UNIVERSIDADE POTIGUAR PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CITOLOGIA CLÍNICA ÉRICA CRISTHINE CARVALHO DE OLIVEIRA PREVALÊNCIA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM PACIENTES GRÁVIDAS ATRAVÉS DE EXAME PREVENTIVO - ZONA NORTE - NATAL / RN 1 NATAL 2008 ÉRICA CRISTHINE CARVALHO DE OLIVEIRA PREVALÊNCIA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM PACIENTES GRÁVIDAS ATRAVÉS DE EXAME PREVENTIVO - ZONA NORTE NATAL / RN Monografia apresentada à Universidade Potiguar UnP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Citologia Clínica ORIENTADOR: Profa. Msª. Ana D’arc Pessoa de Castro. 2 NATAL 2008 O43p Oliveira, Érica Cristhine Carvalho de. Prevalência de doenças sexualmente transmissíveis em pacientes grávidas através de exame preventivo – Zona Norte – Natal/RN / Érica Cristhine Carvalho de Oliveira. – Natal, 2008. 67f. Monografia (Especialização em Citologia Clínica). Universidade Potiguar. Pró-Reitoria de Pesquisa e PósGraduação. Bibliografia: 65-67. 1. Citologia Clínica - Monografia. 2. DST – Gravidez Natal. I. Título. RN/UnP/BCSF CDU 616-071(043) 3 ÉRICA CRISTHINE CARVALHO DE OLIVEIRA PREVALÊNCIA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM PACIENTES GRÁVIDAS ATRAVÉS DE EXAME PREVENTIVO - ZONA NORTE – NATAL / RN Monografia apresentada à Universidade Potiguar – UnP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Citologia Clínica. Aprovado em: ____ / ____ / ____. ______________________________________ Profa. Msª. Ana D’arc Pessoa de Castro. Coordenador do Curso Universidade Potiguar - UnP ______________________________________ Profa. Msª. Ana D’arc Pessoa de Castro. Professor Orientador Universidade Potiguar - UnP NATAL 2008 4 Noventa por cento dos que fracassam não são de fato derrotados. Eles simplesmente desistem. Paul J. Meyer Se você achar que pode fazer algo, isso é confiança. Se puder fazê-lo, isso é competência. As duas coisas são necessárias para o sucesso. John C. Maxwell 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a ti Senhor, pois sem Teu cuidado providencial, que foi incessante, não teria atingido esse objetivo. E por isso, toda Honra e Glórias sejam dadas a Ti. À profª Msª Ana D’arc Pessoa de Castro pela atenção e disponibilidade em me ajudar, nos momentos em que precisei para que essa formação fosse possível, o meu muito obrigada! Aos meus generosos pais, Eronides e Miriam, pelo amor infinito, carinho e dedicação depositados, por acreditar em mim, por me fazer acreditar que não estou só. Essa vitória não é mérito meu, e sim nosso. Amo vocês! A minha irmã, Eva, muito linda e especial para mim. E a meu sobrinho Daniel, presente que o Senhor nos deu à cinco anos atrás. A meu esposo Gabriel, pelo apoio e compreensão durante todo o tempo. A minha grande amiga, Candze, por toda ajuda que me deu nessa caminhada, Deus continue te abençoando grandemente e satisfaça todos os desejos do seu coração. 6 7 RESUMO Realizou-se a coleta de amostra da secreção vaginal em 60 mulheres gestantes, portadoras de infecções cérvico-vaginais (DST) atendidas pelo SUS (Sistema único de Saúde) na Zona Norte de Natal /RN. A idade das mulheres variou dos 12 aos 32 anos. A amostra se caracterizou por mulheres que possuem o 1º Grau completo (58% das pacientes), 54% das pacientes tinham entre 12 e 18 anos. A média de filhos dessas pacientes ficou entre (1,73%), dos 19 aos 25 anos (2,71%) e dos 26 aos 32 anos ( 5,17%), ficando constatado no estudo que quanto maior a idade das pacientes, maior o número de filhos que a mesma possui. O microorganismo patogênico identificado com maior freqüência foi Candida sp, em 39 das 60 pacientes estudadas; Seguida por Gardnerella Vaginalis, 15 casos. A flora vaginal que mais identificamos nas grávidas foi o Lactobacilo (36 casos). Os resultados destacam a importância de se fazer um prénatal adequado, não importando a idade da paciente, para que a criança e a mãe não sofram conseqüências futuras, durante o parto, tanto para a mãe como para o filho. Palavras Chave: Citopatologia. DST. Gravidez. 8 ABSTRACT There was a collection of the sample of vaginal secretion in 60 pregnant women, carriers of cervico-vaginal infections (STI) attended by SUS (Single Health System) in the northern zone of Christmas / RN. The age of women ranged from 12 to 32 years. The sample was marked by women who have the 1 st Degree complete (58% of patients), 54% of patients had between 12 and 18 years. The average of these children was between patients (1.73%), the 19 to 25 years (2.71%) and the 26 to 32 years (5.17%), leaving the study found that the greater the age of the patients , Increased the number of children that it has. The pathogenic microbe was identified more frequently Candida sp, in 39 of 60 patients studied; Seguida by Gardnerella Vaginalis, 15 cases. The vaginal flora that more pregnant women was identified in the Lactobacilo (36 cases). The results highlight the importance of doing an adequate prenatal care, no matter the age of the patient, so that the child and mother do not suffer further consequences, during delivery, both the mother and for the child. Key Word: Cytopathology. STD. Pregnancy. 9 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ASC US Atipias de células escamosas de significado indeterminado DST Doença sexualmente Transmissível HPV Papiloma Vírus Humano VB Vaginose Bacteriana HIV Vírus da Imunodeficiência Humana INCA Instituto Nacional do Câncer DIP Doença Inflamatória Pélvica OMS Organização Mundial de Saúde CDC Centro de Controle de Doenças RPM Rotura Prematura de Membranas HSV Herpes Simples Vírus SUS Sistema Único de Saúde 11 12 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Citologia cérvico – vaginal -- Candida sp. 31 FIGURA 2 Ciclo Vital -- Trichomonas vaginalis 34 FIGURA 3 Estrutura -- Trichomonas vaginalis 35 FIGURA 4 Citologia cérvico - vaginal -- Trichomonas vaginalis 36 FIGURA 5 Citologia cérvico - vaginal -- Trichomonas vaginalis 37 FIGURA 6 Citologia cérvico – vaginal -- Candida sp e Gardnerella Vaginalis 40 FIGURA 7 Citologia cérvico – vaginal -- Gardnerella vaginalis 41 FIGURA 8 Citologia cérvico – vaginal -- Chlamydia sp 45 FIGURA 9 Citologia cérvico – vaginal -- Epitélio citopático; Vírus do Papiloma 51 Humano (HPV). 13 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 Agentes mais prevalentes nas Gestantes portadoras de DST 59 detectados através de citologia. GRÁFICO 02 Prevalência de Doenças Sexualmente Transmissíveis e 60 associações de Patógenos através de exame de Papanicolaou. GRÁFICO 03 Grau de escolaridade das Gestantes portadoras de DSTs 61 detectados pela citologia oncótica GRÁFICO 04 Faixa etária prevalente de Gestantes portadoras de infecções 61 cérvico-vaginais. (DST) 14 15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................. 12 2 FISIOLOGIA DA GRAVIDEZ....................................................... 18 3 REVISÃO DE LITERATURA....................................................... 27 3.1 CANDIDÍASE VAGINAL............................................................. 27 3.2 TRICOMONÍASE VAGINAL....................................................... 32 3.3 VAGINOSE BACTERIANA......................................................... 37 3.4 CHLAMYDIA TRACHOMATIS.................................................... 41 3.5 HERPES GENITAL..................................................................... 46 3.6 PAPILOMA VÍRUS HUMANO (HPV).......................................... 48 3.7 SÍFILIS........................................................................................ 52 4 OBJETIVOS................................................................................. 55 4.1 OBJETIVO GERAL..................................................................... 55 4.2 OBJETIVO ESPECÍFICO........................................................... 55 5 CASUÍSTICA, MATERIAL E MÉTODOS.................................... 56 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................... 57 7 CONSIDERAÇÕES GERAIS....................................................... 63 8 CONCLUSÕES............................................................................. 64 9 REFERÊNCIAS ........................................................ 65 16 1 INTRODUÇÃO As doenças venéreas e qualquer outro tipo de doença adquirida pelo contato sexual são consideradas doenças sexualmente transmissíveis (DST). Este conceito foi ampliado, coma inclusão de alguns problemas de pele e enteropatias, porque se constatou que o contato sexual tem grande influência na transmissão dessas doenças. Por algum tempo, as DST deixaram de ser algo de preocupação, pois, com o surgimento dos antibióticos (principalmente a penicilina) o tratamento da maioria delas 17 ficou bem mais fácil. Porém, nos últimos anos, a incidência dessas doenças voltou a crescer e elas se tornaram novamente motivo de preocupação. O aparecimento da AIDS chamou a atenção da sociedade para isso e, hoje, as DST são consideradas pela Organização Mundial de Saúde um problema de saúde pública que atinge o mundo inteiro (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2008). As conseqüências do crescimento dessas doenças são graves, porque a população mais atingida é formada por jovens em idade reprodutiva. E o que se tem constatado é que o problema esta atingindo pessoas cada vez mais jovens. As complicações são imediatas, causando inflamação dos genitais internos, do homem e da mulher – o que pode provocar a esterilidade de ambos; infecção dos recémnascidos - causada pela transmissão da doença pela mãe (este problema é responsável por 15% das anomalias congênitas, 30% das conjuntivites e 20% das pneumonias nos bebês). Todos esses problemas provocam internações hospitalares e deixam varias seqüelas, como esterilidade e gravidez tubária (já que as trompas ficam comprometidas), aumentando assim o número de mortes por causa da doença (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, 2007). Mas o fator que mais preocupa os médicos é que, em 80% dos casos dessas doenças, as pessoas se tratam sozinhas (automedicação) ou seguem apenas a orientação do balconista da farmácia que nem sempre indica o medicamento mais adequado. Em geral, esses tratamentos não funcionam, criando resistência aos antibióticos e difundindo ainda mais as DST. Outro problema é que geralmente o parceiro, por não apresentar sintomas, não faz nenhum tratamento, sendo agente portador e disseminador da doença (FIGUEIREDO, 2008). Nesse quadro também se inclui a AIDS – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, cuja incidência cresce em proporções assustadoras. Ela tem atingido principalmente pessoas jovens, com vida sexual ativa, e a probabilidade de o paciente morrer é potencialmente de 100% (BRASIL, 1999). Nas ultimas décadas, a sociedade passou por grandes transformações, principalmente no que se refere a sua estrutura familiar. Muitos foram os fatores que contribuíram para essas mudanças. Houve uma liberação dos costumes; as pessoas passaram dar mais valor as relações afetivo-sexuais, encarando a sexualidade como 18 um importante fator de satisfação; as mulheres, principalmente, adquiriram maior conhecimento de seu corpo. Isso tudo provocou um avanço nas tecnologias medicas, que tiveram que buscar novas saídas para atender à sociedade, como o aperfeiçoamento dos métodos anticoncepcionais (BRASIL,1999). Esse conjunto de mudanças na sociedade contribuiu para um aumento dos casos de DST. Não há estatísticas precisas no Brasil, mas estima-se que 2 milhões e 600 mil novos casos surjam todos os anos. Mais ou menos metade deles corresponde à gonorréia e à sífilis (FIGUEIREDO, 2008). As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) são processos infecciosos causados por um grupo heterogêneo. Entre as DST consideradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como de transmissão essencialmente sexual estão gonorréia, sífilis, cancro mole e linfogranuloma venéreo; e as de freqüente transmissão sexual, herpes