce do carro e, parada na porta, vislumbra as rosas vermelhas que enfeitavam toda a igreja. Olha para o carpete escarlate, logo se imagina deslizando sobre ele em passos macios até José. Mas... Ela não vê José. Maria sente um calafrio que lhe percorre toda a espinha: sente um aperto que parece esmagar-lhe seu coração. Suas mãos suam frias, as palavras mal saem de sua boca. Trêmula, vira-se para sua mãe e sussurra: - Isso não pode estar acontecendo comigo!!! O José não está lá na frente me esperando!? Virou-se desesperada e desceu correndo os degraus da igreja. Suas lágrimas derramavam, seus sentimentos pareciam sufocá-la. Na calçada da igreja, sua mãe tentava abraçá-la. Maria andava de um lado para o outro, tentando entender por que José não viera. Sua mãe tenta falar-lhe, mas ela se recusa a parar para ouvir qualquer coisa: - Por que ele desistiu? Por que não disse que não me amava? Desconsolada, sentou-se num banco, abaixou a cabeça e pôs-se a pensar nos planos compartilhados com José. Desfalecida, só conseguia enxergar seus sonhos destruídos. De repente, a pequena dama de honra dá um grito que ecoa por todos os lados: - José está chegando! Ele, sem dizer uma palavra, entra rapidamente na igreja e Maria fica sem entender nada. Casam-se. A cerimônia termina e Maria não consegue entender a palidez e a feição desanimada de José que, na saída, à porta da igreja, desfalece lentamente e cai aos seus pés. Ele é levado imediatamente ao hospital e Maria é levada para o salão festas. No salão, em meio a tantas pessoas, Maria sentiu-se mais sozinha do que nunca. “Ficarei viúva no meu primeiro dia de casamento???” – Pensou Maria, já desolada. Sua mãe sentou-se ao seu lado e explicou que José havia demorado a chegar porque estava no hospital e os médicos só o liberaram por conta do casamento. Na noite anterior, ele foi levado pelos amigos para uma despedida de solteiro e exageraram nas comemorações. Duas horas depois, medicado, José chegou ao salão de festas. Já nos braços de Maria, jurou-lhe amor eterno. Ela sentiu uma discreta felicidade, entrelaçada a uma angústia, que parecia ter chegado ao fim. Ele afagava-lhe os cabelos, enquanto, em seus pensamentos, Maria tentava se esquecer de que seu sonho do grande dia tenha sido, praticamente, sonhado só. (7ª versão – Apresentação Pessoal)