JORNAL DA associação médica Página 14 • Abril/Maio 2015 ESPECIALIDADE Assistência ao parto é tema de debate Maria Luiza Gondim Representantes de várias maternidades de Belo Horizonte, região metropolitana e cidades do interior do estado, participaram do I Simpósio de Assistência ao Parto, realizado nos dias 20 e 21 de março, na sede do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM MG). O encontro contou com o apoio da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) e do Conselho Federal de Medicina (CFM). Durante os dois dias de evento, especialistas debateram temas que envolvem o cenário da assistência ao parto no Sistema Único de Saúde (SUS) e na rede privada e as dificuldades atuais para oferecer assistência de qualidade às parturientes. De acordo com o presidente da Sogimig, Agnaldo Lopes, a superlotação e a falta de leitos de obstetrícia são uma triste realidade, sendo mais de três mil extintos no Brasil. “Nos últimos cinco anos foram fechadas 17 maternidades, só em São Paulo e, cerca de dez em Minas Gerais. Outra estatística cruel é que 13% dos obstetras abandonaram a especialidade para atuarem somente como ginecologistas. Existe ainda uma falta de condições apropriadas para uma boa condução do parto normal”, enfatizou o médico. Para o conselheiro do CRM MG, o ginecologista e obstetra, Victor Hugo de Melo, é necessário investimento financeiro para adequar as maternidades públicas e privadas, se estas realmente quiserem oferecer assistência obstétrica de qualidade para as parturientes. O Projeto de Lei de nº 7633 que dispõe sobre a humanização da assistência à mulher e ao neonato durante o ciclo gravídicopuerperal e dá outras providências também foi debatido durante o simpósio. O PL, que aguarda parecer do relator na Comissão de Educação fala, dentre outros temas, da violência obstétrica. De acordo com a diretora Adjunta de Defesa do Exercício Profissional para Assuntos Legislativos da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Maria Inês de Miranda Lima, não é possível aceitar esse termo, mas sim, violência na assistência ao par- Especialistas discutem sobre as dificuldades atuais para oferecer assistência de qualidade às parturientes to, já não é só o obstetra que atua neste momento. “Repudiamos essa conotação e entendemos que algumas práticas precisam ser revistas, respeitando o desejo das pacientes desde que isso não comprometa a vitalidade fetal nem aumente os riscos maternos”, ponderou a especialista. Além da via de parto As discussões hoje, em âmbito mundial, não devem girar em torno da via de parto, apontam especialistas. Elas vão muito mais além das estatísticas. A conclusão do relatório de monitoramento da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (Cedaw –sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU) é que ‘os esforços realizados pelo país têm sido insuficientes para impedir as mortes ma- ternas evitáveis, causadas por aborto, doença hipertensiva, hemorragias e infecção puerperal’. Embora o país apresente uma cobertura de pré-natal de 91% e de partos hospitalares de 98,1%, o alto índice de mortalidade materna sugere que esses serviços apresentam um padrão de qualidade questionável. O relatório ainda cita que “não se observam iniciativas para solucionar os entraves que incluem: falta de oportunidades dadas à saúde da mulher; peregrinação e filas de espera nos hospitais; uso de tecnologias não baseadas em evidências e falta de acesso oportuno a serviços qualificados de urgência e emergência”. Para o conselheiro Victor Hugo de Melo, a elevada taxa de cesarianas no Brasil tem múltiplas causas, que vão desde a insuficiente infraestrutura hospitalar até o grande número de cesarianas a pe- dido, passando por questões financeiras, de insegurança técnica do profissional, e de respaldo legal, até chegar a situações de conflitos judiciais. “É necessário que sejam corrigidas todas as distorções para que efetivamente se reduzam as taxas de cesarianas desnecessárias”, disse o médico. Durante o debate, ficou definido o desenvolvimento de novas estratégias para implementar o parto normal na Saúde Suplementar. Elas deverão ser traçadas a partir da recente criação de uma rede de maternidades privadas de diversos estados do Brasil. Elas foram selecionadas para que, na atual parceria Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Hospital Albert Einstein, em São Paulo, sejam testados alguns modelos de assistência ao parto que possam de forma eficiente, reduzir as taxas de cesarianas desnecessárias. Orientações aos obstetras 4 Usar as boas práticas na assistência ao parto; 4 Não deixar de preencher o cartão de pré-natal; 4 Registrar no prontuário todos os dados da paciente, evolução, o partograma e as condições fetais; 4 Oferecer os cuidados recomendados em conjunto com equipe multiprofissional; 4 Respeitar a vontade da paciente de ter a seu lado acompanhante e/ou doula; 4 Respeitar a opção da paciente quando for a cesárea, mas peça para assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e coloque na indicação ‘cesárea a pedido’; 4 Atente para as orientações do Conselho Federal de Medicina dispostas no Parecer 39/12 a respeito da remuneração pelo acompanhamento presencial ao trabalho de parto. Fonte: AMMG, CRM MG, CFM e Sogimig.