genital, tricomoníase, condiloma acuminado, candidíase, uretrite não gonocócica, uretrite e endocervicite causadas por chlamydia tracomatis, hepatite A e B, pitiríase, escabiose, pediculose e Síndrome da Imunodeficiência adquirida (BASTOS, 2003). Na abordagem dos pacientes com DST, são essenciais dados sobre a data do último contato sexual, número de parceiros, hábitos e preferências sexuais, uso recente de antibióticos, métodos anticoncepcionais e história pregressa de DST. Convém salientar que a presença de uma DST é fator de risco para outra e que sorologia para sífilis deverá sempre ser solicitada. Não se desconsiderando aspectos legais, sorologia anti-HIV também deve ser solicitada (FIGUEIREDO, 2008). Wanderley, Magalhães e Trindade relatam que os principais sintomas de vulvovaginites incluem secreção vaginal, prurido vulvar e odor vaginal. Silva Filho e Burlá (2002), ainda dão destaque para a dispaurenia e desconforto urinário. Nesse sentido, os profissionais de saúde precisam estar atentos às queixas da cliente e, tecnicamente preparados, para diminuir os riscos de morbi-mortalidade. Muitos profissionais de saúde que atendem portadores de DST não estão adequadamente preparados para lidar com pessoas nessa situação, fazendo diagnósticos equivocados, tratamentos 19 inadequados, deixando de orientar e aconselhar os pacientes adotando procedimentos desnecessários (BRASIL, 2000a, p. 22). As variações funcionais que ocorrem na gestante, ocorrem por intervenção de uma série de mecanismos adaptativos, em geral, bem sucedidos, pelo que constituem um dos fatos realmente interessantes da fisiologia. Durante o período de gestação, que na mulher corresponde a um pouco mais de 280 dias ou 40 semanas, a fisiologia feminina se torna extraordinariamente diferente da mulher não grávida. Deve-se deixar claro que as modificações fisiológicas presentes na gestação são conseqüências de certas modificações básicas que ocorrem no organismo feminino quando é produzida a fecundação. Então acontece o crescimento e desenvolvimento de um conjunto de tecidos, pertencentes, alguns deles, ao próprio corpo da mãe e outros do novo ser em processo muito ativo de desenvolvimento (DOUGLAS, 2000). Brasil (1999) relata que muitas técnicas laboratoriais existentes para detectar as DST não apresentam a sensibilidade e especificidade satisfatória. Poucas unidades de saúde são capazes de oferecer resultados de testes conclusivos no momento da consulta. Além disso, o sistema público de saúde do Brasil apresenta reduzidas condições para a realização dos exames e freqüentemente os técnicos responsáveis estão desmotivados e/ou despreparados. Conseqüentemente, além da busca de atendimentos em locais inadequados, algumas das síndromes, quando não diagnosticadas e tratadas a tempo, podem evoluir para complicações graves e até o óbito. O termo DST é usado para designar doenças disseminadas principalmente por contato sexual e que se constituem em um sério problema de saúde pública em todo o mundo. Devemos ter em mente que a gravidez não confere imunidade contra nenhuma DST e que estas são bem prevalentes durante a gestação. A gestação representa um período de risco aumentado de se contrair uma DST, já que as pacientes normalmente estão mais expostas a uma DST durante este período (DOUGLAS, 2000). O sistema imunitário na gravidez encontra-se alterado, portanto, as infecções constituem um grande risco para o binômio mãe-concepto. Os mecanismos de defesa cervicovaginais, durante a gravidez, estão modificados, trazendo como conseqüência 20 uma alteração da flora polimicrobiana, que constitui o ecossistema aeróbio e anaeróbio (BRENNA, 2001). As DST têm sido responsabilizadas por grande número de patologias (gravidez ectópica, abortamento, parto prematuro, feto de baixo peso, infecção puerperal e infecção neonatal) e conseqüentes enormes problemas sociais, emocionais, orgânicos e econômicos. O crescente número de infecção pelo HIV e a possibilidade real da transmissão vertical de muitas DST tornam imperativo a busca ativa desses casos, principalmente durante a gravidez (FIGUEIREDO, 2008). Não se discute mais as vantagens do uso de drogas antivirais para a AIDS e para a infecção herpética (em certos casos), durante o período grávido-puerperal, além de terem surgido novos antibióticos que vieram reforçar as possibilidades terapêuticas. A imunização ativa e passiva nos casos de hepatite B trouxe notória contribuição para minimizar as conseqüências tão desagradáveis dessa doença. O estreptococo B hemolítico do grupo A é agora raramente um problema, aparecendo, contudo, o estreptococo B - hemolítico do grupo B (considerado comensal freqüente na vagina da mulher grávida) como sendo um importante agente infeccioso, principalmente para o recém-nascido (RN) (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, 2007). As cinco clássicas doenças venéreas de algumas décadas atrás (gonorréia, sífilis, cancróide, linfogranuloma venéreo e granuloma inguinal) são encaradas agora de maneira mais abrangente, tendo sido acrescentado, a essa lista, pelo menos outras dez importantes doenças que também usam o contato sexual como importante via de propagação entre indivíduos. Da microflora vaginal tem sido isolada uma larga variedade de microorganismos aeróbios e anaeróbios, cujo papel patogênico tem sido amplamente discutido. Trichomonas vaginalis, candida albicans, Gardnerella vaginalis, lactobacilos, Chlamydia trachomatis e ainda HPV, são os patógenos mais freqüentemente relacionados as cérvico-colpites (BARBOSA, 1999). Estudos de laboratório em animais sugerem que a gravidez interfira no mecanismo de defesa materno pela imunossupressão (MURTA, 1998) e que substâncias hormonais que potencialmente suprimem in vitro a função linfocitária estão presentes no plasma de grávidas (SIMÕES, 1996), notando-se também que existe 21 diminuição de linfócitos T no sangue periférico dessas mulheres. Esse decréscimo celular deve-se principalmente a subpopulação de linfócitos T-helper CDS+, não havendo mudança significativa na subpopulação CD8+. É no terceiro trimestre da gestação que se observa a menor concentração das células CD4+. Outras alterações, como os hormônios, as concentrações de proteínas plasmáticas e o aumento da filtração glomerular renal, podem potencializar e modificar o mecanismo de ação dos agentes infecciosos, interferindo diretamente com a terapêutica, tornando-se, às vezes, necessária a ampliação das doses e do tempo de ação dos medicamentos. O aumento de certas DST poderia, em alguns casos, ser justificado por mudanças anatômicas e funcionais locais que ocorrem nas gestantes. A hiperproliferação e o ingurgitamento (edema e aumento do fluxo sanguíneo) da parede vaginal, o aumento do glicogênio desse epitélio e a diminuição significativa do pH vaginal são alguns dos fatores que poderiam facilitar, eventualmente, o aparecimento e a propagação das infecções. O colo do útero hipertrofia-se expondo a endocérvix aos microorganismos vaginais e facilitando a infecção pela N. gonorrhoeae e C. trachomatis (BRENNA, 2001). O feto, por sua vez, poderá ser afetado pelas DST via transplacentária ou por via hematogênica. A placenta pode funcionar como importante filtro para minimizar ou impedir a infecção fetal em muitos casos, porém é definitivamente insuficiente para evitá-la na sua totalidade. Outra importante forma de contaminação é a ascensão canalicular do agente agressor, as vezes proveniente da própria vagina ou da cérvix uterina, sendo a integridade das membranas amnióticas fundamental para a proteção fetal e da cavidade uterina. Apesar de não ser possível, para a realidade brasileira, a aplicação na totalidade das recomendações feitas pelo CDC - 1998 para o diagnóstico e tratamento das DST na gravidez, acredita-se que elas devam ser levadas em consideração pelos obstetras e demais médicos que prestam assistência de saúde à mulher. • Recomendações úteis para o diagnóstico e manuseio das DST na gestação: Testes sorológicos para sífilis e hepatite B deveriam ser feitos na primeira visita de pré-natal. Mulheres de alto risco para DST deveriam ser novamente testadas no terceiro trimestre e no parto. • Testes para a detecção de N. gonorrhoeae e C. trachomatis deveriam ser feitos na primeira visita pré-natal para as gestantes de risco. 22 • Teste para detecção da presença de infecção pelo HIV deveria ser oferecido para todas as mulheres na primeira visita de pré-natal. • Teste para vaginose bacteriana deveria ser feito no segundo trimestre da gestação para todas as mulheres com alto risco de trabalho de parto prematuro. • Teste de Papanicolaou deveria ser realizado na primeira consulta de pré-natal em todas as gestantes. • Gestantes com história de infecção – herpética primária, sifilítica, estreptocócica do grupo B, por citomegalovírus e hepatite B – deveriam sem encaminhadas ao especialista (SIMÕES, 1996). 23 2 FISIOLOGIA DA GRAVIDEZ A fecundação do óvulo ocorre, geralmente, na primeira porção da trompa de falópio. Um único espermatozóide atravessa sua membrana carregando consigo 23 cromossomos não pareados. Imediatamente, esses cromossomos isolados combinamse com os outros 23 cromossomos, também não pareados que existem nesse óvulo, passando a formar um complemento normal de 46 cromossomos, dispostos em pares. Isso dá início ao processo de multiplicação celular, cujo resultado final é o desenvolvimento de uma criança. Nas primeiras semanas, durante a implantação do ovo, sua nutrição vai depender da digestão trofoblástica e da fagocitose do endométrio. Contudo em torno 12ª semana de gravidez, a placenta já se desenvolveu o suficiente para que possa, daí por diante, suprir todos os nutrientes que forem necessários. A placenta é formada por um componente materno que é formado por grandes e múltiplas camadas chamadas de seios placentários por onde flui continuamente o sangue materno e por um componente fetal que é representado, principalmente, por uma grande massa de vilosidades placentárias que proeminam para o interior dos seios placentários e por cujo interior circula o sangue materno através da membrana da vilosidade placentária para o sangue fetal, passando por um meio da veia umbilical para o feto. Por sua vez, os excretas fetais, como o gás carbônico, a uréia e outras substâncias, difundem do sangue fetal para o sangue materno e são eliminados para o exterior pelas funções excretoras da mãe (ENFERMATECA, 2008). A placenta secreta quantidades extremamente elevadas de estrogênio e de progesterona, cerca de 30 vezes mais estrogênio do que é secretado pelo corpo lúteo e cerca de 10 vezes mais progesterona. Esses hormônios são muito importantes na promoção do desenvolvimento fetal. Durante as primeiras semanas de gravidez, outro hormônio também secretado pela placenta, a gonadotropina coriônica, estimula o corpo lúteo, fazendo com que continue a secretar estrogênio e progesterona durante a primeira parte da gravidez. Esses hormônios do corpo lúteo são essenciais para a continuação da gravidez durante as primeiras semanas (entre a oitava e décima segunda), mas, após esse período, a placenta secreta quantidades suficientes de 24 estrogênio e progesterona para assegurar a manutenção da gravidez (ENFERMATECA, 2008). Ao término de aproximadamente nove meses de crescimento e de desenvolvimento, uma criança completamente formada é expulsa do útero pelo processo da parturição. Embora a causa precisa da parturição não seja conhecida, parece resultar, fora de qualquer dúvida, de fatores tais como (1) estimulação mecânica do útero pelo feto em crescimento e (2) alterações na intensidade de secreção dos hormônios placentários, em especial, do estrogênio e da progesterona (ENFERMATECA, 2008). HORMÔNIOS DA GRAVIDEZ Os hormônios desempenham um papel muito importante na gravidez. A maior parte desses hormônios é secretada pela própria placenta. Dois desses hormônios são o estrogênio e a progesterona, os dois hormônios sexuais femininos que são secretados pelos ovários durante o ciclo