III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS Distribuição Presumida do Dourado (Salminus brasiliensis) e do Grumatã (Prochilodus lineatus) na Região Hidrográfica do Alto Uruguai (RS/SC) Através de Coeficientes de Distribuição da Bacia do Rio Jacuí (RS) Lucas Gonçalves da Silva, Thais Paz Alves, José Ricardo de Souza Barradas, Nelson Ferreira Fontoura (orientador) Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Faculdade de Biociências, PUCRS. Introdução A migração animal é um fenômeno importante em muitos ecossistemas do mundo. Peixes migradores podem percorrer muitos quilômetros tendo como objetivo a estimulação de órgãos sexuais (HALL,1972). Em ambientes temperados, muitas espécies mostram padrões similares de comportamento: a desova ocorre sempre no mesmo local, geralmente acima do local de alimentação dos adultos sendo que a corrente carrega os ovos e as larvas para áreas onde se desenvolverão até se juntarem ao estoque principal (PITCHER & HART, 1996). Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816), conhecido como dourado, é um peixe de piracema, reofílico, que possui registros de migrações reprodutivas de até 127 Km. Se reproduzem nos trechos altos dos rios entre dezembro e janeiro, época de cheias e altas temperaturas. Podem atingir até um metro de comprimento e 30 Kg de massa (GODOY, 1975). No Rio Grande do Sul, a espécie é considerada como Ameaçada-Vulnerável (FONTANA et al., 2003). Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) é popularmente conhecido como grumatã ou curimbatá. A espécie apresenta potencial pesqueiro, desova entre os meses de outubro e março e em suas migrações pode vencer grandes obstáculos e desníveis (BERTOLETTI, 1985). Há registros de exemplares que percorreram cerca de 400 Km e venceram desníveis de cerca de 18 metros. Os indivíduos se reproduzem apenas uma vez por ano e esse fenômeno é condicionado pela dinâmica da correnteza fluvial (GODOY, 1975). O objetivo principal do trabalho é gerar um modelo preliminar de distribuição de Salminus brasiliensis e Prochilodus lineatus na região hidrográfica do Alto Uruguai (RS/SC) através um modelo probabilístico de distribuição calibrado para a bacia do rio Jacuí (ALVES, 2008). III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 Metodologia A área de estudo compreende a região hidrográfica do Alto Uruguai, no trecho nacional da bacia, entre os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A região apresenta grandes altitudes entre 1600m a 160m, clima temperado, distribuição regular intra-anual de chuvas, com precipitação média anual de 1.784mm e temperatura média anual variando entre 16 e 20º C. Todos os produtos cartográficos utilizados no trabalho foram elaborados através do software Idrisi Andes 15.0. A base para o desenvolvimento do trabalho foi um modelo numérico de terreno (MNT, altitude radar em pixel de 90x90m) no sistema de referência oficial brasileiro (SAD69). A partir do MNT foram gerados mapas de altitude, hidrografia e área de bacia (Valores em logaritmo natural). A probabilidade de presença do dourado e do grumatã para a bacia Uruguai foi estimada através da rotina LOGIT (Regressão Logística Multivariada) do software Idrisi Andes 15.0 com base nos coeficientes estimados para a bacia Jacuí, conforme ALVES (2008; Tabela 1). P = exp (bo + b1.Altitude + b2.Área_bacia ). (1+exp (bo + b1.Altitude + b2.Área_bacia))-1 Onde: P é a probabilidade de ocorrência da espécie (0-1) e bo, b1 e b2 são os parâmetros da equação. Tabela 1: Parâmetros de distribuição (regressão logística multivariada) estimados para o dourado (Salminus brasiliensis) e grumatã (Prochilodus lineatus) para a bacia hidrográfica do rio Jacuí, segundo ALVES (2008). Coeficientes de Regressão Espécie Média Dourado Grumatã 2 Intercept (bo) Altitude (m, ln) (b1) Área Bacia (km , ln) (b2) -2,8762 -1,3028 1,1487 Desvio Padrão 0,2597 0,0332 0,0301 Wald 11,0735 39,2022 38,1045 P <0,0001 <0,0001 <0,0001 Média -0,3176 -1,3067 0,8128 Desvio Padrão 0,2731 0,0544 0,0177 Wald 1,1628 23,9999 45,9075 P 0,2719 <0,0001 <0,0001 Resultados Para a região hidrográfica do Alto Uruguai, a partir de dados de hidrografia, altitude e área de bacia, foram gerados mapas com a probabilidade estimada de ocorrência do dourado e do grumatã. (Figs. 1 e 2). A distribuição do grumatã mostra-se mais ampla e abrange maior parte dos rios de altitude, comparada à distribuição do dourado, que possui maior probabilidade de ocorrência nos trechos mais baixos dos rios. Ambas as espécies ocorrem III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 com maior probabilidade nos trechos de rios principais, onde a área de bacia é maior. Encontra-se em andamento um programa de amostragens para validar coeficientes de distribuição referentes à bacia do rio Uruguai. Figura 1. Distribuição presumida do dourado (Salminus brasiliensis) na região hidrográfica do Alto Uruguai, com base em coeficientes de distribuição ajustados para bacia do Jacuí (ALVES, 2008). Figura 2. Distribuição presumida do grumatã (Prochilodus lineatus) na região hidrográfica do Alto Uruguai, com base em coeficientes de distribuição ajustados para bacia do Jacuí (ALVES, 2008). Referências ALVES, T. P., Modelo probabilístico de distribuição de peixes migradores na bacia hidrográfica do rio Jacuí (RS). Porto Alegre: PUCRS, 2008. Dissertação (Mestrado em Zoologia), Faculdade de Biociências, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008. BERTOLETTI, J. Aspectos biológicos da ictiofauna do rio Uruguai. Veritas. Vol 30, (1985), pp. 93-129. FONTANA, C. S., BENCKE, G. A., REIS, R. E. Livro vermelho da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EdiPUCRS. 2003. GODOY, M. P., Peixes do Brasil – Subordem Characoidei, Vol. 2-6. São Paulo: Editora Franciscana. 1975. HALL, C. S., Migration and metabolism in temperate stream ecossistem. Ecology. Vol 53, (1972), pp. 585-604. PITCHER, T. J., HART, P. J. B. Fishiries Ecology. Connecticut: The Avi Publishing Company Inc. 1996. III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008