Condições de trabalho de uma força de trabalho em envelhecimento Resumo executivo Introdução O quarto Inquérito Europeu sobre as Condições de Trabalho (IECT) realizado em 2005 pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound) aborda tópicos que ocupam um lugar cimeiro na agenda da política de emprego da União Europeia. O objectivo global do IECT é apresentar uma síntese sobre a situação das condições de trabalho em toda a Europa, e dar uma indicação da extensão e do tipo de mudanças que afectam a força de trabalho e a qualidade do trabalho. No seguimento do inquérito de 2005, a Eurofound realizou uma nova análise aprofundada das conclusões a que chegara sobre temas chave relacionados com as condições de trabalho na UE. Um dos temas analisados foi o envelhecimento da força de trabalho e as implicações profundas que tem para a sociedade e para o mercado de trabalho em geral. O estudo pôs em destaque quatro factores primordiais para a definição da estrutura etária da força de trabalho europeia: assegurar o desenvolvimento da carreira e a segurança do emprego; manter e promover a saúde e o bem-estar dos trabalhadores; desenvolver qualificações e competências; e conciliar a vida profissional com a vida privada. O presente folheto resume os principais desafios suscitados pelo envelhecimento da força de trabalho e apresenta uma breve síntese dos principais resultados da investigação. Contexto político No contexto da Estratégia de Lisboa, o Conselho Europeu de Estocolmo adoptou em 2001 a meta de uma taxa de emprego de 50% entre homens e mulheres dos 55 aos 64 anos de idade até 2010. No Conselho Europeu de Barcelona de 2002 foi introduzida outra meta complementar da UE que deverá ser alcançada até 2010: prolongar a vida activa através do adiamento da idade de reforma efectiva em cerca de cinco anos. O relatório da Comissão Europeia sobre o Emprego na Europa 2007 dá conta de um quadro geralmente positivo relativamente aos progressos conseguidos no sentido da meta de Estocolmo, apontando para um aumento de sete pontos percentuais na taxa de emprego para pessoas de mais idade na UE25 desde 2000. Esta conclusão é particularmente encorajadora à luz de um aumento de 2,3 pontos percentuais para a população em idade activa em geral. Contudo, para manter estes progressos, é essencial criar as condições necessárias de modo a encorajar os trabalhadores de mais idade a permanecerem nos seus empregos durante mais tempo e oferecer-lhes oportunidades de emprego vantajosas. De igual modo, a Estratégia Europeia de Emprego – uma componente chave da Estratégia de Lisboa global – sublinha a importância de promover o acesso ao emprego ao longo da vida activa. Os responsáveis europeus pela elaboração das políticas parecem estar de acordo sobre a necessidade de assegurar a qualidade e a sustentabilidade do emprego ao longo do ciclo da vida de modo a manter as pessoas a trabalhar durante mais tempo. À luz do acima exposto, torna-se claro que a monitorização das condições de trabalho e uma melhor compreensão das mesmas contribuirão para políticas mais informadas e eficazes em matéria de emprego e relacionadas com o envelhecimento. Principais conclusões Importa notar à partida que as conclusões fundamentadas no quarto Inquérito Europeu sobre as Condições de Trabalho apenas dizem respeito às condições de trabalho das pessoas com emprego. Os trabalhadores de mais idade, que possam ter sofrido condições de trabalho mais árduas, ter-se-ão provavelmente já retirado do mercado de trabalho, pelo que não figuram na amostragem do inquérito. Apesar desta limitação, a análise dos dados permite, mesmo assim, uma perspectiva útil sobre as condições de trabalho para os trabalhadores de mais idade. A investigação permite uma perspectiva valiosa sobre a idade e as condições de trabalho na UE e sublinha até que ponto a idade constitui um factor importante quando se analisam questões relacionadas com o emprego e a qualidade do emprego. A qualidade do emprego constitui um aspecto chave para assegurar a integração e a retenção de trabalhadores de mais idade no mercado de trabalho. Os trabalhadores de mais idade estão bem representados entre os trabalhadores a tempo parcial e, em certa medida, entre os trabalhadores de agências de trabalho temporário (especialmente as mulheres). A maioria dos trabalhadores com habilitações académicas reduzidas e das pessoas que trabalham por conta própria também fazem parte da categoria das pessoas de mais idade. Apesar de haver uma tendência de redução da exposição aos riscos físicos à medida que a idade aumenta, detecta-se uma deterioração nas condições de trabalho no grupo dos 45–55 anos de idade: esses trabalhadores dão conta de uma maior exposição a riscos associados à posição física, movimentos repetitivos e cargas de trabalho pesadas. Para além dos distúrbios