menstrual feminino normal. Entretanto dois outros hormônios também importantes e até mesmo necessários para a gravidez são a gonadotropina coriônica e a somatomamotropina coriônica humana. Esses hormônios atuam tanto sobre a mãe quanto sobre o feto. Na mãe ajuda a controlar as alterações do útero e das mamas que são necessárias para assegurar a vida fetal até seu desenvolvimento e de promover a produção de leite. Também ajudam a regular o desenvolvimento do próprio feto, especialmente de seus órgãos sexuais (ENFERMATECA, 2008). SECREÇÃO DE ESTROGÊNIO E PROGESTERONA DURANTE A GRAVIDEZ As quantidades estrogênio e progesterona secretadas pelo corpo lúteo aumentando, são, em si mesmas, pequenas, quando comparadas às quantidades desses dois hormônios que serão secretadas pela própria placenta. A secreção 25 placentária desses dois hormônios começa dentro de poucas semanas após o início da gravidez e aumenta, de forma especialmente rápida, após a décima sexta semana de gravidez, atingindo o seu máximo pouco antes do nascimento do feto. A secreção de estrogênio aumenta cerca de 30 vezes, e a de progesterona cerca de 10 vezes, em relação às quantidades secretadas durante o ciclo menstrual normal (ENFERMATECA, 2008). As funções do estrogênio durante a gravidez: Na mãe provoca rápida proliferação da musculatura uterina, aumento muito acentuado do crescimento do sistema vascular para o útero, dilatação dos órgãos sexuais externos e do orifício vaginal, o que provê uma via adequadamente maior para a passagem do feto, e provavelmente também certo grau de relaxamento doa ligamentos pélvicos que permitem a dilatação do canal pélvico com passagem para o feto. Além desses efeitos sobre os órgãos reprodutivos, o estrogênio também promove o crescimento rápido das mamas. Em especial os ductos ficam muito aumentados e as células glandulares aumentam de número. Finalmente o estrogênio promove a deposição, nas mamas de quantidade adicional de gordura, em torno de meio quilo (ENFERMATECA, 2008). FUNÇÕES DA PROGESTERONA DURANTE A GRAVIDEZ A primeira função da progesterona durante a gravidez é de tornar disponíveis para o uso fetal as quantidades adicionais de nutrientes que ficam armazenadas no endométrio. Isso é realizado para fazer com que essas células do endométrio armazenam glicogênio, gorduras e aminoácidos. Alem disso, a progesterona exerce potente efeito inibidor sobre a musculatura uterina, fazendo com que permaneça relaxada durante toda a gravidez. A progesterona complementa os efeitos do glicogênio sobre as mamas. Faz com que os elementos glandulares fiquem ainda maiores e formem um epitélio secretor, e promove a deposição de nutrientes nas células glandulares, de modo que, quando a produção de leite for necessária, todos os elementos que devem participar dessa produção estejam disponíveis (ENFERMATECA, 2008). 26 SECREÇÃO E FUNÇÃO DA GONADOTROPINA CORIÔNICA DURANTE A GRAVIDEZ Se o corpo lúteo degenera ou é removido do ovário durante os dois ou três primeiros meses de gravidez, a perda de estrogênio e progesterona que são secretados por este corpo lúteo faz com que o feto pare de se desenvolver e seja eliminado dentro de poucos dias. Por esta razão é necessário que o corpo lúteo permaneça ativo, pelo menos, durante o primeiro terço da gravidez. Além desse período, a remoção do corpo lúteo geralmente não mais afeta o curso da gravidez, devido a que, há esse tempo à placenta já esta secretando tanto estrogênio e tanta progesterona quanto estaria o corpo lúteo. A gonadotropina coriônica começa a ser formada a partir do dia em que os trofoblastos implantam no endométrio uterino. Sua concentração é máxima aproximadamente durante a oitava semana de gravidez. Dessa forma sua concentração é mais elevada exatamente no período em que é essencial impedir a involução do corpo lúteo. Nas partes média e tardia da gravidez, a secreção da gonadotropina coriônica cai até valores muito menores. A essa época da gravidez, sua única função conhecida é a de estimular a secreção de testosterona pelo testículo fetal e tem papel muito importante no desenvolvimento do feto masculino (ENFERMATECA, 2008). SECREÇÃO E FUNÇÕES DA SOMATOMAMOTROPINA CORIÔNICA HUMANA Recentemente foi descoberto um hormônio a que foi dado o nome de somatomamotropina coriônica humana. É uma proteína pequena que começa a ser secretada a partir da quinta semana da gravidez, aumentando progressivamente durante todo o resto da gravidez. Estudos experimentais com a somatomamotropina coriônica têm mostrado que, quando administrada em grandes quantidades, pode promover o desenvolvimento das mamas, razão usada para justificar o seu primeiro nome – lactogênio placentário. Entretanto no ser humano acredita-se que essa função seja extremamente fraca, o que explica a mudança e seu nome. Um segundo efeito desse hormônio é o de promover o crescimento do feto, semelhante ao efeito do 27 hormônio do crescimento, produzido pela hipófise anterior. Contudo esse efeito também é fraco (ENFERMATECA, 2008). Finalmente os estudos mais recentes têm indicado que esse hormônio tenha suas mais importantes ações sobre o metabolismo da glicose e das gorduras da mãe, ao invés de sobre o feto. Esse hormônio diminui a utilização de glicose pela mãe, e, portanto, a torna mais disponível, e em maior quantidade, pelo feto. Ao mesmo tempo promove uma mobilização aumentada de ácidos graxos dos tecidos adiposos da mãe, de modo que possa usar essa gordura para sua própria energia, em lugar da glicose. Visto que a glicose é o principal substrato usado pelo feto para energia, a importância desses efeitos hormonais é óbvia. Dessa forma, parece, atualmente que a somatomamotropina coriônica humana é de fundamental importância para assegurar uma nutrição adequada para o feto. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS Durante a gravidez varias mudanças ocorrem no corpo da mulher. O PRIMEIRO TRIMESTRE Os trimestres são um meio conveniente de medir a gravidez. Entretanto, eles têm durações desiguais, e o terceiro trimestre varia de acordo com o tempo total da gravidez. O corpo da mulher faz um grande esforço durante o primeiro trimestre (1 – 12 semanas) para se adaptar ao embrião q à placenta em desenvolvimento. - A taxa metabólica aumenta em 10 – 25% , de modo que o corpo acelera todas as suas funções. - O ritmo cardíaco aumenta e o ritmo respiratório também aumenta à medida que mais oxigênio tem que ser levado ao feto e que mais dióxido de carbono é exalado. - As fibras musculares do útero ficam, rapidamente maiores e mais grossas, e o útero em expansão tende a pressionar a bexiga, aumentando a vontade de urinar. - O tamanho e o peso dos seios aumentam rapidamente. 28 - Os seios tornam-se mais sensíveis logo nas primeiras semanas de gravidez. - Surgem novos ductos lactíferos. - As auréolas dos seios escurecem, e as glândulas nelas situados, chamadas tubérculos de Montgomery, aumentam em número e tornam-se mais salientes. - Com o aumento do envio de sangue para os seios, as veias se tornam mais visíveis (ENFERMATECA, 2008). O SEGUNDO TRIMESTRE Vai da 13ª a 18ª semana. No início desse trimestre, o útero em expansão ultrapassa a borda da pelve, o que resulta na perda gradual de cintura (ENFERMATECA, 2008). - A musculatura do trato intestinal relaxa, provocando diminuição das secreções gástricas; a comida fica mais tempo no estômago. - Há menos evacuação, pois o músculo intestinal está mais relaxado que o habitual. - Os seios podem formigar e ficar doloridos. - A pigmentação da pele tende a aumentar principalmente em áreas já pigmentadas como sardas, pintas, mamilos. - Pode aparecer a línea nigra. - As gengivas podem se tornar um tanto esponjosas devido à ação aumentada dos hormônios da gravidez. - O refluxo do esôfago pode provocar azia, devido ao relaxamento do esfíncter no alto do estômago. - O coração trabalha duas vezes mais do que o de uma mulher não grávida, e faz circular 6 litros de sangue por minuto. - O útero precisa de mais 50% de sangue que habitualmente. - Os rins precisam de mais 25% de sangue do que habitualmente. O TERCEIRO TRIMESTRE 29 Durante este trimestre (da 29ª semana em diante), o feto em crescimento pressiona e restringe o diafragma. Por isso a mulher grávida respira mais rápida e profundamente, aspirando mais ar com cada inalação, o que aumenta o consumo de oxigênio (ENFERMATECA, 2008). - A taxa de ventilação aumenta cerca de 40%, passando dos 7 litros de ar por minuto, enquanto o consumo de oxigênio aumenta apenas 20%. A maior sensibilidade das vias respiratórias aos elevados níveis de dióxido de carbono no sangue pode resultar em falta de ar. - À medida que o feto cresce e o abdome aumenta de tamanho, as costelas inferiores da mulher são empurradas para fora. - Os ligamentos inclusive da pelve e dos quadris, ficam distendidos, o que pode causar desconforto ao caminhar. - Mãos e pés inchados, além de causarem desconforto, podem ser um sinal de préeclâmpsia. - Podem ocorrer dores nas costas, causadas pela mudança do centro de gravidade do corpo e por um ligeiro relaxamento das articulações pélvicas. - Os mamilos podem secretar colostro. - Aumenta a freqüência e a vontade de urinar. - Aumenta a necessidade de repousar e dormir. O peso do útero aumenta cerca de 20 vezes durante a gravidez, de cerca de 60g, antes da gestação, para cerca de 1000g, ao termo, e aumenta de tamanho de cinco a seis vezes. Ao fim da gravidez o útero tem de 30 a 35 cm de comprimento, de 20 a 25 cm de largura e cerca de 22 cm de profundidade. Sua capacidade terá aumentado de 700 a 1000 vezes, de aproximadamente 4ml para 4000 a 5000 ml (ENFERMATECA, 2008). Durante a gravidez o suprimento sanguíneo uterino aumenta de 20 a 40 vezes. As artérias uterinas, que são a principal fonte do suprimento uterino, são ramos das ilíacas internas; passam para dentro e ao longo dos ligamentos largos e penetram no útero aproximadamente ao nível do orifício interno do colo. Sobem então por cada lado do útero e formam uma rede de artérias espirais que fornecem um amplo suprimento de sangue. As alterações dos vasos sanguíneos revertem rapidamente após o parto. Uma 30 semana após, os vasos já retornaram ao seu tamanho primitivo. Modificações acentuadas ocorrem nas mamas após a gravidez, devido ao desenvolvimento de tecido glandular quiescente. As mamas aumentam de tamanho e firmeza, e ficam nodulares. Freqüentemente aparecem estriações na pele. O aumento é perceptível algumas semanas após a concepção e continua por toda a gestação. Há também um aumento considerável na vascularização das mamas no início da gravidez, e as veias superficiais ficam mais proeminentes. Essas alterações são freqüentemente acompanhadas por uma sensação de dor, formigamento e peso nas mamas, no início da gestação, e são considerados sinais presuntivos de gravidez. Os mamilos ficam mais móveis, e será mais fácil para o bebê apreende-los para mamar. As glândulas de Montgomery ficam maiores. Há uma grande variação individual no aumento do tamanho das mamas, mas o aumento médio é de cerca de 700 g para cada mama. Uma alteração considerável ocorre dentro do próprio tecido mamário: (!) há proliferação do tecido glandular e (2) as células alveolares diferenciam-se tornando-se secretoras. À medida que ocorrem as modificações proliferativas, os ductos intramamários se alongam e ramificam. Alvéolos e lóbulos desenvolvem-se nas pontas de muitos dos ramos, até, finalmente, haver uma grande glândula composta de cada mama, com muitos lóbulos e alvéolos (ENFERMATECA, 2008). Há uma proliferação progressiva do tecido glandular durante a gravidez. Os dutos alongam-se muito e os alvéolos e lóbulos desenvolvem-se nas extremidades de muitos dos ramos. Com o aumento da atividade secretória ao fim da gravidez, os alvéolos e dutos ficam distendidos pelo colostro. Na mama em lactação os alvéolos e dutos ficam distendidos por leite. Após um certo estágio de proliferação do tecido glandular durante o primeiro trimestre, as células alveolares começam a diferenciar-se no segundo. Muitas dessas células tornar-se-ão secretórias e serão capazes de secretar leite. Pelo fim do segundo trimestre, uma pequena quantidade de líquido fino e amarelado, chamado de colostro é secretado para os dutos. O abdome modifica de contorno à medida que o útero em crescimento estende-se para dentro da cavidade abdominal, ocupando-as cada vez mais, até que o feto contido pelo útero fica completamente dentro dela. Os músculos abdominais sustentam grande parte do peso do feto (ENFERMATECA, 2008). 31 Durante a última semana de gravidez, estrias ondulares, irregulares e discretamente deprimidas se desenvolvem freqüentemente na pele do abdome e, às vezes, também na das mamas, quadris e parte superior das coxas. Essas estrias são chamadas de estrias gravídicas. As recentes são de coloração rosa pálido ou azuladas. Após o parto adquirem o aspecto prateado brilhante de tecido cicatricial. Em uma mulher que tenha tido filhos poderá haver estrias novas e antigas, sendo as resultantes das primeiras gestações, é chamada de estrias albicantes, ao passo que as novas são rosadas ou azuladas. As estrias surgem nas áreas de distensão máxima: o abdome, as mamas e as coxas. A gordura subcutânea aumenta na gravidez, e distende a pele acima dela. Um considerável aumento de peso na gestação, a obesidade desde o início da gravidez, uma distensão incomum da pele abdominal e a retenção hídrica e o edema generalizado, todos esses fatores têm probabilidade de aumentar a distenção da pele. Algumas mulheres são muito susceptíveis do que outras à separação do tecido conjuntivo da pele (ENFERMATECA, 2008). 32 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 CANDIDÍASE VAGINAL A Candidíase vaginal é uma infecção causada por fungo comensal habitante da mucosa vaginal e digestiva que cresce quando o meio torna-se favorável ao seu desenvolvimento. Por fazerem parte em até 50% da flora endógena das mulheres assintomáticas, a relação sexual não é considerada o principal meio de transmissão. (BRASIL, 1999). Cerca de 75% das mulheres apresentarão pelo menos um episódio de vulvovaginite fúngica durante o menacme, e que 40% - 50% dessas apresentarão um segundo episódio. Um pequeno subgrupo de tamanho indeterminado, possivelmente menor que 5% das mulheres adultas, apresentará episódios recorrentes, por vezes intratáveis. A candidíase não é adquirida através do contato sexual, e o tratamento do parceiro não tem demonstrado reduzir a freqüência de recorrência nas mulheres. A candidíase sintomática está aumentada na gestante, assim como as recidivas (HURLEY e DE LOUVOIS apud LINHARES, MIRANDA E HALBE, 2000, p. 1062). Foram relatados casos de corioamnionite fúngica em gestações complicadas pelo uso de DIU ou após rotura prematura de membranas, mas normalmente a candidíase vaginal não está associada a complicações obstétricas. O recém-nascido adquire a infecção fúngica durante o parto, podendo ocorrer candidíase oral, cutânea ou gastrintestinal (FEBRASG, 2001). A maior parte da literatura específica atual demonstra que entre 85% e 90% da flora fúngica vaginal é constituída por Cândida albicans. O restante é atribuído a outras espécies, sendo mais comum a C. glabrata e a C. tropicalis (SOBEL, 2002). Os fatores que predispõem as mulheres ao desenvolvimento da candidíase vaginal sintomática incluem uso de antibióticos, gravidez e diabetes. Através de um mecanismo denominado resistência à colonização, os lactobacilos impedem o supercrescimento dos fungos oportunistas. O uso de antibióticos perturba a flora vaginal normal, reduzindo a concentração de lactobacilos e do restante da flora normal, e assim permitindo um supercrescimento de fungos. Tanto a gravidez quanto o 33 diabetes estão associados a uma diminuição qualitativa da imunidade celular, levando a uma maior incidência de candidíase (BEREK, 2005). O quadro clínico usual é o prurido vulvar. O corrimento vaginal, quando presente, é em discreta quantidade. Freqüentemente, pode ser descrito como branco, de aspecto semelhante a leite talhado, de espesso a aquoso, com coloração de branca a amarela. Acompanha a irritabilidade vaginal, ardor vulvar, dispareunia e disúria. Ao exame físico, pode-se encontrar edema, eritema vulvar e fissuras na vulva ou períneo. A mucosa e o colo podem mostrar-se hiperemiadas com aumento do conteúdo vaginal. O pH vaginal costuma estar abaixo de 4,5 (LINHARES, MIRANDA E HALBE, 2000). O método de Papanicolaou cora em marrom as hifas e esporos de Cândida, no entanto, não é recomendável para o diagnóstico da candidíase (OLIVEIRA apud HALBE, 1998). A candidíase vulvovaginal é muito comum no transcorrer da gravidez, podendo apresentar recidivas pelas condições propícias do pH vaginal que se estabelece nesse período. Qualquer um dos tratamentos abaixo pode ser usado em gestantes, deve ser dada preferência ao Miconazol, Terconazol ou Clotrimazol, por um período de sete dias. Não deve ser usado nenhum tratamento sistêmico. A candidíase vaginal é muito comum no transcorrer da gravidez, podendo apresentar recidivas pelas condições propícias do pH vaginal que se estabelece nesse período (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, 2008). Um pequeno número de mulheres desenvolve a Candidíase Vulvovaginal Crônica (CVV) recorrente crônica. Estas mulheres desenvolvem sintomas irritativos persistentes do vestíbulo e da vulva. A queimação substitui o prurido como o sintoma proeminente em pacientes com CVV crônica. O diagnóstico deve ser confirmado por microscopia direta das secreções vaginais e por cultura para fungos (BEREK, 2005). Dependendo da faixa etária, da localização geográfica e do nível sócio econômico, aproximadamente 44% das mulheres podem ter uma ou mais espécies de Cândida como constituintes de sua flora vaginal. A simples presença de um microrganismo não equivale necessariamente a doença. Estudos microbiológicos quantitativos demonstram que a transição entre o estado de portador assintomático e a manifestação da doença é acompanhada por alterações quantitativas na magnitude da 34 replicação do microrganismo. Assim a colonização assintomática está associada ao fluido vaginal, enquanto que a manifestação da sintomatologia ocorre em presença de quantidades maiores de fluido vaginal. Por outro lado, os fatores de hospedeiro que controlam tal mecanismo ainda são pouco conhecidos (SOBEL, 2002). Embora a prevalência de Cândida como constituinte da flora vaginal seja significativa, é provável que o principal reservatório do microrganismo seja o trato gastrintestinal. Apesar do grande número de cepas, o espectro das causadoras de vulvovaginites limitado. A maioria dos casos é devido a Cândida albicans: um terço dos casos é devido a C. tropicalis, C. pseudotropicalis, C. stellatoidea, C. Krusei e C. quilliermondi. Para que ocorra doença a cepa deverá possuir a habilidade de ligar-se às células escamosas epiteliais, o que ocorre através de receptores específicos de membrana que determinadas cepas possuem (LINHARES, MIRANDA E HALBE, 2000). A doença é pouco freqüente na infância e no climatério. A alta incidência durante o menacme sugere dependência hormonal da infecção (SOBEL, 2002). A colonização do pênis com Cândida está presente em aproximadamente 20% dos parceiros de mulheres com candidose recidivante. A colonização assintomática do trato genital masculino é quatro vezes mais freqüente em parceiros de mulheres infectadas e, na maioria das vezes por cepas idênticas às cepas isoladas no trato genital feminino. A secreção prostática parece também funcionar como reservatório do fungo, sugerindo a transmissão sexual. Em mais de 85% dos casos o organismo é de origem endógena, e em cerca de 5 a 10% dos casos o relacionamento sexual é o provável modo de transmissão, porém nos casos recidivantes, essa possibilidade deve ser considerada, pois a presença de reservatórios genitais e extragenitais no homem e na mulher é bastante freqüente (SOBEL, 2002). A mucosa vaginal saudável usualmente resiste à infecção fúngica, porém as leves erosões secundárias ao coito, também podem contribuir para o aparecimento da doença (BRASIL, 1999). Entre os fungos, a Cândida albicans tem sido a espécie mais patogênica para o homem. O microrganismo, oportunista, é capaz de invadir todos os tecidos do hospedeiro, tornando-se maléfico em presença de imunodepressão. a candidose sistêmica, embora rara, tem-se tornado mais freqüente em pacientes com síndrome da 35 imunodeficiência adquirida. Para a patogenicidade são importantes fatores relacionados ao microrganismo e fatores relacionados ao hospedeiro (BRASIL, 1999). A maior parte das cepas de Candida albicans possui a capacidade de alterar sua própria estrutura, reversivelmente e com elevada freqüência, entre um número variável de fenótipos, distinguíveis pela morfologia das colônias. A Candida produz enzimas proteolíticas, toxinas e fosfolipases, que, embora ainda pouco estudadas, parecem contribuir para o aumento da virulência. Além disso, o processo de germinação do fungo aumenta a colonização e facilita a invasão dos tecidos (SOBEL, 2002). Após a introdução na vagina o microrganismo adere às células epiteliais. A capacidade de adesão e de multiplicação do fungo é diretamente proporcional à sua virulência (SOBEL, 2002). Dentre os fatores classicamente relacionados ao hospedeiro que predispõe à infecção e às recidivas destacam-se a gravidez, o uso de contraceptivos orais, diabetes mellito, o uso de antibióticos, as alterações na resposta imunitária e hábitos de higiene e de vestuário (SIMÕES, 1996). Durante a gestação o ambiente hormonal específico aumenta a disponibilidade de glicogênio no meio vaginal, tornando-o mais ácido e, portanto mais favorável à proliferação do fungo. A presença de receptores hormonais no microrganismo também contribui para o aumento de candidose em grávidas. A utilização de contraceptivos hormonais orais de alta dosagem parece relacionar-se ao incremento da população de fungos na vagina, provavelmente devido aos mesmos fatores que atuam na gestação. Estudos mais recentes, porém, não confirmam tal associação particularmente em usuárias de pílulas com baixa dosagem hormonal (SIMÕES, 1996). Em presença de diabetes mellito descompensado, a glicosúria e o aumento da concentração de açúcar no conteúdo vaginal podem precipitar a candidose vaginal (Sobel). É importante, porém lembrar que a mulher diabética estar sujeita a corrimento por outros agentes. Existem hipóteses de que a dieta poderia exercer influência no meio vaginal e desencadear a candidose vulvovaginal recidivante. Assim, por exemplo, o excesso de ingestão de doces e/ou de alimentos ácidos favoreceriam o aparecimento dos surtos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, 2008). 36 FIGURA 1: Citologia Cérvico-vaginal - Candida sp (Papanicolaou, 1.200X). Fonte: Atlas de Citopatologia : www.uftm.edu.br/instpub/fmtm/patge/cit_cervicovag.htm. 37 3.2 TRICOMONÍASE VAGINAL Outro agente etiológico que pode ser encontrado nos exames laboratoriais de secreção vaginal é o Trichomonas vaginalis. Este protozoário flagelado possui como reservatório a cérvice uterina, a vagina e a uretra. (BRASIL, 1999). Linhares, Miranda e Halbe (2000) ainda relatam a sua presença na bexiga, ureteres, cavidade uterina, glândulas de Skene e Bartholim. Trichomonas vaginalis é o causador da doença sexualmente transmissível (DST) não-viral mais comum no mundo. A organização Mundial de saúde (OMS) estimou em 170 milhões de casos de tricomoníase no mundo anualmente em pessoas entre 15 e 49 anos, com a maioria (92%) ocorrendo em mulheres. Apesar da alta prevalência e dos riscos associados a tricomoníase pouco é conhecido sobre a variabilidade biológica do parasito (BASTOS, 2003). A taxa de transmissão é alta; 70% dos homens contraem a doença após uma única exposição a uma mulher infectada, o que sugere que a taxa de transmissão do homem para a mulher é ainda maior. O parasita é um anaeróbio capaz de gerar hidrogênio para se combinar ao oxigênio e criar um ambiente anaeróbico. Existe apenas na forma trofozoíta. A vaginite por Trichomonas freqüentemente acompanha a Vaginose bacteriana, que pode ser diagnosticada em até 60% das pacientes com vaginite por Trichomonas. (BEREK, 2005). Não existem indícios que a gravidez altere a freqüência da tricomoníase. Parece que se apresenta mais sintomático durante a gestação (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, 2008). A tricomoníase vaginal ocorre em até 30% das gestantes. Porém, tem-se observado acentuada diminuição dessa infecção nos últimos anos, sendo que, na UNICAMP, encontrou-se tricomoníase vaginal em apenas 2,1% das gestantes (Simões & cols., 1996). Apenas 10% das mulheres com tricomoníase vaginal referem mau odor e mais da metade é assintomática. Em relação à associação dessa infecção com complicações perinatais, um amplo estudo multicêntrico revelou correlação positiva entre a infecção materna por Trichomonas vaginallis e RPM, TPP, recém-nascidos de baixo peso e endometrite puerperal (SIMÕES, 1996). 