músculo-esqueléticos, os trabalhadores de mais idade com mais de 55 anos de idade são particularmente susceptíveis a doenças cardíacas, dificuldades respiratórias e problemas com o sono, afecções todas elas intimamente ligadas com o envelhecimento. No decurso da última década, a percentagem de trabalhadores que consideram que a sua saúde ou segurança estão em risco devido às suas condições de trabalho diminuiu significativamente no grupo etário das pessoas de mais de 55 anos de idade e, designadamente, entre as mulheres. Os trabalhadores com mais de 55 anos de idade têm um nível elevado de autonomia no trabalho e níveis de intensidade de trabalho comparativamente reduzidos. Contudo, os trabalhadores de mais idade recebem menos formação do que os trabalhadores mais jovens e têm um menor grau de envolvimento na High Performance Work Organization (HPWO) (organização do trabalho de elevado desempenho), uma organização do trabalho caracterizada por estruturas hierárquicas horizontais, rotação de tarefas, trabalho de equipa e participação activa dos trabalhadores, incluindo dos trabalhadores não qualificados, nos processos de tomada de decisões. A percentagem de trabalhadores que indicam ter algum controlo sobre as disposições relativas ao horário de trabalho aumenta com a idade. Este facto não é surpreendente, uma vez que um nível elevado de controlo sobre as disposições relativas ao horário de trabalho está frequentemente associado à antiguidade. Contudo, os horários de trabalho longos, assim como o trabalho aos domingos aumentam à medida que aumenta a idade dos trabalhadores, em parte devido ao facto de uma parte substancial dos trabalhadores de mais idade trabalhar por conta própria ou trabalhar no sector da agricultura. Apesar de os trabalhadores de mais idade não parecerem ter encargos tão pesados em termos de responsabilidades familiares em comparação com os trabalhadores de meia-idade, e de ser menos provável que tenham de cuidar de crianças, têm uma maior probabilidade de cuidarem de um familiar idoso ou portador de deficiência quando comparados com outros grupos etários. As conclusões sugerem que os trabalhadores em idade de reforma e que têm condições de trabalho difíceis ou insatisfatórias são mais susceptíveis de deixar o mercado de trabalho cedo. Recomendações em matéria de políticas Uma crescente aceitação de trabalho a tempo parcial entre trabalhadores de mais idade poderá criar melhores oportunidades para uma transição mais gradual para a reforma e, de modo geral, melhorar a empregabilidade dos trabalhadores de mais idade. Uma vez que os trabalhadores de mais idade têm frequentemente obrigações substanciais de prestação de cuidados, a introdução de disposições mais flexíveis em matéria de horários de trabalho poderá encorajá-los a desempenhar as suas responsabilidades enquanto continuam a trabalhar por mais tempo. Para prolongar a vida activa de todos os trabalhadores, é importante criar formas de promover uma participação mais generalizada dos trabalhadores de mais idade na High Performance Work Organization (HPWO) (organização do trabalho de elevado desempenho). Há que monitorizar o nível de exposição a riscos físicos dos trabalhadores que estão a aproximarse da idade da reforma (dos 45 aos 54 anos de idade), assim como dos trabalhadores mais jovens, para determinar o possível risco de uma futura deterioração da capacidade de trabalho. As pessoas de mais idade devem ter oportunidades de formação idênticas às que são proporcionadas aos trabalhadores mais jovens, e há que assegurar a preservação da sua experiência e a transmissão desta aos colegas mais jovens. Já foi demonstrado que a melhoria das condições de trabalho conduz a uma melhor sustentabilidade do emprego ao longo do ciclo de vida o que, por sua vez, pode evitar a saída precoce do mercado de trabalho e incentivar taxas de participação elevadas entre os trabalhadores de mais idade. A possibilidade de permanecer no mercado de trabalho até ou para além da idade oficial de reforma depende, em larga medida, do estado de saúde, bem-estar e ambiente de trabalho. Por este motivo, o local de trabalho deverá ser adaptado às necessidades de uma força de trabalho em envelhecimento (por exemplo, introduzindo disposições relativas ao horário de trabalho concebidas de modo a satisfazer os requisitos dos trabalhadores de mais idade). Informações adicionais O relatório Condições de trabalho de uma força de trabalho em envelhecimento está disponível em http://www.eurofound.europa.eu/publications/htmlfiles/ef0817.htm O quarto Inquérito Europeu sobre as Condições de Trabalho e a análise secundária dos dados do inquérito estão disponíveis no sítio Web do Observatório Europeu das Condições de Trabalho: http://www.eurofound.europa.eu/ewco/surveys/ Sara Riso, agente de ligação do serviço de informação [email protected] EF/08/57/PT