38 O corrimento vaginal profuso apresentado, algumas vezes, odor fedido é referido pela maior parte das pacientes com tricomoníase (LINHARES, MIRANDA e HALBE, 2000). Ao exame físico pode ser observada coloração amarelada, ou amarelado esverdeado e bolhoso (BRASIL, 1999). A dor em baixo ventre (dor pélvica) deve alertar para o acometimento do trato genital superior por associação de outros microorganismos. Costuma haver hiperemia da mucosa, do colo e edema vulvar. O aspecto de morango pode ser observado no colo uterino, devido à presença de petéquias que podem ser observadas a olho nu (colpite difusa e/ou focal) (BRASIL, 1999; LINHARES, MIRANDA e HALBE, 2000; URBANETZ et al., 2000). Provavelmente, a ação dos tricomonas se faz de maneira indireta, devido à sua motilidade na vagina, funciona como transportador de bactérias presentes no meio vaginal para a região cervical: • Parto prematuro • Amniorrexe prematura Acredita-se que o aumento do pH vaginal durante e após a menstruação favorece o aparecimento da infecção. O parasita ataca o epitélio escamoso, que responde inicialmente com aumento da vascularização, seguida por papilite, edema, erosão das camadas superficiais e necrose. A cérvice com “aspecto de morango”, classicamente descrita, corresponde à acentuada distensão dos vasos sangüíneos superficiais e a focos de hemorragia. Este tipo de resposta epitelial à agressão resulta em atípias citológicas, com alterações nucleares e citoplasmáticas. Por outro lado, as lesões teciduais favorecem o desenvolvimento do parasita (BRENNA, 2001). O corrimento vaginal profuso é referido pela maior parte das pacientes com tricomoníase. A sensação de ardor vaginal e prurido são também queixas freqüentes, podendo acompanhar-se de disúria e dispareunia. Algumas vezes o corrimento é referido como tendo odor fétido. O início da sintomatologia geralmente ocorre no final ou logo após o término da menstruação. A queixa de dor no baixo ventre, quando referida, deve alertar o clínico para a possibilidade de acometimento do trato genital superior por outros microrganismos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, 2008). 39 Os achados no exame ginecológico dependem da severidade da doença. Geralmente ocorre hiperemia e edema na vulva, observando-se acentuado aumento no conteúdo vaginal. Ao exame especular observa-se intensa hiperemia na vagina e cérvice. Freqüentemente, observa-se o colo “com aspecto de morango”. A coloração do conteúdo vaginal pode ser amarelada, esverdeada, esbranquiçada ou acinzentada, de consistência espessa ou fluída (BASTOS, 2003). FIGURA 2 : Trichomonas vaginalis (CICLO VITAL) Trichomonas vaginalis A tricomonose é doença venérea! CICLO VITAL relação sexual 3 a 20 dias até o aparecimento dos sintomas O trofozoíto sobrevive mais de uma semana sob o prepúcio após o coito = estágio infectivo = estágio diagnóstico Trofozoíta na secreção vaginal ou prostática e na urina Multiplicação por divisão binária longitudinal Trofozoíta na vagina ou meato uretral Fonte: www.geocities.com/ceueterra/trichomonas.ppt. Acesso em: 18/06/08 40 FIGURA 3 : Estrutura do Trichomonas Trichomonas Flagelo anterior Membrana ondulante Corpo parabasal e ap.Golgi costa núcleo hidrogenossomos Filamento parabasal axóstilo • Protozoário flagelado parasita cavitário • adaptado ao parasitismo monoxênico • quatro espécies parasitam os humanos: T.tenax, T.hominis, T.vaginalis, Trichomitus fecalis • não possui forma cística Fonte: www.geocities.com/ceueterra/trichomonas.ppt. Acesso em: 18/06/08 41 FIGURA 4 : Citologia Cérvico – Vaginal – Trichomonas vaginalis (Papanicolaou, 1.500X). Fonte: Atlas de Citopatologia : www.uftm.edu.br/instpub/fmtm/patge/cit_cervicovag.htm. 42 FIGURA 5: Citologia Cérvico – vaginal – Trichomonas vaginalis (Papanicolaou, 2.350X). Fonte: Atlas de Citopatologia : www.uftm.edu.br/instpub/fmtm/patge/cit_cervicovag.htm. 3.2 VAGINOSE BACTERIANA (VB) A Vaginose bacteriana (VB) era denominada vaginite inespecífica ou vaginite por Gardnerella. É uma alteração da flora bacteriana vaginal normal que resulta na perda de lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio e em um supercrescimento de bactérias predominantemente anaeróbicas. A forma mais comum de vaginite nos Estados Unidos é a VB. As bactérias anaeróbicas podem ser encontradas em menos de 1% da flora de mulheres normais. No entanto, em mulheres com VB, a concentração de anaeróbios, bem como de G. vaginalis e Mycoplama hominis, é 100 a 1.000 vezes maior que em mulheres normais. Geralmente não há lactobacilos (BEREK, 2005). A vaginose bacteriana (VB) é encontrada em 10 a 26% das grávidas. Na UNICAMP encontrou-se VB em 9,5% das gestantes assintomáticas (Simões & cols., 1998). O sintoma mais freqüente é o corrimento vaginal com odor fétido, embora quase metade das pacientes com vaginose bacteriana seja completamente assintomática (Simões & cols, 1998). 43 A vaginose bacteriana, é uma das causas de vulvovaginites como já foi mencionado anteriormente, é caracterizada por um desequilíbrio da flora vaginal, devido ao aumento exagerado de bactérias, em especial, a anaeróbica (Gardnerella vaginalis, Bacteróides sp., Mobiluncus sp., micoplasmas, peptoestreptococos). Esse aumento é associado a uma ausência ou diminuição acentuada dos lactobacilos acidófilos (que normalmente são os agentes predominantes na vagina) (BRASIL, 1999). Alguns autores relatam que o sintoma mais freqüente é o odor desagradável que piora após o coito e a menstruação, estando o corrimento vaginal presente em 50 a 70% dos casos apresentando-se como um conteúdo fluido, homogêneo, esbranquiçado, acinzentado ou amarelado, quase sempre em moderada quantidade. Estas variações do conteúdo vaginal alertam para a possibilidade de associação com outros patógenos. Silva Filho e Burlá (2002), relatam ainda, como sintomas, ocasionalmente, o prurido e/ou ardência vaginal, dor abdominal baixa, sangramento intermenstrual e menorragias ou fluxos prolongados. Parece que as aminas e os ácidos orgânicos presentes na vagina de portadores de vaginose bacteriana têm ação citotóxica, resultando em esfoliação celular que origina a descarga vaginal. Acredita-se ainda que ocorram alterações na disponibilidade dos receptores celulares, de maneira que as bactérias ligam-se avidamente às células epiteliais esfoliadas, originando as chamadas “clue cells” (célula guia). Existem dúvidas se a flora vaginal é responsável pela alteração do pH ou se a alteração do pH é responsável pela alteração na flora vaginal. De qualquer maneira, a elevação do pH geralmente associa-se à maior habilidade bacteriana de ligação com as células ( SOCIEDADE BRASILEIRA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, 2008). O diagnóstico pode ser realizado através dos sintomas, da característica do conteúdo vaginal, medida do pH vaginal, teste de KOH ou teste de aminas, observação da presença de “clue cells” no exame a fresco, pelo método de GRAM ou Papanicolaou. (BRITO et al., 1996; RIBEIRO FILHO et al., 1998; LINHARES, MIRANDA e HALBE, 2000; VESPERO et al., 2000; SILVA FILHO e BURLÁ, 2002 e URBANETZ et al., 2002). A vaginose bacteriana representa, até o momento, a causa mais freqüente de queixa de corrimento vaginal. Nos Estados Unidos, tem sido diagnosticada em 17 a 44 19% das mulheres atendidas em clínicas de planejamento familiar. A prevalência aumenta para 24 a 37% quando os dados são fornecidos por clínicas de doenças sexualmente transmissíveis (HALBE, 2000). Em nosso meio, a vaginose bacteriana é responsável por freqüência significativa de corrimento vaginal. Em estudo multicêntrico brasileiro, a patologia foi observada em 45,6% das pacientes. Aspecto importante a ser considerado é a transmissão sexual, pois além das evidencias clínicas dessa possibilidade, inúmeros trabalhos têm observado ser a mesma responsável pelo elevado índice de recidiva (BRASIL, 1999). Ainda são pouco conhecidas às alterações da flora microbiana do trato genital feminino, necessárias para produzir infecção e transformá-la em doença. O conceito de monoetiologia (uma determinada espécie bacteriana causando uma doença específica) contribuiu para limitar as perspectivas de inter-relação biológica e interdependência existente entre os vários constituintes da flora microbiana do trato genital (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISÍVEIS, 2008). A relação entre G. vaginalis e doença não é um simples fenômeno de causaefeito. O microorganismo é um constituinte relativamente comum da flora vaginal, pois apenas pequeno de mulheres que abrigam a bactéria tem queixa de corrimento vaginal e/ou outros sintomas. Os fatores que governam a expressão clínica da G. vaginalis são pouco conhecidos, porém atribui-se papel importante a magnitude de replicação da bactéria. Estudos bacteriológicos quantitativos mostram que o estado da doença, quando devido primariamente à G. vaginalis, está associado com quantidades de bactérias maiores do que 108 unidades formadoras de colônias (CFU) por grama de fluído vaginal. Para ocorrer a doença não apenas o ambiente microbiológico deverá conter a G. vaginalis como seu constituinte principal, mas alguma coisa deve acontecer para liberar as bactérias dos fatores inibitórios que governam a magnitude de replicação (Monif). Spiegel e col., ultilizando metodologia anaeróbia, verificando que, durante a vaginose bacteriana, a G. vaginalis está frequentemente associada à bactérias anaeróbias (sendo as mais freqüentes Bacteróides sp, Peptococos sp e Eubactéria sp), assim como a bacilos curvos móveis, observando ainda diminuição na concentração ou mesmo ausência de lactobacilos. Atualmente, a vaginose bacteriana é considerada como resultante da proliferação maciça de uma flora mista, incluindo 45 Peptostreptococos, bacteróides sp, G. vaginalis, Mobilluncus sp e Microplasmas. Tal alteração representa um estado de desequilíbrio no ecossistema microbiano vaginal e não um verdadeiro estado de infecção dos tecidos; por tal motivo não se observa processo inflamatório. A proliferação da flora mista é acompanhada por perda da flora de lactobacilos, que em condições fisiológicas, são os predominantes no meio ambiente vaginal (BELDA, 2000). A causa da proliferação maciça de G. vaginalis, anaeróbios, micoplasmas e Mobiluncus é desconhecida. Existem teorias sobre o aumento do substrato disponível, elevação do pH vaginal e supressão do efeito restritivo da flora lactobacilar (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, 2008). FIGURA 6: Citologia Cérvico–vaginal – Candida sp e Gardnerella vaginalis (Papanicolaou, 1.2000X). Fonte: Atlas de Citopatologia : www.uftm.edu.br/instpub/fmtm/patge/cit_cervicovag.htm. 46 FIGURA 7 : Citologia Cérvico – Vaginal – Gardnerella Vaginalis (2.400X). Fonte: Atlas de Citopatologia : www.uftm.edu.br/instpub/fmtm/patge/cit_cervicovag.htm. 3.3 CHLAMYDIA TRACOMATIS O linfogranuloma venéreo (LGV) é uma doença infectocontagiosa, generalizada, comumente de origem venérea, causada por um microrganismo do grupo da Chlamydia. O agente causador, Chlamydia trachomatis, bactéria coco Gram-negativo que pertence à ordem Chlamydiaceae (BELDA, 2000). A Chlamydia trachomatis é responsável por doenças com importante repercussão orgânica para a população feminina jovem, causando elevadas taxas de morbidade, além de seqüelas irreparáveis do ponto de vista social e orgânico. Estimase que no mundo ocorram 89 milhões de casos novos de infecção clamidiana por ano, podendo muitas vezes resultar em trabalho de parto prematuro e endometrite puerperal,quando acomete uma grávida (SIMÕES, 1996). Essa bactéria já é conhecida há bastante tempo como sendo o agente causador do tracoma (principal causa de cegueira prevenível), da conjuntivite de inclusão do RN e de linfogranuloma venéreo. Entretanto, apenas nas últimas décadas, a infecção 47 clamidiana do trato genital feminino tem recebido atenção específica, principalmente por estar relacionada a complicações maternas e neonatais (SIMÕES, 1996). Clamídia é um parasita intracelular obrigatório, reconhecida como verdadeira bactéria. Difere dos vírus por possuir tanto DNA quanto RNA, parede celular com estrutura análoga à das bactérias Gram-negativas e por ser sensível aos antibióticos. Mesmo possuindo enzimas, tem atividade metabólica bastante restrita e não é capaz de produzir sua própria energia. Assim, é considerado parasita energético, pois tem que utilizar o ATP produzido pela célula hospedeira, dado que não consegue oxidar a glicose (ARANTES, 1992). A sua associação com a gonorréia é muito freqüente, atingindo cifras que variam de 40 a 60% nas mulheres com infecção. O crescimento das taxas das infecções clamidianas no mundo, provavelmente, foi determinado, entre outros fatores, devido a essas infecções se comportarem de forma silente na maioria dos casos e também pelo antigo uso isolado de penicilinas ou cefalosporinas no tratamento de uretites e cervicites, que não são eficazes contra a Clamydia trachomatis (BARBOSA, 1986). A forma infectante da clamídia, o corpúsculo elementar (CE), liga-se à célula hospedeira suscetível (epitélio colunar) através de receptores específicos, promovendo, a seguir, um fenômeno de fagocitose (não próprio das células epiteliais) e, portanto, incorporando-se ao citoplasma celular. Dentro do fagossomo, a bactéria diferencia-se no corpúsculo reticular (CR) (também conhecido como corpúsculo inicial), que representa sua forma metabolicamente ativa (ARANTES, 1992). Naquele momento, algum fator produzido pela clamídia inibe sua destruição pelo ataque de lisossomos, protegendo-a intracelularmente. Os corpúsculos reticulares reproduzem-se por divisão binária até que a célula hospedeira seja depletada do ATP e dos aminoácidos essenciais, quando então os corpúsculos reticulares recém-formados sofrem uma segunda metamorfose e se condensam para a forma de corpúsculo elementar, completando o ciclo de vida da clamídia. A célula hospedeira é lisada e os corpúsculos elementares são liberados para infectar novas células. Este ciclo completo demora mais ou menos 2 a 3 dias (BELDA, 2000). A infecção genital em adulto ocorre por contato sexual. Os estudos de prevalência de anticorpos para Chlamydia trachomatis mostraram que a exposição a 48 esse agente é aproximadamente três vezes mais comum em mulheres com infertilidade por problemas tubários e com prenhez ectópica, comparadas com populações de controle. Após a inoculação genital, aparentemente há disseminação sistêmica do microorganismo antes da localização nos linfonodos genitais ou retais. Essa infecção dos linfáticos se torna localmente invasiva, caracterizando-se por endurecimento, supuração multifocal e formação de fístulas. O acometimento dos gânglios femorais e inguinais, mais comum nos homens, pode produzir edema bilateral dos ligamentos inguinais. (www.fmt.am.gov.br/areas/dst). De maneira geral, o curso clínico do LGV pode ser dividido em três estágios: estágio primário: envolve as fases iniciais da doença e lesões precoces; estágio secundário: envolve os linfonodos regionais; estágio terciário: abrange as formas tardias com seqüelas da doença (BELDA, 2000). A infecção por clamídia é adquirida através da relação sexual ou pelo contato da mucosa com outra área infectada. Atinge indiscriminadamente a homens, mulheres e crianças e possui a capacidade de provocar, em muitos casos, uma infecção significante, sem produzir qualquer sintomatologia. Ela tem afinidade pelas células do epitélio colunar, sendo a endocérvice o a principal alvo deste microrganismo, embora outras áreas com este epitélio também possam ser infectadas. Estima-se que até 70% das infecções cervicais pela clamídia sejam assintomáticas, fazendo da mulher uma importante fonte de infecção e transmissão da doença (MANUAL DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, 2007). Tem sido mostrada a clamídia como a principal causa das uretrites não gonocócicas, que é isolada em 26 a 72% dos homens com esta infecção. A uretrite não gonocócica é bastante habitual (BRASIL, 1999). A prevalência geral de infecção cervical por clamídia é de 15%, variando de 8 a 40%, de acordo com a população estudada. As taxas mais altas têm sido relacionadas com mulheres pertencentes a grupos de risco. O risco estará ligado a fatores como: adolescência; união marital não estável; antecedentes de outras DST; multiplicidade de parceiros; parceiro com uretrite não gonocócica; presença de ectopia cervical e/ou cervicite mucopurulenta. A prevalência da infecção cervical por clamídia nas gestantes varia de 2 a 37% nas diversas publicações. O recém-nascido de gestante com infecção clamidiana cervical tem 60 a 70%de chance de adquirir a transmissão vertical, durante 49 sua passagem no canal de parto. Cerca de 25 a 50% das crianças expostas desenvolverão conjuntivite de inclusão nos dois primeiros meses de vida a 10 a 20% desenvolverão pneumonia 3 a 4 meses após o parto (FIGUEIREDO, 2008). A C. tracomatis é provavelmente a infecção sexualmente transmissível mais prevalente nos Estados Unidos e o seu Centro de Controle de Doenças (CDC) estima que o número de novas infecções por este microrganismo exceda quatro milhões anualmente. A gestação por si só parece aumentar o risco de colonização por essa bactéria. A infecção por C. tracomatis é adquirida pelo RN durante a passagem pelo canal do parto, existindo casos de infecção em crianças nascidas de parto cesárea, com antecedentes maternos de ruptura prematura de membranas amnióticas, e, mesmo a pós-natal sendo possível através do contato com a mãe (REVISTA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA, 2008). Clamídia parece ser um parasita específico das células escamocolunares, crescendo somente na zona de transmissão e na endocérvice. Ela não causa vaginite, pois não se desenvolve no epitélio vaginal. O colo uterino infectado pode ser desde clinicamente normal até extremamente inflamado com erosões e secreção endocervical mucopurulenta. O diagnóstico da cervicite mucopurulenta é feito pela presença de muco-pus amarelo ou esverdeado no canal cervical, ectopia cervical friável com edema e eritema acentuados ou ainda pelo achado de dez ou mais leucócitos no esfregaço da endocérvice corado pelo Gram (BASTOS, 2003), encontraram atipias celulares associadas à infecção cervical por clamídia e atribuíram ser relacionada à reparação do processo infeccioso. A DIP é a complicação mais importante da infecção clamidiana na mulher, e suas primeiras evidências, como agente etiológico na salpinigite, provêm de investigações européias, especialmente escandinavas. Ainda que haja, atualmente, um consenso no papel da clamídia nesta patologia, persiste a controvérsia quanto ao seu modo de ocorrência e sua real importância nas diferentes áreas geográficas (BRENNA, 2001). A prevalência de infecção cervical por clamídia em gestantes varia de 2 a 37%, dependendo da população estudada (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, 2008). 50 A literatura mostra-se bastante controversa com relação ao possível envolvimento da infecção materna com o aumento das taxas de prematuridade, baixo peso fetal, rótura prematura de membranas (RPM), óbito fetal e endometrite puerperal (SIMÕES, 1996). WANDERLEY, MAGALHÃES E TRINDADE encontraram um aumento significativo na ocorrência de parto prematuro entre as gestantes com infecção por clamídia, além de maior incidência de recém-nascido de baixo peso e mortalidade perinatal. Por outro lado, Thompson e col., Harrison e col. e Hardy e col. relataram não haver associação entre estas complicações perinatais e infecção clamidiana materna. Oliveira e Soares (2007) não encontraram associação entre endometrite puerperal e infecção por clamídia. Ao contrário, investigações preliminares de outros autores sugeriram haver um risco aumentado de endometrite pós-parto vaginal naquelas pacientes com infecção clamidiana. Os dados foram confirmados mais tarde. Como nota-se, o verdadeiro impacto da infecção cervical por clamídia sobre o ciclo gravídico-puerperal ainda não foi definitivamente estabelecido, tornando-se necessários mais estudos. FIGURA 8 : Citologia Cérvico-vaginal – Chlamydia sp (600X). Fonte: Atlas de Citopatologia : www.uftm.edu.br/instpub/fmtm/patge/cit_cervicovag.htm. 51 3.5 HERPES GENITAL O Herpes é uma doença muito comum na América e na Europa, sendo uma das principais doenças sexualmente transmissíveis. Infelizmente é uma doença que ainda não tem cura. O seu agente patogênico é um vírus que ataca as mucosas e a pele. O herpes se divide em dois tipos: o Herpes simples Vírus I (herpes simples) e o Herpes simples II (herpes genital). O herpes simples provoca bolhas ou feridas nos lábios, na boca e no rosto. O herpes genital nas mulheres, por sua vez, causa bolhas e feridas nos lábios da vulva, no meato uretral, nas paredes vaginais e no colo do útero. Nos homens, estes sintomas se manifestam na uretra, no corpo do pênis e na glande peniana. Algumas feridas juntas podem aparecer nas coxas, nas nádegas e em volta do ânus, nos homens e nas mulheres (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA, 2008). O herpes genital é uma patologia importante por diversos aspectos. A sintomatologia é, na maioria dos casos, extremamente desagradável, molestando as pacientes. Como as demais doenças sexualmente transmissíveis (DST), acarretam repercussões psicológicas, as quais devem ser consideradas; tais repercussões, ao lado do desconforto físico alteram a sexualidade da mulher. Durante o ciclo gravídicopuerperal, existe risco de acometimento do feto ou do recém-nascido, cujas conseqüências incluem abortamentos, malformações ou graves infecções. As infecções herpéticas, ao lado da sífilis, estão entre as causas mais comuns de ulcerações genitais. Tais ulcerações, por representarem soluções de continuidade do tegumento ou das mucosas, podem contribuir para a maior disseminação do vírus da imunodeficiência humana (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, 2008). Os anticorpos maternos conferem imunidade natural para HSV durante o primeiro ano de vida. Após esse tempo, a criança pode facilmente ser infectada pela saliva de um portador através de beijos, utensílios, brinquedos etc (BASTOS, 2003). De maneira semelhante às outras DST, a exposição à múltiplos parceiros aumenta o risco de infecção. Uma vez adquirido o vírus, o hospedeiro torna-se portador por toda a vida, e conseqüentemente o reservatório natural está continuamente em 52 crescimento. Os herpesvírus podem sobreviver por aproximadamente 4h em roupas úmidas ou plásticos e em água com baixo teor de cloro, por isso, considera-se possível a transmissão por fômites. Os vírus podem ainda ser encontrados em utensílios como talheres, copos e em assentos sanitários (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, 2008). A evolução da infecção caracteriza-se por surtos recorrentes, cujos sinais e sintomas são bem menos intensos do que os da infecção primária. Os surtos apresentam uma periodicidade que varia de indivíduo para indivíduo e no mesmo indivíduo ao longo do tempo. Enquanto alguns pacientes apresentam recidivas com periodicidade maior do que o anual, outros chegam a apresentar infecções quase que subentrantes. Pacientes imunodeprimidos podem apresentar lesões persistentes, formando verdadeiras ulcerações, formando ou, mais raramente, lesões verrucosas. Os surtos tendem a ser mais espassados com o passar dos anos. Estímulos como estresse, febre, trauma, luz solar, menstruação, infecções intercorrentes ou imunossupressão são fatores precipitantes das recorrências (MURTA, 1998). A mulher grávida pode transmitir a doença para o feto que nasce com lesões nos olhos, boca, pulmões, intestinos e órgãos sexuais. Muitas vezes, ela também pode causar a morte do feto ou provocar um nascimento prematuro (MANUAL DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM GESTANTES, 1999). Não existem evidencias que a duração da doença ou a eliminação do vírus aumentem durante a gravidez. O herpes genital é três vezes mais comum nas gestantes que nas não gestantes. Apenas um terço das gestantes com herpes genital apresenta as lesões vesiculares e ulcerativas características (SIMÕES, 1996). O manejo de gestações complicadas por infecções por herpes permanece gerando muita controvérsia. É a DST mais freqüente nos Estados Unidos (FIGUEIREDO, 2008). Aproximadamente 25% dos recém-nascidos que contraem herpes genital no momento do nascimento deverão sofrer por infecção herpética disseminada (FIGUEIREDO, 2008). 53 Cerca de 40% dos que desenvolvem a doença disseminada ou do sistema nervoso central deverão ir ao óbito, independente de tratamento antiviral adequado (FIGUEIREDO, 2008). Dois tipos de herpes vírus têm sido distinguidos baseados em aspectos imunológicos e clínicos. O tipo 1 é responsável pela maioria das infecções não genitais (raramente envolve o trato genital). O tipo 2 é recuperado quase que exclusivamente do trato genital e é transmitido, na maioria das vezes, por contato sexual (HALBE, 2000). É um vírus DNA de localização mucocutânea e dos núcleos neuronais de gânglios sensoriais, comum período de incubação de três a 14 dias no caso de primoinfecção sintomática (HALBE, 2000). 3.6 PAPILOMA VÍRUS HUMANO (HPV) Historicamente sabe-se que as verrugas genitais são conhecidas desde a antiguidade tendo sido citadas por muitos escritos gregos e romanos. Descrições de lesões semelhantes a verrugas, datadas da Idade Média, também são mencionadas. Hunter, que fez uma descrição clara de verrugas genitais, observou-as como manifestações de sífilis em 1786 (HALBE, 1998). No século XIX, muitos escritores consideravam as verrugas genitais como conseqüência de processos irritativos da pele determinados por vários agentes como sujeira, esmegma decomposto e corrimentos genitais. A ação destes irritantes não específicos foi aceita por muito tempo e confirmada no século XX por Kaplan (HALBE, 1998). O termo Papovavírus é um anagrama derivado das primeiras letras dos três vírus originais da família: papilomavírushumano, poliomavírus de rato e vírus vacuolizado de macaco. Naquela época e agora a infecção pelo papilomavírus humano (HPV) chama a atenção tanto da paciente como de medico, quer seja pela presença de verrugas como por alterações presentes na citologia, como coilocitose, disqueratose, paraqueratose e alterações nucleares. Papilomavírus humano (HPV) é um pequeno vírus pertencente à família Papovaviridae. A infecção pelo HPV é mais freqüente em jovens, sendo o pico 54 de idade a faixa entre 20 e 24 anos. A incidência de HPV na população em geral é de 1 a 8%, e a prevalência na população feminina entre 26 e 60 anos está em torno de 2 a 3%; num período de 10 anos, metade das mulheres com vida sexual ativa adquire, ao menos, uma infecção pelo HPV. (HALBE, 2000). A maior freqüência de infecção por papiloma vírus humano (HPV) em gestantes em relação à não-gestantes sugere que a gravidez é um fator de risco para infecção pelo HPV. Durante a gestação ocorreria à expressão clínica máxima de infecção pelo HPV, com rápida regressão durante o puerpério. Este aumento de incidência pode ser explicado pela modulação imunológica ou pela influência de fatores hormonais durante a gestação. No entanto, alguns autores encontraram uma freqüência de infecção pelo HPV semelhante em gestantes e não gestantes (MURTA, 1998). Desde o reconhecimento do papel do papilomavírus humano (HPV) na etiologia do câncer cervical, o perfil epidemiológico tem sido modificado. O maior risco relativo de desenvolvimento da doença é a infecção por HPV; os outros fatores representam risco relativo atenuado. Apesar deste fator ser elemento importante, ele sozinho não é suficiente para induzir transformação maligna; outros fatores estão envolvidos neste processo como: idade, comportamento sexual, imunossupressão, hormônios contraceptivos orais, gravidez, fumo, nutrição, genética, história natural da infecção pelo HPV (BELDA, 2000). A prática comum de sexo orogenital pode ser o principal modo de transmissão em indivíduos sexualmente ativos. A presença de verrugas anogenitais em crianças sempre deve levantar a questão de um possível abuso sexual. Recentes evidências, descrevendo a tipagem do HPV, podem ajudar a definir, em caso de abuso sexual, quem é o provável autor. Também deve ser realizado exame oral. Em relação a transmissão vertical existem dados epidemiológicos e de biologia molecular que sugerem que pode ocorrer a transmissão do HPV da mãe para a criança. Transmissão durante o parto foi inicialmente sugerida em 1956 por Hajek, que relatou um caso de papiloma laríngeo que se tornou evidente na criança durante o primeiro ano de vida e cuja mãe teve extensas lesões de condiloma na gravidez (MURTA, 1998). Existe uma demora no estabelecimento destes papilomas que pode ser explicada em termos de período de incubação e latência. Como papiloma tem 55 crescimento lento, os sintomas ocorrem quando o tumor já atingiu um volume suficiente (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, 2007). A forma de transmissão ao feto e recém-nascido não está esclarecida, mas pode ocorrer de várias maneiras. 1. Contato direto com o trato genital materno infectado – Parece que a infecção intra-parto durante a passagem fetal é a forma mais comum de adquirir o papiloma laríngeo. O vírus pode ser transportado para a laringe fetal quando recém-nascido inspira pela primeira vez ou durante uma aspiração de nasofaringe de rotina. Esta hipótese foi investigada por Shah, que verificou baixa incidência desta infecção em pacientes submetidas a parto cesária. 2. Transmissão intra-uterina – A infecção ascendente através das membranas é uma forma mais provável do que a disseminação hematogênica, segundo Abramson. Pesquisa realizada prospectivamente por Zugaib & Leão, na Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em gestantes que apresentavam citologia oncótica compatível com a presença de HPV, demonstrou, através da técnica de detecção de reação em cadeia de polimerase (PCR) e de hibridização, que de oito casos examinados, em cinco foram encontrados a E6 – ORF (Proteína reprodutora viral), no líquido aminiótico obtido por amniocentese e, portanto, na presença de membranas íntegras. Considerando a transmissão vertical de E6 para o recém-nascido, desconhece-se a repercussão deste achado no desenvolvimento da criança (MURTA, 1998) Evidências laboratoriais sugerem que a transmissão do HPV por via não-sexual também pode ocorrer. Instrumentos contaminados podem infectar pacientes podendo ser a origem da propagação do HPV. Existe a possibilidade de que o vírus seja destruído quando exposto ao ar por longos períodos. Pesquisa de hibridização realizada em luvas cirúrgicas detectou em 50% delas a presença do DNA-HPV (BASTOS, 2003) Também foi detectado DNA viral em 32% pinças de biópsias não esterelizadas; após esterelização ainda foi detectado em 1,6%. É conveniente, portanto, a precaução de usar luvas diferentes para exame da vulva, exame pélvico e esterelização adequada do material de uso rotineiro. Crianças podem ser infectadas por transmissão não56 sexual. As vias aceitas como fáceis para inoculação do vírus nas crianças são a autóloga e a heteróloga. Esta última geralmente realiza-se pelo contato habitual e normal com familiares portadores (MURTA, 1998). A laserterapia se tornou umas das técnicas mais atrativas atualmente pelo avanço terapêutico que representa. A energia do laser CO2 é largamente absorvida pela água intracelular, a qual é instantaneamente vaporizada e proteínas intracelulares e DNA nuclear que são livres de água são carbonizados. O resultado é que a fumaça que se desprende contém debris coagulados e partículas virais que são aspirados por sucção a vácuo no próprio campo (MURTA, 1998). FIGURA 9 : Citologia Cérvico - Vaginal – Epitélio Citopático; Vírus do Papiloma Humano (HPV) (Papanicolaou, 1.200X). Fonte: Atlas de Citopatologia : www.uftm.edu.br/instpub/fmtm/patge/cit_cervicovag.htm. 57 3.7 SÍFILIS À Sífilis – também conhecida como lues ou cancro duro – é transmitida durante o até o ato sexual com um parceiro infectado, é uma doença infecciosa sistêmica representando grande desafio aos serviços de saúde pública em todo o mundo. É causada por um treponema (um tipo de micróbio) que passa através de alguma lesão da pele ou da mucosa (mesmo que essa lesão seja imperceptível aos nossos olhos). Em três semanas, surge uma ferida de bordos elevados, conhecida como cancro duro (NEME, 1998). A história natural da sífilis é dividida em cinco fases: 1. período de incubação, que dura, em média três semanas: 2. lesão inicial ou cancro duro, associada à adenopatia regional e espiroquetemia; 3. fase secundária ou de generalizada espiroquetemia, acompanhada de linfadenopatia, lesões mucocutânea polimorfas e manifestações sistêmicas; 4. período de infecção subclínica ou latente, apenas detectada por testes sorológicos; 5. sífilis tardia ou terciária, com repercussões cardiovasculares e neurológicas. Esta cronologia da sífilis não tratada tinha curso lento e progressivo, chegando a 3 ou 4 décadas. Nos últimos anos, esta história natural da sífilis tem sido modificada, pelo aparecimento, cada vez mais freqüente, do comprometimento neurológico pelo T. pallidum, em indivíduos infectados pelo vírus da imunodeficiência adquirida. Nestes pacientes, observam-se ainda dificuldades na interpretação dos testes sorológicos para sífilis, e, em alguns casos, inadequada resposta ao esquema terapêutico usual com penicilina. A infecção pelo HIV produz inúmeras anormalidades na imunidade humoral e mediada por células, facilitando, a progressão da sífilis. A literatura tem mostrado que a concomitância das duas infecções tem incidência elevada, sendo ambas de transmissão sexual, com freqüência maior nos indivíduos em idade reprodutiva. A constatação destes fatos é de interesse fundamental para o toco-ginecologista, preocupado com o bem-estar da mulher, gestante ou não. O bom produto da concepção também depende do adequado acompanhamento pré-natal. Não obstante, a sífilis congênita continua a apresentar-se com cifras preocupantes, como pôde ser constatado em várias publicações científicas. No Brasil, lamentavelmente, não existe notificação compulsória das Doenças Sexualmente 58 Transmissíveis, tornando difícil à comparação numérica dos dados locais com aqueles obtidos em outros países (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS, 2008). Estimativas da OMS indicam que a ocorrência mundial dessa doença chega 12 milhões de casos novos anualmente, com maior freqüência nos países em desenvolvimento e alguns pontos de recrudescência nos países industrializados. Com a introdução da penicilina em meados da década de 1940, a incidência da sífilis apresentou contínuo decréscimo. Entretanto, observou-se o recrusdescimento dessa DST nos últimos 15 anos. Para alguns autores, o recrusdescimento foi influenciado não somente por fatores sócio-econômicos e culturais, mas sobretudo pela maior liberação sexual, conseqüente à segurança dos anticoncepcionais hormonais no sentido de evitar a concepção (FIGUEIREDO, 2008). Para o tocoginecologista, a sífilis, além de seu aspectos dermatológicos ou de medicina interna, representa o espectro da transmissão vertical do Treponema pallidum (TP). Sabe-se que o acometimento fetal pode resultar em pré-maturidade, óbito intraútero e sífilis congênita, todas complicações graves e perfeitamente evitáveis (BARBOSA, 1986). A sífilis é contagiosa e desaparece sozinha em três semanas. Porem, se não for tratada, pode causar o alastramento da doença, fazendo surgir, após seis semanas, outras lesões na pele e na mucosa. Todas essas feridas desaparecem sozinhas, mas causam um agravamento da doença, levando a um quadro preocupante de sífilis tardia. Se não for tratada, a doença pode afetar o sistema nervoso central, os ossos e o coração (BASTOS, 2003). Quando a sífilis atinge uma mulher grávida, pode causar sérias lesões ao feto, como problemas de pele, icterícia, doenças no cérebro, no baço, no fígado, nos ossos e nos dentes. Pode também levar ao aborto, morte do feto no útero ou ainda retardar o crescimento do feto (SIMÕES, 1996). Quanto à fase de gestação em que ocorre a transmissão vertical da sífilis, atualmente, concebe-se que, apesar de infreqüente, o feto pode ser acometido precocemente, resultando em aborto. Em 1987, Duarte & cols, confirmaram o envolvimento da sífilis (por meio histopatológico da placenta) como causa de aborto. As 59 lesões ocorridas não são clinicamente aparentes até 15ª - 18ª semana de gestação, pois somente a partir dessa idade gestacional o feto exibe competência imunológica, podendo apresentar o quadro inflamatório reacional da sífilis congênita. Por isso, o acometimento fetal macroscópico é mais comum nos trimestres finais da gestação. Isso depende de fatores como a virulência da cepa, da barreira imunológica da placenta e da espessura da lâmina composta pelo sincício e pelo citotrofoblasto. O sinciotrofoblasto tende ao adelgaçamento com o evoluir da gestação, facilitando a transferência do TP ao feto (NEME, 1998). 60 4 OBJETIVOS 4.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a prevalência de DSTs através do exame de papanicolaou em pacientes grávidas, por faixa etária. 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Demonstrar a incidência de DST por faixa etária em pacientes grávidas; - Determinar o patógeno de maior prevalência nas pacientes em estudo; - Avaliar o grau de escolaridade das pacientes gestantes portadoras de DST. 61 5 CASUÍSTICA, MATERIAL E MÉTODOS 5.1 Tamanho da Amostra O estudo de 60 casos foi proveniente de um banco de dados, de pacientes grávidas portadoras de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Zona Norte de Natal. 5.2 Procedimento Estudo retrospectivo de laudos. 5.3 Análise Estatística Será realizada após obtenção de dados. Os resultados serão apresentados e descritos em forma de gráficos, através de softwares. 62 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a anamenese, as pacientes foram esclarecidas sobre todos os materiais utilizados e os procedimentos realizados, pois, segundo Oliveira et al. (2000, p. 445): “apesar da atenção para esses detalhes, algumas pacientes por temor, nervosismo e pudor, não conseguem atingir o relaxamento muscular do assoalho pélvico, dificultando o exame”. O espéculo foi introduzido fechado, utilizando a mão esquerda, com o dedo indicador e polegar, afastam-se os grandes e pequenos lábios. O especulo foi mantido com uma inclinação de 75º, obliquamente à vagina. Apoiado sobre a fúrcula, o aparelho é introduzido lentamente e, quando estiver em meio caminho, deve-se realizar uma rotação de 15º, dando ao especulo a posição que ocupará no exame. Sua extremidade foi orientada na direção do cóccix (ARANTES, 1992; OLIVEIRA et al., 2000). A coleta das amostras da secreção vaginal para a colpocitologia oncológica foi realizada utilizando a espátula de Ayre de madeira: com a extremidade arredondada, um raspado dos fórnices do colo uterino (bordas laterais e inferior) espalhando na borda inferior da lâmina; com a extremidade que apresenta reentrância, um raspado da ectocérvice, executando movimento de 360º, espalhando na borda superior da lâmina e, utilizando a escovinha “campo da paz”, um raspado da endocérvice, executando movimento de 360º , foi rodado na extremidade oposta da borda fosca. Imediatamente, esta amostra foi fixada com conta gotas e acondicionada em tubete seco (ARANTES, 1992; OLIVEIRA et al., 2000). Após a realização dos procedimentos acima citados, a retirada do especulo foi realizada com o mesmo cuidado que a sua colocação, evitando prender o colo entre as “abas” do especulo. Sua retirada aberta causaria dor e traumatismo uretral. Este momento é aproveitado para observar as paredes vaginais (ARANTES, 1992). Segundo Pereyra, Dias e Parellada, 2000, o orifício cervical externo delimita a ectócervice e a endocérvice, recobertas respectivamente por epitélio escamoso e glandular. No colo ideal, a transição dos epitélios é abrupta e localizada no orifício cervical externo, denominando-se junção escamocolunar. Por estímulos hormonais freqüentemente aversão da porção inferior do canal cervical, expondo o epitélio colunar 63 a extocérvice e caracterizando ectopia. A visão direta da vascularização estromal é responsável pela tonalidade vermelho-vivo do epitélio glandular. O contraste com a coloração rosa-pálido da ectocérvice acentua mais ainda essa característica (ARANTES, 1992). Atendendo aos objetivos da pesquisa, foram selecionados apenas os dados de interesse no diagnóstico do agente etiológico de vulvovaginites, isto é, dados inflamatórios cujos agentes etiológicos causem candidíase, tricomoníase, gardnerelose e outras infecções. Para analisar os resultados, os dados foram agrupados e apresentados através de tabelas e gráficos descritivos das variáveis em estudo, estabelecendo-se a prevalência das infecções no exame de colpocitologia oncológica. A flora vaginal normal é predominantemente aeróbica, sendo que os lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio são as bactérias mais comumente observadas. Em mulheres no menacme o pH vaginal é menor que 4,5 devido à produção de ácido lático. Ao serem estimuladas pelo estrogênio, as células epiteliais vaginais, ricas em glicogênio, decompõe-no em monossacarídeos, que são convertidos em ácido lático pelos lactobacilos (WANDERLEY; MAGALHÃES; TRINDADE, 2000). Segundo Oliveira e soares (2007); os lactobacilos são responsáveis pela hidrólise do glicogênio presentes nas células epiteliais pavimentosas descamadas, produzindo ácido lático, que diminui o pH vaginal para 4,0. Acidificando o pH vaginal, os lactobacilos inibem o crescimento de outros microorganismos. Os mesmos autores relatam ainda que, o mecanismo fisiológico de defesa do trato genital feminino mais importante contra as infecções cervicais é a microbiota láctica, caracterizada pela presença de lactobacilos (bacilos de Döderlein), que constituem um grupo heterogêneo de bactérias encontradas nas secreções cérvicovaginais e, na sua maioria, correspondem a lactobacilos acidófilos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente transmissíveis a Gardnerella vaginalis é uma bactéria que faz parte da flora vaginal normal de 20 a 80% das mulheres sexualmente ativas. Quando, por um desequilíbrio dessa flora, ocorre um predomínio dessa bactéria, onde temos um caso que se convencionou chamar de vaginose bacteriana (VB). 64 Brenna et al., (2001), revela que a infecção por Gardnerella vaginalis freqüentemente tem sido associada a fatores sócio-culturais como idade, falta de educação sexual adequada, grau de escolaridade e ocupação, que acabam por se refletir por atitudes associadas a maus hábitos de higiene, como grande número de parceiros, início precoce da vida sexual ativa e principalmente associada à falta de uso de preservativos. De acordo com Colombo e Guimarães (2003), são três os principais tipos de vaginites infecciosas: vaginose bacteriana, candidíase e tricomoníase, sendo estes processos inflamatórios os que mais acometem os órgãos genitais femininos e atingem entre 15 a 20% as mulheres americanas (EUA). No entanto, Oliveira (2007) diz que a Vaginose bacteriana (VB) é considerada, atualmente, a infecção de maior prevalência em mulheres em idade reprodutiva e sexualmente ativa. Juntamente com a candidíase e a tricomoníase correspondem a 90% dos casos de infecções vaginais, sendo que a vaginose bacteriana ocorre em 35 a 50% dos casos, enquanto a candidíase ocorre em 20 a 40% e a tricomoníase em 10 a 30%. Gráfico 01 : Agentes mais prevalentes nas Gestantes portadoras de DST. CANDIDA LACTOBACILOS GARDNERELA TRICHOMONAS COCOS ASC - US HPV LSIL ACTINOMICIS Fonte: Fonte Primária : Pacientes atendidas no SUS – Zona Norte – Natal/RN. 65 Gráfico 02 : Doenças Sexualmente Transmissíveis Associadas 0 10 20 30 LACTOBACILOS + CANDIDA TRICHOMONAS + GARDNERELA + CANDIDA COCOS + GARDNERELA LACTOBACILOS + COCOS + CANDIDA CITÓLISE + COCOS CITÓLISE + LACTOBACILOS CITÓLISE + CANDIDA CANDIDA + GARDNERELA + LACT GARDNERELA + COCOS + CANDIDA TRICO + GARD COCOS + CANDIDA GARD + COCOS + TRICO ACTINO + COCOS Fonte Primária Em relação aos agentes associados, pode-se observar que das pacientes que apresentavam presença de lactobacilos, 25 dessas pacientes apresentavam associação com a Candida sp. As outras associações foram Gardnerella + cocos (7 pacientes); Trichomonas + Gardnerella (6 pacientes). 66 Gráfico 03 : Grau de Escolaridade das Gestantes Portadoras de DST. 1°Grau 15% 2º Grau 27% 58% 3º Grau Fonte Primária Ao avaliar o Grau de escolaridade destas pacientes, foi observado um predomínio na categoria de 1º Grau, correspondendo a 35 pacientes (58% do total de pacientes), 27% eram pacientes que tinham o 2º Grau completo; conforme mostra a figura acima. Gráfico 04 : Faixa etária do grupo estudado de gestantes portadoras de infecções Cérvico – vaginais (DST). 10% 54% 12 - 18 Anos 19 - 25 Anos 26 - 32 Anos 36% Fonte Primária 67 A população em estudo foi composta de 60 pacientes, todas gestantes, portadoras de infecções cérvico-vaginais (DST), diagnosticadas pela citologia oncótica, atendidas pelo SUS, na Zona Norte de Natal (RN), que apresentavam uma faixa etária entre 12 a 32 anos; ao qual, 55% tinham entre 12 a 18 anos, 35% entre 19 a 25 anos e 10% das pacientes tinham entre 26 e 32 anos. 68 7 CONSIDERAÇÕES GERAIS As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) são tidas como um grave problema se saúde pública por afetarem muitas pessoas. Além disso, os sinais e sintomas são de difícil identificação e o acesso ao tratamento correto, também. Uma das principais preocupações relacionadas às DST é o fato de facilitarem a transmissão sexual do HIV. Quando acometem gestantes, podem atingir o feto durante seu desenvolvimento, causando-lhes lesões. Podem, também, provocar uma interrupção espontânea da gravidez (aborto), determinar uma gravidez ectópica (fora do útero) ou, ainda, causar o nascimento de crianças com graves má-formações. Durante o parto, podem atingir o recém-nascido, causando doenças nos olhos, pulmões etc. Portanto, este estudo se justifica devido à importância de se determinar à prevalência das Doenças sexualmente Transmissíveis em pacientes grávidas, bem como concluir diagnóstico para tratamento ginecológico visando à cura da mãe, impedindo infecção neonatal. 69 8 CONCLUSÃO - As pacientes apresentaram mais prevalência de infecção por lactobacilos; - O nosso estudo demonstrou que a flora mais prevalente em gestantes foi a de lactobacilos associada a candida e os de menor freqüência foram gardnerella com trichomonas; - Com relação à nível de escolaridade, o presente trabalho demonstrou que 58% das pacientes gestantes infectadas possui apenas o 1° grau; - A faixa etária mais acometida pela infecção cervico-vaginal foi entre 12 a 25 anos, com o percentual 90% dos casos estudados. 70 REFERÊNCIAS ARANTES, S. L. 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